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INSTITUTO SÃO BOAVENTURA

MEMENTO MORI: A PROPOSTA ESTOICA SOBRE A


MORTE EM SÊNECA

Aluno: Alyson Rabelo Araújo

Orientadora: Prof. ª Daniela Faria

BRASÍLIA
2022
INSTITUTO SÃO BOAVENTURA

MEMENTO MORI: A PROPOSTA ESTOICA SOBRE A


MORTE EM SÊNECA

Projeto de Pesquisa apresentado ao Curso de


Filosofia do Instituto São Boaventura como
parte dos requisitos necessários para a
conclusão do curso.
Aluno: Alyson Rabelo Araújo
Orientadora: Prof. ª Daniela Faria

BRASÍLIA
2022
2
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO....................................................................................................................... 4
PLANO DE TRABALHO........................................................................................................6
1. JUSTIFICATIVA......................................................................................................... 6
2. OBJETIVOS................................................................................................................. 7
2.1. Objetivo geral........................................................................................................7
2.1.1. Objetivos específicos...........................................................................................7
3. PROBLEMA A SER INVESTIGADO...........................................................................7
4. PROPOSTA DE ESTRUTURA MONOGRÁFICA........................................................8
5. REFERÊNCIAS............................................................................................................ 8

3
INTRODUÇÃO
O trabalho subsequente a esse projeto, tem como preocupação fazer algumas reflexões
sobre o pensamento de Lúcio Aneu Sêneca, político e pensador do século I da era cristã, no
que se refere a morte. Reflexão essa, relevante para a proposta estoica, de auxiliar o indivíduo
em sua busca por uma vida virtuosa e de por ela alcançar a vida feliz. Sêneca aconselha que
devemos refletir sobre a morte de modo a nos prepararmos para o dia em que ela se fizer
presente. Sendo assim, para tal investigação, lançaremos mão não só das Epístolas morais a
Lucílio, bem como, dos diálogos Da tranquilidade da alma, Da brevidade da vida, Da
providência, assim como da Consolação a Políbio e da Consolação a Marcia, que nos
auxiliarão nessa compreensão da morte, proposta por Sêneca.
A formação do homem ideal, isto é, o sábio, era uma preocupação dos estoicos. Para
eles a virtude é imprescindível para se ter uma vida feliz e, principalmente, tranquila, livre de
perturbações. Em Sêneca, há indivíduos de duas categorias: o sábio, que é aquele que vive de
acordo com a natureza e, assim sendo, são felizes; e os insensatos que não seguem o logos, e
por conseguinte, são infelizes, visto que vivem no erro, entregues a uma vida dada aos vícios
e paixões.
Assim sendo, na reflexão filosófica de Sêneca a filosofia tem como principal
preocupação a formação do homem, tendo em vista a prática da virtude e dessa forma, uma
vida feliz. Para ele, a filosofia deve direcionar o homem na vida, orientando-o no que deve ser
feito e no que deve ser repudiado. Como um guia para se libertar dos vícios e paixões, para
percorrer o caminho da virtude e da sabedoria, a fim de viver uma vida feliz e livre. Assim, a
filosofia é tida como uma pedagoga, como uma terapia, uma espécie de medicina para as
dores da alma, pois como diz o filósofo, “sem ela ninguém pode viver intrepidamente ou em
paz de espírito.”.1
A filosofia definia-se no exercício da própria virtude e, portanto, deveria manifestar-se
na vida, por tal motivo, ela se preocupa em ser sobretudo prática. Ela não deveria se limitar
em ser apenas a aquisição de um conhecimento, sendo apenas teórica, mas traspor isso. O
ideal estoico-senequiano é que ao invés de somente conhecê-la, ela seja vivida no cotidiano,
de modo que transpareça nas ações e não em discursos. Tendo em vista a busca do homem
pela virtude, pela tranquilidade da alma e pela sabedoria, Sêneca propõe uma reflexão de
grande relevância nesse processo de autoformação: a meditação sobre a morte.

1
SÊNECA, Ep. XVI, 3.
4
Em Sêneca, a grande lição a ser aprendida na formação do homem, gira em torno do
saber morrer, que, por sua vez, está intrinsecamente ligado ao saber viver. A filosofia não é
apenas a arte de viver, mas se constitui também na arte de morrer: o homem deve ser formado
para viver e morrer. No saber viver está ancorado o saber morrer e vice-versa. Sêneca parte do
saber viver, propondo uma inflexão. Assim, toda a atividade filosófica e toda a vida acabam
por se tornar uma preparação para a morte. Como ele mesmo diz “Deve-se aprender a viver
por toda a vida, e, por mais que tu talvez te espantes, a vida toda é um aprender a morrer” 2.

Muitos homens se apegam e agarraram-se à vida, assim como aqueles


que são levados por uma correnteza e se apegam e agarram-se a
pedras afiadas. A maioria dos homens anda a deriva e flui em miséria
entre o medo da morte e as dificuldades da vida; eles não estão
dispostos a viver, e ainda não sabem como morrer. (SÊNECA, Ep IV,
5.)

A morte sempre nos foi apresentada como algo ruim. Morrer era, e ainda é para
alguns, sinônimo de escuridão eterna, de sermos lançados nas trevas, num obscuro horrendo.
Foi nos incutido o medo da morte, o que, no entanto, parece mais ser medo do pós-morte do
que da morte mesma, e que, de igual modo, nos angustia, nos tortura, nos impede de termos
uma vida tranquila. É justamente por isso que Sêneca destaca a fundamental importância de se
meditar sobre a morte. Pois, sendo ela tida como ameaçadora e angustiante, a ele ao contrário,
ela lhe conferia consolo e paz; alívio das tristezas e angústias da vida. “A morte é uma
libertação de todas as dores e o término além do qual os nossos males não ultrapassam; ela
nos leva de volta àquela tranquilidade, na qual jazíamos antes de nascer.”3
Por se tratar de um fenômeno natural e esperado – morrermos a cada dia, desde o dia
em que nascemos –, Sêneca nega ser a morte um mal e, portanto, rejeita toda possibilidade de
se temê-la, dado que temê-la é que seria um mal, afinal ela é parte integrante de nossa
existência. Partindo desse princípio, o homem deve ser orientado a caminhar na perspectiva
da morte, a fim de que aproveite o tempo que lhe é disponível, de modo a viver na virtude,
tendo sempre junto a si a meditação sobre a morte, certo de que ela é como uma porta para a
libertação dos transtornos que a vida lhe impõe.

2
Sobre a brevidade da vida, VII, 3-4.
3
Consolação a Márcia, XIX, 5.
5
PLANO DE TRABALHO

1. JUSTIFICATIVA

Destacamos a relevância pessoal e social de tal investigação acerca da morte. Sêneca


traz em suas obras várias reflexões sobre os mais diversos temas, e todos confluem para um
mesmo objetivo: a busca pela tranquilidade da alma e à vida feliz. E um desses temas, e que
por sua vez, de certa forma, aparece em todas suas obras é a morte. Parece-nos que o medo da
morte nos impede de experienciá-la de maneira tranquila, e faz-nos ver com maus olhos a
única certeza que temos na vida. Sêneca, portanto, destaca que o homem deve ser formado
para a morte, e aconselha-nos a viver refletindo-a, a lembrarmo-nos dela, a aceitá-la de
maneira natural, a fim de não sermos pegos de surpresa quando ela se fizer presente. A
virtude não está no morrer, na morte em si, mas está no homem que recebe a visita da morte e
por ela não se perturba. Além do mais, o memento mori, não é somente aprender a morrer,
mas também aprender a viver a morte daqueles que amamos.

A importância de tal investigação está também no fato de que, em Sêneca, ser formado
para a morte é também ser formado para a vida, dado que no saber morrer está ancorado o
saber viver. O fato de meditar a morte e de aceitá-la como natural e intransferível, permite que
o homem se torne consciente de que o essencial na vida não é somente aproveitar o tempo que
lhe resta, mas de além disso, viver uma vida digna e virtuosa, independente de ser longa ou
não, dado que – na concepção senequiana – nos é concedido o tempo necessário para isso.

Sêneca tem a pretensão de não somente escrever para seus contemporâneos, mas
sobretudo de deixar algum ensinamento válido àqueles que, porventura, viriam a ter acesso a
seus escritos. Suas obras querem tocar o leitor, a fim de não somente refletir em seus atos,
bem como, de modifica-los a fim de viver uma vida na virtude e atingir a condição de sábio,
de acordo com o que a filosofia estoica preconizava.

Um fato peculiar em Sêneca, é que ele sugere que tal conhecimento deve estar
disposto em palavras simples, com o intuito de serem apreendidas e fixadas na memória, de
tal maneira que possam ser exaladas no viver cotidiano. Concebemos exatamente nesse ponto,
uma outra importância dessa nossa reflexão, todavia sendo essa de cunho acadêmico e,
sobretudo, filosófico. O filosofo propunha que a filosofia era, portanto, quem tinha o objetivo

6
de orientar o homem, de formá-lo para a vida e para a morte. Em virtude disso, ela não
deveria ser a mera aquisição de conhecimentos, mas aquela que possibilita que tais
conhecimentos sejam vividos na vida. Portanto, uma filosofia que se preocupa em ser prática.
A proposta de uma Filosofia prática, vivida, encarnada. Uma filosofia com a preocupação de
formar o homem para o exercício da virtude e sabedoria, a fim de que este se afaste dos
vícios, e males que o atormenta. Filosofia como espécie forma de medicina para as dores da
alma.

2. OBJETIVOS

2.1. Objetivo geral

Buscamos apresentar quais as reflexões trazia a filosofia estoico-senequiana sobre a


morte, tendo em vista que saber morrer está ancorado ao saber viver. E de que modo os
indivíduos que tiverem acesso aos textos de Sêneca poderiam aprender acerca deste tema que
é tão caro ao filósofo, de modo a manterem a tranquilidade diante da única certeza de que
temos na vida.

2.1.1. Objetivos específicos

 Apresentar de maneira breve a filosofia estoica de modo a situar Sêneca no


contexto estoico.
 Apontar a proposta senequiana da filosofia como exercício da virtude e
elemento fundamental na formação do homem ideal.
 Investigar a meditatio mortis como parte da busca do homem por uma vida
virtuosa e tranquila.

3. PROBLEMA A SER INVESTIGADO

Qual é a importância de se ter sempre presente a meditação sobre a morte? Dado que
morrer é um fato natural e inexorável, toda a nossa vida deve ser um prover-se para a morte, a
7
fim de a experimentarmos mais tranquilamente. O tema proposto será abordado a partir de
uma visão histórica da filosofia estoico-senequiana quanto a questão da morte. Pretende-se
conhecer o estoicismo, sua história e filosofia, bem como, a vida e a filosofia de Sêneca. Para
tal investigação, abordaremos o método de revisão bibliográfica, usando de algumas das
Epístolas morais a Lucílio, bem como, dos diálogos Da tranquilidade da alma, Da brevidade
da vida, Da providência, assim como da Consolação a Políbio e da Consolação a Marcia,
que nos auxiliarão nessa compreensão da morte, proposta por Sêneca.

4. PROPOSTA DE ESTRUTURA MONOGRÁFICA

 Sêneca e o estoicismo.
o A filosofia estoica.
o Sêneca: Vida e Filosofia.
 O homem sábio em Sêneca.
o A filosofia como exercício da virtude.
o O bem-viver como princípio para o saber-morrer.
 A Meditatio Mortis.

5. REFERÊNCIAS

BRUN, J. O estoicismo. Lisboa: Edições 70, 1986.


GAZOLLA, Rachel. O ofício do filósofo estóico: o duplo registro do discurso da Stoa. São
Paulo: Edições Loyola, 1999.
LI, William. Introdução. In: SÊNECA. Sobre a brevidade da vida. Tradução, Introdução e
notas de William Li. São Paulo: Nova Alexandria, 1993.
SEGURADO E CAMPOS, J.A. Introdução. In: SÊNECA. Cartas a Lucílio. Tradução: J.A.
Segurado e Campos. 5. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2014.
SÊNECA. Sobre a brevidade da vida. Tradução, Introdução e notas de William Li. São Paulo:
Nova Alexandria, 1993.
_______. Consolação a Políbio. Trad. Matheus Trevizam. Minas Gerais: FALE/UFMG.
2007.

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_______. Cartas a Lucílio. 5. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2014.
_______. Consolação a minha mãe Hélvia. Tradução e notas: Giulio Davide Leoni. São
Paulo: Nova Cultural, (Os Pensadores) 1988.
_______. Consolação a Márcia. Trad. Monica Seincman. Revista Latinoamericana de
psicopatologia fundamental, vol. 10, núm, 1, março 2007.
________. Cartas de um estoico, Volume I. Um guia para a Vida Feliz / Sêneca. Introdução,
tradução e notas de Alexandre Pires Vieira. 2 ed. São Paulo: Montecristo Editora, 2021.
________. Introdução. In: Cartas de um estoico, Volume II. Um guia para a Vida Feliz /
Sêneca. Introdução, tradução e notas de Alexandre Pires Vieira. 2 ed. São Paulo: Montecristo
Editora, 2021.
________. Introdução. In: Cartas de um estoico, Volume III. Um guia para a Vida Feliz /
Sêneca. Introdução, tradução e notas de Alexandre Pires Vieira. 2 ed. São Paulo: Montecristo
Editora, 2021.
STOCK, St. George William Joseph. Introdução. In: Estoicismo, Guia Definitivo. Introdução,
tradução e notas de Alexandre Pires Vieira. 1 ed. São Paulo: Montecristo Editora, 2020.
ULLMANN, Rinholdo A. O Estoicismo Romano: Sêneca, Epicteto, Marco Aurélio. Porto
Alegre: EDIPUCRS, 1996.
HOLLAND, Francis Caldwell. Sêneca. Vida e Filosofia. Introdução, tradução e notas de
Alexandre Pires Vieira. 1 ed. São Paulo: Montecristo Editora, 2020.
VEYNE, Paul. Sêneca e o estoicismo. Trad. André Telles, São Paulo: Três Estrelas, 2015.

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