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Prefácio

Let food be thy medicine and medicine be thy food (*)


Hipócrates

A frase é antiga e reflete os princípios de Hipócrates, uma das figuras


mais importantes da saúde, considerado o pai da medicina. De acordo
com Hipócrates, os alimentos tinham um papel muito importante
na prevenção e no tratamento das doenças.

Desde há muitos anos que diversos autores relacionam as doenças


com a alimentação. No seu livro La cuisine et la pâtisserie bourgeoises,
Jean de Gouy referia-se à má alimentação como uma das principais cau-
sas das doenças do estômago. Do lado científico, já em 1913 Frederick
Hoffman, um dos fundadores da American Cancer Society, relatava
uma eventual relação entre o cancro e a nutrição. Por sua vez, o pro-
fessor Cornelius de Langen, da Universidade de Utrecht, na Holanda,
demonstrou, em 1916, que os povos orientais tinham baixos níveis de
colesterol e salientou também que os cálculos (conhecidos por “pedras”)
da vesícula eram muito raros nessas populações.

A dieta e a nutrição são indiscutivelmente fatores importantes na pro-


moção e na manutenção de um bom estado de saúde ao longo de todo
o ciclo de vida. De facto, é logo na gestação que se determinam e condi-
cionam importantes aspetos da saúde futura do indivíduo; e é por isso
que é tão importante que a prevenção das chamadas doenças crónicas
– cardiovasculares, osteoporose, obesidade, cancro e diabetes – comece
em tenra idade.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta que o número de doen-


ças ligadas à alimentação está a aumentar de forma impressionante,
e até dramática, nos países em desenvolvimento, onde se instalaram
maus hábitos há muito conhecidos nalguns países mais desenvolvidos.
Associado à questão dos distúrbios alimentares está o problema da obe-
sidade, cuja incidência a nível mundial é já tão preocupante que a OMS
a considerou uma epidemia global do século xxi.

(*) Que os alimentos sejam o teu remédio; e o remédio, os teus alimentos (tradução livre).
Mas há que distinguir entre quem é guloso e quem aprecia a boa cozi- Índice
nha. “Diz-me o que comes, dir-te-ei quem és”: o homem com o apetite
agradavelmente satisfeito é, muitas vezes, visto como mais sociável e
mais inclinado para compreender os outros do que aquele que se priva
dos prazeres da boa mesa. Contudo, um bom garfo não é um garfo Capítulo 1 O sódio . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54
grande… nem um prato a transbordar. A alimentação deve, mais que O ferro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56
O equilíbrio energético O potássio . . . . . . . . . . . . . . . . . 60
tudo, ser equilibrada, de modo a evitar as carências nutricionais e a pro-
porcionar o maior bem-estar físico possível. O magnésio . . . . . . . . . . . . . . . . 61
O nosso metabolismo . . . . . . . 15
As necessidades energéticas . . . . . . . 17 A água . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62
Por outro lado, os novos modos de vida, originados por importantes Porque precisamos de energia? . . . . . 19
modificações operadas em diversos níveis, como os progressos técni- A cafeína . . . . . . . . . . . . . . . . 64
Onde está a energia? . . . . . . . . . . . 22
cos da indústria alimentar, um mercado global que nos permite obter Boa para a saúde? . . . . . . . . . . . . . 66
muitos e variados alimentos em todas as épocas do ano e a preocupação
com a boa forma física, suscitam questões cada vez mais pertinentes a
Capítulo 2
que este livro também procura responder. Capítulo 3
O equilíbrio alimentar Preparar refeições
Atingir o equilíbrio . . . . . . . . . . . . 27 saudáveis
As proteínas . . . . . . . . . . . . . 28
O balanço energético diário . . . 73
Os aminoácidos . . . . . . . . . . . . . 29
A importância da alimentação . . . . . 29 O pequeno-almoço . . . . . . . . . . . . 75
As quantidades ideais . . . . . . . . . . 31 O almoço e o jantar . . . . . . . . . . . . 76

Os hidratos de carbono . . . . . . 32 Ementas equilibradas . . . . . . . 78


No restaurante . . . . . . . . . . . . . . 79
Açúcares simples e açúcares complexos . . 33
As refeições ligeiras . . . . . . . . . . . 82
Índice glicémico . . . . . . . . . . . . . 33
O vegetarianismo . . . . . . . . . 83
As fibras . . . . . . . . . . . . . . . . 35
Conta, peso e medida . . . . . . . . . . 86
As gorduras . . . . . . . . . . . . . . 38
O que é um lípido? . . . . . . . . . . . . 39
O colesterol . . . . . . . . . . . . . . . . 42 Capítulo 4
Eliminar todas as gorduras animais? . . 43 A alimentação
As vitaminas . . . . . . . . . . . . . 44 em cada idade
O que são as vitaminas? . . . . . . . . . 44
Porque precisamos de vitaminas? . . . 45 O bebé . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89
Carência de vitamina C . . . . . . . . . 48 O leite materno . . . . . . . . . . . . . . 89
O peito ou o biberão? . . . . . . . . . . . 91
Os minerais . . . . . . . . . . . . . . 49 O aleitamento materno
O cálcio . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51 e o regresso ao trabalho . . . . . . . . 93
O fósforo . . . . . . . . . . . . . . . . . 54 Diversificar a alimentação . . . . . . . . 94
A criança e o adolescente . . . . 100 Uma bebida assassina . . . . . . 139 Uma ameaça traiçoeira . . . . . . . . . 175 Arroz de frango com feijão,
Os conflitos . . . . . . . . . . . . . . . 103 O bom e o mau papel grelos, amêndoas e passas . . . . . . 206
O alcoolismo: dos tecidos adiposos . . . . . . . . . 176 Tiras de peru estufadas com pimentos
Os idosos . . . . . . . . . . . . . . . 104 uma doença grave . . . . . . . . . 143 O papel dos genes . . . . . . . . . . . .177 e cenoura e esparguete . . . . . . . .207
As necessidades individuais . . . . . . 104 Serei alcoólico? . . . . . . . . . . . . . .145 Ervilhas com ovos escalfados . . . . . .207
Como emagrecer sem risco . . . 179 Esparguete à bolonhesa
Como distribuir as refeições? . . . . . .107
Como tratar o alcoolismo? . . . 146 A valsa das dietas . . . . . . . . . . . . 179 com brócolos cozidos . . . . . . . . .208
A grávida . . . . . . . . . . . . . . . 108 Para não passar das marcas . . . . . . .147 Labirinto de dietas . . . . . . . . . . . .181 Jardineira de carne . . . . . . . . . . . 209
Produtos de substituição: Bifes de frango grelhados com arroz
A mulher que amamenta . . . . 111 que utilidade? . . . . . . . . . . . . .182 de cenoura e salteado de curgete
A escolha de um regime
Capítulo 7 alimentar eficaz . . . . . . . . . . . .183
e cogumelos . . . . . . . . . . . . . .209
Chili de carne, arroz e alface . . . . . . 210
Comprar, conservar, O equilíbrio e a dieta hipocalórica . . .184
Capítulo 5 preparar e confecionar Uma ajuda bem-vinda: Pratos vegetarianos . . . . . . . 212
Os riscos ligados o exercício físico . . . . . . . . . . . .187 Feijoada vegetariana . . . . . . . . . . 212
à alimentação Comprar . . . . . . . . . . . . . . . 151 Em última instância: Salada de grão com ovo,
Carne . . . . . . . . . . . . . . . . . . .151 os tratamentos médicos . . . . . . . 189 azeitona e cebola . . . . . . . . . . . 212
A contaminação química . . . . 115 Peixe fresco . . . . . . . . . . . . . . . .151 Para o emagrecimento local . . . . . . .191 Cuscuz com legumes . . . . . . . . . .213
Pesticidas . . . . . . . . . . . . . . . . 116 Crustáceos . . . . . . . . . . . . . . . .152 Manter a linha . . . . . . . . . . . . . .193
Resíduos de tratamentos veterinários . 117 Aves . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 152 Bulimia e anorexia . . . . . . . . 195
Micotoxinas . . . . . . . . . . . . . . . 118 Legumes e frutos . . . . . . . . . . . . 153
Sinais de alerta . . . . . . . . . . . . . .196 Anexo
Leguminosas . . . . . . . . . . . . . . 153
Nitrosaminas . . . . . . . . . . . . . . 119 Primeiros socorros
Hidrocarbonetos aromáticos Ovos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 156 Emagrecer e continuar magro . 197
policíclicos (HAP) . . . . . . . . . . .119 Charcutaria . . . . . . . . . . . . . . . 156
Em caso de engasgamento . . . 217
Dioxinas . . . . . . . . . . . . . . . . . 121 Outros cuidados gerais . . . . . . . . .158
Como agir? . . . . . . . . . . . . . . . .218
A contaminação microbiológica . 121 Preparar . . . . . . . . . . . . . . . 158 Capítulo 9 Reanimação . . . . . . . . . . . . . . . 219
Bactérias, vírus e outros . . . . . . . . .121 Conservar . . . . . . . . . . . . . . 159 Receitas equilibradas Em caso de perda de sentidos
Como tratar? . . . . . . . . . . . . . . .122 por embriaguez . . . . . . . . . . 223
Conservar alimentos no congelador . . 161 Peixe . . . . . . . . . . . . . . . . . . 201
Os aditivos . . . . . . . . . . . . . . 124 Cozinhar . . . . . . . . . . . . . . . 164 Salada de atum com feijão-frade . . . .201
Aditivos: químicos ou não? . . . . . . .124 Massinha de peixe com alface
Como bem temperar os alimentos . . .166 Índice remissivo . . . . . . . . . . 227
A vigiar de perto . . . . . . . . . . . . .125 e cenoura ralada . . . . . . . . . . . .201
DDA: pouca garantia de segurança . . .126 Onze regras para uma boa Caldeirada de bacalhau com grão . . . .202
Pessoas em risco . . . . . . . . . . . . .131 alimentação . . . . . . . . . . . . . 167 Filetes com nuvem de alho-francês,
puré de batata e brócolos . . . . . . .203
Salada de bacalhau
Capítulo 6 Capítulo 8 com grão e couve-coração . . . . . . 203
Medalhões de peixe com legumes
O consumo de álcool O peso e a saúde e batata no forno . . . . . . . . . . . 204

O que é a alcoolemia? . . . . . . . 137 O peso “ideal” . . . . . . . . . . . . 171 Carne . . . . . . . . . . . . . . . . . 205


Tempo para eliminar . . . . . . . . . .138 Vigie o excesso de peso! . . . . . . . . .175 Feijoada . . . . . . . . . . . . . . . . . .205
Capítulo 1

O equilíbrio energético
O equilíbrio energético 15

O organismo humano é uma máquina complexa, que recebe alimentos


sólidos e líquidos e os transforma para obter a matéria com que nutre,
estrutura e repara os seus tecidos e a energia que lhe permite manter-se
em funcionamento. Apesar de todos precisarmos de energia, as neces-
sidades energéticas variam de acordo com a idade, o sexo, a compleição
física e a atividade de cada um. E é possível que dependam, também,
de fatores genéticos.

A energia é normalmente expressa em quilocalorias (kcal) ou quilojou-


les (kJ), sendo que uma quilocaloria equivale a 4,18 quilojoules. O valor
energético de um alimento depende do seu conteúdo em macronutrien-
tes, ou seja, em proteínas, gorduras e hidratos de carbono. O seu valor
energético está claramente estabelecido:
– um grama de proteínas produz quatro quilocalorias (17 quilojoules);
– um grama de hidratos de carbono produz quatro quilocalorias
(17 quilojoules);
– um grama de lípidos produz nove quilocalorias (38 quilojoules).

Por exemplo, uma pera (veja o exemplo na página seguinte) possui alguns
hidratos de carbono mas é pobre em proteínas e gordura, apresentando
cerca de 42,4 quilocalorias por cada cem gramas. Já uma peça de carne
de vaca é pobre em hidratos de carbono, mas possui proteína e gordura,
totalizando mais do quádruplo de quilocalorias por cem gramas.

O nosso metabolismo
Quando a energia ingerida iguala a energia despendida, o indivíduo
está em equilíbrio energético e mantém o seu peso. Contudo, quando
a energia fornecida ao organismo não é suficiente para satisfazer as
suas necessidades, devido, por exemplo, a um jejum voluntário, o corpo
perde peso e orienta o seu metabolismo de base para uma melhor pou-
pança, utilizando diferentemente os nutrientes disponíveis e limitando
a sua atividade.

A capacidade de gerir os gastos energéticos resulta de uma evolução do


metabolismo humano ao longo da história. Face a diferentes períodos
de fome e de carência alimentar, o nosso organismo evoluiu no sentido
de ser capaz de se adaptar muito bem a estas situações. No entanto,
16 O essencial sobre alimentação saudável O equilíbrio energético 17

esta flexibilidade natural tem limites e, depois de um certo tempo, sur- As necessidades energéticas
gem sinais de alarme, como, por exemplo, a sensação de fome e, se a
situação se mantiver, manifestações clínicas de carências alimentares. É consensual que para calcular o gasto energético devem ser tidos em
Quando acontece o inverso, ou seja, quando a energia ingerida é supe- conta, primeiro que tudo, fatores como o sexo, a idade, o peso e a altura.
rior à energia despendida, o organismo, não tendo por si só capacidade Contudo, para se perceber quais as necessidades energéticas adequadas
para aumentar o seu metabolismo, acumula o excesso de energia sob a cada indivíduo, os cálculos não podem ficar por aqui.
a forma de gordura, conduzindo ao aumento de peso e de volume de
massa corporal. ■■ A Agência das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO)
e a Organização Mundial da Saúde (OMS) propõem que o gasto energé-
tico em repouso seja multiplicado por um fator de correção, que consi-
dera a atividade física e eventuais necessidades energéticas adicionais
Composição e valor energético (por cada cem gramas) associadas a situações concretas, como a gravidez, o aleitamento ou um
período de stresse ou de doença).
Valor energético:
42,4 kcal (*) GASTO ENERGÉTICO EM REPOUSO (kcal/dia)
Gorduras (0,4 g)
Proteínas Hidratos de
Idade (anos) Homens Mulheres
(0,3 g) carbono (9,4 g) Até aos 3 60,9 × P – 54 61 × P – 51
Dos 3 aos 10 22,7 × P + 495 22,5 × P + 499
Dos 10 aos 18 17,5 × P + 651 12,2 × P + 746
Dos 18 aos 30 15,3 × P + 679 14,7 × P + 496
Água
Dos 30 aos 60 11,6 × P + 879 8,7 × P + 829
(85,1 g)
Mais de 60 13,5 × P + 487 10,5 × P + 596
Fonte: Agência das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO)
Água e Organização Mundial da Saúde (OMS).
(67,4 g)
Legenda:
Gorduras kcal/dia = quilocalorias por dia;
Proteínas (9,8 g) P = peso, em quilos.
21,7 g)

FATORES DE CORREÇÃO
Valor energético: 175 kcal (*) SEGUNDO A ATIVIDADE FÍSICA
Nível de Fator de Nível de Fator de
Sexo Sexo
atividade atividade (FA) atividade atividade (FA)
(*) Para estes resultados, tivemos em conta que tanto um grama de proteínas como Muito ligeiro 1,3 Muito ligeiro 1,3

um grama de hidratos de carbono produz quatro quilocalorias; um grama de lípidos Ligeiro 1,6 Ligeiro 1,5
produz nove quilocalorias. Homens Moderado 1,7 Mulheres Moderado 1,6
Intenso 2,1 Intenso 1,9
(9,4 g × 4 kcal) + (0,4 g × 9 kcal) + (0,3 g × 4 kcal) = 42,4 kcal
(0 g × 4 kcal) + (9,8 g × 9 kcal) + (21,7 g × 4 kcal) = 175 kcal Muito Intenso 2,4 Muito Intenso 2,2
Fonte: Agência das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO)
Legenda: g = gramas; kcal = quilocalorias. e Organização Mundial da Saúde (OMS).
18 O essencial sobre alimentação saudável O equilíbrio energético 19

A organização norte-americana Food and Nutrition Board apresentou


uma fórmula para calcular o gasto energético considerando o nível de UM EXEMPLO PRÁTICO
atividade física, que tem em conta os gastos energéticos em repouso e
Para compreendermos melhor como são aplicadas estas fórmulas, imaginemos um
as necessidades energéticas individuais (veja os quadros abaixo). Aqui, exemplo prático: quais as necessidades energéticas de uma mulher de 45 anos com
os cálculos são direcionados para os diferentes grupos de indivíduos e 60 quilos de peso e 1,65 metros de altura? Esta mulher trabalha como caixa numa mer-
respetiva atividade física e têm também em consideração a prevenção cearia e, habitualmente, caminha meia hora por dia, ao sair do emprego, no final da tarde.
das doenças crónicas.
• Fórmula da FAO e da OMS Na prática, isto significa que, para satisfa-
Se seguirmos as indicações da FAO e da zer as suas necessidades diárias e manter
NECESSIDADES ENERGÉTICAS (kcal/dia) OMS, temos de calcular primeiro o gasto o equilíbrio entre o aporte e o gasto ener-
energético em repouso, recorrendo à fór- gético, a mulher do nosso exemplo terá de
Idade Homens Mulheres mula definida para as mulheres entre os ingerir, diariamente, alimentos que lhe pro-
Dos 0 aos 3 meses (89 × P - 100) + 175 kcal 30 e os 60 anos: porcionem cerca de 2161,6 quilocalorias.

Dos 4 aos 6 meses (89 × P - 100) + 56 kcal


(8,7 × 60(a)) + 829 = 1351 kcal/dia • Fórmula do IOM
Dos 7 aos 12 meses (89 × P - 100) + 22 kcal Se utilizarmos a fórmula do Food and
Dos 13 aos 36 meses (89 × P - 100) + 20 kcal Depois, tendo em conta que a atividade Nutrition Board do Institute of Medicine,
88,5 – (61,9 × I) + FA 135,3 – (30,8 × I) + FA desta mulher pode ser definida como temos de fazer as seguintes contas:
Dos 3 aos 8 anos × (26,7 × P + 903 × (10 × P + 934 “moderada”, há que aplicar o fator de
× A) + 20 kcal × A) + 20 kcal correção correspondente, que é de 1,6. 354 – (6,91 × 45(a)) + 1,12(b) × (9,36 ×
88,5 – (61,9 × I) + FA 135,3 – (30,8 × I) + FA Assim: 60(c) + 726 × 1,65(d)) = 2013,6 kcal/dia
Dos 9 aos 18 anos × (26,7 × P + 903 × (10 × P + 934
× A) + 25 kcal × A) + 25 kcal 1351 kcal × 1,6(b) = 2161,6 kcal (a) idade, em anos
662 – (9,53 × I) + FA 354 – (6,91 × I) + FA (b) fator de atividade “moderado”
Acima dos 19 anos
× (15,91 × P + 539,6 × A) × (9,36 × P + 726 × A) (a) peso, em quilos (c) peso, em quilos
(b) fator de atividade “moderado” (d) altura, em metros
Legenda:
A = altura, em metros;
FA = fator de atividade;
I = idade, em anos;
kcal/dia = quilocalorias por dia;
P = peso, em quilos.
Fonte: Food and Nutrition Board – Institute of Medicine.
Como podemos ver pelo exemplo acima, o resultado obtido com a equa-
ção da FAO apresenta um valor ligeiramente superior ao da equação do
FATORES DE ATIVIDADE FÍSICA IOM. Isto acontece porque a fórmula do IOM é mais recente e tenta
refletir um pouco a diminuição de atividade física por parte das popu-
Idade Nível de atividade Homens Mulheres
lações, tendo ainda em consideração a prevenção das doenças crónicas.
Sedentário 1 1
No entanto, se repararmos, as duas fórmulas apresentam valores bas-
Pouco ativo 1,13 1,16
Dos 3 aos 18 anos tante aproximados e servem o seu propósito (acima de tudo, funcionam
Ativo 1,26 1,31
perfeitamente como orientação para avaliar qual o consumo energético
Muito ativo 1,42 1,56
ideal para uma pessoa com as características referidas).
Sedentário 1 1
Pouco ativo 1,11 1,12
Acima dos 19 anos
Ativo 1,25 1,27
Porque precisamos de energia?
Muito ativo 1,48 1,45
É evidente que o nosso organismo tem necessidade de energia. Para que
Fonte: Food and Nutrition Board – Institute of Medicine. serve?
20 O essencial sobre alimentação saudável O equilíbrio energético 21

■■ A energia serve para assegurar o nosso metabolismo de base, que deter- energético total; num indivíduo sedentário, pode representar muito
mina, de certa forma, a nossa sobrevivência. O metabolismo é o conjunto pouco. Veja o exemplo atrás.
das transformações químicas e físico-químicas que se dão em todos os
tecidos do organismo e, em particular, o processo de degradação e de Como podemos observar, a atividade física tem um grande impacto no
transformação dos alimentos em nutrientes (elementos simples direta- nosso gasto energético. Em média, consumimos cerca de duas quilo-
mente assimiláveis pelas células). O metabolismo de base propriamente calorias por minuto, enquanto acordados, com uma atividade ligeira,
dito é representado pelo consumo energético do organismo em repouso, e quatro a seis quilocalorias, por minuto, em caso de atividade intensa.
em jejum, a uma temperatura compreendida entre 18ºC e 20ºC. Mas é preciso não esquecer que há grandes diferenças entre os homens
As nossas necessidades energéticas de base representam, em média, e as mulheres e em cada um de nós individualmente, tendo em conta
cerca de 1400 quilocalorias por dia, porque consumimos, também as diferentes atividades e as fases da vida.
em média, em repouso total, cerca de uma quilocaloria por minuto.
Mas, como referimos, essas necessidades variam de acordo com o sexo,
a idade, o estado de saúde e a atividade física.
Os gastos energéticos por hora de atividade

Atividades
■■ Apesar de essa necessidade não ser evidente em países de clima tem-
perado, como o nosso, a energia tem também um papel importante na Dormir
Repousar deitado
manutenção da temperatura do corpo. Independentemente do clima
Repousar sentado
e da temperatura exterior, a energia assegura que o nosso organismo
Ler em voz baixa
se mantém a uma temperatura constante de cerca de 37ºC. Varrer
Tricotar, coser
■■ A energia é essencial ao crescimento, ou seja, à construção de novos teci- Ler em voz alta
dos, no decurso da gravidez, durante a infância e na adolescência, Escrever
por exemplo. Cantar
Passar a ferro, lavar louça
■■ Finalmente, assegura a atividade e, especialmente, o trabalho muscular. Pintura, bricolage
Ginástica moderada
Evidentemente, esta é a função que pode consumir mais energia, sendo
Marcha lenta (4 km/h)
a componente mais variável do gasto energético. Por exemplo, no caso Bricolage (madeira/ferro)
de pessoas ativas, pode corresponder a 50 por cento ou mais do gasto Ginástica/halteres
Marcha rápida (6 km/h)
Subir escadas
Trabalho intenso
Bicicleta
SEDENTÁRIA OU ATIVA: DESCUBRA AS DIFERENÇAS (*)
Exercício árduo
Mulher: 45 anos, 60 kg, 1,65 m de altura – sedentária Serrar madeira
Gasto energético = 1802,6 kcal/dia Natação, ténis
Escalada
Mulher: 45 anos, 60 kg, 1,65 m de altura – muito ativa Correr (8,5 km/h)
Gasto energético = 2595 kcal por dia Esqui, futebol, ballet
Luta
(*) Cálculos feitos com base na fórmula do Institute of Medicine. 0 100 200 300 400 500 600 700 800 900 1000

Dispêndio calórico/hora
22 O essencial sobre alimentação saudável O equilíbrio energético 23

A forma mais simples de verificar se estamos a consumir a energia necessidades energéticas globais. Abaixo do limiar mínimo recomen-
necessária ou correspondente às nossas necessidades é através da manu- dado, surgem as doenças de carência; acima do limite superior, podem
tenção do nosso peso ao longo do tempo. ocorrer doenças crónicas relacionadas com o excesso.

Onde está a energia? MACRONUTRIENTES:


LIMITES DE FORNECIMENTO ENERGÉTICO
É a junção do útil ao agradável: retiramos a energia de que necessita-
Mínimo Máximo
mos dos alimentos que constituem as nossas refeições. Esses alimen-
Lípidos ou gorduras 15% 30%
tos contêm nutrientes, que podem ser classificados em quatro grupos, Gorduras saturadas 0% 10%
que apresentamos de seguida. Gorduras polinsaturadas 6% 10%
Gorduras monoinsaturadas (*) (*)

Ácidos gordos trans 0% 1%


■■ Os macronutrientes: englobam os hidratos de carbono ou glúcidos Colesterol 0 mg/dia 300 mg/dia
(açúcares e amidos), as proteínas e as gorduras ou lípidos. São as princi- Hidratos de carbono
pais fontes de energia. ou açúcares 55% 75%
Açúcares simples 0% 10%
Proteínas 10% 15%
■■ Os micronutrientes: abrangem as vitaminas e os minerais, nutrientes (*)
As gorduras monoinsaturadas são calculadas através da diferença entre
não energéticos indispensáveis à construção harmoniosa dos tecidos, as saturadas e as polinsaturadas (por exemplo, para um consumo de 5%
mas que apenas se encontram neles em pequenas quantidades. de gorduras saturadas e 8% de polinsaturadas, o consumo de gorduras
monoinsaturadas deve ser de 12%, para um total de 25% de consumo
de gordura). O cálculo é o seguinte: 25 - (8 + 5) = 12.
■■ A fibra: nutriente não energético, fundamental para a manutenção
de um bom estado de saúde. Frequentemente, em vez de ser consi-
derada um nutriente à parte, a fibra é incluída no grupo dos hidratos No conjunto dos alimentos que nos fornecem hidratos de carbono
de carbono. devemos incluir 400 gramas diários, pelo menos, de fruta e legumes.
Os  hidratos de carbono, ou açúcares, simples representam os açúca-
■■ A água: elemento não energético, mas vital. res refinados, geralmente adicionados, provenientes de refrigerantes,
sobremesas doces, bolos, entre outros.
O equilíbrio entre os três macronutrientes energéticos é muito impor-
tante: é impossível comer apenas gorduras ou açúcares sem graves peri-
gos para a saúde, mesmo que se totalize, dessa forma, a quantidade ideal
de calorias.

ATENÇÃO

Se costuma beber álcool, não se esqueça de reduzir o consumo de açúcar. De facto,


um só grama de álcool liberta sete quilocalorias!

A Organização Mundial da Saúde definiu os limites superior e inferior


do fornecimento de cada um destes nutrientes relativamente às nossas

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