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Sobre As Igrejas Vazias e o Vazio Das Igrejas - Refletindo Tomáš Halík
Sobre As Igrejas Vazias e o Vazio Das Igrejas - Refletindo Tomáš Halík
O Sr. Padre Francisco lembrou-se de me desafiar a ler um “pequeno” ensaio, “O Sinal Das Igrejas Vazias. Para Um
Cristianismo Que Volta A Partir”1, de um teólogo atual, Tomáš Halík, e a escrever sobre o mesmo. Ler Tomáš Halík
é em si mesmo desafiante, de tão interpelante e profunda que é a sua reflexão. Ler, refletir e escrever um texto,
que outros lerão, triplica o desafio…
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Halík, Tomáš (2020). O Sinal Das Igrejas Vazias. Para Um Cristianismo Que Volta A Partir. Paulinas Editora. Disponível em:
https://www.paulinas.pt/loja/autores/tomas-halik/o-sinal-das-igrejas-vazias/
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“As igrejas vazias ou fechadas”
Refletindo sobre este momento histórico, Halík olha para as igrejas vazias ou fechadas como “como se fossem um
sinal e um desafio provenientes de Deus” (Ibidem p. 8). Não será uma admonição do que se avizinha, questiona.
“Talvez este tempo de edifícios eclesiais vazios ponha simbolicamente em evidência o vazio escondido nas Igrejas
e o seu possível futuro” (Ibidem p. 9).
Tomáš Halík convida-nos a olhar para nós próprios como Igreja que somos, para a nossa realidade concreta de
pessoas e de comunidades: temos assistido ao envelhecimento progressivo das nossas comunidades, à diminuição
do número de crianças que frequentam a catequese face ao total das que têm idade para a frequentar, à diminuição
da prática dominical entre os que se dizem católicos; ao mesmo tempo, perante as grandes questões (a vida, a
morte…) ou perante os acontecimentos que emergem, a nossa resposta como Igreja é reativa que proativa, tantas
vezes a reboque de outras respostas da sociedade ou das propostas que o Santo Padre tão oportunamente nos vai
lançando.
Mas, que rosto de Deus damos a conhecer? Relembro o desafio que o Papa Francisco nos lançou há sete anos na
Exortação Apostólica “A Alegria do Evangelho”: o desafio de uma “Igreja em saída” ao encontro de “todas as
periferias”. Recordo-me também da azáfama em procurar corresponder ao Santo Padre, com iniciativas várias,
propostas de “saída” para todos os gostos…, mas recordo também de, concordando com o desafio do Papa
Francisco, me questionar e de questionar: «vamos ao encontro das periferias levar o quê? Mostrar o quê?»,
refletindo sobre a necessidade de olharmos para dentro de cada um de nós, de cada comunidade e de nos
perguntarmos que rosto de Deus, de Jesus iríamos mostrar, como estava a “casa” de família iria receber quem nos
viesse visitar. Tenho bem presente ter proposto que era importante cuidarmos do que está dentro, isto é, da casa
e de quem a habita para, então, de coração renovado e de rosto “lavado” sairmos! E sairmos não apenas porque
sim, porque era preciso sair, mas como os que “«primeireiam», os que se envolvem, que acompanham, que
frutificam e festejam […], os que tomam iniciativa!” (EG 24). Porque é sempre válido o espanto dos «de fora» face
aos cristãos da Igreja nascente: “Vedes como eles se amam!”.
Ontem como hoje o desafio mantém-se e é cada vez mais premente. Como nos diz Halík “estivemos demasiado
preocupados em converter o «mundo» (o «resto») e menos preocupados em convertermo-nos a nós mesmos”,
ou seja, “passar radicalmente de um estático «ser cristãos» a um dinâmico «tornar-se cristãos»” (Ibidem p. 9).
Neste sentido o autor compele-nos a “ir ao centro do Evangelho, fazer uma viagem ao interior” (Ibidem p.10), a
deixarmo-nos de operações de cosmética e a dispormos o nosso coração a escutar Jesus que está à porta e bate.
Tomando as palavras do Papa Francisco, diz-nos Halík: “hoje, Cristo está a bater a partir do interior da Igreja e quer
sair (Ibidem p. 12).
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Senhor ou aqueles que, não crendo, sentem “desejo de algo que satisfaça a sua sede de significado” (Ibidem p.
13).
Assim, procurando dar resposta às questões que Halík nos coloca, comungamos das suas propostas:
– se é aí a nova Galileia, então temos de procurar Cristo ressuscitado entre os que o procuram;
– “é preciso procurá-lo também por entre as pessoas marginalizadas, no interior da Igreja, entre «aqueles
que não nos seguem»” (Ibidem p. 13);
– é tempo de limpar a nossa inteligência, o nosso coração e o nosso espírito de ideias erradas sobre Jesus;
como S. Tomé é preciso “tocar as suas feridas” para O reconhecermos(!);
– “Devemos pôr de lado os nossos objetivos de proselitismo” (Ibidem p. 14). Cristo propõe-se não se impõe!
Devemos abrir-nos ao diálogo sem preconceitos, “um diálogo com os que procuram, um diálogo no qual
possamos e devamos aprender uns com os outros” (Ibidem p. 14);
– “Já não basta abrir, magnânimos, um «pátio dos gentios». O Senhor já bateu à porta a partir «de dentro»
e saiu; a nossa missão é procurá-lo e segui-lo” (Ibidem p. 14). O convite a uma “conversão interior” ressoa,
deixemo-nos converter por Jesus, para que, por Ele renovados, possamos sair a procurá-Lo na nova
Galileia. Precisamos de conversão para que em nós e na Igreja (comunidade) brilhe o rosto luminoso de
Cristo!
Termino como termina Tomáš Halík não apenas porque me revejo nas suas palavras, mas porque constitui um
poderoso apelo à “procura de Deus «em todas as coisas»”:
“Sejamos corajosos e tenazes em procurá-lo, e não nos deixemos apanhar desprevenidos se nos aparecer sob a
veste de um estrangeiro. Reconhecê-lo-emos nas suas feridas, na sua voz, quando nos falar intimamente, no
Espírito que traz paz e afasta o medo” (Ibidem p. 17).
António Oliveira