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FACULDADE CATÓLICA IMACULADA CONCEIÇÃO DO

RECIFE - CURSO DE DIREITO

RICARDO ANTONIO CORREIA DE ARAÚJO

Quinto constitucional e súmula vinculante: valem a pena?

Trabalho apresentado a
Faculdade Católica Imaculada
Conceição do Recife –
Pernambuco, da disciplina
Direito Constitucional II. Sob a
orientação do Excelentíssimo
Professor : SALOMÃO ABDO
AZIZ ISMAIL FILHO

MARÇO DE 2020

1
SUMÁRIO

TEMA ...................................................................................... 3
METODOLOGIA...................................................................... 4
OBJETIVOS ............................................................................ 5
PROBLEMA ............................................................................ 6
O quinto constitucional ......................................................... 6
Súmula vinculante ................................................................ 7
O QUINTO CONSTITUCIONAL.............................................. 9
SÚMULA VINCULANTE ....................................................... 14
REFERÊNCIAS..................................................................... 19

2
TEMA

Direito Constitucional II

Quinto constitucional e súmula vinculante: valem a pena?

3
METODOLOGIA

O meio a ser utilizado será a pesquisa bibliográfica e a pesquisa


explicativa, extraindo diversas opiniões através de artigos, e doutos
doutrinadores de renome nacional com relação ao tema, ao mesmo
tempo, buscar identificar as causas ensejadoras da problemática
apresentada racionalmente.

Terá como base de conhecimento caráter transdisciplinar, com


incidência de investigações contidas entre searas distintas do Direito
Constitucional. A pesquisa abrangerá direitos, doutrinas, julgados e
princípios fundamentais.

4
OBJETIVOS

Este trabalho tem como objetivo expressar de forma suscita uma


análise à respeito do questionamento provocado sobre o quinto
constitucional e a súmula vinculante, e se de fato estes institutos
valem a pena. Versando sobre a perspectiva dos referidos
instrumentos e suas intentas funções, revelando uma dualidade no
que concerne os pensamentos divergentes e os favoráveis aos
pertinentes instrumentos jurídico constitucionais supra citados.

O quinto constitucional e a sumula vinculante previstos nos artigos 94,


e 103-A da Constituição Federal. A finalidade do quinto constitucional
seria levar aos tribunais um sentido arejado aliado a uma nova visão,
não exclusivos da magistraturas, ou seja, dos juízes togados de
carreira, possibilitando o aperfeiçoamento das resoluções desses
mesmos Tribunais, favorecendo a sociedade através de uma
perspectiva mais pluralista.

No que concerne a súmula vinculante retratada nesse trabalho, é


pautar as afinidades e as distinções entre os sistemas jurídicos do civil
law e o cammon law, que no nossos ordenamento jurídico brasileiro,
subsiste uma tendência de aproximação cada vez mais crescente
desses dois sistemas.

Essa proximidade entre as tradições anglo-saxã do common law e a


romano-germânica do civil law, permitir a aplicação do stare decisis
utilizada no sistema de direito cammon law para se referir à doutrina
segundo a qual as decisões de um órgão judicial criam precedente
(regras para julgamento futuro) e vinculam futuras decisões, que no
nosso sistemas brasileiro adepto do civil law, onde, a eficácia do
precedente sempre foi eminentemente persuasiva (não vinculante),
Influenciando incontestavelmente o direito brasileiro.

A impressão é a de que o legislador, no ânsia de realizar a distribuição


eficiente da justiça em prazo razoável, tem optado cada vez mais pela
adoção de técnicas que estimulem o efeito vinculante dos
precedentes. Dessa maneira, evita-se um duplo inconveniente: o da
insegurança jurídica (potencialidade de decisões conflitantes) e o da
perda da força normativa da Constituição (conseqüência do abuso às

5
teses jurídicas consolidadas no STF). (GISELE LEITE, Civil law versus
common law, https://www.conteudojuridico.com.br/coluna/2562/civil-
law-versus-common-law#_ftn1 - acessado em 24/02/2020 as 22:00)

PROBLEMA

O quinto constitucional

O quinto constitucional, refere-se à um dispositivo previsto na


Constituição Federal de 1998 disposto no artigo 94, respectivamente
em seguida acrescentados através de emendas constitucionais nos
artigos 111-A e 115 da nossa Carta Magna.

Art. 94. Um quinto dos lugares dos Tribunais Regionais


Federais, dos Tribunais dos Estados, e do Distrito Federal
e Territórios será composto de membros, do Ministério
Público, com mais de dez anos de carreira, e de
advogados de notório saber jurídico e de reputação ilibada,
com mais de dez anos de efetiva atividade profissional,
indicados em lista sêxtupla pelos órgãos de representação
das respectivas classes.

Parágrafo único. Recebidas as indicações, o tribunal


formará lista tríplice, enviando-a ao Poder Executivo, que,
nos vinte dias subseqüentes, escolherá um de seus
integrantes para nomeação.

Essa regra, prevê para a composição dos Tribunais a indicação de


parte dos integrantes advindos da advocacia através do seu órgão
representativo de classe (Ordem dos Advogados do Brasil - OAB), -
ou membros do Ministério Público.

Por sua vez, tem sido alvo de inúmeras discussões, objeto de bastante
controvérsia entre a magistratura e os advogados em especial,
determinados setores da magistratura encontram-se preconizando
uma forte campanha contra o quinto constitucional. Em um manifesto

6
assinado pelo presidente da Associação Nacional dos Magistrados
Estaduais (Anamages), Magid Nauef Láua, que Declarou abertamente
que: "o quinto constitucional é preenchido pelo o advogado
fracassado", gerando atrito entre alguns magistrados e suscitando
um alarme para os operadores do direito como também, para os
componentes do parquet, sob o risco de verem o fim do referido
instituto.

Súmula vinculante

A Súmula Vinculante foi reconhecida fundamentalmente no nosso


ordenamento jurídico através da promulgação da Emenda
Constitucional nº 45/2004, que na ocasião acrescentou artigo 103-A
na Constituição Federal.

Art. 103-A. O Supremo Tribunal Federal poderá, de ofício


ou por provocação, mediante decisão de dois terços dos
seus membros, após reiteradas decisões sobre matéria
constitucional, aprovar súmula que, a partir de sua
publicação na imprensa oficial, terá efeito vinculante em
relação aos demais órgãos do Poder Judiciário e à
administração pública direta e indireta, nas esferas federal,
estadual e municipal, bem como proceder à sua revisão ou
cancelamento, na forma estabelecida em lei.

§ 1º A súmula terá por objetivo a validade, a interpretação


e a eficácia de normas determinadas, acerca das quais
haja controvérsia atual entre órgãos judiciários ou entre
esses e a administração pública que acarrete grave
insegurança jurídica e relevante multiplicação de processos
sobre questão idêntica.

§ 2º Sem prejuízo do que vier a ser estabelecido em lei, a


aprovação, revisão ou cancelamento de súmula poderá ser
provocada por aqueles que podem propor a ação direta de
inconstitucionalidade.

§ 3º Do ato administrativo ou decisão judicial que contrariar


a súmula aplicável ou que indevidamente a aplicar, caberá

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reclamação ao Supremo Tribunal Federal que, julgando-a
procedente, anulará o ato administrativo ou cassará a
decisão judicial reclamada, e determinará que outra seja
proferida com ou sem a aplicação da súmula, conforme o
caso.

A súmula vinculante adota o precedente como fonte do direito


baseado na tradição anglo-saxônica do common law que prioriza o
precedente judicial, dentro de uma sistemática positivada romano-
germânica do civil law que legitima a prevalência da lei como fonte do
direito.

Partindo do princípio, segundo o qual, as já existentes Súmulas,


relaciona-se a uma interpretação jurisprudencial sem efeito de vínculo,
que destina-se apenas auxiliar outros tribunais na avaliação e no
entendimento de casos semelhantes abordados nas Cortes brasileiras,
não mais atendiam ao propósito de uniformizar as decisões.

Desnecessariamente, temas da mesma natureza e relevância


continuavam a ser analisados e decididos, para, posteriormente,
serem mais uma vez trazidos a juízo e serem novamente examinados,
sendo julgados outra vez, ocorrendo em alguns casos à reformulação
da decisão original, ou contrária ao antigo entendimento firmado.

O professor Luiz Flávio Gomes (2007) diz que “Súmula é a síntese ou


enunciado de um entendimento jurisprudencial extraída (ou extraído)
de reiteradas decisões no mesmo sentido".

Diante disso, a razão alegada da Súmula vinculante é perfazer um


instrumento eficaz para findar com a grave insegurança jurídica, das
quais, interpretações diferentes sobre um mesmo tema podem causar,
como também uma expressiva multiplicação de processos sobre
questão idênticas.

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O QUINTO CONSTITUCIONAL

A Constituição da República seguindo orientações das constituições


anteriores, delimitou uma das estruturas básicas do Poder Judiciário,
um dispositivo constitucional que é objeto de bastante controvérsia
entre a magistratura e os advogados, o denominado “quinto
constitucional", que em sua regra, determina a forma de
preenchimento das vagas nos tribunais, tornando compulsória a
composição dos órgãos colegiados do Judiciário de um quinto dentre
membros dos magistrados, sejam oriundos da advocacia e do
Ministério Público, encontrando-se positivado na Constituição Federal
de 1988 no seu artigo 94.

As diretrizes do quinto constitucional normatizado atualmente no


nosso ordenamento jurídico, é a reiteração da regra do artigo 144 da
Constituição de 1967, com a emenda n° 1 de 1969, do art. 104, b da
Constituição de 1946 e do art. 104, `PAR` 6° da Carta de 1934. Ou
seja, a finalidade do constituinte de "injetar nos tribunais o fruto da
experiência haurida em situações outras que a do juiz" ( FERREIRA
FILHO, 1993, P. 534), já estava presente em ordens constitucionais
anteriores, e reflete um pensamento que vigora até hoje: de que a
pluralidade das experiências vividas pelos profissionais não oriundos
da magistratura de carreira é essencial ao revigoramento dos tribunais
e ao dinamismo do Direito.

Conseqüentemente, tal determinação permite que sejam designados


como magistrados profissionais aos Tribunais os que compõe os
quadros do Ministério Público e que já se dedicaram à Advocacia,
pública ou privada, ambos com mais dez anos de exercício efetivo da
profissão.

A participação de advogados e integrantes do Ministério Público na


composição dos tribunais é de fundamental importância para a
manutenção de um equilíbrio normativo, na mesma direção do sistema
de checks and balances, corolário do Princípio fundamental para o
funcionamento das instituições e base do Estado Democrático de
Direito. A separação entre os Poderes prevista na Constituição de
1988 evita que os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário cometam
abusos e tentem se sobrepor uns aos outros, nesse mesmo sentido, o

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Sistema de Freios e Contrapesos, consagrado por Montesquieu,
destina-se a manter um equilíbrio entre os Poderes da República,
dessa forma, o quinto constitucional tem como finalidade a
manutenção da proporcionalidade internamente dentro do Poder
Judiciário.

De acordo com o entendimento de Rodrigo Prates (instituto do quinto


constitucional. Revista Jus Navigandi), o quinto gera novas
jurisprudências em decorrência da diversificação das composições
das cortes, in litteris:

"O quinto constitucional é, sem dúvida, um importante mecanismo de


oxigenação dos tribunais, posto que é por meio dele que se incluem
dentre os julgadores, sejam ministros ou desembargadores, juristas
oriundos da advocacia e do Ministério Público. "

Ademais, o quinto constitucional vêm sendo alvo de muitas críticas


por alguns doutrinadores e magistrados, os quais contrapõem que
sendo a derradeira decisão do Chefe do Executivo para o referido
ingresso, fica prejudicada a imparcialidade, uma vez que o ato torna-
se político na medida em que ele escolhe o candidato que melhor lhe
agrade. Segundo essa visão, integrantes do Ministério Público ou
advogados que tenham padrinhos políticos são privilegiados no
processo de escolha para entrar nos tribunais, pouco importando se
são profissionais competentes ou não.

Esse discurso revela, profundamente um preconceito latente contra a


advocacia, ao considerar que o juiz de carreira (concursado), ser o
único capaz de desempenhar a jurisdição. Primordialmente, convém
enaltecer que os membros do Ministério Público são todos
concursados e muitos advogados também, tendo em vista que boa
parte deles também segue carreiras públicas, como, por exemplo, os
Procuradores Federais, de Estados e Municípios, Procuradores
Estatais, entre outros.

No entanto, é óbvio que existem incontáveis advogados que optam


exclusivamente pela advocacia privada e são mais que preparados
para assumir um cargo em qualquer tribunal. Grande parte dos
maiores juristas brasileiros estão dedicados exclusivamente à
advocacia privada.

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A legitima finalidade, das campanha pelo fim do quinto constitucional
revela muito mais um interesse classista (no sentido de se reservar
mais vagas em tribunais para os juízes de primeiro grau) do que uma
preocupação "republicana".

No caso do STJ, no ano de 2009 o Superior Tribunal de Justiça, após


realizar três votações consecutivas onde não obteve maioria absoluta
na seleção de nenhum dos membros concorrentes, desta forma, não
escolheu nenhum dos nomes enviados pela OAB por meio da lista
sêxtupla para a composição daquela corte, rejeitando portanto, os
nomes em sua totalidade.

Devido a recusa, o Conselho Federal da OAB, impetrou mandado de


segurança no próprio STJ, tendo o pedido denegado. Posteriormente
impetrado um recurso agora ao STF, agora como relator o então
Ministro Eros Grau, que, por maioria, julgou o recurso improvido,
conforme a ementa:

RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA.


CONSTITUCIONAL. ELABORAÇÃO DE LISTA TRÍPLICE PARA
PREENCHIMENTO DE VAGA DESTINADA AOS ADVOGADOS
NO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA [ART. 104, II C/C ART.
94 DA CB/88]. DEVER-PODER DO TRIBUNAL SUPERIOR.
REJEIÇÃO DE LISTA SÊXTUPLA ENCAMINHADA PELO
CONSELHO FEDERAL DA ORDEM DOS ADVOGADOS DO
BRASIL. POSSIBILIDADE. HIPÓTESE DIVERSA DA QUE
ALUDE O INCISO X DO ARTIGO 93 DA CONSTITUIÇÃO.
RECURSO IMPROVIDO.

1. A Constituição determina que um terço dos Ministros do


Superior Tribunal de Justiça seja nomeado dentre "advogados e
membros do Ministério Público Federal, Estadual, do Distrito
Federal e Territórios, alternadamente, indicados na forma do art.
94".

2. A elaboração da lista tríplice pelo STJ compreende a


ponderação de dois requisitos a serem preenchidos pelos
advogados incluíveis na terça parte de que se cuida [notório
saber jurídico e reputação ilibada] e a verificação de um fato

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[mais de dez anos de efetiva atividade profissional].
Concomitantemente, a escolha de três nomes tirados da lista
sêxtupla indicada pela Ordem dos Advogados Brasileiros.

3. O Superior Tribunal de Justiça está vinculado pelo dever-


poder de escolher três advogados cujos nomes comporão a lista
tríplice a ser enviada ao Poder Executivo. Não se trata de
simples poder, mas de função, isto é, dever-poder. Detém o
poder de proceder a essa escolha apenas na medida em que o
exerça a fim de cumprir o dever de a proceder. Pode, então,
fazer o quanto deva fazer. Nada mais.

4. Essa escolha não consubstancia mera decisão administrativa,


daquelas a que respeita o artigo 93, X, da Constituição, devendo
ser apurada de modo a prestigiar-se o juízo dos membros do
tribunal quanto aos requisitos acima indicados, no cumprimento
do dever-poder que os vincula, atendida inclusive a regra da
maioria absoluta.

5. Nenhum dos indicados obteve a maioria absoluta de votos,


consubstanciando-se a recusa, pelo Superior Tribunal de Justiça,
da lista encaminhada pelo Conselho Federal da Ordem dos
Advogados do Brasil.
Recurso ordinário improvido.

Salientando que o próprio Supremo Tribunal Federal, ao julgar a ADIN


4.078/DF, entendeu por maioria e contrário ao voto do relator Ministro
Luiz Fux, ser constitucional que integrantes de Tribunal Regional
Federal ou de Tribunal de Justiça que ocupem cadeira reservada ao
quinto constitucional possam concorrer a vagas no STJ reservadas à
magistratura, conforme ementa ora transcrita:

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. ART. 1º, INC.


I, DA LEI N. 7.746/1989. ESCOLHA DE MAGISTRADO PARA
O SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA: ART. 104,
PARÁGRAFO ÚNICO, INC. I, DA CONSTITUIÇÃO DA
REPÚBLICA. MAGISTRADOS DOS TRIBUNAIS REGIONAIS
FEDERAIS E TRIBUNAIS DE JUSTIÇA: IMPOSSIBILIDADE

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DE EXCLUSÃO DOS QUE INGRESSEM PELO QUINTO
CONSTITUCIONAL. AÇÃO DIRETA IMPROCEDENTE.

1. O inc. I do art. 1º da Lei n. 7.746/1989 repete o inc. I do


parágrafo único do art. 104 da Constituição da República.
Impossibilidade de se declarar a inconstitucionalidade da
norma sem correspondente declaração de
inconstitucionalidade do dispositivo constitucional.

2. A Constituição da República conferiu ao Superior Tribunal


de Justiça discricionariedade para, dentre os indicados nas
listas, escolher magistrados dos Tribunais Regionais
Federais e dos Tribunais de Justiça independente da
categoria pela qual neles tenha ingressado.

3. A vedação aos magistrados egressos da Advocacia ou do


Ministério Público de se candidatarem às vagas no Superior
Tribunal de Justiça configura tratamento desigual de
pessoas em identidade de situações e criaria
desembargadores e juízes de duas categorias.

4. Ação direta de inconstitucionalidade julgada


improcedente

Controvérsias a parte, concluirmos que a existência do quinto


constitucional é essencial, não apenas para a oxigenação do Poder
Judiciário, através da coexistência, na mesma função, de profissionais
que atuaram em diversas carreiras jurídicas, como também traz
significativa contribuição para a transparência desse Poder, garantindo
que as decisões tomadas serão justas, e dialéticas, posto que levarão
em consideração também as pontuações trazidas por aqueles que já
atuaram em atividades diversas da função julgadora.

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SÚMULA VINCULANTE

O entendimento do instituto da Súmula Vinculante permeia


necessariamente através do exame de dois importantes sistemas
jurídicos: o de origem romano-germânica (o civil law) e o de origem
anglo-saxônica (o cammon law). A tradição romano-germânica,
exclusiva da Europa Continental, foi difundida no Brasil através da
herança jurídica lusitana. Nessa tradição, as decisões judiciais devem
ser subordinadas à lei, a qual adquire precedência como fonte do
direito.

No Brasil, país que segue a tradição romano-germânica do civil law,


predominantemente a fonte formal do Direito é a lei, que se expressa
por meio de normas. As normas se manifestam por meio de regras ou
princípios. As regras disciplinam uma determinada situação; quando
ocorre essa situação, a norma tem incidência; quando não ocorre, não
tem incidência. Para as regras vale a lógica do tudo ou nada
(Dworkin).

Até o advento da súmula vinculante, a jurisprudência, que se


sedimenta pela uniformização de decisões judiciais sobre determinado
caso não se constituía como fonte formal, pois a sua função não era a
de estabelecer normas jurídicas, apenas a de interpretar a lei frente a
casos concretos.

Já na tradição anglo-saxônica do cammon law é aquela cuja


característica primordial é a força vinculante dos precedentes judiciais.
Suas origens podem ser encontradas no ano de 1292, quando um
escrivão da corte inglesa começou a arquivar as decisões dos
tribunais, de maneira que a partir do século XIV, essas decisões
estavam servindo como precedentes para guiar juízes em casos
similares. nesse caso, em contraste com o sistema romano-
germânico, que se baseia na lei, o sistema common law
fundamentam-se nos precedentes judiciais.

Os precedentes do cammon law foi introduzido no ordenamento


jurídico brasileiro por meio da súmula vinculante que foi originada após
a inserção do artigo 103-A na Constituição Federal de 1988, criada
com o intuito de diminuir o excesso de processos no Poder Judiciário.

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trata-se de um mecanismo de vinculação dos precedentes judiciais,
que assegura ao Supremo tribunal Federal a adoção de súmulas com
efeito vinculativo, que tem nas decisões judiciais sua fonte primária do
Direito.

O common law incorpora a influência da teoria do stare decisis no


ordenamento jurídico brasileiro, tendo como fundamento principal a
teoria advinda da expressão latina: stare decisis et non quieta movere,
traduzindo, mantenha-se a decisão e não se moleste o que foi
decidido, primórdio consistente na vinculação para futuros casos da
decisão tomada em caso anterior que guarde similitude. (Cf. TUCCI,
José Rogério Cruz e. Precedente judicial como fonte do direito. São Paulo: RT,
2004. p.160)

As stare decisis foi incorporado ao direito norte-americano pelo direito


inglês como parte da tradição common law. As stare decisis forçam os
tribunais inferiores a acatar as decisões das cortes superiores,
vinculação esta que se dá pela própria fundamentação do precedente,
tendo ainda vigência indeterminada. Entretanto na stare decisis são as
próprias decisões que possuem força vinculante, inexistindo a figura
da súmula. No stare decisis, o magistrado cria o direito, trata-se de
uma função típica do direito saxônico, que é comum na utilização do
chamado ativismo judicial pelo o STF.

A Súmula Vinculante é vista no nosso ordenamento como uma norma


jurídica, asseguram-se ainda que as súmulas vinculantes se
aproximam, em termos hierárquicos, das emendas constitucionais.
Constitui que a sua modificação ou cancelamento somente se dá por
revisão do próprio Supremo Tribunal Federal ou por alteração do texto
constitucional mediante emendas constitucionais.

Em outras palavras significa que os Ministros do Supremo Tribunal


Federal passam a usufruir do poder de decretar um desfecho nas
controvérsias judiciais atuais e nas discordâncias estabelecidas entre
órgãos do Poder Judiciário e da Administração Pública, tamanhas
divergências capazes de causar grave insegurança jurídica e uma
expressiva multiplicação de ações com o mesmo objeto.

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Parte da doutrina argumenta que a súmula vinculante, promove o
cerceamento do princípio da livre convicção do magistrado. O artigo 7º
da Lei 11.417/2006:

Art. 7o Da decisão judicial ou do ato administrativo que


contrariar enunciado de súmula vinculante, negar-lhe vigência ou
aplicá-lo indevidamente caberá reclamação ao Supremo Tribunal
Federal, sem prejuízo dos recursos ou outros meios admissíveis
de impugnação.

§ 1o Contra omissão ou ato da administração pública, o uso da


reclamação só será admitido após esgotamento das vias
administrativas.

§ 2o Ao julgar procedente a reclamação, o Supremo Tribunal


Federal anulará o ato administrativo ou cassará a decisão judicial
impugnada, determinando que outra seja proferida com ou sem
aplicação da súmula, conforme o caso.

O inciso IX do artigo 93 da Constituição Federal narra em sua redação


um dos princípios que rege o Direito Brasileiro que é a motivação da
sentença:

Art. 93

(...)

IX todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão


públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de
nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados
atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a
estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade
do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à
informação.

Diante do fato, o impedimento do exercício da liberdade de decidir


caso o magistrado venha a entender, motivadamente, que a súmula
não deverá ser aplicada, em um caso concreto, perante o
entendimento do STF, suspenderá os efeitos da decisão judicial

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impugnada, determinando que outra seja proferida com ou sem
aplicação da súmula.

Para Carvalho (2011, p. 1168), ao explicar o posicionamento crítico de


Silva (1998): "Em estudo crítico [...] entende que a súmula de efeito
vinculante agride o artigo 5º, incisos, II, XXXV, XXXVI e LIII, e artigo
60, § 4º, inciso, IV, da Constituição [...]". Considerados nestes termos:

Art. 5o CF (...)

II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma


coisa senão em virtude de lei;

XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário


lesão ou ameaça a direito;

XXXVI - a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico


perfeito e a coisa julgada;

LIII - ninguém será processado nem sentenciado senão pela


autoridade competente;

Reale (2002) define que o Direito é um fato heterônomo, ou seja, os


aspectos da teoria se interagem mediante a interpretação. Então,
conforme preceitua a Constituição Federal, o princípio do devido
processo legal se insere como núcleo fundante em que a jurisdição é
prestada. Partindo desse fato, a súmula vinculante, como forma
reduzida de um texto, enfraquece a interpretação utilizada no caso
concreto. Isto porque, o juiz deixa de avaliar as circunstâncias
temporais e até mesmo doutrinárias no ato decisório.

Diante dos elementos elencados, a súmula vinculante, não se equivale


a jurisprudência e ao precedente, uma vez que, a decisão judicial
tomada em um caso concreto (precedente), garante ao magistrado, a
oportunidade de não adotá-lo, quando, no seu entendimento
considerar inadmissível a sua aplicação diante do conflito de
pretensões que esta sendo discutido entre as partes na ação.

Prontamente, compreende-se que a súmula vinculante é muito mais


desfavorável do que o precedente, visto que, na súmula vinculante, o

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juiz deverá acatar o enunciado do STF, pois esta, não autoriza em
nenhuma hipótese legal a possibilidade de não aplicá-la ao caso
concreto.

Concluindo, o Direito não deve ser interpretado como mera sequência


lógica de números matemáticos, como diuturnamente ocorre com a
súmula vinculante, cujo instituto não abrange os valores, mas apenas
os fatos e as normas. Por tudo, vale relembrar que o significado do
Direito insere-se alternativamente, como fato, valor e norma, conforme
preceituava Reale (2002), isto porque, em cada decisão judicial, os
valores não são os mesmos, pois, os sujeitos são diferentes.

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REFERÊNCIAS

ALVES NUNES JÚNIOR, Flavio Martins, Curso de Direito Constitucional, 2018,


Editora Revista dos Tribunais, São Paulo-SP.

BARROSO, Luis Roberto, Curso de Direito Constitucional Conteporâneo, Editora


Saraiva - 8. ed. - São Paulo, 2019.

FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Comentários à Constituição Brasileira. São


Paulo: Saraiva, 1993.

PRATES, Rodrigo. O instituto do quinto constitucional. Revista Jus Navigandi,


ISSN 1518-4862, Teresina, ano 19, n. 3998, 12 jun. 2014. Disponível em:
<https://jus.com.br/artigos/28226>. Acesso em: 25/03/2020 as 09:00

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso Ordinário em Mandado de


Segurança n° 27.920/DF. Recorrente: Conselho Federal da Ordem dos
Advogados do Brasil. Recorrido: Superior Tribunal de Justiça. Relator: Ministro
Eros Grau. 03 de dezembro de 2012. Disponível em:
<http://www.stf.jus.br/portal/processo/verProcessoAndamento.asp?incidente=2666
472>.

Diniz, Carlos Roberto Faleiros, O papel do quinto constitucional na renovação do


Judiciário, <https://www.anamatra.org.br/artigos/850-o-papel-do-quinto-
constitucional-na-renovac-o-do-judici-rio-09310025208918401> acessado em
24/02/2020 as 18:00.

Range, Helano Márcio Vieira , A SÚMULA VINCULANTE COMO NORMA


JURÍDICA E A SUA (IN) VIABILIDADE NO ORDENAMENTO JURÍDICO
BRASILEIRO, Revista do Programa de Pós-Graduação em Direito da UFC.
CARVALHO, Kildare Gonçalves. Direito Constitucional Teoria do Estado e da
Constituição Direito Constitucional Positivo. 17º ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2011.

REALE, Miguel. Lições Preliminares de Direito. 27º ed. São Paulo: Saraiva, 2002.

ROCHA, José de Albuquerque. Súmula Vinculante e Democracia. São Paulo:


Atlas, 2009.

19

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