Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
100
A Química do amor
Destaque
PAULO RIBEIRO-CLARO*
O
amor é um fenómeno neurobioló-
gico complexo, baseado em acti- No passado mês de Fevereiro, a rádio TSF emitiu um programa
vidades cerebrais de confiança, crença,
“Eureka” especial dedicado ao Dia dos namorados. O tema do
prazer e recompensa, actividades essas
que envolvem um número elevado de programa foi “A Ciência do Amor e o Amor na Ciência”. O pre-
mensageiros / actores químicos (T. Esch, sente texto reproduz os apontamentos reunidos para a grava-
G.B. Stephano, The neurobiology of ção da componente “a química do amor”.
love, Neuroendocrinology Letters No.3
26 (2005); H.E. Fisher, Why We Love:
The Nature and Chemistry of Romantic
What an interesting phenomenom love is!
Love, Henry Holt and Company, New
York, 2004).
(T. Esch, G.B. Stephano – The neurobiology of love, 2005)
100
apreciada para os namorados, ou para
Destaque
Dopamina (3,4-dihidroxi-feniletilamina) ser tantas vezes a compensação para
A presença de elevados níveis de dopamina um amor não correspondido? Aparen-
no cérebro parece ser uma característica dos
recém-apaixonados (A. Bartels, S. Zeki, The temente, a feniletilamina é degradada
neural basis of romantic love, Neuroreport rapidamente no sangue, pelo que não
11 (2000) 3829-3834; A. Aron, H.E. Fisher
haverá possibilidade de atingir uma
H, D.J. Mashek, et al., Reward, motivation,
and emotion systems associated with concentração elevada no cérebro por
early-stage intense romantic love, Journal ingestão...
of Neurophysiology 94 (2005) 327-337).
O papel da dopamina é muito importante no A feniletilamina controla a passagem da
mecanismo de desejo e recompensa e os seus
efeitos no cérebro são análogos aos da cocaína. fase do desejo para a fase do amor e é
É um verdadeiro licor do amor. um composto químico com um efeito
poderoso sobre nós... tão poderoso, que
pode tornar-se viciante. Os dependentes
da feniletilamina – e dos seus auxilia-
Seretonina
res – tendem a saltar de romance em
Os baixos níveis de serotonina, por seu lado,
romance, abandonando cada parceiro
parecem estar associadosà fixação no ser
amado. A Prof. Donatella Marazziti (Univ. logo que o cocktail químico inicial se
Pisa) no decorrer dos seus estudos com desvanece. Quando permanecem casa-
doentes que sofriam a perturbação obsessiva
compulsiva, descobriu que os baixos níveis de dos, os viciados do amor são frequen-
serotonina de quem se apaixona se aproximam temente infiéis, na busca de mais uma
dos níveis característicos desta doença mental
dose de excitação extra. Mas este tipo
(D. Marazziti, H.S. Akiskal, A. Rossi, et
al., Alteration of the platelet serotonin de viciados tem um problema: o nosso
transporter in romantic love, Psychological corpo desenvolve naturalmente a to-
Medicine 29 (1999) 741-745): aparentemente,
o amor deixa-nos loucos – de verdade! lerância aos efeitos da feniletilamina e
cada vez é necessário maior quantidade
para provocar o mesmo efeito.
100
verificou-se que a inalação de oxitocina xima de outras fêmeas nem admite a A escolha do parceiro
Destaque
100
cialmente em estímulos visuais. No específico para detectar feromonas – o
Destaque
entanto, hoje já é mais ou menos con- chamado órgão vomeronasal, presente
sensual na comunidade científica que a no nariz de vários mamíferos. Se assim
espécie humana também tem a capaci- for, então a espécie humana possui de
dade de distinguir o genes do parceiros facto seis sentidos para se aperceber do
através do cheiro e que a visão pode ter mundo que nos rodeia, sendo o sexto
um papel mais secundário (A. Comfort, sentido a capacidade de detectar fero-
Likelihood of human pheromones, Na-
monas (R. Taylor, The sixth sense – Your
ture 230 (1971) 432; A. Weller, Human
schnozzle may be receiving lewd mes-
pheromones – Communication through
sages from the opposite sex, New Scien-
body odour, Nature 392 (1998) 126-
tist, 36 (1997)).
-127; K. Stern, M.K. McClintock, Regu-
lation of ovulation by human pheromo- Hoje já é possível encontrar – particu-
nes, Nature 392 (1998) 177-179 ; A. larmente através da internet – inúmeras
Motluk, New Scientist, 7 (2000). marcas de perfume que se anunciam