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Fichas de trabalho Domínio Educação Literária

Ricardo Reis

Lê com atenção o poema de Ricardo Reis.

Cada um cumpre1 o destino que lhe cumpre2.


E deseja o destino que deseja;
Nem cumpre o que deseja,
Nem deseja o que cumpre.
5 Como as pedras na orla dos canteiros
O Fado nos dispõe, e ali ficamos;
Que a Sorte nos fez postos
Onde houvemos de sê-lo.
Não tenhamos melhor conhecimento
1 Do que nos coube que de que nos coube.
0
Cumpramos o que somos.
Nada mais nos é dado.

PESSOA, Fernando, 2010. Poesia dos Outros Eus. 2.ª ed.


Lisboa: Assírio & Alvim (pp. 174-175)

1. cumprir (verbo transitivo): executar, completar, desempenhar;


2. cumprir (verbo intransitivo): caber, pertencer.

Apresenta, de forma bem estruturada, as tuas respostas ao questionário.

1. Esclarece as relações de sentido que se estabelecem entre os quatro primeiros


versos, considerando o carácter polissémico do verbo “cumprir”.

2. Identifica o recurso utilizado nos versos 5 e 6 e explicita o seu valor expressivo,


relacionando-o com a afirmação dos dois versos seguintes.

3. Explicita a filosofia de vida apresentada nos últimos quatro versos.

OEXP12DP © Porto Editora


1. Segundo o sujeito poético, cada ser humano vive, concretiza um destino
(“cumpre o destino”) que lhe cabe e que lhe está de antemão reservado (“que
lhe cumpre”). Assim sendo, o destino que “cumpre” nem sempre é o que
ambiciona, pois pode cobiçar outra vida, mas deve resignar-se a ele.
2. A comparação dos homens com “as pedras nas orlas dos canteiros”
acentua a imobilidade e a impossibilidade de resistência relativamente a
forças superiores. A oração subordinada adverbial causal que se lhe segue
explica-a, pois “a Sorte” coloca onde quer ou onde deve cada um de nós, sem
que haja (como acontece com as pedras) a hipótese de mudança de posição,
de destino.
3. Nos últimos quatro versos, defende-se uma filosofia de vida assente na
resignação e na aceitação do poder do destino. Segundo o “eu” lírico, cada
um deve desistir de ter “melhor conhecimento” do que lhe calhou em sorte na
vida, limitando-se a consentir no que lhe coube. Os dois últimos versos, duas
breves frases declarativas, resumem os ideais de abdicação e de anuência
face ao destino, pois ele nada mais permite.

OEXP12DP © Porto Editora

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