Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Manuel Ricou
Departamento de Matemática
Instituto Superior Técnico
Setembro 2005
Prefácio
Rb
Mas antes do mais: o que entendemos por a f (x)dx?
Bernhard Riemann, 1854
i
ii Prefácio
1 Integrais de Riemann 7
1.1 Rectângulos e Conjuntos Elementares em RN . . . . . . . . . 8
1.2 Álgebras, Semi-Álgebras e Funções Aditivas . . . . . . . . . . 19
1.3 Conjuntos Jordan-Mensuráveis . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
1.4 O Integral de Riemann . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
1.4.1 O Espaço das Funções Integráveis . . . . . . . . . . . 41
1.4.2 Integrais Indefinidos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
1.4.3 Continuidade e Integrabilidade . . . . . . . . . . . . . 48
1.5 Os Teoremas Fundamentais do Cálculo . . . . . . . . . . . . . 55
1.6 O Problema de Borel . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
2 A Medida de Lebesgue 77
2.1 Espaços Mensuráveis e Medidas . . . . . . . . . . . . . . . . . 78
2.2 A Medida de Lebesgue . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87
2.3 Medidas Exteriores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 99
2.4 Os Espaços de Borel e de Lebesgue . . . . . . . . . . . . . . . 109
v
vi Prefácio
Integrais de Riemann
7
8 Capı́tulo 1. Integrais de Riemann
m
X
cN (R) = cN (Ri ).
i=1
a + b = b + a = b, se b = ±∞ e a 6= −b.
Esta convenção não atribui valor a expressões como “∞ − ∞”, que se dizem
por isso indeterminações.
Quando R é um conjunto, e P é uma famı́lia de conjuntos disjuntos cuja
união é R, dizemos que P é uma partição do conjunto R. Se R é um
1.1. Rectângulos e Conjuntos Elementares em RN 11
R = {p ∩ q : p ∈ P, q ∈ Q}
é um refinamento comum de P e Q.
b) Positividade: cN (A) ≥ 0,
c) Monotonia: Se A ⊆ B, então cN (A) ≤ cN (B),
d) Subaditividade: Se A ⊆ B ∪ C, então cN (A) ≤ cN (B) + cN (C).
Demonstração. a) Sejam R = {R1 , R2 , · · · , Rn } e P = {P1 , P2 , · · · , Pm }
famı́lias de rectângulos disjuntos tais que
n m n
! m
[ [ [ [ [
A= Ri e B = Pj , donde A ∪ B = Ri Pj .
i=1 j=1 i=1 j=1
A afirmação seguinte pode ser encarada como uma outra forma de gene-
ralização da definição 1.1.2, ou como uma generalização da ideia expressa na
frase “o volume de um prisma é o produto da área da base pela altura”. Na
realidade, e de um ponto de vista intuitivo, deve ser tão natural e “óbvia”
como a propriedade de aditividade, mesmo quando N + M > 3. De um
ponto de vista mais formal, a proposição em causa é uma versão preliminar
do Teorema de Fubini, que discutiremos repetidas vezes no que se segue.
16 Capı́tulo 1. Integrais de Riemann
A × B = I1 × · · · × IN × J1 × · · · × JM é um rectângulo-(N + M ), e
n
! m
n [m
[ [ [
A×B = Ri × Sj = (Ri × Sj ) .
i=1 j=1 i=1 j=1
X m
n X n X
X m
cN +M (A × B) = cN +M (Ri × Sj ) = cN (Ri ) × cM (Sj ) =
i=1 j=1 i=1 j=1
n m
!
X X
= cN (Ri ) × cM (Sj ) = cN (A) × cM (B).
i=1 j=1
U ⊆ I ⊆ F , e c1 (U ) = c1 (I) = c1 (F ).
F ⊆ I ⊆ U , e c1 (F ) = c1 (I) = c1 (U ).
cN (F ) cN (U )
-
Exercı́cios.
2. Existem 4 intervalos com os mesmos extremos a e b, que são [a, b], ]a, b], [a, b[,
e ]a, b[. Quantos rectângulos-N existem com os mesmos vértices?
4. Mostre que qualquer conjunto que seja uma união finita de rectângulos é,
necessariamente, uma união finita de rectângulos disjuntos.
R = {a × b : a ∈ RA , b ∈ RB }
é uma partição de R.
b) Suponha que P é uma partição qualquer de R em rectângulos, e prove
que existe um refinamento R para a partição P do tipo referido em a).
c) X ∈ S.
Exemplos 1.2.2.
1. As classes E(RN ) e U(RN ) são semi-álgebras em RN .
2. A classe U(RN ) é uma álgebra em RN , mas E(RN ) não é uma álgebra, porque
RN não é elementar.
Muitas das propriedades das classes de conjuntos que já estudámos re-
sultam, apenas, de essas classes serem semi-álgebras. Por exemplo, como
qualquer semi-álgebra é fechada em relação à intersecção, temos necessaria-
mente que a intersecção de dois conjuntos elementares é elementar. O pró-
ximo teorema indica algumas propriedades algébricas que, tais como esta,
são comuns a qualquer semi-álgebra de conjuntos.
a) ∅ ∈ S,
d) Não-negativa: Se λ(A) ≥ 0.
Exemplos 1.2.5.
1. Conteúdo-N : O conteúdo-N , tal como o definimos em E(RN ) e em U(RN ),
é uma função aditiva, subaditiva, monótona e não-negativa.
2. Cardinal: Dado um conjunto X, e um subconjunto Y ⊆ X, o cardinal de
Y designa-se por #(Y ), e é igual ao número de elementos de Y , se Y é finito,
ou igual a +∞ , se Y é infinito. O cardinal é uma função de conjuntos aditiva,
subaditiva, monótona e não-negativa, definida na classe P(X).
3. Probabilidades: Na Teoria das Probabilidades, associamos uma probabili-
dade, que é um número entre 0 e 1, a acontecimentos. Os acontecimentos são
subconjuntos de um conjunto fixo X, e formam uma álgebra A (porquê?). A
probabilidade p : A → [0, 1] é, portanto, uma função de conjuntos, que é sem-
pre aditiva, subaditiva, monótona e não-negativa. Por exemplo, o conjunto X,
que é um acontecimento certo, tem probabilidade 1, ou seja, p(X) = 1.
4. Muitas grandezas fı́sicas, ditas extensivas, como a massa, carga eléctrica,
energia, entropia, momento linear, etc., podem ser representadas por funções
aditivas de conjuntos. Os conjuntos em causa são, normalmente, regiões do
espaço, ou partes de um dado corpo material.
5. Introduzimos aqui uma famı́lia de exemplos que referiremos, com frequência,
nos Capı́tulos seguintes. Consideramos:
3
Quando o conjunto “universal” X é evidente do contexto da discussão, usamos a
notação Ac = X − A.
22 Capı́tulo 1. Integrais de Riemann
(Para mostrar que esta definição não é ambı́gua, basta adaptar o argumento
que utilizámos em 1.1.9). É ainda imediato que λ é aditiva em F(R), e que
é não-negativa, monótona e subaditiva se e só se f é crescente. Por outras
palavras, qualquer função f : R → R determina uma função de conjuntos
aditiva na semi-álgebra F(R).
a) λ é não-negativa,
Pn
b) A1 , A2 , · · · , An ∈ S ⇒ λ(∪nk=1 Ak ) ≤ k=1 λ(Ak ), e
Exercı́cios.
Para isso, basta notar que, quando J é elementar, podemos tomar sempre
K = J = U . Quando J não é elementar, a definição 1.3.4 pode ser difı́cil de
aplicar directamente, porque exige o cálculo explı́cito dos conteúdos interior
e exterior de J. É frequentemente mais prático utilizar a proposição seguinte:
K ⊆ J ⊆ U , e cN (U − K) = cN (U ) − cN (K) < ε.
Exemplo 1.3.6.
Um dos problemas originalmente resolvidos por Arquimedes foi o do cálculo da
área da região entre um arco da parábola y = x2 e o eixo dos xx. Mostramos,
aqui, que esta região é Jordan-mensurável, deixando o cálculo da sua área
para o exercı́cio 2. Na verdade, provamos a seguir que a região de ordenadas
de qualquer função monótona é, sempre, Jordan-mensurável, se bem que o
cálculo da respectiva área possa ser um problema de mais difı́cil resolução.
J ⊆ U e cN (U ) < ε.
Exemplo 1.3.9.
Introduzimos aqui um exemplo clássico - o conjunto de Cantor(11 ) - que
utilizaremos repetidas vezes neste texto, directa, e indirectamente. Este con-
junto obtém-se por um engenhoso processo iterativo de divisão de intervalos
em três subintervalos iguais, seguido da remoção do subintervalo médio, como
é sugerido na figura 1.3.6. Suponha-se que I = [a, b] é um qualquer intervalo
F0 = I = [a, b]
F1 = F0 − U0
F2 = F1 − U1
F3 = F2 − U2
F4 = F3 − U3
11
De Georg F.L. Cantor (1845 - 1918), matemático alemão nascido na Rússia, criador
da Teoria dos Conjuntos. Este conjunto foi introduzido num trabalho de Cantor publicado
em 1883. Note-se que a primeira referência à noção de conteúdo exterior, e mesmo o termo
“conteúdo”, são igualmente de Cantor, e aparecem numa sua publicação de 1884.
1.3. Conjuntos Jordan-Mensuráveis 31
Exemplo 1.3.10.
KA ⊆ A ⊆ UA , cN (UA − KA ) < ε, e
KB ⊆ B ⊆ UB , cN (UB − KB ) < ε.
KA ∪ KB ⊆ A ∪ B ⊆ UA ∪ UB , e
((UA ∪ UB ) − (KA ∪ KB )) ⊆ (UA − KA )) ∪ (UB − KB )).
J ∈ J (RN ) ⇐⇒ cN (∂J) = 0.
K ⊆ J ⊆ U , e cN (U − K) < ε.
K ⊆ int(J) ⊆ J ⊆ U , donde ∂J ⊆ U − K.
Exercı́cios.
19. Seja C(I) o conjunto de Cantor, tal como definido no exemplo 1.3.9.
a) Prove que C(I) é um conjunto limitado, e fechado.
b) Verifique que C(I) é Jordan-mensurável, com conteúdo nulo.
c) Mostre que os pontos de C(I) são os pontos de acumulação de C(I),
razão pela qual C(I) se diz um conjunto perfeito(14 ).
d) Prove que C(I) é infinito não-numerável, e não é elementar. sugestão:
Determine uma bijecção entre C(I) e o conjunto das sucessões binárias).
Rb
Figura 1.4.1: a f (x)dx = c2 (Ω+ ) − c2 (Ω− ).
ΩR (f ) = Ω+ −
R (f ) ∪ ΩR (f ).
= cN +1 (Ω+ −
R
1.4.2. R f (x)dx R (f )) − cN +1 (ΩR (f )).
a) f é Riemann-integrável em R,
c)
Z Z Z Z Z
f= f , e neste caso f= f= f.
R R R R R
• f + (x) = max {f (x), 0}, e f − (x) = max {−f (x), 0}, donde
• f = f + − f − , e |f | = f + + f − .
• Os conjuntos Ω+ + +
R (f ) e ΩR (f ) são iguais, e
• O conjunto Ω+ − −
R (f ) é a reflexão de ΩR (f ) no hiperplano xN +1 = 0.
Exercı́cios.
10. Demonstre a proposição 1.4.6. Como se pode adaptar 1.4.6 para contemplar
regiões de integração “arbitrárias”?
11. Seja f uma função limitada, definida num rectângulo limitado R. Mostre
que
Z Z
f = cN +1 (Ω+
R ) − cN +1 (Ω−
R ), e f = cN +1 (Ω+ −
R ) − cN +1 (ΩR ).
R R
Z Z Z Z Z Z
f+ g≤ (f + g) ≤ (f + g) ≤ f+ g.
R R R R R R
• dir(x) = ∞
P
n=1 fn (x) para qualquer x ∈ I, e
P∞ R
• n=1 I fn = 0.
Naturalmente, a série ∞
P R
n=1 I fn não é o integral de Riemann da função
de Dirichlet em I, porque a teoria de Riemann não atribui um integral à
função de Dirichlet em I.
A dificuldade ilustrada neste exemplo resulta de f = ∞
P
n=1 fn poder não
ser Riemann-integrável, mesmo quando as funções fn o são. De um modo
geral, a integrabilidade de Riemann é, efectivamente, demasiado sensı́vel a
operações de passagem ao limite, o que torna a sua aplicação pouco práctica
22
Este funcional é na realidade uma semi-norma no espaço I(R). Veja a este respeito
o exercı́cio 6.
44 Capı́tulo 1. Integrais de Riemann
Concluı́mos que:
Z 1 ∞ Z
X 1
f (x)dx = e−1 − 1, e fn dx = 1 − (1 − e−1 ) = e−1 .
0 n=1 0
Exercı́cios.
P∞
3. Suponha que a série de potências n=1 an xn converge para |x| < r, e mostre
que esta série pode ser integrada termo-a-termo.
P∞ n
4. A função f (x) = n=0 (−1)
2n int(nx) é Riemann-integrável em [0, 1]? Qual é
o conjunto de pontos onde f é contı́nua?
Figura 1.4.4: ΩE (f ) = ΩR (f ) ∩ (E × J) = ΩR (f χE ).
cN +1 (Ω+ + + + +
C (f )) = cN +1 (ΩA (f ) ∪ ΩB (f )) =cN +1 (ΩA (f )) + cN +1 (ΩB (f )), e
cN +1 (Ω− − − − −
C (f )) = cN +1 (ΩA (f ) ∪ ΩB (f )) =cN +1 (ΩA (f )) + cN +1 (ΩB (f )).
1.4. O Integral de Riemann 47
Esta observação sugere o seguinte resultado, que é aliás muito fácil de provar:
Teorema 1.4.15. O conteúdo-N é o integral indefinido da função f iden-
ticamente igual a 1 no conjunto RN .
O teorema acima é de uma simplicidade quase trivial, mas encerra uma
ideia que complementa, de forma muito interessante, o que dissemos em
1.4.3. De um ponto de vista intuitivo, e como a identidade cN +1 (ΩR ) =
cN (E) × 1 = cN (E) deve ser sempre válida, é também natural esperar que
a seguinte identidade seja sempre válida:
Z
cN (E) = χE .
R
Exemplos 1.4.17.
1. A teoria desenvolvida até aqui não atribui um integral à função de Dirichlet,
por exemplo, quando a região de integração é o intervalo [0, 1]. De forma
equivalente, não atribui um comprimento ao conjunto Q ∩ [0, 1], formado pelos
racionais do mesmo intervalo.
48 Capı́tulo 1. Integrais de Riemann
Exercı́cios.
Exemplos 1.4.21.
1. Se f (x) = x, então Oscf (B(x, r)) = 2r, e
Observamos que:
• x ∈ U =⇒ ωf (x) < ε, donde {x ∈ R : ωf (x) ≥ ε} ⊆ V , e
P
• cN (V ) = cN (W ) = r∈B cN (r) (porquê?).
Por outro lado,
X
εδ > S(f, P) − S(f, P) ≥ S(f, B) − S(f, B) ≥ εcN (r) = εcN (V ).
r∈B
Exemplos 1.4.26.
1. Se f é Riemann-integrável em R, então o conjunto D dos pontos de descon-
tinuidade de f é, evidentemente, um conjunto nulo.
2. Qualquer conjunto numerável E é nulo, e em particular Q é nulo. Sendo
x1 , x2 , · · · , xn , · · · os elementos de E, e dado ε > 0, tomamos 0 < ε′ < ε, e,
supondo para simplificar que E ⊂ R,
∞ ∞
ε′ ε′ [ X
Un =]xn − , xn + [, donde E ⊆ Un , e c(Un ) = ε′ < ε.
2n+1 2n+1 n=1 n=1
É evidente que ∪m
n=1 Rn é elementar, e segue-se imediatamente que K é
Jordan-mensurável e tem conteúdo nulo.
A definição de Riemann é, por sua vez, uma generalização de uma prévia
definição, formulada por Cauchy(26 ), em 1821, mas apenas para funções
contı́nuas f : [a, b] → R. Dada uma partição P de [a, b], determinada
por pontos a = x0 < x1 < · · · < xn = b, Cauchy demonstrou que, se
xk−1 ≤ x∗k ≤ xk , então existe α ∈ R tal que
n
X
f (x∗k )(xk − xk−1 ) → α, quando diam(P) → 0.
k=1
25
Neste como em muitos outros casos que temos referido, os trabalhos originais con-
templam apenas funções reais definidas em intervalos. Os integrais múltiplos só foram
estudados com rigor bastante mais tarde, em particular por Jordan.
26
Augustin Louis Cauchy, 1789-1857, francês, foi um dos grandes matemáticos de sem-
pre, como o atesta o facto do seu nome aparecer ligado a ideias fundamentais, em tantos
domı́nios distintos. O matemático Abel, que Cauchy tratou de forma particularmente
injusta, disse dele que “é louco, mas é o único que sabe como se deve fazer a Matemática”.
54 Capı́tulo 1. Integrais de Riemann
R
9. Prove que se f ≥ 0 e R f = 0, então f (x) = 0, qtp em R. sugestão:
Mostre que An = {x ∈ R : f (x) > n1 } é nulo no sentido de Borel.
27
De Isaac Barrow, 1630-1677, o primeiro professor da Universidade de Cambridge
nomeado para a Cátedra Lucasiana. Barrow tomou a extraordinária iniciativa de se demi-
tir, para dar o lugar ao seu aluno Newton, em quem justamente reconhecia qualidades
excepcionais.
56 Capı́tulo 1. Integrais de Riemann
F (x) − F (c)
∀ε>0 ∃δ>0 ∀x∈I |x − c| < δ ⇒ | − f (c)| < ε.
x−c
Por outras palavras,
F (x) − F (c)
lim = f (c), ou F ′ (c) = f (c).
x→c x−c
n
X
F (x) − F (a) = f (x∗k )(xk − xk−1 ).
k=0
28
Se F é contı́nua em [a, b] e diferenciável em ]a, b[, existe c tal que a < c < b e
F (b) − F (a) = F ′ (c)(b − a). Este teorema tem o nome de Joseph-Louis Lagrange, (1736-
1813), matemático francês de origem italiana, um dos primeiros professores das Escolas
Politécnica e Normal de Paris.
58 Capı́tulo 1. Integrais de Riemann
A função f não é contı́nua na origem, qualquer que seja o valor f (0), mas f é
integrável em qualquer intervalo [a, b]. Sendo FR(x) = |x|, então F é diferenciá-
x
vel para x 6= 0, onde F ′ (x) = sgn(x), e F (x) = a f (t)dt + F (a) para qualquer
x.
• A continuidade de F ,
• A integrabilidade de f , e
Observamos que
• f0 é uma função contı́nua, com perı́odo 1.
• 0 ≤ f0 (x) ≤ 21 , e f0 (k) = 0 para qualquer inteiro k ∈ Z.
1 n
Tomando fn (x) = 2n f0 (2 x) para n ≥ 0, temos igualmente
1
• fn é uma função contı́nua, com perı́odo 2n ,
1
• 0 ≤ fn (x) ≤ 2n+1 , e fn ( 2kn ) = 0, para qualquer k ∈ Z, e n ∈ N.
A função de van der Waerden é definida por
∞
X
f (x) = fn (x).
n=0
P∞ 1
É evidente que 0 ≤ f (x) ≤ n=0 2n+1 = 1 e, como a série acima converge
uniformemente em R, a função de van der Waerden é contı́nua em R. A figura
1.5.3 ilustra os gráficos das funções fn e f . O gráfico de cada função fn é “em
dente de serra”, formado por segmentos de recta de declive ±1, e usamos este
facto para demonstrar que:
Proposição 1.5.12. A função de van der Waerden não é diferenciável em
ponto nenhum.
kn − 1 kn
an = n
≤ x < n = bn .
2 2
f (bn ) − f (an )
lim = f ′ (x).
n→∞ bn − an
62 Capı́tulo 1. Integrais de Riemann
k
A função de van der Waerden é fácil de calcular nos pontos da forma n, porque
para m ≥ n temos fm ( 2kn ) = fn ( 2kn ) = 0, i.e.,
n−1 n−1 n−1
k X k f (bn ) − f (an ) X fm (bn ) − fm (an ) X
f( n
) = fm ( n
), e = = cm,n .
2 m=0
2 bn − an m=0
bn − an m=0
Um cálculo simples mostra que os declives cm,n são constantes para n > m, ou
seja, cm,n = dm , e
n−1
f (bn ) − f (an ) X
= dm , onde dm = ±1.
bn − an m=0
Exercı́cios.
R∞
1. Suponha que o integral impróprio(31 ) −∞ f (t)dt é convergente. A função
Rx
F (x) = a f (t)dt para x ∈ R é uniformemente contı́nua em R?
5. Prove que o gráfico da função de van der Waerden (exemplo 1.5.11) não
é rectificável em qualquer intervalo não trivial, i.e., com mais de um ponto.
Conclua em particular que esta função não é monótona em nenhum intervalo
não trivial.
Para provar (i), supomos ε > 0, e usamos 1.3.5 para concluir que existem
conjuntos elementares K (compacto), e U (aberto), tais que
36
A tese de Borel, de 1895, que curiosamente não faz qualquer referência à teoria da
integração, introduz pelo menos três ideias relacionadas entre si e fundamentais para essa
teoria: a aditividade do conteúdo para partições numeráveis, o teorema de Heine-Borel,
e a noção de conjunto de medida nula. O teorema de Heine-Borel é indispensável para
provar a propriedade de aditividade referida, e a definição de conjunto de medida nula
usa partições numeráveis para atribuir uma “medida” a conjuntos que podem não ser
Jordan-mensuráveis. Esta última definição tem aliás um domı́nio de aplicação tão geral
que cedo conduziu Borel a delicadas reflexões sobre a ideia de “conjunto”.
1.6. O Problema de Borel 65
2) P
A não é Jordan-mensurável, e neste caso não podemos ter cN (A) =
∞
n=1 cN (An ), apenas porque o lado esquerdo desta identidade não está
definido. (Fazemos aqui a convenção natural de atribuir à série a soma
∞, no caso de esta divergir no sentido usual do termo.)
P∞
a identidade cN (A) = n=1 cN (An ) deve ser a definição de cN (A).
Exemplo 1.6.2.
Seja A = Q = {q1 , q2 , · · · , qn , · · · }, e An = {qn }. É óbvio que os conjuntos An
são Jordan-mensuráveis, e c(An ) = 0. É também claro que Q não é Jordan-
mensurável, mas a ideia referida acima sugere que se defina c(Q) = 0.
Claro que é necessário verificar que esta ideia não conduz a ambigui-
dades, mas como veremos isso é uma adaptação simples do argumento que
utilizámos a propósito dos conjuntos elementares, já na proposição 1.1.9.
Antes de desenvolver esta observação, é para já mais conveniente enrique-
cer a terminologia e resultados abstractos introduzidos na secção 1.2 com
algumas noções complementares.
66 Capı́tulo 1. Integrais de Riemann
Exemplos 1.6.4.
1. O conteúdo de Jordan é σ-aditivo na classe dos conjuntos Jordan-mensuráveis,
conforme observámos no teorema 1.6.1. A demonstração do ponto (i) neste
teorema mostra igualmente que o conteúdo de Jordan é σ-subaditivo.
2. Exibimos aqui um conjunto aberto limitado que não é Jordan-mensurável.
Seja D = {q1 , q2 , · · · , qn , · · · } = Q ∩ [0, 1] o exemplo de Dirichlet, ε > 0, e
considerem-se os conjuntos abertos
∞
ε ε [
Un =]qn − n , qn + n [, e U = Un .
2 2 n=1
n−1
[
B1 = Ã1 , e, para n > 1, Bn = Ãn − Bk .
k=1
n−1
Figura 1.6.1: B1 = Ã1 , e para n > 1, Bn = Ãn − ∪k=1 Bk .
b) Jσ (RN ) = E ⊆ RN : E = ∞ N
S
n=1 En : En ∈ J (R ) .
Exemplos 1.6.9.
1. Qualquer conjunto numerável é σ-elementar. Se E = {x1 , x2 , · · · , xn , · · · },
então E = ∪∞n=1 En , onde os conjuntos En = {xn } são elementares. Dado que
cN (En ) = 0, temos c̃N (E) = 0. Em particular, Q é σ-elementar.
2. É fácil verificar que RN é um conjunto σ-elementar, e c̃N (RN ) = ∞.
3. A função c̃N é uma extensão do conteúdo de Jordan, i.e., se A ⊆ RN é
Jordan-mensurável, então c̃N (A) = cN (A).
4. Seja f : R → R limitada e contı́nua qtp no rectângulo compacto R, e D o
conjunto de pontos de descontinuidade de f . Recorde-se que D é uma união
numerável de conjuntos de conteúdo nulo, donde D ∈ Jσ (RN ), e c̃N (D) = 0.
Exemplo 1.6.13.
Seja D o exemplo de Dirichlet, e I = [0, 1] − D o conjunto dos irracionais em
[0, 1]. Sabemos que D é σ-elementar, c(D) = 0, e c([0, 1]) = 1. Se I ∈ Jσ (R),
segue-se pela propriedade de aditividade referida no teorema anterior que
1 = c([0, 1]) = c(I) + c(D) ⇒ c(I) = 1.
Sabemos que int(I) = ∅, e como referimos acima, se I ∈ Jσ (R) então c(I) = 0.
Concluı́mos que I 6∈ Jσ (R). Em particular, Jσ (R) não é uma semi-álgebra.
Exemplos 1.6.15.
1. o conjunto de volterra(38 ) - O conjunto de Cantor C(I) (exemplo 1.3.9)
foi definido como C(I) = ∩∞ n
n=0 Fn , onde Fn é uma união de 2 intervalos
fechados disjuntos Ik,n , e F0 = I = [a, b] é o “intervalo inicial”. A sucessão de
conjuntos Fn foi definida recursivamente: dividimos cada subintervalo Ik,n de
Fn em três intervalos de igual comprimento 13 c(Ik,n ), e designamos por Jk,n o
subintervalo médio (aberto) Jk,n ⊂ Ik,n . O conjunto Fn+1 resulta de extrair
de Fn os subintervalos Jk,n , i.e.,
n
2
[
Fn+1 = Fn − Un , onde Un = Jk,n .
k=1
É claro que nada nos impede de extrair, em cada passo, e de cada subintervalo
Ik,n , um intervalo aberto Jk,n , ainda centrado no ponto médio de Ik,n , mas
agora com comprimento c(Jk,n ) ≤ 13 c(Ik,n ). Exactamente como no procedi-
mento original de Cantor, é fácil verificar que (exercı́cio 12)
∞
\
V = Fn não é numerável, é perfeito, e tem interior vazio.
n=o
Como V tem interior vazio, só podemos ter c(V ) = 0, e portanto V 6∈ Jσ (RN )
quando ε > 0. Designaremos o conjunto V no que se segue por Cε (I).
38
Vito Volterra descobriu exemplos análogos a este e ao seguinte em 1881, quando era
ainda estudante. Actualmente é comum dizer que conjuntos deste tipo são “de Cantor”.
72 Capı́tulo 1. Integrais de Riemann
x sen( x1 ), se x 6= 0,
2
f (x) =
0, se x = 0.
2x sen( x1 ) − cos( x1 ), se x 6= 0,
′
f (x) =
0, se x = 0.
′ F (x + h) − F (x) F (x + n1 ) − F (x)
F (x) = lim = lim 1
h→0 h n→∞
n
1
= lim gn (x), onde gn (x) = n(F (x + ) − F (x)).
n→∞ n
As funções gn são Riemann-integráveis desde que F o seja, mas daqui não
podemos concluir a integrabilidade da função limite F ′ , como sabemos.
A classe Jσ (RN ) é uma extensão não-trivial de J (RN ), já que contém
conjuntos que não são Jordan-mensuráveis, mas não é ainda uma base satis-
fatória para o desenvolvimento da teoria. Por exemplo, e como apontámos
acima, se A ⊆ B, e A, B ∈ Jσ (RN ), então só é razoável tomar c(B −
A) = c(B) − c(A), mas já vimos que podemos ter B − A 6∈ Jσ (RN ). Por
outras palavras, a classe Jσ (RN ) é, apesar de tudo, demasiado pequena, em
particular porque não é uma semi-álgebra.
Borel teve aqui o enorme mérito de analisar e identificar com total clareza
as dificuldades com que se debatia. Enunciou com muita precisão o pro-
blema que entendia dever ser resolvido, listando o que ele referia como os
“princı́pios gerais” a satisfazer. Borel foi assim um notável pioneiro do tipo
de procedimento que hoje chamamos de “axiomático”.
Não vamos descrever imediatamente a solução que Borel descobriu para este
problema(40 ). Estudamos para já alguns resultados auxiliares importantes,
39
O próprio Henri Lebesgue considerava este exemplo como uma das suas mais impor-
tantes motivações na busca de uma teoria de integração mais geral do que a de Riemann.
Como veremos mais adiante, a regra de Barrow é válida para a função de Volterra na
teoria da integração de Lebesgue.
40
Veremos adiante que a classe MN = B(RN ) descoberta por Borel, formada pelos con-
74 Capı́tulo 1. Integrais de Riemann
Exercı́cios.
1. Seja C uma classe de conjuntos tal que ∅ ∈ C, e λ : C → [0, +∞] uma função
σ-aditiva em C.
10. Suponha que E ∈ Jσ (RN ) é limitado, e prove que cN (E) ≤ cN (E) ≤ cN (E).
14. Seja U o conjunto aberto referido no exemplo 1.6.4.2. O que pode concluir
sobre a mensurabilidade de U , se ε = 21 ?
42
Usamos as seguintes designações para cardinais infinitos: ℵ0 é o cardinal de N, ℵ1 é o
cardinal de R, ℵ2 é o cardinal de P(R), ℵ3 é o cardinal de P(P(R)), etc.
Capı́tulo 2
A Medida de Lebesgue
1
Além de Henri Leon Lebesgue, 1875-1941, formado em 1897 pela École Normale
Supérieure, donde conhecia Borel, pelo menos o matemático italiano Giuseppe Vitali,
1875-1941, na altura assistente na Scuola Normale de Pisa, e o matemático inglês William
Henry Young, 1863-1942, então em Göttingen.
77
78 Capı́tulo 2. A Medida de Lebesgue
Exemplos 2.1.2.
1. Nesta terminologia, a condição c) do Problema de Borel pode enunciar-se:
“MN é uma σ-álgebra em RN ”.
2. Sendo I = [0, 1], a classe J (I) é uma álgebra, mas o conjunto de Dirichlet
D = Q ∩ I mostra que J (I) não é fechada em relação a uniões numeráveis, e
portanto não é uma σ-álgebra.
2
Johann Radon (1887-1956), matemático austrı́aco. Foi professor em diversas universi-
dades alemãs, e terminou a sua carreira na Universidade de Viena, onde se tinha doutorado
em 1910.
2.1. Espaços Mensuráveis e Medidas 79
Exemplos 2.1.6.
1. A distribuição de dirac δ, definida em P(R) por
1, se 0 ∈ A, e
δ(A) =
0, se 0 6∈ A,
Exemplos 2.1.8.
1. (R, P(R), δ) é um espaço de medida.
Exemplos 2.1.10.
1. Qualquer espaço de probabilidades é um espaço de medida finito, porque,
neste caso, µ(X) = 1.
2. O pente de Dirac (exemplo 2.1.6.4) é uma medida σ-finita que não é finita.
a) µ(∅) = 0.
d) Subaditividade e σ-subaditividade:
m
[ m
X ∞
[ ∞
X
µ( En ) ≤ µ(En ), e µ( En ) ≤ µ(En ).
n=1 n=1 n=1 n=1
Exemplo 2.1.14.
Considere-se o espaço de medida (de contagem) (N, P(N), #). Os conjuntos
En = {k ∈ N : k ≥ n} formam uma sucessão decrescente, e ∩∞
n=1 En = ∅. Como
#(En ) = +∞, é evidente que #(En ) não converge para #(∩∞n=1 En ) = 0.
Exemplos 2.1.16.
1. A função λ : P(X) → [0, +∞], dada por
0, se E = ∅, e
λ(E) =
1, se E 6= ∅,
é uma medida exterior. A função λ não é aditiva, e não é uma medida, excepto
nos casos triviais em que X é vazio, ou tem apenas um elemento.
a) ∅ ∈ S, e λ(∅) = 0,
3
Dizemos neste caso que S é uma cobertura sequencial de X.
2.1. Espaços Mensuráveis e Medidas 85
∞ ∞
( )
X [
λ∗ (E) = inf λ(Sn ) : E ⊆ Sn , Sn ∈ S .
n=1 n=1
∞
∞ X ∞ ∞
X X ε X
λ∗ (E) ≤ λ(Smn ) ≤ [λ∗ (En ) + n
]≤ε+ λ∗ (En ).
2
n=1 m=1 n=1 n=1
Exemplos 2.1.19.
1. Designando por R(RN ) a classe dos rectângulos-N limitados, é claro que
R(RN ) é uma cobertura sequencial de RN . Veremos já na próxima secção que
a medida exterior de Lebesgue em RN , designada m∗N , pode ser obtida fazendo
S = R(RN ), e λ = cN . Mais precisamente,
∞ ∞
( )
X [
m∗N (E) = inf cN (Rn ) : E ⊆ Rn , Rn ∈ R(RN ) .
n=1 n=1
∞ ∞
( )
X [
∗ N
λ (E) = inf λ(Rn ) : E ⊆ Rn , Rn ∈ R(R ) .
n=1 n=1
86 Capı́tulo 2. A Medida de Lebesgue
3. A classe F(R) formada pelos intervalos da forma ]a, b] é uma cobertura se-
quencial de R. Vimos no exemplo 1.2.5.5 que qualquer função F : R → R
determina uma função λ : F(R) → R, dada por λ(]a, b]) = F (b) − F (a). Su-
pondo que F é crescente, a função λ∗ : P(R) → [0, ∞], dada por
∞ ∞
( )
X [
∗
λ (E) = inf [F (bn ) − F (an )] : E ⊆ ]an , bn ],
n=1 n=1
Exercı́cios.
4. Em cada um dos casos seguintes, prove que a função µ : P(X) → [0, +∞]
dada é uma medida na σ-álgebra P(X).
a) A medida de contagem #.
b) a medida de Dirac δx0 , onde x0 ∈ X.
mN (E) ≤ mN (U ) = cN (U ).
cN (U ) : E ⊆ U, U ∈ Eσ (RN ) .
mN (E) é minorante do conjunto
∞ ∞
( )
X [
m∗N (E) = inf cN (Rn ) : E ⊆ Rn , Rn rectângulo limitado ,
n=1 n=1
N
inf cN (U ) : E ⊆ U ⊆ R , U aberto .
cN (E) = cN (E).
Por hipótese, temos m∗N (Rn ∩ E) + m∗N (Rn − E) = cN (Rn ). Concluı́mos que
∞
X
m∗N (F ∩ E) + m∗N (F − E) ≤ cN (Rn ).
n=1
mais uma vez, porque m∗N é monótona. Por outro lado, e como m∗N é subadi-
tiva, temos
m∗N (F ∩ E) + m∗N (F − E) ≥ m∗N (F ).
Concluı́mos que qualquer conjunto com medida exterior nula é Lebesgue-men-
surável.
3. Já observámos que E ⊂ RN é um conjunto nulo no sentido de Borel se e só
se m∗N (E) = 0. Podemos concluı́r que E é nulo no sentido de Borel se e só se
E ∈ L(RN ) e mN (E) = 0.
4. O conjunto Q dos racionais é Lebesgue-mensurável, porque tem medida ex-
terior nula, como vimos no exemplo 2.2.4.
5. Se E ⊂ RN tem medida exterior nula, e F ⊆ RM é arbitrário, então E ×
F é Lebesgue-mensurável, porque tem medida exterior nula, como vimos na
proposição 2.2.5.
a) J (RN ) ⊂ L(RN ).
(A ∪ B) ∩ A = A e (A ∪ B) − A) = B.
m(E + x) = m(E).
Exemplo 2.2.13.
7
Mostraremos adiante que as soluções do problema “fácil” de Lebesgue são as chamadas
soluções regulares do problema de Borel. Provaremos também que, em qualquer caso, se
µ é uma solução do problema de Borel definida na σ-álgebra L∗ (RN ), então µ coincide
com mN em L∗ (RN ) ∩ L(RN ).
8
Em “Leçons Sur L’Integration et La Recherche de Fonctions Primitives”, de H. Le-
besgue, Paris 1904 e 1928. Lebesgue enunciou a condição 1. na forma (equivalente) de
“m([0, 1]) 6= 0”.
9
Vitali, G.: Sul problema della misura dei gruppi di punti di una retta. Bologna
(1905). De Giuseppe Vitali, 1875-1941, matemático italiano, professor nas Universidades
de Pádua e Bolonha.
10
Sierpinski, W.: Sur une problème conduisant à un ensemble non mesurable. Fund.
Math. 10 (1927) 177-179. De Waclaw Sierpinski, 1882-1969, um dos mais produtivos
matemáticos polacos do século XX, professor na Universidade de Varsóvia.
96 Capı́tulo 2. A Medida de Lebesgue
x∼y ⇔x−y ∈Q
x = a + rn = a∗ + rm ⇒ a − a∗ = rm − rn ∈ Q ⇒ a ∼ a∗ ⇒ [a] = [a∗ ].
Concluı́mos que m(S) só pode tomar um de dois valores, dependendo do valor
de m(A):
(1) m(A) 6= 0 =⇒ m(S) = +∞, ou
(2) m(A) = 0 =⇒ m(S) = 0.
Demonstramos que o problema “difı́cil” de Lebesgue não tem solução, verifi-
cando que qualquer uma destas alternativas conduz a contradições. Provamos
primeiro que a alternativa (1) é impossı́vel:
11
Ver nota complementar sobre o axioma da escolha, no final desta secção.
2.2. A Medida de Lebesgue 97
Demonstração. Basta observar que A ⊆ ]0, 1[, e −1 < rn < +1, donde An ⊆
] − 1, 2[, e S ⊆] − 1, 2[. Como m é monótona, temos m(S) ≤ m(] − 1, 2[), e, de
acordo com 1. (Normalização), m(] − 1, 2[) = 3.
Como acabámos de ver, o problema 2.2.12 não tem solução, ou seja, não
é possı́vel atribuir um comprimento a todos os subconjuntos da recta real de
modo a satisfazer as três propriedades que indicámos. Como também vimos,
a medida exterior de Lebesgue satisfaz as condições (1) e (2) do Problema
2.2.12. Concluı́mos que a medida exterior de Lebesgue não pode ser σ-
aditiva, e portanto não pode ser aditiva, na classe de todos os subconjuntos
de R. Como a medida exterior de Lebesgue é aditiva em L(RN ), podemos
concluir, desde já, que L(R) 6= P(R). Por outras palavras,
Existem subconjuntos de R que não são Lebesgue-mensuráveis.
Já vimos que a medida exterior de Lebesgue é invariante sob translacções,
e referimos que se A é Lebesgue-mensurável então A + x é igualmente Le-
besgue-mensurável (exercı́cio 2). Daqui obtemos que
o conjunto A do exemplo de Sierpinski não é Lebesgue-mensurável.
Aproveitamos para uma breve descrição do chamado axioma da es-
colha da Teoria dos Conjuntos, e para esclarecer um pouco melhor o seu
papel na definição do exemplo de Sierpinski. Uma das maneiras de enunciar
este axioma é a seguinte:
2.2.19 (Axioma da Escolha). Seja F uma famı́lia de conjuntos não-vazios,
e T = ∪C∈F C. Então existe uma função f : F → T tal que f (C) ∈ C, para
qualquer C ∈ F.
Intuitivamente, a função f “escolhe” um elemento de cada conjunto C
que pertence à famı́lia F, e daı́ o nome do axioma. É por isso comum
referirmo-nos a f como uma “função de escolha”.
No caso do exemplo de Sierpinski, começamos por tomar Cx = [x]∩]0, 1[
para qualquer x ∈ R. Temos, então, (porquê?)
Para qualquer x ∈ R, Cx = {y ∈ ]0, 1[: x ≃ y} , e Cx 6= ∅, e ainda
98 Capı́tulo 2. A Medida de Lebesgue
[
T = Cx =]0, 1[.
x∈R
Seja agora F = {Cx : x ∈ R}. Pelo axioma da escolha, existe uma função
f : F →]0, 1[ tal que f (C) ∈ C, para qualquer C ∈ F. O conjunto A usado
no exemplo de Sierpinski é, exactamente,
A = f (F) = {f (C) : C ∈ F} .
Exercı́cios.
µ∗ (X) = µ∗ (E) + µ∗ (E c ).
Como X 6= ∅, sabemos que µ∗ (X) = 1, e a igualdade anterior só pode ser válida
se µ∗ (E) = 0, ou µ∗ (E c ) = 0, ou seja, se E = ∅, ou E c = ∅ ( i.e., se E = X).
Por outras palavras, os únicos conjuntos que podem ser µ∗ -mensuráveis são ∅,
e X. Como estes conjuntos são sempre µ∗ -mensuráveis (porquê?), neste caso
os conjuntos µ∗ -mensuráveis reduzem-se exactamente a ∅ e X.
2.3. Medidas Exteriores 101
a) X ∈ Mµ∗ ,
Como µ∗ é, por hipótese, subaditiva, temos apenas que mostrar que
µ∗ (F ) ≥ µ∗ (F ∩ (A ∩ B)) + µ∗ (F ∩ (A ∩ B)c ).
F ∩ (A ∩ B)c = (F ∩ Ac ) ∪ (F ∩ A ∩ B c ).
µ∗ (F ∩ Ac ) + µ∗ (F ∩ A ∩ B c ) ≥ µ∗ (F ∩ (A ∩ B)c ).
(i ) µ∗ (F ∩ Ac ) + µ∗ (F ∩ A ∩ B) + µ∗ (F ∩ A ∩ B c ) ≥
≥ µ∗ (F ∩ A ∩ B) + µ∗ (F ∩ (A ∩ B)c ).
µ∗ (F ∩ A ∩ B) + µ∗ (F ∩ A ∩ B c ) = µ∗ (F ∩ A).
(ii) µ∗ (F ∩ Ac ) + µ∗ (F ∩ A) ≥ µ∗ (F ∩ A ∩ B) + µ∗ (F ∩ (A ∩ B)c ).
µ∗ (F ) ≥ µ∗ (F ∩ A ∩ B) + µ∗ (F ∩ (A ∩ B)c ).
102 Capı́tulo 2. A Medida de Lebesgue
µ∗ (A ∪ B) = µ∗ (A) + µ∗ (B).
(A ∪ B) ∩ A = A, e (A ∪ B) − A = B,
µ∗ (C ∩ (A ∪ B)) = µ∗ (C ∩ A) + µ∗ (C ∩ B).
µ∗ (D) = µ∗ (D ∩ A) + µ∗ (D − A).
µ∗ (D) = µ∗ (D ∩ A) + µ∗ (D ∩ B).
Em particular,
m
[ m
X
∗
µ ( En ) = µ∗ (En ).
n=1 n=1
Em particular,
∞
[ ∞
X
∗
µ ( En ) = µ∗ (En ).
n=1 n=1
104 Capı́tulo 2. A Medida de Lebesgue
Notamos que
m
X
Ẽm ⊆ E ⇒ F ∩ Ẽm ⊆ F ∩ E ⇒ µ∗ (F ∩ En ) = µ∗ (F ∩ Ẽm ) ≤ µ∗ (F ∩ E).
n=1
Para mostrar que Mµ∗ é solução do Problema 2.3.1, resta-nos provar que
µ∗ (F ) ≥ µ∗ (F ∩ E) + µ∗ (F ∩ E c ).
2.3. Medidas Exteriores 105
µ∗ (F ) = µ∗ (F ∩ Ẽm ) + µ∗ (F ∩ Ẽm
c
).
Ẽm ⊆ E ⇒ µ∗ (F ∩ Ẽm
c
) ≥ µ∗ (F ∩ E c ), donde
µ∗ (F ) ≥ µ∗ (F ∩ Ẽm ) + µ∗ (F ∩ E c ).
De acordo com 2.3.7, temos µ∗ (F ∩ Ẽm ) = m ∗
P
n=1 µ (F ∩ En ), e, por isso
m
X
µ∗ (F ) ≥ µ∗ (F ∩ En ) + µ∗ (F ∩ E c ).
n=1
µ∗ (F ) ≥ µ∗ (F ∩ E) + µ∗ (F ∩ E c ).
Observamos que A ⊆ E ⊆ B, A, B ∈ M, e
∞
[ ∞
X
B−A⊆ (Bn − An ) , donde 0 ≤ µ(B − A) ≤ µ(Bn − An ) = 0.
n=1 n=1
Exercı́cios.
3. Em cada um dos casos seguintes, prove que a função µ∗ : P(X) → [0, +∞]
dada é uma medida exterior, e descreva os conjuntos µ∗ -mensuráveis.
a) µ∗ (E) = #(E).
∗ 0, se E é finito ou numerável,
b) µ (E) =
1, se E é não-numerável.
(Suponha, aqui, X infinito não-numerável.)
5. Suponha que µ∗n : P(X) → [0, +∞] é uma medida exterior para qualquer
P∞
n ∈ N, e prove que µ∗ , dada por µ∗ (E) = n=1 µ∗n (E), é, igualmente, uma
medida exterior em X.
7. Dado o espaço de medida (X, M, µ), definimos a função λ∗ : P(X) → [0, +∞]
por λ∗ (E) = inf {µ(S) : E ⊆ S, S ∈ M}. Prove as seguintes afirmações:
a) λ∗ é uma medida exterior, e, sendo Mλ∗ a classe dos conjuntos λ∗ -
mensuráveis, M ⊆ Mλ∗ ,
b) λ∗ (F ) = 0 se e só se existe E ∈ M tal que F ⊆ E e µ(E) = 0. Em
particular, (X, M, µ) é completo se e só se λ∗ (E) = 0 ⇒ E ∈ M.
c) Se o espaço (X, M, µ) é finito, e λ é a restrição de λ∗ a Mλ∗ , prove que
(X, Mλ∗ , λ) = (X, Mµ , µ), tal como este espaço foi definido em 2.3.16.
d) Mostre que a conclusão da alı́nea anterior é ainda válida, supondo apenas
que o espaço (X, M, µ) é σ-finito.
e) Verifique que, quando (X, M, µ) não é σ-finito, podemos ter (X, Mλ∗ , λ) 6=
(X, Mµ , µ).
são Lebesgue-mensuráveis.
2.4. Os Espaços de Borel e de Lebesgue 109
10. Prove que E ⊆ RN tem subconjuntos não-mensuráveis se e só se m∗N (E) >
0. Sugestão: Recorde o exemplo de Sierpinski.
É claro que B(RN ) ⊆ L(RN ), mas não é simples mostrar que B(R) 6= L(R).
Para o provar, usamos a seguir um argumento indirecto, que combina de
uma forma muito interessante diversos exemplos que já mencionámos: a
função “escada do diabo” F (1.5.9), o conjunto de Cantor C (1.3.9), e o
exemplo de Sierpinski A (2.2.15).
Exemplo 2.4.9.
Propomo-nos apresentar um conjunto que é Lebesgue-mensurável, mas não
é Borel-mensurável. O exemplo em causa mostrará ainda que o espaço de
medida de Borel não é completo. Os passos principais são os seguintes:
a) Consideramos o conjunto B = F −1 (A) ∩ C, e provamos que F (B) = A.
b) Introduzimos a classe A, formada pelos conjuntos cujas imagens por F
são Borel-mensuráveis, i.e.,
A = {E ⊂ R : F (E) ∈ B(R)} .
n
∞
\ 2
[
C= Fn , onde Fn = In,k , e os conjuntos In,k são intervalos fechados.
n=0 k=1
Sabemos que
(4) F é constante em cada intervalo Un .
k
(5) O valor de F em cada intervalo Un é um racional qn (da forma 2m ).
(6) Se n 6= m então qn 6= qm .
Suponha-se que ]x, y[ ∩ C 6= ∅. Dado z ∈ ]x, y[ ∩ C, existem n, k ∈ N tais
que z ∈ In,k ⊆ ]x, y[. É imediato concluir que ]x, y[ contém 2 subintervalos do
conjunto Fn+1 , e portanto contém pelo menos 3 subintervalos de U (porquê?).
Como F é crescente, segue-se de (6) que F (x) < F (y). Como supomos que
F (x) = F (y), concluı́mos que ]x, y[⊂ U , e temos de (4) que F (x) ∈ F (U ) ⊂ Q.
Seja agora E ∈ A, i.e., F (E) ∈ B(R). O conjunto F (E) ∩ F (E c ) ⊆ Q, de
acordo com (3), e por isso é numerável, e Borel-mensurável. Como
Obtemos então:
∞
X 1
m(F (I)) = εc(I) = εc(I), e m(G(I)) = (1 − ε)c(I).
n=1
2n
BU = V ⊆ RM : U × V ∈ B(RN +M ) .
U × V c = (U × V )c ∩ U × RM .
adaptar os argumentos acima para mostrar que esta classe é, também, uma
σ-álgebra:
• U= ∞
S S∞ ∗
n=1 Un ⇒ U × B = n=1 Un × B, e, por isso, BB é fechada em
relação a uniões numeráveis.
116 Capı́tulo 2. A Medida de Lebesgue
• U c × B = (U × B)c ∩ RN × B , donde BB
∗ é fechada em relação a
complementações.
Podemos concluir, mais uma vez, que
∗ é uma σ-álgebra que contém os abertos, e portanto contém
(6) A classe BB
os conjuntos Borel-mensuráveis. Dito doutra forma,
E ⊆ U , e m∗N (U − E) < ε.
E ⊆ B, e m∗N (B − E) = 0.
U = ∪∞
n=1 Un é aberto, porque é uma união de abertos. É claro que
∞
[ ∞
[ ∞
[ ∞
[
E= En ⊆ Un = U , e U − E = (Un − E) ⊆ (Un − En ).
n=1 n=1 n=1 n=1
Por σ-subaditividade,
∞ ∞ ∞
[ X X ε
m∗N (U − E) ≤ mN ( Un − E n ) ≤ mN (Un − En ) < < ε.
2n
n=1 n=1 n=1
1
Passamos a provar que b) ⇒ c). Dado ε = n > 0, temos, de acordo com
b), que existe um aberto Un tal que
1
E ⊆ Un , e mN (Un − E) < .
n
Consideramos o conjunto B = ∞
T
n=1 Un , que é de tipo Gδ , e portanto Borel-
mensurável, e notamos que E ⊆ B, e B − E ⊆ Un − E, para qualquer n.
Como m∗N (B − E) ≤ m∗N (Un − E), temos
1
m∗N (B − E) < , para qualquer n, donde m∗N (B − E) = 0.
n
Finalmente, provamos que c) ⇒ a), para concluir a demonstração. Temos
que E ⊆ B, e m∗N (B−E) = 0. O conjunto B é Lebesgue-mensurável, porque
é Borel-mensurável, e o conjunto N = B −E é Lebesgue-mensurável, porque
tem medida nula. Logo, E = B−N é, igualmente, Lebesgue-mensurável.
a) E ⊆ RN é Lebesgue-mensurável.
118 Capı́tulo 2. A Medida de Lebesgue
F ⊆ E ⊆ U , e mN (U − F ) < ε.
A ⊆ E ⊆ B e mN (B − A) = 0.
Os conjuntos com medida finita podem ainda ser aproximados por con-
juntos compactos, e mesmo por conjuntos elementares (exercı́cio 6):
2.4. Os Espaços de Borel e de Lebesgue 119
K ⊆ E ⊆ U , e mN (U − K) < ε.
mN +M (A × B) = mN (A) × mM (B).
mN (A + x) = mN (A),
mN +M (Un × Vn ) → mN +M (A × B) .
10. Seja A ⊆ RN e B ⊆ RM .
a) Mostre que se B é compacto então m∗N +M (A × B) = m∗N (A)mM (B).
b) Mostre que m∗N +M (A × B) = m∗N (A)mM (B) para qualquer B ∈ L(RM ).
P∞
11. Suponha que n=1 |cn | < ∞, seja D = {xn : n ∈ N} um conjunto infinito
numerável em R, e considere a função f : R → R com suporte em D, tal que
f (xn ) = cn .
a) Prove que f ′ (x) = 0 qtp em R. sugestão: Aplique o lema de Borel-
Cantelli aos conjuntos:
∞ [ ∞
|cn | 1 \
An,k = x ∈ R : > , e Ak = An,k .
|x − xn | k m=1 n=m
Integrais de Lebesgue
A exposição que se segue é, em certo sentido, uma adaptação directa das
ideias de Jordan e Peano apresentadas no Capı́tulo 1: resulta destas pela
simples substituição do conteúdo de Jordan pela medida de Lebesgue. A cor-
respondente definição do integral é a que Lebesgue chamava de “geométrica”,
e tem como principal vantagem a de tornar evidente a relação entre alguns
dos principais resultados da Teoria da Medida e da Teoria da Integração.
Neste contexto, as funções Lebesgue-mensuráveis são as funções cujas
regiões de ordenadas são conjuntos Lebesgue-mensuráveis. Analogamente,
as funções Borel-mensuráveis são aquelas cujas regiões de ordenadas são con-
juntos Borel-mensuráveis. Os respectivos integrais de Lebesgue são definidos
usando a medida de Lebesgue das suas regiões de ordenadas, e dizem-se, por
isso, “em ordem à medida de Lebesgue”.
Estabelecemos muito rapidamente algumas das propriedades mais rele-
vantes do integral de Lebesgue, usando frequentemente argumentos conheci-
dos do Capı́tulo 1. As vantagens técnicas do integral de Lebesgue começarão
a tornar-se aparentes quando estudarmos os resultados clássicos sobre limi-
tes e integrais, hoje conhecidos como o teorema da convergência monótona,
ou de Beppo Levi, o lema de Fatou, e o teorema da convergência dominada,
ou de Lebesgue. Estes resultados são centrais na moderna teoria da inte-
gração, e são reflexos directos das “propriedades essenciais” identificadas no
enunciado do Problema de Borel.
Estudamos, em seguida, o teorema de Fubini-Lebesgue. Na forma em
que o apresentamos, este teorema estabelece a mensurabilidade das secções
de qualquer conjunto mensurável, e exprime a medida desse conjunto como
o integral da medida das suas secções, convenientemente escolhidas. Um
corolário directo, mas fundamental, do teorema de Fubini-Lebesgue permite-
nos caracterizar as funções mensuráveis de uma forma mais conveniente para
o desenvolvimento da teoria: as funções mensuráveis são limites de sucessões
de funções simples. Os integrais das funções simples desempenham, na teoria
de Lebesgue, o papel das somas de Darboux na teoria de Riemann.
123
124 Capı́tulo 3. Integrais de Lebesgue
2 2
4. Considere-se a função f (x, y) = e−x −y , e seja Bn = Bn (0) a bola centrada
na origem com raio n. A função f é Riemann-integrável em Bn , e podemos
calcular o respectivo integral usando coordenadas polares:
Z Z n Z 2π Z n n Z
−r 2 −r 2 −r 2
f= e rdθdr = 2π e rdr = −πe →π= f dm2 .
Bn 0 0 0 0 R2
Para adaptar este argumento ao caso em que f (x) ≤ g(x), apenas qtp em
E, consideramos funções auxiliares f˜ = f χẼ , e g̃ = gχẼ , onde Ẽ = {x ∈
E : f (x) ≤ g(x)}. As funções f˜ e g̃ são L-mensuráveis em E, de acordo com
3.1.5 a), e f˜(x) ≤ g̃(x), para qualquer x ∈ E. Aplicando o resultado que
acabámos de provar às funções f˜ e g̃, e 3.1.5 a), obtemos
Z Z Z Z
f dmN = ˜
f dmN ≤ g̃dmN = gdmN .
E E E E
∞
X ∞
X
mN +1 (ΩE (f )) = mN +1 (ΩEn (f )), i.e., λ(E) = λ(En ).
n=1 n=1
b) Como ΩE (f ) ⊆ E × R, é claro que
mN (E) = 0 =⇒ 0 ≤ λ(E) = mN +1 (ΩE (f )) ≤ mN +1 (E × R) = 0.
Ω+
E (f ) = {(x, y) ∈ R
N +1
: x ∈ E, e 0 < y < f (x)}, e
Ω−
E (f ) = {(x, y) ∈ R
N +1
: x ∈ E, e 0 > y > f (x)}.
O gráfico de f em E é o conjunto
GE (f ) = {(x, y) ∈ RN +1 : x ∈ E, e y = f (x)},
e é evidente que ΩE (f ) não inclui quaisquer pontos de GE (f ). No entanto,
é útil reconhecer que, em larga medida, a inclusão ou exclusão de pontos do
gráfico é irrelevante, tal como vimos para as funções Riemann-integráveis,
cujo gráfico é sempre Jordan-mensurável, e de conteúdo nulo. Definimos os
conjuntos ΣE (f ) = Σ+ −
E (f ) ∪ ΣE (f ) por
Σ+
E (f ) = {(x, y) ∈ R
N +1
: x ∈ E, e 0 < y ≤ f (x)}, e
Σ−
E (f ) = {(x, y) ∈ R
N +1
: x ∈ E, e 0 > y ≥ f (x)}.
Notamos que ΓE (f ) = ΣE (f ) − ΩE (f ) ⊆ GE (f ), porque ΓE (f ) é o gráfico
de f no subconjunto de E onde f (x) 6= 0. O teorema seguinte formaliza as
observações acima para funções L-mensuráveis:
Teorema 3.1.11. Se E ⊆ RN , e f : E → R, então
a) ΩE (f ) ∈ L(RN +1 ) ⇔ ΣE (f ) ∈ L(RN +1 ) ⇒ GE (f ) ∈ L(RN +1 ).
b) ΩE (f ) ∈ L(RN +1 ) ⇒ mN +1 (GE (f )) = 0.
Demonstração. Consideramos a função g, definida por g(x) = f (x), quando
x ∈ E, e g(x) = 0, quando x 6∈ E, que é L-mensurável em RN . Temos
ΩE (f ) = ΩRN (g), ΣE (f ) = ΣRN (g), e ΓE (f ) = ΓRN (g).
Observamos que GE (f ) − ΓE (f ) = {(x, 0) : x ∈ E, f (x) = 0} é sempre
L-mensurável, porque tem medida nula.
132 Capı́tulo 3. Integrais de Lebesgue
Exercı́cios.
1
a) f (x) = x2 , E = [1, +∞[.
b) f (x) = log(|x|), E = [−1, +1].
c) f (x) = x1 , E = [0, +∞[.
sen x
d) f (x) = x , E = [0, +∞[.
1
e) f (x) = dir(x) , E =] − ∞, +∞[.
Lf = {E ⊆ RN : ΩE (f ) ∈ L(RN +1 }.
• O lema de Fatou, e
Temos então:
∞
[ ∞
\
a) Ω+
E (g) = Ω+ −
E (fn ), e ΣE (g) = Σ−
E (fn ), e
n=1 n=1
\∞ ∞
[
b) Σ+
E (h) = Σ+ −
E (fn ), e ΩE (h) = Ω−
E (fn ).
n=1 n=1
Exemplo 3.2.5.
Seja f a função com suporte em ]0, 1[, e f (x) = √1 ,
quando 0 < x < 1.
x
R1
Observámos no exemplo 3.1.2.3 que o integral impróprio 0 f (x)dx existe, e é
igual a 2. Sendo Q ∩ ]0, 1[ = {q1 , q2 , · · · }, consideramos
n ∞
X 1 X 1
gn (x) = f (x − q k ) ր g(x) = f (x − qk ).
2k 2k
k=1 k=1
Se alguma das funções fn é somável, então existe k tal que mN +1 (ΣE (fk )) <
+∞. Concluı́mos, directamente de 2.1.13 e 3.1.11, que:
Z Z
mN +1 (ΣE (fn )) → mN +1 (ΣE (f )), i.e., fn dmN → f dmN .
E E
b) Existe uma função somável F : E → [0, +∞] tal que |fn (x)| ≤ F (x),
qtp em E, e
4
Publicado por Lebesgue, em 1908.
3.2. Limites, Mensurabilidade e Integrais 141
Exemplo 3.2.11.
derivada de um integral paramétrico: É muito frequente invocar o teo-
rema da convergência dominada de Lebesgue para calcular a derivada de um
integral paramétrico. Considere-se, a tı́tulo de exemplo, o integral
Z ∞
F (s) = e−st sen(t2 )dt, para s > 0.
0
Exercı́cios.
12. Calcule n
x n x
Z
lim 1− e 2 dx.
n→+∞ 0 n
π = (x, y) ∈ RN +M : y = y 0 ,
y ∈ RM : (t, y) ∈ E , se i = 0,
Eit = x ∈ RM : (x, t) ∈ E , se i = M,
(x, z) ∈ RM : x ∈ Ri , z ∈ RM −i , (x, t, z) ∈ E , se 0 < i < M.
Exemplos 3.3.2.
1. Seja Ω ⊂ R3 a região de ordenadas de f : R2 → R. Escrevemos os pontos de
R3 na forma v = (x, y, z), e observamos que, se t ∈ R, e f ≥ 0, então:
• Ωt0 = {(y, z) : 0 < z < f (t, y)} é a região de ordenadas da função gt : R →
R, dada por gt (y) = f (t, y).
• Ωt1 = {(x, z) : 0 < z < f (x, t)} é a região de ordenadas da função ht :
R → R, dada por ht (x) = f (x, t).
• Ωt2 = {(x, y) : 0 < t < f (x, y)} é o conjunto de pontos onde f é maior do
que t.
Exemplo 3.3.6.
Designamos por E a região de ordenadas da função f : R2 → R dada por
z = log(x2 + y 2 ), no conjunto B1 (0). Se z < 0, as secções E2z são cı́rculos, de
z
raio r = e 2 , donde A2 (z) = πez .
A medida do conjunto E é dada, portanto, por
Z 0 Z 0
m3 (E) = A2 (z)dm = πez dm,
−∞ −∞
que pode ser calculado como um integral impróprio de Riemann. Temos, assim,
Z 0 0
m3 (E) = lim πet dm = lim π et z = π.
z→−∞ z z→−∞
R R
c) Sendo A(x) = RM gxdmM , e B(y) = RN hy dmN , as funções A e B
são L-mensuráveis, e
Z Z ZZ
AdmN = BdmM = f dmN +M .
RN RM RN +M
Esta secção é a região de ordenadas da função gx, i.e., E0x = ΩRM (gx), e
aplicamos o teorema 3.3.5, para concluir que
Z Z ZZ
AdmN = mM +1 (E0x)dmN = mN +M +1 (E) = f dmN +M .
RN RN RN +M
Na notação do teorema 3.3.5, a função A deve ser designada por A0 .
É muito fácil verificar que a função B é a função AN , e que as secções
y
correspondentes, i.e., os conjuntos EN , são as regiões de ordenadas das
funções hy .
Notamos que:
(ii) (Un )ti ր Eit, donde mM ((Un )ti ) → mM (Eit), para qualquer t ∈ RK .
As funções An,i (t) = mM (Un )ti são em escada, de acordo com o lema
3.3.8. São, portanto, B-mensuráveis.
Por outro lado, de acordo com (ii),
t
temos An,i ր Ai = mM Ei . Concluı́mos, do teorema de Beppo Levi, que
estes conjuntos Fn,i são elementares. É imediato verificar que Fn,i ր Fi (λ),
e concluı́mos, assim, que Fi (λ) é B-mensurável.
Para provar a afirmação d), notamos que, para qualquer n ∈ N, temos
Z Z
mN (E) = Ai (t)dmK ≥ Ai (t)dmK ≥ n mK (Fi (n)).
RK Fi (n)
Temos assim que mK (Fi (n)) ≤ n1 mN (E). Se mN (E) < ∞, é claro que
∞ ∞
\ 1 \
mK ( Fi (n)) ≤ mN (E), para qualquer n ⇒ mK ( Fi (n)) = 0.
n
n=1 n=1
b) Ai ≃ 0 em RK , Ai é L-mensurável, e
Z
Ai dmK = mN (E) = 0.
RK
mM (Bit) = 0 =⇒ mM (Eit) = 0.
Seja λ > 0. Os conjuntos Fn,i (λ) = t ∈ RK : An,i (t) > λ são B-men-
É claro que t ∈ Φi (λ) ⇒ t ∈ Fn,i (λ) ⇒ An,i (t) > λ. Temos, por isso,
Z Z
An,i dmK ≥ An,i dmK ≥ λmK (Φi (λ)).
RK Φi (λ)
1
Z
mK (Φi (λ)) ≤ An,i dmK , para qualquer n ∈ N.
λ RK
2
9.R Considere a função f : RN → [0, +∞[ dada por f (x) = e−|x| . Calcule
RN
f dmN . sugestão: Considere primeiro o caso N = 2.
2
|x|2 e−|x| dmN .
R
10. Calcule o integral RN
Rx
c) Suponha que N = 1, e F (x) = −∞ f dm. Mostre que para qualquer
ε > 0 existe δ > 0 tal que, se os intervalos Ik =]xk , yk [ são disjuntos,
1 ≤ k ≤ n,(6 )
n
X n
X
(yk − xk ) < δ =⇒ |F (yk ) − F (xk )| < ε.
k=1 k=1
6
Esta propriedade é mais forte do que a continuidade uniforme, e foi primeiro observada
por Harnack, ainda no século XIX, a propósito de integrais impróprios absolutamente
convergentes. Diz-se continuidade absoluta, conforme proposto por Vitali em 1905.
3.4. Funções Mensuráveis 155
Exemplos 3.4.3.
1. A função de Dirichlet é uma função simples mensurável, porque é a função
caracterı́stica do conjunto mensurável Q.
Concluı́mos que
Z n
[ n
X n
X
sdmN = mN +1 ( Rk ) = mN +1 (Rk ) = αk mN (Ak ).
E k=1 k=1 k=1
Exemplo 3.4.5.
Se existe uma partição P apropriada à função s formada por rectângulos limi-
tados, então s é em escada, e o seu integral é uma soma de Darboux, porque
nesse caso X X
αr mN (r) = αr cN (r).
r∈P r∈P
de acordo com (i). Concluı́mos, novamente de 3.4.4 b), que (i) também é
válida para funções simples somáveis.
A = A ⊆ Y : f −1 (A) ∈ M ,
• f −1 ( ∞
S S∞ −1
n=1 An ) = n=1 f (An ) e, por isso,
∞
[ ∞
[
An ∈ A ⇒ f −1 (An ) ∈ M ⇒ f −1 (An ) ∈ M ⇒ An ∈ A.
n=1 n=1
c) f é mensurável em E.
3.4. Funções Mensuráveis 163
a) f = (f1 , f2 , · · · , fM ) é mensurável em E.
A = B ⊆ RM : f −1 (B) é mensurável .
M
\
f −1
(B) = {x ∈ E : fk (x) ∈ Ik } = fk−1 (Ik ) = fj−1 (I),
k=1
M
13. Sendo f : RN → R mensurável, e g(x) = |f (x)|, prove que g é mensurá-
vel. Demonstre ainda a desigualdade triangular, na forma:
Z Z
f dmN ≤ |f | dmN .
E E
3. A convergência pontual qtp está também bem definida em F(E). Por outras
palavras, se f (x) = limn→∞ fn (x), qtp em E, e f˜n ≃ fn , então temos também
f (x) = limn→∞ f˜n (x), qtp em E.
• kf k1 = 0 ⇐⇒ f ≃ 0 ⇐⇒ [f ] = [0].
b) fn → f em L1 , e em particular,
R R
c) E fn dmN → E f dmN , quando n → ∞.
Demonstração. Podemos supor, sem perda de generalidade (porquê?), que
• As funções fn e F são finitas em E,
8 1
L (E) é em geral um espaço vectorial de dimensão infinita, e como tal existem trans-
formações lineares em L1 (E) que não são contı́nuas.
168 Capı́tulo 3. Integrais de Lebesgue
Exemplo 3.5.5.
a transformada de fourier: Se f : R → R é somável, a sua transformada
de Fourier é a função T (f ) : R → C dada por:
Z ∞ Z ∞ Z ∞
−iωx
T (f )(ω) = f (x)e dm = f (x) cos(ωx)dm−i f (x) sen(ωx)dm.
−∞ −∞ −∞
∞ ∞ Z
Z !
X X
fn dmN = fn dmN .
E n=1 n=1 E
Exemplos 3.5.7.
1. Se as funções fn ≥ 0 são somáveis em RN , tomamos an = RN fn dmN , e
R
supomos sem perda P∞de generalidade que an > 0. Escolhemos uma qualquer
série convergente n=1 bn com bn > 0. De acordo com o resultado anterior,
∞ ∞ ∞
bn bn
X Z X Z X
f (x) = fn (x) =⇒ f dmN = fn (x) = bn < ∞.
a
n=1 n RN a
n=1 n R
N
n=1
É muito fácil obter por este processo muitos exemplos semelhantes a 3.2.5.
2. O teorema anterior pode também ser usado para analisar a convergência
pontual de uma série de funções fn ≥ 0. Como
∞ ∞ Z
Z !
X X
fn (x) dmN = fn (x)dmN ,
RN n=1 n=1 RN
P∞ R P∞
se n=1 RN fn (x)dmN < ∞ então a função f (x)P = n=1 fn (x) é somável, e
∞
por isso é finita qtp. Por outras palavras, a série n=1 fn (x) converge qtp.
3.PA ideia acima é aplicável a funções somáveis fn : RN → R, desde que
∞ R
n=1 RN |fn (x)| dmN < ∞. Observamos que
∞
X Z ∞ Z
X
g(x) = |fn (x)| =⇒ g(x)dmN = |fn (x)| dmN < ∞.
n=1 RN n=1 RN
P∞
A série f (x) = n=1 fn (x) converge absolutamente qtp, porque g é finita qtp.
então:
170 Capı́tulo 3. Integrais de Lebesgue
P∞
a) a série n=1 fn (x) converge absolutamente, qtp em E,
P∞
b) Sendo f (x) = n=1 fn (x), qtp em E, então f é L-mensurável, e
somável, em E,
c) k m
P R Pm
n=1 fn − f k1 = E | n=1 fn − f |dmN → 0, e, em particular,
d) E ( n=1 fn ) dmN = ∞
R P∞ P R
n=1 E fn dm N .
Demonstração. Observámos no exemplo 3.5.7.3 que a função g, dada por
g(x) = ∞
P
|f
n=1 n (x)|, é somável, e finita qtp, porque
Z ∞ Z
X
gdmN = |fn |dmN < ∞.
E n=1 E
Podemos usar este facto para mostrar que L1 (E) é um espaço de banach,
i.e., é um espaço vectorial normado em que as sucessões de Cauchy, ou
fundamentais, são convergentes.
3.5. Funções Somáveis 171
são somáveis, e
Z Z ZZ
AdmN = BdmM = f dmN +M .
RN RM RN +M
Exemplo 3.5.12.
produto de convolução: Se f, g : RN → R, é por vezes útil formar o
respectivo produto de convolução, que é a função f ∗ g dada por:
Z
(f ∗ g) (x) = f (x − y)g(y)dmN .
RN
9
Este resultado é uma versão preliminar do Teorema de Riesz-Fischer.
172 Capı́tulo 3. Integrais de Lebesgue
Exercı́cios.
a) A função T (f ) é contı́nua em R.
b) Se f˜(x) = f (x − x0 ), então T (f˜)(ω) = T (f )(ω)e−iωx0 .
c) Se a função h(x) = xf (x) é somável, então T (f ) é diferenciável, e T (f )′ =
−iT (h).
1
4. Seja f (x) = x− 3 , para x 6= 0. Dada P∞ uma enumeração dos racionais, Q =
1
{q1 , · · · , qn , · · · }, mostre que a série
P∞ n=1 n2 f (x−qn ) converge absolutamente
c) Mostre que existem classes em L1 (R) cujos representantes são todos ili-
mitados em qualquer intervalo aberto não-vazio em R.
cos2 nx.
f) Prove que {x ∈ [0, 2π] : limn→+∞ sen nx existe } tem medida nula.
10
Este resultado, que é importante na teoria das séries de Fourier, diz-se o lema de
riemann-lebesgue.
174 Capı́tulo 3. Integrais de Lebesgue
Este corolário pode, por sua vez, ser usado para mostrar que as funções
mensuráveis e finitas qtp são limites de sucessões de funções contı́nuas.
1
x ∈ RN : fn (x) 6= f (x) < n .
mN
2
Considerem-se os conjuntos
∞ [
\ ∞
En = {x ∈ RN : fn (x) 6= f (x)}, e E = En .
k=1 n=k
3.6. Continuidade e Mensurabilidade 177
ε
Z
˜ ˜
f − g̃
= f − g̃ dmN ≤ 2mN (E) < .
1 E 2M
É claro que (i) implica
f − M f˜
< 2ε e, sendo g = M g̃, temos
M f˜ − g
=
1 1
˜
˜ ε
M f − M g̃
= M
f − g̃
< 2 . Concluı́mos que
1 1
kf − gk1 ≤
f − M f˜
+
M f˜ − g
< ε.
1 1
Exercı́cios.
N ∞
7. Mostre que C0 (R
) é um espaço
de Banach, com aN norma “de L ”, dada
por kf k∞ = sup |f (x)| : x ∈ R . Prove que Cc (R ) é denso em C0 (RN ),
N
Outras Medidas
179
180 Capı́tulo 4. Outras Medidas
Exemplos 4.1.2.
4.1. A Decomposição de Hahn-Jordan 181
exercı́cio 8).
Exemplos 4.1.8.
1. No caso da medida de Lebesgue, se U é um aberto não-vazio, temos, por
razões óbvias, mN (U ) > 0. Portanto,
e V = ∅, donde F = RN .
Exemplo 4.1.10.
4.1. A Decomposição de Hahn-Jordan 183
Exemplos 4.1.15.
1. O conjunto ∅ é simultaneamente µ-positivo, µ-negativo e µ-nulo.
2. Se µ é o exemplo 4.1.4.1, é fácil ver que A = [−1, 0] é µ-positivo, e B = [0, +1]
é µ-negativo.
3. Se µ é o integral indefinido da função somável f , e E é mensurável, então E é
µ-positivo (respectivamente, µ-negativo) se e só se f (x) ≥ 0 (respectivamente,
f (x) ≤ 0) qtp em E.
• X = P ∪ N , e P ∩ N = ∅.
Provaremos nesta secção que qualquer medida real tem uma decomposi-
ção de Hahn. Seguir-se-á então, do teorema anterior, que qualquer medida
real tem, igualmente, uma decomposição de Jordan. A questão da unicidade
destas decomposições é bastante mais simples de analisar, e por isso a sua
verificação fica para os exercı́cios 6 e 7.
Teorema 4.1.19. Seja µ uma medida real, e suponha-se que (π, ν) e (P, N )
são, respectivamente, decomposições de Jordan e de Hahn para µ. Então,
{µ(Q) : Q ∈ M, Q µ-positivo } .
µ(Qn ) → α.
Como µ(F ) < 0, é claro que µ(P ) > µ(E) > 0. A série indicada é conver-
gente, e portanto µ(Fn ) → 0. Como
ν(Pn )
µ(Fn ) ≤ max −1, < 0,
2
Figura 4.1.4: F = ∪∞ ∞
n=1 Fn e P = ∩n=1 Pn = E − F .
Exercı́cios.
R ⊆ RN : R ∈ Q(RN ) e R é µ-nulo .
5. Seja µ uma medida real no espaço mensurável (X, M). Demonstre 4.1.16,
ou seja:
12. Suponha que µ é uma medida real em B(R), e f (x) = µ(] − ∞, x]). Prove
que f (x) = g(x) − h(x), onde g e h são funções crescentes e limitadas em R.
Exemplos 4.2.2.
1. Se f : RN → R é somável, e µ é o respectivo integral indefinido, então µ+ e µ−
são os integrais indefinidos de f + e f − . A variação total de µ é |µ| = µ+ + µ− ,
que é o integral indefinido de |f | = f + + f − .
2. Se µ = δ1 − δ−1 , então |µ| = δ1 + δ−1 .
A variação total de uma medida real pode ser também calculada usando:
Proposição 4.2.3. Se µ é uma medida real, ou de Radon, então
(∞ ∞
)
X [
|µ| (E) = sup |µ(En )| : En ∈ M, E = En , En ’s disjuntos .
n=1 n=1
Por outro lado, e supondo que (P, N ) é uma decomposição de Hahn para µ,
tomamos E1 = E ∩ P, E2 = E ∩ N , e En = ∅, para n > 2, donde
∞
X
|µ(En )| = |µ(E1 )| + |µ(E2 )| = µ(E ∩ P ) + µ(E ∩ N ) =
n=1
= µ+ (E) + µ− (E) = |µ| (E), e
∞ ∞
( )
X [
|µ| (E) ≤ sup |µ(En )| : En ∈ M, E = En , En ’s disjuntos .
n=1 n=1
Deve verificar-se (exercı́cio 3) que kµk = |µ| (X) é uma norma no espaço
vectorial real (respectivamente, complexo) de todas as medidas reais (respec-
tivamente, complexas) definidas em M, e que este espaço é de Banach.
Exemplos 4.2.5.
1. Se µ é o integral indefinido de uma função somável f : RN → R, então
Z
N
kµk = |µ| (R ) = |f |dmN = kf k1 .
RN
2. O pente de Dirac π(E) = #(E ∩Z) pode ser generalizado a qualquer conjunto
X, escolhendo um conjunto numerável S = {x1 , x2 , · · · , xn , · · · } ⊆ X, e uma
sucessão de reais c1 , c2 , · · · . Dado um qualquer E ⊆ X, definimos
X
IE = {n ∈ N : xn ∈ E} , e π(E) = cn .
n∈IE
A
P∞soma está bem definida desde que os cn ’s sejam não-negativos, ou a série
n=1 cn seja absolutamente convergente, e nestes casos π é uma medida, que
podemos sempre chamar um “pente de Dirac”, ou uma medida discreta.
A variação total de π é dada por:
X ∞
X
|π| (E) = |cn | , e kπk = |cn | .
n∈IE n=1
Demonstração. Se µ é uma medida real, já vimos que |µ| é uma medida de
Radon finita, porque é a soma de duas medidas de Radon finitas. Temos,
portanto, neste caso,
|µ| (E) ≤ |µ| (X).
Tomando E1 = E, e En = ∅, para n > 1, é também claro que
Mµ = {E ⊆ X : Existem A, B ∈ M, A ⊆ E ⊆ B, |µ|(B − A) = 0} .
Exercı́cios.
3. Seja V o espaço vectorial das medidas complexas definidas em (X, M), com
as operações óbvias de soma e produto por escalares, µ, λ ∈ V, e α ∈ C. Mostre
que
a) |µ + λ| ≤ |µ| + |λ|, e |αµ| = |α| |µ|.
b) kµk = |µ| (X) é uma norma em V, i.e., V é um espaço vectorial normado.
194 Capı́tulo 4. Outras Medidas
4. Seja µ uma medida definida no espaço mensurável (X, M). Prove que
Exemplos 4.3.2.
1. Como dissémos acima, se a medida µ é o integral indefinido da função f em
RN , então µ ≪ mN .
Como |µ| (Fn ) ≥ |µ| (En ) ≥ ε > 0, é evidente que |µ| (F ) 6= 0. Por outro
lado, como λ é uma medida de Radon, segue-se, por σ-subaditividade, que
∞ ∞
X X 1 1
λ(Fn ) ≤ λ(Ek ) < = n−1 , e portanto λ(Fn ) → 0 = λ(F ).
2k 2
k=n k=n
• µa ≪ λ, e µs ⊥λ, e
• µ = µa + µs .
Exemplos 4.4.1.
1. A medida de Lebesgue em RN é uma medida de Lebesgue-Stieltjes regular
em L(RN ).
c) B(RN ) ⊆ Bµ (RN ).
Demonstração. A verificação de a) e de b) é o exercı́cio 1. Para provar c),
é suficiente mostrarmos que qualquer aberto V é µ∗ -mensurável. De acordo
com a) e b), e dado que µ∗ é subaditiva, temos que demonstrar apenas que,
se U e V são abertos, então:
µ(U ) ≥ µ(U ∩ V ) + µ∗ (U − V ).
Exemplos 4.4.4.
1. O integral indefinido de uma função localmente somável e não negativa é
uma medida de Radon localmente finita.
3. O integral indefinido de f (x) = x−2 é uma medida σ-finita que não é local-
mente finita.
Este corolário é por vezes usado para comparar medidas de Radon que
coincidem nos conjuntos abertos. Podemos por exemplo demonstrar que
Corolário 4.4.8. Seja µ ≥ 0 uma medida de Borel finita em rectângulos
abertos limitados, e λ ≥ 0 uma medida de Lebesgue-Stieltjes que coincide
com µ nos rectângulos abertos limitados. Suponha-se que λ está definida em
A. Temos então:
a) λ é uma extensão de µ, e coincide com µ em A ∩ Bµ (RN ).
b) Se λ é regular então é uma restrição de µ.
c) Se λ é completa então é uma extensão de µ.
d) Se λ é regular e completa então λ = µ.
Exemplo 4.4.9.
Sejam f e g funções não-negativas, e localmente somáveis em R. Suponha-
Rb Rb
se que a f dm = a gdm, para quaisquer a, b ∈ R. Designando por φ e γ
respectivamente os integrais indefinidos de f e de g na σ-álgebra L(R), é claro
que φ(U ) = γ(U ), para qualquer intervalo aberto limitado U , e tanto φ como
γ são regulares em L(R).RDe acordoRcom o resultado anterior, φ e γ coincidem
na σ-álgebra L(R), i.e., E f dm = E gdm, para qualquer E ∈ L(R). Temos
por isso que f ≃ g.
8
A regularidade interior de µ é a condição µ(E) = sup {µ(U ) : F ⊆ E, F fechado}.
Este resultado mostra que em RN a regularidade exterior implica a regularidade interior
para medidas σ-finitas.
200 Capı́tulo 4. Outras Medidas
A ⊆ P ⊆ B, C ⊆ N ⊆ D, e λ(B − A) = λ(D − C) = 0.
a) µ é regular em B(RN ).
Exercı́cios.
4. Mostre que existem medidas σ-finitas distintas em B(R), que coincidem nos
intervalos abertos.
5. Prove que duas medidas de Radon que coincidem nos rectângulos abertos
limitados coincidem também em todos os conjuntos abertos.
7. Suponha que µ é regular, mas não é σ-finita, e mostre que µ não é necessari-
amente a menor extensão completa de µ.
11. Mostre que as medidas de Borel complexas regulares são unicamente deter-
minadas pelos seus valores nos rectângulos abertos limitados.
Exemplos 4.5.1.
1. A função F (x) = x é função de distribuição da medida de Lebesgue em R,
i.e., a medida m é a derivada generalizada de F . Note-se que m é o integral
indefinido da derivada usual de F , e é absolutamente contı́nua.
9
Diz-se também “derivada no sentido das distribuições”.
10
Como µ e o integral indefinido de F ′ coincidem nos intervalos, coincidem igualmente
em B(RN ), e em qualquer σ-álgebra onde ambas sejam regulares.
4.5. Medidas de Lebesgue-Stieltjes em R 203
2
2. Se µ é o integral indefinido de f (x) = ex , que é localmente somável em R,
podemos tomar para F , por exemplo, a função dada por
Z x Z b
F (x) = f dm, donde F (b) − F (a) = f dm.
0 a
Exemplo 4.5.8.
Seja F (x) = x + int(x), onde int(x) é a usual “parte inteira” do real x. A
derivada generalizada de F é dada por:
X
µ(E) = m(E) + δn (E),
n∈Z
g(xn ) − g(x− − −
n ) = [F (xn ) − F (xn )] − [s(xn ) − s(xn )] = 0.
4.5. Medidas de Lebesgue-Stieltjes em R 209
c) Em que condições temos µ(]a, b[) = µ(]a, b]) = µ([a, b[) = µ([a, b])?
Como P = {x, y} ⊂ [x, y], temos SV (f, P) = |f (y) − f (x)| ≤ Vf ([x, y]), o
que termina a verificação de a).
Para demonstrar b), notamos como evidente que f ∈ BV (R), e sabemos
do lema 4.5.7 a) que f é contı́nua à direita. É muito simples verificar que
Demonstração. Se existe uma medida real µ tal que µ(]a, b]) = f (b) − f (a),
sabemos do lema 4.6.3 que f ∈ BV (R) e que f e Vf são contı́nuas à direita
em R. É imediato verificar que g e h são crescentes, limitadas e contı́nuas à
direita em R, e que f = g − h, e Vf = g + h.
Sejam ρ, ν e τ as derivadas generalizadas de g, h, e Vf , que são medidas
de Radon finitas em R. Temos, por razões óbvias, e para qualquer E ∈ B(R),
4.6. Funções de Variação Limitada 213
que µ(E) = ρ(E) − ν(E), e τ (E) = ρ(E) + ν(E). Segue-se do lema 4.6.3 b),
que
(i) τ (E) = ρ(E) + ν(E) ≤ |µ|(E).
Se µ = µ+ − µ− é a decomposição de Jordan de µ, temos, do teorema 4.1.19,
que µ+ (E) ≤ ρ(E), e µ− (E) ≤ ν(E), também para qualquer E ∈ B(R).
Concluı́mos de (i) que
∞
[ ∞
X ∞
X
∗ ∗ ∗
m (f (E)) = m ( f (In )) ≤ m (f (In )) ≤ |µ| (In )) = |µ| (E).
n=1 n=1 n=1
De acordo com (i), (ii) e (iii), Ψ é uma medida de Radon finita, e portanto
regular, em B(R). O lema 4.6.5 mostra que Ψ e |µ| coincidem nos intervalos
compactos, donde coincidem nos abertos, e em B(R).
Exemplos 4.6.10.
Rx
1. Se a função g : R → R é somável, então a função f (x) = −∞ gdm é função
distribuição de uma medida absolutamente contı́nua em R, e portanto f é uma
função absolutamente contı́nua em R, como aliás verificámos directamente no
exercı́cio 11 da secção 3.3.
Seja b−a k
N < δ1 , e P0 = zk = a + N (b − a) : 0 ≤ k ≤ N . Dado P ⊂ J,
consideramos também P ′ = P P ∪ P0 , e Pk = P ′ ∩ [zk−1 , zk ]. Supondo Pk =
{tk,0 , · · · , tk,nk }, é claro que nj=1
k
|tk,j − tk,j−1 | = zk − zk−1 < δ1 , donde
nk
X
SV (f, Pk ) = |f (tk,j ) − f (tk,j−1 )| < 1.
j=1
218 Capı́tulo 4. Outras Medidas
Exemplos 4.6.12.
1. A função f (x) = x sen(1/x) (com f (0) = 0) é uniformemente contı́nua em
[0, 1], mas não é de variação limitada em [0, 1]. Portanto, f não é absolutamente
contı́nua em [0, 1].
2. A função f (x) = sen x é absolutamente contı́nua em R, e portanto é de
variação limitada em qualquer intervalo limitado. Não é no entanto de variação
limitada em R.
Concluı́mos esta secção com mais uma caracterização clássica das funções
absolutamente contı́nuas.
Exercı́cios.
a) P ⊆ P ′ =⇒ SV (f, P) ≤ SV (f, P ′ ).
b) Vf é uma função crescente.
c) f é de variação limitada (e limitada) se e só se Vf é limitada.
8. Mostre que a função f (x) = x sen(1/x) não é de variação limitada em ]0, 2π].
10. Mostre que a função de van der Waerden (exemplo 1.5.11) não é de variação
limitada.
a) f é diferenciável em I.
b) g ′ ≃ 0 em I.
c) m(E) = 0 =⇒ m(h(E)) = 0.(15 )
d f (x + h) − f (x) d f (x + h) − f (x)
D (f )(x) = lim sup , D (f )(x) = lim inf
hց0 h hց0 h
e f (x + h) − f (x) e f (x + h) − f (x)
D (f )(x) = lim sup , D (f )(x) = lim inf
hր0 h hր0 h
Exemplos 4.7.4.
1. Para a função de Dirichlet dir, temos
d e
D (dir) = −De (dir) = (∞)(1 − dir), D (dir) = −Dd (dir) = (∞)(dir).
2. f é diferenciável em x se e só se
d e
D (f )(x) = Dd (f )(x) = D (f )(x) = De (f )(x) 6= ±∞.
d e
3. Temos D (f )(x) ≥ Dd (f )(x), e D (f )(x) ≥ De (f )(x), para qualquer x ∈ R.
d
6 D (f ) ≤ De (f ) qtp em R.
Lema 4.7.8. ∞ =
e d
• De (f ) ≤ D (f ), e Dd (f ) ≤ D (f ), por razões evidentes.
d
• D (f )(x) < ∞ qtp, por 4.7.8.
k−1 k
fn ( ) < fn (x) < fm (x) < fn ( n ), ou
2n 2
k k−1
0 < fm (x) − fn (x) < fn ( n ) − fn ( n ).
2 2
(3) fn (x) → hα (x) para qualquer 0 ≤ x ≤ 1, onde 0 ≤ hα (x) ≤ 1, e hα é
estritamente crescente.
18
Recorde a definição de Sf , apresentada em 4.5.3.
4.7. Os Teoremas Fundamentais do Cálculo em R 229
Exemplo 4.7.14.
Se f é a “escada do diabo”, ou o exemplo de Hellinger, a desigualdade do
teorema anterior é estrita, porque em ambos os casos temos f ′ ≃ 0, e µ 6= 0.
′
Suponha-se agora que f (x) < 1 para x ∈ E. Recorde-se que, neste caso,
existem funções simples L-mensuráveis que convergem uniformemente para
f ′ , e podemos assumir que Nn = n2n , e f ′ (x) ≤ αn,k + 21n para qualquer
x ∈ En,k . Segue-se de 4.7.7 que
1
(i) µ(En,k ) ≤ αn,k + n m(En,k ).
2
1
Z
µ(E) ≥ sn dm ≥ µ(Fn ) − n m(E) → µ(F ) = µ(E).
E 2
230 Capı́tulo 4. Outras Medidas
Exemplos 4.7.18.
1. A função de Volterra f é diferenciável em toda a parte, e a sua derivada é
limitada. Portanto T = ∅, e f é de variação limitada. Segue-se do teorema
anterior que f satisfaz a regra de Barrow.
Exemplos 4.7.23.
1. Se f : R → R é crescente e contı́nua à direita em R, então f é semi-contı́nua
superior em R. Por outras palavras, se f tem derivada generalizada µ ≥ 0,
então f é semi-contı́nua superior.
É evidente do lema 4.7.22 que as afirmações (1) e (2) são válidas sem qual-
quer alteração desde que g seja uma função semi-contı́nua superior. A
afirmação (3) não é certamente sempre verdadeira, mas pelo menos desde
que g tenha limite à direita em qualquer ponto podemos ainda concluir que:
µ(Jn ) = f (d−
n ) − f (cn ) ≤ β (dn − cn ) .
9. Existem funções contı́nuas que não são monótonas em nenhum intervalo não-
trivial?
18.
P∞ Suponha que as funções fn : R → R são P crescentes, e a série f (x) =
′ ∞ ′
n=1 fn (x) converge em R. Prove que f ≃ n=1 fn . sugestão: Use a
unicidade da decomposição de Lebesgue. Este resultado diz-se o Teorema de
diferenciação de Fubini, ou mais coloquialmente, o “pequeno” teorema de
Fubini.
20. Suponha que f : [0, 1] → [0, 1] é uma função contı́nua, estritamente cres-
cente, e singular. Mostre que a medida de Lebesgue-Stieltjes determinada pela
inversa f −1 : [0, 1] → [0, 1] é singular.
236 Capı́tulo 4. Outras Medidas
237
238 Capı́tulo 5. Outros Integrais de Lebesgue
5.1 A Medida µ ⊗ m
R
Figura 5.1.1: E f dµ =?
No caso de f : X → R, os conjuntos Ω+ −
E (f ) e ΩE (f ) são dados por
Ω+
E (f ) = {(x, y) ∈ X × R : x ∈ E, e 0 < y < f (x)}, e
Ω−
E (f ) = {(x, y) ∈ X × R : x ∈ E, e 0 > y > f (x)}.
Os conjuntos Ω+ −
E (f ) e ΩE (fR ) são evidentemente subconjuntos de X × R
e, por isso, a definição de E f dµ exige uma resposta prévia às seguintes
questões:
5.1.1. Dado o espaço de medida (X, M, µ),
(1) Que subconjuntos de X × R são “mensuráveis” em algum sentido ra-
zoável do termo?
Exemplos 5.1.2.
1. Na teoria das probabilidades, e dado um espaço de probabilidades (X, M, µ),
as funções M-mensuráveis dizem-se variáveis aleatórias. Tipicamente, te-
mos X = RN , M = B(RN ), e as variáveis aleatórias são, como veremos imedia-
tamente a seguir, as funções borel-mensuráveis. O integral de f em ordem
a µ é o chamado valor médio, ou expectável, de f .
2. Quando X = N, as funções f : X → R são simplesmente as sucessões reais.
Consideramos a σ-álgebra M = P(N), com a medida de contagem (cardinal)
µ = #. Veremos que as funções M-mensuráveis são aqui todas as sucessões
P∞ Veremos também que o integral de f : N → R “em ordem a #” é
reais.
n=1 f (n), sempre que esta série é absolutamente convergente.
Stieltjes substituiu os factores ∆xk = (xk −xk−1 ) por F (xk )−F (xk−1 ), onde F
é uma função arbitrária, e considerou o limite correspondente, quando existe,
como o integral que hoje dizemos de “Riemann-Stieltjes”:
Z b Xn
g(x)dF = lim g(x∗k )(F (xk ) − F (xk−1 )).
a diam(P)→0
k=1
mN +M (A × B) = mN (A)mM (B).
Abstraı́mos daqui o princı́pio de que o produto cartesiano de conjuntos men-
suráveis deve ser mensurável, e a sua medida deve ser o produto das medidas
240 Capı́tulo 5. Outros Integrais de Lebesgue
ρ(A × B) = µ(A)m(B).
Exemplos 5.1.9.
1. o espaço de borel: Se (X, M, µ) = (RN , B(RN ), mN ) é o espaço de Borel,
já vimos que
M ⊗ B(R) = B(RN +1 ).
Por esta razão, as funções B(RN )-mensuráveis, de acordo com a definição
acima, são as funções Borel-mensuráveis, que introduzimos em 3.1.1.
A medida mN ⊗ m coincide com a medida mN +1 , pelo menos na classe dos
conjuntos elementares, e sabemos do Capı́tulo 2 que neste caso mN ⊗ m =
mN +1 , em toda a σ-álgebra B(RN +1 ).
Concluı́mos que a definição acima inclui, como caso particular, a definição
3.1.1, quando esta última é aplicada a funções borel-mensuráveis.
S∞
A região de ordenadas de f é ΩN (f ) = n=1 An × In , e notamos que:
242 Capı́tulo 5. Outros Integrais de Lebesgue
A = {E ⊆ X × Y : Ex ∈ N , ∀x∈X , e E y ∈ M, ∀y∈Y } .
Observamos que:
(E c )x = (Ex )c , (E c )y = (E y )c , e,
∞
[ ∞
[ ∞
[
Se E = En , então Ex = (En )x , e E y = (En )y .
n=1 n=1 n=1
Exemplo 5.1.11.
o espaço de Lebesgue: O produto de σ-álgebras de Lebesgue não é uma
σ-álgebra de Lebesgue. Sabemos que
Exemplo 5.1.14.
espaços de probabilidade: Seja (X, M, µ) um espaço de probabilidades, e
s : X → R uma variável aleatória simples. Suponha-se que s assume os valores
a1 , a2 , · · · , an , respectivamente, nos conjuntos A1 , A2 , · · · , An . Na terminolo-
gia usual da teoria das probabilidades, temos:
O integral de s em ordem a µ é
Z n
X
sdµ = αi µ(Ai ),
X i=1
(iii) C ⊆ Mλ∗ .
5.1. A Medida µ ⊗ m 247
∞
X ∞
X
y y
µ((A × B) ) = µ((An × Bn ) ), i.e., µ(A)χB (y) = µ(An )χBn (y).
n=1 n=1
Esta última identidade pode ser integrada termo-a-termo, de acordo com o
teorema de Beppo Levi, porque é uma série de funções Borel-mensuráveis,
não-negativas. Temos, por isso:
∞
X ∞
X
µ(A)m(B) = µ(An )m(Bn ), ou λ(A × B) = λ(An × Bn ).
n=1 n=1
b) Se P = {A1 × B1 , A2 × B2 , · · · , Am × Bm } e Q = {C1 × D1 , C2 ×
D2 , · · · , Cn × Dn } são partições de E em “rectângulos” em R, então
m
X n
X
λ(Aj × Bj ) = λ(Ck × Dk ).
j=1 k=1
M ⊗ B(R) ⊆ N .
2. Seja S = {1, 2, 3}, C = {∅, {1} , {2, 3} , S}, e λ : C → [0, +∞[ dada por
λ(E) = #(E). Definimos λ∗ : P(X) → [0, +∞[ por:
(∞ ∞
)
X [
∗
λ (E) = inf λ(En ) : E ⊆ En , com En ∈ C, para qualquer n ∈ N .
n=1 n=1
7. Se E ⊆ X, e µ(E) = 0, é necessariamente
R verdade que qualquer função
f : E → R é µ-somável em E, e E f dµ = 0?
∞
[
ΩE (f ) = ΩEn (f ), onde os conjuntos ΩEn (f ) são disjuntos, donde
n=1
∞
X ∞
X
(µ ⊗ m)(ΩE (f )) = (µ ⊗ m)(ΩEn (f )), i.e., λ(E) = λ(En ).
n=1 n=1
Alguns dos enunciados que apresentámos não são válidos para qualquer
espaço de medida, e requerem entre as suas hipóteses propriedades mais es-
pecı́ficas do espaço em causa. Por exemplo, a propriedade 3.1.5 é válida se
o espaço (X, M, µ) for completo, e o teorema 3.1.11 é válido para espaços
σ-finitos. Em certos casos, pode ser vantajoso enfraquecer as conclusões,
sem perder generalidade nas hipóteses. Por exemplo, o teorema 3.1.11 pode
ser modificado como se segue
2
Os conjuntos ΣE (f ) = Σ+ −
E (f ) ∪ ΣE (f ) definem-se por
Σ+
E (f ) = {(x, y) ∈ X × R : x ∈ E, e 0 < y ≤ f (x)},
Σ−
E (f ) = {(x, y) ∈ X × R : x ∈ E, e 0 > y ≥ f (x)}.
254 Capı́tulo 5. Outros Integrais de Lebesgue
R R R
b) Aditividade:E (s + t)dµ = E sdµ + E tdµ.
R R
c) Homogeneidade: E (cs)dµ = c( E sdµ).
a) A função f g é M-mensurável em E.
c) f é M-mensurável em E.
a) f ∈ L1µ (E),
∞
X ∞ Z
X
kfn k1 = ( |fn |dµ) < +∞.
n=1 n=1 E
Z m
X Z ∞
X ∞ Z
X
lim |f − fn (x)|dµ = 0, donde ( fn )dµ = ( fn dµ).
m→∞ E E n=1 E
n=1 n=1
Se fn ∈ L1µ (E) e ∞
P
Corolário 5.2.21. n=1 kfn k1 < +∞, então existe f ∈
L1µ (E) tal que k m particular, L1µ (E) é um espaço de
P
n=1 fn − f k 1 → 0. Em
Banach.
258 Capı́tulo 5. Outros Integrais de Lebesgue
R
É interessante observar que, na expressão X f dµ, podemos considerar,
em alternativa, a função f como fixa, e a medida µ como variável. Por
exemplo, se f : E → R é mensurável e limitada em E, então é µ-somável,
qualquer que seja a medida real µ definida em M.
Exemplos 5.2.27.
1. Seja M (B(RN )) o espaço de todas as medidas reais definidas em B(RN ).
Se f : RN → R é B-mensurável e limitada em E ⊆ RN , podemos definir
Ψ : M (B(RN )) → R por Z
Ψ(µ) = f dµ.
E
Exercı́cios.
2. Prove que o gráfico da função M-mensurável f tem medida µ⊗m nula, desde
que o espaço (X, M, µ) seja σ-finito, ou a função f seja µ-somável. sugestão:
suponha primeiro que µ(X) < +∞.
b) Se Fn ց F = ∩∞
n=1 Fn , então F ∈ FL(µ ⊗ ν).
b) Fn ∈ C e Fn ց F =⇒ F ∈ C.
Exemplos 5.3.11.
1. FL(µ ⊗ ν) é uma classe monótona, de acordo com 5.3.9.
2. Qualquer σ-álgebra, em particular M⊗N , é igualmente uma classe monótona.
3. A classe dos intervalos em R não é uma álgebra, mas é uma classe monótona.
266 Capı́tulo 5. Outros Integrais de Lebesgue
Z Z Z Z Z Z ZZ
Adµ = gx dν dµ = hy dµ dν = Bdν = f d(µ⊗ν).
X X Y Y X Y X×Y
Z Z Z
(µ ⊗ ν)(E) = Adµ = gx dν dµ.
X X Y
(1) L(RN ) ⊗ L(RM ) 6= L(RN +M ), o que mostra que a teoria em 3.3 não é
um caso particular dos resultados desta secção, e
Exemplo 5.3.20.
Tomamos X = Y = [0, 1], sendo µ = # a medida de contagem e M = P(X), e
ν = m a medida de Lebesgue, com N = L(Y ). Definimos f (x, y) = 1 se x = y,
e f (x, y) = 0, se x 6= y. O espaço (X, M, µ) não é σ-finito, e deixamos como
exercı́cio verificar a mensurabilidade de f , e mostrar que neste caso temos
Z Z Z Z
gx dν dµ 6= hy dµ dν.
X Y Y X
Exercı́cios.
a) λ = λa + λs , e
b) λa ≪ µ, e λs ⊥µ.
a) Se λ ≪ µ e λ⊥µ, então λ = 0,
dµ
• A igualdade dm = f ′ é o 1o Teorema Fundamental do Cálculo.
f ∈ Dλ .
Concluı́mos que
Z Z
π(E) ≥ f dµ ≥ gdµ, para qualquer E ∈ M, e qualquer g ∈ Dλ .
E E
R
É assim evidente que π(E) = E f dµ, i.e., π é o integral indefinido de f .
Definimos
∞
X ∞
X
f (x) = fn (x), e ν(E) = νn (E).
n=1 n=1
Exercı́cios.
278 Capı́tulo 5. Outros Integrais de Lebesgue
2. Demonstre 5.4.7.
5.5 Os Espaços Lp
Na discussão que se segue, identificamos ( i.e., tratamos como um único
objecto) funções mensuráveis que diferem entre si num conjunto de medida
nula. Sendo (X, M, µ) um espaço de medida fixo, introduzimos
Lpµ (X) é formado pelas classes de funções com norma Lp finita, i.e.,
n o
Lpµ (X) = [f ] ∈ Fµ (X) : kf kp < ∞
Veremos que Lpµ (X) é, efectivamente, um espaço vectorial normado, com
a norma indicada. Esta afirmação é, em qualquer caso, quase evidente para
p = 1, onde a norma é dada por
Z
k[f ]k1 = kf k1 = |f |dµ.
X
• kf k1 = 0 ⇐⇒ f ≃ 0 ⇐⇒ [f ] = [0].
A definição do espaço L∞
µ (X) requer a introdução de algumas noções
auxiliares.
|f (x)| + |g(x)| p 1
1 p
(|f (x)| + |g(x)|) = ≤ (|f (x)|p + |g(x)|p ) .
2p 2 2
A integração desta desigualdade conduz imediatamente a
1 1 1
p
k |f | + |g| kpp ≤ kf kpp + kgkpp < ∞.
2 2 2
Repare-se que as funções f e g são, necessariamente, finitas µ-qtp, e podemos
supor, sem perda de generalidade, que f + g é finita e está definida em toda
a parte. Como |f + g| ≤ |f | + |g|, é claro que kf + gkp ≤ k|f | + |g|kp < ∞.
A afirmação d) é um corolário imediato de a) e c).
kf gk1 ≤ kf kp kgkq .
1 1
F (x)G(x) ≤ F (x)p + G(x)q .
p q
Integramos esta desigualdade, e como kF kp = kGkq = 1, obtemos:
1 1 1 1
kF Gk1 ≤ kF kpp + kGkqq = + = 1.
p q p q
kf gk1
Finalmente, e como kf kp kgkq = kF Gk1 ≤ 1, temos kf gk1 ≤ kf kp kgkq .
p
q
(3) khkq = k |f | + |g| kp .
É claro que nada temos a provar se k|f | + |g|kp = 0. Caso contrário, dividi-
p
mos a desigualdade anterior por k |f | + |g| kp , e notamos que p − pq = 1,
q
donde
kf + gkp ≤ k|f | + |g|kp ≤ kf kp + kgkp .
kv n − v m k → 0, quando n, m → ∞.
3. Seja U ⊂ L1 (R) formado pelas classes de funções que têm algum represen-
tante f ∈ Cc (R). É usual escrever U = Cc (R), não distinguindo “funções”
de “classes de equivalência” de funções, para evitar sobrecarregar a notação
utilizada. Com esta convenção, o corolário 3.6.7 afirma que Cc (R) é denso em
L1 (R), i.e., Cc (R) = L1 (R).
4. Deixamos para o exercı́cio 14 verificar que, se 1 ≤ p, q < ∞, então Lpµ (X) ∩
Lqµ (X) é denso em Lpµ (X).
b) kf kp ≤ ∞ p
P
n=1 kfn kp , donde f ∈ Lµ (X), e
p
c) As somas parciais m
P
n=1 fn convergem para f em Lµ (X), i.e.,
m
X
lim
fn − f
= 0.
m→∞
n=1 p
P∞
Aplicamos a afirmação b) à cauda da série n=1 fn , para concluir que
m
∞
∞
X
X
X
fn − f
=
fn
≤ kfn kp → 0, quando m → ∞.
n=1 p n=m+1 p n=m+1
Exemplos 5.6.2.
15
Ernst Fischer, 1875-1954, matemático alemão de origem austrı́aca, foi professor em
Erlangen e Colónia. Este teorema foi provado para L2 quase simultaneamente por Riesz
e por Fischer em 1907. Riesz definiu os espaços Lp para p > 1 em 1910, e descobriu que
são espaços de Banach, para qualquer p.
290 Capı́tulo 5. Outros Integrais de Lebesgue
δ 1
1 ≥ |φ(y)| = |φ(x)| , e |φ(x)| ≤ kxk .
kxk δ
(ii) Suponha-se que kφk = sup {|φ(x)| : kxk ≤ 1} < ∞, donde mais uma
vez |φ(x)| ≤ kφk kxk. Se y ∈ V, então
Exemplos 5.6.4.
1. Se p e q são expoentesR conjugados, e g ∈ Lqµ (X), podemos definir T :
Lpµ (X) → R por T (f ) = X f gdµ, de acordo com a desigualdade de Hölder.
Ainda de acordo com a mesma desigualdade, é claro que T é uma transformação
linear contı́nua em Lp , e kT k ≤ kgkq .
|T (f )| ≤ kf k∞ |µ|(RN ) = kf k∞ kµk .
m
X m
X
T (fn ) = T (f ) ≤ τ (U ), e por isso τ (Un ) ≤ τ (U ).
n=1 n=1
Pm
Como provámos acima que τ (U ) ≤ n=1 τ (Un ), é evidente que
m
X
τ (Un ) = τ (U ).
n=1
τ (U ) ≥ µ∗ (U ∩ K) + µ∗ (U − K) = µ∗ (U ∩ K) + τ (U − K).
τ (U ) ≥ τ (W ∪ W ′ ) = τ (W ) + τ (W ′ ) ≥ µ∗ (U ∩ K) + τ (W ′ ) ≥
≥ µ∗ (U ∩ K) + T (f ) > µ∗ (U ∩ K) + τ (U − K) + ε.
O resultado segue-se fazendo ε → 0.
Exemplo 5.6.6.
Definimos T : Cc (RN ) → R tomando para T (f ) o integral de Riemann de f
em RN . Sabemos que T é um funcional linear crescente em Cc (RN ). Deve ser
evidente que a medida µ que lhe está associada pelo teorema de representação
de Riesz é exactamente a medida de Lebesgue.
5.6. Teoremas de Representação de Riesz 295
(ii) Existe g ∈ L1µ (X) tal que λ(E) = E gdµ, para qualquer E ∈ M.
R
ϕ(T ) : Cc+ (RN ) → R por ϕ(T )(f ) = sup |T (g)| : |g| ≤ f, g ∈ Cc (RN ) .
Temos:
(i) ϕ(T ) é crescente em Cc+ (RN ), e ϕ(T ) ≤ kT k kf k∞ .
(ii) Se c ≥ 0 e f ∈ Cc+ (RN ), então ϕ(T )(cf ) = cϕ(T )(f ) = ϕ(cT )(f ).
(iii) Se f1 , f2 ∈ Cc+ (RN ), então ϕ(T )(f1 + f2 ) = ϕ(T )(f1 ) + ϕ(T )(f2 ).
Demonstramos apenas (iii), já que (i) e (ii) são evidentes. Se g1 , g2 ∈
Cc (RN ), e |gi | ≤ fi , é claro que
Definimos Φ(T ) : Cc (RN ) → R por Φ(T )(f ) = ϕ(T )(f + ) − ϕ(T )(f − ).
Observamos que, se f ≥ 0 então Φ(T )(f ) = ϕ(T )(f ), e:
R
(iv) Existe uma medida deR Radon finita α tal que Φ(T )(f ) = RN f dλ. Em
particular, |T (f )| ≤ RN |f | dλ, e portanto T é também contı́nuo na
topologia de L1λ (RN ).
É muito simples mostrar que Φ(T ) é linear e crescente em Cc (RN ). A
existência da medida λ segue-se assim do teorema de representação de
Riesz 5.6.5. A medida λ é finita, de acordo com (i). Temos também,
por definição de ϕ(T ), que
Como Cc (RN ) é denso em L1λ (RN ), existe um funcional linear T̃ : L1λ (RN ) →
R, contı́nuo na topologia de L1 , e que é extensão de T (exercı́cio 15). De
acordo com 5.6.7, existe g ∈ L∞ N
λ (R ) tal que
Z Z
T̃ (f ) = f gdλ = f dµ, para qualquer f ∈ L1λ (RN ),
RN RN
R
onde µ(E) = E gdλ, i.e., µ é o integral indefinido de g em ordem a λ.
Deixamos como exercı́cio verificar que kT k = kµk = Var(µ)(RN ).
Exemplos 5.7.2.
1. Seja fn : R → R a função caracterı́stica de [n, n + 1]. É claro que fn → 0
pontualmente, mas fn não converge para 0 em Lp (R), para qualquer 1 ≤ p ≤
∞, porque kfn kp = 1. A sucessão fn também não converge para 0 em medida.
Demonstração. Fixado ε > 0, seja En = {x ∈ X : |fn (x) − f (x)| > ε}. Temos
a provar que µ(En ) → 0, e deixamos o caso p = ∞ para o exercı́cio 10.
Temos fn → f em Lp , donde
Z 1 Z 1
p p 1
p p
kfn − f kp = |fn − f | dµ ≥ |fn − f | dµ ≥ εµ(En ) p ≥ 0.
X En
Uniforme
@@ 9 99
99
99
99
99
99
Egorov 99
99
Em L p 99
t:: KK
K KK 99
t KK 99
t KK
t K 99
t KK
t KK 999
t TCDL KK 9
KK 9
t
t Lebesgue
t b a a ` ` _ _ _ ^ ^ ] ] ..
KK 99
K%%
Pontual nn Em medida
Riesz
Exercı́cios.
2. Seja f : R → R Lebesgue-mensurável.
a) Se f é equivalente a uma função contı́nua g : R → R, f é sempre contı́nua
qtp?
b) Se f é contı́nua qtp, existe sempre g : R → R contı́nua equivalente a f ?
Mostre que:
a) d é uma métrica em Fµ (X).
b) d(fn , f ) → 0 se e só se fn ⇒ f .
14. Seja Sµ (X) ⊆ Fµ (X) o conjunto das classes que têm um representante
simples. Supondo 1 ≤ p, q < ∞, prove que:
a) Sµ (X) ∩ Lpµ (X) é um subespaço denso de Lpµ (X).
b) Lpµ (X) ∩ Lqµ (X) é denso em Lpµ (X).
c) Em geral, Sµ (X) ∩ L∞ ∞
µ (X) não é denso em Lµ (X).
d) Existe um conjunto numerável, denso em Lp (RN ).
305
Índice
306
ÍNDICE 307