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Códigos e reprodução cultural: Basil Bernstein

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- Contexto de seu trabalho: sociologia crítica da educação (Inglaterra), a partir dos anos
60, (NSE).

- O Conhecimento educacional formal se realiza através de três sistemas de mensagem


(Inseparáveis, como afirmado na pág. 72):
- Currículo: define o conhecimento válido
- Pedagogia: define a forma de transmissão válida
- Avaliação: define a realização válida desse conhecimento, por parte do aluno.

- Bernstein não está muito interessado com o “conteúdo” do currículo (porque um tipo
específico de conhecimento e não outro, porque um é mais válido que outro). Sua
preocupação reside nas relações estruturais entre os diferentes tipos de
conhecimento que constituem o currículo e na relação entre os diferentes tipos de
organização do currículo e princípios diferentes de poder e controle.

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- Como exemplo das relações estruturais, em seus primeiros ensaios Bernstein


distinguia dois tipos fundamentais de organização estrutural de currículo:
- Currículo tipo Coleção: áreas do conhecimento fortemente isoladas (não há
permeabilidade entre elas) Currículo com alta Classificação, segundo os termos de
Bernstein.
- Currículo Integrado: As distinções entre estas áreas são muito menos nítidas
Currículo com baixa Classificação, segundo os termos de Bernstein.
Obs: a Classificação é uma questão de fronteiras.

- Ainda, segundo Bernstein, Independente do grau de Classificação do currículo, a


Pedagogia (forma de transmissão do conhecimento) pode ser com:

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- Alto Enquadramento: os professores possuem maior controle do processo de


transmissão (tempo para cada conteúdo, ritmo de aprendizagem) neste caso, os
critérios de avaliação são mais explícitos.
- Baixo Enquadramento: alunos possuem maior controle sobre seu aprendizado
(tempo para cada conteúdo, ritmo de aprendizagem) Neste caso, os critérios de
avaliação são menos explícitos.

- Assim:
- o Poder está ligado à Classificação a Classificação é uma expressão do
Poder (decidir o que é legítimo ou ilegítimo incluir no currículo). É distinto do
- Controle, que está ligado ao Enquadramento  ou seja, está ligado à forma
de transmissão.
- Bernstein afirma que o Poder e o Controle não são fatores que distorcem o currículo:
Existem diferentes princípios de controle.
- Por exemplo, numa situação de um currículo com FRACA CLASSIFICAÇÃO e BAIXO
ENQUADRAMENTO, existem diferentes princípios de PODER e CONTROLE, e estes não
estão ausentes.

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[no fim das contas...]
- Questão crucial para Bernstein: Como as estruturas de classe se traduzem em
estruturas de consciências. (na minha interpretação, ele deseja saber como ocorre a
internalização dos padrões de pensamento para as diferentes classes sociais)
- Obs. Bernstein assume que a classe social é simplesmente a posição que as
pessoas ocupam na divisão social do trabalho (mais especializada ou menos
especializada, mais ligada à produção simbólica ou a produção material, etc.).

- Neste ponto, Bernstein define o conceito de Código, como sendo a gramática


implícita e diferencialmente adquirida pelas pessoas de diferentes classes (cada classe
possui o seu código próprio).  Um conjunto de regras implícitas.
- Este código permite as pessoas distinguir diferentes contextos, distinguir os
significados relevantes em cada contexto e expressar publicamente estes significados
nos contextos respectivos.
- Bernstein cita um exemplo de código (não de classe, mas bastante ilustrativo): o
cumprimento com um beijo no rosto no Chile  para certas pessoas (estrangeiros,
como ele) é difícil saber quando e como beijar as pessoas (de que lado? Quantas
vezes?).

- Assim, a Classe Social determina o tipo de código aprendido;


- e o tipo de código determina a consciência da pessoa (ou seja, o que ela
pensa, os significados que ela realiza ou produz nas interações sociais).

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- Neste contexto, Bernstein distingue (de uma forma mais geral) dois tipos de código:

- O Código Elaborado: Os significados realizados pela pessoa são


independentes do contexto local;
- O Código Restrito: Os significados são dependentes do contexto local.
- Num exemplo prático: uma gravura de duas pessoas sendo descrita por dois grupos
de crianças.
- Um grupo pode descrevê-la como “ela está do lado dela” ou “Aquela é mais
alta que esta” (dependente do contexto, ou seja, da presença física da gravura para
que a explicação seja inteligível)  Código Restrito
- Outro grupo pode descrevê-la como “A criança mais velha está ao lado da
criança mais nova” ou “As crianças estão embaixo de uma árvore” (independente do
contexto, ou seja, da gravura de que se fala, a explicação é inteligível)  Código
Elaborado.
- Bernstein não hierarquiza estes códigos, apenas indica que são códigos diferentes.

- Como isto se liga à discussão de Currículo e Pedagogia?


- Para Bernstein, o Código é aprendido tanto na família quanto na escola e sempre de
forma Implícita, ao se viver as estruturas sociais em que o código se expressa.
- Assim, no caso do currículo, o código é aprendido não através do conteúdo explícito
das áreas de conhecimento, mas sim através do maior ou menor Classificação do
currículoe através do maior ou menor Enquadramento da pedagogia.
- Ou seja, é a estrutura do currículo e da pedagogia que determina as modalidades do
código que serão aprendidas.

- Deve-se situar a pesquisa de Bernstein no contexto da época: Existiam preocupações


com o fracasso educacional de crianças da classe operária e existiam reformas
educacionais que procuravam diminuir as divisões entre o ensino acadêmico
tradicional (dirigido às classes dominantes) e o ensino mais profissionalizante (dirigido
à classe operária).
- Neste contexto, ele procurava entender as razões deste fracasso educacional, bem
como compreender o papel das diferentes pedagogias na reprodução cultural

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