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Poder Judiciário

Justiça do Trabalho
Tribunal Superior do Trabalho

PROCESSO Nº TST-ARR-1002251-55.2017.5.02.0047

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A C Ó R D Ã O
(4ª Turma)
IGM/vcd/fn

I) AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE


REVISTA DA RECLAMANTE – TRANSCENDÊNCIA
ECONÔMICA RECONHECIDA – DESPROVIMENTO.
1. Nos termos do art. 896-A, § 1º, I, da
CLT, constitui transcendência
econômica o elevado valor da
condenação.
2. In casu, ante o elevado valor da
causa, no montante de R$ 850.000,00,
resta reconhecida a transcendência
econômica do apelo, recomendando a
análise colegiada dos demais
pressupostos de admissibilidade do
recurso.
3. Todavia, o agravo de instrumento não
merece prosperar, porquanto o recurso
de revista, versando sobre férias,
assistência judiciária gratuita e tempo
à disposição, não reúne condições de
admissibilidade, tropeçando nos óbices
da Súmula 126 do TST e do art. 896,
§ 1º-A, I, da CLT.
Agravo de instrumento desprovido.
II) RECURSO DE REVISTA DA RECLAMANTE –
CONDENAÇÃO DO BENEFICIÁRIO DA JUSTIÇA
GRATUITA AO PAGAMENTO DE HONORÁRIOS
ADVOCATÍCIOS SUCUMBENCIAIS –
COMPATIBILIDADE DO ART. 791-A, § 4º, DA
CLT COM O ART. 5º, XXXV E LXXIV, DA CF
– TRANSCENDÊNCIA JURÍDICA RECONHECIDA.
1. Nos termos do art. 896-A, § 1º, IV,
da CLT, constitui transcendência
jurídica da causa a existência de
questão nova em torno da interpretação
da legislação trabalhista.
2. In casu, o debate jurídico que emerge
do presente processo diz respeito à
compatibilidade do § 4º do art. 791-A da
CLT, introduzido pela Lei 13.467/17,
que determina o pagamento de honorários
advocatícios pelo beneficiário da
justiça gratuita, quando sucumbente e
tenha obtido em Juízo, neste ou em outro
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processo, créditos capazes de suportar
a despesa, frente aos princípios do
livre acesso ao Judiciário e da
assistência jurídica integral e
gratuita aos que comprovarem a
insuficiência de recursos, esculpidos
nos incisos XXXV e LXXIV do art. 5º da
Constituição Federal, questão que,
inclusive, encontra-se pendente de
análise pela Suprema Corte em sede de
controle concentrado de
constitucionalidade (ADI 5.766-DF,
Rel. Min. Roberto Barroso).
3. In casu, a Autora, que litiga sob o
pálio da justiça gratuita, foi
condenada ao pagamento de honorários
advocatícios sucumbenciais em
benefício da Reclamada, no percentual
de 10% sobre o valor atualizado dos
pedidos rejeitados.
4. Como é cediço, a Reforma Trabalhista,
promovida pela Lei 13.467/17, ensejou
diversas alterações no campo do Direito
Processual do Trabalho, a fim de tornar
o processo laboral mais racional,
simplificado, célere e, principalmente,
responsável, sendo essa última
característica marcante, visando
coibir as denominadas “aventuras
judiciais”, calcadas na facilidade de
se acionar a Justiça, sem nenhum ônus ou
responsabilização por postulações
carentes de embasamento fático.
5. Não se pode perder de vista o
crescente volume de processos ajuizados
nesta Justiça Especializada, muitos com
extenso rol de pedidos, apesar dos
esforços empreendidos pelo TST para
redução de estoque e do tempo de
tramitação dos processos.
6. Nesse contexto foram inseri dos
os §§ 3º e 4º no art. 791-A da CLT pela
Lei 13.467/17, responsabilizando-se a
parte sucumbente, seja a autora ou a
demandada, pelo pagamento dos
honorários advocatícios, ainda que
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beneficiária da justiça gratuita, o que
reflete a intenção do legislador de
desestimular lides temerárias,
conferindo tratamento isonômico aos
litigantes. Tanto é que o § 5º do art.
791-A da CLT expressamente dispôs
acerca do pagamento da verba honorária
na reconvenção. Isso porque, apenas se
tiver créditos judiciais a receber é que
terá de arcar com os honorários se fizer
jus à gratuidade da justiça, pois nesse
caso já não poderá escudar-se em
pretensa insuficiência econômica.
7. Percebe-se, portanto, que o art.
791-A, § 4º, da CLT não colide com o art.
5º, XXXV e LXXIV, da CF, ao revés, busca
preservar a jurisdição em sua essência,
como instrumento responsável e
consciente de tutela de direitos
elementares do ser humano trabalhador,
indispensáveis à sua sobrevivência e à
da família.
8. Ainda, convém ressaltar não ser
verdadeira a assertiva de que a
imposição de pagamento de honorários de
advogado àquele que se declara pobre na
forma da lei implica desvio de
finalidade da norma, onerando os que
necessitam de proteção legal, máxime
porque no próprio § 4º do art. 791-A da
CLT se visualiza a preocupação do
legislador com o estado de
hipossuficiência financeira da parte
vencida, ao exigir o pagamento da verba
honorária apenas no caso de existência
de crédito em Juízo, em favor do
beneficiário da justiça gratuita, neste
ou em outro processo, capaz de suportar
a despesa que lhe está sendo imputada,
situação, prima facie, apta a modificar
a sua capacidade financeira, até então
de miserabilidade, que justificava a
concessão de gratuidade, prestigiando,
de um lado, o processo responsável, e
desestimulando, de outro, a litigância
descompromissada.
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9. Por todo o exposto, não merece
reforma o acórdão regional que manteve
a imposição de pagamento de honorários
advocatícios à Autora sucumbente,
restando incólumes os dispositivos
apontados como violados na revista.
Recurso de revista não conhecido.

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Recurso


de Revista com Agravo n° TST-ARR-1002251-55.2017.5.02.0047, em que é
Agravante e Recorrente YOLANDA TERESA GAMUNDI GOUVEIA e Agravada e
Recorrida BRITISH AIRWAYS PLC.

R E L A T Ó R I O

Contra o acórdão do 2º Regional que negou provimento


aos recursos ordinários das Partes (págs. 762-770) e acolheu parcialmente
seus embargos de declaração (págs. 795-798), a Reclamante interpôs
recurso de revista, buscando a revisão das questões atinentes à
condenação do beneficiário da justiça gratuita ao pagamento de honorários
advocatícios sucumbenciais, às férias, à assistência judiciária gratuita
e ao tempo à disposição (págs. 809-825).
O apelo foi admitido apenas quanto ao aspecto da
condenação do beneficiário da justiça gratuita ao pagamento de honorários
advocatícios sucumbenciais (págs. 845-848), tendo a Reclamante
interposto agravo de instrumento visando impugnar o trancamento da
revista quanto aos temas denegados (págs. 853-862).
É o relatório.

V O T O

A) AGRAVO DE INSTRUMENTO

I) CONHECIMENTO

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Atendidos os pressupostos extrínsecos do agravo de
instrumento, CONHEÇO do apelo.

II) CRITÉRIO DE TRANSCENDÊNCIA

Tratando-se de agravo de instrumento em recurso de


revista interposto contra acórdão regional publicado após a Lei 13.467/17
(pág. 352), tem-se que o apelo ao TST deve ser analisado à luz do critério
da transcendência previsto no art. 896-A da CLT, que dispõe:

“Art. 896-A - O Tribunal Superior do Trabalho, no recurso de revista,


examinará previamente se a causa oferece transcendência com relação
aos reflexos gerais de natureza econômica, política, social ou jurídica.
§ 1º São indicadores de transcendência, entre outros:
I - econômica, o elevado valor da causa;
II - política, o desrespeito da instância recorrida à jurisprudência sumulada
do Tribunal Superior do Trabalho ou do Supremo Tribunal Federal;
III - social, a postulação, por reclamante-recorrente, de direito social
constitucionalmente assegurado;
IV - jurídica, a existência de questão nova em torno da interpretação da
legislação trabalhista” (grifos nossos).

Não é demais registrar que o instituto da


transcendência foi outorgado ao TST para que possa selecionar as questões
que transcendam o interesse meramente individual (transcendência
econômica ou social em face de macrolesão), exigindo posicionamento desta
Corte quanto à interpretação do ordenamento jurídico trabalhista pátrio,
fixando teses jurídicas que deem o conteúdo normativo dos dispositivos
da CLT e legislação trabalhista extravagante (transcendência jurídica)
e garantam a observância da jurisprudência pacificada do TST, pelos
Tribunais Regionais do Trabalho (transcendência política).
No caso dos autos, em face do elevado valor da causa
(R$ 850.000,00 – pág. 20), reconheço a transcendência econômica.
No entanto, de plano, verifica-se que as questões
veiculadas no agravo de instrumento – férias, assistência judiciária
gratuita e tempo à disposição – não são novas e a decisão regional não
contraria jurisprudência sumulada do TST ou do STF, a recomendar o
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controle da decisão do TRT, a par de, somente com o reexame do contexto
fático-probatório ser possível decidir em sentido oposto ao da Corte a
quo, providência vedada a esta Instância Superior, a teor da Súmula 126
do TST, além da incidência do óbice do art. 896, § 1º-A, I, da CLT no
tocante à assistência judiciária gratuita.
Assim, restam afastadas as transcendências jurídica
e política do apelo.
Quanto à transcendência social, a revista não veio
calcada em violação direta de nenhum dos dispositivos constitucionais
assecuratórios de direitos sociais (arts. 6º a 11 da Carta Política).
Nesses termos, denego seguimento ao agravo de
instrumento, ainda que reconhecida a transcendência econômica da causa.

B) RECURSO DE REVISTA

CONHECIMENTO

a) PRESSUPOSTOS EXTRÍNSECOS

O recurso atende aos pressupostos extrínsecos da


adequação, tempestividade e da regularidade de representação, de forma
que passo à análise da transcendência e dos pressupostos intrínsecos de
admissibilidade.

b) CRITÉRIO DA TRANSCENDÊNCIA

Sabe-se que o critério de transcendência constitui


filtro seletor de matérias que mereçam pronunciamento do TST para firmar
teses jurídicas pacificadoras da jurisprudência trabalhista.
Quanto aos indicadores de transcendência elencados no
§ 1º do art. 896-A da CLT, não são eles taxativos. Assim, não será apenas
a jurisprudência sumulada do STF e TST que caracterizará a transcendência
política quando contrariada, mas também aquela oriunda de precedentes
firmados em repercussão geral ou em incidente de recursos repetitivos,
obviamente.
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Do mesmo modo, a transcendência social não pode ser
considerada como via de mão única para o empregado, pois desde que estejam
em discussão os direitos sociais elencados nos arts. 6º a 11 da CF,
independentemente de quem os invoquem, patrão ou empregado, a questão
terá relevância social.
De igual sorte, a transcendência econômica pode ser
invocada tanto pelo empregado quanto pelo empregador, incluindo não
apenas o elevado valor dado à causa, mas especialmente o elevado valor
da condenação, além das causas que envolvam interesses difusos, coletivos
e individuais homogêneos, em ações civis públicas, ações civis coletivas,
reclamações em substituição processual ampla da categoria, nas quais se
discutem macro lesões ao ordenamento jurídico trabalhista.
O próprio conceito de transcendência jurídica é
passível de matização quanto à novidade da questão veiculada na revista,
porquanto não enfrentada ainda nas Turmas ou na SBDI-1 do TST, ou mesmo
ainda não pacificada por súmula ou orientação jurisprudencial desta
Corte, ou do STF, em caso de repercussão geral reconhecida.
In casu, o debate jurídico que emerge da presente causa
diz respeito à compatibilidade do § 4º do art. 791-A da CLT, introduzido
pela Lei 13.467/17, que determina o pagamento de honorários advocatícios
pelo beneficiário da justiça gratuita, quando sucumbente e tenha obtido
em Juízo, ainda que em outro processo, créditos capazes de suportar a
despesa, frente aos princípios do livre acesso ao Judiciário e da
assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem a
insuficiência de recursos, esculpidos nos incisos XXXVI e LXXIV do art.
5º da Constituição Federal.
Tratando-se de inovação à CLT e de questão que ainda
não foi analisada pela SBDI-1 deste Tribunal em sede jurisdicional,
pendente de análise, inclusive, pela Suprema Corte em sede de controle
concentrado de constitucionalidade (ADI 5.766-DF, Rel. Min. Roberto
Barroso), reconheço a transcendência jurídica desse aspecto da causa,
nos termos do art. 896-A, § 1º, IV, da CLT.

c) PRESSUPOSTOS INTRÍNSECOS

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CONDENAÇÃO DO BENEFICIÁRIO DA JUSTIÇA GRATUITA AO
PAGAMENTO DE HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS SUCUMBENCIAIS – COMPATIBILIDADE DO
ART. 791-A, § 4º, DA CLT COM A CONSTITUIÇÃO FEDERAL

Nas razões de recurso de revista, a Reclamante


sustenta que o beneficiário da justiça gratuita deve ser isento do
pagamento de honorários advocatícios sucumbenciais, sob pena de afronta
ao art. 5º, LXXIV, da CF (págs. 822-823).
Do capítulo do acórdão regional que tratou do tema dos
honorários advocatícios sucumbenciais, conciso, e, portanto, passível
de transcrição integral nas razões recursais, cumprindo a Autora com o
disposto no art. 896, § 1º-A, I, do CLT, extrai-se, verbis:

“A ré pretende que o percentual de honorários incida sobre a totalidade dos


pedidos elencados na peça inicial.
A autora, por sua vez, sustenta que não deve prevalecer a decisão que a
condenou ao pagamento da verba honorária sucumbencial.
Pois bem.
Prejudicada a alegação da ré, uma vez que não houve a improcedência de
todos os pedidos. Trata-se, pois, de sucumbência parcial, de modo que o
percentual estabelecido em primeiro grau incide apenas sobre aqueles
pedidos julgados improcedentes.
No que se refere ao inconformismo da autora, observo que ajuizada a ação
em dezembro de 2017, inexiste o óbice intertemporal para aplicação das
disposições de natureza processual trazidas pela Lei 13.467/2017.
E, mesmo beneficiária da justiça gratuita a reclamante, o novel § 4º do artigo
791-A dispõe que o valor dos honorários de sucumbência pode ser abatido do
crédito recebido pelo reclamante, ainda que em outro processo e, no caso de
a medida acima não ser possível, os honorários somente poderão ser
executados se, nos dois anos subsequentes ao trânsito em julgado da decisão
que as certificou, o credor demonstrar que deixou de existir a situação de
insuficiência de recursos que ensejou a concessão do benefício da justiça
gratuita.
Nesse contexto, o artigo 791-A da CLT não se apresenta inconstitucional,
pois nada mais fez que conferir maior igualdade entre às partes e privilegiar a
atuação do advogado, função essencial à administração da justiça, nos
termos do artigo 133 da Constituição Federal, bem como racionalizar e dar
mais efetividade à prestação jurisdicional da justiça do trabalho.
Portanto, mantenho a decisão proferida em primeiro grau” (págs. 768-769).

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Inicialmente, convém ressaltar que não se discute no
presente processo a aplicabilidade do art. 791-A, § 4º, da CLT pela ótica
do direito intertemporal, até porque, à luz do art. 6º da Instrução
Normativa 41/18 do TST, a presente demanda foi ajuizada em dezembro de
2017 (pág. 2), já na vigência da Reforma Trabalhista.
Na hipótese dos autos, cinge-se a controvérsia à
compatibilidade do art. 791-A, § 4º, da CLT com os princípios fundamentais
previstos no art. 5º, LXXIV, da CF.
Imprescindível, portanto, analisar o teor dos
dispositivos em debate.
Rezam os arts. 791-A, caput e §§ 3º, 4º e 5º, da CLT
e 5º, caput, XXXVI e LXXIV, da CF:

“Art. 791-A - Ao advogado, ainda que atue em causa própria, serão devidos
honorários de sucumbência, fixados entre o mínimo de 5% (cinco por cento)
e o máximo de 15% (quinze por cento) sobre o valor que resultar da
liquidação da sentença, do proveito econômico obtido ou, não sendo possível
mensurá-lo, sobre o valor atualizado da causa.
[...]
§ 3º - Na hipótese de procedência parcial, o juízo arbitrará honorários de
sucumbência recíproca, vedada a compensação entre os honorários.
§ 4º - Vencido o beneficiário da justiça gratuita, desde que não tenha
obtido em juízo, ainda que em outro processo, créditos capazes de
suportar a despesa, as obrigações decorrentes de sua sucumbência
ficarão sob condição suspensiva de exigibilidade e somente poderão ser
executadas se, nos dois anos subsequentes ao trânsito em julgado da
decisão que as certificou, o credor demonstrar que deixou de existir a
situação de insuficiência de recursos que justificou a concessão de
gratuidade, extinguindo-se, passado esse prazo, tais obrigações do
beneficiário.
§ 5º - São devidos honorários de sucumbência na reconvenção” (grifos
nossos).

“Art. 5º - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
[...]
LXXIV - o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos
que comprovarem insuficiência de recursos” (grifos nossos).

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No caso concreto, a Autora, beneficiária da justiça
gratuita, foi condenada pelo Julgador de origem ao pagamento de
honorários advocatícios sucumbenciais em benefício da Reclamada, no
percentual de 10% sobre o valor atualizado dos pedidos rejeitados (pág.
681).
Como é cediço, a Reforma Trabalhista, promovida pela
Lei 13.467, que entrou em vigor em 11 de novembro de 2017, ensejou diversas
alterações no campo do Direito Processual do Trabalho, a fim de tornar
o processo laboral mais racional, simplificado, célere e,
principalmente, responsável.
Essa última característica é marcante, na medida em
que a Reforma Trabalhista objetivou coibir as denominadas “aventuras
judiciais”, calcadas na facilidade de se acionar a Justiça, sem nenhuma
responsabilização ou ônus por postulações carentes de embasamento
fático.
Ora, é notório o excesso de processos tramitando na
Justiça do Trabalho, com a crescente quantidade de casos pendentes de
solução definitiva nos Tribunais brasileiros, consoante dados expostos
no Relatório Justiça em Números, elaborado anualmente pelo Conselho
Nacional de Justiça (CNJ).
Na Justiça Trabalhista, é certo que a crescente
quantidade de demandas laborais decorre, dentre outros fatores, do
descumprimento intencional da lei pelo empregador.
Todavia, não podemos desprezar que o grande volume de
processos ajuizados nesta Justiça Especializada também decorre da
existência de regras processuais, até então vigentes, que estimulavam
o ingresso de ações irresponsáveis, com rol extenso de pedidos, muitos
deles inverossímeis, apesar dos esforços empreendidos pelo TST para
redução de estoque e do tempo de tramitação dos processos.
Tanto é que o pleito de dano moral chegou a ser o
segundo tema mais recorrido no âmbito desta Corte, atualmente
encontrando-se na quarta posição, com 26.439 processos em tramitação
nesta Casa versando sobre a matéria, consoante informa o periódico de
movimentação processual do Tribunal Superior do Trabalho de março de 2019

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(disponível em: http://www.tst.jus.br/web/estatistica. Acesso em: 25 de
junho de 2019).
Vale mencionar as palavras do professor José Pastore
de que a legislação trabalhista “constitui um verdadeiro convite ao
litígio”, citadas pelo Relator, Deputado Rogério Marinho, da Comissão
Especial destinada a proferir parecer ao Projeto de Lei 6.787/16, que
deu origem à Reforma Trabalhista (Disponível em:
https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor
=1544961&filename=Tramitacao-PL+6787/2016. Acesso em: 9 de maio de
2019).
Nesse contexto foram inseridos os §§ 3º e 4º no art.
791-A da CLT pela Lei 13.467/17, responsabilizando-se a parte sucumbente,
seja a autora ou a demandada, pelo pagamento dos honorários advocatícios,
ainda que beneficiária da justiça gratuita, o que reflete a intenção do
legislador de desestimular lides temerárias, doa a quem doer, conferindo
tratamento isonômico aos litigantes.
Tanto é que o § 5º do art. 791-A da CLT expressamente
dispôs acerca do pagamento da verba honorária na reconvenção.
Não se pode perder de vista que o direito à gratuidade
de justiça pode ser regulado de forma a desincentivar a litigância
abusiva, por meio da cobrança de honorários de advogado a seus
beneficiários, inclusive de custas processuais em casos de arquivamento
da reclamação por ausência injustificada do autor (art. 844 da CLT, §§ 2º e
3º, da CLT).
O espírito da norma foi justamente evitar a
movimentação do Poder Judiciário de forma irresponsável.
Nessa senda, não se cogita de violação do princípio
da isonomia ou do acesso à Justiça, assegurado no art. 5º, caput e XXXV,
da CF, tampouco de ofensa ao inciso LXXIV do citado dispositivo
constitucional.
A bem da verdade, no próprio art. 791-A da CLT o
legislador levou em consideração o estado de hipossuficiência financeira
da parte vencida, ao exigir, expressamente em seu § 4º, o pagamento da
verba honorária apenas em caso de existência de crédito em Juízo, neste
ou em outro processo, em favor do beneficiário da justiça gratuita, capaz
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capacidade financeira, até então de miserabilidade, que justificou a
concessão de gratuidade, prestigiando, de um lado, o processo
responsável, e desestimulando, de outro, a litigância descompromissada.
Assim não se sucedendo, suspender-se-á, por dois anos,
a exigibilidade da referida obrigação, que se extinguirá passado esse
prazo.
Por todo o exposto, a imposição de pagamento de
honorários advocatícios sucumbenciais a qualquer um dos litigantes, seja
ele autor, seja ele reclamado, ainda que beneficiário da justiça
gratuita, além de assegurar o tratamento isonômico das partes
processuais, é providência imprescindível para tornar o processo
trabalhista mais racional, e, acima de tudo, responsável, coibindo as
denominadas “aventuras judiciais”, com a responsabilização pela
litigância descompromissada.
Trago à baila precedente da 3ª Turma desta Corte que,
em caso muito semelhante ao presente processo, rechaçou a alegação de
inconstitucionalidade do art. 791-A, § 4º, da CLT, reconhecida a
transcendência jurídica da questão, verbis:

“AGRAVO DE INSTRUMENTO - RECURSO DE REVISTA


INTERPOSTO SOB A ÉGIDE DAS LEIS N. 13.015/2014, 13.105/2015
E 13.467/2017 - HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS SUCUMBENCIAIS
- AÇÃO AJUIZADA APÓS A VIGÊNCIA DA LEI Nº 13.467/2017 -
CONSTITUCIONALIDADE DO ART. 791-A, § 4º, DA CLT. 1. A
Reforma Trabalhista, implementada pela Lei nº 13.467/2017, sugere uma
alteração de paradigma no direito material e processual do trabalho. No
âmbito do processo do trabalho, a imposição pelo legislador de
honorários sucumbenciais ao reclamante reflete a intenção de
desestimular lides temerárias. É uma opção política. 2. Por certo, sua
imposição a beneficiários da Justiça gratuita requer ponderação quanto
à possibilidade de ser ou não tendente a suprimir o direito fundamental
de acesso ao Judiciário daquele que demonstrou ser pobre na forma da
Lei. 3. Não obstante, a redação dada ao art. 791, § 4º, da CLT,
demonstrou essa preocupação por parte do legislador, uma vez que só
será exigido do beneficiário da Justiça gratuita o pagamento de
honorários advocatícios se ele obtiver créditos suficientes, neste ou em
outro processo, para retirá-lo da condição de miserabilidade. Caso
contrário, penderá, por dois anos, condição suspensiva de exigibilidade.
Firmado por assinatura digital em 16/12/2020 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme MP
2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.
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Justiça do Trabalho
Tribunal Superior do Trabalho fls.13

PROCESSO Nº TST-ARR-1002251-55.2017.5.02.0047

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A constatação da superação do estado de miserabilidade, por óbvio, é
casuística e individualizada. 4. Assim, os condicionamentos impostos
restauram a situação de isonomia do atual beneficiário da Justiça
gratuita quanto aos demais postulantes. Destaque-se que o acesso ao
Judiciário é amplo, mas não incondicionado. Nesse contexto, a ação
contramajoritária do Judiciário, para a declaração de inconstitucionalidade
de norma, não pode ser exercida no caso, em que não se demonstra violação
do princípio constitucional de acesso à Justiça . Agravo de instrumento
conhecido e desprovido" (AIRR-2054-06.2017.5.11.0003, Rel. Min.
Alberto Luiz Bresciani de Fontan Pereira, 3ª Turma, DEJT de 30/05/19).

Ainda, sobreleva notar que está pendente de análise


no Supremo Tribunal Federal a ADI 5.766-DF, de relatoria do Min. Roberto
Barroso, na qual se discute, dentre outras questões, a
constitucionalidade da imposição da obrigação de pagamento de honorários
advocatícios sucumbenciais ao beneficiário da justiça gratuita, frente
aos princípios esculpidos nos incisos XXXV e LXXIV do art. 5º da CF, sendo
que, em 10/05/18, o julgamento foi suspenso em virtude do pedido de vista
do Min. Luiz Fux:

“Após o voto do Ministro Roberto Barroso (Relator), julgando


parcialmente procedente a ação direta de inconstitucionalidade, para
assentar interpretação conforme a Constituição, consubstanciada nas
seguintes teses: ‘1. O direito à gratuidade de justiça pode ser regulado de
forma a desincentivar a litigância abusiva, inclusive por meio da cobrança
de custas e de honorários a seus beneficiários. 2. A cobrança de honorários
sucumbenciais do hipossuficiente poderá incidir: (i) sobre verbas não
alimentares, a exemplo de indenizações por danos morais, em sua
integralidade; e (ii) sobre o percentual de até 30% do valor que exceder ao
teto do Regime Geral de Previdência Social, mesmo quando pertinente a
verbas remuneratórias. 3. É legítima a cobrança de custas judiciais, em
razão da ausência do reclamante à audiência, mediante prévia intimação
pessoal para que tenha a oportunidade de justificar o não comparecimento’,
e após o voto do Ministro Edson Fachin, julgando integralmente
procedente a ação, pediu vista antecipada dos autos o Ministro Luiz Fux.
Ausentes o Ministro Dias Toffoli, neste julgamento, e o Ministro Celso de
Mello, justificadamente. Presidência da Ministra Cármen Lúcia. Plenário,
10.5.2018”.

Por todo o exposto, sobressai a convicção de que o art.


791-A, § 4º, da CLT não colide com o art. 5º,LXXIV, da CF, ao revés, busca
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preservar a jurisdição em sua essência, como instrumento responsável e
consciente de tutela de direitos elementares do ser humano trabalhador,
indispensáveis à sua sobrevivência e à da família.
Assim, não merece reforma o acórdão regional que
manteve a imposição de pagamento de honorários advocatícios à Autora
sucumbente, restando incólume o dispositivo apontado como violado na
revista.
Do exposto, NÃO CONHEÇO do recurso de revista.

ISTO POSTO
ACORDAM os Ministros da Quarta Turma do Tribunal
Superior do Trabalho, por unanimidade, reconhecendo a transcendência
econômica, negar provimento ao agravo de instrumento da Reclamante quanto
às férias, à assistência judiciária gratuita e ao tempo à disposição,
e, reconhecendo a transcendência jurídica da matéria relativa à
condenação do beneficiário da justiça gratuita ao pagamento de honorários
advocatícios sucumbenciais, não conhecer do recurso de revista obreiro.
Brasília, 16 de dezembro de 2020.

Firmado por assinatura digital (MP 2.200-2/2001)


IVES GANDRA DA SILVA MARTINS FILHO
Ministro Relator

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