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O modelo de poder
A orientação sociológico-política, que parte das relações de poder para explicar a acção dos
camponeses, tem uma base mais realista que qualquer explicação behavorista ou histórico-materialista.
Não obstante o conceito de poder ser entendido num sentido demasiado lato, o modelo estratégico de
poder oferece certamente elementos válidos para compreender e explicar a acção dos camponeses. O
patrocinato (mecanismo de vinculação pessoal e/ou dependência do cliente em relação a pessoa
socialmente influente denominado patrono), enquanto expressão de poder e de controle sobre recursos, é,
sem dúvida, uma base que permite aos seus detentores não só dispor das fontes de riqueza, entre as quais
a força de trabalho, mas também organizar a distribuição dos bens de consumo, o que, consequentemente
reforça a sua própria posição económica.
De um modo geral, os camponeses sabem bem, empiricamente, quais são os seus próprios
interesses. No entanto, por interferência dos factores normativos, ideológicos (ex: a religião oficial),
podem também equivocar-se quanto ao carácter político dos seus “protectores” locais e “salvadores”
nacionais, bem como quanto à força dos seus adversários. A ideia táctica de duma balança de poder não é
aplicável á posição dos camponeses parcelares que, em relação ao poder, se encontram normalmente
dominados e em situação de impotência política.
Economia campesina
Estratégias Campesinas
2
Sobre economia campesina, cf. A. V. Chayanov (1924), in Análise Social, nº46, pp. 478-502.
3
Lourenço, E. O Labirinto da Saudade, D. Quixote, Lisboa, 1978, p.32.
Estudos feitos por alguns sociólogos e antropólogos apontam para a relativa autonomia das
economias domésticas campesinas, particularmente até aos anos de 1950-60. Alguns indicadores apontam
para a deficiência de infraestruturas agrárias; a baixa capitalização da agricultura, traduzível no baixo
grau de investimento de capital; a elevada percentagem de utilização de energia animal e humana; o
considerável quantitativo de unidades domésticas produzindo para autoconsumo; a ausência de processos
de fertilização química e de mecanização; e o baixo grau de educação e formação agrícolas, não sabiam
ler nem escrever. As estratégias campesinas encontram-se imbricadas no seu ser agir no âmbito da família
e nas relações de parentesco no concernente ao poder de disposição sobre a casa, incluindo a terra, a
organização do trabalho e os seus resultados; as atitudes calculadas sob as relações de patrocinato para a
obtenção de “jeitos” e “favores”; na venda directa nas feiras locais, mantendo um controlo mínimo nos
circuitos de distribuição; no esforço de evitar riscos inerentes aos sistemas de rendas e de impostos, no
evitar da proletarização, preservando no possível, a autonomia familiar e aldeã na base de hábitos
“comunitários” de entreajuda ora simétrica, ora assimétrica; na proliferação de filhos, e na adopção de
criados como forma de prover às necessidades de força de trabalho com um mínimo de custos e assim
manter a unidade doméstica.