Roteiro de Coelho De Moraes sobre obra de Paulo Coelho, A

BRUXA DE PORTO BELLO. Personas: Ella, Andrea

TEATRO POPULAR DE MOCOCA marcoantoniocoelhodemoraes@gmail.com
 1.

CENA 1
INT. CONSULTÓRIO DE LELLA. DIA.
Lella, uma senhora jovial de sessenta anos, e Andrea
conversam sobre Athena. Lella é numeróloga. Ábacos
misturados com PCs.
LELLA manuseia ambos enquanto fala alegremente. Incensos.

LELLA
Athena?
Que nome interessante!
Vamos ver…
o seu número máximo é o nove.
Otimista, social,
capaz de ser notada no meio de uma multidão.
Pessoas devem se aproximar em busca de
compreensão, compaixão, generosidade,
e justamente por isso... Athena...
deve ficar muito atenta,
porque a tendência à popularidade pode subir
à sua cabeça,
e terminará perdendo mais do que ganhando.

ANDREA
Conter a língua?
O bom senso?

LELLA
Sim... para as duas coisas.
Deve ter cuidado com sua língua,
pois tende a falar mais do que manda o bom
senso.

ANDREA
Anda pela sala esfregando as mãos.

E o número mínimo?

LELLA
Observa divertida as andanças de Andrea pela sala.

Quanto ao seu número mínimo: onze.

Penso que ela almeja alguma posição de
chefia.

ANDREA
Só isso?

LELLA
Ah! Tem interesse por temas místicos...
quem não tem?
Estamos fazendo o que, aqui?
 2.

ANDREA
Só isso?

LELLA
Um tanto apreensiva.

Bem... puxando um pouquinho mais...

através da mística...
procura trazer harmonia a todos que se
encontram à sua volta.

ANDREA
Mas...
isso entra em confronto com o número nove,
que é a soma do dia, mês,
e ano do seu nascimento,
reduzidos a um único algarismo...

LELLA
... Ei... você entende de numerologia.

ANDREA
Athena... sempre sujeita à inveja,
tristeza, introversão, e decisões
temperamentais.

LELLA
Cuidado com as vibrações negativas:
Ambição excessiva, intolerância,
abuso de poder, extravagância.

Pausa.

Você já sabia disso.

ANDREA
Sabia. Mas fiquei com medo de aceitar.
Queria sua confirmação.
Sua experiência é mais ampla.

LELLA
Retorna aos cálculos.
Abre um pesado livro sobre Cabala.
Sempre retorna o olhar para Andrea, que está nervosa.

Bem... que mais?

ANDREA
Qual sua sugestão?
 3.

LELLA
Por causa deste conflito...

ANDREA
Creio que deveria ter vindo aqui antes.

LELLA
... sugiro que Athena procure dedicar-se a
algo que não envolva um contato emocional
com as pessoas...

ANDREA
... o que, por exemplo?

LELLA
Como...
trabalho na área de informática...
ou engenharia. Em um banco, talvez...

ANDREA
Athena está morta.

Pausa.

LELLA
Está morta? Desculpe.
O que essa Athena fazia, afinal?

ANDREA
O que Athena fazia?
Athena fez um pouco de tudo, mas,
se tivesse que resumir sua vida,
diria:
era uma sacerdotisa que compreendia as
forças na natureza.
Melhor dizendo, era alguém que,
pelo simples fato de não ter muito que perder
ou esperar da vida, arriscou além do que os
outros fazem,
e terminou transformando-se nas forças que
julgava dominar.

CENA 2
ATHENA em vária situações de emprego, sub emprego como por
exemplo: assistente de supermercado, bancária, vendedora de
terrenos, Athena se mostra altiva, heroica, dona de si,
panache, sem perder a postura.
Sobre as imagens que ainda se desenvolvem Andrea fala.
 4.

ANDREA
Foi de tudo um pouco...
Dentro daquilo que é mais corriqueiro e
diário... cotidiano...
Nunca deixou de mostrar a sacerdotisa que
tinha dentro de si.
Convivi com Athena durante oito anos,
e lhe devo isso:
recuperar sua memória, sua identidade.

CENA 3
INT. UNIVERSIDADE. SALA. DIA.

HERON
Fala para uma sala de alunos jovens.

A coisa mais difícil ao recolher estes

depoimentos foi convencer as pessoas a me
permitirem usar seus nomes verdadeiros.

CENA 4
VÁRIAS SITUAÇÕES E LOCAIS DIVERSOS.
HERON tenta entrevistar vária pessoas.

PESSOA 1
Não...
não quero estar envolvida neste tipo de
história.

HERON
Minha verdadeira intenção é fazer que todos
a entendam melhor,
... ninguém acreditará em depoimentos
anônimos.

PESSOA 2
Cada um de nós possui uma versão...

PESSOA 3
Cada um com sua única...
e definitiva ...
qualquer evento.

HERON
Por mais insignificante que seja cada
detalhe, as pessoas terminam aceitando.

PESSOA 1
 5.

Você verá que as coisas não são absolutas,

os fatos existem dependendo da percepção de
cada um.

PESSOA 2
...E a melhor maneira de saber quem somos,
muitas vezes,
é procurar saber como os outros nos vêm.

HERON
Eu devo isso à Athena.
Recuperar sua história.
Escrever o seu mito.