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Orquídeas138
Se quiser saber mais 141
capítulo 1
A natureza em mudança
capítulo 5
A evolução natural 10
Os cogumelos
Um compromisso natural 18
Natureza e cultura 20 A vida de um cogumelo 147
Se quiser saber mais 28 A estrutura de um cogumelo 149
Os grupos de cogumelos 152
Como se alimentam? 164
capítulo 2
Se quiser saber mais 167
As paisagens
Os tipos de paisagem 35
capítulo 6
As paisagens agrárias 37
O litoral
As manchas de floresta 42
Matos e matagais 45 O mar 170
As paisagens serranas 46 A praia 176
As zonas húmidas 48 A costa rochosa 179
As paisagens costeiras 51 Os sapais 182
Se quiser saber mais 53 As dunas 186
Se quiser saber mais 190
capítulo 3
As árvores e os arbustos capítulo 7
A influência das estações
As folhosas 59
As resinosas 91 Primavera, vida nova… 197
Se quiser saber mais 98 O verão 201
O outono vem aí… 205
Inverno, tempo de repouso 208
capítulo 4
As pequenas plantas e flores silvestres
Fetos, musgos e líquenes 102 Bibliografia aconselhada 214
Ervas e flores dos campos 105 Índice remissivo 216
Flores dos matos e matagais 118 Parques naturais e outros locais de interesse 223
Plantas de zonas húmidas 125 Associações e instituições 224
Plantas carnívoras 131
PORTUGAL NATURAL I AS PEQUENAS PLANTAS E FLORES SILVESTRES
No capítulo anterior descrevemos um conjunto de árvores e • Antes de mais, convém pôr os pontos nos is: os líquenes não são
arbustos que podemos encontrar no nosso país. Não ligámos às flores silvestres e, na verdade, nem sequer são plantas. São só,
plantas mais pequenas, porque lhes havíamos destinado um capí- digamos, “meias plantas”. Na realidade, não são um, mas sim dois
tulo inteirinho, uma vez que são totalmente merecedoras de um organismos, ligados entre si de certa maneira: uma alga e um fungo,
tratamento especial… que vivem conjuntamente numa relação de mútuo benefício, a
que se chama simbiose (veja Como se alimentam?, nas páginas 164
Nessas plantas “mais pequenas” incluímos as herbáceas, a que, e 165). Mesmo assim, resolvemos falar deles, porque, quando são
despreocupadamente, chamaremos ervas; e outras plantas que verdes, passam por plantas aos olhos de muita gente; e, quando
se encontram a meio caminho entre as herbáceas e as lenhosas — não o são, dão nas vistas na mesma. Já alguma vez reparou, por
que não são propriamente arbustos, mas também não são ervas exemplo, numas pequenas manchas vermelho-alaranjadas a fazerem-
(alguns chamam-lhes subarbustos). Mas também não podíamos -se notar, irreverentemente, sobre rochas, troncos de árvores ou
deixar de fora alguns arbustos de flores bonitas e vistosas, que, telhados? Às vezes, estão de tal maneira agarradas às rochas que
por isso mesmo, toda a gente vê mais como flores silvestres do que até parecem fazer parte delas…
como arbustos.
Nenhuma planta se compara
Como a nossa flora é composta por alguns milhares de espécies aos líquenes na capacidade de
diferentes, a seleção, no âmbito de um livro como este, não explorar ambientes agrestes e
foi nada fácil. Por isso, não estranhe se ela lhe parecer uma de suportar condições de secura
miscelânea um pouco incongruente. A verdade é que, acima de extrema e prolongada. Nem
tudo, procurámos que este pequeno passeio de descoberta não mesmo os musgos ou os fetos.
se transformasse numa viagem enfadonha; por isso, preferimos Basta pensar, por exemplo, na
falar das espécies mais úteis e/ou interessantes, ao invés de nos tundra, uma grande região desa-
perdermos em excessivas e maçadoras descrições que pouco bitada que rodeia o Polo Norte
significariam para o leitor… O que não quer dizer que, de vez em e onde os líquenes são quase
quando, não nos detenhamos um pouco mais nos aspetos parti- os únicos “vegetais” existentes,
culares de uma ou outra planta, a fim de o ajudar a reconhecê-la cobrindo vastas extensões de solo
com mais facilidade. gelado. Quando os líquenes se
fixam na rocha nua, retêm a água
que sobre ela escorre e ali ficam,
ao sabor da intempérie. Tal como Líquenes fixos
Fetos, musgos e líquenes acontece com os musgos e os na rocha nua
• Os musgos são plantas muito pequenas e de cor verde, que, quando para venda e daí o seu nome. Às vezes forma
cobrem o chão, nos proporcionam, sempre que os pisamos, uma grandes aglomerados, que chamamos fetais ou
agradável sensação de macieza. Uma vez instalados sobre um suporte, feteiras, em terras devastadas por um incêndio
vão tecendo pouco a pouco uma espécie de tapete macio, que se ou na sequência de uma queimada. Este feto é,
Musgo ensopa com a água da chuva e aliás, um pioneiro típico de todos os locais devas-
com o orvalho, como se de uma tados pelo fogo.
esponja se tratasse. No tamanho,
são comparáveis aos líquenes, • O feto-macho ou dentebrura aparece frequente-
mas estes têm cores e formas mente nos carvalhais e tem um porte vigoroso.
muito mais variadas e imprevi- O seu desenvolvimento, dos tenros rebentos pri-
síveis. Seja como for, todos nós maveris às frondes majestosas com mais de um
estamos mais ou menos familia- metro de altura, processa-se em poucas semanas. O
rizados com os musgos, quanto rizoma acastanhado deste feto é utilizado, desde a
mais não seja devido às antigas Antiguidade, como antiparasitário. Ao que parece,
tradições natalícias. Durante contém uma substância que exerce um efeito tóxico
muito tempo, o musgo foi um e paralisante sobre a ténia (vulgarmente conhecida
elemento imprescindível no chão como bicha-solitária), facilitando a sua expulsão.
dos nossos presépios de Natal. Curiosamente, as denominações “feto-macho” e
“feto-fêmea” nada têm que ver com o sexo des-
• Os fetos têm folhas muito tas plantas: trata-se, simplesmente, de espécies Frondes jovens do
feto-morangueiro
peculiares, normalmente muito diferentes. A que se devem, então, esses termos?
recortadas, a que se dá o nome Não se sabe muito bem; certo é que eles fazem parte, inclusive,
de frondes. Os esporos são gerados da própria denominação científica destas plantas…
nuns pequenos recetáculos, de
forma mais ou menos redonda,
que podemos encontrar na parte
inferior das folhas. Esses recetá- Ervas e flores dos campos
culos recebem o nome de soros.
Os fetos apenas se dão bem em Escudados neste título, poderíamos referir uma multidão quase
ambientes húmidos e sombrios. infinita de plantas. Por isso, quando falamos de ervas e de flores
Pormenor da folha de Evocam, por isso, locais calmos e dos campos, é importante definir de que campos estamos a falar.
um feto. Os pontos
escuros são os soros
bucólicos, apelativos ao romance
e à inspiração artística. Os fetos são plantas vivazes (veja Um pouco Além dos campos utilizados para fins agrícolas, há ainda os de
de vocabulário, na página 112) com dimensões muito variáveis, pousio, os de cultivo abandonados, os terrenos de pastagem…
quase todos herbáceos, mas ainda existem alguns sobreviventes Enfim, todos os terrenos mais ou menos extensos que se encontram
de porte arbóreo que resistiram ao passar de muitos milhões de cobertos de ervas e de flores. Mas os matos e os matagais não são
anos… A serra de Sintra, por exemplo, goza de grande reputação considerados aqui como campos, mesmo quando estão repletos
nacional e internacional, graças à coleção de fetos arbóreos que se de flores silvestres. É que os protagonistas, nesses cenários, são
encontra, sobretudo, nos Parques de Monserrate e da Pena. sempre as plantas que anteriormente definimos como subarbustos
e os arbustos.
• Um feto muito nosso conhecido é o feto-dos-morangos (também
chamado feto-ordinário e feto-fêmea-das-boticas). As frondes são Um dos tipos de plantas que associamos imediatamente aos cam-
muito utilizadas para acondicionar as pequenas caixas de morangos pos são, sem sombra de dúvida, as plantas herbáceas e as ervas,
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algumas das quais podem ser ervas daninhas. Dentro das características que distinguem as gra-
Se esses campos se mantêm como tal, é porque míneas das outras plantas, são muito óbvias as
um pouco de algo importante neles acontece que impede a sua suas flores desconsoladas, desprovidas de cores
vocabulário evolução natural para uma vegetação de maior vivas e, por isso, pouco atraentes para os insetos.
bienal: planta que leva dois anos porte (veja o capítulo 1, nas páginas 10 e seguintes).
a cumprir o seu ciclo de vida. O vento é o agente polinizador e transportador
A floração dá-se apenas no Esse acontecimento pode ser, por exemplo, das suas sementes, que são bastante leves.
segundo ano. o pastoreio de gado ou a ceifa periódica efetuada
cálice: conjunto das sépalas pelo homem. Se essa periodicidade não se veri- Mas, mesmo não sendo atraentes, as gramíneas
(peças florais externas) de uma ficar, acumular-se-ão restos de plantas mortas, não deixam de ser importantes para nós.
flor, as quais são, em geral, que acabarão por criar um terreno favorável ao
verdes e de consistência herbácea. desenvolvimento de plantas lenhosas: subarbustos, São gramíneas, por exemplo, todos os cereais que
capítulo: inflorescência em que as arbustos e árvores. Com o tempo, estes crescem cultivamos, as forragens, a cana-de-açúcar e a
flores (que geralmente são sésseis e criam um ambiente de sombra, onde as plantas relva. Isso significa que o trigo, a aveia, o centeio,
— sem pecíolo, pedúnculo, pé ou
que inicialmente o colonizaram não conseguirão a cevada, o arroz e o milho são gramíneas, o que
suporte) se encontram inseridas
umas ao lado das outras num sobreviver. Ou seja, como explicámos no primeiro mostra a utilidade deste tipo de plantas.
recetáculo achatado, formando capítulo, a natureza retomará os seus direitos,
um grande aglomerado que parece e os campos de ervas e flores deixarão de o ser, Outras, sendo aparentemente pouco úteis, são,
uma só flor. dando lugar a matagais, que mais tarde serão no entanto, bem conhecidas do nosso povo, que
corola: conjunto das pétalas substituídos por matas. não tardou em batizá-las, muitas vezes com nomes
de uma flor. muito curiosos: baracejo, talha-dente, rabo-de-zorra-
espontânea: planta não -macio, linho-de-raposa, estorno, erva-lanar, bole- O bole-bole,
“importada”, originária da região Toda uma vida num só ano… -bole, panasco, cervum, joio… uma gramínea
bem conhecida
em que se encontra e onde vive
há muitas gerações. É sinónimo A maioria das plantas herbáceas ou são plantas
de nativa ou indígena e opõe-se
vivazes, com partes subterrâneas capazes de asse-
a exótica ou introduzida.
gurar a persistência da planta na terra quando a “separar o trigo do joio”
estilete: parte mais ou menos parte aérea desaparece; ou plantas anuais, cujas Em períodos de escassez de trigo, o joio foi usado para fazer pão.
delgada do pistilo (ou carpelo),
sementes amadurecem e se disseminam antes de Curiosamente, as pessoas que comiam pão de joio ficavam, por
entre o ovário e o estigma.
aquelas serem ceifadas pelo homem ou comidas vezes, como que embriagadas, algo delirantes, e não se percebia
fitoterapia: cura através pelo gado. porquê. Só nas primeiras décadas do século passado se descobriu
das plantas. que havia um fungo que parasitava algumas espigas de joio e que os
grãos delas provenientes continham uma substância alucinogénica
gavinhas: extremidade de folhas ou É isso que lhes permite voltar à vida na primavera parecida com o LSD…
de ramos que se transformam em seguinte, como se nada tivesse acontecido.
estruturas filamentosas capazes
de se enrolar em hélice, podendo
fixar as plantas a suportes. No fundo, estas ervas têm um papel pioneiro, tal • Um exemplo de uma paisagem regional típica
como os fetos, os musgos e os líquenes, com a dominada por uma gramínea é o cervunal, que
habitat: local onde vive uma
determinada espécie animal ou diferença de “desbravarem”, preferencialmente, predomina nas grandes pastagens de rebanhos
vegetal. Cada espécie tem o seu ambientes diferentes: umas colonizam terras nuas; da serra da Estrela. O joio, por sua vez, é uma
habitat próprio. outras, rochas e troncos. gramínea anual cujos grãos foram usados, em
herbácea: planta de caule tenro, tempos difíceis, para fazer pão (veja a caixa acima).
não lenhoso. De consistência • Se pensarmos no colorido das flores, dividi- O estorno é uma gramínea muito importante nas
não ou pouco lenhosa e verde. remos as ervas em gramíneas e não gramíneas. dunas, sendo responsável pela fixação das areias
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• Os dentes-de-leão são extremamente frequentes nos nossos cam- recebessem o curioso nome de batitestas. Mas, além de estas
pos. São célebres pelas suas “bolas” redondas e translúcidas, que brincadeiras não serem muito “saudáveis” para as plantas, tam-
se formam a seguir à floração e constituem os frutos. Muitas vezes, bém é preciso ter cuidado, pois elas têm tanto de bonito como
quando sopra um vento de final de primavera um pouco mais de venenoso. Sobretudo, nunca se devem levar as flores à boca.
forte, veem-se pequenos “paraquedas” brancos a voar nos campos: A dedaleira é também muito conhecida pela digitalina (Digitalis
são as sementes do dente-de-leão, que se soltam da referida bola purpurea), uma substância utilizada em medicamentos para a
branca e partem ao sabor do vento, “à procura” de um terreno insuficiência cardíaca.
adequado onde possam, mais tarde, germinar.
• A pervinca é uma planta originária das regiões mediterrânicas que
costuma formar, no solo, tapetes sempre verdes, pois mantém as
“o teu pai é careca?” folhas durante todo ano e possui caules rastejantes que ganham
raízes com facilidade. Quando o inverno é suave, as flores, de
As crianças gostam de correr
atrás das sementes dos dentes- cor lilás, surgem logo em fevereiro. Têm sempre cinco pétalas e
-de-leão, que se soltam no ar, cinco sépalas e surgem isoladas umas das outras. Toda a planta é
por ação do vento. É também venenosa, tal como a dedaleira.
costume soprarem nas bolas ainda
intactas da planta, para as ver voar, • A erva-de-são-roberto é muito conhecida, graças às suas celebra-
após dizerem a frase: “O teu pai é
careca?” das propriedades terapêuticas (os ervanários aconselham-na para
o tratamento de aftas, anginas, diabetes, diarreias, hemorragias,
etc.). As flores, formadas por cinco pétalas de um rosa muito vivo
A célebre bola redonda ou com um tom ligeiramente violeta, distinguem-se facilmente no
do dente-de-leão meio das folhas verde-claras, bordejadas, muitas vezes, a vermelho.
O caule também é avermelhado. É uma planta baixa, que raramente
tem mais de 40 centímetros de altura.
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