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Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Instituto de Filosofia e Ciências Humanas

Departamento de Filosofia

Fernando da Conceição Neves

História da Filosofia Contemporânea II:


O Corpo sem Órgãos e o Ensino da Filosofia

Rio de Janeiro
2020
Este trabalho tem como objetivo estabelecer uma reflexão acerca da relação entre
a “noção” de Corpo sem Órgãos/máquina de guerra nômade e o ensino da filosofia. A
pergunta que guiará a reflexão é: como se deve ler e estudar filosofia? A tese defendida
é: a filosofia deve ser lida e ensinada como uma máquina de guerra nômade produtora de
corpos sem órgãos.

A ideia deste trabalho surgiu da pergunta feita pelo professor Mário Porta em seu
livro de 2014: “Como se deve ler e estudar Filosofia?”, a resposta do professor é: a
filosofia deve ser lida e ensinada a partir dos seus problemas. Essa resposta é quase como
uma indicação acadêmica para estudantes de filosofia. Porém, a partir da noção de Corpos
sem Órgãos eu gostaria de complementar essa resposta com a seguinte reflexão.

Desde o seu nascimento a Filosofia se viu no lugar de questionabilidade radical


do fundamento da realidade. Esse questionamento radical trouxe, em toda a história do
pensamento, a possibilidade de transformações das bases pelos quais nós enxergamos o
mundo. Há de se perguntar se é possível se fazer uma filosofia que sirva ao “organismo”,
que sirva à obediência. A minha resposta é simplesmente não. A justificativa se dá por
aquilo que tem de mais essencial na filosofia. Por mais que queiramos fazer uma filosofia
que sirva à organização social que preza à obediência e a conservação, a prática natural
que inquieta o (a) filósof(a) é imininente e dificilmente deixaria isso se esvair.

O ensino da filosofia nos cursos de ensino médio pode ser entendido como um
reflexo de como nós enxergamos o papel da filosofia no meio social. Um ensino de
filosofia que simplesmente apresente os problemas filosóficos e apresente as
possibilidades téticas acerca desses problemas, tende a uma ingenuidade perante o
mundo, no sentido de manter a filosofia no lugar de uma atividade estática e meramente
sistemática. Coerente com a forma como a filosofia se mostrou desde seu nascimento, a
apresentação da filosofia a partir dos seus problemas precisa ser acompanhada de uma
prática que visa a desconstrução de toda e qualquer estrutura social que corrobora o
movimento estático da existência e, principalmente, que impede a produção de
singularidades existenciais. Se a filosofia trabalha na base, no fundamento das
concepções existenciais, então uma prática filosófica de confrontação das bases que
guiam nossa mentalidade tornará evidente que existir significa estar desde o início aberto
para a pluralidade e para a possibilidade infinita de modos de existir.

Ensinar filosofia visando a produção de um corpo sem órgão significa guiar os


estudantes para uma mentalidade filosófica que vise se confrontar com todo e qualquer
órgão que produza o esfacelamento da singularidade. Dito de outro modo, significa
plenificar um corpo que é aberto ao plural, que vê na existência sempre a possibilidade e
nunca o limite fronteiriço. E a filosofia vista nesse sentido é tão possível, visto que essa
atitude diz respeito ao seu modo de ser específico. A filosofia é radicalmente a
questionabilidade radical de bases que se veem como fixas.
Bibliografia de base

DELEUZE, G.; GUATTARI, F. O anti-Édipo – Capitalismo e esquizofrenia. Lisboa:


Assírio & Alvim, 2004.

PORTA, M. A filosofia a partir dos seus problemas. São Paulo: edições Loyola, 2014.

SCHÖPKE, Regina. Corpo sem órgãos e a produção da singularidade: A construção da


máquina de guerra nômade. Revista de Filosofia Aurora, [S.l.], v. 29, n. 46, p. 285-305,
abr. 2017. ISSN 1980-5934. Disponível em:
<https://periodicos.pucpr.br/index.php/aurora/article/view/5697

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