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2-Lugar Das Humanidades Na Universidade - Livro PRODOC - Pag PDF
2-Lugar Das Humanidades Na Universidade - Livro PRODOC - Pag PDF
Iniciemos por esclarecer sobre como pensamos poder tratar do tema desta mesa, “A
Parece óbvio que se deva responder com um sim à ideia de que a Universidade tem
necessário dizer que tal propriedade não é uma exclusividade da Universidade. No mundo
todo, foram os movimentos sociais progressistas que cumpriram grandemente essa função.
Afinal, depois de Weber, Adorno e Foucault, não podemos mais ignorar o entrelaçamento
Pensamos que não! Reservado o respeito aos que se dedicam, com honesto
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Painel apresentado na mesa redonda “A responsabilidade da universidade na formação do sujeito crítico”,
durante o VII Seminário sobre Leitura e Produção no Ensino Superior, realizado na Unifal-MG em setembro de
2010.
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Professor do Instituto de Ciências Humanas e Letras da Unifal-MG.
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dessa questão nas disciplinas internas às várias áreas, nossa hipótese percorre perspectiva
própria concepção de Universidade que tivermos. E mais, do papel que no interior dela
possam cumprir as Humanidades, retomando essa questão mais ou menos sob a influência
Universidade de Berlim3.
Justificamos esse corte analítico pelo intuito de uma visão dialética e mais universal,
bem representada numa passagem do livro de Marilena Chauí, Escritos sobre a universidade:
de consumo passivo dos saberes, mas como parte constitutiva da aparição de sujeitos do
(2001, p. 171).
Mas que lugar teriam ainda as Humanidades depois que Marcuse afirmou, já há mais
mascaradora da dominação?
papel interdisciplinar das Humanidades estaria perdido, como uma iguaria ingênua e inútil
3
A título de nota, registramos que não ignoramos a análise de Habermas sobre os limites das ideias
humboldtianas em sua conferência de 1987, intitulada “A ideia de universidade: processos de aprendizagem”.
Mas anotamos, a propósito da dificuldade de um projeto atual de universidade, que o próprio Habermas o
deixa em aberto no final do seu texto, recuando inclusive de uma aplicação mais modelar de sua própria teoria
da ação comunicativa à universidade. Por outro lado, consideramos válido o recurso ao potencial crítico
contido na proposta humboldtiana, ao qual, inclusive, fez referência positiva Alex Demirovic, em sua
recentíssima conferência no Brasil sobre “O que significa falar da atualidade da Teoria Crítica?”.
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Vamos iniciar a resposta a essas questões de um modo não-sistemático, talvez meio
benjaminiano, recorrendo a algumas imagens ou passagens tópicas que possam ilustrar com
de que o setor industrial pode ter diminuído, mas que o complexo do sistema industrial se
Nesse texto, o autor se pergunta por que a crise da Universidade e do seu ensino
pode ser vista, em grande medida, como perda da centralidade das Humanidades no
geral como algo de “arcaico”, ao passo que a Ciência insinua-se como algo “moderno”. Mas
entre as Ciências mais técnicas e as Humanidades. Por exemplo, para desenvolver um novo
Basta-lhe o conhecimento do software mais avançado que existe, para dali seguir adiante. Já
precisa recorrer aos clássicos, muitas vezes até aos gregos, que estão no começo do
pensamento ocidental.
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Leopoldo e Silva atribui a supremacia paradigmática da Ciência e da técnica nos
enquanto unidade da multiplicidade. Frente a isso, afirma que, se não é mais possível uma
universalidade do saber como a que havia antes do Renascimento – ou nos tempos em que
Pitágoras respondia que era um amigo da sabedoria (philos-sophos), para com isso
fragmentado para que a Universidade possa sustentar a sua própria razão de ser. E conclui
de autêntico existe nessa característica, pois o contato com a origem, com a totalidade
perdida, é a condição para haver consciência histórica nas próprias Ciências, e representa a
Universidade.
espaço, que se refere à metáfora da casa, do porão e do sótão, que o filósofo, matemático e
físico teórico Gérard Fourez, em seu livro A construção das ciências, compara com o
A leitura que Fourez faz dessa imagem é excelente. Contudo, vamos nos apropriar
dela num sentido bastante livre aqui, relacionando-a a outras expressões igualmente muito
viver em um único plano, com uma única visada das coisas do mundo. Já a casa, o porão e o
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O sótão permite olhar as coisas de um outro ângulo, mais filosófico, poético, ou
projetivo, para fora. De certo modo, aqui, poderíamos lembrar de uma cena altamente
incentivar o senso crítico dos alunos numa escola de disciplina extremamente conservadora
e autoritária, solicita a eles que subam em sua classe e olhem para o fundo da aula. Os
as coisas, o que também é importante para o pensamento reflexivo. De certa forma, a figura
do porão faz lembrar a fórmula de Humboldt, “solidão e liberdade”, que, como explica
para se retirar à sua interioridade como condição para a observação precisa e o juízo sóbrio.
Contudo, Bachelard observa que o problema reside em que muitas pessoas nunca
vão ao sótão ou ao porão, vivendo num único plano, como num apartamento, sem a chance
de ver as coisas de um ponto de vista novo e diferente. Fourez, por sua vez, lê o significado
Fourez, o código restrito é o código técnico da Ciência, assim como para Bernstein era o da
linguagem ordinária, com fins práticos e partindo das mesmas pressuposições de base. Já o
Por isso, diz Fourez, num universo de aproximação dialógica entre os dois códigos, “a
noção que se tem da Ciência será ligada, graças a uma linguagem elaborada, a outros
conceitos, tais como a felicidade dos humanos, o progresso, a verdade, etc. Essa linguagem
elaborada – essa Filosofia da Ciência – permitirá uma interpretação daquilo que a linguagem
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Ciência”. Com isso o autor visa superar a ideia de que, “uma vez que se falou de
cientificidade, não há nada mais a fazer senão se submeter a ela, sem dizer ou pensar mais
nada a respeito” (1995, p. 21). Fica claro, portanto, o papel das Humanidades na
cadeias que impõem uma limitação objetivista na Ciência, ou se é algo aberto à condição
crítica e autocrítica.
Isso nos faz lembrar que após a época determinista dos mitos, na qual a subjetividade
humana não desempenhava papel algum por não haver espaço para o livre arbítrio, os
buscaram explicar as coisas gerais do mundo pelo ordenamento da natureza. Foi o período
no qual teve lugar a famosa afirmação de Tales de Mileto de que “tudo é água”, e a teoria
dos quatro elementos de Empédocles, para a qual o universo é formado por água, fogo,
terra e ar.
incorruptível.
Diferença das filosofias da natureza em Demócrito e Epicuro, Karl Marx tratou do atomismo
grego. E é muito interessante compreendermos por que ele preferiu defender a Epicuro
frente a Demócrito, que era reconhecido como um dos fundadores do atomismo grego.
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Simplificando bastante o assunto da tese, que é muito mais complexo do que o ponto
que destacaremos aqui, a questão residiu em que Marx notou que em Demócrito os átomos
caem em linha reta no vazio, repelindo-se por entrechoques, segundo uma lei sempre
necessária, numa lógica restritiva que termina por afirmar o determinismo natural, ao passo
que em Epicuro, seguindo Lucrécio, Marx destacou a teoria do clinamen, ou seja, de que os
espaço para o acaso e novas formas. E Marx entendeu que essa ideia, no plano da Física,
abria o caminho para a liberdade, uma vez que ela favorecia, de modo equivalente, no plano
Ademais, Epicuro excluía qualquer interferência divina sobre o movimento dos átomos,
porque ele prezava o ideal da ataraxia, que significava que os deuses não devem perturbar a
Ciência ou Filosofia da Natureza dos antigos, que não pode haver sujeito crítico se o
processo do conhecimento não permitir abertura para que a ação reflexiva da subjetividade
4
Existe todo um debate sobre se Epicuro elaborou ou não uma teoria do clinamen, cuja menção não aparece
nos seus escritos diretos e que alguns autores creditam a uma atribuição de Lucrécio, seu principal discípulo. A
propósito, podem-se ler, no Brasil, os textos de João Quartim de Moraes: “Clinamen: o milenar prestígio de um
falso problema” (2001) e “O desvio e o encontro no materialismo antigo” (2007). Contudo, aqui interessa
apenas registrar o significado efetivo que essa teoria teve em Marx para a defesa da subjetividade humana
contra um atomismo que lhe parecia ainda legitimar o determinismo mítico, contrabandeando-o para dentro
da Filosofia. E se a liberdade ética não depende de uma liberdade no terreno da natureza, o que seria uma
derivação mecânica e heterônoma, nem por isso a valorização de tal relação é desprezível, especialmente para
os atomistas, que consideravam dever explicar a lógica do mundo pela da matéria natural. Em tal contexto,
tratava-se de um avanço.
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4. Um exemplo emblemático da necessidade de uma Ciência com consciência não
Ciência se basta por si própria, por que Einstein, o maior cientista do século XX, se dedicou
cada vez mais a assuntos polêmicos, situados mais no universo das Ciências Humanas do que
no estrito da produção científica pura? Dentre outros, podemos lembrar, por exemplo, do
seu livro Como vejo o mundo, dos seus textos em defesa da paz e mesmo do seu artigo em
favor do socialismo.
Psicanálise, para saber dele, que era versado nos assuntos da “alma”, ou da psique humana,
por que os homens fazem a guerra e de como poderiam se ver livres dela.
possibilidades dos instintos ou pulsões humanos. Contudo, o sentido mais de fundo de sua
carta deixa também uma questão a Einstein que, como observou Jurandir Freire Costa no
seu livro Violência e psicanálise, sugere que talvez seria mais fácil, para se encontrar uma
resposta promissora, que ao invés de se perguntar por que os homens fazem a guerra, se
Nisto, talvez possamos nos referir a algo que descreveremos como a “tragédia de
Einstein”. Como visto, há mais de dois mil anos os gregos haviam determinado que o átomo
era uno, indivisível e incorruptível. Contudo, com a descoberta da fissão nuclear (método de
fórmula de Einstein (E=mc²), que contradizia a indivisibilidade do átomo por afirmar que a
energia de um corpo não é fixa isoladamente, mas variável e expansiva conforme o produto
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a velocidade da luz no vácuo5, ele temeu severamente pela fabricação de armas atômicas
pelos nazistas e concordou com colegas seus em assinar uma carta ao presidente norte-
equivocada de toda a sua vida. Isso o fez intensificar a sua atividade pacifista, muito embora
suas outras iniciativas nesse sentido não tenham tido o mesmo efeito, pois se tornou
impossível frear a corrida nuclear bélica. Ainda uma semana antes de sua morte, Einstein
lutava contra isso, autorizando o filósofo Bertrand Russel a incluir o seu nome num
Essa questão um tanto dramática encerra uma lição muito importante para o
aprendizado e a pesquisa em matéria de Ciência, qual seja, a de que o cientista pode ser,
sim, o dono da sua descoberta, patenteá-la, receber fama e royalties por ela (e, na
linguagem dominante de hoje, até colocar no Lattes7...). Porém, a questão decisiva está
naquilo que Einstein percebeu em sua própria experiência: que por mais notável, bem
intencionado e
5
Ou seja, Einstein amplia e requalifica as leis da conservação da massa e da energia, segundo as quais massa e
energia são dois princípios permanentes, porém agora não mais como elementos isolados, mas conversíveis e
compensáveis entre si, de modo que no caso da divisão do núcleo do átomo a perda de massa se converte em
energia multiplicada pela velocidade da luz ao quadrado, razão do seu gigantesco grau explosivo.
6
Ver Einstein; Roosevelt, 2010.
7
Por falar nisso, embora não seja o foco deste ponto, nem desta exposição, vale lembrar o Especial da
Centésima Edição da Revista Espaço Acadêmico (2009), periódico eletrônico da Universidade Estadual de
Maringá, que traz o Dossiê “Universidade em ritmo de mercado”. Fazemos essa menção porque seguramente
tal produtivismo instrumental se insere numa direção desfavorável ao desenvolvimento do sujeito crítico na
Universidade.
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influente que seja o cientista, ele não é dono nem controla o uso que se faz de suas
pesquisas e descobertas. Sequer pode prevê-lo completamente. Afinal, isso não é decidido
de forma “pura” nos laboratórios, mas sob a pesada influência do universo das relações
políticas e econômicas. E é por isso que a Ciência precisa ser pensada também socialmente,
e por pessoas que excedam o universo restrito dos técnicos e cientistas stricto sensu. Porque
só assim a sociedade – e os próprios cientistas – poderão ter algum controle sobre o uso que
se faz dela.
Ciência mais promissora do século XXI, chega à conclusão de que a análise empírica da vida,
a dimensão do bios, precisa ser cotejada pela reflexão sobre os seus limites e finalidades
O fazer científico mais lúcido e autocrítico reabre-se para pensar a relação da Ciência
com o Outro, seja esse Outro a natureza, seja o Outro a humanidade. Justamente esse
Outro, que muitas vezes foi politicamente ignorado ou mesmo psicologicamente negado,
mas ao qual a Psicanálise se refere como aquele suposto “estrangeiro” que, como o
outro.
social-natural, que não pode ser eliminada sem que ela reaja sob a figura freudiana do
retorno do recalcado, isto é, sob a forma de catástrofe ou violência. Embora por outros
caminhos, é para o que Hans Jonas chamou a atenção em seu livro O princípio
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descaminhos do seu poder, para preservar não só o futuro do mundo, como também o seu
próprio ser enquanto humano. Muito embora, devamos ressaltar a advertência que vem da
teoria de Marx, segundo a qual a desconsideração do homem pela natureza não nasce de
esfera do trabalho, onde o homem não se reconhece no que produz. À medida que o
trabalho se torna sofrimento, e não realização humana, é evidente que a relação do homem
com a natureza, que se dá primordialmente pelo trabalho, se torna também uma relação
crise ética da Universidade. Sobre isso, Marilena Chauí adverte que não se deve compactuar
nem com o elitismo teoricista indiferente aos temas ditos menores e mais candentes da vida
sua sem comprometer o seu próprio conceito e sua justificativa histórica no mundo do
saber.
O conjunto dessas passagens é o bastante para ilustrar que existem várias iniciativas
que demonstram que não só é necessária, como é desejável e possível uma relação reflexiva
de respeito entre si, e de si com a cultura, com a natureza e com a sociedade que as constitui
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III. A relação entre Ciências e Humanidades no conceito histórico de
Universidade moderna
que suas ideias se nutriam da convivência com os grandes filósofos Hegel, Fichte, Schelling e
Schleiermacher, além do linguista Christian Wolf e do jurista Karl von Savigny, e também do
seu irmão mais novo, Alexander von Humboldt, que se dedicou às Ciências Naturais.
mente, ainda que sumariamente, que naquele momento a Universidade vivia a maior crise
de toda a sua história, pois a Igreja Católica, reagindo às novas teses nominalistas no terreno
científica, que foi marginalizada para ser feita externamente, nas Academias.
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decretou o fechamento das universidades. E essa mesma discussão ocorria também na
vista do espírito crítico, importa ver o aspecto positivo de que nessa crise já estava posta a
ideia de que o ensino puro e simples, sem o concurso enriquecedor de condições para a
liberdade de pesquisa, tornara-se coisa enfadonha aos olhos dos intelectuais e irrelevante
para uma sociedade que emergia dos novos avanços industriais e do universo cultural
emancipatório do Iluminismo.
humboldtiana a Ciência foi libertada das tradições científicas enciclopédicas e, ao invés, foi
a Ciência há de ser considerada como algo ainda não de todo encontrado, e que nunca pode
mestre e discípulo, para tornar, assim, os alunos sujeitos ativos no processo do seu próprio
Universidade.
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e instituições externas a ela. Isso sinalizava, como frisou Volker Gerhardt, professor da
um fato histórico que as universidades que se retraem em si mesmas podem, por um lado,
Humboldt ficou conhecida como indissociabilidade entre pesquisa e ensino. E, de fato, sua
visão constituía uma concepção realmente original. Tanto que mesmo o livro The idea of a
university, do cardeal inglês John Henry Newman, que muitos consideram a maior obra
escrita sobre a Universidade, permanece ainda dentro dos limites da oposição entre ensino
descrita, brotou entre ensino, Ciência e reflexão filosófica, onde a unidade da Ciência era
concebida como devendo ser assegurada pela Filosofia. Neste sentido, é interessante notar
que um ano antes do Memorando de Humboldt, Hegel publicava o seu famoso livro
intitulado Fenomenologia do espírito. Nele desenvolvia a tese de que a Ciência deveria ser
21). Hegel considerava que por ser capaz de tratar as coisas de modo universal e
relacionante, a Filosofia inscrevia-se como o único saber digno do nome de Ciência. Era um
ponto de vista rico, que antecipava uma crítica à fragmentação positivista do saber antes
dela ser formulada, mas hoje uma ideia de difícil assimilação, dadas as acomodações
estereotipadas do saber.
190
a perspectiva do conceito de formação (Bildung), enquanto educação geral humanística,
com a orientação presente na noção de Ausbildung, que descreve a educação mais técnica e
especializada.
Habermas observa que tais “reformadores atribuíam à Filosofia uma força unificadora com
disciplinas científicas, bem como a unidade da Ciência com a arte e a crítica, por um lado, e o
Direito e a moral, por outro lado. A Filosofia apresentava-se como a forma de reflexão da
moderna, visa o desenvolvimento do espírito crítico individual através da Ciência. Ela prioriza
a pesquisa e defende a Ciência. Mas ela alça a fundamentação da Ciência como fim em si
mesmo ao nível de um viés crítico neohumanístico no qual o afazer científico aparece como
especializado positivo.
quando filósofos como Giordano Bruno foram perseguidos e até mortos por advogarem a
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experimental. Como disse Heidegger, a Ciência talvez nunca tivesse chegado onde chegou se
não fosse historicamente precedida e defendida pela Filosofia. É muito importante dizer isso
para que esta exposição seja bem entendida, pois não se trata de oposição ou pressuposição
integrado. Trata-se, por fim, de afirmar uma direção que distingue com força, como
entre si quando se ignora, por um lado, a sua relação histórica e, por outro, a importância
fundamental que tem essa relação reflexiva para uma produção do conhecimento que não
favoreça apenas os interesses privados da razão instrumental de mercado, mas que ofereça
também estão sob o fogo cruzado da contradição, sendo elas mesmas atingidas pelos ventos
temas sociais e
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políticos. Temas estes, diga-se de passagem, que marcam a História da Filosofia desde
Sócrates8.
constantemente numa relação tensa e em algum grau interconexa, que não desabona, mas
Humanidades, na produção cultural e nas lutas sociais externas, dos quais o olhar da
várias imagens que permearam esta exposição, numa paráfrase de Sérgio Paulo Rouanet,
quando ele indica com clareza não só o lugar das Humanidades na formação do sujeito
crítico na universidade, como deixa entrever o que significa a sua exclusão: o fato é que o
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Por isso é valioso o exemplo de um filósofo como Ernst Tugendhat, que mesmo tendo sido um ícone na
discussão sobre a Filosofia da Linguagem – que representa inegavelmente uma contribuição efetiva para o
clareamento dos conceitos –, recusou-se a se furtar dos temas éticos.
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ROUANET, Sérgio Paulo. As razões do iluminismo. São Paulo: Companhia das Letras, 1987.
Referência correta para citar este capítulo de livro (o texto está paginado conforme a edição impressa):
FRAGA, Paulo Denisar. Lugar das Humanidades na ideia de Universidade crítica. In: FERRAREZI JR., Celso
(Org.). A identidade docente no Ensino Superior e a universidade brasileira: uma contribuição da
Universidade Federal de Alfenas ao debate nacional. São Paulo; Alfenas: Scortecci; Unifal-MG, 2011. p.
177-195.
ISBN 978-85-366-2439-6
195