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UNOPAR
Economia do
setor público
ISBN 978-85-8143-632-6
C M Y K CL ML LB LLB
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Economia do
setor público
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Avaliação
Economia edo
ação
setor docente
público
Sandra Regina
Regina Lúcia dos Reis
Sanches Rampazzo
Malassise
Marlizete Cristina Bonafini Steinle
Wilson Salvalagio
Edilaine Vagula
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Malassisse, Regina
Economia do setor público / Regina Malassisse, Wilson Salvalagio. —
São Paulo : Pearson Education do Brasil, 2013.
Bibliografia
ISBN 978-85-8143-632-6
13-01649 CDD-330
2013
Pearson Education do Brasil
Rua Nelson Francisco, 26
CEP: 02712‑100 — São Paulo — SP
Tel.: (11) 2178‑8686, Fax: (11) 2178‑8688
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Sumário
vi E C O N O M I A d O S E T O R P ú b l ico
Referências................................................................ 179
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Carta ao aluno
Apresentação
Unidade 1
Iniciação
à economia
Wilson Salvalagio
2 E C O N O M I A d O S E T O R P ú b l ico
Introdução ao estudo
Para que o administrador possa tomar as decisões nas empresas em que trabalha é essencial
que ele saiba a lógica econômica. Independentemente do tamanho da empresa, é necessário
conhecer a evolução da economia, sua conjuntura, suas perspectivas futuras e principalmente
seu estágio atual.
Para entendermos a importância da economia na vida das pessoas é essencial compreen‑
dermos que o estudo da economia tem por objetivo formular propostas a fim de resolver ou
minimizar os problemas econômicos, correspondendo, assim, às expectativas e promovendo o
bem-estar de cada um. Dessa forma, podemos conceituar a economia como uma ciência social
que estuda de que forma a sociedade decide empregar os recursos produtivos escassos, ou
seja, os fatores de produção terra, trabalho e capital, a fim de melhor atender às necessidades
da coletividade (VASCONCELLOS; GARCIA, 2006).
Nesta unidade, conheceremos os conceitos básicos da economia, seus objetivos, os pro‑
blemas econômicos fundamentais e o uso dos fatores de produção como elementos essenciais
para o funcionamento do processo econômico. O conhecimento obtido com o estudo desta
unidade permitirá ao aluno compreender o processo econômico desde seus objetivos básicos,
que desencadeará na formação de conceitos econômicos que contribuirão para o entendimento
dos outros aspectos da economia, que serão vistos nas demais unidades.
Iniciação à economia 3
Iniciação à economia 5
6 E C O N O M I A d O S E T O R P ú b l ico
2.4 O
s fluxos reais e monetários e o fluxo
circular de renda
O fluxo real da economia nos mostra que com a combinação dos fatores de produção
produz-se os bens e serviços que serão colocados no mercado à disposição das famílias, que
os demandarão, a fim de satisfazer suas necessidades.
O fluxo real da economia só é possível com a presença da moeda, que é utilizada para
remunerar os fatores de produção e para o pagamento dos bens e serviços. Assim, paralela‑
mente ao fluxo real temos um fluxo monetário da economia.
A união dos fluxos real e monetário da economia nos mostra o que chamamos fluxo cir‑
cular de renda (VASCONCELLOS; GARCIA, 2006).
Iniciação à economia 7
Aprofundando o conhecimento
Para mais informações sobre o assunto, sugerimos a leitura do texto a seguir, extraído
de O’Sullivan, Sheffrin e Nishijima (2004, p. 2‑8).
O que é economia?
Economia é o estudo das escolhas feitas por pessoas quando existe escassez, ou seja, quando
existem limites ao que os indivíduos podem obter. A escassez é uma situação na qual os recursos —
tudo aquilo que usamos para produzir bens e serviços — são limitados em quantidade, mas podem ser
usados de diferentes maneiras. Devido à limitação de recursos, torna-se necessário sacrificar a obtenção
de um bem ou de um serviço pela obtenção de outro. A seguir estão alguns exemplos de escassez:
Seu tempo, como o de todas as pessoas da vida moderna, é limitado. Se você joga videogame
durante uma hora, passa a ter uma hora a menos para as demais atividades, tais como
estudar, fazer ginástica ou trabalhar.
Uma cidade tem uma quantidade limitada de terrenos. Se for usado um alqueire de terra
para construir um parque, haverá um alqueire a menos para a construção de apartamentos,
escritórios ou fábricas.
Uma nação tem um número limitado de pessoas; assim, se um exército abrigar um grande
contingente de soldados, haverá menos pessoas para trabalhar como professores, cien-
tistas e policiais.
Em virtude da escassez, escolhas devem ser feitas. Por exemplo: você deve decidir como vai
gastar seu tempo; a cidade deve decidir como vai usar seus terrenos; e nós, como nação, precisamos
decidir de que maneira dividiremos nossa população entre as funções de ensino, de ciência, de
cumprimento da lei, militar etc.
As decisões de escolha são tomadas em todos os níveis da sociedade: os indivíduos decidem
quais produtos vão comprar, que ocupação vão seguir e quanto dinheiro vão economizar; as em-
presas decidem quais produtos vão produzir e de que maneira; já os governos decidem quais pro-
jetos e programas serão implantados e como os financiarão. As escolhas feitas por indivíduos,
empresas e governos sobre a produção de bens respondem a três perguntas econômicas básicas:
1. Quais bens devem ser produzidos? Não é possível produzir dois bens distintos quando
existem recursos produtivos para apenas um. Por exemplo: se um hospital dedicar seus
recursos para a realização de mais transplantes de coração, disporá de menos recursos
para o cuidado com bebês prematuros.
2. Como esses bens devem ser produzidos? Existem formas alternativas de produzir os bens
que desejamos. Por exemplo: as empresas de utilidade pública podem produzir eletricidade
com energia solar ou hidroelétrica. Os professores universitários podem ensinar um novo
conceito a seus alunos por meio de extensas palestras ou de aulas curtas e exercícios.
3. Quem consome os bens produzidos? A sociedade como um todo precisa decidir de
que forma seus produtos serão distribuídos para o consumo das pessoas. Se algumas
ganham mais dinheiro que outras, deveriam consumir mais bens? Quanto dinheiro deve
ser transferido dos ricos aos mais pobres?
8 E C O N O M I A d O S E T O R P ú b l ico
Possibilidades de produção
Para decidir o que produzir, uma sociedade deverá determinar previamente as combinações de pro-
dutos possíveis, considerando a disponibilidade de seus recursos produtivos e seu conhecimento
tecnológico (know-how). O gráfico de possibilidades de produção mostra as opções de produção
disponíveis para uma economia, ou seja, as diferentes combinações de quantidades de produtos que
essa economia pode produzir. Um gráfico bidimensional pode ilustrar adequadamente as opções de
produção usando duas categorias gerais de bens, como bens agrícolas e industriais ou bens de capital
e de consumo. Esse gráfico também pode mostrar as opções de produção para qualquer par de bens
específicos, como armas e manteiga, aviões e soja ou automóveis e alimentos.
b
700
c
650
Toneladas de bens industriais
d
400
i e
300
120 f
10 20 50 60 70
Toneladas de bens agrícolas por ano
Iniciação à economia 9
A Figura 1.1 apresenta um gráfico com a curva de possibilidades de produção para uma eco-
nomia que produz bens agrícolas e industriais. As combinações possíveis ou factíveis desses dois
tipos de bens são mostradas nos pontos da curva e na área sob a curva (região sombreada). Por
exemplo, uma opção é o ponto b, com 700 toneladas de bens industriais e 10 toneladas de
bens agrícolas. Outra opção é o ponto i, com 300 toneladas de bens industriais e 20 toneladas
de bens agrícolas. O conjunto de pontos que compõem a curva também é denominado fronteira
de possibilidades de produção, porque separa as combinações possíveis (todos os pontos da área
sombreada abaixo da curva e a própria curva) das combinações não disponíveis para tal economia
(área não sombreada fora da curva).
Qual é a diferença entre os pontos abaixo da curva e os pontos da curva? Para qualquer ponto
abaixo da curva é possível encontrar um ponto da curva que gere uma quantidade maior de pelo
menos um dos dois bens. Por exemplo: no ponto i a economia pode produzir 300 toneladas de
bens industriais e 20 toneladas de bens agrícolas. Mas sabemos, do ponto d, que a economia po-
deria produzir mais de ambos os produtos: 400 toneladas de bens industriais e 50 toneladas de
bens agrícolas. A produção no ponto i é claramente inferior à produção no ponto d. Uma economia
que produz num ponto abaixo da curva de possibilidades de produção sempre pode aumentar sua
produção e melhorar sua condição.
Uma economia poderia operar em um ponto abaixo da curva por dois motivos distintos. Primeiro,
seus recursos disponíveis não estão plenamente empregados. Por exemplo, alguns trabalhadores
poderiam estar desempregados por não aceitarem salários baixos, ou algumas máquinas, destinadas
à produção, poderiam ficar inativas por falta de compradores dos bens que ela produz. O segundo
motivo seria que os recursos da economia poderiam estar sendo usados de modo ineficiente. Os
bens podem ser produzidos por meio de diferentes combinações de insumos (fatores de produção),
mas algumas combinações podem gerar maior quantidade de bens do que outras. Caso as empre-
sas não escolham a combinação mais produtiva (mais eficiente) de insumos, a economia não obterá
a maior produção possível.
Entretanto, quando uma economia opera num ponto da curva de possibilidades de produção,
torna-se impossível aumentar a produção de um dos bens sem o sacrifício da produção do outro
bem. Em todos os pontos da curva, os recursos produtivos da sociedade são plenamente emprega-
dos e estão sendo utilizados de maneira eficiente.
A curva de possibilidades de produção também ilustra a noção de escassez. Em dado momento,
uma economia que opera de maneira eficiente e utiliza todos os seus recursos produtivos possui uma
quantidade fixa de cada um deles. Isso significa que ela pode produzir mais de um produto apenas se
produzir menos de outro. Para produzir mais bens agrícolas é necessário utilizar os recursos usados
nas fábricas. À medida que esses recursos de produção migrarem para fora das fábricas, a quantidade
de bens industriais diminuirá. Por exemplo: se movermos do ponto b para o ponto c na curva de
possibilidades de produção, na Figura 1.1, será necessário sacrificar 50 toneladas de bens industriais
(700 toneladas – 650 toneladas) para obter 10 toneladas a mais de bens agrícolas (20 toneladas – 10
toneladas).
Que tipo de mudanças deslocaria a curva de possibilidades de produção? Como essa curva
mostra as opções de máxima produção disponível, usando eficientemente todos os recursos produ-
tivos da economia em determinado momento do tempo, então um aumento nos recursos dessa
economia deslocará toda a curva para fora.
Caso uma economia adquira mais recursos produtivos — recursos naturais, mão de obra, capital
físico, capital humano ou capacidade empreendedora —, poderá produzir mais de ambos os produtos.
Como resultado, a curva de possibilidades de produção se deslocará para fora, como mostra a Figura
1.2. Assim, se a economia estivesse inicialmente operando no ponto d e seus recursos aumentassem,
então a produção de bens industriais (ponto g), ou de bens agrícolas (ponto h), ou de ambos (todos os
pontos entre g e h) poderia aumentar. A curva também se deslocará para fora se forem feitas inovações
tecnológicas que permitam aumentar a produção a partir da mesma quantidade de recursos.
A curva de possibilidades de produção também pode se deslocar para dentro. Suponha que uma
enchente destrua fábricas e rodovias. Nesse caso, a economia ficará com menos recursos disponíveis
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para produção e por isso a curva de possibilidades de produção se deslocará para dentro. Isso significa
que essa economia produzirá menos bens industriais, menos bens agrícolas ou menos de ambos. Do
mesmo modo, como exemplo, as guerras do Iraque e a dos israelenses e palestinos — que causam a
destruição generalizada de estradas, fábricas, pontes, usinas geradoras de eletricidade e habitações —
deslocam o limite das possibilidades de produção daquelas economias para dentro.
Observe que Adam Smith diz ‘com frequência’ e não ‘sempre’, de modo que o autor reconhece
que os indivíduos, ao perseguirem seus próprios interesses, não promoverão necessariamente o in-
teresse social. Nesses casos, pode ser sensato para um governo direcionar as decisões das pessoas,
de modo a promover o interesse social.
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I n i c i a ç ã o à e c o n o m i a 11
Nas economias modernas, a maioria das decisões sobre quanto produzir, como produzir e para
quem produzir é tomada nos mercados. Contudo, nenhuma economia depende exclusivamente
dos mercados para tomar tais decisões. Posteriormente, examinaremos de que maneira o governo
regula os mercados, oferece bens e serviços, impõe impostos para financiar os bens e serviços que
oferece, além de redistribuir renda.
Microeconomia e macroeconomia
Existem dois tipos de análise econômica: microeconomia e macroeconomia. A microeconomia é
o estudo das escolhas feitas por famílias, empresas e governos e de que forma essas escolhas afetam
os mercados de bens e serviços. Examinaremos três maneiras de usar a análise microeconômica:
1. Entender os mercados e prever possíveis mudanças. Uma das razões para estudar
microeconomia é conhecer o funcionamento dos mercados, para que tal conhecimento
possibilite o uso da análise econômica na previsão de variações de preços de um determi-
nado bem ou variações de suas vendas.
2. Tomar decisões gerenciais e pessoais. Usamos a análise microeconômica, na vida
pessoal, para decidir de que maneira gastar nosso tempo, qual carreira seguir e como
gastar ou economizar o dinheiro que recebemos. Como profissionais, usamos a análise
econômica para decidir como produzir bens e serviços, além de decidir suas quantidades
produzidas e preços cobrados.
3. Avaliar as políticas públicas. Apesar das sociedades modernas usarem os mercados
na tomada de grande parte das decisões sobre produção e consumo, o governo possui
um papel muito importante nessas sociedades. Pode-se usar a análise microeconômica
para avaliar o desempenho do governo sobre a economia de mercado. Pode-se também
explorar os ganhos e perdas (trade-offs) associados às várias políticas públicas.
12 E C O N O M I A d O S E T O R P ú b l ico
todo, opera. A análise macroeconômica pode ser usada para explicar por que alguns paí
ses crescem mais rápido que outros.
2. Entender os grandes debates sobre política econômica. A macroeconomia se desen-
volveu como um ramo à parte da economia durante a década de 1930, período em que
ocorreu um enorme desemprego em todo o mundo. Com o conhecimento da macroeco-
nomia, foi possível compreender a lógica dos vários tipos de debates sobre a política
econômica, em especial o debate sobre a eficácia das políticas econômicas destinadas a
reduzir a taxa de desemprego.
3. Melhorar a capacidade de tomada de decisões sobre negócios. Um gerente que entenda
do funcionamento de uma economia nacional será capaz de tomar melhores decisões sobre
taxas de juros, de câmbio, de inflação e de desemprego. Um gerente que pretenda tomar
dinheiro emprestado para uma nova instalação de produção, por exemplo, poderia usar seu
conhecimento de macroeconomia para prever os efeitos das políticas públicas correntes
sobre taxas de juros presentes e futuras e então decidir qual o melhor momento para se
endividar. Do mesmo modo, um gerente deve sempre ficar atento à taxa de inflação para
decidir quanto cobrar pelos bens que produz e quanto pagar aos seus empregados.
Nova
Toneladas de bens industrias por ano
Original
g
600
d h
400
50 70
Toneladas de bens agrícolas por ano
Tendo visto quais são as preocupações da economia, estamos preparados para discutir os cinco
princípios-chave. Esses princípios são verdades que se autoevidenciam, e a maioria das pessoas não
reluta em aceitá-los. Além disso, fornecem fundamentos lógicos para o raciocínio econômico e
serão usados, ao longo deste livro, para explicar as ferramentas da análise econômica.
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I n i c i a ç ã o à e c o n o m i a 13
Resumo
Nesta unidade, pudemos ver as definições de economia, conhecemos os fatores de
produção e as necessidades humanas e estudamos os sistemas econômicos.
Observamos que independentemente do agente econômico em ação verifica-se que
a economia é uma ciência social, que se utiliza dos fatores de produção para atender às
necessidades das pessoas. O problema fundamental da economia é que os recursos são
escassos e as necessidades são ilimitadas. Necessidades estas que são atendidas por meio
dos bens econômicos, produzidos pela combinação dos fatores de produção, conforme
o conceito dos fluxos real e monetário da economia.
O estudo da economia se dá por dois ramos básicos que são a microeconomia e a
macroeconomia.
Na próxima unidade, trataremos do estudo da macroeconomia, e poderemos entender
como os governos podem tomar medidas econômicas com o objetivo de proporcionar
o equilíbrio da economia e com isso corresponder ao objetivo básico da economia, que
é proporcionar o bem-estar a cada um dos habitantes do país.
Atividades de aprendizagem
1. Os salários médios mensais no Brasil aumentaram muito entre 1970 e 1993, mas os salários
reais caíram. Por que isso ocorreu?
2. Suponha que seu salário dobre, e os preços de todos os bens de consumo também. Você
ficará em melhores condições de vida, piores ou iguais?
3. Suponha que seu banco pague 12 % ao ano sobre sua conta poupança, então cada R$
100 no banco aumentam para R$ 112 no período de um ano. Se os preços aumentam em
10 % ao ano, quanto você realmente ganha mantendo R$ 100 no banco por um ano?
4. A maneira como as sociedades econômicas resolvem os problemas econômicos fundamen‑
tais depende da forma da organização econômica do país, ou seja, do sistema econômico
de cada nação. Um sistema econômico pode ser definido como a forma política, social e
econômica pela qual está organizada uma sociedade. Classifique os sistemas econômicos
e comente cada um deles.
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Unidade 2
Elementos básicos de
macroeconomia
Wilson Salvalagio
16 E C O N O M I A d O S E T O R P ú b l ico
Introdução ao estudo
Como pudemos ver na unidade anterior, o estudo da teoria econômica divide-se em duas
partes: a microeconomia e a macroeconomia. Esta última, que é o objeto de nosso estudo
nesta unidade, analisa os agregados econômicos, buscando estudar o comportamento da renda
nacional, da produção total de bens e serviços do país, bem como a evolução da inflação, os
investimentos totais da economia, as exportações etc. (LANZANA, 2002).
Ao longo do estudo desta unidade, teremos a oportunidade de analisar e compreender as
diversas medidas de política econômica adotadas pelos governantes, e nos permitir entender
o significado de cada ação tomada. Muitas vezes ouvimos ou lemos nos noticiários que o go‑
verno está tomando alguma ação de política fiscal ou monetária. Com este estudo poderemos
compreender o real significado dessas medidas e quais os objetivos.
Cabe a cada governo tomar ações que promovam o desenvolvimento econômico e social,
que possibilitem manter o controle dos preços e a manutenção do equilíbrio das contas exter‑
nas, bem como promover a redução das desigualdades de rendas. Para isso, ele conta com os
instrumentos de política macroeconômica, que lhe permitem adotar as medidas necessárias
para a manutenção da boa ordem econômica.
E l e m e n t o s b á s i c o s d e m a c r o e c o n o m i a 17
Aprofundando o conhecimento
Leia a seguir, para aprofundar seus conhecimentos, o texto extraído de Parkin (2003,
p. 225-230).
O crescimento econômico
O PIB real per capita nos Estados Unidos mais que dobrou entre 1960 e 1998. Nesse país,
muitos estudantes vivem em alojamentos dentro de campi. Muitos desses alojamentos foram cons
truídos durante os anos 60 e equipados com duas tomadas de eletricidade, uma para uma luminá-
ria de escrivaninha e outra para uma luminária ao lado da cama. Hoje, com ajuda de extensões, os
quartos recebem televisão, videocassete, aparelho de CD, micro-ondas, cafeteira, refrigerador,
torradeira, computador — e a lista vai crescendo. O que gerou tal crescimento em produção e renda?
O que pode ser feito para acelerar o crescimento econômico?
Podemos observar os maiores extremos de crescimento econômico analisando a Ásia moderna.
Às margens do rio Li, na China Meridional, Songman Yang cria cormorantes, pássaros incríveis que
ele treina para pescar e entregar a captura em uma cesta em sua simples balsa de bambu. O traba-
lho de Songman, o equipamento vital, a tecnologia que ele usa e a renda que ganha não mudaram
quase nada desde que seus antepassados, dois mil anos antes, iniciaram essa prática. No entanto,
ao redor de Songman, nas aldeias, vilas e cidades movimentadas da China, as pessoas estão parti-
cipando de um milagre econômico — estão criando negócios, investindo em tecnologias novas,
desenvolvendo mercados locais e globais e experimentando crescimento de renda superior a 6 por
cento por ano. Apesar de certa desaceleração em 1998, um rápido crescimento econômico ocorreu
em Hong Kong, na Coreia do Sul e em Taiwan. Nesses países, por três vezes o PIB real dobrou — um
aumento de oito vezes — entre 1960 e 1998. Por que as rendas nessas economias asiáticas cresce-
ram tão rapidamente? O que faz com que um milagre econômico ocorra?
Neste capítulo, estudaremos as forças que fazem o PIB real crescer, que permitem que alguns
países cresçam mais rapidamente que outros e que às vezes interferem em nossa própria taxa
de crescimento, que pode se desacelerar ou acelerar. Também conheceremos políticas para
alcançar crescimento econômico mais rápido.
FIGURA 11.1
Cem11.1
Figura anosCem
de anos
crescimento econômico
de crescimento nos
econômico nosEstados Unidos
Estados Unidos
3
1895 1910 1925 1940 1955 1970 1985 2000
Ano
Fonte: Christina D. Romer,“The prewar business cycle reconsidered: new estimates of Gross National Product, 1869–1908”, Journal of Political Economy, vol. 97 (1989); National income
and product accounts of the United States; Estatísticas históricas dos Estados Unidos dos tempos coloniais até 1957, Ministério do Comércio dos Estados Unidos, 1960; e
Economic Report of the President , 1999.
TENDÊNCIAS D E C R E S C I M E N TO D E L O N G O P R A Z O
Estados Unidos
10
(milhares de dólares de 1985; escala)
5
8 Europa Central
em transição
Os quatro mais ricos América do Sul
PIB real per capita
da Europa e Central
4
Japão 1 África
2 0
1960 1970 1980 1990 2000 1960 1970 1980 1990 2000
Ano Ano
O PIB real per capita cresceu na economia mundial em geral. per capita no Canadá também ficou mais próximo do índice
Entre os países industriais ricos (parte (a)), o crescimento do norte-americano. Em um conjunto maior de países (parte (b)),
PIB real no Canadá, nos quatro mais ricos da Europa (França, observa-se pequeno sinal de aceleração.As diferenças entre os
Alemanha, Itália e Reino Unido) e no Japão foi mais rápido que níveis de PIB real per capita nos Estados Unidos e em outros
nos Estados Unidos, e esses países estão se aproximando do países da Europa Ocidental, da Europa Central, das Américas
desempenho econômico norte-americano. O crescimento mais Central e do Sul e do continente africano permaneceram
espetacular ocorreu no Japão durante os anos 60. O PIB real constantes.
Fontes: 1960–1992, Robert Summers e Alan Heston, New computer diskette (Mark 5.6a), 15 de janeiro de 1995, distribuído pela Agência Nacional de Pesquisa Econômica
para atualizar "The Penn World Table: an expanded set of international comparisons, 1950–1988", Quarterly Journal of Economics 1991, p. 327–368, 1993–1998, Fundo
Monetário Internacional, World Economic Outlook, Washington D.C., out. 1998.
mais ricos do mundo. A China agora está seguindo os passos de Hong Kong. Se mantiver seu cresci-
mento rápido, a economia mundial tomará uma conformação muito diferente — a China é equivalente
a mais de duzentos países do tamanho de Hong Kong. Esse país continuará seu processo atual de
crescimento rápido? É impossível prever.
1
PIB real per capita
Questões de revisão
Qual foi a taxa média de crescimento econômico nos Estados Unidos durante os últimos
cem anos? Quais foram os períodos de crescimento mais rápido e mais lento?
Descreva as diferenças entre PIB real per capita nos Estados Unidos e em outros países. Em
quais países as diferenças estão se reduzindo? Onde as diferenças estão aumentando? E em
que países estão permanecendo inalteradas?
Compare a taxa de crescimento e os níveis de PIB real per capita em Hong Kong, Coreia, Cinga-
pura, Taiwan, China e Estados Unidos. Quão distante a China está das outras economias asiáticas?
Os fatos relacionados ao crescimento econômico nos Estados Unidos e ao redor do mundo
levantaram algumas perguntas a que vamos responder agora. Estudaremos em três etapas as cau-
sas de crescimento econômico. Primeiro, conheceremos as condições prévias para o crescimento e
as atividades que o sustentam. Segundo, aprenderemos como os economistas medem as contribui-
ções relativas das fontes de crescimento — uma atividade chamada ‘contabilidade de crescimento’.
E, terceiro, estudaremos três teorias de crescimento econômico que buscam explicar como as
influências no crescimento interagem para determinar a taxa de crescimento.
1. Os mercados
2. Os direitos de propriedade
3. A troca monetária
Os mercados permitem a compradores e vendedores adquirir informações e negociar entre si.
Os preços de mercado são sinais que criam incentivos para aumentar ou diminuir as quantidades
demandadas e oferecidas. Os mercados permitem às pessoas especializar-se, comerciar, economizar
e investir. Mas, para que funcionem, precisamos de direitos de propriedade e troca monetária.
Direitos de propriedade são os arranjos sociais que governam a posse, o uso e a disposição de recur-
sos, bens e serviços. Eles incluem os direitos de propriedade física (terra, edificações e equipamento de
capital), de propriedade financeira (reivindicações de uma pessoa contra outra) e de propriedade intelec-
tual (como invenções). Claramente estabelecidos e implementados, os direitos de propriedade proporcio-
nam às pessoas garantias de que um capricho governamental não irá confiscar sua renda ou poupança.
A troca monetária facilita transações de todo tipo, inclusive a transferência em ordem de proprie-
dade privada de uma pessoa para outra. Direitos de propriedade e troca monetária criam incentivos
para que as pessoas se especializem, comerciem, economizem, invistam e descubram novas tecnologias.
Não é necessário um único sistema político para garantir precondições para o crescimento
econômico. A democracia liberal, fundada no princípio fundamental da lei, é o sistema que melhor
funciona. Ela provê uma base sólida na qual direitos de propriedade podem ser estabelecidos e
garantidos. Mas sistemas políticos autoritários às vezes criaram um ambiente no qual ocorreram
crescimentos econômicos.
Sociedades humanas primitivas, baseadas na caça e na coleta, não experimentaram crescimento
econômico porque lhes faltaram as precondições. O crescimento econômico começou quando as
sociedades desenvolveram as três instituições principais criadoras de incentivos. Mas a presença de
um sistema de incentivo e as instituições que o geram não garantem que haverá crescimento eco-
nômico. Essas condições permitem o crescimento econômico, mas não o tornam inevitável.
O modo mais simples de crescimento acontece quando há um sistema apropriado de incentivo
e as pessoas começam a se especializar nas atividades em que possuem uma vantagem comparativa
e comercial. Especializando e comercializando, todos podem adquirir bens e serviços a um custo
mais baixo. Da mesma maneira, as pessoas podem obter maior volume de bens e serviços em troca
de seu trabalho.
À medida que uma economia parte de uma simples especialização para uma situação mais
favorável de especialização e troca, a produção e o consumo crescem. O PIB real per capita aumenta,
e o padrão de vida se eleva. Mas, para que o crescimento seja mantido, as pessoas precisam receber
incentivos que as estimulem a praticar as três principais atividades que geram crescimento econômico
contínuo. Essas atividades são:
Poupança e investimento em capital novo
Investimento em capital humano
Desenvolvimento de novas tecnologias
Essas atividades interligadas são as fontes primárias do extraordinário crescimento em produ-
tividade dos últimos duzentos anos. Analisemos uma a uma.
filme de faroeste, repare como é pequena a quantia de capital daquele contexto. Tente imaginar o
quanto você seria produtivo em tais circunstâncias em comparação com sua produtividade de hoje.
Questões de revisão
Como os mercados, o direito de propriedade e a troca monetária facilitam as atividades
econômicas que conduzem ao crescimento econômico?
Quais são os papéis da economia e do investimento em capital novo, do crescimento de
capital humano e do desenvolvimento de novas tecnologias no crescimento econômico? Dê
alguns exemplos de como o capital humano criou novas tecnologias baseadas em capital
humano e físico.
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24 E C O N O M I A d O S E T O R P ú b l ico
E l e m e n t o s b á s i c o s d e m a c r o e c o n o m i a 25
Aprofundando o conhecimento
Leia o texto a seguir, de Parkin (2003, p. 281-301), para maior compreensão do tema.
A política fiscal
Em 1999, o governo federal dos Estados Unidos planejou gastar $1.868 bilhão, ou seja, 23
centavos de cada dólar que os norte-americanos ganham. Quais são os efeitos do gasto do governo
na economia? Gera novos postos de trabalho? Ou os destrói? E um dólar gasto pelo governo em
bens e serviços tem o mesmo efeito de um dólar gasto por outra pessoa? Embora o governo fede-
ral tenha planejado gastar 23 centavos de cada dólar ganho, não pensou taxar por essa quantia.
Seus planos eram de receitas tributárias de $1.987 bilhão, ou seja, 24 centavos de cada dólar ganho.
Quais são os efeitos dos impostos na economia? Eles prejudicam o nível de emprego e o crescimento
econômico? Sobrará dinheiro no orçamento federal de 1999. A última vez que isso ocorreu foi em
1969. Durante os trinta anos decorridos desde então — tomando como base dólares de 1992 —,
a dívida do governo federal aumentou de $1.000 bilhão para $3.250 bilhões. Se esses números
parecem grandes demais, divida-os pelo total da população norte-americana para achar o valor per
capita. A dívida governamental por pessoa estava em mais de $12.000 em 1999. Qual é a relevân-
cia do equilíbrio nas contas públicas? Quais são os efeitos de um déficit governamental contínuo e
de uma dívida cumulativa? Eles reduzem a velocidade do crescimento econômico? Impõem um
fardo a futuras gerações — a você e seus filhos? O que deve ser feito para equilibrar o orçamento?
Cortes de gastos resolvem? Ou os impostos devem ser aumentados? Ou, ainda, os gastos podem
ser cortados a ponto de os impostos também poderem ser reduzidos?
Esses são os assuntos de política fiscal que você estudará neste capítulo. Começaremos des-
crevendo o orçamento federal e seu processo de criação. Também conheceremos a recente história
do orçamento.
Orçamento federal
A declaração anual de dispêndios e receitas com impostos do governo, com as leis e os regu-
lamentos que aprovam e apoiam tais dispêndios e impostos compõe o orçamento federal, que
apresenta dois propósitos:
1. Financiar as atividades do governo federal
2. Estabilizar a economia
O primeiro objetivo do orçamento federal era o único que havia antes da Grande Depressão
dos anos 30; o segundo surgiu como uma reação à Grande Depressão. O uso do orçamento fede-
ral para alcançar objetivos macroeconômicos — como pleno emprego, crescimento econômico
contínuo e estabilidade do nível de preços — é chamado de política fiscal. O enfoque deste capítulo
está nesse segundo propósito.
As instituições e as leis
A política fiscal é elaborada pelo presidente e pelo Congresso em períodos anuais, conforme
mostrado na Figura 13.1.
Os papéis do presidente e do Congresso Nos Estados Unidos, o presidente apresenta
uma proposta de orçamento ao Congresso cada mês de fevereiro e, depois que este aprova os atos
do orçamento em setembro, um ou outro assina esses atos e os converte em lei ou veta. O presidente
pode aprovar ou vetar integralmente o orçamento, mas não tem o poder de veto para eliminar
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artigos específicos em uma conta orçamentária e aprovar outros — conhecido como veto de linha-
-item. Muitos governadores de Estado têm a autoridade de veto de linha-item, e o Congresso
tentou conceder esse poder ao presidente em 1996, mas um ato da Suprema Corte de 1998 de-
clarou inconstitucional esse veto para o presidente. Embora ele proponha e em última instância
aprove o orçamento, a tarefa de tomar as duras decisões em dispêndios e impostos é do Congresso.
O Congresso dá início a seu trabalho no orçamento a partir da proposta do presidente. A Câmara
dos Deputados e o Senado desenvolvem suas próprias ideias orçamentárias em seus respectivos
comitês. Conferências formais entre as duas casas solucionam, por fim, eventuais divergências, e
uma série de atos de despesa e um ato orçamentário global normalmente passam por ambas as
casas antes do começo do ano fiscal, que vai de 1o de outubro a 30 de setembro do ano seguinte.
O ano fiscal de 2000, por exemplo, foi iniciado em 1o de outubro de 1999.
O processo orçamentário federal começa com as propostas do presidente em fevereiro. O
Congresso debate, emenda essas propostas e promulga um orçamento antes do início do ano fiscal,
em 1o de outubro. O presidente assina os atos orçamentários e os converte em lei ou veta.
Ao longo do ano fiscal, o Congresso pode votar leis orçamentárias adicionais. O resultado do
orçamento é calculado depois do final do ano fiscal, em 30 de setembro.
1º de janeiro de 1999
6 de fevereiro de 1999 O Presidente submete uma proposta
orçamentária ao Congresso.
Março
O Congresso debate, faz emendas
e promulga o orçamento.
Setembro
1º de outubro de 1999
Começa o ano fiscal de 2000.
Podem ser votadas leis orçamentárias
adicionais.
E l e m e n t o s b á s i c o s d e m a c r o e c o n o m i a 27
Fonte: Orçamento do governo dos Estados Unidos, ano fiscal 2000. Tabela 14.1, Transações federais
nas contas de renda nacional e produto.
Receitas com imposto Receitas com imposto foram projetadas em $1.987 bilhão no ano
fiscal de 2000. Essas receitas provêm de quatro fontes:
1. Impostos de renda de pessoas físicas
2. Impostos de seguro social
3. Impostos de renda de pessoas jurídicas
4. Impostos indiretos
A maior fonte de renda são os impostos sobre a renda de pessoas físicas, que em 2000 eram
estimados em $926 bilhões. A segunda maior fonte são os impostos de seguro social, que são
aqueles pagos pelos trabalhadores e seus empregadores para financiar os programas de seguro
social do governo. Em terceiro lugar encontram-se os impostos de renda de pessoas jurídicas (em-
presas), que são aqueles pagos por empresas sobre seus lucros. Finalmente, a menor fonte de renda
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28 E C O N O M I A d O S E T O R P ú b l ico
federal é proveniente dos chamados impostos indiretos, que são aqueles embutidos em combustí-
veis, bebidas alcoólicas e alguns outros itens.
Dispêndios Os dispêndios são classificados em três categorias:
1. Pagamentos de transferência
2. Compras de bens e serviços
3. Juros da dívida
Pagamentos de transferência, item maior de despesa, são pagamentos a indivíduos, negócios,
outros níveis de governo e ao resto do mundo. Estimava-se esse item em $1.868 bilhão em 2000.
Inclui benefícios de seguro social, assistência médica, seguro-desemprego, pagamentos de previ-
dência, subsídios a agricultores, concessões para Estados e municípios, ajuda para países em desen-
volvimento e dívidas com organizações internacionais, como as Nações Unidas. Pagamentos de
transferência, especialmente assistência médica, são fontes constantes de crescimento em dispêndios
governamentais e um importante tema de preocupação e debate político. Compras de bens e
serviços são dispêndios em bens e serviços finais, estimados em $477 bilhões em 2000. Esses dis-
pêndios — os quais incluem defesa nacional, o programa espacial da Nasa, pesquisas para a cura
da Aids, computadores para a Receita Federal, veículos para o governo, estradas federais e represas
— têm diminuído recentemente. Esse componente do orçamento federal são compras públicas de
bens e serviços que aparecem no fluxo circular de despesa e renda e nas Contas de Renda Nacional
e Produto. Juros da dívida são os juros sobre a dívida governamental. Em 2000, esse item era esti-
mado em $202 bilhões — cerca de 11 por cento da despesa total. O pagamento de juros é grande
porque o governo possui uma dívida de mais de $3 trilhões, resultado de longos períodos de déficit
orçamentário durante os anos 70, 80 e 90.
Superávit O saldo do orçamento do governo é igual à receita tributária menos seus dispên-
dios. Ou seja: Saldo do orçamento = Receita tributária – Dispêndios. Se a receita tributária excede
os dispêndios, o governo tem um superávit orçamentário. Se os dispêndios excedem a receita tri-
butária, o governo apresenta um déficit orçamentário.
Se a receita tributária iguala os dispêndios, o governo possui um orçamento equilibrado. No
ano fiscal de 2000, com dispêndios projetados de $1.868 bilhão e receita tributária de $1.987 bilhão,
o governo estimou um superávit orçamentário de $119 bilhões.
Números altos como esses são difíceis de visualizar e de comparar ao longo do tempo. Para
se apreender melhor a magnitude de impostos, dispêndios e superávit, frequentemente tais ca-
tegorias são expressas como porcentagens do PIB. Desse modo torna-se possível avaliar quão
grande é o governo em relação ao tamanho da economia e também estudar as mudanças no
tamanho do governo com o passar do tempo.
Vejamos como exemplo o orçamento federal de 2000.
E l e m e n t o s b á s i c o s d e m a c r o e c o n o m i a 29
cas reduziram a receita tributária total entre 1981 e 1986. O declínio foi o resultado de cortes de
impostos passados em 1981. De 1986 até 1991, a receita tributária não mudou muito como uma
porcentagem do PIB. Mas, nos anos 90, aumentos no imposto de renda de pessoas físicas elevaram
a receita total tributária.
25
Dispêndios Superávit orçamentário
Déficit orçamentário
20
déficit do orçamento (porcentagem do PIB)
Dispêndios, receita tributária e superávit/
Receitas tributárias
15
10
0
1980 1982 1984 1986 1988 1990 1992 1994 1996 1998 2000
Ano
30 E C O N O M I A d O S E T O R P ú b l ico
25
Receita tributária (porcentagem de PIB)
20
Impostos indiretos
10 Imposto de renda de empresas
0
1980 1982 1984 1986 1988 1990 1992 1994 1996 1998 2000
Ano
25
20
Dispêndios (porcentagem do PIB)
Pagamentos de transferência
15
10 Juro da dívida
5
Compra de bens e serviços
0
1980 1982 1984 1986 1988 1990 1992 1994 1996 1998 2000
Ano
(b) Dispêndios
Na parte (a), receitas de impostos de renda de pessoas físicas e de empresas diminuíram durante
o princípio dos anos 80; receitas de impostos de renda de pessoas físicas aumentaram durante
os anos 90. Os outros componentes de receita tributária permaneceram fixos. Na parte (b),
compras de bens e serviços cresceram durante o princípio dos anos 80 e caíram na década
de 90. Pagamentos de transferência aumentaramaaa durante o princípio dos anos 80. O juro da
US5E – Fig30.03
dívida aumentou continuamente durante a década de 80, uma vez que o déficit orçamentário
se autoalimentava, e então diminuiu durante os anos 90, pois o déficit encolheu e as taxas de
juros caíram.
Superávit, déficit e dívida O governo faz empréstimos quando apresenta déficit orça-
mentário e realiza reembolsos quando tem superávit. Dívida governamental é a quantia total que
o governo tomou emprestado — a soma de déficits passados menos a soma de superávits passados.
Quando o governo experimenta um déficit orçamentário, sua dívida aumenta. E se ele persiste,
como ocorreu nos anos 80, realimenta a si mesmo. O déficit gera aumento de empréstimos; um
aumento de empréstimos acarreta pagamentos de juros maiores; e pagamentos de juros maiores
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E l e m e n t o s b á s i c o s d e m a c r o e c o n o m i a 31
conduzem a um déficit maior. Esse é o resumo da história do déficit crescente dos anos 80. A Figura
13.4 mostra o desempenho da dívida governamental desde 1940. Ao término da Segunda Guerra
Mundial, a dívida (como uma porcentagem do PIB) encontrava-se estável em um alto nível de 109
por cento. Enormes déficits de tempo de guerra aumentaram a dívida a ponto de exceder o PIB real.
Superávits orçamentários e um rápido crescimento econômico reduziram para 24 por cento a dívida
em relação ao PIB em 1974. Déficits pequenos elevaram-na ligeiramente em relação ao PIB nos anos
70, e déficits grandes acentuaram de maneira drástica essa relação durante os anos 80 e até a re-
cessão de 1990–1991. A taxa de crescimento da dívida em relação ao PIB diminuiu quando a
economia se expandiu em meados dos anos 90 e começou a cair quando o orçamento governa-
mental entrou em superávit no fim da mesma década.
120
100
Dívida governamental federal (porcentagem do PIB)
Superávit e crescimento
Diminuindo
econômico rápido
déficits
80 e criando
superávits
60 Déficit e crescimento
econômico mais lento
Segunda
40 Guerra
Mundial
20
0
1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000
Ano
Dívida e capital Empresas e indivíduos contraem dívidas para comprar capital — ativos que
rendem um retorno. De fato, o ponto principal da dívida é habilitar as pessoas a comprar ativos que
gerem um retorno superior ao juro pago por ela. O governo age de modo semelhante. Muita despesa
governamental está em ativos públicos que rendem um retorno. Estradas, projetos de irrigação, escolas
públicas e universidades, bibliotecas públicas e estoque de capital de defesa nacional, tudo isso gera
uma taxa social de retorno que provavelmente excede a taxa de juros que o governo paga em sua dívida.
Mas a dívida pública norte-americana total — quase $4 trilhões — é mais que duas vezes o
valor do estoque de capital público. Assim, alguma dívida governamental foi para financiar despe-
sas de consumo público (como viagens diplomáticas ao exterior). Esse tipo de despesa não apresenta
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32 E C O N O M I A d O S E T O R P ú b l ico
Figura
13.5 Orçamentos governamentais em alguns países do mundo
em 1999
Países
Japão
União Europeia
Estados Unidos
Alemanha
França
Itália
Reino Unido
Canadá
África
Ásia
Hemisfério Ocidental
–6 –4 –2 0 2
Superávit/déficit (porcentagem do PIB)
Na maioria dos países, os governos enfrentam déficits orçamentários. Os maiores estão no Japão,
seguido pelo Oriente Médio e pelo resto da Ásia. Os Estados Unidos e o Canadá apresentam superávits.
Fonte: World EconomicOutlook, outubro de 1998, Fundo Monetário Internacional, Washington,
D.C., Tabelas A15 e A2.
aaa
US5E – Fig30.05
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Questões de revisão
O que é política fiscal e quem a determina? Ela é projetada para influenciar o quê?
Qual é o papel especial do presidente na criação da política fiscal?
Qual é a linha de tempo para o orçamento federal norte-americano a cada ano? Quando um
ano fiscal começa e quando termina?
O orçamento federal do governo norte-americano hoje está em superávit ou déficit?
Agora que você sabe o que é orçamento federal e quais são os itens principais de receita e
despesa, é hora de estudar os efeitos da política fiscal. Começaremos pela análise de seus efeitos
nos planos de despesa quando o nível de preço é fixo. Você verá que a política fiscal possui múltiplos
efeitos, como os multiplicadores de despesa. Então estudaremos as influências da política fiscal na
demanda agregada e no superávit agregado e veremos seu efeito no PIB real e no nível de preço a
curto e a longo prazo.
Multiplicadores de política fiscal
Ações de política fiscal podem ser automáticas ou seletivas. Política fiscal automática é uma
mudança na política fiscal ativada pelo estado da economia. Por exemplo, um aumento no de-
semprego desencadeia um aumento automático em pagamentos para o desempregado. Uma
queda na renda ativa gera uma diminuição automática em arrecadação de impostos. Ou seja,
trata-se de um tipo de política fiscal que se ajusta automaticamente. Política fiscal seletiva é uma
ação política iniciada por um ato do Congresso. Requer uma mudança na legislação fiscal ou em
algum programa de gastos. Por exemplo, um aumento na taxa de imposto de renda e no gasto
de defesa são ações de política fiscal seletiva. Ou seja, política fiscal seletiva é uma ação de polí-
tica deliberada.
Começaremos estudando os efeitos de mudanças seletivas em gastos governamentais e im-
postos. Para enfocar o essencial, vamos partir de um modelo de economia mais simples do que
aquele em que vivemos, no qual não haja nenhum comércio internacional e cujos impostos sejam
todos impostos fixos (não variando com o PIB real). O governo os fixa, e eles sofrem alterações
apenas a partir de medidas governamentais, ou seja, em nosso modelo hipotético, os impostos não
variam automaticamente com o estado da economia.
O exemplo principal de um imposto de montante fixo é o imposto territorial, que depende do
valor da propriedade que uma pessoa ocupa. Mas, diferentemente do imposto de renda, não se
altera simplesmente porque a renda de uma pessoa mudou. Usamos impostos fixos em nosso
modelo de economia porque eles tornam mais fáceis de entender os princípios que estamos estu-
dando. Uma vez compreendidos certos princípios básicos, exploraremos a economia real, com co-
mércio internacional e impostos sobre a renda — que variam com o PIB real.
Assim como uma economia real, o modelo que estudamos é bombardeado por dispêndios
flutuantes. Investimentos em edifícios novos, fábricas e equipamentos, assim como inventários,
flutuam devido às oscilações em expectativas de lucro e taxas de juros. Essas flutuações levam a
efeitos multiplicadores que desencadeiam uma recessão ou uma expansão. Se ocorrer recessão,
o desemprego aumenta e as rendas caem. Se uma expansão se torna muito acentuada, pressões
inflacionárias se estabelecem. Para minimizar os efeitos dessas oscilações nos gastos, o governo
poderia reformular suas compras de bens e serviços ou sua política tributária. Mudando qualquer
um desses itens, ele interfere na despesa agregada e no PIB real, mas também em seu déficit ou
superávit orçamentário. Uma ação alternativa de política fiscal é mudar compras e impostos
juntos, de maneira que o equilíbrio orçamentário não se altere. Estudaremos os efeitos iniciais
dessas ações de política fiscal seletiva no curto prazo, partindo de um nível de preços fixo. Cada
uma dessas ações cria um efeito de multiplicador no PIB real. Esses multiplicadores são:
O multiplicador de compras
O multiplicador de impostos fixos
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34 E C O N O M I A d O S E T O R P ú b l ico
1
Multiplicador
Multiplicador dede comprasdo
compras dogoverno
governo == .
1 − PMC
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E l e m e n t o s b á s i c o s d e m a c r o e c o n o m i a 35
Despesa Aumento
Compras agregada nas Nova
PIB Renda Despesa de iniciais do planejada compras do despesa
real Impostos disponível consumo Investimento governo inicial governo agregada
(Y) (T) (Y – T) (C) (I) (G) (C + I + G) (∆G) (C + I + G + ∆G)
(trilhões de dólares)
Figura
13.6 O multiplicador de compras governamentais
Despesa agregada (trilhões de dólares de 1992)
45° AE1
Um aumento de $0,5 trilhão em
9 compras do governo modifica a e'
AE0
curva AE para cima em $0,5 trilhão…
d' e
8
c' d
7
b' c
... e aumenta
o PIB real em
6 b $2 trilhões.
a'
O multiplicador
de compras do
5 a governo é
1 =4
(1 – 0,75)
0 5 6 7 8 9
PIB real (trilhões de dólares de 1992)
aaa
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36 E C O N O M I A d O S E T O R P ú b l ico
Inicialmente, a curva de despesa agregada é AE0 e o PIB real é $6 trilhões (no ponto b). Um
aumento de $0,5 trilhão em compras do governo eleva a despesa agregada planejada em cada
nível de PIB real em $0,5 trilhão. A curva de despesa agregada muda para cima, de AE0 para —
mudança paralela. Ao PIB real inicial de $6 trilhões, a despesa agregada planejada é agora $6,5
trilhões. Como é superior ao PIB real, este cresce. O novo equilíbrio é alcançado quando o PIB
real vai a $8 trilhões — o ponto no qual a curva cruza a linha de 45º (em d’). No exemplo dado,
o multiplicador de compras do governo é 4.
− PMC
Multiplicador
Multiplicadorde
deimposto
imposto fixo
fixo == .
1 − PMC
Em nosso exemplo, a propensão marginal a consumir é 3/4; assim, o multiplicador de imposto fixo é
3
−
Multiplicador
Multiplicadordedeimposto
imposto fixo
fixo == 4 = −3.
3
1−
4
A Figura 13.7 ilustra o multiplicador de imposto fixo. Inicialmente, a curva de despesa agregada
é AE0, e a despesa de equilíbrio é $8 trilhões. Os impostos aumentam em $1 trilhão, e a renda
disponível declina por essa quantia. Com uma propensão marginal a consumir (PMC) de 3/4, a
despesa agregada diminui inicialmente em $0,75 trilhão e a curva de despesa agregada muda para
baixo, para AE1. A despesa de equilíbrio e o PIB real declinam em $3 trilhões, indo de $8 para $5
trilhões. O multiplicador de imposto fixo é –3.
Pagamentos de transferência em um montante fixo O multiplicador de imposto
fixo também revela os efeitos de uma mudança em pagamentos de transferência em um montante
fixo. Pagamentos de transferência são como impostos negativos; assim, um aumento nesses pagamen-
tos funciona como uma diminuição de impostos. Como o multiplicador de imposto é negativo, uma
diminuição de impostos eleva a despesa. Um aumento em pagamentos de transferência também faz
subir a despesa. Assim, o multiplicador de pagamentos de transferência, em um montante fixo, é po-
sitivo. Ou seja:
E l e m e n t o s b á s i c o s d e m a c r o e c o n o m i a 37
7
… e aumenta
o PIB real em
$3 trilhões.
6 O multiplicador
de imposto é
–0,75 = –3
5 (1 – 0,75)
b
0 5 6 7 8 9
PIB real (trilhões de dólares de 1992)
38 E C O N O M I A d O S E T O R P ú b l ico
Estabilizadores automáticos
Estabilizadores automáticos são mecanismos que estabilizam o PIB real sem a ação direta do
governo. Seu nome foi emprestado da engenharia e evoca imagens de amortecedores, termostatos
e dispositivos sofisticados que mantêm estáveis aviões e navios em condições turbulentas. Estabili-
zadores fiscais automáticos são uma consequência de impostos de renda e pagamentos de trans-
ferência que automaticamente flutuam com o PIB real. Se este começa a diminuir, a receita
tributária cai e os pagamentos de transferência aumentam. Essas mudanças em impostos e paga-
mentos de transferência afetam a economia e o déficit orçamentário do governo. Vamos estudar o
déficit orçamentário durante o ciclo econômico.
Déficit orçamentário no ciclo econômico A Figura 13.8 ilustra o ciclo econômico
e as flutuações no déficit orçamentário desde 1975. A parte (a) mostra as flutuações do PIB real em
torno do PIB potencial. A parte (b) indica o déficit orçamentário federal. Ambas as partes destacam
períodos de recessão (ressaltados pela linha sombreada nos gráficos). Comparando as duas partes
da figura, você pode observar a relação entre o ciclo econômico e o déficit orçamentário. Como
regra, quando a economia está em fase de expansão de um ciclo econômico, o déficit orçamentá-
rio declina. (Na figura, um déficit em declínio significa um déficit muito próximo de zero.) Como a
expansão se desacelera, antes de a recessão começar, o déficit orçamentário aumenta. Ele continua
aumentando durante a recessão e por um período adicional, depois que ela termina. Então, quando
a expansão está prestes a acontecer, o déficit orçamentário recua novamente.
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PIB
5 potencial
escala proporcional)
E l e m e n t o s 4 b á s i c o s d e m a c r o e c o n o m i a 39
8
2
7
Superávit
0
Déficit
PIB real
PIB real (trilhões de dólares de 1992,
(porcentagem do PIB)
5 potencial
escala proporcional)
–4
–6
1975 1980 1985 1990 1995 2000
1975 1980 1985 1990 1995 2000
Ano
Ano
(b) Déficit orçamentário federal
(a) Crescimento e recessões
2
Como o PIB real flutua em torno do PIB potencial (parte (a)), o déficit orçamentário também
flutua (parte (b)). Durante uma recessão (anos sombreados), a receita
Superávit aaa
tributária diminui, e os
0
pagamentosDéficit de transferência e o déficit orçamentário aumentam. O déficit também aumenta
US5E – Fig30.08
antes de uma recessão — à medida que o crescimento do PIB real se desacelera — e depois
Déficit orçamentário federal
de uma–2
recessão, antes que o crescimento do PIB real se acelere.
(porcentagem do PIB)
O déficit orçamentário flutua com o ciclo econômico porque as receitas tributárias e os dispên-
–6
dios oscilam com 1975 o 1980
PIB real. 1985Como
1990este1995
aumenta
2000 durante uma expansão, a receita tributária aumenta
e os pagamentos Ano
de transferência diminuem; assim, o déficit orçamentário automaticamente diminui.
Como o PIB real cai durante uma recessão, a receita tributária diminui e os pagamentos de
(b) Déficit orçamentário federal
1,5 Déficit
cíclico Superávit
cíclico
1,4
0 5 6 7 8 9
PIB real (trilhões de dólares de 1992)
Figura 13.9 Superávits e déficits cíclicos e estruturais
(a) Déficit cíclico e superávit cíclico
equilíbrio orçamentário (trilhões de dólares de 1992)
2,0
Dispêndios, receita tributária e
Y*
Receitas Receitas
tributárias tributárias
Dispêndios
Dispêndios
0 5 6 7 8 9
0 5 6 7 8 9
PIB real (trilhões de dólares de 1992)
PIB real (trilhões de dólares de 1992)
(a) Déficit cíclico e superávit cíclico
(b) Déficit estrutural e superávit estrutural
Dispêndios, receitas tributárias
e equilíbrio orçamentário (trilhões de dólares de 1992)
2,0
Y*0 Y*1 Y*2
Na parte (a), o PIB potencial é de $7 trilhões. Quando o PIB real é menor que o PIB potencial, o
orçamento está em um déficit cíclico. Quando o PIB real excede o PIB potencial, o orçamento
Receitas
encontra‑se em um superávit cíclico.tributárias
O governo possui um orçamento equilibrado quando o
PIB real se iguala ao PIB potencial. Na parte (b), quando o PIB potencial é de $6 trilhões, há um
déficit
1,5
estrutural.
Déficit Mas quando o PIB potencial é de $8 trilhões, tem‑se
aaa um superávit estrutural.
estrutural Superávit
estrutural
1,4
Na Figura 13.9(a), o PIB potencial é de $7 trilhões. Se o PIB real se iguala ao PIB potencial, o
US5E – Fig30.09
governo tem um orçamento equilibrado. Dispêndios e receita tributária são iguais em cada um
deles, somando $1,4 trilhão. Se o PIBDispêndios real é menor que o PIB potencial, os dispêndios excedem a
receita tributária e há um déficit cíclico. Se o PIB real apresenta-se maior que o PIB potencial, os
0 5 6 7 8 9
dispêndios são menores que PIB reala receita
(trilhões tributária
de dólares de 1992) e ocorre um superávit cíclico. Na Figura 13.9(b), o
PIB (b)potencial cresce,
Déficit estrutural mas
e superávit a curva de receita tributária e a curva de despesas não mudam. Quando
estrutural
o PIB potencial é de $6 trilhões, há um déficit estrutural. Quando o PIB potencial cresce para $7
trilhões, ocorre um equilíbrio estrutural zero (nem déficit nem superávit). E quando o PIB potencial
cresce para $8 trilhões, há um superávit estrutural. O orçamento federal norte-americano passou
por um déficit estrutural que começou em meados dos anos 70 e foi até meados da década de 90.
Ou seja, mesmo se a economia estivesse em pleno emprego, o orçamento estaria em déficit. Pior:
o déficit estrutural era tão grande que até mesmo no pico do ciclo econômico o orçamento estava
em déficit. Ao término aaados anos 90, emergiu um superávit orçamentário. Mas ainda não estava
claro se tal superávit era estrutural. A economia encontrava-se acima do pleno emprego; assim,
portanto, ele poderia US5Eser – cíclico.
Fig30.09
Questões de revisão
O que são o multiplicador de compras do governo e o multiplicador de imposto fixo? Como
esses multiplicadores funcionam?
Qual efeito de multiplicador é maior: o de uma mudança em compras do governo ou o de uma
mudança em imposto fixo? Por que um é maior que o outro?
Como o imposto de renda e o comércio internacional influenciam no tamanho dos multiplica-
dores de política fiscal? Como o imposto de renda e os programas de pagamento de benefícios
funcionam como estabilizadores automáticos para amortecer o ciclo econômico?
Como saber se um déficit orçamentário precisa de ação governamental para interrompê-lo?
Sua próxima tarefa é ver como, ao longo do tempo e com alguns ajustes de nível de preço,
esses efeitos de multiplicador se alteram.
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E l e m e n t o s b á s i c o s d e m a c r o e c o n o m i a 41
AE
cima, em direção a AE1. Essa curva cruza a linha de 45° em uma despesa
Um aumento de equilíbrio
em compras
45°
de $9 trilhões 1
do governo...
no ponto b. Esse valor é a quantia agregada de bens e serviços exigida a um nível de preço de 110, AE 0
10 AE1
Nível de preços (deflator do PIB)
45° 150
Um aumento em compras
do governo...
AE0
... que aumenta
b
9 a demanda
130
agregada e
desloca a curva
DA para a direita
8 110 a b
90
7 a ... tem um efeito
multiplicador...
DA1
DA0
0 7 8 9 10
0 7 8 9 10
PIB real (trilhões de dólares de 1992)
PIB real (trilhões de dólares de 1992)
(b) Demanda agregada
(a) Despesa agregada
Nível de preços (deflator do PIB)
150
O nível de preço é 110, a despesa agregada planejada é AE0 (parte (a)) e a demanda agregada é DA0
(parte (b)). Um aumento nas compras...a do
que aumenta
governo desloca a curva AE para
demanda
aaaAE , e o equilíbrio do PIB real
1
130
agregada e US4E – Fig29.10
aumenta para $9 trilhões. A curva dedesloca
demanda
a curva agregada se desloca para a direita, em direção a DA1.
DA para a direita
110 a b
90
DA1
88820-978-85-8143-632-6_MIOLO.pdf, page 136 @ Preflight Server ( Economia Setor Público_G_Final2.indd ) - 07:07:02 - January 10, 2014 - PG-52
42 E C O N O M I A d O S E T O R P ú b l ico
OACP1
a'
150 150
130 130
OACP OACP0
c c
116 116
a
110 b 110 a
90 DA1 90 DA1
DA0 DA0
0 7 8 8,6 9 10 0 7 8 8,6 9 10
PIB real (trilhões de dólares de 1992) PIB real (trilhões de dólares de 1992)
(a) Política fiscal com desemprego (b) Política fiscal a pleno emprego
diminui a oferta agregada. A curva OACP se desloca para a esquerda, em direção a OACP1, e,
no longo prazo, a economia se move para o ponto a’. O nível de preço sobe para 150, e o PIB
real volta para $7 trilhões.
Questões de revisão
Como as mudanças no preço influenciam os efeitos do multiplicador de política fiscal sobre o
PIB real?
Quais são os efeitos de longo prazo da política fiscal no PIB real e no nível de preços quando ele
inicialmente é igual ao PIB potencial?
Neste capítulo, até o momento, desconsideramos qualquer efeito potencial da política
fiscal na oferta agregada. No entanto, muitos economistas acreditam que os efeitos da política fiscal
sobre a oferta podem ser decisivos. Vejamos esses efeitos.
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44 E C O N O M I A d O S E T O R P ú b l ico
da tecnologia no nível de pleno emprego. Os impostos podem influenciar todosOT esses três fatores.
+ imposto
O imposto principal a considerar é o imposto de renda. Pela taxação sobre as rendasOTdas pessoas
físicas, quando elas trabalham ou poupam, o governo debilita os incentivos para trabalhar e poupar.
O resultado é uma quantidade menor de trabalho e capital e um PIB potencial mais Impostobaixo. Além
disso, o imposto de renda reduz o incentivo para o desenvolvimento de tecnologiasde novas renda que
aumentam a renda. Assim, o ritmo de mudança tecnológica 15 poderia ser reduzido diminuindo a
14
velocidade da taxa de crescimento do PIB potencial. Vejamos o efeito do imposto de renda sobre a
disponibilidade de trabalho e a quantidade de capital.
10
O trabalho e o imposto de renda A disponibilidade de trabalho é determinada pela
DT
demanda e oferta no mercado de trabalho. A Figura 13.12(a) mostra um mercado de trabalho. A
demanda por trabalho é DT, e a oferta é OT. Sem imposto de renda, esse mercado de trabalho
alcança equilíbrio a uma taxa de salário real de $14 por hora, e 230 bilhões de horas de trabalho
por ano são empregados.
0 210 230
Quantidade de trabalho (bilhões de horas por ano)
Figura 13.12 Efeitos do imposto de renda sobre a oferta (segundo os OT, s)
(a) O mercado de trabalho
Taxa de salário real (dólares por hora)
OT + imposto OC + imposto
OC
OT
Imposto
Imposto de renda
de renda
15
6
14
10 5
DT
DC
0 210 230 0 13 14
Quantidade de trabalho (bilhões de horas por ano) Quantidade de capital (trilhões de dólares de 1992)
(a) O mercado de trabalho (b) O mercado de capitais
OC + imposto
OC
Imposto
de renda aaa
US4E – Fig29.12
6
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E l e m e n t o s b á s i c o s d e m a c r o e c o n o m i a 45
Na parte (a) o imposto de renda desloca a curva de trabalho, OT, para a esquerda, tornando‑
-se OT + imposto. A taxa de salário aumenta antes do imposto e cai depois, e a quantidade
de trabalho empregada diminui. Na parte (b), o imposto de renda desloca a curva de oferta de
capital, OC, para a esquerda, tornando-se OC + imposto. A taxa de juros sobe antes do im
posto e cai depois, e a quantidade de capital diminui. Com menos trabalho e menos capital,
o PIB potencial diminui.
Agora suponha que um imposto de renda seja introduzido. Ele debilita o incentivo para traba-
lhar e diminui a oferta de trabalho. A curva de oferta se desloca para a esquerda, tornando-se OT
+ imposto. Com essa nova oferta mais baixa de emprego, a taxa de salário anterior ao imposto sobe
para $15 por hora e a quantidade de trabalho empregada diminui para 210 bilhões de horas por
ano. A taxa de salário antes do imposto sobe, mas a taxa de salário posterior ao imposto cai (no
caso da Figura 13.12(a), ela diminui para $10 por hora).
Capital e imposto de renda A quantidade de capital é determinada por meio da demanda
e oferta no mercado de capitais. A Figura 13.12(b) mostra o mercado de capitais. A demanda para
capital é DC, e a oferta é OC. Sem imposto de renda, o mercado de capitais alcança equilíbrio a
uma taxa de juros real de 5 por cento ao ano e $14 trilhões de capital estão disponíveis. Agora
considere os efeitos de um imposto sobre a renda advinda do capital. O imposto de renda que
debilita o incentivo para poupar diminui a oferta de capital. A curva de oferta se desloca para a
esquerda, transformando-se em OC + imposto. A taxa de juros anterior ao imposto sobe para 6 por
cento ao ano, e a quantidade de capital cai para $13 trilhões. A taxa de juros antes do imposto
sobe, mas após o imposto ela cai (no caso da Figura 13.12, ela cai para 4 por cento ao ano).
PIB potencial e OALP Como o imposto de renda diminui as quantidades de equilíbrio
de trabalho e capital, também faz cair o PIB potencial. Mas este determina a oferta agregada de
longo prazo. Assim, o imposto de renda diminui a oferta agregada de longo prazo e desloca a curva
OALP para a esquerda.
Figura 13.13 Duas visões dos efeitos da política fiscal sobre a oferta
Nível de preços (deflator do PIB)
115 OACP1
110 110
90 90
DA1
DA0 DA1
DA0
0 7 8 8,8 9 10 0 7 8 9 10
PIB real (trilhões de dólares de 1992) PIB real (trilhões de dólares de 1992)
Questões de revisão
Quais são os efeitos de incentivo que o imposto de renda tem sobre a oferta de trabalho e a
oferta de capital e como um corte na taxa de imposto de renda afetaria o PIB potencial?
Visto que um corte de imposto aumenta tanto a oferta agregada quanto a demanda agregada,
podemos afirmar se um corte de imposto aumentaria ou diminuiria o PIB real e o nível de preço?
Você viu como a política fiscal influencia o PIB real e o PIB potencial. Sua próxima tarefa é es-
tudar a política monetária. Começamos pela descrição do sistema monetário de uma economia
moderna.
Essência do artigo
O orçamento federal está em superávit, mas o governo federal possui uma dívida grande.
A dívida pública era de $3,7 trilhões ou 45 por cento do PIB em janeiro de 1999.
A dívida nacional foi construída durante décadas de gasto deficitário e ainda constitui um
fardo econômico grande.
A maioria dos economistas concorda que uma diminuição na dívida interna aumentará a
poupança e o investimento, criará empregos e elevará a produtividade e a taxa de crescimento
econômico.
Mas, politicamente, é difícil alcançar um compromisso duradouro para a redução do déficit.
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Análise econômica
Déficit e dívidas
Para aumentar a velocidade de pagamento da dívida interna, o governo precisa aumentar
os impostos ou cortar as compras de bens e serviços. Os efeitos de curto prazo do pagamento
da dívida trabalham em direção oposta aos efeitos de longo prazo.
A Figura 1 mostra os efeitos de curto prazo. Inicialmente, a curva de despesa agregada
planejada é AE0. A despesa de equilíbrio e o PIB real são de $7,6 trilhões, ponto em que a
curva AE cruza a linha de 45º. O PIB potencial também é de $7,6 trilhões (uma suposição).
T H E N E W Y O R K T I M E S , 31 DE JANEIRO DE 1999
■
Agora o governo federal decide aumentar o ritmo do pagamento da dívida. Eleva impostos
e corta suas compras de bens e serviços. A curva AE se desloca para baixo, em direção a AE.
O PIB real diminui, e a economia se move para baixo do nível de pleno emprego.
O resultado ilustrado na Figura 1 é temporário. O nível de preços sobe não tão rapidamente,
a taxa de juros real cai e a economia retorna para o pleno emprego. Com uma taxa real de
juros mais baixa, aumentam o investimento e o crescimento econômico.
A Figura 2 mostra os efeitos de longo prazo depois de dez anos — em 2009 — se as taxas
de crescimento econômico aumentarem de 3 para 4 por cento ao ano.
Com um crescimento de 3 por cento ao ano, o PIB potencial aumentará para $10,2 trilhões
em 2009. Com um crescimento de 4 por cento ao ano, o PIB potencial aumentará para
$11,2 trilhões em 2009.
Para estar a pleno emprego em 2009, a despesa agregada deve ser AE0 se o PIB potencial
for $10,2 trilhões, e AE0 se o PIB potencial for $11,2 trilhões.
O nível de investimento é maior em AE1 do que em AE0, e é esse fato que permite que a
economia se expanda mais rapidamente e alcance o nível maior de PIB potencial. O efeito
do déficit no crescimento é provavelmente pequeno. Não há, como o artigo sugere, um
consenso assim tão geral entre os economistas a respeito da relação entre o déficit e o
crescimento. E a maioria deles não considera a dívida um fardo pesado.
Você opina
Você acha que a dívida deveria ser paga mais rapidamente ou de maneira mais lenta do que
o governo planeja? Por quê?
Você acha que a dívida deveria ser paga com maior ênfase no aumento de imposto do que
no corte de gastos? Por quê?
Despesa agregada (trilhões de dólares de 1992)
Despesa agregada (trilhões de dólares de 1992)
45˚
PIB 45˚
potencial
AE1
AE0
11,2
AE0
AE1
7,6
Aumento do
investimento
Um aumento de 10,2
7,4 impostos e um corte PIB potencial PIB potencial
nas compras reduzem em 2009 com em 2009 com
a despesa agregada 3 por cento 4 por cento
planejada, diminuindo de crescimento de crescimento
o PIB real ao ano ao ano
0 10,2 11,2
0 7,4 7,6 PIB real (milhões de dólares de 1992)
PIB real (milhões de dólares de 1992)
1992
Figura 2 O efeito de longo prazo do pagamento da dívida
Figura 1 O efeito de curto prazo do pagamento da dívida
E l e m e n t o s b á s i c o s d e m a c r o e c o n o m i a 49
Aprofundando o conhecimento
Para ampliar seus conhecimentos sobre o assunto, leia o texto a seguir, extraído de
Parkin (2003, p. 331-351).
Política monetária
Em 1987, Segredos do templo: como o Federal Reserve governa o país, de William Greider, fez
parte da lista do New York Times dos mais vendidos. Esse livro se tornou popular porque era (e é)
uma boa leitura e também porque permitiu a seu leitor partilhar de alguns segredos — os segredos
do misterioso Fed. O que é exatamente o Fed? Que ferramentas possui? E como as usa?
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Uma coisa que o Fed faz é administrar a moeda da nação. A quantidade de moeda existente é
surpreendentemente grande. Uma quantidade desconhecida de notas norte-americanas circula no
exterior, especialmente na Rússia e na Europa Oriental. Mas hoje há moedas e cédulas suficientes
circulando nos Estados Unidos para todas as pessoas terem uma carteira recheada com mais de mil
dólares. Além disso, o que se encontra depositado em bancos e em outras instituições financeiras
seria o bastante para cada norte-americano ter mais de $12.500 em sua conta particular. O que
determina a quantidade de moeda corrente e os depósitos bancários? Como o Fed muda a quantidade
de moeda que circula na economia? E por que pessoas físicas e empresas possuem tanta moeda?
Em 1997 e 1998, os mercados financeiros de algumas economias asiáticas estavam sob tensão.
Bancos desmoronaram e moedas correntes afundaram. Todos temiam que houvesse contágio. Os
problemas asiáticos chegariam até os Estados Unidos? Com o intuito de manter a calma e garantir
a expansão da economia, o Fed gradualmente baixou as taxas de juros em 1998. Ele manteria em
baixa as taxas de juros em 1999 ou as elevaria para conter a inflação? Como o Fed altera as taxas
de juros e como influenciam a economia? De que modo juros mais altos mantêm a inflação sob
controle? Neste capítulo, você aprenderá sobre o Fed e a política monetária. Verá também como o
Fed influencia as taxas de juros e de que modo essas taxas interferem na economia. Descobrirá que
as taxas de juros dependem, em parte, da quantidade de moeda existente e poderá verificar como
o Fed controla a quantidade de moeda para influenciar as taxas de juros enquanto tenta suavizar o
ciclo econômico e manter a inflação sob controle.
eleitos pelos bancos comerciais em seu distrito de reserva federal. Os diretores dos bancos de reserva
federal regional designam o presidente do banco, e o conselho de governadores fica encarregado
de aprovar essa nomeação.
O Banco da Reserva Federal de Nova York (conhecido como New York Fed) ocupa um lugar
especial no sistema federal de reserva porque implementa algumas das decisões de política mais
importantes do Fed.
A Comissão Federal de Mercado Aberto A Comissão Federal de Mercado Aberto (FOMC)
é o principal órgão decisório da política do Sistema de Reserva Federal. A FOMC consiste dos se-
guintes membros com direito a voto:
O presidente do comitê e outros seis membros do conselho de governadores
O presidente do Banco da Reserva Federal de Nova York
Os presidentes dos outros bancos de reserva federal regional (dentre eles, em uma base
rotativa anual, apenas quatro têm direito a voto).
A FOMC se reúne a cada seis semanas para debater o estado da economia e decidir as ações
a serem realizadas pelo New York Fed.
Conselho de
governadores
Presidente do conselho
de governadores
Grupo de economistas
do conselho
de a exi de
da
de tax rva ã o
gi
e se orç
re rop
to
on
P
sc
Doze bancos de
reserva federal
regionais
Comitê de
política principal
Comissão Federal de
Mercado Aberto
es ca
çõ íti
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do e po
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er er l: a d
ab e m cipa ent
d rin am
p rr
Fe
O conselho de governadores fixa taxas de reserva exigida e, atendendo à proposta dos doze
bancos de reserva federal, estabelece a taxa de desconto. O conselho de governadores e os
presidentes dos bancos regionais de reserva federal são membros da Comissão Federal de Mer‑
cado Aberto (FOMC — Federal Open Market Committee), órgão que determina as operações
de mercado aberto.
aaa
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E l e m e n t o s b á s i c o s d e m a c r o e c o n o m i a 53
O balanço do Fed
O balanço do Sistema de Reserva Federal de dezembro de 1998 está demonstrado na Tabela
15.1. Os créditos no lado esquerdo são o que o Fed possui, e os débitos no lado direito constituem
o que ele deve. Os três recursos principais do Fed são:
1. Ouro e moeda estrangeira
2. Títulos governamentais norte-americanos
3. Empréstimos a bancos
O que o Fed possui em ouro e moedas estrangeiras são suas reservas internacionais. A maioria
das moedas estrangeiras de sua propriedade consiste em depósitos que faz em outros bancos
centrais. As posses do Fed de títulos do governo dos Estados Unidos são o lastro para as notas de
dólar e os depósitos dos bancos no Fed. Ele às vezes realiza empréstimos para bancos dos quais
cobra uma taxa de desconto. (Esses empréstimos eram desprezíveis em dezembro de 1998.)
Os dois principais itens do passivo do Fed são:
1. Papel-moeda em circulação
2. Depósitos de bancos
O papel-moeda em circulação são as notas que usamos em nossas transações diárias. Algumas
dessas notas circulam de mão em mão; outras estão em gavetas e cofres de bancos e em outras
instituições financeiras. Os depósitos de bancos são os depósitos de bancos comerciais, que cons-
tituem parte das reservas desses bancos.
Tabela 15.1 O balanço do Fed de dezembro de 1998
Créditos Débitos
(bilhões de dólares) (bilhões de dólares)
Ouro e moeda estrangeira 65 Notas da reserva federal 481
Títulos governamentais
norte-americanos 463 Depósitos de bancos 27
Empréstimos a bancos 0 Outras dívidas (líquido) 20
Ativos totais 528 Passivo total 528
Você pode estar se perguntando por que notas da reserva federal são consideradas um débito
do Fed. Quando as notas foram inventadas, elas davam a seus donos um direito contra a reserva
de ouro do banco emissor. Essas notas eram papel-moeda conversível, ou seja, podiam ser conver-
tidas, por quem as possuísse, em demanda em ouro (ou algum outro metal, como prata) a um preço
garantido. Assim, quando um banco emitia uma nota, estava reconhecendo sua obrigação de
converter aquela nota em ouro ou prata. Mas as notas dos bancos modernos são inconversíveis,
quer dizer, não podem ser convertidas em qualquer artigo e seu valor decorre da confiança no
governo — daí a expressão fiat money. Tais notas são o débito legal do banco que as emite e são
lastreadas pela posse de títulos. Notas da reserva federal são lastreadas pelos títulos governamentais
norte-americanos que o Fed possui.
Os débitos do Fed, com moedas em circulação (moedas são emitidas pelo Tesouro e não são
débitos do Fed), compõem a base monetária. Ou seja, a base monetária é a soma das notas da
reserva federal, moedas e depósitos de bancos no Fed. A base monetária é assim chamada porque
age como uma base que apoia a oferta de moeda do país. Quanto maior a base monetária, maior
é a quantidade de moeda.
Questões de revisão
O que é um banco central e que funções ele exerce?
Quem designa os membros e o presidente do conselho do Fed? Quanto dura seus mandatos?
O que o banco da reserva federal de Nova York tem de especial?
Quais são as três ferramentas de política que o Fed utiliza?
O que é a Comissão Federal de Mercado Aberto (FOMC – Federal Open Market Committee)
e quais são as suas funções principais?
Com que frequência a FOMC se reúne?
A seguir, vamos ver como o Fed controla a oferta de moeda. Aprenderemos de que modo os
instrumentos da política monetária que usa mudam a base monetária e como essa mudança altera
a quantidade de moeda em circulação.
E l e m e n t o s b á s i c o s d e m a c r o e c o n o m i a 55
56 E C O N O M I A d O S E T O R P ú b l ico
cial de Manhattan. Esse pagamento aumenta as reservas de Manhattan em $100 milhões, como
mostrado pela seta clara, que vai do Fed ao banco comercial de Manhattan. Também eleva o de-
pósito da Goldman Sachs no banco comercial de Manhattan em $100 milhões, como mostrado
pela seta tracejada, que vai do banco comercial de Manhattan para a Goldman Sachs. Da mesma
maneira como quando o Fed compra de um banco, essa ação aumenta a base monetária e as re-
servas do sistema bancário.
Novamente, os recursos do Fed aumentam em $100 milhões, e seus débitos também crescem
em $100 milhões. A Goldman Sachs possui os mesmos recursos totais anteriores, mas com outra
composição: mais moeda e menos títulos. Os recursos totais do banco comercial de Manhattan
aumentam, assim como seus débitos. Seus depósitos ao Fed — suas reservas — aumentam em $100
milhões, e seus débitos de depósito para a Goldman Sachs se elevam em $100 milhões. Como suas
reservas aumentaram no mesmo montante que seus depósitos, o banco tem excesso de reservas,
que pode usar para fazer empréstimos.
Vimos o que acontece quando o Fed compra títulos governamentais de um banco ou do público.
Quando vende títulos, as transações e os eventos que você acabou de estudar trabalham em sentido
contrário. (Refaça o processo, mas com o Fed vendendo e os bancos ou o público comprando títulos.)
Os efeitos, que há pouco descrevemos, de uma operação de mercado aberto no balanço do
Fed e nos bancos não são o fim da história, e sim apenas o começo.
Uma mudança em reservas de banco resultante de uma operação de mercado aberto tem
efeitos variáveis na economia. Primeiro, exerce um efeito de multiplicador na quantidade de moeda.
Segundo, altera as taxas de juros. Terceiro, muda o dispêndio agregado e o PIB real.
Vamos estudar esses efeitos de variação ainda neste capítulo. Começaremos pelo efeito de
multiplicador de uma operação de mercado aberto na quantidade de moeda. Assim, relacionamos
dois fatores: reservas bancárias e depósitos bancários. Mas primeiro precisamos entender o vínculo
entre reservas bancárias e base monetária.
Goldman Sachs
Banco comercial de Manhattan
Ativo Passivo
Ativo Passivo
Títulos –$100 ... e paga pelos títulos
Títulos –$100 preenchendo um cheque que é
Depósitos no depositado na conta da Goldman
Reservas +$100 Sachs, no banco comercial de
banco
comercial de Manhattan, o que aumenta as
Manhattan reservas dos bancos comerciais.
+$100
Ativo Passivo
Figura 15.4 Um ciclo no processo multiplicador que ocorre após uma operação de
mercado aberto
Operação
de mercado
aberto
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58 E C O N O M I A d O S E T O R P ú b l ico
Uma operação de mercado aberto aumenta as reservas dos bancos e gera excesso de reservas.
Os bancos emprestam esse excedente de reserva, e novos empréstimos são usados para fazer
pagamentos. As famílias e as empresas receptoras de pagamentos mantêm uma parte na forma
de moeda corrente — um dreno de moeda corrente — e depositam o resto em bancos. O au‑
mento em depósitos bancários eleva as reservas dos bancos, mas também aumenta as reservas
exigidas dos bancos. A reserva requerida cresce menos que as reservas atuais; desse modo, os
bancos ainda contam com algum excesso de reserva, entretanto menor que antes. O processo
se repete até que o excedente de reserva seja eliminado.
A sequência se repete em uma série de ciclos, mas cada ciclo começa com menos excesso de
reservas do que o ciclo anterior. O processo continua até o excedente de reservas ser finalmente
eliminado.
A Figura 15.5 segue os aumentos em reservas, empréstimos, depósitos, moeda corrente e
moeda resultantes de uma operação de mercado aberto de $100 mil. Na figura, o dreno de moeda
corrente é 33,33 por cento, e o coeficiente de reserva requerida está em 10 por cento. Esses núme-
ros são adotados hipoteticamente para facilitar os cálculos.
O Fed compra $100 mil de títulos dos bancos. As reservas bancárias aumentam no mesmo
montante, mas os depósitos não se alteram. Os bancos passam a ter um excedente de reservas de
$100 mil, e então emprestam essas reservas. Quando isso acontece, $66.667 permanecem nos
bancos como depósitos e $33.333 saem como moeda corrente. A quantidade de moeda aumentou
agora em $100 mil — o aumento em depósitos mais o aumento em moeda corrente.
O aumento de $66.667 nos depósitos dos bancos gera um aumento da reserva requerida em
10 por cento daquela quantia, que é $6.667. As reservas atuais são aumentadas na mesma medida
que aumentam os depósitos — $66.667. Desse modo, os bancos passam a ter excesso de reservas
de $60 mil. Nessa fase, passamos uma vez pelo ciclo mostrado na Figura 15.4. O processo que há
pouco descrevemos se repete, mas parte de um excesso de reservas de $60 mil. A Figura 15.5
mostra os dois ciclos seguintes. Ao término do processo, a quantidade de moeda aumentou por
um múltiplo do aumento na base monetária. Nesse caso, o aumento é de $250 mil, ou seja, 2,5
vezes o aumento na base monetária.
Uma venda de mercado aberto trabalha de modo semelhante a uma compra de mercado
aberto, mas diminui a quantidade de moeda. (Refaça o processo, mas com o Fed vendendo e os
bancos ou o público comprando títulos.)
Quando o Fed empreende uma operação de mercado aberto, está tentando influenciar o curso
da economia, mas tal influência é indireta. Você acabou de estudar o efeito inicial das ações do Fed,
que é alterar a quantidade de moeda.
Quando o Fed altera a quantidade de moeda, a taxa de juros muda. Para entender o porquê,
é preciso estudar a demanda por moeda.
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A sequência Listagem
Moeda
Reservas Depósitos corrente Moeda
Operação de mercado aberto
de $100.000
Empréstimo de
$100.000
Reservas Empréstimo
$6.667 $60.000
Reserva Empréstimo
$4.000 $36.000
E assim por
diante…
Quando o Fed proporciona aos bancos $100 mil de reservas adicionais em uma operação
de mercado aberto, os bancos emprestam essas reservas. Da quantia emprestada, $33.333
(33,33 por cento) saem dos bancos em um dreno de moeda corrente e $66.667 permanecem
em depósito. Com depósitos adicionais, a reserva exigida aumenta em $6.667 (10 por cento,
porcentagem de reserva requerida) e os bancos emprestam $60 mil. Dessa quantia, $20 mil
saem dos bancos em um dreno de moeda corrente e $40 mil permanecem em depósito. O
processo se repete até os bancos criarem depósitos suficientes para eliminar seu excesso de
reservas. Um adicional de $100 mil de reservas gera $250 mil de moeda.
Questões de revisão
O que acontece quando o Fed compra títulos no mercado aberto?
O que acontece quando ele vende títulos no mercado aberto?
O que os bancos fazem quando têm excesso de reservas e como suas ações influenciam a
quantidade de moeda?
De que modo os bancos agem quando estão com falta de reservas e como suas ações in-
fluenciam a quantidade de moeda?
Não há limite, é claro, para o quanto gostaríamos de receber como renda, mas existem limites ao
estoque de moeda que podemos manter e economizar.
as influênCias sObre a manutençÃO da mOeda A quantidade de moeda que as pessoas
decidem guardar depende de quatro fatores principais:
O nível de preço
A taxa de juros
O PIB real
Inovação financeira
Vejamos cada um deles.
nível de preçO Os montantes de moeda medidos em determinada unidade (reais, por exem-
plo) são chamados de montantes de moeda nominal. A quantidade de moeda nominal exigida é
proporcional ao nível de preço, uma vez que outros fatores permaneçam inalterados; isto é, se o
nível de preço (deflator do PIB) aumentar em 10 por cento, as pessoas vão querer manter 10 por
cento a mais de moeda nominal do que antes. O que importa não é o número de dólares que você
mantém, mas seu poder aquisitivo. Se você guarda $20 para ir ao cinema e comprar refrigerante,
aumentará essa quantia reservada de moeda para $22 se os preços do cinema e do refrigerante — e
sua taxa de salário — aumentarem em 10 por cento.
A quantidade de moeda medida em unidades constantes (por exemplo, em dólares de 1992)
é chamada de moeda real, que é igual à moeda nominal dividida pelo nível de preço, ou seja, é a
quantidade de moeda atrelada ao poder de compra. No exemplo citado, quando o nível de preço
sobe em 10 por cento e você aumenta a quantidade de moeda guardada em 10 por cento, está
mantendo sua moeda real constante. Seus $22 em relação ao novo nível de preço compram a mesma
quantidade de bens e é a mesma quantidade de moeda real de seus $20 ao nível de preço original.
A quantidade de moeda real mantida não depende do nível de preço.
taxa de JurOs Há um princípio fundamental em economia que diz o seguinte: quando o
custo de oportunidade de algo aumenta, as pessoas procuram substitutos a esse determinado bem
ou serviço. E a moeda não é nenhuma exceção. Quanto mais alto o custo de oportunidade de
manter a moeda, se os outros fatores permanecerem inalterados, mais baixa é a quantidade de
moeda real exigida. Mas qual é o custo de oportunidade de manter a moeda? É a taxa de juros que
seria recebida de outros ativos que você poderia manter em lugar da moeda — taxa à qual você
tem de renunciar menos a taxa de juros que pode ganhar mantendo a moeda.
A taxa de juros que você ganha em moeda corrente e alguns depósitos correntes é zero. Assim,
o custo de oportunidade de manter esses artigos é a taxa de juros em outros ativos, como uma
conta de poupança ou uma Letra do Tesouro. Ao manter a moeda, você renuncia aos juros que
receberia se tivesse tomado outra medida. Essa renúncia aos juros é o custo de oportunidade de
manter a moeda.
A moeda perde valor com a inflação. Então, por que a taxa inflacionária não é computada no
custo de manutenção da moeda? Isso porque, se os outros fatores permanecerem iguais, quanto
mais alta a taxa inflacionária esperada, mais altas são as taxas de juros e mais alto, então, é o custo
de oportunidade de manter a moeda.
pib real A quantidade de moeda que pessoas físicas e empresas planejam guardar depende
da quantia que elas estão gastando, e a quantidade de moeda exigida depende do dispêndio agre-
gado — ou seja, do PIB real.
Suponha que você reserve em média, semanalmente, $20 para ir ao cinema e comprar refri-
gerante. Agora imagine que os preços desses e de todos os outros bens permaneçam constantes,
mas que sua renda aumente. Como consequência, você gasta mais agora, mas também possui uma
quantia maior de moeda disponível para financiar seu volume mais alto de despesa.
inOvaçÃO finanCeira Mudanças tecnológicas e novos produtos financeiros interferem na
quantidade de moeda mantida. As principais inovações financeiras dos últimos tempos são o uso
cada vez mais difundido de:
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6 Efeito de
um aumento
na taxa de
juros.
Efeito de uma
diminuição
na taxa de
juros.
4
DM
A curva de demanda por moeda, DM, mostra a relação entre a quantidade de moeda que as
pessoas planejam manter e a taxa de juros, uma vez que não haja alteração nos demais fatores.
A taxa de juros é o custo de oportunidade de manter moeda. Uma mudança na taxa de juros
gera um movimento na curva de demanda.
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62 E C O N O M I A d O S E T O R P ú b l ico
6 Efeito de aumento
no PIB real.
DM2
Efeito de diminuição
4
no PIB real ou inovação
financeira. DM1 DM0
Uma diminuição no PIB real faz baixar a demanda por moeda e desloca para a esquerda a
curva de demanda, de DM0 para DM1. Um aumento no PIB real eleva a demanda por moeda e
desloca para a direita a curva de demanda, de DM0 para DM2. A inovação financeira geralmente
diminui a demanda por moeda.
E l e m e n t o s b á s i c o s d e m a c r o e c o n o m i a 63
Em 1970, a demanda por M2 (mostrada na parte (b)) era DM0. A expansão de cartões de crédito
que diminuiu a demanda por M1 durante o período não reduziu a demanda por M2. A razão disso
é que muitos produtos financeiros novos eram depósitos M2. Assim, de 1970 a 1989, a demanda
por M2 cresceu, e a curva de demanda por M2 se deslocou para a direita em direção a DM1. Mas,
entre 1989 e 1994, houve inovações em produtos financeiros que competem com depósitos de
todos os tipos, o que fez a demanda por M2 cair. A curva de demanda por M2 se deslocou para a
esquerda, em direção
12 12
80 80
82 Efeito de Efeito de
82
79 inovação inovação
79
84 financeira 84 financeira
83 83 89
8 74 85 89 8 74
90 90
78 85
Efeito de 88 73 78 88
73
inovação 70 87 70 86 87
financeira 75 86 97 95 75 95 91
77 77
76 91 96 76 96 98
72 98 94 71 94 97
4 71 4 72 DM1
92 92
93
93
Efeito de aumento
DM3
no PIB real
DM1 DM0 DM3 DM2 DM0 DM2
0 0
0,6 0,8 1,0 1,2 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0
M1 real (trilhões de dólares de 1992) M2 real (trilhões de dólares de 1992)
Os pontos mostram a quantidade de moeda real e a taxa de juros para cada ano entre 1970 e
1998. Em 1970, a demanda por M1 era DM0 na parte (a). A demanda por M1 diminuiu durante
o início dos anos 70 devido à inovação financeira, o que deslocou a curva de demanda para
a esquerda, em direção a DM2. Mas o crescimento do PIB real aumentou a demanda por M1,
e, em 1994, a curva de demanda tinha se deslocado para a direita, em direção a DM2. Mais
adiante, em 1995 e 1998, a inovação financeira diminuiu a demanda por M1 e deslocou a curva
de demanda novamente para a direita, em direção a DM3. Em 1970, a curva de demanda por
M2 era DM0 na parte (b). O crescimento do PIB real aumentou a demanda por M2; em 1989,
a curva de demanda tinha se deslocado para a direita, em direção a DM1. Durante o início
dos anos 90, substitutos novos para M2 reduziram a demanda por M2, o que fez a curva de
demanda se deslocar para a esquerda, em direção a DM2. Entretanto, durante os últimos anos
da década de 90, o crescimento rápido do PIB real norte-americano aumentou a demanda por
M2, deslocando a respectiva curva para a direita, em direção a DM3.
Fonte: Economic Report of the President, 1999, e cálculos e hipóteses do autor.
Você acabou de conhecer o vínculo entre o preço de um título e a taxa de juros. As pessoas
dividem, em geral, sua riqueza entre títulos (e outros ativos financeiros que rendem juros) e moeda,
e a quantia que elas mantêm como moeda depende da taxa de juros. Podemos estudar as forças
que determinam a taxa de juros no mercado de títulos ou de moeda. Visto que o Fed pode influen-
ciar a oferta de moeda, vamos nos concentrar no mercado de moeda.
OM
Taxa de juros (percentual ao ano)
Oferta excessiva de
moeda. Pessoas
compram títulos, e
a taxa de juros cai.
5
4
Demanda excessiva
de moeda. Pessoas DM
vendem títulos, e a
taxa de juros sobe.
O equilíbrio do mercado de moeda ocorre quando a taxa de juros é ajustada para fazer a
quantidade de moeda real demandada igual à quantidade oferecida. No exemplo dado, o
equilíbrio ocorre a uma taxa de juros de 5 por cento ao ano. A taxas de juros superiores a
essa, a quantidade de moeda real demandada é menor que a quantidade oferecida, e assim as
pessoas compram títulos, reduzindo a taxa de juros. Com taxas de juros abaixo de 5 por cento
ao ano, a quantidade de moeda real demandada excede a oferta, e então as pessoas vendem
títulos e a taxa de juros sobe. Só a 5 por cento ao ano a quantidade de moeda real é mantida.
Questões de revisão
Quais são as principais influências sobre a quantidade de moeda real que pessoas físicas e
empresas planejam manter?
O que mostra a curva de demanda por moeda?
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Um aumento na
oferta de DM
moeda reduz a
taxa de juros.
Questões de revisão
Como a taxa de juros de curto prazo é determinada?
O que as pessoas fazem se estiverem mantendo mais moeda do que planejavam e o que
acontece com a taxa de juros?
Quais são as ações do Fed para aumentar a taxa de juros? E para reduzi-la?
Política monetária
Você conheceu a grande tarefa do Fed, as ações de política monetária que pode implementar
e os efeitos dessas ações nas taxas de juros de curto prazo. A maioria dos ‘segredos do templo’ foi
revelada. Mas você talvez esteja pensando: a teoria parece ótima, mas realmente funciona na prá-
tica? O Fed realmente age do modo como vimos neste capítulo? De fato, isso acontece, e às vezes
com efeitos dramáticos.
Para observar o Fed em ação, faremos duas coisas. Primeiro, verificaremos as flutuações nas
taxas de juros de curto prazo nos Estados Unidos desde 1970 e veremos como o Fed influenciou
essas flutuações. Segundo, enfocaremos dois episódios na vida do Fed: os anos turbulentos do
início da década de 80, quando ele estava lutando para erradicar uma inflação persistente; e o
período da queda do mercado de valores de 1987, durante o qual o Fed tentou manter a inflação
sob controle sem interromper o crescimento econômico.
O Fed em ação
Você viu que o efeito imediato das ações do Fed é gerar uma mudança na taxa de juros de
curto prazo. A Figura 15.11 mostra o curso de quatro taxas de juros de curto prazo desde 1970:
1. A taxa de um título do tesouro de três meses, que é a taxa de juros paga pelo governo
federal em empréstimos trimestrais.
2. A taxa de um título comercial de seis meses, isto é, a taxa de juros paga por grandes
empresas em empréstimos semestrais.
3. A taxa de desconto, ou seja, a taxa de juros que o Fed cobra dos bancos quando eles obtêm
reservas emprestadas.
4. A taxa federal de fundos, que é a taxa de juros que os bancos cobram um do outro por
empréstimos de reservas durante a noite.
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E l e m e n t o s b á s i c o s d e m a c r o e c o n o m i a 67
Observe como essas quatro taxas de juros são inter-relacionadas, movendo-se juntas. A taxa
de juros que o Fed controla diretamente é a taxa de desconto, e a taxa que ele monitora de perto
é a taxa federal de fundos, mas, como todas as taxas de curto prazo se movem para cima e para
baixo juntas, o Fed pode influenciar todas essas taxas.
As taxas de juros de curto prazo se comportam de acordo com a teoria que acabamos de es-
tudar, isto é, sobem e caem em resposta a mudanças na quantidade de moeda? De um modo geral,
sim, mas nem sempre. A Figura 15.12 ilustra essa relação — mostra a taxa federal de fundos e uma
medida da quantidade de moeda. Essa medida de moeda M2 é expressa como uma porcentagem
do PIB. A razão para analisar M2 é que se trata da medida de moeda em que o Fed se concentra. A
razão de expressar M2 como uma porcentagem do PIB é que, desse modo, podemos verificar os
efeitos da demanda e da oferta sobre as taxas de juros em uma única medida. Taxas de juros sobem
se a quantidade de moeda diminui; também se elevam se a demanda por moeda aumenta. Mas a
demanda por moeda aumenta se o PIB aumenta. Assim, a razão entre M2 e o PIB diminui se a oferta
de moeda diminui (M2 cai) ou se a demanda por moeda aumenta (o PIB cresce).
Você pode observar, a partir da Figura 15.12, que, entre 1970 e 1990, as elevações e quedas da
taxa de juros foram marcadas exatamente por diminuições e aumentos na relação entre M2 e o PIB.
Um aumento na oferta de moeda relativo à demanda de moeda provocou uma queda da taxa de
juros (1970–1972, 1974–1977 e 1981–1986). Uma diminuição na oferta de moeda em relação à
demanda de moeda provocou uma elevação da taxa de juros (1972–1974, 1977–1981 e 1986–1989).
Você também pode ver na Figura 15.12 que, depois de 1990, a relação entre moeda e taxa de
juros diminuiu. Quando a taxa de juros caiu em 1993, a razão entre M2 e o PIB não aumentou, pois
a demanda por M2 caiu devido à disponibilidade de alguns novos substitutos de posse de riqueza
— títulos e fundos mútuos de equidade. Esses fundos cresceram durante a década de 80, mas
expandiram-se mais depressa durante os anos 90, o que perturbou a relação tradicional entre M2 e
taxas de juros de curto prazo. Por conseguinte, depois de 1990, o Fed começou a considerar menos
os índices de M2.
Você observou que as flutuações na taxa de juros de curto prazo podem ser explicadas como
consequência de flutuações na oferta de moeda relativas à demanda por moeda. Mas essa relação
não informa se foram as ações do Fed ou as flutuações no PIB que geraram as flutuações na razão
entre M2 e o PIB. As próprias ações do Fed interferem nas taxas de juros? Vejamos como o Fed atua.
20
Taxa de título do tesouro de três meses
Taxa de títulos comerciais de seis meses
Taxa de desconto
Taxa federal
15 de fundos
Taxa de juros (por cento ao ano)
10
0
1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000
Ano
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68 E C O N O M I A d O S E T O R P ú b l ico
O Fed determina diretamente a taxa de desconto e monitora de perto a taxa federal de fundos.
Todas as taxas de juros de curto prazo movem-se para cima e para baixo juntas; dessa maneira,
o Fed influencia todas as taxas de curto prazo, como a taxa de títulos do tesouro de três meses
e a taxa de títulos comerciais de seis meses.
Fonte: Economic Report of the President, 1999.
70
Moeda
60
Quando M2 aumentou, 20
Taxa de juros (percentual ao ano)
as taxas de juros
caíram, e quando M2
55
diminuiu, as taxas de
M2 (porcentagem do PIB)
juros subiram…
10
50
Taxa de juros
45 0
1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000
Ano
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E l e m e n t o s b á s i c o s d e m a c r o e c o n o m i a 69
Quando a relação entre M2 e PIB (medida na escala esquerda) se elevou, a oferta de moeda
aumentou ou a demanda por moeda diminuiu. O resultado, antes de 1990, foi uma queda na
taxa federal de fundos (medida na escala à direita). De modo semelhante, quando a relação
entre M2 e o PIB caiu, a oferta de moeda diminuiu ou a demanda por moeda aumentou e
(novamente antes de 1990) a taxa federal de fundos subiu. Depois de 1990, a relação entre M2
e a taxa de juros caiu porque os substitutos novos para M2 diminuíram a demanda por M2.
Fonte: Economic Report of the President, 1999, e cálculos do autor.
preços de um título. Prever se as taxas de juros vão cair é o mesmo que prever que os preços dos
títulos vão subir — uma boa hora para comprar títulos. Predizer que as taxas de juros vão subir é o
mesmo que predizer que os preços dos títulos vão cair — um bom momento para vender títulos.
Aumenta a Diminui a
demanda agregada demanda agregada
Como o Fed é quem mais influencia as taxas de juros e os preços dos títulos, predizer o que ele
irá fazer é lucrativo, e muitos profissionais se dedicam a isso. Mas aqueles que percebem que o Fed
está a ponto de aumentar a oferta de moeda compram ações imediatamente, empurrando seus
preços para cima e as taxas de juros para baixo, antes de ele agir. De modo semelhante, quem observa
que o Fed está a ponto de diminuir a oferta de moeda vende títulos imediatamente, empurrando
seus preços para baixo e as taxas de juros para cima, antes de ele tomar alguma atitude. Em outras
palavras, preços de títulos e taxas de juros mudam assim que as ações do Fed são previstas. Quando
o Fed, de fato, entra em ação, se suas ações foram previstas corretamente, elas não exercem quais-
quer efeitos, pois eles aconteceram antecipadamente às ações do Fed. Só mudanças não previstas
na oferta de moeda alteram a taxa de juros no momento em que essas mudanças ocorrem.
E l e m e n t o s b á s i c o s d e m a c r o e c o n o m i a 71
agregada muda envolve vários meios. Taxas de juros mais altas geram uma redução em dispêndio de
consumo e investimento. Crédito bancário mais apertado resulta em menos empréstimos e reforça os
efeitos de taxas de juros mais altas sobre despesas de consumo e investimentos.
Taxas de juros mais altas geram um aumento na taxa de câmbio, o que torna as exportações
norte-americanas mais caras e diminui o custo das importações. Então as exportações líquidas dimi-
nuem. As reduções em conjunto no consumo, no investimento e nas exportações líquidas diminuem
a demanda agregada, o que, por sua vez, reduz a taxa de crescimento do PIB real e a taxa de inflação.
O impacto das ações do Fed na economia pode ser mostrado, esquematicamente, do seguinte modo:
4
Taxa de juros de curto prazo menos a taxa de juros
–2
8
–4
4
–6
–8
0
–12 –4
1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000
Ano
Quando o Fed aumenta a taxa de juros de curto prazo, ela se eleva acima da taxa de juros de
longo prazo e, posteriormente, o crescimento do PIB real se desacelera. De modo semelhante,
quando o Fed reduz a taxa de juros de curto prazo, ela cai abaixo da taxa de juros de longo
prazo e, em seguida, o crescimento do PIB real se acelera.
Fonte: Economic Report of the President, 1999, e cálculos do autor.
longo prazo flutuam menos do que as taxas de curto prazo; assim, quando a taxa de curto prazo
sobe acima das taxas de longo prazo, é porque o Fed empurrou as taxas de curto prazo para cima.
E se as taxas de curto prazo caem abaixo das taxas de longo prazo, é porque o Fed puxou as taxas
de curto prazo para baixo. Assim, o Fed estimula a demanda agregada (ele puxa as taxas de curto
prazo para baixo), e a taxa de crescimento do PIB real se acelera; o Fed reduz a demanda agregada
(ele empurra a taxa de curto prazo para cima), e o crescimento do PIB real se desacelera.
A taxa de inflação também aumenta e diminui em consequência dessas flutuações no cresci-
mento do PIB real.
Questões de revisão
O Fed presta mais atenção em quais taxas?
Há relação, na economia norte-americana, entre flutuações nas taxas de juros de curto prazo
e flutuações na razão entre M2 e o PIB?
De que modo mudanças não antecipadas e antecipadas na quantidade de moeda influenciam
as taxas de juros?
Quando o Fed reduz as taxas de juros, o que acontece com a demanda agregada, o cresci-
mento do PIB real e a inflação?
Agora que você sabe como o Fed determina a quantidade de moeda e as taxas de juros, vamos
explorar a influência da moeda (e outros fatores) sobre a inflação.
O Fed em ação
Essência do artigo
O Fed decidiu deixar as taxas de juros inalteradas na reunião de março de 1999.
Essa decisão era amplamente esperada.
O Fed deixou as taxas de juros inalteradas porque o crescimento do PIB real era forte e a
inflação era baixa, assim nada precisou ser ajustado.
Mas o futuro tornou-se incerto diante da possibilidade de que um mercado de trabalho com
insuficiência de mão de obra pudesse gerar mais inflação e que uma economia global fraca
provocasse uma recessão.
Se o Fed aumentasse as taxas de juros, o mercado de ações poderia cair e gerar um corte
profundo nas despesas dos consumidores.
Se o Fed diminuísse as taxas de juros, o mercado de ações poderia subir ainda mais.
Análise econômica
Aproximadamente a cada seis semanas, a FOMC do Fed se encontra para debater sobre o
estado da economia e determinar as diretrizes de política econômica para as operações de
mercado aberto. Durante o ano de 1998, a FOMC cortou as taxas de juros.
A Figura 1 mostra a economia em 1997 e 1998.
Em 1997, o PIB real era $7,3 trilhões e o nível de preço era 112, na intersecção da curva de
demanda agregada DA97 com a curva de oferta agregada de curto prazo OACP97. O PIB real
era igual ao PIB potencial — a economia estava na curva de oferta agregada de longo prazo
OALP97.
Em 1998, o PIB real havia aumentado para $7,6 trilhões, e o nível de preço tinha alcançado
o índice 113, na intersecção da curva de demanda agregada DA98 com a curva de oferta
agregada de curto prazo OACP98. O PIB potencial havia subido a $7,6 trilhões (uma hipótese
razoável). Assim, em 1998, o PIB real era maior que o potencial.
Em relação a 1999, o Fed estava tranquilo com as perspectivas para a economia norte-americana.
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E l e m e n t o s b á s i c o s d e m a c r o e c o n o m i a 73
O Fed em ação
T H E WA L L S T R E E T J O U R N A L , 31 DE MARÇO DE 1999.
WASHINGTON — Os mentores da política da reserva federal mais uma vez deixaram as taxas
de juros estáveis e sinalizaram que é provável que a política monetária permaneça, por ora, em
observação.
A espera do banco central tem origem no desempenho saudável atual da economia norte-ame-
ricana e em seu futuro incerto. Com crescimento acentuado e inflação baixa, quase não há necessi-
dade de ajustes. Os riscos, enquanto isso, parecem uniformemente equilibrados entre aqueles que
convidariam a um aumento da taxa de juros — como uma inflação que poderia se originar da situa-
ção no mercado de trabalho — e aqueles que poderiam ditar um corte na taxa de juros — como
uma desaceleração induzida pela situação no exterior.
Os elevadíssimos níveis do mercado de ações
também complicam as coisas: um aperto da políti- MANTENDO A ESTABILIDADE
ca monetária poderia desencadear uma correção O objetivo do Fed para a taxa para os fundos
acentuada, que cortaria drasticamente a despesa federais (eixo esquerdo) e a inflação, ou a
de consumo. Uma política menos rígida poderia mudança de porcentagem de ano para ano
encher o que muitos funcionários do Fed temem no índice de preços ao consumidor (eixo direito)
ser uma bolha e que, alguns admitem agora, foi o 6,0% 3,5%
resultado de um corte na taxa de juros de três Taxa-alvo
quartos de ponto percentual, no outono passado.
“Eu não sei quais ajustes na política monetária 5,5 3,0
serão necessários, se for o caso, para ajudar a eco-
nomia a seguir uma tendência de crescimento sus-
tentável e manter uma inflação branda”, disse
5,0 2,5
Edward Boehne, presidente da reserva federal da
Filadélfia, em um discurso no princípio de março. IPC
(ex. comida
Os mercados financeiros anteciparam a decisão
4,5 e energia) 2,0
de deixar o alvo para a taxa dos fundos federais — a
taxa à qual os bancos emprestam um ao outro Fed mantém as
taxas inalteradas
durante a noite (overnight) — a 4,75%. Imediata-
4,0 1,5
mente depois do anúncio, às 2h15 da tarde de terça-
1996 97 98 99
-feira, o índice Dow Jones Industrial, que tinha acu-
Fontes: Datastream, Reserva Federal
mulado baixa ao longo da manhã, deslizou ligeira-
mente. Fechou a 9.913.26, com uma baixa de 93,52 pontos.
Os funcionários do Fed não emitiram nenhum comentário público, como é habitual quando
o banco central não interfere. Nessas reuniões, os funcionários do Fed debatem também a chama-
da diretriz de políticas, uma declaração consensual que informa se o próximo movimento da taxa
será mais de aumento ou de redução.
Copyright © 1999 Dow Jones & Company, Inc. Reimpresso com permissão.
350
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A Figura 2 mostra a previsão do Fed de demanda agregada em 1999 como DA99 e a curva de
oferta agregada de curto prazo OACP99. O Fed esperava que o PIB real crescesse para $7,7 trilhões
e que o nível de preço subisse para 114.
OALP97 OALP98
Nível de preço (deflator do PIB, 1992 = 100)
Crescimento do
PIB potencial Aumento na
oferta
Aumento na agregada de
demanda curto prazo
agregada
OACP 97
OACP 98
113
112
DA98
DA97
0 7 ,2 7,3 7,4 7,5 7,6 7 ,7
PIB real (trilhões de dólares de 1992)
OALP99
Nível de preço (deflator do PIB, 1992 = 100)
Hiato
inflacionário
OACP 99
115
114
113
Hiato
deflacionário DA0
DA1 DA99
Você opina
Por que o Fed acreditava que nenhuma ação de política monetária era necessária em março
de 1999?
O Fed mudou as taxas de juros durante 1999? Em caso positivo, por quanto, em que dire-
ção e por quê? Se não, por que não?
Em sua opinião, o que o Fed deveria fazer diante da possibilidade de uma recessão?
E se uma inflação parecesse provável?
76 E C O N O M I A d O S E T O R P ú b l ico
E l e m e n t o s b á s i c o s d e m a c r o e c o n o m i a 77
78 E C O N O M I A d O S E T O R P ú b l ico
E l e m e n t o s b á s i c o s d e m a c r o e c o n o m i a 79
Resumo
A macroeconomia estuda todas as questões ligadas aos agregados econômicos, que
possibilitam a obtenção de dados para a adoção de políticas econômicas, consubstan‑
ciadas nos instrumentos econômicos disponíveis. Com o estudo da macroeconomia se
estabelecem os objetivos de política econômica e se procura atingi-los, buscando melhor
regular o funcionamento da economia do país.
Ao aplicar os instrumentos de política econômica, vemos a possibilidade de atin‑
girem-se aqueles objetivos que os governantes buscam. Vê-se, então, que a adoção de
políticas macroeconômicas dá o direcionamento para a obtenção da ordem na economia.
Na sequência de nosso estudo, na próxima unidade iremos fazer um passeio pelos
acontecimentos recentes da economia brasileira.
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80 E C O N O M I A d O S E T O R P ú b l ico
Atividades de aprendizagem
1. Na economia de Zap, a propensão marginal a consumir é 0,9. O investimento é de $50
bilhões, as compras do governo de bens e serviços são de $40 bilhões e os impostos fixos
são de $40 bilhões. Zap não tem nenhuma exportação, nem importação.
a) O governo corta as compras de bens e serviços para $30 bilhões. Qual é a mudança
na despesa de equilíbrio?
b) Qual é o valor do multiplicador de compras do governo?
c) As compras do governo, de bens e serviços, continuam sendo de $40 bilhões, e ele
corta o imposto fixo para $30 bilhões. Qual é a mudança na despesa de equilíbrio?
d) Qual é o valor do multiplicador de impostos?
e) O governo corta simultaneamente suas compras de bens e serviços e os impostos em
$30 bilhões. Qual é a mudança na despesa de equilíbrio? Por que ela diminui?
2. Na economia de Zip, a propensão marginal a consumir é 0,8. O investimento é de $60
bilhões, as compras do governo de bens e serviços são de $50 bilhões e os impostos fixos
são de $60 bilhões. Zip não tem nenhuma exportação, nem importação.
a) O governo aumenta as compras de bens e serviços para $60 bilhões. Qual é a mudança
na despesa de equilíbrio?
b) Qual é o valor do multiplicador de compras do governo?
c) O governo continua comprando bens e serviços no valor de $60 bilhões e aumenta
os impostos fixos para $70 bilhões. Qual é a mudança na despesa de equilíbrio?
d) Qual é o valor do multiplicador de impostos?
e) O governo eleva simultaneamente suas compras de bens e serviços e os impostos em
$10 bilhões. Qual é a mudança na despesa de equilíbrio? Por que ela aumenta?
3. Suponha que o nível de preço na economia de Zap, como descrito no Problema 1, seja
100. A economia também está em pleno emprego.
a) Se o governo de Zap aumenta suas compras de bens e serviços em $10 bilhões, o que
acontece com a quantidade de PIB real demandada?
b) O que faz mudar a curva de demanda agregada de Zap? Desenhe um diagrama de
duas partes semelhante para ilustrar a mudança em ambas as curvas AE e DA.
c) No curto prazo, o PIB real de equilíbrio se eleva a um patamar superior, inferior ou
igual ao aumento no PIB real demandado?
d) E no longo prazo?
e) No curto prazo, o nível de preço em Zap sobe, cai ou permanece inalterado?
f) E no longo prazo?
4. Suponha que o nível de preço na economia de Zip, como descrito no Problema 1, seja
100. A economia também está em pleno emprego.
a) Se o governo de Zip diminui suas compras de bens e serviços em $5 bilhões, o que
acontece com o PIB real demandado?
b) O que faz mudar a curva de demanda agregada de Zip? Desenhe um diagrama de
duas partes para ilustrar a mudança em ambas as curvas AE e DA.
c) No curto prazo, o PIB real de equilíbrio se eleva a um patamar superior, inferior ou
igual ao aumento no PIB real demandado?
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E l e m e n t o s b á s i c o s d e m a c r o e c o n o m i a 81
120
100
80
60
Dispêndios
0 20 30 40 50 60
PIB real (milhões de dólares de 1992)
82 E C O N O M I A d O S E T O R P ú b l ico
b) Como impostos de renda mais baixos influenciariam a taxa real de salário e a taxa
real de juros?
c) Quais são os custos principais de impostos de renda mais baixos?
9. A figura mostra uma curva de oferta agregada de longo prazo (OALP) de uma dada econo‑
mia, três curvas de demanda agregada (DA0, DA1 e DA2) e três curvas de oferta agregada
de curto prazo (OACP0, OACP1 e OACP2). A economia começa nas curvas DA0 e OACP0.
Certos acontecimentos geram uma inflação de demanda.
OALP OACP 2
Nível de preços (deflator do PIB, 1992 = 100)
260
OACP 1
240
220 OACP 0
200
180
160
140
120
100
80 DA2
60
DA1
DA0
0 4 5 6 7 8 9 10 11 12
PIB real (trilhões de dólares de 1992)
15 b d
DA2
DA1
DA0 10
10 11 12
5 a c
0 2 4 6 8
Taxa de desemprego (porcentagem da força de trabalho)
84 E C O N O M I A d O S E T O R P ú b l ico
Taxa de
Taxa de inflação
desemprego
Ano (percentual ao ano) (percentual)
1999 10 2
2000 8 3
2001 6 4
2002 4 5
2003 2 6
Unidade 3
Noções de economia
internacional e sistema
financeiro
Regina Lúcia Sanches Malassise
86 E C O N O M I A d O S E T O R P ú b l ico
Introdução ao estudo
Caro aluno, para você não é novidade que o Brasil é hoje um país plenamente integrado
à economia internacional. Com certeza você percebe isso devido à gama de produtos impor‑
tados com que se depara quando vai às compras. Este é o lado mais real e visível para você.
Então vamos pensar um pouco sobre isso. As primeiras perguntas que você deve estar
se fazendo são: como esse produto chegou aqui? Por que ele tem esse preço? Como ele foi
produzido? Por que ele não foi produzido no Brasil? Estas e outras questões explicam por que
a economia internacional tornou-se tão importante nos últimos tempos. O motivo para isso é
que ela busca explicações para entender os fluxos comerciais entre países.
Outra preocupação importante para a economia internacional é entender os fluxos financeiros
entre países. Podemos dizer que a partir da maior interdependência comercial entre os países,
também ampliou-se o espaço para a interdependência financeira. Você pode perceber que com a
crise financeira de 2007 nos Estados Unidos e a atual crise financeira na Zona do Euro, parceiros
comerciais e financeiros do nosso país trouxeram preocupação para o Brasil, pois a produção
caiu e perspectiva de crescimento era de apenas 2,0% para 2012. Isso assusta o governo.
Assim, esta unidade foi desenvolvida para fornecer a você uma descrição dos elementos
teóricos necessários para entender os aspectos da globalização na atualidade. Convido-o a
estudar mais este tema tão interessante e amplamente discutido hoje em dia.
N o ç õ e s d e e c o n o m i a i n t e r n a c i o n a l e s i s t e m a f i n a n c e i r o 87
88 E C O N O M I A d O S E T O R P ú b l ico
emitidos pelos bancos quando recebiam um depósito em ouro. O Banco do Brasil lançou em
1810 seus primeiros bilhetes de banco. Veja na Figura 3.1.
N o ç õ e s d e e c o n o m i a i n t e r n a c i o n a l e s i s t e m a f i n a n c e i r o 89
90 E C O N O M I A d O S E T O R P ú b l ico
termos: “os países poderiam incluir em suas reservas quaisquer moedas com lastro em ouro, espe‑
cialmente a libra esterlina, para economizar o recurso ao metal precioso” (GILPIN, 2002, p. 150).
No entanto, alguns fatores levaram esse novo sistema a falhar, entre eles: a Grã-Bretanha
fixou o valor da libra muito alto, o que acasionou uma quebra na sua produção e emprego;
durante a guerra a Inglaterra perdeu o poder de adminstrar o sistema internacional, emergiam os
Estados Unidos como grande credor global; depois da guerra os objetivos dos países voltaram-se
mais para promoção do bem-estar social interna, a rivalidade entre os países impossibilitou uma
cooperação para estabilidade monetária internacional. A partir de 1932, as crises entre Estados
Unidos, Inglaterra, Alemanha e Japão levaram a desvalorização competitiva e moeda flutuante,
procurando resolver seus problemas baixando os pre‑
ços de seus produtos de exportação e exportando seus
problemas de desemprego para os países vizinhos. Este
Saiba mais processo foi em grande parte resultado da Crise de 1929.
Gremaud, Vasconcellos e Toneto Junior (2004) re‑
Para que você entenda melhor como sumem o sistema monetário do período entre guerras
como um regime de câmbio flutuante; no qual o sistema
se desenvolveu essa grande crise da
de reserva poderia ser o ouro, libra ou dólar; em que
economia capitalista, faça a leitura a mobilidade de capitais estava sujeita a certos con‑
do texto “A Grande Depressão”, troles por conta de garantir um mínimo de reservas; o
que se encontra no livro de: mecanismo de ajuste são as desvalorizações cambiais
e ainda não existem instituições específicas de controle
BLANCHARD, Olivier. Macroeco- do sistema financeiro internacional.
nomia. 4. ed. São Paulo: Pearson, Depois de um longo tempo de desordem e dificul‑
dades para os países e o sistema financeiro, a Conferên‑
2007. p. 446-451.
cia de Bretton Woods, realizada em 1944, teve como
O livro está disponível na Biblioteca objetivo restabelecer uma nova ordem econômica de
Digital Pearson. consenso mundial. Embora estabelecesse liberdade para
que os países realizassem suas políticas econômicas,
definia que o país deveria manter um regime de taxa de
câmbio fixa a fim de evitar as desvalorizações compe‑
titivas. A moeda nacional poderia ser atrelada ao dólar, libra ou Direitos Especiais de Saques
(DES), todos conversíveis. Criou-se o Fundo Monetário Internacional (FMI) para supervisionar
o sistema e oferecer empréstimos de médio prazo para os países associados. Esses dois me‑
canismos criaram uma época de expansão econômica, dado o nível de confiança dos países
na conversibilidade do dólar e no apoio do FMI no caso de um eventual déficit persistente no
Balanço de Pagamentos. Assim, “a política monetária norte-americana passou a ser a política
monetária mundial, e o êxodo de dólares proporcionava a liquidez que lubrificava as engre‑
nagens do comércio” (GILPIN, 2002, p. 154).
Gremaud, Vasconcellos e Toneto Junior (2004, p. 503) descrevem o Sistema Bretton Woods
(1946-1971) como um sistema de câmbio fixo; com reserva em dólar, ouro ou DES; com grande
mobilidade de capital, cujo mecanismo de ajuste automático do Balanço de Pagamentos é
assegurado pelo apoio financeiro do FMI; que desenvolveu instiuições de controle específicas
tais como FMI, BIRD e GATT.
Os percalços enfrentados pela economia mundial com a Segunda Guerra, a reconstrução
da Europa a partir do Plano Marshall, a Guerra fria entre Estados Unidos e União Soviética,
e a liderança no FMI ampliaram sobremaneira a dívida americana, enfraqueceram o sistema
Bretton Woods no qual a conversão só foi forte até 1964. O crescente déficit americano no
seu Balanço de Pagamentos e a exigência de manter o dólar conversível em ouro à razão de
1 onça por US$ 35,00 mantiveram a hegemonia do dólar, somando-se a isso as Guerras da
Coreia e Vietnã com ampliação do gasto público americanos. Todos esses fatos trouxeram os
perigos reais impostos ao sistema de conversão dólar-ouro.
Em 15 de agosto de 1971 o presidente americano Richar Nixon, em meio à desconfiança
geral no valor do dólar e impossibilidade de conversão dos dólares circulando pelo mundo,
decretou o fim da conversibilidade do dólar em ouro. Segundo Gremaud, Vasconcellos e Toneto
Junior (2004), seguiu-se um período de grande instabilidade, com taxas flutuantes.
Os mesmos autores descrevem o padrão atual do sistema financeiro internacional como
sendo de regime de câmbio flexível; no qual as reservas e ativos financeiros são formados por
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N o ç õ e s d e e c o n o m i a i n t e r n a c i o n a l e s i s t e m a f i n a n c e i r o 91
moedas fortes como dólar, marco alemão, iene e DES; no qual existe a livre mobilidade de
capitais; em que os ajustes do balanço de pagamentos ocorre por ajustes na taxa de câmbio
e seguem as regras do FMI; e as instituições específicas de mais destaque são o FMI, BIRD
e GATT (OMC). A despeito do regime cambial atual devemos entender qual é o impacto do
câmbio fixo (como no padrão ouro e Bretton Woods) ou flexível (como no entre guerras e o
atual) sobre o Balanço de Pagamentos dos países.
Aprofundando o conhecimento
Neste momento você realizará a leitura de um material de autoria da Profa. Regina
Malassise, em que discutimos alguns aspectos importantes ligados ao regime cambial,
às políticas econômicas e ao mercado de câmbio.
92 E C O N O M I A d O S E T O R P ú b l ico
Ocorre que dependendo do regime cambial adotado pelo país ele terá diferentes consequências
sobre sua economia do processo de entrada e saída de moeda estrangeira. Vamos examinar algumas
destas possibilidades tomando como dado a existência de livre mobilidade de capital, isto significa
que os investidores estrangeiros podem enviar ou retirar moeda estrangeira do país quando quiserem.
Normalmente a análise é feita utilizando-se o Modelo Mundell-Fleming ou IS-LM-BP (MANUAL,
2004, p. 454-456). O modelo é uma forma de demonstrar quais os impactos dos diferentes regimes
(fixo ou flexível) sobre o mercado, os mercados de bens (IS), monetário (LM) e sobre as transações
com o exterior (BP).
PIB = Y = C + I + G + (X – M) sendo que:
Y = renda nacional real (renda depois de descontada a inflação);
C = consumo agregado que depende da renda disponível (Yd);
I = investimento que depende da taxa de juros (r);
G = gasto público
X = exportações que dependem da taxa de câmbio (e);
I = importações que dependem da taxa de câmbio (e)
Estas são as variáveis que descrevem o mercado de bens e serviços (IS). Vamos ver as variáveis
que descrevem o mercado monetário (LM):
M/P = L (Y,r)
No mercado monetário temos M/P, que é a oferta de moeda determinada pelo Bacen, e a
demanda por moeda L, que depende da renda e da taxa de juros. O mercado menetário não sofre
influência direta da taxa de câmbio (e).
Acrescentamos o Balanço de Pagamentos (BP), que supõe que a taxa de juros interna (r) é igual
a taxa de juros externa (r*). Agora que temos nossas variáveis podemos prosseguir com a análise.
N o ç õ e s d e e c o n o m i a i n t e r n a c i o n a l e s i s t e m a f i n a n c e i r o 93
dores e moeda estrangeira do país. A saída de capitais é proporcional à queda da taxa de juros, e
o processo de conversão de moeda nacional em moeda estrangeira levará a uma desvalorização da
moeda nacional. Esta desvalorização reduz os preços do produtos exportáveis, as exportações cres-
cem aumentando IS. Logo a política monetária com câmbio flexível seria eficaz para aumentar as
exportações e a produção.
94 E C O N O M I A d O S E T O R P ú b l ico
contato permanente uns com os outros. Para realizar as trocas de moedas os bancos, autorizados
pelo Banco Central (Bacen) de cada país a operar com moeda estrangeira, atuam como câma-
ras de compensação. Assim, as operações de envio de moeda do banco de um país para o banco
de outro país só ocorrem depois que os débitos são descontados dos créditos que cada país
recebe em moeda estrangeira. Por meio deste mecanismo os países evitam ou reduzem a troca
de moeda em espécie.
No mercado cambial de cada país os agentes operam em 4 níveis distintos. De acordo com Sal-
vatore (2007), são eles: no primeiro nível vêm os usuários e fornecedores imediatos de moeda — eles
são os operadores tradicionais (turistas, importadores, exportadores e investidores); no segundo
nível estão os bancos comerciais que atuam como câmara de compensação; no terceiro nível vêm
os corretores de câmbio que são encarregados de nivelar a posição cambial dos bancos; e no quarto
nível vem o Bacen de cada país que atua depois dos corretores de câmbio, caso ainda haja dese-
quilíbrio cambial.
Este desequilíbrio cambial pode ser entendido como excesso ou escassez de moeda estrangeira.
Se houver excesso de moeda estrangeira no Brasil, o real vai se valorizar. Se houver escassez de
moeda estrangeira, o real vai se desvalorizar. O Bacen vai atuar neste mercado comprando dólar
quando houver execesso e vendendo dólar quando houver escasssez. Ele atua até que a taxa de
câmbio chegue a um nível aceitável, de tal forma a não prejudicar nem os demandantes nem os
ofertantes de moeda estrangeira, ou seja, procura ter uma taxa de câmbio de equilíbrio para sua
economia.
Na tabela 1 podemos ver quais são as moedas estrangeiras mais utilizadas nas transações in-
ternacionais. Em todas as operações o dólar é maioria, seguido pelo euro. O destaque é para as
reservas cambiais que, de acordo com os dados do BIS e do FMI, são 64,8 por cento em dólares. O
faturamento das empresas exportadoras é 52% em dólares, os empréstimos bancários são realiza-
dos 50,3% em dólares, seguidos pelos títulos que são emitidos 48,4% em dólares e comércio de
moedas são de 45,2%.
Como as transações com moedas são diversas e envolvem moedas de países diferentes, pode
surgir a oportunidade de ganhos quando ocorrem negociações que envolvam mais de duas moedas.
Um exportador chinês vende mercadorias para o Brasil, mas negocia o preço em dólares, e vai re-
ceber em iene que é a moeda de seu país. As transações serão: o importador do Brasil troca reais
por dólares, o banco brasileiro envia a ordem de pagamento em dólares para o banco chinês, o
banco chinês converte os dólares em ienes e paga o exportador chinês.
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N o ç õ e s d e e c o n o m i a i n t e r n a c i o n a l e s i s t e m a f i n a n c e i r o 95
No caso de transações comerciais que envolvam 2 moedas diferentes do dólar teremos uma
taxa de câmbio cruzada. Por exemplo, podemos ter a taxa de câmbio entre o dólar e a libra igual
a 2, e se taxa de câmbio entre o dólar e euro for 1,25 poderemos encontrar a taxa cruzada utilizando
a seguinte fórmula (SALVATORE, 2007, p. 204):
T = cotação do dólar em libra / cotação do dólar em euro
T = 2 / 1,25 = 1,60 => a relação de troca dá 1,60 euro por 1 libra.
Existe um mecanismo pelo qual a taxa de câmbio entre duas diferentes moedas pode se man-
ter constante. Mais especificamente o termo constante refere-se à manutenção do poder de com-
pra das moedas, e geralmente o poder de compra é medido pela cotação do dólar. As diferentes
moedas mantêm uma taxa de câmbio em dólar. Do exemplo acima podemos ver que para comprar
a mesma quantidade de bens que 1 libra compra são necessários 1,60 euros. Desta forma a taxa é
mantida igual, considerando o poder de compra das moedas, em diferentes mercados.
O mecanismo que torna esta taxa igual em diferentes mercados é a arbitragem. Através deste
mecanismo os agentes compram uma moeda que esteja mais barata em um país e a revendem num
outro onde ela é mais cara, com o objetivo de ter lucro cambial. Este processo ocorre até que a
moeda alvo de negociação alcance seu real poder de compra em cada mercado onde ela é negociada.
Podemos destacar também que as taxas de câmbio podem variar ao longo do tempo e isto
impõe o risco cambial àqueles que têm recebimentos ou pagamentos futuros a serem realizados
em moeda estrangeira. Para evitar este risco os negociantes buscam proteção cambial por meio de
operações de hedging (salvaguarda). Vamos ver um exemplo do impacto da variação da taxa de
câmbio sobre as exportações de um produto brasileiro na tabela 2.
No nosso exemplo do exportador de café da tabela 2, vamos supor que ele tenha um custo de
produção para as 10 sacas de R$ 3.100,00 reais; logo, ele tem que garantir que receberá no mínimo
isto para cobrir suas despesas. Se olharmos para a situação 2 veremos que o real se desvalorizou, o
valor do dólar subiu de R$2,00 para R$ 2,50. Neste caso a receita do exportador subiu para R$ 4.375,00.
Por outro lado, caso ocorra uma valorização do real, isto é, o dólar caia de R$ 2,00 para R$ 1,70,
veremos que a receita do exportador caíra para R$ 2.975,00. Numa situação como esta, após o con-
trato fechado o produtor é obrigado a entregar o produto independentemente da taxa de câmbio.
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96 E C O N O M I A d O S E T O R P ú b l ico
Na medida em que a taxa de câmbio varia num mesmo país e de pais para país, surge a pos-
sibilidade de que ocorra movimento de capitais e que eles possam se dirigir aos investimentos mais
lucrativos. Isto ocorre devido à possibilidade de arbitragem da taxa de juros e de câmbio. A arbitra-
gem da taxa de juros é um comparativo entre as taxas de juros dos diferentes países para verificar
qual a maior taxa, porém, quando envolve a conversão de moedas a taxa passa a ser influenciada
também pela taxa de câmbio. Assim, “a arbitragem da taxa de juros se refere ao fluxo internacional
de capital líquido de curto prazo (tal como a aquisição de títulos) visando a obtenção de retornos
mais elevados no exterior” (SALVATORE, 2007, p. 214).
Este processo de remessa de recurso para investir em outro país, considerando a conversão de
moedas, também está sujeito ao risco cambial. Vamos analisar um exemplo de risco com base nos
dados da tabela 3.
Na tabela 3 podemos observar que quando o investidor enviou os recursos para o Brasil, ele
enviou U$ 100.000 que foram convertidos pela taxa de câmbio de inicial R$ 2,00, o que resultou
num valor para ser aplicado de R$ 200.000,00 e que, após receber os juros de 2%, somaram um
montante de R$ 204.000,00 aplicados no Brasil. Porém, no momento em que ele vai retirar os re-
cursos do Brasil a taxa de câmbio muda, então ele terá que transformar o montante de seus recur-
sos em dólares pela taxa de câmbio do momento de saída.
Analisando a situação 1 veremos que se não houvesse alteração nenhuma ele teria um ganho
de 2% sobre o capital investido e levaria do país US$ 102.000,00. Na situação 2 verificamos que a
taxa de câmbio apreciou, isto é, o dólar ficou mais caro em real, passando de R$ 2,00 para R$ 2,50.
Nesta situação haveria perda tanto do capital aplicado quanto da taxa de juros, pois na hora de
retirar seus recursos do país ele levaria US$ 81.600,00 ao invés dos US$ 100.000 aplicados. Na si-
tuação 3 verificamos que a taxa de câmbio se depreciou, isto é, que o dólar ficou mais barato em
real, passando de R$ 2,00 para R$ 1,70. Nesta situação haveria ganho para o investidor, tanto pela
taxa de juros quanto pela taxa de câmbio, pois na hora de retirar seus recursos do país o investidor
levaria US$ 120.000,00 de US$ 102.000,00, como na situação 2.
Podemos concluir que, caso o real se desvalorize, o investidor sai perdendo, pois a desvalorização
pode ser maior que o percentual pago de juros e acabar corroendo o capital principal investido (situação
2). Por outro lado, caso ocorra uma valorização do real, o ganho com a taxa de juros será intensificado
levando o investidor a ganhar com os juros e com a conversão dos valores em reais para dólares.
Verificamos que a complexidade das transações econômicas internacionais — tanto no que
envolve as transações puramente financeiras, como a que acabamos de ler, quanto as que envolvem
a troca de mercadorias entre países — devem realmente preocupar os governantes. Neste sentido
chegamos ao conceito e foco dos estudos da economia internacional. A economia internacional
estuda a interdependência econômica e financeira entre nações, e Krugman e Obstfeld (2001)
destacam que os assuntos de interesse da economia internacional envolvem temas originados da
interação entre estados soberanos. Ocorre que um território é soberano quando está organizado
por instituições, leis e normas e está política e socialmente organizado. Suas leis emanam das deci-
sões internas de seus cidadãos e ou seus governantes, por isto elas diferem de território para terri-
tório. Assim, numa negociação entre países espera-se que ocorram grandes discussões até que eles
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cheguem a um consenso. Por isto Krugman e Obstfeld (2001) destacam que existem sete temas
recorrentes nas dicussões sobre o comércio internacional; são eles:
Comprovar os ganhos do comércio: Quando um país compra produtos de outro isto repre-
senta uma forma de colocar à disposição dos seus cidadãos maior variedade de produtos.
Outras vezes os produtos importados concorrem com produtos nacionais. Embora haja
consenso sobre o ganho os estudos procuram sempre caracterizar estes ganhos e ao mesmo
tempo verificar a atuação dos agentes na captação destes ganhos.
Entender o padrão de comércio: Os estudos procuram explicar os padrões de comércio in-
ternacional, isto é, querem entender quem vende o quê para quem.
Estudar a políticas protecionistas: Boa parte das discussões do comércio internacional se
ocupa de contapor a liberdade de comércio ao protecionismo. Na prática a maior parte dos
países procura alguma forma de proteger sua indústria nacional.
Conhecer os impactos da política comercial e cambial sobre o equilíbrio das contas externas:
O grau de competitividade da economia, a taxa de câmbio e as políticas comerciais alteram
as relações de força entre dois países e os resultados aparecem nos desequilíbrios comerciais
entre eles.
Verificar a prática da determinação da taxa de câmbio: As taxas são determinadas pelos
governos, e embora o regime cambial seja flexível, o valor da taxa de câmbio é influenciado
de acordo com os interesses de cada país.
Propor mecanismos de coordenação das políticas internacionais: As políticas de um país afe-
tam os demais, assim, conseguir que eles se reúnam e cheguem a um consenso que possa ser
expresso numa política comum aos particiapantes de qualquer negociação é algo problemático.
Analisar o mercado de capitais internacional: Na prática estas moedas circulam o mundo pro-
curando investimentos produtivos, quando chegam a um país são convertidos em papéis que
podem ser ações de empresas e os mais diversos títulos que têm alguma promessa de remune-
ração via pagamento, dividendos e juros. Assim, os mercados de capitais internacionais se
constituem em importante fonte de recursos para financiar as atividades econômicas dos países.
Neste aprofundando você pôde entender um pouco mais sobre os efeitos da taxa de câmbio
sobre os exportadores e investidores. De fato ela altera o retorno que estes agentes podem ter
em suas atividades quando estas envolvem a conversão de moedas.
Como a determinação da taxa de câmbio, depende do mercado e da atuação do governo
de cada país no mercado de câmbio, percebemos que numa economia de mercado aberta ao
resto do mundo, a interdependência aparece na definição do valor da moeda nacional em
relação à estrangeira. E esta é só uma das faces desta interdependência, pois os países estão
interligados por diferentes canais. Procurar entender e explicar esta interdependênia é o ob‑
jetivo da economia internacional. Uma grande fonte desta interdependência é o comércio.
Por isto podemos também estudar os temas recorrentes ligados a ele. A seu modo cada teoria
econômica busca entender e propor soluções para os problemas da economia internacional
e é isto que estudaremos na próxima seção.
98 E C O N O M I A d O S E T O R P ú b l ico
N o ç õ e s d e e c o n o m i a i n t e r n a c i o n a l e s i s t e m a f i n a n c e i r o 99
Com base no Quadro 3.1 podemos ver que o Brasil teria vantagem absoluta na produção
de suco, porque gasta menos tempo para produzir suco que a Argentina. A Argentina teria
vantagem absoluta na produção de pão, porque gasta menos tempo para produzir pão que o
Brasil. Logo, os dois países se beneficiariam do comércio internacional. Cada um produziria
o bem no qual tem vantagem absoluta.
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100 E C O N O M I A d O S E T O R P ú b l ico
S e observarmos o Quadro 3.2, veremos que quando o país tem vantagem absoluta na
produção de ambos os bens, na proposta de Smith, ele não teria incentivo para participar
do comércio internacional. Por isso para Smith “o comércio internacional seria possível tão
somente quando o tempo de trabalho necessário para produzir pelo menos um produto fosse
inferior aquele do exterior” (GONÇALVES et al. 1998, p. 12). Para o Brasil que gasta menos
tempo para produzir ambos os bens não haveria estímulo para o comércio.
É neste ponto que surgem as análises de David Ricardo sobre o comércio internacional
e a lei das vantagens comparativas. Conceitualmente ela pode ser definida como: “cada país
deve especializar-se na produção daquela mercadoria em que é relativamente mais eficiente
(ou tenha custo relativamente menor), que será, portanto, a mercadoria a ser exportada”
(GREMAUD; VASCONCELLOS; TONETO JUNIOR, 2004, p. 531).
Vamos explicá-la. De acordo com David Ricardo, mesmo que ocorresse uma situação
como a descrita no Quadro 3.2 ainda haveria uma base para o comércio internacional mutu‑
amente benéfico. Isto porque o país deveria concentrar seus esforços para produzir o bem em
que ele gasta menos tempo, produzir um excedente deste bem, vendê-lo e com estes recursos
comprar o bem em que ele é menos produtivo. Assim, o país produziria ambos os bens, um
direta e outro indiretamente, pro meio da importação paga com o excedente gerado pelo bem
no qual ele é mais produtivo. Vamos exemplificar retomando as informações do Quadro 3.2
e projetando o Quadro 3.3.
Se observarmos a coluna (1) veremos que o Brasil gasta metade do tempo (0,50 ou 50%)
para produzir suco em relação ao que gastaria para produzir pão, enquanto a Argentina pre‑
cisaria gastar 0,60, ou seja, 60% para produzir suco, logo a Argentina deveria comprar suco
do Brasil. Observando a coluna (2) podemos ver que na Argentina, o trabalho incorporado ao
pão equivale a 1,66, ou seja, 166% do trabalho, enquanto o Brasil usa 2,00, ou seja, 200%
do trabalho para produzir pão, logo o Brasil deveria comprar pão da Argentina. Se o Brasil
quisesse produzir pão e tornar-se mais eficiente, certamente poderia fazê-lo, porém com um
custo de oportunidade m aior, pois precisaria tirar mão de obra da produção de suco para
colocá-la na produção de pão. Isso faria com que a produção do suco caísse e não garantiria
uma vantagem relativa na produção de pão.
Lembre-se de que o custo de oportunidade de alguma coisa é o que sacrificamos, ou dei‑
xamos de produzir para obtê-la, por isto ele é chamado de custo da escolha. Se aplicarmos
um recurso na sua menor produtividade vamos ter retorno menor do que se aplicarmos numa
utilização em que ele dê mais retorno. No caso do comércio internacional um país deve utilizar
o recurso naquilo em que ele é mais produtivo, pois assim ele poderá produzir mais do bem
no qual é mais eficiente e então vender este bem. Com o dinheiro da venda ele pode comprar
o outro bem no qual ele não é tão produtivo.
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Assim, está claro que o Brasil possui vantagem relativa (comparativa) na produção de suco
e a Argentina, na produção de pão. Para Ricardo, o Brasil deveria se especializar na produ‑
ção de suco, reduzindo, ainda mais, as horas gastas para produzi‑lo e a Argentina deveria se
especializar na produção de pão.
Durante muito tempo o comércio internacional utilizou somente a teoria das vantagens
comparativas para explicar o comércio entre países, porém no início do século XX os pesqui‑
sadores começaram a se questionar, fazendo a seguinte pergunta: Se o comércio existe em
função das diferenças em custos relativos, então o que explica essa diferença?
Para responder a esta questão surgiu a teoria dos economistas Eli Filip Heckscher e Bertil Ohlin,
que elaboraram o teorema Heckscher‑Ohlin divulgado em 1933, conhecido como modelo ou teoria
H.O. A teoria buscava entender os efeitos do comércio sobre o rendimento dos fatores. O teorema
responde a esta questão nos seguintes termos “cada país se especializa e exporta o bem que requer
utilização mais intensiva de seu fator de produção mais abundante” (CARVALHO; SILVA, 2003, p.
25). Se considerarmos a livre mobilidade de fatores entre os países isto levaria a uma equalização
em termos de retorno relativo dos fatores entre os países. Neste contexto, o comércio internacional
também traria efeitos sobre a distribuição de renda na medida em que os rendimentos dos vários
fatores de produção das nações que participam do comércio são diferenciados
Retomando o nosso exemplo do Brasil e Argentina, podemos dizer que o Brasil exporta
suco porque possui vantagens na utilização do recurso natural terra, o qual nós temos em abun‑
dância para ser explorada. A Argentina exporta pão porque possui mão de obra especializada
para produção de trigo, tem grande produtividade neste item, com isto pode exportar pão.
O modelo também permite perceber que existe um impacto sobre a distribuição de renda
quando consideramos o que ocorre internamente em cada país. Ao produzir o bem no qual tem
recurso abundante, o país beneficia os proprietários do fator mais abundante enquanto os de‑
tentores do fator escasso perdem. Do nosso exemplo, analisando a situação do Brasil, podemos
dizer que se especializar na produção de suco vai beneficiar mais os donos de terras nos quais
são produzidas as frutas, mas, por outro lado, os trabalhadores que continuarem produzindo
pão terão que enfrentar a concorrência com o produto importado da Argentina. Por isto diz‑se
que a produção vai beneficiar mais o fator no qual o país é intensivo e menos o fator escasso,
trazendo impactos sobre a distribuição de renda beneficiando os donos do fator abundante.
Além disso, o fator prejudicado poderia migrar para outro país e buscar melhores oportu‑
nidades. Assim, os produtores de suco da Argentina poderiam vir para o Brasil e os produtores
de pão no Brasil, migrar para Argentina. Isto levaria à redução dos ganhos extras destes setores,
tornando os retornos dos fatores que migraram iguais entre os países. O desenvolvimento da
teoria H.O. suscitou três grandes afirmações, resumidas nos seguintes teoremas:
Teorema de Heckscher‑Ohlin: cada país se especializa e ex‑
porta o bem em cuja produção emprega intensivamente seu
fator abundante;
Torema Heckscher‑Ohlin‑Samuelson ou da equalização dos
preços dos fatores: o comércio equaliza os preços dos fatores
de produção;
Teorema Stolper‑Samuelson: o comércio beneficia o fator de
produção abundante de cada país, em detrimento do fator
escasso (CARVALHO; SILVA, 2003, p. 42).
Como a teoria evolui o tempo todo, uma nova questão voltou a incomodar os pesquisado‑
res. Se o país vai se dedicar a produzir um bem no qual tem uso intensivo de fator abundante,
o que vai fazer com o fator escasso? Nas teorias discutidas até aqui não se preocupavam com
esta questão porque acreditavam que os fatores são móveis e podem ser transformados.
No nosso exemplo o Brasil produz suco que é intensivo em terra e trabalho na agricultura,
então na medida em que o país pretende aumentar a produção de suco para ter excedente terá
que aumentar os gastos com melhoria da terra e enviar mais trabalhadores para agricultura.
Os recursos de capital podem estar sendo utilizados em outras aplicações e os trabalhadores
urbanos podem não querer ou demorar para se adaptar ao trabalho na agricultura.
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102 E C O N O M I A d O S E T O R P ú b l ico
É com base nesta dificuldade em relação à adequação dos fatores de produção ao seu uso
que surge o modelo de fatores de produção específicos. Ele pressupõe que alguns fatores são
homogêneos, isto é, podem ser transferidos da produção de um bem para o outro sem perda
de produtividade, e que outros fatores são específicos, isto é, não podem ser transferidos de
um setor para o outro. Normalmente pressupõe-se que o fator trabalho é homogêneo e o fator
capital é específico.
No nosso exemplo da produção de suco no Brasil, poderíamos transferir trabalhadores de
pão para suco, mas não poderíamos transformar as máquinas e equipamentos da panificadora em
máquinas de suco. Logo, o comércio internacional beneficia mais o capital que está empregado
em máquinas que produzem suco, mas prejudica o capital investido em maquinários da panifica‑
dora porque estes não poderão ser utilizados para produzir o bem de exportação (suco) e ainda
vão continuar produzindo e concorrendo no mercado interno com o produto importado (pão).
Por este modelo pode-se afirmar que o comércio beneficia o fator que é específico na
produção do bem exportável e prejudica aquele utilizado na produção do bem importado.
Até aqui as teorias buscaram desenvolvimentos que tiveram origem nas vantagens comparativas,
e podemos dizer que surgiram diversas outras teorias de comércio internacional que buscaram
explicações para as transações entre países em outras fontes além desta. Cada uma das demais
teorias procurou enfatizar um ponto importante, e falaremos sobre elas de maneira mais resumida.
Uma proposta que se contrapôs às vantagens comparativas foi a da Comissão Econômica
para América Latina e Caribe (CEPAL), que ganhou força nos anos 50 e 60. O ponto forte da
proposta era a deterioração dos termos de troca (ou intercâmbio), sugerido pelo economista
argentino Raul Prebisch. Ela ficou conhecida como teoria do subdesenvolvimento, pois expli‑
cava as diferenças comerciais entre países pobres e ricos devido à industrialização tardia dos
países pobres. O comércio entre pobres e ricos ocorria com os países ricos vendendo aos países
pobres produtos industrializados que são mais caros do que as matérias-primas e produtos
agrícolas que compram dos países pobres. Logo, os países pobres precisavam pagar o dobro ou
mais do valor de seus produtos para comprar os produtos industrializados dos países ricos. Se
os países pobres se conformassem em se especializar na produção de bens agrícolas estariam
fadados a ser sempre pobres, pois seu produto se deteriorava em preço quando comparado
aos produtos industrializados.
Outra teoria é a do ciclo de vida do produto. Por esta teoria a produção de um bem é feita
em cinco estágios. São elas: i) a fase de introdução do produto no mercado; ii) a expansão da
produção para a exportação, iii) a padronização da produção e o início da produção no exterior,
por meio de imitações; iv) imitadores vendendo com preço mais baixo que o criador do produto
em mercado de terceiros; v) as imitadoras invadem o mercado do criador e vendem o produto
mais barato que a própria empresa que criou o original. Por esta teoria a inovação tecnológica
deve ser constante, pois é ela que separa os ganhos do criador dos de seus imitadores.
Descrevemos neste tópico as teorias mais conhecidas que buscam explicar o comércio
internacional. Agora, vamos entender um pouco mais a política do comércio internacional.
2.2.1 Tarifas
Um dos instrumentos mais conhecidos é a imposição de imposto de importação também
chamado de tarifa de importação. Ele pode ser específico, quando se cobra um valor por
unidade importada, por exemplo, cobrança de U$ 150,00 por tonelada de kiwi importado.
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Podem ser ad valorem, quando são cobrados como uma percentagem do preço do produto,
como uma Tarifa Externa Comum (TEC) de 20% estabelecida para importação de produtos que
não são de origem do Mercosul. Podem ser mistos, quando cobram taxa fixa por quantidade e
uma ad valorem sobre o valor do bem importado. Podemos entender que a tarifa é uma forma
de proteção, porém não podemos deixar de observar que ela tem efeitos sobre a economia.
Vamos ver quais são estes efeitos.
Em relação ao custo benefício vai depender do tamanho do país que impõe a tarifa. Se for
um país pequeno, o imposto encarecerá o produto no mercado interno e, por ter pouco poder
de compra, ele não influenciará os preços internacionais se reduzir seu consumo; sua perda
será maior porque seus consumidores pagarão mais caro pelo produto importado. Se for um
país grande com a tarifa ele aumenta o preço do produto importado, ocorre a redução do con‑
sumo interno, os preços no mercado internacional deverão cair, seu ganho será maior, pois os
preços do produto importado tendem a cair no mercado mundial devido à queda na demanda.
Os efeitos sobre a produção vão depender do nível de utilização da capacidade de produ‑
ção do setor do mercado interno que será protegido com a imposição de tarifa sobre o produto
importado. Se o país estiver com capacidade ociosa de produção, a produção no mercado
interno do bem deverá crescer sem pressão de preços, e ele crescerá porque aumentará a de‑
manda pelo produto nacional pois o importado está mais caro devido à tarifa. Se o país estiver
trabalhando com plena capacidade de produção do bem, haverá uma pressão sobre os preços
do bem no mercado interno, devido ao aumento da demanda pelo produto.
Os efeitos sobre a renda têm efeito inverso sobre o fator de produção abundante. Por exem‑
plo: se um país produz X para exportar e ele é intensivo em trabalho, e importa M que é intensivo
em capital, quando impor uma tarifa tornará M mais caro no mercado interno. A produção interna
de M deve aumentar com o aumento da demanda, logo haverá maior demanda por capital e
aumentará os ganhos do capital. Por outro lado, o aumento da exportação de X continuará como
antes e os ganhos não se alterarão, logo, os trabalhadores não ganharão mais por isto.
Em relação aos efeitos sobre a receita do governo, o imposto só aumentará a receita do
governo até o ponto em que ele elevar a demanda pelo produto no mercado interno. Se o
imposto aumentar a produção interna acima da demanda haverá excesso de produção com
tendência a queda no preço interno e queda na arrecadação do mercado interno, que pode
não ser compensada pela cobrança do imposto de importação.
Os efeitos sobre a concorrência dependem da estrutura de produção. Se o mercado interno
for formado por pequenas empresas, os impostos sobre os importados aumentam a demanda
interna, a produção e a concorrência. Se o mercado interno for formado por oligopólios e
monopólios, os impostos sobre os importados aumentam a demanda interna com pequeno
impacto sobre os preços, pois em mercados concentrados são raras as concorrências por preços.
Os efeitos sobre o balanço de pagamentos no curto prazo são benéficos, pois reduzem
as importações. Se o país tiver déficits comerciais eles serão minimizados ou combatidos. Se
tiver superávits com certeza melhorarão o resultado do balanço de pagamentos com a redução
dos gastos com importação, o que eleva o saldo da balança comercial.
2.2.2 Subsídios
O subsídio é conhecido como imposto negativo, isto porque ele consiste em pagamentos
diretos ou indiretos que o governo faz aos produtores. Quando empregado na política comer‑
cial tem objetivo de estimular a exportação ou inibir a importação.
Seja para auxiliar empresas exportadoras, seja para incentivar a produção interna de
produtos importados, a ideia é que o estímulo dos subsídios deva ser oferecido à produção
doméstica e não apenas diretamente às atividades direcionadas com exportação, pois ampliará
a produção e o emprego de maneira geral.
Um dos riscos de oferecer subsídio às atividades exportadoras é tornar as empresas menos
produtivas, pois elas podem se acomodar e não buscar outras fontes de redução de custos, tais
como aumento de produtividade com investimentos e tecnologias. De fato toda política de
subsídio representa um aumento do gasto público e deve ser pensada e colocada em prática
toda vez que seu benefício for maior que seu custo.
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104 E C O N O M I A d O S E T O R P ú b l ico
descontada a inflação (1+ π). E a taxa de juros nominais é i = ie + rs + πi – πe, o que significa
que a taxa de juros nominais (i) em economia aberta deve ser acima da taxa de juros externa
(ie), cobrir o risco país (rs) e a inflação interna (πi), descontando a inflação externa (‑πe).
Os gastos do governo são G = f (T), ou seja, os gastos são função da arrecadação dos
tributos (T).
As exportações são X = f(Y*, e), isto é, as exportações são uma função da renda do resto
do mundo (Y*) e da taxa de câmbio (e).
As importações são M = f(Y,e), isto é, as importações são uma função da renda nacional
(Y) e da taxa de câmbio (e).
Observando as equações acima, todos os termos grifados são termos que cujos valores têm depen‑
dência das contas externas. Assim podemos verificar que alterações no risco país, na inflação externa,
na taxa de câmbio e na renda do resto do mundo afetam o produto e a renda no mercado interno.
Por outro lado, as demais variáveis do mercado interno podem alterar as interações da
economia com o resto do mundo indiretamente. Tomemos como exemplo um aumento nos
gastos do governo: isto aumenta a renda interna, aumenta o consumo interno e também as im‑
portações, pois uma parte dos recursos vai acabar sendo direcionada para compra de produtos
importados. Agora que entendemos que ambos os mercados internos e externos interagem e
que esta interação é registrada por meio do balanço de pagamentos, vamos então analisar as
principais contas deste balanço para apresentar suas possíveis alterações.
108 E C O N O M I A d O S E T O R P ú b l ico
ii) Princípio da Previsibilidade: as regras de comércio de cada país devem ser claras,
previstas e descritas. Formam o conjunto de compromissos tarifários que devem incidir
sobre bens, bem como destacar as listas de ofertas em serviços.
iii) “Princípio da Concorrência Leal: este princípio visa garantir um comércio internacional
justo”. Sem práticas desleais, efetivando Acordos Antidumping e contra Subsídios que
possam causar danos aos demais parceiros comerciais e membros da OMC.
iv) Princípio da Proibição de Restrições Quantitativas: impede os países-membros de
impor quotas ou proibições a certos produtos internacionais como forma de proteger
a produção nacional.
v) Princípio do Tratamento Especial e Diferenciado para Países em Desenvolvimento:
os países em desenvolvimento podem ter tratamento diferenciado para seus produtos.
Existem hoje o Sistema Geral de Preferências (SGP) em que produtos originários e pro‑
cedentes de países beneficiários em desenvolvimento (PD) e de menor desenvolvimento
(PMD) recebem tratamento tarifário preferencial (redução da tarifa alfandegária) nos
mercados dos países outorgantes. E também existe o Sistema Global de Preferências
Comerciais entre Países em Desenvolvimento (SGPC) e por meio dele as concessões
comerciais ocorrem entre seus membros, os países em desenvolvimento.
Depois de conhecer um pouco melhor as instituições que atuam sobre a economia inter‑
nacional, vamos estudar quais são as tendências e desafios mundiais.
Observa-se que na atualidade uma economia mais aberta e interdependente tem muitas
consequências sobre a atividade econômica, e as tranformações na produção, comercializa‑
ção e financeira são cada vez mais rápidas. Elas ocorrem de maneira mais intensa nos países
desenvolvidos, e geram a necessidade de os países em desenvolvimento procurar caminhos
para não perder as possibilidades de crescimento e desenvolvimento de suas economias.
Neste sentido dois temas são relevantes e merecem destaques. São eles: i) as transformações
da globalização e ii) a formação de blocos econômicos (MENDES, 2004).
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Mas, afinal, a união de países em blocos econômicos deve seguir alguma regra de integra‑
ção entre eles? Vamos entender quais são estas regras gerais e depois estudar um pouco mais
sobre cada um destes blocos listados na Tabela 3.1.
Neste contexto o processo de Integração Econômica é uma forma de facilitação das re‑
lações econômicas e de comércio entre grupos de países que contempla algumas diferenças
à medida que o processo se aprofunda. Os principais tipos de integração econômica estão
representadas na Figura 3.2.
Podemos ver pela figura quais são as principais formas de integração, e dentre elas temos:
a) Zona de Livre Comércio (ZLC): neste tipo de integração ocorre apenas a redução/elimi‑
nação das restrições tarifárias e não tarifárias. O objetivo é permitir a livre circulação
de mercadorias entre os países-membros. Um bom exemplo deste tipo de integração
são as discussões que envolvem a constituição da Área de Livre Comércio das Américas
(Alca), impostos de importação;
b) União Aduaneira: representa um avanço pois, além de reduzir as barreiras entre os
países do bloco, ela introduz a criação de uma regra comum para tratar as mercadorias
que vêm de países de fora do bloco, como a Tarifa Externa Comum (TEC);
c) Mercado comum: é um novo avanço em relação à União Aduaneira. Este tipo de integra‑
ção incorpora a redução de tarifas entre os países-membros, a TEC e procura eliminar os
entraves à livre circulação de fatores entre os países, em especial mão de obra e capital.
O Mercosul se encontra neste estágio de integração e tem dificuldades em avançar.
d) União Econômica: este tipo de integração inclui os avanços do Mercado Comum e
propõe a realização de políticas macroeconômicas comuns, tais como a criação da
moeda única para os países do bloco;
e) Integração Econômica Plena: este tipo de integração é o estágio mais avançado, inclui
os avanços da união econômica e ainda propõe que as políticas econômicas e legis‑
lação sejam discutidas e unificadas. Haverá a criação de órgãos supranacionais que
concentram as decisões econômicas e políticas dos países. Por exemplo, na União
Europeia existe o Banco Central Europeu. A UE se encontra neste estágio de integração,
é o bloco no qual o processo de integração é o mais avançado.
110 E C O N O M I A d O S E T O R P ú b l ico
Guiné; Peru; Filipinas; Rússia; Cingapura; Taiwan; Tailândia; Estados Unidos da América; Vie‑
tnã. O principal objetivo do bloco é reduzir taxas e barreiras alfandegárias da região Pacífico‑
‑asiática, promovendo assim o desenvolvimento da economia da região. A criação da Apec
muito contribuiu para o crescimento e desenvolvimento da região pacífico‑asiática, haja vista
o crescimento acelerado da China nos últimos anos.
d) Mercosul (Mercado Comum do Sul): é a união
aduaneira de cinco países da América do Sul. Em sua
formação original o bloco era composto por quatro
países: Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai. Desde Links
2006, a Venezuela ingressou no bloco. As assimetrias Você pode ler mais sobre o Mercosul
de mercado são reprsentadas pelo Brasil, que detém
cerca de 70% do mercado, isto gera muitos atritos en‑ no link:
tre os demais países. O Brasil é o maior exportador e <pt.wikipedia.org/wiki/
importador e acumula superávit comercial com quase
todos os países do bloco. Mercosul>.
e) Outros grupos de países: existem outras formas
de agrupamento de países muito conhecidos na atua‑
lidade mas que não são blocos econômicos. Eles se agrupam com objetivos bem específicos
e geralmente não envolvem países próximos geograficamente (como é o caso dos blocos
econômicos). Dentre eles citamos:
G‑7: grupo dos países mais ricos do mundo;
G‑20: grupo dos países em desenvolvimento;
BRIC´s: países de grande potencial de crescimento. Constituído por Brasil, Índia, Rússia,
China e mais recentemente incluiu‑se a África do Sul;
Opep: grupo dos países produtores e exportadores de petróleo.
Agora que entendemos um pouco mais sobre os tipos de integração e estudamos os blocos
econômicos, podemos estudar outra tranformação da economia na atualidade: a globalização.
Vantagens Desvantagens
Maior rapidez para aumentar a renda nacional Pequena margem de erros em políticas
(EUA 50 anos, China 10 anos) nacionais
Maior competição entre empresas e nações reduz Redução do poder dos BACEN’s de controlar
inflação o sistema monetário nacional
Maior perspectiva de o país crescer com um salto Maior volatilidade de capitais
tecnológico
Multiplicação das fontes de financiamento. Os Maior dificuldade em quitar as dívidas, pois
capitais procuram maior retorno e podem tanto os países entram num sistema de rolagem
conceder empréstimo, como comprar títulos entre um tipo de dívida e outro. Por exem‑
públicos de dívida plo, emissão de dívida ou tomar emprésti‑
mos nos bancos
Resumo
Nesta unidade você teve a oportunidade de estudar os pontos mais importantes da
economia internacional. A economia internacional tem grande avanço a partir da evolução
da moeda enquanto instrumento que dá liquidez às trocas internacionais. Na atualidade a
maioria dos países adota o regime de câmbio flutuante, mas muitos governos intervêm no
mercado de câmbio, pois se sua moeda se valoriza caem as exportações, e se sua moeda
se desvaloriza os produtos que precisa importar ficam mais caros. Assim, a intervenção
é uma forma de amenizar os impactos de uma variação descontrolada do valor de suas
moedas perante a moeda estrangeira. Vimos também que outros fatores influenciam as
exportações e importações. Como os governos sabem que estão vulneráveis ao mercado
aberto frequentemente adotam medidas protecionistas, como tarifas e subsídios em suas
políticas comerciais.
Para controlar os excessos surgem os organismos internacionais como FMI, OMC e
Banco Mundial, que são os grandes apoiadores dos países nas questões que envolvem os
problemas de equilíbrio interno e externo dos países‑membros. Os países também procu‑
raram fortalecer econômica e comercialmente e para isto se agruparam em grandes blocos
com objetivos e políticas bem definidos para buscar a prosperidade de seus membros. As
empresas também atuam para crescer no mercado mundial, e este avanço das empresas
ocorre por meio da globalização. Assim, a formação de blocos é mais uma estratégia dos
governos para defender os interesses de suas economias e a globalização é um movimento
dominado pelas empresas que buscam maior rentabilidade para seus investimentos indepen‑
dentemente de localização geográfica. E finalmente concluímos com a ideia de que, num
mundo em que a transformação econômica é constante, surgem vários desafios mundiais
dos quais o que se destaca é a grande preocupação ambiental que é mais evidente conforme
a produção e o consumo mundial aumentam.
Atividades de aprendizagem
Nas questões abaixo assinale a alternativa conforme o que é solicitado:
1. As relações econômicas internacionais são reguladas por grandes organismos internacionais,
dentre eles existe uma instituição que só empresta dinheiro a países associados a ela. Esta
instituição é:
a) A Organização Mundial do Comércio;
b) A Organização das Nações Unidas;
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114 E C O N O M I A d O S E T O R P ú b l ico
Unidade 4
Transformações
recentes da economia
brasileira
Wilson Salvalagio
116 E C O N O M I A d O S E T O R P ú b l ico
Introdução ao estudo
Ao estudar a economia brasileira temos uma importante oportunidade de compreender
as profundas transformações ocorridas no Brasil, relativamente aos aspectos econômicos e
sociais de nosso país.
Muito se transformou nossa economia, sobretudo se falarmos dos últimos vinte anos, mas
não só este período é rico em mudanças. Observamos que as transformações da economia
brasileira estão dinamicamente atreladas aos eventos políticos nacionais ou mundiais.
Após a Segunda Guerra Mundial, o Brasil se lançou ao evento econômico que ficou conhe‑
cido como a implementação da indústria de base. Foi uma época de profunda participação do
Estado brasileiro na economia, que levou à criação das grandes estatais, como as siderúrgicas,
as companhias telefônicas e a Petrobras, entre outras importantes empresas. Esta participação
do Estado na economia teve influência em outro importante evento econômico, que foi a im‑
plementação, no fim dos anos 1950 e início dos anos 1960, da indústria de bens de consumo
duráveis, capitaneada pelos eletrodomésticos e pela indústria automobilística, como parte do
grande evento político que foi a plataforma de governo de JK de crescer cinquenta anos em cinco.
Na esteira do projeto do governo militar de crescimento a qualquer custo, tivemos o co‑
nhecido milagre econômico, ocorrido na primeira metade da década de 1970, que permitiu
ao Brasil crescer quase 14 por cento ao ano, em plena época do primeiro grande choque do
petróleo. Enquanto o mundo estava em crise, o Brasil crescia a passos largos. Mas tanto cresci‑
mento, sem sustentação interna, realizado à custa de financiamentos obtidos no exterior, trouxe
o endividamento externo e junto o desequilíbrio de preços, ou seja, a inflação que tanto mal
causou à economia brasileira.
Já na década de 1980, conhecida como a “década perdida” pelos péssimos resultados do
PIB (produto interno bruto) brasileiro, vimos a fraqueza econômica se instalar em nosso país.
Depois de vários pacotes econômicos, em 1994 foi lançado o Plano Real, que conseguiu con‑
trolar a inflação e a mantém em níveis baixos até hoje.
No fim dos anos 1980 e início da década de 1990, passamos a conviver com o processo de
globalização da economia, que também trouxe a defesa da menor participação do Estado na
economia e a crescente valorização da economia de mercado, que no Brasil teve como ícone
o processo de privatização de várias estatais.
Posteriormente tivemos a mudança no sistema cambial brasileiro, que passou ao sistema
de taxas flutuantes e que até hoje prevalece.
T r a n s f o r m a ç õ e s r e c e n t e s d a e c o n o m i a b r a s i l e i r a 117
No início dos anos 1990, verifica-se, no Brasil, uma intensa movimentação no sentido
de reforma do Estado, contemplando os processos de abertura comercial, abertura da conta
capital, privatização, reforma fiscal, reforma administrativa e reforma financeira, entre outras.
No final de 1993, começou a ser implementado o mais engenhoso
plano de combate à inflação já utilizado no país. Após uma série
de tentativas fracassadas de planos heterodoxos, ocorridas nos anos
1980 e início de 1990, o Plano Real conseguiu reduzir a inflação e
mantê-la sob controle durante longo período de tempo, pelo menos
até o momento. Apesar do sucesso alcançado nestes últimos anos,
no que se refere à estabilização, outros problemas permaneceram
e alguns até se agravaram. A crença de que com a estabilização o
país iria retomar uma trajetória estável de crescimento econômico
não se verificou. O comportamento do produto tem se verificado
extremamente oscilante no período recente. O sacrifício do cresci‑
mento na estratégia de estabilização provocou um aumento signi‑
ficativo do desemprego no país. As contas externas deterioram-se
ampliando a vulnerabilidade externa da economia brasileira. O
déficit público não foi corrigido, e a dívida pública assumiu uma
trajetória ascendente. Assim, apesar da estabilização, uma série
de dúvidas permanece na economia brasileira (GREMAUD; VAS‑
CONCELLOS; TONETO JÚNIOR, 2004, p. 467).
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118 E C O N O M I A d O S E T O R P ú b l ico
O impacto imediato do Plano Real foi a rápida queda da taxa de inflação. Apesar da
redução, esta foi significativamente mais lenta do que foi no Plano Cruzado, por exemplo.
A inflação não caiu imediatamente para zero nem houve deflação, em decorrência do não
recurso ao congelamento. Outra consequência imediata do plano foi um grande crescimento
da demanda e da atividade econômica.
Procurou-se evitar o erro dos demais choques heterodoxos, adotando-se uma política
monetária restritiva, mantendo as taxas reais de juros elevadas, para evitar uma explosão da
demanda após a queda da inflação. Essas medidas, contudo, não impediram que ocorresse,
como nos demais planos, uma grande expansão da demanda com a queda da inflação.
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T r a n s f o r m a ç õ e s r e c e n t e s d a e c o n o m i a b r a s i l e i r a 119
Tendo em vista essa situação, já em outubro de 1994, houve uma tentativa de controle da
demanda por meio da imposição de restrições de crédito. Além disso, introduziram-se algumas
restrições à entrada do capital estrangeiro, para evitar maiores pressões cambiais, e estipulou-se
uma pequena margem dentro da qual o dólar poderia flutuar — R$ 0,84 a R$ 0,86 —; era a intro‑
dução do sistema de bandas cambiais. A alteração da política cambial, com a adoção do sistema
de minibandas e uma desvalorização projetada em torno de 7% a.a., impedia novas apreciações
da taxa de câmbio sobrevalorizado. Essa política sinalizava a opção do governo por uma estra‑
tégia gradualista de correção cambial (GREMAUD; VASCONCELLOS; TONETO JÚNIOR, 2004).
Aprofundando o conhecimento
Para aprofundar ainda mais seus conhecimentos sobre este assunto, sugerimos a
leitura do texto a seguir, extraído de Mochón (2006, 305-318).
Introdução
Os principais elementos da teoria econômica — bem como suas aplicações — desenvolvidos ao longo
deste livro mostram-se essenciais não apenas a estudantes, profissionais e acadêmicos que atuam na área
de economia, mas também a um público mais amplo (administradores, advogados, cientistas sociais etc.),
para o qual os conceitos apresentados possuem elevada aplicabilidade em seu ramo de atuação.
Fundamental para o leitor é a compreensão da realidade econômica brasileira tendo em pers-
pectiva os elementos apresentados ao longo da obra.
Nesse sentido, o objetivo deste capítulo é complementar a exposição teórica e aplicada dos capí-
tulos anteriores, proporcionando um breve panorama da realidade econômica brasileira dos últimos anos.
Este capítulo procura abordar as principais questões econômicas brasileiras, mantendo um foco
predominantemente na macroeconomia. O texto também está longe de ser exaustivo nas questões
apresentadas, e uma lista de leitura, com obras sobre economia brasileira, é apresentada aos leitores
interessados em aprofundar seus conhecimentos sobre nossa realidade.
30619.1 Crescimento
Figura PRINCÍPIOS DE ECONOMIA do PIB brasileiro ao longo das últimas décadas
2 Plano Bresser
Para mais detalhes sobre os planos e programas 1987
de estabilização (legislação, principais medidas etc.), consulte o Capítulo 1 do Manual de
Finanças Públicas do Banco Central do Brasil, disponível no site Web da instituição.
Plano Verão 1989
Plano Collor I 1990
Plano Collor II 1991
Manual de
A solução para o problema inflacionário só foi obtida com a implementação do Plano Real,
que ocorreu em fases entre 1993 e 1994 (veja o Quadro 19.2).
O sucesso do Plano Real se traduziu em uma rápida queda da inflação para o patamar de um
dígito,19a
PrinEconCap no23.10.06
período de Page
18:27 doze 307meses. Adicionalmente, o Plano também obteve êxito no processo de
2.500
2.000
1.500
1.000
500
0
1961
1965
1993
1997
1945
1949
1953
1957
1969
1973
1977
1981
1985
1989
2001
2005
Fonte: FGV.
FIGURA 19.2 Elaboração:
Comportamento FGV/EESP/Cemap.
da inflação no Brasil
Fonte: FGV Elaboração: FGV/EESP/Cemap
No caso brasileiro, os elevados déficits externos eram acompanhados por grandes déficits do setor
público,
3
que impactavam diretamente a evolução da dívida pública e a percepção de risco dos investidores.
Outro reflexo do processo inflacionário e dos planos de estabilização malsucedidos no período pode ser observado pelo número de alterações
na unidade monetária do país. Desde o Período Colonial até 1984, o Brasil teve seis unidades monetárias distintas (contabilizando nesse total
algumas alterações, como eliminações de centavos). Esse é o mesmo número de unidades distintas entre 1984 e 1994 (ou seja, em pouco mais
de dez anos). Veja a tabela constante do Apêndice 19.A para mais detalhes.
88820-978-85-8143-632-6_MIOLO.pdf, page 136 @ Preflight Server ( Economia Setor Público_G_Final2.indd ) - 07:07:04 - January 10, 2014 - PG-132
122 E C O N O M I A d O S E T O R P ú b l ico
Apesar das iniciativas de ajuste fiscal no final de 1998, no início do ano seguinte, em meio à
fuga de capitais do país, o governo mudou o regime cambial, permitindo que a taxa de câmbio
passasse a flutuar. No primeiro semestre de 1999, o governo trabalhou para preservar a inflação em
patamar baixo, por meio de uma política monetária fortemente contracionista (elevadas taxas de
juros). Em meados do mesmo ano, o governo brasileiro implementou o regime de metas para infla-
ção, e a política monetária praticada pelo Banco Central do Brasil (BC) passou a ter como objetivo
explícito a manutenção da inflação em patamar próximo às metas fixadas anualmente pelo Conselho
Monetário
PrinEconCap Nacional
19a 23.10.06 (CMN).
18:27 A taxa de câmbio passou a ser flutuante, embora o BC continue realizando
Page 308
intervenções no mercado de câmbio, comprando e vendendo dólares, quando julga necessário.
40
30
20
10
–10
1985
1991
1981
1983
1987
1989
1993
1995
1997
1999
2001
2003
2005
Fonte: Banco
FIGURA 19.3 Central
Resultado do Brasil.
comercial Elaboração: FGV/EESP/Cemap.
brasileiro
Fonte: Banco Central do Brasil Elaboração: FGV/EESP/Cemap
Essas mudanças e o reforço dado pelo ajuste fiscal a partir de 1999 não impediram que a
economia brasileira ainda enfrentasse crises no começo do século XXI: em 2001, o Brasil passou por
ceiro internacional se mostrou cada vez menos disposto a de 1999, o governo trabalhou para preservar a inflação em
um racionamento de energia elétrica e sofreu os efeitos da crise da Argentina; em 2002, o país
realizar investimentos em economias emergentes, princi- patamar baixo, por meio de uma política monetária forte-
enfrentou uma parada
palmente aquelas súbita defragilidades
que apresentavam financiamento
macroe-externo
mente em meio às (elevadas
contracionista incertezas dadetransição
taxas juros). Em política.
meados
Nos últimosvisíveis.
conômicas anos, o ambiente externo tem se mostrado muito
do mesmo ano,favorável, sendo implementou
o governo brasileiro marcado por eleva-
o regime
das taxas
No casodebrasileiro,
crescimento do produto
os elevados déficits mundial e por de
externos eram ummetas
ambiente financeiro
para inflação, internacional
e a política monetáriadepraticada
elevada
acompanhados por grandes déficits do setor público, que pelo Banco Central do Brasil (BC) passou a ter como obje-
impactavam diretamente a evolução da dívida pública e a tivo explícito a manutenção da inflação em patamar próxi-
percepção de risco dos investidores. mo às metas fixadas anualmente pelo Conselho Monetário
Apesar das iniciativas de ajuste fiscal no final de 1998, Nacional (CMN). A taxa de câmbio passou a ser flutuante,
no início do ano seguinte, em meio à fuga de capitais do embora o BC continue realizando intervenções no merca-
país, o governo mudou o regime cambial, permitindo que do de câmbio, comprando e vendendo dólares, quando
Mesmo com o sucesso no combate à inflação por mais de uma década, o país ainda tem regis-
trado baixo crescimento do PIB, situando-se em uma média muito inferior à registrada nas décadas
anteriores. Com isso, a taxa de desemprego brasileira ainda se mantém em patamar significativamente
elevado (veja a Figura 19.4).
PrinEconCap 19a 23.10.06 18:27 Page 309
O desafio de um crescimento econômico vigoroso em bases sustentáveis e do desenvolvimento
ainda é uma questão que se impõe à sociedade e ao governo no contexto do desenho de um país
com elevados níveis de pobreza e desemprego.
12
10
8
(%)
0
out./01
fev./02
jun./02
out./02
fev./03
jun./03
out./03
fev./04
jun./04
out./04
fev./05
jun./05
out./05
fev./06
jun./06
124 E C O N O M I A d O S E T O R P ú b l ico
80
70
60
50
(% a.a.)
40
30
20
10
0
jan./95
jan./96
jan./97
jan./98
jan./99
jan./00
jan./01
jan./02
jan./03
jan./04
jan./05
jan./06
4 Isso só foi alterado quando o Copom resolveu estabelecer um viés na decisão, o que facultou ao presidente do BC a possibilidade de alterar a
taxa na direção apontada pelo viés antes da realização de uma nova reunião.
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T r a n s f o r m a ç õ e s r e c e n t e s d a e c o n o m i a b r a s i l e i r a 125
Política cambial
Desde o lançamento do Plano Real, a política cambial brasileira pode ser dividida em dois
momentos: 1) o regime de bandas cambiais e 2) o regime de taxa de câmbio flutuante com inter-
venções por parte do Banco Central do Brasil nos mercados de câmbio e futuro.
PrinEconCap 19aO23.10.06
primeiro momento
18:27 Page 311 perdurou entre o início de 1995 e janeiro de 1999. Esse sistema era carac-
terizado por bandas cambiais estabelecidas pelo Banco Central, dentro das quais a cotação da moeda
norte-americana deveria flutuar. Na prática, o BC definia uma banda larga de flutuação da taxa de
câmbio, mas operacionalmente definia minibandas cambiais em limites de flutuação estreitos e inter-
vinha no mercado de câmbio, comprando e vendendo dólares, de forma a sustentar essas minibandas.
CAPÍTULO 19 A ECONOMIA BRASILEIRA EM PERSPECTIVA 311
Figura 19.6 Operações de crédito do sistema financeiro com recursos livres – Taxas de
juros (% a.a.)
Operações de crédito do sistema financeiro com recursos livres – Taxas de juros (% a.a.)
100
90
80
70
60
(% a.a.)
50
40
30
20
10
0
jan./01
maio/01
set./01
jan./02
maio/02
set./02
jan./03
maio/03
set./03
jan./04
maio/04
set./04
jan./05
maio/05
set./05
jan./06
maio/06
Taxa média mensal – Pessoa física Taxa média mensal – Pessoa jurídica
impõeO que
limitesseàobservou,
expansão dade fato, nesse
demanda período foivalorização
e ao crescimento um regime dedabandas
lenta cambiaisfrente
moeda brasileira queàdeslizavam
moeda es-
lentamente
econômico sem ao alongo
geraçãododetempo,
pressões com controle
inflacionárias sig-do BC, vendendo
trangeira e comprando
no período moeda estrangeira
(veja a Figura 19.7).
nonificativas.
mercadoMais uma vez,
cambial, e oa consenso parece apontar
desvalorização lentanada moeda A adoção dessa estratégia
brasileira frente àfoi justificada
moeda à época co-no
estrangeira
direção de
período um areforço
(veja ajuste fiscal do país, centrado mo uma forma de reforçar a queda da inflação (utilizando-
Figurano19.7).
do lado do corte nos gastos públicos. Tal fato daria maior se de uma âncora cambial), complementar o processo de
A adoção
espaço dessa estratégia
para o crescimento foi justificada
da demanda à época
do setor privado, como uma
desindexação de forma
preços ede reforçar
salários a queda
da economia da infla-
brasileira e
çãoem(utilizando-se de uma âncora
particular dos investimentos cambial),
produtivos, complementar
o que permi- eliminar deo processo de desindexação
vez a ‘memória de preços
inflacionária’ dos agentes e
salários
tiria queda economia
o país atingissebrasileira
maiores taxase eliminar de vezdoa ‘memória
de crescimento econômicos. inflacionária’ dos agentes econômicos.
produto no longo prazo.
A lógica desse processo reside no fato de que, emA economias lógica desse processo reside no fato de que, em
abertas ao comércio internacio-
economias abertas ao comércio internacional (como era o
nal (como era o caso do Brasil à época), a taxa de câmbio caso do Brasil à época), a taxa referência
é uma importante de câmbio é aoumacompor-
19.2.2 POLÍTICA CAMBIAL impor-
tamento dos preços dos produtos comercializáveis com o aoexterior.
tante referência Nessedossentido,
comportamento preços dosaprodu-
lenta
Desde o lançamento do Plano Real, a política cam-
desvalorização da moeda brasileira no período feztoscom
bial brasileira pode ser dividida em dois momentos: 1) o
que os preços
comercializáveis com desses produtos
o exterior. subissem
Nesse sentido, a
vagarosamente, o que contribuiu para manter a lenta desvalorização
inflação brasileira da moeda
em patamar brasileira
baixo nonoperíodo
período.fez
regime de bandas cambiais e 2) o regime de taxa de câm-
com que os preços desses produtos subissem vagarosa-
bio A principal
flutuante com problemática
intervenções por dessa
parte doestratégia
Banco Cen-decorreu do fato de que, nos primeiros meses do
mente, o que contribuiu para manter a inflação brasileira
tral do Brasil nos mercados de câmbio e futuro.
Plano Real, observou-se uma forte apreciação da moeda brasileira
em patamar baixo no (veja a Figura 19.8). Se de um
período.
O primeiro momento perdurou entre o início de
lado esse fenômeno contribuiu para acelerar a convergência A principaldaproblemática
inflação para dessaum patamar
estratégia baixo,
decorreu
1995 e janeiro de 1999. Esse sistema era caracterizado
deporoutro afetou duramente a competitividade
bandas cambiais estabelecidas pelo Banco Central, brasileira.
do fato de que, nos primeiros meses do Plano Real, obser-
vou-se uma forte apreciação da moeda brasileira (veja a
O reflexo
dentro das quaispalpável
a cotaçãodadamoeda
moeda brasileira valorizada
norte-americana pode ser observado pelos déficits comerciais
Figura 19.8). Se de um lado esse fenômeno contribuiu
deveria flutuar.
brasileiros Na prática,
registrados nesse o BC definia
período umaa banda
(veja Figura 19.3), quando se verificoudauma desaceleração
para acelerar a convergência inflação para um pata-do
larga de
ritmo de flutuação
crescimento da taxa
dasdeexportações
câmbio, mas operacional-
e uma aceleração nas importações. No processo, o resultado
mar baixo, de outro afetou duramente a competitividade
mente definia minibandas cambiais em limites de flu-
em conta-corrente brasileiro saltou de
tuação estreitos e intervinha no mercado de câmbio,
um déficit de 1,8 bilhão
brasileira. de dólares em 1994 para 18,3 bilhões
decomprando
dólares em 1995. O dólares,
pico dode déficit O reflexo palpável
nessedaperíodo
moeda brasileira
ocorreuvalorizada
e vendendo formaem conta-corrente
a sustentar brasileiro em 1998,
quando atingiu o patamar de 33,4 bilhões de dólares. pode ser observado pelos déficits comerciais brasileiros
essas minibandas.
registrados nesse período (veja a Figura 19.3), quando se
O que se observou, de fato, nesse período foi um
verificou uma desaceleração do ritmo de crescimento das
regime de bandas cambiais que deslizavam lentamente ao
exportações e uma aceleração nas importações. No pro-
longo do tempo, com controle do BC, vendendo e com-
cesso, o resultado em conta corrente brasileiro saltou de
prando moeda estrangeira no mercado cambial, e a des-
um déficit de 1,8 bilhão de dólares em 1994 para 18,3 bi-
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126 E C O N O M I A d O S E T O R P ú b l ico
É claro que déficits dessa magnitude tinham de ser financiados externamente e, nesse período,
o país se beneficiou de um mercado financeiro internacional com ampla liquidez e disposto a alocar
recursos em economias emergentes.
Esse ambiente começou a mudar de maneira drástica após a Crise da Ásia em 1997, quando
vários países do sudeste asiático foram forçados a mudar seus regimes cambiais ante os ataques
especulativos e a fuga de dólares da região. Um novo abalo ocorreu em 1998 com a Crise da Rús-
sia, e a confiança nas aplicações em economias emergentes com déficits externos elevados caiu
drasticamente.
Nos últimos meses de 1998, o Brasil vivenciou uma séria crise cambial, com retiradas maciças
de dólares do país por parte dos investidores. Para defender a taxa de câmbio brasileira e o regime de
bandas cambiais, o BC se viu forçado a vender elevados montantes de dólares no mercado de câmbio,
o que implicou a diminuição acelerada nas reservas internacionais do país (veja a Figura 19.9). Em
janeiro de 1999, com a constatação da gravidade da crise, o governo optou pela mudança do regime
cambial para a livre flutuação, e o BC parou de vender dólares no mercado (preservando assim algum
nível de reservas internacionais em dólares no Brasil).
Desde então, o regime cambial brasileiro tem sido de taxa de câmbio flutuante. Nessa concepção,
a taxa de câmbio é formada pelas forças de oferta e demanda de dólares no mercado de câmbio.
Embora esse seja o princípio do regime, na prática o BC brasileiro, como já dissemos anteriormente,
tem realizado várias intervenções diretas no mercado de câmbio brasileiro, comprando e vendendo dóla-
res em diferentes momentos, caracterizando o regime brasileiro de flutuação ‘suja’ da taxa de câmbio.
Indiretamente, ao longo dos últimos anos, o BC e o governo também tentaram afetar a taxa de câmbio
vendendo títulos da dívida pública indexados em dólares e utilizando-se de instrumentos derivativos.
Como se pode observar na Figura 19.8, após a mudança do regime cambial, a taxa de câmbio
real registrou uma rápida depreciação, situando-se em patamar superior ao verificado no período
1995-1998. Com isso, o saldo comercial deixou gradativamente de registrar déficits e passou, em
pouco tempo, a registrar superávits, proporcionando alívio nas contas externas brasileiras.
É fácil também verificar, nas figuras 19.7 e 19.8, que o período caracterizado pelo regime de câm-
bio flutuante foi marcado por fortes oscilações da taxa de câmbio brasileira. Grande parte disso se deveu,
PrinEconCap 19a 23.10.06 18:27 Page 312
ainda, às incertezas dos investidores internacionais sobre a economia brasileira nos anos que se seguiram
à mudança do regime cambial. Em 2001, os maiores impactos vieram do lado dos efeitos da crise da
Argentina naquele ano (que foi forçada a abandonar o regime de taxa de câmbio fixa — 1 peso = 1
dólar — e de livre conversibilidade da moeda) e do racionamento de energia elétrica no Brasil.
4,0
3,5 Regime de
bandas cambiais
3,0
2,5
2,0
1,5
1,0
0,0
jul./94
jul./95
jul./96
jul./97
jul./98
jul./99
jul./00
jul./01
jul./02
jul./03
jul./04
jul./05
jul./06
Regimes
FIGURA 19.7 Regimes cambiais cambiais
e taxa de câmbioebrasileira
taxa dedurante
câmbio brasileira durante o Real.
o Real
Fonte: Banco Central do Brasil Elaboração: FGV/EESP/Cemap
Fonte: Banco Central do Brasil. Elaboração: FGV/EESP/Cemap.
lhões de dólares em 1995. O pico do déficit em conta cor- de câmbio é formada pelas forças de oferta e demanda
rente brasileiro nesse período ocorreu em 1998, quando de dólares no mercado de câmbio.
atingiu o patamar de 33,4 bilhões de dólares. Embora esse seja o princípio do regime, na prática o
É claro que déficits dessa magnitude tinham de ser BC brasileiro, como já dissemos anteriormente, tem rea-
financiados externamente e, nesse período, o país se lizado várias intervenções diretas no mercado de câmbio
beneficiou de um mercado financeiro internacional com brasileiro, comprando e vendendo dólares em diferentes
ampla liquidez e disposto a alocar recursos em econo- momentos, caracterizando o regime brasileiro de flutua-
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T r a n s f o r m a ç õ e s r e c e n t e s d a e c o n o m i a b r a s i l e i r a 127
Em 2002, o processo de transição política embutia uma série de dúvidas quanto à manutenção
da política econômica nos moldes que vinham sendo seguidos. As saídas de dólares do país e o
estrangulamento do financiamento externo de várias operações levou a cotação da moeda norte-
-americana a patamares cada vez mais elevados, chegando próximo a 4 reais em alguns momentos
no segundo semestre de 2002.
Ao longo desse período, o BC realizou várias intervenções no mercado de câmbio brasileiro,
vendendo dólares para tentar evitar depreciações excessivas da moeda brasileira frente às demais
moedas. Essas intervenções estavam alinhadas com as preocupações dos efeitos da depreciação
cambial sobre os preços dos produtos comercializáveis no exterior e, por consequência, com a inflação.
Esse movimento, no entanto, não foi neutro do ponto de vista das contas externas brasileiras.
Com a moeda nacional extremamente depreciada, os produtores nacionais tiveram fortes estímulos
para acessar o mercado internacional, e as exportações aceleraram fortemente no período. Com
isso, o saldo comercial brasileiro registrou grandes saltos ao longo dos últimos anos, chegando a
superar a marca dos 40 bilhões de dólares.
A partir de 2003, eliminadas as incertezas com relação à condução da política econômica
brasileira, verificou-se a normalização dos fluxos de recursos estrangeiros ao país. Esse efeito, con-
jugado aos elevados saldos comerciais brasileiros, aumentou significativamente a oferta de dólares
PrinEconCap 19a 23.10.06 18:27 Page 313
no mercado de câmbio brasileiro, o que levou à apreciação da moeda brasileira frente ao dólar nos
últimos anos.
200
180 Regime de
160 bandas cambiais
140
120
100
80
60
40
Regime de taxa de câmbio flutuante
20
0
jun./94
jun./95
jun./96
jun./97
jun./98
jun./99
jun./00
jun./01
jun./02
jun./03
jun./04
jun./05
jun./06
Fonte: Banco
FIGURA 19.8 Central
Regimes doeBrasil.
cambiais taxa de Elaboração: FGV/EESP/Cemap.
câmbio efetiva real brasileira5
Fonte: Banco Central do Brasil Elaboração: FGV/EESP/Cemap
O comportamento da taxa de câmbio brasileira no regime de câmbio flutuante tem sido um
tema de amplo debate nos últimos anos. Esse debate remonta a questões ligadas à excessiva vola-
tilidade Emda moeda
2002, brasileira
o processo e seus política
de transição impactos sobre nais
embutia a economia doméstica.
tiveram fortes estímulosNesse sentido,
para acessar em mo-
o mercado
uma série
mentos dedecontração
dúvidas quanto à manutenção
de liquidez internacional internacional,
da política (redução e as exportações
de fluxo de dólares aceleraram
para ofortemente
país) ou no de
econômica nos moldes que vinham sendo seguidos. As período. Com isso, o saldo comercial brasileiro registrou
incerteza, como os observados em 2001 e 2002, a taxa de câmbio se deprecia de forma acentuada,
saídas de dólares do país e o estrangulamento do finan- grandes saltos ao longo dos últimos anos, chegando a
afetando os preços
ciamento externo e a operações
de várias inflação levou
doméstica.
a cotaçãoEsse
da fenômeno
superar a marcatemdosforçado
40 bilhõeso de
BCdólares.
a responder com
política monetária restritiva
moeda norte-americana (elevação
a patamares cada vezda taxa
mais de juros),A com
eleva- partirconsequente desaceleração
de 2003, eliminadas as incertezas docom
cresci-
re-
mento econômico
dos, chegando próximoe aumento
a 4 reais emda dívida
alguns pública.
momentos no Segundo essa linha
lação à condução de argumentação,
da política economias
econômica brasileira, verifi-
emergentes, como
segundo semestre é o caso do Brasil, estariam mais
de 2002. sujeitas
cou-se aos humores
a normalização do mercado
dos fluxos de recursosfinanceiro
estran-
Ao longo desse
internacional, dadaperíodo, o BC realizou
sua pequena dimensão relativageiros
várias inter- ao país.internacionais.
aos fluxos Esse efeito, conjugado aos elevados saldos
venções no mercado de câmbio brasileiro, vendendo comerciais brasileiros, aumentou significativamente a
Outra
dólares paraquestão está ligada
tentar evitar diretamente
depreciações excessivasaosda efeitos dessa
oferta de volatilidade
dólares no mercadosobre o setor
de câmbio produtivo
brasileiro, o que
nacional. Os produtores
moeda brasileira nacionais
frente às demais se orientaram
moedas. Essas inter- com levoumaior intensidade
à apreciação da moedapara o mercado
brasileira frente externo,
ao dólar
venções estavam alinhadas com as preocupações dos nos últimos anos.
efeitos da depreciação cambial sobre os preços dos pro- O comportamento da taxa de câmbio brasileira no
dutos comercializáveis no exterior e, por conseqüência, regime de câmbio flutuante tem sido um tema de amplo
com a inflação. debate nos últimos anos. Esse debate remonta a questões
Esse movimento, no entanto, não foi neutro do ponto ligadas à excessiva volatilidade da moeda brasileira e
de vista das contas externas brasileiras. Com a moeda seus impactos sobre a economia doméstica. Nesse senti-
88820-978-85-8143-632-6_MIOLO.pdf, page 136 @ Preflight Server ( Economia Setor Público_G_Final2.indd ) - 07:07:04 - January 10, 2014 - PG-138
128 E C O N O M I A d O S E T O R P ú b l ico
exportando mais a partir da depreciação cambial observada no período entre 2001 e 2002. Desde
então, a taxa de câmbio real tem se apreciado, afetando a competitividade de vários setores que
haviam iniciado um movimento exportador. Nesse sentido, o debate remonta aos riscos da diminui-
ção do superávit comercial brasileiro ao longo do tempo e aos efeitos sobre a estrutura produtiva
do país diante da perda da competitividade de vários setores produtivos brasileiros perante a con-
corrência internacional.
Essas posições se contrapõem claramente aos argumentos favoráveis à livre flutuação defen-
didos na sustentação do regime atual, uma vez que a conclusão direta dessas questões mostra-se
favorável a algum tipo de intervenção e controle mais estrito da taxa de câmbio. Esse é um debate
ainda vívido nos meios empresariais e acadêmicos no Brasil e está longe de ser exaurido.
Política fiscal
A política fiscal brasileira nos últimos anos tem sido orientada, em grande medida, pela geração
de elevados superávits primários do setor público e pela contenção da expansão da dívida pública.
Essa orientação foi decorrência direta da dinâmica observada no período 1995-1998, quando a
dívida
PrinEconCap 19a pública
23.10.06cresceu de 314
18:27 Page forma acelerada e o governo registrou sucessivos déficits (veja a Figura
19.10). Nesse sentido, a grande questão colocada era de que a estabilidade da inflação seria insus-
tentável na ausência de um ajuste das contas públicas.
80.000
70.000
60.000
50.000
40.000
30.000
20.000
jun./98 jul./98 ago./98 set./98 out./98 nov./98 dez./98 jan./99
Fonte: Banco
FIGURA 19.9 Central
Reservas do Brasil.
internacionais Elaboração: FGV/EESP/Cemap.
brasileiras
Fonte: Banco Central do Brasil Elaboração: FGV/EESP/Cemap
Sem dúvida, a questão fiscal só foi tratada de maneira mais dura diante das crescentes in-
certezas sobre a economia brasileira, principalmente por parte dos investidores internacionais.
Nesse sentido,
(redução de fluxo depode-se observar
dólares para o país) ouuma conjugação
de incerteza, de esforços
19.2.3 POLÍTICA do governo no âmbito fiscal a
FISCAL
partirosde
como 1998, naemtentativa
observados de areverter
2001 e 2002, a percepção
taxa de câmbio se nos agentes
A política econômicos
fiscal brasileira nosdeúltimos
um desempenho
anos tem sido
deprecia de forma ruim.
fiscal brasileiro acentuada, afetando
Assim, essesosesforços
preços e visavam
a orientada,
reconquistar a credibilidade
em grande medida, pela geração dosde agentes
elevados
inflação
econômicosdoméstica. Esse fenômenoinvestidores
(principalmente tem forçado ointernacionais)
BC a superávitsaprimários
fim de preservar o regime
do setor público de bandas
e pela contenção da
responder com política monetária restritiva (elevação da expansão da dívida pública. Essa orientação foi decor-
cambiais.
taxa de juros), com conseqüente desaceleração do cresci- rência direta da dinâmica observada no período 1995-
mentoApesar do efracasso
econômico aumentona da tentativa de preservar
dívida pública. Segundo o1998,
regime cambial, o esforço fiscal se materializou
quando a dívida pública cresceu de forma acelera-
e, a linha
essa partirdede 1999, o setor
argumentação, público
economias brasileiroco-
emergentes, passou a registrar superávits consideráveis. Esses re-
da e o governo registrou sucessivos déficits (veja a Figura
sultados
mo é o casoforam, emestariam
do Brasil, grandemaismedida,
sujeitasoriginados
aos humores a partir
19.10).da implementação
Nesse do questão
sentido, a grande Programa de Estabi-
colocada era de
do mercado
lidade financeiro
Fiscal, em 1998. internacional, dada sua pequena que a estabilidade da inflação seria insustentável na
dimensão relativa aos fluxos internacionais. ausência de um ajuste das contas públicas.
Outra questão está ligada diretamente aos efeitos Sem dúvida, a questão fiscal só foi tratada de ma-
dessa volatilidade sobre o setor produtivo nacional. Os neira mais dura diante das crescentes incertezas sobre a
produtores nacionais se orientaram com maior intensi- economia brasileira, principalmente por parte dos investi-
dade para o mercado externo, exportando mais a partir da dores internacionais. Nesse sentido, pode-se observar
depreciação cambial observada no período entre 2001 e uma conjugação de esforços do governo no âmbito fiscal
2002. Desde então, a taxa de câmbio real tem se aprecia- a partir de 1998, na tentativa de reverter a percepção nos
do, afetando a competitividade de vários setores que agentes econômicos de um desempenho fiscal brasileiro
haviam iniciado um movimento exportador. Nesse senti- ruim. Assim, esses esforços visavam reconquistar a cre-
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T r a n s f o r m a ç õ e s r e c e n t e s d a e c o n o m i a b r a s i l e i r a 129
Do ponto de vista estratégico, grande parte desse programa se centrava na elevação da arre-
cadação federal e nos aumentos das contribuições previdenciárias. Em particular, o programa previa
a prorrogação e a elevação da alíquota da CPMF (Contribuição Provisória sobre a Movimentação
Financeira), a equalização do tratamento tributário da Cofins (Contribuição para Financiamento da
Seguridade Social) e a elevação de sua alíquota, e a universalização da alíquota de 11% para a
contribuição de servidores públicos inativos ao sistema previdenciário público (como forma de
tentar conter seu déficit). Apesar de prever redução de gastos em vários pontos, a realidade mostrou
que estes seguiram crescendo ao longo do tempo.
O Programa de Estabilidade Fiscal foi emblemático e marcante, uma vez que representou o
início da estratégia de ajuste fiscal que caracterizou os anos seguintes. Essa estratégia estava centrada
predominantemente na elevação de impostos e contribuições, sem ajuste substancial do lado dos
gastos públicos. Esse processo tem levado a carga tributária brasileira ao patamar próximo de 40
por cento do PIB, equivalente ao de nações desenvolvidas europeias e muito acima de outros países
em desenvolvimento e da América Latina.
Essa é uma questão relevante que se coloca não apenas no âmbito econômico, mas também
social, uma vez que a sociedade brasileira começa a impor limites à carga de impostos e tributos,
restringindo a sustentabilidade dos resultados fiscais ao longo do tempo sem um ajuste efetivo do
lado dos gastos públicos. Isso sem mencionar a questão da complexa estrutura tributária brasileira,
que tem efeitos adversos sobre a produção nacional e a distribuição de renda.
Outra questão relevante no âmbito das contas públicas diz respeito à dívida pública. Desde
a implementação do Plano Real em 1994, a relação dívida líquida pública/PIB saiu de um patamar
próximo a 30 por cento para mais de 50 por cento nos anos seguintes (veja a Figura 19.11). Nesse
contexto,
PrinEconCap os déficits
19a 23.10.06 primários
18:27 Page 315 contribuíram para o aumento da dívida pública a partir de 1994.
O processo de ajuste das contas públicas, mais efetivo a partir de 1998, contribuiu para reduzir
esse problema.
5,0
4,0
3,0
(% do PIB)
2,0
1,0
0,0
–1,0
–2,0
jan./96
jul./96
jan./97
jul./97
jan./98
jul./98
jan./99
jul./99
jan./00
jul./00
jan./01
jul./01
jan./02
jul./02
jan./03
FIGURA 19.10
Fonte: Resultado
Banco primário
Central do setorElaboração:
do Brasil. público FGV/EESP/Cemap.
Fonte: Banco Central do Brasil Elaboração: FGV/EESP/Cemap
e nos aumentos das contribuições previdenciárias. Em realidade mostrou que estes seguiram crescendo ao lon-
particular, o programa previa a prorrogação e a elevação go do tempo.
da alíquota da CPMF (Contribuição Provisória sobre a O Programa de Estabilidade Fiscal foi emblemático e
Movimentação Financeira), a equalização do tratamento marcante, uma vez que representou o início da estratégia
tributário da Cofins (Contribuição para Financiamento de ajuste fiscal que caracterizou os anos seguintes. Essa
da Seguridade Social) e a elevação de sua alíquota, e a estratégia estava centrada predominantemente na ele-
universalização da alíquota de 11% para a contribuição vação de impostos e contribuições, sem ajuste substancial
de servidores públicos inativos ao sistema previdenciário do lado dos gastos públicos. Esse processo tem levado a
público (como forma de tentar conter seu déficit). carga tributária brasileira ao patamar próximo de 40 por
Apesar de prever redução de gastos em vários pontos, a cento do PIB, equivalente ao de nações desenvolvidas
da Seguridade Social) e a elevação de sua alíquota, e a estratégia estava centrada predominantemente na ele-
universalização da alíquota de 11% para a contribuição vação de impostos e contribuições, sem ajuste substancial
de servidores públicos inativos ao sistema previdenciário do lado dos gastos públicos. Esse processo tem levado a
público (como forma de tentar conter seu déficit). carga tributária brasileira ao patamar próximo de 40 por
Figura
Apesar
PrinEconCap 19.11 Dívida
de prever18:27
19a 23.10.06 redução do setorem
de316
Page gastos público brasileiro
vários pontos, a cento do PIB, equivalente ao de nações desenvolvidas
60
316 PRINCÍPIOS DE ECONOMIA
55
européias e muito acima50 de outros países em desenvolvi- tribuíram para o aumento da dívida pública a partir de
mento e da América45Latina. 1994. O processo de ajuste das contas públicas, mais
Essa é uma questão
40
relevante que se coloca não ape- efetivo a partir de 1998, contribuiu para reduzir esse
nas no âmbito econômico, mas também social, uma vez problema.
35
que a sociedade brasileira começa a impor limites à carga Mesmo com o ajuste processado, a dívida pública
de impostos e tributos,30 restringindo a sustentabilidade seguiu crescendo nos primeiros anos da década, em gran-
dos resultados fiscais 25
ao longo do tempo sem um ajuste de medida por causa das elevadas taxas de juros prati-
efetivo do lado dos gastos públicos. Isso sem mencionar cadas no período, que condicionaram a despesa de juros
jan./95
jan./96
jan./97
jan./98
jan./99
jan./00
jan./01
jan./02
jan./03
jan./04
jan./05
jan./06
a questão da complexa estrutura tributária brasileira, que do setor público, influenciando o crescimento da dívida
tem efeitos adversos sobre a produção nacional e a dis- pública ao longo dos últimos anos.
tribuição de renda. Essa questão alia-se às preocupações esboçadas na
FFonte: Banco
IGURA 19.11 Central
Dívida do setordo Brasil.
público Elaboração: FGV/EESP/Cemap.
brasileiro
Outra questão relevante no âmbito das contas públi- Seção 19.2.1 referentes à problemática das elevadas taxas
Fonte: Banco Central do Brasil Elaboração: FGV/EESP/Cemap
cas dizMesmo
respeito com
à dívida pública.
o ajuste Desde a implemen-
processado, de jurosseguiu
a dívida pública praticadas no Brasilnos
crescendo e seuprimeiros
efeito sobre a dívida
anos da
tação do Plano Real em 1994, a relação dívida líquida pública brasileira. Novamente, reforça-se nesse aspecto a
década, em grande medida por causa das elevadas taxas de juros praticadas no período, que con-
pública/PIB saiu de um patamar próximo a 30 por cento necessidade da consolidação de um ajuste fiscal pelo
dicionaram a despesa de juros do setor público, influenciando o crescimento da dívida pública ao
para mais de 50 por cento nos anos seguintes (veja a lado dos gastos e seus efeitos sobre a dinâmica da dívida
longo
Figura dos últimos
19.11). anos. os déficits primários con- do setor público.
Nesse contexto,
Essa questão se alia às preocupações referentes à problemática das elevadas taxas de juros
praticadas no Brasil e seu efeito sobre a dívida pública brasileira. Novamente, reforça-se nesse aspecto
a necessidade da consolidação de um ajuste fiscal pelo lado dos gastos e seus efeitos sobre a dinâ-
mica da dívida do setor público.
APÊNDICE 19.A
UNIDADES DO SISTEMA MONETÁRIO BRASILEIRO
Apêndice 19.A Unidades do sistema monetário brasileiro
APÊNDICE 19.B
OBRAS DE INTERESSE SOBRE ECONOMIA BRASILEIRA
Apêndice 19.B Obras de interesse sobre economia brasileira
ABREU, Marcelo de Paiva. A ordem do progresso: 100 anos de política econômica republicana (1889-1989).
Rio de Janeiro: Campus, 1990.
BRESSER-PEREIRA, Luiz Carlos. A economia brasileira na encruzilhada. São Paulo: FGV, 2006.
FURTADO, Celso. Formação econômica do Brasil. 32. ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2003.
GIAMBIAGI, Fabio et al. Economia brasileira contemporânea (1945-2004). Rio de Janeiro: Campus, 2004.
GIAMBIAGI, Fabio et al. Reformas no Brasil: balanço e agenda. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2004.
RESUMO
• A economia brasileira registrou elevadas taxas de • A política monetária no Brasil é administrada pelo
crescimento do produto interno bruto (PIB) após a Banco Central do Brasil, que tem orientado suas
Segunda Guerra Mundial, mas perdeu dinamismo decisões no sentido de manter a inflação em pata-
no início da década de 1980. mar baixo.
• Também no pós-guerra, a estrutura produtiva bra- • O regime de metas para inflação foi implementa-
sileira mudou significativamente, observando-se do no Brasil em 1999 e orienta a estratégia adotada
um processo de industrialização acelerado. pelo Banco Central em suas decisões sobre taxa de
• A crise da dívida externa na década de 1980 e o juros.
agravamento do processo inflacionário levaram às • Os elevados níveis das taxas de juros brasileiras
instabilidades e crises do período. (quando comparados internacionalmente) ainda
• A gravidade do processo inflacionário tornou o representam um fator de preocupação no âmbito
combate à inflação uma prioridade do governo na econômico no país.
década de 1980, e o Brasil vivenciou uma série de • Desde o início de 1999, o regime cambial brasi-
tentativas de estabilização antes do sucesso do Pla- leiro é o de livre flutuação, embora o governo
no Real no combate à inflação. tenha realizado diversas intervenções no mercado
• Embora o Plano Real tenha sido bem-sucedido em de câmbio ao longo dos últimos anos, caracteri-
estabilizar a inflação em patamar baixo, o país zando um regime de flutuação ‘suja’.
continuou a registrar taxas de crescimento do PIB • A excessiva volatilidade da taxa de câmbio
significativamente inferiores às verificadas até o brasileira tem sido um recorrente tema de preocu-
início da década de 1980. pação.
• O baixo crescimento econômico brasileiro das • O ajuste das contas públicas brasileiras processa-
últimas décadas tem afetado duramente o país de do a partir de 1998 foi caracterizado por aumentos
diferentes formas, e a taxa de desemprego tem de impostos e contribuições.
permanecido em patamar elevado. • Apesar do ajuste, a dívida pública brasileira
• O desafio da retomada do crescimento de modo seguiu crescendo em função das elevadas despesas
robusto e sustentável ainda é uma questão em de juros do setor público.
aberto no Brasil.
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132 E C O N O M I A d O S E T O R P ú b l ico
Resumo
Nesta unidade tivemos a oportunidade de conhecer os eventos econômicos ocorridos
no Brasil nos últimos anos, mostrando como a economia brasileira tem se comportado e
ainda como se deu sua reação às mudanças exigidas pelo mercado.
A economia brasileira, que transitou de profunda participação do Estado até uma
diminuição desta participação, após muitas tentativas, acabou por conseguir melhor
equilíbrio econômico, permitindo avanços importantes em nosso sistema econômico.
Uma economia mais equilibrada permite à iniciativa privada investir com mais tran‑
quilidade e possibilita ao consumidor adquirir os bens necessários ao atendimento de
suas necessidades. E é dentro deste contexto de economia dinâmica que vamos entrar,
na próxima unidade, no estudo da Microeconomia, onde compreenderemos, sobretudo,
as ações dos agentes econômicos privados.
Atividades de aprendizagem
1. Qual foi o período de maior crescimento do PIB brasileiro no pós-guerra?
2. Quais foram os planos de estabilização implementados no Brasil antes do Plano Real?
3. Quais foram as fases de implementação do Plano Real?
4. Com a estabilidade da inflação em patamar baixo a partir de 1994, o crescimento econô‑
mico brasileiro voltou a se acelerar de forma significativa?
5. O que significa Copom? Qual é sua função?
6. Em que ano foi implementado o regime de metas para inflação no Brasil?
7. Quais foram os regimes cambiais adotados no Brasil após a implementação do Plano Real?
8. Por que a volatilidade da taxa de câmbio brasileira representa um problema?
9. O ajuste fiscal brasileiro implementado a partir do fim da década de 1990 foi centrado no
corte de gastos públicos ou na elevação de impostos?
10. Por que mesmo com o ajuste fiscal processado no fim da década de 1990 a dívida pública
brasileira seguiu crescendo?
11. No contexto do regime de metas para a inflação brasileira, por que, quando o real se
deprecia fortemente ao dólar, o Banco Central eleva a taxa de juros?
12. Ainda considerando o regime de metas para inflação no Brasil, o Banco Central possui
independência de objetivos? Os membros do Copom possuem independência de mandato?
13. Por que o resultado comercial brasileiro passou a ser deficitário nos primeiros anos do
real?
14. Caracterize o ajuste fiscal brasileiro implementado nos últimos anos. Ele foi eficiente para
estabilizar a dívida pública? Por quê?
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Unidade 5
Economia brasileira
e Sistema Financeiro
Nacional
Regina Lúcia Sanches Malassise
E c o n o m i a b r a s i l e i r a e S i s t e m a F i n a n c e i r o N a c i o n a l 135
Introdução ao estudo
A economia brasileira tem um grande divisor de águas: o Plano Real. A maioria das pes‑
soas ainda se lembra da economia altamente inflacionária dos anos 80 e não tem saudades do
tempo em que os preços eram remarcados diariamente. Após a implantação do Real a queda
gradativa da inflação trouxe a estabilidade de preços e os brasileiros puderam manter uma
relação mais amigável com a moeda que tinham em mãos.
Porém, para entender como chegamos à atual estabilidade de preços na economia, preci‑
samos voltar um pouco no tempo e estudar os principais problemas que assolavam a economia
brasileira e quais foram as principais políticas adotadas para contorná-los e assim abrir o espaço
necessário para a implementação do Plano Real.
Portanto, nas próximas seções você vai ler sobre a dívida externa, inflação, câmbio e juros.
Cada um destes tópicos será abordado sobre uma perspectiva cronológica e histórica para
aproximá-lo dos fatos que conduziram às políticas que procuraram sanar estes problemas da
economia brasileira. Desejo a você uma boa leitura.
Tabela 5.1 Impacto da política cambial e preços externos sobre a receita do cafeicultor
136 E C O N O M I A d O S E T O R P ú b l ico
Na Tabela 5.1 utilizamos o real para facilitar a compreensão. No Brasil a moeda de 1888-1942
foi o mil réis, que tinha uma forma escrita diferenciada e era baseado num sistema milesimal, por
exemplo, mil réis se escrevia 1$000. Na tabela podemos ver que da situação 1 para a situação 2
ocorreu uma queda no preço da saca de café no mercado internacional: de US$ 15,00 a saca passou
a US$ 10,00 e o produtor registrou uma perda em sua receita de R$ 60,00 (R$180,00 — R$ 120,00).
Uma forma comum de o governo manter o ganho do setor exportador era desvalorizando a
moeda para garantir a receita dos cafeicultores. Da situação 2 para a situação 3, embora o preço
internacional permaneça o mesmo, o real se desvalorizou de R$ 1,20 para R$ 1,80, e a receita do
cafeicultor voltou a ser R$ 180,00. Desta forma a receita do cafeicultor era mantida mesmo com os
preços do café em queda no mercado internacional. Isto aumentava a produção de café no Brasil.
Para contornar o aumento da produção o governo comprava o excedente a um preço mínimo.
Porém, o preço mínimo não levava em consideração o excesso de oferta, isto é, estava acima
dos preços de mercado. Logo o governo acumulou grandes estoques. Os estoques brasileiros
evitavam que ocorresse um aumento na oferta mundial e os preços do café no mercado interna‑
cional não caiam o suficiente para que os produtores mundiais de café reduzissem a produção.
Assim, este período da economia brasileira até 1930 é chamado de modelo de desenvolvi‑
mento voltado para fora, pois a estrutura produtiva do país estava direcionada para atender o setor
exportador, isto é, a produção do café. Por outro lado, a fragilidade do modelo ocorre porque a
pauta de importações é grande e envolve produtos com preços maiores que os produtos expor‑
tados, e aí se verifica a deterioração dos termos de troca, conforme destaca a teoria da Cepal.
Além disto, o país se tornava dependente porque produzia para o mercado externo e o
mercado interno era abastecido com importações. Quando ocorria a desvalorização da moeda,
todos os itens importados ficavam mais caros, a inflação se elevava e prejudicava todos os
cidadãos, e isto foi chamado de socialização das perdas. Uma perda que deveria ser apenas
do cafeicultor, pois o preço do café no mercado mundial caiu, era espalhada para toda a
economia porque a desvalorização encarecia os produtos que os brasileiros consumiam e
que eram importados.
Com a crise dos anos 30 a política de valorização do café foi aos poucos sendo aban‑
donada, o governo queimou parte dos estoques de café a deixou os preços do café caírem
gradativamente, pois não poderia abandonar imediatamente a política sob pena de colocar
o país numa profunda recessão. A dificuldade de exportação reduzia a entrada de divisas e
dificultava as importações de produtos para o mercado interno. Neste momento fica claro que
o país precisava apostar na industrialização como alternativa para dinamizar sua economia,
produzindo no mercado interno o que antes era importado.
E c o n o m i a b r a s i l e i r a e S i s t e m a F i n a n c e i r o N a c i o n a l 137
A industrialização passa a ser uma meta para superar o atraso de nossa economia. Como pode‑
mos ver a partir da Figura 5.1, até 1919 bens de consumo básicos como a produção de alimentos,
têxteis, bebidas e outros eram responsáveis por mais 80% da produção nacional. Neste contexto, a
industrialização até 1930 surgiu nas franjas da economia cafeeira para atender trabalhadores assa‑
lariados (a partir de 1888) e imigrantes, todos eles ligados ao setor agrário-exportador (GREMAUD;
VASCONCELLOS; TONETO JÚNIOR, 2004 p. 355). As primeiras indústrias se dedicaram à produ‑
ção de têxteis, roupas, calçados e alimentos. Estes setores eram responsáveis por 80% da produção
industrial em 1920. Duas teorias buscam explicar o início da industrialização brasileira, são elas:
A) Teoria dos choques adversos: nesta visão a indústria surge como resposta às dificuldades, em
alguns períodos, de importar produtos industrias (ex.: Primeira Guerra Mundial e a Grande Depressão
de 1930). Como não conseguia exportar o café e o nível de importação não se reduzia o governo ele‑
vava as tarifas aduaneiras e proibia a importação de alguns itens, o que favorecia a indústria nacional.
B) Teoria da industrialização induzida por exportações: nesta visão a indústria crescia
justamente nos momentos de expansão da economia cafeeira. Isto ocorria porque a renda
aumentava (devido ao aumento da massa salarial) e estimulava o mercado consumidor e au‑
mentava a demanda por produtos industriais. Por outro lado, a receita gerada pelas exportações
davam suporte à importação de máquinas e equipamentos, estas eram condições fundamentais
para estimular o desenvolvimento industrial nacional.
Segundo Gremaud, Vasconcellos e Toneto Júnior (2004), as duas contribuem para explicar o
início da industrialização. Isto ocorre porque o aumento da capacidade instalada de produção
ocorre nos momentos de expansão das exportações e a utilização desta capacidade instalada ocorre
nos momentos em que observam dificuldades para importar. As primeiras indústrias dão início a um
processo de substituição de importações. Há que se destacar o importante papel desempenhado
pelos imigrantes que trouxeram junto consigo os conhecimentos e habilidades necessários para
implantar e desenvolver as primeiras indústrias (Ex: famílias Prado e Matarazzo).
Assim, ao fim da década de 1930, independentemente da linha teórica, era consenso entre os
pesquisadores que o Brasil precisava avançar no processo de industrialização em busca da consoli‑
dação de uma indústria que produzisse bens duráveis de consumo, intermediários e de capital. Este
é o objetivo dos planos de desenvolvimento econômico que se desenham nas décadas seguintes.
1.2 D
a substituição de importações à primeira
metade dos anos 1980
O impulso inicial para alavancar o processo de industrialização obteve seus recursos da
política de manutenção da renda do setor cafeeiro. Em certos momentos o governo comprou
e queimou o excedente de café apenas para que a economia mantivesse um ritmo mínimo de
demanda. Além disso, continuou desvalorizando a moeda nacional e utilizou o contingencia‑
mento de divisas selecionando os setores que teriam acesso a ela para importações.
Sobre a produção nacional pode-se dizer que em 1930:
A proteção recebida frente aos concorrentes externos e com as vendas
propiciadas pela manutenção da demanda, a gerar uma rentabilidade que,
dada queda de rentabilidade do setor cafeeiro, atraía capital de outros
setores e o próprio reinvestimento dos lucros gerados na atividade indus‑
trial (GREMAUD; VASCONCELLOS; TONETO JÚNIOR, 2004, p. 363).
A desvalorização encarece os produtos importados tornando-os mais caros que os nacionais
e as dificuldades criadas para se ter acesso às divisas, devido ao contingenciamento, acabavam
protegendo os produtos internos. A renda que fluía do setor cafeeiro gerava uma pressão por
importações, sem divisas por causa da queda das exportações, e o país decreta a moratória.
Inicia-se o processo de industrialização do Brasil, conhecido como Industrialização por
Substituição de Importações (ISI), período entre as décadas de 1930 e 1960. O termo substituição
se aplica por três motivos, são eles: i) produzir no mercado interno o que antes era importado; ii)
importar novos produtos, de preferência máquinas e equipamentos, para ampliar a produção indus‑
trial e iii) substituir o produto de exportação por outros, ou seja, diversificar a pauta de exportação.
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E c o n o m i a b r a s i l e i r a e S i s t e m a F i n a n c e i r o N a c i o n a l 139
140 E C O N O M I A d O S E T O R P ú b l ico
Um novo período se inicia na economia brasileira entre os anos 1968-73, que foi chamado
de Milagre Econômico. Em parte o avanço fez com que diagnóstico de inflação passasse a ser
de custos, e através do Conselho Interministerial de Preços (CIP) implantam-se mecanismos de
controle dos preços. Com maior controle sobre os preços a demanda pôde crescer sem grande
impacto sobre a inflação. Assim, enquanto a economia continuava crescendo em média 10%
ao ano, a inflação caiu moderadamente, passando de 22% em 1968 para 15% em 1973. As
principais fontes de crescimento foram:
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1 Em 1973, tivemos o primeiro choque do petróleo. O preço do barril passou de US$ 3,29 em 1973 para
US$ 11,58 em 1974, subindo gradualmente até US$ 13,60 em 1978. Em 1979 tivemos o segundo choque do
petróleo e o preço do barril aumentou de US$ 13,60 para US$ 30,03, atingindo US$ 35,69, em 1980.
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quitar suas contas no exterior. A dívida externa brasileira saltou de 17 bilhões de dólares em
1974 para 49 bilhões em 1979.
Internamente verifica‑se a deterioração da capacidade fiscal do estado devido à redução da
arrecadação, aumento dos gastos com juros, gastos para cobrir déficits das estatais. O déficit
das estatais era explicado porque o governo realizava política de contenção tarifária nos preços
da água, luz, energia e combustíveis como forma de controlar a inflação. Logo, isto reduzia a
arrecadação das estatais e, como os gastos delas não se reduziam, o rombo aumentava.
Na tentativa de combater a crise e a inflação, aumenta o crédito para o setor agrícola a
fim de ampliar a produção de alimentos, aumenta os salários e adota a inflação corretiva para
as tarifas. Os resultados foram: aceleração da inflação que chega a 100% no final de 1979,
aumento da dívida externa, aumento da especulação (estoques e antecipação de importações).
A crise da dívida externa se configura pela escassez de divisas para pagar a importações.
Para contorná‑la promove‑se o ajustamento com cortes nos gastos. Mesmo assim, o país re‑
corre ao FMI, que impõe uma política de ajuste externo no qual o país, para superar a crise,
deveria exportar mais gerando um superávit comercial, conseguindo, desta forma, os recursos
necessários para pagar a dívida.
Além desta medida outras propostas do FMI foram: aumento de juros, redução salarial,
redução do gasto público, desvalorização cambial, redução na importação de petróleo, au‑
mentando artificialmente a competitividade nacional (com desvalorização, tarifas públicas e
subsídios). Todas estas medidas tinham como objetivo reduzir a demanda agregada. Obteve êxito
na balança comercial, as importações caíram devido à recessão e as exportações cresceram.
Por outro lado, a inflação voltou mais forte e houve queda da renda per capita.
Ocorre que o processo de geração de superávits para pagar a dívida incorria no problema
interno do ajuste externo. Ele acontece porque a entrada de divisas das exportações pertence
à iniciativa privada e a dívida externa é 80% do setor público que precisa destas divisas para
pagá‑la. O governo poderia obter recursos para comprar as divisas de três formas: ele poderia
emitir moeda, o que gera inflação; poderia obter superávits fiscais, porém a arrecadação caiu
e os gastos do governo eram engessados; ou poderia emitir dívida interna. Optou pela última
por ser uma via não inflacionária e possível para o momento.
A economia entra em crise e em 1981 registra queda no PIB de ‑4,5%; o mesmo ocorre
em 1983, com queda de ‑3,5%. A inflação salta de 95% para 211% no mesmo período. Foi
gerado um processo chamado de estaginflação, quando, mesmo sem crescimento econômico,
continua‑se a ter inflação elevada, conforme podemos observar no Gráfico 5.1.
2 Os agentes combinavam pagar por fora acima dos preços de tabela para poder obter os produtos. Foi muito
comum com os automóveis: quando o agente pagava a mais pelo bem, logo recebia o automóvel, quando não,
ficava numa lista de espera aguardando sem prazo determinado para entrega do automóvel.
3 Como não podiam aumentar os preços, as empresas lançavam outros produtos com as mesmas características
trocando o nome e a embalagem. desta forma os novos produtos que chegavam ao mercado não tinham seus
preços em tabelas anteriores, e as empresas o colocavam no mercado com preço mais alto que o similar que
existia e que estava tabelado.
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Gráfico 5.2 Inflação medida pelo IGP-DI de jan. 1985 a dez. 1994
E c o n o m i a b r a s i l e i r a e S i s t e m a F i n a n c e i r o N a c i o n a l 145
no governo Collor a abertura da economia surge como medida que modifica o panorama da
economia, pois aumenta a concorrência no mercado interno.
Já no governo Itamar era possível ver as pressões que se puseram sobre o setor industrial,
acusado de ser atrasado e ter excesso de proteção, fazendo surgir a política industrial que é o
pré-requisito importante para a implantação do Plano Real. Neste sentido, convido-o a fazer
a leitura da Seção 2, na qual o foco será o estudo do Plano Real.
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146 E C O N O M I A d O S E T O R P ú b l ico
2.1 A
s diferentes visões sobre o papel do Estado na
economia
Segundo Pochmann (1999) e Dedecca (1999), são duas as principais correntes de formu‑
ladores de políticas econômicas que dominam a economia mundial: a social-democracia e
a neoclássica. Cada uma destas correntes tem argumentos diferentes na defesa de políticas
voltadas à geração de emprego.
Segundo Pochmann (1996, p. 518), a divergência entre estes dois grupos tem origem no
foco de análise adotado, ou seja, “o entendimento do emprego como expressão do funcio‑
namento restrito do mercado de trabalho ou a compreensão mais geral de que o emprego
representa uma variável subordinada do processo de acumulação de capital”. Enquanto para
a primeira, denominada visão neoclássica, o mercado de trabalho surge enquanto instituição
onde se concentram trabalhadores e empresários ofertando e demandando força de trabalho,
na segunda, denominada visão social-democrata, a relação desigual de forças, entre os que
só têm sua força de trabalho para vender e os que detêm o capital muitas vezes colocou o
Estado, através do direito do trabalho, enquanto mediador de interesses.
Estas concepções delimitam as possibilidades de enfrentamento dos problemas do mercado
de trabalho nas economias, e suas concepções sobre o papel do estado, dos sindicatos, das
políticas de bem-estar social e de emprego estão delimitadas na Tabela 5.3.
E c o n o m i a b r a s i l e i r a e S i s t e m a F i n a n c e i r o N a c i o n a l 147
Papel do Estado O estado deve se fazer presente em todas as O Estado deve deter a menor participa‑
oportunidades que devem favorecer a constru‑ ção possível no excedente econômico,
ção de uma sociedade menos desigual, como com sistema tributário proporcional e
forma de corrigir as distorções do mercado, maior espaço para as decisões privadas
aumentando, quando necessária, a partici‑
pação no excedente econômico (tributação
progressiva)
Estado de bem‑ A definição e construção do Estado de bem‑ As áreas sociais devem-se limitar ao
-estar social -estar social é importante, não apenas devido contexto da seletividade e focalização,
a sua capacidade de geração de empregos nos paralela ao setor privado e direcio‑
setor de serviço (saúde, educação, serviços pri‑ nada exclusivamente para as parcelas
vados), mas como forma de alcançar padrões minoritárias
mais homogêneos de consumo
Políticas sociais A ampliação das políticas de garantias de mí‑ A diminuição dos benéficos públi‑
nimos de renda (seguro-desemprego vinculado cos e a criação de mecanismos de
ao programa de treinamento; subsídios para garantia de renda com menor valor
formação e treinamento da mão de obra) possível para segmentos mais jovens
do mercado de trabalho, objetivando
estimular a aceitação de emprego
com salários menores, se necessários,
promovendo ocupações em pequenos
negócios (autoemprego)
Papel dos sindi‑ O sindicato aumenta seu poder de força O sindicato possui papel reduzido,
catos quando há relações democráticas de trabalho, mais orientado para definição de
maior presença no local de trabalho, contrata‑ reivindicações dos trabalhadores por
ção coletiva centralizada e pleno emprego. O empresa, permitindo que os salários e
fortalecimento do sindicato é condição neces‑ a jornada de trabalho estejam associa‑
sária para maior representação dos interesses dos à produtividade e às oscilações da
dos trabalhadores economia
Mercado de A defesa de mecanismos institucionais, O mercado de trabalho deve ser a
trabalho regulados para a constituição de um mercado expressão da relação entre oferta e
de trabalho estruturado, com menos formas demanda de mão de obra, permitindo
heterogêneas possíveis de ocupação e renda formas heterogêneas de ocupação e
menores salários de acordo com a
produtividade das empresas
As relações de As restrições administrativas e econômicas A flexibilização dos contratos de
trabalho para as demissões e esforços de ampliação dos trabalho é necessária para adequar o
contratos de longa duração custo da mão de obra às oscilações
do mercado, com baixas restrições
econômicas e administrativas nos casos
de demissões
148 E C O N O M I A d O S E T O R P ú b l ico
Assim, “o pleno emprego é concebido como uma resultante do fortalecimento das forças da
concorrência, da abertura comercial e da estabilidade monetária” (POCHMANN, 1998, p. 224).
Enquanto o fortalecimento da concorrência seleciona os mais competitivos, em preço e qualidade,
os produtores ineficientes se direcionam para outras atividades onde conseguem empregar melhor
sua capacidade produtiva. A abertura comercial amplia o mercado e ao mesmo tempo intensifica
a concorrência, ocorrendo uma nova seleção das atividades mais competitivas no comércio mun‑
dial. A estabilidade monetária é importante para evitar as distorções nos preços relativos mundiais,
como ocorreria com desvalorizações que poderiam proteger produtores ineficientes e vice-versa.
A segunda abordagem apresenta como principal determinante do desemprego atual o
processo de acumulação de capital cuja globalização e as novas tecnologias são reflexos mais
visíveis. As novas tecnologias têm como objetivo elevar a produtividade e reduzir a incorpo‑
ração de trabalho vivo na produção que provocam transformações qualitativas (mudança na
divisão técnica do trabalho, da organização do trabalho, das qualificações) e redistribuição
setorial do emprego (nascimento, expansão e declínio das atividades econômicas) em vez de
provocar o desaparecimento do trabalho (MATTOSO; POCHMANN, 1998). Já o movimento
de globalização econômica, ao ampliar as possibilidades de rentabilidade do capital, provoca
mudança na dinâmica da concorrência intercapitalista, pois a lógica de avaliação dos mercados
não se processa somente na esfera produtiva fazendo com que “[...] a avaliação do mercado de
bens ocorra em função da valorização do capital e dos macropreços, principalmente câmbio e
juros... privilegiando o caráter patrimonialista-financeiro do que o produtivo” (POCHMANN,
1996, p. 529, grifo nosso).
Portanto, num mundo globalizado, as pressões por maior liberdade nos mercados de
bens e serviços com restrições para a mobilidade da mão de obra ao mesmo tempo limitam a
ação dos Estados Nacionais e deixam como herança para estes a solução para o problema do
emprego no capitalismo contemporâneo (MATTOSO; POCHMANN, 1998). Limitam porque
exigem desses países um equilíbrio externo através do Balanço de Pagamento e interno através
do controle das contas públicas, ao mesmo tempo que desconhece as realidades históricas de
dependência e subdesenvolvimento.
A obtenção destes equilíbrios, através da adoção de políticas neoliberais (os países que
têm déficits devem praticar contenção de demanda a qualquer custo inclusive com elevação
de juros), tem se mostrado amplamente perversa para as economias em desenvolvimento, re‑
dundado em baixas taxas de crescimento e altos níveis de desemprego (POCHMANN, 1998).
Nesta visão as análises centradas nas variáveis endógenas do mercado de trabalho não
conseguem dar conta da atual natureza do desemprego, pois as variáveis exógenas têm ocasio‑
nado impacto significativos sobre a produção e o emprego. Embora entendam que no processo
de acumulação capitalista o desemprego não possa ser considerado uma novidade, de fato “o
emprego seria uma variável dependente da reação da sociedade (trabalhadores, empresários e
governo) frente ao fenômeno histórico da subutilização do trabalho” (POCHAMNN, 1999, p.
108, grifo do autor), defendem que “a utilização efetiva das forças produtivas seria resultado
de um compromisso político estabelecido pelos principais atores sociais” (POCHAMNN, 1999,
p. 108). Foi este compromisso que prevaleceu durante os trinta anos de ouro do capitalismo
cujos incrementos da demanda agregada foram benéficos tanto para o capital como para o
emprego nas economias avançadas.
Segundo Dedecca (1999), outro ângulo do debate sobre a delimitação da quantidade e da
qualidade do emprego no capitalismo contemporâneo centra-se nas formas de obtenção de
maior eficiência, ou seja, como elevar a produtividade e competitividade das empresas que
atuam em uma determinada economia. Entendendo-se produtividade como “a maior produção
física obtida numa unidade de tempo (hora, dia, ano) por um dos fatores empregados na produ‑
ção (terra, trabalho, capital)” (SANDRONI, 1994, p. 286, grifo do autor) e por competitividade
“a capacidade da empresa formular e implementar estratégias concorrenciais, que lhe permitam
ampliar ou conservar, de forma duradoura, uma posição sustentável no mercado” (FERRAZ et
al., 1997, p. 3). Assim o elemento básico de análise é a empresa individual, e partindo deste
ponto observam-se divergências entre os defensores da eficiência microeconômica e da ma‑
croeconômica, as quais serão resumidamente delineadas nas próximas linhas.
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150 E C O N O M I A d O S E T O R P ú b l ico
obtidos de medidas e programas adotados por uma economia. Então a política industrial assume
papel relevante no ex ante tendo como finalidade a promoção do desenvolvimento industrial.
Também a maior competitividade é um dos objetivos da política industrial, cujo objetivo geral
é promover o desenvolvimento industrial 5 através da ampliação e aprofundamento do tecido
industrial, cujos reflexos se estenderiam para além da estrutura industrial do país.
Segundo Dedecca (1999), Coutinho (1998), Mattoso e Pochmann (1998) e Tavares (1997b),
a economia brasileira tem sido conduzida nesta década pelas políticas neoliberais privilegiando
um padrão de eficiência microeconômica.
O objetivo é reduzir o tamanho do estado e promover o aumento da competitividade,
entendida como a capacidade da empresa nacional de produzir com preços e condições iguais
a qualquer empresa do resto do mundo. Esta nova visão abre espaço para a iniciativa privada
e também acirra a concorrência entre o capital nacional e o estrangeiro. É neste contexto que
se desenha a nova política industrial brasileira.
Desta forma, a nova política industrial tem como objetivo promover a modernização indus‑
trial a qualquer custo. A exposição sistemática à concorrência, através da política de “integração
competitiva”, pretendia promover a superação do isolamento e do atraso da indústria local,
tão acostumada à proteção proporcionada pelo auxílio do Estado e pelo mercado fechado
nos anos anteriores. Os mecanismos e as estratégias para colocar em prática este processo de
integração são descritos nos seguintes termos:
As políticas propostas para atingir a integração constituíam uma
reviravolta em relação às implementadas no período desenvolvi‑
mentista: abertura comercial, eliminação de subsídios, flexibiliza‑
ção de normas para o capital estrangeiro e privatização do setor
produtivo estatal. Era fundamental prover a competitividade através
dos mecanismos de mercado. No lugar de políticas setoriais, de‑
veriam ser implementadas políticas horizontais, que estimulassem
simultaneamente todos os setores da indústria a produzir em con‑
dições de preços e qualidade compatíveis com o mercado mundial
(LAPLANE, 1997, p. 83).
Assim, toda a lógica da definição de política macroeconômica e industrial volta-se para a
redução do papel do Estado e a ampliação dos espaços de mercado para a iniciativa privada,
recolocando a concorrência entre os agentes privados internos e externos como forma de
garantir maior eficiência econômica.
Segundo o Governo, o processo de privatização constituía-se num importante instrumento
de modernização. Em primeiro lugar, a privatização permitiria reduzir o déficit público, oriundo
em parte da utilização das empresas estatais como instrumento de controle da inflação e como
fonte de captação de recursos nas décadas anteriores. Em segundo lugar, porque as estatais
estavam sucateadas tecnologicamente, necessitando de novos investimentos que, caso não
fossem realizados, implicariam em sérios problemas infraestruturais (BAER, 1996). Em terceiro
lugar, porque a privatização abriria novos espaços no mercado para a iniciativa privada, e
estas novas oportunidades de negócios atrairiam investidores estrangeiros e, pós-privatização,
intensificariam a concorrência no mercado interno (GONÇALVES, 1998).
Somente no período de 1991-93, 22 empresas foram privatizadas nos segmentos básicos
(aço, petroquímica e fertilizantes), e dentre elas destacam-se com suas referidas receitas de
vendas: Usiminas, com US$ 1.419 milhões; Petroflex, US$ 234 milhões; Cia Siderúrgica Tuba‑
rão, US$ 347 milhões; Fostertil, US$ 222 milhões; Acesita, US$ 465 milhões; CSN, US$ 1.317
milhões; Açominas, US$ 555 milhões; Cosipa, US$ 331 milhões. No total a arrecadação com
as vendas do período somaram US$ 6.376 bilhões (BAER, 1996, p. 273). Destaca-se ainda
que a despeito de qualquer argumento favorável à privatização, foram privatizados segmentos
dinâmicos e rentáveis e, portanto, mais atraentes ao capital estrangeiro.
No contexto da nova política industrial, a abertura comercial e a redução do papel do
Estado na economia teriam um duplo efeito sobre a estrutura produtiva “explicitar as vanta‑
gens/desvantagens comparativas do nosso segmento produtivo e de viabilizar a ampliação
dos seus níveis de competitividade, por maior acesso a bens, serviços, capitais e tecnologias
importados” (GONÇALVES, 1998, p. 1).
152 E C O N O M I A d O S E T O R P ú b l ico
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154 E C O N O M I A d O S E T O R P ú b l ico
Quanto à composição setorial do PIB observa-se que este tem sido composto em grande
parte pelo setor serviços, responsável em média por 57% do PIB. O setor industrial tem redu‑
zido sua participação na composição setorial do PIB: em 1988 este era responsável por 38%
do PIB; em 1993 caiu para 32% (GREMAUD, 1996).
O aquecimento da demanda, provocado pela estabilização de preços e valorização da moeda,
criou dificuldades para o fechamento do Balanço de Pagamentos (Tabela 5.5). Acumularam-se
déficits comerciais que, somados aos déficits da balança de serviços, resultaram em déficit nas
transações correntes que saltou de US$ 2,2 bilhões em 1993 para US$ 35 bilhões em 1998.
Contas 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998
Saldo da Balança Comercial 11,1 10,6 15,2 13,3 10,4 -3,3 -5,5 -8,3 -6,5
Saldo da Balança de Serviços -13,7 -13,5 -11,3 -15,5 -14,7 -18,5 -21,7 -27,2 -30,3
Saldo Transações Correntes -2,6 -2,9 3,9 -2,2 -2,2 -17,9 -24,3 -33,4 -35,0
Saldo da Balança de Capitais -4,8 -4,1 25,3 10,1 14,2 29,3 33,0 25,5 15,9
Superávit/déficit -7,2 -4,7 30,0 8,4 12,9 13,4 8,6 -7,8 -17,3
Dívida Externa Bruta M e LP 102,9 123,9 135,9 145,7 119,6 129,3 142,1 163,3 210,7
Reservas Liquidez 9,9 9,4 23,7 32,2 38,8 51,8 60,1 52,2 44,5
Os recursos para fechar o Balanço de Pagamentos tiveram origem nos recursos oriundos
da balança de capitais e das reservas de divisas. Porém, com o incremento das taxas de juros
que remuneravam o capital, ocorreu uma explosão da dívida externa.
O problema do endividamento externo agravou-se a partir das crises do México (1994),
Ásia (1997) e Rússia (1998) e em todas regiões cujas políticas econômicas estavam atreladas à
captação de recursos externos, colocando em dúvida a capacidade de países com este padrão
de ajuste em honrar os compromissos da dívida.
O efeito cascata que essas crises deflagraram atingiram o Brasil e obrigaram a elevações
contínuas dos juros para manter os capitais estrangeiros no país. As taxas de juros reais oscilaram
na média de 15% a.a. de 1994-98, registrando-se picos em: fevereiro (46,83%) e março (65%)
de 1995, em outubro (27%) e novembro (43%) de 1997, períodos em que eclodiram as crises
(DEPARTAMENTO INTERSINDICAL DE ESTATÍSTICA E ESTUDOS SOCIOECONÔMICOS, 1998).
Como resultado, observa-se um rápido crescimento da dívida externa de US$ 119 bilhões em
1994 para US$ 210 bilhões em 1998. Ao final do período ocorreu também a solicitação de
socorro ao FMI, firmando acordos com garantia de obtenção de superávit primário.
As importações (Gráfico 5.3) cresceram sucessivamente a partir de 1989, de um patamar
médio de 6% entre 1985-89, para 8% entre 1990-93, chegando a 10% em 1997. Em termos
de volume, estas saltaram de US$ 33 bilhões em 1994 para US$ 58 bilhões em 1998, repre‑
sentando um acréscimo de 76%.
Por outro lado, as exportações que apresentaram comportamento oscilante em torno de
12% do PIB até 1993 declinaram sistematicamente até 1997, quando atingiram um percentual
de apenas 7%. A queda no volume de exportações (medidas em percentuais do PIB) ocorreu
a partir de 1994, e no mesmo período houve expressiva valorização cambial. Da paridade de
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RS$ 1,00 por US$ 1,00 em 1994, ela evolui para RS$ 0,84 por US$ 1,00 em 1995. Ao mesmo
tempo, as exportações que em 1994 eram de US$ 43 bilhões, chegaram a US$ 51 bilhões em
1998 — um acréscimo de apenas 18%, ou seja, elas apresentaram um crescimento mais lento
do que as importações.
A Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) situou‑se próxima a 16% do PIB, permanecendo
em patamares inferiores aos verificados em 1985. Tal taxa é considerada insuficientemente
pequena para permitir a retomada do crescimento industrial. No Sudeste Asiático, por exemplo,
essas taxas situam‑se em média em torno de 30% do PIB (GONÇALVES, 1998).
Destaca‑se também que a FBCF cresceu proporcionalmente menos do que o consumo.
Enquanto o consumo interno evolui de 79% do PIB entre 1990‑93 para 86% do PIB entre 1994‑
‑96, os percentuais da FBCF evoluíram de 14,7% para 15,9% do PIB em igual período (COU‑
TINHO, 1998). Enquanto o consumo cresce 7%, a FBCF cresce apenas 1,2%. Desta forma, os
efeitos dinamizadores do Plano Real sobre o consumo não se refletiram sobre os investimentos.
Além disso, a importação de tecnologia (marcas, patentes, transferência intrafirmas etc.), que
cresceu de US$ 30 milhões em 1994 para US$ 1,5 bilhões em 1996 (GONÇALVES, 1998), é mais
eficiente do ponto de vista tecnológico e organizacional. Segundo Coutinho (1998, p. 240) é prová‑
vel que estas importações registrem “coeficientes elevados de insumo e componentes importados e
impactos modestos sobre a geração interna de demanda por bens intermediários e sobre a criação de
empregos”. Neste caso, o crescimento econômico pode vir acompanhado de aumento das importações.
Outro movimento de destaque nos anos de 1990 foi o desempenho positivo do investimento
direto estrangeiro (IDE). Em 1993 o IDE era de US$ 0,4 bilhão, em 1998 evoluiu para US$
24,7 bilhões (BRUM, 1999). A ampliação destes investimentos parece estar atrelada ao amplo
movimento de fusões e aquisições verificados na economia. Dados de 1995 demonstram que,
de 198 transações de aquisições, fusões e joint ventures realizadas na economia brasileira, 115
operações foram realizadas por investidores estrangeiros, ou seja, foram responsáveis por 58%
das transações realizadas no ano (COMIN, 1996). Especificamente, para o período 1994‑98, os
setores que mais atraíram o IDE foram o automotriz, com 50,6% dos projetos de investimento,
eletrônico, com 19,1%, químico e farmacêutico, com 9,1%, alimentos e bebidas, com 6,4%,
cimento e gesso, 6%, embalagens, com 3,4% (COUTINHO, 1998).
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Segundo Coutinho (1998) e Tavares (1997), o IDE, considerado indutor de uma rápida
e abrangente atualização tecnológica do setor industrial, tem se concentrado na compra de
empresas nacionais (estatais e privadas) e projetos de investimentos em sua “maioria impulsio‑
nados pela expansão do mercado interno, sendo pouco expressivo o componente exportador
destes” (COUTINHO, 1998, p. 238). Segundo os autores, a maioria dos projetos de investi‑
mento concentra-se nos bens de consumo (duráveis e não duráveis), o que tem contribuído
para elevar a participação dos bens de consumo na pauta de produção interna. Se em 1985
estes produtos representavam 41% da pauta de produção, em 1999 eles passam a representar
47% do total da produção (KUPFER, 1998, p. 65).
Assim, o recurso à importação representa uma opção que “deprime ou pelo menos não
amplia proporcionalmente o volume de inversões no país, amesquinhando os efeitos dinami‑
zadores que decorreriam do aumento da escala de consumo nacional” (COUTINHO, 1998,
p. 235). Neste contexto, os efeitos dinamizadores do plano foram minados pelo recurso às
importações e, mesmo com o ingresso do IDE, não foi possível retomar os níveis de FBCF
de 1985, pois boa parte deste concentrou-se nas aquisições e fusões e, em menor parte, na
expansão ou criação de unidades produtivas e direcionadas para atender ao mercado interno.
Apesar do sucesso alcançado nestes últimos anos, no que se refere à estabilização, outros
problemas permaneceram e alguns até se agravaram. A crença de que com a estabiliza‑
ção o país iria retomar uma trajetória estável de crescimento econômico não se confirmou.
O comportamento do produto tem se verificado extremamente oscilante no período recente. O
sacrifício do crescimento na estratégia de estabilização provocou um aumento significativo do
desemprego no país. As contas externas deterioram-se ampliando a vulnerabilidade externa
da economia brasileira. O déficit público não foi corrigido, e a dívida pública assumiu uma
trajetória ascendente (GREMAUD; VASCONCELLOS; TONETO JÚNIOR, 2004).
Na prática diz-se que um dos mercados que passou por uma fase de intenso reajuste foi
o mercado de trabalho. Em parte porque com a abertura econômica ampliou-se a concorrên‑
cia, e em parte porque a política de valorização do real encareceu o custo da mão de obra
quando comparada aos demais países e ainda aumentou as importações. Para entender melhor
o mercado de trabalho nos anos 1990, convido-o a ler o texto a seguir.
Aprofundando o conhecimento
Neste momento você realizará a leitura de um material de autoria da Profa. Regina
Malassise em que discutimos o mercado de trabalho no Brasil na década de 1990 com
enfoque no impacto das políticas macroeconômicas dos primeiros anos do Plano Real.
Este material faz parte da dissertação de mestrado publicada em Malassise (2000).
Tenha uma boa leitura.
Se durante o período 1988-90 não observam-se mudanças neste indicador, no período 1990-93
a evolução positiva do mesmo indica que a indústria começava a reagir positivamente à abertura
econômica. Porém no período 1993-97 ocorre queda no valor das transformações industriais, regis-
trando níveis inferiores aos verificados no período 1988-90. Assim, nota-se que o setor vem reduzindo
a geração de valor agregado à produção, provavelmente fruto da incorporação de componentes
importados à produção local.
Os resultados mais imediatos do impacto das políticas macro e industrial atuais sobre a indús-
tria foram: baixo crescimento da produção industrial e aumento das importações. Enquanto a taxa
média de crescimento da indústria de transformação foi em média de 2% no período de 1990-95,
o coeficiente de importação industrial sobre a produção elevou-se de 8% em 1990 para 21,85%
em 1995.
Segundo Coutinho (1998) a invasão da economia por produtos importados nos segmentos de
bens de consumo implica em perdas de espaços para a oferta doméstica de bens finais. Nos seg-
mentos bens intermediários e de capital a substituição e supressão da produção doméstica confirmam
uma tendência a desindustrialização dos quais só vêm sendo poupados os segmentos intensivos em
recursos naturais e mão de obra.
Desagregadamente pode-se observar a evolução dos coeficientes de penetração das importa-
ções medidos sobre o percentual da produção na tabela 3. O aumento das importações ocorre em
quase todas as cadeias produtivas. Os três primeiros grupos são os mais afetados internamente pela
elevação do coeficiente de importação sobre a produção.
* Talvez por isto nota-se um significativo o crescimento do endividamento externo privado no período.
Segundo dados da Folha de São Paulo de 14/01/98, 62% da dívida externa do país pertencia ao setor
privado, ou seja, US$ 139,5 bilhões.
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três primeiros apresentaram superávits decrescentes, enquanto que os três últimos apresentaram
superávit decrescente. Nota-se que são os subsetores de superávit decrescente são aqueles de
produtos manufaturados e que demandam transformações industriais mais elaboradas, enquanto
que os setores que apresentaram superávit crescente são os produtos semimanufaturados que
demandam pouca transformação industrial.
No quadro geral pode-se observar que em termos quantitativos as reversões mais pesadas dos
saldos ocorrem nos setores: indústria mecânica, material elétrico e de comunicações, material de
transporte, química, metalúrgica e matérias plásticas, exatamente os setores onde o coeficiente de
penetração de importações sobre produção foram mais elevados. Ao passo que o desempenho
positivo é registrado em setores cuja produção demanda pouca transformação industrial, implicando
em menor valor agregado à produção local. Nos anos de 1990 as políticas macroeconômicas e in-
dustriais formaram um quadro que agravou os problemas estruturais da indústria, conforme argu-
menta Coutinho:
É importante assinalar que, muito embora não se possa atribuir à apre-
ciação cambial a responsabilidade pela reduzida competitividade indus-
trial do sistema, não há dúvida de que ela não contribuiu para superá-la.
Ao contrário, com a proteção tarifária já reduzida a apreciação cambial
e os juros elevados sobreoneram a rentabilidade das empresas e dificul-
tam — senão inviabilizam — seus processos de reestruturação para
competir dentro dos padrões mundiais (COUTINHO, 1998, p. 233).
Analisando taxas de desemprego aberto (gráfico 3), observa-se que estas elevam-se de um pa-
tamar médio de 3,5% entre 1986-89, para 5,5% entre 1989-92, recuando para 5% entre 1992-95,
e elevando-se rapidamente, atingindo um patamar médio de 6,5% entre 1995-99. Nestas condições,
observa-se que as taxas médias dobraram em apenas 13 anos, demonstrando que nos últimos anos
o ajuste produtivo tem impactado negativamente sobre o mercado de trabalho.
Analisando os dados da tabela 5, verifica-se que para o setor serviços e comércio, os índices
de emprego oscilaram ao sabor da atividade econômica, enquanto o setor industrial registrou queda
mesmo no período de recuperação da atividade econômica. O comércio se recuperou rapidamente
da recessão de 1992; a partir de 1994 o emprego no segmento supera os níveis de 1988, já em
1998 o índice chega a 117,2.
O setor serviços apresentou recuperação mais lenta, sendo que somente em 1998 este segmento
consegue superar os níveis de emprego registrados em 1988, crescendo apenas 3%. No setor in-
dustrial os índices de emprego têm permanecido em níveis inferiores aos de 1988, chegando a 1998
com uma queda de 24,5% no nível de emprego.
Desta forma, a geração de vínculos formais urbanos foi de 20% contra uma redução de 24,5%,
apontando para uma perda de empregos urbanos da ordem de 4,5%, ou seja, perda de em média
1,6 milhão de empregos formais no final de 1998. Assim, ampliação do emprego no setor serviços
e comércio tem sido insuficiente para suprir a redução no emprego industrial caracterizando-se uma
insuficiência na geração de empregos formais urbanos durante a década.
Uma análise do comportamento do emprego formal durante a década de 90 pode ser melhor
apreendida através da análise dos dados do emprego na indústria de transformação, e isto será
realizado no próximo tópico.
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Neste aprofundando você pôde entender um pouco mais sobre os efeitos das políticas
iniciais do Plano Real sobre o mercado de trabalho. Percebeu que no momento em que o
real se equipara ao dólar podemos comparar a evolução dos salários e da massa salarial em
dólares. Verificamos que os salários nesta relação crescem, ocorre um encarecimento deles
e aumenta o custo das empresas. Elas respondem reduzindo o número de funcionários, e
isto aparece na observação da massa salarial que fica abaixo dos salários. Assim, o emprego
formal da indústria de transformação registra uma queda acentuada do número de postos
de trabalho.
Tendo em vista este panorama, o segundo mandato do presidente FHC começa com uma
elevada taxa de desemprego. Associada a isto a reestruturação em curso havia levado as em‑
presas a aumentarem o volume de importações, causando uma dependência de dólares para
fechar o Balanço de Pagamentos. Como o governo enfrentou estas questões é o que vamos
ver no próximo tópico.
Ao final do governo FHC o país havia recebido o tripé sobre o qual a economia seria admi‑
nistrada nos períodos seguintes. As metas de inflação, a austeridade fiscal e o câmbio flutuante
crivam as condições para ter inflação baixa, redução do desequilíbrio fiscal entre arrecadação e
gasto públicos e permitem ter melhor controle das contas externas porque no câmbio flutuante
o valor do dólar passa a ser regulado pelo movimento de oferta e demanda de divisas.
As reformas impostas pela Lei de Responsabilidade Fiscal, Reforma da Previdência, fim
do monopólio estatal do petróleo e comunicações, atração de investimento direto estrangeiro
(IDE), foram legados positivos para o novo período que viria com o então eleito Presidente Lula.
Para dar maior visibilidade a seu governo, contornar os problemas do crescimento e fazer
do Plano Real mais que um mero plano de combate à inflação, o Governo Lula empreendeu
uma série de estudos que culminaram com a elaboração do Programa de Aceleração do Cres‑
cimento (PAC). Vamos discutir mais detidamente os pontos mais relevantes do PAC a seguir.
6 O valor investido pelo governo levava em conta o papel “indutor” do setor público, já que de cada R$ 1,00
investido pelo setor público é gerado R$ 1,50 em investimentos privados.
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Resumo
Nesta unidade estudamos a economia brasileira e o sistema financeiro. Vimos que
a economia brasileira surge economicamente falando como uma grande fornecedora de
produtos primários numa fase que ficou conhecida como economia agroexportadora.
Somente depois da crise de 30 foi colocada como prioridade a busca pelo desen‑
volvimento da indústria como fonte de crescimento econômico e fortalecimento da
economia brasileira ante os mercado externos.
De 1930 a 1980 o objetivo da política econômica era prover o crescimento da pro‑
dução e do emprego. Os sucessivos planos e medidas econômicas tinham por base a
busca do crescimento e fortalecimento da economia. Na segunda metade da década de
80 os altos índices de inflação e seu diagnóstico atrelado à inflação inercial legaram à
adoção vários planos econômicos que tinham como medida os congelamentos e tabe‑
lamentos de preços e salários.
Nos anos 90 a elevação da inflação e o diagnóstico de que ela era fruto do excessivo
gasto público e da forma como este era financiado, levaram à adoção de políticas mais
ligadas aos conceitos neoliberais. Desde então, as empresas começaram a ser submetidas
a uma maior concorrência no ambiente interno e externo. O objetivo das políticas era
elevar a competitividade microeconômica. Neste período a inflação foi combatida com
a implantação do Plano Real.
O plano é considerado um divisor de águas da economia, pois nos últimos 17 anos
a inflação vem sendo mantida sob controle, atendendo ao que foi definido pela política
de metas de 4,5% com variação de 2% de acordo com o IPCA.
Por fim destacamos o Sistema Financeiro Nacional, sua evolução e constituição
atual. Tal ponto foi importante porque hoje o SFN tem contribuído fortemente para a
manutenção da estabilidade econômica através da atuação ativa de suas instituições,
dentre as quais se destaca o CMN.
Agora que chegamos ao fim desta unidade, completamos um ciclo de estudos que
parte dos conceitos básicos de economia, macroeconomia, que situou a economia
internacional e a partir desta permitiu entender o atual estágio da economia brasileira.
Agora que finalizamos mais esta unidade, não se esqueça de resolver as atividades de
aprendizagem.
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Atividades de aprendizagem
I. Nas questões abaixo assinale a alternativa conforme o que é solicitado:
1. No ambiente macroeconômico o governo atua através de suas políticas econômicas. Para
administrar o país o governo estabelece objetivos fundamentais para sua participação
na economia. Recentemente o governo Dilma fez o plano Brasil Maior, que contempla
a redução de impostos para a indústria, e com isto o governo pretende elevar a taxa de
investimento sobre o Produto Interno Bruto (PIB) de 18,4% em 2010 para 22,4% ao final
do plano de política industrial (UOL 02/08/2011). Neste sentido essa política atinge qual
dos objetivos de política econômica:
a) Crescimento da produção e do emprego;
b) Controle da inflação;
c) Equilíbrio nas contas externas;
d) Melhoria na distribuição da renda gerada no país;
e) Aumento das importações.
2. No ambiente macroeconômico o governo atua através de suas políticas econômicas. Para
administrar o país o governo estabelece objetivos fundamentais para sua participação na
economia. Em 27/07/2011 o Copom decidiu aumentar a taxa de juros Selic de 12,25%
para 12,50% a.a. A justificativa para isto foi a pressão dos preços sobre a economia. Neste
sentido esta política atinge qual dos objetivos de política econômica:
a) Crescimento da produção e do emprego;
b) Controle da inflação;
c) Equilíbrio nas contas externas;
d) Melhoria na distribuição da renda gerada no país;
e) Aumento das importações.
3. No ambiente macroeconômico o governo atua através de suas políticas econômicas. Para
administrar o país o governo estabelece objetivos fundamentais para sua participação na
economia. A segunda fase do programa Minha Casa Minha Vida foi lançada em julho de
2011 e prevê a construção de 2 milhões de imóveis, com investimentos de R$ 71,7 bilhões
até 2014, melhorando as condições de vida dos brasileiros com renda até R$ 1.600,00.
Num caso em que o acesso à moradia é uma das coisas que se busca obter com sua renda,
ao facilitar esse acesso o governo estaria indiretamente praticando uma política de:
a) Crescimento da produção e do emprego;
b) Controle da inflação;
c) Equilíbrio nas contas externas;
d) Melhoria na distribuição da renda gerada no país;
e) Aumento das importações.
4. O Sistema Financeiro Brasileiro é composto pelo Conselho Monetário Nacional, Banco
Central, Comissão de Valores Mobiliários, além dos bancos comerciais, de investimento e
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crédito. O Banco Central do Brasil (Bacen) tem papel de destaque devido às suas atribui‑
ções. Assinale abaixo qual das alternativas representa uma das atribuições do Bacen:
a) Renegociar a dívida externa brasileira.
b) Emitir papel-moeda, fiscalizar e controlar os intermediários financeiros, supervisionar
a compensação de cheques.
c) Aceitar depósitos e conceder empréstimos ao público em geral.
d) Executar as políticas monetária e fiscal do país.
e) Formular a política monetária e cambial do país.
5. O regime de metas para a inflação é um regime monetário no qual o Banco Central se
compromete a atuar de forma a garantir que a inflação efetiva convirja para a meta pre‑
estabelecida, anunciada publicamente. No Brasil, a meta para a inflação foi definida em
6,5% a.a. e o índice utilizado para acompanhar a inflação é:
a) IGP — Índice Geral de Preços do IBGE;
b) ICV — Índice do Custo de Vida do DIEESE;
c) IGP-M — Índice Geral de Preços de Mercado da FGV;
d) IPCA — Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo do IBGE;
e) IPC — Índice de Preços ao Consumidor da Fipe.
II) Responda às questões:
Em matéria de industrialização, explique a teoria dos choques adversos e a teoria da
industrialização induzida por exportações.
Quais as instituições financeiras criadas pela reforma financeira do PAEG?
Cite as principais medidas dos planos econômicos: Cruzado, Bresser, Verão e Collor.
Explique a importância da abertura comercial para a estabilidade de preços no Plano
Real.
Diferencie a política social democrata da política neoliberal, ambas voltadas para o
pleno emprego.
Descreva o Plano Real e suas principais medidas de acordo com os presidentes: FHC,
Lula e Dilma Rousseff.
Descreva o Sistema Financeiro Nacional e as instituições do subsistema normativo e
do subsistema operativo.
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Referências
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Anotações
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