Os Retiros (Exercícios Espirituais adaptados), no processo da vida cristã, se
situam como um “momento forte” de aprofundamento de uma etapa vivenciada e relançamento para a etapa seguinte. É ponto de chegada e ponto de partida. Não se trata de uma atividade ou evento a mais desligado da caminhada na fé cristã: é ponto alto que conduz a pessoa a uma experiência e vivência interior de recolhimento, pacificação, silêncio, escuta, discernimento, unificação, oração-contemplação, decisão... É o encontro, profundo e íntimo, com o “Deus da Vida”; encontro que a transforma, a renova e a impulsiona a viver um novo compromisso de vida. O tema de fundo deste Retiro “Magis I” é a parábola “O País dos Poços”, onde se destaca a oposição entre o ser frente ao ter, entre o viver na superfície frente ao viver na profundidade, fundamentar-se sobre valores de mera aparência ou sobre valores que constroem e plenificam a pessoa. Na parábola fala-se de “Poços”; a maioria centra sua atenção na borda, com a única preocupação de enchê-la de “coisas”, e a minoria descobre que sua razão de ser está na profundidade deles mesmos; ali encontram a água que lhes dá a Vida e que procede da Montanha.
Num primeiro momento do Retiro é enfatizada a “descoberta da própria
identidade”, o “encontrar-se a si mesmo”, a “riqueza da própria interioridade”, a “busca da própria originalidade”. Isto equivale a encontrar a raiz do próprio ser em Deus. Entrar no “ser” (interior de si mesmo) é entrar em contato com o Divino. Quando a pessoa descobre este “Manancial” que brota do seu próprio interior, já não sente necessidade de ir beber em outras fontes. É preciso “nascer da água e do Espírito” (Jo. 3,5) para entrar no Reino; é preciso voltar para o interior de si mesmo, buscar a própria originalidade, os valores mais profundos do ser. A pessoa sente, de maneira angustiosa, a necessidade de encontrar-se e reconhecer-se a si mesma. Encontrar-se consigo mesmo é encontrar-se com o Outro que o plenifica. O encontro com Deus torna as pessoas diferentes. O segundo momento do Retiro está centrado no seguimento de Jesus e na dimensão comunitária da fé cristã. Há uma certa desconfiança em relação a toda experiência que faça a pessoa voltar-se para si e preocupar-se com o seu mundo interior. A “experiência verdadeira de Deus, porém, não tem nada de intimista e individualista. Muito pelo contrário: ao sentir-se amada gratuitamente por Deus, a pessoa sente simultaneamente um impulso para amar e doar-se aos outros. Todo encontro com Deus só será verdadeiro se levar ao encontro comprometido com o outro. Trata-se, enfim, neste Retiro, de uma experiência total e totalizante, através da oração pessoal e comunitária, das celebrações, da partilha... Para isso todas as dimensões da pessoa devem estar envolvidas e mobilizadas: corpo, mente, afetividade, coração, desejos, mundo, outros... Toda a experiência é permeada pela presença íntima, acolhedora, amorosa de Deus. Na experiência de Deus faz-se, de fato, a experiência de integração de todo o ser: a pessoa sente-se unificada, integrada, descobre sua verdadeira e profunda identidade, descobre-se como única, irrepetível e livre; o melhor de si vem à tona... E nesta integração de todo o ser, faz-se a experiência da Vida: isso é vida, vida verdadeira, vida em plenitude. É a vida que se torna oração; é a vida de uma pessoa concreta que está vivencialmente unida a Deus; está em sintonia com Deus em todos os momentos e atividades.
“O Senhor completará em nós a obra que começou” (Fil. 1,6)