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Poder Judiciário

Justiça do Trabalho
Tribunal Superior do Trabalho

PROCESSO Nº TST-RO-282-80.2018.5.11.0000

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A C Ó R D Ã O
(SDC)
GMMGD/ls/mas/ef

RECURSO ORDINÁRIO DO SINDICATO DAS


EMPRESAS DE VIGILÂNCIA, SEGURANÇA,
TRANSPORTE DE VALORES E CURSO DE
FORMAÇÃO DO ESTADO DO AMAZONAS.
PROCESSO SOB A ÉGIDE DA LEI Nº
13.467/2017. AÇÃO ANULATÓRIA.
CONVENÇÃO COLETIVA DE TRABALHO.
PRETENSÃO ANULATÓRIA DO INSTRUMENTO
NORMATIVO.
1. SUSTENÇÃO ORAL DO ADVOGADO DA PARTE
RECORRENTE EM SESSÃO TELEPRESENCIAL DA
SDC. DEFESA DE TESE COM APOIO EM
ENQUADRAMENTO EQUIVOCADO DA CONFISSÃO.
DESRESPEITO AOS PRINCÍPIOS DA BOA-FÉ E
LEALDADE PROCESSUAL. ADVERTÊNCIA SOBRE
AS CONSEQUÊNCIAS PROCESSUAIS DO DESVIO
DOS DEVERES ÉTICOS PREVISTOS NA
LEGISLAÇÃO. Em primeiro lugar, é
preciso destacar e examinar os
argumentos reiterados pelo Advogado do
Sindicato Empresarial na sustentação
oral realizada na sessão telepresencial
desta SDC no dia 16/11/2020. Neste
ponto, salienta-se que a participação
ativa das partes na defesa de seus
interesses, trazendo aos autos
alegações e provas que auxiliarão o
Julgador na formação de seu
convencimento, é conduta absolutamente
regular e condizente com o princípio da
cooperação, a partir do qual se espera
que “todos os sujeitos do processo devem
cooperar entre si para que se obtenha,
em tempo razoável, decisão de mérito
justa e efetiva” (art. 6º do CPC/15). O
amplo direito de defesa, de influenciar
o Julgador a se convencer de que as suas
razões são as mais justas, porém, não
pode ser exercido a qualquer custo, com
exageros, com exacerbações ou
artificialismos, sob pena de abuso
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dessa posição jurídica. É por isso,
inclusive, que existem diversas balizas
éticas na legislação processual que
regem a conduta das Partes no processo,
todas decorrentes dos princípios da
boa-fé e lealdade processual.
Ilustrativamente, o art. 77 do CPC, que
estabelece uma série de deveres para a
observância da adequada realização dos
atos processuais; e o art. 80 do CPC, que
enumera um rol de atos tipificados como
de má-fé, passíveis de penalidade
processual. Na situação vertente, o
Advogado do Sindicato Autor apresentou
com eloquência sua versão sobre os fatos
para convencer a Seção de que as
cláusulas “17ª – Adicional de
Periculosidade”, “18ª – Diárias”, “45ª
– da Jornada de Trabalho” e “46ª –
Intervalo Intrajornada” tiveram suas
redações indevidamente alteradas
unilateralmente no curso da negociação,
a ponto de incidir em equívoco e tentar
induzir também a equívoco a compreensão
dos fatos da causa. Na sustentação oral,
a tese central para a declaração de
nulidade da CCT baseou-se em suposta
confissão do preposto da Federação
obreira, no sentido de que este teria
reconhecido que houve um equívoco na
redação das cláusulas que constaram no
instrumento normativo assinado pelas
Partes. Causou certa perplexidade, a
este Relator, essa afirmação do
Sindicato patronal, uma vez que a
confissão consiste em um meio de prova
relevante para a solução da lide, e o
Tribunal Regional – perante quem se
desenvolveu toda a instrução
processual, em contato direto com as
partes e todos os elementos dos autos -
sequer tangenciou essa questão em sua
decisão. Examinando melhor os fatos,
porém, verifica-se que a declaração
transcrita no apelo e lida,
eloquentemente, na sessão como se fosse
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a confissão da Parte Ré (ou seja, a
Federação dos Trabalhadores) foi
extraída do depoimento prestado pelo
Presidente do SINDESP (o Sindicato
Autor, o Sindicato Empresarial) – e não
pela FESVINE, parte ré -, conforme
consta na ata da audiência realizada no
TRT no dia 15/2/2019. Como se sabe, a
confissão ocorre quando “a parte admite
a verdade de fato contrário ao seu
interesse e favorável ao do adversário”
(art. 389 do CPC), sendo logicamente
impossível que a parte confesse um fato
que beneficie a si própria. O que se
observa, pois, é que o Sindicato Autor
(patronal) expõe uma versão distorcida
dos depoimentos prestados em audiência,
na tentativa de convencer que a Parte
contrária confessou a verdade de um fato
que, ao final, não foi provado nos
autos. Registre-se que os princípios da
boa-fé e lealdade processual (art. 5º do
CPC) exigem que todos os partícipes do
processo, em especial os Advogados,
adotem um comportamento diligente,
transparente e confiável. O
descumprimento dos deveres éticos
previstos na legislação processual
pode, inclusive, ensejar a aplicação de
penalidade processual prevista nos art.
81, caput, do CPC/15 e no art. 793-C,
caput, da CLT. Fica, portanto, a Parte
advertida quanto às penalidades da lei
pela reiteração de conduta contrária ao
ordenamento jurídico, já que expôs, por
descuido ou temeridade, uma artificial
versão dos fatos do processo, com grave
risco de provocar um julgamento fundado
em valoração equivocada da prova.
2. VÍCIO DE VONTADE NÃO DEMONSTRADO.
IMPROCEDÊNCIA DA AÇÃO. Cinge-se a
controvérsia em examinar se o ato de
composição de interesses
consubstanciado na assinatura da CCT
2018/2019 pelas Partes em 6/7/2018
encontra-se eivado de algum vício
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passível de anulação. É cediço que a
convenção coletiva de trabalho, como
acordo de vontade entre sujeitos
coletivos sindicais, inscreve-se na
linha genérica dos negócios jurídicos
privados bilaterais e/ou
plurilaterais. No caso concreto, os
elementos essenciais à validade do
negócio jurídico - a CCT 2018/2019 -
encontram-se presentes: partes capazes
e legítimas, objeto lícito e forma
prescrita em lei – art. 104, I a III, do
CCB/2020. A esses três classicamente
acolhidos, soma-se a higidez da
manifestação de vontade (ou consenso
válido), sobre a qual o Sindicato Autor
(patronal) aponta o alegado defeito.
Note-se que a complexidade do processo
de negociação coletiva e a relevância
das repercussões do instrumento
normativo no plano das inúmeras
relações individuais de trabalho de
certa comunidade laboral pressupõe a
atuação diligente e cuidadosa de
entidades sindicais com força
institucional, em consonância com a
responsabilidade que lhes é outorgada
pela Constituição da República (art.
8º, III, VI). Na situação vertente, não
há controvérsia sobre o fato de que o
instrumento normativo autônomo foi
assinado em conjunto pelos
representantes de entidades sindicais,
na sede do Sindicato Autor, após uma
série de reuniões e a confirmação de seu
conteúdo pelos signatários com a
assessoria dos advogados presentes.
Diante desse contexto, a eventual
declaração de nulidade do negócio
jurídico, especificamente em relação a
quatro cláusulas e com base em suposto
erro ou dolo da Federação Obreira,
conforme pretende o Sindicato Autor,
depende de demonstração inequívoca do
vício que tenha atingido sua vontade,
por meio de robusta prova. Contudo, após
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a análise de todo o conteúdo probatório
dos autos, não ficou demonstrado o
alegado vício de consentimento. Por
isso, deve ser mantida a decisão do
Tribunal Regional, que julgou
improcedente a ação anulatória. Recurso
ordinário desprovido.

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Recurso


Ordinário n° TST-RO-282-80.2018.5.11.0000, em que é Recorrente SINDICATO
DAS EMPRESAS DE VIGILÂNCIA, SEGURANÇA, TRANSPORTE DE VALORES E CURSO DE
FORMAÇÃO DO ESTADO DO AMAZONAS e Recorrido FED PROF VIG EMP SERV SEGVIG
TRANSP DE VALORES E CURSOS.

Trata-se de ação anulatória, com pedido liminar,


ajuizada pelo SINDICATO DAS EMPRESAS DE VIGILÂNCIA, SEGURANÇA,
TRANSPORTE DE VALORES E CURSO DE FORMAÇÃO DO ESTADO DO AMAZONAS - SINDESP
em face da FEDERAÇÃO PROFISSIONAL DOS VIGILANTES EMPREGADOS EM SERVIÇOS
DE SEGURANÇA, VIGILÂNCIA, TRANSPORTE DE VALORES, CURSO DE FORMAÇÃO,
SEGURANÇA PESSOAL, VIGIAS, SIMILARES E AFINS DO NORTE E NORDESTE -
FESVINE. A pretensão deduzida em Juízo é de anulação das cláusulas 17ª,
18ª, 45ª e 46ª da CCT 2018/2019, por alegado defeito no negócio jurídico.
Informou o Sindicato Autor que foram identificadas, após a assinatura
da CCT 2018/2019, impropriedades materiais nas cláusulas negociais,
referentes à inclusão de benefícios que sequer foram discutidos pelas
partes durante as rodadas de negociação da CCT 2018/2019 e que também
não constaram nas convenções coletivas anteriores. Alegou, ainda, que a
Federação Ré agiu de má-fé, porque permaneceu inerte às solicitações para
sanar as irregularidades. Também alegou que o Tesoureiro da FESVINE, Sr.
Frank Romero, não teria legitimidade para assinar a CCT, conforme o
estatuto da Federação Ré (fls. 7-22).
Mediante decisão, foi deferida a liminar pelo TRT para
a suspensão dos efeitos das cláusulas impugnadas (fls. 166-170).
A Federação Ré apresentou contestação (fls. 193-217),
onde discorre sobre o histórico e a lisura do processo de negociação
coletiva que culminou na celebração da CCT, expõe fatos novos relativos
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à lide e rebate as alegações da parte adversa sobre a sua conduta
temerária.
Em audiência de mediação, realizada a pedido do
Ministério Público do Trabalho (Procuradoria Regional da 11ª Região),
não houve conciliação. Em seguida, foi aberta a instrução e foram ouvidas
as Partes e as suas testemunhas e frustrada a segunda proposta
conciliatória (fls. 449-453).
O Ministério Público do Trabalho (Procuradoria
Regional da 11ª Região) assim se manifestou: “sendo um ato jurídico
perfeito e acabado, sem qualquer vício, defeito ou invalidade, entende
este Órgão Ministerial que o termo de negociação coletiva de trabalho
CCT 2018/2019, ora impugnado, não pode ser anulado ou ter sua nulidade
declarada por esse d. Juízo, razão por que opina pela cassação imediata
da liminar concedida e pela improcedência do feito, mantendo-se, assim,
a validade e a imperatividade do ato jurídico firmado entre as partes,
inclusive para fins de registro junto ao atual Ministério da Economia”.
O TRT da 11ª Região, à unanimidade de votos, conheceu
da ação anulatória de cláusulas convencionais proposta pelo SINDESP em
face da FESVINE, rejeitou a preliminar de ilegitimidade do representante
da Federação e, no mérito, julgou improcedente o pedido de anulação das
cláusulas 17ª, 18ª, 45ª e 46ª da Convenção Coletiva do Trabalho 2018/2019
e/ou da integralidade do instrumento coletivo, declarando a validade
jurídica da referida norma convencional e revogando a tutela provisória
de urgência concedida nos autos (fls. 486-500).
Inconformado, o SINDESP apresenta Recurso Ordinário
(fls. 534-561), o qual foi recebido pelo TRT, conforme decisão de
admissibilidade de fl. 567.
Foram apresentadas contrarrazões pela Federação Ré
(fls. 574-583).
O Ministério Público do Trabalho (Procuradoria Geral
do Trabalho) opinou pelo não provimento do recurso ordinário (fls.
589-593).
PROCESSO SOB A ÉGIDE DA LEI Nº 13.467/2017.
PROCESSO ELETRÔNICO.
É o relatório.
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V O T O

I) CONHECIMENTO

O recurso ordinário é tempestivo, a representação é


regular, a parte recolheu as custas processuais, e estão preenchidos os
demais pressupostos genéricos de admissibilidade do apelo.
Conhece-se.

II) MÉRITO

1. ILEGITIMIDADE DO REPRESENTANTE DA FEDERAÇÃO RÉ PARA


ASSINAR A CONVENÇÃO COLETIVA DE TRABALHO

O Tribunal Regional assim decidiu, no aspecto:

JUÍZO PRELIMINAR
Legitimidade do Representante da Ré
Aduz o autor que o representante da ré, Sr. Frank Romero do
Nascimento, ocupante do cargo de Tesoureiro, não possui poderes para
realizar negociações coletivas pela FESVINE, tampouco para assinar minuta
de Instrumento Coletivo de Trabalho, cuja competência seria do Presidente
da Federação ou de outro Diretor, por delegação, consoante estatuto próprio.
Alega que, além da CCT 2018/2019, todos os outros documentos são nulos
para qualquer tipo de efeito, nos moldes do art. 166 do Código Civil/2012,
razão pela qual requer o retorno das negociações ao status quo ante, ou seja,
ao início das tratativas.
Rejeito.
O Estatuto Social da Federação determina que incumbe ao Presidente
"Representar a Federação em quaisquer instâncias, em juízo ou fora dele,
podendo em caso de impedimento delegar poderes para tal a outro diretor"
(art. 25, alína 'a') - fl. 228.
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Consoante documentação acostada ao processo, o Sr. Frank
Romero, que representou a FESVINE nos atos de negociação junto ao
SINDESP, ocupa o cargo de Secretário de Finanças e Patrimônio, com
mandato vigente para o interregno de 25/09/2016 a 24/09/2021 (fls.
217/220), o que o torna, atualmente, membro do Conselho Diretor da
entidade (art. 22 - fl. 227).
Em sendo assim, e diante da autorização escrita concedida pelo Sr.
Wellington Nascimento de Oliveira, ora Presidente da Federação, para
ele representar a entidade sindical, negociar e assinar os termos da
Convenção Coletiva de Trabalho 2018/2019, além de defender os interesses
da categoria em caso de demanda judicial (fl. 235), entendo existir
legimitidade do representante. Não há que se falar, assim, em nulidade dos
instrumentos coletivos, por tal motivo.

No recurso ordinário, o Sindicato Recorrente afirma


que o Estatuto Social do ente federativo réu, em seu art. 25, apenas
autoriza a delegação de poderes do presidente para outro diretor em caso
exclusivo de impedimento. Ademais, afirma que o documento relativo à
autorização dada pelo presidente ao Sr. Frank Romero Do Nascimento foi
impugnado nos autos, por se tratar de documento particular, no qual não
se pode precisar a autenticidade nem a data de sua assinatura.
Sem razão.
Conforme exposto na decisão recorrida, o Estatuto
Social da FESVINE, em seu art. 25, I, concede ao seu presidente o poder
de delegar, em caso de impedimento, a prerrogativa de representação da
Federação em quaisquer instâncias, em juízo ou fora dele para outro
diretor.
Veja-se que o Sr. Frank Romero do Nascimento, membro
do Conselho Diretor da entidade federativa, detinha autorização escrita
concedida pelo Sr. Wellington Nascimento de Oliveira, presidente da
FESVINE, para negociar e assinar os termos da CCT 2018/2019 com o SINDESP
(fl. 241). Por outra vista, o referido dirigente sindical participou
ativamente de todas as reuniões com o Sindicato Autor para a celebração
do instrumento normativo, sem qualquer objeção – como demonstra o
conteúdo probatório dos autos -, até o ajuizamento da presente ação.
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Com efeito, durante a negociação coletiva até a
assinatura da CCT, o comportamento do Sindicato Autor indica sua
concordância com a atuação do Sr. Frank Romero do Nascimento como legítimo
representante da entidade sindical obreira. É inviável acatar, agora,
a pretensão de declaração de invalidade da autorização concedida ao
dirigente sindical com fundamento na alegada ilegitimidade, sob pena de
chancela ao comportamento contraditório e desrespeito ao princípio da
lealdade na negociação coletiva.
Não se há falar, pois, em ausência de legitimidade do
referido membro do Conselho Diretor para negociar e assinar a CCT.
Pelo exposto, NEGA-SE PROVIMENTO ao recurso
ordinário.

2. CONVENÇÃO COLETIVA DE TRABALHO. PRETENSÃO


ANULATÓRIA DO INSTRUMENTO NORMATIVO. VÍCIO DE VONTADE NÃO DEMONSTRADO.
IMPROCEDÊNCIA DA AÇÃO

O TRT, neste ponto, assim decidiu:

JUÍZO DE MÉRITO
Cinge-se a demanda em pedido de anulação das cláusulas 17ª, 18ª, 45ª
e 46ª da Convenção Coletiva do Trabalho 2018/2019 da categoria econômica
representada pelo sindicato autor, quais sejam as empresas de vigilância,
segurança, transporte de valores e curso de formação do Estado do
Amazonas.
Aponta o SINDESP que, após a assinatura da minuta da referida norma
coletiva, identificou impropriedades quanto a assuntos que sequer foram
discutidos. Alega que foram realizadas quatro rodadas de negociação, nas
quais se estabeleceram pequenas modificações em relação à CCT anterior,
tendo como norte as propostas apresentadas pela representação obreira.
Sustenta que, mesmo ciente dos erros materiais, a FESVINE protocolizou
unilateralmente e com flagrante má-fé o pedido de registro da convenção
junto ao antigo Ministério do Trabalho e Emprego.
Aduz que a cláusula 17ª não foi objeto de discussão, tendo sido
decidido já na primeira reunião que permaneceria com a redação da CCT
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2017/2018, conforme ata de 3/5/2018; contudo, foram acrescidas as funções
administrativas de auxiliar de tesouraria, auxiliar de caixa forte, supervisor
de caixa forte e supervisor de transporte de valores no direito à percepção do
adicional de periculosidade. A jornada de trabalho, inserida na cláusula 45ª,
teria sido indevidamente alterada de 44 horas semanais para oito horas de
labor de segunda a sexta e quatro horas aos sábados. A cláusula 46ª, por sua
vez, embora idêntica à norma anterior, não teria excluído o limitador de gozo
do intervalo intrajornada até as 14h.
Acrescenta, em alegações finais, que a testemunha arrolada confirmou
que, quando da assinatura da minuta da CCT, não houve qualquer discussão
de cláusulas, cujos teores já haviam sido decidido nas rodadas de negociação
pretéritas no sentido de permanecer a redação da norma anterior; bem como
que houve equívoco/erro na redação da proposta encaminhada pelo sindicato
à federação, o qual teria sido verificado somente após finalização dos atos.
Suscita, assim, que, diante da clareza solar de que as cláusulas não
espelham a real vontade do Sindicato patronal, a FESVINE age com má-fé
ao negar-se a corrigir as irregularidades constantes na norma coletiva,
aproveitando-se dolosamente de vantagens que não foram negociadas
previamente, motivo porque devem ser reconhecidos os vícios ali existentes
e declarada nula a CCT 2018/2019.
Em sua defesa, a Federação representante dos empregados aponta que
o Sindicato patronal deixou de mencionar dados relevantes que implicaram
na aprovação da CCT 2018/2019 da forma como se encontra. Destaca que,
na realidade, o instrumento coletivo teve por base contraproposta
apresentada pelo SINDESP dias antes do início das tratativas formais,
contendo alteração redacional de 28 cláusulas em comparação à norma
anterior. Elucida que a minuta foi elaborada na sede do sindicato e assinada
no mesmo ato, após revisão das partes e seus advogados, cuja cópia fiel foi
incluída no sistema mediador do MTE para validação.
Sustenta, ademais, que embora conste na ata do dia 3/5/2018 que as
cláusulas ali citadas permaneceriam como na CCT 2017/2018, a redação
ratificada foi a da contraproposta da entidade sindical, a exemplo da cláusula
17ª; na mesma ocasião, teria constado a modificação da cláusula 18ª. Já às
cláusulas 45ª e 46ª teriam sido discutidas e aprovadas na última reunião,
ocorrida em 7/6/2018, data em que não foi formalizada ata.
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Analiso.
O Acordo Coletivo do Trabalho ou a Convenção Coletiva do Trabalho
firmado(a) em desacordo com as normas do direito do trabalho (vício
material) ou em descompasso com os pressupostos legais exigidos (vício
formal) implica, em tese, na declaração de nulidade do ato ou do ponto
objeto de divergência. É o que se extrai da disposição contida no art. 966, §4,
do CPC/2015, segundo o qual "Os atos de disposição de direitos, praticados
pelas partes ou por outros participantes do processo e homologados pelo
juízo, bem como os atos homologatórios praticados no curso da execução,
estão sujeitos à anulação, nos termos da lei".
Os negócios jurídicos, destarte, para gozarem de plena validade,
devem preencher os requisitos previstos no art. 104 do Código Civil/2012,
quais sejam agente capaz, objeto lícito, possível, determinado ou
determinável e forma prescrita ou não defesa em lei, bem como observar as
demais exigências contidas no Título. O não atendimento a tais
determinações os faz nulos ou anuláveis, conforme disposição legal.
Ao apontar erro material e atuação dolosa da outra parte na
redação de cláusulas específicas da CCT 2018/2019, as quais não
estariam condizentes com a sua real vontade, o sindicato suscita os
defeitos previstos nos arts. 138 e 145 do mesmo Diploma Legal, dispondo
respectivamente que "São anuláveis os negócios jurídicos, quando as
declarações de vontade emanarem de erro substancial que poderia ser
percebido por pessoa de diligência normal, em face das circunstâncias do
negócio" e que "São os negócios jurídicos anuláveis por dolo, quando este
for a sua causa".
Com efeito, a manifestação de vontade da parte não pode incorrer em
dúvidas quanto a sua verdadeira intenção. No caso em apreço, contudo, não
vislumbro tais defeitos, pois o conjunto probatório caminha no sentido
de que a CCT vergastada foi elaborada consoante ditames especificados
pelo próprio sindicato autor (e não pela representação obreira, como
quer fazer crer), tendo por base a contraproposta encaminhada à
federação dias antes do início das tratativas oficiais, cujo teor das
cláusulas foi mantido mesmo após várias reuniões de negociação.
Vejamos.

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Extrai-se dos autos que as partes se submeteram a quatro rodadas
de negociação até a assinatura da minuta da Convenção Coletiva do
Trabalho 2018/2019.
Anteriormente ao seu início, a FESVINE encaminhou ao SINDESP
propostas de negociação com alteração redacional da norma coletiva
anterior relativamente às cláusulas de reajuste salarial, ticket
alimentação, diárias, cesta básica e garantia de emprego ao dirigente
sindical, cujos pontos teriam sido aprovados em Assembleia dos
Trabalhadores (fl. 243). Por conseguinte, o autor apresentou resposta,
por meio do Ofício 008/2018 - SINDESP/AM, contendo "proposta de
nova redação das Cláusulas atinentes a Convenção Coletiva de Trabalho
2018/2019, aprovada em Assembleia Geral no dia 30 de Abril de 2018,
pelas Empresas de Transporte de Valores" (fl. 244). A mencionada
contraproposta consistia na redação integral do instrumento coletivo, com
sugestão de mudança de 28 cláusulas, inclusive quanto à inclusão de outras
funções que passariam a fazer jus à percepção do adicional de periculosidade
(cláusula 17ª) - fls. 245/272.
A primeira reunião deu-se em 3/5/2018, na sede do sindicato,
ocasião em que realizaram a leitura das propostas apresentadas pelas partes e
decidiram aprovar as seguintes cláusulas com manutenção da redação da
CCT 2017/2018 (anterior): 1ª, 2ª, 5ª, 6ª, 7ª, 8ª, 9ª, 10ª, 11ª, 12ª, 13ª, 14ª, 15ª,
16ª, 17ª (Concessão do Adicional de Periculosidade), 21ª, 22ª, 23ª, 24ª, 26ª,
28ª, 29ª, 31ª, 32ª, 35ª, 36ª, 37ª, 38ª, 39ª, 40ª, 43ª, 47ª, 48ª, 49ª, 50ª, 51ª, 52ª,
53ª, 54ª, 55ª, 56ª, 57ª, 59ª, 65ª, 66ª, 67ª, 70ª e 71ª. Além de decidirem por
nova redação das cláusulas 18ª (Diárias de deslocamento e remuneração do
tempo), 30ª, 33ª, 42ª, 63ª e 64ª (fls. 50/52).
Na reunião do dia 8/5/2018, aprovaram as cláusulas 20ª, 27ª, 41ª e 58ª
com a mesma redação do instrumento coletivo vigente no ano anterior e
definiram pela inclusão das cláusulas 68ª e 69ª na novel convenção, que
tratam do contrato de aprendizagem e da admissão de pessoa com
deficiência. No ato, também discutiram acerca da jornada de trabalho e do
intervalo intrajornada (cláusulas 45ª e 46ª), porém nada restou decidido
acerca destes assuntos (fls. 53/55).

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Em 23/5/2018, na terceira tratativa, apesar das propostas para as
cláusulas pendentes de negociação, restou infrutífera a tentativa de
conciliação.
No dia 7/6/2018 deu-se a assinatura da minuta da Convenção
Coletiva do Trabalho 2018/2019, na sede do SINDESP, na presença dos
representantes das partes e de seus advogados. Reunião esta que não
houve qualquer registro formal, porém no documento formalizado pelo
autor, referente à notificação extrajudicial destinada à ré, há a
confirmação da data em que se deu o evento (fl. 61).
Há de se ressaltar que, embora não formalizado qualquer
documento, ainda fora realizada uma última tratativa antes da
assinatura do instrumento coletivo (naquele ou em dia anterior),
quando houve definição acerca de alguns assuntos ainda não
negociados, inclusive no que pertine às cláusulas 3ª (reajuste salarial) e
19ª (ticket alimentação), conforme confirmado em audiência pelas
partes e testemunhas.
Sobre a questão, disse o Presidente do SINDESP: "que, na data da
assinatura da minuta houve alguma negociação de cláusulas da
convenção, sob a coordenação do presidente da comissão, porém não se
recorda o que foi discutido; que quem estava presidindo a reunião é da
comissão patronal, Sr. Raimundo Nonato; que o depoente estava presente na
reunião, mas não debateu as cláusulas" (fl. 445). O representante da
FESVINE declarou: "que esteve presente nas quatro reuniões realizadas,
sendo que a última ocorreu no dia 07/06/2018, no mesmo momento em que
houve assinatura da minuta; que na derradeira reunião houve debate
sobre a redação de algumas cláusulas que já tinham sido discutidas" (fl.
445).
A testemunha arrolada ao processo -- que foi presidente da
comissão patronal que atuou na negociação da CCT 2018/2019 --, por
sua vez, relatou: "que houve três reuniões preliminares e um ato para
assinatura da minuta; que, neste último ato, não se discutiu nenhuma
cláusula, apenas foi feita a assinatura; que, após a reunião do dia
23/5/2018, no dia anterior à assinatura da minuta houve uma reunião
informal, porém sem registro de ata, onde houve ajuste das redações das
cláusulas já discutidas; que a minuta, salvo engano, foi assinada no dia
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07/06/2018; que, além disso, houve outra reunião informal para discutir
pontos, como valor do reajuste e valor do vale alimentação" (fl. 447).
As cláusulas antes mencionadas (3ª e 19ª), assim como outras, a
exemplo das cláusulas 44ª (descontos para convênios), 45ª (jornada de
trabalho) e 46ª (intrajornada), foram objeto de discussão porque o
conteúdo desses assuntos na norma coletiva 2018/2019 diverge tanto da
redação da CCT 2017/2018, quanto das proposições apresentadas pelas
partes.
As cláusulas 45ª e 46ª possuíam a seguinte redação no instrumento
anterior (fls. 90/91):
CLÁUSULA QUADRAGÉSIMA QUINTA - DA JORNADA DE
TRABALHO
A jornada de trabalho dos Trabalhadores nas Empresas de
Transportes de Valores será de 44 (quarenta e quatro) horas semanais,
obedecendo aos critérios estabelecidos em lei.
I - As horas excedentes aos limites das jornadas, serão efetivamente
pagas com horas extras com o percentual de 50% (cinquenta por cento);
II - Quando da dispensa do empregado do serviço para o qual estava
escalado, fica o mesmo dispensado de compensar horas não laboradas;
III - Quando das necessidades das empresas e estas convocarem o
empregado para trabalhar em seu dia de folga ou feriado de Lei, sejam eles,
Federal, Estadual e Municipal, fica obrigada ao pagamento de toda a
jornada laborada como hora extra com o percentual de 100% (cem por
cento).
IV - Caso o Trabalhador seja convocado nas folgas ou feriados, e este
ficar na reserva e posteriormente liberado, as empresas computarão ao
mesmo a jornada de oito horas (08h00min), independente do horário que for
liberado.
V - Fica acordado que havendo necessidade por parte do empregado e
anuência da empresa, poderá haver a troca de horários e/ou serviços,
respeitando sempre o inciso II, da Cláusula 5ª.
Parágrafo Primeiro: Na Escala de 44 horas semanais, quando do
trabalho aos sábados, fica vedado o fatiamento de jornada em horários
sucessivos de 4 horas para cada equipe, ficando limitado o início da jornada
até 10:00 (Dez) horas.
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Parágrafo Segundo: Fica facultado às empresas a adoção da Jornada
de Trabalho 5 x 2, ou seja, 5 dias de trabalho por dois dias de folga, neste a
jornada diária será de 8:48h de segunda à sexta feira.
CLÁUSULA QUADRAGÉSIMA SEXTA - CLÁUSULA
QUADRAGÉSIMA SEXTA - INTERVALO DE INTRAJORNADA
As empresas que não concederem o descanso de 1 hora para refeições
e repouso, se obrigarão a indenizar a referida hora conforme determina o
parágrafo 4º do artigo 71 da CLT.
Parágrafo Único: O intervalo para almoço deverá ser concedido até
às 14h. Ultrapassado o horário de 14h, fica a empresa obrigada a pagar o
intervalo de intrajornada, garantindo, no mínimo, 15 min para a refeição.
A contraproposta do SINDESP foi apresentada com as seguintes
alterações (fls. 262/263):

CLÁUSULA QUADRAGÉSIMA QUINTA.


III - Quando das necessidades das empresas e estas convocarem o
empregado para trabalhar em seu dia de folga ou feriado de Lei, sejam eles,
Federal, Estadual e Municipal, fica obrigada ao pagamento de toda a
jornada laborada como hora extra com o percentual de 100% (cem por
cento), exceto na jornada 12x36.
Parágrafo Terceiro: Fica facultado às empresas ainda a adoção da
jornada de trabalho 12x36, sendo doze horas seguidas de trabalho por trinta
e seis horas ininterruptas de descanso, observados ou indenizados os
intervalos para repouso e alimentação. Neste caso a remuneração mensal
pactuada abrangerá os pagamentos devidos pelo descanso semanal
remunerado, bem como pelo descanso em domingos e feriados. E serão
considerados compensados os feriados e as prorrogações de trabalho
noturno, quando houver.
CLÁUSULA QUADRAGÉSIMA SEXTA -
CLÁUSULA QUADRAGÉSIMA SEXTA- INTERVALO DE
INTRAJORNADA. As empresas de transporte de valores poderão conceder
intervalo para refeição e descanso mínimo de 30 minutos e máximo de 02
(duas) horas, não computáveis na jornada de trabalho.
Parágrafo Primeiro: A não concessão ou a concessão parcial do
intervalo intrajornada mínimo, para repouso e alimentação, implica o
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pagamento, de natureza indenizatória, apenas do período suprimido, com
acréscimo de 50% (cinquenta por cento) sobre o valor da remuneração da
hora normal de trabalho, nos termos do parágrafo 4º do artigo 71 da CLT.
Parágrafo Segundo: O intervalo para almoço deverá ser concedido
até a 6ª hora de trabalho.

A proposta apresentada pela FESVINE, por sua vez, foi no sentido


de manter o intervalo intrajornada de uma hora e, quanto à jornada de
trabalho, de rejeitar a escala 12x36, mantendo jornada de seis dias de
trabalho por um dia de folga, sendo de oito horas diárias de segunda a sexta e
de quatro horas aos sábados, com folgas aos domingos (fl. 71).
A CCT 2018/2019, por fim, foi aprovada com alteração na redação
do caput da cláusula 45ª e no título da cláusula 46ª, em que foi excluído o
texto em duplicidade (fl. 144), ficando da seguinte forma:
CLÁUSULA QUADRAGÉSIMA QUINTA - DA JORNADA DE
TRABALHO
A jornada de trabalho dos Trabalhadores nas Empresas de
Transportes de Valores será de 44 (quarenta e quatro) horas semanais, de
segunda a sexta feira 08 (oito) horas por dia e aos sábados 04 (quatro)
horas, obedecendo aos critérios estabelecidos em Lei.(grifei)
CLÁUSULA QUADRAGÉSIMA SEXTA - INTERVALO DE
INTRAJORNADA (grifei)

Vê-se, portanto, que indubitavelmente houve tratativas entre as partes


para chegarem a tal denominador comum.
A norma coletiva 2018/2019 também acompanhou as alterações
dos pontos previstos nas cláusulas 18ª, 30ª, 33ª, 42ª, 63ª, 64ª, 68ª e 69ª nos
exatos termos em que foram entabuladas nas reuniões dos dias 3 e
8/5/2018. Acerca do pagamento das diárias, por exemplo, a CCT 2018/2019
passou a prever que: "CLÁUSULA DÉCIMA OITAVA - DAS DIÁRIAS DE
DESLOCAMENTO E REMUNERAÇÃO DO TEMPO. V - A empresa
providenciará hospedagem e/ou acomodações e alimentação,
independentemente do tíquete alimentação a que já faz jus, além do
pagamento das diárias previsto no inciso II, exceto nos casos de
deslocamento para substituição temporária de outro funcionário nos casos
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de férias, atestados médicos e reciclagem, ocasião na qual fará jus tão
somente ao adicional de deslocamento de 25% sobre o salário base" (fl.
134), tendo ocorrido alteração significativa do inciso em relação ao
instrumento anterior. Houve, assim, a respeito dos mencionados pontos,
integral fidelidade ao que fora modificado nos acordos.
Ressalto, outrossim, que, ao longo do processo de negociação algumas
cláusulas sequer chegaram a ser mencionadas nas reuniões, ficando sem
definição formal se escolhido o texto da norma anterior, as propostas das
partes ou uma nova redação. É o caso das cláusulas 4ª, 34ª, 60ª, 61ª e 62ª, em
que as três primeiras permaneceram idênticas ao instrumento do ano
anterior e, as duas últimas, são diferentes da CCT 2017/2018, todavia
iguais às redações da contraproposta do SINDESP (vide comparação -
fls. 94/95, 267/269 e 148/149), o que implica dizer que possivelmente
também foram objeto de discussão, ainda que de forma superficial.
Por fim, no que pertine à cláusula 17ª, objeto de principal discussão
nestes autos em virtude da extensão, em suposta má-fé da FESVINE, do
pagamento do adicional de periculosidade a funções de cunho
administrativo, há de se mencionar que, a despeito da aprovação na
reunião ocorrida em 3/5/2018 do texto da norma anterior (fl. 50), o
referido assunto na CCT 2018/2019 é cópia da contraproposta que foi
apresentada pelo SINDESP ainda no início das negociações.
Muito embora o autor sustente que a novel norma coletiva teve por
base as propostas encaminhadas pela federação obreira, não é o que se vê da
redação das cláusulas em geral, até porque o FESVINE apresentou, por
escrito, um reduzido número de reivindicações, antes já mencionadas, dentre
as quais não estava formalizado o pedido de pagamento de adicional de
periculosidade aos empregados ocupantes das funções de auxiliar de
tesouraria, auxiliar de caixa forte, supervisor de caixa forte e supervisor de
transporte de valores.
A CCT 2017/2018 possuía a seguinte redação:

CLÁUSULA DÉCIMA SÉTIMA - CLÁUSULA DÉCIMA SÉTIMA -


CONCESSÃO DO ADICIONAL DE PERICULOSIDADE CONFORME.
Todos os Trabalhadores, tais como: chefe de guarnição de carro forte,
vigilante condutor de carro forte (motorista), escolta de transporte de
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valores, inspetor de base, operador de caixa eletrônico, armeiro, condutor
de carro leve, escolta armada, será concedido um percentual
correspondente a 30% (trinta por cento) do Salário-Base mais horas extras,
conforme sua classificação, a título de periculosidade (caput, fl. 79).

A CCT 2018/2019 foi aprovada com inclusão de outras funções, de


forma idêntica à contraproposta do SINDESP, a saber:

CLÁUSULA DÉCIMA SÉTIMA - CONCESSÃO DO ADICIONAL DE


PERICULOSIDADE. Todos os Trabalhadores, tais como: Chefe de
Guarnição de Carro Forte/ATM (Fiel), Escolta de Transporte de Valores,
Condutor de Carro Forte/Carro Leve, Auxiliar de Tesouraria, Auxiliar de
Caixa Forte, Supervisor de Caixa Forte, Supervisor de Transporte de
Valores ,Escolta Armada, Armeiro e Escolta Condutor de Carro Leve, será
concedido um percentual correspondente a 30% (trinta por cento) do
Salário-Base, conforme sua classificação, a título de periculosidade. (caput,
fls. 133 e 250 - grifei).
Sobre o imbróglio, o representante da Federação elucidou em
depoimento pessoal que:
"com relação à cláusula 17ª, não houve discussão expressa; que a
redação da cláusula 17ª que constou na minuta da CCT 2018/2019 veio na
primeira contraproposta apresentada pelo sindicato patronal; que a
referida proposta foi aprovada logo na primeira reunião, sem nenhum
debate, porque era de interesse da categoria; que a inclusão dos
trabalhadores citados na referida cláusula convencional já vinha sendo
discutida nas convenções anteriores, porém não havia consenso; que a
minuta final da CCT foi redigida pela advogada do SINDESP, Dra. Daniele;
que o documento foi impresso em duas vias, entregues ao Sr. Raimundo
Nonato Caldeira, presidente da comissão patronal, que conferiu, vistou e
assinou (...) que a primeira contraproposta patronal foi enviada do email
do Sindicato patronal ao email do depoente e ao email da federação; que a
redação da cláusula 17ª já veio nessa contraproposta e foi aprovada na
íntegra; (...) que, no ato da negociação, na primeira reunião, na sede do
sindicato das empresas, a contraproposta patronal foi colocada em um
monitor, foi feita a leitura de cada cláusula e, caso não aprovada, foi
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colocado um destaque na cláusula para posterior discussão; que, quando
aprovada a cláusula, era apenas colocado um "OK" ao lado; que a cláusula
17ª foi aprovada na primeira reunião" (fls. 445/446).
O Presidente do Sindicato, por sua vez, confirmou que foi
encaminhado à Federação um ofício e, em anexo, suas propostas de
redação do instrumento coletivo, porém não ratificou o conteúdo. Disse:
"que a minuta da CCT foi redigida pela Comissão de Negociação,
juntamente com os escritórios jurídicos; que, logo no início das
negociações, o sindicato patronal encaminhou uma contraproposta; que
isso foi feito por escrito; que a reunião realizada no dia 23/5/2018 ocorreu
no sindicato patronal, onde também se deu a assinatura da minuta que foi
impressa; que entende que foram inseridas alterações na minuta da CCT
porque tais cláusulas não foram objeto de debate; que não sabe explicar a
razão desse equívoco, apesar da comissão ter redigido o texto, de ter sido
impresso o documento na presença de todos no sindicato e ter sido o
documento assinado na presença de todos; que acredita que não houve
envio da minuta da CCT antes da assinatura do termo, do sindicato patronal
para a federação; que não sabe especificar qual o meio utilizado para o
envio de um ofício 008/2018, de 30/4/2018, para a Federação; que o
referido ofício foi acompanhado de uma contraproposta; que não sabe dizer
o conteúdo da contraproposta; que não sabe dizer se continha as mesmas
cláusulas da minuta que foi assinada" (fls. 444/445 - grifei).
O membro do Ministério Público do Trabalho presente à sessão de
instrução, Dr. Jorsinei Dourado do Nascimento, após requerer
diligência ao email pessoal do representante da federação, constatou
que "no anexo ali inserto consta na proposta da CCT a mesma redação
da cláusula 17ª que consta na minuta assinada" (fl. 446).
Já a testemunha arrolada ao processo declarou:
"que tem conhecimento da cláusula 17ª, a qual enumera quais cargos e
funções teriam direito à periculosidade; que não houve discussão acerca da
alteração da redação dessa cláusula, mas o que foi decidido é que seria
mantida a redação da cláusula da CCT anterior; que, na primeira reunião, é
que foi definida que não haveria alteração do teor da cláusula; que houve
consenso que seria mantida a redação da cláusula da norma coletiva do ano
anterior; que foi detectado posteriormente um erro de digitação que inseriu
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outras funções beneficiadas pelo adicional de periculosidade; que não foi
discutido nesses termos; que o equívoco somente foi detectado após a
assinatura da minuta de 07/06/2018; que houve equívoco na redação da
contraproposta enviada ao FESVINE pelo sindicato patronal; que na
primeira reunião não se percebeu o equívoco, mas assim foi aprovada a
redação da cláusula da convenção anterior" (fl. 447- grifei).
Dessa conjuntura, é possível concluir que: 1) a redação da cláusula
17ª teve origem na contraproposta apresentada pelo autor, ainda que
equivocadamente redigida pelo SINDESP, fato somente percebido após
aprovação da minuta; 2) não há provas e sequer indícios de que o teor da
cláusula fora ilicitamente alterado pela FESVINE, visto que a minuta da
norma fora redigida e impressa pela comissão de negociação na sede do
sindicato, bem como simultaneamente assinada pelos representantes e seus
patronos; e 3) apesar de haver constado na ata da primeira reunião que a
citada cláusula permaneceria com a mesma redação da CCT anterior,
na realidade o texto aprovado por ambas as partes foi o da
contraproposta.
Esta última conclusão se torna evidente porque outras cláusulas
que, em tese, também teriam sido aprovadas com a antiga redação nas
negociações ocorridas nos dias 3 e 8/5/2018, tiveram o texto atualizado
para a redação da contraproposta apresentada pelo SINDESP. Com
efeito, além da questão do adicional de periculosidade, as cláusulas 6ª, 10ª,
28ª, 36ª, 47ª, 58ª, 65ª e 67ª também foram redigidas integralmente conforme
documento encaminhado pelo sindicato à federação no início das tratativas,
tendo sido desta forma assinadas.
Não bastasse isso, outra evidência que não deixa dúvidas a respeito do
acerto pelo teor da contraproposta (e não da norma anterior) é que, na
primeira reunião, aprovou-se a manutenção das cláusulas 70ª e 71ª (fl. 51).
Ocorre que, na CCT 2017/2018 a cláusula 70ª era a última do instrumento e
tratava sobre a eficácia/ultratividade das normas coletivas da categoria, o que
foi deliberadamente excluído do instrumento coletivo seguinte (fls.
151/152), seguindo o consignado na contraproposta (fls. 271/272), sem,
portanto, anuência formal da parte adversa. Outrossim, com a inclusão dos
assuntos que tratam acerca do contrato de aprendizagem e da admissão de
pessoa com deficiência, estes passaram a constar respectivamente nas
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cláusulas 68ª e 69ª, sendo as antigas redações destas cláusulas deslocadas
para as ordens 70ª (Do juízo competente) e 71ª (Da multa), exatamente como
estava na contraproposta e como foi aprovada na CCT 2018/2019.
Dessa forma, é plenamente crível o afirmado pelo representante
obreiro de que durante as tratativas de aprovação da CCT 2018/2019
foram-lhe apresentadas as cláusulas nos exatos termos da
contraproposta do SINDESP, quando tiveram que opinar pela
manutenção ou não das 28 alterações trazidas.
Não constato, em momento algum, má-fé ou dolo da FESVINE
durante os atos de negociação, visto que não há prova de sua tentativa
de modificação das cláusulas questionadas, sendo certo que o
encaminhamento ao Ministério do Trabalho e Emprego da minuta
assinada para validação do instrumento coletivo, no dia 11/6/2018, não
está revestido de qualquer irregularidade. Os supostos equívocos
praticados pelo SINDESP também não são passíveis de anulação ou
conserto, pois as proposições de alteração da CCT anterior foram por ele
próprio apresentadas desde o início das tratativas e perpetuaram-se ao longo
de todo o processo, só vindo a ser identificados quando já consolidado o
instrumento. A parte adversa apenas compactuou com benefícios a sua
categoria, sem qualquer intervenção negativa.
Portanto, inexistindo os vícios de consentimento suscitados (erro e
dolo), declaro a validade jurídica da Convenção Coletiva do Trabalho
2018/2019 entabulada pelas categorias representadas pelo SINDESP e pela
FESVINE e reconheço a improcedência da ação anulatória de cláusula
coletiva. Diante disto, revogo a tutela provisória de urgência concedida
nestes autos, cessando a medida que suspendeu os efeitos das cláusulas 17ª,
18ª, 45ª e 46ª da Convenção Coletiva de Trabalho 2018/2019 e determinou o
restabelecimento excepcional da eficácia das cláusulas correspondentes
estabelecidas na CCT 2017/2018.

No recurso ordinário, o Sindicato Autor desta ação


afirma que a minuta da CCT 2018/2019 por ele assinada no dia 6/7/2018
não espelha a sua real vontade, em relação às cláusulas 17ª, 18ª, 45ª
e 46ª, sendo oriunda de erro. Nesse sentido, pondera que, no curso das
quatro reuniões de negociação para a celebração da CCT 2018/2019 (dias
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3/5/2018, 8/5/2018, 23/5/208 e 12/6/2018), as Partes concordaram em
manter as cláusulas 17ª (Concessão do Adicional de Periculosidade), 18ª
(Das Diárias de Deslocamento e Remuneração do Tempo) e 45ª (Da jornada
de Trabalho) com a mesma redação da CCT 2017/2018, e alterar a redação
Cláusula 46ª (Intervalo intrajornada), mas foi surpreendido pela
FESVINE, que protocolizou junto ao Ministério do Trabalho, no dia
12/6/2018, o registro da CCT com as redações errôneas das cláusulas.
Sobre a Cláusula 17ª – Do adicional de Periculosidade,
a Parte diz que está em desacordo com o que foi acordado na reunião de
3/5/2018, pois, conforme ata, o texto deveria ter a mesma redação da CCT
2017/2018. Por erro material ou vício de consentimento, foram
contempladas funções que não se encontram abarcadas pela concessão do
adicional de periculosidade.
Quanto à Cláusula 18ª, a respeito das diárias, aduz
que sua antiga redação (CCT 2017/2018) se justifica pelo fato de que a
Cláusula 45ª - Da Jornada de Trabalho, também foi indevidamente alterada
(de 44 horas semanais para oito horas diárias de segunda a sexta e 4 horas
aos sábados).
Sobre a Cláusula 46ª – Intervalo Intrajornada, alega
que também deveria ter sido mantido o texto da CCT 2017/2018, com a
exclusão do limitador de gozo do intervalo até 14h00m (quatorze horas).
O Sindicato autor também insiste na alegação de que
houve alteração unilateral das cláusulas, pela Federação Ré,
acrescentando que o documento apresentado pela FESVINE relativo à
contraproposta do SINDESP não tem valor legal, porquanto espelha conteúdo
que não foi objeto de discussão e não tem assinatura. Aduz, ainda, que
houve confissão do preposto da Federação obreira em relação à alteração
da redação das cláusulas sem o seu consentimento.
Ao exame.
Primeiramente, é preciso destacar e examinar os
argumentos reiterados pelo patrono do Sindicato patronal na sustentação
oral realizada na sessão telepresencial desta SDC no dia 16/11/2020, à
tarde.
Neste ponto, salienta-se que a participação ativa das
partes na defesa de seus interesses, trazendo aos autos alegações e provas
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que auxiliarão o Julgador na formação de seu convencimento, é conduta
absolutamente regular e condizente com o princípio da cooperação, a
partir do qual se espera que “todos os sujeitos do processo devem cooperar
entre si para que se obtenha, em tempo razoável, decisão de mérito justa
e efetiva” (art. 6º do CPC/15).
O amplo direito de defesa, de influenciar o Julgador
a se convencer de que as suas razões são as mais justas, porém, não pode
ser exercido a qualquer custo, com exageros e exacerbações, sob pena de
abuso dessa posição jurídica.
É por isso, inclusive, que existem diversas balizas
éticas na legislação processual que regem a conduta das Partes no
processo, todas decorrentes dos princípios da boa-fé e lealdade
processual. Ilustrativamente, o art. 77 do CPC, que estabelece uma série
de deveres para a observância da regularidade dos atos processuais; e
o art. 80 do CPC, que enumera um rol de atos tipificados como de má-fé,
passíveis de penalidade processual.
Na situação vertente, o Advogado do Sindicato Autor
apresentou, com enorme eloquência, sua versão sobre os fatos para
convencer a Seção de que as cláusulas “17ª – Adicional de Periculosidade”,
“18ª – Diárias”, “45ª – da Jornada de Trabalho” e “46ª – Intervalo
Intrajornada” tiveram suas redações indevidamente alteradas no curso da
negociação, a ponto de induzir a erro a parte autora, sindicato
empresarial, e/ou caracterizar o dolo da outra parte, federação obreira.
A tese central para a declaração de nulidade da CCT na sustentação oral
baseou-se em suposta confissão do preposto da Federação obreira (Sr.
Frank Romero do Nascimento, membro da Diretoria da FESVINE), no sentido
de que ele teria reconhecido que houve um equívoco na redação das
cláusulas que constaram no instrumento assinado pelas Partes.
Para bem esclarecer essa questão, transcrevem-se as
notas degravadas da referida sustentação oral:

“O Sr. Ely Talyuli Júnior (Advogado) – Obrigado. Cumprimento V.


Ex.ª, o eminente Relator e os demais Ministros componentes desta sessão
especializada. É um caso bastante interessante, Excelências. Peço vênia ao
eminente Relator para sustentar a anulação do instrumento coletivo. Coloco
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para V. Ex.as a seguinte questão: na 4.ª Ata de Reunião, o presidente do
sindicato patronal, ora recorrente, registrou expressamente que estava
requerendo a modificação dos pontos em face de alguns erros materiais e
divergências verificadas em relação ao texto da minuta da Comissão
Coletiva de 2018/2019. Entre elas são: manter a cláusula da jornada de
trabalho com a mesma redação da convenção coletiva anterior; intervalo
intrajornada (retirar um limitador até 14h - quatorze horas) ou retirar a
cláusula da convenção coletiva; manter diárias de deslocamento com a
mesma redação da Comissão Coletiva anterior e manter a concessão da
periculosidade também com a mesma redação da Comissão Coletiva
anterior. Em momento algum, Excelências, houve consenso no que se refere
à proposta apresentada em assembleia geral realizada em 30 de abril de 2018,
como entendeu o egrégio Tribunal Regional, data maxima venia. Esse
documento não condiz com as atas de reuniões devidamente assinadas pelas
partes. Houve impugnação específica em relação à contraproposta
apresentada com vinte e oito modificações de cláusulas normativas, com
inclusão, alteração e exclusão de provas. Há também um ofício juntado aos
autos, mas este não possui qualquer validade porque não tem a assinatura de
membros do sindicato ora recorrente, muito menos consta autenticação ou
carimbo do sindicato. Esse documento, manifestamente unilateral, não tem o
condão de invalidar as atas das reuniões devidamente assinadas pelas partes,
restando claro que, essencialmente, as cláusulas 17, 18, 45 e 46 deveriam
permanecer com o mesmo texto da Convenção Coletiva anteriores
(2017/2018), e não com a redação unilateralmente alterada pela ora
recorrida. Sobre a cláusula 17, no que diz respeito à concessão do adicional
de periculosidade, no momento da redação final, houve o erro ou o vício de
consentimento que a parte sustenta. Foram incluídas funções administrativas
– exclusivamente administrativas – como dando direito a adicional de
periculosidade, quais sejam: auxiliar de tesouraria, auxiliar de caixa forte,
supervisor de caixa forte e supervisor de transporte de valores. São todas
funções administrativas, internas ao segmento das unidades empregadoras, e
tais, com todo o respeito, não constavam do instrumento coletivo anterior e
não há nenhuma justificativa para a inclusão em convenção coletiva
posterior. Nenhuma negociação nesse sentido infere das atas de reuniões.
Vejam: a respeito das diárias, a cláusula 18 também justifica a redação antiga
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com base no aspecto da jornada de trabalho inserida na cláusula 45, foi
indevidamente alterada de quarenta e quatro horas semanais para oito horas
de labor de segunda a sexta e quatro horas aos sábados. Já a cláusula 46, o
texto previsto na convenção coletiva anterior com exclusão do limitador do
gozo de intervalo intrajornada até quatorze horas também deveria ter sido
repetido. Vamos à prova, Excelências. O que justifica essa ação de
anulação é a prova, o grave. O grave foi provado nesse feito. Primeiro,
confissão do preposto da recorrida em relação aos fatos alegados. Vou
ler o depoimento do preposto da recorrida “(...) que entende que foram
inseridas alterações na minuta da CCT porque tais cláusulas não foram
objeto de debate; que não sabe explicar a razão desse equívoco, apesar da
comissão ter redigido o texto, de ter sido impresso o documento na
presença de todos no sindicato e ter sido o documento assinado na
presença de todos; que acredita que não houve envio da minuta da CCT,
antes da assinatura do termo, do sindicato patronal para a federação; que
não sabe especificar qual o meio utilizado para o envio de um ofício
008/2018, de 30/04/2018, para a Federação; que o referido ofício foi
acompanhado de uma contraproposta; que não sabe dizer o conteúdo da
contraproposta; que não sabe dizer se continha as mesmas cláusulas da
minuta que foi assinada”. Então, tem-se aqui, Excelências, hipótese clássica
de confissão (art.348 do CPC), o preposto da recorrida informando que
não sabe explicar a razão desse equívoco. Se não fosse assim, teria
havido negociação. Ele assume o equívoco. Nesta lide, a prova está
materializada. Equívoco em confissão do preposto. E mais, a ratificação
deste equívoco está na prova oral. Esses fatos foram comprovados pelo
depoimento da testemunha Raimundo Nonato Caldeira, que informou:
“que houve três reuniões preliminares, e que no ato da assinatura da CCT
com erro material, não se discutiu nenhuma cláusula cujo teor já não tenha
sido decidido nas rodadas de negociação (...)”. Olha, não se discutiu
nenhuma cláusula que não tenha sido discutida, decidida nas rodadas de
negociação. Então, essas inserções, essas inclusões são indevidas. Não
têm respaldo assemblear. Não têm respaldo negocial. E mais, continua a
testemunha, “Que não houve discussão acerca da mudança na redação da
cláusula 17ª – DA PERICULOSIDADE; Que desde a primeira reunião, do
dia 03.05.2018, houve total consenso entre as partes que seria mantida a
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redação da cláusula 17ª – DA PERICULOSIDADE, tal como o texto da CCT
2017/2018 anterior; bem como que houve equívoco na redação da
contraproposta enviada à federação pelo sindicato patronal e que somente
após a assinatura da minuta com este erro é que foi verificada a
irregularidade (...)”. Então, houve prova. O recorrente comprovou. Há
confissão e prova testemunhal ratificando a confissão do preposto. O que
mais se pode provar nessa lide? Uma situação tão delicada como essa não
tem como se provar, muitas vezes, com outros documentos, nem mesmo com
testemunha. Nesse caso, houve confissão e testemunha. Não há nenhuma
ata que remete a cláusulas negociadas que estão inseridas indevidamente. Há
uma patente irregularidade. Isso acarreta um impacto econômico enorme,
Excelências. Enorme. Então, assim, a única forma que existe e subsiste à
ação anulatória é uma prova evidente como tem a dos autos, com todo
respeito, tem confissão e tem prova testemunhal produzida ratificando a
confissão do preposto. Então, com todo respeito, as obrigações incluídas
foram indevidamente afronta ao princípio da boa-fé objetiva, afronta à
legalidade. É um caso de vício detectado. Faz parte do processo negocial.
Passou-se, mas o fato de passar não significa que o Poder Judiciário vai
ratificar. Vai ratificar quando está evidente uma prova nesse sentido tão forte
e materializada. Então, pedindo a máxima vênia ao eminente Relator, esse
caso é de exceção, sim, a natureza da gravidade foi comprovada por
confissão, por prova testemunhal. Então, pelo conhecimento e provimento,
pedindo a máxima vênia ao entendimento de V. Ex.ª. Obrigado, Sr.ª
Presidente.

Sem adentrar, neste momento, o mérito das alegações


de fato relativas à realização de uma reunião em que o Sindicato patronal
teria registrado expressamente o requerimento para a modificação das
cláusulas em face de erros materiais (na verdade, trata-se de uma reunião
realizada no dia 12/6/2018, posterior à assinatura da CCT, não confirmada
pela Parte contrária e em cuja ata não há a assinatura dos representantes
da Federação obreira– fl. 57-58) e à suposta criação unilateral, pela
Federação obreira, da contraproposta que serviu de base para a redação
das cláusulas – questões que serão abordadas mais à frente -, é imperioso
destacar a inadvertência e o equívoco do patrono do Sindicato patronal
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no enquadramento jurídico da suposta confissão, ao expor os depoimentos
prestados na audiência de instrução no TRT.
Como se percebe, a questão crucial da presente lide
é averiguar se, na assinatura do termo da CCT 2018/2019, alguma das partes
incorreu em erro substancial passível de macular a validade do ato. Ou
se houve dolo da parte adversa na direção apontada pelo Sindicato autor.
Entretanto, o TRT, após examinar exaustivamente as
provas, convenceu-se de que não ficaram comprovados nem o dolo da Parte
Ré (a Federação Obreira), nem o erro da Parte Autora (o Sindicato
Empresarial) passível de conduzir à nulidade do ato que praticou. Essa
também foi a compreensão do Representante do Ministério Público do
Trabalho da 11ª Região, igualmente próximo aos fatos.
Nesse contexto, causou perplexidade a afirmação do
Sindicato Empresarial, em sede recursal e na sessão, de que existe uma
confissão da Federação Ré sobre o fato, e que a redação de algumas
cláusulas foi intencionalmente alterada de forma indevida e maliciosa.
Isso porque a confissão consiste em um meio de prova relevante para a
solução da lide e o Tribunal Regional não analisou essa questão em sua
decisão (nem foi provocado por embargos declaratórios). É bastante raro
o Magistrado não perceber a presença de confissão expressa em quaisquer
autos processuais, sobretudo se atuou na qualidade de presidente da
instrução processual, em contato direto com as partes e as provas dos
autos.
Nessa linha, melhor examinando o tema e os fatos da
causa, verifica-se que o depoimento transcrito no apelo e lido na sessão
da SDC do TST como se fosse a confissão da Parte Ré (no caso, a confissão
do preposto da Federação de Trabalhadores) foi extraído do depoimento
prestado pelo Sr. José Pacheco Ferreira, Presidente do SINDESP
(Presidente do Sindicato Empresarial Autor), conforme consta na ata da
audiência realizada no TRT no dia 15/2/2019(fls. 449-450):

“Iniciados os depoimentos das partes, respondeu o autor: que


participou de todas as reuniões, no total de três reuniões, para negociação da
convenção coletiva 2018/2019; que é o presidente do sindicato patronal;
que na terceira reunião foi assinada a minuta da CCT 2018/2019; que a
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minuta da CCT foi redigida pela Comissão de Negociação, juntamente
com os escritórios jurídicos; que houve envio para as empresas associadas
da minuta final aprovada na última reunião; que, logo no início das
negociações, o sindicato patronal encaminhou uma contraproposta; que isso
foi feito por escrito; que a reunião realizada no dia 23/5/2018 ocorreu no
sindicato patronal, onde também se deu a assinatura da minuta que foi
impressa; que na reunião do dia 23/5/2018 algumas cláusulas ainda foram
discutidas; que todas as reuniões constaram em ata; que não houve nenhuma
reunião em que não houve ata. Às perguntas do Procurador do MPT,
respondeu: que reconhece a sua assinatura no documento lançado sob o id.
7bf10b3, referente à minuta da CCT; que estava acompanhado de advogada
no ato, Drª. Daniele; que não se recorda se advogada também assinou; que
também se encontrava presente o presidente da comissão, Dr. Raimundo
Nonato; que quem redigiu a minuta da CCT foi uma comissão mista,
composta por representantes patronal e obreiro, que, no dia da assinatura da
minuta da convenção, não houve registro em ata, uma vez que entenderam
que já estavam de comum acordo; que, pelo que se recorda, as cláusulas já
haviam sido discutidas nas reuniões anteriores; que, no dia da assinatura da
minuta convenção, não se lembra dos detalhes da reunião; que não sabe
informar porque não foi lavrada a ata; que entende que foram inseridas
alterações na minuta da CCT porque tais cláusulas não foram objeto de
debate; que não sabe explicar a razão desse equívoco, apesar da
comissão ter redigido o texto, de ter sido impresso o documento na
presença de todos no sindicato e ter sido o documento assinado na
presença de todos; que acredita que não houve envio da minuta da
CCT, antes da assinatura do termo, do sindicato patronal para a
federação (...)

Como se sabe, a confissão ocorre quando “a parte admite


a verdade de fato contrário ao seu interesse e favorável ao do adversário”
(art. 389 do CPC), sendo logicamente impossível que a parte confesse um
fato que beneficie a si própria.
Enfatize-se que, na audiência, estiveram presentes o
Presidente do SINDESP, Sr. José Pacheco Ferreira – acompanhado do
patrono, Dr. Francisco Charles Cunha Garcia Júnior -; o Sr. Frank Romero
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do Nascimento, Membro da Diretoria da FESVINE – acompanhado do advogado,
Dr. Rustene Rocha Monteiro. Foi ainda inquirida uma testemunha
apresentada pelo SINDESP, Sr. Raimundo Nonato Caldeira da Silva, que
atuou como Presidente da comissão patronal.
O que se observa, pois, é que o Sindicato Autor
(patronal) expõe uma versão distorcida dos depoimentos prestados em
audiência, na tentativa de convencer que a Parte contrária confessou a
ocorrência de um fato que, ao final da instrução, não foi provado nos
autos: que a redação das cláusulas constantes no instrumento assinado
pelos entes sindicais foi indevidamente alterada no curso da negociação.
Porém essa conclusão é absolutamente equivocada, não só pelas demais
circunstâncias que serão mais à frente analisadas, mas também porque o
depoimento sobre o qual essa tese se sustenta foi prestado pela própria
Parte Autora, por seu próprio representante, o Sr. José Pacheco Ferreira
(Presidente do Sindicato Empresarial). Destaca-se, ademais, que desserve
para tal fim o depoimento testemunhal prestado pelo Sr. Raimundo Nonato
Caldeira da Silva, já que quem não é Parte não pratica a confissão, nos
termos do art. 389 do CPC.
Com efeito, do depoimento prestado pelo Sr. Frank
Romero do Nascimento, Presidente da FESVINE (Federação obreira), não se
extrai qualquer indício de confissão, conforme se pode observar do seu
inteiro teor, a seguir transcrito:

“Perguntado o réu, respondeu: que é presidente da Federação; que


esteve presente nas quatro reuniões realizadas, sendo que a última ocorreu no
dia 7/6/2018, no mesmo momento em que houve assinatura da minuta; que
na derradeira reunião houve debate sobre a redação de algumas cláusulas que
já tinham sido discutidas; que, com relação à cláusula 17ª, não houve
discussão expressa; que a redação da cláusula 17ª que constou na minuta da
CCT 2018/2019 veio na primeira contraproposta apresentada pelo sindicato
patronal; que a referida proposta foi aprovada logo na primeira reunião, sem
nenhum debate, porque era de interesse da categoria; que a inclusão dos
trabalhadores citados na referida cláusula convencional já vinha sendo
discutida nas convenções anteriores, porém não havia consenso. Às
perguntas do MPT, respondeu: que a minuta final da CCT foi redigida pela
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advogada do SINDESP, Dra. Daniele; que, uma vez redigido o texto, o
documento foi impresso por funcionários do sindicato patronal, com
assistência da advogada Daniele; que o documento foi impresso em duas
vias, entregues ao Sr. Raimundo Nonato Pacheco, que também visto e
assinou; que, na sequência, o depoente, assistido por seu advogado, assinou
as duas vias, no mesmo ato; que a primeira contraproposta patronal foi
enviada por e-mail do Sindicato patronal ao e-mail do depoente e ao e-mail
da federação; que a redação da cláusula 17ª já veio nessa contraproposta e foi
aprovada na íntegra; que possivelmente ainda deve ter em seu e-mail a
referida contraproposta. Pela ordem, nesse momento, o Procurador do MPT
requer a apresentação pelo depoente, se não houver qualquer objeção de sua
parte, do e-mail recebido pelo Sindicato patronal no qual consta a minuta da
contraproposta em que está disposta a redação da cláusula 17ª. Os advogados
do autor e do réu não apresentaram qualquer objeção, assim como o réu. Este
Juízo acolhe o pedido formulado. Prosseguiu-se ao depoimento. Às
perguntas do advogado do autor, respondeu: que a contraproposta da
CCT sempre é encaminhada pelo sindicato patronal; que, no ato da
negociação, na primeira reunião, na sede do sindicato das empresas, a
contraproposta foi colocada em um monitor, foi feita a leitura de cada
cláusula e, caso não aprovada, foi colocado um destaque na cláusula para
posterior discussão; que, quando aprovada a cláusula, era apenas colocado
um “OK” ao lado; que a cláusula 17ª foi aprovada na primeira reunião; que
reconhece o documento de id. 1e4987d; que na primeira reunião a ata não foi
feita no mesmo dia, mas foi assinada na reunião seguinte, posterior ao dia
03/05/2018; que, por confiança, assinou a ata, com o pensamento de que
estaria sendo retratado o que havia sido discutido; que não fez revisão do
conteúdo por causa do número de cláusulas. Nada mais” (fls. 450-451).

Os princípios da boa-fé e lealdade processual (art.


5º do CPC) exigem que todos os partícipes do processo, em especial os
advogados, adotem um comportamento diligente, transparente e confiável.
O descumprimento dos deveres éticos previstos na legislação processual
pode, inclusive, ensejar a aplicação de penalidade processual prevista
nos art. 81, caput, do CPC/15 e no art. 793-C, caput, da CLT. Fica,
portanto, a Parte advertida quanto às penalidades da lei pela reiteração
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de conduta contrária ao ordenamento jurídico, já que expôs, por descuido
ou temeridade, uma artificial e inadequada versão dos fatos do processo,
provocando sério risco de estimular um julgamento fundado em valoração
equivocada da prova.
Ultrapassada essa questão relativa à sustentação oral
do Advogado do Sindicato Autor, reitere-se que a controvérsia gira em
torno de se examinar se o ato de composição de interesses consubstanciado
na assinatura da CCT 2018/2019 pelas Partes em 6/7/2018 encontra-se
eivado de algum vício passível de nulidade.
Alega a Parte recorrente que as cláusulas 17ª –
Adicional de Periculosidade, 18ª – Diárias, 45ª – da Jornada de Trabalho
e 46ª – Intervalo intrajornada foram fixadas no instrumento normativo
com conteúdo diferente daquele que foi debatido e acordado pelas Partes
durante a negociação coletiva, supondo a existência de erro seu (art.
138 do CCB/2002) e/ou dolo (art. 145 do CCB/2002) da outra parte.
É cediço que a convenção coletiva de trabalho, como
acordo de vontade entre sujeitos coletivos sindicais, inscreve-se na
linha genérica dos negócios jurídicos privados bilaterais e ou
plurilaterais.
No caso concreto, os elementos essenciais necessários
à validade da CCT encontram-se presentes: partes capazes e legítimas,
objeto lícito e forma prescrita em lei – art. 104, I a III, do CCB/2020.
A esses três classicamente acolhidos, soma-se a higidez da manifestação
de vontade (ou consenso válido), sobre a qual o Sindicato Autor aponta
o alegado defeito.
Note-se que a complexidade do processo de negociação
coletiva e a relevância das repercussões do instrumento normativo no
plano das inúmeras relações individuais de trabalho de certa comunidade
laboral pressupõe a atuação diligente e cuidadosa de entidades sindicais
com força institucional, em consonância com a responsabilidade que lhes
é outorgada pela Constituição da República (art. 8º, III, VI). E, na
situação vertente, não há controvérsia sobre o fato de que o instrumento
normativo autônomo foi assinado em conjunto pelos representantes de
entidades sindicais com histórico de outras negociações celebradas, na
sede do Sindicato Autor, após uma série de reuniões de negociação e a
Firmado por assinatura digital em 17/12/2020 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme MP
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confirmação de seu conteúdo pelos signatários, assessorados pelos
advogados presentes.
Diante desse contexto, a eventual declaração de
nulidade do negócio jurídico, com base em suposto erro imputável ao
Sindicato Autor ou dolo ao Sindicato obreiro, conforme pretende o
Recorrente, depende de demonstração inequívoca do vício que tenha
atingido sua vontade, por meio de robusta prova.
Contudo, nem o vício de consentimento (erro) nem a
alegada conduta desleal da Federação obreira (dolo) foram demonstrados
nos autos.
Examina-se, cláusula por cláusula.
Em relação à Cláusula 17ª – Adicional de
Periculosidade (principal ponto da irresignação recursal), o SINDESP
afirma que, na 1ª reunião realizada no dia 3/5/2018, as Partes concordaram
em fixar sua redação na CCT 2018/2019 nos termos do que constava na CCT
2017/2018.
A Ata referente à reunião, sem detalhar a discussão
sobre o assunto, incluiu a Cláusula 17ª entre as 48 enumeradas como
“CLÁUSULAS APROVADAS COM MANUTENAÇÃO DA REDAÇÃO DA CCT 2017/2018”.
A redação fixada na CCT 2018/2019, todavia, é diversa
daquela constante na CCT 2017/2018. Na nova cláusula, algumas funções
que não estavam descritas na CCT 2017/2018 foram adicionadas para
receberem o adicional de periculosidade (como o auxiliar de tesouraria,
o auxiliar de caixa forte, o supervisor de caixa forte e o supervisor
de transporte de valores).
À primeira vista, poder-se-ia vislumbrar algum
equívoco, já que a redação fixada na CCT 2018/2019 destoa da norma
antecedente (CCT 2017/2018) – que teria sido tomada como parâmetro
naquela 1ª reunião.
Nada obstante, o fato é que muitas outras cláusulas
que deveriam repetir a redação da CCT 2017/2018, pelo que constou na ata
da reunião do dia 3/5/2018, tiveram o texto alterado na minuta da CCT
2018/2019 assinada pelas Partes. Constata-se, inclusive, a redução de
benefícios trabalhistas previstos na norma anterior, que, em tese,
deveriam ser repetidos. É o caso do parágrafo segundo da Cláusula 6ª da
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CCT 2017/2018, que assegurava uma espécie de plus salarial para os
empregados no caso de trabalho durante a folga (fl. 81), mas que foi
suprimido da CCT 2018/2019.
Assim, apesar de a ata da reunião do dia 3/5/2018
mencionar a concordância das Partes para a manutenção da redação das
cláusulas, não foi isso o que aconteceu realmente, na medida em que várias
delas sofreram modificação nas suas redações, sem qualquer objeção das
Partes comprovada nos autos. Observa-se, a propósito, que as redações
fixadas na CCT 2018/2019 estão de acordo com a contraproposta apresentada
pelo SINDESP.
É de se entender, pois, que as Partes realizaram
efetiva transação sobre os direitos, e que as cláusulas foram aprovadas
com base nessa contraproposta do SINDESP (fls. 244-271), que foi enviada
para a entidade sindical obreira anexada ao Ofício 008/2018-SINDESP, no
dia 30/4/2018, antes da reunião (fl. 272).
Note-se que, embora o SINDESP insista na tese de que
a contraproposta apresentada nos autos à FESVINE não tem valor legal -
por ausência de assinatura ou por não corresponder à ata da reunião -,
as provas dos autos expressam o contrário, ou seja, o referido documento
tem origem em um e-mail encaminhado à Federação Obreira para esse fim
(apresentação da contraproposta). Ademais, a redação da Cláusula 17ª –
Adicional de Periculosidade disposta na CCT 2018/2019, objeto do recurso,
tem redação idêntica à que consta naquele documento enviado pelo
Sindicato patronal.
Lado outro, o Presidente do SINDESP, Sr. José Pacheco
Ferreira, reconheceu, em audiência, o envio da contraproposta, bem como
afirmou que a minuta da CCT foi redigida pela Comissão de Negociação,
e não pelo SINDESP:

“Iniciados os depoimentos das partes, respondeu o autor: (...) que,


logo no início das negociações, o sindicato patronal encaminhou uma
contraproposta; que isso foi feito por escrito (...); Às perguntas do
Procurador do MPT, respondeu: (...) que quem redigiu a minuta da CCT
foi uma comissão mista, composta por representantes patronal e obreiro
(...) Às perguntas do advogado do Réu, respondeu: que não sabe especificar
qual o meio utilizado para o envio de um ofício 008/2018, de 30/4/2018, para
a Federação; que o referido ofício foi acompanhado de uma
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contraproposta; que não sabe dizer o conteúdo da contraproposta; que não
sabe dizer se continha as mesmas cláusulas da minuta que foi assinada; (...)“”
(fls. 449-453).

Na mesma audiência, o membro do MPT, Procurador do


Trabalho Dr. Jorsinei Dourado do Nascimento, realizou diligência no
e-mail enviado pelo SINDESP à FENISPE e verificou que, na proposta da
CCT, consta a mesma redação da cláusula 17ª que consta na minuta assinada
(fls. 451-452).
É de se concluir, pois, que a redação da Cláusula 17ª
disposta na CCT 2018/2019 teve origem na contraproposta apresentada pelo
Sindicato Empresarial Autor, não havendo elementos nos autos que apontem
algum defeito ou vício que comprometesse a manifestação de vontade.
Trata-se, portanto, de norma sobre a qual a categoria profissional se
debruçou e concordou para a disposição no instrumento normativo
negociado, sem indícios de desrespeito à lealdade e boa-fé na negociação
coletiva.
Aliás, foge à razoabilidade a tese patronal de que a
Federação Obreira alterou maliciosamente o texto da referida cláusula.
Convém transcrever o seguinte excerto do parecer do
MPT assinado pelo Procurador do Trabalho Jorsinei Dourado do Nascimento
(11ª Região), no qual expõe a sua percepção sobre a improcedência da tese
sustentada pelo SINDESP:

“(...)
Tendo sido demonstrado, portanto, que o documento, ora
impugnado, foi assinado presencialmente, na sede do próprio ente
sindical autor, e de maneira voluntária e espontânea pelas partes
envolvidas, que se encontravam devidamente assistidas por advogados,
como também que o referido documento foi originado e enviado ao ente
sindical obreiro, ora demandado, pelo ente sindical autor, através de
email, afastando-se, assim, qualquer alegação de ter ocorrido alteração
do texto pelos representantes dos trabalhadores, entendo que o termo de
negociação coletiva de trabalho constitui-se em ato jurídico perfeito e
acabado (art. 104 do Código Civil - agentes capazes e legítimos, objeto lícito,
possível e determinado; forma prescrita ou não defesa em lei), somente
podendo ser anulado ou declarado nulo se restar demonstrado algum defeito
(Erro ou Ignorância, dolo, coação, Estado de Perigo, Lesão, Fraude contra
Credores) ou invalidade do negócio jurídico.
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A anulação ou declaração de nulidade de negócio jurídico há de ser
feita com muita parcimônia e dentro das hipóteses legalmente previstas, visto
que o ato jurídico perfeito e acabado tem tratamento constitucional e se
constitui em direito fundamental.
Art. 5º (omissis) XXXVI - a lei não prejudicará o direito adquirido, o
ato jurídico perfeito e a coisa julgada;
Esse mesma inferência foi dada pelo art. 6º da Lei de Introdução ao
Código Civil.
Art. 6º A Lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato
jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada.
§ 1º Reputa-se ato jurídico perfeito o já consumado segundo a lei
vigente ao tempo em que se efetuou.
Como reconhecido pela testemunha do próprio ente sindical autor,
houve um equívoco de ente sindical patronal autor no envio da minuta,
devidamente assinada por todos, contendo cláusulas que, em tese, não seriam
de seu interesse.
Ora, não restou provado, tampouco foi possível aferir se o houve
algum equívoco na extensão dos benefícios da cláusula 17 a outras
funções tradicionalmente contempladas (verdadeira motivação do ente
sindical autor para requerer a anulação da norma coletiva) e que desse
equívoco teria conhecimento o ente sindical obreiro. Trago esse
argumento apenas para ratificar a "teoria da declaração" adotada pelo
ordenamento brasileiro, no que tange à manifestação de vontade das partes
no negócio jurídico, segundo o qual "a manifestação de vontade subsiste
ainda que o seu autor haja feito a reserva mental de não querer o que
manifestou" (art. 110 do CC).
E nem poderia ser diferente, vez que, como dito acima, toda a linha
argumentativa do ente sindical autor foi no sentido de justificar a anulação do
termo de negociação coletiva de trabalho, a partir de uma suposta alteração
de suas cláusulas pelo ente sindical obreiro, o que não restou demonstrado no
presente caso.

Inviável, pois, acolher o pedido de anulação da


Cláusula 17ª, cujo teor se originou da contraproposta apresentada pelo
próprio Sindicato Autor à Federação Ré.
Prosseguindo, quanto às Cláusulas 45ª (Da jornada de
Trabalho) e 46ª (Intervalo intrajornada), o fundamento fático que embasa
a tese recursal é o fato de que as normas coletivas não foram objeto de
consenso nas reuniões anteriores à assinatura da CCT 2018/2019.
Do conteúdo das atas relativas às três primeiras
reuniões - dias 3, 8 e 23/5/2018 -, infere-se que havia divergência entre
as Partes quanto às referidas cláusulas, especificamente no tocante à
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“escala 12x36” (a categoria profissional não concordava com sua criação)
e ao “tempo do intervalo intrajornada” (a categoria econômica pretendia
a fixação de 30 minutos, enquanto a categoria profissional desejava que
permanecesse 1 hora).
Ocorre que não há registro formal da 4ª reunião
anterior à assinatura do termo de negociação (CCT 2018/2019), embora
tenha ficado incontroverso nos autos que ela aconteceu, provavelmente
no mesmo dia da assinatura do instrumento normativo (7/6/2018).
Nessa conjuntura, a compreensão mais plausível que se
pode extrair é a de que as Partes, antes de assinarem o instrumento
normativo, chegaram a um consenso sobre os seus termos na 4ª e última
reunião - que não foi registrada em ata.
Com efeito, a lavratura da última reunião em ata seria
de crucial importância para se extrair, com certa segurança, se as Partes
chegaram a um acordo sobre as duas cláusulas. Na falta desse documento,
é de se concluir que as Partes discutiram e obtiveram consenso sobre suas
redações finais. Essa foi a conclusão do Tribunal Regional de origem,
e não há outra a ser alcançada, de acordo com o material probatório
constante nos autos.
Observe-se, a propósito, que o depoimento prestado em
audiência pelo Sr. José Pacheco Ferreira (Presidente SINDESP) não deixa
dúvida sobre a realização de uma última reunião anterior à assinatura
da CCT 2018/2019, não registrada, mas na qual as pendências da negociação
foram resolvidas:

“Às perguntas do Procurador do MPT, respondeu: que reconhece a sua


assinatura no documento lançado sob ID 7bf10b3, referente à minuta da
CCT, que estava acompanhado de advogada no ato, Dra. Daniele; que não se
recorda se advogada também assinou a minuta; que também se encontrava
presente o presidente da comissão, Dr. Raimundo Nonato; que quem redigiu
a minuta da CCT foi uma comissão mista, composta por representantes
patronal e obreiro, que, no dia da assinatura da minuta da convenção, não
houve registro em ata, uma vez que entenderam que já estavam de comum
acordo; que, pelo que se recorda, as cláusulas já haviam sido discutidas nas
reuniões anteriores; que, no dia da assinatura da minuta convenção, não se
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lembra dos detalhes da reunião; que não sabe informar porque não foi
lavrada a ata; (...).
Às perguntas do advogado do réu, respondeu: (...); que, na data da
assinatura da minuta houve alguma negociação de cláusulas da convenção,
sob a coordenação do presidente da comissão, porém não se recorda o que foi
discutido; que quem estava presidindo a reunião é da comissão patronal, Sr.
Raimundo Nonato; que o depoente estava presente na reunião, mas não
debateu cláusulas.

Reitere-se que, antes da assinatura do instrumento


normativo, a principal divergência para a celebração da CCT residia
justamente nas referidas cláusulas 45ª e 46ª. Não há como se presumir,
diante do contexto demonstrado nos autos, que o Sindicato Autor sofreu
alguma influência limitativa em sua liberdade para dispor sobre as regras
de acordo com as ponderações da categoria profissional. Com efeito, os
sujeitos coletivos detinham plena capacidade jurídica naquele instante
final da negociação e com muita facilidade poderiam perceber eventual
equívoco na redação das normas.
Não se há falar, pois, em erro, dolo ou qualquer vício
de vontade acerca das Cláusulas 45ª e 46ª.
Em relação à Cláusula 18ª (Das Diárias de Deslocamento
e Remuneração do Tempo), também não prospera a irresignação recursal,
uma vez que a pretensão deriva da declaração de nulidade da Cláusula 45ª
– Da jornada de Trabalho.
Ademais, verifica-se que o texto final da Cláusula 18ª
constante na CCT 2018/2019 (fl. 139) corresponde aos termos da
contraproposta apresentados pelo ente patronal (fl. 249), bem como ao
que foi estipulado na reunião do dia 3/5/2018 - alteração no texto do
inciso “V” previsto na mesma cláusula da CCT 2017/2018 (critérios para
pagamento de diárias, hospedagem e alimentação - fl. 293, CCT 2018/2019
e fl. 345, CCT 2017/2018).
Desse quadro, pois, compreende-se que o instrumento
normativo celebrado entre as Partes é plenamente válido. Não há espaço
para desconstituir o acordo consumado, que, para os fins legais,
reputa-se ato jurídico perfeito (art. 6º, § 1º, da LINDB).
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Por fim, registre-se que os fatos posteriores à
celebração do acordo coletivo - sobre os quais se referem a ata de reunião
realizada dia 12/6/2018 (fls. 57-58), a notificação extrajudicial
enviada pelo Sindicato patronal dia 15/6/2018 (fls. 66/67), e os
documentos relacionados ao pedido de mediação ao Ministério do Trabalho,
a partir de 20/6/2018 (fl. 160-165) – não são aptos a caracterizar como
de má-fé a conduta da Federação obreira direcionada a preservar o conteúdo
e a eficácia do instrumento normativo assinado, uma vez que se relacionam
a eventos ocorridos após a sua formalização, ocorrida em 7/6/2020.
Mantém-se, portanto, a decisão do Tribunal Regional.
Pelo exposto, NEGA-SE PROVIMENTO ao recurso
ordinário.

ISTO POSTO

ACORDAM os Ministros da Seção Especializada em


Dissídios Coletivos do Tribunal Superior do Trabalho, à unanimidade,
conhecer do recurso ordinário e, no mérito, negar-lhe provimento.
Brasília, 14 de dezembro de 2020.

Firmado por assinatura digital (MP 2.200-2/2001)


MAURICIO GODINHO DELGADO
Ministro Relator

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