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Evolução do Pensamento Económico

Por que é tão importante estudar a história do pensamento económico?

O estudo das teorias económicas aprimora o entendimento do pensamento económico


contemporâneo, fornece perspectivas e entendimento sobre ideias e dificuldades do passado
ajudando na solução de problemas presentes. Entretanto é somente entendendo a dinâmica da
história económica das civilizações que poderá compreender toda a complexidade que domina
a ciência económica das sociedades actuais.

Para termos o entendimento desses assuntos, estudaremos neste capitulo o surgimento das Escolas
Mercantilista e Fisiocrata e as suas principais contribuições.

É preciso considerar que as ideias económicos aqui tratadas estão vinculadas ao ambiente, escola
ou contexto económico do autor na época em que surgiu. Devemos interpretar os autores, seus
exemplos e suas propostas considerando a época em que viveram ou analisaram.

Ao longo da nossa “viagem” pelas teorias económicas iremos perceber que há autores ou escola
que fundamentaram suas teorias com base em ideias dos outros, assim como outros desenvolveram
suas ideias e teorias a partir de conhecimento prévio. Portanto a contribuição de um autor pode ser
melhor esclarecimento, uma melhor elaboração e até mesmo a refutação de formulações anteriores.

Principais escolas ou teorias económicas

 Mercantilismo
 Fisiocracia
 Economia clássica
 Marxismo
 Escola keynesiana.
 Escola neoclássica

Vamos fazer a abordagem das teorias começando pelas duas escolas que deram início ao pensamento
económico os mercantilistas e os fisiocratas.

Mercantilista

Conhecidos também como metalismo, mercadores ou comerciantes. Esta teoria perdurou na Europa
ocidental entre aproximadamente (1500 e 1776).
Conforme pode perceber surgem na época das grandes navegações a busca por novas terras para
expansão do comércio. Nessa época o sistema capitalista comercial aos poucos estava sendo

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desenvolvido. As cidades que já vinham crescendo desde a Idade Média, ganhavam cada vez mais
importância económica e social.

Com o desenvolvimento do comércio os capitalistas (comerciantes/mercadores) foram se tornando


figuras centrais nos negócios, pese embora não eram bem vistos pelos senhores feudais, que eram
dos donos das terras. Mesmo assim os Estados foram crescendo e poder foi cada vez mais
concentrado nas mãos do rei e enfraquecendo o poder dos senhores feudais. Assim evoluiu um
conjunto de doutrinas chamada, Escola Mercantilista.

• Precursores do Mercantilismo:
– Thomas Mun (1571-1641)
– Josiah Child (1630-1699)
– Barthélemy de Laffemas (1545-1612)
– Jean-Baptiste Colbert (1619-1683)
– Antoine de Montchrestien (1575-1621)
– Willian Petty (1623-1687)

Quais eram as ideias dos mercantilistas?

Os mercantilistas defendiam que a riqueza de uma nação dependia do acúmulo de metais precisos,
principalmente ouro e prata. Quanto maior fosse a quantidade de ouro e prata que uma nação
possuísse, mais rica seria.

Consideravam que para aumentar ainda mais as suas riquezas, os países não poderiam importar
mais do que exportavam, porque os metais preciosos eram utilizados para o pagamento das
importações, significa que defendiam a Balança de pagamentos positiva. Segundo suas ideias cada
país deveria promover as suas exportações e acumular a riqueza dominando outros países, ou seja,
aquela nação que dominasse rotas comerciais, vencesse guerras e conquistasse colónias (para
extracção dos minérios) seria poderosa. Consequentemente estimulavam guerras para apropriar-se
dos recursos (ouro e prata) dos vizinhos/inimigos.

Portanto as restrições de exportações das matérias-primas aconteciam para que as mercadorias


fossem usadas na produção de produtos acabados dentro do próprio país, para que esses bens
fossem exportados a preços compectitivos.

Eram contra a cobrança de taxas e impostos e outras restrições internas que poderiam dificultar as
transacções económicas dentro do próprio país pois reduziam o crescimento do mercado interno, e
tornavam as exportações (produtos) menos competitivas no mercado internacional.
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Como foi dito os capitalistas mercadores eram a favor da colonização, para eles as colónias
deveriam ser dependentes do país colonizador. Para que esta dependência fosse possível, as
importações para as colónias eram proibidas ou restritas, não poderia haver fábricas e os
produtos vendidos pelas colónias passavam sempre no país colonizador.

Para que as ideias mercantilistas fossem colocadas em prática, era preciso um forte controle
governamental. Por exemplo o Governo concedia privilégios de monopólio para as empresas
envolvidas no comércio exterior. As actividades agrícolas, minerais e industriais eram promovidas
com subsídios e havia ampla restrição às importações, via cobrança de tarifas. O governo também
regulava os processos de produção para garantir a qualidade dos produtos para que fossem mais
compectitivos no mercado internacional, afastando a possibilidade de dificultar as exportações com
bens de má qualidade.

Dado o contexto apresentado até então deve imaginar a importância para os mercantilistas do país
ter uma população numerosa. Nações com grande número de pessoas poderiam fornecer soldados
para as guerras caso necessário, além da disponibilização em abundância de mão de obra (o que
forçava os salários para baixo). O baixo salário permitia a redução dos preços dos bens para a
exportação, aumentando a entrada de ouro (preço mais baixo traz a possibilidade de uma maior
quantidade exportada).

Ideias de alguns precursores do Mercantilismo

As ideias que se seguem de forma foram resumidas no texto acima, o que se pretende é mostrar
como cada um contribuiu de forma individual.

Thomas Mun (1571-1641) publicou em 1621 um tratado intitulado A discourse of trade from
England unto the East Indies no qual defendia que a saída de moeda de uma nação, em função do
comércio, não importava, caso o total das exportações fosse maior do que das importações.

Poucos anos depois, em 1630, Mun escreveu um artigo afirmando que uma nação para se tornar
mais rica, precisaria aumentar a produção, e as mercadorias deveriam ser vendidas para outros
países (exportadas) assim haveria aumento do ouro, já que essas mercadorias seriam pagas com
metais preciosos.

Gerard Malynes (1586 – 1641) Em 1622, publicou o artigo Lex mercatoria: or, the anciente law-
Merchant, no qual defendeu o comércio como fonte de riqueza de uma nação e tutelou que o governo
deveria regular a produção dos bens para garantir exportações de qualidade, já que a exportação de
mercadorias de qualidade faria com que houvesse menos reclamações e aumentaria o preço.

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Outro conhecido mercantilista foi Charles Davenant (1656-1714), Este defendeu que uma nação
poderia alcançar os benefícios do produto exportado (ou seja, o recebimento de ouro/prata) se o
produto fosse fabricado com matéria-prima nacional. Caso contrário, se as matérias-primas
fossem importadas, o lucro (recebimento do ouro/prata) líquido seria menor.

Exemplo
Vamos supor que Moçambique exporte um certo produto. Se a matéria-prima para o fabrico do produto
fosse nacional (produzido no país), o lucro líquido da exportação seria total. De contrário se esse
produto fosse comprado fora do país, o lucro líquido seria menor. Para entender imagine que o produto
exportado por Moçambique, produzido localmente é vendido por 50mt, o lucro líquido seria cinquenta
meticais. Agora se a matéria-prima para fabricar tal produto custa 30mt e é importado, o lucro líquido
seria 20mt (50mt – 30mt).

Apesar de inicialmente os dogmas da Escola Mercantilista parecerem não ter sido duradouros, os
mercantilistas contribuíram com a formação do pensamento económico, principalmente ao
enfatizar a importância do comércio internacional, desenvolvendo o que hoje chamamos de
Balança de Pagamentos (registo de todas as transacções económicas comerciais, financeiras), de
um país com o resto do mundo.

Os Fisiocratas

Como reacção (oposição) ao mercantilismo surge na França em 1756, a Escola Fisiocrática, quando
François Quesnay (1694-1774) publicou o seu primeiro artigo sobre economia na Grande
Encyclopédie .

Os fisiocratas foi um grande grupo de economistas franceses do século XVIII que discordava com a
excessiva regulamentação do governo sobre a produção, contrariando as ideias mercantilistas, e
formulou pela primeira vez uma Teoria do Liberalismo económico.

Apesar do comércio e da concorrência estarem aumentando, a indústria francesa não se


desenvolvia no mesmo ritmo devido a imposição do governo na cobrança de impostos e tarifas
internas. Os mais penalizados eram os agricultores franceses, eram submetidos a impostos que
variavam de um ano para outro sobre a terra e os lucros da lavoura, enquanto a nobreza não
pagava.

Outro ponto no qual a agricultura foi prejudicada foi a proibição da venda de grão e farinha entre
províncias. Para ter uma ideia, mesmo que em uma área houvesse excedentes e na província ao lado
houvesse escassez, a venda não era viável em função das taxas cobradas.

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Como resposta a esse ambiente em que os produtores viviam, os fisiocratas introduziram a chamada
“ordem natural” ao pensamento económico, no qual as leis da natureza governam as sociedades
humanas, ou seja, todas as actividades deveriam ser harmónicas com as leis da natureza. Neste
sentido foi criada a expressão laissez-faire, laissez-passer, que significa: deixe as pessoas fazerem o
que quiserem (sem a interferência do governo). Em outras palavras, os fisiocratas defendiam a
mínima intervenção do governo na economia.

Os fisiocratas também davam ênfase à agricultura e diziam que a indústria, o comércio e as


profissões eram úteis apenas para reproduzir e distribuir as mercadorias. Para eles apenas a
agricultura era produtiva (toda a riqueza era proveniente da agricultura), já que produzia excedente
líquido (valor acima dos recursos utilizados na produção). Como a agricultura era a única fonte de
riquezas do país deveria haver um único imposto pago pelos proprietários de terra.

Porém a escola fisiocrata não durou muito e terminou em 1776, quando Anne Robert Jacques
Turgot (1727-1781), ministro das Finanças da França, implementou as ideias fisiocráticas na
economia francesa (defendendo uma reforma económica com menor participação do governo na
economia).

As suas ideias foram irremediavelmente combatidas pela nobreza e pela burguesia, que viam alguns
de seus privilégios serem retirados, já que Turgot pregava diminuição dos abusos dos membros do
governo, aumento de impostos aos proprietários de terras. Assim perdeu o alto posto no governo.

Apesar de não ter se desenvolvido na prática e ter apresentado algumas ideias equivocadas
(principalmente quanto à ideia de que os agricultores eram a figura mais importante e que a
indústria e o comércio não criavam excedentes), os fisiocratas contribuíram para o pensamento
económico ao estabelecer a economia como uma ciência social e ao criar o diagrama do fluxo
económico. Outras contribuições estão relacionadas à discussão sobre o papel do Estado na
economia e à análise da alteração e incidência de impostos que até hoje são uma parte fundamental
da economia.

Assim podemos concluir que os pensadores fisiocratas se opuseram às ideias mercantilistas, pois, não
concordavam com o excesso de intervenção governamental na economia. Hoje em dia temos assistido
localmente debates a volta deste assunto, em que partidos políticos e sociedade civil discordam sobre o
nível de interferência do Estado na economia.

Quais as vantagens e desvantagens da intervenção do governo na economia de um país? Reflita sobre o


assunto, pois será discutido até o final desta disciplina.

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