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A GERAÇÃO DE 45

1pyistir há alguns anos a


chamada geraçao dequerela
Apesar
nmo da char
atismo que acompanhou
0 1945 e apesar de nascimento o

ca0 Se m1os strarem quase tão interessad0s em os


poetas dessa
gera-
rdade é que o denominador comum do explicar-se quanto em criar,a
a desejada precisão. grupo ainda näo foi estabelecido
com
Vamos, por enquanto, deixar de lado as tentativas de
sizacão que têm partido doS membros da
balanço e caracte-
nento crítico. Essas tentativas de geração mais capazes de pensa-
de
explicação, feitas de dentro para fora, se
utilidade para definir a atitude de tal ou
podem ser
qual poeta, quando
aplicada ao grupo padece de um deteito essencial: ela é incapaz de mos-
trar uma visão de conjunto dessa poesia nova e tende facilmente à incom-
preensão. Pois a capacidade polêmica de muitos desses poetas novos, e seu
gosto pelos bate-bocas da vida literária, não se exercem apenas nos casos
de legítima defesa. Exercem-se também em grande parte internamente, isto
é, como uma luta de família, com as incompreensões e violências próprias
das lutas de família.
Por isso me parece mais instrutivo tentar a caracterização desse grupo
de autores a partir da atitude crítica que se formou em relação a ela pe-
10S escritores de gerações anteriores. De certa maneira, algumas
das añr-
definitivamente
constituem essa atitude crítica geral parecem
ldcoes que são justas e que a
nem todas essas afirmações
epositadas. Devo dizer que resultado da visão cer-
o
com que foram aceitas não parece
me
dlidade têm dos poetas
os autores mais antigos
desses críticos.As opiniðes que embora menos vio-
também igualmente polêmicas,
geração de 1945 são
da falta de entusiasmo excessivo
elas se beneficiam a n o s de
vida
e n t e polêmicas: idade civil e com os
que vem com os anos, c o m os a n o s da
ativa
ativa na república
literária. sobre o s jovens
poetas os poetas
dizem tendéncias

Prefiro
ic partir do que pensame
fornecer sobre
as novas

tis antigos,pporque eles são capazes de embora do que a


incompreensiva,
2a g 0 sde, conjunto muito mais útil,
uma jovens poetas.
mesmos

dos
dos eleme entre esses
entos mais lúcidos

Carioca, 1952.
Diário
O artigos publicados n o
JoAO CABRALL DE MELO NETO / PoOESIA COMPLETA E PDROSA
722

A primeira atitude que se nota enm relaçao a nova poesia éa de consi


derar sua contribuição como de importancia limitada pelo fato de não
se
haver voltado violentamente contra a pocsia que a precedeu, criando uma
nova direção estética para a literatura brasileira. A essa atitude os poetas
mais jovens tem procurado responder com a afirmação de que existe um
espirito comum à sua geraçao (embora nunca teham chegado a um acor-
do ao dizer o que é esse espirito) radicalmente diverso do que caracterizou a
geração anterior e, apesar de nao ter havido revolta em profundidade (em-
bora escaramuças desuperticie), absolutamente contrario a tudoo que foi
realizado pelos poetas que o precederam imediatamente
Creio ver um equívoco nesses dois pontos de vista. Ambos parecem
partir da ideia de que éé a revolta e a negação pelo avesso de tudo o que
se estava tazendo ou pensando que caracteriza um novo movimento
literário. De certa maneira, em muitas literaturas, e na nossa principal-
mente, essa tem sido a lei que prevalece. Não, por exemplo, na literatura
inglesa. Lembro-me, a esse respeito, de um pequeno discurso de Stephen
Spender, talando exatamente na sabedoria da poesia inglesa, que não pa-
rece jamais interessar-se em levar às
últimas conseqüências práticas as
idéias estéticas de um momento determinado. A seuver, essa capacidade
para o
compromise era o que a
distinguia melhor da de outros países, da
trancesa, por exemplo.
No caso da literatura
brasileira, se é verdade que prevalecem as reformas
radicais, elas têm acontecido mais no âmbito
de movimentos literários do
que de gerações literárias. A poesia de um Castro
Gonçalves Dias, não é a de negação radical, masAlves,
em relação à de um

mesmo espírito romântico.


de superação, dentro do
Uma geração
pode continuar outra. A poesia dos
brasileiros que,
nascidos
princípio do século, estrearam por volta poetas
no
mais
não foi
agudamente destruidora dos modernistas de de 1930, quando a tace
dirigida contra as idéias da Semana de Arte 1922 estava superada,
partiram deles, Moderna. Ao contrario
de seu combate. dos pontos de partida que eles haviam fixado no me
E não me consta que
renovação pela revolta, alguém, em nome da necessidaaede
que existia antes de
houvesse exigido desses
1922. poetas de 1930o retorno ao
que esses
poetas
fizeram foi tirar o máximo de
Conquistas do modernismo. el das
partido pOSSIve
ram iniciar logo seu trabalho Aproveitando
de
o terreno
desentulhado, puue
ticipado na primeira fila do criação positiva. O fato de não terem pat
ar
recuo, um
ponto de
combate dava-lhes uma
distinguiro que naquelavista de
meia-isenção, vantagem inica um

suficiente
propria iuta. Em muitos luta era episódico, truque,deformaçãoexigida
para que pu
pela a
Stla
criaçáo positiva antes casos, os autores dessa deformaça0
mesmo dos geraço de 1930Cxiganl 30 iniciaram

responsáveis pelas operaçoes Gc


.1 EEstes, em
peza. geral, tardaram ainda 723
aproveitando-seiniciar
tarde, aproveitan
muitas
a se ver
vezes das livres das
ros
ros mais
que alguns
jovens, puderam
Ss deles
deles só foram sua obra conclusöesdeformaçoes
dos só e

apoesia da Semana de Arte


capazes de realizar bem companhei
pessoal. Não é preciso
Moderna. primeira lembrar a
titude dos poetas da fase
polémica,
tle de revolta. Na geração de 1945 também não
verdade, as podia uma
Odernismo longe estao de pOSsibilidades do terreno
aberto pelo
ser

am os
esgotadas.
poetas de i922 que puderam
Os poetas dos anos 30,
superar o combate
pelo
juntamente
heleceram dentro desse territrio núcleos
de combate, esta-
se alguns desses nucleos
mostram-se
exploração importantes. Mas,
de agora fogo morto, se alguns dos
exploradores mostram-se cansados ou
dispostos a abandonar o terreno,
nada disso é prova contra a riqueza
que ali ainda existe.
Por tudo isso, me parece
equivocada a
exigência que se dirige geralmen-
te aos poetas mais recentes, de revolta contra a
poesia que encontraram
no momento em
que para eles se abriu a vida literária. A poesia que eles
encontraram em funcionamento era uma poesia poderosa. Seis ou sete da-
queles núcleos de exploração estavam, naquele momento, em seu melhor
periodo. Ofereciam possibilidades de trabalho consideráveis aos poetas
cada estreante lançasse
que começavam. Não é de estranhar, portanto, que
de e de uma experiência
técnica já confirmadas, para tazer
nao soluções
levantar o vôo de sua obra pessoal. a afirmação
de alguns
também,
considero equivocada,
Or outro lado, existência de um espírito
de renovação radi
da
ICOS da poesia de 1945, si mesmo. Não creio que haja espirito
esse

mas evidente por uma nova consciencha, a


encioso
haja nesses poetas de 1945
n a 0 creio que momento

Versa da dos poetas anteriores. máximo. Ao


histórica, no exploração.
de posição núcleos de
diferença dos da exten-
uma a fundação momento

da onquista do terreno,
sucedeu
de 1945,
0
divisar
uma
no-
poetas
vista, creio
outros
Ea es Cm suceder,
com os
desse ponto
de mesmo,
uma
nova

Talvez,
São dessa exploração.
expl A partir
deempregar
s e n s i b i l i d a d e .

va pc d uma
nova
temos
escrúpulos

poesia, talvez
aivez
mesmo

de
comodidade
não

geração,
8eracão
UmCo
se por
motivos

um conceito tão imprecis


O fato de constituirem uma geração de extensao de conquistas, muito mais
do que uma geração de invençao de caminhoS, e o que melhor me pa-
rece detinir os poetas de 1945. Aliás (ja que aceitamos, para facilidade de
raciocinio, o critério de geração), pode-se dizer que uma geração é melhor
detinida pela sua situação histórica, pelas condições a partir das quais Ihe é
dado viver, ou realizar uma obra. Isto é: uma geração é melhor definida de
fora para dentro do que de dentro para fora, a saber, pela consciência que
possa ter de si própria, pela sua maneira de reagir diante deste ou daquele
problema. Uma geração é definível mais pelos problemas que encontra do
que por uma maneira comum de resolver seus problemas.
Pois a diferença entre os problemas que enfrentam os poetas de 1945
e os
poetas que, em livros publicados em 1930 ou suas imediações fixa-
ram os caminhos que a poesia brasileira até hoje vem
radical. Somente tendo-se essa seguindo, parece-me
diferença em mente é possível compreender
o
processo da obra desses poetas mais jovens: a enm dependência
eles que
estão de uma tradição, curta porém viva e atuante no momento em que
penetraram na vida literária, e os
esforços no sentido do alargamento dessa
tradição de vinte anos que têm, inegavelmente, realizado em seus
poemas os escritores que livros de
revelaram por volta de
se
Os poetas de 1930 1945.
encontraram o terreno mais ou menos
er: vazio de
formas aceitas e limpo, vale di-
dentro das quais tivessem de exigidas pelo costume do leitor de poesia,
escrever sua
ques e vícios do estilo poesia. Deixando de lado os ti-
Arte Moderna, mas quase polêmico nascido dos combates da Semana de
em suas aproveitando os direitos que aquela revolta tinha
mãos,
tais poetas
puderam posto
poesia. Como no havia nada entregar-se livremente a escrever sua
der, ou quase nada a
aprender, e
qualquer esforço positivo desapren sim a
Não é dificil
notar, por
equivalia a uma
invenção pessoal.
de 1930 do exemplo, menos
cr1ar novas
que nos de 1922. Para poeta de preocupação formal nos Po as
o
formas para opor, no 1930 já não havia a
combate, às formas antigas necessidadeu
desmoralizar, atitude que é evidente que se ria
poetas de 1930 nos qu
modernistas da primeira hora Os
ma forma encontraram as formas velhas
nova
que as substituísse. ijá desmoralizadas e
a s essa
mesma Apenas uma aga noção de verso nei
noção de vaga ivre;
noção
verso livre não era a de vers
um verso maiS lástico,
plad
com malor maior ariedade de 725
e 1e autorizand ritmos, mas de verso
autor1zando qualquer mancira de fazer em plena liberdade, como
a

Adespreocupaçao
anmuma ou outira
formal desses
poetas,
pecliar.
cOm
S1la voz não teriaexceçao recente, que sobrevive em
que de se parece vir daí: desse quase todos,
e ue sua forma seria submeter a nenhuma sentimento de
definida, depois da obra forma
peculiaridades de sua voz.
Para
realizada, preexistente, e como soma das
o
poeta de 1930, o
que havia
Não havia uma
sensibilidade fazer era cantar, a

nar tal ou
qual forma. A eles écriada, como sua exigência, suasimplesmente.
estavam colocados numa que competia criar essa preferéncia
sensibilidade.
posição Eles
a criação de sua
poesia pessoal comespecial. Naquele momento coincidia
leira, com suas nOvas a
criação
formas, sua mitologia, sua
de uma nova
poesia brasi-
publico. sensibilidade, isto é, seu
Sua
sia pode
despreocupação formal: quis dizer, seu
desprezo
vir do jogo ou dos recursos
pelo que na
poe-
muitos desses poetas escrevem
puramente formais. Se a
poesia que
hoje é diferente da
primeiros livros, o verso que eles empregam é, no que escreviam em seus
fundo, mesmo de an-
tigamente, está claro que com bastante mais desenvoltura. o

O nascido das exigências de sua


verso Mas éé o mesmo,
tiam mais aptos a expressão pessoal, o verso que se sen-
realizar, ou o único que lhes era possível realizar. Pois
esses diferentes
tipos de verso foram os que se transformaram nas matrizes
que os poetas de 1945 encontraram em funcionamento e às
de se submeter sua voz.
quais tiveram
Para o poeta mais jovem, surgido quando a poesia brasileira, como
Conjunto de formas aceitas e como sensibilidade, estava cristalizada em
torno da obra de sete ou oito desses inventores mais originais, a situação
d completamente diferente. Em primeiro lugar, encontraram eles uma
Ensibilidade formada. Impor-se, para eles, era muito mais tåcil do que
Pdra os poetas de 1930, que tiveram de criar, com oS anos, o seu leitor. Os
determinada poesia brasileira, emn
POetas de 1945 encontraram já uma não contar. Mas, se é ver-
funcionamento, c o m a qual era impossível
PCno se estava
fazendo era uma atitude
ade que escr partir do que
A ue escrever poesia
a
esse jovem poeta desde o momento
Comoda,a
ud, a COisa se para
complicava
dicção própria.
em que ele se lançava em busca de sua
ao inaugurar
sua nha
de escrever
obra, tinh
O poeta dessa geração de 1945, voz não seria percebida;
mas tinha

o que sua laquelas vo-


para aqu uela sensibilidade,
s e m
dentro do conjunto daquelas
tan próprio, a. Diferente
Diferente
também de d e s c o b r i r
ees mais velhas,
velhas, s e m
s e u timbre

o que
atenção
nenhuma
Ihe seria
à sua
confiar-se
concedida.

voz. Ele tem de


nào
do
do ele não pode apenas
A criaçaO
de
sua poesia
Oeta de 1930, maneira, dirigi-la. Os tiques
de sua voz iá
SObre ela, e,
de certa brasileira.

poesia
Co a criação da
ide mais com
726 JoÃO CABRAL DE MELO NETO / POESIA COMPLETA E PROSA

não têm força de inaugurar um estilo. Ele tem de submeter-se às formas


nas
que encontra.
Há um traço bem sintomatico em todos estes poetas de 1945: todos par-
tem da experiéncia de um poeta mais antigo. Quase sem exceção, a obra de
cada um desses poetas novos se filia à de um poeta mais antigo, à de um
inventor. Mas isso não pode ser tomado, sempre, como falta de originali-
dade ou de timbre pessoal.
O que o poeta jovem procura nesse poeta mais antigo é uma definição
ou uma lição de poesia. E um esforço para sintonizar sua voz à sensibili
dade vigente, e como esta se define d'après os pontos de cristalização que
são as obras dos autores mais poderosos, o que o autor jovem busca no
exemplo, ou na influencia, desses mesmos autores é um conceito de poesia,
a partir do qual realizará sua própria poesia. 0 que o autor de 1941 busca
no de 1930 é uma
lição de poética.
Por tudo isso, a crítica que parece desdobrar-se daquela que reclama da
geração de 1945 uma reação radical contra a poesia que se estava fazendo
na época de seu aparecimento, ou melhor, a conseqüência lógica que se es-
conde dentro daquela crítica, a saber, a de considerá-la como uma
geração
de simples continuadores de formas em uso, tem de ser escrita de maneira
diferente.
Não é simplesmente por falta de mensagem própria que um poeta de
hoje funda sua obra a partir da experiência de um poeta mais velho. O que
acontece é que no há uma definiç o geral da poesia, válida para nossa
época, que permita ao jovem autor criar sua obra identificado com seu
tempo. Existem definições particulares, individualistas. No caso do Brasil,
existem as definições de um Carlos Drummond de
Andrade, de um Murilo
Mendes, um Augusto Frederico Schmidt; existem
de
de outros inventores de poéticas, a desses e a
poesia; existe uma sensibilidade dividida, organl
ada, em pequenos núcleos, grupos de sensibilidade formados em volta da
maneira pessoal de cada um desses inventores.
Não existe uma
poesia, existem poesias. fato de um jovem pOcla
E o
fnliar-se delas, primeira fase de sua vida criadora, menos do que
a uma na
um ato de submissão
de um poeta a outro poeta, é o ato de adesão de
poeta a um gênero de poesia, a uma ui
estar mais de acordo com a
poética, dentre todas a que ele peii
nsou

sua
personalidade.
o
a 1posição histórica desses poetas de
1945. que os levou a fundar sua
hra pessoal partir de maneiras de fazer já existentes,
a
nao os
impede,
nessariamente, e para sempre, de realizar uma renovação dessas mesmas
maneiras de fazer. Uma
renovaçao e possivel. Mas
essa renovação não
r c aliás nào tem vindode uma atitude radical pode
de revolta, em que.
nor meio de pontos de vista
deinidos e comuns a todos, se
substituiçao completa do que se estava tazendo anteriormente. processe a uma
A renovação por que é
responsávela geração de 1945 nào se esta dando
no
plano teoria literaria, mas no plano, muito mais lento e mas diticid
da
de precisar em termos de crítica, da
criação literária. Ela se esta dando por
meio de incorporação àquelas maneiras de tazer ja encontradas de novos
repertórios, dos repertórios que constituem o patrimònio pessoal de cada
OVem poeta,
pouco visível em seus primeiros poemas, mas que se vai ta-
Zendo mais e mais aparente à medida
que, com o dominio da tecnIca ado-
tada, ele vai conseguindo liberar mais mais
e sua mensagem particular.
ESsa renovação se
processa, assim, como uma luta pela libertaçao. O que
acontece é gue essa luta está ainda em curso, e que ainda pode ser
identit
cada, mesmo nos poemas dos que mais evidentemente avançaram em seu
Caminho pessoal, a marca desta ou daquela maneira de tazer aprendida.
Dto de outra maneira: o que já tem sido realizado passa desapercebido se o
PrOCesso não é encarado como um processo em andamento, dinamicamen
, Ou se se exige desses poetas de 1945. desde o primeiro momento da luta,

uma completa vitória.


Evidentemente, para que esse tinal do processu,
estagio sto e, a obten
que toi ado da
e uma maneira de fazer completamente ndepenlente
COmo ponto de partida, já tivesse sido alcançatlo por muitos, seru
iecer j 0 nos poetas dessa geração mais do que verdadera torya poetica.
a
seria
d hecessário que cada um deles estivesse armado de uma agucta
cons

n u almente,
C1a de si mesmo e da tradição em que se tem de mmover,
a

im de liberaçao por m e o da elmunay ào de


utPouer apressar o processo
udo o que em sua voz soasse como eio da vor de alguet
a , éinegável que dentro da geraqâo de 1945 esse tupo de esuritor n o

ur
erOso.Mas também eles nào sao ireqüentes nem na luteratura bra
4en entre os poetas que toram os CTLdklores cdas totmas sta puesia
:TA |
PROSA

brasileira presente. Não toi uma grande cOnsciénca poética que transfor
mou estes ultimos em nventores de
poesa, mas sua
posiçao histórica, que
fazia deles cantores libertos de toda a tradição e dava categoria de estilo a
próprias deficiéncias de seu canto.
Não é de estranhar, por tudo isso, que o avanço da grande
maioria do
poctas da geraçào de 1945, no sentido da obtençao de um
timbre pessoal
para sua poesia, se dê lentamente. Em muitos deles não existe mesmo uma
consciência nítida daquilo que em seu poema é recebido de outro. Em ou
tros, não existe uma adesâo a uma torma já ex1stente, um
ponto de partida
unico, mas a incorporação de experièncias de diferentes poetas. Tudo isso
dificulta a luta que têm de realizar. Sua libertaço terá de fazer-se
pouco a
pouco, na medida em que o maior domínio de seus meios diminua o peso
do atode fazer e permita a sua mensagem particular se revelar livremente.
Talvez seja este o momento de indicar em que sentido se está
operando
a ação dos poetas de 1945 dentro da poesia brasileira contemporånea. Tanto
no que diz respeito às formas como no que diz respeito ao repertório dessa
poesia, a contribuição dos poetas mais jovens tem sido a de estender, alar
gar a base estreitamente individual com que, a partir da expressão de sete
ou oito inventores mais poderosos, se estava fazendo a poesia brasileira.
Isto é: estendendo a base dessa poesia, ampliando a experiência adotada
como ponto de partida, desenvolvendo certas tendëncias apenas apontadas
na obra daqueles fundadores de caminhos, a geração de 1945 está contri-
buindo para reduzir as diferenças entre os sete ou oito caminhos parti
culares, irredutíveis entre si, desde a linguagem empregada até o conceito
mesmo de poesia e arte poética. E, sobretudo,
pode contribuir para a fusao
dos grupos de sensibilidade que se organizam a
partir da expressão pessoal
de cada um desses inventores numa sensibilidade mais
geral.
Isto é, o trabalho de extensão, determinado pela sua posição historica.
pode levar perfeitamente àcriação de uma expressão brasileira moderna.
geral, que seja constituída não pela coexistência de um pequeno numero ue
vozes irredutíveis e
dissonantes, mas por uma voz mais ampla e geral, capa
de integrar num conjunto todas as dissonâncias.
No que diz
respeito às modificações operadas pelos poetas de 1945 has
formas encontradas e adotadas como
ponto de partida para sua expressu
pessoal, creio ser evidente que eles a tornaram muito mais maleaveis. f
que não as inventaram, Ihes foi muito mais fácil desenvolv-las. en

Contraram um conjunto de soluçöes resolvidas onde escolher livreme


EIcs
Eles podiam, facilmente, desenvolver soluções Sels

criadores
apenas esboçadas, quc
haviam largado por falta de oportunidadeou de gosto.
Não há dúvida de que o verso perdeu o sabor de coisa nova, o cncanto
de coisa
que se inventa, com sua dureza e seus tropeços
tante,
frequenc
também, do outro encanto, a que nos
acostumamos modern
GERAGA DE 45
PROSAA

729
de
de saber
o que
vem
deternminada cOIsa pessoal,
Mas ganhou
chusiva. desenvoltura, enriqueceu-se absolutamente,
em
ex- e
obretudo, ampliou-se de novos
ritmos, em
consideravelmente,
éncia. .

fez se
para transportar
experiências diversas polivalente,
de ser empregado
pó-
determinaram.

aste
daquelas que o
DOnto, é
preCiso fazer referëncia a uma
respeito da geraçãc de 1945,
outra opinião
Compartida aliás formada
e à ODinião que enxerga numa certa por alguns. Quero referir-
tendência estetizante
omum da obra desses poetas.
o
denominador
Não creio que tal tendncia possa definirtodos. Talvez ela seja váli-
a
da para um grupo-para
aquele grupo menos numeroso que, embora
partindo da
experiëncia de um poeta mais
quase que pelo seu lado negativo,
antigo, toma
experiencia
essa

05 poetas
aquase como coisa contra
que lutar. Mas
que criam nesse estado de tensão são
raros. A grande maioria dos
poetas de 1945 não demonstra uma consciência de
seu oficio suficientemente
grande a ponto de constituir tendência.
Contudo, até o ponto em que tendência estetizante não
nincar uma atitude mental pretenda sig-
definida, pode valer. Isto é, até o ponto em
ela
ue com essas
palavras se queira registrar a desenvoltura ou a plasticidade
que não é consciência estética, ao pé da
POEtas de
letra) com que muitos desses
1945 chegaram a manobrar o verso herdado dos poetas que os
antecederam.
IV

Uma outra dirigida aos poetas chamados de 45 por escritores de ge-


critica
rações anteriores vem sendo formulada, mais inteligentemente do aue por
qualquer outro crítico, pelo Sr. Sergio Buarque de Holanda e diz respeito
ao que se poderia denominar uma preferência idealista nos poetas desse
grupo; na seleção e tratamento da linguagem de sua poesia. Ou, como
com mais clareza coloca o problema o sr. Buarque de Holanda, diz respei.
to à sua "aplicação, por vezes obsessiva... aos meios de expressão aparen-
temente próprios e exclusivos da poesia, em contraste com os da prosa'
Não há nenhuma dúvida de que esta tendência é o que há de mais opos-
to ao gosto, corrente entre os modernistas e por eles sempre defendido,
pelo vocábulo prosaico ou pela imagem prosaica. E se compreende que
assim acontecesse: a preocupação desses primeiros modernistas era criar
uma nova poesia, e, se não lhes coube faz-lo, é indiscutível que sentiramo
problema e o formularam melhor do que ninguém.
Não é dificil de compreender que, para eles, o vocábulo poético, o vo-
cábulo já reconhecidamente poético, fosse o inimigo pior. Aquele vocábulo
fora erigido à dignidade de poético por uma convenção e, se aquela cor
venção tinha de ser destruída, também nada devia restar de seu repertorio.
Ogosto pelo vocábulo prosaico, que muita gente pretende considerar um
gosto bastardo pelo baixo ou pelo não-sublime, não devia ser, nada ma
nada menos, do que uma conseqüência de tal atitude. Se parecia violento
Seu
emprego em poesia, essa violência vinha da novidade de seu empreg
do choque de
repertórios.
Mas, se essa
constatação é perfeitamente verdadeira em relação aos po
tas do
modernismo, não creio que o seja em relação aos poetas qu por
volta de 1930, fixaram os rumos hoje.
Alias, no é preciso ser muito arrazoado
que a poesia
brasileira
segu Anicas
icas
para confirmar isso. AS
CTO
que o sr. Mario de Andrade reuniu no de
livro O empalhador
escritas quando esses poetas de 1930 se desenvolviam em todapasar
plenitude
parecem presididas por um só espírito: o aquee
nome, segundo se tratasse deste
denunciar, de
com este
est Com
Se poderia chamat
ou

ou daquele
0 abuso poético da poesia. Não creio que opoeta, o
tema mais Se
que ireqpou tite
am neste
ent li-
e

vro, o do relaxamento formal de certos desses autores,


ente

seja cO
PROSA 731

estranho
àquilo que penso Constituir a idéia básica da crítica literária de
Mario inaquela epoca.

1etas de 1930 e que me parecem ter iniciado a


Estes poetas
delimitação para
d e um territorio proprio, com sua mitologia e seu vocabulário.
h á dúvida de que, no caso do sr. Carlos Drummond de Andrade, a
5a dos
licio dos modern
modernistas, a esse respeito, foi aproveitada. Mas quase em todos
ros essa delimitaça0 se fez contra o emprego dos meios próprios da
asd ea favor dos meiOS proprios da poesia, a favor do vocábulo já reconhe
prosa
nte poetico
cidanmente poético, já poeticO com anterioridade ao poema, a favor, não de
palavras que o poema salva, que o poema faz poéticas, mas de palavras que
nt com sua carga poetica, feitas poéticas pelo uso anterior, enriquecer o
noema, isto e, dar qualidade poetica ao texto indiferente onde são colocadas
po.
com função galvanizadora.
Não se pode negar que os poetas de 1945 deram um passo à frente no
sentido indicado. Mas o essencial da concepção eles receberam, também,
ios poetas de 1930. Era essa a lição que a poesia destes últimos parecia
Conter, era esse o conceito de poesia que se podia depreender do seu exem-
plo. Num ou noutro poeta mais antigo, e por herança num ou noutro poe-
ta de 1945, essa concepção terá tomado diferente. Ou melhor,
um nome
ela terá sidojustificada a partir de um conceito diverso. Mas o que o poeta
mais jovem encontrou,
plenamente vigente no contato inicial com a poe-
Sia de seu
tempo imediato, foi a valorização do sublime contra o prosaico,
O sobre-real contra
o real, do universal contra o nacional ou o
regional, do
nefável contra o
tangível.
rara o poeta de 1945, os meios próprios da prosa, isto éé,os elementos

permaneciam fora do uso poético, o prosaico, vinha a ser uma influência


n t e perigosa. O prosaico está muito mais perto da realidade e o que
poetasjovens viam, ao descobrir a literatura, é que à poesia se podia
igir tudo, menos, precisamente, integração na realidade.
.POESla que eles encontraram estava desenvolvendo-se paralelamente
heeslocamento, verificado entre os romancistas, para o que se co-
hece como aanovela introspectiva. Paralelamente, isto é, a poesia que eles
iomo er:
encontraram
ram era determinada pelos mesmos impulsos que criaram uma
Ola de siléncio e de indiferença em torno ao romance do nordeste. E
porque a poesia
itadorque poe é género mais passível de ser desligado da rea-
idade do a um

a prosa, como também porque a tal novela introspectiva era


ma ten
iMa
Que Cla mais do que artificial dentro da vida brasileira, a verdade
poesia brasileira veio a ser o instrumento com que melhor toram
plora
E o múltiplos caminhos de fuga da realidade.
Compreender-se que a presença da palavra ou do recurso pro-
ha ec uma Poesia
poesia dessa espécie, só pode ser perturbadora. Teria de ser
ima
espécie
de de Isolante.
isola Só poderia quebrar, romper a trama de sutilezas
732 loAO CABRAL DE MELO NETO / POESIA COMPLETA E PRo0SA

do poema. Trata-se de uma poesia teita de sobre-realidades, feita com zo


nas exclusivas do homem, e o fim dela é comunicar dados sutilissimos
a
que só pode servir de instrumento a parte mais leve e abstrata dos dicio
nários. O vocábulo prosaico está pesado de realidade, sujo de realidades
inferiores, as do mundo exterior, e em atmosteras tão angélicas só pode
servir de neutralizador.
Não quero dizer, em absoluto, que em todos os poetas da geração de 45
se encontra um mesmo conceito de linguagem e de poesia. Existem, entre
eles, poetas com preferência pelos "meios próprios da prosa' da mesma
forma que entre seus antecessores se encontram alguns dos utilizadores
mais exclusivistas dos "meios próprios da poesia'". O que quis mostrar-e
isso venho tentando desde a primeira destas notasé que a poesiade 1945
não pode ser definida por meio de uma tendência comum, uma orientação
geral de seus poetas. A não ser que queira tomar uma tendéncia particular
como a única característica, eliminando todo o resto.
Essa poesia de 1945 é o desenvolvimento de uma poesia individualista,
cada
em que a expressão pessoal de sete ou oito criadores anteriores fixava,

uma, suas formas exclusivas. E o desenvolvimento dessas


formas em sua
da tor-
primeira fase. Mas, como ela é individualista também, e a escolha
individual, équase
ma-ponto-de-partida é feita por motivos de preferência a
em geral,e
certo que vencida a primeira fase de desenvolvimento- que,
transtormenm
fase presente da geração de 45-os melhores desses poetas se
também em criadores de formas de expressão exclusivas,
irredutiveimente
Suas.
O que há de comum entre os poetas que a constituem é sua poSia
o
histórica. O momento em que iniciaram seu trabalho
de criação, e
da utilização
encontraram nesse momento. Esse problema, por exemplo,

dos meios da prosa não colocou igualmente para todos. Colocou-se Pa


se em

a maneira de um poetu
aqueles que tomaram como ponto de partida outro po
de partida de
que tal problema estivesse presente. Se o ponto
nao o obrigava a consideraro assunto, ele terá ficado completame completamente

tranho a tal preocupação.

FiM DE "A GERaçÃO DE 45

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