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A SUTURAI

(E- d, U,u, ,t,, ng,;,,.,,,,)

por JAOQ.UES-ALAIN MILLER.

CONCEITO D.d LÓGICA DO SIGNIFICANTE

u
Ü J:C: pi:' ::� dc �«::
c ta º
7e: :r dc���rn::
o �omc de lógica d o s.i$Wficante -lógica geral, na
medida cm que o seu funcionamento t! formal, cm rela.

=:
ção a todo, os campos d o saber, incluindo o da psicanálise,
que ela rege ao cspccificar-.&c nele - lógica mínima, na
d ni
=:�iii!'�:�a�:. :a:h� :Ju�fcl:Sa�: :
p

mcnto linear, que se vai organizando unifwmemente c m


cada ponto d o seu percurso neccssá:rio, Chamar a esta
s.i fi rc e
� «:� r: 1���;i.co:'1!�ridade p:o ::= !
como categoria, ela teve origem; conigir a sua dcclinaçto
lingufstica prepara uma importação, que não dcinrcmos
de fazer noutros discunos, desde que tenhamos reorga­
nizado o seu essencial.

º z � :�: :ª:��=��l�fºP;:
nci c

1 TCKtopublicado_c.w,,,-rl'....,,.,.D,o 1,
pade leva; � t;!er que se dissimule o facto de as con'
Hzam entre
certas funções serem bast:-;
, e
ções q.u�1 ra q ue não possam ser desprezadas sem des.
e n ios própri ament e analftJcos. .
1� �: �a�iodn
" Ao considerarmos a relaç�o entre ��ta lógica e aquela
design are mos como «I?g•c�» ( logicun,u) ach4-Ia-emos
ue da emergêD:cia
�ngular pelo fac.to de a primeira tratar da
outra e de ela se dever f�zer conhecer como lógica da
origem da lógica - quer dizer q1;1e .d� não seçue as suas
leis e q.ue, prescreve ndo a sua Junsd1ção, vai ficar fora
da 'sua Jurisdição. . .
Esta dimensão �a arqueologia _atmge-se pelo caminho
mais curto, por meio de um mov1�ento de retroacção a
partir precisamente do campo lógico, em que se. realiza
0 seu mais radical desconhecimento porque é aquele que
mais próximo está do seu conhecimento.
Que esta tentativa repita a que Jacques Derrida nos
ensinou ser exemplar da fenomenologia I apenas dis.si­
muJará às pessoas apressadas esta diferença crucial que
é o facto de o desconhecimento ter aqui o seu ponto de par­
tida na produção do sentido. Digamos que ela é constituída
não como um esquecimento mas como um recalcamento.
Escolhemos para designá-la o nome de sutura. A sutura
dá o nome à relação do sujeito com a cadeia do seu dis­
curso; veremos que ele fi gu ra a( como o elemento que
falta, sob a forma de um «lugar-tenente». Porque, ao
faltar nela, ele não está pura e simplesmente ausente dcla.
Sutura por extensão, a relação em geral da ausência
com a estrutura da qual ela é elemento, na medida em
que ela implica a posição de um «lugar-tenente».
Esta exposição serve para articular o conceito de sutura,
não referido como tal por Jacques Lacan, se bem que ª
todo o instante presente no seu sistema.
Que fique bem claro que não é como filósofo ou com�
aprendiz de filósofo que eu falo aqui - se o 616sofo
de
� Husserl: L'origine dt la glomltTU, tradução e introduçã
o

Jacques Derrida, P. U. F. (1962).

212
aquele de que Henri Heine diz1 numa frase citada por
Freud, que «oom a sua touca de dormir e os farrapos do
seu roupão tapa os buracos do edifício universal» Ma
abst�ham-se de julgar 9ue a função de suturaçãd lhe :
particular: o que cspecific! o filósofo é a determinação
do cam_PO do seu cxercfc10 como «edifício universal».
O _que. mtcrcssa é que se convençam que o lógico, como
o _Imgu1sta, no seu nfvel, sutura. E, do mesmo modo, quem
diz «eu»,
Perfurar a sutura exige que se atravesse aquilo que
um discurso explicita de si próprio -- que se distinga,
do seu sentido, a sua letra. Esta exposição ocupa-se de
uma letra morta, Fá-la viver. Não nos admiremos, por
isso, de ver o seu sentido morrer.
O fio condutor da análise é o discurso ex,eosto por
Gottlob Fregc no seu Grundlagtn der Arilhmthk 1, para
nós privil.-�ado p orque põe em questão estes tcnnos que
a axiomática de Peano, suficiente para construir a teo-
�ber�08o �!:C, cro ra ri
Jc :::�. �s'd/��:cr::� Sc :�=r t
Esta discussão da teoria, ao dissecar,c da axiomática cm
que ele se consolida, o seu suturant 1 revela-o.

O {ERO E O UM

A questão, na sua forma mais geral, enuncia-se:


Qpt i qut funciona na sequência �os nú'!1eros
inteiros naturais com que � necessário relac1onar
a sua progressão?

�ex.to e tradução ingleses blicados aob o titulo TM/ovndo.li#fu


S).
o/ "';�:·b:: d:acd:':l�(�:!t� por Frege ao seu ponto de vista
n

interasar! à nossa le i tura , que ae manter:i, portanto, aiu&ncfid!" tema-


e r
�todan!!' t�� 1!t�!:i�: ! ��i� �::.°ica� J'.= ':
e ia

deduz a sua nlo saturação.


2/3
A rcspo,ta, revelo-a antes de a a tingir, � que:

:!d�'!=doda�]��:
cida, opera ,
Certamente que esta proposiçlo toma o upccto de
q
:11::::c:: !n:'ta �� ri:::� di �:e, = �J!
a u d

empirista, se afirma essencial p ara fazer passar a coisa


à unidade e a colecção das u nidades à uni dade do número:
uc porta u opera.
�:c�lo� su
��� ::�:· ; d
a

Para a unidade assim assegurada ao individuo COtno


t:=t���a li t
o :U :!,� b:i ��i :r'tdC:�n::
d u

faz do sujeito o produtor da ficção, salvo se o reconhecer


d:un: r�: � ��:�-�i�:i7;, e::.n�d:
t d

o discwso polltico neste encontro uma posição dominante


que aparece confessada cm Occ am, dissimulada ern Locb:,
antes de se tomar desconhecida na sua posteridade.
Não há, portanto, dúvida de que é um sujeito, definido
pelos seus atributos, cujo reverso � polfttco, dispondo
como poderes de uma faculdade de memória ncccssiria
para encerrar a colecção sem deixar perder elementos
q ue são permutáveis, e de repetição operando indutiva•
mente, que Frege, que lo�o de entrada se manifesta con·
tra o fwidamcnto empirista da matemática, exclui do
ca mpo cm q ue está para aparecer o conceito do número,
Mas se mantivermos q ue o sujeito não se reduz, na
sua função mais essencial, ao psicológico, a sua ,xdasão

C::5!�=.
pa ra fora do campo do número identifica-se com a r,pt­
tifão. O que se trata de demonstra r.
Sabem que o discuno de Frcge se desenvolve a pa�-
f d
:: �o :�:fto, do �;�: e �';o��u::::
1

ções: a primeira, do conceito com o objecto, a aubsuDÇA0 ,


'"
da do conceito com o nó.mero, que será para nós
: :Uçio: Um nó.m e ro � atribufdo a um conceito que
subsume obJectos.
cci: a� rJ:U�t� te� !i;::ncl� p�ra_ rcl��:a 00:;
fi ª as e

mantbn, pelo facto de .subsl!mir o objccl? subsu�o?


Do snesmo modo, a eXJstblc1a de um objecto vem-lhe
aJ)C!IU do facto de se encontrar englobado num conceito,
nenhuma outra de te rminação contribui para a sua cxis­
tblcia lógica, de tal modo que o objecto toma sentido
�a diferença que tem e m re lação à coisa integrada,
pela sua localização e spacio-tcmporal, no real.
Por aqui se v! o desapare cimento 9,ue se deve cfectuar
da coisa para que ela apareça como obJecto - que � o coisa
na medida ,m qru el4 I una.
Compreendem que o conceilo que opera no sistema,
i b
� r::: :O!c!: �u;)k�do �: �:!;z; J� �den�d� :: :;
o d i ç ç

Esta duplicação, induzida no conceito pela identidade,


&Oll&fflo.

di origem à dimensão lógica, porque, efectuando o desa­


parecimento da coisa, provoca a cmergencia do numeráve l.
é
e º e

cclJ�«Õ @C:, à: ::=o� � �e
u
ê!���t!:.�"n:
para os subsumir Pélopes e Teledamos. Não posso atribuir um
nó.mero a esta colecção a não ser que faça intervir o conce ito
«identico ao conceito: filho de Agamémnon e de Cassan­
dra». Pelo efeito da ficção deste conce ito, os filhos intervêm
a�a na medida em que cada um é, se se quiser, aplicado
a 11 próprio - o que o transforma e m unidade, o faz pauar
�o estatuto de objecto, como tal numerive1. O um da ulUdade
SJngular, esse um do idêntico do subsumido, esse um é o
qu� tem de comum todos 01 núme ros para se rem, antes de
mais, constitufdos como unidades.
Deste ponto, p da atribuição
do :úmero con ode m de duzir a definição
b u, : forme a fórm ula de Frege, «o número atri-
- 0. ao conce ito F é a extensão do conce ito idêntico ao
cito F».
O sistema ternário de Frege tem como eíeito deixar
à coisa apenas o suporte da sua identidade consigo, na qual
da é objecto do concei to operan te e numerável.
Do processo que acabo de seguir, tomo a liberdade
de concluir esta proposição, cuja incidência iremos em breve
avaiiar, que a unidade que se poderia denominar unifeank
do conceito, na medida em que o número a atribuir se
subordina à unidade como distintivo na medida em que ela
suporta o número.
Quanto à posição da unidade distintiva, deve situar-se
o seu fundamento na função da identidade que, conferindo
a todas as coisas do Mundo a propriedade de serem unas,
realiza a sua transformação em objectos do conceito (lógico).
Neste ponto da construção, sentirão certamente o valor
da definição de identidade que vos vou apresentar.
Esta definição, que deve dar o seu verdadeiro sentido
ao concei to do número, não lhe deve pedir nada empres­
tado t - com o fim de dar origem à numeração.
Esta definição, que é eixo no seu sistema, vai Frege
buscá-la a Leibniz. Está encerrada neste enunciado: tatúm
sunt quorum unum potes/ whstít11i alteri salva vnil6tt.
Idênticas, as coisas que se podem substituir umas à
ou tras, salva verilatt, sem se prcjudirar a verdade. .
Avaliam, sem dúvida, a importância do que se reahza
neste enunciado: a emergência da função da verdade.
Contudo, o que nele se consider.a como adquiri�o in:iporta
mais do que aquilo que ele cx�nme. A saber: a 1denu?ade­
-consigo-próprio. Que uma coisa não possa ser subst1tulda
por ela própria, que acontece à verdade? A sua subversão
é
ª��!�;;irmos o enunciado de Leibniz, o desfalecimento
da verdade, cuja possibilidade . fi�a por um m<;iment

disponível, a sua perda na subst1 t. u1ção de uma co: rc:.
outra, seria imediatamente segmdo do seu resta , .

1 }t por isso que se diz identidade e não igualdade

2/6
IPCJl.lO numa nova rcl�ão : a verd a d enc?ntra-se no facto
.
sa substituíd a, porque 1d ên t1 ca a si mesma.
de que a coi
f:

e orde�
r:1di::!�U::i: fe t �� � �e:1a! � l� é a�i�!fá:Ci.
t f

Mas que uma coisa não sej a id ênti ca a si mes mll subverte
i

0 campo d a
verdade, a rTuína-o e a bole-o.
Compreendem d e que modo � que a sobrevi�nci a da
::P. a e�:ss �;:
l

ra q
�� :oi: :o �tJ���- ªo i c&:r��.-�t�
e d st i

5
si

ª
'*A � ,. c:d; �ºi: íid;:1ica
c
�V::
Façamos agora funcionar o esquema de Frege, quer
dizer, vamos percorrer esse i t inerár io d ividido cm três etapas
t!�fd:!:� �:���� �;:i���d:s�: x�� !��t�
r i is º

que 1011\a lugar no e squema não é o conceito em rico,


5 c nc :i
����:c!\i�\°c1:!��tid i��� :��::��ci�o � o ��prioxx:
como unidade. Dessa ma nei ra, o n úmero, e é o terceiro
termo do percurso, que é a1r i buldo ao conce i to de X será
o número 1. O que quer dizer que esla íunção do n úme ro 1
I! repeti t iva para toda s as coi sas do Mundo. Aeonteet',
portanto, que este 1 se limi t a a Sl'r a unid ade que cons titui
o número como tal, e n ão o 1 na sua identidade pessoal
de número, no seu lugar parl icular, com o seu nome próprio,
na scqublcia dos n úmeros . Além disso, a sua construção
exige que se convoque, para a 1ra nsforma r, uma coisa do
�undo -o que não se pode fazer, diz Frcgc: o lóg ico deve
limi. tar-se llnic amente a si mes mo.
Para que o número passe d a repetição do 1 do idb11ico
à a�a .succssão ordenada , para que a d imensão lógica ganhe
decid idamente a su a autonomi a, é necess ário que o zero
apareça sem nenhuma relação com o real.
ObUm-se o seu aparecimento porque a verdad e é.
� é o . número a tri buíd o ao con"c:eito « não i dêntico a �».
Ea rn efe11? c onsideremos o concei to «não idêntico a s rn.
te
1 ª e
llrn ot:�o::r, .W,,,%8:� :t�d:nd: a ��; :�e��de�:
i s

217
nenhu m conceito vem no �ugar do su bsumido deste con.
ceito, e o nú mero que quahfica a sua ex tensão � zero.
t r e
ele �:��,:n�: i: ;,:;ãi� ��/diz ;/��:�d :d��e
m i

Se nenhum objecto 16 englobado �lo conceito da não-iden ·


tidade-co11:5igo, � f.>Or.que � nec essário salvar a verdade. A�
seu conceito, atnbw-se o zero.
t o enunciado decisivo q ue o conctil6 da não-identidade�,,.
sigo l atribllúlo ao número <ftO qu e �utura o discurso lógico
Porque, e atravesso aqu i o texto de Frege, na constru:
1
�6; J� ��: r:C �!���íla°�:�1:�:r:�rer��ci:��:i·
u n

evocar, ao nível do conceito, um objecl4> não idintit:o a si....'.


rejeitado c m seguida da dimensão da verdade.
O O [zero] que se inscreve no lugar do número coruuma
a exclusão deS!le ob jecto. Quan to a este lugar, designado
pela su bsunção, em que falta o objecto, nada poderia ser nele
wcriro, e se � necessário escrever ai u m zero, � apenas para
que aí figu re um espQfo DOJ.:io, para tornar visível a awên.cia,
Do zero ausênci a ao zero número conceptualiza-se o
não conceptu alizável.
Deixemos agora o zero ausên c ia que eu revelei, para
considerarmos a�nas o que produziu a alternância da
sua evocação e da sua revogação, o zero número.
O zero en tendido como u m número, �ue atribui ao
conceito q ue su b sume a ausência de um obJecto, �. como
tal, u ma coisa - a primLi.ra coira não uai '!'l petutnMf!"'·
Se a partir do núm ero zero se constrói o conceito,
ele su bsu me, como seu único ob jccto, o número zero.
O 5
cada
õ1�:::ro'! de fr��� ����i��:· pri:1cir!1a�o, em
ª

um dos lugares que ele fixa, de u m elemen to: �o número e ao


zero ao seu conceito, dest e conceito ao seu obJccto
1
seu número. Circulação que produz o 1 •

dá • definição ai.uacta d,.


�acrvo O comentário do § 76 que
conti,uitfade.

218
r.,ce si,tema é, portanto, comtitufdo de tal fonna
Q10 ..,,,. ...., f. A contagem do O por 1 (cmquanto
f"' 00 conceito de zero não subsume no real mais do que
que
vazio) é o suporte geral da aequbcia � n'dmeros.
uffl t O que demonstra a anüisc de Frcge sobre à. operação
do su� cessor a qual conJiste em obter o nó.mero que segue
11 tando-lhe uma unidade: n' succaor de 11, é
igual · a 11 + 1, ou �a . . . n . • • ln + 1 = )n' . . . Frege al,r,
0 11 + t para
descobnr o que se passa na passagem de 11
P3õ O
p=d��!;te engcndramcnto, ràpidamente vos
za
r e q
apc f ::C�'c!o� �':at ;�; =� «Ô �� :tri�
Co ao conceito : «membro da seq uencia de nómeros
naturais que terminam por n» segue imediatamente n na
sequencia dos números naturais. »
C,onsidercmos um námcro. O tr&. Serve-nos para
constituir o conceito : «membro da seq uência dos nó.meros
naturais terminados cm tres». Acontece que o nó.mero
auibufdo a este conceito é quatro. AJ está. o 1 do 11 + 1 .
De onde vem ele?
Atribuído ao seu conceito duplicado, o número 3 fun­
ciona como o não unificante de uma colecção : reserva.
No conceito de «membro da sequência de nó.meros natu­
rais terminando em 3», ele é tcnno (elemento e elemento
final).
Na ordem do rcaJ, o 3 subsume trb objcctos. Na ordem
do número, que é a do discurso submetido à verdade, são
:t:n;::a: :e :e ��ntam, e antes do 3 hã tds números -
t
Na ordem do número, h4 ainda o O, e o O conta por 1.
A deslo cação
te o, implicade um número da função de reserva à de
r
0 m e no re a somação do zero. Donde o sucessor.
ao qu_ al é ausência p ura e simples, encontra-se devido
rn��ero (e à instância da verdade.) notado O e contado
po

219
t, por isso que dizemos o objecto não idbitico a si
provocado - rejeitado pela verdade, institufdo - anulado
pelo discurw (a subsunção como tal), numa palavra:
suturado.
A emergência da ausência como O e do O como 1 deter­
mina o aparecimento do sucessor. Seja 11; a ausência
fixa-se como zero que se fixa como 1 ; 11 + 1 ; o que se
acrescenla para dar n' - que absorve o 1 .
Certamente, s e o 1 d o n + 1 não é mais d o q4e a conta
do zero, a função de adição do sinal + � inútil, é necessá­
rio restituir à representação horizontal do engendramento
a sua verticalidade: o l é tomado como símbolo originá­
rio da emergência da ausência no campo da verdade e o
sinal + indica a ultrapassagem, a transgressão pela qual
ia c r uz
��ioªd!�� dik:n�; ;i?�:�:��!�r�� ��!! � ��
de sentido, o nome de um número.
A representação lógica esmaga este escalonamento
em três rúvcis. A o peração que eu efectuei desdobra-a.
Se considerarem a oposição destes dois eixos, compreen­
derão o que se passa com a suturação Jógi.ca, e a dife­
.,,,.,.
rença entre a lógica que eu vos apresento e a lógica logi­
Que zero I um número: tal é a proposição que assegura
à dimensão da lógica a sua clausura,
Para nós, reconhecemos no zero número o «lugar­
-tenente» suturante da ausência.
r
Ber!� ��:u aªi%�i�� �: !:a l��Ji:iç�:�ri�ã
s s ç

exterior à sequência dos números?)


A repetição geradora da sequência dos números t
mantida pela passagem do zero ausência, segundo. �m
eixo primeiro vertical, ultrapassando a barreira e ��
o campo da verdade para af se representar como)u,
do-se em seguida como sentido em cada um dos �omes ª
dOII números que são inclufdos na cadeia metonfnuca da
progressão sucessorial.

"'
Do mesmo modo que se preocuparão com distinguir
0 zero corno ausência do obJec to contraditório, daquele
que su tura esta ausência n a sequênc ia dos n úmeros, devem
distinguir o 1, n ome próprio de um número, daquele que
vem a fixar num traço o zero do não idêntico a si suturado
pela identidade-a-si, lei do discurso no campo da ver­
dade . O paradoxo central que têm de compreender
(é como verão den tro de instantes, o do signific an te no
se�tido lac aniano) é que o traço do idêntico representa
0 não idêntico, donde se deduz a imP'?ssibilidade da sua
duplicação 1, e por esse mesmo c aminho a estrutura da
0 d
rtpe�::: s� ;�etuê�:: de �ú���7 �;:n11�fa �ct; :!:;
º c

começa pela sua me táfora, se o O membro da sequên c ia


n

como número é apenas o «lugar-tenente» suturante da


ausênc ia (do zero absoluto) que se movimenta sobre a
cadeia conforme o movimen to alternativo de uma repre­
sentação e de uma exclusão - qual é o obstáculo para
er n
:úC:�, a !a: �f:C�t!� �:ticil:ç� d: ::��:� �u: �
sujeito mantém com a cadeia signific ante?
1 t 0 c 0

O objecto imposslvel, que o discurso da lógica con­


voca como o não idêntico a si e rejeita como o n egativo
puro, que ele convoca e rejeita para se constituir como
o que ele é, que ele convoca e rejeita sem qiurer saber dei,
para nada, chamamos-lhe nós, na medida em que ele fun­
ciona como o excesso operante na sequência dos m.\meros,
o sujeito.
A sua exclusão para fora do discurso que interiormente
ele
rc::r�n�i:· agora o traço como o significante,
se fixamos ao número a posição de sipificado, é neccs-
56.rio considerar a relação da aus!ncia ao traço como
lógica do signific ante.

1 E, a um outro nlvel, a impoaibilidade da metal inguagem.


REl.AÇÂO DO SU]EITf? E DO SIGNIFIC,t}ITE

��d���::iz:��sit�; �l1:?t�� 1�:!���:; �::


e i

a identidade. do único como b�� da verdade. Esta �:


ção, na medida em que é mat nc1al, não poderia ser intf':­
grada. numa definição da objectividade - é isso que
doutnna o dou tor Lacan. O engendramento do zero a
partir dest a não identidade consigo, sob a alçada da q� al
nada no Mwido cai, ilustra-o bem.
O que constitui est a relação como a matriz da cadeia
deve est ar isolado nesta implicação, que torna detenni­
nante da exclusão do sujeito fora do campo do Outro,
a �q,a represe!ltação J_lC�te. campo .sob a forma do uno, do
úmco, da unidade d1st muva, de-s,gnada por Lacan como
o «wiário» (i(wia ire»). Na sua álgebra, esta exclusão
e stá marcada pela barreira que vem importunar o S do
sujeito perante o grande A, e que a iden tidade do sujeito
desloca, conforme a mudança funda mental da lógica do
significante, para o A, deslocamento cujo efeito é a emer­
gência da signjficação signific ada no sujei to.
Esta exterioridade do sujeito ao Ou tro. não é alte­
rada pela mudança da barrei ra, in�ti tui!1do o inconscien1e.
Porque - se é claro q�� a tnparução 9.ue . �lona:
t ) o signlficado-com-o SUJe1to; 2) a cad.e1.a s1gruficante
cuja aheridade radical em relação ao su1e1to º. expulsa
do seu campo, e, finalmente, 3) o c<!mpo e_xtei:i,or de�ta
rejeição, não pode ser co�erta pela d1cotonua �m�st1ca
do signlficado e do sigmficante - se a. consc1&:ic1�6.ca d

sujeito deve ser situada ao nivel dos efe�tos de s1�exos
ç.1.0 regidos, até ao ponto d se poderem d zer seus re �
pe ç J
pela repet ição do significante - se a própna re
produzida pela diluição do sujeito e a sua pa�agem .��;
e i
ti ão

ausência -, então nada existe a nã? �er o mcodda na


que possa nomear a progressão consutumte da ca
ordem do pensamento.
Ao nJvel �c_s�a constituiç�• a definição do auJei o
. t
rcdu-lo d: posnbilidade tú um �gnifieanu a mais.
Não seni. deful!tivo que é a cata função de ellCC8IO
que se pode reduzi!' o poder de tcmatização que atribui
de :i:!:J:,�::JnJ?rf ��1:!°:i: =t�
:: ;��:�. e�:3:dei:, i;:: !':n;� ro:r: u':!::
i men

segunda,e sabendo que a primeira é verdaacira, pode-se


continuar atd ao infinito» 1 .
Para que o recurso ao sujeito como fundamento da
repetição não seja um recurso à psicologia , basta substi­
twr a tematização pela representação do sujeito (enquanto

��� ii;�� �a:, =�!t�!� ����:d�e':.


1
dadc, para o significante que a precede.
Q,iando Lacan faz depender da definição do signo como
o que representa algu ma coisa para alguém, a do signi­
ficante. como o 9.ue represente. o sujeito para um outro
significante, considera antecipadamente que, no que diz
respeito à cadeia do significante, é ao nlvel dos seus efei­

=�
tos e não da sua causa que se deve situar a consciência,
A inserção do sujeito na cadeia é representação ncces,à�
riamente correlativa de uma exclusão que é uma diluição.
Se se experimentasse desenrolar agora no tempo a
relação qul! engendra e mantém a cadeia do signifjcantc,

sobad!;��d:ci:dai;!:nd�de da��= g���


de engcndramcnto apcn� pode � circular, e é por
isso que as duas propo11ções �tntell são . �adt1ras
simultàncamente quando cmUlciam a an tetioridadc do
sujeito cm relação ao significante, e a do significante em
relação ao suj eito, mas este não aparece como tal senão
a partir da introdução do significante, A rctroacção é

1 Dedekind dw:lo por Cavaillel (Plrik,JDll,u �. p. 124,


Herman, 1962),
essencialmente isto: o nas�imento do tempo linea Í
sário considera r em conJunto as definições q u :·ra neces.
e
suj eito o efeito do signijicanle, e do significante z rn do
tante do sujtito: relação circular, cont u dO não �e rtese�-
Ao a!r":ves�ar o discurso lógico no po�to da s�toc� .
fraca res1st«;n�1a, o da sua sutura , vê-se artic ulada a e��s
ª r c
!'::c i::vi:!�:�, ����b;;; i��:: �:m���;ji�;;ta �nt;m;-
n
eia sob a forma do 1 p a ra a abolir no s u cessor.
0 +, compreende�a � a função . inédita q u e ele destm­
penha na lógic a do s1gmfic a nte (smal não já de adição
m as dessa somafàO do sujeito com o campo do O utro qu�
implica a s ua anulafão). Resta desarticulá-lo para seParar
o tra ço «unário)> da emergência e .ª . barreira da rejeição:
m anifesta.se por esse meio essa dwisâo do s ujeito que t
o outro nome da s ua alienafâO.
Daí deduzir-se-á que a cadeia significante é tslrulura
da estrutura.
Se a causa lidade estrutural (c a usalidade na estrutura,
na medida em que o sujeito está . nela i�plicado) não t
al ª aq ui dcscn-
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Deixemos p a ra mais tarde a construção do se u con­
ceito.
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(Trad. de M. E. R. C )

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