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Poder Judiciário

Justiça do Trabalho
Tribunal Superior do Trabalho

PROCESSO Nº TST-Ag-ARR-20168-93.2015.5.04.0702

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A C Ó R D Ã O
(5ª Turma)
GMBM/JS/mv

AGRAVO. RECURSO DE REVISTA. ACÓRDÃO


PUBLICADO NA VIGÊNCIA DA LEI Nº
13.015/2014. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA.
RESPONSABILIDADE SUBSIDIÁRIA. CULPA IN
VIGILANDO. TEMA Nº 246 DO STF.
TRANSCENDÊNCIA JURÍDICA. O Supremo
Tribunal Federal, em sede de
repercussão geral, ao julgar o mérito do
RE 760931/DF, fixou a seguinte tese a
respeito da impossibilidade de
transferência automática da
responsabilidade subsidiária ao
integrante da Administração Pública: “O
inadimplemento dos encargos
trabalhistas dos empregados do
contratado não transfere
automaticamente ao Poder Público
contratante a responsabilidade pelo seu
pagamento, seja em caráter solidário ou
subsidiário, nos termos do art. 71, § 1º,
da Lei nº 8.666/93”. Na hipótese dos
autos, o e. TRT transferiu
automaticamente à Administração
Pública a responsabilidade
subsidiária, tendo em vista que a
atribuição de culpa in vigilando se deu
exclusivamente em razão do
descumprimento de obrigações
trabalhistas. Correta, portanto, a
decisão agravada ao excluir a
responsabilidade subsidiária atribuída
à ora agravada. Agravo não provido.
AGRAVO. AGRAVO DE INSTRUMENTO.
TERCEIRIZAÇÃO. ATIVIDADE-MEIO E
ATIVIDADE-FIM. LICITUDE. ISONOMIA
SALARIAL. DECISÃO PROFERIDA PELO
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL NA ADPF N.º 324
E NO RE N.º 958.252, COM REPERCUSSÃO
GERAL RECONHECIDA (TEMA 725).
INTEGRANTE DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA.
AUSÊNCIA DE TRANSCEDÊNCIA. APLICAÇÃO
DE MULTA. O Plenário do Supremo Tribunal
Federal, no dia 30/8/2018, ao julgar a
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Arguição de Descumprimento de Preceito
Fundamental (ADPF) n.º 324 e o Recurso
Extraordinário (RE) n.º 958.252, com
repercussão geral reconhecida, decidiu
que é lícita a terceirização em todas as
etapas do processo produtivo, ou seja,
na atividade-meio e na atividade-fim
das empresas. A tese de repercussão
geral aprovada no RE n.º 958.252 (Rel.
Min. Luiz Fux), com efeito vinculante
para todo o Poder Judiciário, assim
restou redigida: “É licita a
terceirização ou qualquer outra forma
de divisão do trabalho entre pessoas
jurídicas distintas, independentemente
do objeto social das empresas
envolvidas, mantida a responsabilidade
subsidiária da empresa contratante”
destacamos. Do mesmo modo, no
julgamento da ADPF n.º 324, o eminente
Relator, Min. Roberto Barroso, ao
proceder a leitura da ementa de seu
voto, assim se manifestou: “I. É lícita
a terceirização de toda e qualquer
atividade, meio ou fim, não se
configurando relação de emprego entre a
contratante e o empregado da
contratada. 2. Na terceirização,
compete à tomadora do serviço: I) zelar
pelo cumprimento de todas as normas
trabalhistas, de seguridade social e de
proteção à saúde e segurança do trabalho
incidentes na relação entre a empresa
terceirizada e o trabalhador
terceirizado; II) assumir a
responsabilidade subsidiária pelo
descumprimento de obrigações
trabalhistas e pela indenização por
acidente de trabalho, bem como a
responsabilidade previdenciária, nos
termos do art. 31 da Lei 8.212/1993”
grifamos. Assim ficou assentado na
certidão de julgamento: “Decisão: O
Tribunal, no mérito, por maioria e nos
termos do voto do Relator, julgou
procedente a arguição de descumprimento
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de preceito fundamental, vencidos os
Ministros Edson Fachin, Rosa Weber,
Ricardo Lewandowski e Marco Aurélio”
(g.n). Prevaleceu, em breve síntese,
como fundamento o entendimento no
sentido de que os postulados da livre
concorrência (art. 170, IV) e da
livre-iniciativa (art. 170),
expressamente assentados na
Constituição Federal de 1.988,
asseguram às empresas liberdade em
busca de melhores resultados e maior
competitividade. Quanto à possível
modulação dos efeitos da decisão
exarada, resultou firmado, conforme
decisão de julgamento da ADPF n.º 324
(Rel. Min. Roberto Barroso), que:
“(...) o Relator prestou
esclarecimentos no sentido de que a
decisão deste julgamento não afeta os
processos em relação aos quais tenha
havido coisa julgada. Presidiu o
julgamento a Ministra Cármen Lúcia.
Plenário, 30.8.2018”. Nesse contexto, a
partir de 30/8/2018, é de observância
obrigatória aos processos judiciais em
curso ou pendente de julgamento a tese
jurídica firmada pelo e. STF no RE n.º
958.252 e na ADPF n.º 324. Assim, não há
mais espaço para o reconhecimento do
vínculo empregatício com o tomador de
serviços sob o fundamento de que houve
terceirização ilícita (ou seja,
terceirização de atividade essencial,
fim ou finalística), ou, ainda, para a
aplicação dos direitos previstos em
legislação específica ou em normas
coletivas da categoria profissional dos
empregados da empresa contratante,
porque o e. STF, consoante exposto,
firmou entendimento de que toda
terceirização é sempre lícita,
inclusive, repita-se, registrando a
impossibilidade de reconhecimento de
vínculo empregatício do empregado da
prestadora de serviços com o tomador.
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E, em se tratando o tomador de
integrante da Administração Pública,
qual a repercussão da novel decisão do
e. STF? Tratando-se de integrante da
Administração Pública, a
jurisprudência desta Corte Superior já
entendia que, a despeito da
irregularidade da terceirização por
laborar o empregado em atividade
finalística, não era possível o
reconhecimento do vínculo empregatício
com o tomador de serviços, diante do
óbice do art. 37, II, da Constituição
Federal. Isto é, na prática, deixava-se
de aplicar a inteligência da Súmula n.º
331, I, do TST para, diante da
identidade de funções dos empregados do
tomador de serviços e os empregados da
prestadora de serviços, deferir aos
empregados terceirizados, por
isonomia, as mesmas verbas trabalhistas
legais e normativas asseguradas àqueles
contratados pelo tomador de serviços,
aplicando-se, por analogia, o disposto
no art. 12, “a”, da Lei n.º 6.019/74.
Orientação Jurisprudencial n.º 383 da
SBDI-1 do TST. Examinando a
jurisprudência à luz da Súmula n.º 331,
I, do TST, da OJ n.º 383 da SBDI-1 do TST
e dos respectivos precedentes
ensejadores de sua criação,
depreende-se o seguinte: a principal
premissa, seja para o reconhecimento do
vínculo empregatício (ente privado –
Súmula n.º 331, I, do TST), seja no
tocante ao reconhecimento da isonomia
(ente público – OJ n.º 383 da SBDI-1 do
TST), é a terceirização de atividade
inerente, fim ou finalística da
tomadora de serviços. Ocorre, contudo,
que, repita-se, em conformidade com a
novel jurisprudência do e. Supremo
Tribunal Federal, é lícita a
terceirização em todas as etapas do
processo produtivo, ou seja, na
atividade-meio e na atividade-fim das
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empresas. Assim, ultrapassada a
condição de ilicitude de terceirização
de atividade finalística do tomador de
serviços, o fato é que, nas hipóteses
envolvendo integrante da Administração
Pública, não há mais como se aplicar a
inteligência da Orientação
Jurisprudencial n.º 383 da SBDI-1 do
TST, que resulta superada, em razão da
aludida decisão do e. STF. Considerando
a improcedência do recurso, aplica-se à
parte agravante a multa prevista no art.
1.021, § 4º, do CPC. Agravo não provido,
com aplicação de multa.

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo


em Recurso de Revista com Agravo n° TST-Ag-ARR-20168-93.2015.5.04.0702,
em que é Agravante ALESSANDRA DRI MANZONI e Agravadas UNIVERSIDADE
FEDERAL DE SANTA MARIA e FUNDAÇÃO DE APOIO À TECNOLOGIA E CIÊNCIA - FATEC.

Trata-se de agravo interposto pela parte reclamante


contra decisão monocrática que deu provimento ao agravo de instrumento
e ao recurso de revista da parte ora agravada, com fulcro no art. 118,
X, do RITST e que negou seguimento ao seu agravo de instrumento.
Na minuta de agravo, a parte agravante argumenta com
a incorreção da decisão atacada.
É o relatório.

V O T O

1 - CONHECIMENTO

O Pleno do TST, ao julgar o Processo ArgInc -


1000845-52.2016.5.02.0461 em 6/11/2020, declarou a
inconstitucionalidade do artigo 896-A, § 5º, da CLT, razão pela qual,
com expressa ressalva de entendimento pessoal, conheço do agravo,

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inclusive quanto à fração em que não reconhecida a transcendência do
recurso em sede de agravo de instrumento.

2 – MÉRITO

ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. RESPONSABILIDADE SUBSIDIÁRIA

A decisão agravada foi assim proferida:

Trata-se de agravos de instrumento interpostos contra decisão que


negou seguimento a recursos de revista.
Nas minutas de agravo, as partes agravantes insistem no
processamento dos seus recursos de revista.
Examino.
EXAME PRÉVIO DA TRANSCENDÊNCIA
O recurso de revista foi interposto em face de acórdão publicado na
vigência da Lei nº 13.467/2017, que alterou o art. 896-A da CLT, havendo a
necessidade de se evidenciar a transcendência das matérias nele veiculadas,
na forma do referido dispositivo e dos arts. 246 e seguintes do RITST.
AGRAVO DE INSTRUMENTO DA UFSM
RESPONSABILIDADE SUBSIDIÁRIA. ADMINISTRAÇÃO
PÚBLICA
O e. TRT consignou, quanto à responsabilidade subsidiária:
(...)
O Supremo Tribunal Federal, em sede de repercussão geral, ao julgar o
mérito do RE 760931/DF, fixou a seguinte tese a respeito da impossibilidade
de transferência automática da responsabilidade subsidiária ao integrante da
Administração Pública: “O inadimplemento dos encargos trabalhistas dos
empregados do contratado não transfere automaticamente ao Poder Público
contratante a responsabilidade pelo seu pagamento, seja em caráter solidário
ou subsidiário, nos termos do art. 71, § 1º, da Lei nº 8.666/93”.
Na hipótese dos autos, o e. TRT transferiu automaticamente à
Administração Pública a responsabilidade subsidiária, tendo em vista que a
atribuição de culpa in vigilando se deu exclusivamente em razão do
descumprimento de obrigações trabalhistas.
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De fato, o fundamento invocado pelo e. TRT, acerca da ilicitude da
terceirização, está superado pelas decisões do STF na Arguição de
Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) nº 324 e no Recurso
Extraordinário (RE) nº 958.252.
Logo, ao manter a responsabilidade subsidiária do integrante da
Administração Pública, o fez em desarmonia com o entendimento
consubstanciado pelo STF no RE 760931/DF, bem como na Súmula nº 331,
V, do TST, autorizando o conhecimento da revista, ante a existência de
transcendência política.
Ante o exposto, com fulcro nos arts. 932, V, “a”, do CPC e 118, X, do
RITST, dou provimento ao agravo de instrumento, para convertê-lo em
recurso de revista, do qual conheço, por ofensa ao art. 71, § 1º, da Lei nº
8.666/1993, e, no mérito, dou-lhe provimento para excluir a responsabilidade
subsidiária atribuída à parte recorrente. Prejudicado o exame do recurso de
revista, quanto aos demais temas.
AGRAVO DE INSTRUMENTO DA RECLAMANTE
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. ISONOMIA
O e. TRT consignou, quanto à responsabilidade subsidiária:
(...)
Constato a existência de obstáculo processual apto a inviabilizar o
exame das questões veiculadas na revista e, por consectário lógico, a
evidenciar a ausência de transcendência do recurso.
O v. acórdão regional se coaduna com as decisões proferidas pelo
Plenário do Supremo Tribunal Federal no dia 30/8/2018 que, ao julgar a
Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) nº 324 e o
Recurso Extraordinário (RE) nº 958.252, com repercussão geral
reconhecida, decidiu que é lícita a terceirização em todas as etapas do
processo produtivo, ou seja, na atividade-meio e na atividade-fim das
empresas.
As teses fixadas, ambas dotadas de efeito vinculante, foram assim
redigidas (destaques acrescidos):
“É licita a terceirização ou qualquer outra forma de divisão do trabalho
entre pessoas jurídicas distintas, independentemente do objeto social das
empresas envolvidas, mantida a responsabilidade subsidiária da empresa
contratante” (RE nº 958.252, Rel. Min. Luiz Fux);
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“I. É lícita a terceirização de toda e qualquer atividade, meio ou fim,
não se configurando relação de emprego entre a contratante e o empregado
da contratada. 2. Na terceirização, compete à tomadora do serviço: i) zelar
pelo cumprimento de todas as normas trabalhistas, de seguridade social e de
proteção à saúde e segurança do trabalho incidentes na relação entre a
empresa terceirizada e o trabalhador terceirizado; bem como II) assumir a
responsabilidade subsidiária pelo descumprimento de obrigações trabalhistas
e pela indenização por acidente de trabalho, bem como a responsabilidade
previdenciária, nos termos do art. 31 da Lei 8.212/1993.” (ADPF nº 324, Rel.
Min. Roberto Barroso)
Quanto à possível modulação da decisão exarada, resultou firmado,
conforme decisão de julgamento da ADPF nº 324 (Rel. Min. Roberto
Barroso), que: “(...) o Relator prestou esclarecimentos no sentido de que a
decisão deste julgamento não afeta os processos em relação aos quais tenha
havido coisa julgada. Presidiu o julgamento a Ministra Cármen Lúcia.
Plenário, 30.8.2018” - grifei.
Nesse contexto, a partir de 30/8/2018, são de observância obrigatória
aos processos judiciais em curso ou pendentes de julgamento as teses
jurídicas firmadas pelo e. STF no RE nº 958.252 e na ADPF nº 324, de
maneira que a decisão regional está em conformidade com esse
entendimento, uma vez que afastou, no caso concreto, a pretensão de
reconhecimento de ilicitude da terceirização havida.
Acrescento, ainda, que, tratando-se de integrante da Administração
Pública, a jurisprudência desta Corte Superior entendia que, a despeito da
irregularidade da terceirização por laborar o empregado em atividade
finalística, não era possível o reconhecimento do vínculo empregatício com o
ente público tomador de serviços, diante do óbice do art. 37, II, da
Constituição Federal.
Isto é, na prática, deixava-se de aplicar a inteligência da Súmula nº
331, I, do TST para, diante da identidade de funções dos empregados do ente
público tomador de serviços e os empregados da prestadora de serviços,
deferir aos empregados terceirizados, por isonomia, as mesmas verbas
trabalhistas legais e normativas asseguradas àqueles contratados pelo
tomador de serviços, aplicando-se, por analogia, o disposto no art. 12, “a”, da
Lei nº 6.019/74. Orientação Jurisprudencial n.º 383 da SBDI-1 do TST.
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Examinando a jurisprudência à luz da Súmula n.º 331, I, do TST, da OJ
n.º 383 da SBDI-1 do TST e dos respectivos precedentes ensejadores de sua
criação, depreende-se o seguinte: a principal premissa, seja para o
reconhecimento do vínculo empregatício (ente privado – Súmula n.º 331, I,
do TST), seja no tocante ao reconhecimento da isonomia (ente público – OJ
n.º 383 da SBDI-1 do TST), é a terceirização de atividade inerente, fim ou
finalística da tomadora de serviços.
Ocorre, contudo, que, repita-se, em conformidade com a novel
jurisprudência do e. Supremo Tribunal Federal, é lícita a terceirização em
todas as etapas do processo produtivo, ou seja, na atividade-meio e na
atividade-fim das empresas.
Assim, ultrapassada a condição de ilicitude de terceirização de
atividade finalística do tomador de serviços, o fato é que, nas hipóteses
envolvendo integrante da Administração Pública, não há mais como se
aplicar a inteligência da Orientação Jurisprudencial nº 383 da SBDI-1 do
TST, que resulta superada, em razão da aludida decisão do e. STF.
Nesse contexto, estando a decisão regional em harmonia com o
entendimento acima mencionado, de caráter vinculante, inviável se torna a
extraordinária intervenção deste Tribunal Superior no feito.
Pois bem.
O critério de transcendência é verificado considerando a questão
jurídica posta no recurso de revista, de maneira que tal análise somente se dá
por esta Corte superior se caracterizada uma das hipóteses previstas no art.
896-A da CLT.
Assim, a existência de obstáculo processual apto a inviabilizar o exame
da matéria de fundo veiculada, como no caso, acaba por evidenciar, em
última análise, a própria ausência de transcendência do recurso de revista, em
qualquer das suas modalidades.
Isso porque não se justificaria a intervenção desta Corte superior a fim
de examinar feito no qual não se estaria: a) prevenindo desrespeito à sua
jurisprudência consolidada (transcendência política); b) fixando tese sobre
questão nova em torno da interpretação da legislação trabalhista
(transcendência jurídica); c) revendo valor excessivo de condenação, apto a
ensejar o comprometimento da higidez financeira da empresa demandada ou
de determinada categoria profissional (transcendência econômica); d)
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acolhendo pretensão recursal obreira que diga respeito a direito social
assegurado na Constituição Federal, com plausibilidade na alegada ofensa a
dispositivo nela contido (transcendência social).
Nesse sentido já se posicionou a maioria das Turmas deste TST:
Ag-RR - 1003-77.2015.5.05.0461, Relator Ministro: Breno Medeiros, Data
de Julgamento: 07/11/2018, 5ª Turma, Data de Publicação: DEJT
09/11/2018; AIRR - 1270-20.2015.5.09.0661, Relatora Desembargadora
Convocada: Cilene Ferreira Amaro Santos, Data de Julgamento: 07/11/2018,
6ª Turma, Data de Publicação: DEJT 09/11/2018; ARR -
36-94.2017.5.08.0132, Relator Ministro: Ives Gandra Martins Filho, Data de
Julgamento: 24/10/2018, 4ª Turma, Data de Publicação: DEJT 26/10/2018;
RR - 11200-04.2016.5.18.0103, Relator Desembargador Convocado:
Roberto Nobrega de Almeida Filho, Data de Julgamento: 12/12/2018, 1ª
Turma, Data de Publicação: DEJT 14/12/2018; AIRR -
499-03.2017.5.11.0019, Relator Ministro: Márcio Eurico Vitral Amaro, Data
de Julgamento: 24/04/2019, 8ª Turma, Data de Publicação: DEJT
29/04/2019).
Logo, diante do óbice processual já mencionado, não reputo verificada
nenhuma das hipóteses previstas no art. 896-A da CLT.
Ante todo o exposto, com fulcro nos arts. 932, V, “a”, do CPC e 118,
X, do RITST, dou provimento ao agravo de instrumento da
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA, para convertê-lo em
recurso de revista, do qual conheço, por ofensa ao art. 71, § 1º, da Lei nº
8.666/1993, e, no mérito, dou-lhe provimento para excluir a responsabilidade
subsidiária atribuída à parte recorrente; com fulcro no art. 896-A, § 2º, da
CLT c/c art. 247, § 2º, do Regimento Interno desta Corte, nego seguimento
ao agravo de instrumento da reclamante.

Na minuta de agravo, a parte agravante afirma que o


agravo de instrumento e o recurso de revista do ora agravado não
ostentavam condições de provimento, uma vez que, segundo afirma, houve
total ausência de prova de fiscalização de contrato de trabalho, a ensejar
a responsabilidade prevista no art. 37, § 6º da CF.

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Alega que não houve responsabilização automática e que
é da Administração Pública o ônus de provar a fiscalização do contrato
com a empresa terceirizada.
No que concerne às diferenças salariais decorrentes
de isonomia salarial, a agravante afirma que a transcendência se verifica
no fato de que o tema possui repercussão geral reconhecida pelo STF (TEMA
383). Aduz que a matéria não fora julgada pelo STF e o não conhecimento
da revista obsta o conhecimento de futuro Recurso Extraordinário.
Defende que a recente decisão do STF acerca da licitude
da terceirização não influencia o presente caso, pois se trata de hipótese
de terceirização que afrontou diretamente a Constituição, implicando na
contratação de pessoal sem a prestação de concurso público.
Entende que a isonomia garantida pela Constituição é
aplicável ao caso, independentemente da licitude da relação de
terceirização, uma vez que se está diante de trabalhadora privada cedida
à Administração Pública.
Suscita violação aos art. 37, I e II, da CF,
imprescindíveis na contratação de pessoal pela administração pública,
pois evidente a irregularidade na terceirização, sem incompatibilidade
com a decisão do STF a esse respeito.
Não merece reforma a decisão agravada.
O e. TRT consignou, quanto ao tema:

“2) Responsabilidade subsidiária


A segunda reclamada, ora recorrente, não se conforma com a
condenação subsidiária que lhe foi imposta. Alega que a reclamante, como
médica, exercia atividade-meio da tomadora de serviços, apresentando-se a
terceirização, portanto, regular, pois a função principal da UFSM é o ensino,
e não a prestação de serviços médicos. Ressalta que a jurisprudência do
Tribunal Superior do Trabalho firmou-se no sentido de que a contratação
irregular de trabalhador, mediante empresa interposta, não gera vínculo
empregatício com os órgãos da administração pública direta, indireta ou
fundacional, nos termos da Súmula nº 331, II, do TST. Sustenta, ademais,
que o convênio (firmado entre as rés) não se confunde com terceirização, já
que não se trata de contrato, não se aplica ao caso os termos da Súmula 331
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do TST, uma vez que a UFSM não tendo firmado nenhum tipo de contrato,
muito menos de prestação de serviços, mas convênio previsto
constitucionalmente como fomento dos serviços públicos prestados por
entidade privada sem fins lucrativos, fica inviabilizada a pretendida
responsabilização subsidiária por eventual passivo trabalhista dos
empregados que a entidade tenha contratado. Acrescenta que, na solução de
hipótese análoga, relacionada à área da educação, o egrégio TST editou a
Orientação Jurisprudencial nº 185 da SBDI-1, segundo a qual o Estado-
Membro não é responsável subsidiária ou solidariamente com a Associação
de Pais e Mestres pelos encargos trabalhistas dos empregados contratados
por esta última, que deverão ser suportados integral e exclusivamente pelo
real empregador. Transcreve farta jurisprudência, pugnando, ao fim, pela
reforma do julgado.
Examino.
Assim entendeu o Magistrado a quo:
„O exame do processo revela que a reclamada FATEC mantém relação
jurídica com a UFSM, tendo por objeto a prestação de serviços junto ao
Hospital Universitário de Santa Maria, restando evidenciado que o ente
público se beneficiou diretamente do trabalho prestado pela parte autora.
Tal forma de relação trilateral de trabalho somente se afigura lícita
quando envolver contrato temporário (Lei nº 6.019/74), serviços de
vigilância (Lei nº 7.102/83), atividades ligadas ao asseio e conservação de
estabelecimentos ou labor vinculado à atividade-meio do tomador dos
serviços, desde que, todavia, não se constate pessoalidade e subordinação
direta em relação ao trabalhador „terceirizado‟.
(...)
Contudo, no caso específico dos autos, diante do objeto do contrato de
prestação de serviços e das atividades desenvolvidas pela parte autora,
vinculadas à atividade-fim da Administração Pública, trata-se de
terceirização ilícita, como fundamentado supra, de modo que restaria
incidente a responsabilidade solidária do ente público, por aplicação do § 6º
do art. 37 da CF/88 e do art. 942 do CC.
Considere-se, todavia, que, observados os limites da lide impostos pela
petição inicial (há, tão-somente, pedido de corresponsabilização subsidiária
do ente público, o que, na prática, apenas conduz à observância de um em
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relação ao devedor benefício de ordem principal), não obstante a possível
verificação de responsabilidade solidária, declaro apenas a responsabilização
subsidiária da UFSM quanto ao cumprimento de todas obrigações
decorrentes dessa decisão, atribuídas à reclamada FATEC.‟
Observa-se, no caso, que a reclamante foi admitida pela primeira
reclamada (Fundação de Apoio à Tecnologia e Ciência), em 01/08/2007,
para desempenhar as funções de „médica‟ (contrato de trabalho, ID.
d7c242e). Foi dispensada sem justa causa em 08/11/2014 (TRCT, ID.
ff23c4d).
As reclamadas, a seu turno, firmaram, em 24/03/2006, contrato tendo
por objeto a „prestação de serviços necessários para execução do PROJETO
„INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS: IMPLANTAÇÃO DA UNIDADE DE
ALTA COMPLEXIDADE EM CARDIOLOGIA‟‟. Inequívoco, ainda, que,
em razão do referido contrato, a segunda reclamada (UFSM), ora recorrente,
beneficiou-se dos serviços prestados pela reclamante, na condição de
empregada da primeira reclamada (FATEC).
O reconhecimento da responsabilidade subsidiária do ente público
reclamado harmoniza-se com o entendimento jurisprudencial firmado pelo
Colendo TST, em razão da atual redação da Súmula nº 331 do TST e seus
incisos IV, V e VI.
Além disso, em que pese se deva afastar, nos casos disciplinados pelo
art. 71 da Lei 8.666/93, a atribuição da responsabilidade objetiva da
administração pública contratante dos serviços terceirizados, não há
amparo para não reconhecer sua responsabilidade por culpa
tipicamente subjetiva, quando verificada sua omissão em fiscalizar o
devido cumprimento das obrigações contratuais da empresa prestadora
contratada.
Disso decorre, inclusive, o entendimento que emana da Súmula nº 331,
itens IV, V e VI, do TST, em conformidade com as disposições constantes
dos artigos 67, caput, e 71 da Lei 8.666/93, e, inclusive, com a decisão
proferida pelo Colendo STF no julgamento do ADC n. 16/DF. Isso porque,
no referido julgamento, não restou afastada a possibilidade de a
Administração Pública ser responsabilizada pelo adimplemento das
obrigações trabalhistas devidas ao trabalhador, em caso de eventual
omissão na fiscalização do contrato.
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No presente caso, no mesmo sentido da sentença, entendo que seria
atribuível à recorrente a responsabilização de forma solidária, uma vez que
ao contratar a autora para laborar como Médica junto ao Hospital
Universitário de Santa Maria (vinculado à segunda reclamada), houve a
terceirização de serviços relacionados à atividade-fim da tomadora
(HUSM/UFSM), o que se afigura ilícito.
No entanto, em respeito aos limites dos pedidos da inicial, mantenho a
sentença que reconheceu a responsabilidade subsidiária da segunda
reclamada.
No tocante à abrangência da responsabilidade da segunda reclamada,
tenho que esta envolve todas as verbas trabalhistas deferidas relativas ao
período da prestação de serviços, inclusive as verbas rescisórias, multas,
FGTS e indenização compensatória de 40%.
Nos termos do item VI da Súmula nº 331 do TST, „a responsabilidade
subsidiária do tomador de serviços abrange todas as verbas decorrentes da
condenação referentes ao período da prestação laboral‟.
Pelo exposto, mantenho a sentença que declarou a responsabilidade
subsidiária da recorrente pelos créditos reconhecidos na presente ação, tendo
por prequestionados todos os dispositivos legais e constitucionais invocados
no recurso.
Por tais fundamentos, nego provimento.” (destacou-se)

O § 1º do art. 896-A dispõe serem indicadores de


transcendência, entre outros, o elevado valor da causa, o desrespeito
da instância recorrida à jurisprudência sumulada do Tribunal Superior
do Trabalho ou do Supremo Tribunal Federal e a postulação, por
reclamante-recorrente, de direito social constitucionalmente
assegurado, em nada não obstando, no entanto, que esta Corte conclua por
hipóteses outras que ensejem o reconhecimento da transcendência, desde
que dentro das quatro vertentes já mencionadas.
Assim, ainda que o legislador tenha elencado como
hipótese de transcendência jurídica a existência de questão nova em torno
da interpretação da legislação trabalhista, o que, de fato, não é o caso,
uma vez que a matéria referente ao tema “RESPONSABILIDADE SUBSIDIÁRIA.
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA” já é bastante conhecida no âmbito desta Corte,
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certo é que há considerável volume de reclamações constitucionais
veiculadas no STF acerca da matéria.
Pois bem.
O Supremo Tribunal Federal, em sede de repercussão
geral, ao julgar o mérito do RE 760931/DF, fixou a seguinte tese a respeito
da impossibilidade de transferência automática da responsabilidade
subsidiária ao integrante da Administração Pública: “O inadimplemento
dos encargos trabalhistas dos empregados do contratado não transfere
automaticamente ao Poder Público contratante a responsabilidade pelo seu
pagamento, seja em caráter solidário ou subsidiário, nos termos do art.
71, § 1º, da Lei nº 8.666/93”.
Na hipótese dos autos, o e. TRT transferiu
automaticamente à Administração Pública a responsabilidade subsidiária,
tendo em vista que a atribuição de culpa in vigilando se deu
exclusivamente em razão do descumprimento de obrigações trabalhistas.
Correta, portanto, a decisão agravada ao excluir a
responsabilidade subsidiária atribuída à ora agravada.
Nego provimento.

TERCEIRIZAÇÃO. ATIVIDADE-MEIO E ATIVIDADE-FIM.


LICITUDE. ISONOMIA SALARIAL. DECISÃO PROFERIDA PELO SUPREMO TRIBUNAL
FEDERAL NA ADPF N.º 324 E NO RE N.º 958.252, COM REPERCUSSÃO GERAL
RECONHECIDA (TEMA 725). INTEGRANTE DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA.
TRANSCENDÊNCIA POLÍTICA

A decisão agravada negou seguimento ao agravo de


instrumento da reclamante, sob o fundamento de que:

“AGRAVO DE INSTRUMENTO DA RECLAMANTE


ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. ISONOMIA
O e. TRT consignou, quanto à responsabilidade subsidiária:
(...)
Constato a existência de obstáculo processual apto a inviabilizar o
exame das questões veiculadas na revista e, por consectário lógico, a
evidenciar a ausência de transcendência do recurso.
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O v. acórdão regional se coaduna com as decisões proferidas pelo
Plenário do Supremo Tribunal Federal no dia 30/8/2018 que, ao julgar a
Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) nº 324 e o
Recurso Extraordinário (RE) nº 958.252, com repercussão geral
reconhecida, decidiu que é lícita a terceirização em todas as etapas do
processo produtivo, ou seja, na atividade-meio e na atividade-fim das
empresas.
As teses fixadas, ambas dotadas de efeito vinculante, foram assim
redigidas (destaques acrescidos):
“É licita a terceirização ou qualquer outra forma de divisão
do trabalho entre pessoas jurídicas distintas, independentemente
do objeto social das empresas envolvidas, mantida a
responsabilidade subsidiária da empresa contratante” (RE nº
958.252, Rel. Min. Luiz Fux);
“I. É lícita a terceirização de toda e qualquer atividade,
meio ou fim, não se configurando relação de emprego entre a
contratante e o empregado da contratada. 2. Na terceirização,
compete à tomadora do serviço: i) zelar pelo cumprimento de
todas as normas trabalhistas, de seguridade social e de proteção à
saúde e segurança do trabalho incidentes na relação entre a
empresa terceirizada e o trabalhador terceirizado; bem como II)
assumir a responsabilidade subsidiária pelo descumprimento de
obrigações trabalhistas e pela indenização por acidente de
trabalho, bem como a responsabilidade previdenciária, nos
termos do art. 31 da Lei 8.212/1993.” (ADPF nº 324, Rel. Min.
Roberto Barroso)
Quanto à possível modulação da decisão exarada, resultou firmado,
conforme decisão de julgamento da ADPF nº 324 (Rel. Min. Roberto
Barroso), que: „(...) o Relator prestou esclarecimentos no sentido de que a
decisão deste julgamento não afeta os processos em relação aos quais tenha
havido coisa julgada. Presidiu o julgamento a Ministra Cármen Lúcia.
Plenário, 30.8.2018‟ - grifei.
Nesse contexto, a partir de 30/8/2018, são de observância obrigatória
aos processos judiciais em curso ou pendentes de julgamento as teses
jurídicas firmadas pelo e. STF no RE nº 958.252 e na ADPF nº 324, de
maneira que a decisão regional está em conformidade com esse
entendimento, uma vez que afastou, no caso concreto, a pretensão de
reconhecimento de ilicitude da terceirização havida.

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Acrescento, ainda, que, tratando-se de integrante da Administração
Pública, a jurisprudência desta Corte Superior entendia que, a despeito da
irregularidade da terceirização por laborar o empregado em atividade
finalística, não era possível o reconhecimento do vínculo empregatício com o
ente público tomador de serviços, diante do óbice do art. 37, II, da
Constituição Federal.
Isto é, na prática, deixava-se de aplicar a inteligência da Súmula nº
331, I, do TST para, diante da identidade de funções dos empregados do ente
público tomador de serviços e os empregados da prestadora de serviços,
deferir aos empregados terceirizados, por isonomia, as mesmas verbas
trabalhistas legais e normativas asseguradas àqueles contratados pelo
tomador de serviços, aplicando-se, por analogia, o disposto no art. 12, „a‟, da
Lei nº 6.019/74. Orientação Jurisprudencial n.º 383 da SBDI-1 do TST.
Examinando a jurisprudência à luz da Súmula n.º 331, I, do TST, da OJ
n.º 383 da SBDI-1 do TST e dos respectivos precedentes ensejadores de sua
criação, depreende-se o seguinte: a principal premissa, seja para o
reconhecimento do vínculo empregatício (ente privado – Súmula n.º 331, I,
do TST), seja no tocante ao reconhecimento da isonomia (ente público – OJ
n.º 383 da SBDI-1 do TST), é a terceirização de atividade inerente, fim ou
finalística da tomadora de serviços.
Ocorre, contudo, que, repita-se, em conformidade com a novel
jurisprudência do e. Supremo Tribunal Federal, é lícita a terceirização em
todas as etapas do processo produtivo, ou seja, na atividade-meio e na
atividade-fim das empresas.
Assim, ultrapassada a condição de ilicitude de terceirização de
atividade finalística do tomador de serviços, o fato é que, nas hipóteses
envolvendo integrante da Administração Pública, não há mais como se
aplicar a inteligência da Orientação Jurisprudencial nº 383 da SBDI-1 do
TST, que resulta superada, em razão da aludida decisão do e. STF.
Nesse contexto, estando a decisão regional em harmonia com o
entendimento acima mencionado, de caráter vinculante, inviável se torna a
extraordinária intervenção deste Tribunal Superior no feito.
Pois bem.
O critério de transcendência é verificado considerando a questão
jurídica posta no recurso de revista, de maneira que tal análise somente se dá
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por esta Corte superior se caracterizada uma das hipóteses previstas no art.
896-A da CLT.
Assim, a existência de obstáculo processual apto a inviabilizar o exame
da matéria de fundo veiculada, como no caso, acaba por evidenciar, em
última análise, a própria ausência de transcendência do recurso de revista, em
qualquer das suas modalidades.
Isso porque não se justificaria a intervenção desta Corte superior a fim
de examinar feito no qual não se estaria: a) prevenindo desrespeito à sua
jurisprudência consolidada (transcendência política); b) fixando tese sobre
questão nova em torno da interpretação da legislação trabalhista
(transcendência jurídica); c) revendo valor excessivo de condenação, apto a
ensejar o comprometimento da higidez financeira da empresa demandada ou
de determinada categoria profissional (transcendência econômica); d)
acolhendo pretensão recursal obreira que diga respeito a direito social
assegurado na Constituição Federal, com plausibilidade na alegada ofensa a
dispositivo nela contido (transcendência social).
Nesse sentido já se posicionou a maioria das Turmas deste TST:
Ag-RR - 1003-77.2015.5.05.0461, Relator Ministro: Breno Medeiros, Data
de Julgamento: 07/11/2018, 5ª Turma, Data de Publicação: DEJT
09/11/2018; AIRR - 1270-20.2015.5.09.0661, Relatora Desembargadora
Convocada: Cilene Ferreira Amaro Santos, Data de Julgamento: 07/11/2018,
6ª Turma, Data de Publicação: DEJT 09/11/2018; ARR -
36-94.2017.5.08.0132, Relator Ministro: Ives Gandra Martins Filho, Data de
Julgamento: 24/10/2018, 4ª Turma, Data de Publicação: DEJT 26/10/2018;
RR - 11200-04.2016.5.18.0103, Relator Desembargador Convocado:
Roberto Nobrega de Almeida Filho, Data de Julgamento: 12/12/2018, 1ª
Turma, Data de Publicação: DEJT 14/12/2018; AIRR -
499-03.2017.5.11.0019, Relator Ministro: Márcio Eurico Vitral Amaro, Data
de Julgamento: 24/04/2019, 8ª Turma, Data de Publicação: DEJT
29/04/2019).
Logo, diante do óbice processual já mencionado, não reputo verificada
nenhuma das hipóteses previstas no art. 896-A da CLT.

Na minuta de agravo, a parte agravante afirma que o


agravo de instrumento e o recurso de revista do ora agravado não
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ostentavam condições de provimento, uma vez que, segundo afirma, a
transcendência se verifica no fato de que o tema possui repercussão geral
reconhecida pelo STF (TEMA 383). Aduz que a matéria não fora julgada pelo
STF e o não conhecimento da revista obsta o conhecimento de futuro Recurso
Extraordinário.
Defende que a recente decisão do STF acerca da licitude
da terceirização não influencia o presente caso, pois se trata de hipótese
de terceirização que afrontou diretamente a Constituição, implicando na
contratação de pessoal sem a prestação de concurso público.
Entende que a isonomia garantida pela Constituição é
aplicável ao caso, independentemente da licitude da relação de
terceirização, uma vez que se está diante de trabalhadora privada cedida
à Administração Pública.
Suscita violação aos art. 37, I e II, da CF,
imprescindíveis na contratação de pessoal pela administração pública,
pois evidente a irregularidade na terceirização, sem incompatibilidade
com a decisão do STF a esse respeito.
Não merece reforma a decisão agravada.
O e. TRT consignou, quanto ao tema:

“RECURSO ORDINÁRIO DA RECLAMANTE


Diferenças salariais decorrentes de isonomia salarial
A reclamante não se conforma com a sentença que indeferiu o pedido
de pagamento de diferenças salariais decorrentes de isonomia salarial. Em
longo arrazoado, sustenta que a isonomia salarial é garantida pela
Constituição Federal que, em seu artigo 5º, traz o princípio da igualdade,
pelo qual não deve haver distinções de qualquer natureza entre partes.
Menciona que o artigo 7º, em seus incisos XXX e XXXII, da Constituição
Federal traz, de maneira expressa, a garantia de proteção do salário. Argui
que a vedação estabelecida no artigo 37, XIII, da Constituição Federal,
objeto da OJ nº 297 da SDI-1 do TST, só deve ser aplicada para o efeito de
remuneração de pessoal do serviço público e apenas entre servidores
públicos, coisa que, no caso, não está presente, eis que não há no caderno
processual pedido de reconhecimento de vínculo para com a Administração
Pública, mas, tão somente, de isonomia salarial, conforme garantido pelas
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cláusulas pétreas da CF/88. Explica que o que se visa alcançar à parte
reclamante é justamente a isonomia constitucional a incidir sobre sua base
salarial, eis que empregado privado cuja tomadora dos serviços é ente da
Administração Pública. Pondera que, a partir do deferimento da isonomia
salarial a que faz jus, a reclamante não desencadeará qualquer
aumento/alteração nos vencimentos dos servidores públicos que consigo
atuavam em identidade de funções, pelo que não se falar em incidência da
proibição constitucional. Assevera ser incabível que se dê guarida à
argumentação da sentença atacada, pois, assim o fazendo, estar-se-ia
permitindo não apenas a existência de grave discriminação entre
trabalhadores que, separados por regimes jurídicos (um celetista e outro
estatuário), atuam com identidade de funções, mas também que a
Administração Pública, que mantêm ilicitamente terceirizados em condições
de trabalho muito inferiores aos servidores concursados, com o intuito
incontroverso de redução dos custos em prejuízo aos empregados de que é
tomadora, enriqueça ilicitamente. Transcreve doutrina e jurisprudência.
Reitera que a vedação estabelecida pelo art. 37, XIII, da Constituição Federal
não incide ao caso em tela, uma vez que visa a evitar aqueles aumentos em
cadeia entre diferentes servidores públicos à míngua de lei. Alega que o
próprio Tribunal Superior do Trabalho tem aceitado como possível o pedido
de isonomia salarial entre empregado público celetista em desvio de função e
servidor estatutário. Requer a reforma da sentença de modo a reconhecer as
diferenças salariais pleiteadas em razão da isonomia salarial garantida na
Constituição Federal e por aplicação analógica da Lei nº 6.019/74 e da OJ nº
383 da SDI-I do TST, para o fim de, por conseguinte, reconhecer a
responsabilização subsidiária da administração pública uma vez que já
reconhecido à sentença a ilicitude da terceirização havida entre as partes.
Examino.
Conforme referido em tópico anterior, a reclamante foi admitida pela
primeira reclamada (Fundação de Apoio à Tecnologia e Ciência), em
01/08/2007, para desempenhar as funções de „médica‟ (contrato de trabalho,
ID. d7c242e), desempenhando suas atividades junto ao Hospital
Universitário de Santa Maria (HUSM), o qual é vinculado à segunda
reclamada (UFSM). Foi dispensada sem justa causa em 08/11/2014 (TRCT,
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O pleito de pagamento de diferenças salariais decorrentes de isonomia
salarial restou indeferido na origem com base nos seguintes fundamentos:
(...) tendo em vista que a relação jurídica estabelecida entre a parte
autora é de emprego, regida precipuamente pelas regras previstas na CLT, e
verificando-se que a relação jurídica estabelecida entre os trabalhadores e a
tomadora de serviços é de natureza estatutária, resta inviável o deferimento
da pretensão de diferenças salariais por isonomia. Por decorrência, não sendo
aplicáveis ao contrato de trabalho objeto da ação as vantagens estabelecidas
para os trabalhadores admitidos diretamente pela tomadora de serviços, resta
evidenciado o óbice ao pedido de adicional de qualificação.
Considerado o exposto, não obstante a ilicitude da terceirização, julgo
improcedentes os pedidos de diferenças salariais por isonomia e de adicional
de qualificação.
Inequívoco nos autos que, na condição de médica, empregada da
primeira reclamada (FATEC), a reclamante desenvolvia atividades idênticas
às desenvolvidas por médicos que atuavam junto ao Hospital Universitário
de Santa Maria, onde a reclamante também desempenhava suas funções.
Incontroverso, ainda, que a reclamante e os paradigmas indicados
sujeitavam-se a regimes jurídicos distintos.
Nesse sentido, é o teor da prova testemunhal utilizada como prova
emprestada, colhida nos autos do processo n.º 0020166-29.2015.5.04.0701,
que ora se transcreve:
DEPOIMENTO DA PRIMEIRA TESTEMUNHA DO
RECLAMANTE:
Cecília Beatriz Flores Milani, brasileira, divorciada, servidora Pública,
residente na Rua RS 509, 2730, KM 03, nesta cidade. Aos costumes disse
nada. ADVERTIDO, PRESTOU COMPROMISSO: P.R.: que a chefia do
reclamante era a mesma dos servidores dos empregados estatutários da
segunda reclamada; que a chefe do reclamante era Micaéla Lamberti; que no
setor do reclamante havia servidores estatutários realizando o reclamante
atividades idênticas aos dos servidores estatutários; que a depoente confirma
que Dorilda Medianeira dos Santos, Julio Cesar de Menezes, Emerson
Oliveira e Leandro Ferrão.
(SUBLINHEI)

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Revendo posicionamento, considero ser inviável o pedido de
pagamento de diferenças salariais entre empregado terceirado celetista
e servidor público estatutário, ainda que exercentes de idênticas
funções, por estarem sujeitos a regimes jurídicos distintos. Além disso, a
Constituição da República estabelece em seu artigo 37, XIII,
expressamente, que é ‘vedada a vinculação ou equiparação de quaisquer
espécies remuneratórias para o efeito de remuneração de pessoal do
serviço público’.
Por tais, razões reputo ser inaplicável a OJ nº 383 da SDI-1 do TST ao
caso em exame.
Nesse sentido, colaciono os seguintes precedentes deste Tribunal:
EMPREGADO TERCEIRIZADO CELETISTA E SERVIDOR
PÚBLICO ESTATUTÁRIO. ISONOMIA SALARIAL.
IMPOSSIBILIDADE. Indevido o pagamento de diferenças salariais por
isonomia entre empregado terceirizado celetista e servidor público
estatutário da tomadora dos serviços, por estarem sujeitos a regimes jurídicos
diversos. Inaplicabilidade da OJ nº 383 da SDI-1 do TST ao caso concreto.
(Acórdão do processo 0020663-40.2015.5.04.0702 (RO) Data: 29/08/2017
Órgão julgador: 2ª Turma Redator: Tânia Rosa Maciel De Oliveira).
Princípio isonômico. Celetista versus estatutário. É impossível o
tratamento isonômico entre empregado contrato pelo regime CLT com a
remuneração percebida por servidores estatutários. O acolhimento do pedido
esbarra no disposto no inciso XIII do artigo 37 da Constituição Federal, que
veda „a vinculação ou equiparação de quaisquer espécies remuneratórias
para o efeito de remuneração de pessoal do serviço público‟, além de ir de
encontro ao estabelecido no inciso II do mesmo dispositivo constitucional,
que prevê a necessidade de concurso para investidura nos cargos e empregos
públicos, ressalvadas as nomeações para cargos em comissão. (Acordão do
processo 0000681-74.2014.5.04.0702 (RO) Data: 18/05/2017 Origem: 2ª
Vara do Trabalho de Santa Maria Órgão julgador: 7ª. Turma Redator: Denise
Pacheco Participam: Emílio Papaléo Zin, Wilson Carvalho Dias)
DIFERENÇAS SALARIAIS. ISONOMIA. EMPREGADO
CELETISTA E SERVIDOR ESTATUTÁRIO. Descabe a pretensão de
isonomia salarial entre empregada celetista de fundação privada e servidor
estatutário de autarquia pública, incidindo no caso a OJ nº 297 da SDI-1 do
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TST. É entendimento pacificado no TST que a orientação contida na OJ nº
383 da SDI-1 é específica para situações envolvendo terceirização de
atividade-fim em empresas públicas e sociedades de economia, que
contratam pessoal por meio do regime celetista, o que não é o caso. Recursos
das reclamadas providos. (Acordão do processo 0020674-72.2015.5.04.0701
(RO) Data: 18/12/2017 Órgão julgador: 9ª Turma Redator: Manuel Cid
Jardon)
Pelo exposto, mantenho a sentença que julgou improcedente o pedido
de pagamento de diferenças salariais decorrentes de isonomia salarial.
Recurso não provido.” (destacou-se)

O Plenário do Supremo Tribunal Federal, no dia


30/8/2018, ao julgar a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental
(ADPF) n.º 324 e o Recurso Extraordinário (RE) n.º 958.252, com
repercussão geral reconhecida, decidiu que é lícita a terceirização em
todas as etapas do processo produtivo, ou seja, na atividade-meio e na
atividade-fim das empresas.
A tese de repercussão geral aprovada no RE n.º 958.252
(Rel. Min. Luiz Fux), com efeito vinculante para todo o Poder Judiciário,
assim restou redigida: “É licita a terceirização ou qualquer outra forma
de divisão do trabalho entre pessoas jurídicas distintas,
independentemente do objeto social das empresas envolvidas, mantida a
responsabilidade subsidiária da empresa contratante” destacamos.
Do mesmo modo, no julgamento da ADPF n.º 324, o
eminente Relator, Min. Roberto Barroso, ao proceder a leitura da ementa
de seu voto, assim se manifestou: “1. É lícita a terceirização de toda
e qualquer atividade, meio ou fim, não se configurando relação de emprego
entre a contratante e o empregado da contratada. 2. Na terceirização,
compete à tomadora do serviço: i) zelar pelo cumprimento de todas as
normas trabalhistas, de seguridade social e de proteção à saúde e
segurança do trabalho incidentes na relação entre a empresa terceirizada
e o trabalhador terceirizado; bem como ii) assumir a responsabilidade
subsidiária pelo descumprimento de obrigações trabalhistas e pela
indenização por acidente de trabalho, bem como a responsabilidade
previdenciária, nos termos do art. 31 da Lei 8.212/1993” grifamos. Assim
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ficou assentado na certidão de julgamento: “Decisão: O Tribunal, no
mérito, por maioria e nos termos do voto do Relator, julgou procedente
a arguição de descumprimento de preceito fundamental, vencidos os
Ministros Edson Fachin, Rosa Weber, Ricardo Lewandowski e Marco Aurélio”
(g.n).
Prevaleceu, em breve síntese, como fundamento o
entendimento no sentido de que os postulados da livre concorrência (art.
170, IV) e da livre-iniciativa (art. 170), expressamente assentados na
Constituição Federal de 1.988, asseguram às empresas liberdade em busca
de melhores resultados e maior competitividade.
Quanto à possível modulação da decisão exarada,
resultou firmado, conforme decisão de julgamento da ADPF n.º 324 (Rel.
Min. Roberto Barroso), que: “(...) o Relator prestou esclarecimentos no
sentido de que a decisão deste julgamento não afeta os processos em
relação aos quais tenha havido coisa julgada. Presidiu o julgamento a
Ministra Cármen Lúcia. Plenário, 30.8.2018” grifo nosso.
Nesse contexto, a partir de 30/8/2018, é de
observância obrigatória aos processos judiciais em curso ou pendente de
julgamento a tese jurídica firmada pelo e. STF no RE n.º 958.252 e na
ADPF n.º 324.
No caso concreto, conforme se extrai do acórdão
regional, o e. TRT afastou a pretensão da parte reclamante calcada na
alegação de que seria inviável o pedido de pagamento de diferenças
salariais entre empregado terceirado celetista e servidor público
estatutário, ainda que exercentes de idênticas funções, por estarem
sujeitos a regimes jurídicos distintos.
Sucede, porém, que a diferenciação entre o conceito
do que seria atividade-fim ou atividade-meio e seus respectivos efeitos
no caso prático, após a citada decisão do e. STF no julgamento do RE n.º
958.252 e na ADPF n.º 324, deixou de ter relevância. Isso porque, em se
tratando de terceirização, seja ela de atividade-meio ou fim, a sua
licitude deve ser sempre reconhecida.
Assim, não há mais espaço para o reconhecimento do
vínculo empregatício com o tomador de serviços sob o fundamento de que
houve terceirização ilícita (ou seja, terceirização de atividade
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essencial, fim ou finalística), ou, ainda, para a aplicação dos direitos
previstos em legislação específica ou em normas coletivas da categoria
profissional dos empregados da empresa contratante, porque o e. STF,
consoante exposto, firmou entendimento de que toda terceirização é sempre
lícita, inclusive, repita-se, registrando a impossibilidade de
reconhecimento de vínculo empregatício do empregado da prestadora de
serviços com o tomador.
E, em se tratando o tomador de integrante da
Administração Pública, qual a repercussão da novel decisão do e. STF?
Tratando-se de integrante da Administração Pública,
a jurisprudência desta Corte Superior já entendia que, a despeito da
irregularidade da terceirização por laborar o empregado em atividade
finalística, não era possível o reconhecimento do vínculo empregatício
com o tomador de serviços, diante do óbice do art. 37, II, da Constituição
Federal.
Isto é, na prática, deixava-se de aplicar a
inteligência da Súmula n.º 331, I, do TST para, diante da identidade de
funções dos empregados do tomador de serviços e os empregados da
prestadora de serviços, deferir aos empregados terceirizados, por
isonomia, as mesmas verbas trabalhistas legais e normativas asseguradas
àqueles contratados pelo tomador de serviços, aplicando-se, por
analogia, o disposto no art. 12, “a”, da Lei n.º 6.019/74. Orientação
Jurisprudencial n.º 383 da SBDI-1 do TST.
Examinando a jurisprudência à luz da Súmula n.º 331,
I, do TST, da OJ n.º 383 da SBDI-1 do TST e dos respectivos precedentes
ensejadores de sua criação, depreende-se o seguinte: a principal
premissa, seja para o reconhecimento do vínculo empregatício (ente
privado – Súmula n.º 331, I, do TST), seja no tocante ao reconhecimento
da isonomia (ente público – OJ n.º 383 da SBDI-1 do TST), é a terceirização
de atividade inerente, fim ou finalística da tomadora de serviços.
Ocorre, contudo, que, repita-se, em conformidade com
a novel jurisprudência do e. Supremo Tribunal Federal, é lícita a
terceirização em todas as etapas do processo produtivo, ou seja, na
atividade-meio e na atividade-fim das empresas. Assim, ultrapassada a
condição de ilicitude de terceirização de atividade finalística do
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tomador de serviços, o fato é que, nas hipóteses envolvendo integrante
da Administração Pública, não há mais como se aplicar a inteligência da
Orientação Jurisprudencial n.º 383 da SBDI-1 do TST, que resulta
superada, em razão da aludida decisão do e. STF.
Do exposto, verifica-se que a pretensão deduzida pela
parte demandante na presente ação está superada por precedentes de
natureza vinculante do STF, razão pela qual não se vislumbra a
possibilidade de prosseguimento do recurso de revista, devendo ser
mantida a r. decisão agravada, pois tal óbice evidencia a ausência de
transcendência da matéria.
Considerando a improcedência do recurso, aplica-se à
parte agravante a multa prevista no art. 1.021, § 4º, do CPC, no importe
de R$ 500,00 – quinhentos reais, equivalente a 1% do valor da causa
(R$ 50.000,00), em favor da parte agravada.
Ante o exposto, nego provimento ao agravo, com
aplicação de multa.

ISTO POSTO

ACORDAM os Ministros do Tribunal Superior do Trabalho,


por unanimidade, conhecer do agravo e, no mérito, negar-lhe provimento,
e, considerando a improcedência do recurso, aplicar à parte agravante
a multa prevista no art. 1.021, § 4º, do CPC, no importe de R$ 500,00
– quinhentos reais, equivalente a 1% do valor da causa (R$ 50.000,00),
em favor da parte agravada.
Brasília, 16 de dezembro de 2020.

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BRENO MEDEIROS
Ministro Relator

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