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Universidade Federal do Paraná

Departamento de Zootecnia
Centro de Pesquisa em Forragicultura
(CPFOR)

ENILAGEM DE CAPINS TROPICAIS


Antonio Vinicius Iank Bueno - antonio.iank.bueno@gmail.com

INTRODUÇÃO
A confecção de silagem de capins tropicais é mais uma alternativa para
minimizar problemas de falta de alimento nas propriedades pecuárias.
Devido à falta de conhecimento por parte dos produtores e/ou dos
técnicos muitos erros são cometidos durante o processo, acarretando em
silagens de baixa qualidade. Os problemas mais comuns encontrados são:
fermentações inadequadas (mediadas principalmente por clostrídeos) que
acabam comprometendo a ingestão do alimento devido à formação de
compostos de odor desagradável (aminas biogênicas); produção de compostos
tóxicos por fungos; e principalmente baixa qualidade nutricional.
Apesar do baixo custo de produção da forragem e da boa produtividade
quando bem manejados, o uso de capins tropicais para ensilagem deve ser
avaliado com cautela. Isso porque o alto teor de umidade e as perdas durante a
conservação podem tornar a silagem de capim uma opção mais cara que
outras, como o milho, o sorgo e a cana.
Em condições não controladas de ensilagem, os baixos teores de
carboidratos solúveis e o alto poder tampão (resistência ao abaixamento do
pH) dificultam a estabilização da silagem de capim, e o pH mais elevado
propicia o crescimento de microrganismos indesejáveis, que conferem odor
desagradável e baixo valor nutritivo ao alimento. Esses problemas são
agravados quando o capim é ensilado no ponto de maior valor nutritivo (planta
jovem), com alto teor de umidade.

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Rua dos Funcionários, 1540 – Juvevê – Curitiba/PR – 80035-050
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CONFEÇÃO DA SILAGEM DE CAPIM
O momento ideal de corte é um dos grandes desafios na confecção de
silagens de capins, e deve ser feito quando a planta se encontra com teores
acima de 20% de matéria seca e quantidades satisfatórias de nutrientes e
carboidratos fermentáveis, os quais serão usados em parte pelas bactérias
responsáveis pela produção de ácidos no material ensilado e gerando a queda
do pH, preservando o material.
Caso o material seja colhido muito cedo, há produção de efluentes
(chorume) que carreiam grandes quantidades de nutrientes e apresentam
grande potencial poluente. A colheita do capim mais seco, em estado de
desenvolvimento muito avançado, acarreta menor disponibilidade de nutrientes
prejudicando a fermentação, e alto teor de fibra na silagem.

PONTO DE COLHEITA
No quadro a seguir são propostas algumas idades de corte para
ensilagem, para algumas espécies de gramíneas tropicais cultivadas sob
manejo agronômico adequado (podendo variar em diferentes regiões).
Quadro 1 – Ponto de colheita de algumas forrageiras tropicais para
confecção de silagem.
Espécie Primeiro corte Cortes subsequentes
Panicum sp. 80-90 dias 45 a 55 dias após rebrote
Capim-elefante 90-100 dias 60 a 70 dias após rebrote
Cynodon sp. 45-55 dias 30-35 dias após rebrote
Brachiaria sp. 70-80 dias 50 dias após rebrote

Nestes pontos de colheita a forrageira se encontra com menor teor de


umidade e concentração de nutrientes satisfatória. Porém, para a correta
confecção das silagens nessas idades de corte é OBRIGATORIO o controle do
excesso de umidade, o que pode ser feito com o emurchecimento da forragem
ou o uso de aditivos absorventes.

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EMURCHECIMENTO (PRÉ-SECAGEM)
A exposição ao sol logo após o corte faz com que o material cortado
desidrate parcialmente, aumentando a concentração de matéria seca da
forragem e permitindo a produção de silagem com bom valor nutritivo.
Quando cortadas às gramíneas irão apresentar cerca de 80% de
umidade, sendo que quando expostas ao sol no campo rapidamente chegaram
a 65% de umidade, valor considerado ideal para a ensilagem. Geralmente se
recomenda um tempo que pode variar de 4 a 12 horas, dependendo da
quantidade de água presente na pastagem e da intensidade da radiação solar,
temperatura e ventos.
Esta técnica é recomendada para capins que possuem alta relação
folha/colmo e hastes finas, pois a água presente na planta evapora para o meio
ambiente através dos estômatos, pequenas estruturas presentes nas folhas.
Porém deve se tomar cuidado com este tipo de prática, pois, períodos
longos de pré-secagem (acima de 24 horas) comprometem a capacidade
fermentativa da planta, elevando o risco de perdas.
Outro ponto importante é o tipo de maquinário que será usado para esse
processo, pois se for inadequado pode acarretar alta perda no recolhimento da
forragem. Pode-se trabalhar com implementos específicos (ceifadeira-
enleiradeira), ou adaptação dos implementos usados para produção de feno e
silagem.

USO DE ADITIVOS ABSORVENTES


Outra técnica interessante é o uso de aditivos sequestrantes de
umidade, os quais além de elevar os teores de matéria seca e diminuir a
produção de efluente, também podem fornecer substrato para as bactérias
fermentadoras, melhorando a qualidade final da silagem. Esse aditivos são
farelos e co-produtos agroindustriais secos, normalmente abundantes na
região. Eles são misturados à forragem úmida durante a ensilagem, em
proporções variando de 50 a 200 kg por tonelada de massa verde.
Ames et al. (2012) avaliaram adição de quirera de milho ou casquinha de
soja (ambos na proporção de 12%) em silagem de Tifton-85 com o intuito de

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atingir o 32% de matéria seca, e verificaram silagens com valores de pH
satisfatórios e menor teor de fibra. Da mesma forma, Souza et al. (2003)
puderam observar que a inclusão de 174 kg de casca de café por tonelada de
matéria verde de forragem foi eficiente em melhorar características nutricionais
em silagem de capim-elefante com alto teor de umidade, aumentando a
disponibilidade de nitrogênio e reduzindo os teores de FDN da forragem.
Rodrigues et al. (2005) trabalhando com polpa cítrica peletizada
concluíram que a adição desta nos níveis de 47 a 76 kg por tonelada de
matéria verde de capim picado acarretaram melhora na qualidade final da
silagem. Andrade et al. (2010) comparando o uso de farelo de mandioca, de
cacau e casa de café constataram que estes diminuíram o teor de umidade das
silagens de capim-elefante, reduzindo as perdas por e causando também
aumento na qualidade de características fermentativas.
A maior desvantagem do uso desse tipo de aditivo é a mistura com a
forragem no silo, que deve ser o mais uniforme possível no intuito de melhorar
as características fermentativas da silagem.

TAMANHO DE PARTÍCULA
Uma importante variável que muitas vezes é negligenciada, por falta de
conhecimento ou descuido, é o tamanho médio de partícula. Cuidados devem
ser tomados para assegurar boa picagem do material, o que vai favorecer a
fermentação e o consumo dos animais. Alguns fatores importantes: afiação das
facas e ajustes das contra facas, executadas a cada 20 horas de trabalho ou
quando a partícula estiver aumentando; eliminar folgas de acoplamento da
ensiladeira com o trator; manter a velocidade do trator e a rotação da tomada
de força que permita o corte uniforme.
O tamanho de partícula deve ser monitorado durante todo o período de
colheita, o que pode ser feito com o auxílio do conjunto de peneiras nomeadas
“Penn State Particle Size Separator” ou similar, ou ainda de forma manual.
Partículas de tamanho elevado dificultam a compactação impedindo a
expulsão do ar (oxigênio) fazendo com que bactérias aeróbias permaneçam
ativas por mais tempo provocando aumento da temperatura da massa e

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consumo de carboidratos solúveis. Para silagens de capim recomenda-se
tamanho médio de partícula entre 8-30 mm.
A redução extrema no tamanho de partícula pode promover maior
consumo total de matéria seca pelo animal, devido ao aumento na taxa de
passagem, porém pode ser prejudicial para vacas de alta produção. O efeito do
tamanho de partícula sobre o desempenho animal foi abordado no texto
EXCESSO DE PICAGEM NA SILAGEM DE MILHO: DESEMPENHO E SAÚDE
DAS VACAS, publicado no dia 24/10/2011 disponível em nosso site.

COMPACTAÇÃO
A compactação é uma etapa importante na confecção da silagem, pois é
através dessa prática que o ar é retirado do espaço entre as partículas de
silagem, sendo que quanto mais rápido e eficiente for essa etapa, melhor será
a qualidade do produto final, com maiores teores de ácido lático, açúcares
residuais e menor teor de nitrogênio amoniacal, sinônimo de degradação da
fração proteica.
A compactação ideal deve permitir atingir massa específica de 600
kg/m3, porém em caso de alto teor de unidade e compactação seja excessiva,
pode haver aumento na produção de efluente, e consequente aumento nas
perdas. Se o capim for corretamente emurchecido ou aditivado, esse efeito não
ocorrerá.
Tavares et al. (2009) avaliaram níveis de compactação na ensilagem de
capim-tanzânia (colhido aos 60-65 dias) usando polpa cítrica (5%) como
aditivo, ou emurchecendo o capim. Foram testados cinco níveis de
compactação (400, 500, 600, 700 e 900 kg/m3) e os autores verificaram melhor
qualidade nas silagens mais compactadas. Em condições práticas, valores de
massa específica acima de 600 kg/m3 são considerados ideais.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A ensilagem de capim possui alguns entraves, pois estas possuem alto
teor de umidade de baixo teor de carboidratos solúveis, sendo que se na

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tomados os devidos cuidados com os teores de matéria seca no momento da
confecção do material, o resulto obtido pode ficar longe do esperado.
Sendo assim o uso de ferramentas que podem auxiliar as características
fermentativas e nutricionais deve ser feito para que o a silagem possa ter a
melhor qualidade possível.

REFERÊNCIAS
ANDRADE, I. V. O.; PIRES, A. J. V.; CARVALHO, G. G. P.; VELOSO, C. M.;
BONOMO, P. Perdas, características fermentativas e valor nutritivo da silagem
de capim-elefante contendo subprodutos agrícolas. Revista Brasileira de
Zootecnia, v.39, n.12. 2010.

AMES, J. P.; NERES, M. A.; CASTAGNARA, D. D.; ZAMBOM, M. A.;


TEIXEIRA, M. A.; OSTAPECHEN, J.; SILVA, D. B.; MUFFATO, L. M.
Composição bromatológica de silagens de Tifton-85 acrescidas de aditivos ou
emurchecimento. In: XXII Congresso Brasileiro de Zootecnia, 2012,
Universidade Federal do Mato Grosso -Cuiabá. XXII Congresso Brasileiro de
Zootecnia, 2012.

RODRIGUES, P. H. M.; BORGATHI, L. M. O.; GOMES, R. W.; Efeito da adição


de níveis crescentes de polpa cítrica sobre a qualidade fermentativa e o valor
nutritivo da silagem de capim-elefante. Revista Brasileira de Zootecnia, v.34,
n.4, p.1138-1145, 2005.

SOUZA, A. L.; BERNARDINO, F. S.; GARCIA, R.; PEREIRA, O. G.; ROCHA, F.


C.; PIRES, A. J. V. Valor Nutritivo de Silagem de Capim- Elefante (Pennisetum
purpureum Schum.) com diferentes níveis de café. Revista Brasileira de
Zootecnia, v.32, n.4, p.828-833, 2003.

TAVARES, V. B.; PINTO, J. C.; EVANGELISTA, A. R.; FIGUEIREDO, H. C. P.;


ÁVILLA, C. L. S.; LIMA, R. F. Efeitos da compactação, da inclusão de
aditivo absorvente e do emurchecimento na composição bromatológica de
silagens de capim-tanzânia. Revista Brasileira de Zootecnia, v.38, n.1, p.40-49,
2009.

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