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SALVADOR
2008
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SALVADOR
2008
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AGRADECIMENTOS
Quero agradecer também ao apoio e entusiasmo dos meus pais, irmãos e amigos
que, mesmo sem se darem conta, estão presentes nestas páginas. Por fim, quero
agradecer e dedicar este projeto à minha esposa, Clarissa, por seu companheirismo,
amor e suporte incondicional. Essa alegria, compartilho-a com todos vocês.
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SUMÁRIO
O autor e o projeto................................................................ 5
As locações.......................................................................... 21
O silêncio no set................................................................... 24
Os microfones....................................................................... 31
Operando o boom................................................................. 37
Referências........................................................................... 56
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O AUTOR E O PROJETO
A paixão pelo som sempre fez parte da minha vida. Desde criança, lá em meados dos anos
1970, interessava-me muito pelas coisas que emitissem sons: pianos, cornetas, espoletas, tam-
bores, matracas, bombinhas juninas e uma infinidade de outros brinquedos que atualmente o
Inmetro não aprovaria para o uso infantil por causa do excesso de ruído. Mas os sons fortes,
felizmente, não me ensurdeceram, muito pelo contrário. Lembro do meu primeiro instrumento
musical de verdade: um órgão de três oitavas, comprado por meus pais em um supermercado,
que me ajudou a descobrir as melodias de uma série de cantigas de roda. Sempre fui – e ainda
sou – muito intuitivo com a música, tenho boa percepção e bom ouvido. Isso, porém, me afas-
tou do estudo teórico da música. A música era meu prazer solitário e eu não me interessava
muito pelas aulas, solfejos, partituras e, principalmente, pelos exercícios em clave de fá para a
mão esquerda.
Dentro desse mundo musical, descobri logo que algo chamava minha atenção tanto quanto
tocar um instrumento: a técnica de captação e registro do som. Dos pequenos festivais estu-
dantis até os maiores palcos, dos menores estúdios revestidos com caixas de ovos até os mais
profissionais com seus consoles cheios de canais, eu sempre orbitei os técnicos de som. Inva-
riavelmente, envolvia-me na preparação das sessões de gravação e fazia contatos e amizade
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com os “ratos” de estúdio. Nesse momento, o aprendizado empírico e orientado pelos amigos
mais experientes parecia insuficiente. Eu queria mais. Contudo, onde buscar mais? Nessa é-
poca, final dos 90, eu já produzia peças publicitárias para rádio e TV e gravava artistas inici-
antes no estúdio que montei em minha própria casa (meu ex-quarto!). Comecei a comprar
livros importados (não existia nada publicado no Brasil sobre técnicas de gravação), e seguir
uma rotina pessoal de estudos foi extremamente saudável e construtivo. Esse processo de a-
prendizado ocorreu em paralelo à popularização do áudio digital – os preços mais acessíveis
dos equipamentos e a massificação da internet deram um empurrão a mais nas minhas possi-
bilidades de acesso à informação e troca de experiências.
Em 2002, resolvi “chutar o balde”. Depois de definir uma estratégia de sobrevivência, ven-
dendo o carro e meu instrumento (a bateria tão querida!), fui para a Espanha fazer um curso
específico sobre gravação e produção musical. Essa vivência no curso, as aulas com excelen-
tes professores, a possibilidade de operar equipamentos de altíssima qualidade e a exposição
ao modo de vida em uma terra estrangeira obviamente me fizeram refletir muito sobre minha
abordagem acerca de estudo, trabalho e carreira. Não foram os equipamentos de milhares de
Euros – que os alunos usavam à vontade – que mais me impressionaram. O que me marcou
mais profundamente foi o constante cuidado e o compromisso com a qualidade de ensino, a
seriedade dos processos didáticos, o cumprimento de horários e metas e a tentativa de convi-
vência construtiva entre criatividade e disciplina. Por outro lado, a característica principal de
alguns colegas de curso era a velha idéia de que “o talento é tudo e define o sucesso”. Resul-
tado: os alunos mais talentosos sempre pediam mais prazo para a entrega dos trabalhos e nem
sempre alcançavam o “sucesso”.
Quando retornei, em 2003, continuei trabalhando com música e publicidade, mas estava deci-
dido a voltar a estudar. Procurei informação sobre os cursos de graduação nas diversas facul-
dades da cidade e dei de cara com o curso de Cinema e Vídeo da Faculdade de Tecnologia e
Ciências (FTC). Não tive dúvida: era o curso que eu estava procurando. Sempre gostei muito
das narrativas cinematográficas, tanto ficcionais quanto documentais, e as técnicas do cinema
exercem um fascínio enorme sobre mim. Por causa do trabalho com publicidade e comunica-
ção, a produção audiovisual já era uma área com a qual eu convivia e tinha afinidade. Obvia-
mente, acima de qualquer coisa, eu estava buscando um curso que me proporcionasse prazer.
Esta é uma das vantagens de se graduar após atingir uma certa estabilidade econômica: pode-
se escolher o curso simplesmente pelo prazer.
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O tiro acertou o alvo em cheio. No curso de cinema encontrei espaço para pensar a comunica-
ção, a narrativa, a expressão artística, a indústria do entretenimento, o poder das imagens e
também pude contemplar minha paixão: o som. As técnicas de captação, as estratégias de
produção sonora, a finalização da banda sonora e a recepção por parte do público são temas
que me interessaram desde o início da graduação. Após vários anos trabalhando em estúdios
de gravação, encontrei no som para audiovisuais uma área de atividade muito atraente. Os
desafios de fazer uma boa captação fora de uma sala de gravação são inúmeros, exigem muita
preparação e trabalho em equipe. O meu background ajudou muito no entendimento e na a-
plicação das técnicas específicas do cinema e do vídeo, e a prática desses quase quatro anos
foi essencial para que eu decidisse apresentar, como trabalho de conclusão de curso, um guia
introdutório de captação de som direto para audiovisuais. Outro motivo para desenvolver este
projeto foi a percepção da brutal ausência de material de referência para os interessados em
som direto. Infelizmente, só há livros estrangeiros sobre o tema, os quais, na maioria das ve-
zes, contemplam um nível de produção complexo e caro, que não equivale ao encontrado pe-
los estudantes e realizadores locais. O guia é simples, fácil de ler, sem complexidades técnicas
que impeçam o iniciante de se sentir à vontade e atraído pelos conhecimentos transmitidos.
Neste guia se encontra uma parte essencial dos conhecimentos que adquiri com a experiência
em gravar sons dentro e fora do estúdio. A humilde pretensão deste trabalho é introduzir o
leitor no universo da captação do som direto, como um primeiro passo para quem se interessar
em dar continuidade ao aprendizado. Desejo a todos uma boa leitura.
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A estrutura deste guia está organizada em capítulos que seguem um fluxo estratégico. Essa
organização busca proporcionar um melhor entendimento do conteúdo e aponta, proposital-
mente, para a ideologia de que, antes de tudo, um produto audiovisual se faz com pessoas,
competências e sensibilidades. A técnica e os recursos materiais são ferramentas essenciais,
mas devem vir para dar suporte à emoção e à criatividade.
Primeiro falaremos do humano, do indivíduo, das funções, de trabalho e ética, e das relações
profissionais em um projeto audiovisual. A abordagem inicial, portanto, será sobre quem faz
som direto.
Ao final, o guia tratará de aspectos práticos na captação de som direto para ficção e documen-
tário, acrescentando algumas dicas sobre as técnicas utilizadas pelos profissionais do som
direto.
O cinema nasceu mudo? Nem tanto. O espetáculo de luz e imagens em movimento já trouxe o
som como o acompanhante natural e essencial à fruição dos filmes desde o chamado “primei-
ro cinema”. O silêncio nunca existiu realmente nas salas de cinema – ao contrário, o público
testemunhou invariavelmente um rico universo sonoro, com música, vozes, efeitos sonoros
recriados ao vivo, além dos ruídos das próprias reações aos filmes. Naturalmente, o acompa-
nhamento mais utilizado para as experiências pioneiras do cinema foi a música. Essa música,
tocada ao vivo, geralmente por um pianista ou uma pequena orquestra, embalava as exibições
recorrendo às partituras de temas eruditos ou populares mais conhecidos do público, um tru-
que que ajudava a conectar as pessoas ao espetáculo visual. Nessa época, havia também a
função dos “explicadores”, apresentadores que narravam as películas durante as sessões, cola-
borando com suas vozes para que público entendesse a nova linguagem e sua gramática. Lu-
tando contra as dificuldades técnicas, chegou-se ao ponto de preparar atores que, escondidos
atrás da tela, dublavam os diálogos e davam voz às imagens projetadas, tentando manter o
máximo de sincronismo possível, numa inequívoca busca pelo realismo. Apesar das discus-
sões estéticas sobre o real valor do som para o cinema, a indústria naturalmente buscou reali-
zar esse casamento e, pouco a pouco, as dificuldades técnicas foram ultrapassadas.
Após várias tentativas, em 1927, um filme chamado O Cantor de Jazz inaugura a possibili-
dade de realizar filmes de longa-metragem com som sincronizado. Obviamente, o cinema não
passou de “mudo” a “sonoro” do dia para a noite, mas até então só se conseguia sonorizar
com falas e diálogos, de forma eficiente, filmes com pequena duração. Esse marco, estabele-
cido com O Cantor de Jazz, nos serve como referência histórica pelo ineditismo do feito.
Percebe-se que, àquela altura, as tecnologias de registro de imagem e som desenvolviam-se
rapidamente, mas o casamento entre os dois mundos desafiava a indústria também no “modo
de fazer” cinema. O texto de Martin Barnier no livro En route vers le parlant. Historie d’une
évolution technologique, économique et esthétique du cinema fala sobre esse alvorecer do
cinema sonoro:
Cheguei (ao set da Paramount) e disse: “Essa manhã tenho boas notícias para
os sound men. Vou mover o condenado do microfone”. Enchi-me de cora-
gem, arranjei uma escada, subi e soltei o microfone do teto. Coloquei-o na
ponta de uma vassoura. Movi-o e funcionou. (2007, p.74. Tradução minha).
Diferentes fontes oferecem nomes de diferentes pessoas responsáveis pelo “primeiro microfo-
ne móvel”, sem que tenhamos um dado exato. Douglas Shearer afirma que seria Eddie Man-
nix, do Departamento de Som da MGM. Por outro lado, temos Gordon Sawyer, técnico da
United Artists, ou Doroty Azner na Paramount. As girafas construídas pelos operários dos
estúdios serão utilizadas no final de 1928. Uma das primeiras, nos estúdios MGM, gira e des-
loca-se em todos os sentidos sobre um eixo. Em 1929, existem girafas com varas telescópi-
cas. Em 1930, o aperfeiçoamento permite movimentação total e contrapesos facilitam a ope-
ração.
A descrição acima nos mostra de forma breve como a indústria cinematográfica iniciou seu
desenvolvimento de estratégias para captação de som, vencendo os limites impostos pela tec-
nologia da época. Inúmeros problemas foram progressivamente solucionados, entre eles o
ruído gerado pela própria câmera, pelas luzes ou pela maquinaria. A próxima barreira a ser
vencida era sair do estúdio, filmar nas ruas, usar o som gravado nas locações como som final.
Isso só seria possível com um equipamento de gravação de som pequeno e leve, bem diferente
dos usados nos estúdios até aquele momento.
Nos primeiros anos da década de 1950, a empresa suíça Kudelski S.A. inicia a comercializa-
ção de um equipamento que viria a ser um símbolo de qualidade e confiabilidade na gravação
de áudio, utilizando a tecnologia do registro de som em fita magnética: os gravadores Nagra.
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Esses gravadores se tornaram o sistema padrão de gravação de som para cinema de 1960 até
os anos 1990, e, durante todos esses anos, ganharam a fama de trabalharem como “relógios
suíços”, por sua precisão e infalibilidade. Seu tamanho reduzido e construção robusta também
permitiam o uso adequado para as produções fora dos estúdios, em locações exteriores, nas
quais o equipamento deveria ser leve e resistente. Uma grande inovação dos gravadores Nagra
foi o Neo-Pilottone, um sinal de sincronismo, compartilhado entre o gravador e a câmera, que
garantia que a velocidade dos motores dos dois equipamentos estaria perfeitamente sincroni-
zada, tanto no momento da gravação quanto na pós-produção, durante a montagem e sonori-
zação dos filmes. Esse sistema, hoje obsoleto, foi gradativamente substituído pelo código de
tempo desenvolvido e compartilhado por duas organizações: a Society of Motion Picture And
Television Engineers (SMPTE), nos EUA, e a European Broadcast Union (EBU), na Europa.
Os anos 1990 marcam o início da revolução digital para a captação de som no cinema. A pri-
meira renovação de equipamentos ocorre com o uso dos gravadores DAT (Digital Audio Ta-
pe) para captação do áudio em lugar dos gravadores de fita magnética. O manuseio das fitas
DAT, que têm o tamanho aproximado de uma caixa de fósforos, era extremamente simples e
seu armazenamento requer menos espaço e cuidados do que os rolos de fita dos Nagra. Mas,
apesar de serem muito práticos e de terem uma qualidade de som muito boa, os gravadores
DAT apresentavam um problema para a produção: a fragilidade do equipamento, principal-
mente em comparação aos “tanques de guerra” suíços. Além disso, o áudio digital natural-
mente evoluiu para a gravação não-linear, que utiliza discos rígidos ou cartões de memória
para o armazenamento e a manipulação dos arquivos sonoros. Esse fato decreta o abandono
progressivo dos DAT e inicia a era dos gravadores multipistas digitais.
Com a possibilidade de gravar várias pistas com aparelhos portáteis, o SOM DIRETO pôde
expandir e aperfeiçoar as estratégias e técnicas de captação. Os arquivos sonoros digitais tam-
bém têm a característica de incluírem “metadados”, que são informações importantes anexa-
das, a exemplo do TIMECODE (ou código de tempo), que facilita muito a sincronização entre
som e imagem.
Atualmente, temos à nossa disposição gravadores digitais com duas, quatro, seis, oito ou mais
pistas, que gravam em disco rígidos ou cartões de memória, com uma qualidade de áudio im-
pressionante, timecode, portabilidade e resistência ao manuseio, por preços relativamente bai-
xos se comparados aos antigos gravadores analógicos.
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CAPÍTULO 1
O QUE É SOM DIRETO?
Som direto é toda e qualquer informação sonora gravada simultaneamente à captação das i-
magens de um produto audiovisual. As vozes dos atores, os ruídos das ações, a ambiência dos
espaços internos e a paisagem sonora dos exteriores fazem parte da construção do som direto,
que também deve registrar sons e ruídos adicionais, particulares à locação, captados no set,
para serem utilizados na montagem, enriquecendo a banda sonora.
Um bom som direto sempre priorizará a melhor captação possível dos diálogos ou depoimen-
tos. A inteligibilidade das vozes é o primeiro objetivo do técnico de som direto. Nada parece-
rá mais amador, em um produto audiovisual, do que vozes mal captadas e ininteligíveis. Os
efeitos imediatamente gerados por qualquer ficção ou documentário com um áudio ruim são o
desinteresse e a desconcentração do público.
Fazer um bom som direto é, antes de tudo, gravar boas vozes. Esse conceito de trabalho tem
um motivo claro: evitar a dublagem dos diálogos. Em geral, a melhor interpretação dos atores
é aquela que acontece no calor do set. Dificilmente conseguimos reproduzir, mais tarde, em
estúdio, a concentração do elenco e da equipe, assim como o ambiente e a atmosfera psicoló-
gica que compõem o momento da filmagem. Algumas vezes, por questões técnicas, não é
possível captar um bom som dos diálogos e, infelizmente, a dublagem será inevitável. Neste
caso, é preciso ter em conta as questões de cronograma e orçamento, que aumentarão conside-
ravelmente os custos da produção. É bom ressaltar que, diferentemente dos diálogos, os ou-
tros sons (ambiências, efeitos e ruídos) podem ser mais gravados separadamente no próprio
set ou produzidos, mais tarde, em estúdio. Contudo, além das vantagens econômicas, um bom
som direto apresenta vantagens estéticas do ponto de vista de uma abordagem naturalista.
Nos documentários, é essencial ressaltar a importância estética do som direto para o êxito da
obra. Foi a partir de 1950, com desenvolvimento dos gravadores portáteis e da captação de
som sincronizado com imagem que os sujeitos documentados ganham voz própria. Além do
registro das vozes, é essencial a captação da paisagem sonora das locações. A captação de
som contribui decisivamente para registrar o recorte desejado da realidade, pois não só infor-
ma o espectador sobre essa realidade, através do som dos depoimentos e das ações, como
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O enquadramento da imagem só define o que se vê, mas não elimina os sons que fazem parte do entorno, que
não é visto, mas sabemos que existe. A sonoridade do fora de quadro, especialmente nos documentários, é um
elemento construtivo essencial para a fruição do público.
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CAPÍTULO 2
A EQUIPE DE SOM DIRETO
A realização de um produto audiovisual exige, acima de tudo, trabalho em equipe. A sua rea-
lização demanda cooperação e coordenação, disciplina e hierarquia, dedicação e comprome-
timento. A equipe de som direto, além de empenhar-se em sua área de trabalho, deve ter uma
atitude colaborativa em relação às atividades dos outros departamentos, sempre cuidando para
não invadir o espaço de atuação dos demais profissionais envolvidos no projeto. Também é
indispensável a colaboração de todos os departamentos para que seja possível realizar as gra-
vações de áudio no set e registrar, com qualidade, o som durante as filmagens.
Uma equipe de som direto se divide em três funções: o técnico de som, o microfonista e o
assistente de som. Obviamente, essa divisão de funções só é possível em produções que te-
nham recursos financeiros para investir nesse nível de especialização e dinâmica de trabalho.
É comum, em produções de maior orçamento, a equipe de som ter até mais de um microfonis-
ta ou dois assistentes de som dividindo as demandas durante as filmagens, mas não é o objeti-
vo deste guia descrever tais situações. Vamos nos concentrar nas pequenas realizações, com
equipes menores, e no aprendizado das abordagens e procedimentos básicos de uma equipe
padrão de som direto. De qualquer forma, por menor que seja a produção, as funções citadas
acima nunca serão eliminadas, mas redistribuídas dentro da própria equipe. Por exemplo, nas
equipes reduzidas de documentário e pequenas ficções, por questões de custo e logística, o
técnico de som também desempenha a função de microfonista. A análise da equipe de som
direto, seus profissionais e suas funções é essencial para estabelecer as competências e deve-
res exigidos em qualquer projeto audiovisual.
É o profissional responsável pela gravação de som no set, que comanda a equipe de som dire-
to e assina a captação nos créditos. São atribuições da sua função: estudar o roteiro, visitar as
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locações, reunir-se e discutir com a direção e com os outros departamentos sobre as necessi-
dades técnicas e propostas estéticas para a realização do filme.
Em um produto audiovisual, o fluxo da atividade do técnico de som direto inicia-se logo após
o convite da produção para participar do projeto. Na primeira fase, chamada pré-produção da
equipe de som, é necessário obter as informações básicas sobre a realização. Ter acesso ao
projeto, roteiro, cronograma e plano de locações permitirá ao técnico participar das reuniões
com a direção e produção, já que a análise cuidadosa desse material é indispensável para a
realização de um bom registro do som direto.
tenha um amplo repertório audiovisual, conhecimento sobre a história do som no cinema, teo-
ria da comunicação e do cinema, movimentos e escolas cinematográficas, produção para TV,
música e estética. O técnico se relaciona diretamente com a direção dos projetos e quanto
mais souber sobre a linguagem de cinema e vídeo mais competência terá para seguir as ins-
truções e sugerir soluções para a realização. A função de técnico também exige conhecimento
sobre os outros processos ligados ao som de um filme, como edição de som, mixagem e fina-
lização. Quanto mais ele conhecer esses processos mais competência terá para exercer sua
atividade com segurança e criatividade.
O MICROFONISTA
Sua função principal é operar o boom (vara telescópica que sustenta um microfone próximo à
fonte sonora). O microfonista será responsável também pela colocação dos microfones de
lapela nos atores e outros plantados no set, sempre seguindo as orientações do técnico. A
guarda e manutenção dos equipamentos, na ausência de um assistente de som, também pas-
sam a ser funções do microfonista.
A princípio, pode parecer fácil operar um boom no set, mas é preciso muito treino e resistên-
cia física para se tornar um bom microfonista. É preciso colocar o microfone o mais próximo
possível dos atores, sem invadir o limite do quadro nem gerar sombras, e manter a consistên-
cia sonora da captação todo o tempo. Essas habilidades serão descritas mais tarde, no capítulo
sobre operação do boom.
Como assistente imediato do técnico de som, o microfonista deve ter conhecimento sobre o
funcionamento e manutenção dos equipamentos e dirigir-se somente ao técnico quando tiver
dúvidas ou perceber problemas no som. Aqui estão algumas das competências do microfonis-
ta experiente:
O ASSISTENTE
Nos projetos audiovisuais, assim como em qualquer atividade coletiva, a qualidade das rela-
ções profissionais e o nível de colaboração entre os departamentos determinam decisivamente
o sucesso ou fracasso do trabalho. Vamos listar uma série de estratégias que o técnico de som
direto deve utilizar juntamente com a colaboração de toda a equipe do projeto. Quando todos
os departamentos são convidados para colaborarem com a captação do som direto, ganhamos
uma atitude mais positiva no set e o técnico deixa de ser o chato que reclama sempre de
quaisquer barulhinhos imperceptíveis. É necessário que todos entendam e se comprometam
com essa colaboração silenciosa para o som do filme. Abaixo, itens que ilustram como a e-
quipe de som direto pode obter a colaboração de cada departamento do projeto.
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Direção
Reunir-se com o técnico de som para analisar e discutir o roteiro e as escolhas técni-
cas e estéticas.
Disponibilizar-se para discutir problemas que possam ocorrer no set.
Cuidar para não desautorizar ou desprezar a opinião do técnico frente à equipe de
filmagem. Conversar em particular em caso de divergência.
Produção
Arte
Figurino
Evitar objetos que provocam muito ruído, como colares, brincos e outras jóias.
Evitar tecidos sintéticos e priorizar roupas de algodão.
Colaborar quando for preciso esconder um microfone na roupa dos atores.
Não se impressionar com o relevo desses microfones embaixo da roupa, raramente
eles serão perceptíveis ao público.
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Alimentação
CAPÍTULO 3
AS LOCAÇÕES
Locação é qualquer lugar, fora de um estúdio, escolhido para realizar captação de imagem e
som, em ficções ou documentários. Conhecer previamente as locações onde vamos trabalhar
com som direto é a arma mais eficaz para evitar surpresas que impossibilitam uma boa capta-
ção do áudio. Após a definição das locações, é de extrema importância visitá-las, de preferên-
cia em horário próximo ao da filmagem, e definir uma estratégia para o controle dos ruídos ou
melhoria de uma acústica ruim. É bom frisar que, da mesma forma que a direção elimina ou
substitui locações por questões da fotografia, o técnico de som direto pode condenar um local
por entender que não será possível realizar uma boa captação do áudio. É responsabilidade do
técnico manter a direção e produção advertidas em relação às dificuldades técnicas para cum-
prir sua função.
INTERIORES
É fácil notar que uma sala grande é mais reverberante que um quarto pequeno. Mas, se a sala
estiver com móveis, tapetes, cortinas e quadros, pode ter menos reverberação do que um quar-
to que tem apenas uma cama. Isso ocorre por causa das superfícies dos objetos presentes em
um local. Em geral, tecido, fibras, espuma e madeira são materiais mais fonoabsorventes (me-
nos densos) do que os usados para as paredes, piso e teto. Isso ajuda na diminuição das refle-
xões e aumento da inteligibilidade do áudio gravado.
Um som captado com um pouco de reverberação natural soa mais real, cheio e rico. No entan-
to, em hipótese alguma as reflexões podem ter uma intensidade tal que prejudique o entendi-
mento dos diálogos. O melhor a fazer é tentar controlar as características da sala com materi-
ais fonoabsorventes como tapetes, carpetes, mantas e espumas acústicas. Esses materiais têm
a propriedade de diminuir a intensidade da reflexão do som, tornando o ambiente mais morto.
Manter o microfone o mais próximo possível e cuidar da acústica da locação irão garantir
uma boa relação entre o sinal direto (som originado na fonte sonora) e as reflexões (sons ori-
ginados após o som original rebater nas superfícies do ambiente), permitindo inteligibilidade
nas vozes e uma percepção dos planos sonoros muito mais precisa. Plano sonoro nada mais é
do que a sensação de proximidade ou distância em relação à fonte sonora. Quanto mais perto
da fonte menos percebemos as reflexões e vice-versa. Não custa lembrar que sempre é possí-
vel adicionar o efeito da reverberação na pós-produção, com softwares ou unidades externas
de reverb, e, na mixagem final do projeto, escolher a quantidade de efeito adequada.
Sempre que gravamos em interiores é necessário gravar o room tone do set. Room tone é o
som característico do silêncio específico de cada ambiente fechado – em português, chama-
mos de bafo da sala. Esse bafo deve ter pelo menos um minuto para ajudar, na montagem, a
suavizar cortes e corrigir ruídos entre as falas.
EXTERIORES
As locações chamadas de exteriores são os espaços abertos onde o som vai ter uma propaga-
ção sem reflexões perceptíveis, por exemplo: um jardim, praia, rua etc. Ao contrário dos es-
paços fechados, não encontraremos problemas com reverberação em exteriores, porém os
ruídos do entorno são o grande desafio a ser solucionado. Em um set ao ar livre, a quantidade
de fontes de ruídos possíveis é enorme. Em um entorno urbano, podemos ser surpreendidos
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por aviões, tráfego, música, máquinas, motores, sirenes, vozes e inúmeros outros ruídos.
Quando nos afastamos para locações longe dos centros urbanos, os ruídos diminuem, mas
continuamos vítimas dos aviões, animais e sons naturais como vento, folhagem e quedas
d’água. Em qualquer dos casos, o objetivo é manter uma relação sinal-ruído bastante elevada,
ou seja, diálogos e outros sons relevantes com muito mais volume do que o som ambiente.
Sempre que estivermos em locações exteriores, é necessário gravar essa ambiência, registrar a
paisagem sonora separadamente, para enriquecer a banda sonora ou corrigir problemas na
captação. Seria o equivalente ao bafo dos interiores. Esse registro da ambiência deve ser feito
em estéreo, ou seja, utilizando dois canais (direito e esquerdo), para possibilitar a construção
de uma imagem sonora ampla, que simule a espacialidade real da locação.
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CAPÍTULO 4
O SILÊNCIO NO SET
Por definição, o silêncio é a ausência de som. No entanto, essa definição não se aplica para
quem trabalha com som direto. Deve-se pensar o silêncio como uma sensação subjetiva muito
mais do que um fenômeno físico. Considerando que o som só não se propaga no completo
vácuo, temos a certeza que nunca “ouviremos” o tal silêncio. E mesmo se pudéssemos sobre-
viver no vácuo do espaço sideral, por alguns minutos, nossos sons internos nos encheriam de
sensações sonoras: o coração batendo, o sangue correndo, os olhos piscando e sabe-se lá quais
ruídos ouviríamos diretamente de nossas vísceras.
Então, quando pedimos silêncio para gravar som direto, num set de filmagem, estamos pedin-
do o impossível? Sim. E não.
Como foi dito antes, conhecemos o silêncio como uma sensação subjetiva e não como um
fenômeno físico. Já que ignoramos o tal silêncio absoluto (coisa que nunca vamos experimen-
tar), é preferível pensar nos vários “silêncios” que somos capazes de criar e perceber. O silên-
cio de um templo religioso não é igual ao silêncio da casa no campo. O minuto de silêncio em
um estádio de futebol em nada se parece com o silêncio de um hospital. Em todos os casos, o
silêncio tem vida própria, tem “consistência e densidade” particulares e, acima de tudo, tem
seus sons formadores que lhe dão caráter e identidade. Quando gravamos som direto, é essen-
cial termos sob nosso domínio o silêncio que desejamos.
Agora entraremos nas questões práticas. A primeira coisa que devemos saber é: para que ser-
ve o silêncio no set? Obviamente, o silêncio vai permitir a gravação de um bom som no set.
Teremos vozes claras, inteligíveis, sem ruídos que atrapalhem o entendimento ou desconcen-
trem o público. O silêncio também permitirá que, na montagem, sejam escolhidos os planos
que construirão as seqüências sem uma mudança perceptível na paisagem sonora, apesar de as
tomadas terem sido captadas em diferentes momentos. O silêncio constante permite suavizar a
montagem. A descontinuidade de um background sonoro barulhento, com ruídos diferentes a
cada mudança de plano denunciaria os cortes de maneira inaceitável. A essa continuidade
chamamos raccord de som.
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É importantíssimo, no trabalho da equipe de som direto, gravar esse silêncio próprio de cada
set. O bafo da sala (o room tone) vai ajudar a suavizar os cortes, preencher vazios na pista de
som e substituir ruídos indesejados entre as falas na fase de montagem.
Sempre que acabarmos de gravar os diálogos em um set, devemos gravar, pelo menos um
minuto desse bafo, e para isso a equipe deve colaborar com paciência e sem fazer ruídos.
LEMBRETES IMPORTANTES
CAPÍTULO 5
O KIT BÁSICO DE CAPTURA DE SOM DIRETO
Quando a equipe de som direto sai para uma locação leva consigo um conjunto de equipa-
mentos que serão as ferramentas para realizar seu trabalho. A essa altura, o técnico de som
direto já deve ter visitado a locação previamente; preparado os interiores (melhorando sua
acústica); reduzido, com a ajuda da produção, os ruídos no set e no entorno; e se familiarizado
com a paisagem sonora do local. É chegada a hora de escolher e configurar os equipamentos
que serão utilizados para realizar a captação. Cada profissional desenvolve, com o tempo e a
experiência, um gosto pessoal e uma seleção própria dos seus equipamentos. Eles funcionam
de maneira diferente e, o mais importante, soam de maneira diferente. Assim, o técnico de
som direto irá construir suas preferências pessoais de acordo com o manuseio e sonoridade
desejada.
Neste guia, tomou-se a liberdade de configurar um kit básico de captação, com equipamentos
de qualidade profissional, tanto em sonoridade quanto em construção.
O kit proposto permite captar som direto tendo em vista as produções em vídeo e utilizando
como suporte de gravação de áudio a própria câmera.
Façamos agora a lista dos equipamentos para, adiante, explicarmos suas características, recur-
sos e aplicações.
Além desses equipamentos, é indispensável ter no set acessórios e ferramentas para eventuais
necessidades ou imprevistos. A lista abaixo contempla os itens mais comuns:
Mantas de Som
Espumas acústicas
Carpete
Fitas adesivas (Gaffer Tape, Esparadrapo e Silver Tape)
Adaptadores e conectores de áudio
Maleta de Ferramentas
Baterias e pilhas
Esse tipo é o mais comum em depoimentos e entrevistas nos quais o próprio repórter ou en-
trevistado manuseia o microfone. Tem como características a boa qualidade de captação de
voz, robustez e baixo custo. Deve ser utilizado a uma pequena distância (20cm no máximo)
da boca. Para evitar os pops gerados pelas consoantes P e B, recomenda-se o uso de espuma
anti-pop.
Esses pequenos microfones, também conhecidos como lavalier, têm sua utilização mais co-
mum nos programas de TV. Seu tamanho reduzido, alta qualidade e possibilidade de fixação
na roupa (liberando os movimentos das mãos) transformaram-no na opção número um para
telejornais, debates e entrevistas. A pequena cápsula é presa à roupa com um clip (de prefe-
rência próximo à área da cavidade toráxica) e seu fio escondido sob a vestimenta. Um adapta-
dor XLR permitirá a conexão com um cabo comum de microfone. Por ser um microfone con-
densador, também precisa de phantom power para funcionar. É ideal para planos nos quais
quem está “clipado” ficará sentado ou parado, mesmo que de pé. Em exteriores, sempre será
necessário o uso da espuma anti-pop por causa da sua alta sensibilidade ao vento.
TRAM 50; Sennheiser MKE 2; e Shure SM93 são exemplos de modelos usuais.
Na realidade, os microfones lapela sem fio são os mesmos lapela com fio, porém conectados
a sistemas de transmissão RF (rádio freqüência). A liberdade de movimentos que os sistemas
sem fio permitem ampliaram o uso dos lapela na TV e no cinema. O microfone lapela é co-
nectado a um transmissor (escondido sob a roupa) que envia o sinal de áudio, via RF, para um
receptor, evitando o uso de cabos que atrapalham ou limitam os movimentos. A desvantagem
desses sistemas está na possibilidade de aparecerem ruídos no áudio, gerados por interferên-
cias. Os sistemas sem fio dividem-se em VHF (Very High Frequency, entre 30MHz e
300MHz) e UHF (Ultra High Frequency, entre 300MHZ e 3GHz). Os sistemas UHF são me-
nos suscetíveis às interferências, contudo os VHF são mais baratos.
VARA DE BOOM
Esse acessório permite ao microfonista posicionar o shotgun o mais perto possível do som
desejado (em geral vozes) e permanecer fora de quadro. A vara consiste num corpo tubular
telescópico que pode ajustar-se a vários tamanhos e tem construção muito leve e resistente
(alumínio ou fibra de carbono). Os modelos mais sofisticados têm um cabo espiralado interno
para conectar o microfone.
SISTEMA BLIMP
Um sistema blimp tem três elementos projetados para minimizar a captação de ruídos pelo
microfone: pistola, zepelim e peludo. O primeiro elemento, responsável pela redução de ruí-
dos provocados pela manipulação da vara de boom, é a pistola. Ela tem um conjunto de elásti-
cos ou borrachas que sustentam o microfone e diminuem a transmissão mecânica de movi-
mentos do microfonista operando o boom. Os outros dois elementos são eficientes na redução
do ruído provocado pelo vento. O zepelim, para ventos fracos e moderados, é um cilindro de
estrutura telada e revestido com tecido, que deve ser acoplado à pistola. Finalmente, o peludo,
no caso de ventos mais fortes, envolve o zepelim, diminuindo a velocidade de incidência do
vento com seus pêlos longos. Sem esse sistema, é impossível garantir uma boa gravação de
som ao ar livre.
MIXER DE CAMPO
Essa quantidade de canais é suficiente para atender as captações de diálogos na maioria das
situações. Adiante explicaremos detalhadamente os recursos e possibilidades quanto ao uso
do mixer.
Entre os fabricantes deste tipo de modelo, destacamos o Shure FP-33, o Sound De-
vices 302 e o Wendt X3.
Esse equipamento é a única forma de monitorar com precisão o som direto durante a capta-
ção. É de extrema importância que o fone de ouvido seja: circumaural (cubra todo o ouvido
externo) para isolar os ruídos exteriores; confortável mesmo com uso prolongado; e tenha
ótima qualidade de reprodução de áudio. Não é má idéia ter dois fones para o caso de aciden-
tes com equipamento.
CABOS DE MICROFONE
São os cabos de microfone que transmitem o sinal de áudio até o mixer ou câmera. De nada
adianta ter um shotgun de qualidade superior se os cabos de microfone têm problemas nos
conectores, nas soldas, estão desencapados ou cortados. O cuidado e a manutenção dos cabos
irão garantir um sinal forte, claro e sem ruídos. Além disso, é necessário dispor de cabos de
tamanhos diferentes no set, pois cabos grandes ou curtos demais são inadequados para uma
boa captação. Cabos excessivamente longos podem captar interferência de RF (rádio freqüên-
cia) e cabos curtos demais atrapalham o manuseio da vara de boom. É indicado ter à mão,
pelo menos, um cabo curto (2m), um médio (5m) e um longo (10m) e, se possível, cabos de
reserva. Conectores XLR de qualidade proporcionam melhor passagem do sinal e encaixes
perfeitos. Devemos lembrar que “o elo mais fraco dita a resistência da corrente”, então, nada
de economia na compra dos cabos.
31
CAPÍTULO 6
OS MICROFONES
Quando comparamos os microfones com o ouvido humano, é preciso ter muita precaução
para não pensarmos que ambos funcionam de forma igual. Obviamente, tanto um microfone
quanto o ouvido tem a capacidade de captar as perturbações em um meio físico (em nosso
caso, no ar) e transformar essas oscilações em uma informação análoga ao fenômeno que
chamamos de som. No entanto, por que em pleno século 21, com as tecnologias e materiais
mais avançados de que a ciência dispõe, não temos ainda o microfone “perfeito” que emule as
capacidades do ouvido humano com precisão e resolva definitivamente as demandas da cap-
tação do som em qualquer situação? Não seria coerente ter, ao invés de vários microfones
diferentes, um único microfone que atendesse a todas as necessidades de captação? Ninguém
troca de orelhas para ouvir um show de rock, depois troca novamente para manter uma con-
versa no elevador e troca mais uma vez para apreciar os sons de um piquenique no parque.
Por que a indústria fabrica centenas de tipos de microfones diferentes, se tudo que nós quere-
mos é, simplesmente, gravar um “bom” som? A resposta é simples: nenhum microfone con-
seguiria juntar sozinho todas as capacidades e qualidades do sistema auditivo humano. É por
isso que, ao longo dos anos, a indústria desenvolveu tantos tipos de microfones e através do
uso cuidadoso e permanente pelos profissionais, esses equipamentos foram aperfeiçoados e
continuam evoluindo para responder às mais diversas necessidades no campo do áudio profis-
sional.
Dito isto, vamos definir o que é e como funciona um microfone e analisar suas características
e aplicações. Por conceito, todo microfone é um “transdutor”, ou seja, é um equipamento ca-
paz de transformar um tipo de energia em outro. No caso específico dos microfones, a trans-
dução converte a energia acústica do som em energia elétrica. Assim, o fenômeno sonoro é
transformado em uma corrente elétrica análoga que tenta representar, da melhor maneira pos-
sível, o som captado pelo transdutor. Existem diversas formas de fazer essa transdução de
energia acústica em elétrica, mas, para os nossos interesses imediatos, vamos estudar somente
32
dois tipos de microfones: dinâmicos e condensadores. Não vamos nos aprofundar muito na
teoria e eletrônica dos dois tipos, mas é útil saber, resumidamente, o modo como cada um
funciona.
MICROFONES DINÂMICOS
Quando vemos, na TV, um repórter segurando um microfone em uma reportagem de rua, nar-
rando um fato ou tomando um depoimento de um entrevistado, esse microfone certamente
será um transdutor do tipo dinâmico. O microfone estará bem próximo a boca ou da fonte
sonora desejada e, obviamente, será visto em quadro e por isso é normal usar uma canopla
(aquele cubinho onde se vê a logomarca da emissora ou programa) para melhorar a sua visua-
lidade. Por causa dessa posição próxima à boca e de seu formato, esse tipo de microfone é
carinhosamente apelidado de “sorvetão”.
Vamos ao modo de funcionamento dos microfones dinâmicos de bobina móvel. Na parte su-
perior desse tipo de microfone existe um componente que se chama “cápsula”. É nela que
estão as três partes principais do sistema de transdução: o diafragma, a bobina e o imã. O dia-
fragma é uma membrana muito fina que se move quando as ondas sonoras atingem o corpo da
cápsula. Esse movimento ondulatório faz o diafragma mover-se para frente e para trás, mo-
vendo também a bobina, um tipo de mola espiralada muito delicada e leve, que está conectada
à própria membrana. O corpo da bobina está envolto, em uma fenda, no imã permanente, e
seu curso de movimento dentro dessa fenda do imã é que vai gerar, por “indução” elétrica, um
sinal análogo ao som captado. É esse sinal elétrico que será transmitido como sinal de áudio
através do cabo até um mixer, câmera ou gravador.
delidade na captação das freqüências mais altas. Os microfones dinâmicos são indicados para
microfonação de voz a curta distância e captação de sons extremamente intensos como moto-
res, tambores ou explosões. Eles são a primeira escolha do vídeo-jornalismo quando a locação
é exterior, ruidosa e não há problema em ter um microfone em quadro. Os formatos buscam
um desenho mais confortável para manuseio e o uso de sistemas sem fio liberou bastante os
movimentos, assegurando para que não ocorram acidentes com cabos; mas é bom lembrar que
uma das mãos do repórter, apresentador ou entrevistado estará sempre ocupada com o micro-
fone, limitando assim suas ações.
O tipo de microfone mais usado nas produções audiovisuais é o shotgun. Utilizando uma tra-
dução literal do inglês, poderíamos chamá-lo de “espingarda”, e é bem claro que esse nome
vem da sua semelhança com o cano de uma arma. O formato alongado dos microfones shot-
gun deriva da técnica de cancelamento acústico de fase, que tem como objetivo a rejeição
parcial das ondas sonoras que vêm das laterais e da traseira do microfone; esse projeto baseia-
se em um componente chamado tubo de interferência. É esse tubo, acoplado à cápsula do
microfone e repleto de pequenas fendas, que permite uma maior direcionalidade na captação
do som, ou seja, selecionar o som que se deseja captar apenas apontando o microfone para a
fonte, filtrando todo o resto como conseqüência. As fendas no corpo do tubo, que jamais de-
vem ser obstruídas, geram um cancelamento das ondas sonoras que não são captadas no eixo
frontal do shotgun. É bom notar que o cancelamento não é total nem funciona igualmente para
todas as freqüências, gerando um efeito conhecido como “coloração” aos sons “fora de eixo”.
Quanto melhor a qualidade do shotgun, menos coloração ele imprimirá nos sons rejeitados,
pois o que se deseja é apenas atenuar em intensidade o ruído ambiente e não mudar suas ca-
racterísticas de timbre e freqüências. Um shotgun não fará desaparecer por completo os ruídos
do entorno, mas permitirá uma melhor inteligibilidade dos sons captados em sua “mira”. A
direcionalidade extrema tem outro preço: por melhor qualidade que tenha o shotgun, ambien-
tes reverberantes tendem a “colorir” o som captado fora de eixo, então, não se indica o uso
deles para locais com muita reverberação. Como resolver? Se possível, tratar o ambiente com
materiais fonoabsorventes ou utilizar microfones menos direcionais, sem tubo de interferên-
cia.
Existem dois tipos de microfones shotgun: curtos e longos. Escolher qual tipo utilizar vai de-
pender da distância da fonte sonora em relação ao microfone. Um microfone shotgun curto
não deve estar mais próximo do que trinta centímetros nem mais afastado do que três metros
dos atores. Se a produção é de baixo orçamento e não é possível ter microfones diferentes a
disposição, é recomendável ter sempre um shotgun curto no set porque a grande maioria das
tomadas vai exigir o uso dele. Um shotgun longo deverá ser usado quando a distância até os
atores superar três metros e é possível gravar bons diálogos com até cinco metros de afasta-
mento dos atores.
Como regra geral, quanto mais perto o microfone estiver da fonte, melhor a captação, levando
sempre em consideração o limite imposto pelo enquadramento, evitando a projeção de som-
35
bras nos atores ou cenário e buscando sempre a continuidade e consistência sonora de diálo-
gos e ruído ambiente entre os planos.
Os irmãos menores dos shotgun são os microfones de padrão polar “super-cardióide” e “hi-
per-cardióide”. Eles têm um ângulo de captação mais aberto, não são tão direcionais, não u-
sam tubo de interferência, e, como produzem menor coloração fora de eixo, soam mais natu-
rais. Seu uso é indicado em exteriores calmos, interiores reverberantes ou planos extremamen-
te fechados, nos quais se possa colocar o microfone mais perto do que trinta centímetros da
boca do ator. Por causa dessa proximidade é essencial o uso de uma espuma para evitar picos
de sinal por consoantes bilabiais (o famoso puf ou pop causado pelo B e pelo P).
MICROFONES DE LAPELA
Em produções de ficção, outra forma comum de usar os lapela é escondê-los sob a roupa ou
cabelo dos atores. Quando o plano é aberto demais para usar um shotgun, os pequenos lapela
são uma ótima opção para não precisar de dublagem na pós-produção. A desvantagem é a
perda dos planos sonoros, pois as vozes passarão a soar muito “perto”, independentemente da
distância em relação à câmera. Esse tipo de captação também deve estar cercado de cuidados
em relação a ruídos de cabos e roupas e problemas com impactos corporais ou suor dos ato-
res. Sem dúvida, o som captado com microfones de lapela não têm a mesma riqueza tonal e
36
“perspectiva” alcançada com os shotgun, mas podem ser a melhor ou única opção em alguns
casos, incluindo a colocação em pontos estratégicos da locação ou cenário. A isso chamamos
microfones “plantados” no set.
O grande parceiro dos lapela, em produções que exijam mobilidade dos atores, é o sistema de
transmissão sem fio. É preciso notar que os melhores lapela tanto podem ser usados com fio
como também em sistemas sem fio, trazendo a grande vantagem de combinar os componentes
de acordo com as preferências subjetivas, necessidades técnicas ou orçamento do usuário.
Com o avanço da tecnologia, esses sistemas estão cada vez mais confiáveis e acessíveis.
37
CAPÍTULO 7
OPERANDO O BOOM
A operação do boom é uma questão de técnica e equilíbrio muito mais do que força. Obvia-
mente, é necessário ter resistência física para suportar grandes períodos sustentando o peso do
equipamento, porém, com a prática, sua manipulação torna-se menos cansativa e mais relaxa-
da e intuitiva.
Quando o shotgun já está acoplado à vara de boom, é necessário ajustar sua extensão apropri-
adamente e conectar o cabo de microfone. Esse cabo deve ser levemente espiralado em torno
da vara, de modo que fique sem folgas. As folgas podem causas ruídos na manipulação que
serão transmitidos ao microfone. Três ou quatro voltas serão suficientes para manter o cabo
bem esticado. Não se recomenda prender o cabo com fitas adesivas, pois, se houver necessi-
dade de alterar a extensão da vara, será necessário descolar a fita, gerando perda de tempo
Para estender a vara de boom basta girar as travas de torção e, sempre a partir da menor seção,
ajustar a dimensão que seja apropriada para a manipulação. É recomendável não estender as
seções até seu limite para não forçar excessivamente as travas.
A posição clássica da vara de boom é acima da cabeça, sustentada pelas duas mãos. Na ex-
tremidade do fundo da vara deve haver cabo suficiente para permitir os movimentos sem atra-
palhar a manipulação.
Um bom microfonista deve ter ambidestria para operar o boom, ou seja, ter igual habilidade
com ambas as mãos. A mão que fica à frente deve ser a mão base; é ela que sustenta maior
38
parte do peso. Ela não deve se fechar ao redor da vara, apenas apoiar com firmeza enquanto a
mão detrás, segurando com o polegar embaixo e os outros dedos na parte superior, serve para
rotacionar a vara em seu próprio eixo. A vara deve passar acima da cabeça do microfonista
para melhorar o equilíbrio do corpo e minimizar a fadiga muscular dos braços. Respirar nor-
malmente e não travar o corpo em uma só posição é importante para manter os músculos rela-
xados.
Como já dito anteriormente, a posição clássica de operar e posicionar o boom é por cima dos
atores e os motivos são os seguintes:
Quando o boom está por cima dos atores ou entrevistados, eles têm espaço para mo-
ver-se sem se chocar com o microfone.
O microfone não tem fontes de ruído no eixo de captação, uma vez que está aponta-
do para baixo e, após os atores, só teremos o piso, que não é fonte de ruído.
A qualidade do timbre das vozes é superior quando captados por cima da cabeça.
Algumas vezes será necessário operar o boom por baixo, apontando o microfone para cima.
Em geral, usa-se essa técnica quando existem obstáculos acima da cabeça dos atores ou o piso
é muito ruidoso ao caminhar (cascalho, mato ou areia). Infelizmente, a tendência dessa posi-
ção é anasalar um pouco a voz.
O melhor “alvo” do microfone não é a boca e sim o centro do peito, o esterno. Manter o eixo
quando se aponta para o esterno é mais fácil, eficiente, e o timbre tem maior equilíbrio em
freqüências.
Observemos algumas dicas de como manipular o boom na posição mais comum, captando por
cima da cabeça:
39
!
Mão detrás: polegar por baixo permite rotacionar a vara usando o punho enquanto os outros
dedos prendem o cabo.
!
Mão da frente: a vara descansa sobre os dedos.
O cabo deve estar espiralado e sem folga para evitar ruídos no manuseio e movimentação.
Não se deve exagerar na quantidade de voltas em torno da vara.
40
O alvo do microfone deve ser o centro do peito do ator. Quando o boom estiver captando mais
de uma pessoa, é indicado posicioná-lo verticalmente, acima das cabeças.
!
!
!
!
!!!!!!!! !!!!!!! !
Três sugestões de posicionamento do boom, de acordo com a altura do ator ou enquadramento
da câmera.!
!
!
41
CAPÍTULO 8
GRAVANDO SOM DIRETO NA CÂMERA DE VÍDEO
A maneira mais simples de gravar som direto em um projeto audiovisual é utilizar as entradas
de áudio da própria câmera de vídeo. Os equipamentos necessários são: uma câmera com en-
tradas XLR (conector profissional de três pinos), microfones, cabos de microfone e um fone
de ouvido. Em geral, as câmeras semi-profissionais ou profissionais têm dois canais de áudio
com conectores XLR, fornecem alimentação phantom power para condensadores e possuem
ajustes independentes de ganho de entrada para cada canal. O par de canais de áudio permite a
gravação de dois canais mono ou um estéreo. O uso em mono é indicado para a captação de
vozes e o estéreo para ambientes. Uma vantagem em gravar áudio diretamente na câmera é
que se torna desnecessário sincronizar o som e imagem na montagem, uma vez que os dois já
serão registrados simultaneamente, no mesmo equipamento.
Apesar de não gerar os melhores resultados para o som, por não contar com pré-
amplificadores de extrema qualidade, nessa forma de captação de som podem-se conectar os
microfones diretamente na câmera para gravar o áudio, e obter qualidade aceitável. Escolhe-
se qual tipo de microfone utilizar, de acordo com as possibilidades técnicas e necessidades
estéticas, e simplesmente conecta-se ao canal de áudio da câmera. Após conectarmos cabos e
microfones, basta ajustar o ganho de entrada para ter a melhor relação de nível (volume) sem
distorção, ou seja, nem gravaremos com um nível de entrada muito baixo, nem permitiremos
um excesso de nível que estrague o áudio definitivamente. Para isso, pediremos que o repór-
ter, entrevistado ou ator fale com a intensidade de volume que fará durante a gravação – assim
poderemos ajustar previamente o ganho e teremos o melhor áudio sem distorção. É comum
ajustar os picos de voz entre -12dB e -6dB para termos uma margem de segurança até o 0dB e
não perdermos um bom áudio por excesso de sinal. Cada câmera tem seus recursos e caracte-
rísticas próprias e é necessário estudarmos cada modelo para sabermos utilizá-las com rapidez
e propriedade. Quando somos chamados para gravar som direto utilizando uma câmera, é in-
dispensável conhecermos fisicamente o equipamento (onde se localizam os conectores, botões
e comandos) e também dominarmos os ajustes de som internos, que em geral estão em um
menu dedicado ao áudio, nas configurações da câmera. Resumindo, é necessário conhecer
previamente a câmera, ou ao menos ter acesso ao manual do equipamento para não “desco-
brir” os recursos já na locação, pois isso é anti-profissional e atrasará o trabalho da equipe.
42
Lembre-se de que apesar de a operação câmera não ser responsabilidade sua, o áudio gravado
nela é!
O MIXER
O mixer é o “coração” do kit de equipamentos de qualquer técnico de som direto. Esse equi-
pamento é usado para receber, amplificar, controlar nível, rotear, misturar e dar saída nos si-
nais de áudio que vêm dos microfones, funcionando como um centro de controle da captação
de som. Os recursos e configurações dos mixers dependem do uso para o qual se destinam. Se
o projeto em vista é um documentário, com depoimentos nas ruas, ou será rodado em locais
de difícil acesso, a melhor escolha é um mixer leve, com poucos canais, e de construção resis-
tente. Se o projeto é uma ficção que será rodada em estúdio, num ambiente controlado, pode
ser utilizado um mixer maior, com muitos canais e com mais recursos. A depender do projeto,
o técnico deve avaliar as vantagens e desvantagens de cada modelo, sempre levando em conta
43
que a qualidade do áudio deve ser o primeiro ponto na escolha, seguido pela portabilidade,
pelos recursos e pela resistência do equipamento.
CAPÍTULO 9
CAPTANDO SOM COM UM GRAVADOR DE ÁUDIO
Gravar o som direto em um equipamento próprio para captação de áudio é uma opção que
aumenta a qualidade do registro sonoro e dá mais liberdade à equipe de som. Esse equipamen-
to chama-se gravador de áudio e funciona paralelamente à câmera, registrando separadamente
os diálogos e outros sons desejados. Ao contrário da gravação de áudio utilizando a câmera,
quando se usa um gravador é necessário sincronizar som e imagem posteriormente. O modo
mais fácil de fazer a sincronização é usando uma claquete no set.
Os atuais gravadores de áudio utilizam mídias digitais como suporte de registro, sendo os
mais comuns os cartões de memória e discos rígidos. Os arquivos de som são transferidos
para os computadores de edição via cabos digitais (USB ou FireWire) e não existe nenhuma
perda de qualidade. Tudo permanece no domínio digital do momento da gravação até a finali-
zação do audiovisual.
A operação e recursos desses gravadores varia de modelo para modelo, mas a estrutura básica
é sempre igual: canais de entrada, ajuste de nível, escolha da resolução de gravação (16 ou 24
Bits) e taxa de amostragem (44.1/ 48/ 96 KHz). As regras de controle de nível de sinal conti-
nuam valendo exatamente como quando se grava diretamente na câmera, ou seja, o maior
nível possível sem nunca atingir a distorção do sinal.
Uma vantagem dos gravadores é a possibilidade de ter vários canais independentes. Já exis-
tem equipamentos portáteis com até oito canais de gravação, o que dá uma enorme flexibili-
dade e segurança ao técnico, que pode gravar vozes separadamente, facilitando a edição e
mixagem na pós-produção. Um procedimento essencial quando utilizamos um gravador é
fazer backups diários. Após o final da jornada de filmagem, é necessário fazer uma cópia de
segurança do áudio captado. Alguns gravadores já têm drives de CD ou DVD para realizar
essa função; outros precisam ser conectados a um computador para transferir os arquivos de
som para uma mídia externa. É recomendável fazer o backup em duas mídias diferentes, por
exemplo: após transferir o áudio para um computador e gravar DVDs com os arquivos, man-
ter as duas cópias de segurança (no HD e nos DVDs) até a finalização do projeto.
A qualidade superior do áudio registrado em um gravador torna-o mais indicado nas produ-
ções que tenham mais recursos e disponibilidade de equipamentos. Cada modelo terá suas
45
Um procedimento muito útil e que facilita a montagem do som é enviar uma cópia do sinal
registrado no gravador para um canal da câmera. Isso é feito conectando, por meio de um ca-
bo, a saída analógica de áudio do gravador à entrada XLR da câmera de vídeo. Algumas vezes
é necessário ter plugues adaptadores de áudio para realizar essa conexão entre os equipamen-
tos; então é preciso checar antes e estar preparado para interligar gravador e câmera no set.
Chamamos a esse procedimento de “gravar um mixdown guia” para referência. Assim, se o
diretor quiser revisar uma cena, terá um áudio na câmera igual ao captado pelo gravador. O
mixdown também permite, na ilha de montagem, que o montador tenha uma referência, além
da claquete inicial, para checar o sincronismo ao longo da cena.
O uso da claquete e suas convenções devem ser conhecidos e dominados pela equipe de som.
Mesmo quando não há som direto, a claquete facilitará a identificação das tomadas pelo mon-
tador, mas ela não deve ser batida.
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A primeira convenção que iremos apontar é como identificar na claquete as tomadas sem som
direto. Quando fazemos planos detalhe, inserts, panorâmicos ou outras tomadas que, por indi-
cação da direção ou impossibilidade técnica, não precisarão de som direto, é necessário indi-
car na claquete que essas tomadas não terão sons associados. Nesses casos, devemos escrever
a palavra “MOS” na claquete. Ninguém sabe ao certo porque essa palavra é usada desde o
início do cinema sonoro; aqui estão algumas tentativas de solução para o acrônimo:
Segundo a lenda mais divertida para a origem de “MOS”, vários dos primeiros diretores de
Hollywood eram alemães e pronunciavam “Mit-Out Sound” em lugar de “Without sound” e a
corruptela se mantém até nossos dias.
O assistente nunca deve esquecer de escrever MOS na claquete das tomadas sem som para
que o montador não perca tempo, buscando um som inexistente.
Cantar uma claquete nada mais é do que falar, em voz alta e clara, as informações sobre a
tomada a ser filmada. Essa voz, junto com a batida da tesoura, garante a identificação e sin-
cronização de som e imagem dos projetos em película ou em vídeo com sistema de gravação
de áudio separado da câmera.
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Quando um assistente cantar a claquete, ele irá falar, em ordem, as seguintes informações:
Cena ou seqüência, plano e tomada. Por exemplo:
Claquete em frente à câmera, com foco e luz que permitam leitura e tesoura aberta.
Diretor pede para rodar “som”, técnico confirma “som rodando”.
Diretor pede para rodar “câmera”, fotógrafo confirma “câmera rodando”.
Diretor pede “claquete”.
Assistente “canta” a claquete (cena, plano e tomada), bate a tesoura e sai de quadro.
Diretor pede “ação”.
Quando não foi possível colocar a claquete no início por questões de foco e luz ou para não
desviar a atenção de pessoas ou assustar animais na cena.
Quando não foi possível colocar a claquete no início por questões de foco e luz ou para não
tirar atenção de pessoas ou assustar animais na cena.
CAPÍTULO 10
DICAS: GRAVANDO DOCUMENTÁRIOS E FICÇÕES
No caso de interiores, uma acústica ruim (excessivamente reverberante) vai prejudicar o som
gravado de forma definitiva. É impossível tratar um áudio com muita reverberação, e isso
deve ser feito na hora da captação com mantas e carpetes. Outra dica: nunca posicionar um
entrevistado em cantos de um ambiente, pois o reforço de freqüências graves prejudicará mui-
to o som captado. Se não há material fonoabsorvente para tratar o ambiente excessivamente
“vivo”, proponha à direção mudar de local. Interiores com poucos móveis, com superfícies
que gerem muita reflexão (banheiros e cozinhas), eletrodomésticos, animais, janelas e portas
abertas e vizinhança ruidosa são inimigos que devem ser combatidos na locação.
Usar os dois canais de áudio da câmera, com ganhos diferentes também é útil nessas situa-
ções. O ideal é ajustar o ganho de um canal para ter um sinal “quente”, com picos o mais pró-
ximo possível de 0dB (lidos visualmente no display da câmera) e o outro canal, com aproxi-
madamente -6dB de ganho. Isso garantirá que, caso ocorra uma distorção por excesso de sinal
no primeiro canal, o áudio do segundo canal poderá ser utilizado para substituir o momento da
distorção.
50
Não sejamos tímidos em pedir silêncio no set. Faz parte do trabalho cuidar para que o entorno
seja amistoso à captação de som. Seriedade e simpatia, em geral, conseguem que vizinhos
desliguem o som, curiosos calem a boca, crianças e animais sejam afastados do set e o silên-
cio seja relativamente mantido. O importante é não esquecer de explicar para as pessoas, de
forma clara e rápida, como o barulho prejudica o trabalho.
A próxima situação é uma entrevista ou depoimento em que não teremos muita movimenta-
ção do entrevistado. Se tivermos em mãos um lapela com fio, essa é uma boa solução, princi-
palmente para depoimentos longos que cansariam muito o microfonista com um boom ou no
caso do próprio operador de câmera ser o responsável pelo som. Teríamos duas opções para
configurar a captação de som: utilizando somente o lapela ou também o microfone da própria
câmera. Se quisermos priorizar somente o som da voz, enviaremos o sinal do lapela para os
dois canais da câmera, com o “truque” já descrito de termos ganhos distintos em cada canal
como segurança, se ocorrer uma distorção por excesso de sinal. Uma sala ou um escritório
silenciosos seriam os ambientes indicados para esse tipo de configuração, já que a paisagem
sonora não seria enriquecida pelo sons da locação. A segunda forma de captar seria registran-
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do também os sons ambientes com o microfone da câmera para mixar com o sinal do lapela
na edição. Se o ambiente tem informações sonoras importantes, esse registro é indispensável
para a construção da banda sonora. Por exemplo: um centro de compras, um aeroporto, um
sítio ou uma festa, todos esses lugares têm sons particulares que podem ser úteis na ambienta-
ção do depoimento e disfarçar a sonoridade “chapada” e sem perspectiva do microfone lapela.
Para finalizar, o uso do lapela com fio dará também a segurança de um sinal claro e sem in-
terferências de rádio freqüências.
Se a locação tem boa acústica e pouco ruído ambiente, pode-se optar pelo uso de um shotgun.
O resultado será um som mais natural e equilibrado, com uma percepção de profundidade e
riqueza de timbre bastante agradável. Posicionar o microfone o mais próximo possível é in-
dispensável. Perceba a necessidade de usar proteção contra o vento, mesmo que as rajadas
sejam somente ocasionais. Testar o melhor ângulo de captação durante um ensaio para o som
também vai contribuir para melhorar o registro da voz. Alguns técnicos gostam de captar com
o boom mesmo quando usam outros microfones para, caso se faça necessário, permitir a mi-
xagem dos sinais na ilha de montagem. Faça testes com as configurações acima, compare os
resultados e desenvolva suas próprias estratégias e modo de trabalho. As experiências do téc-
nico vão aperfeiçoando os métodos e dando segurança de realizar uma boa captação.
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LEMBRETES
Estar sempre atento aos menores ruídos que possam desconcentrar ou irritar o públi-
co. Uma cadeira que range sempre que o entrevistado se move, sapatos batendo ner-
vosamente no piso, roçar de mãos na roupa, brincos ou pulseiras, celulares e telefo-
nes fixos, eletrodomésticos e ar condicionado são as fontes de ruído mais prováveis.
Quando for colocar um microfone de lapela, seja gentil e explique o que está fazen-
do. Sempre tenha cuidado para não invadir a privacidade e intimidade do entrevista-
do.
O melhor microfone para registrar diálogos é o shotgun. Quando temos um set silencioso, o
uso do boom vai facilitar o trabalho de captação e dar qualidade em timbre e perspectiva so-
nora às tomadas. Em geral, um único boom é capaz de cobrir a área de ação de um plano. Isso
é bom porque se temos necessidade de dois booms teremos, como conseqüência, o dobro de
ruído ambiente captado. Em locações interiores, sem vento, use apenas a espuma no microfo-
ne para evitar ruído do deslocamento do boom atritando com o ar. Se a ação for em exterior
sem muito vento, basta o zepelim para evitar as rajadas mais fracas. O uso do peludo é indis-
pensável em exteriores com muito vento. Sempre priorize as vozes, registre o som do que a
câmera “vê” e aproxime o boom o mais que puder da fonte sonora. Peça ensaios para o som
quando as tomadas forem complexas e exigirem movimentos do boom ou deslocamento do
microfonista. Lembre-se: o bom microfonista pisa leve e mantém-se respirando normalmente.
Cada vez mais os técnicos estão utilizando microfones de lapela escondidos sob a roupa dos
atores. Ficou comum registrar, além do canal do boom, canais separados dos lapela para cada
ator. Isso funciona como segurança em caso de perda de eixo do shotgun, ruídos ocasionais
no set, e como solução para ambientes ruidosos ou muito reverberantes. Os cuidados básicos
são:
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Fixar e esconder o microfone lapela sob o figurino de modo que não haja ruído de
roupa, movimentos e respiração.
Esconder bem o transmissor para não aparecer por acidente na tomada.
Estar atento às interferências de RF (rádio freqüência).
Em algumas situações, é necessário esconder microfones no cenário para realizar uma boa
captação. Isso ocorre quando o plano é muito aberto, impossibilitando a aproximação do bo-
om e os microfones de lapela estão fazendo ruídos (roupas inapropriadas, cenas sem roupa,
interferência de RF). A solução é distribuir estrategicamente microfones plantados no cenário,
nos pontos mais próximos onde os atores irão falar. Móveis, plantas, quadros, luminárias,
tudo serve para esconder os microfones sem fio e salvar o registro das vozes durante as filma-
gens. O mesmo cuidado na fixação de microfones no corpo dos atores vale para os plantados
no set. Devem-se evitar superfícies que vibrem ou que serão movimentadas ou tocadas duran-
te a ação. A última dica é: não esqueça de retirar o microfone após terminar a captação – isso
ocorre com freqüência!
LEMBRETES
Peça para a direção para gravar os diálogos separadamente sempre que perceber que a
captação durante a tomada não foi satisfatória. Isso garantirá uma opção para o mon-
tador tentar sincronizar sem precisar dublar as vozes.
Nunca esqueça de gravar pelos menos um minuto do bafo de sala de cada set.
Grave sons adicionais importantes para a cena. Eles serão necessários para corrigir ou
enriquecer o trabalho de edição de som.
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CAPÍTULO 11
AGORA, UM PASSO ADIANTE
Após a conclusão da captação de som direto, qual o destino de toda essa informação sonora?
O que acontecerá com o áudio cuidadosamente registrado no set? Para responder a essas ques-
tões, vamos fazer um resumo dos processos básicos de edição e finalização da banda sonora,
compreendendo os caminhos que o som direto vai seguir.
Se o som direto foi captado na câmera de vídeo, e conseqüentemente já está sincronizado com
as imagens, a direção já terá os arquivos de imagem e som prontos para iniciar a decupagem e
escolha das tomadas desejadas. O montador carregará para a timeline do programa de edição
os clips para iniciar montagem do filme. A qualidade de captação e competência da equipe de
som direto aparecerá nesse momento. Os cuidados com o controle do ruído, a acústica dos
ambientes, posicionamento preciso do boom, manipulação silenciosa da vara, fixação perfeita
dos microfones de lapela e níveis adequados de sinal irão testemunhar a favor ou contra o
trabalho do técnico de som e microfonista. Se o som foi bem captado, isso permitirá ao mon-
tador fazer cortes e transições suaves, utilizar pouca ou nenhuma equalização de freqüências e
ajustar níveis de volume com facilidade.
Se o som direto foi captado em um gravador de áudio, o processo de sincronização entre ima-
gem e som torna-se necessário antes de qualquer outro procedimento. Utilizando os arquivos
de som captados no gravador, o montador irá usar o som da batida da claquete gravado no
início de cada tomada e para isso é preciso que esse som tenha sido captado adequadamente.
Por isso, é bom lembrar de aproximar o boom da claquete para gravar com clareza a “cantada”
e a batida. Após sincronizar as tomadas, inicia-se então o processo de montagem. É importan-
te que os arquivos de som estejam nomeados corretamente (cena, plano e tomada) para facili-
tar sua identificação. É importante também que um boletim de som direto, com informações
precisas sobre cada tomada, acompanhe o backup que será entregue para o montador. O bole-
tim de som direto é uma ferramenta indispensável para registrar quais tomadas foram boas
para o som e quais tiveram problemas, como perda de eixo de captação, ruídos, boom em
quadro etc. Um boletim bem detalhado permite um fluxo de trabalho mais rápido e eficiente.
A gravação de sons adicionais irá permitir que o montador enriqueça a banda sonora, por isso
o técnico deve gravar os ruídos e efeitos importantes para a possível utilização na montagem.
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Sons de ambientes, ações, passos, impactos e outros efeitos darão essencial contribuição para
a construção da paisagem sonora do filme. Existem bibliotecas de ruídos e efeitos sonoros
(em CD ou DVD) produzidas por companhias estrangeiras, porém os sons adicionais registra-
dos na locação certamente soarão mais coerentes e verdadeiros, evitando um estranhamento
na percepção do público. Ao final, a mixagem do som direto com música, efeitos sonoros ou
narração, quando for necessário, dará o polimento definitivo na banda sonora. A mixagem
deve ser realizada com um programa específico de produção de áudio, que conta com mais
recursos do que um software de edição de imagem. A pós-produção e mixagem de som são
processos extremamente importantes e dependentes do material sonoro captado no set. Se o
registro do som direto obtiver sucesso, conseqüentemente o trabalho de pós-produção será
mais fácil, menos corretivo e mais criativo.
Na atividade de captação de som direto, existem muitas evoluções tecnológicas que facilitam
enormemente o trabalho da equipe de som. Gravadores digitais com mais canais, sistemas de
monitoração em fio, sincronização de som e imagem com timecode, tudo isso vem facilitando
o processo de registro do som no set. Contudo, é bom frisar novamente, o que realmente faz a
diferença é o domínio técnico e o comprometimento com a realização de um bom trabalho.
Este guia, antes de tudo, pretende fazer “pensar” o som direto e a atividade dos envolvidos em
sua realização. A evolução não pode nem deve ser apenas tecnológica – é necessário tornar a
abordagem do som direto mais coerente e respeitada dentro da atividade audiovisual e, com
isso, certamente, alcançar a qualidade e expressividade que todos desejamos.
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REFERÊNCIAS
ALTMAN, Rick. Sound theory, sound practice. Nova York: Routledge, 1992.
HOLMAN, Tomlinson. Sound for film and television. Nova York: Focal Press, 2002
_____. Le livre des techniques du son, tome 2: la technologie. Dunod, Paris, 2002.
_____. Le livre des techniques du son, tome 3: l’ exploitation. Dunod, Paris, 2002.
YEWDALL, David Lewis. Practical art of motion Picture sound. Nova York: Focal
Press, 2007.
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GLOSSÁRIO