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Módulo 8 - A Educação e as relações étnico-raciais | 3

Apresentação
O comércio era uma forma importante pessoas vindas de longe, com costumes e
das sociedades se relacionarem, trocando crenças diferentes, que algumas vezes eram
não só mercadorias, mas também ideias e incorporadas às tradições locais. A vitalidade
comportamentos. Ou seja, o comércio é uma do comércio dentro do continente africano – de
das atividades mais presentes na história de curta, média e longa distância – põe por terra
várias regiões da África e, por meio dele, as a ideia de sociedades isoladas, vivendo apenas
sociedades mantinham contato umas com voltadas para si mesmas.
as outras. Os produtos eram negociados por
4|Saberes, fazer e encantamentos que permeiam a cultura afro-brasileira

brasileiros demonstra umaincapacidade de


assimilação da população negra dos elementos
vitais da civilização européia. Essa ideologia
foi tão forte que mesmo a intelectualidade
mais progressista custou a reconhecer a
questãoafricana na história brasileira. Os
estudosrecentes, pesquisadores e estudiosos
tem sugeridomudanças e estudos, propondo
uma nova história da educação no Brasil,
que deve ser uma história em que se possa
ver a narrativa de acontecimentos por vários
observadores, sendo conhecido o lugar que
cada um ocupa como historiador e como
participantes do contexto estudado (CRUZ,
2005).

Oliveira et al(2013,p.20858)também
sinalizam que:

[...] a Reforma de Couto Ferraz a partir


do Brasil Império, peloDecreto nº 1.331 de
fevereiro de 1854, que não permitia aos
escravos o acesso às escolas públicas. [...]
Dentro da mesma linha, o Decreto nº 7.031
Ao pensarmos sobre a educação e a história de setembro de 1878, os negros poderiam
da cultura negra em sala de aula, poucos freqüentar o período noturno, no entanto,
são os documentos ou trabalhos acadêmicos os negros dependiam da boavontade de seus
que resgatam a contribuição dos negros no senhores, e das condições físicas, depois de
processo educacional brasileiro. Oliveira et um dia ou até mesmo noites de árduo
al(2013,p.20858)ao apontar os estudos de trabalho, o que também continuava a
Ortiz (2003)citam que: dificultar seu acesso às escolas.[...]mas
pesquisas recentes apresentam que com todos
[...]os escritos de Nina Rodrigues, refletem os obstáculos e diante do contexto político
a ideologia da supremacia racial do mundo e social no Brasil, registram algumas
branco. Segundo ela, a absorção incompleta instituiçõese algumas lideranças negras
de elementos católicos pelos cultos afro- que estabeleceram um sistema educacional

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para crianças pretas e pardas, citamos ser negro e solicitou aoinspetor-geral


o educandário que funcionou na Rua da da Instrução Primária e Secundária da
Alfândega, de 1853 a 1873, no Rio de Janeiro. Corte, Eusébio de Queirós, concessões
parao funcionamento da escolae no processo
Dentre essas há o registro de uma argumentouque havia muitoracismo nas
escola de Pretextato dos Passos e Silvaque escolas da corte, queos pretos e pardos
“teve cerca de 20 alunos de famílias de eram emocionalmente coagidosou impedidos
origem humilde: a maioria dos pais não de frequentaras aulas.(OLIVEIRAet al,2013)
tinha sobrenome ou assinatura própria. O
nome dos alunos, até hoje, é um mistério, Há também o registro de outra escola
bem como o paradeiro deles.” (OLIVEIRA et que recebeu o nome de Perseverança
al,2013,p.20861) fundada em Campinaspor Antônio
Pretextado, segundo a historiadora Cesarino,funcionoude 1860 a 1876.Tinha
Adriana Maria Paulo da Silva declarava alunos negros escravos e libertos, mas
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diferente de Pretextatohavia alunas brancas no e entendiam de etiqueta. “Foi com o valor


período datardee pagavam uma mensalidade cobrado das mensalidades que Cesarino usou
ao conceituado professor Cesarino.“Com o valor o colégio para angariar fundos para comprar
arrecadado dessas alunas, ele manteve a também a liberdade de negras ligadas a ele”.
instituição econseguiu ainda dar aulas para
mulheres escravas e negras no período da A instituição foi visitada pelo Imperador
noite. A escola ficava na Rua do Alecrim (atual
D. Pedro II, quando foi a Campinas para
Rua 14 de Dezembro).(OLIVEIRAet al,2013, p. inaugurar os serviços de iluminação a gás.
20862) Além da aprendizagem intelectualenvolvendo
ler,escrever, contar, gramática nacional e
O colégio era dirigidopor Cesarino esuas francesa, geografia, música também aprendiam
irmãs para lecionar. Reconhecida noImpério conhecimentos manuais, como costurar, bordar
pelo seu nível, se destacou entre as escolas e cozinhar.
particulares que mais tiveram expressão na
época, algumas alunas pertenciamàs melhores Segundo (OLIVEIRA et al,2013, p.20863),
famílias da cidade e pagavam mensalidades Antônio Cesarino era filho de um negro
altas, mas haviaalunas negras sem recursos. alforriado, de nome Custódio, que:
Segundo (OLIVEIRA et al,2013,p. ), “as irmãs
de Cesarino falavam muito bem francês [...] entrou em Campinas com uma tropa de

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mulas durante o período escravista, em 1838, lógica hegemônica dos brancos e permeada
e resolveu vender a tropa para que seu de preconceitos, abriram espaços para que
filho de 14 anos pudesse estudar. O filho era negros e mestiços desenvolvessem suas
Antônio Cesarino – que já sabia ler e escrever. potencialidades.
Ele leva certa vantagem na cidade que tinha
6,6 mil habitantes e apenas 205 alfabetizados. Acesse o artigo na íntegra:
A duras penas Cesarino conseguiu freqüentara
escola dos brancos e se formar.Há ainda OLIVEIRA, Camila Rezendeet al.A história da
relatos em Campinas de um barão do educação de negros no Brasil e o pensamento
café que era analfabeto e fundou uma educacional de professores negros no
escola para escolarizar quem quer que fosse século XIX. In: XI Congresso Nacional de
gratuitamente. Foi ali que algumas crianças Educação, EDUCERE,2013.Pontifícia
negras também conseguiram ter acesso à Universidade Católica do Paraná.
educação.
Disponível em:
Essas e outras instituições como a <https://educere.bruc.com.br/arquivo/
Escola de São Benedito, que contrariavam pdf2013/6853_4712.pdf.>
interesses políticos poderososconstituídos pela Acesso em: 12de abr. 2020.
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