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UNOPAR
Economia do
setor público

Economia do setor público


Regina Lúcia Sanches Malassise
Wilson Salvalagio

ISBN 978-85-8143-632-6

C M Y K CL ML LB LLB
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Economia do
setor público
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Avaliação
Economia edo
ação
setor docente
público

Sandra Regina
Regina Lúcia dos Reis
Sanches Rampazzo
Malassise
Marlizete Cristina Bonafini Steinle
Wilson Salvalagio
Edilaine Vagula
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Diagramação: Casa de Ideias

Dados Internacionais de Catalogação na Públicação (CIP)


(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Malassisse, Regina
Economia do setor público / Regina Malassisse, Wilson Salvalagio. —
São Paulo : Pearson Education do Brasil, 2013.

Bibliografia
ISBN 978-85-8143-632-6

1. Administração pública 2. Economia – Brasil 3. Macroeconomia


4. Política econômica 5. Relações econômicas internacionais
I. Salvalagio, Wilson. II. Título.

13-01649 CDD-330

Índices para catálogo sistemático:


1. Economia do setor público 330

2013
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Sumário

Unidade 1 — Iniciação à economia................................1


Seção 1 Conceito de economia.........................................................2
1.1 Os fatores de produção e as necessidades humanas ................................. 2
1.2 Objetivo da economia............................................................................... 3
Seção 2 O funcionamento da economia de mercado........................4
2.1 Os problemas econômicos fundamentais e a questão da escassez............. 4
2.2 Sistemas econômicos................................................................................. 4
2.3 Bens e serviços econômicos...................................................................... 5
2.4 Os fluxos reais e monetários e o fluxo circular de renda............................ 6
2.5 Divisão da economia................................................................................. 6

Unidade 2 — Elementos básicos de macroeconomia....15


Seção 1 Macroeconomia: conceitos básicos...................................16
1.1 Crescimento da produção e do emprego................................................. 16
1.2 Controle da inflação................................................................................ 23
1.3 Distribuição de renda.............................................................................. 23
1.4 Os conflitos entre os objetivos................................................................. 23
1.5 Instrumentos de política ecônomica........................................................ 24
1.5.1 Política fiscal........................................................................................ 24
Seção 2 Entendendo os indicadores econômicos............................76
2.1 Índices de inflação.................................................................................. 76
2.2 PIB (produto interno bruto)...................................................................... 77
2.3 Taxa de desemprego................................................................................ 77
2.4 Renda per capita..................................................................................... 77
2.5 Balanço de pagamentos........................................................................... 77
2.6 Balança comercial................................................................................... 78
2.7 Dívida externa......................................................................................... 78
2.8 Carga tributária........................................................................................ 78
2.9 Dívida interna pública............................................................................. 78
2.10 Base monetária/meios de pagamentos................................................... 78
2.11 Taxa de juros.......................................................................................... 79
2.12 Reservas cambiais.................................................................................. 79
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vi  E C O N O M I A d O S E T O R P ú b l ico

Unidade 3 — Noções de economia internacional e


sistema financeiro................................... 85
Seção 1 Elementos básicos da economia internacional...................86
1.1 A interdependência, evolução da moeda e Sistema Monetário
Internacional.......................................................................................... 86
Seção 2 Divisões do estudo da economia internacional..................98
2.1 As teorias do comércio internacional....................................................... 98
2.2 A política de comércio internacional..................................................... 102
2.3 O balanço de pagamentos e o mercado de câmbio............................... 104
2.4 Transformações econômicas recentes da economia internacional.......... 106
2.5 A formação de blocos econômicos........................................................ 108
2.6 As múltiplas faces da globalização........................................................ 111

Unidade 4 — Transformações recentes da economia


brasileira............................................... 115
Seção 1 Breve retrospectiva da economia brasileira .....................116
Seção 2 O Brasil na atualidade.....................................................118

Unidade 5 — Economia brasileira e Sistema Financeiro


Nacional...............................................133
Seção 1 Economia brasileira dos primeiros anos à
década de 1980...............................................................135
1.1 A economia agroexportadora................................................................. 135
1.2 Da substituição de importações à primeira metade dos anos 1980........ 137
1.3 O combate à inflação e os planos econômicos...................................... 143
Seção 2 O Brasil nos anos de 1990...............................................146
2.1 As diferentes visões sobre o papel do Estado na economia.................... 146
2.2 O Plano Real......................................................................................... 151
2.3 O segundo mandato FHC: de 1999-2002.............................................. 165
2.4 O Plano Real sob o governo Lula: de 2003 a 2010 ............................... 166
2.5 pac — Programa de Aceleração do Crescimento.................................. 167
2.6 Alguns resultados do governo Lula......................................................... 169
2.7 O Plano Real sob o governo Dilma Roussef .......................................... 169
Seção 3 O Sistema Financeiro Nacional........................................171
3.1 Conceito, evolução e atualidade de SFN............................................... 171

Referências................................................................ 179
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Carta ao aluno

O crescimento e a convergência do potencial das tecnologias da informação e da co‑


municação fazem com que a educação a distância, sem dúvida, contribua para a expansão
do ensino superior no Brasil, além de favorecer a transformação dos métodos tradicionais
de ensino em uma inovadora proposta pedagógica.
Foram exatamente essas características que possibilitaram à Unopar ser o que é hoje:
uma referência nacional em ensino superior. Além de oferecer cursos nas áreas de humanas,
exatas e da saúde em três campi localizados no Paraná, é uma das maiores universidades
de educação a distância do país, com mais de 450 polos e um sistema de ensino diferen‑
ciado que engloba aulas ao vivo via satélite, Internet, ambiente Web e, agora, livros‑texto
como este.
Elaborados com base na ideia de que os alunos precisam de instrumentos didáticos que os
apoiem — embora a educação a distância tenha entre seus pilares o autodesenvolvimento —,
os livros‑texto da Unopar têm como objetivo permitir que os estudantes ampliem seu conheci‑
mento teórico, ao mesmo tempo em que aprendem a partir de suas experiências, desenvolvendo
a capacidade de analisar o mundo a seu redor.
Para tanto, além de possuírem um alto grau de dialogicidade — caracterizado por um
texto claro e apoiado por elementos como “Saiba mais”, “Links” e “Para saber mais” —,
esses livros contam com a seção “Aprofundando o conhecimento”, que proporciona acesso
a materiais de jornais e revistas, artigos e textos de outros autores.
E, como não deve haver limites para o aprendizado, os alunos que quiserem ampliar
seus estudos poderão encontrar na íntegra, na Biblioteca Digital, acessando a Biblioteca
Virtual Universitária disponibilizada pela instituição, a grande maioria dos livros indicada
na seção “Aprofundando o conhecimento”.
Essa biblioteca, que funciona 24 horas por dia durante os sete dias da semana, conta
com mais de 2.500 títulos em português, das mais diversas áreas do conhecimento, e pode
ser acessada de qualquer computador conectado à Internet.
Somados à experiência dos professores e coordenadores pedagógicos da Unopar, esses
recursos são uma parte do esforço da instituição para realmente fazer diferença na vida e
na carreira de seus estudantes e também — por que não? — para contribuir com o futuro
de nosso país.
Bom estudo!
Pró‑reitoria
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Apresentação

Caro aluno do curso de gestão pública,


Entender economia, os mercados e mais precisamente o papel do Governo na economia
é um dos principais objetivos desta obra. Para isso, estruturamos o livro em cinco unidades,
dispostas de maneira a facilitar seu processo de aprendizado.
Na Unidade 1, você vai encontrar noções introdutórias de economia. Poderá entender
como a economia funciona, quais as suas preocupações e como está organizada.
Na Unidade 2, você será direcionado para o estudo da macroeconomia. Nela você vai
aprender que um dos grandes agentes da economia é o governo, pois as políticas macroeco‑
nômicas que ele adota têm a capacidade de interferir nos rumos da economia. Você verá que
as políticas tanto podem levar a economia ao crescimento econômico quanto às recessões.
Na Unidade 3, vamos estudar a economia e o sistema financeiro internacional. Aqui
você perceberá a economia e verá que as preocupações dos governos em controlar o sistema
financeiro são antigas e datam da época do padrão ouro. A partir do momento em que o
dinheiro e os processos de globalização avançam, fica cada vez mais difícil controlar as
economias e as crises econômicas, exigindo dos governos maiores esforços para controlar
a economia doméstica.
Na Unidade 4, estudaremos a economia brasileira. Neste momento, faremos um breve
retrospecto dos problemas e das formas de enfrentamento deste na economia brasileira nos
anos anteriores ao Plano Real. Depois vamos estudar a economia brasileira na atualidade,
cujo foco serão os estudos sobre o Plano Real.
Na Unidade 5, vamos dar continuidade aos estudos sobre economia brasileira e pro‑
curar entender a atuação do governo em especial na estruturação do Sistema Financeiro
Nacional. Hoje, a economia brasileira tem um organizado e avançado sistema financeiro
que nos permitiu passar sem grandes constrangimentos pela crise financeira mundial ini‑
ciada em 2007. Este feito foi possível devido à atuação do governo brasileiro em diversas
frentes da política econômica.
Como você pode perceber, este livro aborda questões fundamentais de economia e
destaca o papel do Setor Público em várias frentes da organização econômica. Ele está
presente algumas vezes definindo e outras apenas direcionando a economia para atingir os
objetivos almejados por sua política.
Espero que você contemple este momento com muita inspiração e curiosidade sobre
a economia do Setor Público, pois assim, além de útil seu estudo será prazeroso. Desde já
desejo a você bons estudos e sucesso em sua vida profissional.

Profa. Regina Malassise


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Unidade 1
Iniciação
à economia
Wilson Salvalagio

Objetivos de aprendizagem: Nesta unidade você terá um primeiro


contato com o estudo da economia e será levado a conhecer o
objetivo da economia e como ela se desenvolve.

Seção 1: Conceito de economia


Nesta seção abordaremos as noções conceituais de
economia e discutiremos os itens necessidades hu-
manas e fatores de produção. Finalizaremos com o
estudo dos objetivos da economia.

Seção 2: O funcionamento da economia de


mercado
Nesta seção será abordada a forma como os econo-
mistas descrevem a atividade econômica. Discutire-
mos os problemas econômicos, sistemas econômi-
cos, fluxo circular da renda e divisão do estudo da
economia.
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2  E C O N O M I A d O S E T O R P ú b l ico

Introdução ao estudo
Para que o administrador possa tomar as decisões nas empresas em que trabalha é essencial
que ele saiba a lógica econômica. Independentemente do tamanho da empresa, é necessário
conhecer a evolução da economia, sua conjuntura, suas perspectivas futuras e principalmente
seu estágio atual.
Para entendermos a importância da economia na vida das pessoas é essencial compreen‑
dermos que o estudo da economia tem por objetivo formular propostas a fim de resolver ou
minimizar os problemas econômicos, correspondendo, assim, às expectativas e promovendo o
bem-estar de cada um. Dessa forma, podemos conceituar a economia como uma ciência social
que estuda de que forma a sociedade decide empregar os recursos produtivos escassos, ou
seja, os fatores de produção terra, trabalho e capital, a fim de melhor atender às necessidades
da coletividade (VASCONCELLOS; GARCIA, 2006).
Nesta unidade, conheceremos os conceitos básicos da economia, seus objetivos, os pro‑
blemas econômicos fundamentais e o uso dos fatores de produção como elementos essenciais
para o funcionamento do processo econômico. O conhecimento obtido com o estudo desta
unidade permitirá ao aluno compreender o processo econômico desde seus objetivos básicos,
que desencadeará na formação de conceitos econômicos que contribuirão para o entendimento
dos outros aspectos da economia, que serão vistos nas demais unidades.

  Seção 1  Conceito de economia


A palavra economia deriva do grego oikonomía, originada de óikos, que significa casa,
e nómos, que significa lei, tendo, portanto, a significação de administração de uma casa, ou
do Estado. Podemos, então, definir a economia como uma ciência social que estuda como o
indivíduo e a sociedade decidem empregar os recursos produtivos escassos na produção de
bens e serviços, de forma que eles possam ser distribuídos na sociedade, com o objetivo de
satisfazer as necessidades humanas (VASCONCELLOS; GARCIA, 2006).

1.1 Os fatores de produção e as necessidades humanas


Os recursos produtivos ou fatores de produção — terra, capital e trabalho — são limitados.
Em contrapartida, as necessidades humanas são ilimitadas e se renovam constantemente, seja
devido ao próprio crescimento populacional, ao desejo
de elevação do padrão de vida que as pessoas têm e até
Para saber mais mesmo em função do meio em que se vive. Indepen‑
dente do nível de desenvolvimento do país, nenhum
Necessidades humanas — Desejo de dispõe de todos os recursos necessários para satisfazer
todas as necessidades da coletividade.
compra de bens e serviços, que po-
Dessa forma, temos então um problema de escas‑
dem surgir em função das necessida- sez, ou seja, de um lado os recursos que são limitados
des próprias de subsistência de cada e de outro as necessidades humanas que são ilimitadas.
Por conta da escassez de recursos, toda sociedade
um; em função do meio em que se
tem de escolher entre alternativas de produção e de
vive; ou em função de aspectos psico- distribuição dos resultados da atividade produtiva entre
lógicos que induzem ao surgimento os vários grupos da sociedade. Assim, a questão central
do estudo da economia é como alocar recursos produ‑
de necessidades nas pessoas.
tivos limitados para satisfazer todas as necessidades da
população (VASCONCELLOS; GARCIA, 2006).
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Iniciação à economia  3

1.2 Objetivo da economia


Por meio da adequada combinação dos fatores de produção, a economia buscará dar
respostas às dificuldades encontradas. Assim, a economia tem por objetivo formular propostas
a fim de resolver ou minimizar os problemas econômicos. Atender às necessidades humanas,
que são ilimitadas, promovendo o bem-estar de cada um.
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4 ECONOMIA dO SETOR PúblICO

Seção 2 O funcionamento da economia de


mercado

2.1 Os problemas econômicos fundamentais e a


questão da escassez
Considerando a escassez dos fatores de produção, relacionando‑a às necessidades ilimi‑
tadas das pessoas, temos o que se pode chamar de “problemas econômicos fundamentais”,
que são: o que e quanto produzir? Como produzir? Para quem produzir? Vejamos o significado
de cada um dos problemas:
O que e quanto produzir? Considerando a escassez dos recursos de produção, terá de se
escolher, dentre as possibilidades de produção, quais produtos deverão ser produzidos
e em que quantidade.
Como produzir? Levando‑se em conta o nível tecnológico existente na economia, haverá
de se escolher quais recursos de produção deverão ser utilizados para a produção dos
bens e serviços que irão atender às carências da sociedade. A escolha tenderá a recair
sobre os métodos mais eficientes, prevalecendo o que tiver o menor custo de produção
e aquele que atenda mais eficazmente às demandas ambientais.
Para quem produzir? A sociedade decidirá, também, como seus membros participarão da
distribuição dos resultados de sua produção. Os produtos serão consumidos por quem
tenha renda para participar do mercado de bens. Através da renda de cada um, será
atribuída sua capacidade de participar dos resultados da produção (VASCONCELLOS;
GARCIA, 2006).

2.2 Sistemas econômicos


A maneira como as sociedades econômicas resolvem os problemas econômicos fundamentais
depende da forma da organização econômica do país, ou seja, do sistema econômico de cada nação.
Um sistema econômico pode ser definido como a forma política, social e econômica pela
qual está organizada uma sociedade.
Os sistemas econômicos podem ser classificados em sistema capitalista ou economia de
mercado e sistema socialista ou economia planificada, ou ainda economia centralizada.
O sistema capitalista é regido pelas forças de mercado, predominando a livre iniciativa e
a propriedade privada dos fatores de produção e dos bens (VASCONCELLOS; GARCIA, 2006).
Com a evolução da economia, surgiram, no âmbito do sistema capitalista, algumas teorias
econômicas que ditaram a forma de atuação das economias, sobretudo nos países ocidentais.
As principais teorias foram o liberalismo, o neocapitalismo ou keynesianismo e mais recente‑
mente o neoliberalismo. Vejamos os pontos principais de cada uma delas:
O liberalismo prevaleceu até o início do século XX. Esta teoria defendia o sistema de
concorrência pura, em que não havia a intervenção do Estado na atividade econômica.
Entendiam, os defensores do liberalismo, que o mercado deve se resolver por si só, e
que ele tem a capacidade de ajustar a economia toda vez que ela apresenta distorções.
Assim, o próprio mercado, por sua atuação, se encarregaria de corrigir as distorções,
voltando à sua normalidade.
Por volta de 1930, após a grande depressão econômica mundial, Keynes lançou sua teoria,
que veio a ser chamada neocapitalismo, também conhecida por keynesianismo. Em sua
teoria, Keynes defende que o mercado não consegue, sozinho, resolver todos os pro‑
blemas econômicos e que se faz necessário a intervenção do Estado na economia, a
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Iniciação à economia 5

fim de atender aos pontos de estrangulamento.


Segundo Keynes, havia atividades em que a
iniciativa privada não atuava, por não lhe ser Para saber mais
vantajosas. Sendo assim, surgiriam “gargalos”
na economia, que exigiriam a participação do Sistema capitalista representa a eco-
Estado para a sua solução. Apesar de defender nomia aberta e sistema socialista re-
a participação do governo na atividade eco‑
nômica, a teoria de Keynes não defendia o presenta a economia fechada, sem
controle total pelo Estado e mantinha‑se a favor abertura para o mercado.
do respeito à propriedade privada. O Estado
somente deveria atuar onde a iniciativa privada
não tinha interesse em participar.
Mais recentemente, por volta do fim dos anos 1980 e início dos anos 1990, surgiu uma
nova onda de afastamento do Estado da economia. Conforme as decisões impostas pelo
que foi chamado Consenso de Washington e em virtude do processo de globalização,
percebeu‑se uma desenfreada corrida, sobretudo dos países subdesenvolvidos, em livrar‑
‑se das empresas estatais, promovendo uma verdadeira avalanche de privatizações. Esta
nova condição significou a volta do liberalismo econômico, com a valorização do mer‑
cado e o afastamento do Estado da economia, agora denominado neoliberalismo. Assim,
estamos passando por um novo movimento econômico em defesa da concorrência pura,
porém adaptada aos novos tempos, depois de um longo período de predominância do
neocapitalismo.
O sistema socialista resolve as questões econômicas fundamentais por meio de um órgão
central de planejamento, predominando a propriedade pública dos fatores de produção,
chamados, nessas economias, meios de produção. Percebe‑se que na economia planificada
não há direito à propriedade privada, porém pertencem aos indivíduos pequenas atividades
artesanais, assim como os meios de sobrevivência, como roupas, automóveis, móveis, mas,
ainda assim, com preços fixados pelo governo. Existe, também, liberdade para escolha de
profissão, ou seja, há mobilidade de mão de obra. Mais uma vez, o governo se resguarda
ao direito de interferir, caso entenda que há distorções na quantidade de profissionais em
cada profissão específica.

2.3 Bens e serviços econômicos


Independentemente do sistema econômico vigente em um país, portanto indiferente a quem
pertençam os fatores de produção, é necessária a sua correta combinação para que sejam gerados
os bens e serviços que irão atender às necessidades humanas.
Segundo Cobos (apud GASTALDI, 2000, p. 90), “bens econômicos são todos aqueles meios
úteis para a satisfação das necessidades humanas, que se encontram em quantidades escassas
e podem ser transmitidos”.
E serviços — bens imateriais — conforme Gastaldi (2000), são aquelas atividades que, sem
criar objetos materiais, se destinam direta ou indiretamente a satisfazer necessidades humanas.

2.3.1 Tipos de bens econômicos


Os bens econômicos podem ser classificados como bens de consumo — duráveis e não
duráveis —, bens de capital e bens intermediários.
Os bens de consumo destinam‑se diretamente ao atendimento das necessidades humanas.
Podem ser classificados conforme sua durabilidade. Os bens com vida útil mais prolongada são
denominados bens duráveis (por exemplo, móveis, eletrodomésticos, automóveis) e os bens
com vida útil curta, que se consomem mais rapidamente são chamados bens não duráveis (por
exemplo, alimentos, produtos de higiene, roupas).
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6  E C O N O M I A d O S E T O R P ú b l ico

Os bens de capital são utilizados na fabricação


de outros bens, mas não se desgastam totalmente no
Para saber mais processo produtivo. É o caso de máquinas, equipa‑
mentos e instalações. São usualmente classificados
Consenso de Washington — Conjunto no ativo fixo das empresas.
de medidas exigidas pelo FMI (Fundo Os bens intermediários são transformados ou agre‑
gados na produção de outros bens e são consumidos
Monetário Internacional) e pelo Banco totalmente no processo produtivo. São os insumos,
Mundial para prestar socorro finan- matérias-primas e componentes. Diferenciam-se dos
ceiro aos países em dificuldades. Tem bens finais que são vendidos para consumo ou utili‑
zação final. Bens de capital e bens de consumo são
esse nome pois foi definido nas sedes bens finais e não intermediários (VASCONCELLOS;
do FMI e Banco Mundial, que se si- GARCIA, 2006).
tuam em Washington.

2.4 O
 s fluxos reais e monetários e o fluxo
circular de renda
O fluxo real da economia nos mostra que com a combinação dos fatores de produção
produz-se os bens e serviços que serão colocados no mercado à disposição das famílias, que
os demandarão, a fim de satisfazer suas necessidades.
O fluxo real da economia só é possível com a presença da moeda, que é utilizada para
remunerar os fatores de produção e para o pagamento dos bens e serviços. Assim, paralela‑
mente ao fluxo real temos um fluxo monetário da economia.
A união dos fluxos real e monetário da economia nos mostra o que chamamos fluxo cir‑
cular de renda (VASCONCELLOS; GARCIA, 2006).

2.5 Divisão da economia


O estudo da economia se divide em dois ramos
básicos: a microeconomia e a macroeconomia.
Para saber mais A microeconomia estuda o comportamento das
unidades econômicas, tais como os consumidores, as
O fluxo real da economia refere-se indústrias e empresas e suas inter-relações. Estuda o
funcionamento da oferta e da demanda na formação
à atividade da produção dos bens.
do preço no mercado.
O fluxo monetário representa a cir- A macroeconomia estuda o funcionamento da eco‑
culação do dinheiro usado na remu- nomia como um todo, analisando a determinação e o
comportamento de grandes agregados, como: renda
neração dos fatores de produção
e produto nacional, nível geral de preços, emprego e
utilizados na produção dos bens. desemprego, estoque de moeda e taxa de juros, balança
de pagamentos e taxa de câmbio.
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Iniciação à economia 7

Aprofundando o conhecimento
Para mais informações sobre o assunto, sugerimos a leitura do texto a seguir, extraído
de O’Sullivan, Sheffrin e Nishijima (2004, p. 2‑8).

O que é economia?
Economia é o estudo das escolhas feitas por pessoas quando existe escassez, ou seja, quando
existem limites ao que os indivíduos podem obter. A escassez é uma situação na qual os recursos —
tudo aquilo que usamos para produzir bens e serviços — são limitados em quantidade, mas podem ser
usados de diferentes maneiras. Devido à limitação de recursos, torna-se necessário sacrificar a obtenção
de um bem ou de um serviço pela obtenção de outro. A seguir estão alguns exemplos de escassez:
Seu tempo, como o de todas as pessoas da vida moderna, é limitado. Se você joga videogame
durante uma hora, passa a ter uma hora a menos para as demais atividades, tais como
estudar, fazer ginástica ou trabalhar.
Uma cidade tem uma quantidade limitada de terrenos. Se for usado um alqueire de terra
para construir um parque, haverá um alqueire a menos para a construção de apartamentos,
escritórios ou fábricas.
Uma nação tem um número limitado de pessoas; assim, se um exército abrigar um grande
contingente de soldados, haverá menos pessoas para trabalhar como professores, cien-
tistas e policiais.

Em virtude da escassez, escolhas devem ser feitas. Por exemplo: você deve decidir como vai
gastar seu tempo; a cidade deve decidir como vai usar seus terrenos; e nós, como nação, precisamos
decidir de que maneira dividiremos nossa população entre as funções de ensino, de ciência, de
cumprimento da lei, militar etc.
As decisões de escolha são tomadas em todos os níveis da sociedade: os indivíduos decidem
quais produtos vão comprar, que ocupação vão seguir e quanto dinheiro vão economizar; as em-
presas decidem quais produtos vão produzir e de que maneira; já os governos decidem quais pro-
jetos e programas serão implantados e como os financiarão. As escolhas feitas por indivíduos,
empresas e governos sobre a produção de bens respondem a três perguntas econômicas básicas:
1. Quais bens devem ser produzidos? Não é possível produzir dois bens distintos quando
existem recursos produtivos para apenas um. Por exemplo: se um hospital dedicar seus
recursos para a realização de mais transplantes de coração, disporá de menos recursos
para o cuidado com bebês prematuros.
2. Como esses bens devem ser produzidos? Existem formas alternativas de produzir os bens
que desejamos. Por exemplo: as empresas de utilidade pública podem produzir eletricidade
com energia solar ou hidroelétrica. Os professores universitários podem ensinar um novo
conceito a seus alunos por meio de extensas palestras ou de aulas curtas e exercícios.
3. Quem consome os bens produzidos? A sociedade como um todo precisa decidir de
que forma seus produtos serão distribuídos para o consumo das pessoas. Se algumas
ganham mais dinheiro que outras, deveriam consumir mais bens? Quanto dinheiro deve
ser transferido dos ricos aos mais pobres?

Recursos — os fatores de produção


Vamos examinar melhor a primeira questão: Quais bens devem ser produzidos? Os recursos usados
para a produção são conhecidos como fatores de produção. De acordo com os economistas,
existem cinco fatores de produção:
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8  E C O N O M I A d O S E T O R P ú b l ico

1. Os recursos naturais — terra arável, depósitos minerais, água, reservas de petróleo e


gás, por exemplo, são fatores de produção criados pela ação da natureza e usados para
produzir bens e serviços. Alguns economistas referem-se a todos os tipos de recursos
naturais simplesmente como terra.
2. O trabalho (ou mão de obra) é o esforço humano — físico e mental — usado para
produzir bens e serviços. Ele é escasso porque cada dia tem apenas 24 horas, e, se gastar-
mos mais nosso tempo numa atividade como o trabalho, por exemplo, teremos menos
tempo para outras atividades, como o lazer.
3. O capital físico é composto de bens capazes de produzir ou auxiliar a produção de outros
bens e serviços. Alguns exemplos de capital físico são: máquinas, edificações, equipamentos,
estradas, lapiseiras, computadores e caminhões.
4. O capital humano consiste no conhecimento e nas habilidades que um trabalhador adquire
por meio da educação e da experiência; o capital humano, assim como o físico, é usado para
produzir bens e serviços, embora de maneira diferente. Toda profissão exige capital humano:
para ser cirurgião é necessário aprender anatomia e dominar as técnicas cirúrgicas; para ser
contador é preciso saber as regras da contabilidade e adquirir habilidades para usar um compu-
tador; para ser motorista de táxi é preciso conhecer as ruas da cidade; para ser músico é neces-
sário tocar bem um instrumento. Aumentar o capital humano é uma das razões que leva uma
pessoa a concluir um curso de graduação, o que amplia as oportunidades de emprego.
5. A capacidade empresarial é o fator de produção que consiste no esforço usado para coordenar
a produção e a venda de bens e serviços. Um empreendedor concebe a ideia de produzir um bem
ou um serviço e decide de que maneira a executará. Assim, esse empreendedor assume riscos,
compromete dinheiro e tempo, sem garantias de lucros, na expectativa de obter sucesso.

Possibilidades de produção
Para decidir o que produzir, uma sociedade deverá determinar previamente as combinações de pro-
dutos possíveis, considerando a disponibilidade de seus recursos produtivos e seu conhecimento
tecnológico (know-how). O gráfico de possibilidades de produção mostra as opções de produção
disponíveis para uma economia, ou seja, as diferentes combinações de quantidades de produtos que
essa economia pode produzir. Um gráfico bidimensional pode ilustrar adequadamente as opções de
produção usando duas categorias gerais de bens, como bens agrícolas e industriais ou bens de capital
e de consumo. Esse gráfico também pode mostrar as opções de produção para qualquer par de bens
específicos, como armas e manteiga, aviões e soja ou automóveis e alimentos.

Figura 1.1  Escassez e a curva de possibilidades de produção

b
700
c
650
Toneladas de bens industriais

d
400
i e
300

120 f

10 20 50 60 70
Toneladas de bens agrícolas por ano

A curva de possibilidades de produção (ou fronteira) ilustra a noção de escassez. Assim, um


aumento dos bens agrícolas só pode ser obtido à custa da redução dos bens industriais, dada a
quantidade fixa de recursos produtivos. A forma de barriga dessa curva indica que os recursos
não são perfeitamente adaptáveis à produção dos dois bens.
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Iniciação à economia  9

A Figura 1.1 apresenta um gráfico com a curva de possibilidades de produção para uma eco-
nomia que produz bens agrícolas e industriais. As combinações possíveis ou factíveis desses dois
tipos de bens são mostradas nos pontos da curva e na área sob a curva (região sombreada). Por
exemplo, uma opção é o ponto b, com 700 toneladas de bens industriais e 10 toneladas de
bens agrícolas. Outra opção é o ponto i, com 300 toneladas de bens industriais e 20 toneladas
de bens agrícolas. O conjunto de pontos que compõem a curva também é denominado fronteira
de possibilidades de produção, porque separa as combinações possíveis (todos os pontos da área
sombreada abaixo da curva e a própria curva) das combinações não disponíveis para tal economia
(área não sombreada fora da curva).
Qual é a diferença entre os pontos abaixo da curva e os pontos da curva? Para qualquer ponto
abaixo da curva é possível encontrar um ponto da curva que gere uma quantidade maior de pelo
menos um dos dois bens. Por exemplo: no ponto i a economia pode produzir 300 toneladas de
bens industriais e 20 toneladas de bens agrícolas. Mas sabemos, do ponto d, que a economia po-
deria pro­duzir mais de ambos os produtos: 400 toneladas de bens industriais e 50 toneladas de
bens agrícolas. A produção no ponto i é claramente inferior à produção no ponto d. Uma economia
que produz num ponto abaixo da curva de possibilidades de produção sempre pode aumentar sua
produção e melhorar sua condição.
Uma economia poderia operar em um ponto abaixo da curva por dois motivos distintos. Primeiro,
seus recursos disponíveis não estão plenamente empregados. Por exemplo, alguns trabalhadores
poderiam estar desempregados por não aceitarem salários baixos, ou algumas máquinas, destinadas
à produção, poderiam ficar inativas por falta de compradores dos bens que ela produz. O segundo
motivo seria que os recursos da economia poderiam estar sendo usados de modo ineficiente. Os
bens podem ser produzidos por meio de diferentes combinações de insumos (fatores de produção),
mas algumas combinações podem gerar maior quantidade de bens do que outras. Caso as empre-
sas não escolham a combinação mais produtiva (mais eficiente) de insumos, a economia não obterá
a maior produção possível.
Entretanto, quando uma economia opera num ponto da curva de possibilidades de produção,
torna-se impossível aumentar a produção de um dos bens sem o sacrifício da produção do outro
bem. Em todos os pontos da curva, os recursos produtivos da sociedade são plenamente emprega-
dos e estão sendo utilizados de maneira eficiente.
A curva de possibilidades de produção também ilustra a noção de escassez. Em dado momento,
uma economia que opera de maneira eficiente e utiliza todos os seus recursos produtivos possui uma
quantidade fixa de cada um deles. Isso significa que ela pode produzir mais de um produto apenas se
produzir menos de outro. Para produzir mais bens agrícolas é necessário utilizar os recursos usados
nas fábricas. À medida que esses recursos de produção migrarem para fora das fábricas, a quantidade
de bens industriais diminuirá. Por exemplo: se movermos do ponto b para o ponto c na curva de
possibilidades de produção, na Figura 1.1, será necessário sacrificar 50 toneladas de bens industriais
(700 toneladas – 650 toneladas) para obter 10 toneladas a mais de bens agrícolas (20 toneladas – 10
toneladas).
Que tipo de mudanças deslocaria a curva de possibilidades de produção? Como essa curva
mostra as opções de máxima produção disponível, usando eficientemente todos os recursos produ-
tivos da economia em determinado momento do tempo, então um aumento nos recursos dessa
economia deslocará toda a curva para fora.
Caso uma economia adquira mais recursos produtivos — recursos naturais, mão de obra, capital
físico, capital humano ou capacidade empreendedora —, poderá produzir mais de ambos os produtos.
Como resultado, a curva de possibilidades de produção se deslocará para fora, como mostra a Figura
1.2. Assim, se a economia estivesse inicialmente operando no ponto d e seus recursos aumentassem,
então a produção de bens industriais (ponto g), ou de bens agrícolas (ponto h), ou de ambos (todos os
pontos entre g e h) poderia aumentar. A curva também se deslocará para fora se forem feitas inovações
tecnológicas que permitam aumentar a produção a partir da mesma quantidade de recursos.
A curva de possibilidades de produção também pode se deslocar para dentro. Su­ponha que uma
enchente destrua fábricas e rodovias. Nesse caso, a economia ficará com menos re­cursos disponíveis
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para produção e por isso a curva de possibilidades de produção se deslocará para dentro. Isso significa
que essa economia produzirá menos bens industriais, menos bens agrícolas ou menos de ambos. Do
mesmo modo, como exemplo, as guerras do Iraque e a dos israelenses e palestinos — que causam a
destruição generalizada de estradas, fábricas, pontes, usinas geradoras de eletricidade e habitações —
deslocam o limite das possibilidades de produção daquelas economias para dentro.

Mercados e a mão invisível


Nesta seção, examinaremos de que maneira uma economia baseada no mercado responde às três
perguntas básicas. Um mercado é um arranjo que permite aos compradores e aos vendedores
trocarem coisas. De acordo com Adam Smith: “O homem é o único animal que realiza intercâmbio;
um cachorro não troca ossos com outro cachorro”.
Usamos mercados para fazer nossos intercâmbios, trocando o que possuímos pelo que de-
sejamos. Se cada pessoa fosse autossuficiente, produzindo tudo o que consome, não haveria
necessidade de mercados. Eles existem porque não somos autossuficientes — consumimos mui-
tos bens produzidos por outras pessoas. Para obter dinheiro para pagar por esses bens, cada um
de nós produz algo para vender — algumas pessoas cultivam alimentos; outras produzem bens
como roupas e bicicletas; e ainda outras produzem serviços como assistência médica ou aconse-
lhamento jurídico. Uma vez que cada pessoa é especializada na produção de somente um ou dois
bens, os mercados são necessários para possibilitar trocas entre os indivíduos.
Um exemplo é o mercado de trabalho, que permite aos trabalhadores e empresas trocarem tempo
e dinheiro. Uma empresa de software tem dinheiro e quer que os trabalhadores elaborem pro­gramas,
enquanto estes têm tempo e querem renda para sustentar a família. Da mesma maneira, o mercado
automobilístico permite aos consumidores e produtores trocarem automóveis e dinheiro. Um con­sumidor
tem dinheiro e quer um automóvel, enquanto um produtor tem um automóvel e quer dinheiro. Ao pro­
piciarem oportunidades de negociação de bens e serviços, os mercados possibilitam que a sociedade
responda às três perguntas econômicas básicas — o que produzir, como produzir e para quem produzir.
Os mercados determinam os preços dos bens e serviços, e esses preços orientam as decisões
sobre o que e quanto deverá ser comprado e vendido. Considere que um furacão na Flórida tenha
destruído uma usina de fornecimento de energia elétrica, impedindo o funcionamento das geladei-
ras, e que as pessoas precisem utilizar gelo para preservar alimentos. O aumento repentino na de-
manda de gelo causará um aumento de seu preço, o que fará os consumidores usarem-no com
moderação, substituindo os alimentos resfriados e congelados por aqueles que não exijam refri­
geração. Simultaneamente, o preço mais alto do gelo incentivará as empresas a ampliarem seus
lucros, produzindo mais gelo e atendendo à demanda maior. Por ambas as vias do mercado, o preço
mais alto ajudará o governo local a lidar com a falta de energia causada pelo furacão.
As decisões tomadas nos mercados são resultados da interação das ações de milhões de pessoas,
cada uma agindo conforme seu próprio interesse. Adam Smith usou a metáfora da mão invisível
para explicar por que as pessoas que atuam de acordo com seu próprio interesse podem, na reali-
dade, promover o interesse coletivo.
Não é da benevolência do açougueiro, do padeiro, do cervejeiro que
esperamos obter nosso jantar, mas da consideração aos seus próprios
interesses. Não enfocamos o caráter humanitário deles, mas seu amor-
-próprio, e nunca falamos a eles das nossas próprias necessidades, mas
das vantagens deles. [O homem] é guiado por uma mão invisível para
promover um fim que não era intenção dele... Ao perseguir seus próprios
interesses, ele promove com frequência o interesse da sociedade mais
efetivamente do que quando pretende promovê-lo de verdade.
SMITH, Adam. A riqueza das nações. Nova York, Modern Library, 1994.

Observe que Adam Smith diz ‘com frequência’ e não ‘sempre’, de modo que o autor reconhece
que os indivíduos, ao perseguirem seus próprios interesses, não promoverão necessariamente o in-
teresse social. Nesses casos, pode ser sensato para um governo direcionar as decisões das pessoas,
de modo a promover o interesse social.
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I n i c i a ç ã o à e c o n o m i a   11

Nas economias modernas, a maioria das decisões sobre quanto produzir, como produzir e para
quem produzir é tomada nos mercados. Contudo, nenhuma economia depende exclusivamente
dos mercados para tomar tais decisões. Posteriormente, examinaremos de que maneira o governo
regula os mercados, oferece bens e serviços, impõe impostos para financiar os bens e serviços que
oferece, além de redistribuir renda.

A maneira econômica de pensar


De que maneira os economistas pensam os problemas e as tomadas de decisões? Tal forma de
pensar pode ser sintetizada pelo economista John Maynard Keynes: “A Teoria Econômica não fornece
um corpo de conclusões estabelecidas, imediatamente aplicáveis em política econômica. Trata-se
de um método, não de uma doutrina, um aparato da mente, uma técnica de pensar que ajuda
aquele que a domina a traçar conclusões acertadas”.
A análise econômica envolve com frequência variáveis e suas inter-relações. Uma variável é
uma medida de algo que pode ter valores diferentes. Este livro contém muitas afirmações sobre a
relação entre duas variáveis; por exemplo, o número de bifes que uma pessoa come num mês de­
pende do preço destes e da renda da pessoa. Suponha que seja dito: ‘Uma re­dução no preço do
bife aumenta sua quantidade consumida’. Esta é uma afirmação sobre a relação entre duas variáveis:
o preço e a quantidade de bife, quando se supõe implicitamente que a relação entre as outras duas
variáveis — o preço do frango e a renda da pessoa — não foi alterada com o mesmo valor. Uma
maneira mais precisa de dizer isso seria: ‘Uma redução no preço do bife aumenta sua quan­tidade
consumida, ceteris paribus’. As palavras em latim significam ‘tudo o mais mantido constante’ ou
‘mantendo-se as outras variáveis fixas’. A partir de agora, sempre que nos referirmos a uma relação
entre duas variáveis, vamos supor que as outras variáveis relevantes não se alteram.

Microeconomia e macroeconomia
Existem dois tipos de análise econômica: microeconomia e macroeconomia. A microeconomia é
o estudo das escolhas feitas por famílias, empresas e governos e de que forma essas escolhas afetam
os mercados de bens e serviços. Examinaremos três maneiras de usar a análise microeconômica:
1. Entender os mercados e prever possíveis mudanças. Uma das razões para estudar
microeconomia é conhecer o funcionamento dos mercados, para que tal conhecimento
possibilite o uso da análise econômica na previsão de variações de preços de um determi-
nado bem ou va­riações de suas vendas.
2. Tomar decisões gerenciais e pessoais. Usamos a análise microeconômica, na vida
pessoal, para decidir de que maneira gastar nosso tempo, qual carreira seguir e como
gastar ou economizar o dinheiro que recebemos. Como profissionais, usamos a análise
econômica para decidir como produzir bens e serviços, além de decidir suas quantidades
produzidas e preços cobrados.
3. Avaliar as políticas públicas. Apesar das sociedades modernas usarem os mercados
na tomada de grande parte das decisões sobre produção e consumo, o governo possui
um papel muito importante nessas sociedades. Pode-se usar a análise microeconômica
para avaliar o desempenho do governo sobre a economia de mercado. Pode-se também
explorar os ganhos e perdas (trade-offs) associados às várias políticas públicas.

Macroeconomia é o estudo da economia do país como um todo. Em macroeconomia, apren-


demos sobre assuntos importantes discutidos regularmente nos jornais e na televisão, como o de-
semprego, a inflação, os déficits orçamentário e comercial. A macroeconomia explica por que as
economias crescem e se desenvolvem e por que o crescimento econômico muitas vezes é interrom-
pido. Examinaremos três maneiras de usar a análise macroeconômica:
1. Entender como uma economia nacional funciona. Um dos objetivos de estudar ma-
croeconomia consiste em entender de que maneira a economia de um país, como um
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12  E C O N O M I A d O S E T O R P ú b l ico

todo, opera. A análise macroeconômica pode ser usada para explicar por que alguns paí­
ses crescem mais rápido que outros.
2. Entender os grandes debates sobre política econômica. A macroeconomia se desen-
volveu como um ramo à parte da economia durante a década de 1930, período em que
ocorreu um enorme desemprego em todo o mundo. Com o conhecimento da macroeco-
nomia, foi possível compreender a lógica dos vários tipos de debates sobre a política
econômica, em especial o debate sobre a eficácia das políticas econômicas destinadas a
reduzir a taxa de desemprego.
3. Melhorar a capacidade de tomada de decisões sobre negócios. Um gerente que entenda
do funcionamento de uma economia nacional será capaz de tomar melhores decisões sobre
taxas de juros, de câmbio, de inflação e de desemprego. Um gerente que pretenda tomar
dinheiro emprestado para uma nova instalação de produção, por exemplo, poderia usar seu
conhecimento de macroeconomia para prever os efeitos das políticas públicas correntes
sobre taxas de juros presentes e futuras e então decidir qual o melhor momento para se
endividar. Do mesmo modo, um gerente deve sempre ficar atento à taxa de inflação para
decidir quanto cobrar pelos bens que produz e quanto pagar aos seus empregados.

Figura 1.2  Deslocando a curva de possibilidades de produção

Nova
Toneladas de bens industrias por ano

Original
g
600

d h
400

50 70
Toneladas de bens agrícolas por ano

A curva de possibilidades de produção se desloca para fora como resultado de um aumento


dos recursos da economia (recursos naturais, mão de obra, capital físico, capital humano e
iniciativas empreendedoras) ou de uma inovação tecnológica que aumenta a produção de uma
dada quantidade de recursos.

Tendo visto quais são as preocupações da economia, estamos preparados para discutir os cinco
princípios-chave. Esses princípios são verdades que se autoevidenciam, e a maioria das pessoas não
reluta em aceitá-los. Além disso, fornecem fundamentos lógicos para o raciocínio econômico e
serão usados, ao longo deste livro, para explicar as ferramentas da análise econômica.
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I n i c i a ç ã o à e c o n o m i a   13

Resumo
Nesta unidade, pudemos ver as definições de economia, conhecemos os fatores de
produção e as necessidades humanas e estudamos os sistemas econômicos.
Observamos que independentemente do agente econômico em ação verifica-se que
a economia é uma ciência social, que se utiliza dos fatores de produção para atender às
necessidades das pessoas. O problema fundamental da economia é que os recursos são
escassos e as necessidades são ilimitadas. Necessidades estas que são atendidas por meio
dos bens econômicos, produzidos pela combinação dos fatores de produção, conforme
o conceito dos fluxos real e monetário da economia.
O estudo da economia se dá por dois ramos básicos que são a microeconomia e a
macroeconomia.
Na próxima unidade, trataremos do estudo da macroeconomia, e poderemos entender
como os governos podem tomar medidas econômicas com o objetivo de proporcionar
o equilíbrio da economia e com isso corresponder ao objetivo básico da economia, que
é proporcionar o bem-estar a cada um dos habitantes do país.

Atividades de aprendizagem
1. Os salários médios mensais no Brasil aumentaram muito entre 1970 e 1993, mas os salários
reais caíram. Por que isso ocorreu?
2. Suponha que seu salário dobre, e os preços de todos os bens de consumo também. Você
ficará em melhores condições de vida, piores ou iguais?
3. Suponha que seu banco pague 12 % ao ano sobre sua conta poupança, então cada R$
100 no banco aumentam para R$ 112 no período de um ano. Se os preços aumentam em
10 % ao ano, quanto você realmente ganha mantendo R$ 100 no banco por um ano?
4. A maneira como as sociedades econômicas resolvem os problemas econômicos fundamen‑
tais depende da forma da organização econômica do país, ou seja, do sistema econômico
de cada nação. Um sistema econômico pode ser definido como a forma política, social e
econômica pela qual está organizada uma sociedade. Classifique os sistemas econômicos
e comente cada um deles.
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Unidade 2
Elementos básicos de
macroeconomia
Wilson Salvalagio

Objetivos de aprendizagem: Nesta unidade você será levado a


entender as medidas econômicas que são implementadas pelos
governos, com o objetivo de promover o controle e equilíbrio da
economia.

Seção 1: Macroeconomia: conceitos básicos


Nesta seção discutiremos os principais conceitos ne-
cessários para o entendimento dos temas da macroe-
conomia. Abordaremos os objetivos e os instrumentos
de política econômica.

Seção 2: Entendendo os indicadores econômicos


Nesta seção serão abordados os indicadores da ati-
vidade econômica, como: PIB, renda e Balanço de
Pagamentos. A partir disso você entenderá melhor o
significado deles.
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16  E C O N O M I A d O S E T O R P ú b l ico

Introdução ao estudo
Como pudemos ver na unidade anterior, o estudo da teoria econômica divide-se em duas
partes: a microeconomia e a macroeconomia. Esta última, que é o objeto de nosso estudo
nesta unidade, analisa os agregados econômicos, buscando estudar o comportamento da renda
nacional, da produção total de bens e serviços do país, bem como a evolução da inflação, os
investimentos totais da economia, as exportações etc. (LANZANA, 2002).
Ao longo do estudo desta unidade, teremos a oportunidade de analisar e compreender as
diversas medidas de política econômica adotadas pelos governantes, e nos permitir entender
o significado de cada ação tomada. Muitas vezes ouvimos ou lemos nos noticiários que o go‑
verno está tomando alguma ação de política fiscal ou monetária. Com este estudo poderemos
compreender o real significado dessas medidas e quais os objetivos.
Cabe a cada governo tomar ações que promovam o desenvolvimento econômico e social,
que possibilitem manter o controle dos preços e a manutenção do equilíbrio das contas exter‑
nas, bem como promover a redução das desigualdades de rendas. Para isso, ele conta com os
instrumentos de política macroeconômica, que lhe permitem adotar as medidas necessárias
para a manutenção da boa ordem econômica.

  Seção 1  Macroeconomia: conceitos básicos


Vários são os objetivos de política econômica, entretanto vamos nos ater a quatro objeti‑
vos fundamentais que englobam as principais necessidades de participação do Estado para o
real atendimento do papel de um governo, que são: crescimento da produção e do emprego,
controle da inflação e melhor distribuição da renda gerada no país.

1.1 Crescimento da produção e do emprego


Conforme Lanzana (2002, p. 16), o crescimento
econômico é a meta mais importante a ser perseguida
Para saber mais pelos formuladores da política econômica. [...] o cres‑
cimento econômico refere-se à expansão da produção
Renda per capita — Média da do país, ou seja, a colocação no mercado de uma
quantia maior de mercadorias e serviços à disposição
renda de um país, ou seja, em dos indivíduos. Quando o crescimento da produção
média quanto cada habitante se dá em nível maior que o aumento da população,
teria de renda. verifica-se o aumento da renda per capita. Levando‑
-se em conta que a renda está ligada diretamente ao
produto, não há como aumentar o nível de renda de
uma sociedade se não aumentar a produção. É fato
que há uma estreita relação entre produção e emprego, portanto, quando se busca atingir o
objetivo de crescimento da produção, automaticamente está se procurando ampliar o nível
de emprego da economia. Na realidade, busca-se atingir o pleno emprego dos fatores de pro‑
dução na economia, gerando bem-estar à sociedade. O crescimento da produção é medida
pelo PIB — Produto Interno Bruto, que representa a soma de tudo o que foi produzido no
país. A medida do PIB em termos percentuais representa a variação da produção do país em
um período relacionado a outro anterior.
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E l e m e n t o s b á s i c o s d e m a c r o e c o n o m i a   17

Aprofundando o conhecimento
Leia a seguir, para aprofundar seus conhecimentos, o texto extraído de Parkin (2003,
p. 225-230).

O crescimento econômico
O PIB real per capita nos Estados Unidos mais que dobrou entre 1960 e 1998. Nesse país,
muitos estudantes vivem em alojamentos dentro de campi. Muitos desses alojamentos foram cons­
truídos durante os anos 60 e equipados com duas tomadas de eletricidade, uma para uma luminá-
ria de escrivaninha e outra para uma luminária ao lado da cama. Hoje, com ajuda de extensões, os
quartos recebem televisão, videocassete, aparelho de CD, micro-ondas, cafeteira, refrigerador,
torradeira, computador — e a lista vai crescendo. O que ge­rou tal crescimento em produção e renda?
O que pode ser feito para ace­lerar o crescimento econômico?
Podemos observar os maiores extremos de crescimento econômico analisando a Ásia moderna.
Às margens do rio Li, na China Meridional, Songman Yang cria cormorantes, pássaros incríveis que
ele treina para pescar e entregar a captura em uma cesta em sua simples balsa de bambu. O traba-
lho de Songman, o equipamento vital, a tecnologia que ele usa e a renda que ganha não mudaram
quase nada desde que seus antepassados, dois mil anos antes, iniciaram essa prática. No entanto,
ao redor de Songman, nas aldeias, vilas e cidades movimentadas da China, as pessoas estão parti-
cipando de um milagre econômico — estão criando negócios, investindo em tecnologias novas,
desenvolvendo mercados locais e globais e experimentando crescimento de renda superior a 6 por
cento por ano. Apesar de certa desaceleração em 1998, um rápido crescimento econômico ocorreu
em Hong Kong, na Coreia do Sul e em Taiwan. Nesses países, por três vezes o PIB real dobrou — um
aumento de oito vezes — entre 1960 e 1998. Por que as rendas nessas economias asiáticas cresce-
ram tão rapidamente? O que faz com que um milagre econômico ocorra?
Neste capítulo, estudaremos as forças que fazem o PIB real crescer, que permitem que alguns
países cresçam mais rapidamente que outros e que às vezes interferem em nossa própria taxa
de crescimento, que pode se desacelerar ou acelerar. Também conheceremos políticas para
alcançar crescimento econômico mais rápido.

Tendências de crescimento de longo prazo


As tendências de crescimento de longo prazo que estudaremos neste capítulo são as tendências
em PIB potencial. O crescimento de longo prazo nos interessa particularmente porque gera aumen-
tos de renda per capita. Assim, começaremos observando alguns fatores sobre o nível e a taxa de
crescimento de PIB real per capita nos Estados Unidos e ao redor do mundo. Vejamos primeiro o
PIB real per capita norte-americano durante os últimos cem anos.

Crescimento na economia norte-americana


A Figura 11.1 mostra o PIB real per capita nos Estados Unidos de 1898 a 1998. A média de taxa
de crescimento nesse período é de 2 por cento ao ano. Mas a taxa de crescimento de longo prazo
variou de 1,1 por cento ao ano entre 1973 e 1984 para 3 por cento anuais durante os anos 20 e 60.
A figura mostra ainda a recente desaceleração de crescimento de produtividade a partir de uma
perspectiva mais prolongada. Mostra também que desacelerações de crescimento de produtividade
já aconteceram antes. Durante os primeiros anos de 1900 e na metade dos anos 50 houve um
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ram antes. Durante os primeiros anos de 1900 e na


A metade dos anos 50 houve um crescimento até mais
prazo que estudaremos neste capítulo são as tendências lento do que o atual. O crescimento rápido dos anos
em PIB potencial. O crescimento de longo prazo nos 60 não foi comum, e a década de 20 conheceu um
18  E C O N O M I A d O S E T O R P ú b l ico
interessa particularmente porque gera aumentos deperíodo de crescimento acelerado semelhante.
renda per capita. Assim, começaremos observando No meio do gráfico há dois acontecimentos ex-
alguns fatores sobre o nível e a taxa de crescimento detraordinários: A Grande Depressão, na década de 30,
PIB real per capita nos Estados Unidos e ao redor do e a Segunda Guerra Mundial, na década de 40. A
mundo. Vejamos primeiro o PIB real per capita norte- queda no PIB real durante a Depressão e o cresci-
americano
crescimento atédurante os últimos
mais lento cem anos.
do que o atual. O crescimento rápido dos
mento temporário anos a60
durante não ocultavam
guerra foi comum, ea
quais-
década de 20 conheceu um período de crescimentoquer mudanças
acelerado na tendência de crescimento de longo
semelhante.
prazo que poderiam ter ocorrido durante esses anos.
Crescimento
No na economia
meio do gráfico norte-americana
há dois acontecimentos ex­tra­
Nooentanto,
r­­dinários: A Grande
entre Depressão,
1930 e 1950, na adécada
equilibrando Depres- de
30, e a Segunda Guerra Mundial, naper
década são e a guerra, a taxa de crescimento de longo prazo foi
A Figura 11.1 mostra o PIB real capitade
nos40. A queda no PIB real durante a Depressão e o
de 2,2 por cento ao ano.
crescimento
Estadostemporário durante
Unidos de 1898 a guerra
a 1998. A médiaocultavam
de taxa de quaisquer mu­danças na tendência de crescimento
A meta principal deste capítulo é explicar por que
crescimento
de longo prazo que nesse período ter
poderiam é deocorrido
2 por cento ao ano.
durante esses anos. No en­teanto, entre
a economia cresce por que há1930 e 1950,
variação na taxaequi-
de
Mas a taxa de crescimento de longo prazo variou de
librando a De­p res­
s ão e a Guerra, a taxa de crescimento
crescimento de longo de longofoiprazo.
prazo de Buscaremos
2,2 por cento explicar
ao ano.
1,1 por cento ao ano entre 1973 e 1984 para 3 por
variações na taxa de crescimento econômico por paí-
Acento
metaanuais durante
principal os anos
deste 20 e 60.é explicar por que a economia cresce e por que há variação na
capítulo ses. Vejamos alguns aspectos dessas variações.
taxa de crescimento de longo prazo. Buscaremos explicar variações na taxa de crescimento econô-
mico por países. Vejamos alguns aspectos dessas variações.

FIGURA 11.1
Cem11.1 
Figura  anosCem
de anos
crescimento econômico
de crescimento nos
econômico nosEstados Unidos
Estados Unidos

48 Durante cem anos, de 1898


As taxas de crescimento
a 1998, o PIB real per capita
de longo prazo (porcentagem
... 2,1
nos Estados Unidos cresceu
por ano) são ... em média 2 por cento ao
... 1,1
24 ano. A taxa de crescimento
... 3,0
Segunda Guerra Mundial encontrava-se acima da
... 1,6 média durante os anos 20,
PIB real per capita (milhares de dólares de 1992)

60, e de 1983 a 1998; a


... 2,2
mesma taxa ficou abaixo da
12
média no período de 1903
... 2,6
a 1920, nos anos 50 e de
1973 a 1983.
... 1,3
6
... 2,3
Grande Depressão

3
1895 1910 1925 1940 1955 1970 1985 2000
Ano

Fonte: Christina D. Romer,“The prewar business cycle reconsidered: new estimates of Gross National Product, 1869–1908”, Journal of Political Economy, vol. 97 (1989); National income
and product accounts of the United States; Estatísticas históricas dos Estados Unidos dos tempos coloniais até 1957, Ministério do Comércio dos Estados Unidos, 1960; e
Economic Report of the President , 1999.

Crescimento do PIB real na economia mundial


A Figura 11.2 mostra o PIB real per capita nos Estados Unidos e em outros países entre 1960
e 1998 (os dados da figura estão em dólares de 1985). A parte (a) mostra os países mais ricos. Essa
nação norte-americana possui o PIB real per capita mais alto do mundo.
Em seguida, em ordem decrescente quanto ao PIB real per capita, vêm o Canadá (segundo
lugar) e o Japão (terceiro mais alto em 1998). Antes dos anos 90, esses dois países cresceram mais
rapidamente que os Estados Unidos e experimentaram certa aceleração. O Japão também cresceu
mais rapidamente que os quatro mais ricos da Europa (França, Alemanha, Itália e Reino Unido) e os
ultrapassou na metade da década de 80. Esses quatro países europeus também cresceram mais
rapidamente que os Estados Unidos, mas só por uma pequena margem.
Não são todos os países que estão crescendo mais rapidamente do que os Estados Unidos ou
se aproxi­man­do de seu desempenho econômico. A Figura 11.2 (b) mostra alguns deles. A Europa
Ocidental (ex­cluindo os quatro países mais ricos) cresceu mais rapidamente que os Estados Unidos
antes de 1975; a velocidade de crescimento reduziu-se nos anos 80, equiparando-se à taxa de
crescimento norte-americana, mas ficou atrás na década de 90. Após um período breve de acele-
ração, os ex-países comunistas da Europa Central passaram a ter um desempenho econômico cada
vez mais distante e inferior em relação aos Estados Unidos, e em 1998, eles se encontravam tão
atrás como haviam estado trinta anos antes.
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TENDÊNCIAS D E C R E S C I M E N TO D E L O N G O P R A Z O

C re s c i m e n t o d o P I B re a l n a Não são todos os países que estão crescendo mais


economia mundial rapidamente do que os Estados Unidos ou se aproximan-
E l e m e n dot odes seu
b á desempenho
s i c o s d eeconômico.
m a c r oAeFigura
c o n o11.2
m (b)
ia  19
A Figura 11.2 mostra o PIB real per capita nos mostra alguns deles. A Europa Ocidental (excluindo os
Estados Unidos e em outros países entre 1960 e 1998 quatro países mais ricos) cresceu mais rapidamente que
(os dados da figura estão em dólares de 1985). A os Estados Unidos antes de 1975; a velocidade de cresci-
parte (a) mostra os países mais ricos. Essa nação mento reduziu-se nos anos 80, equiparando-se à taxa de
Anorte-americana
África Central e a oAmérica
possui docapita
PIB real per Sul têm regularmente
mais alto crescido de modo
crescimento norte-americana, maisatrás
mas ficou lento que os
na década
do mundo.
Estados Unidos. O PIB real per capita na América Central de 90. Após
e doumSulperíodo
caiu breve
de um depico
aceleração,
de 30osporex-países
cento
Em seguida, em ordem decrescente quanto aocomunistas da Europa Central passaram a ter um desem-
do nível
PIB norte-americano
real per capita, vêm de PIB real
o Canadá per capita
(segundo em
lugar) 1980 econômico
e penho a 23 por cento emmais
cada vez 1998. A África
distante caiuemde
e inferior
8 porocento
Japão do nívelmais
(terceiro norte-americano em 1960
alto em 1998). Antes para
dos anos 6 por
relação aoscento em
Estados 1998.
Unidos, e em 1998, eles se encontra-
90, esses dois países cresceram mais rapidamente quevam tão atrás como haviam estado trinta anos antes.
Ao analisar conjuntamente ambas as
os Estados Unidos e experimentaram certa acele- partes da Figura
A África Central e a Américaver
11.2, podemos do que a aceleração
Sul têm regularmente no
PIB real perOcapita
ração. Japão mostrada na parte
também cresceu mais(a)rapidamente
não é um crescido
fenômeno global.
de modo mais lento que os Estados Unidos. O
que osKong,
Hong quatro mais Cingapura
Coreia, ricos da Europa
e Taiwan(França,
estavamPIB real
naspermanchetes
capita na América Central porque,
em 1998 e do Sul caiu de um
junto com
Alemanha, Itália e Reino Unido) e os ultrapassou na pico de 30 por cento do nível norte-americano de PIB real
outrosmetade
paísesdaasiáticos,
década eles
de 80.experimentaram
Esses quatro países umaeuro-
queda. Mas a Figura 11.3 mostra que o crescimento
per capita em 1980 a 23 por cento em 1998. A África caiu
peusprazo
de longo também foi cresceram
espetacular.maisEmrapidamente
1960, essesque osde 8
países apresentaram níveis
por cento do nível de PIB realem
norte-americano per1960
capita
para que
6
Estados Unidos, mas só por uma pequena margem.
variaram de um décimo a um quarto do índice norte-americano. por cento em 1998. Em 1998, dois deles (Hong Kong e
Cingapura) haviam alcançado os Estados Unidos, e os outros dois, Coreia e Taiwan, estavam próximos.
FIGURA 11.2
Figura  11.2  O crescimento econômico mundial: aceleração ou desaceleração?
O crescimento econômico mundial: aceleração ou desaceleração?
32 20

Estados Unidos
10
(milhares de dólares de 1985; escala)

(milhares de dólares de 1985; escala)


16 Estados Unidos Outros países da Europa
Ocidental
Canadá

5
8 Europa Central
em transição
Os quatro mais ricos América do Sul
PIB real per capita

PIB real per capita

da Europa e Central

4
Japão 1 África

2 0
1960 1970 1980 1990 2000 1960 1970 1980 1990 2000
Ano Ano

(a) Aceleração? (b) Sem aceleração?

O PIB real per capita cresceu na economia mundial em geral. per capita no Canadá também ficou mais próximo do índice
Entre os países industriais ricos (parte (a)), o crescimento do norte-americano. Em um conjunto maior de países (parte (b)),
PIB real no Canadá, nos quatro mais ricos da Europa (França, observa-se pequeno sinal de aceleração.As diferenças entre os
Alemanha, Itália e Reino Unido) e no Japão foi mais rápido que níveis de PIB real per capita nos Estados Unidos e em outros
nos Estados Unidos, e esses países estão se aproximando do países da Europa Ocidental, da Europa Central, das Américas
desempenho econômico norte-americano. O crescimento mais Central e do Sul e do continente africano permaneceram
espetacular ocorreu no Japão durante os anos 60. O PIB real constantes.

Fontes: 1960–1992, Robert Summers e Alan Heston, New computer diskette (Mark 5.6a), 15 de janeiro de 1995, distribuído pela Agência Nacional de Pesquisa Econômica
para atualizar "The Penn World Table: an expanded set of international comparisons, 1950–1988", Quarterly Journal of Economics 1991, p. 327–368, 1993–1998, Fundo
Monetário Internacional, World Economic Outlook, Washington D.C., out. 1998.

Os exemplos mais evidentes de aceleração ocorreram em cinco economias na Ásia. Depois de


iniciar 1960 com um PIB real per capita bastante pequeno — equivalente a um décimo do patamar
norte-americano —, Hong Kong, Coreia, Cingapura e Taiwan cresceram e estreitaram significativa-
mente a distância com relação às taxas de crescimento dos Estados Unidos. A China era um país
em desenvolvimento muito pobre em 1960, mas possui atualmente um PIB real per capita que
excede o de Hong Kong nesse mesmo ano. O país está crescendo a uma taxa que vem mantendo
o processo de aproximação de seu desempenho econômico ao dos Estados Unidos.
A partir da Figura 11.3 também podemos observar que a China está em processo de aceleração,
porém lenta, o que ainda a mantém bem abaixo do nível norte-americano. O PIB real per capita da
China era um vigésimo do dos Estados Unidos em 1960, mas em 1998 já era um oitavo.
Os quatro pequenos países asiáticos mostrados na Fi­gura 11.3 são como trens rápidos que correm
na mes­ma velocidade e com uma distância aproximadamente constante entre eles. Hong Kong é a
locomotiva e cor­re aproximadamente dez anos na frente da Co­reia, que é o último trem. O PIB real
per capita na Coreia em 1990 era semelhante ao de Hong Kong de dez anos antes, em 1980. Entre
1960 e 1999, Hong Kong se trans­formou de um país pobre em desenvolvimento em um dos países
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20 ECONOMIA dO SETOR PúblICO

mais ricos do mundo. A China agora está seguindo os passos de Hong Kong. Se mantiver seu cresci-
mento rápido, a economia mundial tomará uma conformação muito diferente — a China é equivalente
a mais de duzentos países do tamanho de Hong Kong. Esse país continuará seu processo atual de
crescimento rápido? É impossível prever.

Figura 11.3 A aceleração na Ásia


(milhares de dólares de 1985; escala) 25

1
PIB real per capita

1960 1970 1980 1990 2000


Ano

Estados Unidos Taiwan


Hong Kong Coreia
Cingapura China

Questões de revisão
Qual foi a taxa média de crescimento econômico nos Estados Unidos durante os últimos
cem anos? Quais foram os períodos de crescimento mais rápido e mais lento?
Descreva as diferenças entre PIB real per capita nos Estados Unidos e em outros países. Em
quais países as diferenças estão se reduzindo? Onde as diferenças estão aumentando? E em
que países estão permanecendo inalteradas?
Compare a taxa de crescimento e os níveis de PIB real per capita em Hong Kong, Coreia, Cinga-
pura, Taiwan, China e Estados Unidos. Quão distante a China está das outras economias asiáticas?
Os fatos relacionados ao crescimento econômico nos Estados Unidos e ao redor do mundo
levantaram algumas perguntas a que vamos responder agora. Estudaremos em três etapas as cau-
sas de crescimento econômico. Primeiro, conheceremos as condições prévias para o crescimento e
as atividades que o sustentam. Segundo, aprenderemos como os economistas medem as contribui-
ções relativas das fontes de crescimento — uma atividade chamada ‘contabilidade de crescimento’.
E, terceiro, estudaremos três teorias de crescimento econômico que buscam explicar como as
influências no crescimento interagem para determinar a taxa de crescimento.

Causas do crescimento econômico: uma primeira análise


A maioria das sociedades humanas viveu por séculos e até mesmo milênios como Songman
Yang, sem conhecer qualquer crescimento econômico. A principal razão para isso é que lhes falta-
ram algumas instituições sociais fundamentais e arranjos que são condições prévias essenciais para
o crescimento econômico. Vejamos quais são essas condições.

Precondições para o crescimento econômico


A mais elementar condição prévia para que haja crescimento econômico é um sistema de in-
centivo apropriado. Três instituições revelam-se cruciais para a criação de incentivos:
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Elementos básicos de macroeconomia 21

1. Os mercados
2. Os direitos de propriedade
3. A troca monetária
Os mercados permitem a compradores e vendedores adquirir informações e negociar entre si.
Os preços de mercado são sinais que criam incentivos para aumentar ou diminuir as quantidades
demandadas e oferecidas. Os mercados permitem às pessoas especializar-se, comerciar, economizar
e investir. Mas, para que funcionem, precisamos de direitos de propriedade e troca monetária.
Direitos de propriedade são os arranjos sociais que governam a posse, o uso e a disposição de recur-
sos, bens e serviços. Eles incluem os direitos de propriedade física (terra, edificações e equipamento de
capital), de propriedade financeira (reivindicações de uma pessoa contra outra) e de propriedade intelec-
tual (como invenções). Claramente estabelecidos e implementados, os direitos de propriedade proporcio-
nam às pessoas garantias de que um capricho governamental não irá confiscar sua renda ou poupança.
A troca monetária facilita transações de todo tipo, inclusive a transferência em ordem de proprie-
dade privada de uma pessoa para outra. Direitos de propriedade e troca monetária criam incentivos
para que as pessoas se especializem, comerciem, economizem, invistam e descubram novas tecnologias.
Não é necessário um único sistema político para garantir precondições para o crescimento
econômico. A democracia liberal, fundada no princípio fundamental da lei, é o sistema que melhor
funciona. Ela provê uma base sólida na qual direitos de propriedade podem ser estabelecidos e
garantidos. Mas sistemas políticos autoritários às vezes criaram um ambiente no qual ocorreram
crescimentos econômicos.
Sociedades humanas primitivas, baseadas na caça e na coleta, não experimentaram crescimento
econômico porque lhes faltaram as precondições. O crescimento econômico começou quando as
sociedades desenvolveram as três instituições principais criadoras de incentivos. Mas a presença de
um sistema de incentivo e as instituições que o geram não garantem que haverá crescimento eco-
nômico. Essas condições permitem o crescimento econômico, mas não o tornam inevitável.
O modo mais simples de crescimento acontece quando há um sistema apropriado de incentivo
e as pessoas começam a se especializar nas atividades em que possuem uma vantagem comparativa
e comercial. Especializando e comercializando, todos podem adquirir bens e serviços a um custo
mais baixo. Da mesma maneira, as pessoas podem obter maior volume de bens e serviços em troca
de seu trabalho.
À medida que uma economia parte de uma simples especialização para uma situação mais
favorável de especialização e troca, a produção e o consumo crescem. O PIB real per capita aumenta,
e o padrão de vida se eleva. Mas, para que o crescimento seja mantido, as pessoas precisam receber
incentivos que as estimulem a praticar as três principais atividades que geram crescimento econômico
contínuo. Essas atividades são:
Poupança e investimento em capital novo
Investimento em capital humano
Desenvolvimento de novas tecnologias
Essas atividades interligadas são as fontes primárias do extraordinário crescimento em produ-
tividade dos últimos duzentos anos. Analisemos uma a uma.

Poupança e investimento em capital novo


A poupança e o investimento em capital novo elevam a quantia de capital por trabalhador e o PIB
real por hora de trabalho — produtividade do trabalho. A produtividade do trabalho sofreu sua mudança
mais dramática quando a quantia de capital por trabalhador aumentou durante a Revolução Industrial.
Os processos artesanais de produção podem criar objetos belos, mas métodos de produção que usam
grandes quantidades de capital por trabalhador, como uma linha de montagem de uma fábrica de
automóveis, são muito mais produtivos. O acúmulo de capital em propriedades rurais, tecelagens,
fundições e siderúrgicas, minas de carvão, na construção civil, em indústrias químicas, fábricas de au-
tomóveis, bancos, companhias de seguro e centros comerciais, entre tantos outros, se somaram, de
maneira inacreditável, para a produtividade da economia. Na próxima vez em que você assistir a um
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22 ECONOMIA dO SETOR PúblICO

filme de faroeste, repare como é pequena a quantia de capital daquele contexto. Tente imaginar o
quanto você seria produtivo em tais circunstâncias em comparação com sua produtividade de hoje.

Investimento em capital humano


O capital humano — a habilidade acumulada e o conhecimento que as pessoas possuem — é o
fator mais fundamental de crescimento econômico. É a fonte de aumento de produtividade e avanço
tecnológico. O desenvolvimento de uma das habilidades humanas mais básicas — a escrita — foi o
ponto de partida para alguns dos principais ganhos em produtividade. A habilidade para manter
registros escritos tornou possível recolher lucros cada vez maiores de especialização e troca. Imagine
como seria complicado fazer qualquer tipo de negócio se todas as contas, faturas e acordos só
existissem na memória das pessoas.
O desenvolvimento da matemática foi a base para o posterior desenvolvimento do estudo das
forças físicas, das substâncias químicas e dos processos biológicos. Essa base de conhecimento cien-
tífico foi a origem, dois séculos atrás, dos avanços tecnológicos da Revolução Industrial e da revolu-
ção de informação atual. Mas uma grande parcela do capital humano produtivo é muito mais humilde.
São os milhões de indivíduos que aprendem e repetitivamente executam simples tarefas produtivas,
tornando-se cada vez mais produtivos. Um exemplo cuidadosamente estudado ilustra a importância
desse tipo de capital humano. Entre 1941 e 1944 (durante, portanto, a Segunda Guerra Mundial),
estaleiros norte-americanos produziram 2.500 unidades de um navio de carga, chamado de Navio
da Liberdade, para um projeto. Em 1941, foi necessário 1,2 milhão de pessoas-horas para construir
um navio; em 1942, foram 600 mil, e, em 1943, o mesmo serviço só demandava 500 mil pessoas-
-hora. Não houve muita mudança no capital empregado durante esses anos, mas uma quantia enorme
de capital humano foi acumulada. Milhares de trabalhadores e gerentes aprenderam com a experiên-
cia e reuniram capitais humanos que mais que dobraram a produtividade em dois anos.

Desenvolvimento de novas tecnologias


A poupança e o investimento em capital novo e o acúmulo de capital humano constituíram uma
grande contribuição ao crescimento econômico. Mas a contribuição da mudança tecnológica — o
desenvolvimento e a aplicação de tecnologias inovadoras e bens novos — foi ainda mais relevante.
As pessoas são muito mais produtivas hoje do que eram há cem anos. Esse fato não ocorre por termos
mais máquinas a vapor por pessoa ou mais fileiras de cavalos de carruagens, mas sim, basicamente,
porque dispomos de tecnologias de máquinas e equipamentos que um século atrás ainda eram des-
conhecidas e que são mais produtivas do que os antigos meios de produção. A mudança tecnológica
contribui enormemente para o aumento de nossa produtividade. Ela é resultado de uma pesquisa
formal do desenvolvimento de programas, da tentativa e do erro, envolvendo a descoberta de novos
caminhos para ir além de nossos atuais recursos. Para alcançar os benefícios de uma mudança tecno-
lógica, o capital precisa ser aumentado. Algumas das tecnologias fundamentais mais abrangentes são
baseadas em capital humano — por exemplo, idioma, escrita e matemática. Mas a maioria das tec-
nologias é baseada em capital físico. Por exemplo, para se desfrutar dos benefícios da máquina de
combustão interna, milhões de carruagens e cavalos tiveram de ser substituídos por automóveis; mais
recentemente, para obter vantagens do processo de informatização, milhões de máquinas de escrever
foram substituídas por PCs e impressoras.

Questões de revisão
Como os mercados, o direito de propriedade e a troca monetária facilitam as atividades
econômicas que conduzem ao crescimento econômico?
Quais são os papéis da economia e do investimento em capital novo, do crescimento de
capital humano e do desenvolvimento de novas tecnologias no crescimento econômico? Dê
alguns exemplos de como o capital humano criou novas tecnologias baseadas em capital
humano e físico.
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E l e m e n t o s b á s i c o s d e m a c r o e c o n o m i a   23

O que é a contribuição quantitativa das fontes de crescimento econômico? Para responder a


essa pergunta, economistas utilizam contabilidade de crescimento.

1.2 Controle da inflação


Realizar o controle da inflação não significa que Para saber mais
ela tenha de ser igual a zero. Mesmo os países mais
desenvolvidos não perseguem esta meta. O que se Hiperinflação — Estado inflacio-
busca é evitar períodos de aceleração permanente no
nário acelerado, no qual os pre-
crescimento dos preços e manter a inflação em níveis
reduzidos, mesmo atingindo taxas como 6% a 7% ao ços sobem de forma exagerada
ano, desde que estáveis ou descendentes. em períodos muito curtos.
A preocupação em controlar a inflação baseia-se
no fato de que taxas elevadas de inflação provocam
profundas distorções na economia. Afetam negativa‑
mente a distribuição de renda, à medida que os mais pobres não conseguem se proteger da
inflação, visto que não conseguem aplicar seus recursos no mercado financeiro; os prazos
das aplicações financeiras ficam mais reduzidos, fazendo, assim, desaparecer os recursos para
financiar os investimentos; inibem planejamento de longo prazo; e se a inflação chegar ao
nível de hiperinflação pode levar à destruição do parque produtivo do país (LANZANA, 2002).
Várias são as experiências de países que, ao não controlarem sua inflação, não obtiveram
um crescimento sistemático da produção de bens e serviços. O Brasil é um exemplo claro
dessa situação, haja vista que o país ficou praticamente estagnado durante toda a década
de 1980 e por conta de passar por um processo inflacionário muito forte.

1.3 Distribuição de renda


Mesmo sendo difícil argumentar que a sociedade
Para saber mais
deva remunerar igualmente a todos, não se pode deixar
O balanço de pagamentos é com-
de atribuir a melhoria da distribuição de renda como
um objetivo de política econômica. É importante ob‑ posto por: a) balança comercial;
servar, porém, que ao contrário dos outros objetivos b) balança de serviços; c) transfe-
de política econômica, mudanças fortes na distribui‑
ção de renda, a não ser por reduções bruscas da taxa rências unilaterais; d) balança de
de inflação, não ocorrem em curto espaço de tempo transações correntes; e) balança
(LANZANA, 2002). de capitais; f) erros e omissões;
e g) saldo (superávit ou déficit).
1.4 O
 s conflitos entre
os objetivos
Os objetivos de política econômica, vistos anteriormente, não são independentes e sim,
na maioria das vezes, conflitantes. É certo que, em determinadas situações, o alcance de um
objetivo pode representar obtenção de outros, como o crescimento da produção pode melhorar
a distribuição da renda, à medida que emprega mais mão de obra. Porém, especialmente nos
países subdesenvolvidos essa melhoria não tem ocorrido.
A meta da política econômica é a de manter todos os objetivos sob controle, obtendo a
maior taxa de crescimento da produção, assegurando a equidade distributiva, a estabilidade
dos preços e o equilíbrio das contas externas.
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24  E C O N O M I A d O S E T O R P ú b l ico

1.5 Instrumentos de política ecônomica


A fim de atingir os objetivos de política econômica, o governo pode lançar mão de um
conjunto de instrumentos, como podemos ver a seguir.

1.5.1 Política fiscal


A política fiscal refere-se aos instrumentos de que o governo dispõe para formar sua
receita e controlar suas despesas. Ela pode ser dividida em política tributária e política de
gastos públicos. Quando o governo aumenta seus gastos na economia, sejam eles de custeio
(despesas correntes) ou de investimento, ele está aplicando uma política fiscal expansionista;
ao contrário, seria uma política contracionista. O objetivo que o governo pretende com sua
política de gastos é que vai determinar se ela será expansionista ou contracionista.
As despesas correntes, ou despesas de custeio, representam os gastos realizados com o
objetivo de manter a máquina governamental funcionando. Conforme Lanzana (2002), po‑
demos dividir essas despesas em consumo do governo, que corresponde ao pagamento dos
funcionários públicos, e outras despesas necessárias à manutenção do aparato público, como
energia elétrica, materiais etc.; transferências, que se referem às despesas efetuadas pelo setor
público e destinadas ao setor privado, sem a contraprestação de serviços ou fornecimento de
bens, como a assistência e previdência social; juros, tanto relativo à dívida interna como à
dívida externa. Os juros relativos à dívida externa referem-se somente à dívida pública, uma vez
que a dívida externa é composta pelo setor privado e público; e subsídios, que correspondem
aos gastos do governo com o objetivo de garantir ao consumidor preços inferiores ao custo
de produção. As despesas de investimentos referem-se àquelas que o governo realiza com o
objetivo de aumentar a capacidade de produção de bens e serviços no país, como construção
de rodovias, hospitais, hidrelétricas, escolas etc.
De outra forma, o governo pode agir sobre o sistema tributário, entre outras medidas,
alterando as despesas do setor privado e incentivando setores produtivos, ou seja, criando
novos impostos, eliminando impostos existentes, alterando alíquotas para mais ou para menos.
Observamos, portanto, que o governo utilizará o instrumento de política fiscal, conforme
seu objetivo de política econômica. Então vejamos alguns exemplos:
Conforme Vasconcellos e Garcia (2006), se o objetivo é reduzir a taxa de inflação, as
medidas fiscais normalmente adotadas são a diminuição de gastos públicos e/ou o aumento
da carga tributária (que inibe o consumo). Ou seja, visam diminuir os gastos da coletividade.
Se o objetivo é maior crescimento e emprego, os instrumentos fiscais são os mesmos, mas,
em sentido inverso, buscando elevar a demanda agregada. Já, se o objetivo é melhorar a dis‑
tribuição de renda, esses instrumentos devem ser utilizados de forma seletiva, em benefício
dos grupos menos favorecidos, como criação de impostos progressivos, gastos do governo em
regiões mais atrasadas, programas de ajuda às classes mais pobres etc.
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Aprofundando o conhecimento
Leia o texto a seguir, de Parkin (2003, p. 281-301), para maior compreensão do tema.

A política fiscal
Em 1999, o governo federal dos Estados Unidos planejou gastar $1.868 bilhão, ou seja, 23
centavos de cada dólar que os norte-americanos ganham. Quais são os efeitos do gasto do governo
na economia? Gera novos postos de trabalho? Ou os destrói? E um dólar gasto pelo governo em
bens e serviços tem o mesmo efeito de um dólar gasto por outra pessoa? Embora o governo fede-
ral tenha planejado gastar 23 centavos de cada dólar ganho, não pensou taxar por essa quantia.
Seus planos eram de receitas tri­bu­tárias de $1.987 bilhão, ou seja, 24 centavos de cada dólar ganho.
Quais são os efeitos dos impostos na economia? Eles prejudicam o ní­vel de emprego e o crescimento
econômico? Sobrará dinheiro no orçamento federal de 1999. A última vez que isso ocorreu foi em
1969. Durante os trinta anos decorridos desde então — tomando como base dólares de 1992 —,
a dívida do governo fede­ral aumentou de $1.000 bilhão para $3.250 bi­lhões. Se esses números
parecem grandes demais, divida-os pelo total da população norte-americana para achar o valor per
capita. A dívida governamental por pessoa estava em mais de $12.000 em 1999. Qual é a relevân-
cia do equilíbrio nas contas públicas? Quais são os efeitos de um déficit go­vernamental contínuo e
de uma dívida cumulativa? Eles reduzem a velocidade do crescimento econômico? Impõem um
fardo a futuras gera­ções — a você e seus fi­lhos? O que deve ser feito para equilibrar o orçamento?
Cortes de gastos resolvem? Ou os impostos devem ser aumentados? Ou, ainda, os gastos podem
ser cortados a ponto de os impostos também poderem ser reduzidos?
Esses são os assuntos de política fiscal que você estudará neste capítulo. Começaremos des-
crevendo o orçamento federal e seu processo de criação. Também conheceremos a recente história
do orçamento.

Orçamento federal
A declaração anual de dispêndios e recei­tas com impostos do governo, com as leis e os regu-
lamentos que aprovam e apoiam tais dispêndios e impostos compõe o orçamento federal, que
apresenta dois propósitos:
1. Financiar as atividades do governo federal
2. Estabilizar a economia
O primeiro objetivo do orçamento federal era o único que havia antes da Grande Depressão
dos anos 30; o segundo surgiu como uma reação à Grande Depressão. O uso do orçamento fede-
ral para alcançar objetivos macroeconômicos — como pleno emprego, crescimento econômico
contínuo e estabilidade do nível de preços — é chamado de política fiscal. O enfoque deste capítulo
está nesse segundo propósito.

As instituições e as leis
A política fiscal é elaborada pelo presidente e pelo Congresso em períodos anuais, conforme
mostrado na Figura 13.1.
Os papéis do presidente e do Congresso  Nos Estados Unidos, o presidente apresenta
uma proposta de orçamento ao Congresso cada mês de fevereiro e, depois que este aprova os atos
do orçamento em setembro, um ou outro assina esses atos e os converte em lei ou veta. O presidente
pode aprovar ou vetar integralmente o orçamento, mas não tem o poder de veto para eliminar
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26  E C O N O M I A d O S E T O R P ú b l ico

artigos específicos em uma conta orçamentária e aprovar outros — conhecido como veto de linha-
-item. Muitos governadores de Es­tado têm a autoridade de veto de linha-item, e o Con­gresso
tentou conceder esse poder ao presidente em 1996, mas um ato da Suprema Corte de 1998 de-
clarou inconstitucional esse veto para o presidente. Embora ele proponha e em última instância
aprove o orçamento, a tarefa de tomar as duras decisões em dispêndios e impostos é do Con­gresso.
O Congresso dá início a seu trabalho no orçamento a partir da proposta do presidente. A Câmara
dos Deputados e o Senado desenvolvem suas próprias ideias orçamentárias em seus respectivos
comitês. Con­ferências formais entre as duas casas solucionam, por fim, eventuais divergências, e
uma série de atos de despesa e um ato orçamentário global normalmente passam por ambas as
casas antes do começo do ano fiscal, que vai de 1o de outubro a 30 de setembro do ano seguinte.
O ano fiscal de 2000, por exemplo, foi iniciado em 1o de outubro de 1999.
O processo orçamentário federal começa com as propostas do presidente em fevereiro. O
Congresso debate, emenda essas propostas e promulga um orçamento antes do início do ano fiscal,
em 1o de outubro. O presidente assina os atos orçamen­tários e os converte em lei ou veta.
Ao longo do ano fis­cal, o Congresso pode votar leis orçamentárias adicionais. O resultado do
orçamento é calculado depois do final do ano fiscal, em 30 de setembro.

Figura  13.1   Linha de tempo do orçamento federal no ano fiscal de 2000

1º de janeiro de 1999
6 de fevereiro de 1999 O Presidente submete uma proposta
orçamentária ao Congresso.

Março
O Congresso debate, faz emendas
e promulga o orçamento.

Setembro
1º de outubro de 1999
Começa o ano fiscal de 2000.
Podem ser votadas leis orçamentárias
adicionais.

O estado da economia influencia


os dispêndios, as receitas tributárias
e o déficit do orçamento.

30 de setembro de 2000 Fim do ano de fiscal de 2000.


As contas do ano fiscal de 2000 são
preparadas. São divulgados os dispêndios,
as receitas tributárias e o déficit do orçamento.

Durante um ano fiscal, o Congresso frequentemente vota leis orçamentárias adicionais, e o


resultado do orçamento é influenciado pelo estado da evolução da economia. Por exemplo, se uma
recessão começa, caem receitas com impostos e aumentam pagamentos de previdência.
O ato de emprego de 1946  A política fiscal opera dentro da estrutura do Ato de Emprego
de 1946, no qual o Congresso declarou que é política contínua e responsabilidade do governo fe­
deral usar todos os meios praticáveis [...] para coordenar e utilizar todos seus planos, funções e
US5E – Fig30.01
recursos [...] para promover o máximo de emprego, produção e poder aquisitivo.
Esse ato determinou que é dever do Estado manter o desemprego baixo, a economia em expan-
são e a inflação sob controle. O Ato de Emprego Pleno e de Crescimento Equilibrado de 1978, mais
comumente co­nhecido como Ato de Humphrey-Hawkins, foi mais adiante que o Ato de Emprego de
1946, fixando um objetivo específico de 4 por cento para a taxa de desemprego. Mas esse objetivo
nunca foi tratado como uma meta política inabalável. Subordinado ao Ato de 1946, determina que
é dever do presidente descrever a situação econômica atual e as políticas que ele julga necessárias em
um relatório econômico presidencial anual, redigido pelo Conselho dos Consultores Eco­nômicos.
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E l e m e n t o s b á s i c o s d e m a c r o e c o n o m i a   27

O conselho dos consultores econômicos  Foi estabelecido em 1946 pelo Ato de


Emprego. É formado por um chefe e dois membros, todos economistas que tiram um ou dois
anos de licença de seus trabalhos regulares em universidades ou no serviço público. Em 1999, na
chefia do Conselho dos Consultores Econômicos do presidente Clinton estava Janet Yellen, da
Universidade da Califórnia, em Berkeley. O Conselho monitora a economia e mantém o presidente
e o público bem informados sobre o estado atual da economia e as melhores previsões disponíveis
a respeito de para onde ela está se encami­nhan­do. Essa atividade de inteligência econômica é
uma fonte de dados que informa o processo de preparação do orçamento. Vejamos o mais recente
orçamento federal norte-americano.
Destaques do orçamento de 2000  A Tabela 13.1 mostra os itens principais no orçamento
federal proposto pelo presidente Clinton para 2000. Os números são quantias projetadas durante
o ano fiscal que começa em 1o de outubro de 1999 — ano fiscal de 2000. Observe as três partes
principais da tabela: as receitas com impostos são as receitas do go­verno; os dispêndios são o de-
sembolso do governo, e o superávit constitui a quantia em que as receitas com imposto do governo
excedem seus dispêndios.

Tabela 13.1   Orçamento federal para o ano fiscal de 2000

Item Projeções (bilhões de dólares)


Receitas fiscais 1,987
Imposto de renda (pessoas físicas) 926
Impostos de seguro social 738
Imposto de renda (pessoas jurídicas) 211
Impostos indiretos 112
Dispêndios 1,868
Pagamentos de transferência 1,189
Compras de bens e serviços 477
Juros da dívida 202
Superávit 119

Fonte: Orçamento do governo dos Estados Unidos, ano fiscal 2000. Tabela 14.1, Transações federais
nas contas de renda nacional e produto.

Receitas com imposto  Receitas com imposto foram projetadas em $1.987 bilhão no ano
fiscal de 2000. Essas receitas provêm de quatro fontes:
1. Impostos de renda de pessoas físicas
2. Impostos de seguro social
3. Impostos de renda de pessoas jurídicas
4. Impostos indiretos
A maior fonte de renda são os impostos sobre a renda de pessoas físicas, que em 2000 eram
estimados em $926 bilhões. A segunda maior fonte são os im­postos de seguro social, que são
aqueles pagos pelos trabalhadores e seus empregadores para financiar os programas de seguro
social do governo. Em terceiro lugar encontram-se os impostos de renda de pessoas jurídicas (em-
presas), que são aqueles pagos por empresas sobre seus lucros. Finalmente, a menor fonte de renda
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28  E C O N O M I A d O S E T O R P ú b l ico

federal é proveniente dos chamados impostos indiretos, que são aqueles embutidos em combustí-
veis, bebidas alcoólicas e alguns outros itens.
Dispêndios Os dispêndios são classificados em três categorias:
1. Pagamentos de transferência
2. Compras de bens e serviços
3. Juros da dívida
Pagamentos de transferência, item maior de despesa, são pagamentos a indivíduos, negócios,
outros níveis de governo e ao resto do mundo. Estimava-se esse item em $1.868 bilhão em 2000.
Inclui bene­fícios de seguro social, assistência médica, seguro-desemprego, pagamentos de previ-
dência, ­subsídios a agricultores, concessões para Estados e municípios, ajuda para países em desen-
volvimento e dívidas com organizações internacionais, como as Nações Unidas. Pagamentos de
transferência, especialmente assistência médica, são fontes constantes de crescimento em dispêndios
governamentais e um importante tema de preocupação e debate político. Compras de bens e
serviços são dispêndios em bens e serviços finais, estimados em $477 bilhões em 2000. Esses dis-
pêndios — os quais incluem defesa nacional, o programa espacial da Nasa, pesquisas para a cura
da Aids, computadores para a Receita Federal, veículos para o governo, estradas federais e represas
— têm diminuído recentemente. Esse componente do orçamento federal são compras públicas de
bens e serviços que aparecem no fluxo circular de despesa e renda e nas Contas de Renda Nacional
e Produto. Juros da dívida são os juros sobre a dívida governamental. Em 2000, esse item era esti-
mado em $202 bilhões — cerca de 11 por cento da despesa total. O pagamento de juros é grande
porque o governo possui uma dívida de mais de $3 trilhões, resultado de longos períodos de déficit
orçamentário durante os anos 70, 80 e 90.
Superávit  O saldo do orçamento do governo é igual à receita tributária menos seus dispên-
dios. Ou seja: Saldo do orçamento = Receita tributária – Dispêndios. Se a receita tributária excede
os dispêndios, o governo tem um superávit orçamentário. Se os dispêndios excedem a receita tri-
butária, o governo apresenta um déficit orçamentário.
Se a receita tributária iguala os dispêndios, o governo possui um or­çamento equilibrado. No
ano fiscal de 2000, com dispêndios projetados de $1.868 bilhão e receita tributária de $1.987 bilhão,
o governo estimou um superávit orçamentário de $119 bilhões.
Números altos como esses são difíceis de visualizar e de comparar ao longo do tempo. Para
se apreender melhor a magnitude de impostos, dispêndios e superávit, frequentemente tais ca-
tegorias são expressas como porcentagens do PIB. Desse modo torna-se possível avaliar quão
grande é o governo em relação ao tamanho da economia e também estudar as mudanças no
tamanho do governo com o passar do tempo.
Vejamos como exemplo o orçamento federal de 2000.

O orçamento em perspectiva histórica


A Figura 13.2 mostra a receita tributária do governo, seus dispêndios, o superávit ou déficit
orçamentário desde 1980. Em 1997, houve um déficit orçamentário. O déficit era de aproxima-
damente 2 por cento do PIB em 1980 e 1981, mas aumentou e alcançou um pico de 5,2 por
cento do PIB em 1983. Diminuiu de 1983 até 1989, mas cresceu novamente durante a recessão
de 1990-1991. Com a expansão dos anos 1990, o déficit gradualmente enco­lheu, e, em 1998,
ocorreu o primeiro superávit desde 1969.
Por que o déficit orçamentário cresceu durante os anos 1980 e por fim desapareceu nos recen-
tes anos 1990? A resposta encontra-se nas mudanças em dispêndios e receita tributária. Mas o que
de fato mudou para fazer oscilar o déficit? Vejamos um pouco mais detalhadamente a receita tri-
butária e os dispêndios.
Receita tributária  A Figura 13.3(a) mostra os componentes de receita tributária como
porcentagens do PIB entre 1980 e 2000. Cortes em impostos de renda de empresas e pessoas físi-
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cas reduziram a receita tributária total entre 1981 e 1986. O declínio foi o re­sultado de cortes de
impostos passados em 1981. De 1986 até 1991, a receita tributária não mudou muito como uma
porcentagem do PIB. Mas, nos anos 90, aumentos no imposto de renda de pessoas físicas elevaram
a receita total tributária.

Figura 13.2   Déficit orçamentário

25
Dispêndios Superávit orçamentário

Déficit orçamentário
20
déficit do orçamento (porcentagem do PIB)
Dispêndios, receita tributária e superávit/

Receitas tributárias

15

10

0
1980 1982 1984 1986 1988 1990 1992 1994 1996 1998 2000
Ano

A figura registra os dispêndios do governo federal, a receita tributária e o superávit/déficit


orçamen­tário de 1980 até 2000. Durante os anos 80, um déficit orçamentário alto e persistente
surgiu da combinação de uma diminuição na receita tributária e um aumen­to em dispêndios.
Em 1998, com renda crescente e dispêndios em queda (como porcentagens do PIB), criou-se
um superávit orçamentário.
aaa
Dispêndios   A Figura 13.3(b) mostra os componentes de dispêndios governamentais como
US5E – Fig30.02
porcentagens do PIB entre 1980 e 2000. Os dispêndios totais aumentaram nitidamente entre 1980
e 1983 e depois caíram ligeiramente em 1989 antes de se elevarem outra vez em 1992. Depois
deste ano, os dispêndios totais diminuíram continuamente. As compras de bens e serviços foram
reduzidas durante os anos 90. O juro da dívida aumentou na década de 80, contribuindo para a
diminuição de dispêndios durante os anos 90. Para entender por que isso ocorreu, é preciso obser-
var a conexão entre o superávit ou o déficit no orçamento do governo e a dívida pública.
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30  E C O N O M I A d O S E T O R P ú b l ico

Figura  13.3  Receita tributária e dispêndios do governo federal

25
Receita tributária (porcentagem de PIB)

20

Contribuições de seguro social


15

Impostos indiretos
10 Imposto de renda de empresas

5 Imposto de renda de pessoas físicas

0
1980 1982 1984 1986 1988 1990 1992 1994 1996 1998 2000
Ano

(a) Receita tributária

25

20
Dispêndios (porcentagem do PIB)

Pagamentos de transferência
15

10 Juro da dívida

5
Compra de bens e serviços

0
1980 1982 1984 1986 1988 1990 1992 1994 1996 1998 2000
Ano

(b) Dispêndios

Na parte (a), receitas de im­postos de renda de pessoas físicas e de empresas diminuíram durante
o princípio dos anos 80; receitas de impostos de renda de pessoas físicas au­mentaram durante
os anos 90. Os outros componentes de receita tributária permaneceram fixos. Na parte (b),
compras de bens e serviços cresceram durante o princípio dos anos 80 e caíram na década
de 90. Paga­mentos de transferência au­mentaramaaa durante o princípio dos anos 80. O juro da
US5E – Fig30.03
dívida aumentou continuamente du­rante a década de 80, uma vez que o déficit orçamentário
se autoalimentava, e então diminuiu durante os anos 90, pois o déficit encolheu e as taxas de
juros caíram.

Superávit, déficit e dívida  O governo faz empréstimos quando apresenta déficit orça-
mentário e realiza reembolsos quando tem superávit. Dívida governamental é a quantia total que
o governo tomou emprestado — a soma de déficits passados menos a soma de superávits passados.
Quando o governo experimenta um déficit orçamentário, sua dívida aumenta. E se ele persiste,
como ocorreu nos anos 80, realimenta a si mesmo. O déficit gera aumento de empréstimos; um
aumento de empréstimos acarreta pagamentos de juros maiores; e pagamentos de juros maiores
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E l e m e n t o s b á s i c o s d e m a c r o e c o n o m i a   31

conduzem a um déficit maior. Esse é o resumo da história do déficit crescente dos anos 80. A Figura
13.4 mostra o desempenho da dívida governamental desde 1940. Ao término da Segunda Guerra
Mundial, a dívida (como uma porcentagem do PIB) encontrava-se estável em um alto nível de 109
por cento. Enormes déficits de tempo de guerra aumentaram a dívida a ponto de exceder o PIB real.
Superávits orçamentários e um rápido crescimento econômico reduziram para 24 por cento a dívida
em relação ao PIB em 1974. Déficits pequenos elevaram-na ligeiramente em relação ao PIB nos anos
70, e déficits grandes acentuaram de maneira drástica essa relação durante os anos 80 e até a re-
cessão de 1990–1991. A taxa de crescimento da dívida em relação ao PIB diminuiu quando a
economia se expandiu em meados dos anos 90 e começou a cair quando o orçamento governa-
mental entrou em superávit no fim da mesma década.

Figura  13.4   A dívida governamental federal

120

100
Dívida governamental federal (porcentagem do PIB)

Superávit e crescimento
Diminuindo
econômico rápido
déficits
80 e criando
superávits

60 Déficit e crescimento
econômico mais lento
Segunda
40 Guerra
Mundial

20

0
1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000
Ano

A dívida do governo federal (o acúmulo de déficits orçamentários passados menos os superávits


orçamentários passados) era superior a 100 por cento do PIB ao término da Segunda Guerra
Mundial. A dívida como uma porcentagem do PIB caiu em 1974, mas a partir de então começou
a aumentar. Após outro breve declínio no final da década de 70, explodiu durante os anos 80
e continuou aumentando até 1995, e depois voltou aaaa cair.
US5E – Fig30.04
Fonte: Orçamento do governo dos Estados Unidos, ano fiscal de 2000, Tabela 7.1, Dívida
federal.

Dívida e capital   Empresas e indivíduos contraem dívidas para comprar capital — ativos que
rendem um retorno. De fato, o ponto principal da dívida é habilitar as pessoas a comprar ativos que
gerem um retorno superior ao juro pago por ela. O governo age de modo semelhante. Muita despesa
governamental está em ativos públicos que rendem um retorno. Estradas, projetos de irrigação, escolas
públicas e universidades, bibliotecas públicas e estoque de capital de defesa nacional, tudo isso gera
uma taxa social de retorno que provavelmente excede a taxa de juros que o governo paga em sua dívida.
Mas a dívida pública norte-americana total — quase $4 trilhões — é mais que duas vezes o
valor do estoque de capital público. Assim, alguma dívida governamental foi para financiar despe-
sas de consumo público (como viagens diplomáticas ao exterior). Esse tipo de despesa não apresenta
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32  E C O N O M I A d O S E T O R P ú b l ico

um retorno social contínuo. Como o equilíbrio do orçamento governamental norte-americano se


compara ao de outros países?
O superávit orçamentário em perspectiva global  É incomum os Estados Unidos
trabalharem com um superávit orçamentário? Outros países têm superávits ou déficits orçamentá-
rios? A Figura 13.5 responde a essas perguntas. No mundo de hoje, quase todos os países apresen-
tam déficits orçamentários. O maior déficit relativo ao PIB é encontrado no Japão, onde o déficit
orçamentário excede 5 por cento do PIB. O resto da Ásia e o Oriente Médio também enfrentam
déficits grandes. Os menores déficits relativos ao PIB são encontrados na União Europeia.
Os Estados Unidos, um grupo pequeno de outros países que inclui Canadá, Austrália e Irlanda e mais
alguns países escandinavos são um caso especial, pois em geral apresentam superávits orçamentários.
Orçamentos estaduais e municipais  O setor governamental total dos Estados Unidos
inclui Estados e governos locais, como também o governo federal. Em 1998, quando os dispêndios
governamentais federais eram de $1.750 bilhão, os dispêndios estaduais locais eram superiores a
$1.000 bilhão. A maioria desses dispêndios se destinava a escolas públicas, faculdades e universidades
($350 bilhões), polícia local, bombeiros e estradas. É o setor governamental total que influencia a
economia agregada. Mas orçamentos estaduais e municipais não são projetados — como ocorre com
o orçamento federal — com a meta específica de estabilizar a economia agregada. Pelo contrário, às
vezes, quando a economia agregada necessita de uma injeção de dispêndios adicionais, Estados e
governos municipais cortam seus dispêndios e déficits. Tal mudança em dispêndios ocorreu durante
a recessão de 1990–1991, quando muitos Estados cortaram dispêndios e aumentaram impostos.

Figura 
13.5  Orçamentos governamentais em alguns países do mundo
em 1999

Países

Japão

União Europeia

Estados Unidos

Alemanha

França

Itália

Reino Unido

Canadá

Outras economias avançadas

África

Oriente Médio e Europa

Ásia

Hemisfério Ocidental

–6 –4 –2 0 2
Superávit/déficit (porcentagem do PIB)

Na maioria dos países, os governos enfrentam déficits orçamentários. Os maiores estão no Japão,
seguido pelo Oriente Médio e pelo resto da Ásia. Os Estados Unidos e o Canadá apresentam superávits.
Fonte: World Economic­Outlook, outubro de 1998, Fundo Monetário Internacional, Washington,
D.C., Tabelas A15 e A2.
aaa
US5E – Fig30.05
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Elementos básicos de macroeconomia 33

Questões de revisão
O que é política fiscal e quem a determina? Ela é projetada para influenciar o quê?
Qual é o papel especial do presidente na criação da política fiscal?
Qual é a linha de tempo para o orçamento federal norte-americano a cada ano? Quando um
ano fiscal começa e quando termina?
O orçamento federal do governo norte-americano hoje está em superávit ou déficit?
Agora que você sabe o que é orçamento federal e quais são os itens principais de receita e
despesa, é hora de estudar os efeitos da política fiscal. Começaremos pela análise de seus efeitos
nos planos de despesa quando o nível de preço é fixo. Você verá que a política fiscal possui múltiplos
efeitos, como os multiplicadores de despesa. Então estudaremos as influências da política fiscal na
demanda agregada e no superávit agregado e veremos seu efeito no PIB real e no nível de preço a
curto e a longo prazo.
Multiplicadores de política fiscal
Ações de política fiscal podem ser automáticas ou seletivas. Política fiscal automática é uma
mudança na política fiscal ativada pelo estado da economia. Por exemplo, um aumento no de-
semprego desencadeia um aumento automático em pagamentos para o desempregado. Uma
queda na renda ativa gera uma diminuição automática em arrecadação de impostos. Ou seja,
trata-se de um tipo de política fiscal que se ajusta automaticamente. Política fiscal seletiva é uma
ação política iniciada por um ato do Congresso. Requer uma mudança na legislação fiscal ou em
algum programa de gastos. Por exemplo, um aumento na taxa de imposto de renda e no gasto
de defesa são ações de política fiscal seletiva. Ou seja, política fiscal seletiva é uma ação de polí-
tica deliberada.
Começaremos estudando os efeitos de mudanças seletivas em gastos governamentais e im-
postos. Para enfocar o essencial, vamos partir de um modelo de economia mais simples do que
aquele em que vivemos, no qual não haja nenhum comércio internacional e cujos impostos sejam
todos impostos fixos (não variando com o PIB real). O governo os fixa, e eles sofrem alterações
apenas a partir de medidas governamentais, ou seja, em nosso modelo hipotético, os impostos não
variam automaticamente com o estado da economia.
O exemplo principal de um imposto de montante fixo é o imposto territorial, que depende do
valor da propriedade que uma pessoa ocupa. Mas, diferentemente do imposto de renda, não se
altera simplesmente porque a renda de uma pessoa mudou. Usamos impostos fixos em nosso
modelo de economia porque eles tornam mais fáceis de entender os princípios que estamos estu-
dando. Uma vez compreendidos certos princípios básicos, exploraremos a economia real, com co-
mércio internacional e impostos sobre a renda — que variam com o PIB real.
Assim como uma economia real, o modelo que estudamos é bombardeado por dispêndios
flutuantes. Investimentos em edifícios novos, fábricas e equipamentos, assim como inventários,
flutuam devido às oscilações em expectativas de lucro e taxas de juros. Essas flutuações levam a
efeitos multiplicadores que desencadeiam uma recessão ou uma expansão. Se ocorrer recessão,
o desemprego aumenta e as rendas caem. Se uma expansão se torna muito acentuada, pressões
inflacionárias se estabelecem. Para minimizar os efeitos dessas oscilações nos gastos, o governo
poderia reformular suas compras de bens e serviços ou sua política tributária. Mudando qualquer
um desses itens, ele interfere na despesa agregada e no PIB real, mas também em seu déficit ou
superávit orçamentário. Uma ação alternativa de política fiscal é mudar compras e impostos
juntos, de maneira que o equilíbrio orçamentário não se altere. Estudaremos os efeitos iniciais
dessas ações de política fiscal seletiva no curto prazo, partindo de um nível de preços fixo. Cada
uma dessas ações cria um efeito de multiplicador no PIB real. Esses multiplicadores são:
O multiplicador de compras
O multiplicador de impostos fixos
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34  E C O N O M I A d O S E T O R P ú b l ico

O multiplicador de compras governamentais


O multiplicador de compras governamentais é o efeito da ampliação de uma mudança nas
compras do governo de bens e serviços sobre o equilíbrio de despesas e o PIB real. Compras do
governo são um componente de despesa agregada. Assim, quando mudam, a despesa agregada e
o PIB real também mu­dam. Alterações no PIB real induzem a uma mudan­ça em despesa de consumo,
o que gera uma mudança adicional na despesa agregada. Segue-se um processo de multiplicador.
Vejamos um exemplo.
O multiplicador do Cabo Canaveral Antes de a Nasa construir sua principal plataforma
de lançamento espacial no Cabo Canaveral, na Flórida, nos anos 60, tratava-se de um lugar tran-
quilo. A injeção de compras do governo para construir as instalações para lançamento espacial e
pesquisa criou postos de trabalho na região. Como os trabalhadores da construção civil e os fun-
cionários da Nasa gastaram a maioria de suas rendas no local, a despesa de consumo aumentou.
Lojas de varejo e hotéis foram abertos, gerando mais empregos e, no processo, criando rendas
maiores. Essas rendas também foram gastas na área, elevando ainda mais, subsequentemente,
gastos e rendas. Por fim, dispêndios e rendas deixaram de subir, mas permaneceram em seus
novos e elevados níveis.
A magnitude do multiplicador A Tabela 13.2 ilustra o multiplicador de compras do
governo com um exemplo numérico. A primeira coluna lista vários ní­veis de PIB real. Nossa tarefa
é achar a despesa de equilíbrio e a mudança no PIB real quando as compras do governo mudam.
A segunda coluna mostra os impostos, fixados em $0,5 trilhão, independentemente do nível de
PIB real. (Partindo assim de uma situação hipotética, torna-se mais fácil manter a atenção na ideia
principal e elaborar os respectivos cálculos.) A terceira coluna calcula a renda disponível. Como
os impostos se mantêm fixos, a renda disponível é igual ao PIB real menos os impostos (no caso,
$0,5 tri­lhão). Por exemplo, na linha b, o PIB real é de $6 trilhões, e a renda disponível está em
$5,5 trilhões. A coluna seguinte mostra a despesa de consumo. No exemplo dado, a propensão
marginal para consumir é 0,75, ou seja: um aumento de $1 em renda disponível gera um au-
mento de 75 centavos em despesa de consumo. Você pode confirmar isso calculando o aumento
em despesa de consumo quando a renda disponível aumenta em $1 trilhão na linha b para a
linha c. A despesa de consumo aumenta em $0,75 trilhão. A coluna seguinte mostra o investi-
mento, que é uma constante de $1 trilhão. A outra coluna indica o nível inicial de compras do
governo, que é de $0,5 trilhão. A despesa agregada planejada é a soma de despesa de consumo,
investimento e compras do governo.
Despesa de equilíbrio e PIB real acontecem quan­do a despesa agregada planejada é igual à
despesa real. No exemplo dado, a despesa de equilíbrio é $6 trilhões (destacada na linha b da tabela.)
As duas colunas finais da tabela mostram o que acontece quando as compras do governo
sobem de $0,5 trilhão para $1 trilhão. A despesa agregada planejada aumenta em $0,5 trilhão a
cada nível de PIB real. No PIB real inicial de $6 trilhões (linha b), a despesa agregada planejada au-
mentou para $6,5 trilhões.
Como a despesa agregada planejada agora exce­de o PIB real, inventários diminuem e empresas
incrementam a produção. Produto, rendas e despesas aumentam. Rendas aumentadas induzem a
um aumento adicional de despesa. Mas o aumento induzido em despesa agregada planejada é
menor que o aumento em renda; desse modo, por fim, um novo equilíbrio é alcançado. O novo
equilíbrio está em um PIB real de $8 trilhões (destacado na linha d).­Um aumento de $0,5 trilhão
em compras do governo elevou a despesa de equilíbrio e o PIB real em $2 trilhões. Então o multi-
plicador de compras do governo é 4. A magnitude do multiplicador depende da propensão margi-
nal a consumir, que, no exemplo dado, é 0,75. A fórmula seguinte mostra a conexão entre o
multiplicador de compras do governo e a propensão marginal a consumir (PMC):

1
Multiplicador
Multiplicador dede comprasdo
compras dogoverno
governo == .
1 − PMC
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E l e m e n t o s b á s i c o s d e m a c r o e c o n o m i a   35

Tabela 13.2   O multiplicador de compras governamentais

Despesa Aumento
Compras agregada nas Nova
PIB Renda Despesa de iniciais do planejada compras do despesa
real Impostos disponível consumo Investimento governo inicial governo agregada
(Y) (T) (Y – T) (C) (I) (G) (C + I + G) (∆G) (C + I + G + ∆G)

(trilhões de dólares)

a 5,0 0,5 4,5 3,75 1,0 0,5 5,25 0,5 5,75


b 6,0 0,5 5,5 4,50 1,0 0,5 6,00 0,5 6,50
c 7,0 0,5 6,5 5,25 1,0 0,5 6,75 0,5 7,25
d 8,0 0,5 7,5 6,00 1,0 0,5 7,50 0,5 8,00
e 9,0 0,5 8,5 6,75 1,0 0,5 8,25 0,5 8,75

Verificaremos essa fórmula usando os números do exemplo anterior. A propensão marginal a


consumir é 0,75; assim, o multiplicador de compras do go­verno é 4. A Figura 13.6 ilustra o multi-
plicador de compras do governo. Inicialmente, a despesa agregada planejada é mostrada pela curva
AE0. Os pontos nessa curva, indicados de a até e, correspondem às linhas da Tabela 13.2. Essa curva
de despesa agregada cruza a linha de 45° no nível de equilíbrio do PIB real, que é $6 trilhões.
Quando as compras do governo aumentam em $0,5 trilhão, a curva de despesa agregada muda
para cima na mesma quantia, em direção a AE1. Com essa nova curva de despesa agregada, au-
menta o equilíbrio do PIB real em $8 trilhões. O aumento do PIB real é quatro vezes o aumento em
compras do go­verno — o multiplicador de compras do governo é, por­tanto, 4.
Você viu que, com o nível de preço fixo, um au­mento de compras do governo eleva também
o PIB real. Mas, para aumentar a produção, é preciso empregar mais pessoas. Assim, no curto prazo,
um aumento em compras do governo pode criar postos de trabalho. Aumentar as compras de bens
e serviços é um modo de que o governo dispõe para tentar estimular a economia. Uma segunda
ação governamental sobre a economia pode ser a tentativa de aumentar o PIB real a partir da di-
minuição dos impostos fixos. Veja­mos como essas ações funcionam.

Figura 
13.6   O multiplicador de compras governamentais
Despesa agregada (trilhões de dólares de 1992)

45° AE1
Um aumento de $0,5 trilhão em
9 compras do governo modifica a e'
AE0
curva AE para cima em $0,5 trilhão…

d' e
8

c' d
7
b' c
... e aumenta
o PIB real em
6 b $2 trilhões.
a'
O multiplicador
de compras do
5 a governo é
1 =4
(1 – 0,75)

0 5 6 7 8 9
PIB real (trilhões de dólares de 1992)

aaa
88820-978-85-8143-632-6_MIOLO.pdf, page 136 @ Preflight Server ( Economia Setor Público_G_Final2.indd ) - 07:07:02 - January 10, 2014 - PG-46

36  E C O N O M I A d O S E T O R P ú b l ico

Inicialmente, a curva de despesa agregada é AE0 e o PIB real é $6 trilhões (no ponto b). Um
aumento de $0,5 trilhão em compras do governo eleva a despesa agregada planejada em cada
nível de PIB real em $0,5 trilhão. A curva de despesa agregada muda para cima, de AE0 para —
mudança paralela. Ao PIB real inicial de $6 trilhões, a despesa agregada planejada é agora $6,5
trilhões. Como é superior ao PIB real, este cresce. O novo equilíbrio é alcançado quando o PIB
real vai a $8 trilhões — o ponto no qual a curva cruza a linha de 45º (em d’). No exemplo dado,
o multiplicador de compras do governo é 4.

O multiplicador de impostos fixos


O multiplicador de impostos fixos é o efeito maximizado de uma mudança no imposto fixo
sobre a despesa de equilíbrio e o PIB real. Um au­men­to no imposto diminui a renda disponível, a
qual, por sua vez, reduz a despesa de consumo. A quan­tia na qual a despesa de consumo inicial-
mente muda é determinada pela propensão marginal a consumir. Em nosso exemplo, essa propen-
são é 0,75 e, assim, uma redução do imposto em $1 aumenta a renda disponível em $1 e eleva a
despesa agregada, inicialmente, em 75 centavos. Essa mudança inicial na despesa agregada apresenta
um multiplicador semelhante ao multiplicador de compras do governo, o qual vimos que é 1/(1 –).
Como um aumento de imposto resulta em uma diminuição na despesa, o multiplicador do imposto
fixo é negativo. E como uma mudança no im­posto fixo muda a despesa agregada, inicialmente,
pela multiplicada pela mudança de imposto, o multiplicador de imposto fixo é

− PMC
Multiplicador
Multiplicadorde
deimposto
imposto fixo
fixo == .
1 − PMC
Em nosso exemplo, a propensão marginal a consumir é 3/4; assim, o multiplicador de imposto fixo é
3

Multiplicador
Multiplicadordedeimposto
imposto fixo
fixo == 4 = −3.
3
1−
4
A Figura 13.7 ilustra o multiplicador de imposto fixo. Inicialmente, a curva de despesa agregada
é AE0, e a despesa de equilíbrio é $8 trilhões. Os impostos aumentam em $1 trilhão, e a renda
disponível declina por essa quantia. Com uma propensão marginal a consumir (PMC) de 3/4, a
despesa agregada diminui inicialmente em $0,75 trilhão e a curva de despesa agregada muda para
baixo, para AE1. A despesa de equilíbrio e o PIB real declinam em $3 trilhões, indo de $8 para $5
trilhões. O multiplicador de imposto fixo é –3.
Pagamentos de transferência em um montante fixo  O multiplicador de imposto
fixo também revela os efeitos de uma mudança em pagamentos de trans­fe­­rência em um montante
fixo. Pagamentos de transferência são como impostos negativos; assim, um aumento nesses pagamen-
tos funciona como uma diminuição de impostos. Como o multiplicador de imposto é negativo, uma
diminuição de impostos ele­va a despesa. Um aumento em pagamentos de transfe­rência também faz
subir a despesa. Assim, o multiplicador de pagamentos de transferência, em um montante fixo, é po-
sitivo. Ou seja:

Multiplicador de pagamentos de PMC


Multiplicador de pagamentos de transferência = .
transferência em um montante
em um montantefixo
fixo =
1 − PMC
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E l e m e n t o s b á s i c o s d e m a c r o e c o n o m i a   37

Figura  13.7  O multiplicador de impostos fixos

Despesa agregada (trilhões de dólares de 1992)


45° AE0
9 Um aumento de imposto de
$1 trilhão desloca a curva AE para
baixo, em $0,75 trilhão… AE1
a
8

7
… e aumenta
o PIB real em
$3 trilhões.
6 O multiplicador
de imposto é
–0,75 = –3
5 (1 – 0,75)
b

0 5 6 7 8 9
PIB real (trilhões de dólares de 1992)

Inicialmente, a curva de despesa agregada é AE0 e a despesa de equilíbrio está em $8 trilhões.


A propensão marginal para consumo é 0,75. O imposto fixo aumenta em $1 trilhão, então
a renda cai em $1 trilhão. A diminuição na despesa agregada é calculada multiplicando-se
aaa
essa mudança na renda disponível pela propensão marginal a consumir, ou seja: $1 trilhão x
US4E – Fig29.07
0,75 = $0,75 trilhão. A curva de despesa agregada desloca-se para baixo nesta quantia, para
AE1. A despesa de equilíbrio diminui em $3 trilhões, indo de $8 trilhões para $5 trilhões. O
multiplicador de imposto fixo é –3.

Impostos induzidos e gastos do governo com benefícios


Nos exemplos que estudamos até agora, os impostos são fixos. Mas, na realidade, impostos lí-
quidos (impostos menos pagamentos de transferência) variam de acordo com o estado da economia.
Quanto à receita do orçamento, a legislação tributária define as taxas de imposto a serem
pagas, não o imposto total. O imposto total a ser pago depende das taxas de imposto e das rendas.
Entretanto, as rendas variam com o PIB real, e, assim, dele depende a receita tributária. Impostos
que variam com o PIB real são chamados de impostos induzidos. Quando a economia se expande,
os impostos induzidos aumentam porque o PIB real sofre elevação; quando ela está em recessão,
impostos induzidos diminuem porque o PIB real também se reduz.
Quanto à despesa do orçamento, o governo criou programas que autorizam pessoas e em-
presas, devidamente qualificadas, a receberem benefícios. O gasto em tais programas é chamado
de gasto do governo em benefícios e resulta em pagamentos de transferência que dependem da
situa­ção econômica de indivíduos e empresas. Quando a economia está em recessão, o desem-
prego é alto, o número de pessoas que experimentam dificuldades econômicas aumenta e mais
empresas e propriedades rurais enfrentam tempos difíceis, os gastos com benefícios aumentam.
Quando a economia volta a se expandir, esses gastos diminuem.
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38  E C O N O M I A d O S E T O R P ú b l ico

Impostos induzidos e pagamentos de benefícios diminuem os efeitos de multiplicador nas


mudanças de compras governamentais e impostos fixos. A razão para isso é que impostos induzidos
e pagamentos de benefícios debilitam o vínculo entre PIB real e renda disponível e assim amenizam
o efeito de uma mudança no PIB real sobre a despesa de consumo. Quando o PIB real aumenta,
impostos induzidos sobem, e os pagamentos de benefícios diminuem; assim, a renda disponível não
aumenta tanto quanto o crescimento no PIB real. Como resultado, a despesa de consumo não se
eleva tanto quanto poderia e o efeito multiplicador é reduzido.
Até que ponto impostos induzidos e pagamentos de benefícios diminuem o multiplicador
depende da taxa de imposto marginal, que é a proporção de um dólar adicional de PIB real que flui
ao governo em impostos líquidos (impostos menos pagamentos de transferência). Quanto mais alta
a taxa de imposto marginal, maior é a proporção de um dólar adicional de PIB real que é pago ao
governo e menor é a mudança induzida em despesa de consumo. Quan­to menor a mudança em
despesa de consumo induzida por uma mudança no PIB real, menor é o efeito multiplicador de uma
mudança em compras do governo ou impostos fixos.

Comércio internacional e multiplicadores de política fiscal


Nem toda a despesa realizada nos Estados Unidos é feita em bens e serviços norte-americanos.
Uma parte dela é oriunda de importações de bens e serviços estrangeiros. As importações afetam
os multiplicadores de política fiscal, exatamente da mesma maneira como influenciam o multiplica-
dor de despesa, e não há ne­nhum princípio novo envolvido. Até que ponto um dólar adicional de
PIB real é gasto em importações é determinado pela propensão marginal a importar. A despesa em
importações não gera PIB real nos Estados Unidos e não conduz a um aumento em despesa de
consumo norte-americano. Quanto maior a propensão marginal a importar, menor é o aumento na
despesa de consumo induzida por um aumento no PIB real e menores são os multiplicadores de
compras do governo e de imposto fixo. Até agora, estudamos a política fiscal seletiva. Vejamos,
então, os estabilizadores automáticos.

Estabilizadores automáticos
Estabilizadores automáticos são mecanismos que estabilizam o PIB real sem a ação direta do
governo. Seu nome foi emprestado da engenharia e evoca imagens de amortecedores, termostatos
e dispositivos sofisticados que mantêm estáveis aviões e navios em condições turbulentas. Estabili-
zadores fiscais automáticos são uma consequência de impostos de renda e pagamentos de trans-
ferência que automaticamente flutuam com o PIB real. Se este começa a diminuir, a receita
tributária cai e os pagamentos de transferência aumentam. Essas mudanças em impostos e paga-
mentos de transferência afetam a economia e o dé­ficit orçamentário do governo. Vamos estudar o
déficit orçamentário durante o ciclo econômico.
Déficit orçamentário no ciclo econômico  A Figura 13.8 ilustra o ciclo econômico
e as flutuações no déficit orçamentário desde 1975. A parte (a) mostra as flutuações do PIB real em
torno do PIB potencial. A parte (b) indica o déficit orçamentário federal. Ambas as partes destacam
períodos de recessão (ressaltados pela linha sombreada nos gráficos). Comparando as duas partes
da figura, você pode observar a relação entre o ciclo econômico e o déficit orçamentário. Co­mo
regra, quando a economia está em fase de ex­pan­são de um ciclo econômico, o déficit orçamentá-
rio declina. (Na figura, um déficit em declínio significa um déficit muito próximo de zero.) Como a
expansão se desacelera, antes de a recessão começar, o déficit orçamentário aumenta. Ele continua
aumentando durante a recessão e por um período adicional, depois que ela termina. Então, quan­do
a expansão está prestes a acontecer, o déficit orçamentário recua novamente.
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PIB
5 potencial

escala proporcional)
E l e m e n t o s 4 b á s i c o s d e m a c r o e c o n o m i a   39

1975 1980 1985 1990 1995 2000


Ano

Figura  13.8   O ciclo econômico e o déficit orçamentário


(a) Crescimento e recessões

8
2

7
Superávit
0
Déficit
PIB real
PIB real (trilhões de dólares de 1992,

Déficit orçamentário federal


–2
PIB

(porcentagem do PIB)
5 potencial
escala proporcional)

–4

–6
1975 1980 1985 1990 1995 2000
1975 1980 1985 1990 1995 2000
Ano
Ano
(b) Déficit orçamentário federal
(a) Crescimento e recessões

2
Como o PIB real flutua em torno do PIB potencial (parte (a)), o déficit orçamentário também
flutua (parte (b)). Durante uma recessão (anos sombreados), a receita
Superávit aaa
tributária diminui, e os
0
pagamentosDéficit de transferência e o déficit orçamentário aumentam. O déficit também aumenta
US5E – Fig30.08
antes de uma recessão — à medida que o crescimento do PIB real se desacelera — e de­pois
Déficit orçamentário federal

de uma–2
recessão, antes que o crescimento do PIB real se acelere.
(porcentagem do PIB)

Fonte: Economic Report of the President, 1999, e cálculos do autor.


–4

O déficit orçamentário flutua com o ciclo econômico porque as receitas tributárias e os dispên-
–6
dios oscilam com 1975 o 1980
PIB real. 1985Como
1990este1995
aumenta
2000 durante uma expansão, a receita tributária aumenta

e os pagamentos Ano
de transferência diminuem; assim, o déficit orçamentário automaticamente diminui.
Como o PIB real cai durante uma recessão, a receita tributária diminui e os pagamentos de
(b) Déficit orçamentário federal

transferência aumentam; assim, o déficit orçamentário automaticamente aumenta.


Flutuações em investimento e exportações exercem um efeito de multiplicador sobre o PIB real.
Entretanto, flutuações automáticas na receita tributária (e o déficit orçamentário) atuam como um
estabilizador automático:aaa elas diminuem as oscilações na renda disponível e reduzem o efeito mul-
US5E – Fig30.08
tiplicador, atenuando expansões e recessões.
Equilíbrios cíclicos e estruturais Como o equilíbrio do orçamento governamental flutua
com o ciclo econômico, torna-se necessário um método de cálculo para o equilíbrio que indique se
se trata de um fenômeno cíclico temporário ou persistente. Um superávit ou déficit temporário e
cíclico desaparece quando o pleno emprego retorna. Um superávit ou déficit persistente exige uma
ação governamental para inter­rompê-lo.
Para determinar se o equilíbrio do orçamento é temporário e cíclico ou persistente, os economis-
tas desenvolveram os conceitos de equilíbrio orçamentário estrutural e de equilíbrio orçamentário
cíclico. O su­perávit ou déficit estrutural é o equilíbrio or­çamentário que ocorreria se a economia estivesse
a pleno emprego e o PIB real fosse igual ao PIB potencial. O superávit ou déficit cíclico é o superávit
ou déficit efetivo menos o superávit ou dé­ficit estrutural. Isto é, o superávit ou déficit cíclico é a parte
do equilíbrio orçamentário que surge simplesmente porque o PIB real não se iguala ao PIB potencial.
Por exemplo, suponha um déficit orçamentário de $100 bilhões e que os economistas deter-
minaram que há um déficit estrutural de $25 bilhões. Então há um déficit cíclico de $75 bilhões.
A Figura 13.9 ilustra os conceitos de superávit ou déficit cíclico e superávit ou déficit estrutural.
A curva azul-escura mostra os dispêndios governamentais. Essa curva se inclina para baixo porque
quanto mais alto o nível de PIB real, menor é o nível dos pagamentos de transferência e menor é o
nível de dispêndios governamentais. A curva azul-clara mostra as receitas tributárias. Essa curva se
inclina para cima porque a maioria dos componentes de receita tributária cresce à medida que as
rendas e o PIB real aumentam.
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1,5 Déficit
cíclico Superávit
cíclico
1,4

40 ECONOMIA dO SETOR PúblICO


Dispêndios

0 5 6 7 8 9
PIB real (trilhões de dólares de 1992)
Figura 13.9 Superávits e déficits cíclicos e estruturais
(a) Déficit cíclico e superávit cíclico
equilíbrio orçamentário (trilhões de dólares de 1992)

2,0
Dispêndios, receita tributária e

Y*

Dispêndios, receitas tributárias


e equilíbrio orçamentário (trilhões de dólares de 1992)
2,0
Y*0 Y*1 Y*2

Receitas Receitas
tributárias tributárias

1,5 Déficit Déficit


cíclico Superávit 1,5
cíclico estrutural Superávit
1,4 estrutural
1,4

Dispêndios
Dispêndios
0 5 6 7 8 9
0 5 6 7 8 9
PIB real (trilhões de dólares de 1992)
PIB real (trilhões de dólares de 1992)
(a) Déficit cíclico e superávit cíclico
(b) Déficit estrutural e superávit estrutural
Dispêndios, receitas tributárias
e equilíbrio orçamentário (trilhões de dólares de 1992)

2,0
Y*0 Y*1 Y*2

Na parte (a), o PIB potencial é de $7 trilhões. Quando o PIB real é menor que o PIB potencial, o
orçamento está em um déficit cíclico. Quando o PIB real excede o PIB potencial, o orçamento
Receitas
encontra‑se em um superávit cíclico.tributárias
O governo possui um orçamento equilibrado quando o
PIB real se iguala ao PIB potencial. Na parte (b), quando o PIB potencial é de $6 trilhões, há um
déficit
1,5
estrutural.
Déficit Mas quando o PIB potencial é de $8 trilhões, tem‑se
aaa um superávit estrutural.
estrutural Superávit
estrutural
1,4
Na Figura 13.9(a), o PIB potencial é de $7 trilhões. Se o PIB real se iguala ao PIB potencial, o
US5E – Fig30.09
governo tem um orçamento equilibrado. Dispêndios e receita tributária são iguais em cada um
deles, somando $1,4 trilhão. Se o PIBDispêndios real é menor que o PIB potencial, os dispêndios excedem a
receita tributária e há um déficit cíclico. Se o PIB real apresenta-se maior que o PIB potencial, os
0 5 6 7 8 9
dispêndios são menores que PIB reala receita
(trilhões tributária
de dólares de 1992) e ocorre um superávit cíclico. Na Figura 13.9(b), o
PIB (b)potencial cresce,
Déficit estrutural mas
e superávit a curva de receita tributária e a curva de despesas não mudam. Quando
estrutural
o PIB potencial é de $6 trilhões, há um déficit estrutural. Quando o PIB potencial cresce para $7
trilhões, ocorre um equilíbrio estrutural zero (nem déficit nem superávit). E quando o PIB potencial
cresce para $8 trilhões, há um superávit estrutural. O orçamento federal norte-americano passou
por um déficit estrutural que começou em meados dos anos 70 e foi até meados da década de 90.
Ou seja, mesmo se a economia estivesse em pleno emprego, o orçamento estaria em déficit. Pior:
o déficit estrutural era tão grande que até mesmo no pico do ciclo econômico o orçamento estava
em déficit. Ao término aaados anos 90, emergiu um superávit orçamentário. Mas ainda não estava
claro se tal superávit era estrutural. A economia encontrava-se acima do pleno emprego; assim,
portanto, ele poderia US5Eser – cíclico.
Fig30.09

Questões de revisão
O que são o multiplicador de compras do governo e o multiplicador de imposto fixo? Como
esses multiplicadores funcionam?
Qual efeito de multiplicador é maior: o de uma mudança em compras do governo ou o de uma
mudança em imposto fixo? Por que um é maior que o outro?
Como o imposto de renda e o comércio internacional influenciam no tamanho dos multiplica-
dores de política fiscal? Como o imposto de renda e os programas de pagamento de benefícios
funcionam como estabilizadores automáticos para amortecer o ciclo econômico?
Como saber se um déficit orçamentário precisa de ação governamental para interrompê-lo?
Sua próxima tarefa é ver como, ao longo do tempo e com alguns ajustes de nível de preço,
esses efeitos de multiplicador se alteram.
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E l e m e n t o s b á s i c o s d e m a c r o e c o n o m i a   41

Multiplicadores de política fiscal e nível de preço


Vimos como o PIB real responde a mudanças na política fiscal quando o nível de preço é fixo e
todos os ajustes que acontecem são voltados para gasto, renda e produção. O período no qual essa
resposta ocorre é muito pequeno. Uma vez que a produção começa a mudar — indiferentemente de
au­mentar ou diminuir —, os preços também co­me­çam a mudar. O nível de preço e o PIB real se alte-
ram junto, e a economia se move para um novo equilíbrio a curto prazo. Para estudarmos as mudan-
ças simultâneas no PIB real e no nível de preço, que são o resultado da política fiscal, utilizamos o
modelo de demanda agregada-oferta agregada. No longo prazo, tanto o nível de preço quanto a taxa
de salário mone­tário respondem à política fiscal. À medida que essas mudanças adicionais acontecem,
a economia se movimenta gradualmente para um novo equilíbrio. Também utilizamos o modelo de
demanda agregada-oferta agregada para estudar esses ajustes. Comecemos verificando os efeitos da
política fiscal na demanda agregada e a curva de demanda agregada.

Política fiscal e demanda agregada


Você aprendeu sobre a relação entre demanda agregada, despesa agregada e despesa de
equilíbrio. Agora deve utilizar o que aprendeu para calcular o que acontece com a demanda agre-
gada, o nível de preço, o PIB real e os empregos quando a política fiscal muda. Começaremos ob-
servando os efeitos de uma mudança na política fiscal sobre a demanda agregada.
A Figura 13.10 mostra os efeitos de um aumento nas compras do governo sobre a demanda
agregada. Inicialmente, a curva de despesa agregada é AE0 na parte (a), e a curva de demanda
agregada é na parte (b). O nível de preços é 110, o PIB real é de $7 trilhões e a economia está no
ponto a em ambas as partes da figura. Agora suponha que as compras do governo aumentem em
$0,5 trilhão. A um nível de preço constante de 110, a10curva de despesa agregada desloca-se para
Despesa agregada (trilhões de dólares de 1992)

AE
cima, em direção a AE1. Essa curva cruza a linha de 45° em uma despesa
Um aumento de equilíbrio
em compras
45°
de $9 trilhões 1

do governo...
no ponto b. Esse valor é a quantia agregada de bens e serviços exigida a um nível de preço de 110, AE 0

como mostrado no ponto b na parte (b). O ponto b situa-se 9


em uma nova curva b
de demanda agre-
gada que se desloca para a direita, para DA1.
O multiplicador de compras do governo determina a distância na qual a curva de demanda agregada
se desloca para a direita. Quanto maior o multiplicador, maior
8
é o deslocamento na curva de de­manda
agregada resultante de determinada mu­dança em compras do governo. No exemplo da­do, um acréscimo
de $0,5 trilhão em compras do go­verno produz um aumento de $2 trilhões na quantidade agregada de
7 a
bens e serviços exigida a cada ní­vel de preço. O multiplicador é 4. Assim,...multiplicador...
o au­mento de $0,5 trilhão em
tem um efeito

compras do governo desloca a curva de demanda agregada para a direita, em $2 trilhões.


0 7 8 9 10
Figura 13.10 Compras do governo e demanda agregada
PIB real (trilhões de dólares de 1992)

(a) Despesa agregada


Despesa agregada (trilhões de dólares de 1992)

10 AE1
Nível de preços (deflator do PIB)

45° 150
Um aumento em compras
do governo...
AE0
... que aumenta
b
9 a demanda
130
agregada e
desloca a curva
DA para a direita

8 110 a b

90
7 a ... tem um efeito
multiplicador...
DA1
DA0

0 7 8 9 10
0 7 8 9 10
PIB real (trilhões de dólares de 1992)
PIB real (trilhões de dólares de 1992)
(b) Demanda agregada
(a) Despesa agregada
Nível de preços (deflator do PIB)

150

O nível de preço é 110, a despesa agregada planejada é AE0 (parte (a)) e a demanda agregada é DA0
(parte (b)). Um aumento nas compras...a do
que aumenta
governo desloca a curva AE para
demanda
aaaAE , e o equilíbrio do PIB real
1
130
agregada e US4E – Fig29.10
aumenta para $9 trilhões. A curva dedesloca
demanda
a curva agregada se desloca para a direita, em direção a DA1.
DA para a direita

110 a b

90

DA1
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42  E C O N O M I A d O S E T O R P ú b l ico

A Figura 13.10 mostra os efeitos de um aumento em compras do governo. Mas um resultado


seme­lhante acontece para qualquer política fiscal expansionista. Uma política fiscal expansionista é um
aumento em compras do governo ou uma diminuição em receita tributária. Mas a distância que a curva
DA desloca é menor para um corte de impos­­tos do que para um igual aumento de compras do governo.
A Figura 13.10 também pode ser usada para ilustrar os efeitos de uma política fiscal contra-
cionista — uma diminuição em compras do governo ou um aumento em receita tributária. Nesse
caso, comece no ponto b, em cada parte da figura, e diminua as compras do governo ou aumente
os impostos. A demanda agregada diminui de DA1 para DA0.
O PIB de equilíbrio e o nível de preços no curto prazo Vimos como um aumento em
compras do governo aumenta a demanda agregada. Agora vejamos como isso muda o PIB real e o nível
de preços. A Figura 13.11(a) descreve a economia. A demanda agregada é DA0, e a curva de oferta
agregada de curto prazo é OACP. O equilíbrio está no ponto a, onde a demanda agregada e a curva de
oferta agregada de curto prazo se cruzam. O nível de preço é 110, e o PIB real encontra-se em $7 trilhões.
Um aumento de $0,5 trilhão em compras do governo desloca a curva de demanda agregada
para a direita, de DA0 para DA1. Enquanto o nível de preço está fixado em 110, a economia se
movimenta para o ponto b e o PIB real aumenta para $9 trilhões. Mas, durante o processo de ajuste,
o nível de preços não permanece constante: sobe gradualmente, e a economia se movimenta ao
longo da curva de oferta agregada de curto prazo até atingir o ponto de intersecção da curva de
oferta agregada de curto prazo e a nova curva de demanda agregada — ponto c. O nível de preço
sobe para 116, e o PIB real aumenta somente para $8,6 trilhões.
Quando levamos em conta o efeito do nível de preço, o aumento em compras de governo
ainda exerce um efeito de multiplicador no PIB real, mas o efeito é menor do que seria se o nível
de preços permanecesse constante. Também, quanto mais acentuada for a inclinação da curva de
oferta agregada no curto prazo, maior será o aumento no nível de preços e menores serão o aumento
no PIB real e o multiplicador de compras do governo. No entanto, o multiplicador não é zero.
No longo prazo, o PIB real é igual ao PIB potencial — a economia está em equilíbrio de pleno
em­prego. Quando esses dois PIBs são iguais, um aumento na demanda agregada tem o mesmo
efeito de curto prazo, como acabamos de estudar, mas seu efeito no longo prazo é diferente. O
crescimento na demanda agregada eleva o nível de preços, mas, no longo prazo, deixa o PIB real
inalterado ao mesmo nível do PIB potencial. Para estudar esse caso, vejamos o que acontece se o
governo implementa uma política fiscal expansionista quando o PIB real é igual ao PIB potencial.

Figura  13.11   Política fiscal, PIB real e nível de preço


OALP
Nível de preço (deflator do PIB)

Nível de preço (deflator do PIB)

OACP1
a'
150 150

130 130

OACP OACP0
c c
116 116
a
110 b 110 a

90 DA1 90 DA1

DA0 DA0

0 7 8 8,6 9 10 0 7 8 8,6 9 10
PIB real (trilhões de dólares de 1992) PIB real (trilhões de dólares de 1992)

(a) Política fiscal com desemprego (b) Política fiscal a pleno emprego

Com um nível de preço fixo, a economia poderia


aaa ter se movido para o ponto b. Mas o nível de
US5E –seFig30.11
preço sobe e, no curto prazo, a economia move para o ponto c. O nível de preço aumenta
para 116, e o PIB real aumenta para $8,6 trilhões. No ponto c, o PIB real excede o PIB poten‑
cial e o desemprego está abaixo da taxa natural. A taxa de salário aumenta e, no curto prazo,
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Elementos básicos de macroeconomia 43

diminui a oferta agregada. A curva OACP se desloca para a esquerda, em direção a OACP1, e,
no longo prazo, a economia se move para o ponto a’. O nível de preço sobe para 150, e o PIB
real volta para $7 trilhões.

Expansão fiscal no nível do PIB potencial


Suponha que o PIB real seja igual ao PIB potencial. Isso significa que o desemprego é igual à
taxa natural de desemprego. Mas suponha também que a taxa de desemprego e a taxa natural
estejam altas e que a maioria das pessoas, inclusive o governo, pense, erradamente, que a taxa de
desemprego excede a taxa natural. Nessa situação, o governo tenta abaixar a taxa de desemprego
usando uma política fiscal expansionista.
A Figura 13.11(b) mostra o efeito de uma política fiscal expansionista quando o PIB real é igual
ao PIB potencial. No exemplo dado, o PIB potencial é de $7 trilhões. Aumentos de demanda agregada
deslocam a curva de demanda para a direita, de DA0 para DA1.
O equilíbrio de curto prazo, ponto c, é um equilíbrio acima do nível de pleno emprego. A força
de trabalho está mais do que plenamente empregada e há escassez de trabalho. As taxas de salário
monetário começam a aumentar. Maiores taxas de salário monetário elevam custos, e a oferta
agregada no curto prazo diminui. A curva OACP passa a se desviar para a esquerda, de OACP0
para OACP1. Os movimentos econômicos deslocam para cima a curva de demanda agregada
DA1, para o ponto a’. Por fim, quando forem feitos todos os ajustes nas taxas de salários e no nível
de preço, este será 150 e o PIB real estará, novamente, no nível do PIB potencial, ou seja, $7 trilhões.
O multiplicador, no longo prazo, é zero. Houve uma diminuição temporária na taxa de desemprego
durante o processo que você acabou de ver, porém não uma diminuição permanente. Mas o aumento
do nível de preço é permanente.

Limitações da política fiscal


Como no curto prazo multiplicadores de política fiscal não são nulos, a política fiscal expansio-
nista pode ser usada para aumentar o PIB real e diminuir a taxa de desemprego em uma recessão.
A política fiscal contracionista também pode ser usada, se a economia estiver aquecida demais, para
diminuir o PIB real e ajudar a manter a inflação controlada. O uso da política fiscal, porém, é limitado
por dois fatores.
Primeiro, o processo legislativo é lento, o que significa que é difícil entrar em ação, com polí-
ticas fiscais, de um modo oportuno. A economia poderia ser capaz de se beneficiar, imediatamente,
de um incentivo fiscal, mas o Congresso levaria muitos meses para agir. Então, poderia ser neces-
sária uma solução fiscal completamente diferente.
Segundo, não é sempre fácil determinar se o PIB real está abaixo ou acima do PIB potencial.
Uma mudança na demanda agregada pode deslocar o PIB real para longe do PIB potencial, ou uma
mudança na oferta agregada pode mudar os dois PIBs. Essa dificuldade é séria porque, como você
pôde observar, o incentivo fiscal, quando a economia está em pleno emprego, leva a um aumento
no nível de preço e não tem efeito de longo prazo sobre o PIB real.

Questões de revisão
Como as mudanças no preço influenciam os efeitos do multiplicador de política fiscal sobre o
PIB real?
Quais são os efeitos de longo prazo da política fiscal no PIB real e no nível de preços quando ele
inicialmente é igual ao PIB potencial?
Neste capítulo, até o momento, desconsideramos qualquer efeito potencial da política
fiscal na oferta agregada. No entanto, muitos economistas acreditam que os efeitos da política fiscal
sobre a oferta podem ser decisivos. Vejamos esses efeitos.
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44  E C O N O M I A d O S E T O R P ú b l ico

Política fiscal e oferta agregada


Durante os anos 80, quando Ronald Reagan era o presidente dos Estados Unidos, um grupo de
economistas conhecido como supply riders (aqueles que apoiavam a oferta) tornou-se proeminente.
Esse grupo acreditava que cortes nos impostos fortaleceriam incentivos e aumentariam a oferta agre-
gada. George Bush (pai) chamou tais ideias de “economia de vodu”, e muitos outros analistas mostram-
-se céticos com relação aos argumentos desse grupo. Entretanto, esses argumentos permanecem no
debate político de hoje e são a razão principal da proposta de aplicação de um imposto de alíquota
única que alguns economistas e políticos têm defendido. Usando os conceitos do modelo demanda
agregada-oferta agregada, a argumentação do grupo dos supply riders é que a redução nos impostos
aumenta o PIB potencial. Essa argumentação está correta? Não há nenhuma discordância, entre os
economistas, de que impostos desestimulam e diminuem o PIB potencial. As discordâncias são com
relação aos números. O grupo dos supply riders diz que os efeitos são grandes. Outros afirmam que
eles são irrelevantes, possivelmente muito pequenos para se considerar.
Estudaremos os efeitos dos impostos sobre o PIB potencial e então veremos como os efeitos
sobre a oferta e a demanda, juntos, influenciam o PIB real e o nível de preços.

Política fiscal e PIB potencial


O PIB potencial depende da disponibilidade de trabalho, da quantidade de capital e do estado
Taxa de salário real (dólares por hora)

da tecnologia no nível de pleno emprego. Os impostos podem influenciar todosOT esses três fatores.
+ imposto

O imposto principal a considerar é o imposto de renda. Pela ta­xa­ção sobre as rendasOTdas pessoas
físicas, quando elas trabalham ou poupam, o governo debilita os incentivos para trabalhar e poupar.
O resultado é uma quantidade menor de trabalho e capital e um PIB potencial mais Impostobaixo. Além
disso, o imposto de renda reduz o incentivo para o desenvolvimento de tecnologiasde novas renda que
aumentam a renda. Assim, o ritmo de mudança tecnológica 15 poderia ser reduzido diminuindo a
14
velocidade da taxa de crescimento do PIB potencial. Vejamos o efeito do imposto de renda sobre a
disponibilidade de trabalho e a quantidade de capital.
10
O trabalho e o imposto de renda A disponibilidade de trabalho é determinada pela
DT
demanda e oferta no mercado de trabalho. A Figura 13.12(a) mostra um mercado de trabalho. A
demanda por trabalho é DT, e a oferta é OT. Sem imposto de renda, esse mercado de trabalho
alcança equilíbrio a uma taxa de salário real de $14 por hora, e 230 bilhões de horas de trabalho
por ano são empregados.
0 210 230
Quantidade de trabalho (bilhões de horas por ano)
Figura 13.12   Efeitos do imposto de renda sobre a oferta (segundo os OT, s)
(a) O mercado de trabalho
Taxa de salário real (dólares por hora)

Taxa de juros real (porcentagem ao ano)

OT + imposto OC + imposto
OC
OT

Imposto
Imposto de renda
de renda
15
6
14

10 5

DT

DC

0 210 230 0 13 14
Quantidade de trabalho (bilhões de horas por ano) Quantidade de capital (trilhões de dólares de 1992)
(a) O mercado de trabalho (b) O mercado de capitais

OC + imposto
OC

Imposto
de renda aaa
US4E – Fig29.12
6
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E l e m e n t o s b á s i c o s d e m a c r o e c o n o m i a   45

Na parte (a) o imposto de renda desloca a curva de trabalho, OT, para a esquerda, tornando‑
-se OT + imposto. A taxa de salário aumenta antes do imposto e cai depois, e a quantidade
de trabalho empregada diminui. Na parte (b), o imposto de renda desloca a curva de oferta de
capital, OC, para a esquerda, tornando-se OC + imposto. A taxa de juros sobe antes do im­
posto e cai depois, e a quantidade de capital diminui. Com menos trabalho e menos capital,
o PIB potencial diminui.

Agora suponha que um imposto de renda seja introduzido. Ele debilita o incentivo para traba-
lhar e diminui a oferta de trabalho. A curva de oferta se desloca para a esquerda, tornando-se OT
+ imposto. Com essa nova oferta mais baixa de emprego, a taxa de salário anterior ao imposto sobe
para $15 por hora e a quantidade de trabalho empregada diminui para 210 bilhões de horas por
ano. A taxa de salário antes do imposto sobe, mas a taxa de salário posterior ao imposto cai (no
caso da Figura 13.12(a), ela diminui para $10 por hora).
Capital e imposto de renda A quantidade de capital é determinada por meio da demanda
e oferta no mercado de capitais. A Figura 13.12(b) mostra o mercado de capitais. A demanda para
capital é DC, e a oferta é OC. Sem imposto de renda, o mercado de capitais alcança equilíbrio a
uma taxa de juros real de 5 por cento ao ano e $14 trilhões de capital estão disponíveis. Agora
considere os efeitos de um imposto sobre a renda advinda do capital. O imposto de renda que
debilita o incentivo para poupar diminui a oferta de capital. A curva de oferta se desloca para a
esquerda, transformando-se em OC + imposto. A taxa de juros anterior ao imposto sobe para 6 por
cento ao ano, e a quantidade de capital cai para $13 trilhões. A taxa de juros antes do imposto
sobe, mas após o imposto ela cai (no caso da Figura 13.12, ela cai para 4 por cento ao ano).
PIB potencial e OALP Como o imposto de renda diminui as quantidades de equilíbrio
de trabalho e capital, também faz cair o PIB potencial. Mas este determina a oferta agregada de
longo prazo. Assim, o imposto de renda diminui a oferta agregada de longo prazo e desloca a curva
OALP para a esquerda.

Efeitos da oferta e da demanda


Agora consideremos conjuntamente os efeitos da política fiscal sobre a oferta e a demanda. A
Figura 13.13(a) mostra os prováveis efeitos de um corte de imposto: aumento da demanda agregada
e deslocamento da curva DA para a direita, da mesma maneira que antes. Mas um corte de impos-
tos que aumente o incentivo para trabalhar e poupar também elevará a oferta agregada. Ele desloca
as curvas de oferta agregada de longo prazo e curto prazo para a direita. Aqui enfocamos o curto
prazo e mostramos o efeito na curva de OACP, que se desloca para a direita, transformando-se em
OACP1. No exemplo dado, o corte de imposto exerce um efeito significativo na demanda agregada
e um efeito pequeno na oferta agregada. A curva de demanda agregada se desloca para a direita
por uma quantia maior do que a do deslocamento para a direita da curva de oferta agregada de
curto prazo. O resultado é uma elevação no nível de preço e um aumento no PIB real. Observe,
porém, que o nível de preço subiria menos e o PIB real aumentaria mais do que ocorreria se não
houvesse nenhum efeito de oferta.
A Figura 13.13(b) mostra os efeitos previstos pelo grupo dos supply-siders. Um corte de
imposto ainda interfere bastante na demanda agregada, mas tem um efeito semelhantemente
grande sobre a oferta agregada. A curva de demanda agregada e a curva de oferta agregada,
ambas no curto prazo, deslocam-se para a direita em quantias semelhantes. Nesse caso particular,
o nível de preço permanece constante e o PIB real aumenta. Um aumento ligeiramente maior em
oferta agregada teria gerado uma queda no nível de preço — uma possibilidade que alguns do
grupo dos supply-siders acreditam ser possível. O ponto de vista geral com o qual todos concor-
dam é que um corte de impostos que fortalece incentivos aumenta mais o PIB real e é menos
inflacionário do que uma política fiscal expansionista, que não altera incentivos ou que os debilita.
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46 ECONOMIA dO SETOR PúblICO

Figura 13.13 Duas visões dos efeitos da política fiscal sobre a oferta
Nível de preços (deflator do PIB)

Nível de preços (deflator do PIB)


A política fiscal exerce um efeito A política fiscal exerce um
150 150 efeito grande na DA e
grande na DA e um efeito
pequeno na oferta. um efeito colateral
significativo na oferta.
OACP0 OACP0
130
OACP1

115 OACP1

110 110

90 90

DA1
DA0 DA1

DA0

0 7 8 8,8 9 10 0 7 8 9 10
PIB real (trilhões de dólares de 1992) PIB real (trilhões de dólares de 1992)

(a) Uma visão tradicional (b) A visão da oferta (supply-side)

Um corte de impostos aumenta a demanda agregada e desloca a curva DA para a direita, de


DA0 a DA1 (ambas as partes). Tal mudança de política
aaaa também apresenta um efeito sobre a
oferta. Se esse efeito é pequeno, a curva OACP se desloca para a direita, de OACP0 a OACP1
US4E – Fig29.13
na parte (a). O efeito sobre a demanda domina o efeito sobre a oferta, o PIB real aumenta e o
nível de preço sobe. Se o efeito de oferta de um corte de imposto é grande, a curva OACP se
desloca para OACP1 na parte (b). Nesse caso, o efeito de oferta é tão grande quanto o efeito
de demanda. O PIB real aumenta, e o nível de preço permanece constante. Mas se o efeito de
oferta fosse maior do que o efeito de demanda, o nível de preço de fato cairia.

Questões de revisão
Quais são os efeitos de incentivo que o imposto de renda tem sobre a oferta de trabalho e a
oferta de capital e como um corte na taxa de imposto de renda afetaria o PIB potencial?
Visto que um corte de imposto aumenta tanto a oferta agregada quanto a demanda agregada,
podemos afirmar se um corte de imposto aumentaria ou diminuiria o PIB real e o nível de preço?
Você viu como a política fiscal influencia o PIB real e o PIB potencial. Sua próxima tarefa é es-
tudar a política monetária. Começamos pela descrição do sistema monetário de uma economia
moderna.

Essência do artigo
O orçamento federal está em superávit, mas o governo federal possui uma dívida grande.
A dívida pública era de $3,7 trilhões ou 45 por cento do PIB em janeiro de 1999.
A dívida nacional foi construída durante décadas de gasto deficitário e ainda constitui um
fardo econômico grande.
A maioria dos economistas concorda que uma diminuição na dívida interna aumentará a
poupança e o investimento, criará empregos e elevará a produtividade e a taxa de crescimento
econômico.
Mas, politicamente, é difícil alcançar um compromisso duradouro para a redução do déficit.
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entrelinhas Elementos básicos de macroeconomia 47

Análise econômica
Déficit e dívidas
Para aumentar a velocidade de pagamento da dívida interna, o governo precisa aumentar
os impostos ou cortar as compras de bens e serviços. Os efeitos de curto prazo do pagamento
da dívida trabalham em direção oposta aos efeitos de longo prazo.
A Figura 1 mostra os efeitos de curto prazo. Inicialmente, a curva de despesa agregada
planejada é AE0. A despesa de equilíbrio e o PIB real são de $7,6 trilhões, ponto em que a
curva AE cruza a linha de 45º. O PIB potencial também é de $7,6 trilhões (uma suposição).

T H E N E W Y O R K T I M E S , 31 DE JANEIRO DE 1999

O déficit desapareceu, mas não


a dívida nacional
POR RICHARD W. STEVENSON
Congresso e a Casa Branca dão-se ao ■
luxo de debater o que fazer a respeito.
Washington — O déficit orçamentário “Em última análise, a redução
federal desapareceu, transformado da dívida tem sido atropelada, no
por uma economia forte em uma processo político, pelo dispêndio do
seqüência de superávits projetados governo”, diz John F. Cogan, consul-
que devem crescer mais durante os tor sênior do Instituto Hoover e fun- ■
anos futuros — pelo menos segundo cionário da equipe orçamentária dos
a previsão fiscal em Washington. governos Reagan e Bush. “Atingir uma
Mesmo eliminando-se o déficit, política contínua de redução da dívi-
não acabam as dificuldades finan- da é, no mínimo, muito difícil.”
ceiras do governo, porém inicia-se Há várias maneiras de se medir
um novo debate sobre como a política a dívida nacional, mas o mais efi- grande.
fiscal deveria ser usada para o futuro ciente é olhar a dívida pública — indi-
desenvolvimento da nação. víduos, empresas de Wall Street e

É como uma família que, depois bancos de todo o mundo que com-
de gastar mais do que ganha, de praram títulos vendidos pelo Depar-
repente, no final do mês, descobre que tamento do Tesouro. Há atualmente
ganhou mais do que gastou — grande $3,7 trilhões em dívida pública, o que
novidade, certamente, mas uma mu- é igual a 45 por cento da produção
dança que não livra a família do débito total da economia. (...)
que cresceu durante os tempos difíceis Em termos econômicos, é fácil
e da decisão de pagar ou não esse responder à questão sobre se a re-
débito. dução de dívida deveria ser uma prio-
Washington nunca correu muito ridade superior a cortes nos impos-
risco de ultrapassar o limite de seus tos ou aumentos de gastos. A maioria
cartões de crédito. Mas a dívida na- dos economistas concorda que pagar

cional foi criada durante décadas de a dívida interna é o modo mais se-
gastos deficitários — o governo fede- guro de estimular a poupança e o
ral não passou por superávits estáveis investimento, quer mais empregos,
desde os anos 20 — e o déficit per- melhorar a produtividade e permitir
manece um marco econômico de pro- que a economia cresça mais rapida-
porções consideráveis. Só agora o mente. (...)

© 1999 The New York Times. Reimpresso com permissão.


Proibida nova reprodução.
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48 ECONOMIA dO SETOR PúblICO

Agora o governo federal decide aumentar o ritmo do pagamento da dívida. Eleva impostos
e corta suas compras de bens e serviços. A curva AE se desloca para baixo, em direção a AE.
O PIB real diminui, e a economia se move para baixo do nível de pleno emprego.
O resultado ilustrado na Figura 1 é temporário. O nível de preços sobe não tão rapidamente,
a taxa de juros real cai e a economia retorna para o pleno emprego. Com uma taxa real de
juros mais baixa, aumentam o investimento e o crescimento econômico.
A Figura 2 mostra os efeitos de longo prazo depois de dez anos — em 2009 — se as taxas
de crescimento econômico aumentarem de 3 para 4 por cento ao ano.
Com um crescimento de 3 por cento ao ano, o PIB potencial aumentará para $10,2 trilhões
em 2009. Com um crescimento de 4 por cento ao ano, o PIB potencial aumentará para
$11,2 trilhões em 2009.
Para estar a pleno emprego em 2009, a despesa agregada deve ser AE0 se o PIB potencial
for $10,2 trilhões, e AE0 se o PIB potencial for $11,2 trilhões.
O nível de investimento é maior em AE1 do que em AE0, e é esse fato que permite que a
economia se expanda mais rapidamente e alcance o nível maior de PIB potencial. O efeito
do déficit no crescimento é provavelmente pequeno. Não há, como o artigo sugere, um
consenso assim tão geral entre os economistas a respeito da relação entre o déficit e o
crescimento. E a maioria deles não considera a dívida um fardo pesado.

Você opina
Você acha que a dívida deveria ser paga mais rapidamente ou de maneira mais lenta do que
o governo planeja? Por quê?
Você acha que a dívida deveria ser paga com maior ênfase no aumento de imposto do que
no corte de gastos? Por quê?
Despesa agregada (trilhões de dólares de 1992)
Despesa agregada (trilhões de dólares de 1992)

45˚
PIB 45˚
potencial
AE1
AE0
11,2
AE0
AE1
7,6
Aumento do
investimento

Um aumento de 10,2
7,4 impostos e um corte PIB potencial PIB potencial
nas compras reduzem em 2009 com em 2009 com
a despesa agregada 3 por cento 4 por cento
planejada, diminuindo de crescimento de crescimento
o PIB real ao ano ao ano
0 10,2 11,2
0 7,4 7,6 PIB real (milhões de dólares de 1992)
PIB real (milhões de dólares de 1992)
1992
Figura 2 O efeito de longo prazo do pagamento da dívida
Figura 1 O efeito de curto prazo do pagamento da dívida

1.5.2 Conceitos de déficit público


O déficit público representa o saldo negativo das contas do governo, na relação entre a
receita (arrecadação) e as despesas (gastos públicos).
Conforme a amplitude de abrangência que se deseja do resultado, o déficit público pode ser
denominado déficit primário ou déficit nominal. O déficit primário representa o saldo negativo na
relação entre receitas e despesas sem considerar os juros ou correção monetária ou cambial das
dívidas anteriores. Assim, considera‑se apenas o resultado das receitas e despesas realizadas no
período em análise. Ao contrário, o déficit nominal representa o saldo negativo na relação entre
receitas e despesas totais, incluídos os juros e as correções de dívidas anteriores. Observa‑se que
quando o saldo for positivo, teremos superávit. É importante, também, atentarmo‑nos para a dife‑
rença entre déficit público e dívida pública. Essa representa o somatório do valor que o governo
deve, ao passo que aquele, como vimos, refere‑se à diferença dos saldos nos períodos analisados.
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E l e m e n t o s b á s i c o s d e m a c r o e c o n o m i a   49

1.5.3 Formas de financiamento do déficit público


O financiamento do déficit público pode se dar por meio de medidas tradicionais de política
fiscal e por meio de recursos extrafiscais. Através das medidas de política fiscal, o governo pode
elevar os impostos para arrecadar mais ou realizar corte de gastos públicos. Em ambos os casos, o
objetivo é dispor de mais recursos para a cobertura do déficit. O financiamento por meio de recur‑
sos extrafiscais pode se dar por meio de emissão de moeda e vendas de títulos da dívida pública
ao setor privado. No primeiro caso, trata-se de um recurso inflacionário, porém não gera aumento
do endividamento público. No segundo caso, o governo troca títulos por moeda que já está em
circulação, o que não provocaria inflação. Contudo, esse tipo de financiamento provoca elevação
da dívida pública, e o governo, para conseguir colocar esses títulos no mercado, precisará oferecer
taxas de juros mais atraentes, provocando elevação adicional no endividamento, por meio dos
juros mais elevados. Nota-se que o financiamento do déficit público deverá estar em consonância
a um objetivo bem definido de política econômica (VASCONCELLOS; GARCIA, 2006).

1.5.4 Política monetária


A política monetária refere-se à ação do governo no sentido de controlar as condições de
liquidez da economia.
Pela política monetária o governo pode atuar sobre a taxa de juros, pode aumentar ou di‑
minuir o dinheiro que circula na economia, pode aumentar ou diminuir o volume de dinheiro
disponível para os bancos emprestarem (atuando sobre o depósito compulsório) e pode restringir
ou facilitar o crédito. Assim, os instrumentos clássicos de política monetária são a política de taxa
de juros, o controle da base monetária e o depósito compulsório dos bancos (LANZANA, 2002).
Se o governo, por exemplo, tem por objetivo o
controle da inflação, a medida apropriada de política
monetária seria diminuir o volume de dinheiro na eco‑
nomia, que poderia ser por meio do aumento da taxa do Para saber mais
compulsório ou por meio de venda de títulos públicos.
De outro modo, se o objetivo é o crescimento econô‑ Depósito compulsório — Valor
mico, a medida adotada seria o aumento do volume de que os bancos devem recolher no
dinheiro na economia, reduzindo o compulsório, ou fle‑
xibilizando as condições de crédito, possibilitando maior Banco Central, correspondente a
capacidade de compra às pessoas. Da mesma forma, a um percentual sobre os depósitos
taxa de juros pode incentivar ou inibir o crescimento da à vista que os bancos possuem.
economia ou, ainda, influenciar no índice de inflação.

Aprofundando o conhecimento
Para ampliar seus conhecimentos sobre o assunto, leia o texto a seguir, extraído de
Parkin (2003, p. 331-351).

Política monetária
Em 1987, Segredos do templo: como o Federal Reserve governa o país, de William Greider, fez
parte da lista do New York Times dos mais vendidos. Esse livro se tornou popular porque era (e é)
uma boa leitura e também porque permitiu a seu leitor partilhar de alguns segredos — os segredos
do misterioso Fed. O que é exatamente o Fed? Que ferramentas possui? E como as usa?
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50 ECONOMIA dO SETOR PúblICO

Uma coisa que o Fed faz é administrar a moeda da nação. A quantidade de moeda existente é
surpreendentemente grande. Uma quantidade desconhecida de notas norte-americanas circula no
exterior, especialmente na Rússia e na Europa Oriental. Mas hoje há moedas e cédulas suficientes
circulando nos Estados Unidos para todas as pessoas terem uma carteira recheada com mais de mil
dólares. Além disso, o que se encontra depositado em bancos e em outras instituições financeiras
seria o bastante para cada norte-americano ter mais de $12.500 em sua conta particular. O que
determina a quantidade de moeda corrente e os depósitos bancários? Como o Fed muda a quantidade
de moeda que circula na economia? E por que pessoas físicas e empresas possuem tanta moeda?
Em 1997 e 1998, os mercados financeiros de algumas economias asiáticas estavam sob tensão.
Bancos desmoronaram e moedas correntes afundaram. Todos temiam que houvesse contágio. Os
problemas asiáticos chegariam até os Estados Unidos? Com o intuito de manter a calma e garantir
a expansão da economia, o Fed gradualmente baixou as taxas de juros em 1998. Ele manteria em
baixa as taxas de juros em 1999 ou as elevaria para conter a inflação? Como o Fed altera as taxas
de juros e como influenciam a economia? De que modo juros mais altos mantêm a inflação sob
controle? Neste capítulo, você aprenderá sobre o Fed e a política monetária. Verá também como o
Fed influencia as taxas de juros e de que modo essas taxas interferem na economia. Descobrirá que
as taxas de juros dependem, em parte, da quantidade de moeda existente e poderá verificar como
o Fed controla a quantidade de moeda para influenciar as taxas de juros enquanto tenta suavizar o
ciclo econômico e manter a inflação sob controle.

O Sistema de Reserva Federal


O Banco Central dos Estados Unidos é o Sistema de Reserva Federal. Um banco central é o
banco dos bancos e uma autoridade pública que regula os mercados e as instituições financeiras
de uma nação. Como o banco dos bancos, o Fed provê serviços bancários para bancos comerciais
como o Citibank e o Bank of America. Um banco central não é um banco de cidadãos, quer dizer,
o Fed não provê serviços bancários gerais para empresas e pessoas físicas.
O Fed conduz a política monetária da nação, o que significa ajustar a quantidade de moeda
em circulação. Suas metas são manter a inflação sob controle, garantir emprego abundante, con-
trolar o ciclo econômico e contribuir para se alcançar o crescimento de longo prazo. O sucesso
completo no cumprimento dessas metas é impossível, e o mínimo que o Fed precisa fazer é melho-
rar o desempenho da economia e chegar mais perto das metas do que uma estrutura sem envolvi-
mento direto no mercado poderia conseguir. Se o Fed de fato melhora o desempenho econômico
é uma questão bastante controversa.
Este capítulo examina as ferramentas de que o Fed dispõe para conduzir a política monetária
e mostra os efeitos de suas ações na economia. Comecemos descrevendo a estrutura do Fed.

A estrutura do Sistema de Reserva Federal


Os principais elementos na estrutura do Sistema de Reserva Federal são:
O conselho de governadores
Os bancos de reserva federal regionais
A Comissão Federal de Mercado Aberto (FOMC)
O COnselhO de gOvernadOres O conselho de governadores é composto por sete membros
que são designados pelo presidente dos Estados Unidos e confirmados pelo Senado, com um man-
dato de 14 anos cada um. Os mandatos são escalonados de modo que a cada dois anos haja uma
cadeira vaga no conselho.
O presidente designa um dos membros do conselho para presidente por um período renovável
de quatro anos.
Os banCOs de reserva federal Há 12 bancos de reserva federal, um para cada um dos
12 distritos de reserva federal mostrados na Figura 15.1. Cada um desses bancos possui nove dire-
tores, sendo que três deles são designados pelo conselho de governadores, e os outros seis são
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Elementos básicos de macroeconomia 51

eleitos pelos bancos comerciais em seu distrito de reserva federal. Os diretores dos bancos de reserva
federal regional designam o presidente do banco, e o conselho de governadores fica encarregado
de aprovar essa nomeação.
O Banco da Reserva Federal de Nova York (conhecido como New York Fed) ocupa um lugar
especial no sistema federal de reserva porque implementa algumas das decisões de política mais
importantes do Fed.
A Comissão Federal de Mercado Aberto A Comissão Federal de Mercado Aberto (FOMC)
é o principal órgão decisório da política do Sistema de Reserva Federal. A FOMC consiste dos se-
guintes membros com direito a voto:
O presidente do comitê e outros seis membros do conselho de governadores
O presidente do Banco da Reserva Federal de Nova York
Os presidentes dos outros bancos de reserva federal regional (dentre eles, em uma base
rotativa anual, apenas quatro têm direito a voto).
A FOMC se reúne a cada seis semanas para debater o estado da economia e decidir as ações
a serem realizadas pelo New York Fed.

O centro de poder do Fed


Uma descrição da estrutura formal do Fed dá a impressão de que o poder nele se concentra no
conselho de governadores. Na prática, é o presidente do conselho de governadores que exerce influên-
cia maior nas ações de política monetária do Fed, e alguns indivíduos notáveis defenderam essa posição.
Um deles é Paul Volcker, que foi designado em 1979 pelo presidente Carter e renomeado em 1983 pelo
presidente Reagan. Volcker erradicou a inflação, mas ajudou a criar uma das mais severas recessões no
pós-guerra. Outro é Alan Greenspan, nomeado por Reagan em 1987, renomeado pelo presidente Bush
em 1992 e novamente designado para outro mandato pelo presidente Clinton em 1996.
O poder e a influência do presidente provêm de três fontes. Primeiro, o presidente do conselho
de governadores é quem controla a pauta e domina as reuniões da FOMC. Segundo, o contato
diário com um grande grupo de economistas e outros técnicos proporciona ao presidente do con-
selho de governadores informações específicas e detalhadas sobre assuntos de política monetária.
Terceiro, o presidente é o porta-voz do Fed e o principal ponto de contato do Fed com o presidente
e o governo e com bancos centrais e governos estrangeiros.

Figura 15.1 O sistema de reserva federal

Os Estados Unidos encon-


tram-se divididos em 12
9 distritos de reserva federal,
1 sendo que cada um possui
Minneapolis
um banco de reserva fede-
7
2 ral próprio. (Alguns dos
Boston
Chicago
distritos maiores também
12 Cleveland 3 Nova Yor k
10 têm filiais.) O conselho de
4 Filadélfia
Kansas City governadores do Sistema
San Francisco* St. Louis WASHINGTON
de Reserva Federal é sedia-
Richmond
do em Washington, D.C.
5
8
Atlanta
Dallas
6
11
* Havaí e Alasca
incluem-se no distrito
de São Francisco

Distritos da reserva federal


Cidades em que há banco de reserva federal
Conselho de governadores do Sistema
de Reserva Federal

Fonte: Boletim da Reserva Federal, publicado mensalmente.


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52 ECONOMIA dO SETOR PúblICO

As ferramentas de política do Fed


O Sistema de Reserva Federal possui muitas responsabilidades, mas examinaremos apenas a
mais importante: regular a quantidade de moeda circulante. Como o Fed faz o controle da oferta
de moeda? Ajustando as reservas do sistema bancário. Também é pelo ajuste das reservas do sistema
bancário e pela pronta condição de fazer empréstimos para bancos que ele é capaz de prevenir
falências de bancos. O Fed utiliza três ferramentas principais de política para alcançar seus objetivos:
Coeficiente de reserva requerida
Taxa de desconto
Operações de mercado aberto

Figura 15.2 A estrutura do Fed

Conselho de
governadores

Presidente do conselho
de governadores

Grupo de economistas
do conselho
de a exi de
da
de tax rva ã o
gi
e se orç
re rop

to
on
P

sc

Doze bancos de
reserva federal
regionais

Comitê de
política principal

Comissão Federal de
Mercado Aberto
es ca
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ab e m cipa ent
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Fe

O conselho de governadores fixa taxas de reserva exigida e, atendendo à proposta dos doze
bancos de reserva federal, estabelece a taxa de desconto. O conselho de governadores e os
presidentes dos bancos regionais de reserva federal são membros da Comissão Federal de Mer‑
cado Aberto (FOMC — Federal Open Market Committee), órgão que determina as operações
de mercado aberto.

aaa
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E l e m e n t o s b á s i c o s d e m a c r o e c o n o m i a   53

Coeficiente de reserva requerida Todas as instituições de depósito nos Estados Unidos


são obrigadas a reter uma porcentagem mínima de depósitos como reserva. Essa porcentagem
mínima é conhecida como coeficiente de reserva requerida. O Fed determina um coeficiente de
reserva requerida para cada tipo de depósito. Em 1997, os bancos foram obrigados a reter reservas
mínimas de 3 por cento de todos os depósitos em cheque até $49 milhões e 10 por cento dos
depósitos acima de $49 milhões. As reservas exigidas em outros tipos de depósitos eram zero.
Taxa de desconto A taxa de desconto é a taxa de juros mediante a qual o Fed se dispõe a
prontamente emprestar reservas para bancos comerciais. Uma mudança na taxa de desconto é
proposta à FOMC pelo conselho de diretores de pelo menos um dos 12 bancos de reserva federal
e é aprovada pelo conselho de governadores.
Operações de mercado aberto Uma operação de mercado aberto é a compra ou venda
de títulos governamentais — Letras e Obrigações do Tesouro dos Estados Unidos — pelo Sistema de
Reserva Federal no mercado aberto. Quando o Fed conduz uma operação de mercado aberto, realiza
uma transação com um banco ou alguma outra empresa, mas não negocia com o governo federal.
A estrutura e as ferramentas de políticas do Sistema de Reserva Federal estão resumidas na
Figura 15.2. Para entender como as operações de mercado aberto funcionam, precisamos conhecer
o balanço do Fed.

O balanço do Fed
O balanço do Sistema de Reserva Federal de dezembro de 1998 está demonstrado na Tabela
15.1. Os créditos no lado esquerdo são o que o Fed possui, e os débitos no lado direito constituem
o que ele deve. Os três recursos principais do Fed são:
1. Ouro e moeda estrangeira
2. Títulos governamentais norte-americanos
3. Empréstimos a bancos
O que o Fed possui em ouro e moedas estrangeiras são suas reservas internacionais. A maioria
das moedas estrangeiras de sua propriedade consiste em depósitos que faz em outros bancos
centrais. As posses do Fed de títulos do governo dos Estados Unidos são o lastro para as notas de
dólar e os depósitos dos bancos no Fed. Ele às vezes realiza empréstimos para bancos dos quais
cobra uma taxa de desconto. (Esses empréstimos eram desprezíveis em dezembro de 1998.)
Os dois principais itens do passivo do Fed são:
1. Papel-moeda em circulação
2. Depósitos de bancos
O papel-moeda em circulação são as notas que usamos em nossas transações diárias. Algumas
dessas notas circulam de mão em mão; outras estão em gavetas e cofres de bancos e em outras
instituições financeiras. Os depósitos de bancos são os depósitos de bancos comerciais, que cons-
tituem parte das reservas desses bancos.
Tabela 15.1  O balanço do Fed de dezembro de 1998

Créditos Débitos
(bilhões de dólares) (bilhões de dólares)
Ouro e moeda estrangeira 65 Notas da reserva federal 481
Títulos governamentais
norte-americanos 463 Depósitos de bancos 27
Empréstimos a bancos 0 Outras dívidas (líquido) 20
Ativos totais 528 Passivo total 528

Fonte: Boletim da Reserva Federal, mar. 1999.


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54 ECONOMIA dO SETOR PúblICO

Você pode estar se perguntando por que notas da reserva federal são consideradas um débito
do Fed. Quando as notas foram inventadas, elas davam a seus donos um direito contra a reserva
de ouro do banco emissor. Essas notas eram papel-moeda conversível, ou seja, podiam ser conver-
tidas, por quem as possuísse, em demanda em ouro (ou algum outro metal, como prata) a um preço
garantido. Assim, quando um banco emitia uma nota, estava reconhecendo sua obrigação de
converter aquela nota em ouro ou prata. Mas as notas dos bancos modernos são inconversíveis,
quer dizer, não podem ser convertidas em qualquer artigo e seu valor decorre da confiança no
governo — daí a expressão fiat money. Tais notas são o débito legal do banco que as emite e são
lastreadas pela posse de títulos. Notas da reserva federal são lastreadas pelos títulos governamentais
norte-americanos que o Fed possui.
Os débitos do Fed, com moedas em circulação (moedas são emitidas pelo Tesouro e não são
débitos do Fed), compõem a base monetária. Ou seja, a base monetária é a soma das notas da
reserva federal, moedas e depósitos de bancos no Fed. A base monetária é assim chamada porque
age como uma base que apoia a oferta de moeda do país. Quanto maior a base monetária, maior
é a quantidade de moeda.

Questões de revisão
O que é um banco central e que funções ele exerce?
Quem designa os membros e o presidente do conselho do Fed? Quanto dura seus mandatos?
O que o banco da reserva federal de Nova York tem de especial?
Quais são as três ferramentas de política que o Fed utiliza?
O que é a Comissão Federal de Mercado Aberto (FOMC – Federal Open Market Committee)
e quais são as suas funções principais?
Com que frequência a FOMC se reúne?
A seguir, vamos ver como o Fed controla a oferta de moeda. Aprenderemos de que modo os
instrumentos da política monetária que usa mudam a base monetária e como essa mudança altera
a quantidade de moeda em circulação.

Controlando a oferta de moeda


O Fed monitora e ajusta constantemente a quantidade de moeda na economia. Para mudar a
quantidade de moeda, pode utilizar quaisquer de suas três ferramentas: coeficiente de reserva re-
querida, taxa de desconto e operações de mercado aberto. O coeficiente de reserva requerida ra-
ramente sofre alterações. A taxa de desconto e as operações de mercado aberto são mais utilizadas.
Vejamos como essas ferramentas funcionam.

Como funciona o coeficiente de reserva requerida


Quando o Fed aumenta o coeficiente de reserva requerida, os bancos precisam reter mais reser-
vas, e para aumentá-las precisam diminuir seus empréstimos, que reduzem a quantidade de moeda.
Quando o Fed diminui o coeficiente de reserva requerida, os bancos podem reter menos reservas.
Para reduzir suas reservas, eles aumentam seus empréstimos, o que eleva a quantidade de moeda.

Como funciona a taxa de desconto


Quando o Fed aumenta a taxa de desconto, os bancos têm de pagar um preço mais alto por
quaisquer reservas que tomem emprestado. Com maior custo de reservas, tentam operar com re-
servas menores. Mas com determinado coeficiente de reserva requerida, os bancos precisam dimi-
nuir também seus empréstimos para reduzir as reservas que tomam emprestado. Assim, a quantidade
de moeda diminui. Quando o Fed diminui a taxa de desconto, os bancos pagam um preço menor
por quaisquer reservas que emprestem dele. Com menor custo de reservas, os bancos podem obter
mais reservas e aumentar seus empréstimos. Assim, a quantidade de moeda aumenta.
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E l e m e n t o s b á s i c o s d e m a c r o e c o n o m i a   55

Como funciona uma operação de mercado aberto


Quando o Fed compra títulos em uma operação de mercado aberto, as reservas do banco
aumentam, os bancos aumentam seus empréstimos e a quantidade de moeda cresce. Quando o
Fed vende títulos em uma operação de mercado aberto, as reservas do banco diminuem, os bancos
reduzem seus empréstimos, e a quantidade de moeda cai. As operações de mercado aberto são
mais utilizadas que as outras duas ferramentas e são as mais complexas em sua operação. Por isso,
estudaremos essa ferramenta mais detalhadamente.
A chave para entender como uma operação de mercado aberto funciona é ver como ela altera
as reservas do sistema bancário. Focalizaremos os efeitos de uma operação de mercado aberto quando
o Fed compra títulos. (Os efeitos de uma venda de títulos são o contrário do que veremos aqui.)
As compras de títulos do Fed  Suponha que o Fed compre $100 milhões de títulos do
governo norte-americano no mercado aberto. Há dois casos a considerar: quando o Fed compra de
banco comercial e quando compra do público (uma pessoa física ou empresa que não é um banco
comercial). O resultado é essencialmente o mesmo em qualquer caso, mas você precisaria ser con-
vencido desse fato; portanto, estudaremos os dois casos, começando pelo mais simples, no qual o
Fed compra de um banco comercial.
Compras de banco comercial  Quando o Fed compra $100 milhões em títulos do banco
comercial de Manhattan, duas coisas acontecem:
1. O banco comercial de Manhattan passa a ter $100 milhões a menos em títulos, e o Fed,
$100 milhões a mais em títulos.
2. O Fed paga pelos títulos creditando $100 milhões na conta de depósito do banco comer-
cial de Manhattan no Fed.
A Figura 15.3(a) mostra os efeitos dessas ações no balanço do Fed e do banco comercial de
Manhattan. A propriedade dos títulos passa do banco comercial ao Fed; assim, os recursos do banco
diminuem em $100 milhões e os recursos do Fed aumentam em $100 milhões, como mostrado
pela seta escura, que vai do banco comercial de Manhattan ao Fed. O Fed paga pelos títulos credi-
tando na conta de depósito do banco comercial de Manhattan — suas reservas — $100 milhões,
como mostrado pela seta clara, que vai do Fed para o banco comercial de Manhattan. Essa ação
aumenta a base monetária e as reservas do sistema bancário.
Os recursos do Fed aumentam em $100 milhões, assim como seus débitos. Os recursos totais
do banco comercial permanecem constantes, mas sua composição muda: a posse de títulos gover-
namentais diminui em $100 milhões, e seus depósitos para o Fed aumentam em $100 milhões.
Desse modo, o banco tem reservas adicionais, que pode utilizar para fazer empréstimos.
Acabamos de ver que, quando o Fed compra títulos governamentais de um banco, as reservas
do banco aumentam. Mas o que acontece se o Fed compra títulos governamentais públicos — di-
gamos, da Goldman Sachs, uma companhia de serviços financeiros?
Compras do público Quando o Fed compra $100 milhões de títulos da Goldman Sachs,
três coisas acontecem:
1. A Goldman Sachs tem $100 milhões a menos em títulos, e o Fed tem $100 milhões a mais
em títulos.
2. O Fed paga pelos títulos com um cheque de $100 milhões de si próprio, que a Goldman
Sachs deposita em sua conta no banco comercial de Manhattan.
3. O banco comercial de Manhattan coleta o pagamento desse cheque do Fed, e são depo-
sitados $100 milhões na conta de depósito do banco comercial de Manhattan pelo Fed.
A Figura 15.3(b) mostra os efeitos dessas ações no balanço do Fed, da Goldman Sachs e do
banco comercial de Manhattan. A propriedade dos títulos passa da Goldman Sachs ao Fed e, desse
modo, os recursos da Goldman Sachs diminuem em $100 milhões e os recursos do Fed aumentam
em $100 milhões, como mostrado pela seta escura, que vai da Goldman Sachs ao Fed. Este paga
pelos títulos com um cheque nominal à Goldman Sachs, que a empresa deposita no banco comer-
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56  E C O N O M I A d O S E T O R P ú b l ico

cial de Manhattan. Esse pagamento aumenta as reservas de Manhattan em $100 milhões, como
mostrado pela seta clara, que vai do Fed ao banco comercial de Manhattan. Também eleva o de-
pósito da Goldman Sachs no banco comercial de Manhattan em $100 milhões, como mostrado
pela seta tracejada, que vai do banco comercial de Manhattan para a Goldman Sachs. Da mesma
maneira como quando o Fed compra de um banco, essa ação aumenta a base monetária e as re-
servas do sistema bancário.
Novamente, os recursos do Fed aumentam em $100 milhões, e seus débitos também crescem
em $100 milhões. A Goldman Sachs possui os mesmos recursos totais anteriores, mas com outra
composição: mais moeda e menos títulos. Os recursos totais do banco comercial de Manhattan
aumentam, assim como seus débitos. Seus depósitos ao Fed — suas reservas — aumentam em $100
milhões, e seus débitos de depósito para a Goldman Sachs se elevam em $100 milhões. Como suas
reservas aumentaram no mesmo montante que seus depósitos, o banco tem excesso de reservas,
que pode usar para fazer empréstimos.
Vimos o que acontece quando o Fed compra títulos governamentais de um banco ou do público.
Quando vende títulos, as transações e os eventos que você acabou de estudar trabalham em sentido
contrário. (Refaça o processo, mas com o Fed vendendo e os bancos ou o público comprando títulos.)
Os efeitos, que há pouco descrevemos, de uma operação de mercado aberto no balanço do
Fed e nos bancos não são o fim da história, e sim apenas o começo.
Uma mudança em reservas de banco resultante de uma operação de mercado aberto tem
efeitos variáveis na economia. Primeiro, exerce um efeito de multiplicador na quantidade de moeda.
Segundo, altera as taxas de juros. Terceiro, muda o dispêndio agregado e o PIB real.
Vamos estudar esses efeitos de variação ainda neste capítulo. Começaremos pelo efeito de
multiplicador de uma operação de mercado aberto na quantidade de moeda. Assim, relacionamos
dois fatores: reservas bancárias e depósitos bancários. Mas primeiro precisamos entender o vínculo
entre reservas bancárias e base monetária.

Figura 15.3   As compras de títulos do Fed no mercado aberto

(b) O Fed compra títulos públicos


(a) O Fed compra títulos de um banco comercial

Banco de reserva federal de Nova York


Banco da reserva federal de Nova York
Ativo Passivo
Ativo Passivo
Reservas do
Reservas Títulos +$100
Títulos +$100 banco
do banco
comercial de
comercial de O Fed compra títulos
O Fed Manhattan +$100
Manhattan +$100 da Goldman Sachs, um
compra títulos
membro do público
de um banco
geral...
comercial… ... e paga pelos títulos aumentando as
reservas do banco comercial.

Goldman Sachs
Banco comercial de Manhattan
Ativo Passivo
Ativo Passivo
Títulos –$100 ... e paga pelos títulos
Títulos –$100 preenchendo um cheque que é
Depósitos no depositado na conta da Goldman
Reservas +$100 Sachs, no banco comercial de
banco
comercial de Manhattan, o que aumenta as
Manhattan reservas dos bancos comerciais.
+$100

Banco comercial de Manhattan

Ativo Passivo

Reservas +$100 Depósito da Goldman


Sachs
+$100
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Elementos básicos de macroeconomia 57

Reservas bancárias, base monetária e multiplicador de moeda


Uma compra no mercado aberto que eleve a reserva de um banco aumenta também a base
monetária. O aumento na base monetária é igual ao montante da compra de mercado aberto e,
inicialmente, equivale ao aumento em reservas bancárias. Para entender o porquê, relembre que a
base monetária é a soma de notas da reserva federal, moedas e depósitos de bancos no Fed. Uma
compra de mercado aberto aumenta os depósitos dos bancos no Fed — parte das reservas de
bancos — no montante da compra de mercado aberto. Nada mais sendo alterado, a base monetá-
ria aumenta pela quantia da compra de mercado aberto.
Mas, quando os bancos usam as reservas novas para fazer empréstimos, os depósitos bancários
e a moeda em circulação fora dos bancos aumentam. Uma elevação na moeda circulante fora dos
bancos é chamada de dreno de moeda corrente. Este dreno não muda a base monetária, mas dimi-
nui a quantidade de moeda que os bancos podem criar a partir de um aumento na base monetária.
A quantidade de moeda que os bancos podem criar de certo aumento na base monetária é
determinada pelo multiplicador de moeda, que é o número pelo qual uma mudança na base mo-
netária é multiplicado para determinar a mudança resultante na quantidade de moeda. Vamos,
então, saber o que é o multiplicador de moeda.

O efeito multiplicador de uma operação de mercado aberto


A Figura 15.4 mostra o efeito multiplicador de uma compra de títulos no mercado aberto
efetuada por bancos. Inicialmente, as reservas dos bancos aumentam, mas a quantidade de moeda
não muda. Os bancos têm excesso de reserva, e a seguinte sequência de eventos acontece:
Bancos emprestam o excesso de reservas.
A oferta de moeda aumenta.
São usados depósitos novos para fazer pagamentos.
Uma parte da moeda nova é mantida como moeda corrente — um dreno de moeda corrente.
A outra parte da moeda nova permanece em depósito nos bancos.
A reserva requerida aos bancos cresce.
O excedente de reservas diminui, mas permanece positivo.

Figura 15.4 Um ciclo no processo multiplicador que ocorre após uma operação de
mercado aberto

Operação
de mercado
aberto
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58  E C O N O M I A d O S E T O R P ú b l ico

Uma operação de mercado aberto aumenta as reservas dos bancos e gera excesso de reservas.
Os bancos emprestam esse excedente de reserva, e novos empréstimos são usados para fazer
pagamentos. As famílias e as empresas receptoras de pagamentos mantêm uma parte na forma
de moeda corrente — um dreno de moeda corrente — e depositam o resto em bancos. O au‑
mento em depósitos bancários eleva as reservas dos bancos, mas também aumenta as reservas
exigidas dos bancos. A reserva requerida cresce menos que as reservas atuais; desse modo, os
bancos ainda contam com algum excesso de reserva, entretanto menor que antes. O processo
se repete até que o excedente de reserva seja eliminado.

A sequência se repete em uma série de ciclos, mas cada ciclo começa com menos excesso de
reservas do que o ciclo anterior. O processo continua até o excedente de reservas ser finalmente
eliminado.
A Figura 15.5 segue os aumentos em reservas, empréstimos, depósitos, moeda corrente e
moeda resultantes de uma operação de mercado aberto de $100 mil. Na figura, o dreno de moeda
corrente é 33,33 por cento, e o coeficiente de reserva requerida está em 10 por cento. Esses núme-
ros são adotados hipoteticamente para facilitar os cálculos.
O Fed compra $100 mil de títulos dos bancos. As reservas bancárias aumentam no mesmo
montante, mas os depósitos não se alteram. Os bancos passam a ter um excedente de reservas de
$100 mil, e então emprestam essas reservas. Quando isso acontece, $66.667 permanecem nos
bancos como depósitos e $33.333 saem como moeda corrente. A quantidade de moeda aumentou
agora em $100 mil — o aumento em depósitos mais o aumento em moeda corrente.
O aumento de $66.667 nos depósitos dos bancos gera um aumento da reserva requerida em
10 por cento daquela quantia, que é $6.667. As reservas atuais são aumentadas na mesma medida
que aumentam os depósitos — $66.667. Desse modo, os bancos passam a ter excesso de reservas
de $60 mil. Nessa fase, passamos uma vez pelo ciclo mostrado na Figura 15.4. O processo que há
pouco descrevemos se repete, mas parte de um excesso de reservas de $60 mil. A Figura 15.5
mostra os dois ciclos seguintes. Ao término do processo, a quantidade de moeda aumentou por
um múltiplo do aumento na base monetária. Nesse caso, o aumento é de $250 mil, ou seja, 2,5
vezes o aumento na base monetária.
Uma venda de mercado aberto trabalha de modo semelhante a uma compra de mercado
aberto, mas diminui a quantidade de moeda. (Refaça o processo, mas com o Fed vendendo e os
bancos ou o público comprando títulos.)
Quando o Fed empreende uma operação de mercado aberto, está tentando influenciar o curso
da economia, mas tal influência é indireta. Você acabou de estudar o efeito inicial das ações do Fed,
que é alterar a quantidade de moeda.
Quando o Fed altera a quantidade de moeda, a taxa de juros muda. Para entender o porquê,
é preciso estudar a demanda por moeda.
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Elementos básicos de macroeconomia 59

Figura 15.5 Efeito multiplicador de uma operação de mercado aberto

A sequência Listagem
Moeda
Reservas Depósitos corrente Moeda
Operação de mercado aberto
de $100.000

Empréstimo de
$100.000

Moeda corrente Depósitos


$66.667 $33.333 $100.000
$33.333 $66.667

Reservas Empréstimo
$6.667 $60.000

Moeda corrente Depósitos


$6.667 $106.667 $53.333 $160.000
$20.000 $40.000

Reserva Empréstimo
$4.000 $36.000

Moeda corrente Depósito


$10.667 $130.667 $65.333 $196.000
$12.000 $24.000

E assim por
diante…

$16.667 $166.667 $83.333 $250.000

Quando o Fed proporciona aos bancos $100 mil de reservas adicionais em uma operação
de mercado aberto, os bancos emprestam essas reservas. Da quantia emprestada, $33.333
(33,33 por cento) saem dos bancos em um dreno de moeda corrente e $66.667 permanecem
em depósito. Com depósitos adicionais, a reserva exigida aumenta em $6.667 (10 por cento,
porcentagem de reserva requerida) e os bancos emprestam $60 mil. Dessa quantia, $20 mil
saem dos bancos em um dreno de moeda corrente e $40 mil permanecem em depósito. O
processo se repete até os bancos criarem depósitos suficientes para eliminar seu excesso de
reservas. Um adicional de $100 mil de reservas gera $250 mil de moeda.

Questões de revisão
O que acontece quando o Fed compra títulos no mercado aberto?
O que acontece quando ele vende títulos no mercado aberto?
O que os bancos fazem quando têm excesso de reservas e como suas ações influenciam a
quantidade de moeda?
De que modo os bancos agem quando estão com falta de reservas e como suas ações in-
fluenciam a quantidade de moeda?

A demanda por moeda


A quantia de moeda que recebemos em pagamento por nosso trabalho é renda — um fluxo.
O total de moedas que guardamos em nossa carteira ou em uma conta no banco é um estoque.
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60 ECONOMIA dO SETOR PúblICO

Não há limite, é claro, para o quanto gostaríamos de receber como renda, mas existem limites ao
estoque de moeda que podemos manter e economizar.
as influênCias sObre a manutençÃO da mOeda A quantidade de moeda que as pessoas
decidem guardar depende de quatro fatores principais:
O nível de preço
A taxa de juros
O PIB real
Inovação financeira
Vejamos cada um deles.
nível de preçO Os montantes de moeda medidos em determinada unidade (reais, por exem-
plo) são chamados de montantes de moeda nominal. A quantidade de moeda nominal exigida é
proporcional ao nível de preço, uma vez que outros fatores permaneçam inalterados; isto é, se o
nível de preço (deflator do PIB) aumentar em 10 por cento, as pessoas vão querer manter 10 por
cento a mais de moeda nominal do que antes. O que importa não é o número de dólares que você
mantém, mas seu poder aquisitivo. Se você guarda $20 para ir ao cinema e comprar refrigerante,
aumentará essa quantia reservada de moeda para $22 se os preços do cinema e do refrigerante — e
sua taxa de salário — aumentarem em 10 por cento.
A quantidade de moeda medida em unidades constantes (por exemplo, em dólares de 1992)
é chamada de moeda real, que é igual à moeda nominal dividida pelo nível de preço, ou seja, é a
quantidade de moeda atrelada ao poder de compra. No exemplo citado, quando o nível de preço
sobe em 10 por cento e você aumenta a quantidade de moeda guardada em 10 por cento, está
mantendo sua moeda real constante. Seus $22 em relação ao novo nível de preço compram a mesma
quantidade de bens e é a mesma quantidade de moeda real de seus $20 ao nível de preço original.
A quantidade de moeda real mantida não depende do nível de preço.
taxa de JurOs Há um princípio fundamental em economia que diz o seguinte: quando o
custo de oportunidade de algo aumenta, as pessoas procuram substitutos a esse determinado bem
ou serviço. E a moeda não é nenhuma exceção. Quanto mais alto o custo de oportunidade de
manter a moeda, se os outros fatores permanecerem inalterados, mais baixa é a quantidade de
moeda real exigida. Mas qual é o custo de oportunidade de manter a moeda? É a taxa de juros que
seria recebida de outros ativos que você poderia manter em lugar da moeda — taxa à qual você
tem de renunciar menos a taxa de juros que pode ganhar mantendo a moeda.
A taxa de juros que você ganha em moeda corrente e alguns depósitos correntes é zero. Assim,
o custo de oportunidade de manter esses artigos é a taxa de juros em outros ativos, como uma
conta de poupança ou uma Letra do Tesouro. Ao manter a moeda, você renuncia aos juros que
receberia se tivesse tomado outra medida. Essa renúncia aos juros é o custo de oportunidade de
manter a moeda.
A moeda perde valor com a inflação. Então, por que a taxa inflacionária não é computada no
custo de manutenção da moeda? Isso porque, se os outros fatores permanecerem iguais, quanto
mais alta a taxa inflacionária esperada, mais altas são as taxas de juros e mais alto, então, é o custo
de oportunidade de manter a moeda.
pib real A quantidade de moeda que pessoas físicas e empresas planejam guardar depende
da quantia que elas estão gastando, e a quantidade de moeda exigida depende do dispêndio agre-
gado — ou seja, do PIB real.
Suponha que você reserve em média, semanalmente, $20 para ir ao cinema e comprar refri-
gerante. Agora imagine que os preços desses e de todos os outros bens permaneçam constantes,
mas que sua renda aumente. Como consequência, você gasta mais agora, mas também possui uma
quantia maior de moeda disponível para financiar seu volume mais alto de despesa.
inOvaçÃO finanCeira Mudanças tecnológicas e novos produtos financeiros interferem na
quantidade de moeda mantida. As principais inovações financeiras dos últimos tempos são o uso
cada vez mais difundido de:
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Elementos básicos de macroeconomia 61

1. Juros diários nos depósitos correntes


2. Transferências automáticas entre depósitos correntes e poupança
3. Caixas eletrônicos
4. Cartões de crédito
Essas inovações aconteceram devido ao desenvolvimento da computação, o que abaixou o
custo de cálculos e manutenção de registros.
Usando a curva de demanda por moeda, vamos resumir os efeitos da influência na manutenção
da moeda.

A curva de demanda por moeda


A demanda por moeda é a relação entre a quantidade de moeda real exigida e a taxa de juros,
uma vez inalteradas todas as outras influências na quantidade de moeda que as pessoas desejam
manter. A Figura 15.6 mostra uma curva de demanda por moeda, DM. Quando a taxa de juros sobe,
e todos os outros fatores permanecem os mesmos, o custo da oportunidade de manter a moeda
sobe, diminuindo a quantidade de moeda exigida — há um movimento ao longo da curva de de-
manda por moeda. De modo semelhante, quando a taxa de juros cai, o custo de oportunidade de
manter a moeda também cai, e a quantidade de moeda demandada aumenta — há um movimento
descendente ao longo da curva de demanda por moeda.

Figura 15.6 A demanda por moeda


Taxa de juros (percentual ao ano)

6 Efeito de
um aumento
na taxa de
juros.

Efeito de uma
diminuição
na taxa de
juros.
4

DM

0 2,9 3,0 3,1


Moeda real (trilhões de dólares de 1992)

A curva de demanda por moeda, DM, mostra a relação entre a quantidade de moeda que as
pessoas planejam manter e a taxa de juros, uma vez que não haja alteração nos demais fatores.
A taxa de juros é o custo de oportunidade de manter moeda. Uma mudança na taxa de juros
gera um movimento na curva de demanda.
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62  E C O N O M I A d O S E T O R P ú b l ico

Deslocamentos na curva de demanda por moeda real


Uma mudança no PIB real ou inovação financeira altera a demanda por moeda e desloca a
curva de demanda por moeda real. A Figura 15.7 ilustra esse fenômeno. Uma diminuição no PIB
real reduz a demanda por moeda e desloca para a esquerda a curva de demanda, de DM0 para DM1.
Um aumento no PIB real tem o efeito oposto: eleva a demanda por moeda e desloca para a direita
a curva de demanda, de DM0 para DM2.
A influência da inovação financeira na curva de demanda por moeda é mais complicada. Po-
deria aumentar a demanda por alguns tipos de depósitos e diminuir por outros, ou ainda poderia
reduzir a demanda por moeda corrente. Observaremos os efeitos da inovação financeira estudando
a demanda por moeda nos Estados Unidos.

Figura 15.7  Mudanças na demanda por moeda


Taxa de juros (percentual ao ano)

6 Efeito de aumento
no PIB real.

DM2

Efeito de diminuição
4
no PIB real ou inovação
financeira. DM1 DM0

0 2,9 3,0 3,1


Moeda real (trilhões de dólares de 1992)

Uma diminuição no PIB real faz baixar a demanda por moeda e desloca para a esquerda a
curva de demanda, de DM0 para DM1. Um aumento no PIB real eleva a demanda por moeda e
desloca para a direita a curva de demanda, de DM0 para DM2. A inovação financeira geralmente
diminui a demanda por moeda.

A demanda por moeda nos Estados Unidos


A Figura 15.8 mostra a relação entre a taxa de juros e a quantidade de moeda real demandada
nos Estados Unidos entre 1970 e 1998. Cada ponto mostra a taxa de juros e a quantidade de moe­da
real retida em determinado ano. Em 1970, a demanda por M1 (mostrada na parte (a)) era DM0.
Durante o início dos anos 70, a expansão de cartões de crédito diminuiu a demanda por M1 (moeda
corrente e depósitos correntes) e deslocou para a esquerda a curva de demanda — de M1 para DM1.
Mas, com o passar dos anos, o crescimento do PIB real aumentou a demanda por M1, e, em 1994,
a curva de demanda por M1 se deslocou para a direita, em direção a DM2. Mais adiante a inovação
financeira surgida de um aumento contínuo no uso de cartões de crédito e a expansão de bancos
24 horas diminuiu a demanda por M1 e deslocou a respectiva curva de demanda para a esquerda
novamente.
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E l e m e n t o s b á s i c o s d e m a c r o e c o n o m i a   63

Em 1970, a demanda por M2 (mostrada na parte (b)) era DM0. A expansão de cartões de crédito
que diminuiu a demanda por M1 durante o período não reduziu a demanda por M2. A razão disso
é que muitos produtos financeiros novos eram depósitos M2. Assim, de 1970 a 1989, a demanda
por M2 cresceu, e a curva de demanda por M2 se deslocou para a direita em direção a DM1. Mas,
entre 1989 e 1994, houve inovações em produtos financeiros que competem com depósitos de
todos os tipos, o que fez a demanda por M2 cair. A curva de demanda por M2 se deslocou para a
esquerda, em direção

Figura 15.8  A demanda por moeda nos Estados Unidos


16 16
Taxa de juros (percentual ao ano)

Taxa de juros (percentual ao ano)


Efeito de Efeito de
aumento aumento
no PIB real 81 no PIB real 81

12 12
80 80
82 Efeito de Efeito de
82
79 inovação inovação
79
84 financeira 84 financeira
83 83 89
8 74 85 89 8 74
90 90
78 85
Efeito de 88 73 78 88
73
inovação 70 87 70 86 87
financeira 75 86 97 95 75 95 91
77 77
76 91 96 76 96 98
72 98 94 71 94 97
4 71 4 72 DM1
92 92
93
93
Efeito de aumento
DM3
no PIB real
DM1 DM0 DM3 DM2 DM0 DM2
0 0
0,6 0,8 1,0 1,2 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0
M1 real (trilhões de dólares de 1992) M2 real (trilhões de dólares de 1992)

(a) Demanda por M1 (b) Demanda por M2

Os pontos mostram a quantidade de moeda real e a taxa de juros para cada ano entre 1970 e
1998. Em 1970, a demanda por M1 era DM0 na parte (a). A demanda por M1 diminuiu durante
o início dos anos 70 devido à inovação financeira, o que deslocou a curva de demanda para
a esquerda, em direção a DM2. Mas o crescimento do PIB real aumentou a demanda por M1,
e, em 1994, a curva de demanda tinha se deslocado para a direita, em direção a DM2. Mais
adiante, em 1995 e 1998, a inovação financeira diminuiu a demanda por M1 e deslocou a curva
de demanda novamente para a direita, em direção a DM3. Em 1970, a curva de demanda por
M2 era DM0 na parte (b). O crescimento do PIB real aumentou a demanda por M2; em 1989,
a curva de demanda tinha se deslocado para a direita, em direção a DM1. Durante o início
dos anos 90, substitutos novos para M2 reduziram a demanda por M2, o que fez a curva de
demanda se deslocar para a esquerda, em direção a DM2. Entretanto, durante os últimos anos
da década de 90, o crescimento rápido do PIB real norte-americano aumentou a demanda por
M2, deslocando a respectiva curva para a direita, em direção a DM3.
Fonte: Economic Report of the President, 1999, e cálculos e hipóteses do autor.

Determinação da taxa de juros


Taxa de juros é o rendimento (em porcentagem) de um papel financeiro como um título ou
uma debênture. Quanto mais alto o preço de um recurso financeiro, se os outros fatores perma-
necerem os mesmos, mais baixa é a taxa de juros. Tomemos um exemplo. Suponha que o governo
federal venda um título que promete pagar $10 por um ano. Se o preço do título é $100, a taxa
de juros é de 10 por cento ao ano — $10 são 10 por cento de $100. Se o preço do título é
$50, a taxa de juros é de 20 por cento — $10 são 20 por cento de $50. E, se o preço do título
é $200, a taxa de juros é de 5 por cento — $10 são 5 por cento de $200.
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64 ECONOMIA dO SETOR PúblICO

Você acabou de conhecer o vínculo entre o preço de um título e a taxa de juros. As pessoas
dividem, em geral, sua riqueza entre títulos (e outros ativos financeiros que rendem juros) e moeda,
e a quantia que elas mantêm como moeda depende da taxa de juros. Podemos estudar as forças
que determinam a taxa de juros no mercado de títulos ou de moeda. Visto que o Fed pode influen-
ciar a oferta de moeda, vamos nos concentrar no mercado de moeda.

Equilíbrio do mercado de moeda


A taxa de juros é determinada pela oferta e demanda de moeda. A quantidade de moeda ofe-
recida é determinada pelas ações do sistema bancário e do Fed. Em qualquer dia, a oferta de moeda
é uma quantidade fixa. A quantidade real de moeda oferecida é igual à quantidade nominal oferecida
dividida pelo nível de preço. Em determinado momento há um nível de preço particular, e assim a
quantidade de moeda real oferecida também constitui uma quantia fixa. A curva de oferta de moeda
real é mostrada na Figura 15.9 pela linha vertical OM. A quantidade de moeda real oferecida é de
$3 trilhões. Em um dia qualquer, todas as influências na demanda por moeda — com exceção da
taxa de juros — são constantes. Mas quanto mais baixa a taxa de juros, maior é a quantidade de
moeda real demandada. A Figura 15.9 mostra uma curva de demanda de moeda real, DM.

Figura 15.9 Equilíbrio do mercado de moeda

OM
Taxa de juros (percentual ao ano)

Oferta excessiva de
moeda. Pessoas
compram títulos, e
a taxa de juros cai.
5

4
Demanda excessiva
de moeda. Pessoas DM
vendem títulos, e a
taxa de juros sobe.

0 2,9 3,0 3,1


Moeda real (trilhões de dólares de 1992)

O equilíbrio do mercado de moeda ocorre quando a taxa de juros é ajustada para fazer a
quantidade de moeda real demandada igual à quantidade oferecida. No exemplo dado, o
equilíbrio ocorre a uma taxa de juros de 5 por cento ao ano. A taxas de juros superiores a
essa, a quantidade de moeda real demandada é menor que a quantidade oferecida, e assim as
pessoas compram títulos, reduzindo a taxa de juros. Com taxas de juros abaixo de 5 por cento
ao ano, a quantidade de moeda real demandada excede a oferta, e então as pessoas vendem
títulos e a taxa de juros sobe. Só a 5 por cento ao ano a quantidade de moeda real é mantida.

Questões de revisão
Quais são as principais influências sobre a quantidade de moeda real que pessoas físicas e
empresas planejam manter?
O que mostra a curva de demanda por moeda?
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Elementos básicos de macroeconomia 65

Como um aumento na taxa de juros altera a quantidade de moeda demandada e como


você usaria a curva de demanda por moeda real para ilustrar tais efeitos?
Como um aumento no PIB real interfere na demanda por moeda e como você usaria a curva
de demanda por moeda real para ilustrar os efeitos?
Como inovações financeiras mudaram a demanda por M1 e M2?
Agora sabemos o que determina a demanda por moeda e vimos que um fator fundamental é
a taxa de juros — o custo de oportunidade de manter a moeda. Mas o que determina a taxa de
juros? Vamos descobrir.
equilíbriO Quando a quantidade de moeda real oferecida é igual à quantidade demandada,
o mercado monetário está em equilíbrio (como ilustrado na Figura 15.9). O equilíbrio é alcançado
por meio de mudanças na taxa de juros. Se esta taxa é muito alta, as pessoas demandam uma
quantidade de moeda menor que a oferta — elas estão com muita moeda em reserva. Nessa
situação, tentam se livrar da moeda comprando títulos. À medida que isso é feito, o preço de um
título sobe e a taxa de juros cai à taxa de equilíbrio. Reciprocamente, se a taxa de juros é muito
baixa, as pessoas demandam uma quantidade de moeda superior à quantidade oferecida. Elas estão
retendo pouca moeda. Portanto, tentam adquirir mais moeda vendendo títulos. Com isso, o preço
de um título cai e a taxa de juros sobe à taxa de equilíbrio. Apenas quando a taxa de juros atinge
o nível no qual as pessoas estão retendo a quantidade de moeda ofertada, elas retêm moeda pro-
positadamente e não agem no sentido de alterar a taxa de juros.

Mudanças na taxa de juros


Suponha que a economia esteja aquecida demais e que o Fed tema uma alta da inflação. Com
isso, ele decide entrar em ação para diminuir o dispêndio e a demanda agregada. Para isso, precisa
elevar as taxas de juros e desencorajar a obtenção de empréstimos e o dispêndio em bens e serviços.
O que faz então?
O Fed vende títulos no mercado aberto. À medida que o faz, enxuga as reservas dos bancos e
os induz a cortar empréstimos. Os bancos passam a fazer menos empréstimos novos até que o
valor do estoque de dívidas por empréstimo caia a um nível que seja consistente com o novo nível
mais baixo de reservas. A oferta de moeda diminui.
Suponha que o Fed empreenda operações de mercado aberto em uma escala suficientemente
grande para diminuir a oferta de moeda de $3 trilhões para $2,9 trilhões. Como consequência, a
curva de oferta de moeda real se desloca para a esquerda, como mostrado na Figura 15.10, de OM0
para OM1.
A demanda por moeda é representada por DM. Com uma taxa de juros anual de 5 por cento
e $2,9 trilhões de moeda na economia, empresas e pessoas físicas estão mantendo menos moeda
agora do que desejam; tentam, então, aumentar a quantidade de moeda que possuem vendendo
ativos financeiros. Conforme o fazem, o preço de um título cai, e a taxa de juros sobe. Quando a
taxa de juros aumenta, alcançando 6 por cento ao ano, as pessoas se dispõem a manter menos que
os $2,9 trilhões de moeda que o Fed e os bancos criaram.
De maneira recíproca, suponha que o Fed tema a recessão e decida estimular dispêndios au-
mentando a oferta de moeda. Se ele eleva a oferta de moeda real para $3,1 trilhões, a curva de
oferta de moeda real se desloca para a direita de OM0, em direção a OM2. A taxa de juros cai a 4
por cento ao ano.
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66 ECONOMIA dO SETOR PúblICO

Figura 15.10 Mudanças na taxa de juros


OM 1 OM 0 OM 2

Taxa de juros (percentual ao ano)


6
Uma diminuição
na oferta de
moeda eleva a
taxa de juros.
5

Um aumento na
oferta de DM
moeda reduz a
taxa de juros.

0 2,8 2,9 3,0 3,1 3,2


Moeda real (trilhões de dólares de 1992)

Uma venda de títulos no mercadoaaaa


aberto desloca a curva de oferta de moeda para a esquerda,
em direção a OM1, e a taxa de juros sobe a 6 por cento ao ano. Uma compra de títulos no
mercado aberto desloca a curva de oferta de moeda para a direita, em direção a OM2, e a taxa
de juros anual cai a 4 por cento.

Questões de revisão
Como a taxa de juros de curto prazo é determinada?
O que as pessoas fazem se estiverem mantendo mais moeda do que planejavam e o que
acontece com a taxa de juros?
Quais são as ações do Fed para aumentar a taxa de juros? E para reduzi-la?

Política monetária
Você conheceu a grande tarefa do Fed, as ações de política monetária que pode implementar
e os efeitos dessas ações nas taxas de juros de curto prazo. A maioria dos ‘segredos do templo’ foi
revelada. Mas você talvez esteja pensando: a teoria parece ótima, mas realmente funciona na prá-
tica? O Fed realmente age do modo como vimos neste capítulo? De fato, isso acontece, e às vezes
com efeitos dramáticos.
Para observar o Fed em ação, faremos duas coisas. Primeiro, verificaremos as flutuações nas
taxas de juros de curto prazo nos Estados Unidos desde 1970 e veremos como o Fed influenciou
essas flutuações. Segundo, enfocaremos dois episódios na vida do Fed: os anos turbulentos do
início da década de 80, quando ele estava lutando para erradicar uma inflação persistente; e o
período da queda do mercado de valores de 1987, durante o qual o Fed tentou manter a inflação
sob controle sem interromper o crescimento econômico.

O Fed em ação
Você viu que o efeito imediato das ações do Fed é gerar uma mudança na taxa de juros de
curto prazo. A Figura 15.11 mostra o curso de quatro taxas de juros de curto prazo desde 1970:
1. A taxa de um título do tesouro de três meses, que é a taxa de juros paga pelo governo
federal em empréstimos trimestrais.
2. A taxa de um título comercial de seis meses, isto é, a taxa de juros paga por grandes
empresas em empréstimos semestrais.
3. A taxa de desconto, ou seja, a taxa de juros que o Fed cobra dos bancos quando eles obtêm
reservas emprestadas.
4. A taxa federal de fundos, que é a taxa de juros que os bancos cobram um do outro por
empréstimos de reservas durante a noite.
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E l e m e n t o s b á s i c o s d e m a c r o e c o n o m i a   67

Observe como essas quatro taxas de juros são inter-relacionadas, movendo-se juntas. A taxa
de juros que o Fed controla diretamente é a taxa de desconto, e a taxa que ele monitora de perto
é a taxa federal de fundos, mas, como todas as taxas de curto prazo se movem para cima e para
baixo juntas, o Fed pode influenciar todas essas taxas.
As taxas de juros de curto prazo se comportam de acordo com a teoria que acabamos de es-
tudar, isto é, sobem e caem em resposta a mudanças na quantidade de moeda? De um modo geral,
sim, mas nem sempre. A Figura 15.12 ilustra essa relação — mostra a taxa federal de fundos e uma
medida da quantidade de moeda. Essa medida de moeda M2 é expressa como uma porcentagem
do PIB. A razão para analisar M2 é que se trata da medida de moeda em que o Fed se concentra. A
razão de expressar M2 como uma porcentagem do PIB é que, desse modo, podemos verificar os
efeitos da demanda e da oferta sobre as taxas de juros em uma única medida. Taxas de juros sobem
se a quantidade de moeda diminui; também se elevam se a demanda por moeda aumenta. Mas a
demanda por moeda aumenta se o PIB aumenta. Assim, a razão entre M2 e o PIB diminui se a oferta
de moeda diminui (M2 cai) ou se a demanda por moeda aumenta (o PIB cresce).
Você pode observar, a partir da Figura 15.12, que, entre 1970 e 1990, as elevações e quedas da
taxa de juros foram marcadas exatamente por diminuições e aumentos na relação entre M2 e o PIB.
Um aumento na oferta de moeda relativo à demanda de moeda provocou uma queda da taxa de
juros (1970–1972, 1974–1977 e 1981–1986). Uma diminuição na oferta de moeda em relação à
demanda de moeda provocou uma elevação da taxa de juros (1972–1974, 1977–1981 e 1986–1989).
Você também pode ver na Figura 15.12 que, depois de 1990, a relação entre moeda e taxa de
juros diminuiu. Quando a taxa de juros caiu em 1993, a razão entre M2 e o PIB não aumentou, pois
a demanda por M2 caiu devido à disponibilidade de alguns novos substitutos de posse de riqueza
— títulos e fundos mútuos de equidade. Esses fundos cresceram durante a década de 80, mas
expandiram-se mais depressa durante os anos 90, o que perturbou a relação tradicional entre M2 e
taxas de juros de curto prazo. Por conseguinte, depois de 1990, o Fed começou a considerar menos
os índices de M2.
Você observou que as flutuações na taxa de juros de curto prazo podem ser explicadas como
consequência de flutua­ções na oferta de moeda relativas à demanda por moeda. Mas essa relação
não informa se foram as ações do Fed ou as flutuações no PIB que geraram as flutuações na razão
entre M2 e o PIB. As próprias ações do Fed interferem nas taxas de juros? Vejamos como o Fed atua.

Figura 15.11  Taxas de juros de curto prazo

20
Taxa de título do tesouro de três meses
Taxa de títulos comerciais de seis meses
Taxa de desconto
Taxa federal
15 de fundos
Taxa de juros (por cento ao ano)

10

0
1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000
Ano
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68  E C O N O M I A d O S E T O R P ú b l ico

O Fed determina diretamente a taxa de desconto e monitora de perto a taxa federal de fundos.
Todas as taxas de juros de curto prazo movem-se para cima e para baixo juntas; dessa maneira,
o Fed influencia todas as taxas de curto prazo, como a taxa de títulos do tesouro de três meses
e a taxa de títulos comerciais de seis meses.
Fonte: Economic Report of the President, 1999.

O Fed de Paul Volcker No começo do mandato de Paul Volcker como presidente do


Fed — gestão que começou em agosto de 1979 —, os Estados Unidos estavam às voltas com índi-
ces de inflação de dois dígitos. Volcker acabou com aquela inflação forçando as taxas de juros
violentamente para cima, de 1979 a 1981. Esse aumento nas taxas de juros foi o resultado de o Fed
ter realizado operações de mercado aberto e aumentos na taxa de desconto para manter os bancos
com falta de reservas, o que, por sua vez, segurou o crescimento na oferta de empréstimos e de
moeda, relativamente ao crescimento na demanda de ambos. Como observamos na Figura 15.10,
para aumentar as taxas de juros, o Fed tem de cortar a oferta real de moeda. Na prática, como a
economia estava crescendo e os preços vinham subindo, uma desaceleração no crescimento da
oferta de moeda nominal foi o bastante para aumentar as taxas de juros. Não foi necessário cortar,
de fato, a oferta de moeda nominal. Quando Volcker se tornou o presidente do Fed, a oferta de
moeda estava crescendo mais do que 8 por cento ao ano. Volcker reduziu a velocidade daquele
crescimento de oferta de moeda a 6,5 por cento, em 1981. Como resultado, as taxas de juros au-
mentaram. A taxa de títulos do tesouro — pela qual o governo toma empréstimos — aumentou de
10 para 14 por cento. A taxa à qual as grandes empresas pedem emprestado aumentou de 9 para
14 por cento. Taxas hipotecárias — que servem de base para os compradores de imóvel obterem
empréstimos — aumentaram de 11 por cento para 15 por cento. A economia entrou em recessão.
O crescimento da oferta de moeda desacelerou- se e o crescimento na taxa de juros reduziu a taxa
de crescimento da demanda agregada. O PIB real diminuiu, e a taxa de inflação caiu.
O Fed de Alan Greenspan Alan Greenspan se tornou presidente do Fed em agosto de
1987. Nos dois anos precedentes, a oferta de moeda havia crescido a um ritmo rápido, as taxas de
juros tinham despencado, e o mercado de ações prosperara. Então, de repente, e sem nenhum
aviso, os preços das ações caíram e trouxeram o medo de calamidade econômica e recessão. Foi o
primeiro teste de Alan Greenspan como presidente do Fed.

Figura 15.12  Moeda e taxas de juros

70

... mas, em 1990,


desfez-se a relação
65 tradicional entre M2
e as taxas de juros

Moeda
60

Quando M2 aumentou, 20
Taxa de juros (percentual ao ano)

as taxas de juros
caíram, e quando M2
55
diminuiu, as taxas de
M2 (porcentagem do PIB)

juros subiram…
10
50
Taxa de juros

45 0
1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000
Ano
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E l e m e n t o s b á s i c o s d e m a c r o e c o n o m i a   69

Quando a relação entre M2 e PIB (medida na escala esquerda) se elevou, a oferta de moeda
aumentou ou a demanda por moeda diminuiu. O resultado, antes de 1990, foi uma queda na
taxa federal de fundos (medida na escala à direita). De modo semelhante, quando a relação
entre M2 e o PIB caiu, a oferta de moeda diminuiu ou a demanda por moeda aumentou e
(novamente antes de 1990) a taxa federal de fundos subiu. Depois de 1990, a relação entre M2
e a taxa de juros caiu porque os substitutos novos para M2 diminuíram a demanda por M2.
Fonte: Economic Report of the President, 1999, e cálculos do autor.

A reação imediata do Fed foi acentuar a flexibilidade e a sensibilidade do sistema financeiro e


tornar as reservas abundantes, a fim de evitar qualquer temor de uma crise bancária. Mas, com o
passar do tempo, tornou-se cada vez mais claro que a economia não rumava para qualquer tipo de
recessão. O desemprego continuou caindo, o crescimento da renda continuou forte, e os temores
que então emergiram eram de inflação, não de recessão.
Buscando evitar o aumento da inflação, o Fed desacelerou o crescimento da moeda e, da mesma
maneira que Paul Volcker fizera oito anos antes, forçou as taxas de juros violentamente para cima.
As operações de mercado aberto criaram uma escassez de reservas e reduziram a taxa de crescimento
da oferta de moeda. A desaceleração no crescimento da oferta de moeda teve o efeito indicado
pelo modelo que você estudou neste capítulo. Assim, as taxas de juros aumentaram ao longo de
1988. À medida que 1989 avançava, a preocupação com a inflação permaneceu, mas temores
renovados de recessão voltaram, e as taxas de juros foram gradualmente reduzidas.
Em 1990, a recessão tinha se tornado uma realidade. No princípio, o Fed adotou uma posição
neutra e esperou por sinais de recuperação. Mas, como os meses passaram e a recuperação parecia
difícil, o Fed, por fim, começou a cortar as taxas de juros. Durante 1991, elas caíram três pontos
percentuais à medida que o Fed tentava estimular a demanda agregada.
Na metade de 1991, havia se iniciado a recuperação, e o PIB real se expandiu. Essa expansão
iria se tornar uma das mais longas e acentuadas da história da economia norte-americana. O Fed
ajudou a manter a expansão e a inflação sob controle, na tentativa de prever desvios não desejados
em qualquer direção.
Em 1992 e 1993, o Fed permitiu o rápido crescimento da moeda e manteve as taxas de juros
baixas. Durante 1994, diminuiu o crescimento de moeda e empurrou as taxas de juros para cima.
Permitiu que as taxas de juros caíssem de novo, durante 1996, e incentivou um ligeiro crescimento
no primeiro trimestre de 1997.
Na maior parte de 1997, a preocupação principal do Fed foi manter a inflação sob controle.
Mas, ao final do ano e ao longo de 1998, um tipo diferente de risco surgiu. Na Ásia, o crescimento
econômico estava se desacelerando. O Japão e algumas outras economias, normalmente de cresci-
mento rápido, enfrentavam uma recessão que se aprofundava. A Rússia vivia uma turbulência eco-
nômica. A economia da América Latina estava se desacelerando. Até mesmo em certos países da
Europa o crescimento do PIB real começou a se desacelerar. Ao mesmo tempo, nos Estados Unidos
ele praticamente excedia o PIB potencial. Assim, durante 1998, o Fed tentou equilibrar dois riscos
opostos: inflação na economia doméstica e recessão no exterior. Por fim, o risco externo prevaleceu
e o Fed criou uma série de cortes na taxa de juros, com o objetivo de manter a expansão econômica.

O lucro por meio da previsão das ações do Fed


Diariamente, o Fed influencia as taxas de juros por meio de suas operações de mercado aberto.
Comprando títulos e aumentando a oferta de moeda, pode reduzir as taxas de juros; fazendo o
contrário, ou seja, vendendo títulos e reduzindo a oferta de moeda, pode aumentar as taxas
de juros. Às vezes, tais ações são tomadas para compensar outras influências e manter as taxas de
juros estáveis. Em outros momentos, o Fed movimenta as taxas de juros para cima ou para baixo.
Quanto mais alta a taxa de juros, menor é o preço de um título; quanto mais baixa a taxa de juros,
maior é o preço de um título. Dessa maneira, predizer taxas de juros é o mesmo que predizer os
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70 ECONOMIA dO SETOR PúblICO

preços de um título. Prever se as taxas de juros vão cair é o mesmo que prever que os preços dos
títulos vão subir — uma boa hora para comprar títulos. Predizer que as taxas de juros vão subir é o
mesmo que predizer que os preços dos títulos vão cair — um bom momento para vender títulos.

O Fed compra títulos O Fed vende títulos no


no mercado aberto mercado aberto

As reservas bancárias As reservas bancárias


e a quantidade de e a quantidade de
moeda aumentam moeda diminuem

As taxas de juros caem As taxas de juros sobem

O dólar se desvaloriza O dólar se valoriza


no mercado de no mercado de
câmbio exterior câmbio exterior

Aumentam as O consumo e O consumo e Diminuem as


exportações o investimento o investimento exportações
líquidas crescem diminuem líquidas

Aumenta a Diminui a
demanda agregada demanda agregada

O crescimento do PIB real O crescimento do PIB real


e a inflação se aceleram e a inflação se desaceleram

Como o Fed é quem mais influencia as taxas de juros e os preços dos títulos, predizer o que ele
irá fazer é lucrativo, e muitos profissionais se dedicam a isso. Mas aqueles que percebem que o Fed
está a ponto de aumentar a oferta de moeda compram ações imediatamente, empurrando seus
preços para cima e as taxas de juros para baixo, antes de ele agir. De modo semelhante, quem observa
que o Fed está a ponto de diminuir a oferta de moeda vende títulos imediatamente, empurrando
seus preços para baixo e as taxas de juros para cima, antes de ele tomar alguma atitude. Em outras
palavras, preços de títulos e taxas de juros mudam assim que as ações do Fed são previstas. Quando
o Fed, de fato, entra em ação, se suas ações foram previstas corretamente, elas não exercem quais-
quer efeitos, pois eles aconteceram antecipadamente às ações do Fed. Só mudanças não previstas
na oferta de moeda alteram a taxa de juros no momento em que essas mudanças ocorrem.

Os impactos da política monetária


Você observou que as ações do Fed de fato alteram as taxas de juros e que ele tenta influenciar
o curso da economia norte-americana. Essas medidas de política monetária atuam mudando a demanda
agregada. Quando o Fed reduz o crescimento da moeda e empurra as taxas de juros para cima, dimi-
nui a demanda agregada, o que, por sua vez, reduz tanto o crescimento do PIB real quanto da inflação.
Quando o Fed acelera o crescimento da moeda e reduz as taxas de juros, aumenta a demanda agre-
gada, o que, então, acelera o crescimento do PIB real e da inflação. O mecanismo pelo qual a demanda
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E l e m e n t o s b á s i c o s d e m a c r o e c o n o m i a   71

agregada muda envolve vários meios. Taxas de juros mais altas geram uma redução em dispêndio de
consumo e investimento. Crédito bancário mais apertado resulta em menos empréstimos e reforça os
efeitos de taxas de juros mais altas sobre despesas de consumo e investimentos.
Taxas de juros mais altas geram um aumento na taxa de câmbio, o que torna as exportações
norte-americanas mais caras e diminui o custo das importações. Então as exportações líquidas dimi-
nuem. As reduções em conjunto no consumo, no investimento e nas exportações líquidas diminuem
a demanda agregada, o que, por sua vez, reduz a taxa de crescimento do PIB real e a taxa de inflação.
O impacto das ações do Fed na economia pode ser mostrado, esquematicamente, do seguinte modo:

Figura 15.13  Taxas de juros e crescimento do PIB real

4
Taxa de juros de curto prazo menos a taxa de juros

Taxa de juros de curto prazo menos


2 taxa de juros de longo prazo

Crescimento do PIB real (percentual ao ano)


0
de longo prazo (percentual ao ano)

–2
8

–4

4
–6

–8
0

–10 Crescimento do PIB


real um ano depois

–12 –4
1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000
Ano

Quando o Fed aumenta a taxa de juros de curto prazo, ela se eleva acima da taxa de juros de
longo prazo e, posteriormente, o crescimento do PIB real se desacelera. De modo semelhante,
quando o Fed reduz a taxa de juros de curto prazo, ela cai abaixo da taxa de juros de longo
prazo e, em seguida, o crescimento do PIB real se acelera.
Fonte: Economic Report of the President, 1999, e cálculos do autor.

As taxas de juros e o ciclo econômico


Você observou a conexão entre as ações do Fed e as taxas de juros na Figura 15.12. E os im-
pactos que acabamos de descrever? Eles realmente ocorrem? Mudanças nas taxas de juros influen-
ciam, em última instância, a taxa de crescimento do PIB real? A resposta é sim. Você pode observar
esses impactos na Figura 15.13. A linha mais clara mostra a taxa de juros de curto prazo menos a
taxa de juros de longo prazo. A taxa de juros de curto prazo é influenciada pelo Fed do modo como
você estudou antes neste capítulo. E mudanças nas taxas de curto prazo exercem certa influência
na taxa de juros de longo prazo. Mas tal influência é pequena, e a taxa de juros de longo prazo é
determinada pelos planos de poupança e de investimento e pelas expectativas de inflação de longo
prazo. A linha mais escura na Figura 15.13 é a taxa de crescimento do PIB real depois de um ano.
Você pode observar que, quando as taxas de juros de curto prazo sobem ou a taxa de juros de longo
prazo cai, a taxa de crescimento do PIB real desacelera-se no ano seguinte. As taxas de juros de
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72 ECONOMIA dO SETOR PúblICO

longo prazo flutuam menos do que as taxas de curto prazo; assim, quando a taxa de curto prazo
sobe acima das taxas de longo prazo, é porque o Fed empurrou as taxas de curto prazo para cima.
E se as taxas de curto prazo caem abaixo das taxas de longo prazo, é porque o Fed puxou as taxas
de curto prazo para baixo. Assim, o Fed estimula a demanda agregada (ele puxa as taxas de curto
prazo para baixo), e a taxa de crescimento do PIB real se acelera; o Fed reduz a demanda agregada
(ele empurra a taxa de curto prazo para cima), e o crescimento do PIB real se desacelera.
A taxa de inflação também aumenta e diminui em consequência dessas flutuações no cresci-
mento do PIB real.

Questões de revisão
O Fed presta mais atenção em quais taxas?
Há relação, na economia norte-americana, entre flutuações nas taxas de juros de curto prazo
e flutuações na razão entre M2 e o PIB?
De que modo mudanças não antecipadas e antecipadas na quantidade de moeda influenciam
as taxas de juros?
Quando o Fed reduz as taxas de juros, o que acontece com a demanda agregada, o cresci-
mento do PIB real e a inflação?
Agora que você sabe como o Fed determina a quantidade de moeda e as taxas de juros, vamos
explorar a influência da moeda (e outros fatores) sobre a inflação.

O Fed em ação
Essência do artigo
O Fed decidiu deixar as taxas de juros inalteradas na reunião de março de 1999.
Essa decisão era amplamente esperada.
O Fed deixou as taxas de juros inalteradas porque o crescimento do PIB real era forte e a
inflação era baixa, assim nada precisou ser ajustado.
Mas o futuro tornou-se incerto diante da possibilidade de que um mercado de trabalho com
insuficiência de mão de obra pudesse gerar mais inflação e que uma economia global fraca
provocasse uma recessão.
Se o Fed aumentasse as taxas de juros, o mercado de ações poderia cair e gerar um corte
profundo nas despesas dos consumidores.
Se o Fed diminuísse as taxas de juros, o mercado de ações poderia subir ainda mais.

Análise econômica
Aproximadamente a cada seis semanas, a FOMC do Fed se encontra para debater sobre o
estado da economia e determinar as diretrizes de política econômica para as operações de
mercado aberto. Durante o ano de 1998, a FOMC cortou as taxas de juros.
A Figura 1 mostra a economia em 1997 e 1998.
Em 1997, o PIB real era $7,3 trilhões e o nível de preço era 112, na intersecção da curva de
demanda agregada DA97 com a curva de oferta agregada de curto prazo OACP97. O PIB real
era igual ao PIB potencial — a economia estava na curva de oferta agregada de longo prazo
OALP97.
Em 1998, o PIB real havia aumentado para $7,6 trilhões, e o nível de preço tinha alcançado
o índice 113, na intersecção da curva de demanda agregada DA98 com a curva de oferta
agregada de curto prazo OACP98. O PIB potencial havia subido a $7,6 trilhões (uma hipótese
razoável). Assim, em 1998, o PIB real era maior que o potencial.
Em relação a 1999, o Fed estava tranquilo com as perspectivas para a economia norte-americana.
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E l e m e n t o s b á s i c o s d e m a c r o e c o n o m i a   73
O Fed em ação
T H E WA L L S T R E E T J O U R N A L , 31 DE MARÇO DE 1999.

O Fed mantém estáveis as taxas de


juros enquanto o crescimento e a
baixa inflação permanecem
P OR J ACOB M. S CHLESINGER

WASHINGTON — Os mentores da política da reserva federal mais uma vez deixaram as taxas
de juros estáveis e sinalizaram que é provável que a política monetária permaneça, por ora, em
observação.
A espera do banco central tem origem no desempenho saudável atual da economia norte-ame-
ricana e em seu futuro incerto. Com crescimento acentuado e inflação baixa, quase não há necessi-
dade de ajustes. Os riscos, enquanto isso, parecem uniformemente equilibrados entre aqueles que
convidariam a um aumento da taxa de juros — como uma inflação que poderia se originar da situa-
ção no mercado de trabalho — e aqueles que poderiam ditar um corte na taxa de juros — como
uma desaceleração induzida pela situação no exterior.
Os elevadíssimos níveis do mercado de ações
também complicam as coisas: um aperto da políti- MANTENDO A ESTABILIDADE
ca monetária poderia desencadear uma correção O objetivo do Fed para a taxa para os fundos
acentuada, que cortaria drasticamente a despesa federais (eixo esquerdo) e a inflação, ou a
de consumo. Uma política menos rígida poderia mudança de porcentagem de ano para ano
encher o que muitos funcionários do Fed temem no índice de preços ao consumidor (eixo direito)
ser uma bolha e que, alguns admitem agora, foi o 6,0% 3,5%
resultado de um corte na taxa de juros de três Taxa-alvo
quartos de ponto percentual, no outono passado.
“Eu não sei quais ajustes na política monetária 5,5 3,0
serão necessários, se for o caso, para ajudar a eco-
nomia a seguir uma tendência de crescimento sus-
tentável e manter uma inflação branda”, disse
5,0 2,5
Edward Boehne, presidente da reserva federal da
Filadélfia, em um discurso no princípio de março. IPC
(ex. comida
Os mercados financeiros anteciparam a decisão
4,5 e energia) 2,0
de deixar o alvo para a taxa dos fundos federais — a
taxa à qual os bancos emprestam um ao outro Fed mantém as
taxas inalteradas
durante a noite (overnight) — a 4,75%. Imediata-
4,0 1,5
mente depois do anúncio, às 2h15 da tarde de terça-
1996 97 98 99
-feira, o índice Dow Jones Industrial, que tinha acu-
Fontes: Datastream, Reserva Federal
mulado baixa ao longo da manhã, deslizou ligeira-
mente. Fechou a 9.913.26, com uma baixa de 93,52 pontos.
Os funcionários do Fed não emitiram nenhum comentário público, como é habitual quando
o banco central não interfere. Nessas reuniões, os funcionários do Fed debatem também a chama-
da diretriz de políticas, uma declaração consensual que informa se o próximo movimento da taxa
será mais de aumento ou de redução.

Copyright © 1999 Dow Jones & Company, Inc. Reimpresso com permissão.

350
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74 ECONOMIA dO SETOR PúblICO

A Figura 2 mostra a previsão do Fed de demanda agregada em 1999 como DA99 e a curva de
oferta agregada de curto prazo OACP99. O Fed esperava que o PIB real crescesse para $7,7 trilhões
e que o nível de preço subisse para 114.
OALP97 OALP98
Nível de preço (deflator do PIB, 1992 = 100)
Crescimento do
PIB potencial Aumento na
oferta
Aumento na agregada de
demanda curto prazo
agregada
OACP 97

OACP 98

113
112

DA98
DA97
0 7 ,2 7,3 7,4 7,5 7,6 7 ,7
PIB real (trilhões de dólares de 1992)

Figura 1 A economia em 1997 e 1998

OALP99
Nível de preço (deflator do PIB, 1992 = 100)

Hiato
inflacionário
OACP 99

115
114
113

Hiato
deflacionário DA0
DA1 DA99

0 7 ,5 7,6 7,7 7,8 7,9 8 ,0


PIB real (trilhões de dólares de 1992)

Figura 2 Alguns cenários para 1999

Se a demanda agregada fosse DA0, teríamos um hiato inflacionário. A inflação e o PIB


real aumentariam. Para fazer face a tal aumento, o Fed poderia apertar a oferta de moeda
e aumentar as taxas de juros.
Se a demanda agregada fosse DA1, teríamos um hiato deflacionário. A inflação e o PIB real
diminuiriam. Para enfrentar tal resultado, o Fed poderia afrouxar a oferta de moeda e baixar
as taxas de juros.
Você pode imaginar o dilema que o Fed enfrenta todos os anos. Se a demanda agregada
aumenta muito, ele precisa tentar frear a economia. Se o aumento da demanda agregada
for muito pequeno, tem de procurar estimular a economia. Mas, para isso, o Fed vê-se
obrigado a antecipar corretamente a mudança na demanda agregada.
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Elementos básicos de macroeconomia 75

Você opina
Por que o Fed acreditava que nenhuma ação de política monetária era necessária em março
de 1999?
O Fed mudou as taxas de juros durante 1999? Em caso positivo, por quanto, em que dire-
ção e por quê? Se não, por que não?
Em sua opinião, o que o Fed deveria fazer diante da possibilidade de uma recessão?
E se uma inflação parecesse provável?

1.5.5 Política cambial e de comércio exterior


A política cambial e a de comércio exterior representam as ações do governo nas transações
internacionais do país. Pela política cambial, o governo
atua no mercado de moedas estrangeiras (divisas),
como, por exemplo, comprando ou vendendo dólares
para regular o mercado ou fixando o valor do dólar. Para saber mais
Quando a taxa de câmbio é fixada pelo governo, tem‑
O regime de câmbio em vigor no
‑se o regime de taxas fixas de câmbio. Quando a taxa
é flexível, determinada pelo mercado de divisas, tem‑se Brasil, atualmente, é o regime de
o regime de taxas flutuantes de câmbio. Pela política taxas flutuantes.
de comércio exterior, o governo pode atuar por meio
de estímulos à exportação, tais como financiamentos
a juros subsidiados e, ainda, entre outros, por meio de
taxação de impostos para importação, estabelecimento de alíquotas diferenciadas etc.

1.5.6 Política de rendas


A política de rendas é representada pela intervenção direta do governo na formação de
renda, com medidas de controle sobre os preços, como o congelamento, e com políticas
de preservação dos níveis salariais (VASCONCELLOS; GARCIA, 2006).
O governo brasileiro procurou, por meio dos planos econômicos adotados nos anos 1980
e início dos anos 1990, melhorar o poder de compra da população por meio do controle de
preço dos produtos. Outra forma possível é a adoção de medidas de recuperação do salário
mínimo, práticas de reajuste salarial etc.
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76  E C O N O M I A d O S E T O R P ú b l ico

  Seção 2 Entendendo os indicadores


econômicos
Neste estudo trabalharemos com os principais indicadores, contemplando as áreas de
produção, emprego, renda, comércio exterior e balanço de pagamentos, dívida pública, carga
tributária, base monetária, juros, moedas e inflação, entre outros.
À medida que conhecermos os indicadores, vamos entender a importância de seu uso
nas decisões dentro das organizações. O sucesso de uma decisão está condicionado ao uso
eficiente das informações que suportem tal decisão. Não se admite mais, nas organizações,
decisões tomadas sem estudo ou à base de emoções. Os indicadores são ferramentas que traçam
um cenário da economia em que se atua e permite fazer todas as análises necessárias para
dar suporte à decisão. Se internamente os gestores de empresas utilizam-se dos indicadores
internos, que são seus balanços, relatórios gerenciais, pesquisas internas etc., por que não se
utilizar os indicadores externos, que são os econômicos.
A fim de compreendermos o significado e a importância dos indicadores, vamos descrever
a respeito de cada um dos principais.

2.1 Índices de inflação


Não haveria dificuldades em se medir a inflação se a questão fosse conhecer a variação
de preços de um único bem. “A necessidade de construção de índices de preços surge quando
se precisa saber a variação conjunta de bens que são fisicamente diferentes, ou que variam a
taxas diferentes” (GREMAUD; VASCONCELLOS; TONETO JÚNIOR, 2004, p. 118).
Existem vários indicadores de inflação no Brasil. A diferença está em que enquanto alguns
deles medem a evolução dos preços no nível do consumidor, outros medem o comportamento
dos preços no atacado. Também variam o período de coleta, a região de cobertura do indicador
e a abrangência, em termos de orçamento familiar (LANZANA, 2002 p. 112).
Vejamos alguns índices de medida da inflação no Brasil, conforme Lanzana (2002, p.
113-114) e Gremaud (2004, p. 121):
a) INPC — Índice Nacional de Preços ao Consumidor. Pesquisado pelo IBGE. Pesquisa
preços para um universo de renda familiar de 1 a 8 salários-mínimos (sm), no período
do primeiro ao último dia do mês de referência, nas onze principais regiões metropo‑
litanas (RMs), que são: Rio de Janeiro, Porto Alegre, Belo Horizonte, Recife, São Paulo,
Belém, Fortaleza, Salvador, Curitiba, Distrito Federal e Goiânia.
b) IPCA — Índice de Preços ao Consumidor Ampliado. Pesquisado pelo IBGE, abrangendo
renda familiar de 1 a 40 salários-mínimos. Os preços são coletados do primeiro ao
último dia do mês de referência nas onze principais regiões metropolitanas do Brasil.
c) IGP — Índice Geral de Preços. Pesquisado pela Faculdade Getulio Vargas (FGV) nas
onze principais regiões metropolitanas, no período do primeiro ao último dia do mês
de referência. O universo de renda contemplado é de 1 a 33 salários-mínimos, pes‑
quisando preços no atacado e da construção civil. O IGP é uma composição de três
outros índices: IPA — Índice de Preços por Atacado (60%), IPC — Índice de Preços ao
Consumidor (30%) e INCC — Índice Nacional da Construção Civil (10%).
d) IGP-M — Índice Geral de Preços no Mercado. Segue a mesma metodologia do IGP,
mudando apenas o período de coleta dos dados, que é do dia 21 do mês anterior até
o dia 20 do mês de referência. São divulgadas prévias de 10 em 10 dias.
e) IPC-Fipe — Índice de Preços ao Consumidor. Divulgado pela FIPE/USP — Fundação
Instituto de Pesquisas Econômicas da Faculdade de Economia e Administração da Univer‑
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E l e m e n t o s b á s i c o s d e m a c r o e c o n o m i a   77

sidade de São Paulo, pesquisa um universo de renda familiar de 1 a 20 salários-mínimos,


do primeiro ao último dia do mês de referência, somente na cidade de São Paulo.
f) ICV — Índice de Custo de Vida. Divulgado pelo Dieese, contempla uma renda familiar
de 1 a 30 salários-mínimos e é medido do primeiro ao último dia do mês de referên‑
cia, no município de São Paulo. Apesar de pesquisar renda de 1 a 30 sm, o Dieese faz
intervalos de 1 a 3 sm e de 1 a 5 sm, para obter uma melhor estratificação.

2.2 PIB (produto interno bruto)


Um dos objetivos das políticas econômicas dos governos é aumentar a produção de bens
e serviços.
A medida mais utilizada nesse sentido é a do produto interno bruto (PIB), que é a soma da
produção de todos os bens e serviços finais produzidos por um país, em determinado período
de tempo. O PIB inclui tanto a produção de bens materiais (tangíveis), como a produção de
serviços (não tangíveis) (LANZANA, 2002, p. 89).
Quando há crescimento do PIB, significa que há expansão do mercado. Havendo PIB
negativo é sinal de recessão, o que, fatalmente, gera desemprego e baixa o nível de renda da
economia.

2.3 Taxa de desemprego


A taxa de desemprego está diretamente ligada à performance da economia. Ela será tanto
menor quanto maior for a utilização da capacidade produtiva de uma economia. À medida que
a atividade econômica cresce, ela implica em redução da taxa de desemprego pela contratação
de mais mão de obra para fazer frente à necessidade de produção para atender à demanda exis‑
tente. Geração de emprego cria renda, que, por sua vez, gera consumo e assim será necessária
a produção de mais bens para atender à demanda, formando um círculo vicioso, que provoca
a queda da taxa de desemprego. Este índice é importante para as empresas, sobretudo nas
estratégias de marketing, pois indicam a capacidade de consumo do mercado. As estratégias
de vendas serão criadas com base na capacidade de compra do mercado.

2.4 Renda per capita


A renda per capita é medida pela divisão da renda total do país pela população total deste
mesmo país. Considerando que a renda total seja igual à sua produção total, podemos dizer que
ela se relaciona com a expansão da produção e o crescimento demográfico. Se houver maior
crescimento da população do que da produção, haverá uma diminuição da renda per capita
da população, reduzindo, assim, a qualidade de vida deste povo. Ao contrário, havendo um
crescimento da produção maior que o crescimento demográfico, haverá um maior volume de
renda na economia, o que implicará uma melhoria da qualidade de vida das pessoas.
Este índice indica a capacidade global de consumo na economia do país. Importante para
o estabelecimento das estratégias das empresas.

2.5 Balanço de pagamentos


O balanço de pagamentos de um país é um resumo contábil das transações econômicas
que ele faz com o resto do mundo, durante certo período de tempo. Com base nesse balanço
pode-se avaliar a sua situação econômica internacional (GREMAUD; VASCONCELLOS; TONETO
JÚNIOR, 2004, p. 262). Em termos gerais, o balanço de pagamentos é composto de cinco grandes
itens: balança comercial, balança de serviços, transferências unilaterais, balança de transações
correntes (que é a soma das anteriores) e balança de capitais (LANZANA, 2002 p. 125).
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78  E C O N O M I A d O S E T O R P ú b l ico

2.6 Balança comercial


A balança comercial representa a relação entre as exportações e importações que um país
realiza. Havendo maior volume de exportações que importações teremos superávit na balança
comercial. O contrário significa ter déficit.
A balança comercial é um componente de significativa importância no balanço de pa‑
gamentos, pois se apresenta como um dos itens mais suscetíveis a políticas com objetivo de
obtenção de superávit no Balanço de Pagamentos.
Trata-se de item muito importante para os exportadores e importadores, pois conforme está
sua posição pode ensejar medidas de política econômica governamental, buscando adequar
seu saldo às necessidades do país.

2.7 Dívida externa


A dívida externa representa o total dos valores que um país deve no mercado externo.
Divide-se em dívida pública e dívida privada. A dívida pública é a parte da dívida contraída
pelo governo, ao passo que a dívida privada refere-se à divida contraída pelos bancos e em‑
presas particulares.
Segundo Gremaud, Vasconcellos e Toneto Júnior (2004, p. 522), o processo recente de
endividamento externo brasileiro iniciou-se principalmente em 1968. A justificativa oficial
para esse endividamento era a necessidade de recurso à poupança externa para viabilizar as
altas taxas de crescimento ao longo do milagre econômico.
O acompanhamento da evolução da dívida externa do país é de fundamental importância,
pois ela pode ensejar a adoção de políticas pelo governo, que possam afetar diretamente a
ação das empresas que atuam com o mercado externo.

2.8 Carga tributária


A carga tributária de um país representa o peso dos impostos sobre a atividade produtiva.
A alta carga tributária tem efeitos danosos para a economia, pois desestimula investimentos
produtivos e retira dinheiro do mercado de consumo, na medida em que transfere renda da
iniciativa privada para a pública.

2.9 Dívida interna pública


É o montante de dívida dos governos federal, estadual e municipal. É composto pela dí‑
vida mobiliária (títulos públicos) e pelos gastos em geral realizados pelo governo. O governo
paga seus gastos por meio da arrecadação de tributos e pode financiar o déficit público com
a emissão de moeda ou a colocação de títulos públicos no setor privado. Os títulos públicos
colocados no mercado podem representar oportunidades para a iniciativa privada, bem como
podem implicar em adoção de medidas não vantajosas a pessoas e empresas.

2.10 Base monetária/meios de pagamentos


A base monetária refere-se à emissão primária de moeda. É mais abrangente que a moeda
manual utilizada no conceito de meios de pagamento, uma vez que inclui, além da moeda
em poder do público, as reservas dos bancos comerciais. Portanto, meios de pagamento é o
volume de papel-moeda em poder do público e base monetária é o volume de papel-moeda
em poder do público mais as reservas dos bancos comerciais (LANZANA, 2002, p. 53).
Não há dúvida de que a análise desse indicador é de fundamental importância para as
estratégias de uma empresa.
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E l e m e n t o s b á s i c o s d e m a c r o e c o n o m i a   79

2.11 Taxa de juros


A taxa de juros tem um papel fundamental nas decisões dos agentes econômicos.
No âmbito familiar, afeta suas decisões de consumo tanto na disposição de adquirir um
bem a prazo, como na decisão entre consumir e poupar, uma vez que juros mais elevados
levam a aumento da poupança e redução do consumo.
Do lado empresarial, as taxas de juros interferem nas decisões de investimento, pois
quanto mais elevadas as taxas de juros, menos os empresários estarão dispostos a investir. Isto
porque, de um lado, o custo de tomar o recurso emprestado fica mais alto e, de outro, porque
pode ser mais atraente aplicar o recurso no mercado financeiro do que na atividade produtiva.
Para o governo, os juros também têm um papel relevante por causa da dívida interna.
Quando as taxas de juros sobem, o custo de rolagem da dívida aumenta, pressionando o déficit
público e, por consequência, a própria dívida interna.
As taxas de juros também têm papel importante para as contas externas. Quando o país
está necessitando de dólares, as taxas internas de juros podem ser elevadas para atrair recursos
do exterior, que vêm em busca de rendimentos mais altos (LANZANA, 2002, p. 60).
O movimento das taxas de juros se dá por medidas de política monetária dos governos.
É importante estar sempre atento a essas medidas que podem afetar diretamente as ações das
pessoas e das empresas.

2.12 Reservas cambiais


A reservas cambiais de um país se dão pelo acúmulo de moedas estrangeiras realizadas pelo
Banco Central. Quanto maior for o volume de reservas do país, mais seguro é considerado pelo
mercado internacional. Muitas medidas de câmbio são tomadas com o objetivo de aumentar as
reservas e melhorar o “risco país”. Quanto maior o volume de reservas cambiais, menor tende
a ser o “risco país”, visto que as reservas têm grande importância na definição deste risco.

Resumo
A macroeconomia estuda todas as questões ligadas aos agregados econômicos, que
possibilitam a obtenção de dados para a adoção de políticas econômicas, consubstan‑
ciadas nos instrumentos econômicos disponíveis. Com o estudo da macroeconomia se
estabelecem os objetivos de política econômica e se procura atingi-los, buscando melhor
regular o funcionamento da economia do país.
Ao aplicar os instrumentos de política econômica, vemos a possibilidade de atin‑
girem-se aqueles objetivos que os governantes buscam. Vê-se, então, que a adoção de
políticas macroeconômicas dá o direcionamento para a obtenção da ordem na economia.
Na sequência de nosso estudo, na próxima unidade iremos fazer um passeio pelos
acontecimentos recentes da economia brasileira.
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80  E C O N O M I A d O S E T O R P ú b l ico

Atividades de aprendizagem
1. Na economia de Zap, a propensão marginal a consumir é 0,9. O investimento é de $50
bilhões, as compras do governo de bens e serviços são de $40 bilhões e os impostos fixos
são de $40 bilhões. Zap não tem nenhuma exportação, nem importação.
a) O governo corta as compras de bens e serviços para $30 bilhões. Qual é a mudança
na despesa de equilíbrio?
b) Qual é o valor do multiplicador de compras do governo?
c) As compras do governo, de bens e serviços, continuam sendo de $40 bilhões, e ele
corta o imposto fixo para $30 bilhões. Qual é a mudança na despesa de equilíbrio?
d) Qual é o valor do multiplicador de impostos?
e) O governo corta simultaneamente suas compras de bens e serviços e os impostos em
$30 bilhões. Qual é a mudança na despesa de equilíbrio? Por que ela diminui?
2. Na economia de Zip, a propensão marginal a consumir é 0,8. O investimento é de $60
bilhões, as compras do governo de bens e serviços são de $50 bilhões e os impostos fixos
são de $60 bilhões. Zip não tem nenhuma exportação, nem importação.
a) O governo aumenta as compras de bens e serviços para $60 bilhões. Qual é a mudança
na despesa de equilíbrio?
b) Qual é o valor do multiplicador de compras do governo?
c) O governo continua comprando bens e serviços no valor de $60 bilhões e aumenta
os impostos fixos para $70 bilhões. Qual é a mudança na despesa de equilíbrio?
d) Qual é o valor do multiplicador de impostos?
e) O governo eleva simultaneamente suas compras de bens e serviços e os impostos em
$10 bilhões. Qual é a mudança na despesa de equilíbrio? Por que ela aumenta?
3. Suponha que o nível de preço na economia de Zap, como descrito no Problema 1, seja
100. A economia também está em pleno emprego.
a) Se o governo de Zap aumenta suas compras de bens e serviços em $10 bilhões, o que
acontece com a quantidade de PIB real demandada?
b) O que faz mudar a curva de demanda agregada de Zap? Desenhe um diagrama de
duas partes semelhante para ilustrar a mudança em ambas as curvas AE e DA.
c) No curto prazo, o PIB real de equilíbrio se eleva a um patamar superior, inferior ou
igual ao aumento no PIB real demandado?
d) E no longo prazo?
e) No curto prazo, o nível de preço em Zap sobe, cai ou permanece inalterado?
f) E no longo prazo?
4. Suponha que o nível de preço na economia de Zip, como descrito no Problema 1, seja
100. A economia também está em pleno emprego.
a) Se o governo de Zip diminui suas compras de bens e serviços em $5 bilhões, o que
acontece com o PIB real demandado?
b) O que faz mudar a curva de demanda agregada de Zip? Desenhe um diagrama de
duas partes para ilustrar a mudança em ambas as curvas AE e DA.
c) No curto prazo, o PIB real de equilíbrio se eleva a um patamar superior, inferior ou
igual ao aumento no PIB real demandado?
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E l e m e n t o s b á s i c o s d e m a c r o e c o n o m i a   81

d) No curto prazo, o nível de preço em Zip sobe, cai ou permanece inalterado?


e) Por que o PIB real, no curto prazo, diminui em uma quantia inferior à diminuição em
demanda agregada?
5. A figura mostra despesas e receitas tributárias do governo da Terra dos Sonhos. O PIB
potencial é de $40 milhões.

orçamentário (milhões de dólares de 1992)


Despesas, receitas e superávit/déficit Receitas tributárias

120

100

80

60
Dispêndios

0 20 30 40 50 60
PIB real (milhões de dólares de 1992)

a) Qual é o orçamento de equilíbrio do governo se o PIB real é de $40 milhões?


b) A Terra dos Sonhos tem um superávit ou déficit estrutural se seu PIB real é de $40
milhões? Qual é o tamanho desse superávit ou déficit? Explique.
c) Qual é o orçamento de equilíbrio do governo se o PIB real é de $30 milhões?
d) Se o PIB real da Terra dos Sonhos é de $30 milhões, ela apresenta um superávit ou
déficit estrutural? De que magnitude? Explique por quê.
e) Se o PIB real da Terra dos Sonhos é de $50 milhões, tem-se um superávit ou déficit
estrutural? De que tamanho? Explique por quê.
6. No Problema 5, se o PIB real da Terra dos Sonhos é de $50 milhões:
a) Qual é o orçamento de equilíbrio do governo?
b) A Terra dos Sonhos tem um superávit estrutural? De quanto? Explique.
c) Qual será o orçamento de equilíbrio do governo se o PIB potencial for de $30 milhões?
d) Se o PIB potencial da Terra dos Sonhos é de $30 milhões, há um superávit ou déficit
estrutural? De quanto? Explique.
e) Qual seria o PIB real da Terra dos Sonhos para que não houvesse nem déficit/superávit
estrutural nem déficit/superávit cíclico com um PIB potencial de $40 milhões?
7. Releia os textos de Parkin (2003, p. 300-301) e:
a) Explique os efeitos de curto prazo de se pagar a dívida nacional a um ritmo mais rápido.
b) Determine os efeitos de longo prazo de se pagar a dívida nacional mais rapidamente.
8. Pensando nos efeitos de cortes de impostos sobre a oferta (supply-side):
a) Quais seriam os principais efeitos de menores taxas de imposto de renda sobre o nível
de PIB potencial?
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82  E C O N O M I A d O S E T O R P ú b l ico

b) Como impostos de renda mais baixos influenciariam a taxa real de salário e a taxa
real de juros?
c) Quais são os custos principais de impostos de renda mais baixos?
9. A figura mostra uma curva de oferta agregada de longo prazo (OALP) de uma dada econo‑
mia, três curvas de demanda agregada (DA0, DA1 e DA2) e três curvas de oferta agregada
de curto prazo (OACP0, OACP1 e OACP2). A economia começa nas curvas DA0 e OACP0.
Certos acontecimentos geram uma inflação de demanda.
OALP OACP 2
Nível de preços (deflator do PIB, 1992 = 100)

260
OACP 1
240
220 OACP 0
200
180
160
140
120
100
80 DA2
60
DA1
DA0
0 4 5 6 7 8 9 10 11 12
PIB real (trilhões de dólares de 1992)

a) Relacione os eventos que poderiam causar inflação de demanda.


b) Utilizando a figura, descreva os efeitos iniciais da inflação de demanda.
c) Do mesmo modo, descreva o que acontece à medida que uma espiral de inflação de
demanda deslancha.
10. Na economia descrita no Problema 1, certos acontecimentos geram uma inflação de custo.
a) Relacione os eventos que poderiam causar inflação de custo.
b) Utilizando a figura, descreva os efeitos iniciais da inflação de custo.
c) Descreva também o que acontece à medida que uma espiral de inflação de custo
deslancha.
11. Na economia descrita no Problema 9, determinados fatos geram uma inflação antecipada.
a) Relacione os eventos que poderiam causar uma inflação antecipada.
b) Utilizando a figura, descreva os efeitos iniciais de uma inflação antecipada.
c) Com base na mesma figura, descreva o que ocorre à medida que uma inflação ante‑
cipada prossegue.
12. Retomando o Problema 9, consideremos que as pessoas antecipem uma deflação (nível
de preço em queda), mas a demanda agregada não mude.
a) O que acontece com as curvas de oferta agregada de curto e de longo prazo? (Desenhe
algumas curvas novas, se precisar.)
b) Utilizando a figura, descreva os efeitos iniciais da deflação antecipada.
c) Descreva também o que acontece quando se torna claro para todos que a deflação
antecipada não vai acontecer.
13. Uma economia tem uma taxa de desemprego de 4 por cento e uma taxa de inflação de 5 por
cento ao ano no ponto a da figura. Alguns acontecimentos movem a economia para o ponto d.
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4 por cento e uma taxa de inflação de 5 por cen-


to ao ano no ponto a da figura. Alguns aconte-
E l e m e n t o s b á s i c o s d e m a c r o e c o n o m i a   83
cimentos movem a economia para o ponto d.
OACP2
OACP1
OACP0

Taxa de inflação (percentual ao ano)


20

15 b d
DA2
DA1
DA0 10

10 11 12
5 a c

0 2 4 6 8
Taxa de desemprego (porcentagem da força de trabalho)

a) Descreva os eventos que poderiam mover a economia do ponto a para o ponto d.


b) Desenhe no diagrama as curvas de Phillips de curto e de longo prazos quando a
economia a. Descreva
está no ponto a. os eventos que poderiam mover a
economia
c) No mesmo diagrama, docurvas
trace as pontodeaPhillips
para odeponto
curto ed.de longo prazos quando
b.estáDesenhe
a economia no diagrama as curvas de Phillips
no ponto d.
de curto e de longo prazos quando a econo-
14. Alguns acontecimentos movem a economia descrita no Problema 13 do ponto b para o
ponto c. mia está no ponto a.
c. eventos
a) Descreva os No que
mesmo diagrama,
poderiam trace por
ser responsáveis as essa
curvas de
alteração.
Phillipsasde
b) Desenhe no diagrama curto
curvas de ePhillips
de longo prazos
de curto quando
e de a
longo prazos quando a
economia
economia está no ponto b. está no ponto d.
6. ao
c) Adicione Alguns acontecimentos
diagrama movem
as curvas de Phillips a economia
de curto des-
e de longo prazos quando a
economia crita
está nono
ponto c.
Problema 5 do ponto b para o ponto c.
a. Descreva
15. Na economia descrita os eventos
no Problema 13, certosque poderiam movem
acontecimentos ser res-a economia no
ponsáveis
sentido horário, do ponto a parapor
b, deessa alteração.
b para d, de d para c, de c para a.
b.eventos
a) Descreva os Desenhe no diagrama
que poderiam criar essaassucessão.
curvas de Phillips
de curto
b) Desenhe no diagrama e de de
as curvas longo prazos
Phillips quando
de curto a econo-
e de longo prazos.
c) A economia tem mia está no ponto
experimentado b. de demanda, inflação de custo, inflação
inflação
antecipadac.ou nenhuma
Adicione ao diagrama as curvas de Phillips
delas?
16. Na economia descritadenocurto e de
Problema longofatos
5, alguns prazos quando
deslocam a econo-
a economia em um movimento
mia
anti-horário do ponto estác,no
a para de cponto
para d,c.de d para b, de b para a.
* 7. os
a) Descreva Naeventos
economia descritacriar
que poderiam no Problema 5, certos
essa sucessão. acon-
tecimentos
b) Desenhe no movem adaseconomia
diagrama a sequência no sentido
curvas de Phillips horá-
de curto e de longo prazos.
c) A economiario,tem
doexperimentado
ponto a parainflação
b, de bdepara d, de dinflação
demanda, para c,de
decusto, inflação
antecipadacou nenhuma
para a. delas?
17. Uma economiaa. com Descreva os eventos
uma taxa natural que poderiam
de desemprego criar
de 4 por cento essataxa de inflação
e uma
sucessão.
esperada de 6 por cento ao ano tem a seguinte história de inflação e desemprego:
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84  E C O N O M I A d O S E T O R P ú b l ico

Taxa de
Taxa de inflação
desemprego
Ano (percentual ao ano) (percentual)
1999 10 2
2000 8 3
2001 6 4
2002 4 5
2003 2 6

a) Desenhe no diagrama as curvas de Phillips de curto e de longo prazos.


b) Se a taxa anual de inflação real aumenta de 6 para 8 por cento, qual é a mudança na
taxa de desemprego? Explique por que isso ocorre.
18. Para a economia descrita no Problema 17, a taxa natural de desemprego sobe a 5 por cento
e a taxa de inflação esperada cai para 5 por cento ao ano. Desenhe as curvas de Phillips
de curto e de longo prazos em um diagrama.
19. Se uma taxa de inflação de 10 por cento ao ano (como a que ocorreu durante a década
de 1970) retornasse nos Estados Unidos, quem se beneficiaria e quem perderia?
20. “A curva de Phillips é um menu do qual o governo deve escolher quanta inflação e quanto
desemprego vai comprar.” Avalie essa declaração. Em que condições isso é verdadeiro? E
em que condições é falso?
21. Se o Fed objetivasse usar a política monetária para reduzir a taxa de desemprego para 2
por cento, o que você prediz que aconteceria:
a) Ao desemprego no curto prazo?
b) Ao desemprego no longo prazo?
c) À inflação no curto prazo?
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Unidade 3
Noções de economia
internacional e sistema
financeiro
Regina Lúcia Sanches Malassise

Objetivos de aprendizagem: Nesta unidade você entenderá o por-


quê da crescente interdependência entre os países. Verá que ela
se apresenta sob dois grandes rumos: a globalização e a formação
de megablocos. Vai entender também que a interdependência
faz surgir as instituições reguladoras, as regras de comércio, bem
como as reações protecionistas por parte dos participantes do
comércio internacional.

Seção 1: Elementos básicos da economia


internacional
Nesta seção apresentaremos os conceitos básicos e
necessários para o entendimento das questões-chave
do comércio internacional. Nela você estudará a
evolução da interdependência econômica, o padrão
monetário internacional e os sistemas cambiais.

Seção 2: Divisões do estudo da economia


internacional
Nesta seção vamos apresentar os temas de estudo
atual da economia internacional. Abordaremos a
política internacional, os organismos internacionais,
os blocos econômicos e as formas de integração
econômica.
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86  E C O N O M I A d O S E T O R P ú b l ico

Introdução ao estudo
Caro aluno, para você não é novidade que o Brasil é hoje um país plenamente integrado
à economia internacional. Com certeza você percebe isso devido à gama de produtos impor‑
tados com que se depara quando vai às compras. Este é o lado mais real e visível para você.
Então vamos pensar um pouco sobre isso. As primeiras perguntas que você deve estar
se fazendo são: como esse produto chegou aqui? Por que ele tem esse preço? Como ele foi
produzido? Por que ele não foi produzido no Brasil? Estas e outras questões explicam por que
a economia internacional tornou-se tão importante nos últimos tempos. O motivo para isso é
que ela busca explicações para entender os fluxos comerciais entre países.
Outra preocupação importante para a economia internacional é entender os fluxos financeiros
entre países. Podemos dizer que a partir da maior interdependência comercial entre os países,
também ampliou-se o espaço para a interdependência financeira. Você pode perceber que com a
crise financeira de 2007 nos Estados Unidos e a atual crise financeira na Zona do Euro, parceiros
comerciais e financeiros do nosso país trouxeram preocupação para o Brasil, pois a produção
caiu e perspectiva de crescimento era de apenas 2,0% para 2012. Isso assusta o governo.
Assim, esta unidade foi desenvolvida para fornecer a você uma descrição dos elementos
teóricos necessários para entender os aspectos da globalização na atualidade. Convido-o a
estudar mais este tema tão interessante e amplamente discutido hoje em dia.

Seção 1 Elementos básicos da economia


internacional
1.1 A
 interdependência, evolução da moeda e Sistema
Monetário Internacional
A interdependência entre países evoluiu desde as trocas comerciais até as transações
estritamente financeiras. Em todas essas transações sempre existem duas moedas — a interna
(nacional ou doméstica) e a externa (estrangeira ou divisa). Portanto, para entender a inter‑
dependência entre os países, devemos estudar um pouco sobre a moeda e seu padrão de
conversão. É o que vamos ver agora.

1.1.1 Do escambo ao papel-moeda


Grande parte dos desenvolvimentos econômicos só foi possível a partir do aparecimento
de um excedente que permitisse que as mercadorias de um produtor pudessem ser trocadas
pelas mercadorias de outro. Existe um logo caminho que foi percorrido pela humanidade até
que se atingisse o estágio atual da interdependência. Aqui vamos destacar genericamente os
pontos mais importantes do ponto de vista econômico deste caminho.
A produção de um excedente tem seu início no setor agrícola. É comum ouvirmos as ma‑
ravilhas da produção de alimentos pelos egípcios às margens do Rio Nilo, e também podemos
mencionar os avanços nas técnicas de produção agrícola que ampliaram a produtividade.
A produção de excedente gerou dois tipos de movimentos econômicos: liberação da mão
de obra no campo e comércio do excedente. À medida que a produtividade aumentou, eram
necessários menos homens no campo para produzir alimentos, e estes puderam se dedicar a
outras atividades, e assim atividades ligadas à produção do artesão aumentaram e puderam
ser comercializadas. O aumento da produção permitiu que a produção extra pudesse ser
comercializada no mercado, daí surgiram as atividades ligadas ao comércio, por exemplo, o
desenvolvimento do mercantilismo.
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N o ç õ e s d e e c o n o m i a i n t e r n a c i o n a l e s i s t e m a f i n a n c e i r o   87

O avanço das atividades de comercialização do excedente passou pelas trocas diretas,


quando os produtores trocavam mercadorias entre eles de acordo com os produtos disponí‑
veis para troca e com suas necessidades, o que também ficou conhecido como economia de
escambo. Nela o valor do bem era dado pela dificuldade de obtê-lo, logo, pelo tempo gasto
na sua produção ou pelo valor subjetivo que dependia da utilidade do produto atribuída pelo
comprador. Assim, o pescador que pescasse mais poderia trocar seu excedente com o agricultor
que tivesse produzido mais trigo, por exemplo.
O comércio recebeu outro impulso com a aceitação de uma mercadoria que representava
o valor das outras mercadorias: esta forma primitiva do dinheiro ficou conhecida como
moeda mercadoria. A mercadoria aceita como forma de pagamento passou a representar o
valor das outras mercadorias. Assim, as moedas mercadorias mais conhecidas foram o boi,
o sal, o arroz. Este processo deixou suas marcas — nesta época utilizavam-se palavras como
salário (do sal), pecúlio (do latim pecus = gado), capital (do latim capita = cabeça). No Brasil
tivemos como moeda mercadoria o pau-brasil, o açúcar, o cacau, o tabaco e o tecido. Aos
poucos as moedas mercadorias foram mostrando suas limitações para ser um instrumento
de troca. A oscilação de seu valor, o fato de não serem fracionáveis e por serem facilmente
perecíveis, era um empecilho para que ela fosse acumulada enquanto riqueza.
O metal tinha muitas aplicações no mundo antigo. Mas quando começou a ser utilizado
para produzir objetos de valor, abriu-se um caminho para que ele, aos poucos, assumisse um
papel de destaque no meio circulante. O domínio de certos metais como cobre, ouro e prata
envolvia o conhecimento do local onde encontrá-los, o domínio e o seu manuseio, e isto não
era uma tarefa fácil. Daí deu-se maior valor ainda aos metais. Primeiro eles foram utilizados
para produzir armas, depois joias e não raro eram acumlados em barras. Logo percebeu-se
a vantagem deles, pois podiam ser guardados (entesourado), podiam ser fracionados (divisi-
bilidade), eram escassos na natureza (raridade), podiam ser transportados com facilidade e
podiam dar origem a peças de grande beleza.
Então, o metal foi eleito como principal padrão de valor, sendo trocado por outras merca‑
dorias sob as mais diversas formas — a princípio em barras, ou sob a forma de objetos, como
anéis, braceletes etc. Para verificar o valor do metal utilizava-se como critério seu peso e o
grau de pureza, depois foi cunhado em forma de moeda recebendo uma marca que indicava
seu valor e o responsável pela sua emissão.
Assim, uma moeda na qual haviam sido utilizados vinte gramas de ouro era trocada por
mercadorias neste mesmo valor. A moeda passou circular pelo seu valor extrínseco, isto é,
pelo valor gravado em sua face, não dependendo do metal nela contido.
Na Idade Média, surgiu o costume de se guardarem os valores num ourives, pessoa que
negociava objetos de ouro e prata. Este, como garantia, entregava um recibo. O recibo era
emitido no valor do depósito realizado em ouro. Com
o tempo, esses recibos passaram a ser utilizados para
efetuar pagamentos, circulando de mão em mão e dando
origem ao papel-moeda. Neste momento alguns ourives
cresceram e deram origem aos bancos.
Para saber mais
Os bancos pereberam que nem todo o estoque de Antes de 1933, por exemplo, o
ouro era sacado por aqueles que tinham o recibo para
resgatá-lo (papel-moeda), pelo contrário, uma parte nome dólar era utilizado para se
muito pequena do ouro era retirada dos bancos. Então, referir à unidade de ouro cujo peso
com base nisso, eles começaram a emitir mais recibos
era de 1,505 gramas. Dado que há
do que a quantidade de ouro que tinham guardados.
Logo, os recibos deixaram de ser 100% conversíveis 31,103 gramas em uma onça, signi-
em ouro e passaram a ser conversíveis parcialmente. fica que o nome dólar era sinônimo
Porém, ainda podiam ser trocados pela mercadoria
ouro, isto é, a emissão de moeda era feita tendo por de 0,0483876 onças de ouro. Isto,
base um valor real em ouro. por sua vez, significa que uma onça
Em todas as economias e também no Brasil os pre‑
de ouro equivalia a US$ 20,67.
cursores do papel-moeda foram os recibos de depósito
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emitidos pelos bancos quando recebiam um depósito em ouro. O Banco do Brasil lançou em
1810 seus primeiros bilhetes de banco. Veja na Figura 3.1.

Figura 3.1  Recibo de depósito em ouro.

Fonte: Nardelli (2006).

Com o tempo os Governos tomaram para si a


responsabilidade pela emissão da moeda. Surgiram
Links os Bancos Centrais, que tornaram-se os ógãos respon‑
sáveis por controlar o valor da moeda. Inicialmente,
Você pode conhecer todas as moe- no padrão ouro cada país só poderia emitir moeda de
das e o papel-moeda do Real no link ­acordo com a quantidade de ouro que detinha. Depois
foram criados processos e papéis especiais cujo obje‑
abaixo: tivo era dar às cédulas maior segurança e durabilidade.
<pt.wikipedia.org/wiki/Real_(mo- Podemos dizer que hoje a moeda deve desempe‑
nhar suas funções básicas de ser instrumento de troca,
eda)>.
unidade de conta e reserva de valor. Também podemos
observar que, na evolução da moeda, ela caminha para
a desmaterialização, pois hoje, devido aos avanços da
informática e dos meios de comunicação, a maior parte das transações comerciais é realizada
com operações de débito e crédito ou, ainda, por operações com cheques, sendo cada vez
menos comum a utilização de moeda em espécie.
A evolução da moeda e do comércio entre países aconteceu de maneira constante e
paralela, ou seja, a geração de excedentes e a evolução das trocas comerciais por meio de
transações monetárias ocorreram de maneira conjunta. Porém, a moeda, devido a suas fun‑
ções e à tendência a desmaterialização, criou outros caminhos e ampliou sobremaneira as
transações puramente financeiras. A troca de moeda entre países e a determinação do valor
de troca entre elas envolveu um longo caminho que ampliou a interdependência entre países,
por isso as linhas abaixo traçam um resumo desse caminho.

1.1.2 Do padrão ouro à conversão flutuante da moeda


Na medida em que as transações comerciais passaram a ser intermediadas por moeda, o
comércio além das fronteiras de um país exigiu que se fixasse um padrão para troca de moe‑
das de diferentes países. Essa troca era fundamental, pois a moeda de cada país tem validade
apenas dentro de seu espaço territorial, sendo necessário criar um sistema de conversão de
moedas que fosse um padrão para todos os países.
Nesse contexto surge o Sistema Monetário Internacional, cujo objetivo é promover a
liquidez das transações internacionais. Para desempenhar seu papel ele estabelece regras e
convenções que regulam as relações monetárias e financeiras, facilitando o desenvolvimento
mundial. Dessa forma o Sistema Monetário Internacional define:
O ativo (moeda) de reserva internacional, sua forma de controle,
sua relação com as diferentes moedas nacionais (regime cam‑
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N o ç õ e s d e e c o n o m i a i n t e r n a c i o n a l e s i s t e m a f i n a n c e i r o   89

bial), os mecanismos de financiamento e ajustes dos balanços


de pagamentos, o grau de liberdade dos mercados privados e a
institucionalidade que garantirá seu funcionamento (GREMAUD;
VASCONCELLOS; TONETO JUNIOR, 2004, p. 502, grifo do autor).
Portanto, um dos primeiros padrões desenvolvidos pelo Sistema Monetário Internacional
foi o padrão ouro de conversão de moedas. Segundo Gilpin (2002), até o século XVI os metais
preciosos e o dinheiro em espécie (emitido de acordo com seu valor em ouro) serviram de base
para o sistema monetário internacional. Nesse sistema o dinheiro não podia ser criado por vontade
política, pois os metais preciosos que lhe davam garantia só poderiam ser obtidos por meio das
exportações, dos saques (roubos) ou da exploração de minas. O dinheiro internacional depen‑
dia da oferta física de metais preciosos e estava fora do controle de qualquer Estado Nacional.
Era um sistema monetário do ideal liberal, pois passava a “depender apenas da combinação
da flexibilidade dos preços internos e dos limites naturais da produção do ouro para assegurar
a solução ótima” (GILPIN, 2002, p. 144, grifo nosso). Se um país exportava mais, recebia mais
ouro; se importava mais, enviava mais ouro.
No padrão ouro o sistema de câmbio era fixo: se o país exportava mais para manter o valor
de sua moeda fixo, deveria emitir mais moeda; se importava mais, deveria reduzir sua moeda
porque enviava ao exterior. Como o preço crescia com mais moeda e caía com pouca moeda,
a consequência de uma expansão das exportações seria o aumento dos preços e, no período
seguinte, uma queda das exportações. No país importador o inverso ocorreria, o aumento das
importações reduziria os preços por causa da escassez de dinheiro e, no período seguinte, ela
passaria a exportar. Assim os objetivos da política econômica eram: manter o preço do ouro
e ter equilíbrio no Balanço de Pagamentos.
Gremaud, Vasconcellos e Toneto Junior (2004) resumem o padrão ouro como um regime
cambial fixo, cujo ativo de reserva é o ouro (libra), com plena liberdade em relação à mobi‑
lidade de capital, cujo mecanismo de ajuste é automático e no qual não existem instiuições
específicas de regulação internacional.
Por volta do século XVII a descoberta das Américas e a expansão do comércio interna‑
cional aumentaram os fluxos de comércio e o monetário, a atividade econômica e os preços
ficaram mais expostos às trocas internacionais. Os países da expansão comercial (Portugal e
Espanha) avançaram na exploração das colônias e os países com maior tradição comercial
(Inglaterra) avançaram na produção e comercialização. Ampliaram a necessidade de interven‑
ção e regulação do sistema monetário para garantir certo equilíbrio dos preços relativos entre
as diferentes economias.
Nos séculos XVII e XIX “os governos passaram a emitir papel-moeda, surgiu o sistema
bancário moderno e proliferaram os instrumentos de crédito, públicos e privados” (GILPIN,
2002, p. 143). Com o governo podendo emitir moeda, foi possível contornar o problema de
escassez de ouro e prata necessários para circular a produção.
No final do século XIX, quase todos os países já haviam se convertido ao padrão ouro do
Reino Unido ou dos Estados Unidos. Porém, nesse mesmo século, em várias ocasiões ocorreu
a supressão da conversão pelo padrão ouro. O governo britânico suspendeu a conversibilidade
(ou seja, ele saiu do padrão ouro) durante as Guerras Napoleônicas e o governo dos Estados
Unidos, durante a Guerra de Secessão. Os governos encararam uma necessidade de financiar
altos níveis de despesas com emissão de moeda, pois tinham uma limitada receita tributária.
Em ambos os casos, a conversibilidade foi reassumida após a guerra. O teste real, no entanto,
veio com a Primeira Guerra Mundial.
Com o objetivo de financiar os gastos da guerra, vários países saíram do padrão ouro e
começaram a emitir moeda sem lastro. O aumento da moeda levou a aumento de preços e
inflação. No final da guerra os países tinham elevados déficits em seu balanços de pagamentos
e outros elevados superávits e havia amplo desequilíbrio de preços.
No período seguinte, com a queda do padrão ouro, ocorreu a nacionalização do sistema
monetário. Com o fim da liderança britânica, a determinação do valor da moeda passou a ser res‑
ponsabilidade das autoridades nacionais e adotou-se um sistema de câmbio flutuante. Esse sistema
perdurou até 1922, quando ocorreu a Convenção de Gênova na qual os países tentaram retomar
um sistema de padrão ouro de câmbio fixo criando um sistema padrão-ouro-e-divisas nos seguintes
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90  E C O N O M I A d O S E T O R P ú b l ico

termos: “os países poderiam incluir em suas reservas quaisquer moedas com lastro em ouro, espe‑
cialmente a libra esterlina, para economizar o recurso ao metal precioso” (GILPIN, 2002, p. 150).
No entanto, alguns fatores levaram esse novo sistema a falhar, entre eles: a Grã-Bretanha
fixou o valor da libra muito alto, o que acasionou uma quebra na sua produção e emprego;
durante a guerra a Inglaterra perdeu o poder de adminstrar o sistema internacional, emergiam os
Estados Unidos como grande credor global; depois da guerra os objetivos dos países voltaram-se
mais para promoção do bem-estar social interna, a rivalidade entre os países impossibilitou uma
cooperação para estabilidade monetária internacional. A partir de 1932, as crises entre Estados
Unidos, Inglaterra, Alemanha e Japão levaram a desvalorização competitiva e moeda flutuante,
procurando resolver seus problemas baixando os pre‑
ços de seus produtos de exportação e exportando seus
problemas de desemprego para os países vizinhos. Este
Saiba mais processo foi em grande parte resultado da Crise de 1929.
Gremaud, Vasconcellos e Toneto Junior (2004) re‑
Para que você entenda melhor como sumem o sistema monetário do período entre guerras
como um regime de câmbio flutuante; no qual o sistema
se desenvolveu essa grande crise da
de reserva poderia ser o ouro, libra ou dólar; em que
economia capitalista, faça a leitura a mobilidade de capitais estava sujeita a certos con‑
do texto “A Grande Depressão”, troles por conta de garantir um mínimo de reservas; o
que se encontra no livro de: mecanismo de ajuste são as desvalorizações cambiais
e ainda não existem instituições específicas de controle
BLANCHARD, Olivier. Macroeco- do sistema financeiro internacional.
nomia. 4. ed. São Paulo: Pearson, Depois de um longo tempo de desordem e dificul‑
dades para os países e o sistema financeiro, a Conferên‑
2007. p. 446-451.
cia de Bretton Woods, realizada em 1944, teve como
O livro está disponível na Biblioteca objetivo restabelecer uma nova ordem econômica de
Digital Pearson. consenso mundial. Embora estabelecesse liberdade para
que os países realizassem suas políticas econômicas,
definia que o país deveria manter um regime de taxa de
câmbio fixa a fim de evitar as desvalorizações compe‑
titivas. A moeda nacional poderia ser atrelada ao dólar, libra ou Direitos Especiais de Saques
(DES), todos conversíveis. Criou-se o Fundo Monetário Internacional (FMI) para supervisionar
o sistema e oferecer empréstimos de médio prazo para os países associados. Esses dois me‑
canismos criaram uma época de expansão econômica, dado o nível de confiança dos países
na conversibilidade do dólar e no apoio do FMI no caso de um eventual déficit persistente no
Balanço de Pagamentos. Assim, “a política monetária norte-americana passou a ser a política
monetária mundial, e o êxodo de dólares proporcionava a liquidez que lubrificava as engre‑
nagens do comércio” (GILPIN, 2002, p. 154).
Gremaud, Vasconcellos e Toneto Junior (2004, p. 503) descrevem o Sistema Bretton Woods
(1946-1971) como um sistema de câmbio fixo; com reserva em dólar, ouro ou DES; com grande
mobilidade de capital, cujo mecanismo de ajuste automático do Balanço de Pagamentos é
assegurado pelo apoio financeiro do FMI; que desenvolveu instiuições de controle específicas
tais como FMI, BIRD e GATT.
Os percalços enfrentados pela economia mundial com a Segunda Guerra, a reconstrução
da Europa a partir do Plano Marshall, a Guerra fria entre Estados Unidos e União Soviética,
e a liderança no FMI ampliaram sobremaneira a dívida americana, enfraqueceram o sistema
Bretton Woods no qual a conversão só foi forte até 1964. O crescente déficit americano no
seu Balanço de Pagamentos e a exigência de manter o dólar conversível em ouro à razão de
1 onça por US$ 35,00 mantiveram a hegemonia do dólar, somando-se a isso as Guerras da
Coreia e Vietnã com ampliação do gasto público americanos. Todos esses fatos trouxeram os
perigos reais impostos ao sistema de conversão dólar-ouro.
Em 15 de agosto de 1971 o presidente americano Richar Nixon, em meio à desconfiança
geral no valor do dólar e impossibilidade de conversão dos dólares circulando pelo mundo,
decretou o fim da conversibilidade do dólar em ouro. Segundo Gremaud, Vasconcellos e Toneto
Junior (2004), seguiu-se um período de grande instabilidade, com taxas flutuantes.
Os mesmos autores descrevem o padrão atual do sistema financeiro internacional como
sendo de regime de câmbio flexível; no qual as reservas e ativos financeiros são formados por
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moedas fortes como dólar, marco alemão, iene e DES; no qual existe a livre mobilidade de
capitais; em que os ajustes do balanço de pagamentos ocorre por ajustes na taxa de câmbio
e seguem as regras do FMI; e as instituições específicas de mais destaque são o FMI, BIRD
e GATT (OMC). A despeito do regime cambial atual devemos entender qual é o impacto do
câmbio fixo (como no padrão ouro e Bretton Woods) ou flexível (como no entre guerras e o
atual) sobre o Balanço de Pagamentos dos países.

Questões para reflexão


Agora que estudamos o sistema financeiro internacional, você viu que a moeda
é um importante instrumento na economia internacional. Hoje, a maioria dos
países detém dólar em suas reservas para efetuar suas transações com o resto
do mundo. Convido você a refletir: por que o dólar é esta moeda de reserva,
ou seja, de negociação?

Aprofundando o conhecimento
Neste momento você realizará a leitura de um material de autoria da Profa. Regina
Malassise, em que discutimos alguns aspectos importantes ligados ao regime cambial,
às políticas econômicas e ao mercado de câmbio.

O impacto do regime cambial


sobre os países
Nos anos 70 e 80 ocorreram grandes desvalorizações da moeda que, somados aos choques do
Petróleo (1973 e 1979), levaram ao encarecimento das matérias-primas e energia. Vimos que ao
longo do tempo a taxa de câmbio ora era fixa (padrão ouro e Bretton Woods) e ora era flutuante/
flexível (entre guerras e atual).
Nos momentos em que a taxa era fixa os países não tinham poder para determinar o valor de
suas moedas, pois o valor era fixado de acordo com o ouro, libra esterlina, dólar ou DES que foram
as moedas-base do sistema financeiro internacional. Neste caso o papel do Banco Central de cada
país era manter reservas das moedas-base e fixar o valor para conversão da moeda nacional nas
moedas-base. Nos momentos em que o câmbio era flutuante cada país determinava o valor de sua
moeda em relação às moedas-chave e anunciava no mercado, o valor da moeda mudava de acordo
com o volume de reservas-base que o país possui.
Ocorre porém que nas economias de mercado o valor dos bens e serviços é expresso em moeda.
Enquanto estamos numa economia fechada o valor da moeda de outros países (ou da taxa de
câmbio) terá pouca influência sobre os preços internos. Mas, na atualidade, a maioria dos países do
mundo desenvolveu um alto grau de interdependência, ou seja, as economias dos países estão
interligadas seja pela produção, circulação ou distribuição de bens e serviços econômicos. Em cada
país as transações internas são realizadas com sua moeda doméstica, porém quando realiza tran-
sações com o exterior terão que ter uma taxa de câmbio (valor de troca) para a moeda estrangeira.
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92  E C O N O M I A d O S E T O R P ú b l ico

Ocorre que dependendo do regime cambial adotado pelo país ele terá diferentes consequências
sobre sua economia do processo de entrada e saída de moeda estrangeira. Vamos examinar algumas
destas possibilidades tomando como dado a existência de livre mobilidade de capital, isto significa
que os investidores estrangeiros podem enviar ou retirar moeda estrangeira do país quando quiserem.
Normalmente a análise é feita utilizando-se o Modelo Mundell-Fleming ou IS-LM-BP (MANUAL,
2004, p. 454-456). O modelo é uma forma de demonstrar quais os impactos dos diferentes regimes
(fixo ou flexível) sobre o mercado, os mercados de bens (IS), monetário (LM) e sobre as transações
com o exterior (BP).
PIB = Y = C + I + G + (X – M) sendo que:
Y = renda nacional real (renda depois de descontada a inflação);
C = consumo agregado que depende da renda disponível (Yd);
I = investimento que depende da taxa de juros (r);
G = gasto público
X = exportações que dependem da taxa de câmbio (e);
I = importações que dependem da taxa de câmbio (e)
Estas são as variáveis que descrevem o mercado de bens e serviços (IS). Vamos ver as variáveis
que descrevem o mercado monetário (LM):
M/P = L (Y,r)
No mercado monetário temos M/P, que é a oferta de moeda determinada pelo Bacen, e a
demanda por moeda L, que depende da renda e da taxa de juros. O mercado menetário não sofre
influência direta da taxa de câmbio (e).
Acrescentamos o Balanço de Pagamentos (BP), que supõe que a taxa de juros interna (r) é igual
a taxa de juros externa (r*). Agora que temos nossas variáveis podemos prosseguir com a análise.

a) Câmbio fixo com política monetária expansionista


Com câmbio fixo o governo determina a taxa de câmbio e se obriga a mantê-la. A política mone-
tária expansionista supõe que o governo vai aumentar a emissão de moeda. Quando o governo emite
moeda isto aumenta o movimento em LM, pressionando a taxa de juros (r) para baixo, logo se r < r*
haverá saída de investidores e moeda estrangeira do país. A saída de capitais é proporcional à queda da
taxa de juros, e o processo de conversão de moeda nacional em moeda estrangeira levará o excesso de
moeda para o Bacen fazendo com que o mercado LM volte a sua posição de antes da emissão de moeda.
Logo a política monetária com câmbio fixo seria ineficaz para aumentar as exportações e a produção.

b) Câmbio fixo com política fiscal expansionista


Com câmbio fixo o governo determina a taxa de câmbio e se obriga a mantê-la. A política fiscal
expansionista supõe que o governo vai reduzir os impostos ou aumentar seus gastos. Quando o governo
faz isto ele amplia renda para compra de produtos e serviços e aumenta o movimento em IS, pressio-
nando a taxa de juros (r) para cima, logo se r > r* haverá entrada de investidores e moeda estrangeira
do país. A entrada de capitais é proporcional à alta da taxa de juros, e o processo de conversão de
moeda estrangeira em moeda nacional levará o Bacen a aumentar a oferta de moeda nacional aumen-
tando o mercado LM. Percebe-se que a política fiscal tanto aumentou IS como forçou um aumento na
LM. Logo a política fiscal com câmbio fixo seria eficaz para aumentar as exportações e a produção.

c) Câmbio flexível com política monetária expansionista


Com câmbio flexível o governo deixa a taxa de câmbio variar de acordo com o movimento de
entrada e saída de moeda estrangeira no país. A política monetária expansionista supõe que o
governo vai aumentar a emissão de moeda. Quando o governo emite moeda isto aumenta o mo-
vimento em LM, pressionando a taxa de juros (r) para baixo, logo se r < r* haverá saída de investi-
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dores e moeda estrangeira do país. A saída de capitais é proporcional à queda da taxa de juros, e
o processo de conversão de moeda nacional em moeda estrangeira levará a uma desvalorização da
moeda nacional. Esta desvalorização reduz os preços do produtos exportáveis, as exportações cres-
cem aumentando IS. Logo a política monetária com câmbio flexível seria eficaz para aumentar as
exportações e a produção.

d) Câmbio flexível com política fiscal expansionista


Com câmbio flexível o governo deixa a taxa de câmbio variar de acordo com o movimento de
entrada e saída de moeda estrangeira no país. A política fiscal expansionista supõe que o governo
vai reduzir os impostos ou aumentar seus gastos. Quando o governo faz isto ele amplia renda para
compra de produtos e serviços e aumenta o movimento em IS, pressionando a taxa de juros (r) para
cima, logo, se r > r* haverá entrada de investidores e moeda estrangeira do país. A entrada de
capitais é proporcional à alta da taxa de juros, e o processo de conversão de moeda estrangeira em
moeda nacional levará a uma valorização da moeda nacional. Logo, nossos produtos de exportação
ficarão mais caros e os produtos importados ficarão mais baratos. A queda na produção por causa
dos juros altos e o aumento da importação reduzirão o IS até que ele volte à posíção inicial. Logo
a política fiscal com câmbio flexível seria ineficaz para aumentar as exportações e a produção.
Podemos ver a partir destas análises que numa economia aberta a questão do regime cambial
interfere no nível de exportações, de capitais, de produção de um país. Foi por isso que fizemos
toda uma exploração prévia sobre o padrão de conversão das moedas, passando pela evolução
histórica do padrão ouro ao atual flutuante e, por fim, analisamos de maneira resumida os impactos
das politicas econômicas nacionais de acordo com o regime cambial adotado.
Na atualidade é no mercado cambial que se encontram compradores e vendedores de moeda
estrangeira. Eles utilizam estas negociações porque têm diferentes negócios realizados em
moeda estrangeira e necessitam delas para finalizar suas operações. Por exemplo, um importador
brasileiro que comprou produtos chieneses pode ter a opção de pagar em dólares ou em iene,
porém não pode pagar em reais, logo ele terá que recorrer ao mercado cambial para comprar dólar
ou iene para pagar pelas mercadorias que comprou. Para que você entenda um pouco mais sobre
as operações do mercado cambial vamos estudar os impactos da taxa de câmbio sobre o retorno
dos investimentos.

O mercado cambial e as taxa de câmbio


Num primeiro momento podemos dizer que o mercado de câmbio é representado pelos com-
pradores e vendedores de moeda estrangeira. Os compradores ou demandantes de moeda estrangeira
são normalmente turistas que vão ao exterior, importadores e os brasileiros que investem no exterior.
Os vendedores ou ofertantes de moeda estrangeira são normalmente os turistas que vêm ao Brasil,
os exportadores e os estrangeiros que investem no Brasil. A moeda de um país é negociada em todos
os mercados com os quais ele registra transações comerciais e financeiras. O Brasil, por exemplo,
negocia reais por dólares, iene, peso, libra, euro; enfim, moedas que são utilizadas em suas transações.
As funções do mercado de câmbio são: transferir recursos e, por consequência, poder de
compra de um país para outro; disponibilizar crédito para realização de negócios quando a merca-
doria ainda está em trânsito — por exemplo, nas importações o importador tem até 90 dias para
pagar pelo produto, mas o exportador pode pedir uma antecipação do câmbio; prover condições
de proteção quanto a riscos cambiais devido à especulação. Neste útlimo caso, conforme destacou
Salvatore (2007), o Banco de Compensação Internacional — o BIS — estimou que o volume de
movimentação de moeda estrangeira é de US$ 1,3 trilhão por dia, o que é 10 vezes o volume mé-
dio anual de comércio mundial, e que 90% do comércio de moeda estrangeira refletem apenas
transações financeiras, sendo somente 10% transações comerciais.
Um dos motivos para a intensa movimentação é que o mercado cambial é muito dinâmico
e com o avanço da informática todos os mercados são conectados eletronicamente e estão em
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94  E C O N O M I A d O S E T O R P ú b l ico

contato permanente uns com os outros. Para realizar as trocas de moedas os bancos, autorizados
pelo Banco Central (Bacen) de cada país a operar com moeda estrangeira, atuam como câma-
ras de compensação. Assim, as operações de envio de moeda do banco de um país para o banco
de outro país só ocorrem depois que os débitos são descontados dos créditos que cada país
recebe em moeda estrangeira. Por meio deste mecanismo os países evitam ou reduzem a troca
de moeda em espécie.
No mercado cambial de cada país os agentes operam em 4 níveis distintos. De acordo com Sal-
vatore (2007), são eles: no primeiro nível vêm os usuários e fornecedores imediatos de moeda — eles
são os operadores tradicionais (turistas, importadores, exportadores e investidores); no segundo
nível estão os bancos comerciais que atuam como câmara de compensação; no terceiro nível vêm
os corretores de câmbio que são encarregados de nivelar a posição cambial dos bancos; e no quarto
nível vem o Bacen de cada país que atua depois dos corretores de câmbio, caso ainda haja dese-
quilíbrio cambial.
Este desequilíbrio cambial pode ser entendido como excesso ou escassez de moeda estrangeira.
Se houver excesso de moeda estrangeira no Brasil, o real vai se valorizar. Se houver escassez de
moeda estrangeira, o real vai se desvalorizar. O Bacen vai atuar neste mercado comprando dólar
quando houver execesso e vendendo dólar quando houver escasssez. Ele atua até que a taxa de
câmbio chegue a um nível aceitável, de tal forma a não prejudicar nem os demandantes nem os
ofertantes de moeda estrangeira, ou seja, procura ter uma taxa de câmbio de equilíbrio para sua
economia.

Tabela 1  Negócios com moedas em 2002 – em percentuais do volume de negócios

Moedas Comércio Empréstimos Emisão Faturamento Reservas


de moedas bancários de títulos do comércio cambiais
estrangeiras internacionais internacionais
Dólar (EUA) 45,2 50,3 48,4 52,0 64,8
Euro 18,8 51,0 44,3 24,8 14,6
Iene (Japão) 11,4 Nd 1,2 4,7 4,5
Libra esterlina 6,6 4,3 5,2 5,4 4,4
Franco Suíço 3,1 0,4 Nd Nd 0,7
Outras moedas 14,9 1,6 1,1 13,1 11,0
Fonte: Adaptado de Salvatore (2007, p. 202).

Na tabela 1 podemos ver quais são as moedas estrangeiras mais utilizadas nas transações in-
ternacionais. Em todas as operações o dólar é maioria, seguido pelo euro. O destaque é para as
reservas cambiais que, de acordo com os dados do BIS e do FMI, são 64,8 por cento em dólares. O
faturamento das empresas exportadoras é 52% em dólares, os empréstimos bancários são realiza-
dos 50,3% em dólares, seguidos pelos títulos que são emitidos 48,4% em dólares e comércio de
moedas são de 45,2%.
Como as transações com moedas são diversas e envolvem moedas de países diferentes, pode
surgir a oportunidade de ganhos quando ocorrem negociações que envolvam mais de duas moedas.
Um exportador chinês vende mercadorias para o Brasil, mas negocia o preço em dólares, e vai re-
ceber em iene que é a moeda de seu país. As transações serão: o importador do Brasil troca reais
por dólares, o banco brasileiro envia a ordem de pagamento em dólares para o banco chinês, o
banco chinês converte os dólares em ienes e paga o exportador chinês.
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N o ç õ e s d e e c o n o m i a i n t e r n a c i o n a l e s i s t e m a f i n a n c e i r o   95

Para saber mais


Quando uma moeda é negociada com qualquer moeda além do USD, esta taxa é
chamada de taxa cruzada. É uma taxa de câmbio entre duas moedas onde nenhuma
das duas é o USD.

No caso de transações comerciais que envolvam 2 moedas diferentes do dólar teremos uma
taxa de câmbio cruzada. Por exemplo, podemos ter a taxa de câmbio entre o dólar e a libra igual
a 2, e se taxa de câmbio entre o dólar e euro for 1,25 poderemos encontrar a taxa cruzada utilizando
a seguinte fórmula (SALVATORE, 2007, p. 204):
T = cotação do dólar em libra / cotação do dólar em euro
T = 2 / 1,25 = 1,60 => a relação de troca dá 1,60 euro por 1 libra.
Existe um mecanismo pelo qual a taxa de câmbio entre duas diferentes moedas pode se man-
ter constante. Mais especificamente o termo constante refere-se à manutenção do poder de com-
pra das moedas, e geralmente o poder de compra é medido pela cotação do dólar. As diferentes
moedas mantêm uma taxa de câmbio em dólar. Do exemplo acima podemos ver que para comprar
a mesma quantidade de bens que 1 libra compra são necessários 1,60 euros. Desta forma a taxa é
mantida igual, considerando o poder de compra das moedas, em diferentes mercados.
O mecanismo que torna esta taxa igual em diferentes mercados é a arbitragem. Através deste
mecanismo os agentes compram uma moeda que esteja mais barata em um país e a revendem num
outro onde ela é mais cara, com o objetivo de ter lucro cambial. Este processo ocorre até que a
moeda alvo de negociação alcance seu real poder de compra em cada mercado onde ela é negociada.
Podemos destacar também que as taxas de câmbio podem variar ao longo do tempo e isto
impõe o risco cambial àqueles que têm recebimentos ou pagamentos futuros a serem realizados
em moeda estrangeira. Para evitar este risco os negociantes buscam proteção cambial por meio de
operações de hedging (salvaguarda). Vamos ver um exemplo do impacto da variação da taxa de
câmbio sobre as exportações de um produto brasileiro na tabela 2.

Tabela 2  Impacto da variação cambial sobre as exportações

Situação Taxa de câmbio Quantidade de sacas Preço da saca Receita em


(R$/US$) de café (em US$) R$
1 2,00 10 175,00 3.500,00
2 2,50 10 175,00 4.375,00
3 1,70 10 175,00 2.975,00

No nosso exemplo do exportador de café da tabela 2, vamos supor que ele tenha um custo de
produção para as 10 sacas de R$ 3.100,00 reais; logo, ele tem que garantir que receberá no mínimo
isto para cobrir suas despesas. Se olharmos para a situação 2 veremos que o real se desvalorizou, o
valor do dólar subiu de R$2,00 para R$ 2,50. Neste caso a receita do exportador subiu para R$ 4.375,00.
Por outro lado, caso ocorra uma valorização do real, isto é, o dólar caia de R$ 2,00 para R$ 1,70,
veremos que a receita do exportador caíra para R$ 2.975,00. Numa situação como esta, após o con-
trato fechado o produtor é obrigado a entregar o produto independentemente da taxa de câmbio.
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96  E C O N O M I A d O S E T O R P ú b l ico

Na medida em que a taxa de câmbio varia num mesmo país e de pais para país, surge a pos-
sibilidade de que ocorra movimento de capitais e que eles possam se dirigir aos investimentos mais
lucrativos. Isto ocorre devido à possibilidade de arbitragem da taxa de juros e de câmbio. A arbitra-
gem da taxa de juros é um comparativo entre as taxas de juros dos diferentes países para verificar
qual a maior taxa, porém, quando envolve a conversão de moedas a taxa passa a ser influenciada
também pela taxa de câmbio. Assim, “a arbitragem da taxa de juros se refere ao fluxo internacional
de capital líquido de curto prazo (tal como a aquisição de títulos) visando a obtenção de retornos
mais elevados no exterior” (SALVATORE, 2007, p. 214).
Este processo de remessa de recurso para investir em outro país, considerando a conversão de
moedas, também está sujeito ao risco cambial. Vamos analisar um exemplo de risco com base nos
dados da tabela 3.

Tabela 3  Retorno do investimento e taxa de câmbio

Situação Taxa de Taxa de Investimento Conversão Montante Taxa de Montante


câmbio juros US$ em R$ de saída em câmbio de de saída
(R$/US$) reais saída em US$
1 2,00 2,0 100.000 200.000 204.000 2,00 102.000
2 2,00 2,0 100.000 200.000 204.000 2,50 81.600
3 2,00 2,0 100.000 200.000 204.000 1,70 120.000
Fonte: Do autor.

Na tabela 3 podemos observar que quando o investidor enviou os recursos para o Brasil, ele
enviou U$ 100.000 que foram convertidos pela taxa de câmbio de inicial R$ 2,00, o que resultou
num valor para ser aplicado de R$ 200.000,00 e que, após receber os juros de 2%, somaram um
montante de R$ 204.000,00 aplicados no Brasil. Porém, no momento em que ele vai retirar os re-
cursos do Brasil a taxa de câmbio muda, então ele terá que transformar o montante de seus recur-
sos em dólares pela taxa de câmbio do momento de saída.
Analisando a situação 1 veremos que se não houvesse alteração nenhuma ele teria um ganho
de 2% sobre o capital investido e levaria do país US$ 102.000,00. Na situação 2 verificamos que a
taxa de câmbio apreciou, isto é, o dólar ficou mais caro em real, passando de R$ 2,00 para R$ 2,50.
Nesta situação haveria perda tanto do capital aplicado quanto da taxa de juros, pois na hora de
retirar seus recursos do país ele levaria US$ 81.600,00 ao invés dos US$ 100.000 aplicados. Na si-
tuação 3 verificamos que a taxa de câmbio se depreciou, isto é, que o dólar ficou mais barato em
real, passando de R$ 2,00 para R$ 1,70. Nesta situação haveria ganho para o investidor, tanto pela
taxa de juros quanto pela taxa de câmbio, pois na hora de retirar seus recursos do país o investidor
levaria US$ 120.000,00 de US$ 102.000,00, como na situação 2.
Podemos concluir que, caso o real se desvalorize, o investidor sai perdendo, pois a desvalorização
pode ser maior que o percentual pago de juros e acabar corroendo o capital principal investido (situa­ção
2). Por outro lado, caso ocorra uma valorização do real, o ganho com a taxa de juros será intensificado
levando o investidor a ganhar com os juros e com a conversão dos valores em reais para dólares.
Verificamos que a complexidade das transações econômicas internacionais — tanto no que
envolve as transações puramente financeiras, como a que acabamos de ler, quanto as que envolvem
a troca de mercadorias entre países — devem realmente preocupar os governantes. Neste sentido
chegamos ao conceito e foco dos estudos da economia internacional. A economia internacional
estuda a interdependência econômica e financeira entre nações, e Krugman e Obstfeld (2001)
destacam que os assuntos de interesse da economia internacional envolvem temas originados da
interação entre estados soberanos. Ocorre que um território é soberano quando está organizado
por instituições, leis e normas e está política e socialmente organizado. Suas leis emanam das deci-
sões internas de seus cidadãos e ou seus governantes, por isto elas diferem de território para terri-
tório. Assim, numa negociação entre países espera-se que ocorram grandes discussões até que eles
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Noções de economia internacional e sistema financeiro 97

cheguem a um consenso. Por isto Krugman e Obstfeld (2001) destacam que existem sete temas
recorrentes nas dicussões sobre o comércio internacional; são eles:
Comprovar os ganhos do comércio: Quando um país compra produtos de outro isto repre-
senta uma forma de colocar à disposição dos seus cidadãos maior variedade de produtos.
Outras vezes os produtos importados concorrem com produtos nacionais. Embora haja
consenso sobre o ganho os estudos procuram sempre caracterizar estes ganhos e ao mesmo
tempo verificar a atuação dos agentes na captação destes ganhos.
Entender o padrão de comércio: Os estudos procuram explicar os padrões de comércio in-
ternacional, isto é, querem entender quem vende o quê para quem.
Estudar a políticas protecionistas: Boa parte das discussões do comércio internacional se
ocupa de contapor a liberdade de comércio ao protecionismo. Na prática a maior parte dos
países procura alguma forma de proteger sua indústria nacional.
Conhecer os impactos da política comercial e cambial sobre o equilíbrio das contas externas:
O grau de competitividade da economia, a taxa de câmbio e as políticas comerciais alteram
as relações de força entre dois países e os resultados aparecem nos desequilíbrios comerciais
entre eles.
Verificar a prática da determinação da taxa de câmbio: As taxas são determinadas pelos
governos, e embora o regime cambial seja flexível, o valor da taxa de câmbio é influenciado
de acordo com os interesses de cada país.
Propor mecanismos de coordenação das políticas internacionais: As políticas de um país afe-
tam os demais, assim, conseguir que eles se reúnam e cheguem a um consenso que possa ser
expresso numa política comum aos particiapantes de qualquer negociação é algo problemático.
Analisar o mercado de capitais internacional: Na prática estas moedas circulam o mundo pro-
curando investimentos produtivos, quando chegam a um país são convertidos em papéis que
podem ser ações de empresas e os mais diversos títulos que têm alguma promessa de remune-
ração via pagamento, dividendos e juros. Assim, os mercados de capitais internacionais se
constituem em importante fonte de recursos para financiar as atividades econômicas dos países.

Neste aprofundando você pôde entender um pouco mais sobre os efeitos da taxa de câmbio
sobre os exportadores e investidores. De fato ela altera o retorno que estes agentes podem ter
em suas atividades quando estas envolvem a conversão de moedas.
Como a determinação da taxa de câmbio, depende do mercado e da atuação do governo
de cada país no mercado de câmbio, percebemos que numa economia de mercado aberta ao
resto do mundo, a interdependência aparece na definição do valor da moeda nacional em
relação à estrangeira. E esta é só uma das faces desta interdependência, pois os países estão
interligados por diferentes canais. Procurar entender e explicar esta interdependênia é o ob‑
jetivo da economia internacional. Uma grande fonte desta interdependência é o comércio.
Por isto podemos também estudar os temas recorrentes ligados a ele. A seu modo cada teoria
econômica busca entender e propor soluções para os problemas da economia internacional
e é isto que estudaremos na próxima seção.

Questões para reflexão


Ao estudarmos o impacto do regime cambial sobre os países, verificamos quais
variáveis de determinação do produto interferem no equilíbrio do mercado
interno. Convido você a refletir: como a taxa de câmbio e a renda mundial
podem afetar o equilíbrio interno e externo do Brasil?
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98  E C O N O M I A d O S E T O R P ú b l ico

  Seção 2 Divisões do estudo da economia


internacional
Depois de estudar os grandes temas de estudo da economia internacional vamos aprender
um pouco mais como estes temas são abordados. Podemos dizer que o estudo da interdepen‑
dência econômica e financeira entre países pode ser abordado em diferentes divisões. Com
isso, os estudos de economia internacional abordam: a) a teoria do comércio internacional, b)
a política de comércio internacional, c) o balanço de pagamentos e mercado de câmbio e, d)
a macroeconomia (SALVATORE, 2007). Vamos estudar um pouco mais e entender cada uma
dessas linhas de estudo da economia internacional.

2.1 As teorias do comércio internacional


Estas teorias procuram explicar o por quê das transações comerciais entre os países, buscam
analisar a base e os ganhos do comércio internacional. Conforme vimos no tópico sobre o
sistema financeiro internacional até o século XVI, os metais preciosos foram a base do sistema,
e os mercantilistas, seguindo a proposta de acúmulo de metais preciosos, foram o primeiro
grupo a propor uma interpretação para o comércio internacional.
O Mercantilismo constituiu-se num conjunto de práticas econômicas desenvolvido na
Europa na Idade Moderna, entre o século XV e o final do século XVIII. O período foi marcado
por forte intervenção do Estado na economia. Eles acreditavam que a riqueza de uma nação
residia na posse de metais preciosos e por isto pregavam a balança comercial superavitária,
isto é, exportações maiores que importações. Os principais autores mercantilistas são: Thomas
Mun, Jean-Baptiste Colbert, John Locke, David Hume, John Law, Cantillon.
Para os mercantilistas os países participariam do comércio com o objetivo de exportar, pois,
quanto mais um país vendesse para outros, dentro do padrão ouro, ele receberia os pagamentos
em ouro e aumentaria sua riqueza. Nesta interpretação, para que um país se beneficiasse do
comércio outro sairia perdendo, e o país exportador tem vantagens sobre o país importador.
E aí se todos os países agissem da mesma forma o comércio entre eles seria muito limitado.
Além disso, os mercantilistas pregavam o nacionalismo econômico, e os saldos comerciais
positivos fortaleciam o Estado, pois os soberanos poderiam manter os exércitos, ampliar as
expedições exploradoras e conquistar mais colônias. Também evitavam as importações e isto
fortelecia a produção em seus mercados internos, já que a concorrência era menor.
Vários governos procuraram monopolizar o comércio estabelecendo impérios coloniais
controlados pela metrópole. Em linhas gerais as colônias se tornariam fornecedoras de maté‑
rias-primas baratas e importariam das metrópoles produtos manufaturados. No Brasil Colônia
vigorou o pacto do exclusivo metropolitano pelo qual o país fornecia matérias-primas para
Portugal e importava bens manufaturados de lá.
Outro precursor das teorias do comércio internacional foi Adam Smith. Sua preocupação apa‑
rece expressa no título de seu livro Uma investigação sobre a natureza e a causa da riqueza das
nações, escrito em 1776. Nesta obra ele destaca que a fonte de riqueza das nações é a divisão do
trabalho que permite ampliar a produção. Ele descreve claramente este processo nas citação a seguir:
Tomemos, pois, um exemplo tirado de uma manufatura pequena,
mas na qual a divisão do trabalho muitas vezes tem sido notada:
a fabricação de alfinetes. Um operário não treinado para esta ati‑
vidade [...] nem familiarizado com as máquinas ali empregadas
dificilmente poderia fabricar talvez um único alfinete, em um dia,
empenhando o máximo de trabalho; de qualquer forma, certamente
não conseguirá fabricar vinte. Entretanto, da forma como essa ati‑
vidade é hoje executada, não somente o trabalho todo constitui
uma indústria específica, mas ele está dividido em uma série de
setores, dos quais, por sua vez, a maior parte também constitui
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N o ç õ e s d e e c o n o m i a i n t e r n a c i o n a l e s i s t e m a f i n a n c e i r o   99

provavelmente um ofício especial. Um operário desenrola o arame,


um outro o endireita, um terceiro o corta, um quarto faz as pontas,
um quinto o afia nas pontas para a colocação da cabeça do alfinete
[...]. Assim, a importante atividade de fabricar um alfinete está
dividida em aproximadamente 18 operações distintas, as quais,
em algumas manufaturas, são executadas por pessoas diferentes,
ao passo que em outras o mesmo operário executa 2 ou 3 delas. Vi
uma pequena manufatura deste tipo, com apenas 10 empregados,
na qual alguns destes executavam 2 ou 3 operações diferentes.
Mas, embora não fossem muito hábeis conseguiam, quando se
esforçavam, fabricar em torno de 12 libras de alfinetes por dia.
Ora, 1 libra contém mais de 4 mil alfinetes de tamanho médio.
Por conseguinte, essas 10 pessoas conseguiram produziram entre
elas mais de 48 mil alfinetes por dia. Assim, já que cada pessoa
conseguia fazer um décimo de 48 mil alfinetes por dia, pode-se
considerar que cada um produzia 4800 alfinetes diariamente. Se,
porém, tivessem trabalhado independentemente uma da outra, e
sem que nenhuma dela tivesse sido treinada para esse ramo de
atividade, certamente cada uma não teria conseguido fabricar 20
alfinetes por dia (SMITH, 1983, p. 41-42).
Podemos ver que se as nações produzissem mais, devido à divisão do trabalho, poderiam
concentrar sua produção nos bens que conseguissem produzir de forma mais barata, obtendo
vantagens absolutas que podem ser definidas como: “condição em que determinado produto
ou serviço pode ser oferecido com preços de custo inferiores aos dos concorrentes. Em geral,
essa situação é criada pela especialização mas, no caso de produtos agrícolas, a condição
climática favorável é fundamental” (SANDRONI, 1999, p. 628).
Esta análise toma por base a noção de valor-trabalho na qual as mercadorias têm valor
porque tem trabalho incorporado nelas, ou seja, são gastas horas de trabalho para produzir o
bem. A forma de incorporação do trabalho é direta quando o trabalhador usa os meios para
a produção da mercadoria, e indireta quando se considera os próprios meios utilizados para
produzir como fruto de trabalho anterior, ou trabalho acumulado.
Um ponto importante para entender a teoria do valor-trabalho é que ela aumenta a pro‑
dutividade, conforme vimos no exemplo da fábrica de alfinetes que Smith analisou: quando
dividimos as atividades de produção de um bem a quantidade produzida aumenta. O aumento
da produtividade reduz o tempo gasto na produção de um bem, logo, o que vamos ver é que o
país que gasta menos tempo para produzir um bem terá vantagem absoluta na produção deste
bem. Para entender melhor isto vamos ver o Quadro 3.1.

Quadro 3.1  Vantagens absolutas para dois países

Número de horas necessárias para produzir pão e suco


País Pão Suco
Brasil 3 1
Argentina 2 4

Com base no Quadro 3.1 podemos ver que o Brasil teria vantagem absoluta na produção
de suco, porque gasta menos tempo para produzir suco que a Argentina. A Argentina teria
vantagem absoluta na produção de pão, porque gasta menos tempo para produzir pão que o
Brasil. Logo, os dois países se beneficiariam do comércio internacional. Cada um produziria
o bem no qual tem vantagem absoluta.
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100  E C O N O M I A d O S E T O R P ú b l ico

Quadro 3.2  Vantagem absoluta para um país

Número de horas necessárias para produzir pão e suco


País Pão Suco
Brasil 4 2
Argentina 5 3

S e observarmos o Quadro 3.2, veremos que quando o país tem vantagem absoluta na
produção de ambos os bens, na proposta de Smith, ele não teria incentivo para participar
do comércio internacional. Por isso para Smith “o comércio internacional seria possível tão
somente quando o tempo de trabalho necessário para produzir pelo menos um produto fosse
inferior aquele do exterior” (GONÇALVES et al. 1998, p. 12). Para o Brasil que gasta menos
tempo para produzir ambos os bens não haveria estímulo para o comércio.
É neste ponto que surgem as análises de David Ricardo sobre o comércio internacional
e a lei das vantagens comparativas. Conceitualmente ela pode ser definida como: “cada país
deve especializar-se na produção daquela mercadoria em que é relativamente mais eficiente
(ou tenha custo relativamente menor), que será, portanto, a mercadoria a ser exportada”
(GREMAUD; VASCONCELLOS; TONETO JUNIOR, 2004, p. 531).
Vamos explicá-la. De acordo com David Ricardo, mesmo que ocorresse uma situação
como a descrita no Quadro 3.2 ainda haveria uma base para o comércio internacional mutu‑
amente benéfico. Isto porque o país deveria concentrar seus esforços para produzir o bem em
que ele gasta menos tempo, produzir um excedente deste bem, vendê-lo e com estes recursos
comprar o bem em que ele é menos produtivo. Assim, o país produziria ambos os bens, um
direta e outro indiretamente, pro meio da importação paga com o excedente gerado pelo bem
no qual ele é mais produtivo. Vamos exemplificar retomando as informações do Quadro 3.2
e projetando o Quadro 3.3.

Quadro 3.3  Vantagem comparativa

Número de horas necessárias para produzir pão e suco


País Pão Suco Relação pão/suco Relação suco/pão
(1) (2)
Brasil 4 2 2,00 0,50
Argentina 5 3 1,66 0,60

Se observarmos a coluna (1) veremos que o Brasil gasta metade do tempo (0,50 ou 50%)
para produzir suco em relação ao que gastaria para produzir pão, enquanto a Argentina pre‑
cisaria gastar 0,60, ou seja, 60% para produzir suco, logo a Argentina deveria comprar suco
do Brasil. Observando a coluna (2) podemos ver que na Argentina, o trabalho incorporado ao
pão equivale a 1,66, ou seja, 166% do trabalho, enquanto o Brasil usa 2,00, ou seja, 200%
do trabalho para produzir pão, logo o Brasil deveria comprar pão da Argentina. Se o Brasil
quisesse produzir pão e tornar-se mais eficiente, certamente poderia fazê-lo, porém com um
custo de oportunidade m aior, pois precisaria tirar mão de obra da produção de suco para
colocá-la na produção de pão. Isso faria com que a produção do suco caísse e não garantiria
uma vantagem relativa na produção de pão.
Lembre-se de que o custo de oportunidade de alguma coisa é o que sacrificamos, ou dei‑
xamos de produzir para obtê-la, por isto ele é chamado de custo da escolha. Se aplicarmos
um recurso na sua menor produtividade vamos ter retorno menor do que se aplicarmos numa
utilização em que ele dê mais retorno. No caso do comércio internacional um país deve utilizar
o recurso naquilo em que ele é mais produtivo, pois assim ele poderá produzir mais do bem
no qual é mais eficiente e então vender este bem. Com o dinheiro da venda ele pode comprar
o outro bem no qual ele não é tão produtivo.
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Noções de economia internacional e sistema financeiro 101

Assim, está claro que o Brasil possui vantagem relativa (comparativa) na produção de suco
e a Argentina, na produção de pão. Para Ricardo, o Brasil deveria se especializar na produ‑
ção de suco, reduzindo, ainda mais, as horas gastas para produzi‑lo e a Argentina deveria se
especializar na produção de pão.
Durante muito tempo o comércio internacional utilizou somente a teoria das vantagens
comparativas para explicar o comércio entre países, porém no início do século XX os pesqui‑
sadores começaram a se questionar, fazendo a seguinte pergunta: Se o comércio existe em
função das diferenças em custos relativos, então o que explica essa diferença?
Para responder a esta questão surgiu a teoria dos economistas Eli Filip Heckscher e Bertil Ohlin,
que elaboraram o teorema Heckscher‑Ohlin divulgado em 1933, conhecido como modelo ou teoria
H.O. A teoria buscava entender os efeitos do comércio sobre o rendimento dos fatores. O teorema
responde a esta questão nos seguintes termos “cada país se especializa e exporta o bem que requer
utilização mais intensiva de seu fator de produção mais abundante” (CARVALHO; SILVA, 2003, p.
25). Se considerarmos a livre mobilidade de fatores entre os países isto levaria a uma equalização
em termos de retorno relativo dos fatores entre os países. Neste contexto, o comércio internacional
também traria efeitos sobre a distribuição de renda na medida em que os rendimentos dos vários
fatores de produção das nações que participam do comércio são diferenciados
Retomando o nosso exemplo do Brasil e Argentina, podemos dizer que o Brasil exporta
suco porque possui vantagens na utilização do recurso natural terra, o qual nós temos em abun‑
dância para ser explorada. A Argentina exporta pão porque possui mão de obra especializada
para produção de trigo, tem grande produtividade neste item, com isto pode exportar pão.
O modelo também permite perceber que existe um impacto sobre a distribuição de renda
quando consideramos o que ocorre internamente em cada país. Ao produzir o bem no qual tem
recurso abundante, o país beneficia os proprietários do fator mais abundante enquanto os de‑
tentores do fator escasso perdem. Do nosso exemplo, analisando a situação do Brasil, podemos
dizer que se especializar na produção de suco vai beneficiar mais os donos de terras nos quais
são produzidas as frutas, mas, por outro lado, os trabalhadores que continuarem produzindo
pão terão que enfrentar a concorrência com o produto importado da Argentina. Por isto diz‑se
que a produção vai beneficiar mais o fator no qual o país é intensivo e menos o fator escasso,
trazendo impactos sobre a distribuição de renda beneficiando os donos do fator abundante.
Além disso, o fator prejudicado poderia migrar para outro país e buscar melhores oportu‑
nidades. Assim, os produtores de suco da Argentina poderiam vir para o Brasil e os produtores
de pão no Brasil, migrar para Argentina. Isto levaria à redução dos ganhos extras destes setores,
tornando os retornos dos fatores que migraram iguais entre os países. O desenvolvimento da
teoria H.O. suscitou três grandes afirmações, resumidas nos seguintes teoremas:
Teorema de Heckscher‑Ohlin: cada país se especializa e ex‑
porta o bem em cuja produção emprega intensivamente seu
fator abundante;
Torema Heckscher‑Ohlin‑Samuelson ou da equalização dos
preços dos fatores: o comércio equaliza os preços dos fatores
de produção;
Teorema Stolper‑Samuelson: o comércio beneficia o fator de
produção abundante de cada país, em detrimento do fator
escasso (CARVALHO; SILVA, 2003, p. 42).
Como a teoria evolui o tempo todo, uma nova questão voltou a incomodar os pesquisado‑
res. Se o país vai se dedicar a produzir um bem no qual tem uso intensivo de fator abundante,
o que vai fazer com o fator escasso? Nas teorias discutidas até aqui não se preocupavam com
esta questão porque acreditavam que os fatores são móveis e podem ser transformados.
No nosso exemplo o Brasil produz suco que é intensivo em terra e trabalho na agricultura,
então na medida em que o país pretende aumentar a produção de suco para ter excedente terá
que aumentar os gastos com melhoria da terra e enviar mais trabalhadores para agricultura.
Os recursos de capital podem estar sendo utilizados em outras aplicações e os trabalhadores
urbanos podem não querer ou demorar para se adaptar ao trabalho na agricultura.
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102  E C O N O M I A d O S E T O R P ú b l ico

É com base nesta dificuldade em relação à adequação dos fatores de produção ao seu uso
que surge o modelo de fatores de produção específicos. Ele pressupõe que alguns fatores são
homogêneos, isto é, podem ser transferidos da produção de um bem para o outro sem perda
de produtividade, e que outros fatores são específicos, isto é, não podem ser transferidos de
um setor para o outro. Normalmente pressupõe-se que o fator trabalho é homogêneo e o fator
capital é específico.
No nosso exemplo da produção de suco no Brasil, poderíamos transferir trabalhadores de
pão para suco, mas não poderíamos transformar as máquinas e equipamentos da panificadora em
máquinas de suco. Logo, o comércio internacional beneficia mais o capital que está empregado
em máquinas que produzem suco, mas prejudica o capital investido em maquinários da panifica‑
dora porque estes não poderão ser utilizados para produzir o bem de exportação (suco) e ainda
vão continuar produzindo e concorrendo no mercado interno com o produto importado (pão).
Por este modelo pode-se afirmar que o comércio beneficia o fator que é específico na
produção do bem exportável e prejudica aquele utilizado na produção do bem importado.
Até aqui as teorias buscaram desenvolvimentos que tiveram origem nas vantagens comparativas,
e podemos dizer que surgiram diversas outras teorias de comércio internacional que buscaram
explicações para as transações entre países em outras fontes além desta. Cada uma das demais
teorias procurou enfatizar um ponto importante, e falaremos sobre elas de maneira mais resumida.
Uma proposta que se contrapôs às vantagens comparativas foi a da Comissão Econômica
para América Latina e Caribe (CEPAL), que ganhou força nos anos 50 e 60. O ponto forte da
proposta era a deterioração dos termos de troca (ou intercâmbio), sugerido pelo economista
argentino Raul Prebisch. Ela ficou conhecida como teoria do subdesenvolvimento, pois expli‑
cava as diferenças comerciais entre países pobres e ricos devido à industrialização tardia dos
países pobres. O comércio entre pobres e ricos ocorria com os países ricos vendendo aos países
pobres produtos industrializados que são mais caros do que as matérias-primas e produtos
agrícolas que compram dos países pobres. Logo, os países pobres precisavam pagar o dobro ou
mais do valor de seus produtos para comprar os produtos industrializados dos países ricos. Se
os países pobres se conformassem em se especializar na produção de bens agrícolas estariam
fadados a ser sempre pobres, pois seu produto se deteriorava em preço quando comparado
aos produtos industrializados.
Outra teoria é a do ciclo de vida do produto. Por esta teoria a produção de um bem é feita
em cinco estágios. São elas: i) a fase de introdução do produto no mercado; ii) a expansão da
produção para a exportação, iii) a padronização da produção e o início da produção no exterior,
por meio de imitações; iv) imitadores vendendo com preço mais baixo que o criador do produto
em mercado de terceiros; v) as imitadoras invadem o mercado do criador e vendem o produto
mais barato que a própria empresa que criou o original. Por esta teoria a inovação tecnológica
deve ser constante, pois é ela que separa os ganhos do criador dos de seus imitadores.
Descrevemos neste tópico as teorias mais conhecidas que buscam explicar o comércio
internacional. Agora, vamos entender um pouco mais a política do comércio internacional.

2.2 A política de comércio internacional


O comércio internacional é sempre alvo de discussão por aqueles que são a favor do livre
comércio e aqueles que são contra. Na prática não existe comércio totalmente livre, geral‑
mente os governos intervêm, quase sempre procurando beneficiar suas exportações e limitar
as importações. Assim, os diversos instrumentos de intervenção do governo sobre o comércio
exterior denominam-se de política comercial. Vamos ver algumas políticas mais comuns do
comércio internacional.

2.2.1 Tarifas
Um dos instrumentos mais conhecidos é a imposição de imposto de importação também
chamado de tarifa de importação. Ele pode ser específico, quando se cobra um valor por
unidade importada, por exemplo, cobrança de U$ 150,00 por tonelada de kiwi importado.
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N o ç õ e s d e e c o n o m i a i n t e r n a c i o n a l e s i s t e m a f i n a n c e i r o   103

Podem ser ad valorem, quando são cobrados como uma percentagem do preço do produto,
como uma Tarifa Externa Comum (TEC) de 20% estabelecida para importação de produtos que
não são de origem do Mercosul. Podem ser mistos, quando cobram taxa fixa por quantidade e
uma ad valorem sobre o valor do bem importado. Podemos entender que a tarifa é uma forma
de proteção, porém não podemos deixar de observar que ela tem efeitos sobre a economia.
Vamos ver quais são estes efeitos.
Em relação ao custo benefício vai depender do tamanho do país que impõe a tarifa. Se for
um país pequeno, o imposto encarecerá o produto no mercado interno e, por ter pouco poder
de compra, ele não influenciará os preços internacionais se reduzir seu consumo; sua perda
será maior porque seus consumidores pagarão mais caro pelo produto importado. Se for um
país grande com a tarifa ele aumenta o preço do produto importado, ocorre a redução do con‑
sumo interno, os preços no mercado internacional deverão cair, seu ganho será maior, pois os
preços do produto importado tendem a cair no mercado mundial devido à queda na demanda.
Os efeitos sobre a produção vão depender do nível de utilização da capacidade de produ‑
ção do setor do mercado interno que será protegido com a imposição de tarifa sobre o produto
importado. Se o país estiver com capacidade ociosa de produção, a produção no mercado
interno do bem deverá crescer sem pressão de preços, e ele crescerá porque aumentará a de‑
manda pelo produto nacional pois o importado está mais caro devido à tarifa. Se o país estiver
trabalhando com plena capacidade de produção do bem, haverá uma pressão sobre os preços
do bem no mercado interno, devido ao aumento da demanda pelo produto.
Os efeitos sobre a renda têm efeito inverso sobre o fator de produção abundante. Por exem‑
plo: se um país produz X para exportar e ele é intensivo em trabalho, e importa M que é intensivo
em capital, quando impor uma tarifa tornará M mais caro no mercado interno. A produção interna
de M deve aumentar com o aumento da demanda, logo haverá maior demanda por capital e
aumentará os ganhos do capital. Por outro lado, o aumento da exportação de X continuará como
antes e os ganhos não se alterarão, logo, os trabalhadores não ganharão mais por isto.
Em relação aos efeitos sobre a receita do governo, o imposto só aumentará a receita do
governo até o ponto em que ele elevar a demanda pelo produto no mercado interno. Se o
imposto aumentar a produção interna acima da demanda haverá excesso de produção com
tendência a queda no preço interno e queda na arrecadação do mercado interno, que pode
não ser compensada pela cobrança do imposto de importação.
Os efeitos sobre a concorrência dependem da estrutura de produção. Se o mercado interno
for formado por pequenas empresas, os impostos sobre os importados aumentam a demanda
interna, a produção e a concorrência. Se o mercado interno for formado por oligopólios e
monopólios, os impostos sobre os importados aumentam a demanda interna com pequeno
impacto sobre os preços, pois em mercados concentrados são raras as concorrências por preços.
Os efeitos sobre o balanço de pagamentos no curto prazo são benéficos, pois reduzem
as importações. Se o país tiver déficits comerciais eles serão minimizados ou combatidos. Se
tiver superávits com certeza melhorarão o resultado do balanço de pagamentos com a redução
dos gastos com importação, o que eleva o saldo da balança comercial.

2.2.2 Subsídios
O subsídio é conhecido como imposto negativo, isto porque ele consiste em pagamentos
diretos ou indiretos que o governo faz aos produtores. Quando empregado na política comer‑
cial tem objetivo de estimular a exportação ou inibir a importação.
Seja para auxiliar empresas exportadoras, seja para incentivar a produção interna de
produtos importados, a ideia é que o estímulo dos subsídios deva ser oferecido à produção
doméstica e não apenas diretamente às atividades direcionadas com exportação, pois ampliará
a produção e o emprego de maneira geral.
Um dos riscos de oferecer subsídio às atividades exportadoras é tornar as empresas menos
produtivas, pois elas podem se acomodar e não buscar outras fontes de redução de custos, tais
como aumento de produtividade com investimentos e tecnologias. De fato toda política de
subsídio representa um aumento do gasto público e deve ser pensada e colocada em prática
toda vez que seu benefício for maior que seu custo.
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104  E C O N O M I A d O S E T O R P ú b l ico

2.2.3 Quotas de importação


As quotas referem-se às restrições quantitativas que um país impõe para a entrada de pro‑
dutos importados em suas fronteiras. Geralmente são implantadas por intermédio da concessão
de licenças para importar dadas a certas empresas ou grupo de indivíduos. Em termos gerais
considera-se que a imposição de quotas é mais prejudicial que a imposição de tarifas. Isto
ocorre porque o produto que está em quota só é acessível em pequenas quantidades e poucos
têm acesso a ela. Logo, a tendência é que os preços do produto subam no mercado interno e
mesmo assim não seja possível atender a todos os que querem obter o produto.

2.2.4 Controles cambiais


Correspondem às restrições ao acesso da moeda estrangeira ou divisa. Podem ser feitas
por meio de licença para compra de moeda estrangeira, ou através de taxas múltiplas de câm‑
bio. Neste último caso o governo pode criar taxas de câmbio para diferentes operações com
a moeda estrangeira, como dólar comercial e turismo, ou ainda ser mais específico criando
uma taxa para importação de produtos agrícola in natura por exemplo.
Estas medidas são seletivas porque escolhem os setores que terão uma taxa de câmbio
diferenciada. O impacto sobre a economia pode aparecer nos preços e vai depender da im‑
portância dos itens ou atividades que serão incluídas nesta taxa de câmbio diferenciada.

2.2.5 Proibição da importação


Geralmente a medida mais direta e mais criticada de impedimento ao comércio internacional.
Costuma ser criada para um produto específico e também é conhecida como embargo comercial.

2.2.6 Barreiras não tarifárias


Ocorrem porque um país precisa proteger a produção no mercado interno se prevenindo
contra problemas como saúde, normas técnicas, padrões de segurança, apresentação de do‑
cumentação, inspeção, entre outras. Por exemplo, proibir a importação de carne bovina de
regiões que têm a doença da vaca louca, de frangos de regiões que tenham a gripe aviária.
Estas foram as principais políticas comerciais e mais citadas em termos de comércio in‑
ternacional.
Agora vamos estudar um pouco dos reflexos do comércio internacional sobre o Balanço
de Pagamentos

2.3 O balanço de pagamentos e o mercado de câmbio


Neste momento vamos verificar quais estímulos fazem com que os valores registrados nas
contas do Balanço de Pagamentos sejam alterados à medida que um país interage com os demais.
O Balanço de Pagamentos é um importante instrumento de controle da economia. Se
lembrarmos os objetivos de política macroeconômica veremos que um deles é ter equilíbrio
nas contas externas. Por outro lado, este equilíbrio deve levar em conta os objetivos para a
economia interna, como o crescimento da produção e do emprego além da estabilidade de
preços. Retomemos a nossa função produto/renda em economia aberta.
Y = C + I + G + (X – M) (1)
Vamos ver do que depende cada um dos elementos da função produção:
C = A + bY => a função consumo (C) depende do consumo que ocorre independente da
renda, chamado consumo autônomo (A), e da propensão a consumir (b) da renda (Y);
I = ∑Rn / (1+r)n => o investimento (I) depende da soma das receitas esperadas no período
(∑Rn) acima das taxas de juros reais da economia registradas durante o período ((1+r)n). Ocorre
que r = (1+i) / (1+π), isto é, a taxa de juros reais (r) depende da taxa de juros nominais (1+r)
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Noções de economia internacional e sistema financeiro 105

descontada a inflação (1+ π). E a taxa de juros nominais é i = ie + rs + πi – πe, o que significa
que a taxa de juros nominais (i) em economia aberta deve ser acima da taxa de juros externa
(ie), cobrir o risco país (rs) e a inflação interna (πi), descontando a inflação externa (‑πe).
Os gastos do governo são G = f (T), ou seja, os gastos são função da arrecadação dos
tributos (T).
As exportações são X = f(Y*, e), isto é, as exportações são uma função da renda do resto
do mundo (Y*) e da taxa de câmbio (e).
As importações são M = f(Y,e), isto é, as importações são uma função da renda nacional
(Y) e da taxa de câmbio (e).
Observando as equações acima, todos os termos grifados são termos que cujos valores têm depen‑
dência das contas externas. Assim podemos verificar que alterações no risco país, na inflação externa,
na taxa de câmbio e na renda do resto do mundo afetam o produto e a renda no mercado interno.
Por outro lado, as demais variáveis do mercado interno podem alterar as interações da
economia com o resto do mundo indiretamente. Tomemos como exemplo um aumento nos
gastos do governo: isto aumenta a renda interna, aumenta o consumo interno e também as im‑
portações, pois uma parte dos recursos vai acabar sendo direcionada para compra de produtos
importados. Agora que entendemos que ambos os mercados internos e externos interagem e
que esta interação é registrada por meio do balanço de pagamentos, vamos então analisar as
principais contas deste balanço para apresentar suas possíveis alterações.

2.3.1 Fatores determinantes das exportações


Para efeitos de análise vamos considerar que a taxa de câmbio seja a do dólar comercial,
deste modo podemos dizer que, tudo mais mantido constante, as exportações são afetadas por:
Aumento dos preços dos produtos de exportação no exterior: se o preço dos produtos
que o Brasil exporta subir no exterior, as exportações deverão aumentar. Isto ocorre
porque os exportadores produzirão mais para ter mais lucro.
Aumento dos preços dos produtos de exportação no mercado interno: se houver um
aumento no preço dos produtos de exportação no mercado interno (no Brasil), os pro‑
dutores podem optar por vender o produto no mercado no Brasil em vez de exportar.
Desvalorização da moeda nacional: se o real se desvalorizar frente ao dólar os produ‑
tos de exportação ficarão mais baratos no exterior e isto aumentará as exportações do
Brasil. Por outro lado, se houver valorização, as exportações cairão.
Aumento da renda mundial: com o aumento da renda mundial os consumidores do
resto do mundo compram mais e isto aumenta as exportações brasileiras.
Oferta de subsídios e incentivo a exportação: medidas como redução/isenção de im‑
postos, taxa de juros subsidiadas e disponibilidade de financiamento para exportadores
constituem em estímulo importante aos exportadores. Normalmente elas diminuem os
custos de produção e dão maior competitividade aos exportadores que podem negociar
preços menores para suas mercadorias, caso seja necessário.

2.3.2 Fatores determinantes das importações


Conforme dito anteriormente, vamos assumir que estamos falando da taxa de câmbio
referente ao dólar comercial.
Aumento dos preços externos dos produtos importados: caso isto ocorra as importações
do Brasil se reduzirão.
Desvalorização da moeda nacional: se o real se desvalorizar, os importadores terão
que dispor de mais reais para pagar pelos produtos importados. Neste caso haverá
uma redução das importações brasileiras. Por outro lado, se houver valorização, as
importações vão aumentar.
Aumento na renda nacional: se houver aumento da renda no Brasil, o produto cresce
e o emprego também, e as importações também aumentarão.
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106 ECONOMIA dO SETOR PúblICO

Imposição de barreiras e tarifas de importação: se houver obstáculos como estes di‑


ficultando as importações, com certeza elas cairão.
Após estudarmos as principais divisões da economia internacional veremos na próxima
seção as transformações recentes nas economias abertas.

2.4 Transformações econômicas recentes da


economia internacional
Podemos observar que uma série de movimentos produtivos, comerciais e financeiros tem
influenciado as economias e isto pede mais intervenção dos governos e também de instituições
supranacionais. Estas instituições visam levar os países nelas agrupados a desenvolver leis e
regras sobre diversos temas de interesse comum a eles. Vamos conhecer um pouco mais sobre
estas instituições supranacionais.

2.4.1 Organismos internacionais


As instiuições surgiram durante a Segunda Guerra Mundial a princípio mais ligadas à ideia
de recuperar economias prejudicadas pela guerra e depois com o objetivo de promover o de‑
senvolvimento e trazer mais prosperidade aos países‑membros. Vamos descrever a seguir as
instituições mais importantes para a economia internacional.

2.4.1.1 O Fundo Monetário


Internacional — FMI
Links É uma organização internacional criada pouco antes
do final da Segunda Guerra Mundial, em julho de 1944,
Você pode ler mais sobre o FMI nos durante a reunião de Bretton Woods. Sua sede é em
Washington, DC, Estados Unidos. A atual Diretora Pre‑
sites: sidente é Christine Lagarde, da França. E um órgão da
<pt.wikipedia.org/wiki/Fundo_Mo- Organização das Nações Unidas (ONU), tanto que seus
membros são também membros da ONU.
netario_Internacional>;
Seu objetivo é promover o bom funcionamento do
<www.imf.org/external/index.htm>. sistema financeiro mundial, e faz isto por meio do mo‑
nitoramento das taxas de câmbio e da balança de paga‑
mentos dos países. Caso necessário, presta assistência
técnica e financeira aos seus países‑membros.
Atualmente conta com 188 nações‑membros, e o
dinheiro do FMI vem dos 188 países‑membros, o poder
Para saber mais de voto depende da contribuição de cada país. Quanto
maior a contribuição ao FMI, maior é o peso do voto
Teoricamente, os governadores ele- nas decisões. Os maiores cotistas do FMI são: Estados
gem o presidente do FMI, porém, na Unidos, Alemanha, Japão, França e Reino Unido. Cada
país pode sacar 25% de sua cota correspondente. Acima
prática, o presidente do Bird é sem- deste percentual é preciso assinar um termo (carta de
pre um cidadão dos Estados Unidos intenções, atrelada geralmente a um memorando técnico
de entendimento), no qual se compromete a reduzir o
da América, escolhido pelo governo
déficit fiscal e promover a estabilização monetária.
norte-americano. Já o diretor-pre- O ativo financeiro, ou moeda, do FMI é o Direito
sidente do FMI é tradicionalmente Especial de Saque (DES). Substitui o ouro e o dólar para
efeitos de troca. Funciona apenas entre bancos centrais
um europeu. e também pode ser trocado por moeda corrente com
o aval do FMI.
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Noções de economia internacional e sistema financeiro 107

2.4.1.2 Banco Mundial


Criado em 1944 durante as Conferências de
Bretton Woods, juntamente com o Fundo Monetário Links
Internacional (FMI) e o Acordo Geral de Tarifas e Para saber mais sobre a ONU acesse
Comércio (GATT). Constitui‑se numa instituição fi‑
nanceira internacional que fornece empréstimos para o site:
países em desenvolvimento em programas de capital <pt.wikipedia.org/wiki/Onu>.
e financiamento de projetos.
O Banco é composto por duas instituições: Banco
Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento
(Bird) e Associação Internacional de Desenvolvimento
(IDA). O Bird possui 188 países‑membros, enquanto a Links
IDA tem 168 membros. Cada Estado membro do Bird Leia mais sobre o Banco Mundial em:
deve ser também um membro do FMI.
Em seus projetos atuais constam a proposta de <pt.wikipedia.org/wiki/Banco_Mun-
redução da pobreza nos países e as iniciativas que dial>.
visam incentivar ações inovadoras para melhoria da
qualidade do ar.

2.4.1.3 Organização Mundial do


Comércio — OMC Links
A OMC teve como origem o Acordo Geral de Ta‑ Leia mais sobre a OMC no site:
rifas e Comércio (GATT). Este acordo foi criado após
a Segunda Guerra Mundial conjuntamente com outras <pt.wikipedia.org/wiki/Organiza-
instituições que visavam promover a cooperação social cao_Mundial_do_Comercio>..
internacional.
No período pós Grande Depressão de 30 os países tomaram uma série de medidas para
proteger os produtos nacionais e evitar a entrada de produtos de outros países, como por meio
de baixos impostos para exportação. Então, em 29 de novembro de 1939, 148 países assinaram
o “Protocolo de Provisão de Aplicação do Acordo Geral de Tarifas e Comércio” — GATT —
com o objetivo de evitar a onda protecionista.
O GATT vigorou até a criação efetiva da OMC após as negociações da Rodada do Uruguai
em 1993. A OMC entrou em funcionamento em 1º de janeiro de 1995. As negociações na
OMC são chamadas de rodadas. A cada rodada é lançada uma agenda de temas que serão
discutidos entre os membros da OMC para firmarem acordos. Até hoje ocorreram 17 Rodadas
de Negociação concluídas e em 2003 iniciou‑se a Rodada de Doha, ainda em curso.
As funções da OMC são:
Gerenciar os acordos que compõem o sistema multilateral de comércio.
Servir de fórum para o comércio nacional (firmar acordos internacionais).
Supervisionar a adoção e implementação destes acordos pelos membros da organização
(verificar as políticas comerciais nacionais).
Manter o Sistema de Resolução de Controvérsias, que é o mecanismo criado para solu‑
cionar os conflitos gerados pela aplicação dos acordos sobre o comércio internacional
entre os membros da OMC (CARVALHO; DA SILVA, 2003).
Os princípios do GATT para o comércio internacional foram incorporados pela OMC.
São eles:
i) Princípio da não discriminação: este princípio envolve duas considerações: o princí‑
pio da nação mais favorecida e o tratamento nacional. Pelo princípio da nação mais
favorecida, se um país conceder a outro país um benefício terá obrigatoriamente que
estender aos demais membros da OMC a mesma vantagem ou privilégio. Pelo prin‑
cípio do tratamento nacional, a OMC proíbe o tratamento diferenciado aos produtos
internacionais para evitar desfavorecê‑los na competição com os produtos nacionais.
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108  E C O N O M I A d O S E T O R P ú b l ico

ii) Princípio da Previsibilidade: as regras de comércio de cada país devem ser claras,
previstas e descritas. Formam o conjunto de compromissos tarifários que devem incidir
sobre bens, bem como destacar as listas de ofertas em serviços.
iii) “Princípio da Concorrência Leal: este princípio visa garantir um comércio internacional
justo”. Sem práticas desleais, efetivando Acordos Antidumping e contra Subsídios que
possam causar danos aos demais parceiros comerciais e membros da OMC.
iv) Princípio da Proibição de Restrições Quantitativas: impede os países-membros de
impor quotas ou proibições a certos produtos internacionais como forma de proteger
a produção nacional.
v) Princípio do Tratamento Especial e Diferenciado para Países em Desenvolvimento:
os países em desenvolvimento podem ter tratamento diferenciado para seus produtos.
Existem hoje o Sistema Geral de Preferências (SGP) em que produtos originários e pro‑
cedentes de países beneficiários em desenvolvimento (PD) e de menor desenvolvimento
(PMD) recebem tratamento tarifário preferencial (redução da tarifa alfandegária) nos
mercados dos países outorgantes. E também existe o Sistema Global de Preferências
Comerciais entre Países em Desenvolvimento (SGPC) e por meio dele as concessões
comerciais ocorrem entre seus membros, os países em desenvolvimento.
Depois de conhecer um pouco melhor as instituições que atuam sobre a economia inter‑
nacional, vamos estudar quais são as tendências e desafios mundiais.
Observa-se que na atualidade uma economia mais aberta e interdependente tem muitas
consequências sobre a atividade econômica, e as tranformações na produção, comercializa‑
ção e financeira são cada vez mais rápidas. Elas ocorrem de maneira mais intensa nos países
desenvolvidos, e geram a necessidade de os países em desenvolvimento procurar caminhos
para não perder as possibilidades de crescimento e desenvolvimento de suas economias.
Neste sentido dois temas são relevantes e merecem destaques. São eles: i) as transformações
da globalização e ii) a formação de blocos econômicos (MENDES, 2004).

2.5 A formação de blocos econômicos


A união de países buscando o fortalecimento de suas economias
deu origem aos Blocos Econômicos, que podem ser definidos como
união de um grupo de países em torno de alguns interesses co‑
muns — maior liberação do comércio entre si, maior facilidade de
transação comercial e financeira, e se possível, a união monetária
como é o caso da Europa, com o euro desde janeiro de 2002 —
sendo suas instituições políticas, sociais e econômicas mantidas
relativamente independentes (MENDES, 2009, p. 212).
Podemos verificar na Tabela 3.1 os quatro blocos econômicos mais conhecidos. Vemos que
em termos de PIB o maior deles é o Nafta, e em termos populacionais o maior seria a Apec,
no qual estão países populosos como a China.

Tabela 3.1  Alguns dados sobre os quatro blocos econômicos

Blocos Países participantes População PIB PIB per


(milhões) (US$ trilhões) capta
Nafta* EUA, Canadá e México 440 15 34.090
UE** 27 países-membros 494 14,9 28.213
Apec* 21 países-membros 1.880 12 683
Mercosul** Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai, 267 4,36 14.275
Bolívia e Venezuela
Fonte: Adaptado de Mendes (2009, p. 213)
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N o ç õ e s d e e c o n o m i a i n t e r n a c i o n a l e s i s t e m a f i n a n c e i r o   109

Mas, afinal, a união de países em blocos econômicos deve seguir alguma regra de integra‑
ção entre eles? Vamos entender quais são estas regras gerais e depois estudar um pouco mais
sobre cada um destes blocos listados na Tabela 3.1.
Neste contexto o processo de Integração Econômica é uma forma de facilitação das re‑
lações econômicas e de comércio entre grupos de países que contempla algumas diferenças
à medida que o processo se aprofunda. Os principais tipos de integração econômica estão
representadas na Figura 3.2.

Figura 3.2  Principais tipos de integração econômica

União Mercado União Integração


ZLC - ALCA aduaneira Comum Econômica econômica

TEC MERCOSUL UE completa

Podemos ver pela figura quais são as principais formas de integração, e dentre elas temos:
a) Zona de Livre Comércio (ZLC): neste tipo de integração ocorre apenas a redução/elimi‑
nação das restrições tarifárias e não tarifárias. O objetivo é permitir a livre circulação
de mercadorias entre os países-membros. Um bom exemplo deste tipo de integração
são as discussões que envolvem a constituição da Área de Livre Comércio das Américas
(Alca), impostos de importação;
b) União Aduaneira: representa um avanço pois, além de reduzir as barreiras entre os
países do bloco, ela introduz a criação de uma regra comum para tratar as mercadorias
que vêm de países de fora do bloco, como a Tarifa Externa Comum (TEC);
c) Mercado comum: é um novo avanço em relação à União Aduaneira. Este tipo de integra‑
ção incorpora a redução de tarifas entre os países-membros, a TEC e procura eliminar os
entraves à livre circulação de fatores entre os países, em especial mão de obra e capital.
O Mercosul se encontra neste estágio de integração e tem dificuldades em avançar.
d) União Econômica: este tipo de integração inclui os avanços do Mercado Comum e
propõe a realização de políticas macroeconômicas comuns, tais como a criação da
moeda única para os países do bloco;
e) Integração Econômica Plena: este tipo de integração é o estágio mais avançado, inclui
os avanços da união econômica e ainda propõe que as políticas econômicas e legis‑
lação sejam discutidas e unificadas. Haverá a criação de órgãos supranacionais que
concentram as decisões econômicas e políticas dos países. Por exemplo, na União
Europeia existe o Banco Central Europeu. A UE se encontra neste estágio de integração,
é o bloco no qual o processo de integração é o mais avançado.

2.5.1 Os blocos econômicos


Você verificou que existem diferentes tipos de integração econômica entre os países.
Quando os países se unem, respeitando o tipo de integração proposto, eles fazem um acordo
entre seus governos, que contêm as regras que devem ser seguidas, formando desta forma um
bloco econômico. Um bloco econômico geralmente se forma a partir de um interesse comercial
e com países geograficamente próximos. Na atualidade, os principais blocos econômicos são
Nafta, União Europeia, Apec e Mercosul. Agora vamos estudar um pouco mais cada um deles.
a) Nafta (North American Free Trade Agreement ou Tratado Norte-Americano de Livre Co‑
mércio) é um bloco econômico formado desde 1994 por Estados Unidos, Canadá e México.
Seu objetivo principal é garantir aos países participantes uma situação de livre comércio,
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110  E C O N O M I A d O S E T O R P ú b l ico

derrubando as barreiras alfandegárias, facilitando o


comércio de mercadorias entre os países-membros. A
Links moeda de negociação de maior peso é o dólar. Entre os
países o México se configurou como grande fornecedor
Você pode ler mais detalhes sobre de petróleo e de mão de obra, pois Estados Unidos e
o Nafta em: Canadá instalaram várias empresas naquele país visando
reduzir seu custo com mão de obra. Neste processo
<pt.wikipedia.org/wiki/Tratado_ ocorreu uma dura crítica às empresas maquiladoras
Norte-Americano_de_Livre_Co- mexicanas que atuavam na montagem e etiquetagem
de produtos exportáveis, a partir de componentes im‑
mercio>.
portados e sem respeitar as leis de trabalho e as normas
Você pode ler mais detalhes sobre a ambientais. Uma atividade, portanto, que não agrega
União Europeia no link: nem valor nem tecnologia. Por outro lado, os Estados
Unidos, com maior domínio da tecnologia, podem fazer
<pt.wikipedia.org/wiki/Uniao_Eu- produtos mais baratos, e o Canadá e especialmente o
ropeia>. México tornam-se dependentes dos Estados Unidos.
b) UE (União Europeia): é um bloco econômico,
político e social de 27 países europeus que participam
de um projeto de integração política e econômica. Os países integrantes são: Alemanha, Áus‑
tria, Bélgica, Bulgária, Chipre, Dinamarca, Eslováquia, Eslovênia, Espanha, Estônia, Finlândia,
França, Grécia, Hungria, Irlanda, Itália, Letônia, Lituânia, Luxemburgo, Malta, Países Baixos
(Holanda), Polônia, Portugal, Reino Unido, República, Romênia e Suécia. Macedônia, Croácia
e Turquia encontram-se em fase de negociação. A UE tem origem no Tratado do Carvão e do
Aço, assinado em Paris em 1951, e congregava França, Alemanha, Itália, Bélgica, Luxemburgo
e os Países Baixos numa comunidade com o objetivo de introduzir a livre circulação do carvão
e do aço, bem como o livre acesso às fontes de produção. A UE tem diversos tratados, dentre
eles o Tratado da Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (Ceca), o Tratado da Comunidade
Econômica Europeia (CEE), o Tratado da Comunidade Europeia da Energia Atômica (Euratom),
o Tratado da União Europeia (UE) e o Tratado de Maastricht, que estabelece fundamentos da
futura integração política. Tem um sistema financeiro e bancário comum, os cidadãos dos
países-membros podem circular e estabelecer residência livremente pelos países da UE. A UE
tem como única moeda o Euro adotada desde 2002. Possui em comum os seguintes órgãos
supranacionais: Comissão Europeia, Parlamento Europeu, Conselho de Ministros e o Tribunal
de Justiça. Todos estes órgãos possuem representantes
de todos os paíse-membros. O bloco representa 20%
Links do volume total das importações e das exportações
no nível mundial. A Europa importa, basicamente,
Você pode ler mais sobre a Apec matérias-primas, madeira, minerais, produtos tropicais
e borracha. Manufaturados de alta tecnologia proce‑
no link: dentes dos Estados Unidos e do Japão. A exportação
<pt.wikipedia.org/wiki/APEC>. predominante é de manufaturados, automóveis, navios,
produtos químicos, produtos ópticos e calçados.
c) Apec (Cooperação Econômica da Ásia e do Pa‑
cífico):
é um bloco que engloba economias asiáticas, americanas e da Oceania.
Sua formação deveu-se à crescente interdependência das economias da
região da Ásia-Pacífico. Foi criada em 1989, inicialmente apenas como
um fórum de discussão entre países da Asean (Association of the SouthEast
Asian Nations) e alguns parceiros econômicos da região do Pacífico, se
tornando um bloco econômico apenas em 1993, na Conferência de
Seattle, quando os países se comprometeram a transformar o Pacífico
numa área de livre comércio (SAIBA..., 2012, p. 1, grifo do autor).
A APEC tem hoje 21 membros, que são: Austrália; Brunei; Canadá; Chile; China; Hong
Kong; Indonésia; Japão; República da Coreia; Malásia; México; Nova Zelândia; Papua-Nova
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Noções de economia internacional e sistema financeiro 111

Guiné; Peru; Filipinas; Rússia; Cingapura; Taiwan; Tailândia; Estados Unidos da América; Vie‑
tnã. O principal objetivo do bloco é reduzir taxas e barreiras alfandegárias da região Pacífico‑
‑asiática, promovendo assim o desenvolvimento da economia da região. A criação da Apec
muito contribuiu para o crescimento e desenvolvimento da região pacífico‑asiática, haja vista
o crescimento acelerado da China nos últimos anos.
d) Mercosul (Mercado Comum do Sul): é a união
aduaneira de cinco países da América do Sul. Em sua
formação original o bloco era composto por quatro
países: Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai. Desde Links
2006, a Venezuela ingressou no bloco. As assimetrias Você pode ler mais sobre o Mercosul
de mercado são reprsentadas pelo Brasil, que detém
cerca de 70% do mercado, isto gera muitos atritos en‑ no link:
tre os demais países. O Brasil é o maior exportador e <pt.wikipedia.org/wiki/
importador e acumula superávit comercial com quase
todos os países do bloco. Mercosul>.
e) Outros grupos de países: existem outras formas
de agrupamento de países muito conhecidos na atua‑
lidade mas que não são blocos econômicos. Eles se agrupam com objetivos bem específicos
e geralmente não envolvem países próximos geograficamente (como é o caso dos blocos
econômicos). Dentre eles citamos:
G‑7: grupo dos países mais ricos do mundo;
G‑20: grupo dos países em desenvolvimento;
BRIC´s: países de grande potencial de crescimento. Constituído por Brasil, Índia, Rússia,
China e mais recentemente incluiu‑se a África do Sul;
Opep: grupo dos países produtores e exportadores de petróleo.
Agora que entendemos um pouco mais sobre os tipos de integração e estudamos os blocos
econômicos, podemos estudar outra tranformação da economia na atualidade: a globalização.

2.6 As múltiplas faces da globalização


A globalização é um processo antigo que se inicia desde as explorações mercantilistas
além‑fronteira de seus países procurando encontrar produtos novos para comércio, bem como
vender seus produtos para esses novos mercados. Ela se aprofunda com a integração econô‑
mica, social, cultural, política. Esta integração avança com o desenvolvimento da telemática,
a junção das telecomunicações com a informática. Estas inovações tecnológicas aceleraram
o processo de trasmissão de dados e informações econômicas entre países. A rapidez com
que as informações são transmitidas e o acesso a elas reduziu os riscos dos investimentos em
outros países que não o país de origem do capital.
É um fenômeno movido pela própria necessidade do capitalismo de expandir seus mer‑
cados, transformando o mundo numa enorme global que permita maiores mercados para os
países centrais (ditos desenvolvidos) cujos mercados internos já estão saturados.
A definição mais atual é globalização econômica, que envolve as esferas produtiva,
comercial e financeira. Ela trata da ampliação e aprofundamento das operações das grandes
corporações em outros países, com a finalidade de produzir e vender bens e serviços em
outros mercados e ainda conquistar maior valorização do capital. Empresas com operações
globalizadas presentes em nosso cotidiano: GM, Ford, Shell, Mitsubishi, Toyota (produtos);
Carrefour (serviços); HSBC, Santander, ABN Amro Bank (Financeiro). Vamos estudar os aspectos
mais importantes de cada uma das esferas da globalização, conforme destacou Mendes (2004).
a) Globalização na produção: produção de bens e serviços dentro de redes em escala
mundial, do qual são protagonistas as empresas multinacionais. A tendência atual aponta a
tecnologia e a inovação como novos fatores de produção em substituição aos fatores tradicionais
de produção, mão de obra e recursos naturais. Estes novos fatores passam a ser determinantes
do crescimento das multinacionais.
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112 ECONOMIA dO SETOR PúblICO

b) Globalização no comércio: as empresas do comércio varejista estão atuando em escala


mundial. O crescimento desse tipo de atuação se deve à saturação do mercado interno e à
expansão da rede de fornecedores em escala mundial, puxados pelo crescimento das franquias,
licenciamentos e joint ventures (união de empresas para cumprir um projeto específico).
c) Globalização financeira: refere‑se à internacionalização do capital em busca de retor‑
nos mais elevados mesmo que isto signifique ir contra os interesses nacionais dos países. As
grandes transformações do mercado financeiro decorrem de: por meio da telemática os mer‑
cados financeiros ficaram mais interligados e houve também uma ampla abertura financeira
nos países em desenvolvimento.

Quadro 3.4 Globalização: vantagens x desvantagens

Vantagens Desvantagens
Maior rapidez para aumentar a renda nacional Pequena margem de erros em políticas
(EUA 50 anos, China 10 anos) nacionais
Maior competição entre empresas e nações reduz Redução do poder dos BACEN’s de controlar
inflação o sistema monetário nacional
Maior perspectiva de o país crescer com um salto Maior volatilidade de capitais
tecnológico
Multiplicação das fontes de financiamento. Os Maior dificuldade em quitar as dívidas, pois
capitais procuram maior retorno e podem tanto os países entram num sistema de rolagem
conceder empréstimo, como comprar títulos entre um tipo de dívida e outro. Por exem‑
públicos de dívida plo, emissão de dívida ou tomar emprésti‑
mos nos bancos

Neste quadro de crescente globalização ainda permanecem muitas disparidades entre os


países. Assim, os grandes desafios mundiais, são:
tornar a conciliar a economia real com a economia do dinheiro: pode‑se dizer que hoje
o fluxo de dinheiro é 90% superior ao necessário para circular a produção. A inflação
que deveria ocorrer só não existe porque o dinheiro está concentrado nos países ricos
e com um pequeno número de investidores;
reduzir a vulnerabilidade financeira de países endividados: os países dependentes
de capital estrangeiro para organizar sua economia aumentaram sua necessidade de
dinheiro externo e tornaram‑se reféns da volatilidade do mercado;
reduzir o crescimento populacional: a população mundial cresce mais em regiões mais
pobres do planeta e o inverso acontece com a riqueza (isto é um problema de reparti‑
ção da riqueza mundial), o número de jovens cresce e em contrapartida o desemprego
aumenta no mundo (problema do avanço tecnológico e de políticas macroeconômicas
preocupadas com estabilidade financeira);
melhorar as condições ambientais do planeta: o aumento da produção, da renda e
do consumo tem impactos significativos sobre o meio ambiente. Encontrar formas
de conciliar a melhoria do padrão de vida da população mundial e preservar o meio
ambiente é um dos maiores desafios a ser enfrentado pela futuras gerações do planeta.

Questões para reflexão


Estudamos a formação de blocos econômicos e a globalização e verificamos quais
as características de cada um deles. Convido você a refletir: você consegue citar
a diferença entre formação de bloco e globalização quanto ao papel do estado?
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Noções de economia internacional e sistema financeiro 113

Para concluir o estudo da unidade


Chegamos ao fim de mais uma unidade e nela você pôde aprofundar seus conheci‑
mentos sobre a economia internacional. Você pôde ver que a economia aberta aumenta
a interdependência entre países, cujos resultados podem ser observados no balanço de
pagamentos e pelo avanço do processo de globalização. Você pode aprofundar sobre a
economia internacional lendo os materiais abaixo indicados e que se encontram dispo‑
níveis na Biblioteca Digital Pearson:
Capítulo 11, de SINGER, Paul. Aprender economia. 25 ed. São Paulo: Contexto, 2010
Capítulos 10 e 11, de MENDES, Judas Tadeu G. Economia: fundamentos e aplica‑
ções. São Paulo: Prentice Hall, 2004.
Desejo a você uma boa leitura e bons estudos.

Resumo
Nesta unidade você teve a oportunidade de estudar os pontos mais importantes da
economia internacional. A economia internacional tem grande avanço a partir da evolução
da moeda enquanto instrumento que dá liquidez às trocas internacionais. Na atualidade a
maioria dos países adota o regime de câmbio flutuante, mas muitos governos intervêm no
mercado de câmbio, pois se sua moeda se valoriza caem as exportações, e se sua moeda
se desvaloriza os produtos que precisa importar ficam mais caros. Assim, a intervenção
é uma forma de amenizar os impactos de uma variação descontrolada do valor de suas
moedas perante a moeda estrangeira. Vimos também que outros fatores influenciam as
exportações e importações. Como os governos sabem que estão vulneráveis ao mercado
aberto frequentemente adotam medidas protecionistas, como tarifas e subsídios em suas
políticas comerciais.
Para controlar os excessos surgem os organismos internacionais como FMI, OMC e
Banco Mundial, que são os grandes apoiadores dos países nas questões que envolvem os
problemas de equilíbrio interno e externo dos países‑membros. Os países também procu‑
raram fortalecer econômica e comercialmente e para isto se agruparam em grandes blocos
com objetivos e políticas bem definidos para buscar a prosperidade de seus membros. As
empresas também atuam para crescer no mercado mundial, e este avanço das empresas
ocorre por meio da globalização. Assim, a formação de blocos é mais uma estratégia dos
governos para defender os interesses de suas economias e a globalização é um movimento
dominado pelas empresas que buscam maior rentabilidade para seus investimentos indepen‑
dentemente de localização geográfica. E finalmente concluímos com a ideia de que, num
mundo em que a transformação econômica é constante, surgem vários desafios mundiais
dos quais o que se destaca é a grande preocupação ambiental que é mais evidente conforme
a produção e o consumo mundial aumentam.

Atividades de aprendizagem
Nas questões abaixo assinale a alternativa conforme o que é solicitado:
1. As relações econômicas internacionais são reguladas por grandes organismos internacionais,
dentre eles existe uma instituição que só empresta dinheiro a países associados a ela. Esta
instituição é:
a) A Organização Mundial do Comércio;
b) A Organização das Nações Unidas;
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114  E C O N O M I A d O S E T O R P ú b l ico

c) A Organização Mundial da Saúde;


d) O Fundo Monetário Internacional;
e) O GATT.
2. A média de crescimento do PIB no mundo nos últimos três anos foi de 5%, sendo que os
países emergentes cresceram acima de 7,5% e os desenvolvidos, em torno de 2,5%. Se‑
gundo o banco de desenvolvimento Goldman Sachs, quando divulgou o estudo realizado
em 1999, quatro países emergentes se destacam na nova fase de crescimento da economia
mundial. Naquele estudo estes países ficaram popularmente conhecidos pela sigla BRIC.
Quais são eles?
a) Brasil, Ruanda, Índia e China.
b) Bélgica, Bielo Rússia, Inglaterra e Canadá.
c) Bulgária, Rússia, Índia e China.
d) Brasil, Rússia, Indonésia e Cuba.
e) Brasil, Rússia, Índia e China.
3. As nações vêm se organizando em blocos econômicos a fim de facilitarem suas trocas
internacionais. Nenhum país vive isoladamente. Hoje o comércio internacional está di‑
ferente e a tendência é a negociação entre blocos e não mais os países individualmente.
Neste sentido, dentre os principais blocos econômicos já criados, podemos citar:
a) FMI, Nafta e União Europeia;
b) Mercosul, Apec e Cepal;
c) Mercosul, FED, FMI;
d) União Europeia, ONU, OMC;
e) União Europeia e Mercosul.
4. A globalização é um processo de crescente interdependência entre países. Podemos citar
como vantagem deste processo:
a) Os países trocam mais mercadorias entre si e as empresas migram de um país para outro
com maior facilidade, assim podem reduzir seus custos e produzir a preços menores;
b) Aumenta o desemprego em setores menos competitivos das economias;
c) Aumento da concorrência com produtos e empresas reduzindo as vendas das empresas
nacionais;
d) Ocorre o rápido sucateamento de equipamentos e obsolescência do conhecimento
das pessoas;
e) Aumentam as barreiras para ingresso de trabalhadores estrangeiros nos países.
5. Responda às questões abaixo:
Explique de maneira resumida o que foi o padrão-ouro.
Explique o que foi o sistema Bretton Woods de conversão de moeda.
Qual o impacto da política fiscal expansionista sob câmbio fixo? Por quê?
Qual a melhor política econômica no caso de sistema de câmbio flexível/flutuante? Por quê?
Quais as principais teorias sobre o comércio internacional?
Quais as principais políticas de comércio internacional?
Quais são os sete temas recorrentes discutidos em comércio internacional?
Quais os principais Organismos Internacionais?
Quais são os principais tipos/formas de integração econômica?
Qual a diferença entre zona de livre comércio e união aduaneira?
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Unidade 4
Transformações
recentes da economia
brasileira
Wilson Salvalagio

Objetivos de aprendizagem: Nesta unidade você irá conhecer as


transformações recentes ocorridas no Brasil e terá condições de
compreender o estágio atual de nossa economia.

Seção 1: Breve retrospectiva da economia brasileira


Nesta seção abordaremos a inflação no Brasil, seu diag-
nóstico e as propostas para combatê-la nos anos 80.

Seção 2: O Brasil na atualidade


Nesta seção será abordaremos a criação, evolução de
desenvolvimento do Plano Real até atualidade.
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116  E C O N O M I A d O S E T O R P ú b l ico

Introdução ao estudo
Ao estudar a economia brasileira temos uma importante oportunidade de compreender
as profundas transformações ocorridas no Brasil, relativamente aos aspectos econômicos e
sociais de nosso país.
Muito se transformou nossa economia, sobretudo se falarmos dos últimos vinte anos, mas
não só este período é rico em mudanças. Observamos que as transformações da economia
brasileira estão dinamicamente atreladas aos eventos políticos nacionais ou mundiais.
Após a Segunda Guerra Mundial, o Brasil se lançou ao evento econômico que ficou conhe‑
cido como a implementação da indústria de base. Foi uma época de profunda participação do
Estado brasileiro na economia, que levou à criação das grandes estatais, como as siderúrgicas,
as companhias telefônicas e a Petrobras, entre outras importantes empresas. Esta participação
do Estado na economia teve influência em outro importante evento econômico, que foi a im‑
plementação, no fim dos anos 1950 e início dos anos 1960, da indústria de bens de consumo
duráveis, capitaneada pelos eletrodomésticos e pela indústria automobilística, como parte do
grande evento político que foi a plataforma de governo de JK de crescer cinquenta anos em cinco.
Na esteira do projeto do governo militar de crescimento a qualquer custo, tivemos o co‑
nhecido milagre econômico, ocorrido na primeira metade da década de 1970, que permitiu
ao Brasil crescer quase 14 por cento ao ano, em plena época do primeiro grande choque do
petróleo. Enquanto o mundo estava em crise, o Brasil crescia a passos largos. Mas tanto cresci‑
mento, sem sustentação interna, realizado à custa de financiamentos obtidos no exterior, trouxe
o endividamento externo e junto o desequilíbrio de preços, ou seja, a inflação que tanto mal
causou à economia brasileira.
Já na década de 1980, conhecida como a “década perdida” pelos péssimos resultados do
PIB (produto interno bruto) brasileiro, vimos a fraqueza econômica se instalar em nosso país.
Depois de vários pacotes econômicos, em 1994 foi lançado o Plano Real, que conseguiu con‑
trolar a inflação e a mantém em níveis baixos até hoje.
No fim dos anos 1980 e início da década de 1990, passamos a conviver com o processo de
globalização da economia, que também trouxe a defesa da menor participação do Estado na
economia e a crescente valorização da economia de mercado, que no Brasil teve como ícone
o processo de privatização de várias estatais.
Posteriormente tivemos a mudança no sistema cambial brasileiro, que passou ao sistema
de taxas flutuantes e que até hoje prevalece.

  Seção 1 Breve retrospectiva da economia


brasileira
O período recente é caracterizado por uma série de transformações, tanto na economia
mundial como nas economias nacionais. Tais modificações são parte do advento do processo de
globalização, desencadeado no fim do século passado, de forma que tem levado as economias
nacionais a promoverem profundas readaptações em suas estruturas. A globalização traz em seu
bojo uma relevante valorização do mercado e uma crescente preocupação com a competitividade,
aliadas a uma menor participação do Estado na economia. Este novo conceito traz de volta o libe‑
ralismo econômico, em voga até o início do século passado, rebatizado agora de neoliberalismo,
tão combatido pelas esquerdas do mundo inteiro. As funções que estavam nas mãos do Estado,
mas que não representam funções típicas deste, deveriam ser transferidas à iniciativa privada,
desencadeando-se, assim, o processo de privatização verificado, nos anos 1990, no Brasil e em
outros países, sobretudo do terceiro mundo.
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T r a n s f o r m a ç õ e s r e c e n t e s d a e c o n o m i a b r a s i l e i r a   117

No início dos anos 1990, verifica-se, no Brasil, uma intensa movimentação no sentido
de reforma do Estado, contemplando os processos de abertura comercial, abertura da conta
capital, privatização, reforma fiscal, reforma administrativa e reforma financeira, entre outras.
No final de 1993, começou a ser implementado o mais engenhoso
plano de combate à inflação já utilizado no país. Após uma série
de tentativas fracassadas de planos heterodoxos, ocorridas nos anos
1980 e início de 1990, o Plano Real conseguiu reduzir a inflação e
mantê-la sob controle durante longo período de tempo, pelo menos
até o momento. Apesar do sucesso alcançado nestes últimos anos,
no que se refere à estabilização, outros problemas permaneceram
e alguns até se agravaram. A crença de que com a estabilização o
país iria retomar uma trajetória estável de crescimento econômico
não se verificou. O comportamento do produto tem se verificado
extremamente oscilante no período recente. O sacrifício do cresci‑
mento na estratégia de estabilização provocou um aumento signi‑
ficativo do desemprego no país. As contas externas deterioram-se
ampliando a vulnerabilidade externa da economia brasileira. O
déficit público não foi corrigido, e a dívida pública assumiu uma
trajetória ascendente. Assim, apesar da estabilização, uma série
de dúvidas permanece na economia brasileira (GREMAUD; VAS‑
CONCELLOS; TONETO JÚNIOR, 2004, p. 467).
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118  E C O N O M I A d O S E T O R P ú b l ico

  Seção 2 O Brasil na atualidade


O Plano Real parte do diagnóstico de que a inflação brasileira possuía um forte caráter
inercial. O plano dividiu o ataque ao processo inflacionário em três fases: (a) ajuste fiscal; (b)
indexação completa da economia — Unidade Real de Valor (URV); e (c) reforma monetária —
transformação da URV em R$. O ajuste fiscal visava equacionar o desequilíbrio orçamentário
para os próximos anos e impedir que daí decorressem pressões inflacionárias.
A segunda fase começou no final de fevereiro de 1994. Essa correspondia a um novo
sistema de indexação, que visava simular os efeitos de uma hiperinflação.
Para tal, o governo criou um novo indexador, a Unidade Real de Valor (URV), cujo valor
em cruzeiros reais seria corrigido diariamente pela taxa de inflação medida pelos principais
índices (IGP-M, IPC-FIPE e IPCA-Especial), que passaria a funcionar como unidade de conta
no sistema. O valor da URV, nessa fase, manteria uma paridade fixa de um para um com o
dólar, ou seja, seu valor seria a própria taxa de câmbio.
Quando praticamente todos os preços estavam expressos em URV, o governo introduziu a
nova moeda, o Real (R$), em 1o de julho, cujo valor era igual ao da URV (e, por conseguinte
ao US$) do dia: CR$ 2.750,00. Assim, todos os preços em CR$ eram convertidos em R$,
dividindo-se pelo valor da URV do “dia D”.
Note-se que, diferentemente dos planos anteriores, não se recorreu a qualquer tipo de
congelamento, transformação de valores pela média etc. Dado o próprio diagnóstico do plano
sobre o caráter inercial da inflação, seu sucesso estava vinculado à importância do compo‑
nente tendencial da inflação e à ausência de choques no momento posterior à conversão.
Dever-se-ia quebrar a possibilidade de os agentes repassarem choques para preços, fazendo
com que os efeitos dos choques fossem dissipados no tempo. Para isso, o governo anunciou,
com o plano, metas de expansão monetária bastante restritivas (R$ 7,5 bilhões para o terceiro
trimestre de 1994), restringiu operações de crédito e impôs depósito compulsório de 100%
sobre as captações adicionais do sistema financeiro. Com o controle da demanda e da expansão
monetária, limitar-se-ia a capacidade dos agentes de repassar custos para preços. Esse controle
ficou conhecido como a “âncora monetária” do Plano Real nessa fase.
Outro fator importante para romper com os processos de repasse
foi a valorização da taxa de câmbio em um contexto no qual o grau
de abertura para o exterior tinha aumentado significativamente, e o
país possuía um volume significativo de reservas. [...] Com a eco‑
nomia aberta e um volume significativo de reservas, a possibilidade
de importações estava colocada; como esta se tornava atrativa em
decorrência da valorização cambial, travava-se os preços internos,
rompendo a possibilidade de propagação dos choques (repasse aos
preços, tentativa de elevações). Esta foi a chamada âncora cambial
do Plano Real (GREMAUD; VASCONCELLOS; TONETO JÚNIOR,
2004, p. 471).

O impacto imediato do Plano Real foi a rápida queda da taxa de inflação. Apesar da
redução, esta foi significativamente mais lenta do que foi no Plano Cruzado, por exemplo.
A inflação não caiu imediatamente para zero nem houve deflação, em decorrência do não
recurso ao congelamento. Outra consequência imediata do plano foi um grande crescimento
da demanda e da atividade econômica.
Procurou-se evitar o erro dos demais choques heterodoxos, adotando-se uma política
monetária restritiva, mantendo as taxas reais de juros elevadas, para evitar uma explosão da
demanda após a queda da inflação. Essas medidas, contudo, não impediram que ocorresse,
como nos demais planos, uma grande expansão da demanda com a queda da inflação.
88820-978-85-8143-632-6_MIOLO.pdf, page 136 @ Preflight Server ( Economia Setor Público_G_Final2.indd ) - 07:07:04 - January 10, 2014 - PG-129

T r a n s f o r m a ç õ e s r e c e n t e s d a e c o n o m i a b r a s i l e i r a   119

Tendo em vista essa situação, já em outubro de 1994, houve uma tentativa de controle da
demanda por meio da imposição de restrições de crédito. Além disso, introduziram-se algumas
restrições à entrada do capital estrangeiro, para evitar maiores pressões cambiais, e estipulou-se
uma pequena margem dentro da qual o dólar poderia flutuar — R$ 0,84 a R$ 0,86 —; era a intro‑
dução do sistema de bandas cambiais. A alteração da política cambial, com a adoção do sistema
de minibandas e uma desvalorização projetada em torno de 7% a.a., impedia novas apreciações
da taxa de câmbio sobrevalorizado. Essa política sinalizava a opção do governo por uma estra‑
tégia gradualista de correção cambial (GREMAUD; VASCONCELLOS; TONETO JÚNIOR, 2004).

Aprofundando o conhecimento
Para aprofundar ainda mais seus conhecimentos sobre este assunto, sugerimos a
leitura do texto a seguir, extraído de Mochón (2006, 305-318).

A economia brasileira em perspectiva


Rogério Mori

Introdução
Os principais elementos da teoria econômica — bem como suas aplicações — desenvolvidos ao longo
deste livro mostram-se essenciais não apenas a estudantes, profissionais e acadêmicos que atuam na área
de economia, mas também a um público mais amplo (administradores, advogados, cientistas sociais etc.),
para o qual os conceitos apresentados possuem elevada aplicabilidade em seu ramo de atuação.
Fundamental para o leitor é a compreensão da realidade econômica brasileira tendo em pers-
pectiva os elementos apresentados ao longo da obra.
Nesse sentido, o objetivo deste capítulo é complementar a exposição teórica e aplicada dos capí-
tulos anteriores, proporcionando um breve panorama da realidade econômica brasileira dos últimos anos.
Este capítulo procura abordar as principais questões econômicas brasileiras, mantendo um foco
predominantemente na macroeconomia. O texto também está longe de ser exaustivo nas questões
apresentadas, e uma lista de leitura, com obras sobre economia brasileira, é apresentada aos leitores
interessados em aprofundar seus conhecimentos sobre nossa realidade.

O desempenho da economia brasileira nas últimas décadas


Um dos principais aspectos econômicos observados em qualquer economia diz respeito ao
crescimento econômico, expresso diretamente no comportamento do produto interno bruto (PIB)
ao longo do tempo.
Nesse contexto, a economia brasileira registrou elevadas taxas de crescimento do PIB nas dé-
cadas que se seguiram à Segunda Guerra Mundial, situando-se entre os países com maior taxa de
crescimento do mundo no período (veja a Figura 19.1). Ao mesmo tempo, a estrutura da economia
brasileira registrou mudanças significativas nesse período, com uma profunda alteração na estrutura
de produção, oriunda, principalmente, do processo de industrialização verificado na época. Ao longo
dos trinta anos que se sucederam à Segunda Guerra, o Brasil se consolidou como uma economia
que migrou de uma base produtiva agrária para uma estrutura diversificada, com um grau de in-
dustrialização consideravelmente elevado se comparado ao registrado na primeira metade do século
XX ou ao verificado nas demais economias latino-americanas no período.
Nas últimas décadas, surgiram diversas interpretações sobre esse período, mas existe certo con-
senso que destaca a importância do papel do Estado ao proporcionar estímulos a esse processo por
120  E C O N O M I A d O S E T O R P ú b l ico

PrinEconCap 19a 23.10.06 18:27 Page 306


meio da estratégia de industrialização para substituição de importações e da prioridade ao crescimento
econômico nas definições estratégicas (ainda que o controle da inflação, embora sempre destacado
como uma prioridade de governo, tivesse um caráter, em certo sentido, secundário).

30619.1  Crescimento
Figura PRINCÍPIOS DE ECONOMIA do PIB brasileiro ao longo das últimas décadas

15,0 PIB per capita 15,0


23.10.06 18:27 Page 306 Média: Média: (2001-2005)
14,0 Média: 14,0
1,6% a.a. 2,6% a.a.
13,0 Per capita: Per capita: 2,2% a.a. 13,0
12,0 0,6% a.a. 1,1% a.a. Per capita: 12,0
0,7% a.a.
11,0 11,0
10,0 10,0
9,0 9,0
PRINCÍPIOS DE ECONOMIA
8,0 8,0
7,0 7,0
6,0 6,0
PIB per capita 15,0
5,0 Média: Média: (2001-2005) 5,0
Média: 14,0
4,0 1,6% a.a. 2,6% a.a. 4,0
Per capita: Per capita: 2,2% a.a. 13,0
3,0 3,0
0,6% a.a. 1,1% a.a. Per capita: 12,0
2,0 0,7% a.a. 2,0
11,0
1,0 1,0
10,0
0,0 0,0
9,0
1,0 1,0
8,0
2,0 Média: Média: Média: 2,0
7,0 PÓS-PLANO REAL
3,0 7,4% a.a. 6,2% a.a. 8,6% a.a. 3,0
Per capita: Per capita: Per capita: 6,0 (1994-2005)
4,0 4,0
4,2% a.a. 3,2% a.a. 6,0% a.a. 5,0 Média: 3,2% a.a.
5,0 Per capita: 1,4% a.a. 5,0
4,0
6,0 6,0
1951 1961 1971 1981 1991 3,0 2001
2,0
Fonte: IBGE.
FIGURA 19.1 Crescimento do PIB brasileiro ao longo das últimas décadas 1,0
Fonte: IBGE 0,0
De maneira geral, o esgotamento do modelo de crescimento 1,0 e industrialização brasileiro, que

Média: teve grande


Média: impulso no pós-guerra, se deu no final da década2,0
Média: de 1970, a partir da estratégia de
de6,2%
7,4% a.a. manutençãoindustrialização
a.a. para
a.a.substituição
de elevadas
8,6% taxas de de importações
crescimento da pordoparte
e PÓS-PLANO período,
REAL e a3,0
do busca pela
governo estabilidade
à época e dadaampliação
inflação em de
Per capita: Per capita: ao crescimento
Per capita: (1994-2005)
prioridade econômico nas definições patamar baixo 4,0
permeou a década, que vivenciou uma
4,2% a.a. investimentos,
3,2% a.a. principalmente
6,0% a.a. em infraestrutura, por
Média: 3,2%meio
a.a. de endividamento externo.
estratégicas (ainda que o controle da inflação, embora sucessão
Per capita: de malsucedidos
1,4% a.a. 5,0 programas de estabilização2
O peso
sempre da dívida
destacado comoexterna brasileiradenogoverno,
uma prioridade final da década de 1970
(veja o Quadro 19.1).e Ainício
6,0 perdadado década
dinamismoseguinte
do cresci-teve
1951 1961 1971 1981 1991
contornos
tivesse um dramáticos ante
caráter, em certo um ambiente
sentido, financeiro2001
secundário). externo que mudou significativamente no período,
levando Deàmaneira dageral,
criselongo o esgotamento
dívida brasileira do
domodelo de cres-
início dos anos 80.
Crescimento do PIBcimento
brasileiroe ao das últimas
industrialização décadas que teve grande
brasileiro, QUADRO 19.1 Planos e programas de estabilização
Essa crise da dívida externa brasileira
impulso no pós-guerra, se deu no final da década de e o agravamento do quadro inflacionário reverteram as
Plano ou programa Ano de
prioridades do período,
1970, a partir da estratégiae adebusca pela estabilidade
manutenção de elevadas da inflação em patamar baixo
de estabilização
permeou a década,
implementação
quetaxas
vivenciou uma sucessão
de crescimento por parte do de malsucedidos
governo à época e da programas
do período, e a busca pela estabilidade de estabilização
da inflação em
Plano Cruzado
(veja o Quadro 19.1). A
1986
perdaampliação de investimentos,
do dinamismo principalmente
do crescimento em infra-
econômico
patamar baixo permeou a nos anos
década, que80vivenciou
e as sucessivas
uma crises da época levaram
estrutura, por meio de endividamento externo. Plano Cruzado II 2 1986
boa parte dos economistassucessão a denominar esse período
de malsucedidos
O peso da dívida externa brasileira no final da déca-
programasde “década perdida”.
de estabilização
Plano Bresserdo cresci-
(veja o Quadro 19.1). A perda do dinamismo 1987
da de 1970 e início da década seguinte teve contornos dra-
Plano Verão 1989
Quadro
máticos ante um ambiente financeiro 19.1 
externo quePlanos
mudou e programas de estabilização
significativamente no período,Qlevando à crise
UADRO 19.1 da edívida
Planos Plano Collor
programas de estabilizaçãoI 1990
brasileira do início dos anos 80. Plano Collor II 1991
Essa crise da dívida externa Plano ou programa
brasileira e o agrava- Ano de
de estabilização
mento do quadro inflacionário reverteram as prioridades implementação
Fonte: Banco Central do Brasil Elaboração: FGV/EESP/Cemap
Plano Cruzado 1986
Plano Cruzado II 1986

2 Plano Bresser
Para mais detalhes sobre os planos e programas 1987
de estabilização (legislação, principais medidas etc.), consulte o Capítulo 1 do Manual de
Finanças Públicas do Banco Central do Brasil, disponível no site Web da instituição.
Plano Verão 1989
Plano Collor I 1990
Plano Collor II 1991

Fonte: Banco Central do Brasil Elaboração: FGV/EESP/Cemap

Manual de
A solução para o problema inflacionário só foi obtida com a implementação do Plano Real,
que ocorreu em fases entre 1993 e 1994 (veja o Quadro 19.2).
O sucesso do Plano Real se traduziu em uma rápida queda da inflação para o patamar de um
dígito,19a
PrinEconCap no23.10.06
período de Page
18:27 doze 307meses. Adicionalmente, o Plano também obteve êxito no processo de

desindexação da economia e, diferentemente dos planos anteriores, conseguiu manter a inflação


em patamar baixo nos anos seguintes.
Apesar do sucesso no combate à inflação, a estratégia adotada implicava alguns problemas
que futuramente teriam custos elevados. O Plano se utilizou da âncora cambial como forma de
C A P Í T U L O 1 9 A ECONOMIA BRASILEIRA EM PERSPECTIVA 307
conter a evolução dos preços dos bens comercializáveis com o exterior e, com isso, contribuir para
a convergência e consolidação da inflação em patamar baixo. Nesse contexto,
mento econômico nos anos 80 e as sucessivas crises da patamar baixo. Nesse contexto, o que se observou foi
o que se observou
foi uma
épocaapreciação da nova
levaram boa parte moeda brasileira
dos economistas a denominarfrente uma às demaisdamoedas
apreciação nova moeda do resto
brasileirado frente
mundo às nos
primeiros mesesde de
esse período sua perdida”.
“década criação. 3 Esse fenômeno, no contexto
demais moedas da abertura
do resto do mundo comercial dosmeses
nos primeiros anos 90,
acarretou pesadosdadéficits
A percepção gravidadecomerciais externosnanosdeanos
do quadro inflacionário sua criação.seguintes (veja a Figura
Esse fenômeno, no contexto19.3), e a conta-
da abertura
décadatambém
-corrente de 1980 (veja a Figura a19.2),
começou com a constatação
registrar comercial dosno
posições deficitárias anos 90, acarretou
período. Esses pesados déficits
déficits comer-finan-
foram
da necessidade de corrigir essa questão para que o país ciais externos nos anos seguintes (veja a Figura 19.3), e a
ciadosretomasse
externamente, uma vezeque
a rota do crescimento, o ambiente
a eliminação de ciclosfinanceiro
conta corrente internacional, dada aa elevada
também começou liquidez, se
registrar posições
mostrou bastante
econômicos curtosdisposto a investir
de ‘arrancada e freada’recursos em economias
(stop and go), deficitárias noemergentes.
período. Esses déficits foram financiados
fez com que a cambial
A questão prioridade edosdos
governos à época
déficits externos externamente,
fosse o permeou uma vez que
a segunda o ambiente
metade da financeiro
década inter-
de 1990,
combate à inflação.
mas os temores de mudanças na taxa de câmbio nacional, e de aceleração dada a elevada liquidez, se mostrou bastante
da inflação fizeram com que o
A solução para o problema inflacionário só foi obti- disposto a investir recursos em economias emergentes.
governo
da commantivesse
a implementaçãoo regime
do Planocambial estruturado
Real, que ocorreu em no sistema
A questão de bandas
cambial cambiais,
e dos déficits que permitiu
externos permeou a
uma lenta desvalorização
fases entre 1993 e 1994 (veja dao moeda brasileira.
Quadro 19.2). segunda metade da década de 1990, mas os temores de
O sucesso do
A realidade Plano Real se traduziu
internacional, em uma rápida
no entanto, se impôs mudanças
sobre essa na taxaestratégia,
de câmbio e umade aceleração
vez que da inflação
o ambiente
queda da inflação para o patamar de um dígito, no pe- fizeram com que o governo mantivesse o regime cambial
financeiro começou gradativamente a mudar após uma sucessão de crises
ríodo de doze meses. Adicionalmente, o Plano também estruturado no sistema de bandas cambiais, que permitiu
nos mercados emergen-
tes. Oobteve
primeiro
êxito nosinal dessa
processo mudança da
de desindexação veio no final
economia e, de uma1994, com a Crise
lenta desvalorização do México,
da moeda brasileira.e a gravidade
dessadiferentemente
questão foidossignificativamente maismanter
planos anteriores, conseguiu acentuada
a pela
A Criseinternacional,
realidade da Ásia, em 1997,seeimpôs
no entanto, pelasobre
Crise da
Rússia, em 1998.
inflação em patamar A partir dessas
baixo nos crises, o mercado
anos seguintes. essafinanceiro
estratégia, umainternacional se mostrou
vez que o ambiente cada vez
financeiro
Apesar do sucesso
menos disposto no combate
a realizar à inflação, a estratégia
investimentos em economias começouemergentes,
gradativamente aprincipalmente
mudar após uma sucessão aquelas de que
adotada implicava alguns problemas que futuramente crises nos mercados emergentes. O primeiro sinal dessa
apresentavam
teriam custosfragilidades macroeconômicas
elevados. O Plano se utilizou da âncoravisíveis.
mudança veio no final de 1994, com a Crise do México,
cambial como forma de conter a evolução dos preços dos e a gravidade dessa questão foi significativamente mais
bens comercializáveis com o exterior e, com isso, con- acentuada pela Crise da Ásia, em 1997, e pela Crise da
tribuir para
Figura a convergência
19.2  e consolidação da
Comportamento dainflação
inflação Rússia,
em no em 1998. A partir dessas crises, o mercado finan-
Brasil

Evolução do IGP-DI (var. % anual)


3.000

2.500

2.000

1.500

1.000

500

0
1961

1965

1993

1997
1945

1949

1953

1957

1969

1973

1977

1981

1985

1989

2001

2005

Fonte: FGV.
FIGURA 19.2 Elaboração:
Comportamento FGV/EESP/Cemap.
da inflação no Brasil
Fonte: FGV Elaboração: FGV/EESP/Cemap
No caso brasileiro, os elevados déficits externos eram acompanhados por grandes déficits do setor
público,
3
que impactavam diretamente a evolução da dívida pública e a percepção de risco dos investidores.
Outro reflexo do processo inflacionário e dos planos de estabilização malsucedidos no período pode ser observado pelo número de alterações
na unidade monetária do país. Desde o Período Colonial até 1984, o Brasil teve seis unidades monetárias distintas (contabilizando nesse total
algumas alterações, como eliminações de centavos). Esse é o mesmo número de unidades distintas entre 1984 e 1994 (ou seja, em pouco mais
de dez anos). Veja a tabela constante do Apêndice 19.A para mais detalhes.
88820-978-85-8143-632-6_MIOLO.pdf, page 136 @ Preflight Server ( Economia Setor Público_G_Final2.indd ) - 07:07:04 - January 10, 2014 - PG-132

122  E C O N O M I A d O S E T O R P ú b l ico

Apesar das iniciativas de ajuste fiscal no final de 1998, no início do ano seguinte, em meio à
fuga de capitais do país, o governo mudou o regime cambial, permitindo que a taxa de câmbio
passasse a flutuar. No primeiro semestre de 1999, o governo trabalhou para preservar a inflação em
patamar baixo, por meio de uma política monetária fortemente contracionista (elevadas taxas de
juros). Em meados do mesmo ano, o governo brasileiro implementou o regime de metas para infla-
ção, e a política monetária praticada pelo Banco Central do Brasil (BC) passou a ter como objetivo
explícito a manutenção da inflação em patamar próximo às metas fixadas anualmente pelo Conselho
Monetário
PrinEconCap Nacional
19a 23.10.06 (CMN).
18:27 A taxa de câmbio passou a ser flutuante, embora o BC continue realizando
Page 308
intervenções no mercado de câmbio, comprando e vendendo dólares, quando julga necessário.

Quadro 19.2  Fases do Plano Real


308 PRINCÍPIOS DE ECONOMIA
Fase Implementação Principais providências
QUADRO 19.2
1a fase: Fases
Ajuste fiscaldo Plano Real
mínimo 1993/1994 Programa de Ação Imediata (PAI): criação do IPMF, revisão
orçamentária, ampliação do Programa Nacional de
Fase Implementação Principais providências
Desestatização (PND).
Criação do Fundo Social de Emergência (FSE): desvinculação
1a fase: Ajuste fiscal mínimo 1993/1994 • Programa de Ação Imediata (PAI): criação do IPMF, revisão
das receitas da União no biênio 1994/1995.
orçamentária, ampliação do Programa Nacional de
2a fase: Unidade Real de Valor (URV) 1994 Criada para servir(PND).
Desestatização como padrão de valor monetário,
• integrou,
Criação do emFundo
caráterSocial
temporário, com o cruzeiro
de Emergência real, o
(FSE): desvinculação
Sistema Monetário
das receitas Nacional.
da União Baseada
no biênio em estimativas de
1994/1995.
três índices de preços, seu uso permitiu maior sincronia
2a fase: Unidade Real de Valor (URV) 1994 •entre
Criadaos para servir
diversos como
preços dapadrão
economiade valor monetário,
brasileira, facilitando
aintegrou,
transição em paracaráter
a novatemporário,
moeda. com o cruzeiro real, o
Sistema Monetário Nacional. Baseada em estimativas de
3a fase: Implementação da nova moeda 1994 Atrês
última fasede
índices de preços,
implementação do Plano maior
seu uso permitiu Real foisincronia
iniciada
e medidas adicionais de desindexação m 1o de
eentre os julho de 1994,
diversos preçoscom
da aeconomia
conversão, ao par, para
brasileira, reais,
facilitando
dos preços e contratos expressos em URV. Os preços e
a transição para a nova moeda.
contratos remanescentes em cruzeiros reais foram convertidos,
3a fase: Implementação da nova moeda 1994 •respeitadas
A última fase de implementação
as orientações dode
específicas Plano
cadaReal foi iniciada
contrato,
e medidas adicionais de desindexação àem
taxa1odedeCR$ 2.750,00
julho de 1994,porcom
R$ 1,00 (um real).ao par, para reais,
a conversão,
Medidas
dos preçosadicionais de desindexação
e contratos expressos emda URV.
economia.
Os preços e
contratos remanescentes em cruzeiros reais foram convertidos,
Fonte: Banco Central do Brasil Elaboração: FGV/EESP/Cemap respeitadas as orientações específicas de cada contrato,
à taxa de CR$ 2.750,00 por R$ 1,00 (um real).
• Medidas adicionais de desindexação da economia.

Figura 19.3  Resultado comercial


Fonte: Banco Central do Brasil
brasileiro
Elaboração: FGV/EESP/Cemap

Saldo comercial brasileiro (US$ bilhões)


50

40

30

20

10

–10
1985

1991
1981

1983

1987

1989

1993

1995

1997

1999

2001

2003

2005

Fonte: Banco
FIGURA 19.3 Central
Resultado do Brasil.
comercial Elaboração: FGV/EESP/Cemap.
brasileiro
Fonte: Banco Central do Brasil Elaboração: FGV/EESP/Cemap
Essas mudanças e o reforço dado pelo ajuste fiscal a partir de 1999 não impediram que a
economia brasileira ainda enfrentasse crises no começo do século XXI: em 2001, o Brasil passou por
ceiro internacional se mostrou cada vez menos disposto a de 1999, o governo trabalhou para preservar a inflação em
um racionamento de energia elétrica e sofreu os efeitos da crise da Argentina; em 2002, o país
realizar investimentos em economias emergentes, princi- patamar baixo, por meio de uma política monetária forte-
enfrentou uma parada
palmente aquelas súbita defragilidades
que apresentavam financiamento
macroe-externo
mente em meio às (elevadas
contracionista incertezas dadetransição
taxas juros). Em política.
meados
Nos últimosvisíveis.
conômicas anos, o ambiente externo tem se mostrado muito
do mesmo ano,favorável, sendo implementou
o governo brasileiro marcado por eleva-
o regime
das taxas
No casodebrasileiro,
crescimento do produto
os elevados déficits mundial e por de
externos eram ummetas
ambiente financeiro
para inflação, internacional
e a política monetáriadepraticada
elevada
acompanhados por grandes déficits do setor público, que pelo Banco Central do Brasil (BC) passou a ter como obje-
impactavam diretamente a evolução da dívida pública e a tivo explícito a manutenção da inflação em patamar próxi-
percepção de risco dos investidores. mo às metas fixadas anualmente pelo Conselho Monetário
Apesar das iniciativas de ajuste fiscal no final de 1998, Nacional (CMN). A taxa de câmbio passou a ser flutuante,
no início do ano seguinte, em meio à fuga de capitais do embora o BC continue realizando intervenções no merca-
país, o governo mudou o regime cambial, permitindo que do de câmbio, comprando e vendendo dólares, quando
Mesmo com o sucesso no combate à inflação por mais de uma década, o país ainda tem regis-
trado baixo crescimento do PIB, situando-se em uma média muito inferior à registrada nas décadas
anteriores. Com isso, a taxa de desemprego brasileira ainda se mantém em patamar significativamente
elevado (veja a Figura 19.4).
PrinEconCap 19a 23.10.06 18:27 Page 309
O desafio de um crescimento econômico vigoroso em bases sustentáveis e do desenvolvimento
ainda é uma questão que se impõe à sociedade e ao governo no contexto do desenho de um país
com elevados níveis de pobreza e desemprego.

CAPÍTULO 19 A ECONOMIA BRASILEIRA EM PERSPECTIVA 309


Temas atuais de política econômica
Essas mudanças e o reforço dado pelo ajuste fiscal a 19.2.1 POLÍTICA MONETÁRIA
Como forma
partir de deimpediram
1999 não situar o que
leitor no debate
a economia das principais questões da política econômica do país,
brasileira Dentre os principais temas de discussão em política
esta seção
ainda traz à tona
enfrentasse osno
crises elementos fundamentais
começo do século para essaa condução
XXI: em econômica, discussão.da política monetária no Brasil
2001, o Brasil passou por um racionamento de energia tem sido o centro das atenções nos últimos anos, e sua
elétrica e sofreu os efeitos da crise da Argentina; em compreensão mostra-se fundamental para o entendimen-
Política monetária
2002, o país enfrentou uma parada súbita de financia- to da realidade nacional.
mento externo em meio às incertezas da transição políti- A política monetária brasileira é conduzida pelo Ban-
Dentre
ca. Nosos principais
últimos temas externo
anos, o ambiente de discussão em política
tem se mostra- econômica,
co Central do Brasil (BC),aque,
condução da política
conforme destacado ante- mone-
do muito favorável, sendo marcado por elevadas taxas de riormente, opera no regime de metas para inflação desde
tária no Brasil tem sido o centro das atenções nos últimos anos, e sua compreensão
crescimento do produto mundial e por um ambiente meados de 1999. Nessa sistemática, o BC orienta suas
mostra-se
fundamental
financeiropara o entendimento
internacional da realidade
de elevada liquidez. Contribuiu nacional.
decisões de política monetária com foco no cumprimen-
A para esse quadro,
política também,brasileira
monetária a presença deé elevados
conduzidasupe- pelo
to daBanco Centralestabelecida
meta de inflação, do Brasilem(BC), que, pelo
bases anuais conforme
rávits comerciais brasileiros nos últimos anos, o que tor- Conselho Monetário Nacional (CMN).
destacado anteriormente, opera no
nou positivo o saldo em transações correntes. regime de metas para inflação desde meados de 1999. Nessa
Operacionalmente, o BC é soberano em suas decisões,
sistemática, o BC
Mesmo comorienta suas
o sucesso decisões
no combate de política
à inflação por mas monetária com foco de
não possui independência noobjetivos
cumprimento
(é o CMN queda meta
mais deestabelecida
de inflação, uma década, o país emainda
basestemanuais
registradopelo
baixoConselho Monetário
define a meta Nacional
a ser perseguida (CMN).
pelo BC), e seus membros
crescimento do PIB, situando-se em uma média muito não possuem independência de mandato, sendo passíveis
Operacionalmente,
inferior à registrada nas décadas anteriores. Com isso, a de demissão a qualquer momento por decisão do governo. de ob-
o BC é soberano em suas decisões, mas não possui independência
jetivos taxa
(é odeCMN que define
desemprego brasileira aainda
meta a ser perseguida
se mantém pelo BC),
em pata- A temática e seus membros
da independência do BC tem não possuem inde-
sido sistematica-
mar significativamente elevado (veja a Figura 19.4).
pendência de mandato, sendo passíveis de demissão a qualquer
mente momento
trazida à baila nos últimos por
anos,decisão donão
embora ainda governo.
O desafio de um crescimento econômico vigoroso esteja claro qual o desenho ideal para a instituição.
A temática
em basesdasustentáveis
independência do BC tem
e do desenvolvimento aindasido
é umasistematicamente trazida à baila nos últimos anos,
Do ponto de vista operacional, embora tenha os ins-
emboraquestão
aindaquenão esteja
se impõe claro qual
à sociedade o desenho
e ao governo no con-ideal para aclássicos
trumentos instituição.
de política monetária a seu dispor
texto do desenho de um país com elevados níveis de (taxa de juros, depósitos compulsórios e taxa das opera-
Dopobreza
ponto de vista operacional, embora tenha os instrumentos clássicos de política monetária
e desemprego. ções de redesconto), o BC tem optado por realizar suas
a seu dispor (taxa de juros, depósitos compulsóriosmanobras
e taxa mediante
das operações de redesconto),
decisões relacionadas o BC tem
à taxa de juros
optado19.2
por realizar suas manobras mediante
TEMAS ATUAIS DE POLÍTICA ECONÔMICA decisões
de relacionadas
curto prazo, mais à taxa
conhecida de
comojuros
taxa de
básicacurto
de ju- prazo,
mais conhecida como taxa básica de juros ou taxa ros Selic.
ou taxa Selic.
Como forma de situar o leitor no debate das principais Periodicamente, o Comitê de Política Monetária (Co-
questões da política econômica do país, esta seção traz à pom) do Banco Central, composto atualmente pelos mem-
tona os elementos fundamentais para essa discussão. bros da diretoria da instituição mais o presidente do BC,
Figura 19.4  Evolução recente do desemprego brasileiro

Taxa de desemprego brasileira (%)


14

12

10

8
(%)

0
out./01

fev./02

jun./02

out./02

fev./03

jun./03

out./03

fev./04

jun./04

out./04

fev./05

jun./05

out./05

fev./06

jun./06

Fonte: IBGE Elaboração: FGV/EESP/Cemap.


FIGURA 19.4 Evolução recente do desemprego brasileiro
Fonte: IBGE Elaboração: FGV/EESP/Cemap
Periodicamente, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, composto atualmente
pelos membros da diretoria da instituição mais o presidente do BC, reúne-se para avaliar as condições
88820-978-85-8143-632-6_MIOLO.pdf, page 136 @ Preflight Server ( Economia Setor Público_G_Final2.indd ) - 07:07:04 - January 10, 2014 - PG-134

124  E C O N O M I A d O S E T O R P ú b l ico

e os cenários (crescimento, expectativas etc.) da economia brasileira. Ao término da reunião, o Comitê


divulga a meta da taxa básica de juros (Selic), que vigorará até a próxima reunião. A partir daí, o BC
orienta suas operações em mercado aberto de forma a calibrar a taxa Selic do mercado em torno da
meta estabelecida pelo Copom. A operacionalidade desse processo supõe que, a partir das variações
dessa taxa, as demais taxas de juros do sistema acompanharão seus movimentos. Com isso, espera-
-se que os movimentos da taxa básica de juros se transponham, em alguma medida, para as taxas
de juros na ponta dos empréstimos e, dessa forma, sobre os componentes de demanda.
PrinEconCap 19a 23.10.06 18:27 Page 310
Os principais elementos do ambiente econômico doméstico e internacional que condicionam
as decisões do Copom são divulgados, em geral, uma semana após a reunião do Comitê, na ata da
reunião no site Web do BC. Esse site constitui um importante canal para o acompanhamento da
política monetária no país. Outra fonte importante é o Relatório Trimestral de Inflação, que é um
documento
310 mais robusto em termos de avaliação do quadro econômico brasileiro, bem como de
PRINCÍPIOS DE ECONOMIA
suas perspectivas, e é divulgado em bases trimestrais no site do BC.
Uma das
reúne-se para grandes
avaliar as questões
condições eacerca da política
os cenários (cresci- monetária
mento do Plano brasileira nos
Real e, últimos
mesmo comanos diz respeito
a mudança do
aosmento,
elevados níveis etc.)
expectativas da taxa de juros.
da economia De fato,
brasileira. a taxaregime
Ao tér- básica de juros
cambial (Selic)ostem
em 1999, níveissedasituado em pata-
Selic permane-
marmino da reunião,
elevado desde o Comitê divulga a meta
o lançamento do daPlano Real e, ceram
taxa básica mesmo altoscom
(veja aa Figura
mudança 19.5),do
tornando
regime a taxa de jurosem
cambial
de juros (Selic), que vigorará até a próxima reunião.4 A brasileira uma das mais elevadas do mundo.
1999, os níveis da Selic permaneceram altos (veja a Figura 19.5), tornando a taxa de juros brasileira
partir daí, o BC orienta suas operações em mercado aber- Diferentes fatores condicionaram esse comportamen-
uma to das maisa elevadas
de forma calibrar a taxa do Selic
mundo. do mercado em torno to ao longo do tempo (crises internacionais, incertezas
daDiferentes fatorespelo
meta estabelecida condicionaram esse comportamento
Copom. A operacionalidade ao longo
políticas etc.), mas o do fatotempo
é que o(crises internacionais,
principal deles passa
incertezas políticas
desse processo supõeetc.),
que, mas o fato
a partir é que odessa
das variações principal
pela deles passadepela
consolidação consolidação
um ajuste de um
fiscal orientado ajuste
para a
taxa,
fiscal as demais taxas
orientado para de juros do sistema
a contenção de acompanharão
gastos públicos contenção de gastosda
e a redução públicos
dívidae pública.
a redução da Taldívida
ajustepúbli-
redu-
ziriaseus movimentos. Com isso, espera-se que os movimen- ca. Tal ajuste reduziria o componente de risco da dívida
o componente de risco da dívida pública associada à taxa de juros e a necessidade de o governo
tos da taxa básica de juros se transponham, em alguma pública associada à taxa de juros e a necessidade de o
acessar
medida,o mercado
para as taxasfinanceiro para dos
de juros na ponta financiar sua dívida
empréstimos governopública.
acessar o mercado financeiro para financiar sua
e, Outro aspecto
dessa forma, sobre que merece destaque
os componentes de demanda.nesta discussão diz respeito às elevadas taxas de juros
dívida pública.
cobradas Os nas operações
principais elementos de doempréstimo pelas instituições
ambiente econômico Outrofinanceiras no Brasil.
aspecto que merece O spread
destaque bancário,
nesta discussão
doméstico
medido pelae diferença
internacionalentre que condicionam
a taxa comasque decisões diz respeitoemprestam
as instituições às elevadas taxas de juros
e seu custo cobradas nas ope- de
de captação
do Copom são divulgados, em geral, uma semana após a rações de empréstimo pelas instituições financeiras no
recursos, é extremamente elevado (veja a Figura 19.6). Tal fenômeno inviabiliza várias operações de
reunião do Comitê, na ata da reunião no site Web do BC. Brasil. O spread bancário, medido pela diferença entre a
financiamento e investimento
Esse site constitui um importante no país.
canal para o acompa- taxa com que as instituições emprestam e seu custo de
Essa questão
nhamento rebate
da política diretamente
monetária no país.na problemática
Outra fonte captaçãoatual de
darecursos,
economia brasileira: as
é extremamente elevadas
elevado (vejataxas
a
de juros praticadas
importante no país
é o Relatório representam
Trimestral um
de Inflação, queforte
é um limitador à expansão
Figura 19.6). Tal fenômenodos inviabiliza
investimentos produtivos.
várias operações
Pordocumento
sua vez, osmais robusto
baixos níveisemde termos de avaliaçãonodoBrasil
investimentos de limitam
financiamento e investimento no
as possibilidades depaís.
expansão da oferta
quadro econômico brasileiro, bem como de suas perspec- Essa questão rebate diretamente na problemática
agregada. Tal fenômeno impõe limites à expansão da demanda e ao crescimento econômico sem a
tivas, e é divulgado em bases trimestrais no site do BC. atual da economia brasileira: as elevadas taxas de juros
geração Umadedas
pressões
grandesinflacionárias
questões acerca significativas.
da política mone- Maispraticadas
uma vez, noopaís
consenso parece
representam umapontar na direção
forte limitador à
de umtária reforço
brasileira no
nos ajuste fiscaldizdo
últimos anos país, aos
respeito centrado
elevadosdo expansão
lado dodos corte nos gastos
investimentos públicos.
produtivos. PorTalsuafato daria
vez, os
maior espaço
níveis da taxapara o crescimento
de juros. De fato, a taxa da básica
demanda do setor
de juros baixosprivado,
níveis deem particularnodos
investimentos investimentos
Brasil limitam as pos-pro-
dutivos,
(Selic)otem
quese permitiria que o país
situado em patamar atingisse
elevado desde o maiores taxas de de
lança- sibilidades crescimento do produto
expansão da oferta agregada.noTallongo prazo.
fenômeno

Figura 19.5  Taxa de juros Selic acumulada no mês e anualizada (% a.a.)


Taxa de juros Selic acumulada no mês e anualizada (% a.a.)
90

80

70

60
50
(% a.a.)

40

30

20

10
0
jan./95

jan./96

jan./97

jan./98

jan./99

jan./00

jan./01

jan./02

jan./03

jan./04

jan./05

jan./06

FIGURA 19.5 Taxa de juros no Brasil Taxa de juros no Brasil.


Fonte: Banco Central do Brasil Elaboração: FGV/EESP/Cemap
Fonte: Banco Central do Brasil. Elaboração: FGV/EESP/Cemap.

4 Isso só foi alterado quando o Copom resolveu estabelecer um viés na decisão, o que facultou ao presidente do BC a possibilidade de alterar a
taxa na direção apontada pelo viés antes da realização de uma nova reunião.
88820-978-85-8143-632-6_MIOLO.pdf, page 136 @ Preflight Server ( Economia Setor Público_G_Final2.indd ) - 07:07:04 - January 10, 2014 - PG-135

T r a n s f o r m a ç õ e s r e c e n t e s d a e c o n o m i a b r a s i l e i r a   125

Política cambial
Desde o lançamento do Plano Real, a política cambial brasileira pode ser dividida em dois
momentos: 1) o regime de bandas cambiais e 2) o regime de taxa de câmbio flutuante com inter-
venções por parte do Banco Central do Brasil nos mercados de câmbio e futuro.
PrinEconCap 19aO23.10.06
primeiro momento
18:27 Page 311 perdurou entre o início de 1995 e janeiro de 1999. Esse sistema era carac-

terizado por bandas cambiais estabelecidas pelo Banco Central, dentro das quais a cotação da moeda
norte-americana deveria flutuar. Na prática, o BC definia uma banda larga de flutuação da taxa de
câmbio, mas operacionalmente definia minibandas cambiais em limites de flutuação estreitos e inter-
vinha no mercado de câmbio, comprando e vendendo dólares, de forma a sustentar essas minibandas.
CAPÍTULO 19 A ECONOMIA BRASILEIRA EM PERSPECTIVA 311
Figura 19.6  Operações de crédito do sistema financeiro com recursos livres – Taxas de
juros (% a.a.)
Operações de crédito do sistema financeiro com recursos livres – Taxas de juros (% a.a.)

100
90
80
70
60
(% a.a.)

50
40
30
20
10
0
jan./01

maio/01

set./01

jan./02

maio/02

set./02

jan./03

maio/03
set./03

jan./04

maio/04

set./04

jan./05

maio/05

set./05

jan./06

maio/06
Taxa média mensal – Pessoa física Taxa média mensal – Pessoa jurídica

Taxas de juros das operações de crédito no Brasil.


FIGURA 19.6 Taxas de juros das operações de crédito no Brasil
Fonte: Banco Central do Brasil
Elaboração: FGV/EESP/Cemap
Fonte: Banco Central do Brasil. Elaboração: FGV/EESP/Cemap.

impõeO que
limitesseàobservou,
expansão dade fato, nesse
demanda período foivalorização
e ao crescimento um regime dedabandas
lenta cambiaisfrente
moeda brasileira queàdeslizavam
moeda es-
lentamente
econômico sem ao alongo
geraçãododetempo,
pressões com controle
inflacionárias sig-do BC, vendendo
trangeira e comprando
no período moeda estrangeira
(veja a Figura 19.7).
nonificativas.
mercadoMais uma vez,
cambial, e oa consenso parece apontar
desvalorização lentanada moeda A adoção dessa estratégia
brasileira frente àfoi justificada
moeda à época co-no
estrangeira
direção de
período um areforço
(veja ajuste fiscal do país, centrado mo uma forma de reforçar a queda da inflação (utilizando-
Figurano19.7).
do lado do corte nos gastos públicos. Tal fato daria maior se de uma âncora cambial), complementar o processo de
A adoção
espaço dessa estratégia
para o crescimento foi justificada
da demanda à época
do setor privado, como uma
desindexação de forma
preços ede reforçar
salários a queda
da economia da infla-
brasileira e
çãoem(utilizando-se de uma âncora
particular dos investimentos cambial),
produtivos, complementar
o que permi- eliminar deo processo de desindexação
vez a ‘memória de preços
inflacionária’ dos agentes e
salários
tiria queda economia
o país atingissebrasileira
maiores taxase eliminar de vezdoa ‘memória
de crescimento econômicos. inflacionária’ dos agentes econômicos.
produto no longo prazo.
A lógica desse processo reside no fato de que, emA economias lógica desse processo reside no fato de que, em
abertas ao comércio internacio-
economias abertas ao comércio internacional (como era o
nal (como era o caso do Brasil à época), a taxa de câmbio caso do Brasil à época), a taxa referência
é uma importante de câmbio é aoumacompor-
19.2.2 POLÍTICA CAMBIAL impor-
tamento dos preços dos produtos comercializáveis com o aoexterior.
tante referência Nessedossentido,
comportamento preços dosaprodu-
lenta
Desde o lançamento do Plano Real, a política cam-
desvalorização da moeda brasileira no período feztoscom
bial brasileira pode ser dividida em dois momentos: 1) o
que os preços
comercializáveis com desses produtos
o exterior. subissem
Nesse sentido, a
vagarosamente, o que contribuiu para manter a lenta desvalorização
inflação brasileira da moeda
em patamar brasileira
baixo nonoperíodo
período.fez
regime de bandas cambiais e 2) o regime de taxa de câm-
com que os preços desses produtos subissem vagarosa-
bio A principal
flutuante com problemática
intervenções por dessa
parte doestratégia
Banco Cen-decorreu do fato de que, nos primeiros meses do
mente, o que contribuiu para manter a inflação brasileira
tral do Brasil nos mercados de câmbio e futuro.
Plano Real, observou-se uma forte apreciação da moeda brasileira
em patamar baixo no (veja a Figura 19.8). Se de um
período.
O primeiro momento perdurou entre o início de
lado esse fenômeno contribuiu para acelerar a convergência A principaldaproblemática
inflação para dessaum patamar
estratégia baixo,
decorreu
1995 e janeiro de 1999. Esse sistema era caracterizado
deporoutro afetou duramente a competitividade
bandas cambiais estabelecidas pelo Banco Central, brasileira.
do fato de que, nos primeiros meses do Plano Real, obser-
vou-se uma forte apreciação da moeda brasileira (veja a
O reflexo
dentro das quaispalpável
a cotaçãodadamoeda
moeda brasileira valorizada
norte-americana pode ser observado pelos déficits comerciais
Figura 19.8). Se de um lado esse fenômeno contribuiu
deveria flutuar.
brasileiros Na prática,
registrados nesse o BC definia
período umaa banda
(veja Figura 19.3), quando se verificoudauma desaceleração
para acelerar a convergência inflação para um pata-do
larga de
ritmo de flutuação
crescimento da taxa
dasdeexportações
câmbio, mas operacional-
e uma aceleração nas importações. No processo, o resultado
mar baixo, de outro afetou duramente a competitividade
mente definia minibandas cambiais em limites de flu-
em conta-corrente brasileiro saltou de
tuação estreitos e intervinha no mercado de câmbio,
um déficit de 1,8 bilhão
brasileira. de dólares em 1994 para 18,3 bilhões
decomprando
dólares em 1995. O dólares,
pico dode déficit O reflexo palpável
nessedaperíodo
moeda brasileira
ocorreuvalorizada
e vendendo formaem conta-corrente
a sustentar brasileiro em 1998,
quando atingiu o patamar de 33,4 bilhões de dólares. pode ser observado pelos déficits comerciais brasileiros
essas minibandas.
registrados nesse período (veja a Figura 19.3), quando se
O que se observou, de fato, nesse período foi um
verificou uma desaceleração do ritmo de crescimento das
regime de bandas cambiais que deslizavam lentamente ao
exportações e uma aceleração nas importações. No pro-
longo do tempo, com controle do BC, vendendo e com-
cesso, o resultado em conta corrente brasileiro saltou de
prando moeda estrangeira no mercado cambial, e a des-
um déficit de 1,8 bilhão de dólares em 1994 para 18,3 bi-
88820-978-85-8143-632-6_MIOLO.pdf, page 136 @ Preflight Server ( Economia Setor Público_G_Final2.indd ) - 07:07:04 - January 10, 2014 - PG-136

126  E C O N O M I A d O S E T O R P ú b l ico

É claro que déficits dessa magnitude tinham de ser financiados externamente e, nesse período,
o país se beneficiou de um mercado financeiro internacional com ampla liquidez e disposto a alocar
recursos em economias emergentes.
Esse ambiente começou a mudar de maneira drástica após a Crise da Ásia em 1997, quando
vários países do sudeste asiático foram forçados a mudar seus regimes cambiais ante os ataques
especulativos e a fuga de dólares da região. Um novo abalo ocorreu em 1998 com a Crise da Rús-
sia, e a confiança nas aplicações em economias emergentes com déficits externos elevados caiu
drasticamente.
Nos últimos meses de 1998, o Brasil vivenciou uma séria crise cambial, com retiradas maciças
de dólares do país por parte dos investidores. Para defender a taxa de câmbio brasileira e o regime de
bandas cambiais, o BC se viu forçado a vender elevados montantes de dólares no mercado de câmbio,
o que implicou a diminuição acelerada nas reservas internacionais do país (veja a Figura 19.9). Em
janeiro de 1999, com a constatação da gravidade da crise, o governo optou pela mudança do regime
cambial para a livre flutuação, e o BC parou de vender dólares no mercado (preservando assim algum
nível de reservas internacionais em dólares no Brasil).
Desde então, o regime cambial brasileiro tem sido de taxa de câmbio flutuante. Nessa concepção,
a taxa de câmbio é formada pelas forças de oferta e demanda de dólares no mercado de câmbio.
Embora esse seja o princípio do regime, na prática o BC brasileiro, como já dissemos anteriormente,
tem realizado várias intervenções diretas no mercado de câmbio brasileiro, comprando e vendendo dóla-
res em diferentes momentos, caracterizando o regime brasileiro de flutuação ‘suja’ da taxa de câmbio.
Indiretamente, ao longo dos últimos anos, o BC e o governo também tentaram afetar a taxa de câmbio
vendendo títulos da dívida pública indexados em dólares e utilizando-se de instrumentos derivativos.
Como se pode observar na Figura 19.8, após a mudança do regime cambial, a taxa de câmbio
real registrou uma rápida depreciação, situando-se em patamar superior ao verificado no período
1995-1998. Com isso, o saldo comercial deixou gradativamente de registrar déficits e passou, em
pouco tempo, a registrar superávits, proporcionando alívio nas contas externas brasileiras.
É fácil também verificar, nas figuras 19.7 e 19.8, que o período caracterizado pelo regime de câm-
bio flutuante foi marcado por fortes oscilações da taxa de câmbio brasileira. Grande parte disso se deveu,
PrinEconCap 19a 23.10.06 18:27 Page 312
ainda, às incertezas dos investidores internacionais sobre a economia brasileira nos anos que se seguiram
à mudança do regime cambial. Em 2001, os maiores impactos vieram do lado dos efeitos da crise da
Argentina naquele ano (que foi forçada a abandonar o regime de taxa de câmbio fixa — 1 peso = 1
dólar — e de livre conversibilidade da moeda) e do racionamento de energia elétrica no Brasil.

312 PRINCÍPIOS DE ECONOMIA

Figura 19.7  Taxa de câmbio brasileira (R$/US$)


Taxa de câmbio brasileira (R$/US$)

4,0

3,5 Regime de
bandas cambiais
3,0

2,5

2,0

1,5

1,0

0,5 Regime de taxa de câmbio flutuante

0,0
jul./94

jul./95

jul./96

jul./97

jul./98

jul./99

jul./00

jul./01

jul./02

jul./03

jul./04

jul./05

jul./06

Regimes
FIGURA 19.7 Regimes cambiais cambiais
e taxa de câmbioebrasileira
taxa dedurante
câmbio brasileira durante o Real.
o Real
Fonte: Banco Central do Brasil Elaboração: FGV/EESP/Cemap
Fonte: Banco Central do Brasil. Elaboração: FGV/EESP/Cemap.

lhões de dólares em 1995. O pico do déficit em conta cor- de câmbio é formada pelas forças de oferta e demanda
rente brasileiro nesse período ocorreu em 1998, quando de dólares no mercado de câmbio.
atingiu o patamar de 33,4 bilhões de dólares. Embora esse seja o princípio do regime, na prática o
É claro que déficits dessa magnitude tinham de ser BC brasileiro, como já dissemos anteriormente, tem rea-
financiados externamente e, nesse período, o país se lizado várias intervenções diretas no mercado de câmbio
beneficiou de um mercado financeiro internacional com brasileiro, comprando e vendendo dólares em diferentes
ampla liquidez e disposto a alocar recursos em econo- momentos, caracterizando o regime brasileiro de flutua-
88820-978-85-8143-632-6_MIOLO.pdf, page 136 @ Preflight Server ( Economia Setor Público_G_Final2.indd ) - 07:07:04 - January 10, 2014 - PG-137

T r a n s f o r m a ç õ e s r e c e n t e s d a e c o n o m i a b r a s i l e i r a   127

Em 2002, o processo de transição política embutia uma série de dúvidas quanto à manutenção
da política econômica nos moldes que vinham sendo seguidos. As saídas de dólares do país e o
estrangulamento do financiamento externo de várias operações levou a cotação da moeda norte-
-americana a patamares cada vez mais elevados, chegando próximo a 4 reais em alguns momentos
no segundo semestre de 2002.
Ao longo desse período, o BC realizou várias intervenções no mercado de câmbio brasileiro,
vendendo dólares para tentar evitar depreciações excessivas da moeda brasileira frente às demais
moedas. Essas intervenções estavam alinhadas com as preocupações dos efeitos da depreciação
cambial sobre os preços dos produtos comercializáveis no exterior e, por consequência, com a inflação.
Esse movimento, no entanto, não foi neutro do ponto de vista das contas externas brasileiras.
Com a moeda nacional extremamente depreciada, os produtores nacionais tiveram fortes estímulos
para acessar o mercado internacional, e as exportações aceleraram fortemente no período. Com
isso, o saldo comercial brasileiro registrou grandes saltos ao longo dos últimos anos, chegando a
superar a marca dos 40 bilhões de dólares.
A partir de 2003, eliminadas as incertezas com relação à condução da política econômica
brasileira, verificou-se a normalização dos fluxos de recursos estrangeiros ao país. Esse efeito, con-
jugado aos elevados saldos comerciais brasileiros, aumentou significativamente a oferta de dólares
PrinEconCap 19a 23.10.06 18:27 Page 313
no mercado de câmbio brasileiro, o que levou à apreciação da moeda brasileira frente ao dólar nos
últimos anos.

Figura 19.8  Regimes cambiais e taxa de câmbio efetiva real brasileira5


CAPÍTULO 19 A ECONOMIA BRASILEIRA EM PERSPECTIVA 313

Taxa de câmbio efetiva real brasileira (jun. 94100)

200
180 Regime de
160 bandas cambiais

140
120
100
80
60
40
Regime de taxa de câmbio flutuante
20
0
jun./94

jun./95

jun./96

jun./97

jun./98

jun./99

jun./00

jun./01

jun./02

jun./03

jun./04

jun./05

jun./06

Fonte: Banco
FIGURA 19.8 Central
Regimes doeBrasil.
cambiais taxa de Elaboração: FGV/EESP/Cemap.
câmbio efetiva real brasileira5
Fonte: Banco Central do Brasil Elaboração: FGV/EESP/Cemap
O comportamento da taxa de câmbio brasileira no regime de câmbio flutuante tem sido um
tema de amplo debate nos últimos anos. Esse debate remonta a questões ligadas à excessiva vola-
tilidade Emda moeda
2002, brasileira
o processo e seus política
de transição impactos sobre nais
embutia a economia doméstica.
tiveram fortes estímulosNesse sentido,
para acessar em mo-
o mercado
uma série
mentos dedecontração
dúvidas quanto à manutenção
de liquidez internacional internacional,
da política (redução e as exportações
de fluxo de dólares aceleraram
para ofortemente
país) ou no de
econômica nos moldes que vinham sendo seguidos. As período. Com isso, o saldo comercial brasileiro registrou
incerteza, como os observados em 2001 e 2002, a taxa de câmbio se deprecia de forma acentuada,
saídas de dólares do país e o estrangulamento do finan- grandes saltos ao longo dos últimos anos, chegando a
afetando os preços
ciamento externo e a operações
de várias inflação levou
doméstica.
a cotaçãoEsse
da fenômeno
superar a marcatemdosforçado
40 bilhõeso de
BCdólares.
a responder com
política monetária restritiva
moeda norte-americana (elevação
a patamares cada vezda taxa
mais de juros),A com
eleva- partirconsequente desaceleração
de 2003, eliminadas as incertezas docom
cresci-
re-
mento econômico
dos, chegando próximoe aumento
a 4 reais emda dívida
alguns pública.
momentos no Segundo essa linha
lação à condução de argumentação,
da política economias
econômica brasileira, verifi-
emergentes, como
segundo semestre é o caso do Brasil, estariam mais
de 2002. sujeitas
cou-se aos humores
a normalização do mercado
dos fluxos de recursosfinanceiro
estran-
Ao longo desse
internacional, dadaperíodo, o BC realizou
sua pequena dimensão relativageiros
várias inter- ao país.internacionais.
aos fluxos Esse efeito, conjugado aos elevados saldos
venções no mercado de câmbio brasileiro, vendendo comerciais brasileiros, aumentou significativamente a
Outra
dólares paraquestão está ligada
tentar evitar diretamente
depreciações excessivasaosda efeitos dessa
oferta de volatilidade
dólares no mercadosobre o setor
de câmbio produtivo
brasileiro, o que
nacional. Os produtores
moeda brasileira nacionais
frente às demais se orientaram
moedas. Essas inter- com levoumaior intensidade
à apreciação da moedapara o mercado
brasileira frente externo,
ao dólar
venções estavam alinhadas com as preocupações dos nos últimos anos.
efeitos da depreciação cambial sobre os preços dos pro- O comportamento da taxa de câmbio brasileira no
dutos comercializáveis no exterior e, por conseqüência, regime de câmbio flutuante tem sido um tema de amplo
com a inflação. debate nos últimos anos. Esse debate remonta a questões
Esse movimento, no entanto, não foi neutro do ponto ligadas à excessiva volatilidade da moeda brasileira e
de vista das contas externas brasileiras. Com a moeda seus impactos sobre a economia doméstica. Nesse senti-
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128  E C O N O M I A d O S E T O R P ú b l ico

exportando mais a partir da depreciação cambial observada no período entre 2001 e 2002. Desde
então, a taxa de câmbio real tem se apreciado, afetando a competitividade de vários setores que
haviam iniciado um movimento exportador. Nesse sentido, o debate remonta aos riscos da diminui-
ção do superávit comercial brasileiro ao longo do tempo e aos efeitos sobre a estrutura produtiva
do país diante da perda da competitividade de vários setores produtivos brasileiros perante a con-
corrência internacional.
Essas posições se contrapõem claramente aos argumentos favoráveis à livre flutuação defen-
didos na sustentação do regime atual, uma vez que a conclusão direta dessas questões mostra-se
favorável a algum tipo de intervenção e controle mais estrito da taxa de câmbio. Esse é um debate
ainda vívido nos meios empresariais e acadêmicos no Brasil e está longe de ser exaurido.

Política fiscal
A política fiscal brasileira nos últimos anos tem sido orientada, em grande medida, pela geração
de elevados superávits primários do setor público e pela contenção da expansão da dívida pública.
Essa orientação foi decorrência direta da dinâmica observada no período 1995-1998, quando a
dívida
PrinEconCap 19a pública
23.10.06cresceu de 314
18:27 Page forma acelerada e o governo registrou sucessivos déficits (veja a Figura
19.10). Nesse sentido, a grande questão colocada era de que a estabilidade da inflação seria insus-
tentável na ausência de um ajuste das contas públicas.

Figura 19.9  Reservas internacionais brasileiras


314 PRINCÍPIOS DE ECONOMIA

Reservas internacionais – US$ milhões (conceito liquidez)

80.000

70.000

60.000

50.000

40.000

30.000

20.000
jun./98 jul./98 ago./98 set./98 out./98 nov./98 dez./98 jan./99

Fonte: Banco
FIGURA 19.9 Central
Reservas do Brasil.
internacionais Elaboração: FGV/EESP/Cemap.
brasileiras
Fonte: Banco Central do Brasil Elaboração: FGV/EESP/Cemap
Sem dúvida, a questão fiscal só foi tratada de maneira mais dura diante das crescentes in-
certezas sobre a economia brasileira, principalmente por parte dos investidores internacionais.
Nesse sentido,
(redução de fluxo depode-se observar
dólares para o país) ouuma conjugação
de incerteza, de esforços
19.2.3 POLÍTICA do governo no âmbito fiscal a
FISCAL
partirosde
como 1998, naemtentativa
observados de areverter
2001 e 2002, a percepção
taxa de câmbio se nos agentes
A política econômicos
fiscal brasileira nosdeúltimos
um desempenho
anos tem sido
deprecia de forma ruim.
fiscal brasileiro acentuada, afetando
Assim, essesosesforços
preços e visavam
a orientada,
reconquistar a credibilidade
em grande medida, pela geração dosde agentes
elevados
inflação
econômicosdoméstica. Esse fenômenoinvestidores
(principalmente tem forçado ointernacionais)
BC a superávitsaprimários
fim de preservar o regime
do setor público de bandas
e pela contenção da
responder com política monetária restritiva (elevação da expansão da dívida pública. Essa orientação foi decor-
cambiais.
taxa de juros), com conseqüente desaceleração do cresci- rência direta da dinâmica observada no período 1995-
mentoApesar do efracasso
econômico aumentona da tentativa de preservar
dívida pública. Segundo o1998,
regime cambial, o esforço fiscal se materializou
quando a dívida pública cresceu de forma acelera-
e, a linha
essa partirdede 1999, o setor
argumentação, público
economias brasileiroco-
emergentes, passou a registrar superávits consideráveis. Esses re-
da e o governo registrou sucessivos déficits (veja a Figura
sultados
mo é o casoforam, emestariam
do Brasil, grandemaismedida,
sujeitasoriginados
aos humores a partir
19.10).da implementação
Nesse do questão
sentido, a grande Programa de Estabi-
colocada era de
do mercado
lidade financeiro
Fiscal, em 1998. internacional, dada sua pequena que a estabilidade da inflação seria insustentável na
dimensão relativa aos fluxos internacionais. ausência de um ajuste das contas públicas.
Outra questão está ligada diretamente aos efeitos Sem dúvida, a questão fiscal só foi tratada de ma-
dessa volatilidade sobre o setor produtivo nacional. Os neira mais dura diante das crescentes incertezas sobre a
produtores nacionais se orientaram com maior intensi- economia brasileira, principalmente por parte dos investi-
dade para o mercado externo, exportando mais a partir da dores internacionais. Nesse sentido, pode-se observar
depreciação cambial observada no período entre 2001 e uma conjugação de esforços do governo no âmbito fiscal
2002. Desde então, a taxa de câmbio real tem se aprecia- a partir de 1998, na tentativa de reverter a percepção nos
do, afetando a competitividade de vários setores que agentes econômicos de um desempenho fiscal brasileiro
haviam iniciado um movimento exportador. Nesse senti- ruim. Assim, esses esforços visavam reconquistar a cre-
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T r a n s f o r m a ç õ e s r e c e n t e s d a e c o n o m i a b r a s i l e i r a   129

Do ponto de vista estratégico, grande parte desse programa se centrava na elevação da arre-
cadação federal e nos aumentos das contribuições previdenciárias. Em particular, o programa previa
a prorrogação e a elevação da alíquota da CPMF (Contribuição Provisória sobre a Movimentação
Financeira), a equalização do tratamento tributário da Cofins (Contribuição para Financiamento da
Seguridade Social) e a elevação de sua alíquota, e a universalização da alíquota de 11% para a
contribuição de servidores públicos inativos ao sistema previdenciário público (como forma de
tentar conter seu déficit). Apesar de prever redução de gastos em vários pontos, a realidade mostrou
que estes seguiram crescendo ao longo do tempo.
O Programa de Estabilidade Fiscal foi emblemático e marcante, uma vez que representou o
início da estratégia de ajuste fiscal que caracterizou os anos seguintes. Essa estratégia estava centrada
predominantemente na elevação de impostos e contribuições, sem ajuste substancial do lado dos
gastos públicos. Esse processo tem levado a carga tributária brasileira ao patamar próximo de 40
por cento do PIB, equivalente ao de nações desenvolvidas europeias e muito acima de outros países
em desenvolvimento e da América Latina.
Essa é uma questão relevante que se coloca não apenas no âmbito econômico, mas também
social, uma vez que a sociedade brasileira começa a impor limites à carga de impostos e tributos,
restringindo a sustentabilidade dos resultados fiscais ao longo do tempo sem um ajuste efetivo do
lado dos gastos públicos. Isso sem mencionar a questão da complexa estrutura tributária brasileira,
que tem efeitos adversos sobre a produção nacional e a distribuição de renda.
Outra questão relevante no âmbito das contas públicas diz respeito à dívida pública. Desde
a implementação do Plano Real em 1994, a relação dívida líquida pública/PIB saiu de um patamar
próximo a 30 por cento para mais de 50 por cento nos anos seguintes (veja a Figura 19.11). Nesse
contexto,
PrinEconCap os déficits
19a 23.10.06 primários
18:27 Page 315 contribuíram para o aumento da dívida pública a partir de 1994.
O processo de ajuste das contas públicas, mais efetivo a partir de 1998, contribuiu para reduzir
esse problema.

Figura 19.10  Resultado primário do setor público


CAPÍTULO 19 A ECONOMIA BRASILEIRA EM PERSPECTIVA 315

Resultado primário do setor público (% do PIB) – Fluxo acumulado em 12 meses

5,0

4,0

3,0
(% do PIB)

2,0

1,0

0,0

–1,0

–2,0
jan./96

jul./96

jan./97

jul./97

jan./98

jul./98

jan./99

jul./99

jan./00

jul./00

jan./01

jul./01

jan./02

jul./02

jan./03

FIGURA 19.10
Fonte: Resultado
Banco primário
Central do setorElaboração:
do Brasil. público FGV/EESP/Cemap.
Fonte: Banco Central do Brasil Elaboração: FGV/EESP/Cemap

e nos aumentos das contribuições previdenciárias. Em realidade mostrou que estes seguiram crescendo ao lon-
particular, o programa previa a prorrogação e a elevação go do tempo.
da alíquota da CPMF (Contribuição Provisória sobre a O Programa de Estabilidade Fiscal foi emblemático e
Movimentação Financeira), a equalização do tratamento marcante, uma vez que representou o início da estratégia
tributário da Cofins (Contribuição para Financiamento de ajuste fiscal que caracterizou os anos seguintes. Essa
da Seguridade Social) e a elevação de sua alíquota, e a estratégia estava centrada predominantemente na ele-
universalização da alíquota de 11% para a contribuição vação de impostos e contribuições, sem ajuste substancial
de servidores públicos inativos ao sistema previdenciário do lado dos gastos públicos. Esse processo tem levado a
público (como forma de tentar conter seu déficit). carga tributária brasileira ao patamar próximo de 40 por
Apesar de prever redução de gastos em vários pontos, a cento do PIB, equivalente ao de nações desenvolvidas
da Seguridade Social) e a elevação de sua alíquota, e a estratégia estava centrada predominantemente na ele-
universalização da alíquota de 11% para a contribuição vação de impostos e contribuições, sem ajuste substancial
de servidores públicos inativos ao sistema previdenciário do lado dos gastos públicos. Esse processo tem levado a
público (como forma de tentar conter seu déficit). carga tributária brasileira ao patamar próximo de 40 por
Figura
Apesar
PrinEconCap 19.11  Dívida
de prever18:27
19a 23.10.06 redução do setorem
de316
Page gastos público brasileiro
vários pontos, a cento do PIB, equivalente ao de nações desenvolvidas

65 Dívida líquida do setor público (% do PIB)

60
316 PRINCÍPIOS DE ECONOMIA
55

européias e muito acima50 de outros países em desenvolvi- tribuíram para o aumento da dívida pública a partir de
mento e da América45Latina. 1994. O processo de ajuste das contas públicas, mais
Essa é uma questão
40
relevante que se coloca não ape- efetivo a partir de 1998, contribuiu para reduzir esse
nas no âmbito econômico, mas também social, uma vez problema.
35
que a sociedade brasileira começa a impor limites à carga Mesmo com o ajuste processado, a dívida pública
de impostos e tributos,30 restringindo a sustentabilidade seguiu crescendo nos primeiros anos da década, em gran-
dos resultados fiscais 25
ao longo do tempo sem um ajuste de medida por causa das elevadas taxas de juros prati-
efetivo do lado dos gastos públicos. Isso sem mencionar cadas no período, que condicionaram a despesa de juros
jan./95

jan./96

jan./97

jan./98

jan./99

jan./00

jan./01

jan./02

jan./03

jan./04

jan./05

jan./06
a questão da complexa estrutura tributária brasileira, que do setor público, influenciando o crescimento da dívida
tem efeitos adversos sobre a produção nacional e a dis- pública ao longo dos últimos anos.
tribuição de renda. Essa questão alia-se às preocupações esboçadas na
FFonte: Banco
IGURA 19.11 Central
Dívida do setordo Brasil.
público Elaboração: FGV/EESP/Cemap.
brasileiro
Outra questão relevante no âmbito das contas públi- Seção 19.2.1 referentes à problemática das elevadas taxas
Fonte: Banco Central do Brasil Elaboração: FGV/EESP/Cemap
cas dizMesmo
respeito com
à dívida pública.
o ajuste Desde a implemen-
processado, de jurosseguiu
a dívida pública praticadas no Brasilnos
crescendo e seuprimeiros
efeito sobre a dívida
anos da
tação do Plano Real em 1994, a relação dívida líquida pública brasileira. Novamente, reforça-se nesse aspecto a
década, em grande medida por causa das elevadas taxas de juros praticadas no período, que con-
pública/PIB saiu de um patamar próximo a 30 por cento necessidade da consolidação de um ajuste fiscal pelo
dicionaram a despesa de juros do setor público, influenciando o crescimento da dívida pública ao
para mais de 50 por cento nos anos seguintes (veja a lado dos gastos e seus efeitos sobre a dinâmica da dívida
longo
Figura dos últimos
19.11). anos. os déficits primários con- do setor público.
Nesse contexto,
Essa questão se alia às preocupações referentes à problemática das elevadas taxas de juros
praticadas no Brasil e seu efeito sobre a dívida pública brasileira. Novamente, reforça-se nesse aspecto
a necessidade da consolidação de um ajuste fiscal pelo lado dos gastos e seus efeitos sobre a dinâ-
mica da dívida do setor público.
APÊNDICE 19.A
UNIDADES DO SISTEMA MONETÁRIO BRASILEIRO
Apêndice 19.A  Unidades do sistema monetário brasileiro

Unidade monetária Vigência Símbolo Correspondência


Real (plural: réis) Período Colonial até 07/10/1833 R R1$200  1/8 de ouro de 22K
Mil-réis 08/10/1833 a 31/10/1942 Rs Rs2$500  1/8 de ouro de 22K
Cruzeiro 01/11/1942 a 30/11/1964 Cr$ Cr$ 1,00  Rs1$000
(um cruzeiro correspondente a mil-réis)
Cruzeiro (eliminados os centavos) 01/12/1964 a 12/02/1967 Cr$ Cr$ 1  Cr$ 1,00
Cruzeiro novo (voltaram os centavos) 13/02/1967 a 14/05/1970 NCr$ NCr$ 1,00  Cr$ 1.000
Cruzeiro 15/05/1970 a 14/08/1984 Cr$ Cr$ 1,00  NCr$ 1,00
Cruzeiro (eliminados os centavos) 15/08/1984 a 27/02/1986 Cr$ Cr$ 1  Cr$ 1,00
Cruzado (voltaram os centavos) 28/02/1986 a 15/01/1989 Cz$ Cz$ 1,00  Cr$ 1.000
Cruzado novo 16/01/1989 a 15/03/1990 NCz$ NCz$ 1,00  Cz$ 1.000,00
Cruzeiro 16/03/1990 a 31/07/1993 Cr$ Cr$ 1,00  NCz$ 1,00
Cruzeiro real 01/08/1993 a 30/06/1994 CR$ CR$ 1,00  Cr$ 1.000,00
Real a partir de 01/07/1994 R$ R$ 1,00  CR$ 2.750,00

Fonte: Banco Central do Brasil Elaboração: FGV/EESP/Cemap.


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T r a n s f o r m a ç õ e s r e c eC AnP ÍtT UeL Os 1d9 a A eECONOMIA


c o n oBRASILEIRA
m i aEMbPERSPECTIVA   131
r a s i l e i r a 317

APÊNDICE 19.B
OBRAS DE INTERESSE SOBRE ECONOMIA BRASILEIRA
Apêndice 19.B  Obras de interesse sobre economia brasileira

ABREU, Marcelo de Paiva. A ordem do progresso: 100 anos de política econômica republicana (1889-1989).
Rio de Janeiro: Campus, 1990.
BRESSER-PEREIRA, Luiz Carlos. A economia brasileira na encruzilhada. São Paulo: FGV, 2006.
FURTADO, Celso. Formação econômica do Brasil. 32. ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2003.
GIAMBIAGI, Fabio et al. Economia brasileira contemporânea (1945-2004). Rio de Janeiro: Campus, 2004.
GIAMBIAGI, Fabio et al. Reformas no Brasil: balanço e agenda. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2004.

RESUMO

• A economia brasileira registrou elevadas taxas de • A política monetária no Brasil é administrada pelo
crescimento do produto interno bruto (PIB) após a Banco Central do Brasil, que tem orientado suas
Segunda Guerra Mundial, mas perdeu dinamismo decisões no sentido de manter a inflação em pata-
no início da década de 1980. mar baixo.
• Também no pós-guerra, a estrutura produtiva bra- • O regime de metas para inflação foi implementa-
sileira mudou significativamente, observando-se do no Brasil em 1999 e orienta a estratégia adotada
um processo de industrialização acelerado. pelo Banco Central em suas decisões sobre taxa de
• A crise da dívida externa na década de 1980 e o juros.
agravamento do processo inflacionário levaram às • Os elevados níveis das taxas de juros brasileiras
instabilidades e crises do período. (quando comparados internacionalmente) ainda
• A gravidade do processo inflacionário tornou o representam um fator de preocupação no âmbito
combate à inflação uma prioridade do governo na econômico no país.
década de 1980, e o Brasil vivenciou uma série de • Desde o início de 1999, o regime cambial brasi-
tentativas de estabilização antes do sucesso do Pla- leiro é o de livre flutuação, embora o governo
no Real no combate à inflação. tenha realizado diversas intervenções no mercado
• Embora o Plano Real tenha sido bem-sucedido em de câmbio ao longo dos últimos anos, caracteri-
estabilizar a inflação em patamar baixo, o país zando um regime de flutuação ‘suja’.
continuou a registrar taxas de crescimento do PIB • A excessiva volatilidade da taxa de câmbio
significativamente inferiores às verificadas até o brasileira tem sido um recorrente tema de preocu-
início da década de 1980. pação.
• O baixo crescimento econômico brasileiro das • O ajuste das contas públicas brasileiras processa-
últimas décadas tem afetado duramente o país de do a partir de 1998 foi caracterizado por aumentos
diferentes formas, e a taxa de desemprego tem de impostos e contribuições.
permanecido em patamar elevado. • Apesar do ajuste, a dívida pública brasileira
• O desafio da retomada do crescimento de modo seguiu crescendo em função das elevadas despesas
robusto e sustentável ainda é uma questão em de juros do setor público.
aberto no Brasil.
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132  E C O N O M I A d O S E T O R P ú b l ico

Resumo
Nesta unidade tivemos a oportunidade de conhecer os eventos econômicos ocorridos
no Brasil nos últimos anos, mostrando como a economia brasileira tem se comportado e
ainda como se deu sua reação às mudanças exigidas pelo mercado.
A economia brasileira, que transitou de profunda participação do Estado até uma
diminuição desta participação, após muitas tentativas, acabou por conseguir melhor
equilíbrio econômico, permitindo avanços importantes em nosso sistema econômico.
Uma economia mais equilibrada permite à iniciativa privada investir com mais tran‑
quilidade e possibilita ao consumidor adquirir os bens necessários ao atendimento de
suas necessidades. E é dentro deste contexto de economia dinâmica que vamos entrar,
na próxima unidade, no estudo da Microeconomia, onde compreenderemos, sobretudo,
as ações dos agentes econômicos privados.

Atividades de aprendizagem
1. Qual foi o período de maior crescimento do PIB brasileiro no pós-guerra?
2. Quais foram os planos de estabilização implementados no Brasil antes do Plano Real?
3. Quais foram as fases de implementação do Plano Real?
4. Com a estabilidade da inflação em patamar baixo a partir de 1994, o crescimento econô‑
mico brasileiro voltou a se acelerar de forma significativa?
5. O que significa Copom? Qual é sua função?
6. Em que ano foi implementado o regime de metas para inflação no Brasil?
7. Quais foram os regimes cambiais adotados no Brasil após a implementação do Plano Real?
8. Por que a volatilidade da taxa de câmbio brasileira representa um problema?
9. O ajuste fiscal brasileiro implementado a partir do fim da década de 1990 foi centrado no
corte de gastos públicos ou na elevação de impostos?
10. Por que mesmo com o ajuste fiscal processado no fim da década de 1990 a dívida pública
brasileira seguiu crescendo?
11. No contexto do regime de metas para a inflação brasileira, por que, quando o real se
deprecia fortemente ao dólar, o Banco Central eleva a taxa de juros?
12. Ainda considerando o regime de metas para inflação no Brasil, o Banco Central possui
independência de objetivos? Os membros do Copom possuem independência de mandato?
13. Por que o resultado comercial brasileiro passou a ser deficitário nos primeiros anos do
real?
14. Caracterize o ajuste fiscal brasileiro implementado nos últimos anos. Ele foi eficiente para
estabilizar a dívida pública? Por quê?
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Unidade 5
Economia brasileira
e Sistema Financeiro
Nacional
Regina Lúcia Sanches Malassise

Objetivos de aprendizagem: Nesta unidade você vai conhecer


as transformações econômicas recentes ocorridas no Brasil e o
sistema financeiro nacional. Verá que o combate à inflação como
objetivo de política macroeconômica vem sendo seguido desde
os planos econômicos dos anos 80 e que o sistema financeiro
desempenha um importante papel neste processo.

Seção 1: Economia brasileira dos primeiros anos à


década de 1980
Aqui faremos um resumo histórico dos fatos rele-
vantes para a economia brasileira desde a atividade
agroexportadora até a crise dos anos 80. Sempre é
bom lembrar que estudar economia brasileira é fazer
a ligação de como os fatos históricos conduziram a
determinados resultados, e é disto que nos ocupa-
remos nas próximas linhas. Nossa proposta segue
o raciocínio descrito por Gremaud, Vasconcellos e
Toneto Jr. (2004). Para tanto, esta seção está dividida
em três tópicos: i) A economia agroexportadora; ii)
da substituição de importações à primeira metade
da década de 1980 e iii) O combate à inflação e os
planos econômicos.
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Seção 2: O Brasil nos anos de 1990


No início dos anos 90 o movimento de reestruturação
do papel do Estado chega ao Brasil. Nos primeiros
anos da década há uma intensificação do processo de
abertura da economia, privatizações e uma pressão
para reforma fiscal do estado. Nesta seção estudare-
mos as diferentes visões sobre o papel do Estado; a
implantação do Plano Real, as principais medidas de
política econômica nos governos FHC, Lula e Dilma.

Seção 3: O Sistema Financeiro Nacional


Nesta seção vamos abordar alguns detalhes do sis-
tema financeiro brasileiro. Estudaremos o conceito
e evolução do sistema, os subsistemas normativo e
operacional, e os principais órgãos que compõem o
sistema e suas funções.
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E c o n o m i a b r a s i l e i r a e S i s t e m a F i n a n c e i r o N a c i o n a l   135

Introdução ao estudo
A economia brasileira tem um grande divisor de águas: o Plano Real. A maioria das pes‑
soas ainda se lembra da economia altamente inflacionária dos anos 80 e não tem saudades do
tempo em que os preços eram remarcados diariamente. Após a implantação do Real a queda
gradativa da inflação trouxe a estabilidade de preços e os brasileiros puderam manter uma
relação mais amigável com a moeda que tinham em mãos.
Porém, para entender como chegamos à atual estabilidade de preços na economia, preci‑
samos voltar um pouco no tempo e estudar os principais problemas que assolavam a economia
brasileira e quais foram as principais políticas adotadas para contorná-los e assim abrir o espaço
necessário para a implementação do Plano Real.
Portanto, nas próximas seções você vai ler sobre a dívida externa, inflação, câmbio e juros.
Cada um destes tópicos será abordado sobre uma perspectiva cronológica e histórica para
aproximá-lo dos fatos que conduziram às políticas que procuraram sanar estes problemas da
economia brasileira. Desejo a você uma boa leitura.

Seção 1   conomia brasileira dos


E
primeiros anos à década de 1980

1.1 A economia agroexportadora


O Brasil, desde seu descobrimento até os anos 30, caracterizou-se como um país agroex‑
portador, isto é, exportava alguns poucos produtos agrícolas dos quais destacamos pau-brasil,
açúcar, algodão, borracha. A exportação destes produtos dominava o mercado interno e cons‑
tituía os ciclos da economia brasileira, período em que um produto principal dava a dinâmica
do balanço de pagamentos.
Destes ciclos o mais conhecido foi o do café, que dominou a economia até os anos 30.
Por ser um produto de exportação seu preço é determinado no mercado externo, mas, por
ser o principal produto de nossa economia, ela se torna dependente do que acontece com o
preço e com a oferta deste produto no mercado internacional. Esta dependência foi chamada
de vulnerabilidade externa.
A produção do café ocorria em grandes propriedades e havia grande concentração de
renda e de terra. Como o café era o produto-chave, contou com várias políticas para proteger
os exportadores, o que ficou conhecido como política de valorização do café. As mais co‑
muns foram: a desvalorização cambial, políticas de estoques e preços mínimos. Estas políticas
fortaleciam cada vez mais os produtores de café que investiam seus lucros em mais terras e
aumentavam sua produção.
Estas políticas influenciavam a produção e o preço do café no mercado interno e externo. No
mercado interno a desvalorização garantia os ganhos dos cafeicultores mesmo que o preço caísse
no mercado internacional. Vejamos a seguir, na Tabela 5.1, um exemplo de como isto se dava.

Tabela 5.1  Impacto da política cambial e preços externos sobre a receita do cafeicultor

Situação e (R$/US$) Sacas de café Preço da saca Receita em R$


(US$)
1 1,20 10 15,00 1,20 x 10 x 15 = 180,00
2 1,20 10 10,00 1,20 x 10 x 10 = 120,00
3 1,80 10 10,00 1,80 x 10 x10 = 180,00
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136  E C O N O M I A d O S E T O R P ú b l ico

Na Tabela 5.1 utilizamos o real para facilitar a compreensão. No Brasil a moeda de 1888-1942
foi o mil réis, que tinha uma forma escrita diferenciada e era baseado num sistema milesimal, por
exemplo, mil réis se escrevia 1$000. Na tabela podemos ver que da situação 1 para a situação 2
ocorreu uma queda no preço da saca de café no mercado internacional: de US$ 15,00 a saca passou
a US$ 10,00 e o produtor registrou uma perda em sua receita de R$ 60,00 (R$180,00 — R$ 120,00).
Uma forma comum de o governo manter o ganho do setor exportador era desvalorizando a
moeda para garantir a receita dos cafeicultores. Da situação 2 para a situação 3, embora o preço
internacional permaneça o mesmo, o real se desvalorizou de R$ 1,20 para R$ 1,80, e a receita do
cafeicultor voltou a ser R$ 180,00. Desta forma a receita do cafeicultor era mantida mesmo com os
preços do café em queda no mercado internacional. Isto aumentava a produção de café no Brasil.
Para contornar o aumento da produção o governo comprava o excedente a um preço mínimo.
Porém, o preço mínimo não levava em consideração o excesso de oferta, isto é, estava acima
dos preços de mercado. Logo o governo acumulou grandes estoques. Os estoques brasileiros
evitavam que ocorresse um aumento na oferta mundial e os preços do café no mercado interna‑
cional não caiam o suficiente para que os produtores mundiais de café reduzissem a produção.
Assim, este período da economia brasileira até 1930 é chamado de modelo de desenvolvi‑
mento voltado para fora, pois a estrutura produtiva do país estava direcionada para atender o setor
exportador, isto é, a produção do café. Por outro lado, a fragilidade do modelo ocorre porque a
pauta de importações é grande e envolve produtos com preços maiores que os produtos expor‑
tados, e aí se verifica a deterioração dos termos de troca, conforme destaca a teoria da Cepal.
Além disto, o país se tornava dependente porque produzia para o mercado externo e o
mercado interno era abastecido com importações. Quando ocorria a desvalorização da moe­da,
todos os itens importados ficavam mais caros, a inflação se elevava e prejudicava todos os
cidadãos, e isto foi chamado de socialização das perdas. Uma perda que deveria ser apenas
do cafeicultor, pois o preço do café no mercado mundial caiu, era espalhada para toda a
economia porque a desvalorização encarecia os produtos que os brasileiros consumiam e
que eram importados.
Com a crise dos anos 30 a política de valorização do café foi aos poucos sendo aban‑
donada, o governo queimou parte dos estoques de café a deixou os preços do café caírem
gradativamente, pois não poderia abandonar imediatamente a política sob pena de colocar
o país numa profunda recessão. A dificuldade de exportação reduzia a entrada de divisas e
dificultava as importações de produtos para o mercado interno. Neste momento fica claro que
o país precisava apostar na industrialização como alternativa para dinamizar sua economia,
produzindo no mercado interno o que antes era importado.

Figura 5.1  Estrutura da produção industrial no Brasil em 1919

Fonte: Adaptado de Gremaud, Vasconcellos e Toneto Júnior (2004, p. 357).


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E c o n o m i a b r a s i l e i r a e S i s t e m a F i n a n c e i r o N a c i o n a l   137

A industrialização passa a ser uma meta para superar o atraso de nossa economia. Como pode‑
mos ver a partir da Figura 5.1, até 1919 bens de consumo básicos como a produção de alimentos,
têxteis, bebidas e outros eram responsáveis por mais 80% da produção nacional. Neste contexto, a
industrialização até 1930 surgiu nas franjas da economia cafeeira para atender trabalhadores assa‑
lariados (a partir de 1888) e imigrantes, todos eles ligados ao setor agrário-exportador (GREMAUD;
VASCONCELLOS; TONETO JÚNIOR, 2004 p. 355). As primeiras indústrias se dedicaram à produ‑
ção de têxteis, roupas, calçados e alimentos. Estes setores eram responsáveis por 80% da produção
industrial em 1920. Duas teorias buscam explicar o início da industrialização brasileira, são elas:
A) Teoria dos choques adversos: nesta visão a indústria surge como resposta às dificuldades, em
alguns períodos, de importar produtos industrias (ex.: Primeira Guerra Mundial e a Grande Depressão
de 1930). Como não conseguia exportar o café e o nível de importação não se reduzia o governo ele‑
vava as tarifas aduaneiras e proibia a importação de alguns itens, o que favorecia a indústria nacional.
B) Teoria da industrialização induzida por exportações: nesta visão a indústria crescia
justamente nos momentos de expansão da economia cafeeira. Isto ocorria porque a renda
aumentava (devido ao aumento da massa salarial) e estimulava o mercado consumidor e au‑
mentava a demanda por produtos industriais. Por outro lado, a receita gerada pelas exportações
davam suporte à importação de máquinas e equipamentos, estas eram condições fundamentais
para estimular o desenvolvimento industrial nacional.
Segundo Gremaud, Vasconcellos e Toneto Júnior (2004), as duas contribuem para explicar o
início da industrialização. Isto ocorre porque o aumento da capacidade instalada de produção
ocorre nos momentos de expansão das exportações e a utilização desta capacidade instalada ocorre
nos momentos em que observam dificuldades para importar. As primeiras indústrias dão início a um
processo de substituição de importações. Há que se destacar o importante papel desempenhado
pelos imigrantes que trouxeram junto consigo os conhecimentos e habilidades necessários para
implantar e desenvolver as primeiras indústrias (Ex: famílias Prado e Matarazzo).
Assim, ao fim da década de 1930, independentemente da linha teórica, era consenso entre os
pesquisadores que o Brasil precisava avançar no processo de industrialização em busca da consoli‑
dação de uma indústria que produzisse bens duráveis de consumo, intermediários e de capital. Este
é o objetivo dos planos de desenvolvimento econômico que se desenham nas décadas seguintes.

1.2 D
 a substituição de importações à primeira
metade dos anos 1980
O impulso inicial para alavancar o processo de industrialização obteve seus recursos da
política de manutenção da renda do setor cafeeiro. Em certos momentos o governo comprou
e queimou o excedente de café apenas para que a economia mantivesse um ritmo mínimo de
demanda. Além disso, continuou desvalorizando a moeda nacional e utilizou o contingencia‑
mento de divisas selecionando os setores que teriam acesso a ela para importações.
Sobre a produção nacional pode-se dizer que em 1930:
A proteção recebida frente aos concorrentes externos e com as vendas
propiciadas pela manutenção da demanda, a gerar uma rentabilidade que,
dada queda de rentabilidade do setor cafeeiro, atraía capital de outros
setores e o próprio reinvestimento dos lucros gerados na atividade indus‑
trial (GREMAUD; VASCONCELLOS; TONETO JÚNIOR, 2004, p. 363).
A desvalorização encarece os produtos importados tornando-os mais caros que os nacionais
e as dificuldades criadas para se ter acesso às divisas, devido ao contingenciamento, acabavam
protegendo os produtos internos. A renda que fluía do setor cafeeiro gerava uma pressão por
importações, sem divisas por causa da queda das exportações, e o país decreta a moratória.
Inicia-se o processo de industrialização do Brasil, conhecido como Industrialização por
Substituição de Importações (ISI), período entre as décadas de 1930 e 1960. O termo substituição
se aplica por três motivos, são eles: i) produzir no mercado interno o que antes era importado; ii)
importar novos produtos, de preferência máquinas e equipamentos, para ampliar a produção indus‑
trial e iii) substituir o produto de exportação por outros, ou seja, diversificar a pauta de exportação.
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138  E C O N O M I A d O S E T O R P ú b l ico

A principal característica do Processo de Substituição de Importações (PSI) é promover a in‑


dustrialização fechada, movida por estrangulamento externo e que se realiza por etapas. Isto seria
o mesmo que dizer que a indústria cresce para atender ao mercado interno devido às dificuldades
de importar provocadas por uma crise de divisas, e que a pauta de importações é que dita os setores
que irão receber os investimentos. Esses setores divididos em etapas evoluem de bens de consumo
não duráveis até bens de capital (GREMAUD; VASCONCELLOS; TONETO JÚNIOR, 2004).
O governo respondia, durante o PSI, com quatro procedimentos mais comuns (GREMAUD;
VASCONCELLOS; TONETO JÚNIOR, 2004), entre eles: desvalorização real do câmbio, controle
do câmbio, taxas múltiplas de câmbio e elevação das tarifas aduaneiras. Essas medidas prote‑
giam a indústria nacional. Respectivamente cada uma delas representa que: a desvalorização
devia ser maior que a inflação, era necessário impor seletividade às importações, estabelecendo
cotas e acesso às divisas, era necessário impor seletividade aos contratos estabelecendo-se dife‑
rentes taxas de câmbio de acordo com o tipo de transação e elevar os impostos de importação.
As principais dificuldades enfrentadas durante o PSI foram:
a) O desequilíbrio externo, que pode ser explicado da seguinte forma: a política cambial dis‑
cricionária estabelecia câmbio comercial favorável ao setor industrial (barateando importações de
máquinas e equipamentos e aumentando preços dos demais produtos importados) e desfavorável à
agricultura (preço do dólar comercial mais caro para venda do que para compra), desestimulando
agroexportação, e a indústria não gerava as divisas necessárias para honrar os compromissos ex‑
ternos, com o desequilíbrio surgindo da falta de divisas para fazer frente às importações.
b) O aumento da participação do Estado. Pode-se dizer que das quatro funções básicas
a serem desempenhadas pelo Estado surgem as seguintes consequências, respectivamente: a
organização das relações de trabalho e o crescimento da burocracia aumentaram as obriga‑
ções dos patrões (inclusive o governo) e o gasto público; ao cobrir as falhas de infraestrutura
o Estado se torna um grande empresário que administra mal pois vende a preços menores que
seus custos; o Estado agente financeiro emprestava por meio do BNDE recursos subsidiados
pressionando o déficit público devido à captação de recursos por emissão da dívida.
c) Aumento da concentração de renda: no PSI as indústrias eram capital intensivo, assim
“a concentração industrial, por sua vez, era decorrente do próprio tamanho com mercado a ser
atingido pelas indústrias” (GREMAUD; VASCONCELLOS; TONETO JÚNIOR, 2004, p. 373). De
acordo com o texto pode-se concluir que o país é territorialmente grande, porém o mercado
consumidor é restrito devido à concentração de renda.
d) Escassez de fontes de financiamento: a lei da usura vigorou no Brasil até 1933 e os
capitais nacionais não eram suficientes para levantar os recursos necessários para implantar
uma indústria de base, que demanda muitos recursos e tem um tempo longo de maturação.
Pode-se pensar no exemplo das usinas hidroelétricas e que todas elas demandaram capital
estatal e financiamento, pelo governo, dos projetos de construção no exterior.
Não podemos nos esquecer de que, embora houvesse um amplo movimento em favor do
desenvolvimento da indústria, a agricultura ainda desempenhava um importante papel neste
processo. Coube à agricultura uma série de tarefas, tais como: liberar mão de obra do campo
para a indústria; fornecer alimentos e matérias-primas; gerar divisas por meio da exportação;
e ser mercado consumidor dos produtos da indústria. Todas essas funções podiam ser alavan‑
cadas caso a agricultura aumentasse a sua produtividade. A produção interna cresceu e houve
redução das importações de bens não duráveis, que podem ser vistas na Tabela 5.2.

Questões para reflexão


Após estudar o Processo de Substituição de Importações no Brasil, reflita se no
momento atual você acredita que podemos dizer que este processo prevalece
nos dias atuais na economia brasileira? Por quê?
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E c o n o m i a b r a s i l e i r a e S i s t e m a F i n a n c e i r o N a c i o n a l   139

Tabela 5.2   Estrutura de produção e importação no Brasil entre os anos 1949-1964

Fonte: Adaptado de Gremaud; Vasconcellos; Toneto Jr. (2004, p. 369)

O Plano de Metas implementado no governo Juscelino Kubitschek entre ao anos de 1956­


‑1960 tinha como objetivo o desenvolvimento do setor de bens de consumo duráveis. O governo
contou com os efeitos de encadeamento dos investimentos realizados diretamente neste setor.
Este encadeamento significa que os empréstimos no setor geram demanda nos setores de bens
de capital e intermediários e aumentam a renda através do aumento na geração de empregos.
A proposta do plano era atacar os pontos de estrangulamento que eram pontos de demanda
insatisfeita, como a falta de uma indústria de autopeças como fornecedora da indústria automobi‑
lística. E realizar investimento setoriais nos chamados pon‑
tos de germinação, isto é, em áreas que geram demanda
derivada, por exemplo, a construção da capital Brasília.
Assim, o Plano de Metas teve o mérito de promover Para saber mais
a substituição de importações priorizando a integração
entre os diversos setores e subsetores. Este processo de Este período coincidiu justa-
integração e de aprofundamento do tecido industrial
passa a indicar os setores que receberão investimentos mente com o período de maior
e promoverão o crescimento econômico. gasto público em infraestrutura,
Portanto, os setores que mais cresceram entre 1955­ quando o governo atuou como
‑62 foram: materiais de transporte (711%), materiais
elétricos de comunicação (417%) (GREMAUD; VAS‑ grande empresário implantando
CONCELLOS; TONETO JR., 2004). Por outro lado, a diversas empresas estatais como:
forma de financiamento do plano, por emissão monetá‑
ria que aumentou em 60%, elevou a inflação a 34% a.a. Companhia Siderúrgica Nacional,
em 1961, a dívida externa chegou a US$ 2.835 milhões Companhia Vale do Rio Doce, Pe-
e os salários reais acumularam perda de -14%. Embora
tenha promovido crescimento, o plano concentrou trobras, Companhia Nacional de
renda, aumentou a dívida externa e elevou a inflação. Alcális e diversas hidroelétricas.
Após 1963 a situação econômica se deteriora e o
PIB cresce apenas 0,6%, a produção industrial decresce Todos esses investimentos eleva-
-0,2% e a inflação salta para 72,85% a.a. Segundo ram o gasto público.
Gremaud, Vasconcellos e Toneto Jr. (2004) a explicação
para esta crise tem dois pontos importantes:
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140  E C O N O M I A d O S E T O R P ú b l ico

A) A questão política: a crise do populismo enquanto forma de ver e pensar as estratégias


políticas, pois não era possível fazer política incorporando as massas devido à crise financeira
do estado e dificuldades do setor empresarial com o baixo crescimento. A grande instabilidade
política no período devido a eleição e renúncia de Janio Quadros, mudança de regime de
presidencial para parlamentar, e golpe militar (1964) contra o vice-presidente João Goulart.
B) A crise econômica: o estagnacionismo do PSI devido ao fato de os investimentos que
ainda não haviam sido feitos demandarem maiores recursos com retornos menores. Estes setores
exigiam demanda maior e dependiam de demanda derivada, e como o PSI era concentrador,
o consumo não crescia na velocidade necessária. Além do mais, estes investimentos tinham
grande escala de produção e necessitavam de grande demanda.
Havia no país uma crise cíclica endógena. Era necessário que a demanda por bens de
capital fosse gerada pelo encadeamento produtivo com os demais setores, e como o PSI gerou
excesso de capacidade produtiva, não havia demanda para o setor de bens de capital. E a
inadequação institucional era fruto da ausência de mecanismos de financiamento para alavan‑
car o investimento e o consumo. Estas situações, somadas à política recessiva de combate à
inflação de demanda pós Plano de Metas e que durou até 1967, pioraram o quadro recessivo.
Com o Golpe Militar de 1964 resolve-se em parte o problema da instabilidade política, pois
agora não haveria disputas de poder. E a implantação do Plano de Ação Imediata do Governo
(PAEG) é a proposta para eliminar o problema econômico-estrutural.
Um dos grandes feitos do PAEG para o país são as reformas institucionais. Por isto propõe
a reforma tributária, monetário-financeira e da política externa.
A reforma tributária instituiu a correção monetária para os tributos; redefiniu o espaço
tributário entre União, Estados e Municípios, criou o IPI, o ICMS e o ISS, adotou o critério de
inverso da renda per capita para fazer o repasse de verbas para os estados.
Na reforma monetária-financeira instituiu a correção monetária, criou os títulos do governo
ORTN, criou o Conselho Monetário Nacional (CMN), o Banco Central do Brasil (Bacen), o Sistema
Financeiro Habitacional (SFH) e o Banco Nacional de Habitação (BNH),regulou o mercado de
capitais e a atribuição de cada um dos agentes, criou o Sistema Nacional de Crédito Rural (SCNR).
Na reforma da política externa destacam-se a implantação da isenção fiscal para exporta‑
ções, eliminação dos limites quantitativos de importação adotando apenas as tarifas e adoção
do sistema de minidesvalorização cambial.
As reformas instituídas pelo PAEG alteraram o quadro institucional da economia e abriram
espaço para as necessidades de uma economia industrial, criando um esquema de financia‑
mento e de canalização de recursos para o setor. Ocorreu um aumento da produção acom‑
panhado de queda de inflação. Assim, em 1968, o Brasil cresceu 9,8%, a indústria, 14,2% e
a inflação registrou 22% no ano.

Questões para reflexão


A reforma monetária financeira realizada durante o PAEG deu a dinâmica do
atual Sistema Financeiro Nacional (SFN). Reflita sobre a importância dessas
reformas para a consolidação do atual SFN.

Um novo período se inicia na economia brasileira entre os anos 1968-73, que foi chamado
de Milagre Econômico. Em parte o avanço fez com que diagnóstico de inflação passasse a ser
de custos, e através do Conselho Interministerial de Preços (CIP) implantam-se mecanismos de
controle dos preços. Com maior controle sobre os preços a demanda pôde crescer sem grande
impacto sobre a inflação. Assim, enquanto a economia continuava crescendo em média 10%
ao ano, a inflação caiu moderadamente, passando de 22% em 1968 para 15% em 1973. As
principais fontes de crescimento foram:
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Economia brasileira e Sistema Financeiro Nacional 141

investimento público em infraestrutura, aumento das empresas estatais — foram criadas


231 no período;
aumento da demanda de bens de consumo durável (23,6% a.a.) propiciado pela bolha
de consumo gerada pelo acesso ao crédito, construção civil que cresce 15% a.a., e
ampliação das exportações;
crescimento do endividamento externo: devido a facilidades de acesso ao crédito que
tinha juros baixos (porém flexíveis) e a longo prazo. Boa parte deste tornou‑se reservas,
indicando um sobre‑endividamento;
crescimento da dívida pública interna: o governo realizou emissões de dívida e opera‑
ções de Open Market a fim de evitar a valorização da moeda nacional que ocorreria
por causa da entrada excessiva de divisas no país. Agindo assim, realizou operações
de esterilização da moeda;
aumento da concentração de renda: a teoria do bolo se justificava pela ausência de MDO
qualificada, assim, os mais qualificados ganhavam mais, porém a renda per capita cresceu
indicando que pelo menos em parte todos se beneficiaram do crescimento do período;
a intensificação da modernização agrícola criou grande demanda para o setor indus‑
trial porque ampliou a demanda de máquinas, implementos agrícolas, fertilizantes,
herbicidas, pesticidas etc.
A partir de 1973 os choques do petróleo (1972 e 1979 1) levam a uma crise mundial. Os
países OPEP eram responsáveis por 60% das exportações do petróleo mundial. A receita dos
países OPEP cresce de U$ 25 bi em 1973 para U$80 bi em 1974. A dívida dos países indus‑
trializados chega a U$11,5 bi e dos países subdesenvolvidos, a U$39,8 bi. O período coincide
com o fim do Sistema Bretton Woods, que visava estabilizar a taxa de câmbio mundial pelas
reservas em dólares de cada país. Os países resolveram adotar políticas de contenção da de‑
manda para evitar crescer e, assim, reduzirem seu endividamento.
No Brasil o rápido crescimento ocorrido na época do Milagre Econômico esgotou a capa‑
cidade instalada e gerou pressões inflacionárias. Além disso, a pressão da demanda aumentou
as importações de máquinas, equipamentos e petróleo, e a queda das exportações contribuiu
para aumentar o déficit em transações. Este déficit foi financiado em parte pelas reservas e em
parte pela entrada de recursos externos.
Em 1974 faz‑se uma opção por uma via alternativa: o II PND. A ideia era investir para
aumentar a capacidade de produção, promovendo a adequação da estrutura de produção. A
lógica do plano era de que, quando completado o ajuste estrutural, isto é, quando produzís‑
semos no país a maioria dos bens importados, a dependência externa se reduziria.
As empresas estatais gerariam a demanda derivada para que os empresários ampliassem
os investimentos no setor de bens de capital. A meta era que o PIB crescesse 10% e a indús‑
tria, 12%. No período registram‑se a construção da Usina Hidroelétrica de Itaipu, Carajás e a
intensificação na geração de produtos intermediários
(aço, alumínio, ferro etc.) e petróleo.
Assim, o Estado ofereceu a demanda, o finan‑
ciamento, os incentivos fiscais e garantiu reserva de
mercado para as empresas. O PIB cresceu anualmente
Links
6,5% em média e a indústria 5% entre 1974‑1979. Você pode ler mais sobre o processo
No final dos anos 70 o país ingressa numa nova da dívida externa brasileira no link:
crise devido a um novo choque do petróleo de 1979.
Neste período a maior parte do petróleo do Brasil era <arquivos.unama.br/nead/gol/gol_
importada e, com a elevação dos juros internacionais, adm_6mod/analise_conjuntura_na
houve acúmulo de déficits no Balanço de pagamentos
e o país recorreu ao FMI para conseguir os dólares e cional/pdf/aula05.pdf>.

1 Em 1973, tivemos o primeiro choque do petróleo. O preço do barril passou de US$ 3,29 em 1973 para
US$ 11,58 em 1974, subindo gradualmente até US$ 13,60 em 1978. Em 1979 tivemos o segundo choque do
petróleo e o preço do barril aumentou de US$ 13,60 para US$ 30,03, atingindo US$ 35,69, em 1980.
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142 ECONOMIA dO SETOR PúblICO

quitar suas contas no exterior. A dívida externa brasileira saltou de 17 bilhões de dólares em
1974 para 49 bilhões em 1979.
Internamente verifica‑se a deterioração da capacidade fiscal do estado devido à redução da
arrecadação, aumento dos gastos com juros, gastos para cobrir déficits das estatais. O déficit
das estatais era explicado porque o governo realizava política de contenção tarifária nos preços
da água, luz, energia e combustíveis como forma de controlar a inflação. Logo, isto reduzia a
arrecadação das estatais e, como os gastos delas não se reduziam, o rombo aumentava.
Na tentativa de combater a crise e a inflação, aumenta o crédito para o setor agrícola a
fim de ampliar a produção de alimentos, aumenta os salários e adota a inflação corretiva para
as tarifas. Os resultados foram: aceleração da inflação que chega a 100% no final de 1979,
aumento da dívida externa, aumento da especulação (estoques e antecipação de importações).
A crise da dívida externa se configura pela escassez de divisas para pagar a importações.
Para contorná‑la promove‑se o ajustamento com cortes nos gastos. Mesmo assim, o país re‑
corre ao FMI, que impõe uma política de ajuste externo no qual o país, para superar a crise,
deveria exportar mais gerando um superávit comercial, conseguindo, desta forma, os recursos
necessários para pagar a dívida.
Além desta medida outras propostas do FMI foram: aumento de juros, redução salarial,
redução do gasto público, desvalorização cambial, redução na importação de petróleo, au‑
mentando artificialmente a competitividade nacional (com desvalorização, tarifas públicas e
subsídios). Todas estas medidas tinham como objetivo reduzir a demanda agregada. Obteve êxito
na balança comercial, as importações caíram devido à recessão e as exportações cresceram.
Por outro lado, a inflação voltou mais forte e houve queda da renda per capita.
Ocorre que o processo de geração de superávits para pagar a dívida incorria no problema
interno do ajuste externo. Ele acontece porque a entrada de divisas das exportações pertence
à iniciativa privada e a dívida externa é 80% do setor público que precisa destas divisas para
pagá‑la. O governo poderia obter recursos para comprar as divisas de três formas: ele poderia
emitir moeda, o que gera inflação; poderia obter superávits fiscais, porém a arrecadação caiu
e os gastos do governo eram engessados; ou poderia emitir dívida interna. Optou pela última
por ser uma via não inflacionária e possível para o momento.
A economia entra em crise e em 1981 registra queda no PIB de ‑4,5%; o mesmo ocorre
em 1983, com queda de ‑3,5%. A inflação salta de 95% para 211% no mesmo período. Foi
gerado um processo chamado de estaginflação, quando, mesmo sem crescimento econômico,
continua‑se a ter inflação elevada, conforme podemos observar no Gráfico 5.1.

Gráfico 5.1 Evolução do IGP-DI e do PIB no Brasil de 1968-1985


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Economia brasileira e Sistema Financeiro Nacional 143

1.3 O combate à inflação e os planos econômicos


Tornou‑se urgente controlar a inflação e colocar o país no rumo do crescimento. Assim, no
Brasil o combate à inflação aparece no desenho dos diferentes planos de estabilização, pós 1986:
Durante o Governo Sarney tivemos três planos econômicos: Plano Cruzado (1986), Plano
Bresser (1987), Plano Verão (1989). Neste período o diagnóstico é de inflação inercial. As
principais medidas adotadas foram:
Muda a moeda de cruzeiro para cruzado (Cr$ 1.000 = Cz$ 1,00);
Congelamento de preços e salários;
Cria o seguro‑desemprego;
Cria o gatilho salarial que na prática significava que ocorreria reajuste automático de
salários cada vez que a inflação atingisse 20%;
Decreta a moratória e suspende o pagamento da dívida externa em 1987.
As medidas tinham por objetivo eliminar a memória inflacionária. No Plano Cruzado o
congelamento durou muito tempo e logo surgiram formas de driblá‑lo com ágio 2 e produtos
maquiados3. Quando o problema de falta de produtos no mercado chegou ao auge, os preços
voltaram a subir. Na tentativa de controlar a inflação o governo lançou um novo plano.
No Plano Bresser eliminou o gatilho salarial, que era uma fonte de indexação da economia,
e elevou as tarifas públicas. O plano previa o fim do congelamento em três meses. No descon‑
gelamento as reposições salariais do funcionalismo se espalharam para os demais setores, e
logo voltou‑se a ter a reindexação. Outra pressão inflacionária foi o aumento do gasto público
e das transferências aos Estados e municípios e as empresas estatais.
Com o retorno da inflação lançou‑se o Plano Verão, o ministro Mailson da Nóbrega
informou que não haveria nenhuma mágica — contenção da aceleração inflacionária seria
por meio do controle da demanda agregada (DA) e congelamento de preços. O controle DA
seria feito com aumento dos juros e redução do déficit público. No Plano Verão nova troca
de moeda para cruzado novo (NCz$ 1,00 = Cz$ 1.000,00) e o governo inicia um processo de
privatização das estatais com a venda de 18 empresas. As incertezas políticas do período, que
também contribuíram para elevar a inflação, ficam por conta do processo de redemocratização
do país, devido a eleições diretas para governadores e senado (1986) e a Constituinte (1988).
Assim, ao fim do Governo Sarney havia um desajuste fiscal e descontrole monetário. O
descontrole das contas públicas levou a aumento do déficit operacional. O governo se financiou
por meio do endividamento interno crescente, prazos mais curtos, taxas de juros e liquidez
crescentes. No final a inflação chegou a 40% a.m. e ficava para o novo governo a tarefa de
implementar uma nova estratégia para controlar a inflação.
Durante o Governo Collor, foi implementado o Plano Collor que teve duas fases: o Collor
I (1990) e o Collor II (1991). Neste período o diagnóstico era de inflação de demanda, e suas
principais medidas foram:
Confisco de 50% dos depósitos a vista e 80% dos depósitos a prazo, isto é, segurou
nos bancos o dinheiro dos clientes colocando limite máximo para movimentação dos
recursos até o final do confisco, como forma de reduzir a liquidez da economia;
Troca de moeda com a volta o cruzeiro sem o corte de zeros da moeda (NCz$ 1,00 =
Cr$ 1,00);
Congelamento de preços;

2 Os agentes combinavam pagar por fora acima dos preços de tabela para poder obter os produtos. Foi muito
comum com os automóveis: quando o agente pagava a mais pelo bem, logo recebia o automóvel, quando não,
ficava numa lista de espera aguardando sem prazo determinado para entrega do automóvel.
3 Como não podiam aumentar os preços, as empresas lançavam outros produtos com as mesmas características
trocando o nome e a embalagem. desta forma os novos produtos que chegavam ao mercado não tinham seus
preços em tabelas anteriores, e as empresas o colocavam no mercado com preço mais alto que o similar que
existia e que estava tabelado.
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144 ECONOMIA dO SETOR PúblICO

Fim da indexação dos salários;


Adoção do câmbio flutuante;
Início da abertura comercial com uma redução média das tarifas de importação de 40%
para 20%, aumentando a concorrência interna entre produtos nacionais e importados.
Pode‑se dizer que o aumento dos preços permitido através da aplicação dos índices de
inflação para reajustar os preços continuou (inflação inercial). Com a elevação da inflação, a
situação se agrava e vem o fim do plano.
Uma medida de destaque no governo Collor foi a abertura comercial. Seria uma medida que
ajudaria a combater a inflação nos anos seguintes, pois quando os preços internos fossem maiores
que os externos compensaria importar os produtos. Assim, a inflação em 1994 era de 1.476%
a.a., chegando ao final do governo Collor em 480% em 1991. Em 1992 ocorre o impeachment
do presidente e assume Itamar Franco; ao final de 1993 a inflação chega ao auge de 2.708% a.a.
Pode‑se concluir que o elemento fundamental destes planos é o entendimento de que o
processo inflacionário no Brasil alimenta‑se da indexação (inflação inercial) e que por isso
utilizavam‑se de medidas de congelamento de preços e salários (componente heterodoxo)
para combatê‑la. Ao longo do período (1986‑93) verificaram‑se oscilações na inflação e no
nível de crescimento econômico. Destaca‑se ainda que a economia, fechada até 1989, era
considerada um empecilho a mais no combate à inflação, situação que começou a ser revertida
com a abertura comercial, seguida da abertura financeira que prosseguiu nos anos seguintes.
Podemos ver no Gráfico 5.2 a evolução da inflação logo após a implantação do Plano
Cruzado e dos demais planos econômicos. O que se percebe é que na medida em que novos
planos eram implantados, depois do Plano Cruzado, os agentes se preveniam contra futuros
congelamentos na economia. Assim, antevendo a possibilidade de novos planos econômicos
os agentes já se antecipavam elevando os preços. Portanto, graficamente percebemos que
no início de cada novo plano a inflação fazia um pico, elevando‑se ao máximo e, depois da
implantação, fazia um vale caindo abruptamente. Depois de algum tempo de início do plano
ela retomava sua trajetória ascendente, e isto foi verdade até a implantação do Plano Real.

Gráfico 5.2 Inflação medida pelo IGP-DI de jan. 1985 a dez. 1994

Até aqui estudamos os acontecimentos da economia brasileira que preparam o caminho


para as grandes transformações da economia. Uma delas, talvez a mais perceptível, seja a mu-
dança de foco do objetivo de política econômica. Nos primeiros anos havia uma preocupação
com a construção e fortalecimento da economia, como vimos no período até o milagre eco‑
nômico. Já nos anos 1980 a elevação da inflação colocou em destaque os planos econômicos
que identificavam a inflação com um forte componente inercial e incluíam em suas medidas
os congelamentos e tabelamentos como medida essencial para conter a inércia. E, por fim,
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E c o n o m i a b r a s i l e i r a e S i s t e m a F i n a n c e i r o N a c i o n a l   145

no governo Collor a abertura da economia surge como medida que modifica o panorama da
economia, pois aumenta a concorrência no mercado interno.
Já no governo Itamar era possível ver as pressões que se puseram sobre o setor industrial,
acusado de ser atrasado e ter excesso de proteção, fazendo surgir a política industrial que é o
pré-requisito importante para a implantação do Plano Real. Neste sentido, convido-o a fazer
a leitura da Seção 2, na qual o foco será o estudo do Plano Real.
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146  E C O N O M I A d O S E T O R P ú b l ico

  Seção 2  O Brasil nos anos de 1990


Neste momento a economia mundial enfrentava o dilema sobre qual Estado queriam ter,
qual objetivo de política econômica seguir e como fazer para alcançá-la. A partir das repostas a
estas questões seria definido o papel dos demais agentes, entre eles trabalhadores e empresas.
Assim, o movimento de reestruturação das economias irá ditar o rumo das novas políticas de
combate à inflação. Nesta seção você vai estudar as diferentes visões do estado, o Plano Real
e sua implantação e desenvolvimento até a atualidade.

2.1 A
 s diferentes visões sobre o papel do Estado na
economia
Segundo Pochmann (1999) e Dedecca (1999), são duas as principais correntes de formu‑
ladores de políticas econômicas que dominam a economia mundial: a social-democracia e
a neoclássica. Cada uma destas correntes tem argumentos diferentes na defesa de políticas
voltadas à geração de emprego.
Segundo Pochmann (1996, p. 518), a divergência entre estes dois grupos tem origem no
foco de análise adotado, ou seja, “o entendimento do emprego como expressão do funcio‑
namento restrito do mercado de trabalho ou a compreensão mais geral de que o emprego
representa uma variável subordinada do processo de acumulação de capital”. Enquanto para
a primeira, denominada visão neoclássica, o mercado de trabalho surge enquanto instituição
onde se concentram trabalhadores e empresários ofertando e demandando força de trabalho,
na segunda, denominada visão social-democrata, a relação desigual de forças, entre os que
só têm sua força de trabalho para vender e os que detêm o capital muitas vezes colocou o
Estado, através do direito do trabalho, enquanto mediador de interesses.
Estas concepções delimitam as possibilidades de enfrentamento dos problemas do mercado
de trabalho nas economias, e suas concepções sobre o papel do estado, dos sindicatos, das
políticas de bem-estar social e de emprego estão delimitadas na Tabela 5.3.

Tabela 5.3  As concepções social-democrata e neoliberal de políticas voltadas para


o pleno emprego

Itens Social-democrata (histórica) Neoliberal (recente)


Pleno emprego Políticas sociais e econômicas comprometidas Políticas econômicas comprometidas
com o pleno emprego, por meio do cresci‑ com o equilíbrio das contas públicas,
mento da ampliação do gasto público e da regulação do crédito e desregulação do
regulação do mercado mercado de trabalho
Finalidade do Garantir aos trabalhadores o acesso ao status Garantir a prevalescência dos interes‑
Pleno emprego da universalidade, tendo cada pessoa o direito ses individuais, tendo na concorrência
ao trabalho, patrocinado pela existência de o princípio da eliminação de empregos
empregos com salários adequados ou pela e empresas menos capazes, pois a
garantia de renda, por meio de política social, capacidade de cada um é que define
que contribui para transformá-las em consu‑ o acesso à cidadania e à condição de
midores e cidadãos (segurança de emprego e consumidor, predominando a insegu‑
renda) rança na renda e no emprego. Quanto
mais livre o funcionamento do mer‑
cado de trabalho, mais fácil o alcance
ao pleno emprego
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E c o n o m i a b r a s i l e i r a e S i s t e m a F i n a n c e i r o N a c i o n a l   147

Papel do Estado O estado deve se fazer presente em todas as O Estado deve deter a menor participa‑
oportunidades que devem favorecer a constru‑ ção possível no excedente econômico,
ção de uma sociedade menos desigual, como com sistema tributário proporcional e
forma de corrigir as distorções do mercado, maior espaço para as decisões privadas
aumentando, quando necessária, a partici‑
pação no excedente econômico (tributação
progressiva)
Estado de bem‑ A definição e construção do Estado de bem‑ As áreas sociais devem-se limitar ao
-estar social -estar social é importante, não apenas devido contexto da seletividade e focalização,
a sua capacidade de geração de empregos nos paralela ao setor privado e direcio‑
setor de serviço (saúde, educação, serviços pri‑ nada exclusivamente para as parcelas
vados), mas como forma de alcançar padrões minoritárias
mais homogêneos de consumo
Políticas sociais A ampliação das políticas de garantias de mí‑ A diminuição dos benéficos públi‑
nimos de renda (seguro-desemprego vinculado cos e a criação de mecanismos de
ao programa de treinamento; subsídios para garantia de renda com menor valor
formação e treinamento da mão de obra) possível para segmentos mais jovens
do mercado de trabalho, objetivando
estimular a aceitação de emprego
com salários menores, se necessários,
promovendo ocupações em pequenos
negócios (autoemprego)
Papel dos sindi‑ O sindicato aumenta seu poder de força O sindicato possui papel reduzido,
catos quando há relações democráticas de trabalho, mais orientado para definição de
maior presença no local de trabalho, contrata‑ reivindicações dos trabalhadores por
ção coletiva centralizada e pleno emprego. O empresa, permitindo que os salários e
fortalecimento do sindicato é condição neces‑ a jornada de trabalho estejam associa‑
sária para maior representação dos interesses dos à produtividade e às oscilações da
dos trabalhadores economia
Mercado de A defesa de mecanismos institucionais, O mercado de trabalho deve ser a
trabalho regulados para a constituição de um mercado expressão da relação entre oferta e
de trabalho estruturado, com menos formas demanda de mão de obra, permitindo
heterogêneas possíveis de ocupação e renda formas heterogêneas de ocupação e
menores salários de acordo com a
produtividade das empresas
As relações de As restrições administrativas e econômicas A flexibilização dos contratos de
trabalho para as demissões e esforços de ampliação dos trabalho é necessária para adequar o
contratos de longa duração custo da mão de obra às oscilações
do mercado, com baixas restrições
econômicas e administrativas nos casos
de demissões

Fonte: Adaptado de Pochmann (1998)

O diagnóstico do desemprego para os neoliberais associa-se às variáveis endógenas do


mercado de trabalho. Assim, rigidez dos contratos de trabalho, baixa qualificação do trabalha‑
dor, excesso de proteção social têm sido responsáveis pelo menor nível de emprego. Ao mesmo
tempo que a ausência de ampla liberdade comercial seria responsável pelo reduzidos níveis
de crescimento econômico. Para estes o comércio exterior e as novas tecnologias são cenários
dados, pois as tecnologias poupadoras de mão de obra implicam em uma inexorabilidade do
desemprego e o livre comércio exterior atenuador do desemprego.
A ampliação do livre comércio permitiria aumentar a produção e retomar o crescimento
econômico, e com ele recuperar o nível de emprego nos países centrais exportadores de bens
intensivos em tecnolgia e importadores de bens intensivos em recursos naturais e mão de
obra. Ao mesmo tempo as economias periféricas se beneficiariam recebendo novas empresas
que, por serem intensivas em mão de obra, permitiriam ampliar os níveis de emprego nestas
economias. Desta forma o livre mercado seria benéfico para ambos os países.
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Assim, “o pleno emprego é concebido como uma resultante do fortalecimento das forças da
concorrência, da abertura comercial e da estabilidade monetária” (POCHMANN, 1998, p. 224).
Enquanto o fortalecimento da concorrência seleciona os mais competitivos, em preço e qualidade,
os produtores ineficientes se direcionam para outras atividades onde conseguem empregar melhor
sua capacidade produtiva. A abertura comercial amplia o mercado e ao mesmo tempo intensifica
a concorrência, ocorrendo uma nova seleção das atividades mais competitivas no comércio mun‑
dial. A estabilidade monetária é importante para evitar as distorções nos preços relativos mundiais,
como ocorreria com desvalorizações que poderiam proteger produtores ineficientes e vice-versa.
A segunda abordagem apresenta como principal determinante do desemprego atual o
processo de acumulação de capital cuja globalização e as novas tecnologias são reflexos mais
visíveis. As novas tecnologias têm como objetivo elevar a produtividade e reduzir a incorpo‑
ração de trabalho vivo na produção que provocam transformações qualitativas (mudança na
divisão técnica do trabalho, da organização do trabalho, das qualificações) e redistribuição
setorial do emprego (nascimento, expansão e declínio das atividades econômicas) em vez de
provocar o desaparecimento do trabalho (MATTOSO; POCHMANN, 1998). Já o movimento
de globalização econômica, ao ampliar as possibilidades de rentabilidade do capital, provoca
mudança na dinâmica da concorrência intercapitalista, pois a lógica de avaliação dos mercados
não se processa somente na esfera produtiva fazendo com que “[...] a avaliação do mercado de
bens ocorra em função da valorização do capital e dos macropreços, principalmente câmbio e
juros... privilegiando o caráter patrimonialista-financeiro do que o produtivo” (POCHMANN,
1996, p. 529, grifo nosso).
Portanto, num mundo globalizado, as pressões por maior liberdade nos mercados de
bens e serviços com restrições para a mobilidade da mão de obra ao mesmo tempo limitam a
ação dos Estados Nacionais e deixam como herança para estes a solução para o problema do
emprego no capitalismo contemporâneo (MATTOSO; POCHMANN, 1998). Limitam porque
exigem desses países um equilíbrio externo através do Balanço de Pagamento e interno através
do controle das contas públicas, ao mesmo tempo que desconhece as realidades históricas de
dependência e subdesenvolvimento.
A obtenção destes equilíbrios, através da adoção de políticas neoliberais (os países que
têm déficits devem praticar contenção de demanda a qualquer custo inclusive com elevação
de juros), tem se mostrado amplamente perversa para as economias em desenvolvimento, re‑
dundado em baixas taxas de crescimento e altos níveis de desemprego (POCHMANN, 1998).
Nesta visão as análises centradas nas variáveis endógenas do mercado de trabalho não
conseguem dar conta da atual natureza do desemprego, pois as variáveis exógenas têm ocasio‑
nado impacto significativos sobre a produção e o emprego. Embora entendam que no processo
de acumulação capitalista o desemprego não possa ser considerado uma novidade, de fato “o
emprego seria uma variável dependente da reação da sociedade (trabalhadores, empresários e
governo) frente ao fenômeno histórico da subutilização do trabalho” (POCHAMNN, 1999, p.
108, grifo do autor), defendem que “a utilização efetiva das forças produtivas seria resultado
de um compromisso político estabelecido pelos principais atores sociais” (POCHAMNN, 1999,
p. 108). Foi este compromisso que prevaleceu durante os trinta anos de ouro do capitalismo
cujos incrementos da demanda agregada foram benéficos tanto para o capital como para o
emprego nas economias avançadas.
Segundo Dedecca (1999), outro ângulo do debate sobre a delimitação da quantidade e da
qualidade do emprego no capitalismo contemporâneo centra-se nas formas de obtenção de
maior eficiência, ou seja, como elevar a produtividade e competitividade das empresas que
atuam em uma determinada economia. Entendendo-se produtividade como “a maior produção
física obtida numa unidade de tempo (hora, dia, ano) por um dos fatores empregados na produ‑
ção (terra, trabalho, capital)” (SANDRONI, 1994, p. 286, grifo do autor) e por competitividade
“a capacidade da empresa formular e implementar estratégias concorrenciais, que lhe permitam
ampliar ou conservar, de forma duradoura, uma posição sustentável no mercado” (FERRAZ et
al., 1997, p. 3). Assim o elemento básico de análise é a empresa individual, e partindo deste
ponto observam-se divergências entre os defensores da eficiência microeconômica e da ma‑
croeconômica, as quais serão resumidamente delineadas nas próximas linhas.
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E c o n o m i a b r a s i l e i r a e S i s t e m a F i n a n c e i r o N a c i o n a l   149

De acordo com Dedecca (1999), a política macroeconômica quando fundamenta-se na


eficiência microeconômica deixa a cargo do mercado a reestruturação industrial. É através da
exposição sistemática à concorrência que a indústria se torna mais competitiva, buscando con‑
quistar sempre maiores níveis de produtividade. O principal motivo para esta busca incessante
reside no fato de a empresa, através de seus métodos individuais, ter que superar os problemas
decorrentes de um ambiente externo adverso à empresa (baixo crescimento, valorização da
moeda, escassez de fontes de financiamento, deficiência de infraestrutura etc.).
Cabe ao Estado propiciar as reformas necessárias para a desobstrução dos canais de
informação das empresas através das privatizações, abertura econômica, desregulação dos
mercados e promoção da estabilidade monetária de forma que somente as atividades mais
competitivas tenham condições de sobreviver, sendo que as atividades não competitivas devem
ser substituídas por outras com maior produtividade e mais promissoras no comércio mundial.
Num novo quadro concorrencial gerado pela política macroeconômica ocorreriam os
círculos virtuosos do crescimento, de tal forma que “abertura comercial/importação de bens
de capital/aumento do investimento direto nos setores exportadores/aumento da competitivi‑
dade das exportações/reequilíbrio em um patamar mais elevado de dinâmico do intercâmbio
comercial” (TAVARES, 1997a, p. 9), com o consequente aquecimento da economia interna
elevando a produção e o emprego. Assim, a política macroeconômica e industrial assumem
um papel secundário no processo de reestruturação produtiva, pois mais importante são as
estratégias individuais. Enquanto a política macro deve se ocupar da manutenção dos equi‑
líbrios externo e interno, zelando pela estabilidade monetária, a política industrial realiza-se
através de atividades pontuais visando apenas ao fortalecimento de segmentos específicos e
restritos à indústria (stricto sensu).
A maior eficiência da empresa maximizadora, expressa pela produtividade, permitirá redu‑
zir seus custos e consequentemente seus preços, dando-lhe poder de competição. A empresa,
ao promover a reorganização interna da base produtiva, seria “a fonte de recomposição da
eficiência da economia nacional” (DEDECCA, 1999, p. 17).
No que se refere à visão macro a eficiência “tem como fonte principal os determinantes
macroeconômicos (taxa de juros, crescimento, financiamento,...) que potencializa as vantagens
microeconômicas construídas no interior das empresas” (DEDECCA, 1999, p. 17, grifo do autor).
Neste foco ocorre a percepção de que as estratégias das firmas resultam da reação à percepção
que estas têm do ambiente econômico e que este pode ser moldado, ampliando então tanto o
papel da política macroeconômica quanto industrial na construção deste ambiente.
A articulação entre empresas, governo e consumidores visa abrir e aprofundar a estru‑
tura do tecido industrial dando-lhe maior consistência. Nesta visão a política industrial tem
como objetivo cobrir as rupturas da cadeia produtiva (falta de tecnologia, fornecedores etc.),
intensificando os laços de cooperação entre os agentes econômicos de forma a beneficiar os
vínculos inter e intrafirma dentro das fronteiras nacionais transmitindo qualidade, produtivi‑
dade e progresso técnico ao longo da cadeia produtiva, ou seja, fortalecer o encadeamento
produtivo local (lato sensu) (COUTINHO; FERRAZ, 1994).
Assim, segundo Dedecca (1999), a eficiência conquistada no âmbito macro, pela formação
de um ambiente econômico propício à produção, tanto contribui para redução dos custos in‑
ternos da empresa (através da criação de externalidades positivas) quanto promove crescimento
e desenvolvimento industrial (ampliação e aprofundamento do parque produtivo nacional),
minorando a tendência ao desemprego estrutural da indústria. Logo, a articulação de política
industrial em sentido horizontal e vertical em harmonia com as políticas macroeconômicas e
demais políticas auxiliares (financiamento, infraestrututura, renda, educacional) permitem um
desdobramento e aprofundamento do tecido industrial.
Segundo Suzigan (1996) este seria o escopo e abrangência de uma política industrial lato
sensu, ou seja, que se propõe a resolver os problemas da dinâmica industrial (crescimento,
estrutura, capacitação etc.) com programas e políticas que não se restrinjam unicamente ao
setor industrial.
Nesta ótica a produtividade é apenas um dos indicadores4 de eficiência. Se entendermos
que o desempenho industrial pode ser medido por variáveis como PIB industrial, produtividade,
competitividade, estaremos medindo variáveis que representam o ex post, ou seja, os resultados

4 Conforme destacado por Grassi (1997, p. 9).


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150  E C O N O M I A d O S E T O R P ú b l ico

obtidos de medidas e programas adotados por uma economia. Então a política industrial assume
papel relevante no ex ante tendo como finalidade a promoção do desenvolvimento industrial.
Também a maior competitividade é um dos objetivos da política industrial, cujo objetivo geral
é promover o desenvolvimento industrial 5 através da ampliação e aprofundamento do tecido
industrial, cujos reflexos se estenderiam para além da estrutura industrial do país.
Segundo Dedecca (1999), Coutinho (1998), Mattoso e Pochmann (1998) e Tavares (1997b),
a economia brasileira tem sido conduzida nesta década pelas políticas neoliberais privilegiando
um padrão de eficiência microeconômica.
O objetivo é reduzir o tamanho do estado e promover o aumento da competitividade,
entendida como a capacidade da empresa nacional de produzir com preços e condições iguais
a qualquer empresa do resto do mundo. Esta nova visão abre espaço para a iniciativa privada
e também acirra a concorrência entre o capital nacional e o estrangeiro. É neste contexto que
se desenha a nova política industrial brasileira.
Desta forma, a nova política industrial tem como objetivo promover a modernização indus‑
trial a qualquer custo. A exposição sistemática à concorrência, através da política de “integração
competitiva”, pretendia promover a superação do isolamento e do atraso da indústria local,
tão acostumada à proteção proporcionada pelo auxílio do Estado e pelo mercado fechado
nos anos anteriores. Os mecanismos e as estratégias para colocar em prática este processo de
integração são descritos nos seguintes termos:
As políticas propostas para atingir a integração constituíam uma
reviravolta em relação às implementadas no período desenvolvi‑
mentista: abertura comercial, eliminação de subsídios, flexibiliza‑
ção de normas para o capital estrangeiro e privatização do setor
produtivo estatal. Era fundamental prover a competitividade através
dos mecanismos de mercado. No lugar de políticas setoriais, de‑
veriam ser implementadas políticas horizontais, que estimulassem
simultaneamente todos os setores da indústria a produzir em con‑
dições de preços e qualidade compatíveis com o mercado mundial
(LAPLANE, 1997, p. 83).
Assim, toda a lógica da definição de política macroeconômica e industrial volta-se para a
redução do papel do Estado e a ampliação dos espaços de mercado para a iniciativa privada,
recolocando a concorrência entre os agentes privados internos e externos como forma de
garantir maior eficiência econômica.
Segundo o Governo, o processo de privatização constituía-se num importante instrumento
de modernização. Em primeiro lugar, a privatização permitiria reduzir o déficit público, oriundo
em parte da utilização das empresas estatais como instrumento de controle da inflação e como
fonte de captação de recursos nas décadas anteriores. Em segundo lugar, porque as estatais
estavam sucateadas tecnologicamente, necessitando de novos investimentos que, caso não
fossem realizados, implicariam em sérios problemas infraestruturais (BAER, 1996). Em terceiro
lugar, porque a privatização abriria novos espaços no mercado para a iniciativa privada, e
estas novas oportunidades de negócios atrairiam investidores estrangeiros e, pós-privatização,
intensificariam a concorrência no mercado interno (GONÇALVES, 1998).
Somente no período de 1991-93, 22 empresas foram privatizadas nos segmentos básicos
(aço, petroquímica e fertilizantes), e dentre elas destacam-se com suas referidas receitas de
vendas: Usiminas, com US$ 1.419 milhões; Petroflex, US$ 234 milhões; Cia Siderúrgica Tuba‑
rão, US$ 347 milhões; Fostertil, US$ 222 milhões; Acesita, US$ 465 milhões; CSN, US$ 1.317
milhões; Açominas, US$ 555 milhões; Cosipa, US$ 331 milhões. No total a arrecadação com
as vendas do período somaram US$ 6.376 bilhões (BAER, 1996, p. 273). Destaca-se ainda
que a despeito de qualquer argumento favorável à privatização, foram privatizados segmentos
dinâmicos e rentáveis e, portanto, mais atraentes ao capital estrangeiro.
No contexto da nova política industrial, a abertura comercial e a redução do papel do
Estado na economia teriam um duplo efeito sobre a estrutura produtiva “explicitar as vanta‑
gens/desvantagens comparativas do nosso segmento produtivo e de viabilizar a ampliação

5 Conforme observado por Gonçalves (1998 p. 2).


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Economia brasileira e Sistema Financeiro Nacional 151

dos seus níveis de competitividade, por maior acesso a bens, serviços, capitais e tecnologias
importados” (GONÇALVES, 1998, p. 1).

2.2 O Plano Real


2.2.1 Os primeiros anos
Assim, é num cenário de abertura comercial com a configuração de uma nova política
industrial que:
No final de 1993, começou a ser implementado o mais engenhoso
plano de combate à inflação já utilizado no país. Após uma série
de tentativas fracassadas de planos heterodoxos, ocorridas nos
anos 80 e início de 90, o Plano Real conseguiu reduzir a inflação
e mantê‑la sob controle durante longo período de tempo, pelo
menos até o momento (GREMAUD; VASCONCELLOS; TONETO
JÚNIOR, 2004, p. 467).
O Plano Real partiu do diagnóstico de que a in‑
flação brasileira possuía um forte caráter inercial. Para
tanto o Plano Real foi implementado em três fases:
ajuste fiscal, Para saber mais
urvização ou indexação completa da economia
— Unidade Real de Valor (URV) e, Para entender melhor os des-
reforma monetária — transformação da URV dobramentos do Plano Real você
em R$ (BRUM, 1999; GREMAUD, 1996).
O ajuste fiscal teve por base o rearranjo entre
deve ler o capítulo 12, “Brasil: eco-
receitas e despesas. A proposta de redução dos gastos nomia e sociedade”, do livro de
foi feita com um corte nos investimentos, no pessoal e
MENDES, Judas Tadeu Grassi. Eco-
no orçamento das empresas estatais de US$ 7 bilhões
em 1994 (BAER, 1996, p. 380). nomia: fundamentos e aplicações.
Como fonte de receitas adicionais criou‑se o Fundo São Paulo: Pearson Prentice-Hall,
Social de Emergência, que constituiu‑se na retenção
de 15% de todos os impostos arrecadados. Criou‑se 2004. O livro está disponível na
também o Imposto Provisório sobre Movimentação Biblioteca Digital Pearson.
Financeira (IPMF) com alíquota inicial de 0,25% sobre
as movimentações financeiras, o qual transformou‑se na
Contribuição sobre Movimentação Financeira (CPMF)
tendo sua alíquota se elevado para 0,38% em 1999.
Tratou‑se, na verdade, de uma forma de contornar o déficit público e não de controlá‑lo,
uma vez que propiciou ganhos líquidos de recursos. Os ganhos surgiram devido a um aumento
da arrecadação e não porque tivesse ocorrido uma redução expressiva dos gastos (dEPARTA-
MENTO INTERSINdICAl dE ESTATÍSTICA E ESTUdOS SOCIOECONÔMICOS, 1998).
A Unidade Real de Valor (URV) exercia a função de unidade de conta, isto é, uma forma
indexada de moeda, cujo objetivo era promover o alinhamento dos preços relativos. Esperava‑se
que ela fosse capaz de “acomodar a participação dos diversos agentes na renda eliminando o
conflito distributivo” (GREMAUD, 1996, p. 230). Sua adoção seguiu regras distintas. A urviza‑
ção de preços de bens e serviços ficou a critério do mercado. Porém, a conversão de salários
e benefícios previdenciários em URV’s foi compulsória.
Como consequência, o mercado teve mais tempo para reajustar os preços dos bens e
serviços antes de transformá‑los em URV’s, conseguindo repor qualquer resíduo inflacionário.
Porém, para os salários a situação foi diferente. O salário‑mínimo, por exemplo, foi fixado em
64,79 URV’s, sofrendo reajustes anuais fixados pelo governo. Para os demais salários, a partir
de junho de 1995, uma medida provisória estabeleceu a livre negociação de salários proibindo
a utilização de cláusulas de reajuste pela inflação passada.
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152  E C O N O M I A d O S E T O R P ú b l ico

No Plano Real a reforma monetária constituiu-se na transformação da URV em Real (R$).


Em 1 o. de julho de 1994 entrou em vigor a nova moeda do real. Quando da conversão da URV
para R$, a situação era CR$ 2.750,00 = 1 URV = US$ 1,00 = R$ 1,00. Assim, todos os preços
em cruzeiros foram convertidos em reais, dividindo-se seu valor pelo valor da URV do dia 1 o
de julho. A expectativa era de que neste momento se romperia a inércia inflacionária, porque
todos os preços haviam se convertido em única moeda, anteriormente indexada.
Porém estas medidas, por si sós, não conseguiriam conter a ‘mentalidade inflacionária’.
O combate à inflação só seria conquistado caso não houvesse nenhum choque de preços,
nem por parte do governo nem por parte da iniciativa privada. Os agentes (públicos e priva‑
dos) deveriam ser impedidos de melhorar a distribuição de renda a seu favor. Neste contexto
a abertura comercial, o acúmulo de reservas, a valorização da moeda e o controle da base
monetária tinham papel fundamental a desempenhar.
No combate à inflação a abertura comercial e acúmulo de reservas cambiais foram duas
precondições importantes, sob as quais se apoiou o Plano Real. A primeira porque tolhia qual‑
quer aumento de preços dos produtos internos maior do que os preços externos, pois abriu a
possibilidade de substituir produtos nacionais por importados. A segunda porque dava maior
segurança tanto para as transações comerciais e financeiras como para a ancoragam da moeda
(garantia de conversibilidade das transações em moeda).
A sobrevalorização nominal da nova moeda constitui-se uma “novidade sem precedentes
na América Latina, fazendo do Real uma moeda mais forte do que o dólar” (TAVARES, 1997a,
p. 3). Enquanto nos países da América Latina o câmbio registrou uma apreciação de em média
8,1% em 1996 quando comparado a 1990, no Brasil registrou-se uma apreciação de 36% em
igual período (GONÇALVES, 1998).
Além disso, foram fixadas metas quantitativas para expansão da base monetária, para evitar
o financiamento do déficit público com emissão de moeda. A expansão foi fixada em R$9,5
bilhões até março de 1995. Para conseguir manter esta meta o governo exigiu dos bancos
um depósito compulsório de 100% sobre as novas captações. Porém, com o aquecimento da
demanda e o aporte de capital estrangeiro ocorreu um aumento na demanda por reais, e em
setembro de 1994 a meta para a base monetária foi revista e ampliada (BAER, 1996).
Com a estabilização previa-se um aquecimento da demanda. Isto ocorreu, em primeiro
lugar, porque houve aumento do poder aquisitivo devido à queda da inflação e à valorização
da moeda; em segundo lugar, porque num ambiente de estabilidade, a taxa nominal de juros
tornou-se previsível permitindo recompor os mecanismos de crédito ao consumidor.
Para conter o aquecimento da demanda o governo fixou taxas de juros reais elevadas de
em média 20% ao ano no período 1995-97. Para se ter uma ideia de como as taxas de juros
se elevaram, pode-se tomar como referência o último trimestre de 1995: enquanto a taxa de
juros médio situou-se em 19% nos países da América Latina, no Brasil elas chegaram a 63%
em igual período (GONÇALVES, 1998).
Porém, este artifício não foi suficiente para conter o aumento do consumo das famílias.
De 63% do PIB entre 1990-93 o consumo das famílias se eleva para 68% entre 1994-97. O
reflexo desta ampliação do consumo pode ser observado através do aumento das vendas de
bens duráveis. Entre 1993-96 a venda de televisores aumentou 166%, refrigeradores, 147%,
e automóveis, 42% (COUTINHO, 1998).
No entanto, a taxa de juros elevada contribuiu para atrair capitais especulativos interessados
na remuneração oferecida pelos títulos cambiais do Banco Central do Brasil (BACEN). Com o
ingresso maciço de divisas estrangeiras, o acúmulo de reservas foi suficiente para conter os
desequilíbrios do Balanço de Pagamentos com o aumento das importações.
Além da taxa de juros, outro mecanismo de captação de reservas foi as privatizações.
Somente no biênio 1995/96 o montante arrecadado pelas privatizações foram de US$ 5,1
bilhões de dólares, muito embora pouco tenha contribuído para solucionar o problema da
dívida pública interna devido ao aumento da despesa global com juros que chegou a R$ 60
bilhões no biênio 95/96 (TAVARES, 1997a). No cômputo geral, as reservas evoluíram de tal
forma que em 1993 elas somavam US$ 31 bilhões, em 1996 eram US$ 60 bilhões, em 1998,
com as crises mundiais, reduziram-se para US$ 44 bilhões (CONJUNTURA..., 1999, p. 28).
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E c o n o m i a b r a s i l e i r a e S i s t e m a F i n a n c e i r o N a c i o n a l   153

Desta forma, no Plano Real, “a reorientação e concentração de praticamente todos os


instrumentos de política econômica no combate a inflação” (GONÇALVES, 1998, p. 170)
reduziu rapidamente os índices inflacionários. Além disso, a maior exposição da indústria
brasileira à concorrência externa pressionou particularmente o preço dos produtos tradeables
que caíram rapidamente liderando o processo de desinflação (COUTINHO, 1998). Por outro
lado, a combinação de abertura-câmbio-juros a partir de 1994 tornou-se extremamente des‑
favorável à produção no país, pois sobreoneraram as exportações e dificultaram a retomada
do investimento e da produção.
Além disso, as facilidades adicionais para importações, como a antecipação da tarifa
externa comum do Mercosul em três meses, o não aproveitamento da lista de excessões e
reduções tarifárias, em segmentos considerados estratégicos para a queda dos preços, contri‑
buem para intensificar a concorrência entre produtos nacionais e importados (KUME, 1996).
Assim, a mesma combinação que permitiu reduzir rapidamente a inflação promoveu a
desproteção cambial e desestimulou os investimentos produtivos, constituiu um viés antipro‑
dução e pró-importação (COUTINHO, 1998).
A opção por uma política deliberada de importações, segundo o governo, se justifica pelo
combate à inflação e também pelo enobrecimento futuro da pauta de exportações. Isto seria
tal que, ao mesmo tempo que a concorrência entre produtos nacionais e importados puxa‑
riam os preços para baixo, o aumento das importações de bens de capital e a ampliação do
investimento direto nos setores exportadores aumentariam a competitividade das exportações.
Nota-se que há uma aposta num futuro reequilíbrio da Balança Comercial em um patamar
mais dinâmico do intercâmbio comercial, com produtos de maior valor agregado na pauta de
exportações (MALASSISE, 2000).
Ao mesmo tempo o aumento das importações é visto como benéfico do ponto de vista
das estratégias empresariais. A importação de peças e componentes permite cortar custos e
elevar a produtividade, ao passo que a importação generalizada de bens de consumo é uma
estratégia das empresas internacionais para se fixarem futuramente no mercado brasileiro.

2.2.2 Atividade econômica de 1993-1998


A forma como as políticas macroeconômicas e industrial dos anos 1990 afetaram o compor‑
tamento da atividade econômica pode ser observada através da análise de alguns indicadores
apresentados nas próximas páginas.
De modo geral, a inflação tornou-se uma grande preocupação na década, pois os suces‑
sivos choques de preços iniciados com o Plano Cruzado em 1986 não foram suficientes para
debelar de vez a inflação, que sempre retornava mais intensa. É somente a partir do Plano Real
que ela parece finalmente vencida.
Porém, pelo lado da produção, as medidas de combate à inflação implicaram a compressão
das taxas de crescimento do PIB (Tabela 5.4). Também há redução nas taxas de crescimento
setorial, sendo que a redução é mais intensa sobre o setor industrial.
Tabela 5.4  Taxas de crescimento do PIB e inflação no Brasil — 1986-98

Ano Inflação Taxa de crescimento anual do PIB real (em %)


IGP — DI Total Indústria Serviços Agropecuária
1986 65 7,51 11,70 8,1 -8,0
1987 415 3,63 0,99 3,33 14,92
1988 1037 -0,08 -2,6 2,35 0,84
1989 1782 3,2 -2,86 3,63 2,84
1990 1476 -4,3 -8,73 -1,15 -2,76
1991 480 1,03 0,26 0,34 1,37
1992 1158 -0,8 -4,21 0,3 4,89
1993 2708 4,92 7,01 1,76 -0,07
1994 1093 5,85 6,73 1,80 5,45
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1995 14,3 4,22 1,91 1,29 4,08


1996 9,3 2,8 3,28 2,27 3,11
1997 7,5 3,60 5,76 2,58 -0,17
1998 1,7 -0,12 -1,34 0,84 -0,01
Fonte: Adaptado de Conjuntura... (1999)

Quanto à composição setorial do PIB observa-se que este tem sido composto em grande
parte pelo setor serviços, responsável em média por 57% do PIB. O setor industrial tem redu‑
zido sua participação na composição setorial do PIB: em 1988 este era responsável por 38%
do PIB; em 1993 caiu para 32% (GREMAUD, 1996).
O aquecimento da demanda, provocado pela estabilização de preços e valorização da moeda,
criou dificuldades para o fechamento do Balanço de Pagamentos (Tabela 5.5). Acumularam-se
déficits comerciais que, somados aos déficits da balança de serviços, resultaram em déficit nas
transações correntes que saltou de US$ 2,2 bilhões em 1993 para US$ 35 bilhões em 1998.

Tabela 5.5  Balanço de Pagamentos do Brasil 1990-1998 (em bilhões de dólares)

Contas 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998
Saldo da Balança Comercial 11,1 10,6 15,2 13,3 10,4 -3,3 -5,5 -8,3 -6,5
Saldo da Balança de Serviços -13,7 -13,5 -11,3 -15,5 -14,7 -18,5 -21,7 -27,2 -30,3
Saldo Transações Correntes -2,6 -2,9 3,9 -2,2 -2,2 -17,9 -24,3 -33,4 -35,0
Saldo da Balança de Capitais -4,8 -4,1 25,3 10,1 14,2 29,3 33,0 25,5 15,9
Superávit/déficit -7,2 -4,7 30,0 8,4 12,9 13,4 8,6 -7,8 -17,3
Dívida Externa Bruta M e LP 102,9 123,9 135,9 145,7 119,6 129,3 142,1 163,3 210,7
Reservas Liquidez 9,9 9,4 23,7 32,2 38,8 51,8 60,1 52,2 44,5

Fonte: Adaptado de Conjuntura... (1999)

Os recursos para fechar o Balanço de Pagamentos tiveram origem nos recursos oriundos
da balança de capitais e das reservas de divisas. Porém, com o incremento das taxas de juros
que remuneravam o capital, ocorreu uma explosão da dívida externa.
O problema do endividamento externo agravou-se a partir das crises do México (1994),
Ásia (1997) e Rússia (1998) e em todas regiões cujas políticas econômicas estavam atreladas à
captação de recursos externos, colocando em dúvida a capacidade de países com este padrão
de ajuste em honrar os compromissos da dívida.
O efeito cascata que essas crises deflagraram atingiram o Brasil e obrigaram a elevações
contínuas dos juros para manter os capitais estrangeiros no país. As taxas de juros reais oscilaram
na média de 15% a.a. de 1994-98, registrando-se picos em: fevereiro (46,83%) e março (65%)
de 1995, em outubro (27%) e novembro (43%) de 1997, períodos em que eclodiram as crises
(DEPARTAMENTO INTERSINDICAL DE ESTATÍSTICA E ESTUDOS SOCIOECONÔMICOS, 1998).
Como resultado, observa-se um rápido crescimento da dívida externa de US$ 119 bilhões em
1994 para US$ 210 bilhões em 1998. Ao final do período ocorreu também a solicitação de
socorro ao FMI, firmando acordos com garantia de obtenção de superávit primário.
As importações (Gráfico 5.3) cresceram sucessivamente a partir de 1989, de um patamar
médio de 6% entre 1985-89, para 8% entre 1990-93, chegando a 10% em 1997. Em termos
de volume, estas saltaram de US$ 33 bilhões em 1994 para US$ 58 bilhões em 1998, repre‑
sentando um acréscimo de 76%.
Por outro lado, as exportações que apresentaram comportamento oscilante em torno de
12% do PIB até 1993 declinaram sistematicamente até 1997, quando atingiram um percentual
de apenas 7%. A queda no volume de exportações (medidas em percentuais do PIB) ocorreu
a partir de 1994, e no mesmo período houve expressiva valorização cambial. Da paridade de
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Economia brasileira e Sistema Financeiro Nacional 155

RS$ 1,00 por US$ 1,00 em 1994, ela evolui para RS$ 0,84 por US$ 1,00 em 1995. Ao mesmo
tempo, as exportações que em 1994 eram de US$ 43 bilhões, chegaram a US$ 51 bilhões em
1998 — um acréscimo de apenas 18%, ou seja, elas apresentaram um crescimento mais lento
do que as importações.

Gráfico 5.3 Exportações, importações e formação bruta de capital fixo (em


percentuais do PIB)

Fonte: Adaptado de Conjuntura... (1999)

A Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) situou‑se próxima a 16% do PIB, permanecendo
em patamares inferiores aos verificados em 1985. Tal taxa é considerada insuficientemente
pequena para permitir a retomada do crescimento industrial. No Sudeste Asiático, por exemplo,
essas taxas situam‑se em média em torno de 30% do PIB (GONÇALVES, 1998).
Destaca‑se também que a FBCF cresceu proporcionalmente menos do que o consumo.
Enquanto o consumo interno evolui de 79% do PIB entre 1990‑93 para 86% do PIB entre 1994‑
‑96, os percentuais da FBCF evoluíram de 14,7% para 15,9% do PIB em igual período (COU‑
TINHO, 1998). Enquanto o consumo cresce 7%, a FBCF cresce apenas 1,2%. Desta forma, os
efeitos dinamizadores do Plano Real sobre o consumo não se refletiram sobre os investimentos.
Além disso, a importação de tecnologia (marcas, patentes, transferência intrafirmas etc.), que
cresceu de US$ 30 milhões em 1994 para US$ 1,5 bilhões em 1996 (GONÇALVES, 1998), é mais
eficiente do ponto de vista tecnológico e organizacional. Segundo Coutinho (1998, p. 240) é prová‑
vel que estas importações registrem “coeficientes elevados de insumo e componentes importados e
impactos modestos sobre a geração interna de demanda por bens intermediários e sobre a criação de
empregos”. Neste caso, o crescimento econômico pode vir acompanhado de aumento das importações.
Outro movimento de destaque nos anos de 1990 foi o desempenho positivo do investimento
direto estrangeiro (IDE). Em 1993 o IDE era de US$ 0,4 bilhão, em 1998 evoluiu para US$
24,7 bilhões (BRUM, 1999). A ampliação destes investimentos parece estar atrelada ao amplo
movimento de fusões e aquisições verificados na economia. Dados de 1995 demonstram que,
de 198 transações de aquisições, fusões e joint ventures realizadas na economia brasileira, 115
operações foram realizadas por investidores estrangeiros, ou seja, foram responsáveis por 58%
das transações realizadas no ano (COMIN, 1996). Especificamente, para o período 1994‑98, os
setores que mais atraíram o IDE foram o automotriz, com 50,6% dos projetos de investimento,
eletrônico, com 19,1%, químico e farmacêutico, com 9,1%, alimentos e bebidas, com 6,4%,
cimento e gesso, 6%, embalagens, com 3,4% (COUTINHO, 1998).
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Segundo Coutinho (1998) e Tavares (1997), o IDE, considerado indutor de uma rápida
e abrangente atualização tecnológica do setor industrial, tem se concentrado na compra de
empresas nacionais (estatais e privadas) e projetos de investimentos em sua “maioria impulsio‑
nados pela expansão do mercado interno, sendo pouco expressivo o componente exportador
destes” (COUTINHO, 1998, p. 238). Segundo os autores, a maioria dos projetos de investi‑
mento concentra-se nos bens de consumo (duráveis e não duráveis), o que tem contribuído
para elevar a participação dos bens de consumo na pauta de produção interna. Se em 1985
estes produtos representavam 41% da pauta de produção, em 1999 eles passam a representar
47% do total da produção (KUPFER, 1998, p. 65).
Assim, o recurso à importação representa uma opção que “deprime ou pelo menos não
amplia proporcionalmente o volume de inversões no país, amesquinhando os efeitos dinami‑
zadores que decorreriam do aumento da escala de consumo nacional” (COUTINHO, 1998,
p. 235). Neste contexto, os efeitos dinamizadores do plano foram minados pelo recurso às
importações e, mesmo com o ingresso do IDE, não foi possível retomar os níveis de FBCF
de 1985, pois boa parte deste concentrou-se nas aquisições e fusões e, em menor parte, na
expansão ou criação de unidades produtivas e direcionadas para atender ao mercado interno.
Apesar do sucesso alcançado nestes últimos anos, no que se refere à estabilização, outros
problemas permaneceram e alguns até se agravaram. A crença de que com a estabiliza‑
ção o país iria retomar uma trajetória estável de crescimento econômico não se confirmou.
O comportamento do produto tem se verificado extremamente oscilante no período recente. O
sacrifício do crescimento na estratégia de estabilização provocou um aumento significativo do
desemprego no país. As contas externas deterioram-se ampliando a vulnerabilidade externa
da economia brasileira. O déficit público não foi corrigido, e a dívida pública assumiu uma
trajetória ascendente (GREMAUD; VASCONCELLOS; TONETO JÚNIOR, 2004).
Na prática diz-se que um dos mercados que passou por uma fase de intenso reajuste foi
o mercado de trabalho. Em parte porque com a abertura econômica ampliou-se a concorrên‑
cia, e em parte porque a política de valorização do real encareceu o custo da mão de obra
quando comparada aos demais países e ainda aumentou as importações. Para entender melhor
o mercado de trabalho nos anos 1990, convido-o a ler o texto a seguir.

Aprofundando o conhecimento
Neste momento você realizará a leitura de um material de autoria da Profa. Regina
Malassise em que discutimos o mercado de trabalho no Brasil na década de 1990 com
enfoque no impacto das políticas macroeconômicas dos primeiros anos do Plano Real.
Este material faz parte da dissertação de mestrado publicada em Malassise (2000).
Tenha uma boa leitura.

O desempenho da indústria de transformação


Diante do novo quadro concorrencial criado pela abertura econômica e pelas políticas de estabi-
lização – tarifas de importação reduzidas, câmbio valorizado, juros elevados –, as estratégias empre-
sariais voltaram-se para redução de custos, buscando melhorar o uso dos fatores existentes. As
principais medidas adotadas foram: substituição de insumos e componentes nacionais por similares
importados, troca de atividades de exportação por importação e sensível redução do quadro de pessoal
(TAVARES, 1997). Os principais resultados obtidos pelo setor industrial no período são analisados a
seguir, enquanto a análise sobre a redução do quadro de pessoal será analisada no próximo item.
A fim de maximizar individualmente os benefícios que podiam obter da relação câmbio-juros “em
vários setores as próprias empresas líderes assumiram a dianteira no processo de importação-substitutiva
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Economia brasileira e Sistema Financeiro Nacional 157

da produção local” (COUTINHO, 1998, p. 235), as empresas adotaram a substituição de matérias-primas,


peças, insumo e componentes em todos os segmentos industriais onde podiam se beneficiar das con-
dições diferenciadas de preços e de financiamento oferecidas pelos ofertantes estrangeiros*.
Neste ponto a relação câmbio valorizado e diferencial de juros (interno/ externo) foi variável
decisiva na estratégia adotada. Uma das implicações resultantes desta estratégia foi a redução do
valor agregado à produção interna. Pode-se analisar a evolução do valor agregado da indústria
tomando-se por base o valor das transformações industriais medidas em percentuais do valor bruto
da produção (gráfico 2).

Gráfico 2 Valor das Transformações Industriais em percentuais do Valor Bruto


da Produção na Indústria de Transformação (1988-97)

Se durante o período 1988-90 não observam-se mudanças neste indicador, no período 1990-93
a evolução positiva do mesmo indica que a indústria começava a reagir positivamente à abertura
econômica. Porém no período 1993-97 ocorre queda no valor das transformações industriais, regis-
trando níveis inferiores aos verificados no período 1988-90. Assim, nota-se que o setor vem reduzindo
a geração de valor agregado à produção, provavelmente fruto da incorporação de componentes
importados à produção local.
Os resultados mais imediatos do impacto das políticas macro e industrial atuais sobre a indús-
tria foram: baixo crescimento da produção industrial e aumento das importações. Enquanto a taxa
média de crescimento da indústria de transformação foi em média de 2% no período de 1990-95,
o coeficiente de importação industrial sobre a produção elevou-se de 8% em 1990 para 21,85%
em 1995.
Segundo Coutinho (1998) a invasão da economia por produtos importados nos segmentos de
bens de consumo implica em perdas de espaços para a oferta doméstica de bens finais. Nos seg-
mentos bens intermediários e de capital a substituição e supressão da produção doméstica confirmam
uma tendência a desindustrialização dos quais só vêm sendo poupados os segmentos intensivos em
recursos naturais e mão de obra.
Desagregadamente pode-se observar a evolução dos coeficientes de penetração das importa-
ções medidos sobre o percentual da produção na tabela 3. O aumento das importações ocorre em
quase todas as cadeias produtivas. Os três primeiros grupos são os mais afetados internamente pela
elevação do coeficiente de importação sobre a produção.

* Talvez por isto nota-se um significativo o crescimento do endividamento externo privado no período.
Segundo dados da Folha de São Paulo de 14/01/98, 62% da dívida externa do país pertencia ao setor
privado, ou seja, US$ 139,5 bilhões.
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As importações do setor de bens de capital e eletrônico elevam-se, o coeficiente de importação


sobre a produção que era de 29% em 1993 vai para 65% em 1996. Tal incremento pode estar
indicando expansão da capacidade produtiva ou apenas troca de equipamentos. O fato de que a
FBCF e a produção industrial apresentaram pequeno crescimento indicam que os bens de capital
importados foram majoritariamente destinados à substituição do parque das máquinas já existentes
e em menor medida à construção de novas fábricas.

Tabela 3  Coeficiente de penetração das importações sobre a produção

Grupo Setores 1993 1996


1 Bens de capital e bens eletrônicos 29% Entre 65 e 75%
2 Matérias-primas químicas, fertilizantes e resinas Entre 20 e 26% Entre 33 e 42%
3 Autopeças, têxteis naturais, bens de capital sob Entre 8 e 15% Entre 20 e 25%
encomenda e borracha
4 Farmacêutica, não ferrosos, tratores, eletroeletrô‑ Entre 7 e 11% Entre 13 e 16%
nicos domésticos, vidro, químicos diversos
5 Têxteis sintéticos, eletrodomésticos, petroquími‑ Entre 3 e 6% Ente 9 e 12%
cos intermediários, veículos, alimentos, papel e
papelão
6 Bebidas, calçados, plásticos, laticínios, higiene e Entre 0,7 e 3% Entre 4 e 8%
limpeza, alimentos semiprocessados
7 Produtos tipicamente não transacionáveis (e.g. Entre 0,5 e 2,5% Entre 1 e 4%
cimento, matérias-primas e produtos pesados)
Fonte: Adaptado de Coutinho (1998).
As exportações têm apresentado fraco desempenho, suas taxas geométricas de crescimento re-
duziram-se de 8,5% no período 1990-94 para 4,7% no período de 1994-96. Este desempenho nega-
tivo é provocado em parte pelo fraco desempenho das exportações de produtos manufaturados, cujas
taxas de crescimento declinam de 10,1% em 1990-94 para 2,8% em 1994-96 (COUTINHO, 1998).
O fraco desempenho das exportações de produtos manufaturados é confirmado pelo encolhi-
mento da participação dos produtos manufaturados na pauta das exportações de 60% em 1993
para 55% em 1998. Por outro lado verifica-se a ampliação da participação dos produtos básicos,
cuja competitividade está baseada em recursos naturais e mão de obra, tais como agribusiness e
processamento mineral e alumínio. Muito embora estes também venham tendo sua rentabilidade
onerada pelo câmbio valorizado.
O impacto das políticas macroeconômicas e industrial sobre o setor industrial, particularmente
sobre a indústria de transformação, pode ser observado a partir da tabela 4. Nota-se que o segmento
vem perdendo competitividade externa através do acúmulo de déficits comerciais.

Tabela 4  Brasil: participação dos setores da indústria de transformação na geração de


saldo da balança comercial – 1993, 96 e 99

Discriminação Saldo (US$ milhões)


1993 1996 1999*
Alto desempenho da produção 2.976 -3.066 -277
Mat. Elétrico e de comunicação 1.200 -5.303 -5.631
Produtos de mat. Plásticas -53 -956 -940
Bebidas -19 -298 -26
Mobiliário -242 187 234
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E c o n o m i a b r a s i l e i r a e S i s t e m a F i n a n c e i r o N a c i o n a l   159

Material de transporte -1.270 -911 840


Produtos alimentares 2.654 4.450 5.337
Brinquedos -24 -235 -91
Desempenho intermediário da produção 4.313 -601 -3370
Minerais não metálicos 360 -198 -2.333
Perfumaria, sabões e velas -37 -54 -156
Química -1.714 -3.838 -4.015
Metalúrgica 5.630 4.295 3134
Baixo desempenho da produção 3.443 -4.473 -2464
Papel e papelão 1.175 927 259
Farmacêutica -171 -701 -1.280
Borracha 174 -111 17
Mecânica -451 -4.654 -5.631
Madeira 801 1.016 1.328
Fumo 198 472 947
Têxtil -418 -1.141 -176
Vestuário 625 91 205
Couros e peles 237 520 738
Calçados e componentes 1.981 1.438 1.272
Editorial e gráfica -1 -340 -191
Indústrias diversas -617 -1.990 138
TOTAL 10.732 -6.938 -6.111
Fonte: Adaptado de Coutinho (1998).

No alto da tabela encontram-se os subsetores da indústria de transformação onde a produção


industrial tem crescido. Nos anos apresentados somente o subsetor de produtos alimentares apre-
sentou desempenho positivo em todos eles. O subsetor mobiliário melhora seu desempenho expor-
tador registrando superávit em 1996, tendo seu superávit aumentado em 1999. O subsetor de
material de transporte registra superávit comercial em 1999. O subsetor de material elétrico torna-
-se deficitário em 1996, tendo seu déficit ampliado em 1999.
Nota-se que mesmo nos subsetores onde a produção cresceu acumularam-se déficits comerciais.
Comportamento mais positivo até 1996 só é registrado por subsetores mais intensivos em recursos
naturais. Por outro lado os superávits comerciais e a redução dos déficits comerciais registrados em
alguns segmentos no ano de 1999 devem-se em parte à adoção do sistema de livre flutuação do
câmbio a partir de janeiro, momento em que a moeda sofre uma considerável desvalorização (a
taxa de câmbio passa de R$ 1,32 para R$ 1,70 por US$).
No meio da tabela encontram-se os subsetores da indústria de transformação onde a produção
industrial tem mantido uma certa estabilidade. Nos anos apresentados somente o subsetor de produ-
tos metalúrgicos apresentou desempenho positivo em todos eles, porém com redução gradativa do
superávit. O subsetor de minerais não metálicos registram déficit em 1996, situação que agrava-se
em 1999 provavelmente devido a desvalorização da moeda e aumento do preço do barril de petróleo.
Nota-se que os subsetores de desempenho intermediário na produção também acumularam-se
déficits comerciais. Neste caso o aumento das importações foram alavancadas pelas importações
de bens intermediários que elevam-se desde 1996 por conta da maior importação de insumo e
matérias-primas, destacando-se os minerais não metálicos.
Na parte inferior da tabela encontram-se os subsetores da indústria de transformação onde a
produção industrial registra queda. Nos anos apresentados os subsetores de papel e papelão, ves-
tuário, calçados e componentes, madeira, fumo, couros e peles apresentaram superávits. Porém os
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160  E C O N O M I A d O S E T O R P ú b l ico

três primeiros apresentaram superávits decrescentes, enquanto que os três últimos apresentaram
superávit decrescente. Nota-se que são os subsetores de superávit decrescente são aqueles de
produtos manufaturados e que demandam transformações industriais mais elaboradas, enquanto
que os setores que apresentaram superávit crescente são os produtos semimanufaturados que
demandam pouca transformação industrial.
No quadro geral pode-se observar que em termos quantitativos as reversões mais pesadas dos
saldos ocorrem nos setores: indústria mecânica, material elétrico e de comunicações, material de
transporte, química, metalúrgica e matérias plásticas, exatamente os setores onde o coeficiente de
penetração de importações sobre produção foram mais elevados. Ao passo que o desempenho
positivo é registrado em setores cuja produção demanda pouca transformação industrial, implicando
em menor valor agregado à produção local. Nos anos de 1990 as políticas macroeconômicas e in-
dustriais formaram um quadro que agravou os problemas estruturais da indústria, conforme argu-
menta Coutinho:
É importante assinalar que, muito embora não se possa atribuir à apre-
ciação cambial a responsabilidade pela reduzida competitividade indus-
trial do sistema, não há dúvida de que ela não contribuiu para superá-la.
Ao contrário, com a proteção tarifária já reduzida a apreciação cambial
e os juros elevados sobreoneram a rentabilidade das empresas e dificul-
tam — senão inviabilizam — seus processos de reestruturação para
competir dentro dos padrões mundiais (COUTINHO, 1998, p. 233).

A configuração da atual estrutura produtiva nos diversos segmentos industriais permite


concluir que existe uma clara correlação entre o baixo dinamismo de muitos setores industriais e
a penetração de produtos importados, ao passo que nos setores onde a oferta doméstica cresceu,
cresce também a importação de matérias-primas, insumos, partes e componentes, reduzindo o
grau de agregação de valor ao longo das respectivas cadeias industriais, configurando-se uma
tendência a desindustrialização e desnacionalização com impactos negativos sobre seu futuro
potencial de crescimento.
As atuais políticas macro e industrial conduzidas por uma relação abertura-câmbio-juros cons-
tituem um forte viés antiprodução no país que terá reflexos significativos sobre o mercado de tra-
balho, particularmente para o emprego industrial.

Traços gerais do emprego no Brasil nos anos 90


O impacto das políticas econômicas sobre o mercado de trabalho pode ser observado a partir
de alguns indicadores. Assim, nos anos 90 ocorre elevação das taxas de desemprego aberto, cres-
cente informalização e redução dos empregos formais não agrícolas, particularmente os industriais.
A taxa de desemprego aberto agrupa os trabalhadores que não exerceram qualquer tipo de
trabalho remunerado e que procuram emprego nos últimos 30 dias, já a taxa de informalização
agrupa os empregados sem carteira assinada e os conta-própria (autônomo), e ambas as informações
são coletadas pela Pesquisa Mensal do Emprego do IBGE.
As informações relativas ao emprego formal são obtidas através da Relação Anual de Informa-
ções Sociais (RAIS), incluindo os trabalhadores com carteira assinada e os que optam pelo recolhi-
mento do Fundo de Garantia por Tempo de Serviços (FGTS).
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Economia brasileira e Sistema Financeiro Nacional 161

Gráfico 3 Evolução da taxa de desemprego aberto nas regiões


metropolitanas — média anual 1986-99

Analisando taxas de desemprego aberto (gráfico 3), observa-se que estas elevam-se de um pa-
tamar médio de 3,5% entre 1986-89, para 5,5% entre 1989-92, recuando para 5% entre 1992-95,
e elevando-se rapidamente, atingindo um patamar médio de 6,5% entre 1995-99. Nestas condições,
observa-se que as taxas médias dobraram em apenas 13 anos, demonstrando que nos últimos anos
o ajuste produtivo tem impactado negativamente sobre o mercado de trabalho.

Gráfico 4 Evolução do grau de informalização do pessoal ocupado nas


regiões metropolitanas — 1986-99

A inserção de trabalhadores no mercado informal de trabalho pode ser observada analisando


a participação dos empregados sem carteira assinada e dos conta-própria como percentual da po-
pulação ocupada (gráfico 4). Se durante o período 1986-89 estes representavam, em média, 35%
dos ocupados, a partir de 1990 estas formas de ocupação assumem trajetória ascendente até 1999.
Pós 1990, a análise subdivide-se em três momentos distintos: no primeiro (1990-93), a infor-
malização atinge uma média de 41% do total dos ocupados; no segundo (1994-96), ela atinge
46% dos ocupados e no terceiro (1997-99) chega a 49% do total de ocupados. Estas estatísticas
indicam que é crescente o número de trabalhadores que ingressam no mercado informal de traba-
lho. Para a parcela mais pobre dos trabalhadores esta tem sido, nos últimos tempos, uma alternativa
possível de sobrevivência.
Por outro lado, o emprego formal não agrícola vem crescendo em patamares inferiores aos veri-
ficados em 1988, conforme observa-se no gráfico 5. O período de 1988-89 marca uma fase de recu-
peração do emprego, porém a partir de 1990 torna a cair verificando-se apenas uma tímida
recuperação em 1995.
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162 ECONOMIA dO SETOR PúblICO

Gráfico 5 Evolução do emprego não agrícola no Brasil (índice 1988 = 100)

Verificam-se, também, algumas alterações quanto a composição setorial do emprego, pois há


uma tendência ao crescimento do emprego no setor serviços e comércio, com queda no emprego
industrial.

Tabela 5 Índices de empregos formais não agrícola no Brasil — 1986-98

Grande Grupo 1986 1988 1990 1992 1994 1996 1998


Indústria 102,5 100,0 99,8 78,3 84,6 81,5 75,5
Comércio 95,8 100,0 100,8 84,3 101,6 109,9 117,2
Serviços 92,9 100,0 93,3 80,6 86,8 98,6 103,0

Analisando os dados da tabela 5, verifica-se que para o setor serviços e comércio, os índices
de emprego oscilaram ao sabor da atividade econômica, enquanto o setor industrial registrou queda
mesmo no período de recuperação da atividade econômica. O comércio se recuperou rapidamente
da recessão de 1992; a partir de 1994 o emprego no segmento supera os níveis de 1988, já em
1998 o índice chega a 117,2.
O setor serviços apresentou recuperação mais lenta, sendo que somente em 1998 este segmento
consegue superar os níveis de emprego registrados em 1988, crescendo apenas 3%. No setor in-
dustrial os índices de emprego têm permanecido em níveis inferiores aos de 1988, chegando a 1998
com uma queda de 24,5% no nível de emprego.
Desta forma, a geração de vínculos formais urbanos foi de 20% contra uma redução de 24,5%,
apontando para uma perda de empregos urbanos da ordem de 4,5%, ou seja, perda de em média
1,6 milhão de empregos formais no final de 1998. Assim, ampliação do emprego no setor serviços
e comércio tem sido insuficiente para suprir a redução no emprego industrial caracterizando-se uma
insuficiência na geração de empregos formais urbanos durante a década.
Uma análise do comportamento do emprego formal durante a década de 90 pode ser melhor
apreendida através da análise dos dados do emprego na indústria de transformação, e isto será
realizado no próximo tópico.

Emprego, produtividade e salários na indústria de


transformação: as mudanças recentes
As inovações organizacionais constituíram-se em importante veio de modernização industrial
porque permitiram reduzir custos salariais e elevar a produtividade do trabalho. Na indústria de
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Economia brasileira e Sistema Financeiro Nacional 163

transformação, a necessidade de inovações organizacionais torna-se mais intensa a partir de 1994.


Isto ocorre porque no final de 1993 a valorização cambial e a elevação do juros constituem-se em
obstáculos que requerem reação imediata das empresas para readequar sua estrutura de custos e,
assim, fazer frente à concorrência que se instala a partir de então. Por outro lado, a modernização,
através da redução custos salariais, pautou-se pela percepção dos empresários da elevação destes
custos num contexto de moeda valorizada (gráfico 6).
Observa-se que, paralelamente à valorização da moeda, há um salto na relação salário médio/
câmbio e folha de pagamento/câmbio. A transformação por parte dos empresários de seus custos
em reais, no momento em que o mesmo encontrava-se valorizado, fez com que redução no quadro
de pessoal tornasse-se uma importante estratégia de ajuste da estrutura de custos.
A redução dos custos salariais manifestou-se de duas formas distintas. A primeira, através do
ajuste no número de empregados, a fim de reduzir a ociosidade da mão de obra. Processou-se
através da alteração dos empregados do quadro permanente, contratação direta de empregados
temporários e terceirização de atividades. A segunda ocorre através da compressão salarial daque-
les que estão empregados.
É no intuito de entender como ocorrem estes ajustes que se escrevem as próximas linhas. Nos
próximos tópicos serão analisados a evolução do emprego e dos salários na indústria de transformação.

Gráfico 6 Evolução da taxa de câmbio efetiva, da relação salário médio/câmbio e


folha de pagamentos/câmbio na indústria de transformação — 1985-98
(índice 1985 = 100)

Taxa de Câmbio Pagamentos/Câmbio

O ajuste no nível de emprego


A redução do emprego industrial faz parte do rápido ajuste produtivo realizado pelo setor para
fazer frente à pressão competitiva a que foi exposto. Analisando o gráfico 7 verifica-se que o em-
prego reduz-se entre 1990-92, recuperando-se apenas parcialmente entre 1993-95. A partir de
1996 retoma sua trajetória de queda e em 1998 registra o menor índice do período 73,9%.
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164 ECONOMIA dO SETOR PúblICO

Gráfico 7 Evolução do emprego formal e na indústria de transformação (índice


1988 = 100)

No gráfico 8 pode-se observar como evoluiu a distribuição do emprego de acordo com os


subsetores da indústria de transformação. Os segmentos que aumentaram sua participação na
geração de empregos foram: metalúrgico, madeira e mobiliário, química, papel e gráfica, bebidas
e alimentos. No período 1990-93 eles eram responsáveis por, em média, 49% dos empregos indus-
triais, porém no período 1990-94 eles passam gerar 55% dos empregos na indústria. Esta evolução
não parece muito animadora quando se observa que boa parte dos segmentos que ampliaram a
geração de emprego é de setores intensivos em mão de obra e recursos naturais.

Gráfico 8 Emprego nos subsetores da indústria de transformação (média


percentual)
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E c o n o m i a b r a s i l e i r a e S i s t e m a F i n a n c e i r o N a c i o n a l   165

Neste aprofundando você pôde entender um pouco mais sobre os efeitos das políticas
iniciais do Plano Real sobre o mercado de trabalho. Percebeu que no momento em que o
real se equipara ao dólar podemos comparar a evolução dos salários e da massa salarial em
dólares. Verificamos que os salários nesta relação crescem, ocorre um encarecimento deles
e aumenta o custo das empresas. Elas respondem reduzindo o número de funcionários, e
isto aparece na observação da massa salarial que fica abaixo dos salários. Assim, o emprego
formal da indústria de transformação registra uma queda acentuada do número de postos
de trabalho.
Tendo em vista este panorama, o segundo mandato do presidente FHC começa com uma
elevada taxa de desemprego. Associada a isto a reestruturação em curso havia levado as em‑
presas a aumentarem o volume de importações, causando uma dependência de dólares para
fechar o Balanço de Pagamentos. Como o governo enfrentou estas questões é o que vamos
ver no próximo tópico.

2.3 O segundo mandato FHC: de 1999-2002


O segundo mandato do Presidente Fernando Henrique Cardoso começava com o grande desafio
de controlar o desequilíbrio externo e a elevação do déficit público. O desequilíbrio externo foi
agravado pelo câmbio fixo, moeda valorizada e elevada taxa de juros. Enquanto o câmbio valorizado
aumentou as importações e, portanto, a saída de dólares do país, a taxa de juros elevada atraía
divisas, pois havia ingressos de capitais estrangeiros que investiam em títulos da dívida pública.
Porém com as crises asiáticas (1997) e da Rússia (1999) a capacidade de atração de capi‑
tais por meio de juros chegou ao limite. Com a saída de capitais o Brasil teve que recorrer ao
FMI que concedeu um empréstimo de US$ 41,5 bilhões. Isto culminou numa crise fiscal, pois
ampliou demais os gastos com pagamento de juros. Por outro lado, as importações que ainda
estavam elevadas continuavam pressionado o Balanço de Pagamentos. Mesmo com a ajuda
do FMI em janeiro de 1999, o governo foi obrigado a desvalorizar o real.
Assim, no segundo mandato três reformas foram fundamentais para dar continuidade ao
plano: reforma cambial com adoção do câmbio flutuante, reforma monetária com adoção da
política de metas de inflação e a reforma fiscal com o compromisso de elevar o superávit primário.
Na reforma cambial o governo privilegiou um sistema de câmbio flutuante no qual teve ampla
participação vendendo reservas e títulos públicos no sentido de garantir que a taxa de câmbio per‑
maneceria dentro de patamares aceitáveis, para uma redução gradual das importações à medida
que as exportações também se ampliassem, criando uma espécie de compensação comercial.
Quanto à reforma monetária, foi colocada em prática com a instituição de meta de inflação.
O regime de metas para a inflação é um regime monetário no qual o Banco Central (BACEN)
se compromete a atuar de forma a garantir que a inflação efetiva convirja para a meta prees‑
tabelecida, anunciada publicamente. No Brasil, a meta para a inflação foi definida em termos
da variação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), calculado pelo IBGE.
Para os três anos (1999, 2000 e 2001) ficou estabelecida em 8%, 6% e 4%, com margem de
tolerância de 2 pontos percentuais para mais ou para menos.
Quanto à reforma fiscal, buscou elevar o superávit primário com aumento da receita e
redução das despesas. Do ponto de vista de aumento das receitas, trocou o IPMF pela CPMF
com alíquota de 0,38%, elevou a Cofins de 2 para 3% e implantou a cobrança do contribui‑
ção previdenciária dos inativos e pensionistas do setor público. Do ponto de vista dos gastos,
aprovou a Lei de Responsabilidade Fiscal limitando os gastos da União, Estados e Municípios;
aprovou o fator previdenciário que elevou o tempo de trabalho e a idade para aposentadorias.
Assim, podemos computar para o período que o PIB cresceu a 1,8% a.a, a inflação medida
pelo IPCA sai de 8,94% em 1994 para 12,53% em 2002, a dívida pública sobe de 35% em 1999
para 41% em 2002. A taxa de desemprego pelo DIEESE em São Paulo salta de 8% em 1994 para
12% em 2002.
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166 ECONOMIA dO SETOR PúblICO

Tabela 5.6 Alguns indicadores do Plano Real no governo FHC

Inflação — PIB — var. real Salário-mínimo


Ano Saldo Balança comercial em US$ milhões
IPCA anual real
1993 2.477,15 4,67 336,11 13.298,77
1994 916,46 5,33 275,51 10.466,47
1995 22,41 4,42 275,37 ‑3.465,62
1996 9,56 2,15 287,22 ‑5.599,04
1997 5,22 3,38 294,52 ‑6.752,89
1998 1,65 0,04 306,37 ‑6.574,50
1999 8,94 0,25 309,19 ‑1.198,87
2000 5,97 4,31 319,79 ‑697,748
2001 7,67 1,31 348,84 2.650,47
2002 12,53 2,66 357,74 13.121,30

Ao final do governo FHC o país havia recebido o tripé sobre o qual a economia seria admi‑
nistrada nos períodos seguintes. As metas de inflação, a austeridade fiscal e o câmbio flutuante
crivam as condições para ter inflação baixa, redução do desequilíbrio fiscal entre arrecadação e
gasto públicos e permitem ter melhor controle das contas externas porque no câmbio flutuante
o valor do dólar passa a ser regulado pelo movimento de oferta e demanda de divisas.
As reformas impostas pela Lei de Responsabilidade Fiscal, Reforma da Previdência, fim
do monopólio estatal do petróleo e comunicações, atração de investimento direto estrangeiro
(IDE), foram legados positivos para o novo período que viria com o então eleito Presidente Lula.

2.4 O Plano Real sob o governo Lula: de 2003 a 2010


Em linhas gerais a condução da política econômica do governo de Luiz Inácio Lula da Silva,
popularmente chamado Presidente Lula, deu continuidade ao tripé estabelecido pós 1999, ou
seja, a política macroeconômica continuou atrelada ao câmbio flutuante, a política monetária,
vinculada às metas inflacionárias e a política fiscal, centrada na obtenção de superávits primários.
Neste sentido os críticos argumentaram que esta política macroeconômica continuou
tendo como preocupação exclusiva o controle da inflação, deixando de lado outros objetivos
relevantes, por exemplo, o crescimento econômico com estabilidade financeira. Um dos ins‑
trumentos de controle da inflação, o regime de metas, fez com que a taxa de juros ficasse em
patamares elevados, o que prejudicou o investimento e o crescimento da economia.
Em parte os problemas econômicos de 2002 refletiam as incertezas políticas. Assim o
risco país se elevou, o dólar chegou a R$ 3,80 e a expectativa de inflação chegou a 11% em
2003. Para reduzir o grau de incerteza o governo recém‑eleito adotou as seguintes medidas:
Anunciou a meta de inflação em 8,5% para 2003 e 5,5% para 2004;
Elevou a taxa de juros, que saiu de 24,9% em dez/2002 para 26,30% em fev/2003;
Aumentou a meta para o superávit primário de 3,75% para 4,35% em 2003;
Definiu na Lei de Diretrizes e Bases (LDB) que a meta do superávit fiscal permaneceria
a mesma entre 2003‑2006.
Estas medidas selavam o novo perfil político do Partido dos Trabalhadores (PT) assumindo
um novo consenso agora mais próximo aos interesses do mercado. Nos anos que se seguiram,
surgiram muitas críticas em relação ao baixo desempenho e dinamismo da economia que
crescia a taxas menores que o resto do mundo, incluindo seus vizinhos da América do Sul.

Tabela 5.7 Alguns indicadores do Plano Real no governo Lula

Inflação — PIB — var. Saldo Balança comercial em


Ano Salário-mínimo real
IPCA real anual US$ milhões
2003 9,3 1,15 360,24 24.793,92
2004 7,6 5,71 373,65 33.640,54
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Economia brasileira e Sistema Financeiro Nacional 167

2005 5,69 3,16 399,66 44.702,88


2006 3,14 3,96 455,83 46.456,63
2007 4,46 6,09 483,38 40.031,63
2008 5,9 5,17 498,25 24.835,75
2009 4,31 ‑0,33 534,23 25.289,81
2010 5,91 7,53 562,61 20.146,86
2,73 Parte
573,65 Parte inferior do 29.806,53 Parte inferior do
2011 6,5 inferior do
formulário formulário
formulário

Para dar maior visibilidade a seu governo, contornar os problemas do crescimento e fazer
do Plano Real mais que um mero plano de combate à inflação, o Governo Lula empreendeu
uma série de estudos que culminaram com a elaboração do Programa de Aceleração do Cres‑
cimento (PAC). Vamos discutir mais detidamente os pontos mais relevantes do PAC a seguir.

2.5 PAC — Programa de Aceleração do Crescimento


O PAC, lançado em 28 de janeiro de 2007, foi
elaborado para ser um programa do governo federal
que englobou o desenho de um conjunto de políticas
econômicas que deveriam ser implementadas em fase Links
nos próximos 4 anos de governo (2007‑2020), isto é,
iriam além do Governo Lula, mas já havia um nova Você pode ler mais sobre a desti-
indicação a candidata a Presidente Dilma Rousseff, que nação de recursos por áreas con-
deveria dar continuidade ao planejado. O principal
templadas pelo PAC em:
objetivo do plano era acelerar o crescimento econô‑
mico do Brasil e para isto projetaram‑se investimentos <noticias.uol.com.br/especiais/pac/
totais de R$ 503,9 bilhões6 até 2010, cuja meta é obter
um crescimento do PIB em torno de 5% ao ano. Os ultnot/infografico/2008/06/04/
recursos viriam das seguintes fontes: investimentos ult6031u3.jhtm>.
públicos diretos (R$ 67,8 bilhões em quatro anos),
investimentos das estatais, financiamentos dos bancos
oficiais e investimentos privados, para atingir o total
previsto de R$ 503,9 bilhões no período do programa
(CONFIRA..., 2007).
Os investimentos se destinavam prioritariamente à
área de infraestrutura, especificamente em setores de
Links
saneamento, habitação, transporte, energia e recursos Você pode ler mais sobre esses
hídricos.
programas no link:
Assim, as principais medidas anunciadas pelo plano
foram: <www.planejamento.gov.br/noti-
Medidas de infraestrutura, incluindo a infra‑ cia.asp?p=not&cod=2194&cat=2
estrutura social, como habitação, saneamento
e transporte em massa. Este é o bloco de me‑ 64&sec=29>.
didas que concentraria os maiores esforços e
recursos;

6 O valor investido pelo governo levava em conta o papel “indutor” do setor público, já que de cada R$ 1,00
investido pelo setor público é gerado R$ 1,50 em investimentos privados.
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168 ECONOMIA dO SETOR PúblICO

Medidas para estimular crédito e financiamento;


Melhoria do marco regulatório na área ambiental;
Desoneração tributária;
Medidas fiscais de longo prazo.
Depois de dois anos de implantação do plano, um balanço foi divulgado pela Casa Civil
em junho de 2009, e o PAC concluiu 15,1% do total programado. Dilma Roussef, explicou que:
PAC, tem uma previsão de gastos de R$ 643 bilhões. Sem os gastos
em habitação e saneamento, o programa tem estimativa de gastos de
R$ 422 bilhões. Deste total, o porcentual de 15,1% representa R$
62,9 bilhões [...] foram usados em 335 obras concluídas até abril.
Deste número de obras, 133 estão no setor de logística e equivalem
a R$ 10,2 bilhões em investimentos. Entre elas estão 4,4 mil qui‑
lômetros de obras em rodovias, 356 quilômetros em ferrovias, 91
em embarcações, cinco em aeroportos, três em hidrovias e uma em
terminal portuário. No setor de energia, foram 186 empreendimentos
concluídos, o que corresponde a investimento de R$ 50,2 bilhões.
O documento do PAC destaca o fornecimento de 3,8 mil megawatts
novos de energia elétrica. Foram construídos 5,2 mil quilômetros de
linhas de transmissão e 1,4 mil quilômetros de gasodutos, além da
modernização de cinco refinarias (NOSSA; MARQUES, 2009, p. 1).
O PAC acabou sendo recheado com uma série de programas e subprogramas, conforme
descreve a seguir (PAC 2):
O PAC das Crianças lançado em 11 de outubro de 2007 se cons‑
tituiu num pacote para enfrentar a violência contra crianças e
adolescentes, prevendo gastos de R$ 2,9 bilhões até 2010, que
virão de 14 ministérios e de empresas estatais.
O PAC Cidades Históricas lançado em 2009 em colaboração com
o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). A
linha especial do PAC foi oferecida a 173 cidades tombadas ou em
processo de tombamento. Até abril de 2011, foram investidos R$
133,1 milhões em ações de preservação, que incluíram revitalização
de praças, restauro de monumentos e aterramento de fiação elétrica.
O PAC 2 foi lançado em 29 de março de 2010 e prevê recursos da
ordem de R$ 1,59 trilhão em uma série de segmentos, tais como
transportes, energia, cultura, meio ambiente, saúde, área social e
habitação. São seis as áreas de investimentos do PAC 2:
PAC Cidade Melhor: Enfrentar os principais desafios dos grandes
centros urbanos para melhorar a qualidade de vida das pessoas.
PAC Comunidade Cidadã: Aumentar a oferta de serviços básicos
à população de bairros populares e garantir a presença do Estado.
PAC Minha Casa, Minha Vida: Reduzir o déficit habitacional, dina‑
mizar o setor de construção civil e gerar trabalho e renda.
PAC Água e Luz para Todos: Universalizar o acesso à água e à
energia elétrica no país.
PAC Transportes: Consolidar e ampliar a rede logística, interligando
diversos modais (rodoviário, ferroviário e hidroviário) para garantir
qualidade e segurança.
PAC Energia: Garantir a segurança do suprimento a partir de uma
matriz energética baseada em fontes renováveis e limpas. Desen‑
volver as descobertas no Pré‑Sal, ampliando a produção de petróleo
no país (PROGRAMA..., 2012, p. 1, grifo do autor).
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Economia brasileira e Sistema Financeiro Nacional 169

O PAC foi alvo das inúmeras controvérsias, denúncias e irregularidades principalmente


de ter cunho político eleitoreiro e representar troca de verbas entre os partidos que apoiavam
o governo. Porém, a de maior destaque é a que contempla os resultados econômicos do pro‑
grama. Segundo a ONG Contas Abertas, até o final de 2009 só 9,8% das obras do PAC foram
concluídas e 62% não saíram do papel (MENOS..., 2009).

2.6 Alguns resultados do governo Lula


O PIB (Produto Interno Bruto), que representa a soma de todas as riquezas de um país,
registrava crescimento de 1,1% em 2003 para 7,5% em 2010, o que culminou num cresci‑
mento médio anual de 4,0% nos dois mandatos. Assim, o Brasil passou de 12 o lugar para 8 o
no ranking das maiores economias do mundo.
A inflação medida pelo IPCA sai de 9,3% em 2003 para 5,92% em 2010, e, somada aos
programas de redistribuição de renda como o Bolsa Família e à política de elevação dos salário‑
‑mínimo que saiu de R$ 200 em 2002 para R$ 510 em 2010, permitiu um sensível avanço das
classes sociais. As classes D e E reduzem de 35% em 2002 da população para 30% em 2010,
enquanto a classe C eleva‑se de 43% para 56% no mesmo período.
Essas transformações associadas à expansão do crédito, que salta de 25% em 2002 para
45% em 2010 no período, têm como efeito a ampliação do consumo, isto é, das compras. A
alta no consumo, por sua vez, estimulou investimentos no comércio e na indústria, inclusive
em contratações, realimentando o ciclo. A taxa de desemprego reduziu de 18% para 11%.
Os aspectos negativos ficaram por conta dos sucessivos escândalos políticos devidos ao
corporativismo e à corrupção que reinavam entre os partidos. O “mensalão”, em 2005, que
envolvia o pagamento de propinas a parlamentares em troca de apoio ao governo em votações
no Congresso. Na época, o presidente contava com apenas 31% de aprovação. As denúncias
derrubaram o principal ministro de Lula, José Dirceu (Casa Civil), e toda a cúpula do PT.
[...] houve a Operação Sanguessuga da Polícia Federal, que expôs
políticos que desviavam verbas públicas destinadas à compra de am‑
bulâncias. Às vésperas das eleições de 2006, um grupo de petistas foi
flagrado tentando comprar um falso dossiê contra o candidato tucano
José Serra. No segundo mandato o caso dos cartões corporativos em
que os funcionários do Planalto que faziam uso irregular de cartões de
crédito oficiais num suposto esquema de tráfico de influência envol‑
vendo a família da ex‑ministra da Casa Civil, Erenice Guerra (SALATIEL,
2012, p. 1).

2.7 O Plano Real sob o governo Dilma Roussef


Eleita presidente, assumiu o cargo em janeiro
de 2011. Em sua agenda de medidas estava o com‑
promisso de manter as políticas do Governo Lula e
incrementar os programas sociais. Assim, as medidas
iniciais de seu governo foram:
Links
Manter a meta de inflação em 4,5% com va‑ Para entender mais sobre as propos-
riação de 2 pontos percentuais; tas do Plano Brasil Maior você pode
Manter a política monetária, especificamente
a taxa de juros, como principal instrumento de
assistir ao vídeo disponível em:
controle da inflação; <www.youtube.com/watch?
Elevar o salário‑mínimo de R$ 510,00 para R$
v=ytppsNxX1mU>.
535,00;
Realizar cortes no orçamento federal da ordem
de R$ 50 bilhões;
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170 ECONOMIA dO SETOR PúblICO

Aumentar o Bolsa Família: O menor valor pago pelo


programa passa de R$ 22 para R$ 32;
Links A retomada do processo de crise mundial e a
desaleração mudam a orientação econômica, e os
Você pode ler sobre as diferentes movimentos de restrição econômica iniciados em
opiniões dos analistas econômicos 2009/2010 na Europa, na América e na Ásia trouxeram
preocupações com os impactos destas crises sobre o
a respeito do primeiro ano do Go- Brasil. Assim, o governo adotou uma série de medidas
verno Dilma no link: de caráter anticíclico dentre as quais destacam‑se: o
anúncio de investimentos em infraestrutura, retomada
<www.ihu.unisinos.br/cepat/cepat- do PAC 2, Programa Brasil Maior, redução da taxa de
-conjuntura/507043-conjuntura-da- juros, redução de IPI de bens manufaturados.
O Programa Brasil Maior veio com o objetivo de
-semana-balanco-de-um- ano-do- conter o processo de desindustrialização da economia
-governo-dilma-rousseff>. nacional. Este processo é considerado antigo, tendo
iniciado em 1970 com a sucessiva redução da parti‑
cipação da indústria no PIB que era de 30% e chega
a 2010 com uma participação de apenas 20% do PIB.
Porém a política de valorização do real durante quase todo o período do Plano Real ampliou a
concorrência com os produtos importados e também proporcionou o aumento de componentes
importados na produção de bens nacionais.
Dentre as principais medidas anunciadas, de acordo com Conjuntura... (2011), e que mais
agradaram os empresários, estão a desoneração e o mecanismo de reintegra. A “desoneração” re‑
duziu a zero a alíquota de 20% para o INSS na folha de pagamento de setores considerados
sensíveis ao câmbio e à concorrência internacional e intensivos em mão de obra. Fabricantes
de móveis, calçados, confecções e softwares ficam isentos da alíquota de 20% de contribuição
patronal sobre a folha de pessoal. Para compensar, foram taxados em 1,5% sobre o faturamento.
Quanto ao “reintegra” – Regime Especial de Reintegração de Valores Tributários para as Empresas
Exportadoras —, este tinha como proposta devolver ao exportador de bens industrializados 0,5%
da receita da exportação, nos mesmos moldes da restituição do Imposto de Renda.
No total, as medidas preveem desoneração tributária de cerca de R$ 25 bilhões em dois
anos. Outra medida foi o item “compras nacionais”. Por essa medida, o governo se compromete
a dar preferência por produtos nacionais em suas compras, mesmo que até 25% mais caros
que os concorrentes estrangeiros. A medida incorporará compras na área de saúde, educação
e defesa principalmente (CONJUNTURA..., 2011).
Ainda é cedo para fazer uma avaliação mais precisa do Governo Dilma, os relatórios
agora escritos estão analisando os resultados do primeiro ano, ou seja, de 2011/2012. Por ora
podemos acrescentar que as medidas mais recentes incluem aumento do salário‑mínimo para
R$ 622,00; redução da taxa Selic para 8,5% em maio de 2012 e que é considerada a menor da
série histórica do Plano Real; alteração na remuneração da poupança que deixou de remunerar
pela TR + 6,7% a.a e passou a ser remunerada por 70% da Selic para os depósitos realizados
a partir de 03/05/2012 — esta nova regra seria aplicada toda vez que a taxa de juros Selic
fosse fixada em 8,5% ou menos.

Questões para reflexão


Fizemos uma pequena descrição do Governo Dilma Rousseff. Reflita sobre
o Plano Real e o objetivo de combate à inflação na atualidade. Será que ele
ainda continua sendo o direcionador único da política do governo? Por quê?
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Economia brasileira e Sistema Financeiro Nacional 171

Seção 3 O Sistema Financeiro Nacional


Podemos dizer que o Sistema Financeiro Nacional (SFN) tem um importante papel na
economia, pois é através dele que fluem todas as operações que permitem canalizar recursos
dos agentes superavitários para os agentes tomadores de recursos. A funcionalidade do sis‑
tema garante a credibilidade das transações e a liquidez dos diversos ativos transacionados
no mercado. Assim, nesta seção, vamos estudar o conceito, evolução e atualidade do SFN e
a estrutura do SFN.

3.1 Conceito, evolução e atualidade do SFN


O Sistema Financeiro Nacional é constituído por um conjunto de instituições e pode ser
formalmente definido como:
O Sistema Financeiro refere‑se ao conjunto de instituições e instru‑
mentos financeiros que possibilitam a transformação de recursos dos
ofertantes finais para os tomadores finais e criam condições para que
os títulos e valores mobiliários tenham liquidez no mercado (LAGIOIA,
2007, p. 31).
Nosso sistema tem como primeira instituição o Banco
do Brasil. Fundado em 12 de outubro de 1808, através de
um alvará do príncipe regente D. João, foi criado o Banco Links
do Brasil. Em 1819, D. João VI determinou a construção
de uma sede para a Bolsa do Rio de Janeiro. Em 1833 o Você pode ler mais sobre a história
Banco do Brasil foi liquidado devido aos saques da Corte do Banco do Brasil no link:
Portuguesa em seu retorno a Lisboa. Em 21 de agosto de
1851, no Rio de Janeiro, Irineu Evangelista de Souza, que < w w w. b b . c o m . b r / p o r t a l b b /
viria a ser Barão e Visconde de Mauá, criou uma insti‑ page3,136,3527,0,0,1,8.bb?codig
tuição denominada Banco do Brasil. As primeiras linhas
de crédito rural do Banco do Brasil datam da década de oMenu=204&codigoNoticia=691&
1890 do século XIX. Até a criação do Banco Central do codigoRet=1065&bread=2>.
Brasil, o Banco do Brasil era o emissor de moeda.
De acordo com Ferreira (2012) outros eventos
e datas históricas na constituição de nosso Sistema
Financeiro são os seguintes:
Em 1920 criou‑se a Inspetoria Geral do Bancos com objetivo de fiscalizar as instituições
financeiras;
Em 1945 criou‑se, pelo decreto‑Lei n o 7.293, de 2 de fevereiro, a Superintendência da
Moeda e do Crédito (Sumoc), com as atribuições típicas de um banco central clássico
para fiscalizar as instituições financeiras e fixar taxas de juros e percentagens dos de‑
pósitos compulsórios, dentre outras. Definiu também o Banco do Brasil como órgão
executivo de decisões da Sumoc e algumas funções residuais de banco central, como
agente financeiro do Tesouro, operador da Câmara de Compensação e administrador
das Carteiras de Redesconto e de Câmbio e da Caixa de Mobilização Bancária. O
Tesouro Nacional passou a ser o órgão emissor da moeda;
Em 1964 a reforma financeira do PAEG instituiu o CMN, transformou a Sumoc no Bacen.
Estas instituições, juntamente com Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico
(BNDE) e Banco do Brasil (BB), estavem ordenadas dentro do sistema normativo e
operacional que veremos adiante. Outras instituições importantes criadas no período
são: SFH e BNH, que tinham recursos do FGTS e do Sistema Brasileiro de Poupança e
Empréstimo (SBPE); e a regulação do Mercado de Capitais (4.728/65).
Em 1976, pela lei 6.385 é criada a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que passa a
integrar o SFN;
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172 ECONOMIA dO SETOR PúblICO

Em 1988 criam‑se as instituições chamadas banco múltiplos que incorporam funções de


instituições financeiras (recebem depósito a vista e criam moeda) e as não financeiras (não
recebem depósito a vista e operam com ativos não monetários como títulos e ações). A
Constituição de 1988, que busca estruturar o Sistema Financeiro Nacional para atender os
mercados, como o de previdência privada, ganha musculatura e exige maior atenção.
Em 1995, em meio à crise dos bancos nacionais, foi instituído o Programa de Estímulo
e Reestruturação do Sistema Financeiro Nacional (Proer).
Em 1996, no Governo FHC (Fernando Henrique Cardoso) é criado o Copom, ligado ao
BCB, que estabelece as diretrizes da política monetária, como a Taxa Selic.
Em 1999, a adoção do regime de metas de inflação atribui a função de manter a estabi‑
lidade da moeda a taxa de juros. Atuação do Copom passa a ser mais cuidadosamente
pensada para atender a este objetivo.
Deste ponto em diante temos todos os elementos para descrever a atual estrutura do Sis‑
tema Financeiro Nacional, e é o que vamos fazer no próximo tópico.

3.2 Estrutura do Sistema Financeiro Nacional


Para desempenhar seu papel o SFN é estruturado por meio de normas e regras, é composto
por instituições agrupadas em dois subsistemas: o normativo e o operativo, conforme podemos
visualizar na Figura 5.2.

Figura 5.2 Composição do Sistema Financeiro Nacional

3.2.1 O subsistema normativo ou de supervisão


Ele é formado por:
[...] instituições que estabelecem as regras e diretrizes de fun‑
cionamento, além de definir os parâmetros para a intermediação
financeira e fiscalizar a atuação das instituições operativas. Tem
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Economia brasileira e Sistema Financeiro Nacional 173

em sua composição: o Conselho Monetário Nacional (CMN), o


Banco Central do Brasil (Bacen), a Comissão de Valores Mobiliá‑
rios (CVM) e as Instituições Especiais (Banco do Brasil, BNDES e
Caixa Econômica Federal) (SISTEMA..., 2012, p. 1, grifo do autor).
A atuação das instituições que integram o subsistema operativo está subordinada à regulamenta‑
ção estabelecida pelo CMN e pelo Bacen. Existem penalidades caso não cumpram as normas editadas
pelo CMN, que vão desde multas estabelecidas em dinheiro até a própria suspensão da autorização
de funcionamento dessas instituições e seus dirigentes. As instituições que compõem o sistema são:
CMN — Conselho Monetário Nacional;
Bacen — Banco Central do Brasil;
CVM — Comissão de Valores Mobiliários;
CNSP — Conselho Nacional de Seguros Privados;
Susep — Superintendência de Seguros Privados;
IRB — Instituto de Resseguros do Brasil;
CGPC — Conselho de Gestão da Previdência Complementar;
SPC — Secretaria de Previdência Complementar;
Instituições Especiais — BB, CEF e BNDES.
Vamos detalhar um pouco mais sobre as instituições que têm mais reflexos sobre o Sistema
Financeiro Nacional. Entendido como um conjunto formado pelo mercado monetário e pelo
mercado de capitais. Abrange todas as transações com moedas e títulos e as instituições que
as promovem: Banco Central, caixas econômicas, bancos estaduais, bancos comerciais e de
investimentos, corretoras de valores, distribuidoras de títulos, fundos de investimentos etc.,
além das Bolsas de valores (SANDRONI, 1999, p. 381).

3.2.1.1 Conselho Monetário Nacional — CMN


É o órgão máximo do sistema financeiro brasileiro, criado em 31/12/1964, cabendo‑lhe
traçar as normas a serem empreendidas na política monetária. Nesse sentido tem como ati‑
vidade primordial a formulação da política de moeda e crédito do país, além de exercer o
controle da organização bancária e seus intermediários financeiros. O CMN é o órgão central
da política financeira nacional, tendo suas deliberações baixadas pelo Banco Central, sob a
forma de resoluções. Estão entre algumas de suas principais atribuições (LAGIOIA, 2007):
a) regular o volume monetário necessário às atividades do país;
b) fixar as diretrizes e normas da política cambial, regulando em decorrência a balança
de pagamentos do país;
c) disciplinar o crédito em todas as suas modalidades, determinando, se necessário, re‑
colhimentos compulsórios;
d) regular o valor interno da moeda nacional, servindo como seu verdadeiro guardião, a
fim de evitar ou ao menos minimizar surtos inflacionários ou deflacionários;
e) estabelecer as operações de redescontos;
f) orientar e redirecionar a aplicação de recursos das instituições financeiras, a fim de pos‑
sibilitar um desenvolvimento econômico mais equilibrado entre as várias regiões do país;
g) zelar pela liquidez e solvência das instituições financeiras;
h) determinar as normas para as operações de mercado aberto;
i) regular as atividades das bolsas de valores, corretoras e demais instituições afetas a
esse mercado;
j) determinar as taxas dos recolhimentos compulsórios das instituições financeiras.
Destaca‑se ainda o Copom, que foi instituído em 20 de junho
de 1996, com o objetivo de estabelecer as diretrizes da política
monetária e de definir a taxa de juros. A taxa de juros fixada na
reunião do Copom é a meta para a Taxa Selic (taxa média dos
financiamentos diários, com lastro em títulos federais, apurados
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174 ECONOMIA dO SETOR PúblICO

no Sistema Especial de Liquidação e Custódia), a qual vigora por


todo o período entre reuniões ordinárias do Comitê. Se for o caso,
o Copom também pode definir o viés, que é a prerrogativa dada
ao presidente do Banco Central para alterar, na direção do viés, a
meta para a Taxa Selic a qualquer momento entre as reuniões ordi‑
nárias (BANCO CENTRAL DO BRASIL, 2012, p. 1, grifo do autor).

3.2.1.2 Banco Central do Brasil — Bacen


O Banco Central foi criado em 31 de dezembro de 1964. É o órgão do SFN que funciona
como secretaria executiva do CMN. É chamado Banco dos Bancos; atua como Agente Finan‑
ceiro do Governo; é o banco de emissão de moeda. Estão entre suas competências básicas:
Emitir papel‑moeda e moeda metálica;
Executar serviços de meio circulante;
Receber os recolhimentos compulsórios dos bancos comerciais;
Realizar operações de redesconto e empréstimos de assistência
à liquidez às instituições financeiras;
Regular a execução dos serviços de compensação de cheques
e outros papeis;
Autorizar, normatizar, fiscalizar e intervir nas instituições fi‑
nanceiras;
Controlar o fluxo de capitais estrangeiros, garantindo o correto
funcionamento do mercado cambial (LAGIOIA, 2007, p. 36).

3.2.1.3 Comissão de Valores Mobiliários — CVM


É uma autarquia vinculada ao Ministério da Fazenda do Brasil, instituída pela Lei 6.385,
de 7 de dezembro de 1976, que sofreu várias alterações e, juntamente com a Lei das Socieda‑
des por Ações (Lei 6.404/76 e 11.638/07), disciplina o funcionamento do mercado de valores
mobiliários e a atuação de seus protagonistas (LAGIOIA, 2007). Suas principais atribuições são:
Manter o registro de companhias abertas;
Manter os registros de distribuições de valores mobiliários;
Credenciar auditores independentes e administradores de carteiras de valores mobiliários;
Organizar o funcionamento e as operações das bolsas de valores;
Fiscalizar a negociação e intermediação no mercado de valores mobiliários;
Administrar as carteiras e a custódia de valores mobiliários;
Suspender ou cancelar registros, credenciamentos ou autorizações;
Suspender a emissão, distribuição ou negociação de determinado valor mobiliário ou
decretar recesso de bolsa de valores.

3.2.2 O subsistema operativo


Neste ocorre a
[…] intermediação financeira. Esta tem como função operacionalizar a
transferência de recursos entre fornecedores de fundos e os tomadores
de recursos, a partir das regras, diretrizes e parâmetros definidos pelo
subsistema normativo. Pertencem ao subsistema operativo as institui‑
ções financeiras bancárias e não bancárias, o Sistema Brasileiro de
Poupança e Empréstimo (SBPE), além das instituições não financeiras
e auxiliares (SISTEMA..., 2012, p. 1, grifo do autor).
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Economia brasileira e Sistema Financeiro Nacional 175

Para concluir o estudo da unidade


Nesta unidade estudamos a Economia Brasileira e o Sistema Financeiro Nacional.
Nela você pode aprofundar seus conhecimentos sobre o Plano Real. Agora você pode
continuar seus estudos sobre economia brasileira lendo mais um texto que está listado
abaixo e é disponibilizado na Biblioteca Digital Pearson:
Capítulo 19, “Economia brasileira em perspectiva”, em Mochón (2007).
Desejo a você uma boa leitura e bons estudos.

Resumo
Nesta unidade estudamos a economia brasileira e o sistema financeiro. Vimos que
a economia brasileira surge economicamente falando como uma grande fornecedora de
produtos primários numa fase que ficou conhecida como economia agroexportadora.
Somente depois da crise de 30 foi colocada como prioridade a busca pelo desen‑
volvimento da indústria como fonte de crescimento econômico e fortalecimento da
economia brasileira ante os mercado externos.
De 1930 a 1980 o objetivo da política econômica era prover o crescimento da pro‑
dução e do emprego. Os sucessivos planos e medidas econômicas tinham por base a
busca do crescimento e fortalecimento da economia. Na segunda metade da década de
80 os altos índices de inflação e seu diagnóstico atrelado à inflação inercial legaram à
adoção vários planos econômicos que tinham como medida os congelamentos e tabe‑
lamentos de preços e salários.
Nos anos 90 a elevação da inflação e o diagnóstico de que ela era fruto do excessivo
gasto público e da forma como este era financiado, levaram à adoção de políticas mais
ligadas aos conceitos neoliberais. Desde então, as empresas começaram a ser submetidas
a uma maior concorrência no ambiente interno e externo. O objetivo das políticas era
elevar a competitividade microeconômica. Neste período a inflação foi combatida com
a implantação do Plano Real.
O plano é considerado um divisor de águas da economia, pois nos últimos 17 anos
a inflação vem sendo mantida sob controle, atendendo ao que foi definido pela política
de metas de 4,5% com variação de 2% de acordo com o IPCA.
Por fim destacamos o Sistema Financeiro Nacional, sua evolução e constituição
atual. Tal ponto foi importante porque hoje o SFN tem contribuído fortemente para a
manutenção da estabilidade econômica através da atuação ativa de suas instituições,
dentre as quais se destaca o CMN.
Agora que chegamos ao fim desta unidade, completamos um ciclo de estudos que
parte dos conceitos básicos de economia, macroeconomia, que situou a economia
internacional e a partir desta permitiu entender o atual estágio da economia brasileira.
Agora que finalizamos mais esta unidade, não se esqueça de resolver as atividades de
aprendizagem.
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176  E C O N O M I A d O S E T O R P ú b l ico

Atividades de aprendizagem
I. Nas questões abaixo assinale a alternativa conforme o que é solicitado:
1. No ambiente macroeconômico o governo atua através de suas políticas econômicas. Para
administrar o país o governo estabelece objetivos fundamentais para sua participação
na economia. Recentemente o governo Dilma fez o plano Brasil Maior, que contempla
a redução de impostos para a indústria, e com isto o governo pretende elevar a taxa de
investimento sobre o Produto Interno Bruto (PIB) de 18,4% em 2010 para 22,4% ao final
do plano de política industrial (UOL 02/08/2011). Neste sentido essa política atinge qual
dos objetivos de política econômica:
a) Crescimento da produção e do emprego;
b) Controle da inflação;
c) Equilíbrio nas contas externas;
d) Melhoria na distribuição da renda gerada no país;
e) Aumento das importações.
2. No ambiente macroeconômico o governo atua através de suas políticas econômicas. Para
administrar o país o governo estabelece objetivos fundamentais para sua participação na
economia. Em 27/07/2011 o Copom decidiu aumentar a taxa de juros Selic de 12,25%
para 12,50% a.a. A justificativa para isto foi a pressão dos preços sobre a economia. Neste
sentido esta política atinge qual dos objetivos de política econômica:
a) Crescimento da produção e do emprego;
b) Controle da inflação;
c) Equilíbrio nas contas externas;
d) Melhoria na distribuição da renda gerada no país;
e) Aumento das importações.
3. No ambiente macroeconômico o governo atua através de suas políticas econômicas. Para
administrar o país o governo estabelece objetivos fundamentais para sua participação na
economia. A segunda fase do programa Minha Casa Minha Vida foi lançada em julho de
2011 e prevê a construção de 2 milhões de imóveis, com investimentos de R$ 71,7 bilhões
até 2014, melhorando as condições de vida dos brasileiros com renda até R$ 1.600,00.
Num caso em que o acesso à moradia é uma das coisas que se busca obter com sua renda,
ao facilitar esse acesso o governo estaria indiretamente praticando uma política de:
a) Crescimento da produção e do emprego;
b) Controle da inflação;
c) Equilíbrio nas contas externas;
d) Melhoria na distribuição da renda gerada no país;
e) Aumento das importações.
4. O Sistema Financeiro Brasileiro é composto pelo Conselho Monetário Nacional, Banco
Central, Comissão de Valores Mobiliários, além dos bancos comerciais, de investimento e
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E c o n o m i a b r a s i l e i r a e S i s t e m a F i n a n c e i r o N a c i o n a l   177

crédito. O Banco Central do Brasil (Bacen) tem papel de destaque devido às suas atribui‑
ções. Assinale abaixo qual das alternativas representa uma das atribuições do Bacen:
a) Renegociar a dívida externa brasileira.
b) Emitir papel-moeda, fiscalizar e controlar os intermediários financeiros, supervisionar
a compensação de cheques.
c) Aceitar depósitos e conceder empréstimos ao público em geral.
d) Executar as políticas monetária e fiscal do país.
e) Formular a política monetária e cambial do país.
5. O regime de metas para a inflação é um regime monetário no qual o Banco Central se
compromete a atuar de forma a garantir que a inflação efetiva convirja para a meta pre‑
estabelecida, anunciada publicamente. No Brasil, a meta para a inflação foi definida em
6,5% a.a. e o índice utilizado para acompanhar a inflação é:
a) IGP — Índice Geral de Preços do IBGE;
b) ICV — Índice do Custo de Vida do DIEESE;
c) IGP-M — Índice Geral de Preços de Mercado da FGV;
d) IPCA — Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo do IBGE;
e) IPC — Índice de Preços ao Consumidor da Fipe.
II) Responda às questões:
Em matéria de industrialização, explique a teoria dos choques adversos e a teoria da
industrialização induzida por exportações.
Quais as instituições financeiras criadas pela reforma financeira do PAEG?
Cite as principais medidas dos planos econômicos: Cruzado, Bresser, Verão e Collor.
Explique a importância da abertura comercial para a estabilidade de preços no Plano
Real.
Diferencie a política social democrata da política neoliberal, ambas voltadas para o
pleno emprego.
Descreva o Plano Real e suas principais medidas de acordo com os presidentes: FHC,
Lula e Dilma Rousseff.
Descreva o Sistema Financeiro Nacional e as instituições do subsistema normativo e
do subsistema operativo.
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Anotações
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