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AEARS - Biblioteca

|In Memoriam| Eduardo Lourenço |(1923-2020)

“Um pensador não é um homem que pensa, mas sim um homem que faz pensar.
Pensar todos os homens pensam, mas nem todos fazem pensar. Um criador não é um
homem que sonha, mas um homem que faz sonhar. Ser grande pensador ou grande
criador é fazer pensar e sonhar uma inumerável sucessão de homens e de tempos. Esta
condição original dos pensadores e dos poetas explica o mistério aparente do triunfo
histórico das obras obscuras, das sinfonias incompletas, das estátuas partidas. Toda a
grande obra é obscura e incompleta e essa obscuridade e imperfeição são a sombra
necessária à visão do sol contínuo que lhes constituiu o cerne. A mesma condição nos
explica também que não é obscuro e incompleto quem quiser, mas somente aqueles a
quem os deuses concederam um excesso de luz. Os que visaram premeditadamente a
obscuridade alcançaram tudo de uma só vez. O pensamento é o lugar geométrico de
todos os pensamentos, é a unidade sem limites. Cada século se apropria de um
pensador e julga compreendê-lo melhor do que ele se compreendeu, como diz Kant a
respeito de Platão na Crítica da Razão Pura. O paradoxo do espectador ou a
ambiguidade radical da arte."
"A arte ou as estátuas partidas", in Da Pintura / Eduardo Lourenço. Lisboa: Gradiva,
2017.

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