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Diversidade e Segregação

Mirtzi Lima Ribeiro


Publicado em https://pt.scribd.com

No conceito de diversidade, está incluído tudo aquilo que é diferente e tem características de
multiplicidade. Em termos didáticos, para estudo antropológico e também sociológico, há o âmbito
cultural, étnico, biológico, social, linguístico, de espectros políticos, etc.
O campo da segregação, atinge em cheio a diversidade, porque tende a excluir e expurgar tudo o que
é diferente, estabelecendo um padrão elitista como base para separar aqueles que destoam dessa
referência.
Foi assim com o nazismo, que moldou seu estereótipo desejado na então “Raça Ariana” (branco
caucasiano, conforme época do Séc. XIX/XX), e que esse grupo entendia como a raça mais “pura”
dos seres humanos. Com esse critério, eles excluíram judeus (protagonizando o embrião da extinção
de sua população), índios, mestiços, pardos, negros, etc. Para estreitar ainda mais o conceito,
trouxeram a EUGENIA para fazer a “seleção dos seres humanos perfeitos”, sem doenças e aptos à
perfeição.

A expressão “Eugenia” foi estabelecida por volta de 1883 por Francis Galton (1822-1911), e,
significava "bem nascido". Para esse antropólogo, matemático e estatístico inglês, esse seria o “estudo
dos agentes sob o controle social que podem melhorar ou empobrecer as qualidades raciais das futuras
gerações seja física ou mentalmente". A eugenia defende que raças superiores e de melhores estirpes
conseguem prevalecer de maneira mais adequada no ambiente (Nota 01).

Os pressupostos utilizados para compor o conceito de EUGENIA, se baseiam na Teoria da Seleção


Natural e, em especial, no livro “A Descendência do Homem”, de Charles Darwin (1809/1882). Na
NT (Nota de Texto), no Capítulo 07, intitulado “A Descendência do Homem – Charles Darwin
(1871)”, do livro “10 Livros que Estragaram o Mundo e outros Cinco que não Ajudam em Nada”, o
autor Benjamin Wiker, explica: “A eugenia é justamente isso: a crença e a prática do controle
populacional através do estímulo da reprodução de certos membros da espécie, ‘mais qualificados’
geneticamente, e da redução (ou extinção) das possibilidades de reprodução de outros, ‘menos
qualificados’, no intuito de, com isso, selecionar apenas os melhores genes da raça e, portanto,
‘melhorar a qualidade’ da população. O termo entra em uso com o advento do Séc. XX e as pesquisas
do antropólogo britânico Sir Francis Galton (1811/1911)”.

Logo, a “eugenia” defende que “raças superiores” e de estirpes que são consideradas “melhores”
devem prevalecer de modo mais adequado ao ambiente.

Após duras e pesadas experiências no mundo, exatamente quando a humanidade começa a


compreender que se DEVE INCLUIR DESIGUAIS, vem uma nova onda que tenta ressuscitar os
padrões hitlerianos de eugenia, pregando a segregação humana.

Há um exemplo no Brasil (ano de 2020), em tirar do convívio escolar os alunos considerados especiais
(por serem portadoras de limitações físicas ou de cognição), marginalizando-os como era no passado,
com escolas específicas para eles, longe daqueles alunos que se considera em um ‘padrão normal’.
Essa é, de fato, uma abordagem de retrocesso porque vai na contração do que se entende por
INCLUSÃO SÓCIO-CULTURAL. A propositura do atual governo defende que a medida visa
melhorar o aprendizado daqueles mais ‘aptos’. Portanto, se constitui um INVOLUÇÃO HUMANA,
CONCEITUAL e CONCIENCIAL (Nota 02).

Outro ponto a ser considerado é que no Brasil, há uma desproporção entra a mortalidade por
assassinato de pessoas da cor parda e negra em detrimento das pessoas de pele clara (Nota 03).
Durante 2018/2020 o que se observa no nosso país é um recuo considerável nas políticas de
INCLUSÃO, valorizando-se, entretanto, o incentivo à segregação e ao preconceito em relação à
diversidade. Governo Federal e seus apoiadores, têm demonstrado em ações e reações, que seguem
essa tendência à exclusão no contexto da diversidade.

Sabe-se que a sociedade com menos desigualdade social e com mais valorização da diversidade
(religiosa, étnica, cultural e linguística), tende a ser mais ampla e ajuda a expandir os níveis de
compreensão, exatamente porque abre um leque de possibilidades e de horizontes. A inclusão oferece
a chance de enxergar de modo mais abrangente, possibilitando a expansão da consciência e das
experiências no universo ao seu redor. Ao AMPLIARMOS o nosso CONE DE PERCEPÇÃO, por
abraçar o que é diverso, temos a oportunidade de estabelecer perspectivas de COOPERAÇÃO, de
INTERCÂMBIO, de PARCERIAS, de APROVEITAR pensamentos diferentes visando ao
crescimento conjunto.

Sempre que se agrega valores de outros povos e culturas, há um ENGRANDECIMENTO HUMANO


e consequentemente, um avanço no entendimento e no incremento de novas tecnologias e
conhecimento.

A diversidade é saudável para atividades laborais, para os estudos acadêmicos e para a sociedade em
geral, porque amplia os horizontes e as perspectivas em geral.

Todo círculo fechado tente à entropia negativa, ou seja, ao desgaste e consequente desestruturação,
degradação e a obsolescência. Ao passo que, aqueles sistemas abertos e que se autoreciclam se
mantêm sempre renovados, evoluindo em melhorias continuadas, sem alijar e sem segregar, porque
copiam os processos da natureza e do meio ambiente (processos vivos e saudáveis). Na natureza, todo
ecossistema em sua diversidade se autoajuda, coopera, progride conjuntamente e se recicla
automaticamente. É um processo vivo e cadenciado, que sempre está com o equilíbrio mantido
naturalmente, onde cada elemento diverso efetua trocas (cedendo ao outro o que é necessário e
pegando o que lhe é preciso), e encontra espaços que se avizinham, de modo que o todo coexista sem
intempéries e/ou sem prejuízos ao ecossistema como um todo.

Uma consciência expandida não admite, em nenhuma hipótese, a segregação quer ela seja
racial/étnica, cultural, religiosa, linguística ou qualquer outra. Trazer e congregar de modo pacífico e
harmoniosamente com desiguais, oferece a oportunidade de crescimento e de experiência de vida,
compondo um cenário de PAZ, de concórdia e de humanidade.

NOTAS:
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Nota 01
“No Brasil, eugenia e racismo andaram de mãos dadas – o ranço aparece disfarçado até hoje: “Meu neto é um cara
bonito, viu? Branqueamento da raça”, disse o vice-presidente Hamilton Mourão em outubro de 2018”.
https://super.abril.com.br/ciencia/a-longa-historia-da-eugenia/

Nota 02
"Decreto presidencial assinado por Jair Bolsonaro nesta quinta-feira, 1, incentiva salas e escolas especiais para
crianças com deficiências, transtornos globais do desenvolvimento, como o autismo, e superdotação. O
documento está sendo considerado um retrocesso nas políticas de inclusão no País e discriminatório porque
abriria brechas para que as escolas passassem a não aceitar alunos com essas característas. Entidades e
parlamentares já se movimentam para tentar barrar a medida.”
https://www.terra.com.br/noticias/educacao/decreto-de-bolsonaro-visa-separacao-de-alunos-
deficientes,3699250cb2c102354af5a8dbe5fedbb848myve1p.html

Nota 03
“IBGE: População negra é principal vítima de homicídio no Brasil”
https://exame.com/brasil/ibge-populacao-negra-e-principal-vitima-de-homicidio-no-brasil/

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