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UNIVERSIDADE FEDERAL DE RORAIMA

CENTRO DE CIÊNCIAS TECNÓLOGICAS


DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL

FLAIDER ALVES PIMENTEL

DESENVOLVIMENTO DE SOFTWARE EDUCACIONAL COM INTERFACE


GRÁFICA PARA ANÁLISE DE BARRAS CURVAS

BOA VISTA – RR
2017
FLAIDER ALVES PIMENTEL

DESENVOLVIMENTO DE SOFTWARE EDUCACIONAL COM INTERFACE


GRÁFICA PARA ANÁLISE DE BARRAS CURVAS

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao


Departamento de Engenharia Civil como parte dos
requisitos para aprovação na disciplina TCC II e
obtenção do Título de Bacharel em Engenharia
Civil.

Orientadora: Profª Dra. Maria de Nazaré Batista da


Silva.

BOA VISTA – RR
2017
ARA DA SILVA FERNANDES SAÚDE
:
AS CONDIÇÕES DO PART
O HUMANI
ZADO NO
HOSPITAL MATERNO INF
ANTIL NOSSA SENHORA

Dados Internacionais de Catalogação na publicação (CIP)


Biblioteca Central da Universidade Federal de Roraima

P644d Pimentel, Flaider Alves.


Desenvolvimento de software educacional com interface gráfica para
análise de barras curvas / Flaider Alves Pimentel. – Boa Vista, 2018.
93f. : il.

Orientadora: Profa. Dra. Maria de Nazaré Batista da Silva.

Trabalho de Conclusão de Curso (graduação) – Universidade Federal


de Roraima, Curso de Engenharia Civil.

1 – Barras curvas. 2 – Diferenças finitas. 3 – E-Curve 1.0. I - Título.


II – Silva, Maria de Nazaré Batista da (orientadora).

CDU – 624:371.15

Ficha Catalográfica elaborada pela: Bibliotecária/Documentalista:


Marcilene Feio Lima - CRB-11/507-AM
Para aqueles que nunca se cansam de
sonhar, descobrir, pensar, ou seja, que
têm amor por exercer a sua existência.
AGRADECIMENTOS

Ao Soberano Criador do Universo, cujo nome é Jeová, pois é somente por meio
dele que tenho vida, saúde e os atributos para executar, persistir e concluir este
trabalho. Os agradecimentos aqui registrados não se restringem à realização deste
trabalho, mas engloba todas as experiências pertinentes à minha graduação e à
pessoa que me tornei.
À minha família – Iderlene, Natanael, Amanda, Jhonnathan, Natália – em
especial à minha mãe, Iderlene, que foi responsável por boa parte da pessoa que sou,
que sempre me apoiou em diversos aspectos da vida, inclusive a realização e
conclusão deste curso e que me incentivou a concluí-lo, sempre presente nos
momentos, quer de luta, quer de vitória.
Aos meus avós maternos, Ilma (in memoriam) e Luiz Idevaldo (in memoriam),
que despertaram em mim o amor por ensinar, que enquanto estavam presentes em
minha vida, me deram muito amor e incentivo a estudar e, por isso, jamais se
apagarão das minhas lembranças.
Aos meus avós paternos, Manuel e Elza, que por muitos anos me ajudaram de
diversas formas, além de dar muito amor, carinho e incentivo e, que, apesar de,
geograficamente estarem distantes, no coração estaremos sempre juntos.
A todos os meus familiares, que em todas as oportunidades me deram apoio
em diversas situações que ocorreram em minha vida, além de sempre me
incentivarem e por acreditarem no meu potencial.
À RENOVO Engenharia, pela oportunidade de estágio, proporcionando um
ganho de experiência profissional, o qual sou muito grato e por acreditarem no meu
potencial.
A todos os amigos que fiz ao longo da graduação (são muitos, não mencionarei
nomes para não esquecer ninguém!), que tornaram a graduação um período mais
leve, de muito aprendizado e cooperação. Por meio deles foi possível estudar para
muitas provas, trabalhos, seminários, projetos, ganhei muitas caronas para casa, sem
falar dos momentos de descontração e comemoração depois dos trabalhos feitos,
aprovação nas disciplinas e semestres concluídos.
Ao Professor João Bosco, por ter me auxiliado no aprendizado de Cálculo
Matricial e muitas outras dúvidas que apareceram durante a realização deste trabalho
e por sempre ouvir as minhas ideias, além de ser um excelente professor.
À Professora Elaine Albuquerque, por toda a assistência e disponibilidade como
Coordenadora do Curso e orientadora de monitoria. Sempre estava disposta a me
atender e me ajudar nas mais diversas situações no curso.
Ao Grupo PET-Engenharia Civil, em especial à Professora Ofélia de Lira e
Professor Adriano Frutuoso, pois, enquanto tutores contribuíram para a realização de
atividades de extensão, pesquisa, que, de certa forma, me conduziram à temática
deste trabalho.
Aos Professores Leon e Katri Ferreira, por me concederem uma excelente base
na linguagem de programação Java, e por meio dessa pude valorizar ainda mais este
trabalho.
A todos os alunos que monitorei, nas mais diversas disciplinas em que fui
monitor, pois por meio deles pude me aperfeiçoar como facilitador da assimilação de
conhecimentos e explanação de ideias, e que me ajudaram a perceber a importância
do desenvolvimento de ferramentas educacionais para o apoio do ensino em
engenharia.
À minha orientadora, Professora Nazaré, por abraçar e refinar as minhas ideias
desenvolvidas aqui, por ter cumprido seu papel de maneira plena, facilitando o
andamento da realização deste trabalho e torná-lo de qualidade, visando fazer a
diferença para as gerações futuras.
“Seja sábio, meu filho, e alegre meu coração,
Para que eu possa dar uma resposta àquele que me desafia”.
– Provérbios 27:11
RESUMO

A utilização de programas computacionais para o apoio no processo de ensino e


aprendizagem na Engenharia é uma realidade consumada. Por meio destes é
possível verificar exercícios numericamente, bem como elaborar muitos outros.
Coerentemente com a realidade apresentada, o presente trabalho descreve a
execução de um programa computacional, intitulado “E-Curve 1.0”, que proporciona a
análise estrutural de barras curvas por meio da linguagem de programação Java, com
o auxílio da plataforma NetBeans IDE. Para que este programa ofereça aos usuários
um desenvolvimento cognitivo quanto ao comportamento estrutural e também à
interpretação geométrica, o mesmo conta com um painel que apresenta o desenho
dos componentes das estruturas: barras (segmentos de arco circular ou parabólico),
carregamentos solicitantes, apoios, rótulas, bem como os resultados de maneira
gráfica: diagramas de esforços internos (esforço normal, cortante e momento fletor) e
configuração de deformada. Para obter a configuração de deformada da estrutura, foi
realizada uma discretização do arco em diferenças finitas, utilizando o Método das
Deformações. Os resultados apresentados mostram que, com diferenças finitas
equivalentes a segmentos de arco de 1º, as deformações, bem como reações e
diagramas de esforços internos mostram-se satisfatórios. É importante ressaltar que,
apesar deste programa apresentar precisão numérica verificada, o mesmo não foi
idealizado para uso profissional, e sim como uma ferramenta de apoio para o
aprendizado tanto em sala de aula, quanto para o estudo extraclasse dos conteúdos
de Análise Estrutural e disciplinas afins.

Palavras-chave: Barras curvas. Diferenças finitas. E-Curve 1.0.


ABSTRACT

The use of computer programs to support the teaching and learning process in
Engineering is a consummate reality. By means of these it is possible to check
exercises numerically, as well as elaborate many others. This paper describes the
execution of a computational program called "E-Curve 1.0", which provides the
structural analysis of curved bars through the Java programming language, with the
help of the NetBeans IDE platform. For this program to offer users a cognitive
development in terms of structural behavior and geometric interpretation, it also has a
panel that presents the design of the components of the structures: bars (circular or
parabolic arc segments), requesting loads, supports, hinges, and the results
graphically: diagrams of internal forces (normal force, shear and bending moment) and
deformed configuration. To obtain the deformed configuration of the structure, a
discretization of the arc in finite differences using the Deformation Method was
performed. The results show that, with finite differences equivalent to arc segments of
1 °, the deformations, as well as internal stress reactions and diagrams are satisfactory.
It is important to emphasize that, although this program has verified numerical
accuracy, it was not designed for professional use, but as a support tool for learning
both in the classroom and for the extra classed study of the contents of Structural
Analysis and disciplines like.

Keywords: Curved bars. Finite differences. E-Curve 1.0.


LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Carregamentos (a) concentrados (b) uniformemente distribuídos (c) cargas


momento ................................................................................................................... 22
Figura 2 – Condições de Apoio ................................................................................. 23
Figura 3 – Quatro níveis de abstração para uma estrutura. ...................................... 24
Figura 4 - Estrutura real e o seu modelo estrutural ................................................... 25
Figura 5 - Variação da tensão normal numa viga submetida a um momento fletor. .. 26
Figura 6 - Seções transversais empregadas no aplicativo ........................................ 27
Figura 7 - Curva de tensão-deformação de um ensaio de tração ............................. 28
Figura 8 - Elemento de barra submetido à tração. .................................................... 28
Figura 9 - Material sujeito a carga axial de tração P ................................................. 29
Figura 10 - Deslocamento genérico em viga biapoiada com uma carga central ....... 30
Figura 11 - Ponte do Gard, França. ........................................................................... 31
Figura 12 - Corte com os principais elementos da construção gótica. ...................... 32
Figura 13 - Sistemas estruturais com arcos. ............................................................. 32
Figura 14 - Elemento infinitesimal de uma barra curva. ............................................ 33
Figura 15 - Principais tipos de arcos ......................................................................... 35
Figura 16 - Restinga da Marambaia, Rio de Janeiro ................................................. 36
Figura 17 - Rótula no topo do arco. ........................................................................... 36
Figura 18 - Cobertura apoiada por cabos composta de três elementos: cabos, um anel
central de tração e um anel externo de compressão ................................................. 37
Figura 19 - Madison Square Garden em Nova York, EUA ........................................ 38
Figura 20 - Catedral de Brasilia, DF .......................................................................... 38
Figura 21 - Estrutura da Catedral de Brasília ............................................................ 39
Figura 22 - Estrutura de Escoramento dos pilares .................................................... 39
Figura 23 – Exemplo 1 de anel autoequilibrado ........................................................ 40
Figura 24 – Exemplo 2 de anel autoequilibrado ........................................................ 40
Figura 25 - Estrutura utilizada para a descrição do Método das Forças. .................. 41
Figura 26 - Soluções para o Sistema Principal empregado. ..................................... 42
Figura 27 - Hiperestáticos da solução da estrutura da Figura 24. ............................. 44
Figura 28 - Configuração deformada de um pórtico plano formada pela superposição
de configurações ....................................................................................................... 45
Figura 29 - Convenção de sinais adotada para quadros planos. .............................. 46
Figura 30 - Interpretação geométrica para o Método das Diferenças Finitas ............ 47
Figura 31 - Janela do Aplicativo “Projeto Mohr”. ....................................................... 50
Figura 32 - Janela do Aplicativo “Projeto Núcleo Central”. ........................................ 50
Figura 33 - Ciclo de Vida Clássico ............................................................................ 51
Figura 34 - Componentes de deslocamento em um elemento de barra. ................... 53
Figura 35 – Carregamentos distribuídos atuantes em um elemento de barra. .......... 55
Figura 36 - Sistema de referência para as barras ..................................................... 56
Figura 37 – Esforços de Engastamento para um deslocamento angular unitário ..... 56
Figura 38 - Discretização da mísula em inércia constante com incremento ∆x no ponto
médio. ....................................................................................................................... 65
Figura 39 - Discretização de uma barra curva engastada e livre em elementos de
barras retas no incremento θ, com preservação da rigidez e coordenadas. ........... 65
Figura 40 - Painéis dispostos na janela JFrame pelo gerenciador de layout
BorderLayout. ............................................................................................................ 68
Figura 41 - Fluxograma da hierarquia das classes do Aplicativo E-Curve ................ 70
Figura 42 - Tela inicial do aplicativo E-Curve ............................................................ 71
Figura 43 - Botões pertinentes à fase de pré-processamento do aplicativo. ............. 72
Figura 44 - Botões pertinentes à fase de entrada de dados do aplicativo. ................ 72
Figura 45 - Resumo dos painéis pertinentes à entrada de dados pela interface gráfica.
.................................................................................................................................. 73
Figura 46 - Janela de diálogo indicando uma estrutura hipostática........................... 74
Figura 47 - Botões para exibição de resultados na tela ............................................ 74
Figura 48 - Tela de Resultados: Diagrama de Momentos Fletores ........................... 75
Figura 49 - Ajuste de escala na configuração de deformada .................................... 75
Figura 50 - Exemplo de Cálculo 1 ............................................................................. 77
Figura 51 - Comparativo do Exemplo 1: DEN ........................................................... 77
Figura 52 - Comparativo do Exemplo 1: DEC ........................................................... 78
Figura 53 - Comparativo do Exemplo 1: DMF ........................................................... 78
Figura 54 - Comparativo do Exemplo 1: Deformada ................................................. 78
Figura 55 - Exemplo de Cálculo 2 ............................................................................. 79
Figura 56 - Comparativo do Exemplo 2: DEN ........................................................... 80
Figura 57 - Comparativo do Exemplo 2: DEC ........................................................... 80
Figura 58 - Comparativo do Exemplo 2: DMF ........................................................... 80
Figura 59 - Comparativo do Exemplo 2: Deformada ................................................. 80
Figura 60 - Exemplo de Cálculo 3 ............................................................................. 81
Figura 61 - Resultados dos Diagramas de Esforços nulos ........................................ 81
Figura 62 - Tela de resultados do software ARCOS para o Exemplo 3 .................... 82
Figura 63 - Exemplo de Cálculo 4 ............................................................................. 82
Figura 64 - Comparativo do Exemplo 4: DEN ........................................................... 83
Figura 65 - Comparativo do Exemplo 4: DEC ........................................................... 83
Figura 66 - Comparativo do Exemplo 4: DMF ........................................................... 84
Figura 67 - Comparativo do Exemplo 4: Deformada ................................................. 84
Figura 68 – Exemplo de Cálculo 5 ............................................................................ 84
Figura 69 - Comparativo do Exemplo 5: DEN ........................................................... 85
Figura 70 - Comparativo do Exemplo 5: DEC ........................................................... 86
Figura 71 - Comparativo do Exemplo 5: DMF ........................................................... 86
Figura 72 - Comparativo do Exemplo 5: Deformada ................................................. 86
LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Tipo de membro em relação à rotulação. ................................................. 54


Tabela 2 - Forças de engastamento perfeito para as barras ..................................... 55
Tabela 3 - Comparação dos Resultados do Exemplo 1 ............................................ 77
Tabela 4 - Comparação dos Resultados do Exemplo 2 ............................................ 79
Tabela 5 - Comparação dos Resultados do Exemplo 3 ............................................ 81
Tabela 6 - Comparação dos Resultados do Exemplo 4 ............................................ 83
Tabela 7 - Comparação dos Resultados do Exemplo 5 ............................................ 85
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................ 17

1.1 OBJETIVOS.................................................................................................... 18

1.1.1 Objetivo Geral ................................................................................................. 19

1.1.2 Objetivos Específicos...................................................................................... 19

1.2 ESTRUTURA DO TRABALHO ....................................................................... 19

2 REFERENCIAL TEÓRICO ............................................................................. 21

2.1 ANÁLISE ESTRUTURAL ................................................................................ 21

2.1.1 Definição de Estruturas................................................................................... 21

2.1.2 Processos da Análise Estrutural ..................................................................... 24

2.1.3 Modelos Estruturais ........................................................................................ 24

2.1.4 Propriedades Geométricas da Seção ............................................................. 25

2.1.5 Propriedades do Material da Estrutura ........................................................... 27

2.1.6 Princípio dos Trabalhos Virtuais ..................................................................... 29

2.2 BARRAS CURVAS ......................................................................................... 30

2.2.1 Aplicação das Barras Curvas nas Estruturas .................................................. 30

2.2.2 Análise Estrutural de Barras Curvas ............................................................... 33

2.3 ARCOS TRIARTICULADOS ........................................................................... 35

2.4 ANÉIS AUTOEQUILIBRADOS ....................................................................... 37

2.5 MODELOS DE CÁLCULO .............................................................................. 40

2.5.1 Método das Forças ......................................................................................... 41

2.5.2 Método da Rigidez .......................................................................................... 44

2.6 MÉTODO DAS DIFERENÇAS FINITAS ......................................................... 47

2.7 LINGUAGEM DE PROGRAMAÇÃO JAVA ..................................................... 48

3 METODOLOGIA ............................................................................................. 51

3.1 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ........................................................................... 51

3.2 PROGRAMAÇÃO DO APLICATIVO ............................................................... 51


3.3 APLICAÇÃO DO MÉTODO DA RIGIDEZ ....................................................... 52

3.3.1 Sistema de Coordenadas ............................................................................... 53

3.3.2 Esforços de Engastamento Perfeito ............................................................... 54

3.3.3 Matriz de Rigidez ............................................................................................ 56

3.3.4 Vetor de Ações Nodais ................................................................................... 58

3.3.5 Sistema Linear ................................................................................................ 63

3.3.6 Diagramas da Estrutura .................................................................................. 63

3.3.7 Diferenças Finitas ........................................................................................... 64

3.4 CONFERÊNCIA DOS RESULTADOS ............................................................ 66

3.5 INTERFACE GRÁFICA................................................................................... 67

3.6 CLASSES DO APLICATIVO ........................................................................... 69

4 APRESENTAÇÃO DO APLICATIVO .............................................................. 71

4.1 VISÃO GERAL ................................................................................................ 71

4.2 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS ........................................................ 73

4.3 VALIDAÇÃO DE RESULTADOS .................................................................... 76

4.4 EXEMPLOS DE APLICAÇÃO ......................................................................... 76

4.4.1 Exemplo 1: Barra Curva Engastada e Livre .................................................... 76

4.4.2 Exemplo 2: Barra Curva Biapoiada ................................................................. 79

4.4.3 Exemplo 3: Arco Triarticulado Parabólico ....................................................... 81

4.4.4 Exemplo 4: Arco Triarticulado com Desnível .................................................. 82

4.4.5 Exemplo 5: Anel Autoequilibrado .................................................................... 84

5 ANÁLISE DOS RESULTADOS ....................................................................... 87

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................ 89

6.1 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS .............................................. 90

7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................... 91


17

1 INTRODUÇÃO

Em uma sociedade cada vez mais informatizada, o ensino, em todas os


domínios, exige uma abordagem em que o componente tecnológico não pode ser
ignorado. O desenvolvimento de novas tecnologias, bem como o consequente
aumento exponencial da informação provoca uma nova organização que exige a
colaboração interdisciplinar e transdisciplinar, de modo a se obter fácil acesso à
informação, que adquire um valor precioso (MERCADO, 2002).

Neste sentido, Dutra (2004) ressalta que, assim como essas novas tecnologias
serviram para impulsionar o mercado científico e tecnológico de maneira proveitosa,
podem ser empregadas em métodos pedagógicos e educacionais com o objetivo de
melhorar a formação de profissionais que utilizam ferramentas tecnológicas para o
exercício de suas profissões. E Sarmento (1994) defende que se o sistema
educacional assumir como preocupação principal a formação de pessoas com
inserção crítica e criativa no mundo atual, dominar a utilização das tecnologias da
informação torna-se primordial na educação dos alunos.

Assim, a utilização das novas técnicas didáticas por meio de programas com
aplicação na área de Engenharia surgiu para auxiliar o professor no processo de
ensino. Isto ocorre na medida em que o professor poderá contar com uma ferramenta
que possibilitará ao usuário não só obter os resultados, mas também consultar,
pesquisar, gerar conteúdos e simular efeitos físicos dos problemas abordados. Todo
este processo visa melhorar a capacidade de transmissão do conhecimento através
de uma melhor assimilação do conteúdo (DUTRA, 2004).

De forma concisa com essa afirmação, a viabilidade da aplicação das


tecnologias na educação é essencial, para, conforme Soriano (2006), alcançar o
principal objetivo da análise de estruturas, que consiste em relacionar as ações
externas atuantes com reações de apoio e tensões, de maneira a poder identificar
eventual deficiência de comportamento do material constituinte ou de comportamento
da estrutura de maneira geral ou de suas partes.
18

No contexto do advento dos programas de caráter educacional, destaca-se o


FTOOL, que é um programa gráfico interativo que tem como objetivo principal ensinar
o comportamento estrutural de quadros planos e motivar o aluno a aprender a teoria
dos métodos de análise, mostrando como o modelo se comporta na prática. Dessa
maneira, o FTOOL configura-se como uma ferramenta simples, que une recursos para
uma eficiente criação e manipulação do modelo, de uma análise numérica rápida e
transparente, e ainda de uma visualização de resultados rápida e efetiva (MARTHA,
1999). Este programa realiza somente o cálculo de estruturas reticuladas planas, quer
sejam pórticos ou treliças, no entanto, não executa o cálculo de barras curvas.

As barras curvas, diferentemente das barras retas, são elementos que


apresentam variação da inclinação tangente, mas não apresentam forma de
tratamento especial, ou que fuja às regras comuns da análise estrutural, como
simetria, reações e forças internas (SÜSSEKIND, 1981). Os arcos, segundo Leet
(2010), quando são bem projetados, usam material com eficiência e os projetistas,
frequentemente os empregam como os principais componentes estruturais de pontes
de vão longo (120 a 550 metros, aproximadamente) ou em edificações que requerem
grandes áreas livres de colunas, como ginásios esportivos, salas de conferência ou
hangares de avião, este modelo estrutural é recomendado, principalmente para
materiais que trabalham bem à compressão.

Neste sentido, este trabalho apresenta um aplicativo com interface gráfica em


linguagem Java para ser utilizado como ferramenta básica para a análise estrutural
de barras curvas, tais como: inserção de elementos curvos, que podem ser arcos
circulares ou parabólicos, cargas pontuais, carregamentos uniformemente
distribuídos, visualização das reações de apoio e diagramas de esforços solicitantes.

1.1 OBJETIVOS

Visando sintetizar e visualizar o escopo deste trabalho, deve-se definir os


objetivos deste. Primeiramente, distingue-se um objetivo geral, que integra os
aspectos globalizantes do trabalho e diversos objetivos específicos, que se referem a
aspectos mais pontuais do desenvolvimento do aplicativo.
19

1.1.1 Objetivo Geral

Confeccionar um software com interface gráfica na linguagem de programação


Java de utilização intuitiva que possibilite a análise de barras curvas, arcos
triarticulados e anéis autoequilibrados.

1.1.2 Objetivos Específicos

i. Elaborar uma interface que permita a construção, edição e análise de


resultados de maneira eficiente de barras planas curvas (circulares e
parabólicas), arcos triarticulados e de anéis autoequilibrados;
ii. Propor uma interface que possibilite uma navegação adaptada às
necessidades do programa e também às possibilidades que as ações de
evento (execução de métodos quando o usuário interage com a interface) dos
botões da interface oferecem;
iii. Estabelecer critérios para o desenho das estruturas no painel gráfico com
ajuste de escala dos elementos constituintes (barras, rótulas, apoios,
carregamentos pontuais e uniformemente distribuídos);
iv. Aplicar o Método dos Deslocamentos (Método da Rigidez), combinado com o
Método das Diferenças Finitas, com base na bibliografia consultada, para
determinar os esforços das barras curvas planas, considerando deformações
provocadas por esforços axiais e por flexão;
v. Elaborar e implantar uma rotina de cálculo e desenho dos diagramas de
esforços internos (esforço normal (axial), esforço cortante (cisalhamento),
momento fletor e configuração deformada da estrutura) parametricamente
sobre as curvas.

1.2 ESTRUTURA DO TRABALHO

Nesta seção discorre-se de maneira sucinta as características de cada seção


presente neste trabalho para um melhor entendimento de como este foi estruturado.
Além das ideias iniciais, apresentadas na Seção 1 (Introdução), pode-se listar também
os seguintes tópicos, que abordam as etapas realizadas no trabalho:
20

i. REFERENCIAL TEÓRICO: Esta seção compreende todas as referências que


nortearam o desenvolvimento do aplicativo, desde as bibliografias que
abrangem os modelos de cálculo empregados, bem como estratégias para
elaboração do sistema de coordenadas para o desenho dos diagramas de
esforços e linguagem de programação empregada;
ii. METODOLOGIA: Esta seção apresenta os recursos e métodos para analisar
os resultados apresentados pelo aplicativo. Nesta seção também são
apresentadas as classes do aplicativo, bem como os métodos empregados,
para que os objetivos do trabalho fossem alcançados.
iii. APRESENTAÇÃO DO APLICATIVO: A partir do conhecimento geral dos
métodos empregados e estrutura de dados utilizada, apresenta-se nesta seção
a resolução de alguns exemplos de pórticos curvos, estabelecendo um
comparativo com a bibliografia e softwares de Análise Estrutural, com o objetivo
de fazer a validação dos resultados do aplicativo.
iv. ANÁLISE DOS RESULTADOS: Esta seção apresenta as reflexões realizadas
acerca dos resultados obtidos pelo desempenho da interface gráfica, dos
algoritmos numéricos, bem como dos comparativos entre o Método das
Diferenças Finitas e a solução analítica, por meio dos autores consultados.
v. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Para concluir as reflexões originadas da
realização do trabalho, esta seção aborda as conclusões, de maneira holística,
pertinentes às diversas etapas realizadas, bem como os resultados obtidos na
realização do trabalho.
21

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 ANÁLISE ESTRUTURAL

A análise estrutural compreende a etapa do projeto em que é concebida a


idealização do comportamento da estrutura. Esse comportamento pode ser
representado por diversos parâmetros, como deformações, campos de tensões e
deslocamentos na estrutura. A análise estrutural deve ser realizada para os estágios
de carregamentos e solicitações que devem ser determinados de maneira prévia
(MARTHA, 2010).

2.1.1 Definição de Estruturas

Süssekind (1981, p. 1) define estruturas como elementos que “se compõem de


uma ou mais peças, ligadas entre si e no meio exterior de modo a formar um conjunto
estável” e estes devem ter a capacidade de receber, absorver internamente e
transmitir aos apoios solicitações existentes, configurando o sistema como estático
equilibrante. As propriedades geométricas dos elementos estruturais podem ser
classificadas em (SÜSSEKIND, 1981):

a) Elementos que possuem duas dimensões pequenas em relação à terceira;


b) Elementos com uma dimensão pequena em relação às outras duas;
c) As três dimensões têm a mesma ordem de grandeza.

Pode-se distinguir as estruturas em: reticuladas, placas e blocos; sendo que as


duas primeiras se caracterizam como a maioria das estruturas triviais. Outra
característica levantada por Süssekind (1981) consiste nos carregamentos atuantes,
estes definem os tipos de esforços solicitantes nos elementos estruturais, pois o modo
com que a estrutura é solicitada, aliado com o modo com que os seus elementos estão
conectados entre si, determinam o modelo a ser utilizado, podendo acarretar a um
modelo de viga, arco, pórtico, treliça, etc. Os tipos de carregamentos classificam-se
em dois grupos: carregamentos concentrados e carregamentos distribuídos
(SÜSSEKIND, 1981).

a) Carregamentos concentrados: consistem numa forma aproximada de tratar


cargas distribuídas segundo áreas tão pequenas (em relação às dimensões
dos elementos estruturais), que podem ser consideradas nulas. Neste caso, o
22

erro cometido é inteiramente tolerável, tendo em vista a simplificação de


trabalho de cálculo, conforme a Figura 1a, considera-se que a dimensão “a”
tende a zero.
b) Carregamentos distribuídos: o que difere as cargas distribuídas das
concentradas é que estas se distribuem ao longo de comprimentos
consideráveis para a análise. Os tipos mais comuns que ocorrem são as cargas
uniformemente distribuídas (Figura 1b) e as cargas triangulares para casos de
empuxo de terra e água, principalmente, e estas últimas não serão tratadas no
escopo deste trabalho.
c) Cargas momento: estas não apresentam dificuldade adicional para tratamento
estático, embora ocorram mais raramente como carregamento realmente
atuante na estrutura. Esta é caracterizada pelo seu módulo, direção, sentido e
ponto de aplicação (Figura 1c).

Figura 1 - Carregamentos (a) concentrados (b) uniformemente distribuídos (c) cargas momento

Fonte: Adaptado de SÜSSEKIND, 1981.

Além das cargas atuantes, devem-se considerar as condições de apoio, ou


condições de contorno. A função dos apoios é de restringir graus de liberdade das
estruturas, despertando, com isto, reações nas direções dos movimentos que o apoio
é capaz de restringir. Os apoios se classificam em função do número de graus de
liberdade que são impedidos (SÜSSEKIND, 1981). Para os modelos estruturais que
se configuram como estruturas planas, têm-se as classificações seguintes (Figura 2):
23

Figura 2 – Condições de Apoio

(a) Apoio de 1º gênero (b) Apoio de 2º gênero

(c) Apoio de 3º gênero


Fonte: Adaptado de SÜSSEKIND, 1981.

Para a resolução das reações de apoio e, consequentemente, dos esforços


internos e deformações, faz-se necessário definir o grau de estaticidade da estrutura
e Martha (2010) classifica as estruturas em:
a) Estruturas estaticamente determinadas ou isostáticas: consistem nas
estruturas que podem ter seus esforços internos e reações de apoio apenas
pelas equações de equilíbrio;
b) Estruturas estaticamente indeterminadas ou hiperestáticas: são as estruturas
que não podem ter seus esforços internos e reações de apoio apenas pelas
condições de equilíbrio.

Hibbeler (2011) estabelece as equações de equilíbrio para estruturas planas,


considerando que a estrutura está sujeita a um sistema de forças no plano x-y, as
forças podem ser desmembradas em seus componentes x e y. Consequentemente,
as condições para o equilíbrio em duas dimensões são:

F x 0 (Equação 1)

F y 0 (Equação 2)

M O 0 (Equação 3)
24

Nesse caso, as equações 1 e 2 representam, respectivamente, as somas


algébricas dos componentes x e y de todas as forças atuantes na estrutura e a
equação 3 representa a soma algébrica dos momentos de binário e dos momentos de
todos os componentes de forças em relação a um eixo perpendicular ao plano x-y,
passando por um ponto arbitrário O, que pode pertencer ao corpo ou estar fora dele.
Para o cálculo de estruturas hiperestáticas, pode-se recorrer às metodologias que
envolvem cálculo matricial, e estas são descritas na seção 2.2.
Süssekind (1981) ainda aborda as estruturas hipostáticas, para as quais o grau
de restrição não é suficiente para absorver as solicitações impostas. Desta maneira,
não podem ser analisadas pelas equações de equilíbrio, visto que não possuem
comportamento estático, e sim, dinâmico.

2.1.2 Processos da Análise Estrutural

Gomes e Velho (apud FELIPA, 2001; MARTHA, 2010) explica que a análise
estrutural moderna trabalha com quatro níveis de abstração, conforme a Figura 3.
Estes níveis partem da estrutura real, até a sua representação no modelo
computacional.

Figura 3 – Quatro níveis de abstração para uma estrutura.

Fonte: MARTHA, 2010.

2.1.3 Modelos Estruturais

A respeito da concepção dos modelos estruturais, Martha (2010) enumera


algumas hipóteses simplificadoras. Estas se baseiam em teorias físicas e em
resultados estatísticos e experimentais, que podem ser classificadas nos seguintes
tipos:

a) hipóteses sobre a geometria do modelo;


b) hipóteses sobre as condições de suporte (ligação com o meio externo, por
exemplo, com o solo);
25

c) hipóteses sobre o comportamento dos materiais;


d) hipóteses sobre as solicitações que agem sobre a estrutura (cargas de ocupação
ou pressão de vento, por exemplo).

A Figura 4 apresenta um exemplo de um modelo estrutural bidimensional para


o pórtico de um galpão industrial. Observa-se que os elementos estruturais do galpão
– tanto vigas quanto colunas – aparecem representados por linhas. A informação
tridimensional das barras fica simplificada por propriedades globais de suas seções
transversais, tais como área e momento de inércia (ver seção 2.1.4). Portanto, no caso
de estruturas reticuladas, a consideração da geometria do modelo é uma tarefa
simples: os eixos das barras são suficientes para representar os elementos do modelo
estrutural.

Figura 4 - Estrutura real e o seu modelo estrutural

Fonte: MARTHA, 2010.

2.1.4 Propriedades Geométricas da Seção

Considerando a simplificação do modelo estrutural no que diz respeito às


propriedades geométricas da seção, há a necessidade de obter características como
a área e momento de inércia. Estas propriedades, combinadas com o Módulo de
Elasticidade (ver seção 2.1.5) influenciam as deformações das estruturas, uma vez
que configuram a rigidez do sistema estrutural.
26

Para definir o momento de inércia, Hibbeler (2010) afirma que este tem origem
quando se estabelece uma relação entre a tensão normal (), ou força por unidade de
área que atua na seção transversal de uma viga elástica, e o momento externo
aplicado de intensidade M, que provoca a curvatura na viga. Os elementos
constituintes dessa hipótese encontram-se na Figura 5.

Figura 5 - Variação da tensão normal numa viga submetida a um momento fletor.

Fonte: Adaptado de HIBBELER, 2011

Da teoria da mecânica dos materiais, é possível demonstrar que há uma


variação linear da tensão em relação à distância de um eixo que passa pelo centro de
gravidade da seção transversal da viga, conforme a Equação 4. A intensidade da força
atuante no elemento de área dA, mostrado na Figura 5, é apresentada na Equação 5.
Como essa força está localizada a uma distância z do eixo y, o momento de dF em
relação ao eixo y é dado na Equação 6, como consequência, sabendo que o momento
resultante de toda a distribuição é igual ao momento M aplicado, tem-se a Equação 7,
em que a integral representa o momento de inércia da área em relação ao eixo y.

  kz (Equação 4)

dF  dA  kzdA (Equação 5)

dM  dFz  kz 2 dA (Equação 6)

M  k  z 2 dA (Equação 7)
27

As seções transversais podem ser tratadas por áreas compostas, conforme


Hibbeler (2010). Assim, da demonstração apresentada na definição de momento de
inércia (Equações 4 a 7), deve-se realizar uma análise das integrais para as áreas
compostas, tanto para determinar os centroides, quanto para determinar os momentos
de inércia das seções. Hibbeler (2010) estabelece as formulações para o cálculo do
centroide de uma área composta (Equação 8) e para o cálculo dos momentos de
inércia, este último por meio do Teorema dos Eixos Paralelos, necessário quando o
centroide não é um ponto pertencente ao eixo geométrico da seção (Equação 9).

 A~
x  A~y
x y (Equação 8)
A A

I x  I x '  Ad y2 I y  I y '  Ad x2 (Equação 9)

Figura 6 - Seções transversais empregadas no aplicativo

(a) retangular (b) retangular (c) circular (d) circular (e) seção I
vazada vazada
Fonte: Próprio Autor.

2.1.5 Propriedades do Material da Estrutura

Outra característica dos elementos estruturais que se deve ter consiste nas
características intrínsecas ao material. Muitas estruturas em engenharia são
projetadas para sofrer deformações relativamente pequenas, que envolvem somente
a parte reta do correspondente diagrama tensão-deformação presente na Figura 7.
Para essa parte inicial do diagrama, a tensão é diretamente proporcional à
deformação específica () e pode-se escrever a Equação 10 (BEER; GROSS et al.,
2011).

  E (Equação 10)

A relação apresentada é conhecida como lei de Hooke. O coeficiente E é


denominado módulo de elasticidade do material em questão, ou módulo de Young,
em homenagem ao cientista inglês Thomas Young (1773-1829). O limite de
28

proporcionalidade (em que a lei de Hooke) compreende ao estado entre o início do


ensaio até a tensão de escoamento do material ( σ e ) (BEER, 2011).

Figura 7 - Curva de tensão-deformação de um ensaio de tração

Fonte: Adaptado de GROSS et al., 2011.

Outro parâmetro físico importante para a análise das deformações em uma


estrutura é o Coeficiente de Poisson. Para defini-lo, Beer (2011) lança mão de uma
situação hipotética de um elemento de barra submetido a uma carga axial de tração
(Figura 8a) e da Equação 10 para explicar que apesar de haver tensão axial apenas
na direção x (Figura 8b), há contração em qualquer direção transversal do elemento
de barra (Figura 8c). Assim, conforme a condição de carregamento e deformação
presente na Figura 8c, o coeficiente de Poisson () é definido como na Equação 11.

deformação específica lateral


ν (Equação 11)
deformação específica axial

Figura 8 - Elemento de barra submetido à tração.

(a) Elemento de barra (b) Elemento infinitesimal (c) Deformações laterais

Fonte: BEER, 2011.


29

A partir do coeficiente de Poisson, Beer (2011) faz uma abordagem sobre as


deformações provocadas por tensões de cisalhamento e apresenta uma discussão
sobre deformações sob carregamento axial, e, por fim, estabelece uma relação entre
o módulo de elasticidade transversal (G), módulo de elasticidade (E) e o coeficiente
de Poisson (), descritos na Equação 12.

E
G (Equação 12)
2(1   )

Esta relação, apresentada na Figura 9, provém da constatação de que “uma


carga axial P provoca tensões normais e de cisalhamento de igual intensidade nas
quatro faces de um elemento orientado a 45º do eixo do elemento” (BEER, 2011, p.
113).

Figura 9 - Material sujeito a carga axial de tração P

(a) Elemento infinitesimal a 0º (b) Elemento infinitesimal a 45º

Fonte: BEER, 2011

Apesar de o aplicativo receber os parâmetros relacionados às deformações


por cisalhamento, este efeito não será considerado nos cálculos para este trabalho,
sendo esta uma preparação da estrutura de dados para implementações futuras.

2.1.6 Princípio dos Trabalhos Virtuais

Para explanar o procedimento deste método, considere a viga biapoiada


mostrada na Figura 10 com uma carga concentrada P1 no centro (sistema real).
Deseja-se determinar o valor do deslocamento linear D2 em um ponto qualquer
definido por uma distância a ao apoio da esquerda. O sistema virtual é definido
arbitrariamente com uma força P2 aplicada nesse ponto e com a mesma direção do
30

deslocamento. Na Figura 10 estão indicados os diagramas de momentos fletores M e


̅ dos sistemas real e virtual, respectivamente.
M

Figura 10 - Deslocamento genérico em viga biapoiada com uma carga central

Fonte: MARTHA, 2010

A expressão de um deslocamento genérico qualquer numa estrutura plana,


como uma viga ou pórtico, é dada pela Equação 13:

NN MM VV


D dx    (Equação 13)
EA EI GAs

Em que:
D: deslocamento provocado pelas cargas atuantes;
N: esforço normal no sistema real provocado pelo carregamento externo;
̅ : esforço normal no sistema virtual provocado pela carga virtual;
N
M: momento fletor no sistema real provocado pelo carregamento externo;
̅ : momento fletor no sistema virtual provocado pela carga virtual;
M
V: esforço cortante no sistema real provocado pelo carregamento externo;
̅ : esforço cortante no sistema virtual provocado pela carga virtual;
V
As : área efetiva de cisalhamento da seção transversal.

2.2 BARRAS CURVAS

2.2.1 Aplicação das Barras Curvas nas Estruturas

Leet (2010) apresenta as barras curvas ou arcos como membros fortemente


solicitados em compressão direta sob seu peso próprio. Em virtude de utilizar
eficientemente a capacidade resistente dos materiais empregados (principalmente os
31

materiais que trabalham bem à compressão), os arcos têm sido construídos com vãos
que podem superar os 550 metros. “A escolha da forma de arco apropriada por parte
dos antigos construtores nos períodos romano e gótico representou um entendimento
bastante sofisticado do comportamento estrutural” (LEET, 2010, p.14).

A Figura 11 apresenta um aqueduto romano construído em 19 a.C., conhecido


como Ponte do Gard (Pont du Gard), para transportar água pelo vale do Gardon até
Nimes. Os romanos foram os pioneiros no uso de arcos para pontes, prédios e
aquedutos. Os vãos dos arcos de primeiro e segundo níveis são de aproximadamente
16 a 24 metros (LEET, 2010).

Figura 11 - Ponte do Gard, França.

Fonte: http://www.campingmasderey.com

Além da contribuição romana, durante o período gótico das grandes


construções de catedrais (Chartres Notre Dame), o arco foi refinado pelo corte de
material excedente, e seu formato tornou-se bem mais alongado. O teto abobadado,
uma forma tridimensional do arco, também apareceu na construção de catedrais.
Elementos de alvenaria em arco foram usados junto com pilares ou paredes para
transferir o empuxo dos tetos abobadados para o solo, conforme Figura 12 (LEET,
2010).

De acordo com Leet (2010, p. 10), a engenharia nesse período ainda “era
extremamente empírica, baseada no que os pedreiros mestres aprendiam e
passavam para os seus aprendizes; essas habilidades eram passadas de geração em
geração”.
32

Figura 12 - Corte com os principais elementos da construção gótica.

Fonte: LEET, 2010.

A Figura 13 apresenta algumas alternativas de sistemas estruturais para que


haja a transferência das cargas atuantes nos arcos até o solo. No ponto onde ocorre
o cruzamento entre a base do arco e os apoios extremos (denominados de encontros
ou pegões) em um ângulo agudo, surge uma força interna que se converte em um
empuxo com componentes horizontais e verticais sobre os encontros. (LEET, 2010).

Figura 13 - Sistemas estruturais com arcos.

(a) Arco com extremidades fixas, com apoio (b) Encontros grandes destinados a suportar o
em paredes de rocha para o empuxo do arco, empuxo do arco.
representado por T.

(c) Tirante adicionado na base para suportar o (d) Fundação colocada sobre estacas; estacas
empuxo horizontal; fundações projetadas inclinadas usadas para transferir o componente
apenas para a reação vertical R. horizontal do empuxo para o solo.

Fonte: LEET, 2010.


33

Quando possuem grandes vãos, sustentam cargas pesadas e ainda possuem


ângulo de inclinação pequeno, os arcos com estas características apresentam
componente horizontal do empuxo bastante elevada. Nesta situação, caso não
existam paredes de rocha naturais que possam absorver os esforços produzidos pelo
empuxo horizontal (Figura 13a), pode-se adotar medidas como: construção de
encontros maciços (Figura 13b); conectar as extremidades do arco por meio de um
tirante (Figura 13c) ou ainda, pode-se apoiar o encontro em estacas verticais ou
inclinadas (Figura 13d) (LEET, 2010).

2.2.2 Análise Estrutural de Barras Curvas

Em uma barra curva, o eixo x do referencial de definição dos esforços internos


é tangente ao eixo geométrico da barra. Consequentemente, em cada seção
transversal, o esforço axial tem vetor representativo tangente a esse eixo e o de
cisalhamento é um vetor de linha de ação que contém o centro de curvatura da barra,
ou seja, perpendicular à seção transversal. Há relações diferenciais entre esforço
cortante e momento fletor, assim como nas barras retas. Para fazer essa constatação,
Soriano (2007) considera um segmento infinitesimal de barra curva com um
comprimento de eixo geométrico ds, sob uma força transversal p e uma força axial q,
conforme Figura 14.

Figura 14 - Elemento infinitesimal de uma barra curva.

Fonte: SORIANO, 2007.


34

Não levando em consideração os infinitésimos de ordem superior, a equação


de equilíbrio do momento do referido segmento, em relação ao ponto A (Figura 14),
escreve-se:

ds ds ds
M V  ( M  dM )  (V  dV )  0  Vds  dM  dV 0 (Equação 14)
2 2 2

Da Equação 14, cancelando o produto de infinitésimos e lembrando-se da


relação entre o comprimento do eixo geométrico e o raio ( ds  rd ), têm-se que:

dM dM
V  V (Equação 15)
ds rd

Além disso, as equações de equilíbrio do referido segmento nas direções dos


eixos x e y (indicados na Figura 14) escrevem-se:

 N  ( N  dN ) cos d  (V  dV )send  qds cos(d / 2)  pdssen(d / 2)  0



 V  (V  dV ) cos d  ( N  dN )send  pds cos(d / 2)  qdssen(d / 2)  0

E, considerando que a seção compreende a um ângulo infinitesimal ( d ),


pode-se simplificar as expressões acima conforme a Equação 16 ( send  d ;
cosd  1 ):

dN  (V  dV )d  qds  pds(d / 2)  0


 (Equação 16)
dV  ( N  dN )d  pds  qds(d / 2)  0

Das equações 14 a 16, lembrando da relação entre o comprimento do eixo


geométrico e o raio ( ds  rd ) e cancelando os produtos de infinitésimos, obtém-se
as seguintes relações diferenciais entre os esforços seccionais N e V e as forças
expressas p e q:

V dN dN
 q  V   qr (Equação 17)
r ds d

N dV dV
   p  N  pr (Equação 18)
r ds d

As Equações 17 e 18 particularizam-se no caso da barra reta ao fazer r   e


ds  dx.
35

2.3 ARCOS TRIARTICULADOS

Soriano (2007, p. 192) define arco triarticulado como sendo uma estrutura
constituída de uma barra curva “situada em um plano vertical, com uma rótula interna,
dois apoios do segundo gênero e sob carregamento neste plano, de maneira que se
comporte como pórtico plano isostático”. Para determinar os esforços internos, utiliza-
se as mesmas equações descritas no item 2.2.2.

A Figura 15 apresenta três tipos de arcos principais. O arco triarticulado (Figura


15a) é estaticamente determinado, por isso não apresenta variação de tensões por
variações de temperatura, recalques e erros de fabricação, além de ser mais fácil de
analisar, construir e ser mais flexível. Os demais arcos são estaticamente
indeterminados e podem ser analisados por método da rigidez ou flexibilidade (ver
Seção 2.5).

Figura 15 - Principais tipos de arcos

(a) arco triarticulado (b) arco biarticulado

(c) arco triarticulado de extremidades fixas


Fonte: LEET, 2010.

Este tipo de estrutura também se destaca entre os arcos por favorecer a


utilização de materiais com reduzida resistência à tração, como, por exemplo, o
concreto e a pedra e, também, quando se deseja alcançar vãos com formas
arquitetônicas diferenciadas. Quando bem projetados, os arcos podem apresentar
esforços de flexão bem inferiores aos de esforço axial (SORIANO, 2007).

Um exemplo de construção que emprega arcos triarticulados é a Ponte da


Marambaia, construída na década de 1940 (Figura 16), que possui quatro arcos
triarticulados, com rótulas localizadas no topo (ou fecho) do arco (Figura 17)
(THOMAZ, 2012).
36

Figura 16 - Restinga da Marambaia, Rio de Janeiro

Fonte: Adaptado de THOMAZ, 2012.

Figura 17 - Rótula no topo do arco.

Fonte: THOMAZ, 2012.


37

2.4 ANÉIS AUTOEQUILIBRADOS

Para ilustrar no que consistem os anéis autoequilibrados, a Figura 18 mostra


um desenho esquemático de uma cobertura composta de cabos conectados a um
anel central de tração e a um anel externo de compressão. O pequeno anel central,
solicitado simetricamente pelas reações dos cabos, é tensionado majoritariamente em
tração direta, enquanto o anel externo suporta principalmente esforços de compressão
(LEET, 2010).

Figura 18 - Cobertura apoiada por cabos composta de três elementos: cabos, um anel central de
tração e um anel externo de compressão

Fonte: LEET, 2010

Ao desenvolver um sistema de equilíbrio automático o projetista cria uma forma


estrutural eficiente para cargas gravitacionais, pois estas exigem apenas apoios
verticais em torno de seu perímetro. Várias praças de esportes, incluindo o Madison
Square Garden em Nova York, EUA (Figura 19), têm coberturas com um sistema de
cabo desse tipo (LEET, 2010).
38

Figura 19 - Madison Square Garden em Nova York, EUA

Fonte: www.gcaggiano.wordpress.com

A Catedral de Brasília (Figura 20) é outra obra de engenharia que se destaca


por sua concepção. Trata-se de uma estrutura autoequilibrada, constituída de 16
pilares, dispostos, em planta, circunferencialmente (PESSOA, 2002).

Figura 20 - Catedral de Brasilia, DF

Fonte: http://www.avec.com.br

A sustentação é feita por dois anéis de concreto armado (Figura 21). O anel
superior, com aproximadamente 6,8m de diâmetro, está localizado próximo do topo
dos pilares, absorvendo os esforços de compressão, e passa por dentro dos pilares,
tornando-se imperceptível aos olhos do observador. Já o anel inferior, com 60m de
diâmetro, ao nível do piso, absorve os esforços de tração, trabalhando como um
39

tirante, suavizando as cargas nas fundações, que recebem apenas esforços verticais.
Esse anel só é visível no interior da Catedral. (PESSOA, 2002).

Figura 21 - Estrutura da Catedral de Brasília

Fonte: PESSOA, 2002.

Conforme Pessoa (2002), o anel inferior de tração foi idealizado de maneira a


possibilitar a transmissão exclusiva de esforços verticais aos blocos de fundação. O
espaço entre o anel e a infraestrutura foi preenchido com placas de neoprene para
liberar a rotação nesses apoios (Figura 22).

Figura 22 - Estrutura de Escoramento dos pilares

Fonte: PESSOA, 2002.


40

Ao fazer uma abordagem sobre os anéis autoequilibrados, Süssekind (1980)


apresenta-os como uma estrutura uma vez hiperestática, que apresenta configuração
de simetria (Figuras 23 e 24). Para solucioná-los, Süssekind (1980) utiliza o Método
das Forças (ver Seção 2.5.1).

Figura 23 – Exemplo 1 de anel autoequilibrado

(a) Anel de compressão (b) Estrutura a ser calculada


Fonte: Adaptado de SÜSSEKIND, 1980.

Figura 24 – Exemplo 2 de anel autoequilibrado

(a) Anel de compressão (b) Diagrama de Momentos Fletores


Fonte: Adaptado de SÜSSEKIND, 1980.

2.5 MODELOS DE CÁLCULO

Dois métodos analíticos diferentes podem ser utilizados para analisar


estruturas matricialmente: o método das forças e o método dos deslocamentos
(SÜSSEKIND, 1980; MARTHA, 2010).

Para Martha (2010), o primeiro método determina um conjunto solução de


forças que respeite as condições de equilíbrio e atenda também às condições de
41

compatibilidade. O segundo atinge um conjunto solução de deslocamentos que


respeite as condições de compatibilidade e atenda também às condições de equilíbrio.

Em suma, Martha (2010) enumera três condições que precisam ser satisfeitas
para a solução de estruturas para ambos os métodos mencionados:

a) Condições de equilíbrio;
b) Condições de comportamentos dos materiais;
c) Condições de compatibilidade.

2.5.1 Método das Forças

Conforme Martha (2010), o Método das Forças consiste em somar uma série
de soluções básicas que satisfazem as condições de equilíbrio, mas não suficientes
para satisfazer as condições de compatibilidade da estrutura original, para que, ao
superpor os efeitos, recupere as condições de compatibilidade (Figura 25).

Figura 25 - Estrutura utilizada para a descrição do Método das Forças.

(a) Configuração de deformada com as (b) Componentes de reações de apoio da


condições de compatibilidade da estrutura. estrutura

Fonte: MARTHA, 2010.

A estrutura utilizada para a superposição de soluções básicas é, em geral, uma


estrutura isostática auxiliar obtida a partir da estrutura original pela remoção de
vínculos. Essa estrutura isostática é denominada Sistema Principal (SP) (Figura 26a).
As cargas associadas aos vínculos liberados são as incógnitas do problema e são
denominados hiperestáticos (MARTHA, 2010). Para a determinação dos
deslocamentos, Martha (2010) emprega o Princípio dos Trabalhos Virtuais (PTV)
42

(Seção 2.1.6), que consiste na aplicação de uma carga unitária para obter o
deslocamento no ponto de aplicação (MARTHA, 2010).

A determinação das incógnitas X1 e X2 (Figura 26a) é realizada através da soma


de casos básicos, utilizando o SP como estrutura para as soluções básicas. O número
de casos básicos é sempre igual ao grau de hiperestaticidade mais um (g + 1). No
exemplo, isso resulta nos casos (0), (1) e (2) que são mostrados na Figura 26b, 26c e
26d (MARTHA, 2010). Para fins de esclarecimento, tem-se:

a) Caso 0: Solicitação externa (carregamento externo) isolada no SP;


b) δi0 (termo de carga): deslocamento ou rotação na direção do vínculo eliminado
associado ao hiperestático Xi quando atua a solicitação externa isoladamente
no SP (com hiperestáticos com valores nulos);
c) δij (coeficiente de flexibilidade): deslocamento ou rotação na direção do vínculo
eliminado associado ao hiperestático Xi devido a um valor unitário do
hiperestático Xj atuando isoladamente no SP.

Figura 26 - Soluções para o Sistema Principal empregado.

(a) Sistema Principal adotado para a solução da (b) Caso 0: solicitação externa isolada no SP da
estrutura da Figura 24a. estrutura da Figura 24a.

(c) Caso 1: hiperestático X1 isolado no SP da (d) Caso 2: hiperestático X2 isolado no SP da


estrutura da Figura 24a. estrutura da Figura 24a.

Fonte: MARTHA, 2010.


43

A partir das soluções dos deslocamentos para o carregamento externo (Figura


25b) e para os hiperestáticos (Figuras 26c e 26d), estabelece-se as condições de
compatibilidade para a superposição dos efeitos provocados. Isto é, procuram-se os
valores dos hiperestáticos que fazem com que as condições de compatibilidade
violadas na criação do SP (Figura 26a):  A  0; HB  0 , sejam restabelecidas
(MARTHA, 2010).

A superposição dos casos descritos na Figura 26 geram um sistema linear, que


pode ser escrito de forma matricial (Equação 19). Para o caso de uma estrutura com
dois hiperestáticos, tem-se a Equação 20 (MARTHA, 2010).

 0   X   0 (Equação 19)

Onde:

 0 : vetor dos termos de carga;


  : matriz de flexibilidade;
X : vetor dos hiperestáticos.
 10   11 X 1   12 X 2  0  10    12   X 1  0
      11      (Equação 20)
 20   21 X 1   22 X 2  0  20   21  22   X 2  0

A solução do sistema de equações proveniente do exemplo da Figura 25, é


dada a seguir:

 3 3 3
 13,64 10  0,1152 10  X 1  0,6997 10  X 2  0  X 1  13,39kNm
  
  X 2  17,29kN
3 3 3
115,2 10  0,677 10  X 1  6,1180 10  X 2  0

O sinal de X1 é positivo pois tem o mesmo sentido (anti-horário) do que foi


arbitrado para X1 = 1 no caso (1) e o sinal de X2 é negativo pois tem o sentido contrário
(da direita para a esquerda) ao que foi arbitrado para X2 = 1 no caso (2), tal como
indica a Figura 27. As demais reações e esforços internos agora podem ser
determinados utilizando as equações de equilíbrio normalmente (MARTHA, 2010).
44

Figura 27 - Hiperestáticos da solução da estrutura da Figura 24.

Fonte: MARTHA, 2010.

Os valores encontrados para X1 e X2 fazem com que  A  0 e HB  0 . Dessa


maneira, atinge-se a solução da estrutura, pois satisfaz as condições de equilíbrio e
as condições de compatibilidade (MARTHA, 2010).

2.5.2 Método da Rigidez

O Método da Rigidez, ou Método dos Deslocamentos, consiste em uma


metodologia que faz um processo inverso ao Método das Forças, pois representa a
soma de uma série de soluções básicas que satisfazem as condições de
compatibilidade, mas que não satisfazem as condições de equilíbrio da estrutura
original, para que a superposição dos efeitos constitua a recuperação das condições
de equilíbrio (SORIANO, 2005; MARTHA, 2010).

“As incógnitas deste método serão, então, os ângulos de rotação e os


deslocamentos lineares sofridos pelos nós das diversas barras” (SÜSSEKIND, 1987,
pg. 1). A solução pelo Método da Rigidez pode ser encarada como uma “superposição
de soluções cinematicamente determinadas, isto é, de configurações deformadas
conhecidas” (MARTHA, 2010, p. 193), conforme ilustra a Figura 28, que apresenta a
configuração deformada de um pórtico plano formada pela soma de configurações
deformadas, cada uma intrínseca a um determinado efeito que é provocado e
associado isoladamente (MARTHA, 2010).
45

Figura 28 - Configuração deformada de um pórtico plano formada pela superposição de


configurações

Fonte: MARTHA, 2010.

Na Figura 28, a configuração deformada elementar do caso (0) isola o efeito


provocado pelo carregamento externo, sendo que essa configuração deformada é tal
que os nós da estrutura apresentam deslocamentos e rotações nulos, ou seja,
corresponde à situação de engastamento perfeito da viga (barra horizontal) devida à
carga uniformemente distribuída aplicada. As demais configurações deformadas
mostradas na Figura 28, dos casos (1) a (7), correspondem a imposições de
deslocamentos e rotações nodais isolados, isto é, cada caso apresenta uma
configuração deformada elementar em que somente uma componente de
deslocamento ou rotação nodal tem um valor não nulo.

A partir das considerações apresentadas, Martha (2010) estabelece o conceito


de deslocabilidades, que representam “as componentes de deslocamentos e rotações
nodais (...) que devem ser conhecidas para determinar a configuração deformada de
uma estrutura” (MARTHA, 2010, p. 195).
46

A superposição dos casos descritos na Figura 28 resultam em um sistema


linear, que pode ser sintetizado pela Equação 21, para o caso de uma estrutura com
n deslocabilidades (MARTHA, 2010).

 f 0  K g Dg   0 (Equação 21)

Em que:

 f 0 : vetor dos termos de carga global;


K : matriz de rigidez global;
g

D : vetor das deslocabilidades global.


g

A convenção de sinais apresentada por Martha (2010) é a apresentada na


Figura 29, esta auxilia na determinação do sentido dos deslocamentos determinados
pelo sistema, bem como o sentido dos esforços finais. A Seção 3.3 aborda com mais
detalhes a aplicação computacional do Método da Rigidez.

Figura 29 - Convenção de sinais adotada para quadros planos.

Fonte: MARTHA, 2010


47

2.6 MÉTODO DAS DIFERENÇAS FINITAS

O Método das Diferenças Finitas consiste em uma metodologia de cálculo que


tem como objetivo principal determinar, por aproximação, os resultados de uma
estrutura, por exemplo. Apesar deste ser um método aproximado, dependendo do
nível de aproximação dado pelo operador, podem ser bastante precisos. Existem
estruturas que são complexas para serem calculadas pelas teorias clássicas
(soluções analíticas), logo esse tipo de solução analítica se torna em alguns casos
impossível de calcular sem que haja grandes e excessivas simplificações, resultando
em valores pouco apurados (SILVA, 2011).

Para que se obtenha resultados apurados com o Método das Diferenças


Finitas, é preciso fazer a aproximação das derivadas (Figura 30). Em síntese, o uso
da técnica de Diferenças Finitas procura escrever os operadores diferenciais em sua
forma discreta, ou seja, em função de valores pontuais da solução (SILVA, 2011).

Figura 30 - Interpretação geométrica para o Método das Diferenças Finitas

Fonte: SILVA, 2011.

Silva (2011) salienta que os métodos analíticos possibilitam o cálculo da


resposta exata, como por exemplo, das flechas, deformações e tensões em todos os
pontos de uma estrutura que apresente uma problematização simplificada. Neste
contexto, se insere a questão central que motiva o estudo do Método das Diferenças
Finitas, pois ele não se restringe a problemas específicos e/ou particularizados.
48

2.7 LINGUAGEM DE PROGRAMAÇÃO JAVA

A linguagem de programação Java é a mais amplamente utilizada no mundo e


tem como principal vantagem o fato de ser uma linguagem orientada a objetos, visto
que, ao longo dos anos, os desenvolvedores de software estão percebendo que
utilizar uma abordagem de implementação orientada a objetos pode se tornar muito
mais produtiva, em detrimento das primeiras técnicas populares, como a programação
estruturada. Programas orientados a objetos são frequentemente mais fáceis de
entender, retificar e alterar. (DEITEL, 2010).

Outra vantagem reside no fato de que os problemas podem ser tratados como
objetos. Desta maneira, os dados representam suas características e os métodos
numéricos aplicados representam as suas funcionalidades. O uso de classes facilita
a organização do código-fonte. Assim, os métodos podem compartilhar características
para a solução de um problema, sem a necessidade de replicação de trechos de
código. Também o encapsulamento otimiza a independência entre as partes do
código, ocultando detalhes de implementação (SCHEPKE; CHARÃO, 2004).

Murari (2008) enumera algumas características da linguagem de programação


Java que evidenciam as vantagens de sua utilização:

a) Simples: a simplicidade da linguagem Java deve-se ao fato de não possuir


sobrecarga de operadores, aritmética de ponteiros e memória alocada
dinamicamente, já que que essas memórias são gerenciadas pela própria
linguagem;
b) Orientada a objetos: as linguagens orientadas a objetos oferecem muitas
vantagens sobre as linguagens tradicionais, pois os objetos encapsulam dados e
métodos relacionados em unidades coesas, permitindo assim, compreender
dependências de dados, isolar efeitos de alterações e realizar outras atividades de
manutenção e facilitar a reutilização da estrutura em outros programas;
c) Compilada e interpretada: A compilação dos programas em Java é feita em
formato binário de código bytes, que são interpretados por um ambiente de
execução específico da plataforma utilizada. Logo, é ao mesmo tempo compilada
e interpretada. A compilação, em constraste com a interpretação que acontece
toda vez que o programa é executado, ocorre apenas uma vez;
49

d) Arquitetura neutra, portável: por possuir uma neutralidade em relação à arquitetura


do computador, os programas em Java são portáveis;
e) Segura: os aplicativos Java apresentam garantia de resistência contra vírus, pois
não são capazes de acessar uma área temporária de armazenamento de dados
que permite acesso aleatório, tais como pilha ou memória do sistema. Como a
autenticação do usuário é implementada por chave pública de criptografia, o
acesso de hackers e crackers a informações protegidas é impedido;
f) Dinâmica: os programas Java adaptam-se a diversos ambientes computacionais
que são acessados dinamicamente e vendidos ou distribuídos separadamente dos
aplicativos que dele dependem. Isso permite que os programadores tirem total
proveito da orientação a objetos.

Para desenvolver uma aplicação em Java, é necessário a utilização de uma


IDE (acrônimo de Integrated Development Environment). Este é um software de
computador capaz de ajudar programadores a desenvolver outros softwares.
Normalmente uma IDE consiste de um editor de código fonte, um compilador e/ou
interpretador, ferramentas para construção automática, e (usualmente) um depurador
(QUEIROZ, 2005).

Dois aplicativos foram objetos de pesquisa em linguagem Java, com a


plataforma Netbeans IDE, o “Projeto Mohr”, desenvolvido por Albuquerque; Ferreira;
Ferreira (2016) e o “Projeto Núcleo Central”, desenvolvido por Oliveira; Ferreira;
Ferreira (2016). Ambos os projetos foram idealizados com o objetivo de proporcionar
uma ferramenta educacional e interativa com o usuário e, por conseguinte, motivaram
a realização deste trabalho.

O primeiro programa, intitulado “Projeto Mohr” (Figura 31), está organizado em


três módulos independentes. O primeiro calcula as propriedades geométricas de
diversas formas de seções planas. O segundo permite a representação gráfica do
Estado Plano e Tridimensional de Tensões em um ponto empregando o Círculo de
Mohr. O terceiro módulo permite a visualização da vista longitudinal de uma viga
biapoiada sob flexão simples, gerando os diagramas de esforço cortante e momento
fletor e as trajetórias das tensões principais (ALBUQUERQUE; FERREIRA;
FERREIRA, 2016).
50

Figura 31 - Janela do Aplicativo “Projeto Mohr”.

Fonte: ALBUQUERQUE; FERREIRA; FERREIRA, 2016.

O segundo programa, intitulado “Projeto Núcleo Central” (Figura 32), tem como
objetivo desenvolver um aplicativo em linguagem de programação Java com interface
gráfica que auxilie o aprendizado e a compreensão do problema de flexão composta
reta e oblíqua, permitindo visualizar, para seções geométricas de formas quaisquer, a
rotação dos eixos não principais para os eixos principais de inércia, a representação
gráfica da linha neutra e do núcleo central, além da representação gráfica das zonas
comprimidas e tracionadas resultantes da aplicação do carregamento excêntrico em
uma sapata (OLIVEIRA; FERREIRA; FERREIRA, 2016).
Figura 32 - Janela do Aplicativo “Projeto Núcleo Central”.

Fonte: OLIVEIRA; FERREIRA; FERREIRA, 2016.


51

3 METODOLOGIA

3.1 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

A realização da revisão bibliográfica atua, num primeiro momento para a


realização deste trabalho, de maneira a reunir o máximo de informações sobre as
metodologias de cálculo que podem ser empregadas nos algoritmos numéricos do
aplicativo, bem como as ferramentas que este viria a utilizar. Tendo essas
informações, torna-se possível entender quais necessidades o aplicativo deve
atender, bem como a estrutura gráfica e matemática. Também procurou-se
compreender as limitações da linguagem e da interface, de modo que o método de
cálculo escolhido se adaptasse a estas.

3.2 PROGRAMAÇÃO DO APLICATIVO

Para o desenvolvimento do aplicativo, utiliza-se a metodologia de Engenharia


de Software Ciclo de Vida Clássico (Figura 33), o qual “requer uma abordagem
sistemática, sequencial, ao desenvolvimento do software, que se inicia no nível do
sistema e avança ao longo da análise, projeto, codificação, teste e manutenção”
(PRESSMAN, 1995, p. 32).

Figura 33 - Ciclo de Vida Clássico

Fonte: Adaptado de PRESSMAN, 1995.


52

Tendo definida toda a parte teórica, deu-se início à parte prática do trabalho, e
esta resultou toda a codificação utilizada no aplicativo. Os códigos foram todos
realizados de forma a atender as necessidades matemáticas e gráficas estabelecidas
no primeiro momento do trabalho, sendo que buscou-se deixá-los o mais eficiente e
eficaz possível, usufruindo de todas as vantagens que a linguagem Java oferece.

3.3 APLICAÇÃO DO MÉTODO DOS DESLOCAMENTOS

Para escolha do método de solução das estruturas, é necessário analisar as


peculiaridades de cada metodologia. Sobre isto, Martha (2010) explicita que o método
das forças dispõe de uma metodologia que torna mais difícil a sua implementação, o
que o torna uma escolha pouco trivial no desenvolvimento de ferramentas
computacionais.

Levando em consideração o posicionamento de Martha (2010), fica claro que o


método mais indicado a ser implementado é o método dos deslocamentos. Mais
especificamente, define-se um algoritmo simples de cálculo baseado no método da
rigidez direta, que apresenta uma estrutura propícia para este tipo de aplicação. Para
isto, emprega-se o Método das Diferenças Finitas. Na Seção 3.3.7 apresenta-se a
aplicação desta metodologia no caso de barras curvas.

O pórtico que foi empregado como exemplo na seção 2.5.2 (Figura 28) tem
uma geometria simples, sendo que a determinação das variáveis envolvidas no
método dos deslocamentos não é árdua. Contudo, quando a geometria do pórtico em
questão se torna mais diferenciada, englobando elementos que apresentam
inclinação, ou variação de seção ou material, precisar os coeficientes de rigidez e os
esforços de engastamento perfeito assume um caráter mais trabalhoso, tornando sua
implementação computacional mais rebuscada.

Por consequência, convém fragmentar a estrutura em elementos segmentados


de modo que cada um seja analisado isoladamente e que as suas contribuições para
o vetor de esforços de engastamento perfeito e a matriz de rigidez sejam
posteriormente somados. Esta segmentação requer que se definam algumas
características intrínsecas de cada membro, como expressar as relações básicas de
elasticidade destes em termos de forças e deslocamento, quer sejam paralelos, quer
53

perpendiculares, e, como consequência, define-se um sistema de coordenadas locais


para cada membro da estrutura (KASSIMALI, 2012).

Para a implementação dos cálculos, haverá dois sistemas de coordenadas: um


posicionado em relação à estrutura como um todo, chamado sistema global, e outro
posicionado em cada um dos elementos, cuja origem estará localizada no seu nó
inicial, denominado sistema local (Figura 34).

Figura 34 - Componentes de deslocamento em um elemento de barra.

(a) Componentes de deslocamento no sistema (b) Componentes de deslocamento no sistema


local da barra. global de coordenadas.
Fonte: Adaptado de SORIANO, 2005.

No sistema local, pode-se analisar mais eficientemente as relações entre forças


e deslocamentos, sendo possível definir uma rotina de cálculo mais sistemática, visto
que o elemento de estudo será sempre uma única barra. A partir do momento em que
as variáveis inerentes às barras são determinadas, emprega-se relações de
correspondência entre os sistemas global e local para anexar as contribuições de cada
elemento na equação global da estrutura (KASSIMALI, 2012).

3.3.1 Sistema de Coordenadas


Como previsto, uma vez que se estabelece dois sistemas de coordenadas
distintos para implementação do método de cálculo, torna-se necessário que um
grupo de equações que expressem as relações entre os dois sistemas seja
estabelecido.

As relações entre os sistemas de coordenadas devem englobar todos os


aspectos do posicionamento das barras na estrutura, fazendo a correspondência entre
54

os nós da barra no sistema local e os nós da estrutura no sistema global. Uma


ferramenta, prevista por Waver; Gere (1981), é a Matriz de Rotação (Equação 22).
Esta matriz dependerá do ângulo θ da barra em relação ao eixo x global da estrutura.

 cos sin  0 0 0 0
 sin  cos 0 0 0 0

 0 0 1 0 0 0
[T ]    (Equação 22)
 0 0 0 cos sin  0
 0 0 0  sin  cos 0
 
 0 0 0 0 0 1

3.3.2 Esforços de Engastamento Perfeito

Para o cálculo das forças de engastamento perfeito, deve-se fazer algumas


considerações. Vale ressaltar que estas considerações estão ligadas a características
do programa a ser desenvolvido, não estando relacionadas a limitações metodologia
de cálculo empregada.

No caso das barras, serão consideradas como homogêneas e prismáticas. Isto


significa que não haverá mudança de seção ou de materiais ao longo do comprimento
das mesmas. Além disso, admite-se que estas poderão estar submetidas a quatro
configurações de articulação (Tabela 1).

Tabela 1 - Tipo de membro em relação à rotulação.


Tipo de Membro Nó inicial Nó final
Tipo 0 Engastado Engastado
Tipo 1 Rotulado Engastado
Tipo 2 Engastado Rotulado
Tipo 3 Rotulado Rotulado
Fonte: Próprio Autor

Outrossim, deve-se também definir a que tipo de cargas distribuídas a estrutura


estará submetida. Neste trabalho as barras discretizadas são submetidas a
carregamentos distribuídos uniformes projetados nos comprimentos horizontal e/ou
vertical das barras (Figura 35).
55

Figura 35 – Carregamentos distribuídos atuantes em um elemento de barra.

(a) Carregamento uniforme projetado (b) Carregamento uniforme projetado


verticalmente. horizontalmente.
Fonte: Adaptado de SORIANO, 2007.

A fim de tornar o algoritmo mais simplificado, não se calcula os esforços de


engastamento perfeito para cargas pontuais, e sim, estas são consideradas como
ações nodais (ver Seção 3.3.4). Tendo feito estas ressalvas, pode-se partir para a
determinação das forças de engastamento perfeito. Os esforços são sintetizados na
Tabela 2. Salienta-se ainda que estas forças serão representadas através do vetor de
forças de engastamento perfeito global { f g } , mostrado na Equação 23.

Tabela 2 - Esforços de engastamento perfeito para as barras


Reação Expressão dos Esforços
H0 qx  Ly

2
V0 q L
 y x
2
M0 q y  L2x q x  L2y
 
2 2
H1 qx  Ly

2
V1 q y  Lx

2
M1 qy  L 2
q x  L2y

x

2 2
Fonte: Próprio Autor.
56

H 0 
V 
 0 
 
f g   M 0  (Equação 23)
H1 
V1 
 
M 1 

3.3.3 Matriz de Rigidez

Para determinar a matriz de rigidez de uma barra pertencente à estrutura,


utiliza-se as seguintes considerações: as barras deverão ser homogêneas e
prismáticas, além de estarem submetidas a uma das quatro condições de articulação
já definidas na Tabela 1.

Os coeficientes locais, aqui denotados kij são determinados com a aplicação


de uma deslocabilidade unitária na barra, quer deslocamentos lineares, quer
angulares (Figura 37), sendo os coeficientes de rigidez computados com base nele.
Neste tópico, Kassimali (2012) desenvolve as expressões para todos as quatro
configurações de articulação (Equações 24 a 27), levando em consideração o sistema
de referência da Figura 36.

Figura 36 - Sistema de referência para as barras

Fonte: Próprio Autor

Figura 37 – Esforços de Engastamento para um deslocamento angular unitário

Fonte: Próprio Autor


57

i. Matriz de Rigidez para um elemento de barra bi engastada:

 EA EA 
 L 0 0  0 0 
L
 12 EI 6 EI 12 EI 6 EI 
 0 0  
 L3 L2 L3 L2 
 0 6 EI 4 EI
0
6 EI
 2
2 EI 
k    EA L L 
2
L L (Equação 24)
EA 
 0 0 0 0 
 L L 
 0 12 EI
 3 
6 EI
0
12 EI 6 EI 
 2
 L L2 L3 L 
 6 EI 2 EI 6 EI 4 EI 
 0 0  2 
 L2 L L L 

ii. Matriz de Rigidez para um elemento de barra rotulado no início:

 EA EA 
 L 0 0  0 0 
L
 3EI 3EI 3EI 
 0 0 0  
 L3 L3 L2 
 0 0 0 0 0 0 
k    EA 0 0
EA
0 0  (Equação 25)
 L L 
 3EI 3EI 3EI 
 0  3 0 0  2 
 L L3 L 
 0 3EI
0 0
3EI
 2 
3EI 
 L2 L L 

iii. Matriz de Rigidez para um elemento de barra rotulado no final:

 EA EA 
 L 0 0  0 0
L
 3EI 3EI 3EI 
 0 0  0
 L3 L2 L3 
 3EI 3EI 3EI
 2 0
k    0 L2 L
0
L  (Equação 26)
 EA EA 
 0 0 0 0
 L L 
 0 3EI
 3 
3EI
0
3EI
0
 L L2 L3 
 0 0 0 0 0 0
58

iv. Matriz de Rigidez para um elemento de barra bi rotulado:

 EA EA 
 L 0 0  0 0
L
 0 0 0 0 0 0
 
k    0EA 0 0 0
EA
0 0
 (Equação 27)
 L 0 0
L
0 0
 0 0 0 0 0 0
 
 0 0 0 0 0 0

Para realizar as transformações entre os sistemas local e global, Kassimali


(2012) estabelece a Equação 28 para obter a matriz de rigidez global, representada
aqui por [kg]. As matrizes globais empregadas foram comparadas com as
estabelecidas por Waver e Gere (1981), apresentadas nas Equações 29 a 32.

K   T   K  T 
g 
T

(Equação 28)

Em que:
K : Matriz de rigidez global do elemento de barra;
g

T T : Transposta da matriz de rotação;


K : Matriz de rigidez local do elemento de barra;
T : Matriz de rotação.

3.3.4 Vetor de Ações Nodais

Tal qual explicado na seção 2.6.2, as cargas pontuais da estrutura são


aplicadas exclusivamente em nós, e nunca no meio das barras. Sabendo disto, é
possível desmembrar o vetor de forças de engastamento perfeito para criar o vetor de
ações nodais.

Este processo tem duas vantagens principais do ponto de vista computacional.


Se houvessem cargas aplicadas nas barras, dever-se-ia considerar cada uma delas,
calcular cada esforço separadamente e depois combiná-los para obter o esforço final,
sendo este então repassado ao sistema global de coordenadas pelas regras de
correspondência.
59

i. Matriz de Rigidez Global para um elemento de barra bi engastada:

K    EA
g C 2
x +
12 EI 2
L3
Cy  EA 12 EI 
  3 C x C y 
6 EI
L2
Cy  EA 2 12 EI 2 

 EA 12 EI 
Cx + 3 C y     3 C x C y 
6 EI 
L2
Cy 

L  L L   L L   L L  
 
 EA 12 EI  EA 2 12 EI 2 6 EI  EA 12 EI   EA 2 12 EI 2  6 EI C 
  3 C x C y C y + 3 Cx Cx   3 C x C y  C y + 3 Cx  x 
 L L  L L L2  L L   L L  L
2

 
 6 EI 6 EI 4 EI 6 EI 6 EI 2 EI 
 2 C y Cx Cy  2 Cx 
 L 
2
L L L2 L L
 
  EA 12 EI   EA 12 EI  6 EI EA 2 12 EI 2  EA 12 EI  6 EI 
  C x2 + 3 C y2     3 C x C y Cy Cx + 3 C y   3 C x C y C y 
  L L   L L  L2 L L  L L  L2 
 (Equação 29)
 
  EA  12 EI C C 
 EA 2 12 EI 2   6 EI C
C y + 3 Cx 
 EA 12 EI 
  3 C x C y
EA 2 12 EI 2
C y + 3 Cx
6 EI
 2 Cx 
  L L 
3 x y
 L L  L2
x
 L L  L L L 
 
 
 6 EI C 6 EI
Cx
2 EI 6 EI
Cy
6 EI
 2 Cx
4 EI 
 L 
2 y 2
L L L2 L L

Em que:

Cx = cos θ

Cy = sen θ
60

ii. Matriz de Rigidez Global para um elemento de barra rotulado no início:

K   EA
g C 2
x +
3EI 2
L3
CY  EA 3EI 
  3 C x C y
0  EA 2 3EI 2 

 EA 3EI 
Cx + 3 C y     3 C x C y 
3EI 
L2
Cy 
L
  L L   L L   L L  
 
 EA 3EI  EA 2 3EI 2 0  EA 3EI   EA 2 3EI 2  3EI C 
  3 C x C y C y + 3 Cx   3 C x C y  C y + 3 Cx  2 x 
 L L  L L  L L   L L  L 
 
0 0 0 0 0 0 
 
  EA 2 3EI 2   EA 3EI  0 EA 2 3EI 2  EA 3EI  3EI  (Equação 30)
  Cx + 3 C y     3 C x C y Cx + 3 C y   3 C x C y C y 
  L L   L L  L L  L L  L2 
 
 
  EA  3EI C x C y   EA C y2 + 3EI C x2  0  EA 3EI 
  3 C x C y
EA 2 3EI 2
C y + 3 Cx
3EI
C 
  L 
x
L3   L L3   L L  L L L2
 
 
 3EI C 3EI
Cx
0 3EI
Cy
3EI
Cx
3EI 
 L 
2 y
L2 L2 L2 L

Em que:

Cx = cos θ

Cy = sen θ
61

iii. Matriz de Rigidez Global para um elemento de barra rotulado no final:

K   EA
g C 2
x +
3EI 2
L3
Cy  EA 3EI 
  3 C x C y 
3EI
L2
Cy  EA 2 3EI 2 

 EA 3EI 
Cx + 3 C y     3 C x C y
0


L  L L   L L   L L  
 
 EA 3EI  EA 2 3EI 2 3EI  EA 3EI   EA 2 3EI 2  0
  3 C x C y C y + 3 Cx Cx   3 C x C y  C y + 3 Cx  
 L L  L L L2  L L   L L  
 
 3EI 3EI 3EI  3EI  3EI 0
 2 C y Cx Cy Cx 
 L L2 L2 
2
L L
 
  EA 3EI   EA 3EI   3EI EA 2 3EI 2  EA 3EI  0
  C x2 + 3 C y2    3 C x C y Cy Cx + 3 C y   3 C x C y 
  L L   L L  L2 L L  L L   (Equação 31)
 
 
  EA  3EI C C  EA 2 3EI 2   3EI C
 C y + 3 Cx 
 EA 3EI 
  3 C x C y
EA 2 3EI 2
C y + 3 Cx
0
  L L3 
x y
 L L  L2
x
 L L  L L 
 
0 0 0 0 0 0

Em que:

Cx = cos θ

Cy = sen θ
62

iv. Matriz de Rigidez Global para um elemento de barra bi rotulado:

K    EA
g
L
C 2
x
EA
L
CxCy
0

EA 2
L
Cx 
EA
L
CxCy
0

 
 
 EA C C EA 2
Cy
0

EA
CxCy 
EA 2
Cy
0
 L x y L L L 
 
0 0 0 0 0 0
 
 EA EA 0 EA 2 EA 0
 C 2x  CxCy Cx  CxCy 
 L L L L 
 
 EA EA 2 0 EA EA 2 0 (Equação 32)
 CxCy  Cy  CxCy Cy 
 L L L L 
 
0 0 0 0 0 0

Em que:

Cx = cos θ

Cy = sen θ

Outra vantagem reside no fato de que basta determinar a que deslocabilidade


da estrutura não restringida a carga atuante está associada e montar o vetor de ações
nodais diretamente no sistema global, de acordo com seus respectivos índices.

Para o vetor de ações nodais (Equação 33), considera-se que cada elemento
está associado a uma deslocabilidade, ou seja, cargas horizontais a deslocamentos
horizontais, cargas pontuais verticais a deslocamentos verticais e cargas momento a
rotações.

 A0 
A 
 1 
 A2 
A  ...  (Equação 33)
A 
 n2 
 An 1 
 
 An 
63

3.3.5 Sistema Linear

Ao final da composição da equação de compatibilidade da estrutura, com os


elementos que foram adicionados ao longo desta seção, teremos o representado na
Equação 34.

R  A f g  K g d g  (Equação 34)

Onde:

R: Vetor de reações de apoio;


A: Vetor de ações nodais;
f : Vetor de esforços de engastamento perfeito;
g

K  : Matriz de rigidez global.


g

d : Vetor de deslocamentos globais.


g

Tendo a equação da estrutura não restringida, poderemos aplicar as condições


de contorno relativas às restrições de deslocamento. Para isto, igualaremos todas as
deslocabilidades restringidas a zero, bem como as linhas e colunas associadas a
estas, excetuando os elementos da diagonal principal, que se atribui valor unitário.

Para a solução do sistema linear mencionado na Equação 34, empregou-se o


Método da Eliminação de Gauss. Soriano (2005) explica que este consiste no método
mais utilizado em processos manuais de cálculo e que exige o menor número possível
de operações aritméticas. É aplicável a qualquer sistema cuja matriz dos coeficientes
seja quadrada, ou seja, aplica-se perfeitamente aos sistemas que podem ocorrer no
processamento dos resultados do aplicativo.

3.3.6 Diagramas da Estrutura

Para determinar os diagramas da estrutura será necessário, em um primeiro


momento, determinar quais os esforços internos de cada barra nos seus respectivos
sistemas de coordenadas locais. Para isto, realiza-se o processo inverso ao feito para
compor os vetores e matrizes globais. Assim, pode-se definir {f}, {d} e [K], de modo
que seja possível resolver as equações de compatibilidade locais (Equação 35),
determinando o valor das reações locais {r} nos apoios de cada uma das barras.
Assim, tem-se que:
64

r   f   K d  (Equação 35)

Onde:

r : Vetor de reações de apoio locais;


 f : Vetor de esforços de engastamento perfeito local;
K : Matriz de rigidez local da barra.
d : Vetor de deslocamentos locais.

Será necessário então determinar {d}, visto que os demais componentes já


foram calculados previamente. Para isto, podemos nos utilizar da regra da
correspondência para determinar as componentes do vetor deslocamento da barra no
sistema global {dg} e, pela equação 36 projetá-las no sistema local.

d   T   d g  (Equação 36)

Por fim, tendo os valores de {r}, descobre-se as reações dos esforços nas
barras, que coincidem com o valor dos esforços internos nestes pontos. Não foi
necessário desenvolver a equação diferencial da elástica, pois os elementos de barra
são muito pequenos e não resultaria em um diferencial na visualização dos resultados
dos diagramas.

3.3.7 Diferenças Finitas

Soriano (2005, p. 182) afirma que “em análise de estrutura com barra curva
e/ou de seção transversal variável, um procedimento simples é substituir a barra por
pequenos trechos retos de seção transversal constante”. Ressalta-se, contudo, que
este tipo de procedimento pode não ser indicado em virtude das aproximações
empregadas para simular a geometria da barra (SORIANO, 2005).

Para isso, torna-se necessário fazer um comparativo entre a solução analítica


(método manual com integração, levando em consideração a geometria real) e a
solução numérica, com as diferenças finitas. Este comparativo permite estimar
quantas diferenças finitas podem satisfazer níveis satisfatórios de precisão quanto aos
resultados numéricos, visto que à medida que a nuvem de pontos é adensada (ou
refinada) o valor da resposta numérica se aproxima do valor real (SILVA, 2011).
65

Para realizar o emprego das diferenças finitas no caso de vigas de inércia


variável (vigas misuladas), Gomes1 (2017) realiza as disposições descrita na Figura
38, em que se preserva as características da seção média de cada incremento,
obedecendo ao equacionamento da variação de inércia, assim, se realiza uma
aproximação do modelo real da estrutura.

Figura 38 - Discretização da mísula em inércia constante com incremento ∆x no ponto médio.

x
xn-2 x n-1 n
xn
x n-1 ...
xn-2 3
2
...

3 1
2
0
1
0

(a) Mísula linear (b) Mísula parabólica

Fonte: GOMES1, 2017

Para o caso de vigas com mísula variando parabolicamente, recorre-se ao


mesmo tipo de procedimento. Vale ressaltar que, para ambos os casos, a malha de
incrementos x é variável, de modo que a mesma se torne refinada o suficiente para
que não haja danos aos resultados esperados (GOMES1, 2017).

Empregando um princípio similar ao de Gomes1 (2017), realiza-se a


discretização da barra curva (seja ela circular ou parabólica) em trechos de barras
retas (Figura 39).

Figura 39 - Discretização de uma barra curva engastada e livre em elementos de barras retas no
incremento θ, com preservação da rigidez e coordenadas.

Fonte: Próprio Autor.


______________

1GOMES, Leonardo Soligo. Análise de esforços e deformações em vigas misuladas pelo método das
diferenças finitas, 2017. Trabalho de Conclusão de Curso de Engenharia Civil a ser publicado na
Universidade Federal de Roraima.
66

Vale ressaltar que essa discretização foi refinada com o intuito de aproximar
aos resultados da solução analítica. Dessa maneira, a estrutura comporta-se como
um pórtico plano, e pode ser tratada pela aplicação do Método dos Deslocamentos
para Pórticos Planos.

3.4 CONFERÊNCIA DOS RESULTADOS

No terceiro momento, deu-se a validação dos resultados apresentados pelo


aplicativo. Por se tratar de um processo iterativo, é interessante que o
desenvolvimento do aplicativo seja norteado por resultados corretos. Assim, no
sentido de fazer um comparativo com a solução analítica de barras curvas, buscou-se
fazer uma compilação de barras curvas já resolvidas, com as quais poderiam ser
analisados todos os elementos do problema, desde as reações de apoio e diagramas
de esforços solicitantes.
Para isso, os exemplos resolvidos de Süssekind (1981), Soriano (2006) e
Miroliubov et al. (1978), forneceram a resolução manual dos exemplos,
acompanhados de verificação dos cálculos, de modo a constituir a solução analítica
para os problemas. A partir deles, torna-se possível calibrar os resultados do
programa, de modo que se encontrassem potenciais erros de programação. A partir
da convergência dos resultados, pode-se avaliar numericamente os resultados.

Uma vez corrigidas todas as inconsistências, lançou-se mão do software


educacional de análise de estruturas planas FTOOL, versão 3.0.1 e do software
ARCOS do Professor Serra (1985), para verificar se os resultados de reações,
esforços, bem como o formato dos diagramas de esforços e deformações estão
coerentes para outras solicitações de carregamentos.
67

3.5 INTERFACE GRÁFICA

Para dar procedência ao trabalho, é importante que se perceba como


funcionam as ferramentas que serão utilizadas para compor o aplicativo. Por se tratar
do desenvolvimento de um produto, há um aspecto generalizante na escolha destas
ferramentas, devendo-se ter em mente que este processo não se limita à pura
programação, se estendendo também à confecção da interface programa-usuário, à
criação dos gráficos utilizados e também à estruturação do aplicativo como um todo.
No entanto, por tratar-se de um trabalho acadêmico voltado aos aspectos estruturais
do desenvolvimento, nos ateremos a este âmbito, sem dissertar sobre os demais
pontos do processo.

Como um dos objetivos deste trabalho é desenvolver o projeto de uma interface


gráfica, há a necessidade de empregar metodologias para que seja possível haver
interação com o usuário através do tratamento de ações de eventos (caixas de texto
e botões) e que permita a visualização dos resultados através da representação
gráfica (desenhos) das barras curvas, carregamentos, reações, diagramas de
esforços solicitantes e configuração de deformada. Com este intuito, empregou-se as
seguintes ferramentas da linguagem de programação Java:

i. Componentes gráficas GUI (Graphical User Interfaces) para tratamento de ações


de eventos, como botões de comando, botões de estado, caixas de texto, etc;
ii. Gerenciadores de leiaute FlowLayout e BorderLayout para disposição das
componentes GUI na tela do computador;
iii. Criação e tratamento de eventos de Menus para gerenciamento de arquivos de
entrada e saída de dados;
iv. Estudo dos métodos de desenho empregando a Classe Graphics do Java, com
a elaboração de algoritmos gráficos necessários para desenhar na área do painel
de desenho;
v. Transformações de coordenadas reais para as coordenadas do dispositivo
(pixels) e escalas de desenho;
vi. Interação entre a parte gráfica do aplicativo com os algoritmos numéricos para
resolução do problema.
68

A construção da interface inicia-se com a criação de uma janela JFrame, da


biblioteca Java, onde são dispostas as componentes de interface gráfica (GUI). No
JFrame são dispostos quatro painéis organizados pelo gerenciador de layout
BorderLayout que os dispõem em orientações “Norte”, “Sul”, “Leste”, “Oeste” e
“Centro”, conforme mostra a Figura 40. Neste projeto não se utilizou um painel na
posição leste.

O tamanho dos painéis é ajustado de acordo com os elementos presentes,


assim é possível delimitar um tamanho ideal, de acordo com a necessidade do
programa, principalmente quando o usuário redimensiona a janela.

Figura 40 - Painéis dispostos na janela JFrame pelo gerenciador de layout BorderLayout.

Fonte: Próprio Autor.

A interface gráfica interativa implementada segue o padrão usual de três etapas


básicas:

i. Gerenciamento dos dados de entrada e saída;


ii. Cálculos numéricos para resolução de um determinado problema;
iii. Visualização gráfica dos resultados. Trata-se de uma interface interativa, pois
estas três etapas são gerenciadas pelo usuário que tem o papel de agente ativo
do processo através do tratamento das ações de evento.

De forma sucinta, o pré-processamento ocorre na leitura dos dados por um


arquivo de entrada ou os dados são inseridos pelo usuário por janelas (interface
gráfica). O processamento acontece na execução dos cálculos, ou seja, ocorre a partir
69

das chamadas dos algoritmos numéricos trabalhando os dados inseridos no pré-


processamento. O Pós-processamento grava os resultados em um arquivo de saída
e gera a partir do processamento resultados relatórios que são exibidos através de
janelas gráficas.

3.6 CLASSES DO APLICATIVO

As classes do aplicativo “E-Curve” foram idealizadas de modo que os dados na


fase de processamento sejam acessados e tratados da maneira mais eficiente
possível. Todas as classes possuem um prefixo padrão (‘EC”), e em seguida finalizam-
se com nomes relacionados às suas funcionalidades. As classes são as listadas a
seguir:

a) EC_Principal: É a classe principal, por meio dela é criado um objeto chamado


“Interface”, que dá o ponto de partida da execução do aplicativo;
b) EC_Interface: Esta compreende a toda a construção da janela (JFrame) e dos
painéis (JPanel) do aplicativo. Esta faz interação com os algoritmos numéricos por
meio da criação de um objeto chamado “dados” e com a classe de desenho por
meio do objeto “desenharArco”;
c) EC_Arquivo: Esta classe é responsável pela abertura dos arquivos de entrada e
saída, bem também como a criação destes;
d) EC_Desenhar: Esta é a classe de desenho, que recebe todos os dados dos
algoritmos numéricos para interpretação gráfica por meio do objeto “dados”;
e) EC_Dados: Classe que contém todos os métodos relacionados com a coleta dos
dados dos arquivos ou da interface, esta é a que fornece todos os dados para que
sejam processados os resultados;
f) EC_PropSec: Esta classe tem a função de calcular as propriedades da seção
inseridas pelo usuário ou que provém de um arquivo de entrada;
g) EC_Cálculos: Esta é a responsável pelo cálculo do Método dos Deslocamentos,
desta se obtém os valores dos deslocamentos, das reações e dos esforços
internos;
h) EC_DEN, EC_DEC, EC_DMF, EC_DEF: Estas classes têm a função de receber
os valores obtidos pelos cálculos e organizarem estes de modo que possam ser
interpretados pela classe de desenho EC_Desenhar.
70

Para o tratamento de dados, empregou-se uma metodologia que Deitel (2010)


denomina como hierarquia de herança. Este recurso possibilita que uma classe tenha
acesso a dados e métodos pertencentes a outra classe, sem alterá-los, ou seja, torna-
se uma medida de segurança para os dados. Dessa forma, o fluxograma abaixo
esquematiza a estruturação de herança das classes do aplicativo (Figura 41). Cada
seta orientada indica que uma classe herda métodos de outra. Vale ressaltar que as
classes EC_Principal, EC_Desenhar e EC_Interface não podem herdar outra classe,
pois a primeira é a classe principal e as outras já herdam, respectivamente, as classes
JPanel, JFrame.

Figura 41 - Fluxograma da hierarquia das classes do Aplicativo E-Curve

Fonte: Próprio Autor.


71

4 APRESENTAÇÃO DO APLICATIVO

Conforme especificado na primeira seção deste trabalho, a sua conclusão


consta de uma apresentação do aplicativo desenvolvido. Esta seção reúne as funções
do programa, contando com o lançamento de alguns exemplos de pórticos curvos,
bem como a apresentação, visualização e validação de seus resultados.

4.1 VISÃO GERAL

A primeira tela, no momento de abertura do Aplicativo “E-Curve” é a que se


apresenta na Figura 42. Conforme apresentado na Seção 3.5, os painéis estão
dispostos e auto ajustados para a interação com o usuário. O painel localizado ao
“Norte” apresenta o menu principal do aplicativo. Neste menu, é possível acessar as
três fases de processamento.

Figura 42 - Tela inicial do aplicativo E-Curve

Fonte: Próprio Autor

O primeiro grupo (Figura 43) consistem nos botões pertinentes à fase de pré-
processamento do aplicativo, nestes pode-se criar um novo arquivo, abrir um arquivo
de entrada existente, salvar ou fechar um arquivo já aberto. Vale ressaltar que, para
acessar os botões da fase de entrada de dados (Figura 44), deve-se ou ter criado um
arquivo novo, ou aberto um existente.
72

Figura 43 - Botões pertinentes à fase de pré-processamento do aplicativo.

Fonte: Próprio Autor.

Figura 44 - Botões pertinentes à fase de entrada de dados do aplicativo.

Fonte: Próprio Autor.

Caso o usuário tenha criado um arquivo novo, para modelagem de uma barra
curva, este terá acesso aos painéis de entrada de dados (Figura 45). Os painéis
englobam a entrada de propriedades da seção transversal, propriedades do material,
modelagem do arco, cargas pontuais e distribuídas. Os dados são armazenados em
vetores e matrizes devidamente dimensionados, para que, posteriormente, sejam
processados, proporcionem a visualização, por parte do usuário e, finalmente, salvos.
73

Figura 45 - Resumo dos painéis pertinentes à entrada de dados pela interface gráfica.

Fonte: Próprio Autor.

Vale ressaltar que em qualquer momento é possível alterar um dado que se


deseja, como propriedades de seção, valores de cargas, sendo suficiente que o
usuário clique nos botões do menu superior. Toda alteração pertinente às cargas,
apoios, barras e rotulações provocará a atualização do painel de desenho, por meio
de ações de evento ligadas às caixas de texto e botões presentes nos painéis.

4.2 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS

Para apresentação dos resultados, deve-se estabelecer como estes serão


apresentados ao usuário. É necessário levar em consideração que estes são divididos
em quatro etapas. Optou-se por manter o mesmo leiaute pertinente à entrada de
dados. Mas, há alguns pontos que foram adicionados de modo a facilitar o seu uso.
74

Com a estrutura adicionada, os resultados poderão ser acessados a partir do


botão “Calcular" do menu superior. O programa tentará analisá-la de acordo com os
métodos descritos neste trabalho, o que pode não ser possível caso a estrutura seja
hipostática (basta verificar o determinante da matriz de rigidez da estrutura). Caso
essa situação ocorra, será mostrada uma janela de diálogo (Figura 46) e o usuário
deverá identificar onde está ocorrendo o problema e prever as alterações necessárias
para que deixe de acontecer.

Figura 46 - Janela de diálogo indicando uma estrutura hipostática

Fonte: Próprio Autor.

Uma vez que seja possível calcular a estrutura, o aplicativo mudará sua
interface para a de exibição dos resultados. Para alternar entre os resultados, há os
botões para mostrar cinco possibilidades de representação: reações de apoio,
diagramas de esforços normais, esforços cortantes, momentos fletores e configuração
deformada da estrutura (Figura 47). Isto permite ao usuário trocar de uma
representação para outra sem que o foco da tela se perca.

Figura 47 - Botões para exibição de resultados na tela

Fonte: Próprio Autor.


75

Além disso, também é possível ajustar a escala destas representações, de


modo a visualizar valores muito altos ou muito baixos mais facilmente no painel inferior
direito. No painel lateral esquerdo é possível checar os valores dos resultados por nó
e por trecho, facilitando, assim, a conferência dos resultados (Figura 48). Os
diagramas são apresentados separadamente. Isto quer dizer que só será possível
visualizar um diagrama por vez.

Figura 48 - Tela de Resultados: Diagrama de Momentos Fletores

Fonte: Próprio Autor.

Outro ponto interessante da possibilidade de variação de escala é que esta


contorna certos empecilhos como diagramas que extrapolam os limites da tela e
valores que se sobrepõem, e ainda proporciona uma visão acentuada dos
deslocamentos da estrutura (Figura 49), evidenciando-se, assim, um aspecto didático
favorável neste ponto, pois por meio da deformação da estrutura, pode-se aperfeiçoar
o discernimento do comportamento estrutural destas.

Figura 49 - Ajuste de escala na configuração de deformada

Fonte: Próprio Autor.


76

4.3 VALIDAÇÃO DE RESULTADOS

Como proposto na metodologia do trabalho, foram feitos testes para assegurar


que os resultados apresentados pelo programa eram coerentes com a realidade,
convergindo àqueles das referências bibliográficas consultadas. A presente validação
consiste em comparar resultados do aplicativo com as bibliografias e com o uso de
ferramentas computacionais que operam no mesmo âmbito. Os pontos analisados
para esta validação foram:

i. Valor das reações nos apoios;


ii. Valor dos diagramas nos nós da estrutura;
iii. Formato dos diagramas;
iv. Formato da deformada;

Vale ressaltar que foi modelado um pórtico curvo no software FTOOL, empregando
os mesmos critérios de diferenças finitas (180 divisões) para verificar o emprego do
Método dos Deslocamentos no aplicativo. Diferentemente da comparação com o
Método Analítico e do software ARCOS, empregado pelas referências consultadas, a
verificação com o software FTOOL deve apresentar valores exatos, tanto em esforços,
quanto em deformações, pois a modelagem é equivalente.

4.4 EXEMPLOS DE APLICAÇÃO

Para validação dos resultados e confirmar o sucesso do programa


confeccionado neste trabalho, executaram-se vários exemplos para que haja
confiança nos resultados gerados. Os resultados foram comparados com a literatura
consultada com pacotes educacionais para análise de estruturas, como o FTOOL e o
software ARCOS.

4.4.1 Exemplo 1: Barra Curva Engastada e Livre

O primeiro exemplo desta seção consiste em uma barra curva circular


engastada e livre (Figura 50), proposta por Miroliubov et al. (1978). Como os valores
das cargas e do raio do pórtico eram literais, adotou-se P = 20kN, r = 10m. Para as
barras, empregou-se seção retangular (0,15m x 0,40m) e módulo de elasticidade de
2,00 x 108 kN/m2 (Estas propriedades de material e de seção transversal foram
empregadas em todos os demais exemplos).
77

Figura 50 - Exemplo de Cálculo 1

Fonte: Adaptado de MIROLIUBOV et al., 1978

Tabela 3 - Comparação dos Resultados do Exemplo 1


Referência de
VA (kN) MA (kNm) VBesq (kN) VBdir (kN) δyC (m)
Solução
Miroliubov et al.
40,00 -600,00 40,00 20,00 -
(1978)
Ftool
(180 diferenças 40,00 -600,00 40,00 20,00 -0,812
finitas)
E-Curve (180
40,00 -600,00 40,00 20,00 -0,812
diferenças finitas)
E-Curve (360
40,00 -600,00 40,00 20,00 -0,812
diferenças finitas)
Fonte: Próprio Autor.

Além dos comparativos resumidos na Tabela 3, faz-se um comparativo dos


diagramas de esforços solicitantes e deformação (Figuras 51 a 54).

Figura 51 - Comparativo do Exemplo 1: DEN

(a) Aplicativo “E-Curve” (b) Ftool 3.0.1


Fonte: Próprio Autor.
78

Figura 52 - Comparativo do Exemplo 1: DEC

(a) Aplicativo “E-Curve” (b) Ftool 3.0.1


Fonte: Próprio Autor.

Figura 53 - Comparativo do Exemplo 1: DMF

(a) Aplicativo “E-Curve” (b) Ftool 3.0.1


Fonte: Próprio Autor
Figura 54 - Comparativo do Exemplo 1: Deformada

(a) Aplicativo “E-Curve” (b) Ftool 3.0.1


Fonte: Próprio Autor.
79

4.4.2 Exemplo 2: Barra Curva Biapoiada

O segundo exemplo de cálculo trata-se de uma barra curva semicircular de raio


r submetida a uma carga pontual P (Figura 55) (SÜSSEKIND, 1981).

Figura 55 - Exemplo de Cálculo 2

Fonte: Adaptado de SÜSSEKIND, 1981.

O comparativo dos resultados numéricos é realizado na Tabela 4 e também do


formato dos diagramas de esforços solicitantes e deformação (Figuras 56 a 59) com
o software Ftool.

Tabela 4 - Comparação dos Resultados do Exemplo 2


Referência de
VA (kN) MB (kNm) VBesq (kN) NBdir (kN) δxC (m) θzC (rad)
Solução
SÜSSEKIND
5,00 50,000 5,000 0,000 - -
(1981)
ARCOS (1985) 5,00 50,000 5,000 0,000 - -
Ftool
(180 diferenças 5,00 50,000 5,000 -0,044 3,125x10-2 1,784x10-3
finitas)
E-Curve (180
diferenças 5,00 50,000 5,000 -0,044 3,125x10-2 1,7837x10-3
finitas)
E-Curve (360
diferenças 5,00 50,000 5,000 -0,022 3,125x10-2 1,7837x10-3
finitas)
Fonte: Próprio Autor.
80

Figura 56 - Comparativo do Exemplo 2: DEN

(a) Aplicativo “E-Curve” (b) Ftool 3.0.1


Fonte: Próprio Autor.

Figura 57 - Comparativo do Exemplo 2: DEC

(a) Aplicativo “E-Curve” (b) Ftool 3.0.1


Fonte: Próprio Autor.

Figura 58 - Comparativo do Exemplo 2: DMF

(a) Aplicativo “E-Curve” (b) Ftool 3.0.1


Fonte: Próprio Autor
Figura 59 - Comparativo do Exemplo 2: Deformada

(a) Aplicativo “E-Curve” (b) Ftool 3.0.1


Fonte: Próprio Autor.
81

4.4.3 Exemplo 3: Arco Triarticulado Parabólico

O terceiro exemplo consiste em um arco triarticulado parabólico submetido a


uma carga distribuída uniforme de q = 10 kN/m (Figura 60). A Tabela 5 apresenta um
resumo dos comparativos realizados.

Figura 60 - Exemplo de Cálculo 3

Fonte: Adaptado de SORIANO, 2007.

Tabela 5 - Comparação dos Resultados do Exemplo 3


Referência de M (x=1,2m) M (x = 2,4m)
VA (kN) H (kN) NC (kN)
Solução (kNm) (kNm)
Soriano (2007) 30,00 30,00 0,00 0,00 -30,00
ARCOS (1985) 30,00 30,00 0,00 0,00 -30,00
E-Curve (200
30,00 30,00 0,00 0,00 -30,00
diferenças finitas)
E-Curve (400
30,00 30,00 0,00 0,00 -30,00
diferenças finitas)
Fonte: Próprio Autor.

O exemplo acima apresentou resultados interessantes, tanto o momento fletor


quanto o esforço cortante resultaram em valores nulos (Figura 61), ou seja, a estrutura
trabalha apenas com esforços normais. Quando isso acontece, diz-se que o arco tem
a forma da linha de pressões do carregamento (SORIANO, 2007). A Figura 62
apresenta a tela de resultados do software ARCOS de Serra (1985).

Figura 61 - Resultados dos Diagramas de Esforços nulos

(a) Aplicativo “E-Curve”: DEC (b) Aplicativo “E-Curve”: DMF


Fonte: Próprio Autor.
82

Figura 62 - Tela de resultados do software ARCOS para o Exemplo 3

Fonte: Próprio Autor.

4.4.4 Exemplo 4: Arco Triarticulado com Desnível

A Figura 63 mostra um arco triarticulado de apoios desnivelados, raio r = 10m


e sob uma força concentrada. A Tabela 6 apresenta um comparativo das soluções
apresentadas por Soriano (2007) e calculadas pelos softwares FTOOL e E-Curve.

Figura 63 - Exemplo de Cálculo 4

Fonte: Adaptado de SORIANO, 2007.


83

Tabela 6 - Comparação dos Resultados do Exemplo 4


Referência de Mc MD
VA (kN) H (kN) NC (kN)
Solução (kNm) (kNm)
Soriano (2007) 13,760 13,760 0,00 87,23 -13,76
Ftool (160
13,760 13,758 0,00 87,237 -13,88
diferenças finitas)
E-Curve (160
13,760 13,758 0,00 87,238 -13,88
diferenças finitas)
E-Curve (320
13,760 13,760 0,00 87,237 -13,76
diferenças finitas)
Fonte: Próprio Autor.

Além dos comparativos sintetizados na Tabela 6, faz-se um comparativo dos


diagramas de esforços e deformação (Figuras 64 a 67) com o software Ftool.

Figura 64 - Comparativo do Exemplo 4: DEN

(a) Aplicativo “E-Curve” (b) Ftool 3.0.1


Fonte: Próprio Autor.

Figura 65 - Comparativo do Exemplo 4: DEC

(a) Aplicativo “E-Curve” (b) Ftool 3.0.1


Fonte: Próprio Autor.
84

Figura 66 - Comparativo do Exemplo 4: DMF

(a) Aplicativo “E-Curve” (b) Ftool 3.0.1


Fonte: Próprio Autor
Figura 67 - Comparativo do Exemplo 4: Deformada

(a) Aplicativo “E-Curve” (b) Ftool 3.0.1


Fonte: Próprio Autor.

4.4.5 Exemplo 5: Anel Autoequilibrado

O exemplo da Figura 68a trata-se de um anel autoequilibrado de seção


transversal constante e raio de 10m (SORIANO, 2006). Determina-se os diagramas
de esforços solicitantes e realiza-se um comparativo dos resultados. Por se tratar de
uma estrutura simétrica, em relação aos eixos x e y, a estrutura pode ser resolvida
conforme o Figura 68b, que é uma vez hiperestática.
Figura 68 – Exemplo de Cálculo 5

(a) Anel autoequilibrado (b) Estrutura a ser calculada


Fonte: Adaptado de SORIANO, 2006.

Na Tabela 7, encontra-se o comparativo dos esforços internos encontrados


pelo software E-Curve comparados com a bibliografia consultada e o software Ftool.
85

Tabela 7 - Comparação dos Resultados do Exemplo 5


Referência de MA MB
NA (kN) NB (kN) δyB (m) δxA (m)
Solução (kNm) (kNm)
Soriano (2007) -2,5 -5,0 22,75 -2,25 - -
Ftool (90
diferenças -2,543 -5,022 22,75 -2,25 1,941x10-3 2,519 x 10-5
finitas)
E-Curve (90
diferenças -2,543 -5,022 22,75 -2,25 1,941x10-3 2,519 x 10-5
finitas)
E-Curve (180
diferenças -2,522 -5,011 22,75 -2,25 1,941x10-3 2,519 x 10-5
finitas)
Fonte: Próprio Autor.

Além dos comparativos sintetizados na Tabela 7, faz-se um comparativo dos


diagramas de esforços e deformação (Figuras 69 a 72) com o software Ftool.

Figura 69 - Comparativo do Exemplo 5: DEN

(a) Aplicativo “E-Curve” (b) Ftool 3.0.1


Fonte: Próprio Autor.
86

Figura 70 - Comparativo do Exemplo 5: DEC

(a) Aplicativo “E-Curve” (b) Ftool 3.0.1


Fonte: Próprio Autor.

Figura 71 - Comparativo do Exemplo 5: DMF

(a) Aplicativo “E-Curve” (b) Ftool 3.0.1


Fonte: Próprio Autor
Figura 72 - Comparativo do Exemplo 5: Deformada

(a) Aplicativo “E-Curve” (b) Ftool 3.0.1


Fonte: Próprio Autor.
87

5 ANÁLISE DOS RESULTADOS

A interface gráfica, bem como a estrutura de dados implementada no aplicativo


desenvolvido, mostraram-se eficiente no tratamento das informações inseridas tanto
em arquivos de entrada, quanto por meio da interface. Os arquivos criados em uma
utilização podem ser abertos e alterados posteriormente.

O Método dos Deslocamentos aplicado ao programa apresentou-se eficaz para


a resolução de barras curvas de qualquer grau de hiperasticidade, bem como também
para obter a configuração de deformada, que são as incógnitas do sistema linear
gerado.

Para a resolução do sistema linear do Método das Deformações, observou-se


a necessidade de empregar uma metodologia de resolução. O método empregado –
Eliminação de Gauss – mostrou-se eficiente na resolução dos sistemas dos exemplos
executados, como pode-se observar no comparativo das deformações encontradas
pelo software Ftool, mesmo que este não seja um programa de Cálculo Numérico.

Quanto ao Método das Diferenças Finitas, nota-se que o mesmo se mostrou


bastante eficiente na aproximação com a solução analítica das bibliografias
consultadas. Vale ressaltar que o emprego de diferenças finitas equivalentes a
intervalos θ = 1º (180 diferenças finitas para elementos de 180º) e θ = 0,5º (360
diferenças finitas para elementos de 180º) foram empregadas, pois estas
configurações foram as que apresentaram resultados mais consistentes, obtiveram
rapidez no processamento e se adequaram de maneira satisfatória com as
representações gráficas de seus diagramas de esforços solicitantes.

De maneira geral, os exemplos apresentaram aproximação satisfatória quanto


a configuração dos diagramas de esforço normal, esforço cortante e momento fletor,
bem como o estado de deformação das estruturas, conforme comparativo realizado
com o software Ftool e Arcos nos cinco exemplos apresentados.
88

Nos exemplos 2, 4 e 5 (ver seções 4.4.2, 4.4.4 e 4.4.5, respectivamente) nota-


se margens de erros nos esforços normais e esforços cortantes, que se devem ao fato
de que o refinamento proporcionado pelo Método das Diferenças Finitas preserva, de
cada nó, as coordenadas, propriedades de material e seção, mas não mantém
precisamente a inclinação da reta tangente à seção, o que só pode ser contornado
refinando ainda mais a discretização. Em contrapartida, os diagramas de momento
fletor e configuração de deformada convergem em seus respectivos resultados, já que
estes não dependem diretamente deste parâmetro.

Vale salientar que os erros apresentados nos exemplos mencionados não se


atribuem ao Método dos Deslocamentos, visto que o comparativo com o software
Ftool proporcionou resultados equivalentes, logo se pode inferir que o refinamento das
diferenças finitas é suficiente para obter resultados bem mais aproximados. Fica a
critério do usuário quanto de refinamento será empregado para o cálculo da estrutura
desejada.

Sobre o emprego das matrizes de rigidez para elementos de barra rotulados,


notou-se que o sistema linear não fornece o valor de rotação do nó em que a rótula
se apresenta, sendo, portanto, necessário desenvolver a Equação da Linha Elástica
do elemento de barra. Como o refinamento das diferenças finitas não proporcionaria
apreciável mudança na representação gráfica, o referido procedimento torna-se
pertinente para implementações futuras, caso se queira trabalhar com pórticos planos
com dimensões mais significativas de elementos de barra.
89

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Um dos pontos mais pronunciados na implementação de um produto é o caráter


globalizante que este assume. Com o decorrer do trabalho, percebeu-se que este
processo abrange muito mais do que somente as ferramentas matemáticas e
analíticas nas quais se baseia, ou mesmo a linguagem computacional que o compõe.
Engloba também aspectos relativos à interpretação gráfica dos resultados, de
performance, além de uma série de conceitos pertinentes à utilização de uma
ferramenta computacional que almeja uma interface mais intuitiva para o usuário.

Deste modo, poder-se-ia demorar na análise da implementação do Método dos


Deslocamentos e no Método das Diferenças Finitas e em quão apto eles estão para o
uso computacional. Contudo, visto que estas metodologias apresentaram eficiência
na apresentação dos resultados, é interessante também que o aplicativo seja avaliado
como produto, especialmente do ponto de vista de um usuário. Deste modo, podem
ser sugeridas possíveis melhorias e adaptações para versões futuras.

É importante que se entenda que o desenvolvimento de um programa é um


processo iterativo. Por isso, não é racional admitir que a sua primeira versão será a
mais eficiente, sendo este próprio aplicativo um exemplo dessa afirmação. Se colocar
em paralelo os objetivos propostos no início do trabalho e o que foi alcançado no
fechamento deste, facilmente se constatará que todas as funcionalidades foram
implementadas e o aplicativo desempenha o papel ao qual se propunha: ser uma
ferramenta educacional para a análise de barras curvas por aproximação pelo Método
das Diferenças Finitas.

No entanto, este tipo de comparação pode relevar alguns atributos significativos


do produto final, pois se limita ao escopo do projeto, não levando em conta outras
possibilidades que nele não estão contempladas. Por fim, aspectos relacionados a
melhorias futuras em qualquer processo de Engenharia de Software associam-se à
experiência do usuário com a aplicação – cuja importância é essencial no
desenvolvimento de um programa de qualidade.
90

6.1 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS

Com base no que foi realizado neste trabalho, alguns pontos podem ser
levantados como trabalhos futuros, não sendo, necessariamente com o emprego da
mesma linguagem de programação:

i. Implementar mais funcionalidades a este aplicativo, como a possibilidade de


inserir apoios deslocáveis, variação de temperatura, recalques de apoio;
ii. Implementar o efeito provocado por deformações por cisalhamento e fazer um
comparativo dos resultados;
iii. Estabelecer rotinas de cálculo para o traçado das Linhas de Influência e
Envoltória de Esforços para as barras curvas;
iv. Aplicar outra metodologia para análise de barras curvas, como métodos de
aproximação por integração.
91

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