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Capitulo I- NOÇÕES DE DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO (DI)

Objectivos de Aprendizagem
Até ao fim da aula os alunos devem ser capazes de:
1. Definir o Direito Internacional Público e Privado
2. Saber diferenciar os dois direitos e os seus Campos de actuação.
3. Características da ordem jurídica internacional.
4. Conhecer a evolução histórica do Direto Internacional Pública
5. Apresentar indubitavelmente os elementos de conexão no Direito
Internacional Privado.

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PLANO ANALÍTICO: DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO
Curso: direito (4 aulas semanais)
Nº de
SEMANA aulas CONTEÚDOS OBS Nº DE
S AULAS
PRÁTIC
A
Apresentação recíproca entre Professor e Estudantes. Exame
I- 02 Exame disgnóstico e introdução geral diagnóstico:
Orientações práticas da convivência na sala de aulas Debate expositivo
Introdução ao curso e explicação dos conceitos chaves sobre os
do curso. conhecimentos
preliminares da
matéria do
direito.
O DIREITO E A ORDEM INTERNACIONAL
04 - Conceito do direito Exposição e
II-III - Ordem internacional debate aberto com
- Direito internacional privada estudantes
- Direito internacional público
- Relações entre o direito internacional público e o
direito interno
FONTES DO DIREITO INTERNACIONAL
PÚBLICO
04 - Os tratados ou convenções Exposição e 04
IV-V - Costumes internacionais debate aberto
- Jurisprudência com estudantes
- As resoluções das organizações internacionais

OS SUJEITOS DO DIREITO INTERNACIONAL


02 - Os estados Exposição e
VI-VII - As organizações internacionais debate aberto com 04
- Os indivíduos e a defesa dos seus direitos estudantes
- A Igreja Católica (Vaticano e Santa Sé) e a Ordem de
Malta

1ª Avaliação
CONTROVÉRSIAS INTERNACIONAIS E SUA
RESOLUÇÃO
- Resolução pacífica das controvérsias Exposição e
VIII-IX 04 - Modo diplomático Debate aberto 04
- Modos políticos estudantes
- Modos jurídicos

DIREITO INTERNACIONAL E O USO DA


FORÇA (ONU, 39-42)
02 - Da liceidade á proibição do uso da força Exposição e
X-XI - A legítima defesa debate aberto 04

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- O direito de intervenção com estudantes
AS SANÇÕES NO DIREITO INTERNACIONAL
- Crimes internacionais Exposição e
XII-XIII 04 - Medidas correctivas Debate aberto
- Medidas punitivas com estudantes

02
2ª Avaliação

RESPONSABILIDADE DO ESTADO NO
DIREITO INTERNACIONAL
- A Teoria da Responsabilidade Internacional do
Estado Exposição e
XIV-XV Debate aberto
- Características da Responsabilidade Internacional estudantes
-Elementos Constitutivos da Responsabilidade 04
04 Internacional
-Elemento Objetivo: Fato Ilícito;
-Elemento Subjetivo: Atribuição
- Direitos fundamentais dos Estados
- Deveres do Estado
- Proteção diplomática

ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS E
REGIONAIS
- O que são e como nascem Exposição e
debate aberto 04
- Objectivos
XVI- 04 com estudantes
XVII - Os membros
- Estruturas e funcionamento
- Principais organizações
02 - Avaliações

Professor: Eugénio Mutimucuio

BIBLIOGRAFIA:
José A. Pastor Ridruejo, Curso de derecho Internacional Público y organizaciones
Intenacionales, 8º edicion, Madrid 2001
Diritto Internazionale pubblico, Edizioni Giuridiche Simone, 1999
Codice del diritto e delle organizzazioni Internazionali, Edizioni Giuridiche Simone, 1999

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Abdul Carimo Mahomed Issa, Lei de bases de protecção da criança, lei de organização
jurisdicional de Menores, Lai sobre o tráfico de pessoas, Legislação Complementar, S/L
2013
GOUVEIA, Jorge Bacelar, Manual de Direito Internacional Publico: Introdução, Fontes,
relevância, Sujeitos, Domínio, garantia, 3ª Ed. Almeidina, Coimbra 2008

TEMAS DOS SEMINÁRIOS:


1- A carta da Organização das Nações Unidas e as suas instâncias administrativas
2- AS agências da Organização das Nações Unidas
3- O Tribunal Penal Internacional (TPI), seu estatuto e sua estrutura
4- Declaração Universal dos Direitos Humanos (seu conteúdo e impacto na sociedade
ontem e hoje)
5- As grandes organizações internacionais
6- As organizações regionais
7- Convenção de Viena sobre os tratados e as convenções sobre as relações
diplomáticas e sobre as relações consulares

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CONCEITOS

O Direito Internacional Público pode se chamar direito entre Estados, direito entre os
sujeitos do direito internacional.

Jeremias Bentham em 1780 surge a expressão Direito Internacional em oposição ao


Direito Nacional que rege a ordem interna num País. Para alguns juristas, o mais
correto seria falar em Direito Inter-estatal, mas a expressão já está consagrada e não se
justifica modificá-la. Outros autores, como Richard Zouch em 1650 usam a expressão
latina de direito das gentes (ius gentium), ou lei das Nações enquanto grupo único

A palavra “Público” foi acrescentada para distinguir a matéria de Direito Internacional


Privado. Clóvis Beviláqua adota a expressão Direito Público Internacional, com o
objetivo de salientar o primado do Direito público sobre o privado.

As definições do Direito Internacional Público dependem das teorias defendidas pelos


diversos estudiosos dessa área, principalmente quanto ao seu fundamento, fontes e
evolução histórica.

Para Jorge Americano, “o objeto do DI é o estabelecimento de segurança entre as


nações, sobre princípios de justiça para que dentro delas cada homem possa ter paz,
trabalho, liberdade de pensamento e de crença”.

Para Antônio de Vasconcellos Menezes de Drummond (1867). “o DI é o complexo


dos direitos individuais e recíprocos entre as mesmas nações”.

Para Nicolas Politis, DI é o “conjunto de regras que governam as relações dos


homens, pertencentes aos vários grupos nacionais”.

E para ACIOLLY (2002, p.4) o DI é o “conjunto de normas jurídicas que regulam as


relações mútuas dos Estados e, subsidiariamente, as das demais pessoas
internacionais, como determinadas organizações, e dos indivíduos”.

Entretanto, MAZZUOLI (2009, p.66 e 67) observa que os Estados deixaram de ser os
únicos atores da cena internacional. Daí o entendimento contemporâneo de ser o
Direito Internacional Público aquele ramo do Direito capaz de regular as relações
inter-estatais, bem como as relações envolvendo as organizações internacionais e
também os indivíduos, ainda que a atuação desses últimos seja mais limitada no
cenário internacional.

DIVISÃO DO DIREITO

Direito interno- trata das relações jurídicas no interior do sistema jurídico nacional.
Cada Estado possui o seu direito interno regulando a vida no seu interior

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Direito Internacional - trata das relações entre diferentes sistemas internacionais.
Estamos a falar dos tratados e convenções internacionais que regulam a convivência
destes Estados e outros sujeitos do Direito Internacional.

Matérias Comuns entre o Direito interno e Internacional

Matérias como as que discorrem sobre nacionalidade ou que se preocupam com os


direitos humanos, têm um campo quase que comum. Por estes motivos, fica difícil
muitas vezes diferenciar onde começa um e termina a outro.

FUNDAMENTO

O estudo do fundamento do Direito Internacional Público visa determinar o motivo


pelo qual as normas internacionais são obrigatórias. Há duas teorias: o voluntarista e a
objetivista.

O voluntarismo ou corrente positivista é uma corrente doutrinária cujo elemento


central é a vontade dos sujeitos de Direito Internacional. Para o voluntarismo os
Estados e organizações internacionais devem observar as normas internacionais
porque expressaram livremente a concordância em fazê-lo. Repousa, portanto, no
consentimento dos Estados, na vontade dos Estados. É também chamado de “corrente
positivista”.

Deve-se destacar que o principal fundamento dos tratados vem a ser um dos princípios
da sociedade internacional: o Pacta Sunt Servanda, que poderíamos definir
como aquilo que foi pactuado deve ser cumprido. Segue o artigo 26 da Convenção de
Viena: “Artigo 26 – Todo tratado em vigor vincula as Partes e deve ser por elas
cumprido de boa fé”.

O objectivismo sustenta que a obrigatoriedade do Direito Internacional decorre da


existência de valores, princípios ou regras que se revestem de uma importância tal que
delas podem depender o bom desenvolvimento e a própria existência da sociedade
internacional. Nesse sentido, tais normas, que surgem a partir da própria dinâmica da
sociedade internacional e que existem independente da vontade dos sujeitos de Direito
Internacional, colocam-se acima da vontade dos Estados e devem, portanto, pautar as
relações internacionais, devendo ser respeitadas por todos.

SANÇÕES

O Direito Internacional também compreende a possibilidade de imposição de sanções


contra Estados que violem as normas internacionais. De fato os tratados podem fixar
consequências jurídicas para os atos ilícitos dos entes obrigados a observar os
preceitos de Direito das Gentes e criar órgãos internacionais para fazer valer as
normas acordadas pelos Estados.

Parte das críticas ao Direito Internacional refere-se à relativa dificuldade de aplicar


sanções aos Estados que descumprem as normas internacionais.

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As dificuldades para impor sanções no Direito Internacional podem estar relacionadas
à ausência de órgãos internacionais centrais encarregados da tarefa, assim como ao
fato de que a aplicação dessas sanções normalmente depende da articulação dos
Estados, o que pode não ocorrer dentro de determinado contexto.

PRINCÍPIOS SOCIOLÓGICOS DE DIREITO INTERNACIONAL

(Características da ordem jurídica internacional):

    a) Ausência de autoridade superior: ao contrário do que ocorre no direito interno,


não existe uma potestade suprema ao qual todos os Estados devem se subordinar. Isso
tratando das características jurídicas, pois se tratar de características econômicas
existe um país que dá o rumo internacional, e todos estão subordinados;

    b) Ausência de hierarquia entre as normas: também diferente do direito interno.


Todas as normas estão no mesmo patamar jurídico. Não existem normas mais
importante do que outras. Deste modo, os tratados possuem o mesmo valor,
independente dos Estados envolvidos na relação. Portanto, não há tratado mais
importante do que outro.

    c) Manifestação do consentimento: Também diverge do direito interno. Um


Estado apenas se submete a uma norma internacional, em regra, quando manifesta seu
consentimento em relação a ela. Destarte, o Estado deve concordar com a norma. No
direito interno o Estado impõe a norma. É uma pedra angular do Direito Internacional.
Exceção, ex.: o E.U.A não faz parte do tribunal internacional penal, porém está
submetido mesmo sem o seu consentimento.

    d) Convicções jurídicas coincidentes: Para que haja uma harmonia internacional,
alguns dos Estados devem pensar o direito da mesma forma. Senão, não haverá uma
ordem jurídica. Portanto, são necessárias orientações jurídicas sobre determinadas
assuntos, chamadas de convicções jurídicas coincidentes. Imagine se os Estados não
pensassem da mesma maneira, como existiriam os tratados internacionais? Destarte,
sente-se a necessidade das convicções.

    e) Descentralização: Analise que um princípio leva a outro. Perceba que não há
órgão centralizador no direito internacional, pois a coordenação é a regra no direito
internacional. Cada um dos Estados agem com autonomia, atuando em seu próprio
nome. A ONU não coordena nem centraliza as regras entre os Estados, pois, os
próprios Estados coordenam a sua atuação no direito internacional.

    f) Organização horizontal (horizontalidade): Todos os Estados estão no mesmo


patamar jurídico. São todos iguais no plano jurídico. O voto do Brasil tem o mesmo
valor de outros Estados.

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    g) Pluralidade de Estados soberanos: Há um pleonasmo, pois para ser Estado, ele
deve ser soberano. E para que haja uma ordem jurídica internacional é essencial a
existência de diversos Estados soberanos. Tanto que, se existisse apenas um Estado
soberano sobre todos, não existiria uma ordem jurídica internacional.

    h) Sistema de sanções precário: As sanções aplicadas no direito internacional, não


raro, não surtem o efeito buscado. As sanções não são eficazes. O descumprimento
dos tratados internacionais não tem gerado efeitos punitivos suficientes para impedir
que os Estados continuem descumprindo. Ex.: uma resolução da ONU vetou a invasão
dos E.U.A ao Iraque, todavia, as sanções aplicadas a eles pelo descumprimento, não
surtiram efeitos.

CAMPOS E DOMÍNIOS DO DIREITO INTERNACIONAL

O domínio público internacional costuma ser definido como o conjunto dos espaços
cujo uso interessa a mais de um Estado e, por vezes, à sociedade internacional como
um todo, mesmo que, em certos casos, tais espaços estejam sujeitos à soberania de um
Estado. São, pois, domínio internacional, disciplinados pelo Direito Internacional,
dentre outros, o mar e suas subdivisões legais, os rios internacionais, o espaço aéreo, o
espaço sideral e os continentes Ártico e Antártico.

1 - Domínio marítimo1

O domínio marítimo abrange as águas internas, o mar territorial, a zona contígua entre
o mar territorial e o alto-mar, zona econômica exclusiva, plataforma continental, solo
marítimo, estreitos e canais.

2 - Domínio fluvial ou rios internacionais

São rios internacionais aqueles que correm em mais de um Estado, quer sejam
limítrofes (formam fronteira entre dois Estados), quer de curso sucessivo (corre no
território de um Estado em seguida ao de outro). A importância da navegação fluvial
somou-se aos interesses econômicos da utilização dos recursos econômicos da
utilização dos recursos naturais (geração de energia hidrelétrica, irrigação, etc.) para
criar a necessidade de disciplina internacional para tais rios, de que são exemplos o
Danúbio, na Europa, e a Bacia do Prata, na América do Sul. A disciplina de tais
situações é realizada por meio de entendimentos ou tratados específicos para cada
situação e, por vezes, até mesmo por atos unilaterais. Ao contrário de outras
províncias do domínio público internacional, não existe até o momento uma
convenção multilateral geral que regule a matéria.

A liberdade de navegação em rio internacional, quando concedida (por intermédio de


tratado ou ato unilateral), não exclui o direito de o Estado ribeirinho exercer a sua
jurisdição e o poder de polícia.
1
CF. Convenção das Nações Unidas sobre o direito do mar de 10 de Dezembro de 1982 e o acordo relativo à
actuação da parte XI da convenção das Nações Unidas sobre o direito do mar de 10 de Dezembro de 1982.

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3 - Domínio aéreo2

À porção da atmosfera localizada sobre o território ou mar territorial de um Estado dá-


se o nome de espaço aéreo. O Direito Internacional Público reconhece a soberania
exclusiva do Estado sobre o espaço aéreo sobrejacente. Tal espaço, diferentemente do
mar territorial, não comporta direito de passagem inocente, razão pela qual, em
princípio, uma aeronave estrangeira somente pode sobrevoar o território de
determinado Estado com o consentimento desse.

A Convenção de Chicago de 1944, e seus tratados acessórios, estabeleceram os


princípios e conceitos básicos da aviação civil internacional e instituíram a
Organização de Aviação Civil Internacional (OACI), existente desde 1947 e com sede
em Montreal. A Convenção, que se aplica somente à aviação civil, permite o sobrevoo
e a escala técnica livres às aeronaves estrangeiras que não operem serviços aéreos
comerciais regulares; quanto às que operem serviços regulares, dependem de
autorização do Estado sobrevoado.

Na prática, cada Estado concede autorização para que empresas aéreas estrangeiras
operem serviços regulares em seu território mediante tratados bilaterais (e,
eventualmente, mediante autorizações unilaterais), com base nos princípios das
"liberdades do ar" definidas pela Convenção.

As aeronaves estrangeiras estão sujeitas à jurisdição do Estado em cujo território ou


espaço aéreo se encontrem; excetuam-se as aeronaves militares e as de Estado, que
gozam de imunidade de jurisdição. Sobre alto-mar, as aeronaves sujeitam-se à
jurisdição do Estado de matrícula. Para tanto, a Convenção determina regras sobre a
nacionalidade das aeronaves, fixada por meio de um sistema de matrículas mantido
por cada Estado; toda aeronave possui uma e apenas uma nacionalidade.

4 - Espaço sideral3

Chamado também de espaço cósmico, espaço exterior ou espaço extra-atmosférico, o


espaço sideral é singular do ponto de vista jurídico, já que faz pouco tempo que as
atividades humanas naquele ambiente se tornaram realidade, exigindo da sociedade
internacional o estabelecimento de regras de direito internacional que norteassem este
tipo de relações internacionais.

O uso do espaço sideral é disciplinado em direito internacional primordialmente pelo


Tratado sobre Princípios Reguladores das Atividades dos Estados na Exploração e
Uso do Espaço Cósmico, Inclusive a Lua e Demais Corpos Celestes. Dispõe aquele
tratado que os corpos celestes e o espaço sideral são patrimônio comum da
humanidade e, portanto, de livre acesso e insuscetíveis de apropriação por qualquer

2
Cf. Convenção relativa à aviação Civil Internacional de 7 de Dezembro de 1947
3
Cf. Tratado sobre princípios que regulam as actividades dos Estados na exploração e no uso do espaço extra-
atmosférica, compresso a lua e os outos corpos celestes de 27 de Janeiro de 1967

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Estado. Estabelece, ademais, o uso pacífico do espaço e corpos celestes e a proibição
expressa de instalação de armas nucleares naquele ambiente.

5 - A Antártida e o Ártico4

As relações internacionais referentes ao continente Antártico são reguladas por


intermédio do Tratado da Antártida e acordos acessórios. Os dois princípios mais
importantes daquele tratado são o uso do continente para fins exclusivamente
pacíficos e a postergação das reivindicações territoriais efetuadas por alguns Estados.
Este último é de especial relevância, tendo em vista que alguns países haviam, devido
à proximidade geográfica ou por motivos históricos, reivindicado partes do continente,
embora tais reivindicações não fossem (como ainda não são) reconhecidas pela
maioria dos Estados do planeta.

II- DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO (DIPr)

Direito internacional privado é o conjunto de normas jurídicas, criado por uma


autoridade política autônoma, portanto por um  estado, com o propósito de resolver os
conflitos de leis no espaço. Em termos simples, o Direito Internacional Privado é um
conjunto de regras de direito interno que indica ao juiz local que lei – se a do foro ou a
estrangeira; ou dentre duas estrangeiras - deverá ser aplicada a um caso (geralmente
privado) que tenha relação com mais de um país.

Em linhas gerais, como exposto anteriormente, o direito internacional privado seria


um conjunto de princípios e regras sobre qual legislação aplicável à solução de
relações jurídicas privadas quando envolvidos nas relações mais de um país, ou seja, a
nível internacional.

A possibilidade de o juiz de um país (“juiz do foro”) aplicar lei estrangeira decorre da


necessidade de se reconhecer fatos e atos jurídicos constituídos em outros países e
cuja negação pelo juiz do foro causaria uma injustiça.
Ao estudo dos conflitos de leis no espaço, muitos juristas acrescentam no escopo do
DIPr as normas de direito interno referentes ao conflito de jurisdições,
à nacionalidade e à condição jurídica do estrangeiro.

O mundo globalizado permite uma infindável conexão de pessoas e culturas que,


inegavelmente, saem dos restritos limites de um território, viajam pelos cabos de fibra
ótica, por aeronaves ou mesmo por um pequeno produto importado vendido na
esquina de casa – o mundo está pequeno, ao alcance das mãos. Portanto todos somos
Cidadãos do mundo. Já não se vive mais apenas com seus pais, cônjuges, famílias ou
vizinhos. Sequer vivem apenas em sua cidade, estado ou mesmo país, somos cidadão
do mundo.

4
Cf. Tratado sobre a Antártida de 1 de Dezembro de 1959

18
Nesse contexto, o Direito Internacional Privado é a disciplina jurídica que trata das
relações privadas com conexão internacional, tendo como objeto justamente as
normas que permitem escolher o direito aplicável a estas lides.

Estudar este ramo do direito, seu conteúdo e seus conceitos é de suma importância
para que se estabeleça uma harmônica convivência no mundo globalizado.

OBJECTO DO DIPr

A internacionalização da vida e das atividades humanas gera fenômenos jurídicos que


devem ser resolvidos pelo Estado. O Direito Internacional Privado, como disciplina
que estuda a escolha da norma a ser aplicada a uma relação jurídica com conexão
internacional, tem, como objeto de seu estudo, pela doutrina mais ampla, a
nacionalidade, a condição jurídica do estrangeiro, o conflito das leis no espaço e o
conflito de jurisdições.

Acontece que parte da doutrina questiona que se incluam como objeto desta
disciplina, notadamente, a nacionalidade e a condição jurídica do estrangeiro. Ora, a
nacionalidade é um elemento de conexão internacional e, como tal, indubitavelmente
deve integrar o objeto de estudo desta disciplina, haja vista sua importância na escolha
da lei aplicável ao caso concreto, objetivo principal do Direito Internacional Privado.
A condição jurídica do estrangeiro, por sua vez, é crucial na determinação das
capacidades dos estrangeiros no país, pois podem vedar e restringir seus direitos,
sendo inaplicáveis, portanto, quanto a estes direitos vedados, as normas de direito
internacional quanto à escolha do direito, se nacional ou estrangeiro.

O direito internacional privado resolve conflitos de leis no espaço referentes ao


direito privado; indica qual direito, dentre aqueles que tenham conexão com a lide sub
judice, deverá ser aplicado. O objeto da disciplina é internacional, sempre se refere às
relações jurídicas com conexão que transcende as fronteiras nacionais. Desta forma,
alguns pontos são analisados pelo direito internacional privado, que são a questão da
uniformização das leis, a nacionalidade, a condição jurídica do estrangeiro, o conflito
de leis como já citado e o reconhecimento internacional dos direitos adquiridos pelos
países.

OBJETIVO DO DIPr:
O direito internacional privado visa à realização da justiça material meramente de
forma indireta, e isso, mediante elementos de conexão alternativos favorecendo a
validade jurídica de um negócio jurídico. Outro objetivo do direito internacional
privado importante de ser lembrado é a harmonização das decisões judiciais proferidas
pela justiça doméstica com o direito dos países com os quais a relação jurídica tem
conexão internacional.

- Normas jusprivatistas internacionais: a norma do direito internacional privado

18
delimita a eficácia das normas de ordem interna e indica a lei estrangeira que deve
reger uma determinada relação jurídica internacional. Pode se dizer que trata de
questões “contaminadas” por, pelo menos, um elemento estrangeiro (casamento,
nacionalidade, local da morte, local dos bens etc). Esse elemento estrangeiro é
fundamental; é ele que diferencia o direito internacional privado do direito privado
comum ou direito interno. As normas podem se classificar quanto a fonte, quanto a
natureza e quanto a estrutura.

QUANTO A FONTE
Pode ser legislativa, doutrinária e jurisprudencial, pode ainda ser interna ou
internacional (tratados e convenções).

QUANTO A NATUREZA

Geralmente é conflitual, indireta ou seja, não solucionam a questão em si mais


indicam qual direito deve ser aplicado. Há ainda as normas qualificadoras, que não
são conflituais, nem substanciais, mas conceituais.

QUANTO A ESTRUTURA

São unilaterais, bilaterais ou justapostas. Unilaterais ou incompletas são aquelas que


se preocupam apenas com a aplicação da regra do direito internacional privado aos
nacionais, ou seja, a regra de direito interno, independentemente do direito
estrangeiro. O jurista Caput diz a lei do domicílio da pessoa natural, ou seja, se aplica
tanto a nacionais como a estrangeiros. Essas normas se direcionam ou aos seus
nacionais ou exclui os nacionais e afeta só os estrangeiros. As bilaterais ou completas,
são as que se destinam a todos os nacionais, tem um aspecto universal, multilateral,
ocupando-se de todo o mundo.

ELEMENTOS DE CONEXÃO
O problema fundamental do direito internacional privado é a determinação e
utilização das regras solucionadoras de conflitos interes-paciais, isto é, a utilização
dos elementos de conexão. As regras jurídicas em geral possuem a estrutura de uma
hipótese e um dispositivo que regulamenta esse fato. Por exemplo, fato: a pessoa
quando alcança 18 anos. Fato – alcançar 18 anos.
- Aplicação do direito estrangeiro: não se faz por ato arbitrário do juiz, mas em
decorrência de mandamento legal da legislação interna. As partes, em princípio, não
podem renunciar ao seu império. Sua obrigatoriedade é de tal natureza que o juiz tem
o dever de aplicá-la mesmo quando não invocada pelas partes. Embora se diga, em
meio a divergências doutrinárias, que o direito estrangeiro competente se integra na
ordem nacional, não decorre da afirmativa a conclusão de que se aplica o princípio
jura novit curia. O juiz pode dispensar a prova do direito estrangeiro, se o conhecer,
embora daí possa decorrer o inconveniente de, no julgamento coletivo, haver
necessidade de se provar sua existência.

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- Condição jurídica do estrangeiro: o Estado que acolhe estrangeiros em seu
território deve reconhecer-lhes certos direitos e deve exigir deles certas obrigações.
Exemplo de direito do Estado: o de vigilância e policia sobre o estrangeiro, embora se
deva conduzir tal pratica com a brandura possível. O Estado deve regular a condição
do estrangeiro, protegendo suas pessoas e seus bens, e reconhecer a todos o menino de
direitos admitidos pelo direito internacional. Os direitos que devem ser reconhecidos
aos estrangeiros são:
1) O direito à liberdade individual e a inviolabilidade da pessoa humana, liberdade de
consciência, de culto, inviolabilidade de domicílio, direito de propriedade;
2) Direitos civis e de família. Os direitos e liberdades supracitados não são absolutos,
pois não impedem que os estrangeiros sejam presos ou punidos com a pena última. É
também lícito e recomendável que se recuse ao estrangeiro a faculdade de exercer,
país de residência, os direitos políticos que tenham no país de origem.

Nacionalidade e Naturalização: nacionalidade é um vínculo jurídico político


estabelecido entre um Estado e uma pessoa. Existe uma diferença entre nacionalidade
e aquisição e perda da nacionalidade e cidadania, na cidadania existe um plus que são
os direitos políticos, tais como os de votar. A cidadania pressupõe sempre a aquisição
de nacionalidade. Cidadão é aquele que exerce seus direitos políticos. É pressuposto
para o exercício da cidadania, que a pessoa seja daquele País, mais não
necessariamente nato.

DIFERENCIAÇÃO ENTRE DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO E


PRIVADO

Em síntese o Direito internacional público abrange um conjunto de normas


aplicáveis nas relações entre sujeitos do DIP, enquanto o Direito internacional
privado lida com questões relativas as particularidades que sejam convenientes
para mais de um país.

QUADRO SINÓPTICO DO QUE É O DIP E O DIPR

Direito Internacional Público Direito Internacional Privado


Relação jurídica: relações jurídicas entre os
Relação jurídica: relações exteriores
sujeitos privados, mantendo conexão
entre os atores internacionais,
internacional, regulando conflitos de leis no
compondo tensões.
espaço.
Fonte: tratados e fontes internacionais Fonte: legislação interna dos Estados.
Regras: Regras: normas indicativas de qual Direito

18
1) Vinculam as relações internacionais
ou internas de incidência
internacional;

2) Estabelecidas pelas fontes aplicável nas relações entre os sujeitos.


internacionais;

3) Normas de aplicação direta,


diretamente vinculas aos sujeitos.

Fonte: o autor.

O Direito internacional público, compõe-se pelos sujeitos ou actores de


direito internacional público, estando sujeitos às regras, princípios e costumes
internacionais. De acordo com Bregalda, 2007 os Estados possuem sua
personalidade jurídica internacional reconhecida pelos outros Estados ou por
organismos internacionais. Tendo como por exemplos a ONU (Organização das
Nações Unidas) e a OEA (Organização dos Estados Americanos).  Atualmente,
temos com objeto moderno do Direito Internacional os Estados, as
Organizações Internacionais e os Indivíduos.

O Direito internacional privado utiliza normas jurídicas, elaboradas pela


ciência jurídica definindo seus princípios, obedecendo as soluções adequadas
para os conflitos de leis, sendo eles inter-espacial ou jurisdicional. As
convenções internacionais, o costume internacional e os princípios gerais do
direito são as principais fontes do direito internacional.

Temos como competência do direito internacional privado, disciplinar as


relações resultantes do direito civil, igualmente com o direito do trabalho e o
direito comercial, caracterizados como disciplinas autônomas em nível
internacional.

18
APÊNDICE

HISTÓRIA
Embora boa parte dos juristas reconheça a existência de um direito internacional
apenas a partir da Paz de Vestefália (1648), marco histórico do Estado-
nação moderno, é inegável que os povos da Antiguidade mantinham relações
exteriores: comerciavam entre si, enviavam embaixadores, vinculavam-se por
meio de tratados e outras formas de obrigação, e assim por diante.
Antiguidade Classica
O tratado mais antigo registrado é o celebrado entre Lagash e Umma, cidades
da Mesopotâmia, relativo à fronteira comum. Mas o tratado mais famoso da
Antiguidade remota é, possivelmente, o de Kadesh, concluído entre Ramsés
II do Egito e Hatusil III dos hititas no século XIII a.C.
Da mesma maneira que na Antiguidade remota, os gregos reconheciam e
praticavam os institutos da inviolabilidade dos embaixadores, do respeito aos
tratados e do recurso à arbitragem, dentre outros.
A maioria dos juristas entende que a Roma Antiga, ao longo de quase toda a sua
história, não se considerava sujeita a um direito internacional distinto do seu
direito interno, o que se explica pelo predomínio da chamada Pax romana.
O ius gentium, que alguns apontam como indício de um direito internacional
romano, era, na essência, um direito romano aplicado a estrangeiros por
um magistrado romano, o pretor peregrino.
Idade Média
A Igreja foi a grande influência no desenvolvimento do direito internacional
durante a Idade Média. O papa era considerado o árbitro por excelência
das relações internacionais e tinha a autoridade para liberar um chefe de
Estado do cumprimento de um tratado.
A grande contribuição da Igreja durante o período medieval foi a humanização
da guerra. Três conceitos, em especial, tiveram forte impacto naquela área:
a Paz de Deus  (pela primeira vez, no mundo ocidental, distinguia-se entre
beligerantes e não-beligerantes, proibindo-se a destruição de colheitas e
exigindo-se o respeito aos camponeses, aos viajantes e às mulheres); a Trégua
de Deus  (a suspensão dos combates durante o domingo e nos dias santos); e a
noção de Guerra Justa, desenvolvida principalmente por Santo
Ambrósio, Santo Agostinho e São Tomás de Aquino. A guerra seria justa caso
fosse declarada pelo príncipe, tivesse por causa a violação de um direito e
pretendesse reparar um mal.
Ademais do juramento, já empregado na Antiguidade, os tratados medievais
eram garantidos com a troca de reféns.

18
A primeira Missão diplomática de caráter permanente foi estabelecida
por Milão junto ao governo de Florença, no final da Idade Média.
Idade Moderna
A Idade Moderna vê nascer o direito internacional tal como o conhecemos hoje.
Surgem as noções de Estado nacional e de soberania estatal, conceitos
consolidados pela Paz de Vestefália (1648). A partir de então, os Estados
abandonariam o respeito a uma vaga hierarquia internacional baseada
na religião e não mais reconheceriam nenhum outro poder acima de si próprios
(soberania). A Europa começou a adotar uma organização política centrada na
ideia de que a cada nação corresponderia um Estado (Estado-nação).
Juntamente com Francisco de Vitória, Hugo Grócio foi um dos principais
teóricos do direito internacional no período, baseando-se na teoria do direito
natural. Sua principal obra jurídica, De Jure Belli ac Pacis ("do direito da
guerra e da paz"), em muito contribuiu para o desenvolvimento da noção
de Guerra Justa.
Idade Contemporânea
Na Idade Contemporânea, inaugurada com a Revolução Francesa, é reforçado o
conceito de nacionalidade, que viria posteriormente a orientar as unificações
italiana e alemã no século XIX. O Congresso de Viena (1815), que encerrou
a era napoleônica, resultou em grande impulso para o direito internacional, na
medida em que apontou na direção da internacionalização dos grandes rios
europeus (Reno, Mosaetc.), declarou a neutralidade perpétua da Suíça e pela
primeira vez adotou uma classificação para os agentes diplomáticos.
O século XIX assistiu ao florescimento do direito internacional moderno, com a
proibição do corso, a criação dos primeiros organismos internacionais com
vistas a regular assuntos transnacionais, a proclamação da Doutrina Monroe e a
primeira das Convenções de Genebra, dentre inúmeras outras iniciativas.
A Conferência de Berlim de 1885 organizou o neoimperialismo europeu
na África.
Durante o século XX, o direito internacional moderno foi aprofundado e
consolidado com a criação da Sociedade das Nações e, posteriormente,
da Organização das Nações Unidas, o trabalho de codificação (por exemplo,
a Convenção de Viena sobre Direito dos Tratados e a Convenção sobre Direito
do Mar) e a proliferação de tratados nascida na necessidade de acompanhar o
intenso intercâmbio internacional do mundo contemporâneo.

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FICHA DE TRABALHO

1- O que é o Direito Internacional Público?


2- Quais são campos do domínio do DIP?
3- Qual é a diferença entre o DIP e o DPr?
4- Quais são as matérias do DIPr?
5- O que são as matérias de conexão?
6- Qual é o objecto de DIPr?
7- Qual é o objectivo do estudo de DIPr?
8- A natureza do DIPr?
9- Relações entre DIP e DIPr?

BIBLIOGRAFIA

RIDRUEJO, José A. Pastor, Curso de derecho Internacional Público y


organizaciones Intenacionales, 8º edicion, Madrid 2001
Diritto Internazionale pubblico, Edizioni Giuridiche Simone, 1999
Codice del diritto e delle organizzazioni Internazionali, Edizioni Giuridiche
Simone, 1999
ACCIOLY, Hildebrando. Manual de Direito Internacional Público. 15ª ed. São
Paulo: Saraiva, 2002.
AMARAL, Ana Paula Martins. Fontes do Direito do Comércio Internacional.
Disponível em www.jus.com.br. Acesso em 20 jan. 2014.
HUSEK, Carlos Roberto. Curso de Direito Internacional Público. 7ª ed. São Paulo:
LTr, 2007.
MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direito Internacional Público. 5ª ed.
São Paulo: LTr, 2009.
MELLO, Celso D. de Albuquerque. Curso de Direito Internacional Público. 12ª ed.
São Paulo: Renovar, 2000.
REZEK, José Francisco. Direito internacional público. 12ª ed. São Paulo: Saraiva,
2010.

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