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A Mudança de Perspectiva Altera a Nossa Realidade

Mirtzi Lima Ribeiro


mirtzi@gmail.com

Há um bom tempo me familiarizo com matérias transdisciplinares, havendo lido também sobre
comportamento humano, nos livros dos psiquiatras mais conhecidos da humanidade (leituras que amo).
Por causa disso, há décadas, muitas pessoas me procuram para desabafar, relatar problemas pessoais,
na busca de dicas e para que eu possa lhes dar suporte em encontrar possíveis soluções.
Aos meus 14 anos de idade, muito introvertida e tímida, uma psicopedagoga do colégio em que eu
estudava, avaliava a turma de aulas que eu fazia parte, porque conjuntamente tínhamos sido suspensos
das atividades mais de três vezes. Embora eu vivesse calada e quieta no meio deles, sofri muito bullying
por vários motivos: pela minha cor quase transparente com pouca melanina e algumas sardas
(anteriormente não tomava banho de sol e essas chacotas me fizeram ir para o sol sem proteção e a usar
misturas duvidosas, sofrendo queimaduras na tentativa de melhorar minha cor), pelas minhas notas altas,
porque eu era calada demais, por tudo enfim, e, também porque meu pai era o vice-diretor e
concomitantemente, professor neste colégio de segundo grau.
Esta psicóloga me entrevistou várias vezes e chegou à conclusão de que eu pensava demais para uma
menina da minha idade e tinha um interessante método indutivo para resolver problemas. Ela perguntou
se eu estaria disposta a conversar com alguns alunos sob seus cuidados para ajudá-los. Resultado: sob
a assistência dela, eu fiquei atendendo a moças e rapazes bem mais velhos que eu, alguns do período
noturno e isso deu bons resultados. Acostumei-me a lidar com isso, de falar com pessoas, o que contribuiu
muito para que eu ampliasse minha percepção sobre os problemas da vida, outras realidades e
necessidades, além das minhas próprias.
Ademais, eu consegui reconstruir a minha vida por duas vezes. A primeira vez, eu tive forçosamente de
seguir e construir minha vida sozinha, de repente, do dia para a noite, por ter decidido não mais fazer
parte de uma religião fundamentalista que me tolhia muito, quando completei meus 23 anos de idade. Eu
já estava graduada e pós-graduada, com um bom emprego fixo durante o dia e lecionando a noite, porém,
eu ainda era imatura demais para as coisas da vida e a maldade alheia.
Não foi fácil, porque embora eu tivesse inteligência, não tinha malícia nem conhecia a complexidade do
louco mundo com seus interesses muitas vezes não saudáveis. A segunda vez que tive que partir quase
do zero, foi quando consegui o divórcio em um casamento de 12 anos com um sociopata, uma pessoa
sedutora em público e maquiavélica em particular, capaz de manipular os outros e sem nenhum tipo de
remorso ou sentimento. Até que eu compreendesse essa patologia, eu quase perdi o juízo. Logo, ao
identificar a questão, eu pude sair dessa situação extremamente difícil. Antes eu tive que me fortalecer,
me reconstruir internamente, de modo a manter a minha inteireza de caráter, a honradez, a mente sã, o
psicológico e o emocional sob controle.
Apesar de ter vencido situações dramáticas e longas, de difícil solução, atualmente, quando digo a
algumas pessoas que tudo reside no pensamento, que há passagens secretas que podem ser
encontradas quando estamos em becos aparentemente sem saída, tem gente que não acredita nisso,
que não se rende a outras realidades. Não querem abrir mão em agir como sempre fizeram, sem obter
resultados diferentes. Mas, também, há pessoas que dão verdadeiros saltos de compreensão e em um
estalar de dedos, elas encontram soluções, porque tiveram coragem e sensatez para se abrir ao seu ser
mais íntimo, acessando e obedecendo a insights que lhes chegaram. Logo, agir em conformidade com
os apelos do nosso mais profundo íntimo, faz toda a diferença. Elas começam a encontrar caminhos e a
compreender que a vida é como aqueles jogos de fases, em que quanto mais experiente é o aluno, mais
difíceis ficam as provas, até que ele se supere e vença os obstáculos.
Atentemos para o fato de que, quando começamos a jogar o jogo da vida, nas suas muitas fases,
invariavelmente, vamos ampliando mais e mais a nossa consciência. A questão recai sempre na condição
de expandirmos a nossa consciência e nos abrirmos a novas realidades possíveis.
Outro ponto fundamental é que é preciso colocar uma nova energia em movimento, fazer alguma coisa
diferente do que estávamos fazendo, para que essa energia recomece a fluir. Isso é muito mágico.
Isso é o que alguns chamam de "milagre", mas é aquele fenômeno articulado pelos nossos pensamentos
e intenções mais profundas, que ganham vida própria e encontram com outros pensamentos daqueles
que estão na mesma frequência e sintonia. É assim que o mundo se movimenta. É assim que as pessoas
se contagiam.
Ao mudarmos nossos padrões mentais e comportamentais, todo o fluxo toma nova direção e as soluções
aparecem. As ‘coincidências’ começam a ocorrer simultaneamente: alguém precisa daquilo que podemos
dar e outros nos proporcionam aquilo de que precisamos. Há encontros e ricas trocas, funcionando como
um chamado interno e as pessoas se conectam desse modo.
Assim todos podem sair de suas crises. Há uma cooperação que acontece em vários níveis. É um
processo fantástico.
Com essas parcerias e nossa disposição em mudar, ao identificarmos os obstáculos com vistas a
ultrapassá-los, sempre ATENTOS aos detalhes do caminho, podemos passar de fase vencendo e
transpondo as dificuldades aparentemente insolúveis. O resultado é nos superarmos a cada momento,
sempre alargando o nosso cone de percepção e de criatividade, ao tempo em que contribuímos com o
que temos de melhor em nós.
A isso eu chamo de DAR RESPOSTAS INÉDITAS e não apenas reações usuais, que são comuns e que
muitas vezes, não geram bons resultados e não são capazes de mudar a nossa realidade.
Eu também sou imperfeita, estou no jogo, aprendendo com meus próprios erros e falta de visão em alguns
aspectos. Estamos na escola da vida. Mas, tão logo eu perceba meus erros e equívocos, procuro ao
máximo corrigi-los. Difícil é quando eles estão associados a sentimentos, tornando-se muito duro mudar
o pensamento. Mas, não é impossível. Um acerto aqui e ali, termina pondo ordem à desordem, e os
pontinhos ficam sobre os ‘ís’, embora com maior esforço.
O lance é acreditar que a nossa mente é capaz de superar qualquer tipo de dificuldade, inclusive quando
há sentimentos em jogo, sabendo que os insights podem ser acessados quando ficamos abertos a eles
e que a vida se descortina quando abandonamos o que nos prende ao nosso lado frágil e/ou sombrio,
para podermos subir à luz mais resplandecente que de um dia de mil sóis. Esse é o grande milagre que
nosso ser mais profundo pode realizar em nossas vidas, conjuntamente com aqueles que estão no mesmo
diapasão nosso.

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