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Silagem de Cana: aditivos melhoram a qualidade

Artigos Técnicos

Publicado em 21/10/2005 por Revista Balde Branco

Se a cana-de-açúcar fresca, picada, já é considerada uma boa alternativa de volumoso para rebanhos leiteiros na seca, com sua
ensilagem, o produtor passa a contar com esse alimento durante o ano todo. Para isso, tem a disposição variedades produtivas e
adequadas para a alimentação animal. De acordo com Luiz Gustavo Nússio, professor do Departamento de Zootecnia de
Ruminantes da Esalq-Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz/USP, de Piracicaba-SP, "a modernização administrativa das
fazendas e a gestão baseada no retorno econômico da atividade têm observado na cana-de-açúcar a possibilidade de ganhos em
escala e aumento na lucratividade por área destinada à produção animal".

Nesse sentido, ele tem se dedicado nos últimos anos ao acompanhamento de experimentos com silagem de cana, na busca por
aditivos químicos e biológicos que elevem a palatabilidade do alimento e inibam as fermentações alcoólicas, que provoca perdas
de matéria seca, efluentes e no seu valor nutritivo. Explica que o objetivo é alterar "a principal rota fermentativa verificada nas
silagens, por meio da inibição da população de leveduras e do bloqueio da via fermentativa de produção de álcoois".

Quanto a esta solução, o professor da Esalq chama atenção para a escolha do aditivo, que deve ser baseada em critérios que
considerem aspectos como recuperação de matéria seca na ensilagem, estabilidade em aerobiose e o diferencial em desempenho
de animais consumindo tal alimento. "A justificativa para a adoção de um aditivo deverá considerar, além de resultados técnicos
satisfatórios, seu custo em contraste com o benefício proporcionado", enfatiza.

Dentre as opções em aditivos químicos, a uréia, o benzoato de sódio e o hidróxido de sódio (NaOH) têm sido os mais pesquisados
e aplicados, cada um com seus benefícios e limitações. Outra linha de aditivos que tem sido pesquisada e cujo emprego é
disseminado são os aditivos microbianos, os chamados inoculantes. Geralmente, estes contêm cepas de bactérias láticas, que
podem ser divididos em dois grupos principais: as bactérias homoláticas, que se caracterizam pela elevada e exclusiva produção
de ácido lático; e as bactérias heteroláticas, que produzem, em detrimento do ácido lático, quantidades significativas de ácido
acético.

Nússio explica que o uso de bactérias homoláticas em silagens de cana-de-açúcar tem sido evitado, uma vez que o principal
produto fermentativo desses microrganismos (ácido lático) é usado como substrato no metabolismo da levedura, potencializando
a produção de etanol. Cita pesquisas com bactérias heterofermentativas, notadamente, Lactobacillus buchneri, que registraram
reduções significativas na produção de etanol e nas perdas por gases e de matéria seca, uma vez que o ácido acético produzido
em grande quantidade por essa bactéria é um eficiente inibidor do desenvolvimento de leveduras.

Destaca também a perda de componentes nutritivos após a abertura dos silos, que também é um fator determinante do valor
nutritivo das silagens. "A exposição da silagem ao oxigênio no painel do silo, após a abertura, e no cocho é inevitável, permitindo
o crescimento de microrganismos aeróbios que causam a deterioração da forragem", observa ele, ressaltando que o efeito de
aditivos deve ser avaliado também em relação à estabilidade no período pós-abertura.

Pesquisas demonstraram aumento na estabilidade das silagens inoculadas com L. buchneri ou com mistura de Propionibacteriun e
L. plantarum, em relação à silagem de controle.
Contudo, o pH das silagens aditivadas com Propionibacteriun + L. plantarum foi mais elevado no período pós-abertura, indicando
possível degradação preferencial do ácido lático, em relação ao ácido acético.

Maior consumo e melhor digestibilidade

Para Nússio, a busca por novas opções de aditivos para a ensilagem da cana-de-açúcar deve ser uma constante, sobretudo, entre
os aditivos químicos e microbianos.
"Novas espécies e cepas de microrganismo novos produtos e formulações químicas, extratos vegetais, bem como a associação de
dois ou mais produtos, capazes de coibir o desenvolvimento e/ou a atividade de leveduras, devem ser considerados como metas
em futuras pesquisas" . A despeito dos critérios técnicos, Paulo Soeiro, gerente da Lallemand Animal Nutrition, fabricante de
inoculante para silagem de cana, destaca que o custo é um dos principais atrativos da silagem de cana em termos de matéria
seca, Além disso, estrategicamente, permite racionalizar a mão-de-obra na pequena e grande propriedade e manejar melhor
grandes plantéis. Os benefícios de custos se estendem também ao canavial, que fica mais bem aproveitado, com o corte no
momento de melhor qualidade nutricional da planta, adubação e aplicação no momento correto, conseguindo-se até cortes a mais
no ciclo do canavial.

"O uso de inoculante específico para ensilagens de cana limita a produção de álcool e diminui as perdas de matéria seca,
propiciando maior ingestão e melhor digestibilidade, com conseqüente melhoria dos resultados zootécnicos". Em termos de
custos, Soeiro explica que a tonelada de matéria seca na cultura de milho ensilada fica em torno de R$ 176/t/MS, enquanto a
tonelada de matéria seca da cana-de-açúcar com corte manual fica em torno de R$ 120/t/MS, ou seja, 30% mais barato. Levando
em conta a colheita com corte mecanizado, a tonelada de matéria seca cai para R$ 87,00.

"O resultado final dessa comparação significa que apesar da necessidade de corrigir a diferença nutricional quando utilizamos
silagem de cana, ainda fica muito mais barato do que quando comparamos com os custos em uma dieta com silagem de milho",
salienta. Outro especialista no tema, Jorge Pereira Jawabri, responsável técnico da Katec, que há 15 anos fornece inoculante
específico para silagem de cana-de-açúcar, observa que o mercado de inoculante para silagem de cana tem registrado um
crescimento entre 15 e 20%, o que demonstra que esses recursos estão atraindo cada vez mais produtores.

A tendência, segundo ele, tem sido acentuada à medida que se comprovam os resultados que garantem um volumoso de
qualidade e de menor custo, fatores fundamentais para rentabilidade da pecuária leiteira. "Para isso, o produtor acrescenta nos
custos com alimentação apenas de R$ 2,50 a 3,00 por tonelada de silagem".

Assegura que, além de inibir a fermentação alcoólica, o emprego de inoculante contribui para a estabilidade da silagem com a
abertura do silo, evitando a deterioração da camada da frente e também durante o fornecimento no cocho.

Preparo da silagem

O primeiro passo para obter uma silagem de cana de boa qualidade é a escolha da cultivar, produtiva e adequada ao consumo
animal. E importante observar que o momento de corte para ensilagem deve ser quando estiver no ponto máximo do valor
nutritivo, na seca. Além desses detalhes, merece atenção também o tamanho das partículas, que deve ser o menor possível, o
que contribuirá para se obter maior consumo de matéria seca.

As indicações para o processo de ensilamento devem respeitar os mesmos critérios indispensáveis para qualquer tipo de massa
verde que será ensilada. A aplicação do inoculante no momento do enchimento do silo deve seguir a orientação do fabricante. Em
geral, os inoculantes, na forma de pó, são diluídos em água e aspergidos sobre o material que está sendo ensilado, na proporção
de 100g a 120 9 para 50 a 60 t de cana picada, respectivamente. Em poucos dias, o silo está pronto para ser utilizado.

Fonte: Artigo publicado na Revista Balde Branco, agosto/2005

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