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O USO DO VÉU EM CORINTO

"Mas toda a mulher que ora ou profetiza com a cabeça descoberta, desonra a sua
própria cabeça, porque é como se estivesse rapada. Portanto, se a mulher não se
cobre com véu, tosquie-se também. Mas, se para a mulher é coisa indecente tosquiar-
se ou rapar-se, que ponha o véu. O homem, pois, não deve cobrir a cabeça, porque é a
imagem e glória de Deus, mas a mulher é a glória do homem" (1Co 11.5-7 ACF)
● Comentário teológico sobre o uso do véu em ICo 11.5
Por Paulo Andrade

Introdução
Neste comentário, procuramos refutar, algumas falácias concernentes ao uso do véu e
o corte de cabelo, no contexto de Corinto.
Paulo enfatiza algumas determinações alusivas ao assunto, como princípios morais e
eternos ou como princípios circunstanciais? Teríamos algum respaldo, à luz da
Hermenêutica Bíblica, para determinar o uso do véu para os dias atuais? Seria uma
falta de decência, das mulheres cristãs a não utilização do véu?
Porque as mulheres judaicas usavam o véu? E as Helênicas não usavam? E porque era
proibido as mulheres contemporâneas do Apóstolo Paulo de ter os cabelos rapados?
● Tradução literal
“Toda mulher orando ou profetizando descoberta com a cabeça desonra a cabeça
dela;”
● Exegese teológica
Neste trecho o vocábulo mais discutido é sobre a questão do uso do véu; o que o
apóstolo Paulo quis nos ensinar? Seria este um ensino de valores eternos ou
circunstanciais? E qual a utilização do uso do véu hoje?
● Primeiro: À luz do contexto. O escritor fala sobre uma hierarquia na criação I Co 11:3,
ordem na criação I Co 11:7-9.
● Segundo: Discorrendo no contexto cultural, observamos que, a cidade de Corinto era
estrategicamente estabelecida; foi uma autêntica metrópole, abrigando judeus, gregos
e romanos. Portanto, havia uma miscigenação de raças e de culturas.
A cidade fornecia mais divertimento e opções culturais que outros portos menos
importantes. Lá ficava o único anfiteatro (uma construção romana) da Grécia com
capacidade para mais de 20.000 espectadores. O grande templo de Afrodite, sendo a
deusa identificada com a lascívia e com a prostituição cultural, seu templo abrigava
mais de 1.000 prostitutas.
• A cultura de Corinto não era judaica, mas grega e fortemente influenciada pelos
viajantes romanos que lá passavam. Portanto eles se vestiam, comiam e se portavam
diferentes dos judeus.
● Terceiro: O uso do véu.
Para os judeus era um costume antigo, que representava a decência das mulheres –
Submissão das mulheres.
● Quarto: No caso de Corinto, temos um costume das prostitutas (sacerdotisas do
templo de Afrodite) terem a cabeças rapada, e também as mulheres gregas que não se
prostituíam tinham o cabelo comprido, porém não usavam o véu.
Então concluímos; numa cultura a não utilização do véu poderia ser motivo para o
divórcio, também poderia ser uma forma de lamento, ter a cabeça rapada ou indicar
uma mulher culpada de adultério.
• As sacerdotisas do templo de Afrodite raspavam a cabeça e conforme um costume
local, elas teriam que se entregar a algum desconhecido sexualmente, uma vez por
ano (havia em Corinto mil prostitutas – sacerdotisas de Afrodite).
● Quinto: Enfatizamos, que Paulo não ensinava nesta passagem bíblica, princípios
morais eternos, e assim circunstanciais, ou seja, cultural. O ensino era que, por uma
questão de coerência, aqueles que quisessem manter a tradição do uso do véu
hebraico deveriam também preservar o uso dos cabelos compridos presentes na
cultura helênica.
● Segundo alguns eruditos “Isto porque, da mesma forma que uma mulher sem o véu
era considerada prostituta pelos judeus, uma mulher com a cabeça rapada era tida
como meretriz pelos gregos”.
A decência nesta questão não seria o comprimento do cabelo, nem tão pouco o uso do
véu. E sim a decência com que a mulher se apresentava na igreja e na sociedade.
É possível, encontrar ainda hoje, em pleno século XXI, seguimentos religiosos diversos
que respaldando-se na sua cultura,cosmovisão religiosa ou na interpretação de trechos
bíblicos sem considerar o seu contexto, criam normas,regulamentos para legitimar nos
seus seguidores mecânismos de controle. Doravante,é preciso pois,respeitar os
costumes de cada seguimento religioso, ou seja, aqueles que proibem por exemplo: o
corte de cabelo para as mulheres, ou o uso de calças compridas, sem contudo
condicionar ou até mesmo atrelar a salvação de uma alma a observância irrestrita aos
mesmos. Pois, conforme o conceito paulino “não vem das obras para que ninguém se
glorie”.
● Segundo a Hermenêutica Bíblica, devemos interpretar o texto dentro dos contextos:
Histórico, geográfico, sintático, gramátical, lexicológico, teológico e doutrinal.
Portanto,a lei geral diz:
• “Que um texto fora do seu contexto, servi de pretexto”.
Não há qualquer restrição bíblica, hoje quanto ao corte de cabelo ou a proibição do
uso de calças comprindas para mulheres. Deve-se respeitar o contexto religioso e
cultural que o seguidor(a) estão inseridos. Entretando, salientando sobretudo que,
nenhuma tradição, norma cultural está acima das Escrituras sagradas. (Paulo Andrade)

Conclusão
A MULHER CRISTÃ PRECISA USAR VÉU?
Alguns religiosos dizem que a mulher que corta os seus cabelos vai para o inferno.
Outros ainda acrescentam que é importante e necessário o uso do véu no culto. Alguns
chegam a arvorar que o cabelo, quando cortado, devido a sua importância e santidade,
é misteriosamente guardado em uma caixa de ouro celestial! Isso é absurdo! Não
passa de uma lenda para provar uma doutrina sem o devido embasamento teológico!
O texto mal interpretado é I Co 11.1-16.
Logo abaixo iremos mostrar que o cabelo e o véu, ou qualquer doutrina que o homem
possa engendrar, jamais poderá substituir a Graça de Deus.
Todavia, para extrairmos uma interpretação correta do referido texto, iremos analisar
a opinião de alguns teólogos e historiadores, que com toda segurança e sinceridade
escreveram sobre o assunto.
● “Paulo sustenta que o homem é a cabeça da mulher. Este fato subentende a
subordinação da mulher. Deste modo, estabelece-se uma cadeia de comando: Deus,
Cristo, o homem, a mulher. A partir desta proposição deduzem-se decorrências
práticas. As mulheres estão erradas, se de qualquer forma, modificam suas diferenças
em relação aos homens. Esta admoestação é verdadeira em qualquer circunstância.
Paulo dá o exemplo da diferença no vestir. Uma das maneiras de se ver esta diferença
estava na maneira dessas mulheres manterem o cabelo. Este devia permanecer de tal
maneira que distinguissem os homens das mulheres. O cabelo da mulher simbolizava
sua submissão e lealdade a seu marido (por causa do costume da época). Paulo
também declara que o cabelo longo é uma vergonha para o homem.” ( Dr. Stamps )
● “A mulher cobria a cabeça nos dias de Paulo, como sinal de modéstia e subordinação
ao marido, e para demonstrar a sua dignidade. O véu significava que ela devia ser
respeitada e honrada como mulher casada. Sem véu, ela não tinha dignidade; os
homens não respeitavam mulheres sem véu, pois deste modo elas se exibiam pública e
indecorosamente. Sendo assim, o véu era um sinal do valor, da dignidade e da
importância da mulher conforme Deus a criou (conceito da época). O princípio
subjacente no caso do véu, ainda é necessário hoje. A mulher cristã deve vestir-se de
modo modesto e cuidadoso, honroso e digno, para sua segurança e seu devido
respeito aonde quer que for. A mulher , ao vestir-se de modo modesto e apropriado
para a glória de Deus, ressalta a sua própria dignidade, valor e honra que Deus lhe deu.
Era costume oriental, no tempo dos apóstolos, a mulher cobrir o rosto com o véu
quando andava nas ruas , porém podia dar-se o caso, enquanto ela lavava roupa no
córrego, passar algum homem, e encará-la. Mesmo assim, no caso de não ter o véu
disponível, teria um recurso: cobrir o rosto, com o seu cabelo comprido. Assim ela ter
cabelo comprido lhe era “honroso”, mostrando que não era mulher destituída de
pudor.” (Bíblia Explicada)
● “Era costume nas cidades gregas e orientais as mulheres cobrirem a cabeça, em
público, salvo as mulheres devassas (prostitutas). Corinto estava cheia de prostitutas,
que funcionavam nos templos (de Afrodite). Algumas mulheres cristãs, prevalecendo-
se da liberdade recém achada em Cristo, afoitavam-se em por de lado o véu nas
reuniões da igreja, o que horrorizava as outras mais modestas. Diz-lhes o apóstolo que
não afrontem a opinião pública com relação ao que é considerado conveniente à
decência feminil. Homens e mulheres têm o mesmo valor a vista de Deus. Há, porém,
certas distinções naturais entre homens e mulheres, sem as quais a sociedade humana
não poderia existir. Mulheres cristãs vivendo em sociedade pagã (pessoas que não
conhecem a Deus), devem ser cautelosos sem suas inovações, para não trazer
descrédito à sua religião. Geralmente vai mal quando as mulheres querem parecer
homens.” (Manual Bíblico do Dr. Halley)
• Não devemos dar valor ao que não é valorizado
A verdade é que o uso do véu era algo peculiar da igreja dos Coríntios, era um
problema local. Não podemos transformá-lo em doutrina universal para a igreja!
Mesmo porque, o apóstolo dos gentios nunca ensinou sobre o uso do cabelo e do véu
para outras igrejas. Em nenhuma outra epístola iremos encontrar tal ensinamento.
Contudo se as mulheres de hoje fossem praticar o uso do véu, teriam que usá-lo fora
da igreja também como fazia as mulheres da época, e não somente durante o culto!
Tudo isso mostra a incoerência de alguns em sustentar uma doutrina extra-bíblica.
É oportuno chamar a atenção para dois textos do V.T sobre esse tema:
“Então, se rapará” (aqui está se referindo a purificação do leproso,
independentemente do sexo)- Levítico 13.33
“Então, a trarás para a tua casa, e ela (a mulher) rapará a cabeça”. (lei acerca da
mulher prisioneira) – Deuteronômio 21.12
Nestes dois textos vemos a Lei de Deus determinar que o cabelo da mulher fosse
rapado.
No primeiro caso temos a purificação da mulher leprosa, que quando curada da lepra
tinha que rapar totalmente a sua cabeça. Depois, o caso da mulher que era presa nas
guerras e trazida para o meio do povo de Deus, esta para ser recebida entre o povo,
deveria rapar a cabeça.
Deus poderia curar a mulher leprosa sem ser necessário determinar que sua cabeça
fosse rapada. A mulher capturada na guerra poderia ser recebida entre o povo judeu
sem precisar ter o seu cabelo cortado. Conjecturamos, diante dos textos bíblicos, que
“se o cabelo fosse tão importante, como muitas vezes é pregado, será que nesses dois
textos Deus ordenaria o seu corte a ponto de que essas mulheres ficassem totalmente
rapadas?”
A exegese correta, do referido texto de I Co 11.1-16, ocorre quando fazemos uma
contextualização antropológica dos costumes dos povos primitivos (Cf. Gênesis 38.14-
15). Comparando o texto da carta de Paulo com o livro de Gênesis chega-se a
conclusão que o cabelo e o véu são uma questão de cultura e costumes dos tempos
bíblicos. Para os coríntios o cabelo (que era dado em lugar do véu), é sinônimo de
santidade e honra, mas o mesmo véu em Gênesis é usado como disfarce para Tamar
(nora de Judá) passar-se por uma prostituta. Não podemos entender isso se não
levarmos em conta os costumes da época e seus valores culturais.
Endossamos plenamente o que Paulo disse: “Mas, se alguém quiser ser contencioso,
nós não temos tal costume, nem tampouco as igrejas de Deus” (I Co 11.16).
Pense nisso!"

O VÉU SOBRE A CABEÇA


Outro assunto polêmico e também motivado por questões culturais é a cobertura da
cabeça das mulheres com o véu nos cultos. O texto que serve de base para a CCB é
escrito por Paulo nos seguintes termos: "Mas toda mulher que ora ou profetiza com a
cabeça descoberta, desonra a sua própria cabeça, porque é como se estivesse rapada.
Portanto, se a mulher não se cobre com véu, tosquie-se também. Mas, se para a
mulher é coisa indecente tosquiar-se ou rapar-se, que ponha o véu. O homem, pois,
não deve cobrir a cabeça, porque é a imagem e glória de Deus, mas a mulher é a glória
do homem [...] Portanto, a mulher deve ter sobre a cabeça sinal de poderio, por causa
dos anjos" (1Co 11.5-10).
Segundo a revista Moda noiva, há anotações históricas sobre o uso de véu em diversas
culturas. "Em geral, esse assessório feminino está associado a costumes religiosos, mas
também já foi usado para proteção e até para sedução". Veja o leitor como o costume
de uma sociedade pode relativizar o significado de uma peça de vestuário.
No contexto islâmico, Yasmin Anukit, especialista em museologia e sagrado feminino,
lembra que "Mohamed instituiu o uso do véu a partir do século 6o, na Arábia, para que
as muçulmanas também gozassem da mesma dignidade das demais seguidoras entre
os povos da Bíblia [...] seu uso simbolizava a elevação espiritual da condição feminina
[...] Com o tempo, na forma de burkas, xadors e abayas, o véu veio a cair nas mãos de
uma intolerância patriarcal cada vez maior, tornando-se motivo de apologia entre os
fundamentalistas da Arábia Saudita, radicais do Irã pós-Khomeíni, talibãs afegãos e
guerrilheiros do Hamas, na Palestina. Para esses, o véu tornou-se uma arma de
controle e exclusão, privando a mulher de escolha quanto à sua própria indumentária
[...] hoje em dia, eventualmente, esta questão se reverte, pois muitas mulheres
muçulmanas passam a reivindicar o uso do véu, tanto no Oriente Médio quanto na
Europa, como uma afirmação de identidade religiosa e como um ato de resistência
cultural".
Nesse contexto de afirmação religiosa, no ano retrasado, a França proibiu legalmente
o uso do véu pelas muçulmanas em lugares públicos, a fim de tentar minorar e
afrontar a influência dos cinco milhões de islâmicos que vivem no país. Segundo
informações do site "Jornalismo educativo", a multa para quem utilizasse os trajes
seria de 150 euros, o equivalente a aproximadamente 342 reais. O homem que
obrigasse sua esposa a usar o véu poderia ser multado em até 30 mil euros (68 mil
reais) e ser condenado a um ano de prisão. O presidente da França, Nicolas Sarkozy,
chegou a dizer publicamente que os muçulmanos que não se adaptassem aos
costumes das comunidades francesas não seriam bem-vindos no país. Para ele, a burca
é um símbolo de servidão e contrário à ideia da república francesa sobre a dignidade
da mulher.
● Esses comentários vêm nos mostrar o quanto o uso do véu está relacionado aos
costumes e culturas. Então, a pergunta central para o entendimento da sequência
bíblica aos coríntios é por que as mulheres daquela cidade precisavam usar o véu? Será
que as razões que justificavam essa necessidade, naquela época e espaço, ainda
subsistem hoje, em nossa sociedade? Será que os membros da CCB já ouviram ao
menos falar dessas razões? Qual foi o contexto da recomendação de Paulo aos
coríntios?
Como comenta o professor Caramuru Afonso, a cidade de Corinto tinha uma situação
privilegiada. Localizava-se no extremo ocidente, entre a Grécia central e o Peloponeso
(península do sul da Grécia), o que conferia condições para controlar muitas rotas
comerciais. Foi uma cidade próspera e cosmopolita, ou seja, que atraía gente de todas
as partes do mundo. Como se não bastasse, enquanto cidade grega, Corinto foi centro
de adoração a Afrodite, a "deusa do amor", de tal sorte que logo ali se estabeleceram,
também, diversos cultos a deuses de fertilidade, e a cidade era conhecida pelo número
de "prostitutas cultuais". Para se ter uma ideia, o historiador e geógrafo grego
Estrabão (64/63 a.C. - 24 d.C.) afirmou que, em Corinto, havia cerca de mil prostitutas
cultuais na sua época.Mas, o que tem a ver isso com o uso do véu? O fato é que o
apóstolo Paulo não escreve a sequência de versículos destacada no início desse tópico
para discutir sobre o uso do véu em si mesmo, mas para tratar sobre a posição da
mulher na sociedade, especialmente sobre sua submissão, em amor, devida ao seu
marido. Naquela época, uma mulher sem o véu, na igreja ou fora dela, podia indicar
pelo menos três condições sociais:luto, adultério ou, ainda, sua identificação com o
exercício da prostituição, praticada em cada esquina de Corinto.Assim, perguntamos
aos defensores do véu: hoje, em nossa sociedade, a ausência do véu significa qualquer
uma dessas coisas? Alguém em sã consciência ousaria rotular uma mulher de adúltera
por não usar o véu? Ou arriscaria consolá-la por causa de seu suposto luto? Ou, ainda
mais grave, consideraria uma mulher sem véu como prostituta? Qual é o critério de
vestuário que um fornicador contumaz dos nossos dias empregaria para identificar
uma meretriz na praça? Seria a ausência do véu? É óbvio que não! Está claro que essa
simbologia se perdeu com o decorrer dos séculos e se tornou obsoleta entre os
cristãos atuais.
● Como explica R. N. Champlin, acreditamos que "a ordem divina dos poderes, de
hierarquias, de quem deve estar sujeito a quem, pode ser mantida hoje, sem os sinais
externos, como, por exemplo, o uso do véu". Essa exposição não significa, contudo,
que devemos pregar contra o uso do véu. Apenas quer nos elucidar que o propósito
que justifica seu uso não faz mais sentido, o que torna inconsistente a condenação que
alguns membros da CCB promovem às mulheres evangélicas de outras denominações
que não observam semelhante costume.
Mais uma vez, portanto, o problema não está em observar um costume oriental, mas,
sim, dogmatizá-lo e usá-lo como emblema de santificação e superioridade. Estamos
novamente diante de uma questão cultural e não doutrinária. (Elvis Brassaroto Aleixo)
**

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