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Até que idade as crianças podem falar


errado? Meu filho tem 4 anos e não fala o r de
barata. É possível ajudá-lo
em casa?
 
Na língua portuguesa, o fonema r (de barata) é,
normalmente, o último som que as crianças
aprendem a falar. Isso porque a sua produção
requer uma habilidade motora maior do que a necessária para a produção de outros
fonemas. A ponta da língua toca o céu da boca, atrás dos dentes, num leve movimento
vibratório que algumas crianças só conseguem realizar um pouco mais tarde. Aos 4 anos,
no entanto, toda criança já deveria produzi-lo. É aconselhável que você comece desde já
a ajudá-lo, pois será mais fácil e rápido para ele.

Algumas crianças necessitam apenas de uma pequena ajuda.


A seguir, algumas sugestões e, caso você sinta dificuldade em aplicar estes exercícios, é
melhor procurar um especialista
(um fonoaudiólogo).

Aprender a falar um novo fonema e incorporá-lo à fala corrente significa mudar um hábito.
Para que ocorra uma mudança de hábito é necessário, antes de mais nada, tomar
consciência do problema e ter vontade de corrigi-lo.

Geralmente, as crianças sabem quando há algo diferente em sua fala, mas nem sempre
identificam a alteração. Em alguns casos, sabem identificar o próprio "erro", mas ainda
não o encaram como algo que deva ser corrigido.

Comece dizendo ao seu filho:

• "Tem algumas palavras que você ainda não consegue falar direitinho, não é mesmo?"
• "Você sabe quais são essas palavras?"
• "Você quer aprender a falar essas palavras direitinho?"
• "Você gostaria que eu o ajudasse?"
• "Se você quiser nós podemos fazer algumas atividades juntos para que você possa
aprender a falar esse som que está faltando. Você quer tentar?"
• "Então nós vamos treinar um pouquinho todos os dias, depois do banho. O que você
acha?"

Estabeleça com seu filho um horário para este treinamento, pelo menos três vezes por
semana. Os momentos de treino não precisam ser longos – quinze ou vinte minutos são
suficientes – mas é imprescindível que ocorram regularmente. Portanto, estabeleça um
horário que você possa cumprir.

Deixe claro para seu filho que no horário combinado ele terá que interromper o que
estiver fazendo: "O nosso treino tem que ser uma coisa séria, caso contrário não dará
certo".

O fonema r é o mais difícil de ser produzido e também o mais difícil de ser ensinado. O
movimento da língua é muito rápido e leve e, por isso, quase impossível de ser
demonstrado. Para facilitar, vamos usar um artifício. Primeiro, tente você mesma:

Diga a palavra cadeta – assim mesmo, substituindo o r pelo d. Pronuncie o d o mais


levemente possível, de forma que o som se aproxime ao máximo do som do r.

O objetivo é desencadear a produção do r por aproximação.

Explique ao seu filho:

• "Nós vamos começar falando um som que não é igual ao que você não consegue, mas
vamos tentar fazer esse som o mais parecido possível com aquele. Assim, um som que
você já sabe, vai ajudá-lo a produzir um som que você ainda não sabe".
• "A palavra é careta, mas você vai dizer cadeta. Assim: cadeta, bem de leve, como eu
estou fazendo. Você acha que ficou parecido com careta?"
• "Vamos tentar? Diga: ca-de-ta."
• "O que você achou? Ficou parecido? Quer tentar novamente?"
• "Agora vamos tentar assim: eu falo careta e você repete cadeta. Assim você pode
comparar e ver se está ficando bem parecido. Tente fazer cada vez mais parecido com o
meu som".

Tente com algumas outras palavras, mas não insista muito na mesma palavra. Passe
para outra porque algumas poderão ser mais fáceis do que outras.

Sugestões de palavras: barata, farofa, barulho, buraco, parede, xícara, farinha, amarelo,
guaraná, catapora, pirilampo, biriba, marido, merenda, jacaré.

Tente também os grupos consonantais: creme (cdeme), prato (pdato).

De agora em diante, chamaremos esta atividade de procedimento D , apenas para


facilitar a nossa comunicação.

SUGESTÕES DE ATIVIDADES

1. Repetição de palavras

Faça com ele uma lista de dez palavras, incluindo algumas com o grupo consonantal.

Inicie cada sessão de treino com a repetição dessas dez palavras usando o procedimento
D.

Dê o seu parecer após cada repetição ou pergunte a ele:

"O que você achou? Ficou parecido? Você acha que dá para melhorar? Quer tentar de
novo?"

Tente a mesma palavra não mais do que três vezes e passe para a palavra seguinte,
qualquer que seja a produção dele.

Lembre-se: ele está aprendendo, portanto não queira que ele acerte desde o início.

2. História

Leia uma história qualquer e depois converse com ele sobre a história, induzindo-o a falar
as palavras com r que aparecem na história. Use sempre o procedimento D para ajudá-
lo.

3. Adivinhação
"Vou pensar em uma palavra e lhe dar algumas dicas para que você descubra qual é a
palavra:

• É um móvel da casa onde costumamos guardar as roupas. Começa com ar. (armário)
• Tem no carro e serve para iluminar a estrada, à noite. (farol)
• É um objeto que quebra, tem asa e serve para pôr café. (xícara)
• É um animal que se arrasta, vive na água e na terra e tem uma boca enorme. (jacaré)"

4. Nomeação de figuras

Folheie um livro ou revista com ele:

"Agora nós vamos procurar figuras cujos nomes tenham o som que nós estamos
treinando".

Ele deverá dizer o nome da figura usando o procedimento D.

5. Jogos

Você pode jogar qualquer jogo que ele goste e, durante o jogo, induzi-lo com perguntas a
dizer palavras com r.

RECOMENDAÇÕES

 Repita o modelo correto após cada resposta para que ele tenha sempre a
referência correta.
 Faça sempre uma avaliação honesta da produção dele: "Não, não está certo.
Você disse caeta e não careta (ou cadeta). Quer tentar de novo?". Ou "Ficou
muito parecido, o que você achou?" ou "Agora ficou bom!".

 Ele sabe que está aprendendo, portanto não tenha medo de provocar
constrangimento com os seus comentários. É fundamental que eles sejam
honestos para que ele possa monitorar as próprias produções.

 Não tenha a preocupação de falar uma grande quantidade de palavras em cada


atividade.

 Estimule-o a tentar falar corretamente nas situações cotidianas, fazendo


comentários como: "Opa! Mas é moango ou morango?" ou "Você está querendo
dizer pato ou prato?

 Essas observações são importantes para que ele fique atento à fala coloquial e
incorpore a ela o que for conseguindo nas atividades de treino.

 Se você perceber que fica ansiosa ou impaciente, desista


e procure um fonoaudiólogo. Não insista se não se sentir
à vontade.

Não tenha pressa. Às vezes, esse processo é lento, portanto não espere que ele consiga
acertar logo nos primeiros dias.

Desfrute com ele os mínimos progressos.

Um abraço,

Elisa Maria Pinto Cesar Andrade


Fonoaudióloga formada pela Ufesp (Escola Paulista de Medicina), especializada em
problemas da aprendizagem escolar.

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