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SEMANA 39 (EXTENSIVO) | SEMANA 19 (SEMIEXTENSIVO)

UFU

TEXTO 1
Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los
E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.
Sigo o fumo como uma rota própria,
E gozo, num momento sensitivo e competente,
A libertação de todas as especulações
E a consciência de que a metafísica é uma consequência de estar mal disposto.
Álvaro de Campos (Fernando Pessoa). Tabacaria. 1928.

TEXTO 2
O tabagismo é considerado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) uma pandemia que mata oito milhões de pessoas por ano. Segundo dados do Instituto
Nacional do Câncer (Inca), órgão vinculado ao Ministério da Saúde, só no século 21 o tabaco foi responsável por cerca de cem milhões de mortes no planeta. No
Brasil, o final de agosto, precisamente o dia 29, é um marco na luta contra o cigarro: o Dia Nacional de Combate ao Fumo foi pensado para reforçar as ações
nacionais de sensibilização e mobilização da população para os danos sociais, políticos, econômicos e ambientais causados pelo tabaco. Em 2020, no entanto,
houve avanços a celebrar? [...] O relatório sobre a indústria do tabaco em seis países da América Latina elaborado por organizações civis nacionais, regionais e
globais – entre elas a brasileira ACT Promoção da Saúde, mostra como as transnacionais atuam estrategicamente para manter e expandir o mercado consumidor
em momentos de crise, como a atual, em que a população encontra-se ainda mais fragilizada.
Disponível em: https://ojoioeotrigo.com.br/2020/09/conta-do-cigarro-aumenta-no-brasil-durante-a-pandemia/. Acesso: 5 dez. 2020. [Adaptado].

TEXTO 3
Um estudo polêmico realizado com mais de 90 mil pacientes no México afirma que os fumantes podem ser menos vulneráveis ao Covid-19 do que pessoas que nunca
experimentaram cigarro. A pesquisa, que vai na contra-mão da maioria das recomendações médicas, sugere uma espécie de proteção proporcionada pela nicotina, um dos
componentes químicos do cigarro. Ainda segundo o estudo, os fumantes estariam cerca de 23% menos expostos à infecção por Covid-19. Além disso, o grupo de cientistas 
composto por profissionais do México, Grécia e Estados Unidos e liderado pela Universidade de Utah  afirma que mesmo os pacientes fumantes confirmados para Covid-19
apresentam menos chances de desenvolver um quadro grave da doença. O estudo, que ainda é inconclusivo, é o segundo sobre o tema. Em abril deste ano, um grupo de
pesquisadores franceses apontaram uma descoberta semelhante, extraída a partir da comparação de relatórios em diferentes hospitais. A possibilidade melhor aceita até o
momento é de que a nicotina se fixaria no mesmo receptor celular, "ocupando" o espaço e dificultando a fixação do vírus.
Disponível em: < https://saude.ig.com.br/2020-06-08/estudo-sugere-que-cigarro-pode-proteger-contra-covid-19-entenda-a-relacao.html >. Acesso: 5 dez. 2020.

TEXTO 4
Ronald Dworkin, um dos maiores juristas do mundo, sustenta que o direito deve ser aplicado por princípios – e não por política ou por moralismo. Isso quer dizer que pouco deve
importar se o juiz ou o governo gostam ou desgostam de algo. Em nome da moral não é possível superar a Constituição, mesmo que isso me desagrade ou que desagrade a outras
pessoas.
A regulamentação da Lei Antifumo é uma clara tentativa de corrigir moralmente a Constituição. Fumar é um ato de liberdade individual, protegido pela Constituição da República.
Representa uma ação de autonomia e um exercício de liberdade individual dos cidadãos. Nesse contexto, as alterações promovidas na legislação pela nova Lei Antifumo, recentemente
promulgada, caminham na contramão das liberdades constitucionais e invadem de modo grotesco a esfera privada de convívio do social. Ora, ninguém nega que o cigarro faz mal. De
um lado, queremos resolver o problema do morticínio pelo tabaco com o fechamento das possibilidades de as pessoas fumarem. Mas, de outro, milhares de pessoas morrem anualmente
no Brasil por causa do violento trânsito automobilístico. Na guerra do trânsito, fazemos o contrário: o governo facilita a compra de automóveis via isenção de IPI. Neste ponto é possível
fazer uma provocação: alguém defenderia a ideia de que a transferência de recursos federais seria inconstitucional?
No caso em questão, nenhum governo chega ao absurdo extremo de proibir de modo absoluto o fabrico de fumígenos, porque isso significaria abrir mão do alto imposto incidente
sobre cigarros. Todavia aprova-se uma legislação politicamente correta que determina como as pessoas devem fazer uso do cigarro, como se coubesse aos agentes públicos condicionar
a conduta dos indivíduos em seus momentos de lazer e descontração.
Após o processo de secularização ocorrido com a modernidade, não compete ao Estado a tarefa de "melhorar o cidadão", de interferir nessa relação privada. O governo, porém,
insiste em querer condicionar as ações dos particulares com base nas mais diversas justificações. Os argumentos defendidos muitas vezes giram em torno de temas como a defesa da
saúde pública – como se a referência a essa questão tivesse a capacidade de legitimar medidas arbitrárias de restrição aos cigarros.
A liberdade de escolha é condição de efetividade da democracia liberal, é fator determinante para o amadurecimento do Estado Constitucional de Direito. A defesa intransigente das
liberdades individuais dos fumadores não é endereçada apenas a essa minoria de cidadãos que optaram por fumar regularmente tabaco e derivados. Como qualquer restrição à
liberdade individual, não se trata de um problema único e exclusivo dos fumantes – como comumente se faz crer –, mas sim de toda coletividade, que se vê tolhida em seu exercício de
arbítrio.
Disponível em: https://www.conjur.com.br/2015-jan-28/lenio-streck-fumar-ato-liberdade-individual-protegido-cf. Acesso: 5 dez. 2020.

TEMA COMBATE AO TABAGISMO: DEFESA DA SAÚDE PÚBLICA OU PRIVAÇÃO DA LIBERDADE?


Com base nos textos apresentados e em seus próprios conhecimentos, escreva:
a) um artigo de opinião a ser publicado em um jornal de circulação nacional. Na condição de profissional da saúde, apresente
sua opinião sobre a combinação cigarro e novo coronavírus.
b) uma carta do leitor a ser enviada a uma revista de circulação nacional. Como leitor crítico e cidadão responsável, você
relatará um fato e expressará sua opinião sobre o Texto 4.
c) um editorial da Revista Saúde que manifeste as razões pelas quais o tabagismo é considerado uma pandemia na sociedade e
indique soluções para esse problema (leia o texto 2).

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