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Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto de Biologia, Departamento de Ecologia, Laboratório
de Limnologia, Programa de Pós-graduação em Educação em Ciências e Saúde
laisa@biologia.ufrj.br
Resumo
Abstract
This study intends to contribute to the theoretical and methodological basis of research
in Science Education (SE) using the approach of Critical Discourse Analysis (CDA).
We consider CDA, developed by Norman Fairclough, a critical approach to address
demands of research in SE. This theory discuss linguistic issues involving social
aspects, as it constitutes an important theoretical and methodological framework to the
analysis of texts. For CDA, social practices are discursively shaped, the intrinsic
properties of discourse, which are linguistically analyzable, constitute a key element of
their interpretation. CDA is related to other theories and social methods in a
transdisciplinary way. The dialogue between two disciplines and frameworks may lead
to a development of both by a process of each internally appropriating the logic of the
other as a resource for its own development.
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Introdução
Este estudo é parte de uma tese de doutorado desenvolvida no Programa de Pós-
graduação em Educação em Ciências, que busca discutir questões da formação inicial
docente nas ciências por meio dos estudos da linguagem. Interessa-nos entender os
movimentos de disputas discursivas na construção de hegemonias do discurso quando
se discute a inserção curricular da educação ambiental na formação do licenciado em
ciências biológicas. Deste modo, no presente estudo, buscamos fortalecer a discussão
teórica do quadro teórico-metodológico da Análise Crítica do Discurso (ACD) de
modo a pensar em contribuições paras as pesquisas em educação em ciências.
Bakhtin (1992), busca na linguagem a chave da compreensão para as principais
questões epistemológicas que perpassam as ciências humanas e sociais. A linguagem
é um elemento básico, fundamental na vida social, é parte da sociedade. Segundo
Resende e Ramalho (2011), a perspectiva funcionalista da linguagem permite entender
de que modo os sistemas linguísticos funcionam na representação de eventos, na
construção de relações sociais, na estruturação, reafirmação e contestação de
hegemonia no discurso.
Como processo social, a linguagem envolve o discurso, sendo este uma forma de
ação e intervenção no mundo, pois é através dele que os indivíduos constroem sua
realidade social, agem no mundo em condições histórico-sociais e nas relações de
poder nas quais operam (FAIRCLOUGH, 2001). Segundo o autor, o Discurso não é
apenas prática de representação do mundo, mas também prática de significação no
mundo, construindo o mundo em significado. Desta forma, afirma o autor, o Discurso
contribui para a construção de identidades sociais, relações sociais entre as pessoas e
sistemas de conhecimento e crenças.
Através de revisão de literatura relacionada aos estudos do discurso de Norman
Fairclough, entendemos que por meio da ACD, é possível oferecer novas formas de
entender a realidade, buscando-se desvelar ideologias e valores vigentes nos discursos
que circulam na sociedade. É fato que todos os indivíduos vivem imersos em sistemas
socioculturais estruturados a partir de códigos simbólicos e de normas, que de alguma
forma regulam as práticas sociais. Tais práticas sociais são conformadas e conformam
Discursos que caracterizam modos de agir, representar e identificar.
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Cabe aqui ressaltar que, na década de 60, alguns movimentos consolidavam estudos sobre a importância
das mudanças sociais como perspectiva de análise. Na Grã-Bretanha, por exemplo, um grupo de
linguistas desenvolveu uma “linguística crítica”, articulando as teorias e os métodos de análise textual da
“linguística sistêmica”, de Halliday, com teorias sobre ideologias. Já na França, Pêcheux e Jean Dubois
desenvolveram uma abordagem da análise de discurso, baseados no trabalho do linguista Zellig Harris e a
reelaboração da teoria marxista sobre a ideologia, feita por Althusser, que ficou conhecida como Análise
do Discurso Francesa.
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No presente trabalho apenas consideramos alguns aspectos gerais para a reconstrução da configuração
histórica da ACD. Para estudos mais detalhados sobre o surgimento da ACD consultar: Gouveia (2001);
Nascimento (2010) e Melo (2011).
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Por isso, é importante mencionar as publicações: “Language and power”, de Norman Fairclough, em
1989; “Language, power and ideology”, de Ruth Wodak, em 1989; e a obra de Teun van Dijk sobre
racismo, “Prejudice in discourse”, em 1984.
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de Foucault enquanto que Ruth Wodak e Teun Van Dijk introduzem um nível sócio
cognitivo nas análises. Contudo, Van Dijk (2002, p. 20) expõe, diferentemente de
Meyer (2003) como entende algumas das diferenças, situando os autores:
Norman Fairclough em uma perspectiva que tem suas raízes no
neomarxismo, se interessa mais pelas estruturas globais de poder, como a
globalização. Ruth Wodak agrega uma dimensão histórica, por exemplo, em
seus estudos sobre anti-semitismo, instituições e gênero. Luisa Martín Rojo
em Madrid trabalha sobre racismo, gênero e outros temas a partir de uma
perspectiva foucaultiana.
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Considerações finais
Consideramos a ACD o “fio condutor” que pode dá suporte teórico-
metodológico para o alcance dos objetivos de pesquisas, especialmente as de cunho
social. De acordo com Magalhães (2005), este referencial estuda textos e eventos em
diversas práticas sociais, propondo uma teoria e um método para descrever, interpretar e
explicar a linguagem no contexto sociohistórico. Esta autora afirma que a ACD
desenvolveu o estudo da linguagem como prática social, com vistas à investigação e
transformações na vida social contemporânea.
A ACD tem uma relação dialógica com outras teorias e métodos sociais,
engajando-se não apenas de maneira interdisciplinar, mas transdisciplinar, entendendo
que o diálogo entre disciplinas e arcabouços pode levar ao desenvolvimento das
mesmas por meio de um processo de cada uma internamente apropriarem-se da lógica
da outra como recurso para seu próprio desenvolvimento. Concluímos que, pelo fato da
ferramenta teórico-metodológica aqui defendida, acreditamos que a contribuição da
ACD para a pesquisa em educação de ciências situa-se no sentido de gerar caminhos
para entender processos de mudança social em diferentes escalas.
Referências bibliográficas
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HALLIDAY, M.A.K. Language and Social Semiotics. London: Edward Arnold, 1978.
MAGALHÃES, I. Introdução: A Análise de Discurso Crítica. D.E.L.T.A., v.21:
Especial, p. 1-9, 2005.
MELO, I.F. Análise Crítica do Discurso como método em pesquisa social científica. In:
Revista Linha d’Água, n. 25, v.2, p. 307-329, 2012.
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