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CRÍTICA AO ARTIGO INSOLVÊNCIA EM FOCO

FELIPE CARNEIRO FERNANDES DOS SANTOS

Conforme noticiado recentemente, verificou-se a realização da primeira reunião


do grupo de trabalho do Conselho Nacional de Justiça -CNJ encarregado de promover a
modernização e trazer mais eficiência ao judiciário em matéria de recuperação judicial e
falências.

Nesta linha, conforme apontado pelos autores do artigo em questão, alguns pontos
foram destacados como principais:

(i) perícia prevista em processos de recuperação judicial para evitar a utilização


fraudulenta ou de má-fé desse tipo de processo em prejuízo dos credores e da
sociedade em geral; (ii) da gestão democrática de processos, com utilização de
mediação entre credores e devedores; (iii) da uniformização do procedimento utilizado
pelos juízes para fazer o controle de legalidade do plano de recuperação judicial; (iv)
da implementação pelos Tribunais de varas especializadas com competência regional,
a fim de assegurar eficiência e melhores resultados nesses processos; (v) do fomento à
capacitação de magistrados e servidores, e por fim; (vi) à colaboração internacional e
à troca de informações entre juízos de insolvência, sobretudo em casos de repercussão
internacional.

De início, merece destaque o fator capacitação dos magistrados e servidores como


um dos aspectos principais voltados à qualidade da prestação jurisdicional indispensável para
que se verifique o aprimoramento das instituições atuais. Apesar dos mecanismos instituídos
pela Lei nº
11.101 de 2005 é evidente que a prática jurisdicional atual não tem garantido
soluções adequadas, seja em decorrência da falta de celeridade ou erros de natureza
procedimental ou mesmo material, o que é comprovado por casos de grandes empresários que
transferiram suas sedes para o Estado de São Paulo, ou por dados estatísticos que demonstram a
quantidade de decisões de primeiro grau que sofrem reformas em segunda instância. Tal cenário
deve ser observado como ponto de partida para que se promovam as melhorias pretendidas pelo
CNJ em nível nacional, sendo interessante a solução apontada pelos autores do artigo em pauta
no que concerne a criação de varas regionais com força de trabalho adequada e capacitação dos
magistrados.

Quanto à perícia prévia apontada, enxergamos com receio tal prática, porquanto é
evidente que os trabalhos periciais de avaliação de viabilidade da empresa para identificação da
utilização fraudulenta ou da má-fé são complexos e necessitam de tempo e recursos financeiros,
estes que no momento de crise certamente estarão limitados. Neste ponto a legislação atual
definiu o crime falimentar fixando pena para o devedor que incorrer em tal prática, fato este que,
por si só, deveria ser suficiente para inibição da utilização do instituto como meio de obtenção de
vantagem ilícita, além disso, a legislação entrega aos credores à prerrogativa de fiscalizar as
atividades do devedor através da figura do administrador judicial, o qual estes têm acesso, bem
como outorga à estes o direito de aprovar o plano de recuperação judicial. Veja-se que a
realização da perícia prévia implicaria em gasto de recursos dos credores, portanto melhor
prática seria deixar esta questão em aberto para que estes pudessem optar livremente pela
contratação de trabalhos especializados para auxiliar na tomada de decisão quando da votação
pela aprovação do plano, caso entendessem necessário, afastando a obrigatoriedade da realização
das análises, ademais, existem casos em que a inviabilidade do plano de recuperação judicial
salta aos olhos sem a necessidade de opiniões de especialistas.

No ponto em que se busca a implantação de mediação entre credores e devedores,


esta parece uma medida interessante para modernização dos processos de insolvência, desde que
implementadas com a devida cautela para que não se tornem um empecilho que apenas
prejudicará o andamento dos procedimentos em questão com pouco resultado prático.

Sobre a universalização do procedimento de controle de legalidade do plano de


recuperação judicial, é importante destacar que a Lei nº 11.101 facultou aos credores o controle
de legalidade, conforme se verifica do disposto no artigo 55, ressalvadas as questões
especificadas no artigo 54 do mencionado diploma que estão relacionadas aos prazos para
pagamento. Nesta linha, o procedimento atual é claro o suficiente para garantir que os juízes
deverão verificar a observância do artigo 54 na oportunidade em que receberem o plano e
determinarem a publicação do edital contendo o respectivo aviso do plano, havendo ilegalidade
que ultrapasse as barreiras do referido dispositivo, não nos parece razoável que o magistrado
esteja vinculado à realização deste controle neste momento. Recebido o plano e inaugurado o
prazo de 30 dias fixado pelo artigo 55 da Lei nº 11.101, será de responsabilidade dos credores a
realização do controle de legalidade, como medida de trazer celeridade ao procedimento,
distribuindo a atividade de análise jurídica entre os principais interessados que serão os credores
dos créditos que serão renegociados.

Por fim, verificamos uma necessidade real e urgente de modernização do


judiciário para solução das questões atinentes à insolvência, onde se verifica a formação do
concurso creditório como medida de garantir à estabilidade nas relações econômicas, proteção ao
sistema financeiro, segurança jurídica e, sobretudo, como medida de justiça, sendo louvável a
iniciativa do CNJ, em que pesem as críticas lançadas.

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