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J. J.

Gremmelmaier

Bonita?

Edição do Autor
Primeira Edição
Curitiba
2018

1
Autor; J. J. Gremmelmaier Normal encontrar um personagem de
Edição do Autor Guerra e Paz em Crônicas de Gerson Travesso, ou
Primeira Edição um Personagem de Fanes em Mundo de Peter.-
2018 Este escritor está somado a milhares
que surgiram com a possibilidade de produção
Bonita? pessoal e vendas por demanda, surge criando
CIP – Brasil – Catalogado na Fonte suas capas, seus universos, seus conteúdos sem
Gremmelmaier, João Jose se prender a regras editoriais, então verá
Bonita? / Romance de Ficção /250 pg./ historias as vezes calmas, diria infantis, como
João Jose Gremmelmaier / Curitiba, PR. / Edição Wave, e verá histórias violentas como Ódio,
do Autor / 2018 temos historias que ele reuniu em Contos
1 - Literatura Brasileira – Romance – I – Reunidos, de apenas 20 paginas, como Amaná, ou
Titulo historias de 5800 paginas como Crônicas de
Gerson Travesso. Indagado em 2018 sobre suas
85 – 62418 CDD – 978.426
obras ele afirmava que ainda tinha pelo menos 13
As opiniões contidas neste livro são dos
projetos ainda em andamento para termina.-
personagens e não obrigatoriamente
Alguns autores se prendem a uma
assemelham-se as opiniões do autor, esta é uma
historia, este parece viajar em uma gama imensa
obra de ficção, sendo quase todos ou todos os de assuntos, mas tendo em sua estrutura, uma
nomes e fatos fictícios (ou não).
paixão pelo dialogo, se ele puder por um
©Todos os direitos reservados a
personagem a explicar, ele o faz, evitando
J.J.Gremmelmaier
narrativas pesadas explicando o andamento, e
É vedada a reprodução total ou parcial mostrando que a historia sempre terá o
desta obra sem autorização do autor.
entendimento diferenciado de cada personagem.
Sobre o Autor;
Um autor a ser lido com calma, a
João Jose Gremmelmaier, nasceu em 30
mesma que ele escreve, continuamente.
de Outubro de 1967 em Curitiba, estado do
Paraná, no Brasil, formação em Economia,
empresário, teve de confecção de roupas, Bonita?
empresa de estamparia, empresa de venda de Eu as vezes passo do ponto,
equipamentos de informática, e também e me perguntam, porque
trabalhou em um banco estatal. tantas mortes, se não posso
Amante da escrita, da conversa jogada os matar pessoalmente, pois
fora, das conversas intermináveis, tem uma a lei e feita por eles, mato
verdadeira leva de escritos, em vários estilos, mas em ficção.
o que mais se dedicou foi o fantástico. Peguei um nome emprestado sem permissão, e
J.J Gremmelmaier escreve em suas criei minha nova personagem, novamente uma
horas de folga, a frente de seu computador, a menina, novamente forte, vamos contar poucos
algum tempo largou a caneta. Ele sempre destaca dias da vida de Micaela David e do Investigador
que escreve para se divertir, não para ser um Douglas Camargo.
acadêmico, ele tem uma característica própria de
escrita, alguns chamam de suave, alguns de
Agradeço aos amigos e colegas que
despreocupada, ele a define como vomitada.
sempre me deram força a continuar a escrever,
Autor de Obras como Fanes, Guerra e
mesmo sem ser aquele escritor, mas como sempre
Paz, Mundo de Peter, Trissomia, Crônicas de me repito, escrevo para me divertir, e se conseguir
Gerson Travesso, Earth 630, Fim de Expediente, lhes levar juntos nesta aventura, já é uma vitória.
Marés de Sal, Anacrônicos, Ciguapa, Magog, João
Ninguém, Dlats e Olhos de Melissa, entre tantas. -
Ao terminar de ler este livro, empreste a
Aos poucos foi capaz de criar um
um amigo se gostou, a um inimigo se não gostou,
universo todo próprio de personagens. Uma coisa
mas não o deixe parado, pois livros foram feitos
que se enxerga com frequência em suas historias
para correrem de mão em mão.
é que começam aparentemente normais, J.J.Gremmelmaier
tentando narrativas diferentes, e sobre isto cria
seus mundos fantástico, muitas vezes vai
interligando historias aparentemente sem ligação
nenhuma. Existem historias únicas, com começo
meio e fim, e existe um universo de historias que
se encaixam, formando o universo de
personagens de J.J.Gremmelmaier.

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©Todos os direitos reservados a J.J.Gremmelmaier

J.J.Gremmelmaier

Bonita?

3
Quando falo, todos os fatos são fictícios, não
quer dizer que alguém não tenha vivido algo
semelhante, ou quase igual, ou nada igual, não
quer dizer que não existe bicheiros com este
nome, não quer dizer que o carro da escola tal,
não tenha tido um anjo a frente com a filha do
presidente a mão. O que eu quero dizer é que
a historia é fictícia na estrutura, baseada em
um Brasil quase irreal.
Pois, Anjos é difícil de provar, a personagem
Micaela, impossível de provar, Douglas um
mistério ainda do Rio de Janeiro, na quase
eterna diferença entre as favelas e o luxo de
áreas nobres da cidade.
E quando no fim trocar nomes, é apenas para
lhes iludir já que não conheço tão bem o Rio.
Boa leitura.

4
Micaela é uma menina cercada pelo melhor que o dinheiro
pode comprar, estava a cada dia mais disputada, crescia sobre
olhares, de cobiça, desejo, encanto, mas infelizmente para a maioria
ela olhava-os apenas como seres desinteressantes.
Mais um ano, cercada de seguranças, com ajuda sobe no local
dedicado a ela na alegoria da escola de samba, ia a mão de um
grande anjo no veiculo inicial da escola de samba de seu pai, olha
alguns artistas, alguns conhecidos, mas principalmente, os olhares
de seu pai, de orgulho, mas sempre tentando a afastar dos demais.
O desfile foi incrível como todo ano, crescera dentro daquela
escola, era quase sua segunda casa, embora soubesse que nem
todos tinham o que ela tinha, para muitos seu pai era o presidente
da escola, ela o via como o dono da escola.
O fim do desfile, poucas horas de descanso, e estavam já
novamente na escola.
Era festa de confraternização em sua segunda casa, quando
ela olha os convidados do pai, escola de samba sempre tem bateria,
mas desta vez era na quadra da escola, ela olha seu pai olhando
aquele senhor, não conhecia, um estranho em seu reino, muitos
olhando para ela a cumprimentando quando sua mãe fala que
estava na hora de se recolher.
Ela pede um momento a mais para a mãe, estava olhando
para Rodrigo, um menino simples, mas que nunca a cantara,
crescera vendo ele crescer na quadra, e agora ele era do grupo de
cantores que ajudavam ao puxador.
A festa por ter tido um desfile primoroso, as chances eram
grandes, mas somente saberiam a posição no dia seguinte, na
quarta, então seria um dia interminável, para saber o resultado.
5
Estava conversando com Rodrigo, que olha para ela como
uma conhecida, ele não demostrava sentir nada pela menina, as
vezes até ignorando que ela estava ali, ele olhava outra ao salão, a
menina nunca saberia que seu pai falou para ele nem chegar perto
da sua maior riqueza, e o pai nunca saberia que Rodrigo tinha outra
pessoa no coração.
Viu que o chefe daquela bagunça, o diretor geral da escola de
samba, chega ao senhor que falava com o pai dela, parece falar
algo, o senhor sai, Rodrigo olha para onde ela olhava e pergunta.
— Parente?
— Não sei, não conheço, um estranho que meu pai e o Franco
estão tentando conversar, não entendi, um invasor.
Rodrigo olha a mãe da moça chegar e o sair das duas assim
que o motorista da família chegou.
Micaela descansa um pouco na cobertura em Copacabana de
frente ao mar, na Avenida Atlântica, pois pela noite sabia que se
reuniriam ali até a manha do dia seguinte, na apuração, poucos
iriam conseguir descansar.
A menina olhava pela janela o mar e ouviu sua mãe
perguntar.
— O que fazia olhando aquele velho.
— Que velho? – Micaela.
— O que falava com Franco.
— Não sei, alguém que não é do local, parece um invasor em
nossa segunda casa mãe.
A senhora sorriu da forma de chamar o barracão da escola,
parecia seu marido falando.

6
Anoitecia na Terça, desfilar na madrugada de terça, sempre
dava uma sensação de perda de tempo, ou de um dia pela metade,
a menina sai com a mãe e foram a região da Barra e seu pai estava
lá, olha aquele senhor falando com seu pai e pergunta para a mãe.
Roberto abraça a filha e fala.
— Vão a nossa mesa, já chego lá filha.
Ela olha aquele senhor olhando seu pai, nem lhe olhar,
estranha alguém que parecia mais focado em seu pai, do que
qualquer coisa, sabia que muitos babavam por sua mãe.
As duas vão a mesa, a mãe de Micaela, era nitidamente bem
mais jovem que seu pai, ela estava chegando aos 35 e seu pai aos
60, então o senhor, tinha a idade de sua mãe, velho para ela, talvez
não para as demais pessoas em volta.
— Quem é o velho?
— Um empresário paranaense, parece querer comprar o
enredo do ano que vem.
— E vamos se vender assim fácil?
— Não, ano que vem é uma aposta diferenciada de Franco.
— Diferente?
— Tentar trazer a avenida uma representação teatral, mas
ainda não se sabe realmente se vamos encarar esta diferença.
— Porque disto mãe?
— Seu pai gostou da ideia, mostrar a força da tribo Beija Flor.
— Então porque o pai esta perdendo tempo com o velho ali?
— Não entendo de politica e dos negócios do seu pai filha.
Ela viu que o senhor não ficou para a janta, então olha o pai
que fala.
— Ele parece encrencado, mas não vou me meter.
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— Ele? – A mãe da menina.
— Jeferson, aquele empresário.
— Pensei que era um investidor.
— É, mas isto não quer dizer que vá me meter nos problemas
locais dele, parece querer saber de coisas que não falamos.
Roberto olha a filha e fala.-
— As vezes, temos de diferenciar possíveis inimigos, mesmo
nos mais dedicados.
— Não entendi pai.
— Alguém que para se fazer, não olha nem sua mãe, é
alguém que está controlando o incontrolável.
Micaela não olha para a mãe, mas sabia que ela estaria
fazendo cara de revoltada, e ouve seu pai.
— Filha, quando falo para não olhar interesseiros, falo
também para não olhar velhos.
Micaela não entendeu a frase e olhou para o pai, como se
perguntasse o que estava acontecendo, talvez somente nesta hora
ela reparou que ainda acompanhava o senhor com os olhos do lado
de fora.
— Na verdade queria apenas ter certeza que ele foi embora,
mas tenho certeza, ainda verei ele hoje, né pai? – Micaela.
O senhor sorri e fala.
— Mas fica longe dos velhos.
— Sei, mas os seus amigos eu deixo bem longe pai.
Roberto sorriu, a filha estava afiada e Micaela ouve.
— Tem de entender filha, nem todos querem a sua felicidade.
— Sei disto mãe, sei disto.
Micaela olha o garçom servir a mesa, por o copo de suco, os
talheres da salada, toma um gole de agua, e olha para a comida,
estava com fome, aquela salada não iria nem fazer cocegas.
Roberto olha a filha comer e olha para a esposa.
— Como foi?
— Vimos só o inicio do desfile, sabe como sempre fazemos
amor, o que foi aquela ação de ontem a tarde?
— Uma juíza querendo mostrar serviço, mas crianças falando
em justiça, os carros se compra outros, quer levar, leiloar, a
vontade, embora não exista esta condenação na lei, eles aplicam
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aqui no Rio de Janeiro, contravenção é legalmente, cestas básicas,
mas a Juíza teve outra interpretação, apoiada pelo ministério
publico, mas sem problemas, apena gente querendo em meio a
preparação para o desfile nos tirar a atenção.
— Me preocupo por nossa filha Roberto, sabe que eu me
assusto.
— Sei disto, mas 4 carros estão no barracão da escola, mas lá
eles nem se atreveram em emitir a ordem de apreensão.
— Eles nem sabem chegar lá pai, sabe disto. – Fala Micaela
desviando o olhar para o pai.
— Hoje existe GPS filha.
— Hoje existe pulso eletro magnético pai. – Micaela olhando
ele colocando um pedaço a mais de salada a boca, mastigando com
calma, coloca os talheres de salada sobre o prato.
O garçom troca seu prato e veio o prato quente e a carne, o
senhor olha para a filha e pergunta.
— O que quer dizer com isto filha.
— Sabe aquele sistema de controle de drones para a avenida?
— Sim.
— Um pulso eletromagnético acaba com a brincadeira.
— Onde ouviu isto.
— Na aula de física do colégio.
O senhor olha a filha e fala.
— E o que olhava para aquele rapaz?
— Não sei, alguém branco, de olhos claros, barba por fazer,
pingente de bicheiro, sapatos de quem nunca trabalhou no pesado,
jeito de andar forçadamente dançado, terno locado, cheiro de
perfume que já tentou me dar outra definição pai, mas perfume de
puta, como a mãe fala.
A senhora olha a filha, ela olhou em detalhes que não
percebeu, e pergunta.
— Pelo jeito saberia a idade dele pelas vestes.
— Mãe, eu diria pelo calçado, veio de Curitiba, pela cor, vive
da noite, pelo corte do cabelo, corta sozinho, maquininha de corte,
mas a idade é sempre um chute mãe, conheço moças de 22 que
aparentam mais velhas que você mãe.
Roberto olha a filha e pergunta.
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— E olhou só de longe?
— Pai, ele olhou a mãe, ele até me olhou, ele estava medindo
cada segurança enquanto fazia de conta não olhar mais do que para
o senhor.
— Me indicaram ele para cá, o que acha?
— Não sei pai, não me meto, lembra, sou a menina de quase
15 anos.
— Certo – Ele olha a esposa – acha que ela esqueceu de algo?
— Ela não chegou perto dele amor, ela reparou isto de longe,
agora pensando, a dobra do terno é de alugado, o perfume,
insuportável, mas verificava a procedência direito, pois olhar a
segurança não é padrão.
Roberto olha a filha cortar com calma o bife ao prato e comer
calmamente, uma refeição caprichada para uma noite interminável.
— Sei que não gosta disto filha, mas porque olhava ele.
— Pai, o rapaz é bonito, apenas isto, mas porque alguém
poria perfume barato a ponto de não ficar na duvida, de ficar tão
evidente que eu que passei ao longe percebi, porque ele não fez a
barba? Todos tentam se portar o melhor possível diante do senhor,
não o pior.
— Chegou a cidade a poucas horas.
— Certo, ele não fez a barba desde quando, 3 ou 4 dias, não
de hoje pai.
— E acha que devo tomar cuidado.
— Sim pai, deve tomar cuidado.
Os três terminaram de jantar e foram para a quadra da
escola, o senhor deixou encomendado o chope, deixou a cozinha
preparada para se fossem comemorar.
Micaela olha aquele senhor parar ao seu lado e fala.
— Sabe que me impressiona o amor de sua família por esta
escola.
Roberto recebe em casa alguns rapazes, eles queriam
estabelecer novos métodos em alguns pontos, ainda tinha pressão
para mudarem pontos.
Ele olha aquele senhor entrar, o segurança tira a arma dele na
entrada da cobertura de fala educadamente.
— É só pegar na saída.
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Micaela olha ao longe e sua mãe para ao seu lado.
— O que a faz pensar filha?
— Odeio gente que não respeita a casa dos demais mãe.
— O que ele fez?
— Paulinho o desarmou na entrada, mas respeito é não vir
armado.
A senhora olha a filha e fala.
— Implicando pesado com este.
Micaela sorriu.
Uma recepção de poucas decisões, a apresentação formal do
senhor, enquanto todos apenas falavam calmamente, aquele rapaz
não parecia preocupado com a conversa, e sim, medir os
seguranças.
Micaela chega a Paulinho na entrada e fala.
— Posso pedir uma coisa Paulinho?
— Fala.
— Limpa suas digitais da arma do senhor ali, não sei,
sensação de que algo está errado.
Paulinho sorri e fala.
— Tá pegando a paranoia do seu pai, já fiz isto menina.
Micaela fica mais tranquila, e olha o olhar do senhor nos dela,
sorri e vai ao segundo piso da cobertura.
Os seguranças olham aquele senhor, que fala para Roberto.
— Sabe que a pressão é pesada para que assuma uma parte
senhor, não sabe?
O senhor olha o rapaz e fala.
— Não, não sei, quando alguém importante me ligar, me
preocupo.
— E quem está ainda esperando lhe ligar para me por no
ponto que tenho direito.
Roberto sorri da tentativa infantil do senhor e fala.
— Desculpa, não estou num dia bom para discutir senhor
Jeferson, tudo depende de amanha, mas sei que para alguns o de
amanha é ninharia, eu considero que ninharias não se definem, pois
o valor não está no preço.
— E vai me enrrolar?
— Sim.
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O senhor sai, o rapaz faz sinal para a caixa onde estava a arma
e ele a pega e sai pela porta, o senhor olha para o segurança a porta
e fala serio.
— Algo está errado mesmo, e não vou ligar para ninguém
para perguntar, alguém quer saber meu fraco, se duvidar, tenho
alguém querendo uma confissão, então vamos fazer tudo as
avessas.
Paulinho a porta olha para a senhora vir a porta e Roberto
falar.
— Você sai no sentido da casa em Belford Roxo ainda a noite.
— Acha que temos um problema serio então.
Ele chega a Paulinho e passa um papel, ele olha serio.
“Podemos estar grampeados e sinalizados”
O senhor olha a esposa e fala.
— Assim que der meia noite, você e Micaela vão.
Micaela olha de cima, olha para fora, aquele brilho lhe
chamou atenção, e ela olha para o pai e fala.
— Espera um pouco pai.
A menina desce e olha para fora, entra no escritório e pega
uma haste metálica na gaveta, desce as escadas, olha em volta e
coloca no centro da peça, ela pega o controle remoto junto e olha
para o pai ligando aquilo, e para fora.
Ela liga o gerador de pulso eletromagnético, olha para fora e
olha o aparelho brilhar do lado de fora, Roberto olha e vê que o
objeto despenca até a calçada.
Paulinho olha para a peça e fala.
— Ele não saiu do primeiro piso senhor.
— Sobe com a gente Paulinho.
Roberto abraça a filha e fala.
— Está ficando perigosa filha.
— Nem tanto.
Eles chegam a peça e Roberto olha para Paulinho.
— Deixa elas em Nilópolis, vou para lá de amanhã cedo, mas
preciso delas longe daqui.
— Sabe o risco senhor.
— Sei, o helicóptero as deixa em Belford Roxo e o motorista
os deixa em Nilópolis.
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Micaela viu que seu pai não queria facilitar, o abraça e fala.
— O problema pai, é saber quem está nos atacando, pois
pode ser algo bem para fazermos algo e nos complicarmos.
— Está ficando astuta filha, mas agora vão.
Roberto vai a parte baixa, pega o celular e liga para o
advogado.
— Kevin, o que temos?
— Estamos verificando a base das apreensões, mas o que
precisa Roberto?
— Deixar claro, eu não darei ordens de nenhum sentido até o
desfile das campeãs.
— Problemas?
— Apenas comunica todos.
O rapaz olha em volta e olha a secretaria, vendo o telefone
ficar mudo, não entendeu nada.
Do lado de fora, um conjunto de pessoas que se fazia de
turistas começa a sair dali.
Um furgão para ao lado e todos entram.
Um rapaz olha para Jeferson entrar no carro.
— O que ele acionou?
— Não sei, mas não entendi, deu defeito no drone?
— Sim, não sei o que eles fizeram, mas a imagem mostra a
menina colocando algo na mesa, ela iria falar algo, e tudo desliga e
o drone caiu, ele e mais três equipamentos na mesma hora.
— Está dizendo que a menina nos isolou? – Jeferson.
— Não, que aconteceu naquele momento, não seja estupido
Jeferson.
— Algo de escuta no Advogado?
— Nada, mas ele não nos interessa.
O grupo olha para alguns carros de segurança chegarem na
frente do prédio, muitos, fazendo o maior agito, com as sirenes
ligadas, o helicóptero desce no terraço e sobe, e os rapazes a rua
não viram o mesmo.
Roberto olha a segurança e as empregadas saem dali, com as
cabeças cobertas em vários sentidos.

13
O grupo tentou descobrir, mas não conseguiu monitorar
todos, mas consegue sinalizar 10 deles, pequenos transmissores nas
latarias colocado quase desapercebido em meio ao passar pela rua.
Roberto olha para o mar e olha para o aparelho, ele viu
aquele veiculo a frente soltar outro drone, quando ele chega na
altura da janela, queima novamente e cai.
Micaela e a mãe chegam na antiga casa de sua mãe, entram
nela e a menina foi a cama, estava pregada.

14
Roberto adormece e acorda assustado, vê um rapaz
encapuzado a porta, lhe apontar a arma, e falar com um som
metálico.
— Levanta a mão calmamente.
Um outro chega a porta e fala.
— Ainda não achamos em qual carro as mulheres saíram.
— Agora senhor Roberto.
Ele calmamente se levanta, já não tinha um bom joelho,
operou a dois anos, mas ainda doía as juntas.
O rapaz colocou um capuz na cabeça do senhor e fez sinal
para ele andar, o senhor não viu um rapaz forçando o cofre da
porta, não viu o Serginho, segurança de 6 anos, morto a porta,
Roberto não sabia o que queriam ainda, mas provavelmente algo
referente ao Jogo do Bicho, a muito que o ministério publico do Rio
de Janeiro deixara de apoiar os bicheiros e passou a apoiar os
traficantes, deixar claro que isto nunca foi oficial.
A noticia as 9 horas da manha, afirmava que a policia tinha
entrado na casa e os seguranças do Carnavalesco e Bicheiro tinham
resistido a bala, tinham um segurança morto, e a policia ainda tinha
pouca informação para informar.
Micaela olha a noticia na TV e olha para a mãe.
— Chama o Paulinho mãe.
— Alguém morreu.
— Com certeza, com a arma que o senhor tinha ontem a mão
na entrada, mas agora sabemos quem está nos atacando, mas
precisamos saber onde levaram o pai, e o que eles pretendem.
— O cofre da casa. – A senhora.
— Joias se compra de novo mãe.
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— Sabe que seu pai tem dinheiro lá.
— Não sei.
Paulinho entra e olha a senhora.
— O que faremos senhora?
— Manda o pessoal para a Marques de Sapucaí
normalmente, o velho vai ligar, então temos de saber quem o vai
pressionar Paulinho, mas põem o pessoal a rua, mas não aparece,
eles vão dizer que você que resistiu a tiro.
Um segurança chega a porta e fala.
— Policia chegando.
— Sem problema, apenas vamos manter a calma, e tirem o
Paulinho pelo fundo e me chama os advogados e pede para
isolarem o prédio.
A senhora fala e ouve o celular tocar.
— Houve menina, estão querendo os pontos de droga da
região de Chatuba, eles pegaram o Roberto, não tenho ainda a
posição dele, mas cuidado, eles grampearam tudo.
O telefone desliga.
A senhora olha para o segurança e ele alcança o celular, ela
chama os advogados, e como a policia não tinha um mandato
especifico, estava a procurar no barracão da escola a frente.
Os advogados chegam a delegacia e pedem para falar com o
senhor Roberto, tirado encapuzado e pericia na arma que os
policiais mataram o segurança.
O juiz disse que ainda não liberaria nada e ouve Kevin
Camargo olhar ele e falar.
— Ou consegue agora senhor, ou vai ao meio dia, junto com a
apuração da campeão, os seus entrando como marginais, e tirando
o senhor de capuz, como se fosse para ele não ver algo, estou
acionando toda a policia, e pode ter certeza, pensa em falar.
— Acha que tenho medo de um advogadosinho.
Kevin pega o celular e disca um numero e fala.
— O que quer Beira-mar, perdeu o respeito?
O senhor do outro lado olha para o segurança da
penitenciaria que estava, e fala.
— Vocês estão atrapalhando.

16
— Antes conversava, não matava segurança para não ligar e
negociar Beira-mar, agora a pergunta, vamos parar isto ou vamos
mostrar que o seu grupo, não é mais tão fiel como antes.
— Não pode me ameaçar.
— Então o que quer, pois se Roberto surgir morto, e a posição
do bosta do juiz a minha frente é de que você disse que podiam
fazer bosta, pode ter certeza, eu mato toda tua família, pois se
colocou esta merda do Plinio a minha frente nisto, é o que pensou,
não tem noção do que quer Beira-mar.
— Ele não quer negociar.
— Ele não foi consultado, você mandou um farsante da
policia sem indicação para fazer um flagrante, não deu, resolveu
roubar a casa, tá precisando de dinheiro Beira-Mar.
Na calçada em frente do apartamento, o grupo destrava o
que achavam ser o cofre, e a explosão se viu no calçadão, com as
janelas do primeiro andar do tríplex estourarem para foram.
Como estavam a duas quadras do local, na delegacia da civil,
ouvem a explosão e o advogado olha para a porta.
— Está preso por ameaçar um juiz senhor Kevin Camargo.
Kevin sorri olhando a Juiz Cristina a porta.
— E a senhora será indiciada por tentativa de roubo, e pela
morte de um segurança para isto.
— Não tem provas.
— Não preciso de provas. – Kevin fala por ultimo ao celular –
A sua funcionaria principal senhor Beira-mar, acaba de entrar, bom
saber que tem gente ai ao lado ligando para ela, mas eu preso, se
Roberto Morrer, não esquece, ai dentro, não tem para onde correr.
A juíza olha para o rapaz lançar o telefone para ela e falar.
— Pode me prender Juíza, mas sem discurso, deixa a cara de
pau para a imprensa, sabemos o lixo que é senhora.
Os policiais prendem o advogado e quando estão indo as
detenções, a informação de 12 policiais mortos no prédio que
estourou, era um parcial do problema.
A prisão do advogado, colocou a OAB nisto, e a explosão,
mostrou para os demais, que a policia estava arrombando um cofre,
e enquanto a Escola de Samba ficava em terceiro lugar, na
apuração, todos falando apenas da campeão, o noticiário tenta não
17
falar nada do que estava acontecendo e Micaela olha para a mãe e
fala.
— Vou a quadra mãe.
— Sabe o risco?
— Sim, sei o risco.
Micaela sai pela porta e caminha no sentido do barracão, ao
fundo a policia olha aquela menina chegando, a imprensa que
estava ali para o documentário se eles ganhassem, e a moça olha a
menina entrar.
Ela olha o senhor Jeferson olhar para ela, ele estava a
entrada, ela faz sinal para o segurança e entra pela lateral sem
passar pela imprensa, a policia olha aquela menina indo para a
quadra.
— Perdida por aqui? Tem como falar com você em particular.
Micaela não respondeu, apenas foi na direção dos demais,
deixando o rapaz ali, sem resposta.
Jeferson olha a menina e ouve um rapaz ao lado.
— Acha que vai funcionar?
— Não sei, prepara um plano B, pelo jeito eles não sabiam o
que queriam, dizem que prenderam o advogado do senhor Roberto,
mas a imprensa ainda está segurando a informação.
— Aqui não vamos ter muita chance.
— Não precisamos antecipação, apenas calma.
Micaela chega ao lado da porta bandeira, beija a bandeira e
sorri para a moça.
Todos a tratavam com um respeito imenso, e não pareciam
diferenciar ela dos demais.
Um segurança no fundo olha para o senhor e fala para o ao
lado.
— Aquele senhor está armado.
— A patroa disse que ele estaria.
— Fica de olho, ele tem cheiro de morte.
A quadra foi vendo a menina chegar ao palco, Franco vê a
menina olhar e fazer sinal para o microfone, ele a alcança e ela olha
para a quadra.
Muitos viram a menina e ela falar.

18
— Podemos não ter ganho, mas sabemos que fomos a
apresentação mais linda, mas vim aqui pedir apenas uma coisa,
orarem por meu pai, a policia federal ai fora, com apoio deste
Jeferson ali, e de Beira-mar, detiveram meu pai, ele não foi para a
delegacia, então não sei se ele está vivo, pois eles mataram o
senhor Serginho covardemente para chegar a meu pai, o vô disse
que foi Beira-mar, então acredito que seja, mas peço apenas que
orem por meu pai, pois posso terminar o dia, os chamando para cá,
para fazermos uma despedida, não consigo pensar nisto. – Ela
encara o senhor – Não consigo olhar gente covarde, que é policia, se
fazendo de traficante e amigo, mas que é apenas policia federal,
então sabem, estamos novamente defendendo a família, odeio
começar quarta feira de cinzas, com perdas.
A menina olha a repórter filmando, ela tinha quase certeza
que não iria passar nada disto.
Ela olha para Franco que entendeu, a família estava sobre
ataque, por isto que Roberto não apareceu.
A menina olha para o silencio dos demais, ela vai ao fundo se
senta-se, ela não sabia o que faria, mas viu Rodrigo entrar e olhar
para ela.
— Acha que o levaram para onde?
— Chatuba aqui do lado.
— Porque ali?
— Eles vão dizer que foi briga de trafico, que entenderam
erado a informação pela manha, mas não sei em quem confiar.
Os policiais viram o pessoal da comunidade começar os
empurrar para fora, os rapazes assustados viram o povo começar a
empurrar, um puxa uma arma, aponta para o rapaz a frente e o
mesmo fala.
— Atira, você me mata, mas morre, bom saber que merdinha
está a minha frente.
O rapaz abriu caminho e abre a porta do carro, outro estava
lá assustado, um rapaz tirou um plástico da alegoria e colocou sobre
o carro, fez sinal para todos se afastar, e prendem nos vidros, e
começam a fazer força de um lado e viram o carro, os policiais
primeiro viram os vidros sendo cobertos, não viam nada, e após
sentiram o carro ser invertido na calçada.
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O rapaz do barracão fez sinal para entrarem e deixarem eles
lá, a reportagem filmava aquilo do lado de fora, enquanto o senhor
Jeferson e o rapaz que fora com ele, foram desarmados e sentados
ao fundo.
Micaela olha o senhor e fala.
— Queria falar o que em particular senhor?
Ela estava com a carteira dele aberta e viu a foto da menina e
fala.
— Onde está meu pai Policial Silva?
O segurança sentava ele com uma única mão a cadeira, e se
ouviu a bateria começar a tocar, e um rapaz falar.
— Um furgão saiu daqui rápido, estava a duas quadras.
Micaela faz sinal para o rapaz da harmonia e ele sobe na
cobertura do barracão, aciona o drone e este começa a procurar o
mesmo, acha ele saindo da região para o bairro vizinho.
O policial olha para a menina e fala.
— Acha que se livram assim.
— Torça para meu pai sair vivo senhor, senão sua filha, não
verá o pai, sei que é triste, mas se um lado vai ficar triste, que os 4
lados fiquem tristes.
Micaela passa ao rapaz a porta um endereço e fala.
— Leva para o esconderijo, se ele for morrer, que a filha veja
com seus olhos o covarde morrer.
— Não pode fazer isto. – Jeferson.
— Nos matar pode, somos os marginais, mas garanto senhor
Jeferson, me deve uma vida, a de Serginho, e vai pagar, mas ainda
tenho de saber como.
Micaela olha para o segurança e fala.
— Manda para o esconderijo os dois, a policia já deve chegar
por ai, e como eles estão sinalizados e provavelmente com escuta,
põem gente nos telhados, se eles saírem, mata.
Rodrigo viu que a menina estava assumindo o comando, ela
sai, alguns tentaram falar com ela e a repórter via os policiais saírem
por uma porta e um olhar para a menina, tudo estava vazio a volta.
— E vocês dois, se sabem correr, melhor sair agora, depois, se
fizeram merda, com certeza, não terão a chance.

20
O policial olha a menina, não via os rapazes para dentro, mas
viu ela chegar a um carro e olhar Paulinho.
— Vamos, eles estão na Viela do Nilo.
— Sabe que é um problema entrar lá.
— Sei, apenas me dá cobertura Paulinho, eles devem achar
que estão lidando com meninas e mulheres indefesas.
O rapaz sabia que era problema deixar a menina ir para lá,
mas não entendeu o problema.

21
O Juiz Plinio estava com Kevin a sua frente quando ouve a
ligação do celular, ele estranha e atende.
— Só ouve juiz de merda, sua filha e esposa, saíram de casa,
melhor não as fazer cair do telhado da cobertura.
O senhor olha para Kevin, detido, sem ter dado uma ligação e
olha para a Juíza.
— Pegaram minha filha e esposa.
— Acha que vamos recuar por ameaças? – A senhora olhando
para Kevin.
— A pergunta senhora viciada, vão acusar quem agora, já que
eu estou preso, mas acho que hoje, um dito traficante de renome,
perde um pouco do nome.
— Quem acha que ele vai temer, não o conhece.
— Sei que ele não teme senhora, ele não presa vidas fora da
cadeia, mas que saiba, todos morremos.
Um investigador olha para a Juíza e fala.
— A menina do Roberto foi ao palco e pediu para orarem
pelo pai dela, que tínhamos o pego, e era coisa do Beira-mar.
— O policial Silva?
— Sumiu na confusão, mas temos o carro da Federal virado a
frente do local, e os policiais estão tentando sair de lá ainda
senhora.
— Eles acham que vamos recuar.
O telefone dela toca, e ouve.
— Logico que para recuar, tem de ter cérebro Juíza, mas os
seus neurônios, a Cocaína já queimou todos. – Micaela.
— Quem fala, acha que está falando com quem?

22
— A minha frente, tem uma menina bonita, pena ter de
matar ela Juíza.
Micaela estava a frente de uma casa baixa, desliga o celular,
uma entrada, feita de madeira, a Juíza pensa na filha, mas talvez a
juíza fosse como Beira-mar, não se preocupava com os demais e
olha para o advogado.
— Acha que vamos recuar?
— Eu não sei mais nada senhora.
Paulinho olha para o rapaz ao fundo e liga para Candinho na
Vila Esperança, e fala.
— Um presente para a janela 22 Candinho.
— Tão malucos.
— Roberto pode estar morto Candinho, sabe que temos de os
fazer recuar agora, depois vai ser guerra.
O senhor olha para a escada da laje e grita para a
companheira.
— Maria, hora de dar uma volta.
— Vai aprontar.
— Sim, vai e leva a Ritinha, vai para a casa da veia.
— Não gosto quando fala assim Candinho.
— Vai.
Ela olha ele abrir um armário ao fundo, ele vai a laje, coloca 6
morteiros, deixa eles armados e pega o lança míssil e dispara no
sentido da janela externa, do presidio a uns 200 metros da laje,
sabia que pararia na primeira parede, não chegaria fácil a interna.
Ele desce lentamente e olha para dentro, pega os
documentos e começa a sair pela viela, entra em uma moto e sai ao
sul.
Os morteiros começam a disparar e toda a segurança do
presidio de Bangu se vira para a vila Esperança ao lado.
Beira-mar estava olhando o policial que falava.
— Eles prenderam as famílias dos juízes.
— Isto que queria, eles fazendo burrada, dai eles dançam
rápido.
Ele olha para fora e estranha aquele zunido no ar e se encosta
a parede e ouve o estouro na janela externa.

23
O policial se esconde o os policiais de agitam e começam a
ouvir mais estouros, o rapaz olha para Beira-mar e fala.
— Quem os está dando comando.
— Não sei, o que o velho falou.
— Que não negocia com covardes.
Beira-mar sente a terceira explosão de morteiro sobre a ala
que estava, fogo, mortes em uma cela, e tudo a poucos metros da
cela de Beira-mar.
Beira-mar para encostado a parede.
Ele tenta ligar para fora e olha para a torre de celular, fora do
ar, e pensa que eles não estavam apenas o atacando, estavam
isolando os celulares internos.

24
Micaela pega uma pistola leve, coloca as costas e olha para
Paulinho.
— Dá cobertura do outro lado.
— Tá maluca.
— Não.
Ela desce do carro e começa a caminhar no sentido da casa,
obvio que aquela menina branca, olhos claros, roupa limpa,
cheirosa não era do bairro.
Ela chega a porta da van e encosta uma granada com um imã
e a prende na porta para a rua do furgão, e continua pela rua, ela
estava quase na esquina quando se ouviu o estouro, ela se esconde
por trás de um poste, e viu o agito a toda volta.
Paulinho olha de longe e vê que dois policiais saíram da casa
em frente, e dois daquela, olham assustados.
O sair de 4 pessoas por duas portas, fez Paulinho atirar em
uns, eles se viram para a rua, um atingido na cabeça, outro no
ombro, se escondem na casa, um do outro lado, olha para a menina
no ponto oposto.
O senhor fez sinal para o policial que Micaela não havia visto
as costas e ele chega a ela e fala.
— A princesinha veio ver o papai?
Micaela olha assustada para as costas e fala.
— Me solta.
Ele segura forte o braço esquerdo, ela puxa com a direita a
arma as costas, e o senhor só percebe que ela estava armada
quando já estava levando tiro, o rapaz cai a rua e a menina olha
para a porta se escondendo em uma entrada de casa.

25
O senhor vê o rapaz a rua, morto, agora sabiam onde
estavam, ele pega o celular e viu que não tinha sinal, e se esconde,
pois a menina começa a atirar na porta dele.
O senhor entra para dentro, olha dois policiais ao fundo e
fala.
— Qual a ordem?
— Sem ordens, acha que ele vale a bala.
— Pode valer nossas vidas, nos acharam.
— Os celulares não funcionam.
— Quem está atirando na porta? – Um policial.
— A filha deste senhor.
— Mas...
— Ela matou Rodrigues.
— Filha da puta.
O senhor Roberto estava sentado a uma cadeira, pensando
que eles não tinham ainda como se posicionar, mas a casa começa a
ser cercada agora pelos rapazes de Roberto, que tocavam o negocio
na região de Chatuba.
Os policiais estavam sem saber o que fazer quando um
megafone fala.
— Melhor saírem com as mãos visíveis.
A menina estava a porta escondida, a oposta e carregava a
arma.
— Não mate eles Micaela. – Paulinho.
Roberto sorri por baixo do saco a cabeça, os rapazes olham-se
e um fala.
— Quem é esta?
— A filha. – Um deles.
Micaela olha para o terreno em frente, os policiais se
recolheram e Micaela olha que uma delas tinha apenas dois
policiais, ela dá a volta e olha para a porta ao fundo de uma delas,
faz sinal para a senhora da casa que estava voltar para dentro e
mira naquela porta, quando o primeiro abriu a porta, ela olha
primeiro quem era, e quando o senhor olha em volta, pensando em
fugir, ela apenas mira na cabeça do senhor, que cai para dentro.
O rapaz para dentro recua para a porta da frente, embora a
menina não fosse entrar, ele olha para o rapaz do outro lado.
26
— O que fazemos comandante Ramalho?
— Problemas?
— Cercados.
O senhor olha para a rua, não sabia onde a menina estava,
mas não a ver não queria dizer que ela não estava ali.
O comandante olha para os rapazes fechando a rua dos dois
lados e fala erguendo as mãos.
— Estamos saindo.
O rapaz ao fundo faz sinal para deitar e Paulinho no
megafone fala.
— Ou todos ou ninguém sobrevive.
Da outra porta sai um que fala.
— Apenas eu.
Micaela ouve e entra pela porta do fundo, poderia ser uma
arapuca, mas teria de avançar, ela entra e olha para a casa, simples
em tudo, não estava naquela, estava na outra.
Ela sai pela porta e faz sinal para Paulinho que pelo telefone
fala com alguém.
— A 12. – Doze era o numero a frente da casa, embora
estivesse no meio de uma quadra.
Dois policiais ainda estavam na duvida, e quando eles
chegavam a porta para olhar, os rapazes entram pela porta do
fundo, puxam o senhor Roberto para fora, e desarmam os dois a
porta encostando as armas em suas cabeças.
Paulinho olha para a menina entrar na casa e olhar para o pai.
— O que faz aqui filha.
— Alguém tem de atender o telefone daqui a pouco.
Roberto não entendeu e o telefone tocou.
Ela olha o numero e atende.
— Sim.
— Me chama um policial, é serio a coisas.
Ela pensa e fala.
— Qual deles tenho de ressuscitar senhor Beira-mar?
O senhor olha em volta e os policiais começavam a tirar os
servidores e fala.
— Acho que não sabe o que está fazendo menina.

27
— Vai me convencer agora que não o matou? Que não
ordenou isto? – Micaela olhando o pai e os rapazes tirando todo
resto dali.
— Tem de ver que ele não nos abria o caminho.
— Melhor cuidar na transferência, carros explodem nesta
cidade.
Micaela olha o pai e o abraça.
No fundo do terreno, foi feito um buraco, e os mortos foram
ali enterrados, enquanto que para o esconderijo, eram levados os
que se entregaram.
As casas são esvaziadas e limpas.

28
A juíza recebe a ligação de Beira-mar que fala ríspido.
— Quem mandou matar Roberto antes do acordo Juíza?
— Não mandei fazer isto.
— Tem certeza Cristina, pois era para dominarmos um ponto
a mais, não para conseguir o ódio de uma região.
— Sabia dos riscos.
— Pensei que eles estavam ficando velhos, mas esqueci que
filhos de guerreiros as vezes nos complicam.
— Não entendi.
— Como virou Juíza Cristina?
— Sabe bem como Fernandinho.
Ele olha os policiais e fala.
— Vão me mudar de cela, alguém resolveu me por na parede,
para a guerra Juíza, não deu certo.
— Tem certeza?
— Assim que acalmar tomamos o ponto do morto, mas sai da
linha de tiro.
Cristina entra na sala do Juiz Plinio e pergunta.
— O que temos de real Plinio?
— A imprensa vai ter de registrar, a internet já põem a
menina falando, a explosão no apartamento que invadimos, não sei
o problema?
— Parece que mataram o Roberto.
— Tem certeza?
— Não, mas precisamos de um acordo para parar a guerra.
O senhor olha para a porta e fala para o investigador.
— Traz aquele malcriado do Camargo.

29
O investigador leva Camargo a sala dos dois juízes da policia
federal e Plinio fala.
— Como temos uma trégua Camargo?
Kevin olha em volta, não sabia, sorri e fala.
— Nem ideia, estava preso.
— Sabe a confusão que está lá fora?
— Não, agora já não sei de nada.
— Não tem graça senhor Camargo. – Cristina.
— Não estou rindo. – Kevin.
— Temos de parar isto.
— Já soltaram o senhor Roberto, tirado por vocês da casa
dele?
O rosto da moça foi ao chão, Kevin olha como se tentando
entender, ele senta-se pensando que mataram Roberto, se eles o
tivessem feito, não teria saída.
Talvez somente com a reação do advogado, o Juiz a frente
entendeu, não teria parada.
Kevin não perguntou, pois precisava de uma posição.
— Não sabemos se ele está vivo ou morto senhor Camargo,
mas temos de pensar na morte dele, mas precisamos de uma
trégua.
Kevin olha para Plinio e fala.
— Pode me devolver a cela, é mais seguro, vocês fazem
merda, agora que arquem com a merda.
Plinio lembra da filha, a Juíza a frente parecia nem se
preocupar com a família e fala.
— Sabe que se não pararmos isto até sua família sofre Kevin.
– Fala o juiz Flavio.
— O problema senhor Juiz, quando fui cortante com as
palavras, era para vocês pensarem, não pensaram, então a
pergunta, acha mesmo que um advogado para isto agora, um Juiz,
Beira-mar não teria mais como parar isto se ele estiver morto.
A Juíza toda firme olha para Plinio e fala.
— Quem poderia dar proteção a Beira-mar, sabe que se os
dois caírem, vai ter guerra as ruas.
— O que aconteceu? – Plinio.

30
A moça pensa no que falar, não queria parar, e o propor de
uma trégua estabelecia bem o medo de Beira-mar.
Kevin olha para ela e fala.
— Decidam, preso ou solto.
O advogado sai pela porta, olha para a imprensa, outro
representante do escritório dele estava a entrada tentando sua
soltura, quando vê Kevin sair pela porta.
O advogado vê o rapaz apenas alcançar um papel, e o lê.
“Roberto ainda vive”
Kevin tentou não sorrir, mas olha em volta com cara de
poucos amigos, e fala.
— Temos de achar um cliente tão bom com ele era.
O rapaz abre caminho e o repórter ao fundo ouve e olha para
os policiais, um delegado ao fundo que nem entendera o problema,
é encarado pela policia.
Kevin chega ao carro blindado e de vidros escuros a entrada,
e olha Paulinho ali.
— Arriscando Paulo.
— Tem gente que não entende que paz, se faz sem mortes,
toda vez que um juiz faz algo assim, muitos morrem e vira uma
merda só.
— Qual a ideia.
— Se manter em local visível, publico, com proteção.
— Certo, não acabou?
— A conversa da Juíza, estabelece uma trégua, para assim
que esquecerem da morte, eles tomarem os pontos.
— Então estão segurando todos ainda?
Paulinho fez sinal e o carro saiu.

31
O juiz federal Plinio chega em casa, olha a bagunça, as
câmeras de segurança pegam apenas pessoas mascaradas e bem
armadas, tirando sua família, os empregados ficaram, ele aciona a
policia técnica, mas elas teriam de achar rápido para lhe der uma
posição, e parece não achar.
Ele vai a base que se fez para aquela operação que eles
sabiam ilegal, toda aquela policia chegando numa casa em Chatuba,
com carros reforçados, com helicóptero, faz muitos olharem para
aquele lugar, ele entra na casa e olha para o lugar limpo, as
gravações, não estavam mais ali, os controles de microfone e vigia,
não estava ali, o carro estava a porta estourado, poucos sinais de
tiro, mas o local nitidamente limpo.
O senhor chega na construção a frente, não tinha nem a
posição se as pessoas ali foram mortas, os vizinhos não viram nada,
a policia local não viu nada.
A porta lacrada para o fundo, fez ele apenas olhar para o
fundo pelo muro lateral, a aparência de mato alto e pisoteado,
apenas de que entraram por ali, não se via o buraco ao fundo, onde
os corpos foram enterrados.
O juiz para achar algo teria de ter mais tempo e o mesmo
parecia não existir.
Um delegado da federal para ao lado e pergunta.
— O que procuramos juiz?
— Isto era uma base avançada tocada pela Juíza Cristina,
deveria ter dois homens nesta casa, 10 na da frente, com carro, com
drones de vigia, com escutas, nada está ai, e quem tomou a casa a
limpou, pior, sabe do conteúdo das gravações, não sei se tudo aqui

32
era legal delegado, mas minha filha e esposa, foram tirados de casa
por esta represália.
— A Juíza nem foi para casa verificar, o que fazemos Juiz.
— Tenta achar um fio para puxar, quem estava nesta casa,
deveria estar com Roberto, ele não está aqui, mas pela ação da
Juíza, eles mataram Roberto, não sabemos quanto tempo esta
informação demora a ser publica, quando for, vai virar guerra.
— Que merda fizeram Juiz?
— Não entendi, mas esta operação tem consentimento de
Brasília, mas se realmente Roberto morreu, o velho vai acionar os
seus para saber quem o fez.
O delegado olha para o investigador e pergunta.
— O que temos?
— Menores do trafico a olhar a toda volta das lajes, estão
querendo informação pelo jeito.
O delegado recebe uma mensagem e fala.
— Vamos ver até onde a coisa foi Plinio.
O mesmo entende que acharam algo, os carros vão na
direção do rio que separava Nilópolis de Mesquita, ainda estavam
em Mesquita, região pobre, olha a casa arrombada, se via a policia
civil olhar a policia federal, o helicóptero no ar pareceu acalmar o
rapaz da técnica, que estava tenso.
O delegado entra pouco, um ponto do trafico, todos mortos,
12 menores, 8 homens adultos, duas mulheres, uma chacina a mais
para a historia da região.
O rapaz olha para o delegado da civil, olha o delegado e
pergunta.
— O que está acontecendo Delegado, porque ninguém viu, e
é a terceira casa com mortos para todo lado apenas hoje.
— Tem coisa que não é oficial, mas parece que sequestraram
Roberto, de Nilópolis, alguém está batendo as portas.
O investigador olha ao fundo e fala.
— Faz sentido.
— O que faz sentido Carlinhos.
— Quem está morrendo, gente de Beira-mar, todos falavam
que ele queria este ponto, porque ninguém sabe, alguns dizem que

33
apenas para mostrar que mandava mais que Roberto, que nem fazia
parte direta do trafico local.
— E? – Delegado Civil.
— Eles devem estar procurando, mas se foi gente de Beira-
mar, eles o mataram, e se foi isto, vai ser guerra senhor.
— Tira os corpos, pelo jeito vamos ter problemas.
O investigador sai e o delegado olha para o federal.
— E o que os trás aqui?
— Estávamos em uma operação contra Roberto, aprovada
por Brasília, parece que estamos no mesmo barco, colocados aqui
por gente bem distante.
O delegado da civil olha Plinio sair, olha para Carlinhos.
— O que aconteceu Carlinhos?
— Dizem que eles tinham uma casa tipo cativeiro em
Chatuba, alguém entrou, tirou algo e saiu.
— Descobre quem temos de acalmar nesta hora.
— Já são 70 mortos senhor.
— Uma guerra e a imprensa não está narrando, quem queria
Roberto fora do ar?
— Se ele estiver fora do ar, vai feder senhor.
Carlinhos começa a fotografar o local enquanto os demais se
retiravam.

34
No complexo Bangu, os policias olhavam a toda volta,
procurando onde teriam problemas, se ouve os helicópteros ao ar, e
Fernandinho achou que estava ainda sobre o comando, quando o
rapaz ao lado fala.
— 12 pontos caíram.
— Eles acham que podem como o comando Vermelho? – Fala
Fernandinho tentando colocar todos no mesmo barco, puxar
aliados.
— Ainda não temos quem nos ataca senhor.
Beira-mar olha o sinal do celular voltar e olha para ele, nada
de mensagens, tenta discar para Juíza e ouve a menina atender o
telefone.
— O que quer velho?
— Acha que tenho medo de uma criança, não sabe com quem
está falando, vou me divertir no fim disto tudo.
— Você é impotente Fernandinho, por isto fica ai dentro, para
não ouvir isto de todas do lado de fora.
— Acha que me ofende.
— Eu tenho pena de gente que não sabe recuar, como
paramos isto velho.
— Eu mato seu avô, e paro isto.
— Ou não, acho que não entendeu ainda velho, pensa, está
tentando bater em quem não lhe atacava, que lhe tinha como um
aliado, como falava, para o rapaz ao fundo, quem você acha que é,
para poder com o comando Vermelho?
Micaela desliga e o rapaz ao lado pergunta.
— Quem lhe deixa irritado Fernandinho.

35
Ele olha todos lhe olhando, alguém estava grampeado, não
sabia quem, mas a menina deixou bem claro, alguém lhe ouve, ele
se cala e pega o celular novamente.
— Juiz Plinio?
— Fala Beira-mar.
— O que me escondem?
— O pessoal de Roberto pegou todo o material de escuta do
Chatuba, então eles sabem que era uma trégua, não paz, mais de 30
pontos caíram e ninguém viu, não sei, em todas as portas estão
escrevendo bem visível em azul. CA.
— E o comando?
— Se não sabe, como eu saberia?
Beira-mar liga para o pai de Roberto, o velho, o mesmo olha o
celular e atende.
— O que quer criança?
— Saber o que está fazendo.
— Se não respeita os aliados, porque me pergunta Beira-Mar,
nunca o atacamos, mas se acha que a Policia Federal lhe vai apoiar,
estes policiais civis a volta, eu sei que já vivi demais, mas se matou
meu filho, covardemente, não espere que não lhe cobre.
— Me ameaçando.
— É homem Beira-mar, o desafio é fácil, levanta ai e fala alto,
Mandei matar Roberto David, eles não sabem ainda pirralho, mas
quer ver o que acontece, desafiado.
Beira-mar olha em volta, sabia que ao fundo tinha os velhos
do comando, não muito mais velhos que ele, mas começava a
entender onde estava o problema.

36
Micaela olha uma menina e pergunta.
— O que seu pai faz?
— Ele é a lei.
— O meu faz de tudo para me fazer feliz, independente da lei.
— Não entendi. – A filha do juiz Plinio.
— Sabe onde está?
— Não, pensei que estavam nos raptando, estamos em um
clube com segurança a todo lado.
— Dizem, que nem todos os esconderijos são como este em
Piraquê.
— Esconderijo?
— Se olhar, mandaram as crianças para cá, sinal que os
nossos pais estão sobre ataque, e isto quer dizer, ali a frente tem o
menino e a menina da Juíza Cristina, você se não me engano, a filha
do Juiz Plinio, isolada na ponta oposta, uma das filhas de Beira-mar,
tem gente que nem sei quem são, mas sinal que a coisas é violenta.
— Mas são filhos de bandidos.
— Sei que somos crianças, não podemos ser culpados por
algo que nossos pais fizeram.
— E você é quem?
— Apenas um a mais.
A menina olha Micaela ir ao segurança e sair e viu um menino
chegar ao seu lado e perguntar.
— O que Micaela falava?
— Quem ela é?
— Filha de bicheiro.
— Ela parece legal, tem certeza?
— O que ela falou?
37
— Que algo violento está acontecendo na cidade, pois
isolaram os filhos. – Fala a menina, não sabendo que ao seu lado
estava o filho de um traficante em Mesquita.
O menino olha em volta e pergunta.
— Ela vai onde?
— Não sei, mas tem certeza que ela é filha de bicheiro?
— Filha, neta, e provável herdeira de um império.
Micaela olha para a sala ao lado e o segurança a indica um
carro elétrico, e atravessa um areal, estavam numa parte já ajeitada
e transformada em um clube de recreação, mas as pilhas de areia a
toda volta, falava por si que ainda era uma área isolada e essencial
ao crescimento da cidade que não se via dali.
Ela chega a um barracão e olha aquele senhor sentado.
— Quem é você mesmo?
O policial olha para ela e fala.
— Acha que não vamos ferrar com você quando tiver de nos
soltar.
— Bom saber que não quer sair, e a pequena Regina vai ter
de crescer sem pai.
— Não toque nela que lhe mato.
— Agora tenho suas gravações onde dizia que nos mataria a
todos, para um traficante avançar sobre Nilópolis, então suas
ameaças, não me fazem temer, você já recebeu para me matar
senhor “Jeferson”.
Ela usou o nome falso para o rapaz entender, estava com seu
disfarce comprometido.
— E o que quer então?
— Algo que valha a sua vida senhor, pois Regina eu não
mataria, mas é retardado, deixaria uma menina nas mãos de
traficantes, para receber um dinheiro que não usará, pois nunca o
verá, tem de ser muito idiota para achar que eles vão lhe pagar.
— Não sabe que sei cobrar.
— Sei, mas tem duas chances de sair daqui, apenas duas, ou
comprar sua saída, ou nos dar uma informação que não sabemos,
que valha sua vida, mas uma dica, tudo que tinham gravado, já
temos, então não nos serve de troca, e tem de ser algo que valha
para mim, já que aqueles desgraçados ali ao fundo, vão morrer, pois
38
eles não tem como dar meu pai de novo, então o custo para eles, é
ter me tornado uma menina sem pai, então começa a pensar
senhor.
— E quanto valeria minha vida?
— Acha que aceitamos trocado senhor, eles olham carros de
300 mil reais e acham que é algo que afetava – ela para no verbo –
o meu pai?
O rapaz viu a menina se afastar e olha em volta, em sua
cabeça estava que os demais mataram Roberto, talvez isto os
tivesse mantendo ali, uma menina teria de assumir, e a mesma
parecia perdida naquele momento.
— Mas como aceitaria o pagamento?
Micaela olha para o senhor e fala.
— Passa a senha da sua conta, quando estiver na nossa conta,
o soltamos.
— Mas...
— Se não tem dinheiro, o que vai propor? – Micaela a uns 30
metros do senhor, outros ouviam ao fundo.
— Transferência de bens.
— Terá de assinar as transferências e verificarmos os valores,
mas você que vai pagar os impostos de transferência senhor
“Jeferson”, e é bom não ter pegadinha ai.
Ela dá as costas e um senhor bem ao fundo pergunta.
— Acha que pode ameaçar assim pirralha.
Micaela olha para o senhor e fala serio.
— Pirralha não, Micaela David.
Os demais souberam quem ela era naquele momento, quem
tinha duvida, não teria mais, e um policial ao fundo olha o
desembargador e fala.
— Mantem a calma Desembargador.
— Mas é uma criança.
Jeferson olha a menina, ela levava uma arma as costas e olha
o desembargador, poucos, não mais de 20 pessoas.
Micaela chega a região mais ao fundo, mais alta e olha
aquelas celas e um rapaz chega a ela.
— Devem terminar hoje.
— Manda em Curitiba, fazer aquela obra.
39
— Vai assumir lá?
— Meu pai vai, eu só estou aqui para eles lembrarem, os
David são guerreiros, não maricas.
Micaela sorriu dela, uma menina, ainda com 14 anos, indo
aos 15 falar isto.
— Não entendi a ideia?
— Vamos os extorquir, vamos transferir bens, e somente
quando tudo estiver no nosso nome, vamos pensar no que fazemos
com eles rapaz.
— E seu pai.
— Não sei ainda.
O rapaz não sabia o que pensar, mas viu a menina assumir e
com a direção dos seguranças os indicar as ordens, o velho ainda
vivia, e se as ordens viessem dele, não contradiriam.

40
O rescaldo do apartamento de Roberto em Copacabana
estabelecia os corpos, os estragos e as imagens no fim daquele dia
chegam a direção da TV dominante e um rapaz fala.
— Se não documentarmos, vai ficar a certeza de que fizemos
parte Beto.
— O que temos?
— Mortes em mais de 45 lugares, 45 chacinas, pessoas
sumidas, mais de 60, entre mulheres e crianças, e o fato de alguém
estar assinando as chacinas.
— Alguém?
— Comando Azul, é o que todos falam na cidade.
— Azul de escola de samba?
— Não, azul de sangue azul.
O senhor olha as imagens, olha as da explosão do
apartamento de Roberto, olha para as notas de dois jurados da
apuração que basicamente tiraram a escola da disputa do titulo em
Enredo, e a leva de pontos de morte em Bangu, em Realengo, em
Parque Anchieta, norte de Padre Miguel, Anchieta e Mesquita, e
fala.
— Uma guerra?
— Das maiores que já viram na região, transferiram Beira-mar
da cela, para uma mais a Oeste.
— E aquele desembargador, o que ele tem a dizer, ele que
nos pressionou a não documentar?
— Sumido com a família desde cedo.
— Algo que confirme a morte de Roberto David?
— Não, somente a imagem na internet dele sendo tirado
encapuzado da casa, com o segurança a porta morto.
41
Beto aproxima a imagem e pergunta.
— Mataram Serginho na porta e disseram que ele reagiu?
— Sim.
— Chama um pessoal bom e transforma em matéria, sem dar
nomes, começo a ver o problema.
— Não entendi.
— Serginho nunca apontaria uma arma ali, ele nem andava
armado, Roberto esperava ser preso, não tirado a força e
ilegalmente da casa, isto é ação ilegal.
— Não entendi?
— Serginho era conhecido como Azul, então é como se os
demais falassem para o comando vermelho, se eles não protegem
os seus, que os Azuis estão saindo, isto é guerra, avisa o Marques
em Niterói, vai pegar para todo lado.
O rapaz olha a imagem, todos olhando para um lado, e o
diretor enxerga bem o que ele não via, quem era o morto a imagem,
talvez agora entendesse a menina falar da morte de Serginho, ele
olha o diretor que pergunta.
— O que pensou? – Beto.
— Não conheci Serginho, mas me falavam algo dele,
referente a Orar, nunca entendi isto, que quando ele mandava orar
por alguém, era defender a família daquele que se ora, nunca
entendi, uma frase dele, “Vamos orar por Pereirinha”, atribuída a
ele.
— Não sei o que quer falar? – Beto.
O rapaz pega a imagem da menina:
“detiveram meu pai, ele não foi para a delegacia, então não
sei se ele está vivo, pois eles mataram o senhor Serginho
covardemente para chegar a meu pai, o vô disse que foi Beira-mar,
então acredito que seja, mas peço apenas que orem por meu pai”.
Beto olha a imagem e fala.
— Ela estava chamando a guerra, e todos os não entendidos
acharam que ela estava pedindo para orarem por seu pai, é o que
pensou?
— Sim, é o que pensei, tem um relato que até este momento
estava deixando de fora.
— Qual?
42
O rapaz coloca a entrevista com um morador de rua no
Chatuba onde o senhor falava.
“não sei o que a menina colocou no carro, mas ele explodiu, a
rua se fechou a leste, e um rapaz sai a porta e olha para aquela
menina, o senhor sorriu e falou algo sobre a princesa ter vindo ver o
pai, dai um policial surge as costas da menina, pensei que ela tinha
se dado mal, mas ela puxa uma arma a atira naquele policial que cai
morto ali na rua, enquanto ela pula o muro baixo da dona Maria, e
se esconde.”
— Não entendi.
— Senhor, eles estão deixando apenas pistas que nos leva a
menina, um informante de Bangu me disse que Fernandinho ligou
para alguém e ficou bravo, xingando uma menina. Eles estão
deixando ela como vitrine, a pergunta, por quê?
— Desconfia?
— Sim, se Beira-mar mandou apagar um dos velhos do
esquema, e no lugar de dar certo, uma menina o desarticular, quem
vai ter medo de Fernandinho Beira-mar.
— Segura isto ainda, mas se for isto, e a transferência de
Beira-mar demonstra medo, vai feder por todos os lados.

43
Era começo da noite quando no RJTV a demonstração de toda
a operação pega a Juíza olhando a casa vazia, com a TV dando as
noticias, ela olha a porta e o segurança fala.
— Invadiram e levaram tudo que tinha no cofre senhora.
— Eu detono este pessoal.
Ela fala alto e ouve alguém gargalhar.
Ela olha para a entrada e olha aquela menina que olha o
policial e fala.
— Espera lá fora rapaz, quero falar com esta dai. – Micaela.
— Pensa que manda? – O rapaz.
— Esta mira lazer na sua cabeça, é morte certa, sai que não
morre.
Ele olha assustado e olha para fora, um rapaz o puxa para
fora e Micaela olha a senhora abrir uma gaveta, quando ela pega na
arma, a Juíza ouve o tiro para cima e olha a menina olhando com ela
com uma arma apontada para ela.
— Se quer morrer por aquela merda do Fernandinho, puxa a
arma senhora.
— Acha que pode me ameaçar.
— Não, estou dizendo, puxa e morre, não é ameaça, vai
acontecer, larga e senta ai.
— Vocês me roubaram.
A moça senta-se e dois rapazes encapuzados entram na peça
e se posicionam apenas mostrando as armas.
— O que quer pirralha.
— Para você, a partir de hoje, se nos entendermos, Micaela
David, a pergunta, tem como dar um passo atrás ou vai morrer por
teimosia Juíza.
44
— Não tenho medo de morrer.
— Sinal que está morta, é o que quer dizer?
— Acha que tenho medo de uma pirralhinha.
— Não, você parece não ter neurônio, repete frases como
uma gravação em pen-drive, mas a pergunta não foi esta.
— Acha que tenho como dar um passo atrás, não conhece
Fernandinho, ele põem outro no lugar.
Um rapaz entra pela porta e a moça olha para o rapaz e fala.
— Por aqui Fernandinho? – A frase parecia perdida, ele não
poderia estar ali e ouve ele falar.
— Pelo jeito tem razão menina, ela já se tornou inútil.
— Não pode me trair assim Fernandinho.
— Não entendeu ainda o que Cristina?
Ela olha, a voz era de Fernandinho, a aparência, Fernandinho,
mas tinha algo que não parecia ele.
— Você não é ele.
— A partir de hoje, sou, a pergunta que a menina faz Juíza,
estará nesta parte viva ou morta?
— Mas ele ainda está vivo.
— Como disse juíza, você não verá a afirmação de que ele
está morto em lugar algum. – Micaela.
— Mas...
— O pagamento, fica pela tentativa, quer ganhar mais, faz o
seu trabalho moça, se tentar algo, morre, sabe a regra, e se ouvir
que disse isto, para alguém, morre assim como quem ouvir isto,
entendeu? – Micaela.
— Mas eles vão desconfiar.
— Vão?
O rapaz sai pela porta e a moça olha a menina lhe falar.
— A arma está com festim, melhor não se defender com ela
de ninguém, ou acha que deixaria a chance de me acertar assim,
fácil?
Micaela sai pela porta e o rapaz do lado de fora, é colocado
para dentro e um carro para a frente da casa e a filha e a
empregada são deixadas ali.
— O que está acontecendo?

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A moça olha para a menina ao longe, pensa e não saberia o
que seria daquilo a partir daquele momento.
Ela liga a TV e fica a olhar as coisas, mas as noticias não
davam a verdade ainda.

46
Em Bangu um dos rapazes de Beira-mar olha para ele e fala.
— Abrimos o caminho para o telhado, sei que não gosta de
fugir, mas as vezes, estar vivo para os acalmar é mais indicado
senhor.
Beira-mar olha o rapaz e fala.
— Acha que eles vão invadir?
— O diretor disse que os rapazes vão olhar no sentido oposto,
colocamos aqui, pois é pular para fora e atravessar a mata ao fundo,
dizem que tem gente lá para lhe dar saída.
— Odeio fugir.
— Sei disto senhor, apenas falando uma possibilidade.
O rapaz olha em volta e fala.
— Depois tenho de me inteirar do problema total, mas sabe
que muitos vão me pagar por isto.
O senhor olha para o caminho aberto e sobe pela escada de
corda, eles não iriam dizer que o deram saída, então estavam
armando a própria defesa, Fernandinho sai para o telhado, olha
para as torres, o rapaz em uma apontou o sentido, eles estavam
olhando e não falando nada.
O rapaz desce uma escada a ponta, ele olha dois rapazes ao
fundo, caminha até um descampado e olha um rapaz tirar o capuz,
Fernandinho sente a arma as costas e fala.
— Vamos caminhar rapaz?
Ele não sabia quem era, tenta puxar a arma e sente o tiro lhe
atravessar as costas, e se encolhe, o rapaz a frente, ajoelha e o olha
aos olhos e fala tirando a mascara.
— Tira este impostor daqui.

47
Beira-mar pareceu não entender, ele se deparando com sua
imagem a sua frente, sua voz e fala.
— Não vão convencer ninguém assim.
— Se sua filha acreditou, eles vai ser moleza.
— Não pode...
O rapaz dá três tiros com o silenciador, e outro ao fundo fala.
— Vai voltar?
— Não, vamos sair daqui.
Os rapazes enterram Fernandinho ali, alguns rapazes de
Beira-mar o recebem na saída da mata e ele vai quieto, ele tinha de
pensar em como resolver as coisas.
Ele chega a casa de Beira-mar na barra e a moça olha ele
como se não pudesse ser verdade e ouve.
— Vai me ferrar desta vez Fernandinho?
Ele sacode a cabeça negativamente e faz sinal para os rapazes
entrarem, a filha o abraça e sorri de ver seu pai ali.
— Vai ficar pai?
— Provavelmente não, mas vamos ao Uruguai esta noite
ainda.
O rapaz olha para a esposa de Fernandinho e fala.
— Depois eu explicou, mas pega uma roupa, vamos...
— Não quero fugir.
— Quem disse que perguntei se quer, pega algo ou vai sem
nada.
Ela entra no quarto e ele pede para a menina pegar alguma
roupa e vão a base aérea e embarcam para o Uruguai.
A juíza olhava a TV esperando a noticia e olha para a noticia
da fuga de Beira-mar, em meio a um ataque ao presidio com
morteiros e lança misseis e que somente agora a direção do presidio
estava confirmando a fuga.

48
A quinta insiste em vir, a manhã voa trazendo rapidamente a
tarde e policia é chamada para invadir um cativeiro na região de Vila
Vintém, eles dão uma batida e acham o senhor Roberto encapuzado
e amarrado em um buraco, e os policias dão o anuncio e o Jornal
Local entra com uma noticia exclusiva, e todos olham aquele senhor
sair da casa simples, com barba mal feita, com cara de poucos
amigos, mancando, ele é conduzido a delegacia e o delegado
Saldanha olha ele e pergunta.
— Boa Tarde senhor, sei que deve estar cansado, mas poderia
nos esclarecer algumas perguntas?
— Sim.
— Viu quem o tirou de casa?
— Não, eles me encapuzaram ainda no quarto, todos
encapuzados, roupa de policia federal, mas poderia ser apenas para
não serem barrados na portaria.
— Ouviu algo?
— Não, eles mantinham um som alto, não sei nem onde
estava?
— Estava em Vintém.
— Tenho de avisar que estou bem para meu pai.
— As TVs já anunciaram sua libertação senhor.
— Espero que descubram quem fez isto.
Um dos rapazes chega a Roberto, feliz dele estar bem e o
alcança um celular.
O senhor liga para casa, soube pelo delegado que ninguém
estava lá, soube que explodiram o andar, ele tenta se mostrar
surpreso e pergunta o que aconteceu de verdade, o delegado não

49
sabia, então Roberto liga para o Franchico, olha o delegado e
pergunta para o traficante do comando vermelho.
— Quem foi que me sequestrou Franchico?
Do outro lado o senhor olha dois senhores a frente dele e um
fala.
— Fernandinho, não sabíamos Roberto, ele fez um acordo
com a Falange.
— Manda ele me ligar, não é hora de ficarmos fracos, mas
parece querer fazer o trabalho destes juízes.
— Não vai apagar todos Roberto.
— Estou saindo da delegacia, tenho de ver como está a
família antes.
Ele desliga e liga para o pai.
— Apenas avisando pai, saindo da delegacia da Civil.
— Está bem filho?
— Com fome, pode ter certeza, muita fome.
O senhor gargalhou na penitenciaria e olha o delegado.
— Posso ir?
— Pode, já sabe quem foi.
— Vocês não mechem com ele, Fernandinho, então melhor
nem declarar isto delegado Saldanha.
O senhor chega a entrada um carro estaciona, ele abre a
porta do passageiro e entra.
Ele olha para Paulinho no banco de trás e pergunta.
— O que estão esperando Paulinho?
— Esperando?
— Para detonar este Fernandinho.
— Já detonamos Roberto.
— Não entendi.
— Substituído com sucesso.
— Aquela moça vai desconfiar.
— Uma possibilidade senhor, mas a filha não desconfiou,
então é apenas um detalhe a mais.
— E o que minha filha fazia naquele lugar.
— Alguém consegue a segurar quando ela quer sair senhor,
melhor estar as costas a ela tentar fazer aquilo sozinha.
— Maluca como a mãe.
50
— Sim, maluca como pai e mãe. – Paulinho.
O senhor sorriu e olha o carro sair lentamente da delegacia, o
delegado olha o investigador.
— Ele vai para onde?
— Não sei senhor.
— Quem está detonando Fernandinho?
— João do Tabajara.
— Esqueci, o filho não iria deixar barato, vai feder da policia
federal para fora, mas pelo jeito veremos acontecer, não
conseguiremos nem agir.
O rapaz olha o senhor e fala.
— Uma grande possibilidade senhor.
O delegado olha para a entrada, o senhor se foi e a imprensa
nem o indagou.

51
Roberto chega ao barracão, os rapazes foram trazidos um a
um a frente de Roberto, ele queria algo para os manter vivos, e
começa a os forçar a passar senhas, assinar papeis, e no fim daquele
dia, ele vai para casa, enquanto os rapazes faziam transferências.
Roberto entra no apartamento e olha as janelas explodidas e
olha para a parede do sistema de gás manchada de sangue por todo
lado, olha em volta e um policial chega a porta.
— Não pode invadir, está sobre intervenção.
— Se vai me tirar do meu apartamento, e não estão nem ai
para deixar as provas serem lavadas pela chuva, que entra pela
janela, o sangue oxidar com a maresia, o vento trazendo poluição,
não é minha estava que vai mudar algo.
O policial olha o senhor, sabia quem era, estava em todas as
TVs que ele sobreviveu, muitos dos que estavam presos, se não o
estivessem estariam correndo para longe, alguns empresários da
contravenção não ficaram, saem da cidade.
— Mas temos uma determinação.
— Vai verificar a determinação rapaz, estou apenas olhando
para verificar o que terei de gastar porque alguém tentou arrobar
um sistema de gás, apenas porque tinha uma porta que parecia com
um cofre.
O policial olha para ele e passa um radio, Roberto olha
descrente o quanto foi destruído, olha para os andares superiores e
sabia que ainda estava sendo vigiado, ele olha a entrada e quando o
policial voltou, ele já tinha ido.
Roberto vai a sua casa e olha para a filha.
— Tem de parar de arriscar filha.

52
— Arriscado seria deixar o senhor sumir, viraríamos alvo
destes rapazes da lei, eles sempre matam as esposas, por saberem
demais, vimos acontecer com muita moça na região das favelas pai.
— Certo, mas onde aprendeu a atirar e que arma é esta ai?
— Comprei do Tabajara falando que lhe daria de presente.
— Tem de tomar jeito filha.
Ela o abraça e fala.
— Sei, como está pai, não nos falamos?
— Melhor que sentado e achando que morreria a qualquer
momento.
— Acha que vale a pena soltar aqueles que estão no
barracão?
— Não sei filha, vi que ajeitou lá, mas aquilo é muito visível
filha.
Micaela sorriu, pois no dia seguinte, seriam apenas duas
entradas para o corredor onde o pessoal estava, o resto, uma pilha
de arreia, mas somente vendo no dia seguinte para saber.
As pessoas foram chegando e perguntando se o senhor
estava bem.
Micaela olha Rodrigo a olhar e falar.
— Fica mais bonita com este sorriso.
— Não sou carrancuda. – Micaela.
— Mas sorri pouco, mas bom ver que seu pai não morreu,
todos estávamos pensando na confusão que se faria.
— Como está os preparativos para Sábado a noite?
— Os carros foram recolocados em posição e já estão quase
prontos para novo desfile.
— Acha que agora teremos calma?
— Se você não sabe, como eu saberia. – Rodrigo sorrindo.
— Sei lá, apenas querendo sambar para esquecer dos
problemas.
Rodrigo sorriu e viu Roberto chegar a frente, agradecer aos
demais, mas precisava descansar.
A casa esvazia e Micaela olha a mãe parar ao lado dela e falar.
— Tem de arriscar menos filha.
— Se um dia vamos tocar isto mãe, que seja como pessoas
respeitadas, neste ponto sou a contradição em si.
53
— Contradição?
— Adoro ser a princesa, mas adoro uma confusão.
A menina sobre para o quarto, estavam em Nilópolis, então
para ter acesso a casa, teriam de entrar na rua fechada aos dois
limites e estavam bem ao centro.
Micaela olha pela janela e sorri do que estava pensando.

54
Era antes das oito da manha e a menina olha o segurança a
porta e fala.
— Me leva a Piraquê?
Ele olha sem saber se iria obedecer e ouviu Paulinho as costas
falar.
—Lhe deixo lá menina.
— Micaela. – Corrigindo Paulinho.
— Certo menina Micaela.
Ela sorriu, Paulinho não cairia nesta provocação, mas o
segurança olha o rapaz pegar o carro a entrada e sair no sentido
oeste da cidade.
Param a entrada e ela foi a região das prisões dos que
sequestraram, ela parecia saber que algo estava errado.
Ela chega a região com a policia cercando tudo e faz sinal para
Paulinho deixar ela e recuar, ela caminha até um trator, ela faz sinal
para o rapaz e ele entende que iriam cobrir a entrada das celas.
Ela sobe em outra e começa a arrastar areia para a região da
entrada e faz sinal para o rapaz se posicionar sobre a montanha que
agora tinha sobre as celas, enquanto ela fechava a entrada por um
lado, o rapaz se posiciona sobre o local e começa a abrir a vala a
frente, como se estivesse abrindo uma nova linha de exploração
para areia, então estava tirando a camada mais superficial, e
colocando ao lado oposto da menina.
A policia chega por todos os lados e a menina estava fazendo
uma outra montanha de areia ao lado, não apenas aquela, com a
areia que tiraram no dia anterior.

55
Os policiais chegam aquela maquina e pedem para ela
desligar, o rapaz ao fundo não estava mais lá, os rapazes estavam a
sair, ela chamara a tenção para ela.
A menina desliga a maquina e olha a Juiza a frente e fala.
— Bom saber que não temos um trato Juíza.
A menina ali não combinava e os rapazes ficaram tensos, pois
se a menina estava ali, e todos juravam que ela estava em outro
ponto, mais gente poderia estar em volta.
— Achou que respeitaria aquilo.
— Estranho gente que se diz lei, e defende bandidos, como
seu amigo que fugiu ontem para o Uruguai.
— Acha que acredito nisto?
— Tem uma segunda possibilidade senhora, senhores, eu ter
enterrado ele embaixo destes morros de areia, mas quer tentar
achar, indico aquele ali. – Micaela apontando para o que a maquina
estava sobre.
— Acha que acredito que o mataram?
— Logico que não, mas a pergunta Juíza, eles sabem que não
tem prova, que está novamente atirando no pé.
— Eu lhe mato pirralha.
Micaela abre os braços e fala.
— Mate, quero ver se tem coragem de atirar em alguém de
menor, desarmada, e que sabe, meu pai a enterra se me matar, não
vai morrer fácil, vai pedir por cocaína desesperada por dias, e em
total abstinência, louca, quem sabe, morra.
A juíza saca a arma e aponta para a menina, se via ela tremer,
ela não acertaria nem se quisesse, e um rapaz ao fundo pergunta.
— O que faz dirigindo algo que não tem autorização para o
fazer menina?
— Eu não teria permissão para locais públicos senhor, pois
sou de menor, mas nas minhas terras, sim, posso.
Os policiais olham que estavam em um campo aberto, e
viram que a Juíza estava tremendo e ouvem.
— Alguém interna esta viciada antes dela matar mais alguém.
Ela tentou esticar a mão, ela tremia.
— Espero que tenham determinação para esta ação e não
seja desta viciada senhores, se for, fora das minhas terras.
56
— Temos denuncia da existência de uma prisão neste
terreno.
— As casas são no fundo, duvido que se use elas para isto,
pois é a casa do caseiro e da esposa.
— Algo mais?
— Montanhas de areia, somente isto.
Micaela olha em volta e olha um funcionário ao fundo e
termina.
— E se quer olhar, a vontade.
Micaela pula da maquina, ficando bem visível o quanto ela
era pequena, e toda aquela policia a volta.
— Tem autorização de extração?
— Sim, temos autorização de o fazer, assim que tiramos a
areia, fazemos tanques e criamos camarão.
Micaela aciona o celular e as torres que pareciam de
iluminação começam a gerar pulsos eletromagnéticos e os celulares
perdem sinal, ela olha o dela e fala.
— Esta operadora tá uma bosta.
Os demais viram que estavam sem sinal, estavam indo no
sentido de um sinal, alguém marcado e sinalizado, e agora não
tinham mais o sinal, como era o sentido das casas ao fundo,
caminham para lá.
O rapaz do ministério publico chega a casa, o senhor estava
assustado, mas eles olharem, bateram no chão, fizeram todas as
verificações e um rapaz chega ao lado de Micaela.
— Problemas?
— Alguém nas celas está sinalizado, espero que o oxigênio
interno não os mate.
A Juíza queria algo ali e não tinha nada, mas o olhar da
menina para ela, estabelecia que ela não queria um acordo, então
sabia que a menina pegaria pesado.
O rapaz do ministério publico chega ao lado da menina e fala.
— Será conduzida a delegacia, pois a juíza a denuncia por
tentativa de assassinato ontem.
— Ela me acusa, com que prova, onde, porque, quando
aconteceu isto senhor?
Ela olha o funcionário e fala.
57
— Usa o telefone do Sanches e liga para meu pai, deve ser
alguma delegacia de menores ou coisa assim.
O rapaz do ministério publico olha a imprensa chegando e
começam a filmar o deter da menina, se antes eles não tinham
porque se meter, agora parecia que a ausência de pressão fez a
imprensa chegar rápido, só não foram mais rápido, pele mesmo
motivo da policia ter demorado, Piraquê fica longe de tudo, mas
desta vez ninguém sumiria.
A juíza olha para Micaela e fala.
— Vai entender o quanto sou ruim.
Micaela sorri e fala.
— Isto foi uma ameaça com testemunhas juíza, quero ver se
defender desta declaração em publico, já que pode ser juíza, mas
para mim, para todos a volta uma viciada, traficante, amante de
Fernandinho, quer ameaçar, acorda, vai entrar em abstinência, mas
saiba, ninguém vai lhe vender drogas, pois sabem que você os
entrega depois para não pagar.
Os policiais tentavam fazer que não ouviam, o rapaz do
ministério publico também, e na saída um rapaz para a frente da
juíza e pergunta.
— Qual a acusação para deter a filha de Roberto hoje
senhora, já que não explicou a operação na casa do senhor que
matou mais de 20 policiais?
— Quer ser preso, se mete comigo. – A juíza nitidamente fora
de si.
Os carros iriam sair e se veem cercados, a juíza foi reclamar e
viu que era a promotoria, olham a detenção e o promotor de justiça
olha para o rapaz do ministério publico.
— A ordem de detenção da menor, pois não é o endereço
dela, qual a acusação?
Os policiais viram que mais gente chegava, e os repórteres
veem a menina sair do carro e ser liberada, o promotor olha para a
Juíza e fala.
— Mais uma operação para deter alguém da família sem nada
além de suas ordens que se ninguém ver, não foram dadas Juíza,
está detida para esclarecimento.
— Não pode me prender.
58
— Detida, não presa, será conduzida a policia e ficará lá até
nos esclarecer o que fazem aqui.
Ao fundo, o funcionário chega sobre a máquina e coloca um
cortador de sinal.
Micaela chega ao carro ao fundo e o mesmo sai pela outra
entrada.
Quando a juíza procurou a menina com os olhos, ela não
estava mais lá.
A juíza estava estranha, agressiva e nada paciente.
Micaela para a rodovia e liga para o pai.
— Fala filha.
— Dinho entregou a posição da construção pai, ele está lá
dando o serviço no areal.
— Tem certeza?
— Sim, a sorte é que ele não conhece bem a região, mas o
lugar está cheio de policia, e o pessoal deve ter não mais de uma
hora como estão de ar, ou fazemos algo ou perdemos todos.
Roberto olha para fora e fala.
— Paulinho está com minha filha?
— Sim.
— Ela saiu que hora?
— Oito da manha senhor, era para a ter parado?
— Não.
Roberto liga para o administrador do areal e pede para
começarem a tentar funcionar normalmente, que tinham areia para
entregar durante o dia.
O senhor chega aos policiais e pergunta se teria como liberar
as saídas dos caminhões, tinham pelo menos 50 entregas de areia
naquela manha.
Os policiais se olham e o promotor libera as saídas e os
policiais viram que a menina não estava fazendo nada mais do que
amontoar areia que quando os caminhões chegavam, a maquina
colocava neles a areia limpa.
Quando os caminhões começam a sair, a Juíza ficou mais
perdida e olha para Dinho, ele não teria como apontar naquele
momento, ela sabia disto, mas ele parecia procurar algo que não
estava lá e fala quando ela chega perto.
59
— Eles mudaram tudo, não entendi o que fizeram.
— Depois tentamos de novo, mas pode ser o sinal de um
morto, se entendi o que eles fazem aqui.
O rapaz não falou nada, mas ele sabia que se metara em
encrenca, pressionado pelo pai da esposa, agora pensava se a
menina percebeu.
O lugar esvazia, as montanhas são colocadas na região da
construção, tirando toda a visibilidade de todos os lados, olhando
ao longe, parecia uma imensa pilha de areia.
Uma maquina tira a areia da entrada das portas e abre a
porta, um rapaz entra e olha os senhores assustados, mas bem.
Eles pegam um detector de sinalizador e separam o senhor
Jeferson que é despido e colocado em uma sala, a menina entra e
olha para o senhor e fala.
— Teremos de o abrir para tirar isto de você?
Roberto entra após e olha o senhor.
— Deve ser um escravo deles filha.
— Escravo?
— Implantaram nele um sinalizador, ele não tem opção, ele é
monitorado o tempo inteiro.
— O que fazemos pai?
— Esta parte não a quero envolvida filha.
Micaela sorri e olha para Paulinho.
— Onde é o implante?
Encostam o senhor num na parede o algemam e passam o
sinalizador e estava na panturrilha, o rapaz pega a faca e enfia na
região da perna e o senhor sente a dor e se encolhe, ele corta e tira
o sinalizador e coloca numa caixa e põem na pilha de areia ao lado,
e desligam os equipamentos.
O senhor é solto e olha para os demais com raiva.
— Outro drogado filha, vai entrar em abstinência, eles ficam
malucos nestas horas.
Eles fecham a porta e a menina o mede e fala.
— Uma pena as pessoas chegarem a isto pai.
— Drogas é um mercado que leva a isto filha, as vezes para
não entrarmos em confronto, dividimos pontos, mas não quer dizer
que goste disto.
60
Roberto olha a filha atravessar o terreno e olha para
Paulinho.
— O que ela pensa estar fazendo?
— Não sei Roberto, ela parece querer entender aos 14, o que
todos falam dos negócios, mas se ela não tivesse vindo, teriam
achado o pessoal.
— Ela foi rápida, mas o que ela queria?
— Ela parece estar se apegando a alguém, tentando se
convencer do que tem de fazer.
— De quem?
— Da filha do senhor ali dentro.
Roberto olha a filha atravessar a rua, caminhar pela trilha e
chegar a uma área de recreação, olha aquela menina conversando
com um rapaz e olha em volta.
A menina a piscina olha para ela e chega perto.
— Porque somente você pode sair.
— Porque sou a única livre deste grupo, a única que se
morrer, ninguém além de minha mãe e pai, vão dar falta.
— Não tem um amor, um namorado?
— Acho que vivo na contradição da adolescência, achar
meninos bonitos, não conseguir conversar com eles.
— E porque me olha.
— Não achamos seu pai, tento não falar nisto.
— O que sabe de meu pai?
— Ele saiu daqui, uma juíza o pressionou e parece que ele
sumiu depois, mas não está aqui, não está em Curitiba.
A menina olha para o chão e pergunta.
— Mas quem vai cuidar de mim.
Micaela olha ela e fala.
— Calma, ainda não temos esta certeza.
— Mas quem vai pagar a conta daqui?
— A dona.
— Ela conhece meu pai?
Micaela olha para a menina e fala.
— Regina, não tenho idade para conhecer seu pai, no máximo
vi ele de longe falando com meu pai.
— Outra menina falou que seu pai é bicheiro.
61
Micaela sorriu e falou.
— Se fosse para condenas as pessoas pelos pais, muitos eu
nem conversaria.
— E o que vai fazer?
— Se aceitar dar uma volta, nos divertimos amanha.
— E onde vamos?
— Desfilar na Marques de Sapucaí.
— E desfilaremos onde? Nem sei sambar.
— Quem sabe aprenda, mas se aceitar verá, se não,
paciência.
A menina olha Micaela sair e fala para a que chega ao lado.
— Lá vai ela de novo, o que ela falou?
Regina olha para a menina e pergunta.
— Porque quer saber?
— Nós estamos detidos aqui.
— Ela falou que meu pai ainda não foi achado, não sei o que
ela quis dizer, mas de manha teve uma operação na frente, se via
muita gente armada.
— Estava dormindo, muita gente?
— Uma juíza veio a prender, ela enfrentou, mas parece que
não conseguiu.
— Pelo jeito está de olho nela. – O rapaz chegando ao local.
— Ela é bonita, não vou negar.
O rapaz olha para a menina ao longe e fala.
— Bonita, educada e rica, quem dera todas tivessem estes
requisitos. – O rapaz.
Regina olha a menina se ir e olha para a parte da segurança,
estavam todos postados e fala.
— Eles ainda estão tensos na segurança, sinal que não
acabou.
O rapaz olha para a segurança e fala.
— Eles tentam não nos preocupar, mas é nítido que estamos
isolados por algum motivo.

62
Micaela chega em casa e o pai olha para ela.
— Não vai me dar um neto?
— Nunca disse isto pai, sou pequena para pensar nisto.
— Mas se achar que não quer, sabe que lhe apoio.
— Não sei, as vezes quando começamos torto, é difícil
concertar.
— Sentimentos não são tortos filha.
— Pai, inevitavelmente mataremos o pai da menina.
Roberto olha a filha, a frieza de uma frase desta na boca de
uma menina em tudo, as vezes assustava o senhor.
— E se não o matarmos?
— Como disse, quando começamos torto pai, independente
do que fizermos, uma hora, seremos colocados a parede por um ato
ou outro.
— E foi lá só falar com ela?
— A Paula não tem como desfilar abaixo no carro inicial, fui lá
a convidar a desfilar, mas ela não disse sim ainda.
— E Franco sabe disto?
— Sim, ele sabe, ele perguntou se não tinha uma colega para
desfilar ali, não tenho ainda confirmado.
O senhor olha a filha olhar o senhor na sala ao lado e
pergunta.
— Problemas?
— Kevin disse que os processos serão grandes desta vez.
— Pai, vivos sofrem processo, nem sei quem foi o primeiro a
falar isto, mortos nunca os sofrem.
O senhor abraçou a filha e falou.
— A reforma do apartamento vai demorar uns dias ainda.
63
— Não entendi o que eles fizeram pai.
— Eles foram para a arapuca e a aqueceram com um
maçarico, e quando a porta da área de gás cedeu, explodiu.
— E nós que somos malucos?
O senhor olha a filha e fala serio.
— Sabe que muitos nos olham desconfiados.
— Sim, 60 pessoas sumiram, 20 delas não ressurgirão, o
resto, não quero saber pai.
— E se precisar se livrar da menina?
— Sinal que estamos no lado errado da historia pai, não
quero estar neste lado.
O senhor olha a filha, poderia não concordar, mas não
discutiria com a filha.

64
Amanhece Sábado, a menina ficou a cama até perto do meio
dia, sabia que seria uma madrugada longa, mas já amanheceu na
avenida em anos anteriores, desta vez não ter vencido,
transformava o desfile para menos madrugada, o que parecia uma
boa ideia, o entregar os documentos da menina para Franco, fez ele
olhar desconfiado.
— Sabe a encrenca?
— Sei, mas se não der, paciência Franco.
Ele sorri e caminha até a quadra ao lado, ela olha o pessoal
pegar as roupas novamente e olha para a bateria já se aquecendo.
Roberto olha para a filha abraçado a esposa.
— O que está pensando filha?
— Se vale o risco os deixar vivo.
Fabiola, a mãe, olha a filha e fala.
— Não gosto destes assuntos Roberto.
— Sei, mas então segura a filha, ela andou dando tiro em
policial federal por ai, entre os isolados, tem policiais que a viram
atirar.
Micaela olha a mãe e fala.
— Sei que não me quer nisto mãe, mas nasci aqui, vivo aqui,
sou quem sou, filha de quem sou, tenho alternativas, mas em
nenhuma delas deixo de ser quem sou.
— E porque falar disto?
— Sei que não querem que fale, mas o que posso fazer mãe,
eu facilitei, eu passei do ponto, entendo o que o pai quer fazer, mas
ainda estou na dúvida.
Micaela almoça e sai, ela chega a região dos senhores, olha
para dentro e Paulinho apenas liga o gás na entrada e fecha a
65
entrada, meia hora depois, tira os corpos dos senhores e em uma
vala ao fundo, os enterra, fora dos olhares, ela tentava pensar e
fala.
— Sei que vou me complicar Paulinho.
— E não vai recuar?
— Não.
Ela chega a entrada e olha Regina a olhar e chegar a ela, a
menina olha para Micaela e pergunta.
— Séria hoje.
— Eu não sou do bem Regina, e não tenho saída, mas vai
desfilar comigo ou não?
— O convite é apenas para mim?
— Sim.
Elas saem dali, Paulinho entra com os rapazes e fala que vão
transferir todos, colocam eles em uma peça, mulheres e crianças,
olha para o gás e não olha aqueles corpos caírem ao chão, mas os
rapazes colocam na caminhonete e colocam no mesmo buraco, fora
do terreno deles, a frente, e lá enterram.
Micaela chega em casa com a menina e apresenta a mãe, e as
duas sobem e a menina entendeu, ela desfilaria na escola dos pais
da menina, sorri, viu a fantasia de anjo, enquanto Micaela verificava
se tinha algo errado em sua roupa de princesa, as duas vão ao
centro de Nilópolis e passeiam em meio a estranhos, Micaela estava
achando que não precisava disto, olhava a menina e fala.
— Porque não consigo parar de pensar em ti Regina?
A menina sorri e fala.
— As vezes as coisas acontecem, as vezes não, mas não falou
de meu pai.
— As vezes falar machuca, as vezes liberta, mas ainda não sei
o que falar, pois não sei a verdade ainda.
— E você é a filha do dono da escola de samba mesmo?
— Não, sou filha do contraventor e bicheiro, que por acaso, é
presidente da escola de samba.
— Não tem medo disto?
— Medo?
— Acho que não entende que falam horrores de você
naquele lugar.
66
— Acho que quando voltarmos, todos já vão ter sido
mandados para casa, então não sei, eu nem os conhecia para saber
o que eles falam.
— E não pensa na possibilidade de viver como gente normal.
— Eu sou normal.
A menina olha em volta e fala.
— Acho que me sinto mal aqui, não sei, esta parte da cidade é
feia, não sei como consegue.
Micaela olha para a menina, passa um recado para Franco, e
sai a caminhar, sabia que aquele era seu mundo, talvez os demais
não entendessem, mas sua mãe correu nestas ruas, ela correu
nestas ruas, ainda corria, e vão para a parte da quadra, as pessoas
se ajeitando e saindo no sentido da estação para o centro.
Micaela olha para a forma que a menina olhava os demais, as
vezes parecia nojo, estanho alguém que tinha menos que ela, que
não deveria ter nojo de pessoas bonitas e limpas, demonstrar isto,
lembrou de seu pai falando.
As duas caminham a rua e entram em uma rua, caminham até
uma casa e Micaela entra e fala.
— Aqui que tinham preso meu pai.
— Mórbido isto.
Micaela chega perto e beija Regina, ela a beija com timidez e
fala.
— Sabe que não vamos ficar Micaela.
Micaela pensa “Sei”.
Pega a arma as costas e dá três tiros, segura Regina ao braço
e fala olhando para o corpo cair ao chão.
— As vezes o caminho é escrito, não tem como se mudar.
Ela vai ao fundo e pega uma pá, ela abre o buraco e coloca o
corpo, joga o cal, a terra, ajeita a roupa, lava a mão e volta pela rua
lateral.
A arma ficou junto ao corpo, a luva, junto ao corpo, os
sentimentos, junto com o corpo, mas Micaela anda firme, chega em
casa e toma um banho.
Ela deita e adormece um pouco, tinha de estar bem a noite.

67
A noite chega, Micaela põem sua roupa dourada, o motorista
olha ela sair sozinha, não pergunta, e leva ela no sentido da
Marques de Sapucaí, ela olha os carros e as pessoas chegando,
cumprimenta a porta bandeira, beija a bandeira, olha para Rodrigo
e fala.
— Cantando bem.
— Me falaram que estava com alguém?
— Enganos da vida, as vezes pensamos que as coisas vão ser
fáceis.
Ela olha a bateria postada, olha para o carro e sobe a mão do
anjo, olha para a escola a volta, sorri.
A escola se monta, olha para o carro fazer a curva e entrar na
avenida, ela sorri e olha para todo o público da avenida, samba,
desfila, sorri, olha para o publico, para a escola, sentada a mão na
dispersão olha os componentes felizes, as vezes ela queria saber
sorrir daquela forma, espontânea.
Seu pai olha para ela ao lado de Franco e pergunta.
— E a menina que traria?
— As vezes não é o que pensamos pai.
— E ela foi para onde?
— Para casa.
Roberto olha a filha, ela na tinha mais casa, mas Franco
estava ao lado, não teria como perguntar, quando ela entra no carro
sua mãe pergunta.
— Não traria a menina?
— Um engano mãe, apenas isto.
— A esqueceu?
— Vou esquecer.
68
Roberto senta-se ao lado e pergunta.
— Paulinho ficou preocupado.
— Diz para ele não se preocupar.
— Sabe a encrenca de deixar alguém solta por ai, pensei que
a traria para casa.
— Pai, quando Franco me perguntou, e a autenticação do
documento, entendi que ela não poderia desfilar, e se ela não
poderia desfilar, ela não poderia ir lá para casa.
— E a mandou para onde, ela não tem mais casa.
— Pai, não vou falar sobre isto, mas pode ter certeza, ela foi
para casa, qual, ai é entre eu e ela.
Roberto focou a filha e quando pararam em casa ela subiu e
Fabiola olha o marido e fala.
— Conversa com ela, não sei a ideia, mas todos ficaram
preocupados, não sei por quê?
— É a filha daquele que se passava por Jeferson.
— Ele ainda vive?
Roberto não respondeu, apenas olha a escada e fala.
— Vou falar com ela.
A senhora entendeu que o senhor ou morreu ou morreria.
Ele sobe e olha para a filha.
— Podemos conversar filha?
Ela olhava pela janela e senta-se a cama e fala.
— Sim pai.
— O que não quer falar?
— Os senhores morreram hoje pai.
— E os demais?
— Também.
— Pensei que não os mataria?
— Pai, eu cometi um erro, sei que não quero falar disto na
frente de ninguém, mas eu fui a campo, 4 policiais sabiam que fiz,
aquela Jeferson, nos jurava morte, aquele desembargador, idem,
mas os isolamos pensando que nos seriam uteis, pois o senhor
estava sequestrado e não dava para deixar eles soltos para ordenar
sua morte.
— Destes eu sei, e a menina.

69
— Pai, eu a beijei, ela disse que não aconteceria, pior é que
sabia que não aconteceria, mas não quero falar disto, apenas isto.
— Ela não vai aparecer?
— Viva não pai. – Uma lagrima corre ao rosto da menina que
parecia querer ser forte, mas por dentro, não era tão fácil assim.
Roberto a abraça, demorou a entender, ela o fizera, não
pedira para ninguém fazer, entendera as lagrimas e ouve.
— Pai, sei que não gosto de falar disto, mas sabe que lhe
amo, mas não vale ficar afastando os meninos e depois me falar o
que falou ontem, afasta os meninos e depois me cobra.
— Não a quero envolvida com estes a volta.
— Eles sabem quem sou, não o valor da conta do papai da
menina, pois mesmo os seus amigos ricos, ou que se acham ricos,
nos olham pelo valor financeiro pai.
— Mas não gosto de a ver conversando com rapazes daqui.
— Então não me cobre, e se acontecer algo aqui, e o rapaz
sumir pai, sumo, pois não quero todos mortos por ciúmes bobos
pai.
— Não faria.
— Sei que ameaçou alguns, outros acho que nem me olham
mesmo, mas o assunto morre hoje pai.
— As vezes temo por você a vendo falar assim.
— Pai, um dia vai saber, que sua filha não é uma santa, mas
ela ainda não quer nada com meninos e meninas, minha duvida, e
talvez isto tenha me aproximado a menina, era entender o que
poderia fazer por ela, como poderia matar seu pai, e tentar a
confortar, mas o que me afasta finalmente dela, é a forma que ela
olha o povo a rua pai, como alguém que nem chegou aos pontos
mais pobres pode condenar os que nos cercam, quase entendo o
quanto é fácil para eles nos matar.
— E fez direito?
— Espero que sim pai, se não, vou ter problema. Mas não
quero mais falar disto.
A menina olha para a porta e vê sua mãe.
— Mas se cuida filha.
— Mãe, eu não sei me cuidar, acho que um dia vou tentar ser
alguém normal, mas tenho medo de ser mais normal do que sou.
70
A senhora abraça a filha, o senhor Roberto desce e Paulinho
olha para ele.
— Ela falou para onde mandou a menina?
— Pelo que entendi, para um buraco, ela não está com a
arma, mas não sei onde, e ela não quer falar disto.
— Ela pode se complicar Roberto.
— Sei disto, mas se a menina se foi, melhor assim.
O segurança sai e os moradores da casa vão à cama quando o
sol de domingo já insistia em nascer.

71
Amanhece domingo, mas Micaela sai da cama apenas
próximo ao meio dia, ela olha para fora e desce, olha para Paulinho
a porta e fala.
— Me ajuda hoje?
— Não gosto de segredos. – Paulinho.
— Então acostuma, pois o de hoje, será apenas entre nós.
Paulinho olha para a menina entrar no carro e falar.
— Barra.
O segurança olha desconfiado e pergunta.
— O que vamos fazer?
— Eu não dormi dinheiro Paulinho, não estou para grande
discursos, mas se protege, é para proteger as costas, não para se
meter em encrenca, lei nacional, se me pagarem, saio aos 18.
— Seu pai odiaria.
— Mas entenderia.
Ela dá a dica de por onde ir, a menina para a uma porta e olha
para Paulinho.
— Saio rápido.
Paulinho sabia onde estava, na porta da juíza, ela entre e olha
para o segurança e fala.
— É a casa de Patrícia?
O segurança olha aquela menina, não pensa em uma inimiga
e fala.
— Quer que a chame?
Ela sacode a cabeça, Paulinho no carro vê que a menina
estava armada, pega a arma e olha em volta, ninguém por ali,
domingo depois do carnaval, tudo calmo demais.

72
Micaela aciona o sistema de pulso eletromagnético e o
portão destrava, o segurança vê a menina empurrar o portão, ela
olha para ele e saca a arma e atira no segurança, o som abafado do
tiro com silenciador põem em alerta alguém no quarto, a menina
guarda a arma as costas e começa a entrar, a juíza olha pelo vidro,
sai a sacada já armada e fala.
— O que faz aqui menina?
A menina olha para a senhora e entra, ela estava armada,
mas não estava acreditando que a menina estava ali, ela entra na
casa e olha a juíza descendo a escada com a arma a mão, ela apenas
vai no sentido da senhora, que tinha a arma a mão, ela puxa a
pistola as costas e atira na senhora.
A arma voa longe com a senhora olhando para a menina
assustada.
— Não pode me matar.
Ela olha para a senhora e fala.
— Senta na sala quieta, e nem tenta pegar a arma.
A menina abre o portão e liga para Paulinho.
— Estaciona de ré Paulinho.
Aquela imensa casa a menina já conhecia, olha para o rapaz
descer, filho da senhora, balança a arma a mão e fala.
— Senta com sua mãe.
— Acha que tenho medo de você menina?
Micaela apenas atira no joelho direito do rapaz que se
recolhe de dor e ouve.
— Não precisa ter medo, apenas obedece que é menos
dolorido.
O rapaz olha a mãe com um tiro na mão, e senta-se ao lado e
a senhora fala.
— O que quer menina.
Paulinho entra pela porta e ouve.
— Vou tirar a dorminhoca da cama, apenas olha estes ai.
A menina sobre e abre a porta do quarto da menina e fala.
— De pé, agora.
— O que você quer com a gente agora?
— Com você ainda nada, mas quem sabe sua mãe não me
assina uns papeis.
73
A menina de uns 10 anos, é empurrada pelo corredor, ela foi
fazer birra e Micaela apenas a empurra e a menina rola a escada,
chega toda judiada ao chão e apenas a puxa pelo pijama e a
empurra no sofá.
— O que pretende menina? – Paulinho.
— Estes são os últimos que viram aquele sitio de recreação
Paulinho.
Paulinho olha a menina, ela estava pensando em algo que ele
não pensara e vê a menina olhar a senhora e falar.
— Vai entrar no esquema ou não juíza.
— Não entendeu que não obedeço crianças.
— Uma pena. Então vai me passar a casa ou mato seus filhos,
é só assinar uns papeis o resto damos jeito.
— Acha que aceito chantagem assim.
Micaela atira na cabeça da menina que encosta no sofá e olha
para a senhora.
— Uma chance a mais senhora.
A senhora vê a menina morta e fala.
— Esta porcaria merecia o destino do pai, por sinal, matou ele
ou não.
— Acredito que mataram, não sei, não vi o corpo.
A menina olha para o rapaz e fala.
— Pelo jeito vai morrer por ter uma mãe que não valoriza
nada.
— Filhos de estupros por vicio, eles são o lixo que esta
sociedade me transformou.
Um segundo tiro e Micaela olha para Paulinho.
—Põem os corpos no porta mala, assim como o segurança.
A senhora olha a menina e fala.
— Não tem remorso de matar crianças?
— Os definiu por lixo.
— Acha que se livra se me matar?
A menina sorri e apenas atira na cabeça da senhora, pega a
chave da casa, a fecha, desliga a luz, o gás, pega os documentos da
senhora na peça acima e olha para o sofá com manchas de sangue.
Ela sai e foram no sentido do areal, enterram os corpos e a
menina olha para Paulinho e fala.
74
— Nosso segredo Paulinho, ninguém precisa saber, mas esta
moça havia visto duas coisas que não sei se passou a frente, mas
não poderia deixar ela viva, e as crianças, viram as que morreram no
clube, não haviam ligado aquele lugar as mortes, mas não podemos
deixar gente assim viva.
Paulinho olha a menina e fala.
— Enterrou a menina?
— Porque duvida?
— A arma, não quer que dê fim?
— Não, esta não é para dar fim, mas me deixa em casa, o pai
deve querer ir almoçar fora.
Paulinho a conduz a casa e olha a menina entrar.
O segurança olha para Paulinho e pergunta.
— O pai dela estava preocupado.
— Eu também ficaria, esta é maluca.
A frase com ar de serio, fez o segurança não entender, a
menina subiu e coloca a arma por traz das roupas no quarto, deixa
uma outra pistola a vista, mas era de brinquedo.
Roberto olha a filha descer e ouve a pergunta.
— Se envolvendo com o segurança?
— Não fala besteira pai, Paulinho é apenas o segurança e é
alguém bem casado, por sinal.
— Mas foram onde?
— Precisava resolver algo, mas sei que não entende pai.
— Resolver?
— Sim, resolver.
A mãe dela olha serio e pergunta.
— E o que minha menina tem de tão serio para resolver
domingo de manha?
Ela olha para a mãe e fala servindo um copo de agua.
— Ocultação de cadáver.
Roberto olha a filha, pensou em algo, mas não adivinharia o
que ela fizera.
A família sai de casa, e vão a um restaurante na Barra, a
família senta-se a mesa e o delegado Saldanha pede permissão e
olha para Roberto.
— Podemos falar Roberto?
75
— Sim.
— Espero que não tenha dado tiros hoje, pois a policia vai o
conduzir para teste residuográfico.
— Por quê?
— Não falaram, mas é apenas um alerta.
Roberto liga para o advogado que fala.
— Encontraram marcas de sangue na casa da Juíza Cristina,
depois de uma denuncia de bagunça ontem à noite.
— Ontem a noite estava na Marques de Sapucaí.
— Eles não vão poder o manter, mas querem saber se deu
tiros ontem.
Roberto sorri e fala.
— Não me conhecem mesmo.
— Marcamos e comparecemos antes da condução.
Roberto olha para Paulinho e fala.
— Me conduz a casa do Kevin.
O senhor entra no carro e pergunta.
— Não vai dizer que minha filha andou falando com a juíza.
— Quem dera sua filha conversasse senhor.
— Não entendi.
— Ela entrou atirando na casa da juíza, quando pensei que ela
iria chamar reforço, estava com 4 corpos para dar fim, ela falou que
as crianças tinham visto os demais, e ela sabia que Fernandinho
morreu.
— Certo, ela me metendo em encrenca, mas pensei que ela
foi dar fim no outro corpo.
— Ela deu a entender que a enterrou pessoalmente senhor.
— Esta minha filha está ficando perigosa.
— Qual o problema?
— Pelo jeito alguém fez uma denuncia de barulho na casa e a
policia quando foi verificar e viu tudo fechado, apenas com marcas
de sangue.
— Lavou as evidencias?
— O carro ainda está lá em Nilópolis, a menina não se desfez
da arma ainda, mas ela parece querer confusão.
Roberto viu que era mais complicado do que pensou.

76
Eles chegam a delegacia e o delegado da federal vê que o
advogado entrou junto e foram a um teste no instituto de
identificação, e voltam com o resultado e apresentam ao delegado
que olha para Roberto.
— Sabemos que não estava no local, mas sabemos que tem
seguranças que podem ter feito.
— Se sou culpado de tudo que acontece na cidade, sinal que
a cidade está acalmando.
O delegado pega o depoimento e Roberto volta ao
restaurante e fala para Paulinho.
— Apenas deixa o pessoal de olho, estes são malucos.
Ele entra no restaurante e olha para a filha.
— Problemas Amor.
— Acusado de ter mandado alguém dar tiros na casa de uma
juíza, que ontem era acusada, hoje, vão a transformar em vitima.
Os olhos de Roberto estavam sobre a filha que fala baixo.
— Desculpa, não pensei em lhe complicar pai.
A senhora olha a filha, e pergunta.
— O que fez filha?
A menina olha em volta e fala sério.
— Nada.
A polícia da uma batida na casa do senhor, pega apenas
aquela arma ao quarto da filha, estavam terminando de comer
quando a policia cerca o local e leva todos para a delegacia.
Paulinho olha a menina e fala.
— Pegaram uma arma no quarto da menina.
Micaela olha ele e pergunta.
— Sobre a cama?
Ele faz que sim.
— Arma de festim nova que nunca deu um tiro pai.
Roberto olha para a esposa e fala.
— Me aguarda.
Ele entra e o delegado olha para o senhor e fala.
— Encrencado senhor Roberto.
— Duvido, pois se estivesse a imprensa estaria ai fora.
O senhor estava com uma arma a mesa e fala.
— Achamos em sua casa.
77
— Desde quando se mata gente com replicas de brinquedo,
delegado.
O delegado olha serio e pergunta.
— Acha que acredito nisto.
— Não, mas se for me prende por isto, nem chego a cela
senhor, esta dai é um protótipo de uma arma que vamos usar para
um carro alegórico ano que vem, mas para dar tiros, teria de ter
festim, pois não tem tambor de balas.
O delegado olha serio para o investigador que entra, ele não
havia olhado a fundo, evitou pegar e deixar marcas na mesma, olha
para a mesma agora e fala sem som um “Desculpa” para o
delegado, que olha Roberto e fala.
— Desculpa a incompetência de alguns.
Roberto sai e olha para a filha.
— Vão analisar se matou alguém com aquela ali.
— Eles não tem como ter um mandato de busca num
domingo pai. – Micaela.
Saem dali e voltam a casa, tudo revirado, e Roberto olha a
filha e pergunta.
— Sabe o que está fazendo filha?
“Não sei.”- Pensa ela sacudindo a cabeça negativamente.
A menina sobe e olha para fora pela janela, olha para a
quadra ao fundo e olha para os bares cheios, olha para a rua e a
policia ao longe, estavam os vigiando.
Ela olha para fora, olha para o armário, não tinha muitas
roupas ali, pega um vestido e desce.
— Tenta não se meter em encrenca filha.
Ela sorri e sai a rua, o segurança olha ela caminhar até a rua e
ir no sentido da quadra.
Ela para a esquina e olha os policiais ao fundo, pede um
refrigerante litro e senta-se a mesa a rua, o senhor Marquinhos a
olha e fala.
— Crescendo menina.
— Domingo é calmo assim?
— O dinheiro acabou, gastaram tudo no carnaval, agora eles
tem de por as contas em dia.

78
A menina estava a olhar para o fim da rua, e ouve o ruído de
alguém sentar-se, olha e ouve.
— Acha que vai me roubar Rodrigo? – Marina, uma jovem
mulata, de traços bem leves e bonitos.
— Acho que não entendeu nada Mari.
— Você sempre dando encima dele.
O olhar para o rapaz do bar de Micaela fez o senhor falar.
— Uma porção?
— Sim, e um copo a mais.
Micaela olha para Marina e fala.
— Eu queria poder namorar como você Mari, mas meu pai
me isola, amanha tenho escola, e eles não me entendem, eles me
analisam pelo meu pai, e pareço deslocada lá.
Mari olha Micaela e fala.
— Fala serio, você é rica.
— Não, meu pai sempre fala, que ele trabalha, para que um
dia eu seja rica, mas se ele parar hoje, os custos ultrapassam os
ganhos, e em pouco tempo, falidos, ele sempre diz que rico, é
aquele ser que se parar de trabalhar, seus netos serão bem de vida.
— E vai dar encima de Rodrigo?
— Ele não me olha Mari, e o principal, eu não o olho.
— Não acredito nisto.
Micaela sorriu e falou.
— O problema, é que com tanta gente olhando para mim,
nunca me sinto nem a vontade de namorar, sorte dos que não tem
sempre dois seguranças encarando você de algum ponto.
— Mas poderia os mandar embora.
— Dai teria os policiais ao fundo me olhando, se eles forem
embora, dois rapazes do Beira-mar na ponta da rua me olhando, se
tudo isto for embora, acho que Marquinhos já fechou a horas.
A menina olha em volta e fala.
— Sem privacidade nenhuma?
— Pensa em todos estes lhe olhando, e se algo acontecer, só
poder contar com um ou dois, e arriscar ainda perder um amigo,
por isto não gosto do colégio na região Sul.
— Não entendi.

79
— Muita segurança, muito babaca com mais segurança que
eu, e que morreria, pois não sabe nem de onde que as balas veem.
— E veio tomar um refrigerante?
— Pensando em como viver sem me divertir mais um ano,
aquela chatice de viajem em Julho para Miami, eles não entendem
que aquilo é para classe média baixa, pois se não for comprar
coisas, é chato.
— Você fala coisas estranhas, todos querem ir para lá.
— Você me acha branca Mari?
— Sim.
— Para os americanos, sou uma latina, nunca uma branca.
— Não entendi.
— Sei que não, mas assim como odeio gente que descrimina
nossa comunidade, odeio ser descriminada por morar em um lugar
melhor que o deles, sempre digo, se eles querem e acreditam estar
no melhor lugar do mundo, proíbe eles de sair de lá.
— La vem Rodrigo, vê se não baba muito.
— Não entendeu mesmo Mari?
— Entendeu o que?
— Eu não olhava para ele.
Mari olha para ela e fala.
— Cruz credo.
Micaela riu vendo Rodrigo chegar e beijar Marina, olha em
volta, alguns bebendo de mais, mas eles não viriam para o lado das
crianças, ela observa a forma de que os demais se portavam, olha
para todos os lados, acha uma laje que os pegava e apenas faz sinal
para Paulinho que chega ali.
— Problemas menina?
— Quem está na laje dos Dias?
Paulinho olha em volta e pega o comunicador e Mari olha
para os rapazes cobrirem aquela visão e olha para os rapazes ao
fundo, talvez a maioria não tenha visto, mas os seguranças tiraram
um policial que estava filmando em uma cobertura, de lá eles olham
onde estavam os demais policiais, e Paulinho apenas tira Micaela
dali, e Mari e Rodrigo olham ela sair.
Marina olha para Rodrigo e pergunta.
— Sabia que ela gostava de meninas?
80
— Já falei isto antes, você duvidou, então não entrei mais na
provocação sua, o pai dela não sabia, parece que ela fica ao lado
para que o pai não a cobre muito.
— Os seguranças a tiraram daqui, é seguro?
— Ela está sobre ataque, não entendi, mas todos sabemos,
corporativismos é o que para este pais, juízes corporativos, policia
coorporativa, traficantes coorporativos, bicheiros coorporativos.
— Ela falou não ser rica.
— A visão dela de rico, é diferente da nossa Mari.
— Não entendi.
Rodrigo a abraça e a deixa em casa, dia seguinte teria de
ajudar o pessoal a terminar de levar os carros para a cidade do
samba, e começavam a pensar no projeto do ano seguinte, quando
se fala em grandes escolas, aquela, mantinha mais de 200 salários o
ano inteiro, alguns falavam que se mantinha mais de 500, mas
Rodrigo ainda não estava nesta lista de auxilio, tinha de ganhar o
trabalho feito.

81
Micaela olha para o motorista, para a escolta e o carro sai no
sentido da escola, sabia que tinha mexido no vespeiro, mas não
dava para dizer que alguns não iriam sumir ainda, não queria dizer
que alguns pontos, não fossem ajeitados, mas ela olhava como se
fosse parte de seu mundo.
Ela chega a porta do colégio, os seguranças ficam e os da
escola entram em ação, mas ali era apenas mais uma.
A menina olha para as amigas, Caterina chega a ela e fala.
— Arrasou ontem amiga.
Micaela olha as amigas, sabia que teria aulas iniciais, sempre
aquele ritmo inicial de ano, as conversas foram a futilidades, e uma
das conversar que mais ouvia, eram férias na Europa, Micaela sorria
por dentro, pois teria de ser muito estupido para ir para o inverno
Europeu, e falar o que falavam, era o mais barato, pois os demais
locais com dinheiro, vinham a países como o Brasil, quente, não
para a Europa fria.
Ela sabia que o agito estava grande, olha aquele menino parar
a sua frente e falar.
— Dizem que seu pai matou meu tio.
Micaela olha o rapaz e fala.
— Não vou discutir isto Richard, pois quase perdi meu pai, e
vejo que o verdadeiro culpado, seu pai não tem coragem de
perseguir, pois Beira-mar está no Uruguai, todos sabem, a filha dele
publicou a imagem deles numa praia em Castillos.
— Acha que acredito nisto?
Todos olham para Micaela, ela não queria discutir, mas se o
rapaz queria ela não estava para por panos quentes.

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— Sei que não acredita, mas é bom todos saberem Richard,
se eu aparecer morta, seu pai foi um dos mandantes,
corporativismo é isto, aprontam, depois todos se mexem para
apagar as pegadas, seu pai está entre os que assinou a explosão do
apartamento do meu pai, mas se quer falar alto, quando eu estiver
morta, lembra, todos a volta – Micaela olhou em volta – que seu
pai, foi um dos mandantes, e não vai adiantar dizer que não sabia,
seu comportamento, é bem de gente protegendo o papai, mas se
quer falar alto, depois, não reclama, de ser apontado como me
apontam por ai.
Todos olham para Richard, ele queria outro comportamento,
mas ela não se recolheu como normalmente e ouve por fim.
— Mas no fim Richard, podemos eu, você, meu pai, o seu,
estar todos jogados na mesma cova, pois a lei protege neste país,
traficantes, não gente de bem.
— Seu pai não é alguém de bem.
Micaela olha para Richard e fala seria.
— Se ele não é alguém de bem, seu pai que tem 3 vezes mais
mortes nas costas que meu pai é oque Richard.
— Eram bandidos.
— Quando vocês matam, é bandido, quando erram, é
bandido, quando se enganam, no máximo engano, ou erro de
abordagem, mas meu pai nunca matou crianças de 5, 7 e 9 anos, o
seu sim.
Micaela mentira nesta hora, mas o menino estava querendo
aparecer, agora sabia que Micaela sempre soube e deixou quieto,
ele que quis cutucar na hora errada.
Se as meninas olhavam Richard como alguém que poria a
menina no seu lugar, pois uma coisa era dizer, sou igual a você,
outra, minha amiga sai como destaque único na entrada da escola
de samba do pai dela, em um imenso carro, a mão de um anjo de 20
metros.
Richard olha Micaela e fala.
— Sabia e não falou nada.
— Não temos nada contra seu pai Richard, mas ele se deixou
enredar pelo grupo ligado ao Beira-mar, não sei o que aconteceu
Richard para opinar, mas sei que colheremos o estar vivos, sei que
83
meu pai falou com todas as letras, que vai ser o culpado, pois não
morreu, não vai ser fácil, não sei o que vai acontecer, então não sei
ainda quem são os amigos, os inimigos, mas como meu pai fala,
vivemos o dia, depois pensamos no amanhã.
A menina entra e olha os demais a olhando e uma menina
chega ao lado de Richard.
— Do que ela está falando?
— Está em todas as TVs, 12 horas depois de acontecido, as 4
emissoras de TV anunciam o pseudo sequestro e explosão do
apartamento do pai dela, o silencio de todos, diz que eles sabiam,
ou alguém pressionou, mas gente sumiu, e isto sempre gera
represália.
— Seu tio sumiu?
— Sim, um bêbado disse que uma menina de 14 anos o deu
um tiro, não acredito nisto.
A menina olha para Micaela e fala.
— Quer dizer que estão inventando para inverter para eles?
— Quer dizer que foi um carnaval violento, muito violento.

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A reforma é autorizada no apartamento, e os técnicos
analisam a estrutura do mesmo, os vizinhos assustados falam do
medo, do susto, de estragos.
Roberto chega ao mesmo e olha para Fabiola e fala.
— Pega roupa para duas semanas, sei que podemos não ficar
tanto tempo lá, mas melhor estar preparados.
A senhora sobe e olha os quartos, todos ainda arrumados,
estavam como se não tivessem mexido, ela olha para Roberto e fala.
— Eles recolocaram tudo no lugar.
— Eles?
— Até seu relógio está onde nunca o coloca.
Roberto olha para a cabeceira, ele sempre o deixava por vicio
abaixo do travesseiro, olha em volta e fala.
— Se duvidar eles tentaram entender a logica do
apartamento, mas é apenas um tríplex de 1250 metros quadrados
de frente ao mar, que segredos poderia ter um local deste.
Ele mexe os lábios “Fala”, sem som, ela sorri e fala.
— Não sei porque Roberto, mas sabe que é quadriplex, e tem
mais de 1700 metros, não se faça de menos.
Roberto a olha e fala.
— Imagino que eles nem entraram na área dos funcionários
amor, sabe que eles consideram apenas a nossa parte.
— Ignorantes, e querem se dizer Investigadores?
Roberto sorri e fala.
— Eles vão trocar os vidros, limpar a parte baixa, trocar a
parte do gás, deve em 3 dias, dar para usar a parte alta.
— Certo, apenas precaução?

85
— Eles ajeitaram as coisas, pensei que estaria tudo
bagunçado amor, o que temos de agradecer, mas olhando
seriamente, realmente é uma pergunta boa, como podem se dizer
investigadores.
Os dois saem e num furgão ao frente o investigador Douglas
pergunta.
— Quadriplex? O que não viram?
O rapaz passa as imagens e o investigador olha as paredes e
fala.
— Não entraram mesmo na área dos funcionários?
— Não, o que olharíamos lá?
O senhor sai do veiculo e olha para cima, ele olha que tinha
um andar a mais para baixo, conta os andares e fala alto.
— Incompetentes.
O rapaz olha as imagens e chega a entrada.
— Douglas, dá uma olhada nisto.
Ele entrou e perguntou.
— O que?
— Tem muito mais coisa ali, temos as imagens de antes, e da
operação inicial, quando explodiu se perdeu muito, mas se achava
que aquilo era um cofre, ficava a vista e ao mesmo tempo, isolado
da sala, como se falasse aos amigos, existe sempre algo a mais, mas
os apartamentos abaixo, um por andar, tem 520 metros quadrados
cada, 520 por quadro daria mais do que a moça falou, o discurso é
para nós, ou é impressão minha?
— Acha que eles desconfiaram?
— Não sei onde ele guardava o que, mas é obvio que a
senhora desconfiou, obvio que eles normalmente pegariam o
básico, mas elevadores programados, chegam apenas onde se quer
que eles cheguem, sabe disto, e realmente faltou toda a parte dos
funcionários.
— E temos como por alguém para dentro na reforma?
— Vamos tentar descobrir, mas se tem um andar inteiro a
mais, e todos os andares, deve ter um cofre ou peça a mais, a
diferença de 416 metros quadrados para 520, pode ter uma sala a
mais, maior que meu apartamento, dentro de cada andar daqueles
Raul.
86
— Entendi, deixa eu olhar as imagens.
— Pensou em algo.
O rapaz começa a olhar a imagem da peça explodida e fala.
— Sim, esta sala ao fundo, aqui temos apenas os restos,
quando olhei pensei que havia cedido o piso, mas pode ter uma
escada ou algo assim, para funcionários, ou mesmo, para eles
saírem sem que ninguém veja.
— Um apartamento dentro de outro se precisar.
— Pode ser, não havia pensado nisto, pois 300 metros
quadrados, é maior que o sobrado que eles estão em Nilópolis.
— Tenta conseguir a planta do prédio.
— Eles poderiam ter gente ali e elas sairiam apenas depois,
do senhor tirado, as imagens, lembra que não achamos a central de
filmagem?
— A existência de 300 metros a mais, abre muitas
possibilidades, passa a informação a frente, e vamos ver se
conseguimos descobrir algo.
Roberto sai com a esposa e vão a região do clube e olha para
o pessoal limpando e trocando materiais, olha para Fabiola e fala.
— Quero me isolar um pouco enquanto eles reformam o
apartamento, não está seguro nem para nós e nem para a pequena
Nilópolis.
— E vamos mudar para cá?
— Sim, tem casa, piscina, e toda a estrutura está sendo
trocada, eles devem estar com a estrutura pronta hoje, o pessoal já
está chegando, e se eles morderem a isca, vão tentar descobrir o
que temos lá.
— E não ficou nada que nos comprometa?
— Uma adega, 10 quartos, nada que não se explique, ou eles
achavam que os funcionários moravam em um quartinho?
— Eles não entendem a sua forma de pensar amor. – A
senhora.
— Eles não pensam, eles repetem, pior, se convencem do que
repetem e ficam a cada dia mais com certezas ridículas.
— Eu nunca vim aqui.
— Sei disto, mas tem as casas ao fundo para os funcionários,
e a casa a frente, e uma praia de agua doce com as piscina.
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— Me escondia este lugar?
— Sua filha que projetou isto, ela vinha ver eles tirarem areia,
ela pediu para aprender a dirigir o trator e não soube dizer não,
dizem que foi aqui que ela aprendeu a atirar, mas Paulinho não me
abre isto muito, ela pediu segredo.
— E dai você montou o lugar?
— Sim.
Roberto foi apresentar a esposa o local.

88
Quando o carro dos seguranças no lugar de voltar para
Nilópolis, vai para a Barra, passa e começa a atravessar o Recreio
dos Bandeirantes, quando passou pelo Guaratiba, sabia para onde
iria, sabia o quanto aquilo era isolado de tudo.
O carro embica no local, ela olha para onde vira Regina a
ultima vez, olha para os pais, não sabia se era uma boa ideia, mas
uma coisa era aprender a conviver, enfrentando, ela desce do carro
vendo os funcionários chegarem em outros carros, se instalando e
seu pai a olha e fala.
— Vamos nos instalar onde dê para saber meia hora antes
que estão vindo.
— Sabe que férias de verão aqui é melhor que em Miami pai.
— Você viu algo lá que não gostou.
— O tom eu não gostei, mas não dá para explicar nosso país
fora dele pai.
— Nos consideram violentos.
Ela abraça o pai, e não responde, ela olha para o lugar e
pensa se saberia enfrentar aquilo.
O sentir das coisas vivas em volta, a faz achar que o lugar
seria especial, e não teria como dizer que não queria, sabia que algo
estava errado, seu pai as isolou.
Micaela olha para aquela energia a volta, ela sente paz,
estranha, ela pregara guerra, como poderia sentir paz?
Ela olha a piscina, olha em volta, Roberto abraça a esposa e
olha a filha, os dois ficam a olhar ela chegar a beira da piscina,
pareceu que o sol sai dentre as nuvens e a ilumina forte, Roberto
olha em volta, sente aquilo, estranha, o que estava acontecendo.
Fabiola olha a filha e pergunta.
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— O que está acontecendo amor?
— Não sei, o que vê?
— Luzes dançantes, mas é apenas a luz do sol, brilhando na
agua e induzindo a seres.
Roberto sorri e fala.
— Uma resposta racional, sim, pode ser isto.
Micaela olha para a luz a sua frente ficar forte e vê aquela
menina em luz lhe olhar e falar.
“— Você sabia que me mataria?”
O som fino, quase inaudível, fez Micaela olhar para os pais,
eles estavam encarando a miragem a frente e fala baixo.
— Sim.
“— Não teme o peso disto?”
— Não. – Micaela sorriu, nunca pensou em falar com algo
assim, poderia ser sua imaginação, poderia ser qualquer coisa, até
uma armação, olha envolta e ouve.
“Não é armação Micaela!”
O responder de seu pensamento fez ela olhar e sentar a beira
da piscina, a imagem estava sobre a agua, então não parecia algo
além de um efeito de luz, mas os funcionários olhavam aquilo
encantados e Micaela fala.
— Matei, mataria de novo, e pode ter certeza, não entendeu
nada.
“— Vi sua lagrima, mata quem ama.”
— Não sei o que é amar, acho que não sinto isto, me apego e
desapego, com a mesma rapidez, todos me temem, me chamam de
bonita, mas eu me olho ao espelho, sei quem está ali, conheço
aquele ser, e somente eu consigo ver o quanto não sou bonita.
Micaela olha aquela luz caminhar em seu sentido, estranha
pois a menina parecia brava, mas ela sentia paz, olha em volta, e
outros raios de luz solar passam pelas nuvens, inclinadas, entravam
nas piscinas e praia artificial a frente e se erguiam vários espectros,
a sensação de acalanto, agrado, se fez aos braços da menina que
sorri, uma contradição, um ser em luz, lindo, rosto fechado, bravo, e
um rosto bonito e alegre, diante dos seres que mandou matar.
O espectro parece olhar em volta e não entender, mas os
olhos de Regina foram aos de Micaela e pergunta.
90
“— Quem é você?”
Micaela não entende a pergunta, mas olha aquilo e fala.
— Alguém que pensou que teria o peso, e algo está me
mostrando que não preciso olhar isto como peso.
Micaela olha o céu e as nuvens aumentam, os espectros
foram se desconectando do céu, os raios de sol passando pelas
nuvens se desfez, e por um momento, os seres olham assustados,
depois brilham um breve momento, sem a luz solar, e após isto,
aparentam se desfazer no ar, mas apenas estavam deixando de
estar visíveis, os olhos de Micaela ainda estavam no do espectro de
Regina a frente, ela começa ficar invisível aos olhos, mas Micaela
sabia que ela estava ali ainda e olhava para o mesmo ponto e fala.
— As vezes uma demonstração destas, muda uma vida
Regina, mas muitos vão tentar me provar, que nunca aconteceu, e
não preciso provar que estão ai, a física explica porque não os
vemos, mas não quer dizer, que com luz solar, refletido pelo azul
dos lagos a volta, um acaso, não os possa ver de vez em quando,
tornando o espectro, o seu espectro de luz visível, mas saiba, não
lhe quero mal, nunca vai entender isto. – Micaela olha em volta e
pensa – pois os que amamos, matamos!
Micaela se levanta e caminha até a casa aos fundos, todos a
volta não haviam ouvido o que ela falou, mas olhavam em volta
num misto de encanto e medo, uma senhora olha para ela na
entrada, Tania, a cozinheira.
— O que foi aquilo menina?
— Luz solar com espectro de luz azul refletida das piscinas e
lagos a volta, nada de mais.
— Parecia que tinha alguém ali.
— Tania, para os descrentes isto não aconteceu, para os
crentes, é coisa de demônios, então, para que falar disto?
A menina sobe ao segundo piso e entra em seu quarto, viu
que a sua mãe tinha trazido algumas roupas e olha para o que havia
vindo, olha para fora e sente como se Regina estivesse ao lado.
— Vou ficar maluca, tudo bem, faz parte de viver.
Ela foi a um banho, estava quente e na saída viu pai e mãe
olhando ela.
— O que foi aquilo filha?
91
— Não sei, realmente não sei pai, parecia algo, mas a
sensação de paz, me fez duvidar.
— Não gosta de paz filha? – A mãe.
— Mãe, quando se fala em crença, uma que sempre acreditei,
que tudo que me passa paz, é do mal, tudo que me passa duvida, do
bem, então eu estranhei toda aquela paz ali, sei que muitos gostam
da paz para viver, mas desculpa, sou Micaela David, não uma
menina qualquer.
Roberto sorri e fala.
— Mas o que foi aquilo?
— Oficialmente, sol passando entre as nuvens e interagindo
com a pintura fresca das piscinas recém cheias, espectros de luz
visível por reflexão.
Roberto sorri e fala.
— E não oficialmente?
— Digamos que mortos em uma câmera de gás moderna,
revoltados por terem morrido, o que mais pai, aguardando os três
dias para renascer.
Fabiola olha a filha e fala.
—Odeio esta conversa.
— Também odeio. – Micaela.
— Mas senti uma paz imensa? – Roberto.
— Pai, tem de entender, tudo que eu falar, é um acho que
não é hora de falar disto.
O senhor viu a menina descer, era um sobrado, e foi a cozinha
e pediu algo para comer, estava com fome.

92
O investigador Douglas olha para o estrago e olha que
começavam a limpar a peça ao fundo e levantar novas paredes, olha
para a escada para baixo, estava com o delegado e o juiz em uma
ação para obtenção de provas, obvio, provas para o que os
interessava, já que estavam na casa do sequestrado.
O investigador olha as paredes, pareciam machadas de
sangue, ele passa o dedo e cheira, via-se a quantidade de vidro.
Ele desce as escadas com calma, acende as luzes e olha em
volta, uma sala, os banheiros, a cozinha, 15 quartos de mais de 20
metros quadrados com banheiro interno, tudo arrumado e quase
sem nada fora do lugar.
Ele anota as coisas e sobe novamente, anota as medidas e
sobe mais um lance de escadas por aquela escada e se depara com
um cofre que parecia verdadeiro, chega a ele, força a porta e vê que
ele estava aberto, ilumina dentro e vê que estava vazio, o juiz olha
para aquilo e pergunta.
— O que procuramos?
— Senhor, temos um apartamento dentro do outro, se eu
somar os 300 metros dos três andares normais mais os 520 do
andar dos funcionários, eles tem um apartamento de 820 metros
quadrados, dentro de um tríplex visível aos demais, não sabemos se
tem algo, mas temos de verificar.
— Está dizendo que aquela área lá embaixo é dos
funcionários? – Delegado.
— Sim.
Eles sobem mais uma escada e se deparam com a sala de
gravação, sem nada para gravar, mas as imagens em tempo real do
apartamento, dos corredores baixos e das entradas.
93
Raul olha aquela sala e olha o servidor, um mega servidor de
imagens, mas olha a gaveta de HDs, vazia.
— Se tivéssemos visto isto, poderíamos ter as imagens
internas senhor, mas se eles a tem, eles tem a prova de quem o fez,
as conversas que não temos, eles sabem que os juízes
desmereceriam estas provas, então eles apenas vão usar para uso
próprio, não para juízo.
O juiz olha de perto e fala.
— Está afirmando que eles tinham um sistema de gravação
de todos os corredores e salas da casa.
— Sim, se olhar, o único lugar que não tem câmeras, são os
quartos, seja do tríplex, seja dos funcionários.
O investigador olha para a escada subindo ainda e fala.
— Por dentro, eles tem acesso até ao ponto do helicóptero
senhor, eles desmontam fácil a acusação de resistiram a bala, pois
se eles tivessem visto, e achado que seriam atacados, eles teriam
apenas saído.
— Tem de ver que ninguém vai acredita nesta versão. – O
juiz.
— Com certeza Pedro do Tabajara vai acreditar Juiz.
O juiz olha e fala.
— As vezes alguns poderiam usar o bom senso delegado,
Serginho não era alguém a se matar, sei que alguns problemas que
nunca encaramos, mais de 100, por ele apenas ligar e desarmar os
ânimos de um dos lados.
— As pessoas colocam crianças na rua, para fazer coisa de
profissional, pelo menos aquela juíza não está por perto para
aprontar mais uma.
— Acha que ela está onde?
— Para darmos ela como morta, mesmo que o sangue seja
dela, temos de ter o corpo.
— Acha que ela morreu?
— Muita gente saiu da cidade nas 5 horas após o anuncio do
resgate de Roberto, o que diz que eles sabiam e deram cobertura,
qualquer um destes, poderia querer apagar uma pegada Juiz.
— Dedução falha.
— Assim como acusar o dono deste apartamento pela morte.
94
— Mas ele tinha motivo.
— Tinha? – O investigador olhando para o Juiz.
— Verdade, ele não tinha, mas poderia levantar, e a Juíza se
mostrava como mãos de quem o atacou.
— E aquele sangue no primeiro andar.
— Vinho senhor, apenas vinho.
— Era a vinícola da casa?
— Provavelmente, se duvidar tinha ali em vinhos mais do que
eu tenho em patrimônio, mas nada de irregular, embora eles
parecem não ter feito questão de erguer isto tão rapidamente.
O investigador caminha até a peça ao lado, com a ajuda de
Raul, mede cada parede, fotograva, registra, poderia ter algo que
não viram, ele tenta imaginar algo ilegal, mas o que via era apenas
uma casa dentro da outra, ele não conseguia achar nada de ilegal,
nada que pudesse nem ligar o senhor ao jogo do bicho, nada além
da decoração, mas isto não era crime, ele senta-se a sala e olha Rui.
— Não encaixa.
— A verdade as vezes desilude. – Raul.
— Um local encantador, um sistema que garante ao senhor
conforto, dinâmica de casa, mas porque parece que não combina.
O Juiz olha para o investigador e pergunta.
— Tentando adivinhar, esquece.
— Não, tentando enxergar o que não estou conseguindo.
O grupo sai, Douglas vê o delegado e o Juiz saírem, ele olha
para o mar, caminha até ele, olha para a praia, sorri da ideia boba e
olha para o prédio.
Olha para aquela estrutura na frente do prédio, um elevador
externo para tirar e por coisas, pois não estragariam os
acabamentos internos da recepção para o fazer, olha para o local e
sorri.
Raul olha ele e pergunta.
— O que entendeu?
— Que as vezes queremos achar algo, e esquecemos do
básico, apenas isto.
— Básico?
— Do que vive o senhor?
— Jogo do bicho.
95
— O que ele precisa para ganhar o dinheiro dele?
— Não sei, um local para sorteio, que pode ser em qualquer
lugar.
— Sim, então o que ele precisa em casa para controlar isto?
— Um telefone.
— Sim, ele não precisa de nada na casa para que isto
funcione, então toda a alegação de que estavam atrás de provas, é
falha, o Juiz sabe, ele queria algo para o acusar, apenas para não
nos perguntarmos, o que eles faziam arrombando um cofre no local,
20 policiais para arrombar um cofre.
— Acha que descobriu?
— Eles deveriam estar tentando arrombar portas, tentar
entender a lógica, no cofre interno, não temos marca de tentativa
de arrombar, no servidor, não temos como sabe se chegaram ali, e
o sistema não tem parada, é um servidor de filmagem, mas o que
eles esperavam achar no cofre?
— Não entendi ainda sua logica.
— Raul, não sei se é tentar achar algo onde não existe, mas
em algum lugar, eles amontoam milhares de apostas, e como ali
aparentava ser um cofre, imenso, eles estavam querendo dinheiro,
se tinha não saberemos, mas o verdadeiro cofre, tinha vestígios de
notas.
— Vestígios de notas?
O rapaz mostra os papéis de contagem, os sistemas para
contagem de dinheiro externo, e o sistema de embalagem.
— Certo, eles estavam atrás do dinheiro do bicho, mas quem
sabia disto, pois seria roubar um bicheiro.
— As vezes os números falam por si, o jogo do bicho apenas
na cidade do rio de janeiro, tem em media, 3 milhões de apostas
por horário de sorteio, aposta media dois reais, 4 sorteios dia, mais
de 24 milhões de reais dia, em media de 312 dias de aposta,
somente aqui na cidade, eles geram quase 7,5 bilhões de reais,
obvio que quando eles apreende, um carro do bicheiro, alguns
dizem, estão os descapitalizando, mas um sistema que gera 24
milhões de reais dia, o que é um carro de 200 mil neste caso?
Raul sorriu.

96
— Eles montaram um sistema que os demais invejam, em
qualquer lugar do mundo, eles já seriam legalizados e participativos,
aqui o jogo tem de ficar na mão do governo.
— O problema é o poder que o dinheiro gera no Brasil, e isto
que eles não gostam.
Douglas olha para o prédio e olha em volta, um lugar normal
e até discreto diante de prédios maiores, mas não tão clássicos.
O rapaz faz suas ultimas anotações e vão a delegacia, deixam
as coisas e saem.

97
Micaela é deixada a porta do colégio, um senhor olha do
outro lada da rua e fala.
— Acha que vale o risco Mico?
— Não sei, mas se temos de os frear, tem de ser alguém que
eles presem.
— Sabe que quase mataram Roberto e vi muita gente fugir, se
eles se virarem contra nós, temos de ter linha de fuga.
— Não entendo o medo deste senhor.
— Você o vê como ele está hoje, não como ele era a mais de
40 anos.
— Acha que ele vai negociar?
— Nunca tinham mexido com ele, alguns falavam que era
mexer com o Comando Vermelho e os Amigos dos Amigos ao
mesmo tempo, muitos duvidaram, mas todos viram Beira-mar sair
fugido.
— Eles nos tomaram pontos, não podemos deixar barato
Mico.
— Acho algo mal planejado, mas se vamos, apenas põem
gente competente na operação Rick, pois vimos o que os
incompetentes dos federais fizeram.
Os dois olham a segurança, viram o pessoal começar a chegar
perto e começam a se reunir a meia quadra dali, e Mico fala.
— Entramos, saímos, rápido, quanto menos mortes melhor,
pois é por menos gente nisto, é uma ação com um objetivo,
entenderam?
— Como a tiramos?
— Acreditem, vamos por um helicóptero na frente da escola,
a base aérea vai fazer vistas grossas.
98
Micaela estava na aula, era historia, ela olha o local, calmo,
estava olhando o caderno, alguns passando mensagens, alguns
fazendo piadinha ao fundo.
A menina olha em volta, parecia sentir algo diferente, sente
aquela paz entrar por todos os lados, uma sensação de calma e
acalanto, sente o braço arrepiar, olha em volta.
Ela não poderia falar ali, passaria por maluca, mas se ouve um
tiro, dois, Micaela fica atenta, Richard olha para ela, ela olha aquele
ser de luz surgir a sua frente, ela não sabia se os demais viam aquilo,
mas ouve.
“— Sabe que eles vem até ti.”
Micaela olha a professora e fala.
— Calma professora, só se afasta da porta, se for para me
pegar, apensas deixa, os demais não precisam morrer por isto.
Um rapaz entra gritando e Micaela se levanta lentamente
erguendo as mãos, olha nos olhos do ser de luz a frente, Regina, e
fala.
— Se o que querem é Micaela David sou eu.
O rapaz dá um tiro para cima e fala.
— Então anda no sentido da porta, o resto, quietinhos.
Micaela vê o rapaz olhar para onde deveria estar Regina e
fala.
— O que é isto?
“Some antes que ele pratique tiro nos demais Regina!”
A luz some, e ela calmamente caminha no sentido da porta,
sente quando atravessa a energia de Regina, o rapaz a empurra e
fala.
— Rápido menina.
Ela tenta não olhar muito, dois a conduzem a porta, viu o
helicóptero descer a frente e a jogarem para dentro.
Ela sente alguém a encostar ao mesmo e falar.
— Quieta e não morre.
Micaela vê o rapaz por um capuz e prender o cinto nela, ela
ouve o barulho do helicóptero subir e pensa no problema que
estava colocada, por baixo do tecido sorri sem som, e fala baixo.
— Vou morrer, que morte estupida.

99
O helicóptero deixa ela na beira da Lagoa Rodrigo de Freitas
na Av. Epitácio Pessoa, a colocaram num carro e abandonaram o
helicóptero em plena avenida a atrapalhar o transito, pegam o túnel
Rebouças sumindo no sentido norte da cidade.
Micaela sente que estava com algo dentro dela, estranha,
lembra de quando atravessou aquela energia na porta e pensa.
“Veio conferir o meu destino Regina?”
O ser dentro de Micaela sente o corpo e pensa.
“Não entende que não pode ter o poder de vida e morte?”
“Eu não o tenho!”
Micaela olha para suas lembranças, sorri e fala.
— Onde vão me matar?
Ela ouve um rapaz ao lado falar.
— A morte depende de seu pai, não de você menina.
— Péssima escolha.
O rapaz olha o outro e fala.
— Onde?
— Belford Roxo, Glaucia.
— Sabe o problema ali? – O rapaz olhando a moça.
Micaela sorriu e o rapaz fala.
— Acha que ela pode ouvir.
— Não entendo o porque de tudo isto, mas sabe que pediram
para a deixar lá, vamos fazer e sumir, sem ela nos ver.
O rapaz entendeu, era uma entrega, não seria nada além
disto.
Micaela sente o carro parar e olha através do pano, pelos
olhos do espirito de Regina e pensa se eles seriam tão espertos ou
idiotas assim.
Micaela olha para João e Ricardo, dois rapazes que conhecera
na escola de samba, não lembra o que faziam lá, mas eles a deixam
a porta de uma casa, uma senhora olha os dois e apenas faz sinal
para a colocarem num canto, Micaela olha que a empurraram para
ela cair no buraco, ela dá um pequeno salto e cai de pé no buraco,
não dava nem para se mexer direito.
Ela sente o cheiro de mofo, um buraco que deveria estar
abaixo do rio Sarapui, então se tivesse uma cheia, ela teria de nadar,
ela estava com as mãos soltas, e ouve.
100
— Se tirar o capuz, vai morrer menina.
Micaela olha para a moça, olha em volta, sabia onde estava e
fala.
— Para que viver, se os amigos nos entregam por pontos de
drogas.
A moça se calou e olhou a senhora, se calou.
— Ela não tem como saber onde está, é apenas jogo de
palavras moça, ela é esperta, não caia nesta arapuca.
Micaela se encolhe no buraco e pensa.
“Obrigada por não me deixar só nesta hora.”
“Não tô aqui para lhe fazer bem, quero que veja como os
demais a veem, não como acha que estes nojentos a veem.”
Micaela fecha os olhos e pensa em como sobreviveria, ela
não tinha certeza de querer sair viva, começava a sentir os
sentimentos de Regina e teve de se ater a se controlar para não se
deixar levar pelo pessimismo da menina.

101
Roberto estava em Guaratiba quando recebe a noticia da
ação no colégio, olha em volta e para Fabiola.
— Pegaram Micaela no colégio.
A moça olha descrente e pergunta.
— Quem?
— Não sei ainda, mas parece que fizeram bem mais limpo
que da vez anterior.
— Quero minha filha aqui Roberto.
Ele a abraça de fala.
— Sei disto, também a quero aqui.
Roberto olha para Paulinho e pergunta.
— Como conseguiram?
— Mais de 30 pessoas senhor, eles a tiraram de helicóptero
de lá e o abandonaram na beira da Lagoa Rodrigo de Freitas, e dali
se mandaram a norte, não sabemos ainda onde senhor.
— Segura o pessoal, não sei o que está acontecendo ainda.
— Acha que são os mesmos? – Paulinho.
— Não quero adivinhar, mas com certeza quero você
acionando todos, não sei quem pressionou da vez anterior?
— A morte de Serginho foi a maior pressão na vez anterior.
— Verifica o que está acontecendo, quero ela viva.
Paulinho sai e olha para os rapazes, alguém deu serviço, sabia
disto, mas teria de descobrir qual e chega a entrada e fala.
— Vamos reforçar a segurança aqui, quero informação de
quem está em cada ponto, reforça tudo, não vou facilitar e vou
armar todos, quem sair da linha, sabe o que vou pessoalmente
fazer, passa a frente.

102
O agito se fez na baixada, uma coisa era dizer, vamos dar
mole, outra, vamos manter a ordem e descobrir quem foi.
Paulinho foi a região do colégio e olha para a segurança do
colégio e consegue uma copia da mesma.
Ele chega a seu apartamento em São Conrado, olha os vídeos
e olha os calçados, ele olha para fora e fala.
— Vai dar merda.
Ele desce e faz sinal para dois rapazes e um chega a ele.
— Sabe se consigo falar com Pedro do Tabajara.
— Problemas?
— Verifica para mima.
Pedro estava a olhar um desembarque no cais, quando um
dos seus rapazes chega a ele.
—Paulinho da Rocinha quer lhe falar.
— O que aconteceu que ele iria querer me falar?
— Alguém sequestrou Micaela David hoje de dentro do
colégio.
— E ele pediu para falar com mais alguém?
— Não, ele está no prédio dele em São Conrado, mas
perguntou se você não poderia falar com ele.
— Vou dar um pulo lá, pelo jeito a guerra deles não acabou, e
pior, é coisa de covardes, pois atacam agora a menina, como
fizeram com meu pai.
Pedro termina de verificar o descarregar e acerta o suborno
para o contêiner sair do porto sem ninguém olhar, e vai no sentido
da região sul.
Pedro toca a campainha e sobe, olha para Paulinho olhando
pela sacada e fala.
— Se deu bem Paulinho.
— Sei que está melhor que eu Pedro, mas tenho um
problema.
— Qual?
Ele põem a gravação do sequestro, e Pedro olha o detalhe do
calçado e pergunta.
— O que quer saber Paulinho?
— Como paramos isto, não quero matar seu sobrinho, não sei
o que eles querem, mas deve ser o ponto no Pavãozinho, mas estão
103
arriscando muito, eles não pediram, não tentaram conversar, e sabe
que Roberto tem um amor incondicional a filha.
— Entendi o problema, mas estava fazendo um
desembarque, nem havia me atido ao problema ainda, acha que
qual dos aliados ainda está querendo o ponto?
— Seu sobrinho me induz ao comando vermelho, mas são uns
principiantes, eu em uma tarde, vou ter os 30 nomes apenas pelos
calçados, eles acham que se errarem algo, vai ter mais uma
montanha de mortos Pedro, a pergunta, como paramos isto, como
colocamos eles no lugar?
— Não sei ainda, mas já sabe alguns?
— Me preocupo por estar ali Mico e Rick, o resto, Ziquinho,
Turco, Vergo, Nariz, Dandan, Paulão Manco, Ricardo e João, coloco
rápido para correr, mas a pergunta, o que eles querem, preciso
saber rápido Pedro.
Pedro pega o celular e disca uma, duas, e na terceira vez Mico
atende e fala.
— O que quer Pedro?
— Me ouve apenas, na minha frente está Paulinho me
perguntando, como paramos isto, o que querem, sabe que foi você,
vai feder sobrinho, o que querem?
Mico no morro do Pavãozinho olha para Rick e fala.
— E como ele saberia quem foi?
— Ele já tem 10 nomes, ele disse que até o fim do dia terá os
30 nomes, a pergunta dele é seria, sabe o que acontece se aquela
menina quebrar uma unha Mico?
— Parte do comando não está feliz.
— Eles quando o sequestraram queriam o que, que ele não
revidasse a falta de educação sobrinho?
— Você nos detonou também.
— Pelo jeito esqueci de você e de pedir desculpa para a
mana.
— Queremos doze pontos, e sabe o que acontece se ele não
nos der?
— Sim, mais mortes, pois você mata ela, melhor saber nadar
sobrinho, pois para dentro da cidade, não vai mais sair, ou saber
voar.
104
— Está ao lado deles?
— Pega uma menina de 14 anos, como sequestro para pontos
de droga, desculpa, covardes mesmo da família, são covardes.
Mico entendeu que chegaram a eles muito rápido.
Paulinho pega o telefone ao fundo e pede para vigiarem 3
casas, tinha quase certeza de onde acharia a menina, Roberto não
iria gostar, mas mandou ficarem de longe, não sabia ainda como
entrar e não arriscar, então seria na calma.
Rodrigo olha para os rapazes se posicionarem a rua, a noticia
da violência a porta da escola, estabelecia que novamente os
atacados eram os David, e quando isto chega a comunidade, muitos
se perguntam quem, e os rapazes chegam a região e a forma que
olham cada um, pareciam procurar alguém.
A forma da mãe de Rick olhar para ele, e sair, lhe passou uma
duvida, ela não veio perguntar da menina, ela saiu, como se
querendo sair rápido dali.
Rodrigo olha para os demais e fala.
— Espero ter entendido errado.
Franco olha para onde Rodrigo olhava e fala.
— Também espero que não seja coisa de Rick, se for, vai dar
merda Rodrigo.
— Podemos ter entendido errado, mas a primeira vez
ninguém se mexeu além da menina, eles não entenderam Franco,
era marketing contra o Fernandinho, não para eles tentarem
quebrar o marketing.

105
Douglas é chamado a sala do Delegado que fala.
— Sabe de algo Douglas?
— Sobre?
— Micaela.
— Senhor, é gente dos morros e favelas ali, temos uma
escuta sobre Paulinho, ele já identificou 10 dos rapazes apenas pelo
calçado, ele chamou Pedro para conversar, Pedro do Tabajara e
perguntou como paravam isto.
— Pedro está envolvido?
— Pelo que entendi, Mico, o sobrinho dele está, e a pergunta
é seria, mas se alguém fizer burrada, eles sabem por onde conseguir
a informação.
— E como ele conseguiu os nomes?
— Pelo que entendi, o colégio cedeu a mesma copia que nos
cedeu, mas ele pelas armas e calçados, embora todos mascarados e
com aquela roupa semelhante, pela manha tinham 10 nomes, mas a
conversa era para determinar as 30 pessoas antes do fim do dia.
O delegado olhara a imagem e não vira nada, e acabara de
saber que do outro lado, alguém já tinha parte dos culpados.
— Não é função deles fazer isto, eles se acham acima da lei.
— Não, eles querem parar o problema, mas parece que as
coisas estão complicadas para o senhor Roberto e se a menina
surgir morta senhor, tem gente a mais que vai sumir da cidade.
— Fica de olho nas ações do senhor Roberto.
O olhar de Douglas para o delegado não foram de concordo.
— Temos de pegar ele Douglas.
— Não entendo esta pseudo justiça senhor, juro que não.
— Eles são contraventores.
106
— Se eles são, metade desta delegacia é senhor, até o
senhor, ou aquele papo a duas semanas de ter acertado o terno, era
apenas papo.
— Não é a mesma coisa.
— Sei que não é, mas se a menina morrer, por sua omissão,
não espere que eu declare que estava no caso da menina, não vou
fazer senhor.
— Mas...
— Sei que ele é um contraventor, mas não me culpe senhor,
de não querer ver uma menina a mais nesta cidade morta, por
traficantes de morro.
O investigador saiu e o delegado mandou outro ficar de olho
em Roberto, embora não soubesse, que Douglas não disse que não
olharia o senhor, apenas falou para não inverter a historia depois.
Raul olha para Douglas e pergunta.
— Porque pegou pesado.
— Porque a ação foi muito bem coordenada, alguém de
dentro deu serviço, e toda a policia local estava desviada para o
lado oposto da operação, e nada viram.
— Acha que ele sabe?
— Espero que não Raul, espero que não.
Os dois saem e o delegado olha para o investigador Marcos.
— Eles vão onde?
— Ficar de olho no senhor Roberto.
— É para onde eles vão, algum problema delegado.
Ele não pensou na morte da menina, mas era sempre uma
possibilidade, abre-se portas, e não se sabe bem onde elas vão se
fechar.
Quando o delegado foi almoçar em casa, o filho olha para ele
e pergunta.
— O que fizeram pai? – Richard.
— Do que está falando filho?
A forma que o menino olhou para a mãe, soube que ela sabia,
e fala.
— Há um dia, Micaela me disse que se ela morresse, para não
esquecer, que um dos que assinou a sua morte foi o senhor, hoje a
tiram do colégio, uma ação de perto de 12 minutos, não chegou
107
nenhum policial em menos de 35, todos os da Civil que fazem
serviço estra no colégio, não estavam lá, eu pensei, juro pai, que ela
estivesse exagerando.
— Tem de entender filho, meu irmão e toda família estão
sumidos. – A senhora.
— Sei, mas quando se deixa a lei, para a vingança pessoal
mãe, viramos alvo, o tio, provavelmente estava visando lucros, pois
o sequestrado era o pai da menina, obvio que para ele sair de um
buraco, eles explodiram todos que conheciam, alguém com medo
deu o endereço e acham ele lá sujo e amarrado, mas ação gerando
reação, quando todos nós, como ela mesmo falou, estivermos na
mesma cova pai, mortos, não serão eles que terão vencido, e sim
quem contratou o serviço, pois com certeza, a fuga de Fernandinho,
estabelece que ele não está aqui, para a lei, mas as fotos no Uruguai
mostram a filha e a esposa, não Fernandinho, ele bem pode estar
novamente esperando para apagar todos.
— Não sabe do que está falando filho.
— Espero que esteja errado pai, pois neste instante, os dois
ai, tentando se vingar, podem ter colocado uma bala em minha
cabeça, e os dois se negam a olhar a verdade.
— Eles são contraventores.
— Não pai, eles exercem um negocio ilegal, mas o mesmo
negocio, quando feito pela Caixa, é considerado legal, então é
apenas dinheiro e regulamentação, eles ganham muito, pois não
estão na mão de sistemas que nos cobram impostos.
— Isto que nos mantem filho, a sociedade se mantem sobre
impostos.
Richard olha o pai serio.
— Aqui em casa, ela mantem a ordem, a rua limpa, ali aos
fundos pai, no morro, porque ela não tem o mesmo efeito?
— São ocupações ilegais.
— São pessoas que não tiveram o mesmo caminho, as
mesmas oportunidades pai, mas o imposto, não é para quem tem
mais oportunidade, deveria ser para todos, é fácil dizer que na
Rocinha tem 80 mil moradores, e dizer que tem colégio para todos,
porque não assumem, tem 125 mil moradores, e não se tem
estrutura básica para elas, muito menos escola.
108
— Se bandeando para o lado dela?
— Se soubesse que iriam aprontar com ela, não teria a
colocado na parede, pois a cara que todos me olham hoje no
colégio é, seu pai mandou matar a menina, e agora, o que tem a
dizer?
— Não fui eu.
— Pai, o senhor abriu as portas para que acontecesse, sabe
disto, os dados mostram que sim, nós jovens não precisamos de
provas para acusar, quando temos certeza, tudo isto deixa de ter
importância.
O senhor volta para a delegacia e olha para os demais
olhando os dados, ninguém se mexeu para nada, a policia não
projetou nenhuma tentativa para obtenção de provas, todos os
encaminhamentos para depoimento estavam retidos e tanto a
policia federal ali, como a civil, tentam ignorar mais este
acontecimento.

109
Quando começa a escurecer, Micaela estava ainda no buraco,
sentia fome, mas não pediria nada.
Micaela olha as mãos, mesmo de capuz, estavam sujas, mas o
que lhe chamava a atenção, o brilho que estava, teria de ter uma
forma de dar liberdade a Regina, mas ela não assumiria um crime,
para isto.
“Não tem mesmo intenção de me dar um enterro digno.”
Micaela olha para cima, estava com o capuz, mas as vezes
sentia o olhar de Regina e viu que estavam cobrindo o buraco, ela
repara que deixaram um alçapão e desceram algo por ele, e ouve
uma voz disfarçada.
— Se quiser comer, aproveita, eu não lhe daria de comer.
Micaela olha para cima, estava com o capuz, sabia que não
veria mais quem estava a sala, mas como não mandaram ela tirar o
capuz, ela pensa em como o fazer.
A senhora olha de cima e pensa algo, olha para fora e viu que
estava um agito, olha para o buraco e coloca algo sobre as tabuas,
Regina não viu que ela colocara o sofá e algumas coisas ali.
Micaela estava quieta quando ouve alguém ao longe, falando
com a senhora, perguntando se viu algo diferente, ela diz que não,
perguntou o que estavam procurando, os rapazes não falaram, mas
a senhora falou que se quisessem olhar, a vontade.
Os rapazes viram a casa simples e nem se deram ao trabalho,
foram olhando outras.
A senhora olha pelo buraco e fala.
— Para comer pode tirar o capuz, mas somente para comer.

110
Micaela pensa, ela tira com calma, olha a comida, não estava
acostumada a colher, mas começava querer sair viva, e sabia que
teria de comer para isto.
Quando ela terminou de comer, comeu o que tinha no prato,
pouca coisa, mas a sede parecia ser imensa para apenas aquele
copo, o calor no buraco estava grande.
Ela coloca o capuz, tenta uma posição e entre ouvir a novela,
que nem sabia qual era e o acompanhar o pouco movimento da
casa, adormece ao canto, pensando em o que faria para sair dali.
Regina parece se agitar dentro de Micaela que pensa.
“Problemas?”
“Muitos querem sua morte!”
“Sei disto.”
Micaela sente aquela paz vir por todos os lados, não sabia o
que era, mas sabia que ela despertara aquilo, ela sempre sentira
aquilo, mas parecia mais forte a pouco mais de uma semana.
A senhora a casa, olha para a TV desligar, olha para a rua, a
luz foi caindo, ela olha para o buraco, tinha luz, estranha, abre a
pequeno alçapão e vê que a menina brilhava, estanha, fecha e foi a
rua, fim de rua, com o rio ao fundo, ela viu a rua apagando no
sentido oposto a que estava, olha em volta e algumas senhoras
saem a frente e um rapaz fala.
— Problema Nana?
Ela faz sinal que não com a cabeça e o rapaz olha para o
buraco e fala.
— Ela não pode ter acesso a luz Nana.
— Não entendi, ela brilha, não é algo elétrico, é nela.
— Bebeu Nana? – O rapaz.
Ele falou, achou que Nana iria reclamar, mas ela olhava para
todos os lados, como se estivesse com a visão em algo, ele olha em
volta e espectros de luz, começam surgir nas lajes a toda volta, até
vindos do rio ao fundo, refletidos no chão pela pouca luz vinda da
lua, todos olham que vinham no sentido que estavam e o rapaz
pega a arma ao fundo, arma pesada e começa a dar tiros, ao longe,
Rodrigo observava a reação, não sabia em que casa estava, mas
aquela amostra fora do normal, fazia todos olharem aquilo.

111
Alguns tentam filmar, a falta de luz na região dava mais
destaque aqueles seres surgindo, Nana olha em volta, todos vinham
a ela, ela se assusta e olha para o rapaz.
— Não me falaram que ela era protegida por anjos.
O rapaz olha assustado e fala.
— Não fala besteira! - se ouvia ele cortando o céu com aquela
arma, ele parecia apavorado, um dos seres surge as costas dele, e
ele vira-se no sentido da senhora e atira, o ser sorri, ele não
entende, até o ser recuar e ver Nana ao chão, morta.
Os tiros faziam Micaela se encolher em um canto, os seres
estavam a chegar naquela casa, Regina sai de seu corpo e fala.
“Eles vem lhe matar.”
“Eles?”
“Os que matou.”
O rapaz atirou no sentido da casa, atravessando as paredes
com aquela arma de guerra, os demais olham para Guido e um
consegue chegar por suas costas e falar.
— Para de atirar Guido, vai matar todos em volta.
— Mas o que é isto?
— Não sei, mas Nana morreu, não sei a menina, sai enquanto
pode, pois se ela morreu, vai sobrar Guido.
— Mas...
— Não sei o que é, eles estão indo para lá, não sei.
Rodrigo faz sinal para Paulinho, que chegava a região, atraído
pelas conversar malucas nos rádios, depois pela falta de luz, e por
ultimo, alguém atirando em pânico.
Guido olha para a casa toda furada, olha para os seres
começarem a cercar o local, se de longe pareciam anjos, de perto,
espectros de violência, com dentes a mostra, em uma luz tênue,
que sem luz era visível, mas apenas neste estado de total escuridão.
Micaela sente a paz, tira o capuz e força as penas nas paredes
de terra e começa a subir, empurra o alçapão, olha para a peça, olha
os seres todos a volta, olha os espectros tentando parecer violentos,
mas eram apenas energia, Regina olha para Micaela e fala.
“Não tem medo?”
— Medo, o que é isto?

112
Micaela com a saída de Regina, parara de brilhar, mas olha os
seres e começa a sair da casa, eles queriam a assustar, mas
pareciam temer ela, começam a recuar, o chegar da menina suja a
porta, fez Paulinho ao fundo fazer sinal para se posicionar, não
sabiam quem estava em volta.
— Não pode sair. – Grita Rick ao longe.
— Não estou saindo, estou assustada cercada destas coisas, o
que é isto, efeito especial? – Micaela olhando Regina a sua frente,
que parecia olhar descrente, ela avançava e eles recuavam.
Regina para e pensa que Micaela iria parar, ela atravessa ela,
e sente as mãos brilharem, uma menina para a sua frente, a filha da
juíza e ela a atravessa também e ouve em sua mente.
“Não pode nos prender”
Micaela olha os demais e sente aquela paz se tornar duvida,
ela puxa a mão para ela, e os seres sem entender, começam a não
conseguir recuar, ela sente eles entrando nela, ela sente as
energias, as historias, as reclamações, olha para a mão e fala alto.
— Tem a chance de sair agora Rick, e esquecer a cidade,
amanha, sabe que onde estará.
Rick olha em volta, somente nesta hora reparou na segurança
chegando, ele olha para ela.
— O que é você?
— Amiga dos Amigos, sabe o que quer dizer isto?
— Não, sou Comando.
— Estou dizendo, que somente quem respeita os amigos, vai
a frente, comando vermelho, parece coisa de menina menstruada,
não de comando de respeito.
— Não sabe o que fala.
— Tem a ultima chance de sair ou me matar, qualquer das
duas vai ser correndo muito Rick, está perdendo tempo.
Os seres continuavam a entrar na menina, Regina tenta sair e
viu que não conseguiria mais, Rick via a menina brilhar cada vez
mais, o pessoal de duas casas em volta começam a sair, sabiam que
quem ficasse estaria com problema, mas Guido ainda olhava aquilo,
estava a 5 lajes dali naquela hora, mas olhava sem entender,
quando alguém encosta uma arma em sua cabeça e manda ele
largar a arma.
113
Muitos fugiam olhando para a menina, o que fez o trabalho
do grupo de Paulinho os prender fácil, eles estavam distraídos, num
misto de medo e encanto.
Os rapazes de Paulinho chegam a viela e ele olha Micaela
olhar para o chão, sentir aquela duvida, e a luz vir em todos os
sentidos, Rodrigo ao longe, olhava ainda sem entender, mas era
obvio, a menina viraria lenda, pois ela sairia do esconderijo, sozinha.
A luz voltando, a pouca luz que agora saia dela, fica invisível
aos olhos, ela olha para a casa e fala olhando a senhora morta a rua
e fala.
— Vamos sair antes de nos complicar Paulinho.
— Ela não foi morta por nós.
— Eles sabem, mas não quer dizer que eles aceitem.
Um carro entra de ré na rua, e Micaela entra nele, olha as
mãos, os pensamentos estavam bem confusos, pois tinha mais de
50 pessoas falando em sua mente.
Ela queria entender, mas como dormiria assim.
“Perdida ai Regina?” – Pensa Micaela.
“Pensei que tinha me esquecido”
“Eles não sabem o que aconteceu ainda.”
Micaela atravessa a cidade duas horas, entre Belford Roxo e
Guaratiba a noite.
Ela desce do carro suja e abraça pai e mãe, pede um
momento e vai ao banheiro, ela toma um banho demorado, o pai
olha para ela e pergunta.
— Estão falando absurdos lá em Belford Roxo, o que
aconteceu?
— Não entendi, o que eles querem pai?
— Pontos de droga.
— Idiotas ou o que pai, não tocamos o tráfico.
— Eles pelo jeito não entendem muito das coisas.
— Sei disto, mas o que quer perguntar?
— Está bem?
— Tentando entender, não sei pai.
Micaela conta ao pai o que viu e ouviu, o que sentiu, e foi
dormir, estava pregada.

114
Quando na quarta, Micaela entra pela porta do colégio,
muitos olham descrentes, uma coisa era dizer, fui sequestrada,
outra, estou aqui de volta, você não entendem nada.
O investigador Douglas a poucas quadras do colégio, ouve a
novidade, ninguém falara ou anunciara o soltar da menina, e teve
de olhar pessoalmente, ela entra na escola, ela olha alguns
seguranças, eles sabiam que estavam com problema a partir
daquele momento, ele volta à escuta de Roberto, que nada dava,
pareciam isolados o tempo inteiro, Caterina chega a ela a medindo
e pergunta.
— Como está, estávamos todos preocupadas?
— Confusa, apenas isto.
Aula de física, ela senta-se, todos olhavam para ela, alguém
que ninguém parecia acreditar estar ali, mas o professor olha para
ela, e pergunta.
— Sei que não deve ter estudado isto, mas como você
resolveria o caso, temos a aceleração e queremos a distancia?
Ela sente o calculo a mente e fala.
— Sei que dá 16 professor, algo entre derivar da velocidade,
já que temos a aceleração.
O professor olha para o quadro e fala.
— Uma saída rápida e inteligente, alguém entendeu a ideia
simples?
Richard olha que a menina estava li, ele não ouvira nada, seu
pai não falara nada, parecia preocupado finalmente, e a menina,
que ninguém viu, estava em aula novamente.
Talvez o ela estar ali, não fez os demais verem que o nível da
conversa dela e o professor estava muito acima da media.
115
Micaela olha para os demais saírem para o intervalo e o
professor perguntou.
— Pegou professor particular, vi que estava com duvidas bem
simples, agora está num nível superior a turma.
Para não mentir ela apenas sorri e o senhor sai da sala, ela
pega apenas a carteira e sai para o intervalo.
Richard olha para ela e pergunta.
— Não entendi você aqui hoje.
— Sei disto, mas eu estar aqui, é problema para quem me
tirou do cativeiro, então estou preocupado com eles, não com
informar que estou bem.
— E não vai falar disto?
— Esperando a versão oficial, deve entender.
— Sim, discuti com meu pai ontem, pensando que iria morrer
e surge com todo este brilho hoje?
— Brilho?
— Radiante, como se nada tivesse acontecido.
— O buraco era fedido, se quer saber, tomei uns 3 banhos, a
sensação ainda é de ter o cheiro daquele buraco em mim.
— E não vai falar disto?
— Não, pois ainda não sei se o grupo de traficantes que o
executaram já tomaram jeito, ou não, eu falo algo, morro a tiros
num assalto a porta, uma bala perdida atravessa o pátio e me
acerta, infelizmente, muita gente morre nesta cidade assim.
— Mas está bem?
— Sim, me sinto um pouco desidratada, mas meu pai explicou
que tomando agua aos poucos, volto a me hidratar, que ter ficado
um dia inteiro em um lugar fechado e muito quente, nos desidrata.
— E pelo jeito vai continuar a brilhar por ai, alguns acharam
que a mais metida das filhas de bicheiro tinha se ido.
— Estranho ainda como estou, para entender esta critica, sei
que se sair a rua, poucos me identificariam, então não sei o que
falar, famosa, nem tanto, mas brilhar, com certeza – Micaela olha as
mãos, sente aquilo dentro dela e repete – com certeza, brilharei.
Ela sai com o segurança e vê que foi no sentido de
Copacabana, ela sobe e olha para a reforma da sala e olha para o
pai.
116
— Não gosta de lá mesmo?
— Ficamos longe de mais, eles nos acham fracos e nos
atacam.
— Como estão as coisas pai?
— Eles já sabem dos corredores internos, mas ainda não
entenderam o básico.
— Sempre me pergunto pai, vou ficar maluca ou ser alguém
especial, o que estão falando em Belford Roxo?
— Que Micaela é uma protegida dos anjos.
— Protegida?
— Rodrigo me falou que todos falam na menina dos David,
que saiu sozinha do cativeiro, que convocou as forças do criador,
das sua fé e saiu do cativeiro, e sem dar um tiro, sai sem um
aranhão do cativeiro.
— Ainda bem que não entendo disto, mas com certeza,
vamos ter problemas sérios.
— Sim, vamos ter problemas, mas nada do que foi feito lá,
eles nos atribuem, falam que os traficantes da região fuzilaram a
dona Nana, pensar que a recebi em casa.
— Nick o senhor falava que seria o líder da região se soubesse
dominar os seus e assumir aos poucos a liderança, pensar que eles
pensam que atalhos funcionam neste mundo.
— Sei de muitos que estão me chamando para conversar,
terei de me colocar em lugares com sistemas de proteção, porque
eles querem nossa proteção, não entendi, mas eles atribuem nossa
fama, algo que eles não atribuíam, o medo gerado pela ignorância
diante de alguém que chama a ela toda uma proteção que não
dominam.
— Acho que eles tem de consumir menos do que vendem pai.
— Não estou brincando filha, estranho ouvir de mais de 10
pessoas que eles querem proteção da “Filha dos Anjos”.
— Vou ter de usar colete agora pai?
Roberto sorriu, ela tinha razão em parte, era maluquice, era
apenas Micaela, não um ser sobrenatural.
Ela vai ao quarto, ajeita as coisas, seu armário finalmente, ela
pega um aparelho e começa a passar nas peças, e olha que tinham
escutas ali, ela desce e coloca na mesa e fala.
117
— Isto apenas no meu quarto pai.
Roberto sorri e fala.
— Temos de conversar filha.
— Vou dar uma saída, preciso pai, não quero parecer maluca.
— Vai onde?
— Se estamos voltando para cá, para Guaratiba.
— Não entendo aquele local.
— Aquele local é algo a entender e administrar pai, não sei,
não sei o que falar sobre o que falam, mas é obvio, algo está
acontecendo e preciso entender, não ficar maluca.
Roberto viu Paulinho chegar a entrada e olhar a menina e
perguntar.
— Onde quer ir?
— Guaratiba.
Ele não falou nada, acionou os demais, e Roberto olha para o
rapaz reforçar a segurança, ele se culpou pelo sequestro, saem no
sentido do clube particular que montaram e Paulinho olha para ela
e pergunta.
— O que precisa menina.
— Quero entender, deixa o pessoal mais ao longe, não
precisamos de gente espalhando o que não entendo.
Ele não entendeu, afastou os seguranças para as entradas,
tinha gente olhando ao longe, mas agora postadas para cuidar dos
acessos externos.
Ela chega a beira daquele lago de agua doce, a sua frente
mais de 300 metros até a outra margem, areia a toda volta, gerando
uma imensa piscina de agua doce, olha para o ar, era próximo das 4
da tarde, Paulinho olha ela olhar para o céu, aqueles raios de sol,
pareceram vir sobre ela, olhou aquelas luzes saindo dela e olhando
em volta, estranha, parecia que ela estava libertando algo, vira ela
absorver aquilo, agora a via colocando para fora.
Os olhos dela foram a uma menina que a olha.
“Não lhe entendo!”
— Eu não entendo, você está apenas se negando a seguir o
caminho, como estes a frente.
“Não temos opção, não entendemos, mas não podemos nos
afastar de ti, eles odeiam isto, todos sabemos que ou nos matou ou
118
ordenou nossas mortes, e mesmo assim, parecemos presos a você,
não quero lhe servir uma eternidade.”
Micaela olha em volta e fala.
— Ninguém vive a eternidade, para ficar presa este tempo.
“Dizem que você é uma protegida”
— Quem disse isto? – Micaela olhando a menina.
Micaela sente aquela energia dos raios solares focarem ao
lado da menina e um ser estranho, de luz, não parecia um anjo,
parecia algo estranho, pele lisa, apenas luz gerava isto, cabeça
grande, mais para um cão, pareciam chifres de luz, meio arcado,
olhando para ela.
O ser falou algo e Paulinho sentiu o som gerar uma onda a
frente, estar longe não sentiu vidros trincando, era agudo, mas
sentiu um ser ao fundo ser puxado para perto como proteção,
Micaela sentiu isto estranho, algo que foi tão rápido, que foi sentir o
som, o agudo, ver as ondas e ouvir ao mesmo tempo, com os
ouvidos protegidos.
— Eu disse.
— E quem é você?
— Alguns me chamam de – o ser riu – de anjo.
— Isto teria de falar com Franco, ele adoraria esta versão.
— Não entende, sou algo que vocês não tem como definir.
— Isto entendo, porque não sei, mas parte do grupo deixou
uma ciência em mim que não tinha, como se visse hoje muito mais
tons de luz do que antes.
— Por trás de seus olhos, agora tem um protetor, gerado por
um a volta, seus ouvidos ouvem mais, pois tem um protetor para
ele, mas tem de entender, eles são para uso moderado.
— Moderado?
— Não se deve absorver todos juntos, isto me afirmaram, e
vejo que não era real, que enlouqueceria o ser que o fizesse, mas
você provou que eles não queriam que tentasse, mas evita, não
sabemos o que pode acontecer.
— Não sabemos? Vocês são quantos?
— Mais do que sabe contar, menos do que o universo precisa.
— E porque eu seria uma protegida?

119
— Você não entende, são feitos que lhe faz merecedora, não
conquistas.
— Feitos?
— Tem gente que se deixa levar pelo dinheiro, pelo luxo, pelo
poder pessoal, e tem gente que assume o dinheiro, o poder pessoal
e colhe as consequência de puxar para si as conquistas.
— Não entendi.
— Foi determinado, não entendo as lógicas totais menina,
mas foi determinado, eles lhe servem, enquanto você os quiser por
perto.
— E como deixaria de os ter por perto?
— Terá de descobrir por si.
— Não vai nem dar uma dica?
— Tem coisas que os humanos não entendem, ser Deus, não
é saber tudo, ser um anjo, não é saber tudo, ter o caminho ditado,
não quer dizer, caminho fácil.
— Uma boa noticia finalmente.
O ser sorriu e sumiu e Regina a olha.
“Não pode nos aprisionar!”
Micaela olha em volta, não conhecera eles antes, mas sentia
eles agora, se por um lado eles tiveram uma vida, ela sentia como se
pudesse fazer coisas que ignorava antes como fazer.
Olha para a casa ao fundo e caminha até ela, pega uma arma
leve, uma pesada ao ombro e sai pelo fundo, ela olha a pistola e
pensa em atirar e sente alguém ser puxado ao local, não o ser, mas
a experiência, ela olha a arma, entende que tinha de a manter
limpa, que teria naquela arma sempre desvios a direita dos tiros,
que não era uma arma para grandes operações.
Ela pega a arma e olha para Paulinho ao longe.
Paulinho olha para ela e ouve, estava muito longe.
— Ajeitaria os pontos de tiro?
Paulinho olha para ela, ela falou baixo, ele ouvira, o rapaz ao
lado olha para o lado, procurando a menina e olha ela bem longe.
Ele olha o rapaz e fala.
— Ajeita os alvos.
— O patrão não a quer atirando.

120
— Ela quer aprender a se defender, sabemos hoje que ela
tem seus segredos, mas mesmo assim, se preparar para o que quer
ser.
Enquanto eles ajeitam as coisas, ela entra naquele terreno
grande, tanques retos, longos, com laterais a cada 10 metros, de
dois metros, caminha ali e olha o senhor Marcos.
— Eles já estão produzindo?
— Sim, camarão de agua doce, eles estão a 40 dias em
engorda, não sei a ideia?
— Senhor, eu sei que pareço apenas a filha do dono, mas esta
parte, eu montei, então apenas avisando, quem toca isto, eu, vamos
no barracão do fundo, a partir da semana que vem, tirar, limpar e
embalar um tanque por semana, mas para isto, estamos
introduzindo camarão em um tanque por semana, por 60 tanques,
sei que parece muito, mas o mercado não vai nem nos sentir nele,
mas a ideia, oferecer camarão em embalagens de 3 quilos, no
mercado, a partir da semana que vem.
O senhor olha a menina e pergunta.
— E teremos compradores?
— Sim, teremos compradores.
— E aquela estrutura a norte da Pedra. – Se referindo a Pedra
de Guaratiba.
— Aquilo tem de ser implementado ainda, primeiro vamos
terminar isto, tenho de saber se vai dar certo parte para avançar.
— Está falando serio que você é a dona.
— Senhor, quando falei em tirar areia daqui e vender para
construtoras, parecia um absurdo a 3 anos, eu tinha 11 anos senhor.
— Certo, fez pensando em abrir as fazendas de cultivo.
— Sim, mas tem coisa que preciso entender para ver se
funciona.
— E o que vai fazer ali?
Micaela apenas sorri e fala.
— Me divertir.
Ela volta e pega a arma, Paulinho olha ela atirar, ela parecia
mais firme, com mais pratica, a forma de olhar parecia nem ser
dela, ela troca de arma, pratica com 6 tipos de pistolas, e pela

121
primeira vez atira com uma arma de grande calibre, estranha como
sabia onde teria de segurar para não perder a firmeza do tiro.
O segurança ao lado de Paulinho olha para ele serio.
— Ela atira melhor que eu Paulinho.
— Ela está sentindo o que aprendeu, ela sentiu 6 tipos de
pistola, ela quer achar uma que se adapte, mas não posso dizer que
ela não está evoluindo rápido, imagino que ela deva estar
segurando-se para não revidar o ataque de ontem.
— Sabe por quê?
— Ela não quer brigar com Pedro do Tabajara, nem eu
pretendo brigar com ele, peças fundamentais tentamos desviar,
mas sabemos que isto as vezes gera mortes.
— Ela parece incansável hoje.
— Sei disto.
— Mas e aquelas luzes?
— Não sei, ontem vi gente encantada e apavorada ao mesmo
tempo, quem viu não sabe o que aconteceu, e ela não fala sobre
aquilo, parece não querer criar uma impressão errada.
— Aquilo nos mostrou onde ela estava, mas imagino que ela
arriscou ontem.
— Quando ela surgiu na porta, sabíamos por regra, que
teríamos de derrubar todos que tentassem atirar, mas eles estavam
encantados demais para atirar nela.
— Alguns falaram que acharam que iriam morrer, pois
sentiram uma paz imensa.
— Sim, ela afasta as pessoas, pois é isto que a luz parece
transmitir, paz, ela não parece gostar disto.
A menina olha para Paulinho e fala.
— Acho que por hoje chega.
— Está ficando perigosa com uma arma a mão.
— Queria já ter definido uma arma, mas cada uma delas
parece responder melhor para algo, então ainda não me defini.
O segurança olha para ela e Paulinho fala.
— Quer ficar em casa agora?
— Sim, hoje não vou me complicar.

122
Estava escurecendo, ela aproxima as mãos, e os dois viram
aquelas luzes serem puxadas para ela, algo tão natural, que Micaela
nem se preocupou com os dois olhando.
Ela olha as mãos brilhando e estas param de brilhar, Paulinho
olha para ela e a conduz ao carro.
— O que é isto menina?
— Algo que está dentro de mim, tenho de descobrir se para
bem ou para mal, mas sei que eles fora, me sinto leve e rápida, eles
dentro, ligada na tomada, atenta ao máximo.
— Seu pai esta preocupado.
— Vamos lá, temos de falar ainda sobre algumas coisas.
A menina guarda as armas e coloca numa pasta, entra no
carro.
O grupo sai dali e ao longe Douglas olha para Raul e fala.
— Gravou isto?
— Não entendi o que é aquilo?
— Também não, mas a menina atira bem Raul.
— Sim, mais de 6 tipos de arma, nível de acerto de atirador
profissional.
— Entendeu o quanto estão preparando esta menina para
assumir os negócios?
— Acha que aquilo no fim foi oque?
— Parece um efeito especial, algo preparado, os dois
seguranças pareceram já ter visto isto, mas pode ser bem para dar a
sensação de algo sobrenatural, as pessoas temem o sobrenatural.
— Temos de ver aquilo com calma, sabe que o delegado é
capaz de pedir a prisão do pai, por a menina estar praticando tiro.
— Eles não vão negar, mas que lugar é este?
— Dizem ser um clube que a menina criou, algo para passar
dias tranquila, é longe da cidade, tem a extração de areia, parece
que vão começar a produzir camarão rosa, e que estão fazendo
tanques a cada avanço das maquinas sobre o areal, gerando uma
grande fazenda de cultivo.
— Dinheiro gerando dinheiro.
— Estranhei, pois perguntei para o rapaz da criação quem era
dona do local, ele disse Micaela David.
— A menina é dona de tudo isto? – Douglas.
123
— Sim, se pensar que devem ter comprado toda região por
menos do que vale o prédio do pai em Copacabana, mas tem de ver
que se eles tiverem entradas legais, e criação de camarão é legal,
fica mais difícil de os prender.
— Eles não vão conseguir entradas como a que falamos com
sito Raul.
— Sim, mas ela seria rica, a partir de algo diferente, e aqueles
recursos, não esquece, é dividido por milhares de bicheiros.
— Sim, ela teria uma produção de algo legal para a por no
mercado, mesmo que todo resto pare, mas o que me assusta é a
frieza dela naquele teste de tiro.
— Teste não, treino de extermínio, ela não atira nas pernas
Douglas.
Os dois vão a delegacia, estavam a levantar as informações.
A menina sobe para tomar um banho e Roberto pergunta
serio para Paulinho.
— O que ela está aprontando.
Paulinho olha em volta e fala.
— Conversamos na sala de vídeo.
Roberto entendeu que Paulinho não abriria aquilo a muitos,
vão a sala e Paulinho pega um pendrive e mostra o treino de tiro, e
olha para Roberto.
Roberto olha a filha atirando e fala.
— Ela está mais eficiente que muitos que conheço Paulinho,
mas não gosto disto.
— Ela quer ser respeitada senhor.
— E o que ela pretende lá, sei que Fabiola disse que ela
desviou muito das economias para lá.
— Senhor, ela ganha algo que parece pouco, 100 reais por
caminhão de areia que sai de lá, a menina fechou com pequenos
materiais de construção, ela é o estoque deles, deve vender não
mais de 100 caminhões por dia, a extração permite mais de 100
anos ainda extraindo calmamente, quando ela começou a ter estas
entradas, ela parou a dois anos de pedir mesada, deve ter
estranhado.
— Está dizendo que ela está tirando quanto em dinheiro de
lá?
124
— Para o senhor é trocado, mas para ela, dois milhões e
quatrocentos por ano, é dinheiro.
— Ela está gastando isto como?
— Escola de costura em Nilópolis, empresa de plástico em
Duque de Caxias, de Embalagem em Belford Roxo, agora ela
pretende abrir ali a segunda leva de produção, na maior fazenda de
criação de camarão rosa da região, tirar perto de seis mil quilos de
camarão semanais, ou como ela fala, meu segundo ganho de 2,4
que se mantem enquanto estiver viva.
— Ela parece que lhe encantou Paulinho.
— Eu vejo ela fazer isto senhor, podendo ficar ali sentada e só
curtindo o dinheiro do pai, sabe que Fabiola tem agora todo
respeito gerado por estas ideias sociais, é algo que olhando não se
vê a menina assim como ela resolveu criar empresas, ela aos quase
15 anos, tem ganhos anuais superiores hoje a 3 milhões, mas ela
quer terminar o ano que vem, com mais de 5 milhões ano.
— Mas ela tem comprador para a produção?
— Roberto, o camarão rosa tem preço perto de 24 o quilo, ela
está repassando a 8 com o compromisso de levarem tudo, ela quer
alguém a mais se dando bem, e garantindo a calma para investir, o
rapaz em Pedra de Guaratiba, diz que ela tem um hotel lá pronto
para funcionar, na baia de Sepetiba ela tem a frente da Pedra,
quase pronto, a instalação da primeira fazenda de Ostras dela, não
entendi a ideia, mas ela falou que se ela conseguir instalar, ela
pretende tirar 2,4 em ostra, em camarão, em areia, e em peixe, 1
com os dois hotéis, o que a permitiria pensar no criar da tecelagem
e empresa de roupas, ela gosta de costurar Roberto.
— Ela estava me falando em fazer curso de moda, pensei em
algo mais para tomar tempo.
— Se ela estiver com tudo funcionando, sim, será para
desenhar roupas de alta costura, passar o tempo, mas não vejo sua
filha fazendo apenas isto.
— E quem está tocando isto para ela, pois ela não tem idade?
— Ela tem as coisas no nome da mãe, ela coloca gente lá
fazendo, as vezes parece que esta se divertindo quando aprende a
dirigir trator, ela disse que vai transformar o local que ela usa para

125
tiro em uma Associação de Tiro, não sei como ela pretende fazer
isto.
— E aquelas luzes que todos falam?
— Isto ela ainda não me abriu, mas ela falou que precisa
trocar uma ideia. – Paulinho coloca a imagem gravada a poucas
horas em Guaratiba e Roberto pergunta.
— Ela está lidando com isto como?
— Ela tenta parecer forte, mas entendo que ela está tentando
entender, ela não parece dominar, mas aquilo parece a seguir.
— As vezes tenho medo por ela.
— Sei disto, sempre tenho medo das consequências, as vezes
parece que ela quer entender, mas algo aconteceu senhor, ela me
mostrava uma menina querendo ser empresaria, ser algo, agora
parece tentar ir a frente, mas sabe como eu Roberto, que ela
sempre foi muito ligada a tudo, os níveis de detalhes que ela repara,
sempre foram muito superiores a maioria.
— E acha que ela vai dividir isto?
— Não sei.
Os dois olham a menina entrar olhando Caio ao lado.
— Passa em todas as peças, vai detectar os pontos e separa,
vamos ver onde colocamos eles, mas primeiro vamos tirar tudo, de
preferencia a noite, para ver onde deixamos, marca de onde saiu
cada um deles.
Caio sai e Micaela olha o pai.
— Pai, sei que deve estar preocupado.
— Sabe que você atirar, pode me complicar.
— Sei disto pai, primeiro, o terreno tá no meu nome,
segundo, tem um pedido de local de treino para competição, sei
que eles vão tentar barrar, mas no local, não tem armas de tiro, e
sim, armas de competição.
— Acha que vamos ter problemas?
— A policia filmava ao longe, mas não queria problemas por
este motivo.
— Sabe o problema deles filmarem algumas coisas?
— Sei pai, apenas tenta não se envolver.
— Tenho medo de lhe perder filha.

126
— Acalma, sei que muitos vão falar demais, mas não tem
como ser diferente neste momento.
A menina sai da sala de gravação e olha pelo vidro, sabia que
teriam problemas, mas ainda não sabia quais, estava começando a
anoitecer, tentava diferenciar o que eram suas dúvidas do que era a
dúvida das experiências internas.
Tenta se prender a um fato, ela era detalhista, adorava
detalhes, aprendera a desenvolver as coisas a partir de detalhes
simples, não se importando com o que os demais queriam, apenas o
que ela queria.
Ela busca em suas lembranças e acha no de um dos policiais
um telefone, acha uma afirmação a mais, sorri sozinha de poder ser
alguém que não era tão desconhecido, pega o celular e disca.
— Por gentileza, Investigador Douglas?
Douglas estava chegando a sede da policia e faz sinal para
Raul encostar.
— Sim, quem gostaria?
— Micaela David.
— O que quer menina?
— Apenas alertar, para depois não ter o ódio de quem não o
alertou do que tem, pois é sempre como vocês agem.
— Porque odiaria?
— Você e Raul ao lado, filmaram um estande de tiro de
precisão em Guaratiba, mas as balas são de competição de tiro, não
de armas de verdade, sei que olhando ao longe, parecem iguais,
mas alertando, podem fazer batidas lá, apenas alertando que as
armas são de competição esportiva.
— Acha que acredito nisto?
— Sua função é investigar Douglas, apenas alertando, pois
não lhe alerto, você apresenta isto ao Juiz Plinio, ele faz uma
operação, olha as armas de competição, desconta em você e o ódio
vem para mim.
— Me responderia uma pergunta com sinceridade?
— Se souber responder?
— O que são aquelas luzes.
— Oficialmente, efeitos especiais.
— Não pedi o oficial e sim o sincero.
127
— Douglas, as vezes eu vou ter de olhar as imagens e
entender o que vocês veem, dizem que meu senso de percepção de
cor e luz, é de 325%, ou quer dizer, enxergo uma gama de cores a
mais, de coisas a mais que vocês, mas aquilo, digamos é que um
brinde que não entendi, sei que muitos me odeiam, e sei que a
maioria não entende.
— Entende a estrutura que seu pai tem?
— Entender ela eu não entendo ainda, dizem que tenho de
aprender muito para chegar a entender ela.
— Então não sabe bem o que são aquelas luzes.
— Na verdade ouvi um ser estranho, me dizer que eram
experiências de mortos, mas se falar que ouvi um ser que parecia
mais um cão com chifres em luz, me dizer que era um anjo, eles me
internam como maluca investigador.
— E não vai declarar isto por ai?
— Alguém acredita senhor?
— Não, desculpa, mas não, somos a técnica, não os efeitos
especiais.
— Então boa sorte, terá de provar a técnica de algo que acho
eu, não se encaixa em definições técnicas.
Micaela desliga e olha para o pai as costas.
— Não entendi com quem estava falando filha.
— O investigador que filmou tudo ao fundo, hoje em
Guaratiba.
— Acha que ele é de confiança?
— Não vou pensar nisto pai, pois tenho de me acostumar
ainda com coisas que desconheço.
— Como o que?
— Pai, lembra quando eu era pequena, que me mandaram
fazer aquele teste, pois eu não dava as respostas que os professores
queriam para cores?
— Sim, achamos que era daltônica, e na verdade tinha uma
capacidade de ver 3 vezes mais cores que nós, então o que para uns
era um azul, para você, se dividia em 3 cores.
— Sim, mas no meio disto, não sei como, não entendi isto
ainda, foi no momento que fui invadida pelo primeiro ser, a gama
de cores sobe de 3 vezes mais, para 18 vezes mais, então pelo que
128
entendi, vocês veem uma coisa quando daquelas aparições, eu vejo
18 vezes mais, o problema, é que as câmeras até gravam boa parte,
mas vocês não as veem, então tenho de descobrir o que vocês
veem, não o que eu vejo nas gravações.
Roberto abraça a filha.

129
Douglas olha para Raul e fala.
— E se for verdade?
— Seria algo armado para nós vermos, lembra que perguntou
o que eram aquelas luzes?
Douglas anota o numero que lhe ligara na memoria do
celular, e pensa um pouco.
— Sim, mas se for isto, porque ela me ligaria?
— Confundir?
— Ela sabia que eu e você estávamos lá Raul, nem o Delegado
sabe disto.
— Eles tem sistemas de câmeras.
— Eu não a conheço, - Douglas pensando que aquela menina,
estava longe da criança que conheceu quando bem pequena - como
ela sabe quem eu sou, ela tem o meu numero pessoal Raul, você
não tem.
— Acha que tem algo mais ai?
— Vamos a delegacia, quero olhar as imagens, não sei,
parecem apenas luzes, mas deixa eu levantar a ficha desta menina.
Raul olha o investigador e religa o carro.
Os dois chegam a delegacia de federal e vão a sala de vídeo,
Douglas olha os detalhes e fala.
— Um estande de tiro de precisão, não sei como é o teste em
competições, mas o que vemos ao canto, é um estande de apoio,
nem tinha olhado isto.
— Ela alertou para algo real, eles tem um estande de tiro de
competição, é o que está dizendo.
— Sim, mesmo que ela tenha usado armas de verdade, ela vai
dizer que eram de competição.
130
— Ela não lhe alertou da verdade e sim do que acharemos lá,
seria isto?
— Parece que sim, obvio que algumas imagens não teriam
como ser de competição, pois é arma restrita, mas acho que ai
encaixa a segunda resposta.
— Não entendi.
— Se perguntarem para a menina referente a isto, ela vai usar
a mesma resposta do que usou para as luzes, efeitos especiais.
— Mas...
— Ela tem curso de Produção Áudio Visual.
Douglas olha a imagem e olha para uma descrição, olha
aquele contorno de algo arcado, em luz ao lado e fala.
— Este é o ser que ela tentou descrever?
— Não entendi.
— Um cão com chifre em luz, é como ela definiu isto.
— Esta ficando engraçado.
Douglas levanta a leva de dados da menina e lá estava,
problemas visuais aos 10 anos, descartado Daltonismo, deficiência
visual causada por distinguir 3,25 vezes mais luzes, do que o padrão
normal.
— Ela afirmou que enxergava mais cores, ela sabe que está na
ficha dela, mas deixou claro, eu vejo mais que vocês.
— Tem o exame?
— Não. – Douglas olha a hora, não teria como conseguir mais
a informação, ele levanta-se e vai a sala do delegado, ele queria
algo, e tinham algumas informações, teriam de mostrar serviço.
O delegado ouve a explanação, não viu o vídeo, Douglas não
colocaria nada que não tivesse como afirmar, é isto, então ele omite
o que não entendia. Um erro de relatório.
O delegado termina de ler e pergunta.
— Aqui diz que todas as escutas do tríplex pararam de
funcionar.
— Sim, eles de alguma forma, estão tirando elas, deixando
apenas uma ou outra, mas tudo que gravamos lá, foi apenas
ligações de gente assustada pedindo paz ao senhor.
— Gente pedindo paz?
— Paz e proteção da Filha dos Anjos. – Douglas.
131
O delgado viu as transcrições e pergunta.
— Tem certeza de ser um Stand de Tiro?
— Sim, eles pediram liberação junto a policia federal para
instalar um stand de treino na região, então está em fase de
liberação.
— Acha que se dermos uma batida lá, o que achamos?
— O que eles querem que achemos senhor, o que sempre
falo dos David, se quer conseguir algo, precisamos agir com
inteligência, não como fizemos até agora.
— Acha que eles armaram para você olhar, mas porque
alertar?
— Não entendo disto, mas tenho certeza de uma coisa
senhor, algo estranho aconteceu, mas antes de ter provas
concretas, não tenho como por em um relatório oficial.
— Por quê?
— Isto é tática pessoal, aprendi naquele curso em Berlin, mas
ela não funciona no Brasil, os antigos membros da KGB colocavam
em seus relatórios tanto o que viram como o que não entenderam,
então quem o lia, tinha o dado, mas aqui, se eu colocar o que não
entendi, eles me afastam senhor, depois vão dizer que não
alertamos, desconhecer a fonte daquelas luzes, não me torna
incapaz de as ter visto, mas sei que se colocar no relatório, vocês
me tiram daqui.
— Acha que foi armação?
— Senhor, a pergunta que me faço, se foi armação as luzes de
hoje a tarde, o sequestro não o foi?
— Não me parece logico ter sido, gente saiu fugida da cidade.
— Então como eles armaram aquele jogo de luzes no
cativeiro, se não foi armação senhor?
O delegado olha para o investigador, ele estava colocando em
duvida o sequestro, mas todos tinham a imagem da menina sendo
sequestrada, o delegado sabia que não foi armação.
— Douglas, o que vou falar não é oficial, mas sei que não foi
armação o sequestro, sei que tem gente achando isto, mas a
menina foi realmente sequestrada.
— O que sabe que não sei Delegado?
O Delegado olha serio o investigador e fala.
132
—Tem muita gente envolvida Douglas, mas a primeira
tentativa, gerou mortes, sei de gente que afirma que Fernandinho
torcia por isto, pois seria mais fácil dos demais se posicionarem
contra os David. Mas morreu mais do que eles imaginavam possível
e alguns começam a pedir uma retaliação, tem delegado da Civil,
tem gente do Exercito e da Policia Militar envolvidos senhor, não é
questão de se fizeram o sequestro, eles nem estavam pelo que
entendi, preocupados se a menina morreria, eles em si, queriam
isto.
Douglas risca o armação na caderneta a frente.
— E aliciam alguém do meio deles, lá nas comunidades da
baixada para fazer isto, para não parecer que foi eles.
— A burrada foi por Mico nisto, não pelo rapaz, que acho um
zero a esquerda, mas porque colocaram Pedro do Tabajara nisto.
— E quer que faça o que delegado, estamos a favor da lei ou
de um grupo de traficantes querendo tomar um ponto, que nem
sabem quem toca, quem nem sabem o que vai acontecer se o
senhor ali cair, pois não tem noção de nada.
— Não entendi?
— A pergunta da menina, quando o pai falou que era gente
querendo pontos de droga, na gravação, estabelece isto, algo sobre
quem são estes idiotas, que não sabem que não tocamos o tráfico?
— Eles tem influencia?
— Senhor, o que vimos na região de Guaratiba é produção e
extração legalizada, pelo que levantamos, em nome da menina, ela
em si, ganha mais que muitos traficantes de pontos de droga,
legalmente falando, eles arrotam e vivem de assaltos e
contravenções.
— Tem de entender que o manter do equilíbrio de forças nos
facilita a vida rapaz.
Douglas olha descrente para o delegado.
— Uma pergunta seria senhor, de que lado estamos? É serio
Delegado, se estamos ao lado de marginais, eu peço transferência
para bem longe daqui.
— Sabe que se posicionar assim vai gerar problemas rapaz. –
O delegado.
— Problemas?
133
— Sempre nos protegemos como grupo, sabe disto!
— Que proteção estes seus superiores, delegado, deram aos
que colocaram dentro do apartamento dos David para arrombar um
cofre, pois estão todos mortos.
— Tem de entender...
— Não tenho e nem preciso saber mais delegado, e se acha
que mandar me matar resolve, pois sei como as coisas funcionam,
não entendeu, ou aquilo que protege a menina é uma farsa, o
senhor afirma que não foi armação, então não seria farsa, a posição
dos traficantes de Belford Roxo que nunca deram espaço para os
David, querendo paz com a Protegida dos Anjos, mostra que foi
serio, e a posição de alguém acima, só mostra que estão lidando
com nós como se fossemos peças de um tabuleiro, mas me matar
senhor, não muda, se aquilo for real, ainda duvido, toda sua
arrogância sei onde vai parar.
— Me ameaçando?
— Não inverte Delegado.
— Vai para casa e esfria a cabeça.
Douglas viu a forma que o delegado olhou para Raul, não
entendeu, mas sabia que teria problemas a partir daquele
momento.
Douglas se despede e sai pela porta, entra no seu carro no
estacionamento e sai no sentido do centro.
Douglas não sabia o que fazer, ele senta-se num bar na região
de Botafogo, toma duas cervejas e vai para sua residência, ele chega
a porta do prédio e olha para fora. Parecia que algo estava errado,
mas o cheiro de maresia da baia, estava forte naquele dia, alguns
dias de cheiro agradável, como este, as vezes insuportável, gerado
pela poluição de suas aguas.
O acionar do portão do carro, fez ele olhar para a entrada
oposta, mas não tinha nada ali.
O carro estaciona, sai do carro, olha para a calma ou silencio
do lugar, algo estava errado, parecia que estava no lugar errado.
Ele estava pensando quando ouve o tiro seco, sente o braço o
recolhendo por reação muscular, e se esconde na entrada, passa o
cartão de autorização no elevador e ele não funciona, teria de dar a

134
volta e não sabia onde estava o atirador que lhe atingira, vê que o
portão frontal esta aberto.
Olha a guarita vazia, vai com calma encostado a parede do
prédio naquele sentido, entra e olha para o segurança sangrando na
guarita, chega a ele e força a parte do braço e fala.
— Calma, foi de raspão.
— Tem gente para dentro.
— Quantos?
— 4.
— Se esconde na guarita, faz de conta que não está mais ai.
— Mas...
Douglas olha o senhor, ajuda ele a sentar na parte interna da
guarita, ele ouve alguém ao fundo e sai com calma, sem mostra o
corpo.
— Acha que não liquidamos traidores Douglas? – Ricardinho,
um policial federal que muitos temiam naquele lugar.
Douglas estava apenas com uma arma leve as costas, e sabia
que se tinha outros, eles não deixariam barato.
Ele saca a arma, olha para a entrada do prédio, pensa de
onde teriam de estar para acertar ele.
A lógica o coloca em desvantagem.
Douglas olha para o corredor dos funcionários ao fundo e
olha uma moça encostada no canto, morta, Ritinha, não sabia o que
faria, mas sabia que precisa estar vivo para fazer.
Douglas olha em volta, teria de sair, mas teria de entender
quem estava ali.
Ele olha para o corredor do fundo, por onde ele nunca
entrara, dava para a comunidade ao fundo.
Ele saca a arma e dá dois tiros na moça caída ao chão, os
demais não viram isto, mas ouviram os tiros, os dois policiais
chegam a região um dando cobertura ao outro e um fala.
— Ele está assustado, deu dois tiros na namorada traíra, pelo
menos não teremos de dar versões diferentes, ele a matou. –
Joaozinho, um policial gordo em todos os sentidos.
— Para onde ele está indo.
Os dois olham o portão do fundo aberto e fala.
— Está tentando fugir, temos de o pegar!
135
Douglas se encolhe e ouve.
— Dois vão, vamos chamar a ambulância, temos de dar fim
nas testemunhas. – Delegado Plinio.
Dois começam a sair pela saída do fundo, olham para o morro
e pensam se era uma boa ideia.
Douglas viu que Raul foi um dos que foi ao morro, um misto
de ódio e vontade de xingar.
Douglas estava olhando o senhor e sente o celular ao bolso e
torce para ele não tocar, ele pega ele e olha a mensagem.
“Quer ajuda ou se vira?”
Ele sabia que era a menina, pois registrara o numero, pensa,
não teria como responder, e ouve.
— Pensei que era homem Plinio. – Uma voz a frente.
O senhor olha assustado e olha Paulinho ali.
— Não se mete.
— Vai matar um dos seus, para não ceder a um traficante, é
idiota? – Paulinho olhando o senhor pegar na arma.
— Quer problema Paulinho?
— Já nos colocou no problema Delegado, eu não entendo
isto, mas quando matou a moça ai, colocou uma menina no
problema, mas não vai entender antes de morrer Delegado.
— O que liga a moça a menina?
— Agora saber o que ela sabia, como que a moça tinha um
caso com Mico, que ela entregou toda a estrutura de segurança do
colégio, passado por você a ela, para passar a Mico, que usaram o
rapaz ai para documentar algo, que não aconteceu, mas não vai
entender.
Douglas ouvia aquilo e não entendeu.
— Melhor não se mexer Douglas, eles tem um rapaz na rua
tentando um tiro impossível, melhor ficar onde está. – Paulinho.
O delegado olha em volta e fala.
— Acha que ele acredita em você?
O Delegado olha a entrada, olha aquela menina, ele a
mandara matar, olha para a segurança deter um policial a frente,
retirar os dois carros a esquina, e se ouve dois tiros no morro, não
viram os dois rapazes caírem, mas viram aquela luz vir a menina,
que olha o delegado, que parece sentir o ar, sente os cheiros, a luz e
136
olha através da parede, vendo as linhas de infravermelho, uma
noção que a menina antes nunca teve, que a vida era mais
complexa do que os olhos normais mostravam, a vista humana que
transformava em solida as coisas, não as coisas em si.
O ver através da parede, vendo o infravermelho do calor,
mostrava isto a ela.
— Acho que não entendeu Plinio, eu não preciso atirar em
você, para você estar morto. – Micaela.
— Pensa que tenho medo de você?
O policial ao lado estava com a mão na arma, quando a
menina apenas afasta a mão do corpo e o senhor olha um ser a sua
frente, em luz, a luz do prédio apaga, a quadra apaga e o senhor
olha aquele espectro violento a frente, lhe rosnado, lhe mostrando
os dentes.
O rapaz ao lado puxa a arma, um segundo ser atravessa o
mesmo que cai morto e o delegado ouve a pergunta da menina.
— A pergunta delegado, vai voltar a ser a lei, ou vai continuar
a ser um fantoche do trafico.
— Fernandinho me mata se o trair.
— Estranho eu ter uma informação da Juíza de antes dela sair
correndo daqui, já que ela que me afirmou que Fernandinho morreu
no ataque ao presidio, os rapazes fizeram vistas grossas, e
conduziram o corpo ao morro ao fundo e o enterraram, ela sabia
disto e o senhor não sabe, me conta outra delegado.
— Mas ele foi visto no Uruguai.
— Não vou lhe explicar o que um delegado deve saber, que
cheiros, cicatrizes, cor de sobrancelha e disposição, disposição de
dentes, forma de orelha, dimensão de nariz, porte físico, e tamanho
de pé, estabelecem, aquele é uma farsa, para manter os amigos
daqui no poder e ameaçando. – Micaela.
— E como você saberia?
— Você sabe o que é alguém com capacidade de visão 16
vezes maior que a do senhor?
— Não.
— Então manda o rapaz atrás da coluna se desarmar, que não
quero outro morto ao chão, e não atravessaria o ser a sua frente, é

137
mortal, mas quando se enxerga em infravermelho, obvio, dá para
dizer até se a pessoa esta doente olhando.
Douglas olha em volta, estranha, pois ele sente alguém o
tocar, ele olha a moça e ouve um agudo simples.
“Desculpa”
Ele olha a moça em espectro, aparentava furiosa, com os
dentes expostos como se fosse lhe morder, mas as palavras não
condiziam com a imagem.
— Porque Ritinha?
O delegado pega a arma, virando-se para onde ouviu a voz e
olha aquele espectro de moça, olhar para ele, ela o ajuda e a
mataram para incriminar o rapaz, ela olha furiosa para o delegado
que agora estava totalmente perdido.
Paulinho faz sinal e dois rapazes passam ao lado subindo o
morro, dois entram no prédio e desarmam o rapaz escondido, e
outros dois, tiram o corpo da moça e do policial a frente.
— Acha que tenho medo de armação? – O delegado.
Micaela puxa a arma as costas e atira na cabeça do delegado
e fala.
— Limpa a área Paulinho.
Ela faz um gesto com a mão e os espectros são puxados para
ela, até do delegado ao chão, ela vira-se para a rua e fala.
— Luz.
A luz começa a voltar nos postes, o prédio reacende e
Douglas olha para a menina saindo, os seguranças tirando o corpo
dos policiais dali, ela olha ele e fala.
— Melhor não ter visto nada rapaz.
— Mas...
— Não tem mas, aceito um obrigado, o resto, silencio.
Douglas olha a menina entrar em um carro e sair, ele sabia
que ela tinha 14 para 15, então ela sair dirigindo já era algo ilegal.
Douglas olha Paulinho querendo perguntar algo, mas não tina
como perguntar, os olhos se cruzam.
Paulinho não falou nada, chamou uma ambulância, e quando
ela chegou, ele saiu calmamente pelo fundo.
Douglas olha para Silvio, que fora desarmado e fala.

138
— Agora pode correr Silvio, pois queria me matar, melhor
correr.
Douglas sobe ao quarto, pega poucas coisas, duas armas,
duas peças completas de roupa, peças intimas e dois calçados,
põem em uma mochila e desce ao carro, saindo ao sul.
Ele para em uma casa na Ilha do Governador, via a baia a
frente, uma palafita de frente a baia, aos fundos o Galeão, ele olha a
moça a porta e fala.
— Tive de vir.
— O que aconteceu filho.
Aquela senhora não parecia ter idade para ter um filho de 30
anos.
— Pediram minha morte, ainda não sei quem, mas alguém
pediu, e estou vivo porque alguém que vigiava não me quis morto,
ou usou o ataque para justificar a morte do delegado Plinio.
— Quem lhe defendeu filho?
— A segurança dos David. O Padrinho.
— E veio para cá, não entendi?
— Mãe, a senhora sempre me disse, que quando visse algo
que a razão não explicasse, estava na hora de conversar, vi o
espectro de uma namorada, ela estava ao corredor morta, eles me
acusariam da morte dela, mas vi o espectro dela, o mesmo parecia
violento, e me pede desculpas.
A senhora olha o filho e fala.
— Isto está acima do que pensei que veria filho, espectros são
vivencias, dizem que a alma é imortal, alguns as chamam de
vivencia, é como se a inteligência não morresse, evoluísse, ficasse
ao lado, para nos ajudar, seu pai as chamava de Eguns.
— Nunca lhe ouvi mãe, nem ao pai, sabe disto.
— Sei, você sempre se negou ao caminho de seu pai, você
quando pequeno parecia que ia pelo caminho dele, mas a morte
dele, afastou você e seu irmão, você se formou, se tornou um
excelente investigador criminal tentando provar que tudo que era
paranormal, não existia.
— Não acredito na existência de um Deus mãe, o universo é
muito grande para que ele exista.

139
— Tem de entender filho, humanos escolhem palavras para
representar a ciência que ainda não existe, li estes dias, de um
escritor do sul, que hoje, a ciência torna mais possível que os deuses
gregos existam provando que foram extraterrenos, do que o Deus
uno que tudo vê, mas é que estão tentando definir coisas que não
entendemos, não acredito que eu tenha capacidade de explicar algo
assim filho, a existência de algo superior.
— E o que seria estes espectros mãe?
— Dizem que as experiências vão para algum lugar, elas
nunca ficam por perto, não sei, alguns as incorporam, mas
raramente elas são visíveis.
— Raramente? – Douglas.
— Viu as imagens de Belford Roxo? – A senhora.
— Sim, mas o que tem aquele efeito especial haver. – Douglas
fala sem sentir e vê a cara de desgosto da mãe.
— Não está pronto ainda filho, se recusa ao que se apresenta
a você, como pode querer entender.
— Desculpa mãe, mas o que uma coisa tem haver com a
outra?
A senhora olha o filho olhar o chão, ele parecia perdido e não
sabia como perguntar.
— O que quer saber de verdade filho?
— Alguém pode absorver esta experiência como falou?
Porque tem de ser aquela menina que me infernizava quando
pequena?
— Para mim isto é lenda filho, pois nunca vi algo assim,
embora algumas imagens desfocadas ao longe podem induzir a isto.
Douglas pega a mochila e liga o computador pessoal e coloca
o vídeo que salvara a passar e a senhora olha a imagem e pergunta.
— Conhece a menina?
— Sabe as imagens desfocadas de Belford Roxo?
— O que elas tem haver filho?
— Ao centro era esta menina, que fora sequestrada, a filha do
David e da Oliveira, todas elas pareciam procurar a menina, mas vi
ela hoje, fazer algo semelhante, mas ela apenas afastou a mão do
corpo, e algo saiu dela, como se fosse um espectro, o mesmo

140
parecia agressivo, mas vi um destes atravessar um policial e este
cair morto mãe, se fosse apenas conhecimento, não mataria.
— E quem é a menina?
— Micaela David, filha do Roberto da região de Nilópolis?
— A filha da Oliveira você falou?
— Sim, o que tem haver mãe, não conheço mais eles, mas vi
esta menina atirar, ela é mortal mãe, não mais a menina na barra da
saia da mãe, a menina que sempre dizia que nunca seria algo
enquanto não olhasse meu pai com o respeito que ele merecia, mas
tem algo dentro dela, mais mortal.
— Oliveira por parte de mãe, é como os pretos velhos
falavam, algo a cuidar com calma, pois o fruto é comestível e
agradável, somente após muito cuidado e exposto a muito sal.
— Não entendi.
— Lembro do Dante, lembra dele.
— Preto velho da entrada da Ilha?
— Sim, ele dizia que quando se mistura um David e uma
Oliveira, poderiam estar anunciando o fim dos tempos, sabe que ele
olhava tudo como ameaça a liberdade filho. Ele assumiu no ponto
que seu pais se foi, ele tentava entender os caminhos deixados
ditados por seu pai.
— Não entendi.
— Oliveira é um símbolo de liberdade, para consumir o seu
fruto, temos de o prender as regras, isto nos terreiros é lavagem
com sal e muito despacho para abrir um bom caminho, mas mesmo
Dante, olhava na menina no fim de sua vida, como algo especial, a
menina dos sorrisos sinceros, pequenos e sinceros.
— Não entendi mãe, ele a observava? Por quê?
— Filho, já ouviu falar da escola de costura de Belford Roxo?
— Sim.
— Projeto de uma menina quando tinha 10 anos.
— Está falando serio mãe?
— Sim, depois tem o centro de formação de adolescentes de
quatro comunidades, Chatuba, Chapadão, Miriti e Mesquita, criados
pela menina aos 12 anos, Dante pareceu descansar quando soube
disto, parecia um adendo de paz, o que ele procurava, a menina que
investiu em educação, longe dos olhos, quem olha diz ser outra
141
coisa, mas somente agora, quase 3 anos depois, que se vê o começo
do resultado, isto é para 10 ou 12 anos, não coisa de 3 anos.
— Tem certeza disto mãe?
— Sim, mas vi que poucos sabem quem é a menina, eu não a
reconheceria a rua, estranho alguém que conheço a fama, que
vinha em casa quando pequena e hoje desconheço a aparência.
— E o que acha destas imagens.
— Não sei filho, mas algo de poder aconteceu em Belford
Roxo, sei porque muitos estão falando em uma protegida dos Anjos,
não pensei na filha da Oliveira, mas pelo que me falou, ela estava
saindo de um cativeiro, é isto filho?
— Sim, toda a direção da policia federal fechou os olhos ao
sequestro como se não tivesse acontecido, mesmo eles sabendo
que aconteceu.
— Porque filho?
— Mãe, o delegado Plinio pediu minha morte.
— Tem de se cuidar filho.
— A menina matou o delegado mãe.
A senhora sentou-se e olhou serio o filho.
— Ela passou para o lado do mal filho?
— Não sei, como saber o que é mal, quando alguém está
dizendo que vai me matar, e a pessoa que está me ameaçando, não
é a menina, ela perguntou para ele se ele voltaria a representar a lei
ou continuaria a representar traficantes, ele respondeu com um,
acha que tenho medo de você? Ela apenas sacou a arma e atirou na
cabeça do senhor, um tiro.
— Ela pelo jeito está na prova, algo entre o bem e o mal filho,
mas não entendo de mal.
— Ela me passou uma mensagem e perguntou se queria
ajuda, eu nem respondi e eles estavam lá olhando o delegado que
falava em matar o segurança a entrada para limpar o local de
testemunhas, um senhor não morreu porque eles apareceram, mas
se considerar que 4 policias morreram, Ritinha morreu, eles vão
culpar alguém, que até aquele momento, era eu mãe.
— E o que fez que os irritou?
— Mãe, sei que as vezes tenho de segurar a língua na boca,
mas é difícil as vezes.
142
— Falou demais pelo jeito.
— Sim, falei demais.
— E o que o irritou?
— Mãe, pensa em sequestrarem uma menina de 14 anos, e
no lugar de por as pessoas para tentar descobrir o acontecimento,
colocam você na escuta do pai da menina, para descobrir algo ilegal
que ele fosse fazer para achar a filha.
— Não era você que dizia que os métodos com criminosos
são diferentes.
— Sim, eles estão falando dos David, do Padrinho, de gente
que não conseguiu defender o pai, sei que eu sou a contradição em
pessoa, e não sei se posso entrar amanha no prédio da policia como
se nada tivesse acontecido.
— E vai?
— Vou, mas não sei como.
— E Raul, ele está bem?
— Estava lá com o Delegado para me matar mãe, ele é um
dos que morreram e não se viu, ele estava ao lado para me vigiar,
eu não desconfiei, ele me mataria e não saberia quem me matou,
mas pelo jeito eles não confiavam nele e acompanharam ele lá.
A senhora faz algo para comer e fala.
— Se vai a guerra, descansa filho.
Ele sorri, olha sua cama, arrumada como se nunca tivesse
saído pela porta e sorri, abre a gaveta por baixo da cama, olha as
vestes que a muito não usava, pensa e deita e tenta dormir.

143
Micaela deita a cama, estava agitada, sentia as energias a
toda, a tensão e todas as historias, deita, não sabia se dormiria,
estava tensa, confusa, agitada.
Ela fecha os olhos e sente o corpo desligado da tomada, ela
estranha, era como se fosse um sonho e olha o ser a sua frente, ela
olha as mãos e vê que estava em energia, não em carne.
Olha aquele ser em luz, com aparência de cão de chifres e
pergunta.
— Tens nome?
— Yolin.
— Micaela.
— Sei quem é.
— Acha que sabe ou sabe? – Micaela.
— A vimos nascer.
— Porque prestariam atenção em mim.
— O fruto das oliveiras, gera uma semente, se deixarmos eles
tratarem o fruto, a semente se torna estéril, então algumas
acompanhamos, para que não sejam esterilizadas.
— Não entendi.
— Sei disto, mas porque olha em volta?
— Espectros de luz, em um sonho, são irreais, eles não estão
ali, é apenas uma miragem para me convencer.
O ser olha para Micaela e fala.
— Senso de observação de uma Oliveira, as vezes ouvir sobre
isto menina, não é conviver com isto.
— Não entendi.
— Os oliveiras são símbolos de liberdade, sabe o que é isto?
— Sim, por isto perguntei como dar as experiências liberdade.
144
— Não os quer ai?
— Eles são experiências, mas assustam os demais, eles estão
nervosos, sinal que não é o natural, eles não estão acalmando,
estão a cada dia mais impacientes.
— E como os sente assim.
— Sentindo. – Micaela olhando o ser que disse saber quem
ela era, ela não considerava se conhecer.
— Como disse, deveria usar com moderação.
Micaela olha para aquele mundo se abrindo a frente e olha
para os seres aprisionados a parede e olha em volta, não era uma
liberdade, era uma prisão, ela olha para dentro e Regina pensa em
lhe falar algo, mas ficou quieta, outros observam pelos olhos de
Micaela que pergunta.
— O que eles fizeram para serem prisioneiros?
A imagem de milhares de experiências, em um espaço
imenso, mas era um grande espaço, olhando de cima, se via gente
para todo lado, um mar de cabeças, um encostado ao outro, sem
espaço para se mexer, olha em volta e o ser fala.
— Eles esperam para renascer.
— Sem opções?
— A Energia não dispõem de opções, ninguém pergunta para
um átomo de carbono, se ele considera certo desfazer uma outra
ligação e formar ácidos nocivos, esta ideia de Deus bom, é uma
idiotice, o mais forte impera sobre o mais fraco, força ele ir ao
caminho certo, mas sei que poucos entendem.
Micaela sorriu, o ser não entendeu, mas o sentimento interno
dela foi se acalmando, eles não queriam ir para aquele lugar, sinal
que poderia ser este motivo do ser ter a chamado ali.
— Porque me chama aqui?
— Tem de entender, a recomendação diz para não fazer o
que você fez, atrair todos a você.
— Estranho, porque disto?
— Apenas recomendando.
— Se os soltar eles virão para este mar de gente ao pés?
— Sim, eles são atraídos e depois de um tempo, param de
interagir, esperando o dia, um mar de almas para um dia, o universo
renascer.
145
— Bom saber que anjos mentem. – Micaela olhando o ser.
— Não menti.
— Faltou com a verdade então, é o que vai falar?
— No que fala que menti?
— Eles são vivencias, eles não precisam renascer, eles por si,
criariam um novo mundo, uma nova existência, por isto não entendi
porque os prender, mas se não mentiu e nem omitiu, terei de
acreditar que o universo se extingue um dia.
— Duvida disto?
— Se a existência deixa de existir, não existe Deus.
— Não entendi a logica.
— Ser mais clara, se um universo se extingue, e temos um
Deus, ou ele não existe, ou ele não se importa com a existência de
seres como nós, como eu, você, pois sem universo, não existe
energia, e sem energia, não existe o que disse, imposição de
reações umas sobre as outras, e se isto, como disse, é o que impera,
aponta a não existência de Deus.
— Acha que o pode desafiar.
— Não o desafiei, usei sua lógica contra você, ele, nunca vi,
meu pai diz que tudo que não vemos, não existe, pois pode não
saber, mas assim como sou uma Oliveira, sou uma David, ele
sempre me conta a historia cômica que foi o verdadeiro
enfrentamento de David e Golias, uma azeitona, um engasgar e uma
morte besta, engraçada a ponto de ninguém conseguir escrever,
pois quem respeitaria um exercito que venceu com uma azeitona, e
muito menos um exercito que perdeu para uma azeitona. Mas se os
David não veem, pode saber, não consideramos.
— Mas não veem a energia, e ela existe.
— A logica estabelece, vemos, existe, energia se estiver com
um sistema de medição, a medimos e até vemos, mas tem coisa que
dizem existir, e Deus é uma delas, e enquanto eu não o ver, ele não
existe, hoje sei que existem Anjos, mas somente lhe vendo para
entender o quanto minha visão de anjo era diferente.
— Ele não vai se apresentar apenas para lhe satisfazer.
— Não precisa, mas a inexistência é então determinada por
ele, e se ele não me quer sabendo de sua existência, ele não pode
considerar desafiado ou que não cumpro suas determinações.
146
— E não se preocupa.
— Acho que tudo a volta, é um grande erro, se estes seres
basicamente colocados em uma prateleira de existência, para que a
experiência renasça, mostra apenas a incapacidade da vida eterna,
pois eles poderiam evoluir, e estão ai a esquecer.
— A vida estabelece a morte, não contesto esta regra básica
de Deus.
— Esta regra é da física, mas se uma ação química impera
sobre tudo, se uma regra física impera sobre tudo, como você falou,
a própria existência de Deus deixa de ser necessária, e se no fim,
vamos deixar de existir, sinal que nem para o fim ele me serve, teria
de saber se ele criou mesmo o universo, e se por um acaso
descobrir que não, ele perde a função de controle.
— Só fala absurdos.
— Um dia um senhor de nome Dantas, me falou que eu era o
símbolo do fim dos tempos, a união da Azeitona e de David
novamente, da primeira vez se criou uma fé, um controle, a reunião
novamente traria o fim de tudo, mas se você me afirmou que todos
estes aguardam o fim, e no meio deste mar de gente, Dantas deve
esperar, não tenho porque adiar este fim Yolin.
— Porque não?
— Ele morreria lembrando quem é, uma consideração que
este que chama de Deus, deveria ter, o valor do sentir-se único.
— Ele odeia este sentimento humano, de acharem que
podem ser únicos.
— Mais um sinal de inferioridade, ódio, eu sentir tudo bem,
sou humana, defeituosa, mas um Deus, isto é quase engraçado.
— Porque engraçado.
— Disse quase, meu senso de humor não chega a tanto.
O ser olha em volta e vários seres surgem a volta, eram
assustadores, mas apenas cães com chifres e um olha para Yolin e
fala.
— Tem de a mostrar sua verdadeira origem, ela não pode
desmerecer nossa linhagem.
Micaela olha em volta, foram surgindo mais e mais, milhares,
bilhões destes seres, o local ficou muito apertado e Yolin ainda
tentava não tocar na menina, e olha para os demais.
147
— Estão atrapalhando irmãos.
— Tem de a por em seu lugar.
Sem ter opção, Yolin toca em Micaela e os demais veem a luz
do brilho, eles fecham os olhos, e o mesmo baixa a cabeça e olha
para o ser a frente, um imenso nada a frente, Micaela sente as
energias, ela segura os seres no seu interior e olha para Yolin.
— Onde estamos?
— Diante de Deus.
Micaela olha para o vazio e via milhares de coisas sendo
atraídas, o calor dizia que tinha algo ali, mas a luz custava a sair, ela
tenta pensar e fala.
— Vocês oram para um buraco negro, são malucos?
Micaela olha para o escuro tomar uma forma a sua frente, ela
tinha e manter um pé a frente para não ser puxada para o ser, Yolin
segurava ao chão, para não ser sugado, o ser fala e Micaela sorri.
— Porque Ri? – Yolin.
— Nunca ouviu ele Yolin?
— Como sabe.
— O som precisa de sentido de ar, para se propagar, como
estou no seu estado de existência, pois garanto, estou a minha
cama, ele ao falar, o som vai ao seu núcleo, mas se ele escolheu não
falar com ninguém e se dizer Deus, meu Deus não será Yolin.
— Ele nos instruiu no inicio, que tudo viria a ele, e no fim,
tudo faria parte dele.
— O problema, é que ainda estamos longe Yolin, a densidade
é tão grande no centro de um buraco negro, que eu viveria uma
eternidade e não chegaria ao centro, pois quanto mais ao centro,
mais lento o tempo, uma prisão para quem o criou, um fim tardio,
mas com certeza um fim.
— Não teme o fim? – Yolin.
— Nasci, logo vou morrer, mas não através de um buraco
negro, isto não mataria minha existência Yolin.
— Como não?
Micaela sorriu e apenas se aproxima de Yolin e o toca, os dois
surgem ao centro da peça onde os demais estavam e Micaela fala.
— Estão esperando o que para voltar as suas obrigações?

148
Os seres se olham, não sabiam o que tinha acontecido, mas
viam o mar de almas olhando para cima, começaram a olhar após o
brilho do toque.
Ela toca no ombro do Anjo e o brilho passa pelos anjos, que
fecham os olhos e se imaginam em suas obrigações, ao chão, todos
os seres, milhares de espécies, olham para cima e ouvem a voz da
menina.
— Hora de começarem um mundo novo.
Os seres começam a sumir, primeiro um brilhou, outro, outro,
e de um segundo para outro, milhares começaram a olhar o
caminho e sumir, o local abaixo se esvazia e olha para o local vazio
ao chão, um trecho de um mundo estéril, ela solta o ombro de Yolin
e fala.
— Escolha outro para seguir, pois este seu Deus, vai renascer.
— O que fez?
Micaela a cama se agita e sente o corpo cair ao chão, abre os
olhos assustada, suada e senta-se ao chão, precisava de um
momento para se localizar.

149
Douglas acorda cedo, pega suas coisas e vai a policia sem
saber exatamente o que aconteceria.
Ele olha um repórter chegar a ele e perguntar.
— Nos daria uma exclusiva Investigador Douglas?
— Sobre?
O repórter olha para outros chegando e pergunta.
— Foi nos informado que uma operação dos Bicheiros na
cidade havia preso e matado alguns dos investigadores da Federal,
seu nome está entre os sequestrados.
— Quem declarou isto?
— Juiz Plinio.
— Estes irmãos não cansam de aprontar, mas eu estava
apenas na casa da minha mãe, na Ilha do Governador, não fui
sequestrado, deixa eu me inteirar do problema.
Douglas entra pela porta e muitos olhos vão a ele, que chega
a frente do Juiz Plinio e o encosta na parede, erguendo ele e
perguntando alto.
— Quem mandou me sequestrar e matar Juiz, para ter
certeza que eu estava sequestrado, tem de ter sido quem ordenou.
— Me garantiram que você estava morto.
— Não, seu irmãozinho não conseguiu puxar o gatilho, a
pergunta Juiz, é tão merdinha como seu irmão, ou sem 5 rapazes,
não me encara?
— Não pode me acusar, o que fez com meu irmão?
— Nada, quero ver o senhor provar o que disse, e quando
estiver respondendo por tentativa de ocultação de cadáver, não
reclama, você assinou as ordens.
Douglas olha para o secretaria e pergunta.
150
— Raul não chegou ainda?
— Esta entre os desaparecidos.
O olhar para o Juiz foi de cobrança.
— Eu não mandei lhe sequestrar.
— Quando achar onde seu irmão se escondeu, depois de
tentar me dar um tiro, quero ver esta sua versão.
— Meu irmão disse que você pulou fora e sabia demais.
— Dois irmãos cagões dirigindo a Federal do Rio, não é a toa
que estamos uma merda neste estado.
— Não iria pular fora.
— Disse que para ele, se iria inventa provas, não precisava de
investigadores, mas minha namorada, está em um hospital fora da
cidade, pois seu irmãozinho a fez fazer o serviço para Mico, e depois
tentou a apagar, se é este tipo de prova que vocês fazem juiz, sim,
pular fora antes de um cagado, resolver usar palavras bonitas como
corporativismo, defesa da policia, e coisas assim para matar
meninas e mulheres, coisa de covarde.
— Não pode me acusar.
— Eu tenho uma campana para estar hoje, espero que não
tenha matado meu fotografo e cinegrafista, pois não sou bom nesta
coisa de gravar.
— Mas...
— O seu irmão mostrou as imagens que mostrei ontem para
ele, ou está apenas repetindo sem pensar Juiz.
— Que imagens?
Douglas chega a pasta e chega a sala e põem na TV ao fundo
e falou.
— Eu estava com Raul ontem pedindo para seu irmão fazer
uma operação nesta fazenda de criação de camarão, mas parece
que ele não queria.
O senhor olha a imagem da menina atirando, e todos viram a
frieza e pontaria e o senhor fala.
— E porque ele não iria querer isto?
— Esta é a pergunta senhor, mandou me matar, para não
fazer esta operação, o que o senhor sabe a respeito disto, eu não
vou morrer para um Juizinho de merda, que tinha um irmão
Delegado, ferrar com toda uma operação, e nos dar como
151
sequestrados e mortos, em algo que não é real, como se fosse uma
arapuca para nós, como aquela no andar que explodiu, lembra, o
senhor que assinou a operação, mas agora provavelmente para
terminar de desmoralizar nossa instituição.
O corregedor entrava nesta hora e ouviu a acusação.
— Sabe que sua prisão está decretada Douglas Camargo. – O
corregedor.
— Bom saber, estou aqui, não em outro lugar ou em uma
arapuca para nos matar, prefiro ser preso a ser mandado a uma
operação de morte por este juiz senhor corregedor.
O corregedor olha a imagem a tela e fala.
— Quando gravaram isto?
— Ontem, o material estava no sistema, passamos para o
delegado Plinio, irmão do Juiz Plinio, ontem antes de irmos para
casa.
— Sabe que um dos nossos acusa você da morte do delegado
Plinio.
— Minha arma está a disposição, faço teste grafotécnico, eu
não dou tiro a mais de mês senhor.
— A pessoa acusa a menina também, eu achei que a acusação
vazia, mas a imagem fala por si que ela entende de tiro.
— Bem cara destas merdas daqui inverterem a operação de
ontem para dar fim em mim, para cima da menina.
— Ninguém fez operação para lhe matar.
— Certo, qual a acusação contra mim procurador.
— Ter matado o delegado.
— Onde?
O corregedor só se toca neste momento, no apartamento do
rapaz, o delegado não morava no Botafogo, olha para a denuncia,
outro rapaz que não deveria estar lá e pergunta.
— Mas a acusação é seria.
— Sim, é seria, pega a arma do acusador, faz ele fazer um
teste grafotécnico, e uma balística do tiro que o porteiro do meu
apartamento levou, e vamos ver se a versão muda senhor, se acha
que preciso de uma arma para desarmar um Juiz como Plinio, assim
como o delegado Plinio, não sabe da minha vida nada senhor.

152
A discussão se fazia na sala de entrada, muitos estavam
apontando Douglas como culpado, agora viam ele ali.
— E saberia quem é que lhe acusa.
— Seria ou Joãozinho, ou Silvio, ou Ricardinho, ou o próprio
Delegado Plinio, não sei qual, mas com certeza um dos quatro.
O Juiz entendeu, algo aconteceu, mas o não saber de Raul
parecia ser um caminho a seguir e olha para a entrada, Silvio entra e
encara Douglas.
— Acha que vão acreditar em você?
— A balística vai mostrar por si Silvio, ou esquece que deu
tiros, é burro o suficiente para tentar inverter, mas esqueço que não
precisam de provas, apenas que um Juiz – Douglas olha para Plinio –
que jogou a família em um buraco por um traficante, que me
afirmaram ontem, está morto, assine minha culpa.
— Quem lhe afirmaram que estava morto? – Corregedor.
— Fernandinho Beira-mar. – Douglas.
— Quem lhe afirmou isto? – Silvio pensando em pegar
Douglas na contradição.
— Sabe quem, estava lá, não seja infantil Silvio, quer mesmo
todos aqui mortos?
Silvio olha para Douglas, lembrou do tiro único, da frieza, da
forma que eles entraram, resolveram e saíram e fala.
— Mas sabe o risco de deixar você neste ponto. – Silvio.
— Sei, se querem me afastar, me prender, como disse, com o
Juiz Plinio mandando aqui, e fazendo operações, ainda é o mais
seguro.
— Temos de conversar Douglas. – Silvio.
— Porque não pensou em conversar antes de tentar matar
Ritinha ontem Silvio.
— Sabe que atirou nela.
— Sempre digo, vocês são patéticos, não sei como alguém
pode levar este delegacia a serio.
— O que quer dizer? – Corregedor.
— Um cagão atira na minha namorada para me acusar, um
tiro único, quando me deparo com ela viva e com 4 pessoas me
cercando, falo para ela ficar quieta e dou dois tiros na parede, os

153
idiotas que se dizem investigadores, param de olhar para a moça,
mesmo que tivessem atirado antes, a dando chance de sobreviver.
— Acha que acreditamos nisto? – Silvio.
— Não, vocês não acreditam nisto. – Douglas sabia que neste
instante a menina começa a brilhar na tela e olha para Silvio.
— Acha que ela precisaria atirar para lhe matar Silvio?
Silvio olha a imagem, lembra da noite, de Ricardinho avançar
e morrer, e fala.
— Não, ela não precisava.
— Então porque acha que conseguem provar que ela matou
alguém?
— Acha que...
— Eles não sabem de nada Silvio, não os facilite, hoje a
ordem é me desacreditar, ontem era me matar, Plinio e o
Corregedor sabem disto, amanhã, os dois se unem contra quem não
fugiu, você, pois é quem sabe demais.
— Sabe que está se complicando Douglas. – Juiz Plinio.
— Sim, mas eu se tivesse mandado lhe matar, e você
estivesse vivo ainda, estaria com medo, se não está, dois problemas
para que eu administre, já mandou outro fazer o serviço, mas aqui
dentro eu morto, o próprio corregedor que lhe apoia cai, eu não
tenho família, como o senhor, que a deixou a mão de traficantes
juiz, mas eu não tenho medo da morte.
O corregedor viu que Douglas não recuaria em publico, um
tiro se ouve do lado de fora e um policial entra assustado.
— Mataram Candido.
Douglas lembra do atirador do outro lado da rua tentando
mirar, e pensou, “Candido”.
O olhar de Douglas a Silvio fez ele dar dois passos para dentro
e olhar assustado para fora.
— Acha que se livra Douglas? – Juiz.
— Se sei fazer conta Juiz, é minha palavra contra a de Silvio,
se o acusar, como já fiz, teria de analisar quem fala a verdade,
minha palavra não é suficiente para o culpar, então o inverso
também não é, mas tenho alguém escondida, fora da cidade, que
levou um tiro, mas isto, somente se chegar a juízo.

154
Douglas estava mentindo, se metendo em encrenca, mas ele
sempre foi de enfrentar.
— Sabe onde vamos lhe pegar? – Corregedor.
— Sim, pois não vou confessar um crime inafiançável por algo
que pode ser um mal entendido.
— Não entendi.
— Sei que não, mas não conta para Silvio onde vão me pegar,
pois ele pula fora corregedor.
— Não entendi? – Silvio.
— A menina me ligou e perguntou se precisava de ajuda. –
Douglas olhando para Silvio.
— Você sabia, mas não entendi ontem.
— Já olhou por um óculos de visão noturna Silvio?
— Sim, em treino.
— Quando aquela menina aos 10 teve problemas de vista, era
por não controlar algo que a retina dela permite, ter visão entre o
normal e o infravermelho, então hoje ela controla, mas ela
consegue ver o calor por trás de uma parede.
— Tem certeza disto? – Silvio.
— Sim, ela do outro lado da rua, saberia quem é quem pela
temperatura, se eu a ensinar a atirar com uma arma de longa
distancia, ela acertaria qualquer um através da parede de gesso e
ninguém saberia quem atirou. – Douglas.
— É uma dica? – Silvio.
Douglas olha a parede mais firme as costas e sacode
afirmativamente a cabeça.
Silvio recua e o corregedor e o juiz se olham assustados.
— Do que estão falando.
Douglas sorriu e olhou para o corregedor.
— Se estou com a prisão decretada, o que espera corregedor.
Douglas por um segundo pensou na possibilidade e sai da
proteção da parede, o corregedor chega a ele e começa a falar.
— Esta detido, qualquer c...
Um tiro atravessa o ar e tinge o ombro de Douglas.
Ele se encolhe e o Juiz viu que o negocio era serio.
O olhar foi a Silvio, ele recuar e dois tiros o atingem no peito,
os furos perfeitos na parede de gesso estabeleciam que alguém
155
mirou pelo infravermelho, os policiais se abaixam em toda a
recepção, os repórteres olham para a janela de um prédio a frente e
veem aquela arma atirar, a mesma fica ali enquanto alguém desce
as escadas.
Uma ambulância é chamada e o delegado olha para Douglas e
pergunta ao corregedor.
— Ele não era nosso alvo?
— Ele sabe algo, pois tentaram o matar, mas ele se omitiu
numa coluna.
— Acha que o que ele falou é verdade?
— Não sei, mas ele como alvo interno e externo, é
basicamente um defunto juiz, vamos nos queimar ou deixar ele se
dar mal.
— O que ele fez que eles também odeiam ele.
— Não sei, mas com certeza, ela passou uma mensagem, ele
não respondeu, ele encararia sozinho.

156
A menina chega para a aula, olha para os colegas, olha para a
segurança e um rapaz para a sua frente.
— Acha que nos põem medo menina.
Micaela olha o rapaz calmamente e fala.
— Com certeza não, por sinal, quem é você?
O rosto de raiva foi apenas recebido com um sorriso e pelo
passar da menina, ela chega a sala, olha os demais começando um
ano, teria muita coisa a aprender, ou entender, até poder dizer que
entendia do que parecia vir a sua pessoa.
Aula normal, ela no fim da aula recebe a noticia do tiro, sorri,
ela estava em aula e ele levou o tiro.
Paulinho a pega na entrada e fala.
— Quer ir lá?
— Ele deve estar me odiando nesta hora.
— Verdade, não entendi porque da ordem.
— Eu mato quem acho que posso gostar!
Paulinho olha atravessado e ela sorri.
— Tem gente querendo ele morto, então basicamente tenho
de entender porque Paulinho, mas não sei ainda, apenas achei que
ele sendo o único a não levar um tiro, algo que o complicaria mais.
— Se preocupando com ele?
— Me leva lá, quero ver como ele está Paulinho.
— Sabe que vai o complicar?
— Sei?
— Não entendi ainda, mas seu pai mata o rapaz.
— Verdade, vou pensar nisto.

157
Paulinho não entendeu, mas param na entrada do HC,
Micaela olha aquela senhora a entrada, talvez somente neste
momento ligou o nome a pessoa e olha para a senhora.
— Senhora Mari Camargo, perdida por aqui?
— Tentando ver se meu filho está bem, você por aqui não é
uma boa noticia pelo jeito.
— Me afirmaram que foi de raspão.
— Alguns dizem que você que atirou nele.
— Senhora, eu não tenho motivos ainda para matar seu filho,
mas eu estava em aula.
— E veio ver oque aqui?
Micaela sorri e fala.
— Complicar ele, para que facilitar, não é?
A senhora olha para os seguranças ao fundo da menina, os do
hospital pareciam tensos, e os dois policiais na ponta, pareceram
sumir, a senhora olha para a menina e fala.
— Eles acham que você o matará.
— Não sei se eles sabem pensar senhora.
Micaela passa por ela, sobe, ninguém a barrou, ela chega a
beira do quarto e olha para Douglas olhando para fora.
— Se fazendo de ferido Investigador?
Ele olha assustado para ela que sorri.
— Você atirou em mim.
— Não, eu estava na escola, não seja inocente demais
investigador.
— O que faz aqui?
Douglas olha aquela menina olhar a porta e falar.
— As vezes queria entender de politica.
— Politica?
— Não existe ordem para enfrentar os David, que não seja a
pressão politica, pois meu tio saiu como candidato a deputado, e se
não fosse esta pressão idiota, teriam tomado os pontos.
— Acha que estão pressionando?
— Não entendo, sei que parece estranho eu estar aqui, mas é
para não estar em Guaratiba, eles adorariam me ver por lá, então
vim para cá.
— Não parece alguém que foge.
158
— Não me entenda errado Douglas.
— Entender errado?
— Não sei, as vezes vocês confundem as coisas, é apenas uma
visita, sua mãe está lá em baixo preocupada.
— Conheceu ela já?
— Somente quando a vi liguei Douglas Camargo a um
investigador da policia Federal, sabia que este rostinho bonito tinha
algo conhecido, mas não lembrava de onde.
— Não sei do que está falando menina.
— Tá, somente eu olhava o menino do pai de santo, ele não
me olhava, eu era uma criança de 6 anos quando você deixou o
terreiro para se dedicar a sua carreira.
— Você frequentava o terreiro de minha mãe? – Douglas se
fazendo de esquecido.
— Ela não lembrou de mim, mas sabia quem eu era, você não
lembrou de mim, mas sabe quem eu sou, talvez falte apenas eu
saber quem sou, mas vim verificar, e não se preocupe, apenas
verificar se não tinham judiado do filho da Mãe Mari.
— As vezes eu ouço o que falam e me assusto, você parece
não se preocupar com os demais.
— Rapaz, eu não me preocupo com desconhecidos, as vezes
acho um conhecidos onde deveria existir um desconhecido.
— Vocês mataram mais um. – O rapaz se referindo a Silvio.
A menina não falou nada, apenas saiu.
Douglas olha para a menina sair e olha para um policial entrar
e olhar se ele estava bem.
— Ainda vivo?
— Pelo jeito por pouco tempo.
O rapaz sorriu, Douglas viu que ainda estava em terreno
minado, estava ali para não estar preso, mas começava pensar em
desaparecer um pouco.
Micaela passa pela senhora e fala.
— Podemos conversar senhora?
—Problemas?
— Eles querem algo para pressionar seu filho, mas ele está
bem senhora.
— Acha que é interno?
159
— É interno, eles estão pressionados, mas como meu pai fala,
enquanto não souber quem está pressionando, não adianta bater.
— Acha que ele corre perigo?
— Sim, mas tem de manter a calma Mãe Mari, não temos
ainda como nos posicionar.
Micaela saiu dali vendo a segurança se posicionar para ela
sair, e foi para Nilópolis.
Mari olha a menina saindo, olha em volta, alguns olhos, ela
sai para a porta olhando a menina indo, entra em um taxi e se
manda para a Ilha, ao lado.
Ela olha para o motorista quando passa a ponta para a ilha e
fala.
— Me deixa no aeroporto rapaz.
— Problemas?
— Alguém querendo pressionar meu filho, mas apenas para
na entrada. – Ela pega uma nota de 50 e deixa no banco frontal e
fala.
— Na entrada, pega para a entrada do internacional, quando
fizer a curva, para rápido, eu saio, e continua até lá, se não for
muito.
O rapaz sorri, olha para a senhora, faz a curva e vê ela sair
rápido, ele continua e olha os carros se aproximando, estranha, mas
quando ele para, na fila de espera dos taxistas da região.
Ele olha pelo espelho e vê um rapaz parar a sua porta.
— Não estava com uma senhora?
— Sim, ela ficou na ponte da ilha.
— Ficou?
— Sim, me pagou e falou que ficava ali.
Os rapazes olham para o carro e saem e o rapaz sorri.
A senhora olha os rapazes saindo e atravessa o terreno
imenso que separava a região da favela que ela morava.
Ela pensa e olha para a porta ao fundo, eles estavam lá,
problemas.
Ela olha para os rapazes chegarem a casa de longe, para ao
lado de um rapaz que a olha e fala.
— Quem são?

160
— Não sei, policia federal pelo que sei, ou alguém a mando
da policia federal.
— Gente de seu filho?
— Não, gente que atirou nele para dizer que foi os David pelo
que entendi.
Bico, o traficante ao fundo faz sinal para alguém a frente e
pega o radio.
— Fecha a entrada.
Aquela favela sobre palafitas, fazia com que os rapazes
usassem motos nas entradas, fecham a rua ao fundo e um rapaz da
operação olha para o fundo e fala.
— Cercados senhor.
— Apenas traficantes normais, eles não se metem com armas
pesadas rapaz.
Mari olha o rapaz e fala.
— Isola a região, apenas isto, deixa eles carregarem o peso
das armas.
O rapaz sorri e na entrada um caminhão se atravessa, os
policiais olham o caminhão, não viam do lado oposto, mas ouviram
os tiros, ignorando que estavam furando os pneus, então estava
atravessado no caminho, trancando toda a saída.
Ao fundo algumas lanchas da policia, davam o tamanho da
operação apenas para pegar uma senhora, dois helicópteros
surgiram vindos da região do aeroporto.
Mari olha para o fundo, pois era a pista do Aeroporto Galeão
ao fundo, e pensa em qual a dimensão daquilo.
Ela entra em uma viela e atravessa para dentro, os traficantes
viram que a operação era grande demais para apenas uma senhora.
Na rua ao fundo, vindo da avenida, começava a surgir carros
escuros, Bico olha para dois rapazes na entrada do aeroporto, lançar
dois misseis terra ar com identificação térmica, a explosão ao ar dos
dois helicópteros, tirou a certeza do senhor ao fundo.
Mari olha em volta e sente aquela energia, olhou um carro a
entrada, e sentiu aquela paz, estranho ver aquela menina que
estava a pouco no hospital ali, Bico olha para a menina de Roberto,
todos falavam coisas incríveis da menina, mas ele duvidava de
muito do que se falava, ele estranha sentir paz.
161
Micaela olha para Bico e fala.
— Apenas tirando o lixo, não estamos intervindo ou
invadindo.
— Que lixo?
Era dia, os demais não viam, mas pelos olhos de Micaela seria
outra visão, ela sobe no caminhão atravessado e olha para o senhor
da policia federal a frente, o rapaz soube que estavam cercados,
olha para todos lados, os helicópteros não estavam mais lá, as
lanchas ainda estavam a baia, e tinham ainda o maior poder de
fogo, ele olha a menina sem entender, ela afasta a mão do corpo,
ele não ouviu ela falar baixo.
“Sem mortes hoje.”
Os seres saem olhando os policiais, Bico não via os seres, mas
viu os policiais caindo, e olha para a menina.
Micaela olhava os espíritos apenas tocarem os policiais, que
perdiam energia e caiam, eles foram avançando, de uma hora para
outra, com todos no chão, ela puxa as mão para o corpo, e o
sentimento de paz pareceu sumir.
Micaela olha para Bico e fala.
—Este lixo, estão todos vivos, apenas põem na avenida e que
os demais recolham, apenas desarma e guarda para quem sabe um
dia usar.
O rapaz não entendeu, mas viu a menina descer do caminhão,
entrar no carro, os mesmos recuam, e somem na avenida e Mari
olha que os senhores estavam vivos, mas atordoados, estranha.
Bico a olha e pergunta.
— O que ela fez senhora?
— Se posicionou, mas desta vez sem mortes, não entendi
ainda o que ela quer, mas com certeza, muitos vão falar dela
novamente.
— Pensei que estavam exagerando quando a chamavam de
protegida dos anjos, sentiu a paz no ar senhora?
— Sim, estranhamente sim.
— Não entendi o que ela fez, mas alguém capaz de derrubar
mais de 30 policiais sem os matar, mas sem dar um tiro, com
certeza assusta muitos.

162
Mari caminha até sua casa, pega seus documentos, suas
coisas e vai para o apartamento do filho, entendeu que onde ela
estivesse, eles iriam, e ali era sempre difícil de se defender, crianças
correndo a rua sempre complicavam qualquer ação.
Bico olha a senhora sair com uma mochila as costas e o rapaz
ao lado pergunta.
— O que está acontecendo?
— Estão atacando o filho dela, eles vieram para a pressionar,
e a filha do Roberto, veio apenas para dar chance de saída, mas tira
as pessoas da comunidade, muitos saíram vivos, mas os
helicópteros caíram, e sempre sobra para os que estiverem por
perto.
— Não entendi nada.
Bico sorri, pois ele também não havia entendido, mas era
obvio que algo estava totalmente fora do que se conhecia, ele
tentava buscar explicação onde nada parecia fazer sentido.

163
O administrador da fazenda de Camarão é detido para
explicação, o Delegado faz a operação e a imprensa a entrada dava
a conotação de que iriam jogar pesado.
As fotos de armas, de alvos, davam ao local uma conotação
de clube ilegal de tiro com armas ilegais.
O delegado chega a frente dos repórteres e fala.
— Apenas uma operação contra o contrabando, uso e
treinamento com armas de uso restrito do exercito.
O administrador sendo detido, parecia algo forte, mas era
apenas a policia federal fazendo o que sabem fazer bem, quando
em maioria e bem armados, se impondo, quando sozinhos em suas
casas, cordeiros do rebanho.
Kevin esperava a delegacia com a petição de soltura, quando
o senhor Marcos, o administrador, chega preso, o delegado a
contragosto olha a petição e olha para Kevin.
— Vou caçar isto.
— Cace, mas a próxima vez que prender um administrador
por não ter quem prender, que nem estava no terreno das tais
apreensões, eu peço sua exoneração delegado.
O senhor tenso relaxou quando viu que os advogados o
soltaram antes mesmo de o interrogar ou fichar.
O delegado olha para a ordem e instrução e olha para os
dados do pedido de soltura, chega a arma e olha o cano de tiro e a
especificação, olha em volta e xinga alto.
— Eu mato este Juiz Plinio.
O investigador ao fundo entendeu que foi uma armação, e
olha em volta, apenas armas de competição, nada que desse para
dar um tiro mortal.
164
Olha o senhor saindo ao fundo e olha para a determinação
vinda de Brasília, olha em volta e chama os investigadores.
— Sabe de algo Carvalhinho.
— Não entendi, a pressão é porque novamente somem
policiais em uma operação que não está no sistema, foi colocado
dados hoje depois da operação ter sido feita na noite de ontem.
— Operação?
— A que determina o sumiço do Delegado Plinio, irmão do
Juiz, e mais 4 pessoas, acusando o investigador Douglas dos sumiços
senhor.
— O que levou o tiro?
— Sim, se contar que existiam duas outras pessoas além do
rapaz na operação que não haviam morrido, e as outras duas foram
mortas esta manhã, na sede da policia no centro.
— O que o rapaz fez e quem o quer morto Carvalhinho, não
quero me meter na frente de um atirador sem saber quem o quer
morto?
— Verifico, mas os relatórios dizem que a conversa estava
pesada, entre o Juiz e o investigador, que acusou o juiz de
mandante da operação que tinha como objetivo sua morte.
— Alguma operação a mais?
— Sim, uma na região da Ilha do Governador, favela do
Galeão, um grupo de policiais com apoio da federal foi mandado
para lá, não sei o objetivo, mas dizem que dois helicópteros foram
abalroados, duas lanchas sumiram, e 30 rapazes desarmados e
deixados na avenida Brás Crispim.
— Estamos em guerra e não me avisam?
— Nenhuma operação destas passou pela direção local
delegado, todas foram ordens diretas de Brasília a um grupo
especifico.
O delegado olha o investigador e fala.
— Camargo está em que hospital?
— HC.
— Dá proteção a ele, e dá contra ordem a qualquer outro que
estiver lá, vou pessoalmente tentar entender isto.
— Acha que vão tentar o matar?

165
— O juiz Plinio é menino do Beira-mar, se for isto, tenho de
saber o que irritou o Juiz.
— Dizem que Douglas afirmou que Beira-mar morreu na
operação em Bangu, e muitos ocultam isto para se manter nos
pontos sem guerra,
— Se for isto, só isto já explica a guerra.
— Certo, acha que o que eles foram fazer lá?
— Eles quem?
— A policia Federal?
— Pressão para o rapaz, Mãe Mari de Xangô.
— Não entendi.
— A mãe de Douglas Camargo e Kevin Camargo.
O investigador olha para o Delegado e fala.
— Eles sabem com quem estão mexendo delegado?
— Me verifica os dados, tá muito bagunçado isto, vamos por
ordem, centraliza em mim tudo vindo de Brasília, se querem gerar
mortes aqui, que saibamos quem as quer gerar, pois perdemos dois
helicópteros, alguns homens, e não gosto disto.
O investigador sai e o delegado passa as ordens e pede
explicações, e o delegado Ramalho da operação no Galeão liga para
ele e fala.
— Não se mete Delegado Russo.
— Se não me queriam nisto, não tivessem derrubado dois
helicópteros que vou ter de relatar, não tivessem me mandado
prender alguém por ter armas de competição num estande de
competição, mas o que quer com isto Ramalho?
— Justiça.
— Justiça, sabe quem é Mari de Xangô, tem ideia da briga que
está querendo me colocar e colocando homens de bem nisto?
— A mãe de um investigador que provavelmente matou o
delegado Plinio.
— Numa operação no apartamento do rapaz, que não estava
no sistema antes de ter dado merda?
— Não se mete.
— Estou me metendo, e tirando todos os meus da mira de
alguns e vou confirmar uma informação, se ela for real, quero a
cabeça do diretor de Bangu e de todos que fizeram esta farsa.
166
— Não entendi.
— Sei que não, mas espero que esteja feliz, você deu aos
traficantes da Baia de Guanabara, duas lanchas com metralhadora
calibre 16 milímetros, não sei quantas armas e nem quantos rádios
e material nosso que teremos de recuperar.
O delegado desliga e sai a porta e faz sinal para dois rapazes e
vão a uma viatura no sentido do HC.
O delegado olha os policiais federais a porta e fala.
— Se apresentem a Ramalho, não é área de vocês aqui.
— Não temos esta ordem. – Um dos rapazes.
O delegado olha o rapaz e pergunta.
— Eu estou ordenando.
— Não cumprimos ordens suas delegado.
— Sei disto – o delegado olha os rapazes e fala – prenda os
dois para averiguação, se estão desacatando delegados, não servem
para o serviço que tem de ser feito.
— Não pode nos prender.
— Detidos para averiguação.
Os dois veem mais policiais chegando e um fala alto.
— Sabe a encrenca que esta se metendo delegado,
Fernandinho vai lhe matar.
O delegado olha o rapaz e fala.
— Se ele já não morreu, pode ser.
O delegado entra e olha aquele rapaz a olhar para fora e
pergunta.
— Encrencado Douglas?
Douglas olha o delegado Russo e fala.
— Pelo jeito, lhe colocaram nisto.
— Tentaram pegar sua mãe na favela da Gávea Douglas.
— E como ela está?
— Não sei ainda, mas perdemos dois helicópteros, me
informaram que todos os 30 rapazes em terra foram achados
confusos e atordoados na avenida, desarmados.
— Não está sendo claro.
— Eles não sabem com quem estão lidando pelo jeito
Douglas, você sempre omitiu boa parte da sua historia.
— Esqueço que meu irmão pega pesado as vezes.
167
— Ele disse que se pedisse a prisão de alguém como fiz hoje,
iria pedir meu afastamento, ele enfrenta, sabe disto.
— O que veio perguntar delegado?
— Me afirmaram que você disse que lhe informaram que
Fernandinho Beira-mar estava morto.
— Ouvi alguém falar, que a Juíza Cristina sabia disto e por isto
sumiu.
— E as imagens do Uruguai?
— Ouvi uma criança falar algo sobre, cor de sobrancelha e
disposição, porte físico, cicatrizes, forma de orelha, disposição de
dentes, dimensão de nariz, e tamanho de pé, indicavam que aquilo
era um sósia.
— Quem lhe disse isto?
— Micaela David.
— Tem algo com a menina Douglas?
— Não, ela sempre foi a criança atrás da mãe, olhando para a
minha mãe e meu pai encantada, mas apenas uma criança que
ainda não cresceu delegado.
— Ela conhece sua mãe?
— Desde criança.
— Acha que mataram Beira-mar.
— Faz uma procura, na saída a oeste pelo muro, tem um
carreiro, pelo que ouvi, mataram ele e colocaram ali, mas quem o
fez, colocou o sósia para dentro e o tiraram de lá, os rapazes que o
tiraram nem desconfiaram não ser ele.
— Verifico isto.
— Outra coisa, cuidado com esta menina, não sei o que ela
representa, mas é daquelas coisas que minha mãe temia, a força
dos mortos na mão, crenças que se perderam, mas que se for real,
vai estabelecer alguém com uma estrutura e poder a mais na
cidade, e olha que a menina só tem 14.
— Não se envolveu com ela mesmo?
— Não, antes dela surgir esta semana no meu caso, não a via
desde os 6 anos delegado.
— Mudamos a segurança, mas não sei ainda o que você
descobriu que o colocou como alvo.

168
— Acho que nem eu descobri, mas alguém sabe de algo, que
por eu estar lá, acredita que vi, me falaram de politica, não sei,
quem seria o problema delegado.
— Nem desconfia?
— Devem me dar alta em breve, mas ainda pensando no que
fazer, para quem perguntar.
— E pretende perguntar para quem?
— Tenho duas pessoas em mente, mas não posso falar ainda.
O delegado olha desconfiado.
O mesmo sai pela porta e fala ao rapaz a porta.
— Quando derem alta, ele vai querer ir a alguns lugares, o
conduzam, se precisar, peçam reforço.
— Sabe o problema delegado?
— Se o que ele falou for real, terminaremos o dia com uma
guerra, mas precisamos saber se é real.
O delegado pede duas viaturas e um legista, eles vão a Bangu,
entram na região ao fundo do presidio, os policiais os viam, o
delegado pede para filmar a área, e chegam a um pequeno
descampado, a chuva da noite anterior na região, fez ficar bem
visível onde tinham feito um buraco, ele pede um grupo para fazer a
escavação, e quando próximo das 8 da noite, o delegado saia pela
lateral do morro para a rua ao fundo, a imprensa estava toda lá.
Para quem passara um carão pela manha, estava prestes a
tentar se redimir, mas com ressalvas como sempre.
— Delegado, qual o motivo da busca?
— Alguém na fuga do presidio, foi morto e enterrado ao
fundo, estamos com a técnica analisando os fatos.
— O corpo é passível de reconhecimento?
— Está sujo e bem inchado, mas as vestes tem uma
identificação que temos de verificar.
O repórter olha a identificação e pergunta.
— Um preso, mas já sabem de quem é o uniforme.
— Por isto temos de pedir a analise, esta numeração é do
uniforme interno de Fernandinho Beira-mar.
O repórter olha em volta e pergunta.
— Mas não disseram que ele estava no Uruguai?

169
— Sim, mas como um investigador me falou, cicatrizes, porte
físico, formato da orelha, dentes defeituosos, diferença de nariz
indicavam que estavam com um sósia no Uruguai, nos veio a
afirmativa de um preso interno, que ele morrera no ataque e que
omitiram a morte dele, para evitar uma guerra, mas nossa função é
levantar a verdade, não omiti-la para que um grupo do trafico fique
na tranquilidade.
O delegado sai e a noticia tomava todos os noticiários
nacionais, o rapaz no Uruguai, quando viu a noticia, apenas saiu
pela porta e sumiu, sabia que agora ele seria alvo.
A esposa olha aquilo incrédula e olha a filha abraçando-a.
O delegado Ramalho estava a jantar com o deputado
Saldanha, quando o rapaz ao fundo levanta a noticia e ele ouve.
— Confirmado, o corpo encontrado próximo ao muro dos
fundos de Bangu 2, é de Fernandinho Beira-mar, uma sindicância
está sendo levantada para analisar como foi a morte.
O delegado olha para o Deputado e fala.
— Poderia me explicar isto deputado?
O deputado olha o delegado e fala.
— Sofro pressão e a transfiro Delegado, tem de entender.
— Perdemos bons homens por esta pressão deputado, a
pergunta, quem realmente está pressionando, quem pediu a morte
de Roberto David?
— Não é pessoal Delegado.
— Imagino se fosse, entendi somente agora a posição do
delegado Russo, ele foi lá e descobriu o que vocês omitiam, a morte
de Fernandinho.
— Tem de nos dar o que pedimos.
— Não, não temos, se esconde deputado, você mandou
sequestrar uma criança, mas todos tinham medo de suas costas,
protegidas por Fernandinho, agora, melhor começar a correr, se
fosse o senhor, nem passava em casa, pegava um voo direto para a
Europa.
Na entrada um rapaz liga para Paulinho, e fala com quem o
Delgado estava.
O deputado queria se fazer de importante, mas olha o
delegado firme e fala.
170
— Acha que tenho medo de um bicheiro qualquer?
— Acho que não entendeu, ele ainda não revidou senhor,
mas a confirmação da morte de Fernandinho, se por um lado alguns
do Comando vão pedir explicação ao velho, outros, vão começar a
respeitar, mas como disse, ele ainda não revidou, não sei quem
matou Fernandinho, mas o estilo é bem Comando Vermelho, então
alguém está jogando e quem ficar em campo, pode colher a gloria
ou as balas.
O Deputado sai e o delegado chama o investigador.
— O que deu da operação na Ilha?
— Não sabemos ainda senhor.
— Como não sabem?
—Todos que entrevistei estão confusos senhor, não falam
coisa com coisa.
— Motivo?
— Afirmação de que a menina do David esteve lá, olhou para
eles, eles não entendem, pois sentiram um mal intenso e foram
caindo um a um, quase desacordados, foram colocados na avenida,
mas não houve enfrentamento, apenas eles afirmam que estavam
lá bem uma hora, na outra, todos no chão.
—Essa menina está virando problema rapaz.
— Sabemos que algo não está certo, mas qual o problema
real Delegado?
—Estamos sobre mudança de comando, temos de nos tornar
neutros, pois a confirmação da morte de Fernandinho com certeza
pegou muita gente de surpresa.
— E fazemos o que Delegado?
— Observa e se põem na neutralidade, temos de saber quem
vai assumir, os David estão se mexendo, mas eles nunca se
envolveram com o tráfico, temos de ver quem vai nos pagar para os
apoiar.
O rapaz saiu e o delegado Ramalho liga para o Delegado
Russo.
— O que acha que está acontecendo Russo?
O Delegado olha para quem estava ligando e fala.
— Mudança total, não entendi, mas tem gente ligando para o
velho David e pedindo ajuda, não entendi o todo ainda.
171
— Eles estão jogando com algo que desconheço, mas estão
colocando a pequena menina dos David como algo especial, mas
não entendi ainda.
— Cuida com esta menina Delegado, não sei o que ela quer,
ou o que pretende, mas ficou obvio que me mandaram a uma
tentativa de deter a menina, sem provas, alguém está jogando,
aquele Juiz Plinio não parece saber o que está fazendo, se cuida, eu
deixei os meus em alerta, pois algo está mudando de mão.
— Isto eu entendi, só não entendi o que ainda.
— Os filhos dos David já estão ganhando tamanho, talvez seja
a hora da mudança de direção e não estávamos olhando.
— Vou verificar, mas ainda parece muita maluquice isto, mas
onde se fala desta menina, tem gente assustada ou encantada.
O Delegado pensa na frase, talvez tivessem desviando a
atenção, mas isto teria de verificar com calma.

172
Douglas Recebe alta e um policial a porta olha para ele e
pergunta.
— Onde?
— Sabe se o Deputado Saldanha ainda está na cidade?
— Voo marcado para sair da cidade no fim do dia.
— Liga para o delegado e inventa algo para este voo não sair
do chão.
— Ele vai querer saber porque? – Policial Santos.
— Ele não quer um avião cheio de turistas caindo, ou quer?
O policial olhou desconfiado.
— Apenas alerta, preciso falar com duas pessoas, e sei que
eles não querem falar..
O policial parecia não entender, mas o primeiro lugar que
Douglas se direcionou foi para sua casa.
Douglas liga para a mãe, sorri e quando ele dá o endereço de
sua casa, os demais estranham, chega com dois policiais a porta do
apartamento e fala.
— Vou só pegar minhas coisas e já saio.
Douglas entra em casa e olha para a mãe que o abraça.
— Como está filho?
—Podemos conversar mãe?
— Sim.
Os dois sentam-se a cozinha e Douglas perguntou.
— O que o mano fez mãe, temo este lado dele.
— Nada que tenha aparentado ser ele filho, por quê?
— Me preocupo mãe, mas então o que lhe defendeu?
— A pequena Micaela.
— Não entendi.
173
— Ninguém entendeu, ela subiu sobre um caminhão, fez um
pequeno gesto com a mão, dois minutos depois estavam todos
quase desmaiados ao chão, mas todos vivos.
— O que entendeu que eu não entendi mãe.
— Que a menina está se transformando, virando uma arma
ou o acalmar das coisas, a ação dela de hoje indica acalmar, mas sei
que no meio da guerra as vezes isso é impossível.
— Eu vou tentar evitar uma guerra, mas se cuida mãe.
Ele beija a face da mãe, pega a sua arma ao quarto, desce, e
olha para o motorista.
— Vamos para a delegacia que trabalho.
— Sabe que eles querem sua morte lá? - Santos.
— Tem muita criança nesta policia Federal.
Douglas para na frente da delegacia e entra enquanto Santos
pediu reforço enquanto o rapaz entrava na delegacia.
Douglas olha os demais e olha para a secretaria do delegado
de plantão e pergunta.
—Quem está de plantão Regina?
Ela olha em volta e fala.
— Ele não vai lhe receber.
Douglas a olha, olha todos os olhos sobre ele, pega um papel
na mesa e escreve.
“Quando deixarem de ser crianças birrentas e voltarem a ser
membros da Policia Federal, estarei por perto!”
Alcança para a moça e começa a sair.
Santos achava que teriam de o tirar de lá e ele já saia pela
porta.
— Pelo jeito foi rápido.
— Vamos para Copacabana.
— Onde?
— Tabajara.
O rapaz olha assustado e ouve.
— Mantem todos calmos por enquanto.
— Vai se inteirar do problema?
— Eu não entendi o problema ainda, este é o problema.
Saíram dali, o delegado olha para a secretaria e perguntou.
— Ele não insistiu?
174
— Não.
Ele olha o escrito e fala.
— Ele estava sozinho?
Ela aponta para fora e o delegado Martinho, o indicado pelo
Juiz para cobrir o buraco até decidirem quem ficaria no lugar do
delegado sumido.
Ele olha pelo menos 10 carros da Policia Federal dando
auxilio, olha a moça, ele deixara a ordem, agora não teria a quem
perguntar, outros que estiveram a porta do quarto, olham o grupo
sair, se perguntando o que estava acontecendo.
Douglas chega a portaria de Pedro do Tabajara e se anuncia,
alerta que subiria e desceria, nada de fazerem besteira, o rapaz ao
carro viu que Douglas era mais corajoso ou maluco do que lhe
falaram.
Douglas olha o elevador abrir na sala do apartamento e
aquele senhor negro, mais de um metro de oitenta e cinco, imenso
a sua frente sorrir e falar.
— O que está acontecendo Douglas?
— Isto que quero descobrir Pedro, não entendi nada.
Douglas olha a imagem da TV da sala, 20 câmeras e ouve.
— Veio com apoio de quem?
— Delegado Russo quer parar isto, mas não entendi quem
ganha com isto?
— O problema é que Alemão resolveu sair totalmente dos
morros, Fernandinho pressionou uns políticos e policiais e 12 dos
grandes sofreram perdas, seja pessoal ou morreram, recuaram, até
chegar a Roberto David.
— Por isto eles não vão parar, é o que, metade do trafico da
Grande Rio.
— A parte que todos falaram ser mais lucrativas, mas eles não
entenderam, é lucrativo porque aquele maluco do Alemão enxugou
nos inúteis como Juízes e políticos.
— E você, saiu de verdade Pedro.
— A mais de dois anos, e tem gente que ainda acha que estou
nos pontos.
— E como paramos isto?

175
— Muitos recuaram com a informação da morte de
Fernandinho, mas 12 pontos estão frágeis e com administração com
apoios ainda indefinidas, sabe que já falei demais Douglas.
— Sim, desculpa vir a sua casa, mas preciso saber quem
comprou as armas mais pesadas?
— O problema Douglas, é que não adianta comprarem armas
pesadas em Belford Roxo se não sabem usar.
— Que tipo de arma?
— 18 milímetros.
Douglas olha para fora e pensa, as vezes perguntava apenas
para fazer sua mente funcionar.
—Acha que o problema vem de lá?
— Nunca fui adivinho, mas tudo indica ali, na região dos
David.
— Obrigado por conversar, qualquer dia temos de tomar uma
boa cerveja em Gamboa como antigamente.
— Se cuida, sei o que é ser alvo do corporativismo por saber
demais.
Douglas se despede e desce, Pedro olha o segurança e fala.
— Fecha o cais, os dois depósitos, deixa apenas segurança, é
bom não ter gente a rua nesta hora.
O rapaz concorda enquanto Douglas chega ao carro e fala.
— Duas quadras a frente.
—Onde?
Ele alcança o cartão com o endereço e os carros saem dali,
Douglas estava sinalizando pontos, ele queria gente recuando, mas
tinha quase certeza que entraria em guerra.
Ele para com aquele grupo de policiais a portado escritório do
irmão e apenas sobe, os rapazes param a entrada, muitos não
sabiam do parentesco, então achavam estar em uma operação.
Douglas chega a secretaria de Kevin, aguarda ser anunciado e
olha o irmão desconfiado a porta.
—Podemos conversar Kevin?
Ele olha os demais, sabia que tinha gente naquele escritório
que defendia outros interesses, olha a secretaria e fala.
— Entra, segura as chamadas e entradas.
Douglas olha o irmão lhe encarar serio.
176
— Veio fazer o que aqui Douglas?
— Apenas conversar.
— Não temos o que conversar, está me complicando aqui.
— Pensei... – Douglas olha em volta - ...esquece, pensei que
tivesse crescido.
— Não entende o quanto este mundo é violento Douglas,
aqui nos impomos na força.
— Então só um alerta maninho, põem um colete a prova de
bala, pois tudo vai pegar fogo as ruas.
Douglas sai e olha para a secretaria.
— Leva uma frauda para ele, pensei que tinha virado homem,
devem ter falado de outro.
Douglas desce pensando em onde iria e para a frente do
carro, sabia que os seguranças estavam olhando para ele, olha pra
Santos e fala.
— Prepara o pessoal para uma ação em Belford Roxo.
— Está maluco?
— Eu vou, se vocês tem medo, entendo. – Ele olha em volta e
fala – Vai preparando que já volto.
Douglas caminha meia quadra, agora estava a meia quadra da
beira mar, entra na recepção de um prédio e pede para falar com o
senhor da cobertura, os seguranças o revistaram e ele sobe.
O senhor olha desconfiado para Douglas e pergunta.
— O que faz aqui investigador?
— Apenas alertando, quem não se proteger, pode não estar
vivos no fim de 3 dias.
— Sabe que não acreditamos em meganhas da federal.
— Não pedi para acreditar, eu vou alertar, isso pode me
custar a vida, mas se ninguém ouvir, problema de vocês.
— O que seu irmão acha disto?
— Ele não me ouviu!
— E porque eu deveria lhe ouvir, se sua família não ouve.
— Acho que não vou explicar senhor, que corporativismo
mata, tanto dentro quanto fora do corporativismo, não vou explicar
que tudo sem controle, desanda, e que eu vou continuar na boa
independente do acontecimento.
O senhor olha serio e fala.
177
— Acho que não entendeu o problema rapaz.
Douglas sorri, como não havia nem sentado, a porta do
senhor apenas olha ele e fala.
— Torça para que o que entendi esteja errado prefeito!
Douglas sai e espera o elevador e desce, o policial da federal
olha para ele e pergunta.
— Onde?
— Paulinho em São Conrado!
O policial olha serio e pergunta.
— Quanto de reforço?
— Nada, mantem proteção ao prefeito e ao governador, se
for o que pensei, temos de proteger estes, mas sem nos arriscar.
— Mas quem vai a São Conrado.
— Apenas eu, você e o motorista.
— Sabe o risco?
— Sei.
— E Belford Roxo?
— Depois de duas tentativas.
Douglas pega o telefone e liga para o Delegado Russo.
— O que descobriu Douglas?
— Alemão saiu dos morros e favelas, ele passou a frente mais
de 500 pontos, em todo Rio, Fernandinho se propôs pagar, mas
atacou perto de 12 grupos para assumir, ele iria a frente, não sei
quantos ele queria, mas quando ele atacou Roberto, algo o parou,
estamos nisto porque pararam ele em Nilópolis, mas a informação
fala em armas pesadas vendidas para Belford Roxo, preciso de apoio
lá no fim do dia.
— Está maluco?
— Não ouviu Delegado, pensa, em 12 pontos, teremos guerra
pois o anuncio da morte de Fernandinho coloca os herdeiros numa
luta para retomar pontos, não sei onde em Belford Roxo, eu olhava
para o lado que prenderam a menina dos David.
— E vai onde?
— Falar com a segurança dos David, não quero receber bala
que não é para mim, eu dei ordens que não posso, mas eu reforçava
a segurança do prefeito e do governador delegado.
— Quantos pontos Alemão repassou?
178
— 500.
— Entendi, estamos na calma da parada em Nilópolis, é isto?
— Parece que sim.
Santos ouvia e entendeu, uma guerra das pesadas.
Douglas olha em volta e fala.
— Manda todos esperarem, pois o que ouvi, diz que temos
metralhadora de 18 milímetros em Belford Roxo, não existe colete
para isto.
Santos olha para Douglas, alguns duvidaram em lhe proteger,
mas ele estava tentando entender.

179
O delegado Russo liga para o comando Leste do Exercito,
sabia que precisaria de armas pesadas nessa hora, e começa a
pensar no que seria o problema.
O secretario de segurança do município liga para ele.
— Podemos conversar Delegado.
— Fala Secretario.
— O prefeito pediu por cooperação, liguei para o Delegado
que um investigador da Federal deveria responder e me afirmaram
que ele esta sobre sua proteção.
— Qual o problema secretario, pois estamos em uma guerra
por pontos e não vejo motivo para esta conversa.
— Ele queria pedir um favor, o afastamento de Douglas
Camargo.
— Um motivo secretario, já que ele me ligou a pouco pedindo
para ampliar a proteção de prefeito e governador, e o prefeito o
quer afastar, um motivo real.
— Ele o que?
— Sabe oque está acontecendo secretario, ou apenas um
pedaço?
— O que acha que está acontecendo?
— Retomada de 12 pontos, guerra pelos pontos em Nilópolis,
tensão em outros 480 pontos de droga da cidade.
— Mas o que causaria isto?
— Isto que estamos tentando descobrir, eu parei um avião
pois um informante nos deu o recado que o avião que o Deputado
Saldanha, tinha uma bomba pois ele apoiou uma tomada de 10
pontos de Alemão, acho que perderam a noção de perigo.
— Por isto todo aquele agito no aeroporto?
180
— Sim, mas se quer tirar o único que está tentando parar isto
Secretario, posso lhe prender por cumplicidade, pois terá de
explicar esta posição.
— Tenho de falar com o prefeito, mas quer dizer que temos
proteção extra para o prefeito.
— Sim, manda ele relaxar, não é para o prender, é para o
proteger, custos da democracia, elegem uma ratazana e temos de a
proteger no poder.
O delegado olha outros dois entrarem pela porta.
— Algo os fez sair de seus tronos? – Russo tirando sarro.
— Estão começando a pedir sua cabeça Delegado Russo.-
Delegado Ramalho.
— Os dois tem noção do problema ou só defendendo a
ninharia do dia a dia.
— Qual seria o problema? – Delegado Martinho.
— Fernandinho montou uma estrutura, pelo que entendi,
para tomar os 500 pontos que Alemão saiu, é uma estrutura de
guerra, mas na execução disto, algo o parou em Nilópolis, a
estrutura está armada, pronta, sem líder, com armas, em 500
pontos da cidade, este é o problema deste instante.
Ramalho que entrou firme olha serio e se apoia a mesa,
parece perder a firmeza das pernas e pergunta sentando-se.
— Quem lhe deu estes detalhes? – Ramalho.
— O investigador que o Delegado Martinho, por pressão do
Juiz Plinio não ouviu.
— O que não me falaram Russo? – Ramalho.
— O básico acho que todos sabem, quem é Douglas
Camargo?
— Irmão do advogado dos David, o que isto tem de mais? –
Martinho.
Russo olha para Ramalho.
— Sim, o que tem isto de mais?
— Não é a toa que vocês precisam de indicação para os
cargos, Douglas e Kevin são filhos do falecido Dalton do Jardim
Carioca na Ilha do Governador, Douglas é afilhado de batismo de
Paulinho da Rocinha, afilhado na Federal de Joaquim Jose Moreira.
Ramalho olha para o delegado e pergunta.
181
— Por isto o apoiou?
— Ele tem as entradas que precisamos, sabemos que o
armamento pesado ainda está em Belford Roxo, não veio a cidade
ainda.
— Metralhadoras 18 milímetros.
— Acha que o Exercito nos daria apoio?
— Eles vão entrar na região com os tanques e vamos
revirando cada casa marcada, mas ainda não temos os pontos,
então estamos ainda levantando dados, mas espero que os dois
parem de fazer merda, não é hora de acertos de conta com quem só
vai nos complicar.
Martinho olha para o delegado Russo e pergunta.
— Mas este Joaquim Moreira, não pode nos dar apoio contra
os David, e nos ajudar a assumir os pontos?
Russo sorriu, a cara de não entendi de Ramalho estabeleceu
que ele não falaria o básico para os dois.
— Acho que no fim entendo como eles nos desviavam, vocês
dois são a base desta cidade e nem sabem quem é este senhor,
então melhor continuarem sem saber.
O delegado estava a falar e olha para Ramalho.
— Se não vai ajudar, não atrapalha.
— A corregedoria foi colocada no caso pelo Juiz Plinio.
— Este é outro que deveria pedir a conta, é um
incompetente.
O olhar de Russo foi a Martinho e fala.
— Se quer matar mais dos seus, em ações ilegais, pois
assassinato de um membro da corporação é ilegal, vou fazer vistas
grossas quando todos estes morrerem.
— Não pode proteger um assassino.
— Ele não deu um tiro, sabe disto, mas se deram esta ordem,
manda a corregedoria sobre mim, eu dou pistas e todo o seu
pessoal vai para a rua Delegado, pois isto é coisa de covarde.
— Não sou covarde.
— Então espero todos em campo por 3 dias, é o tempo para
parar este mal entendido.
— Sabe quem matou Fernandinho?

182
— Não, tiro a queima roupa, pela frente, arma com
silenciador, então foi algo que poucos viram, que poucos
presenciaram, e o sangue encontrado no local diz que ele foi morto
não dentro do presidio, mas fora, por alguém que o esperava.
— Planejado?
— Parece que sim, mas o sósia sumiu do Uruguai, até a
esposa acreditou ser o rapaz.
— E você não acreditou? – Martinho.
— Duvidei como sempre faço, mas pensei que ele estava por
perto, usando um sósia para chamar a atenção para longe.
— E não segurou a informação.
— Não é minha função encobrir assassinato.
Os dois viram um grupo entrar e um rapaz falar.
— Eles foram a São Conrado.
— Quantos? – Russo.
— 3 senhor, quer mandar reforço.
— Não, eles não querem chamar muita atenção, e o pessoal.
— Problemas em 10 pontos, a civil está tentando espaço mas
está difícil, favela do Meio é plano e tem mais de 200 balões no ar
senhor.
— Mantem apoio a distancia, não pediram ainda reforço.
—Acha que vão pedir? - O policial a porta.
— O prefeito achava que estava sobre controle, pois o
secretario municipal me ligou, mas apenas pressão de crianças,
então quando os policiais locais começarem a recuar, dá cobertura.
— Não quer entrar? – Policial.
— Se tiver alguém do exercito lá para avançar, sim, pois
calibre 18 milímetros transforma o Caveirão em uma peneira.
— Certo, acha que teremos resposta violenta.
— Sim, e não esquece, favela do Meio é Candido da Civil,
então tem de ver que não temos de tomar lado, se for apenas para
alguém da Civil assumir.
Os policiais saíram e Martinho falou.
— E vai os ver morrer.
— Estamos mandando reforço, mas eu sou apenas uma das
delegacias da federal local, o resto, tá tudo de braços cruzados. –
Russo devolvendo a acusação.
183
— E como paramos isto? – Ramalho.
— Eu não sei, mas Douglas pensou em algo, mas não sei se
ele tem noção da confusão que está se envolvendo.
Os demais começam a sair, e o delegado começa a mandar
diligencias a varias regiões, ordem, observar.

184
Douglas chega a parte baixa do prédio de Paulinho e anuncia
a subida, o rapaz a entrada olha desconfiado, mas ouve que o rapaz
poderia subir.
Paulinho olha Douglas, sorri e fala.
— Cresceu afilhado.
— Como estão as coisas padrinho?
— Pelo jeito soube o que aconteceu.
— Vim agradecer pelo apoio em casa, e a minha mãe.
— A menina insistiu que não poderíamos deixar eles prontos
a tentar de novo, sei que não gosta disto.
— Obrigado da mesma forma, mas queria saber se o que
entendi está certo.
—O que acha que está acontecendo?
— Demétrio assumiu a posição de Fernandinho no Comando,
e Candinho, a de Carlinhos no ADA, e os dois querem algo, pois
ambos estão desviando vocês agora.
— Tem de entender que levamos sorte, o velho não gosta de
levar sorte nestas coisas.
— Mas o que eles querem?
— Apoio, mas como falou, não podemos apoiar os dois lados,
o comando pressiona o velho, mas ele não tem como se posicionar.
— E o armamento em Belford Roxo.
— Acha que eles vão usar contra nós?
— Pedro falou em 18 milímetros, é guerra nas ruas, quem
estiver nela e sem proteção vai morrer.
— Por isto não temos como apoiar os ADA, mas seu irmão me
ligou assustado.

185
— Ele tem de aprender a conversar com os amigos como faz
com os inimigos, mas é que precisava que os delegados federais se
mexessem, estavam apenas olhando.
— Nunca entendi as brigas de vocês?
— Irmãos não se entende, se aceita.
— E o que pretende?
— Apenas vou lhe alertar quando estivermos entrando em
Belford Roxo, não sei se saberia onde são os pontos onde eles se
concentravam quando raptaram a menina.
Paulino pega um mapa da região e passa a Douglas passando
os pontos dos dois lados, eles não tocavam os pontos de droga, mas
o Jogo do Bicho, então sabiam onde estavam os dois, eles queriam
paz para continuar no jogo de azar, era a parte deles.
Douglas olha a posição e fala.
— Parece uma eterna guerra estes pontos.
— Sim, parece.
— Deixa eu me meter em encrenca.
Douglas saiu e Roberto sai da peça ao fundo e pergunta.
— O que ele pretende?
— Tirar armas de calibre 18 milímetros da rua.
— Confia nele.
— Ele evita nos prejudicar, ele é a lei, mas sabe que leis são
interpretação de juízes no Brasil.
— Ele parece agitado.
— Ainda jurado de morte por alguns.
— Acha que ele vai morrer?
— Acho que poucos viram a verdade, mas ele vai a Belford
Roxo, se ele desarmar o grupo do Rick em Gláucia já ajuda Roberto.
— Certo, ele vai querer tirar as armas deles, ele tem noção do
que pode ser aquilo?
— Com certeza sabe.
Roberto sai e não olha o carro da filha a duas quadras, ele já
ia ao sul e ela subia, olha para Paulinho e pergunta.
— O que vamos fazer?
— Um dia vai me meter em encrenca menina.
— Uma hora teremos de falar de negócios Paulinho, mas o
que o liga a Douglas a ponto dele vir sem reforço.
186
— A família une as pessoas, sou padrinho de batismo dele,
então é como se fosse da família.
— E se não fosse na casa dele.
— Tem de observar mais menina, agir menos, olhar mais.
— Tinha mais gente lá?
— Eu não fiz a operação na Delegacia.
— E quem fez?
— Observa melhor menina, se quer entrar nisto, observa
melhor.
— E vamos onde?
Paulinho olha para a porta e Micaela olha o irmão entrar e
falar.
— Belford Roxo. – Gabriel.
Micaela olha para o irmão e pergunta.
— Você está nisto também.
— Sim, mas vi que a maninha resolveu crescer e assumir o
seu pedaço, não apenas o estratégico, mas tem razão, temos de
sentar e conversar sobre os negócios.
O olhar para Paulinho de Micaela fez Gabriel sorrir e falar.
— Tem coisa que nem Paulinho sabe mana.
— Acho que não havia entendido, mas posso estar enganada,
mas terei de conversar com alguém antes de voltar ao marasmo
daquelas aulas.
Paulinho liga para os rapazes do jogo do bicho da região e os
mesmos começam a se retirar no fim do dia.
Roberto liga para um amigo da ADA e fala que a Federal iria
tentar uma operação de desarmamento em Gláucia.
Douglas desce e olha em volta, o carro de Roberto na
garagem, o de alguém ao fundo, e um grupo olhando do outro lado
da avenida, dava a tensão de estar ali, mas montou algo em sua
mente e entra no carro da policia que começa a sair dali.
Douglas abre o mapa no carro e Santos pergunta.
— Qual o problema?
— ADA contra Comando, nós no meio, Comando com armas
calibre 18, e ADA com fusíveis calibre 16.
— E vamos para lá?

187
— Santos, estou levantando dados enquanto pessoas morrem
em outras operações, eu não estou vendo as mortes, pois senão
paro, e parece que se parar, tudo desanda, então não quero parar
antes do fim.
— O que o preocupa?
— Sair vivo e sem problemas eternos no fim do confronto.
— Problemas eternos é difícil.
Douglas sorriu, estranho alguém de sobrenome Santos ateu,
mas era o caso de Santos.
Eles passam na delegacia da Federal e viu o Delegado a frente
falando com alguns rapazes.
— O que tem para nós?
— Os pontos dos dois lados, e as casas que provavelmente
tem as armas.
O delegado Russo olha o mapa e fala.
— E eles nem desconfiam do poder de obtenção de dados
que você tem menino.
Douglas olha para o senhor e fala.
— Sabe que teremos problemas lá senhor?
— Sim, como você entraria?
— Sei que se o pessoal da ADA levar a serio, eles vão tirar os
deles da região.
— Sabe que não tomamos lado.
— Sei, mas não gosto de levar tiro pelas costas, porque
acabamos de tirar armas de um lado que gostaria de ter as mesmas
armas.
— E quer coordenar isto?
— Não sei se tenho capacidade para isto, mas como disse
para Santos, eu vou lá, talvez os demais não vejam, mas tenho
certeza, as pessoas não precisam ver o que não precisam.
— E como faria?
— Eu entro, vocês observam os dois lados, dou sinal e vocês
entram.
— Sabe que pode morrer assim.
— Sei, mas para vocês vai ficar fácil, pois vão observar onde
estão os demais.
— Não gosto disto. – Delegado.
188
— Pode ter certeza que os demais vão adorar Delegado, fala
que a ideia foi sua e eles passam até a lhe dever uma.
— Quer morrer pelo jeito.
— Deixar claro o que parece, que a maioria ainda ignora.
— Que alguns grupos o respeitam?
— Não.
O delegado faz todo esquema de entrada, o Juiz Plinio estava
contra, mas a proposta do Delegado, do Investigador entrar antes,
pareceu o agradar, ele passa uma mensagem para Rick.
O problema maior é que sistemas interligados, é que toda vez
que se meche com um, todos se agitam, a saída do pessoal da ADA
de Belford Roxo deixa tensa a situação em Mesquita, São João do
Miriti e Nova Iguaçu.
O sol se pondo e a policia começa a se direcionar para a
região de Nova Iguaçu, a policia civil e militar local foi acionada, e
um regimento do exercito começa a chegar a região pelas curvas da
Estrada de Belford Roxo.
A operação ficou muito visível, mesmo distantes ainda, o
fechar da região, barreiras e revista em todas as saídas, esticava o
problema para Duque de Caxias.

189
Os delegados veem Douglas entrar no carro, e passar pela
barreira em na Altura de Redentor, e avançar do centro de Belford
Roxo no sentido da divisa com Duque de Caxias, no sentido do
Parque Novo Lar.
— O que ele pretende? – Delegado Martinho.
— Nos indicar os pontos onde eles estão escondidos e nos
esperando.
— Os rapazes se posicionaram? – Martinho.
— Acho que não entendemos o problema, ele sabe de algo
que me passou desapercebido.
— Sabe que parte da ADA não saiu.
— Sei, assim como alguns bares ao fundo, mesmo com todo
nosso agito, se mantem atentos ao que fazemos. – Delegado Russo.
O fechar da região, na esquina da Estrada dos Bosques,
parava muitos carros, o que basicamente inviabilizava o chegar de
reforço por terra, ou ele já estaria ali, ou ficaria ao fundo de muito
transito travado em todos os sentidos.
Douglas contorna na curva acentuada que dava para a
comunidade, quando embica para a Sebastião Moreira da Silva,
para a entrada da rua, diante de dois carros atravessados na rua,
olha em volta, pareciam ruas desertas, as pessoas deveriam estar se
escondendo, a rua que acabava no rio que dali não se via, mas se via
os morros já de São João do Miriti, olha o pessoal a rua, um rapaz a
rua estica uma metralhadora apontando para ele e faz sinal para ele
descer.
Douglas deixa a arma sobre o banco e desce e olha para o
rapaz.
— Poderia falar com o Rick.
190
— Ele não fala com policial.
— Diz que é o filho do Dalton, não um policial que está aqui.
O rapaz as costas olha para o rapaz que barrara Douglas.
— Verifico se ele quer falar com você.
— Espero.
Rick estava a casa que fora de sua mãe, aquela ideia o tirara a
mãe e isto o colocava em uma posição quase sem volta.
O rapaz olha para ele e fala.
— Um rapaz na entrada quer lhe falar.
— Disse que não falaria com ninguém Miquinho.
— Sei disto, mas é o filho do Dalton.
Rick olha para o rapaz e fala.
— Veio sozinho?
— Sim, eles fecharam a região e ele veio sozinho.
— Olha atento, bem atento, solta balões.
— Não entendi Rick. – Miquinho.
— Ele é gente do Alemão, se alguém respeita os irmãos
Camargo, é porque os dois são cria de Dalton, crianças protegidas
por Alemão.
— Dizem que ele saiu e deixou todos para trás.
— Alemão saiu dos papelotes Miquinho, ele assumiu a
produção e distribuição de muita coisa.
— Vai conversar com ele ou não?
— Alguém jurado de morte pelos próprios meganha que
ainda vive e não teme a morte, tenho de saber o que ele quer.
— Tem duvida?
— Não vou me desarmar facilmente.
Rick começa ajeitar o grupo e estes começam ir a frente
enquanto ele com muita calma ajeita as coisas.
Sobre a formação a frente do Parque Novo, um policial olha
pela mira e fala.
— Sabe que as ordens são apagar este Douglas.
— Não entendi porque ele ainda vive.
— Ninguém nos passou quem lhe deu cobertura, mas com
certeza eles não nos querem distrair nesta hora.
— Esperamos oque?
— Não sei ainda.
191
Douglas olha para o celular, o rapaz a frente lhe estica a arma
e ouve Douglas.
— Esquece, muito aberto, acabam de me informar que tem
dois atiradores vindos de Furnas. – Douglas se referindo a
distribuidora de energia as costas. – Avisa Rick, que não somos
inimigos, mas quem encomendou o sequestro da menina do
Roberto, queria uma justificativa para mata-lo.
Douglas recua ao carro e o rapaz fala.
— Não autorizei sair.
Douglas sorri e olha o outro ao fundo.
— Vão deixar um dos seus morrerem por idiotice?
O rapaz ao fundo faz sinal para o pessoal que vinha pela rua
recuar, e Rick bem ao fundo recebe uma ligação.
—Fala Chico?
— O rapaz quer sair, diz que está muito aberto, dois
atiradores na região de Furnas.
— Ele não queria falar?
— Não entendi também.
— Deixa sair, provavelmente ele é o alvo, ajeita o pessoal,
assim que atirarem sabemos onde eles estão.
Douglas vê o rapaz fazer sinal que ele poderia sair, Douglas se
vira para o carro, ouve o tiro e sente a bala na altura do peito.
Rick viu que era serio, e faz sinal para recuarem, um aperta o
gatilho de uma arma de alto calibre, e perde o controle, ela cai ao
chão e para de atirar, o rapaz sentiu o coice daquela arma.
A noite estava caindo e os dois policiais ao chão sentem os
tiros vindos sobre eles.
Nas barreiras se ouvia os tiros, não era para ter tiros ainda,
mas sinal de confronto.
Douglas ao chão vira-se e toca o peito, colete duplo e mesmo
assim foi um senhor impacto, ele toca o local, sente a dor, mas não
tinha sangue, ele olha para o rapaz ao fundo e fala.
— Recua pela viela.
Douglas olha para o carro e puxa uma arma que estava ao
chão do veiculo, ele estava deitado, o carro lhe dava cobertura de
visão, ele arma ela, põem o infravermelho e acha o primeiro, dois
tiros e Douglas se levanta.
192
Rick olha para a rua que ele viera e vê uma leva de pessoas,
ele pensa em sacar a arma e ouve Douglas ao longe.
— Quer morrer, faz como aquele idiota do Guido que acabou
matando sua mãe.
— Não foi ele.
— Sabe que foi, ele não matou a menina porque ela estava
num buraco, pois a casa estava toda perfurada.
— O que quer falar? – Rick.
— Para de fazer burrada Rick.
— Tenho direito a este ponto.
— Não entendo como alguém que consegue ser um líder nato
consegue com uma cartada jogar tudo no lixo, e se recusa a olhar
para o lado.
— Não joguei nada no lixo.
— Certo, conheço duas pessoas que apontavam você Rick,
como o próximo líder do trafico em Nilópolis, Mesquita e Belford
Roxo, e sei que se não tivesse feito burrada, eles lhe levariam para
lá.
— Não entendi.
— Não sei o que Fernandinho lhe prometeu, mas quem
indicou o seu nome a Fernandinho, a dois anos, foi uma conversa
entre Alemão e Roberto, tem de ser muito idiota, para atirar nos
pés e não ver. – Douglas provocando.
— Não acredito nisto.
— Então continua nessa guerra idiota, pois calibres altos, sem
treino, faz o que aconteceu ali na frente, não adianta armas sem ter
pessoas prontas para a usar, e não contra bêbados de rua.
— Pensei que veio propor entregarmos as armas.
— Rick, as suas costas está Machadinho, eles encostaram
balsas no lado de cá da Maria Alves – Se referindo a rua rente ao rio
– hora de deixar o lugar vaziou, com lixo velho de alto custo de
manutenção, e sair, não de enfrentar vizinhos com armas que nem
sabe usar.
— Veio propor fugir, não sou por fugir.
Douglas via as viaturas chegando e fala.
— Então melhor se preparar para a maior guerra que você já
enfrentou, e com certeza, vou a seu enterro.
193
Rick olha para Douglas e fala.
— Acha que sai vivo e me mata?
Douglas olha o rapaz com aquela arma pesada ao corpo e
fala, olhando todos.
— Poderia ter sido diferente Rick, lembra disto depois.
O rapaz pega na arma e Douglas fala baixo.
— Pernas e recua.
Rick olha em volta, os rapazes começam a recuar, se ele
ficaria, problema dele, estava ainda erguendo a arma, quando ouve
o primeiro tiro seco, o segundo, o terceiro e vários ao mesmo
tempo, sentindo o tiro a perna, a dor na junta, ele larga a arma e
leva a mão a perna.
Douglas puxa a arma as costas e dá apenas 6 tiros, desarma
os demais e olha para a rua, ao fundo Furnas parece desligar, pois
viu a luz caindo. Olha para a rua, afasta as armas dos rapazes e olha
para o Delegado chegando ao fundo e fala.
— Desarmados e feridos, nenhum morto.
O delegado Ramalho olha para trás e ouve Douglas falar.
— Não sei quem colocaram para me cobrir as costas, mas
obrigado, foi de grande ajuda.
Ramalho olha para o rapaz e fala.
— Ainda temos diferenças.
Douglas passa pelo senhor, põem as duas armas no carro, liga
e começa a sair, um rapaz fez sinal para ele parar, ele apenas abre o
vidro e pergunta.
— Problemas?
— Acha que vai onde?
— Parque Umari, ao lado, algum problema policial? –
Douglas.
— O delegado quer lhe falar.
Douglas olha para os rapazes apontarem para ele as armas,
abre a porta e olha em volta, viu o delegado Ramalho apontar na
cabeça de Rick e atirar, olhar para ele e falar.
— Matem todos, sabem quem o fez.
Ramalho olha para Douglas que apenas lhe olha e fala.
— Quem escolheu a cova Delegado, foi o senhor.

194
O policial ao lado sente o primeiro tiro, e o delegado olha
para o rapaz ferido, o que dera dois tiros, é atingido no ombro e
solta a arma, o delegado pega a pistola e sente o tiro lhe atravessar
o braço e solta a mesma.
— Acha que sai vivo?
— Acho que não entendeu Delegado, não sou eu que está lhe
atacando.
— E porque não lhe atacam?
— Isto que vim descobrir, se soubesse tudo, não estaria aqui.
O delegado olha em volta e os tiros param, foi nesta hora que
viu mais carros parando a rodovia, mas estes não eram da policia.
O delegado olha para Gabriel e fala.
— Outra criança querendo se mostrar?
—Não, apenas registrando a morte de Rick ao fundo, para
depois não dizer que fomos nós Delegadinho de merda. – Gabriel.
Um rapaz saca uma arma ao fundo, um policial, o mesmo
estava esticando a arma quando se ouve o tiro seco, e o rapaz cai
morto, tiro na cabeça, o delegado olha para outro carro, viu aquela
menina jogar os cabelos para o lado e sente aquela paz, na
escuridão se viu o brilho da menina.
— A menina dos efeitos especiais.
Micaela olha em volta e fala.
— Quem não puxar a arma, não morre, entenderam?
Dois pegaram em armas ao fundo, Douglas estava entre os
dois grupos, com policiais ao chão atingidos, mas agora
desarmados.
A menina olha para Douglas e o delegado puxa outra arma,
estica para Micaela, puxa o gatilho, Douglas olha assustado para a
menina, pensando em o que fazer, mas olha aquelas luzes saírem
dela, a primeira pareceu avançar, sentir a bala, as almas saindo e
sentido as mesmas embora continuassem a avançar, a demais
também, a bala perde velocidade, e um rapaz empurra Micaela,
sentindo a bala ao braço.
Micaela que olhava assustada, vê os espíritos passarem pelo
delegado que cai morto, olha outros dois caírem mortos e os
demais levantarem as mãos soltando as armas.

195
Gabriel olha a irmã assustado e chega ao segurança e olha
para Paulinho bem ao fundo.
— Temos de estancar o tiro.
Micaela se levanta, abre a camisa do rapaz com um canivete
que tirou da perna, um pequeno corte e força a bala, apenas
raspão, ela havia perdido muita velocidade para atravessar o braço.
O rapaz olha para a menina sem entender, ele sentiu o toque
e a ausência de dor, mas a menina ainda brilhava.
Ela olha para Gabriel e fala.
— Desarma e tira o pessoal.
Paulinho ao fundo passa a ordem, mas ela tentou aparentar
que a ordem era de Gabriel.
Douglas olha para Paulinho e fala.
— Rápido, dois outros vão chegar agora.
— Eles vão nos interceptar afilhado.
Se ouvia os tanques vindo do sentido oeste, pega o
comunicador e ouve.
— Dá para saírem pelo Rio.
Douglas olha o padrinho e fala.
— Tem as balsas no rio!
Gabriel fala que sim com a cabeça e olha para a irmã apenas
puxar as mãos para ela e a luz volta, enquanto ela sentia as almas
dos mortos chegando a ela.
— Vamos mano, agora tem de ser rápido.
Douglas olha para eles saindo, abre a porta do carro, olha os
demais feridos e pensa na merda que daria aquilo.
Douglas olha o pessoal ferido, vê o exercito entrando, senta
ao banco e tira o colete, a marca do primeiro tiro estava viva no
peito.
Carros abandonados, gente meio perdida, e Douglas olha os
dois delegados chegarem, ele tira a insígnia, olha para o Delegado
Martino, pega a arma as costas, chega ao senhor e fala.
— Se querem me matar, que seja como um homem das ruas,
não por traição.
Douglas põem na mão do senhor a arma dele e sua credencial
de policial, nem olha para o Delegado Russo e começa a sair, entra

196
em um dos carros deixados ali pelo pessoal do Roberto, olha a
chave na ignição e sai calmamente.
O exercito chega a região e olha os marginais desarmados, 3
mortos, detém os demais, apreende as armas que estavam com
eles, as demais o pessoal de Paulinho retirou na saída.
O general olha para a ação e pergunta ao Delegado Russo.
— Não sabia que havia gente tão bem treinada no seu grupo,
poucas mortes para a quantidade de feridos e desarmados.
Russo olha para o carro bem ao fundo subindo para Belford
Roxo, sabia que deixara Ramalho entrar antes, sabia o que o senhor
queria, apenas não sabia como o rapaz havia sobrevivido.
O delegado morto ao fundo, dava o problema, o rapaz que
barrara Douglas olha os mortos, todos atingidos e pensa em como
eles foram atingidos, ainda estava com a imagem do delegado
atirando na menina, e aquelas luzes atravessando o delegado que
cai morto.
A pericia durante a noite era difícil, Douglas chega a barreira e
olha Santos ali, faz sinal para ele se poderia passar e o mesmo para
a sua janela.
— O delegado quer lhe falar.
— Mortos não falam Santos, estou saindo da corporação, não
sei ainda o que vou fazer da vida, mas não tenho como continuar
onde quem deveria lhe proteger as costas, atira para lhe matar,
pior, eles nem sabem porque querem me matar, apenas porque um
mandou, não conseguiu, e os demais tem de conseguir.
— Ele vai perguntar de você.
— Vou estar na favela do Galeão, minha única casa que
consigo manter sem um emprego.
O rapaz deixa ele passar e outro chega a santos.
— Sabe que ele é jurado de morte.
— Ele sabe, mas ele espera que alguém acorde, mas parece
que ninguém quer acordar, já que ele está com a razão, ninguém
nem sabe porque pediram sua morte.
— Dizem que ele Matou o Delegado Plinio.
— Sim, falam isto, mas porque o delegado Plinio queria a
morte dele, e morreu tentando o matar.
— O defendendo?
197
— Rapaz, se antes diziam que ele matou o delegado Plinio,
hoje vão falar que ele matou o Delegado Ramalho e Rick, se quer
enfrentar alguém que com todas as costas protegidas como
Ramalho e o mata, problema seu.
O rapaz não se tocara que ouve mortes para o rapaz sair.
— Então temos de o prender.
— Ninguém me passou esta ordem! – Santos.
O rapaz olha o tumultuo naquela rua parada, no sentido que
vinha, e Douglas quase no acostamento avançar para longe dali.
O delegado Russo olha para a arma a mão do delegado
morto, olha para os médicos que olham ele e um fala.
— Não tem marca de tiros delegado.
— Me tira os corpos, teremos problema na região, mas pelo
jeito alguém está pior do que me falaram. – O delegado chegando
ao rapaz ao fundo, um policial ferido.
— Vai me contar o que aconteceu aqui Rodrigo?
— Tem de ver que vimos parte apenas.
— Parte?
— Quando chegamos os rapazes estavam desarmados e
atingidos.
— Quantos mortos? – O delegado.
— Nenhum, sabe bem o que o delegado iria fazer, jogar tudo
sobre o Camargo.
— Não entendi. – Martinho.
Russo olha o rapaz serio e pergunta, sem explicar o básico
para Martinho.
— E quem matou o delegado?
— A menina dos David surgiu ali e o delegado deu um tiro
nela, não entendi, juro que parecia efeito especial, algo rápido, mas
era como se seres saíssem dela, alguém a tirou da mira, mas o que
saiu da menina atravessou o delegado e dois rapazes que puxavam
as armas, juro que não entendi, vi o delegado cair morto, não
entendi.
— Mas para onde eles foram?
— Não ouvi, ele entraram para a comunidade.
— Sem os carros? – Martinho.

198
O delegado via a policia com o exercito entrar nas casas, nada
além da comunidade, quase nada de armas.
O delegado olha a identificação de Douglas a sua mão, ele
poderia dizer que não sabia o que Ramalho tentaria, mas entendia a
revolta, as vezes achava que Douglas não sabia o que estava
fazendo, mas algo o fez sair, ele sempre dizia que nunca largaria
algo que nasceu para fazer.

199
Paulinho olha para os irmãos entrando na quadra, Micaela
olha para ele e fala.
— O que aconteceu?
— Duvida que vão tentar algo para nos ligar ao crime. –
Gabriel.
— O que quer saber? – Paulinho a olhando.
— As armas saíram? Quantos feridos e testemunhas? Pensei
que Douglas iria ao barracão em Umari.
Gabriel olha a irmã.
— Do que estão falando? – Gabriel olhando Paulinho.
— Rick tinha escondido parte da arma num barracão em
Umari, todos apostavam que Douglas entregaria as armas para o
delegado, mas algo não saiu como ele pretendia.
— Acha que devemos tirar as armas de lá? – Gabriel olhando
Paulino que vira-se a Micaela e pergunta.
— O que acha?
— Não sei, mas não quero atrapalhar o crescimento
profissional de alguém que não nos perturba Paulinho.
— Verifico.
Paulinho chama dois carros e volta pela rua, olha a posição
dos carros que usaram, um estava na favela do Galeão, ele olha os
dois rapazes e pede para conseguirem informação.
Pega um carro e dá a grande volta para chegar a ilha.
Paulino olha o carro parado e vê Douglas olhando a baia ao
fundo e fala.
— Problemas?
— Quando todos querem sua morte, não temos como ficar
esperando para morrer.
200
— Pediu a conta?
— Oficialmente apenas entreguei minhas credenciais e arma.
— Sabe que podem lhe complicar com isto?
Douglas olhava para a baia e pergunta.
— O que foi aquilo Paulinho?
— Aquilo?
— O que saiu da menina?
— Não entendo disto, mas ela começa a controlar, a primeira
vez que vi aquilo, foi a mais violenta.
— Meu pai falava que o poder da terra estava na baixada,
que um dia acordaria, mas aquilo tentou defender a menina,
estranho pois todas as crenças falam que a força disto mataria
todos os seus usuários.
— Não sei o que é aquilo, mas parece defender a menina.
— Assustador aquilo.
— Vai sair da corporação mesmo?
— Não sei.
— E aquelas armas em Umari?
— Vou tirar de lá, mas tenho de pensar onde por.
— Iria entregar ao exercito?
— O exercito entrou depois dos Delegados, eles dariam fim as
armas para suas vertentes, a tarde pensei em explodir o deposito,
mas agora não sei.
Douglas parecia longe e Paulinho fala.
— O Roberto não vai gostar desta historia.
Douglas olha para Paulinho e fala.
— Ainda vale o que falei antes.
Paulino sai dali e para em um ponto em Mesquita e olha
Santos entrando no bar, olhar em volta e olhar para ele.
Santos não era da região, quase ninguém o conhecia, o rapaz
ao fundo pegou na arma e Paulinho fez sinal para manter calma,
dois carros do lado de fora da Federal, Paulinho olha o Delegado
Russo entrar e olhar para Paulinho e falar para os dois do lado de
fora.
— Vamos manter a calma.
Paulino pede uma cerveja bem gelada e o rapaz do bar viu
que o negocio estava tenso.
201
— O que quer delegado? – Paulinho.
— Saber onde Douglas está?
— Em casa, onde mais.
— No apartamento dele só estava a mãe, ela parecia
assustada, mas nada dele.
— Falei na casa dele, não no apartamento dele.
— O que ele faria lá?
— Entender o que vocês querem, mas ele não tem como
entender, ele acredita na lei que defende, mas se está a minha
frente delegado, fez burrada, pois não teve coragem de estar a
frente de quem o protegeu lá, Alemão não apareceu, mas 6 grupos
dele estavam a volta, se a menina não tivesse ido lá, não teria nem
chego perto.
— E porque Alemão se meteria?
— Vocês mataram Dalton por covardia, ele acreditava estar
em paz, e vocês o mataram, dizem que Alemão prometeu proteger
os filhos dele, sobre o caixão, ele estava vindo da França quando da
morte, então a primeira noticia da chegada dele ao Brasil, foi a
morte de Dalton, e pode achar que manda, mas sei que se Alemão
me quiser fora daqui, ele entra, me tira, e ninguém o detém.
O delegado olha Santos e pergunta.
— Mas ele falou que ia para onde?
— Falei que ele ia para o Galeão senhor.
— Não faz sentido.
Paulinho não sabia o que o senhor fazia ali e ouve a pergunta
do delegado.
— Mas quem retomou todos os pontos.
Paulinho sorriu e falou.
— Não entendo de pontos de droga, sou apenas o chefe de
segurança de um empresário da cidade.
— Sei que é mais Paulinho.
— Qualquer um sabe que falhei na defesa de Dalton, alguns
não confiam em mim, talvez eu tenha dado mole para vocês,
covardes de insígnia, mas nos defender de vocês, quando morremos
ou sobrevivemos, a versão é a mesma, resistimos a policia.
— Não foi assim Paulinho. – Russo.
— O que faz aqui senhor?
202
— Não desconfia?
— Se vai fazer vistas grossas para ação da policia no Galeão,
chama o IML desta vez, acho que não entendeu ainda nada.
— E vai falhar novamente? – Russo.
— Acho que isto só vai reforçar a ideia de saída de Douglas,
um dia vocês, fizeram o mesmo com Pedro, se querem um segundo
problema, depois delegado, não reclama.
Santos ouvia aquilo quieto e olha o delegado se levantar e
olhar para Paulino.
— Não entendeu nada Paulinho.
— Nunca fui a estratégia. – Paulinho.
O delegado entra no carro e olha Santos.
— O que eles fazem ali?
— Esperando fora da área de confusão, o que mais?
O delegado passa um radio para o delegado Martinho e
ninguém atende.
Paulinho olha Joaozinho a porta e pergunta.
— O que aconteceu?
— Os irmãos foram para o Galeão.
Paulinho se levanta, o delegado ainda estava a porta quando
eles saem e entram em seus carros na viela lateral.

203
Douglas recebe a ligação da sua mãe, algo estava errado, ela
não lhe ligava, olha para a cama, abre a lateral, puxando uma gaveta
rente ao chão, abaixo do colchão e olha a veste de seu pai, ele vai
ao banheiro, toma um banho, com a lamina raspa o cabelo, um
banho de essências, põem a roupa branca, o cheiro estava forte de
mofo, sorri, vai a varanda para a baia, acende uma vela, senta-se e
fala.
— Sei que abandonei as cerimonias pai, sei que abandonei o
caminho, mas as crenças internas, estas não se perde, elas podem
não ver o mundo como ele é, sei que o senhor confiava em
disfunções de aura, mas eu sei hoje que se é medo, tenho de cuidar,
minha vida não posso com estes.
Ele toca o chão, ele sente aquela energia que há anos não
sentia, olha a vivencia de seu pai a sua frente e ouve.
“Porque enfrentar o inevitável filho, as vezes sinto a falta de
vocês, mas as determinações são ditadas acima de nós filho.”
— Quem nos abre o caminho pai?
“ Os anjos, embora eles não aparentem com os narrados,
soube que um acompanha a menina do David.”
— Aquilo é coisa dos anjos?
“Sabe que todos falavam que caminhos ditados não se
separam filho, mas toma cuidado.”
— Ela é uma criança.
“Ela não será uma criança sempre!”
— Mas acha que é chegada minha hora pai?
Ele sente as coisas em volta e fala.
“Não sei filho.”
Douglas olha para o lado do pai e fala.
204
— O que o acompanha pai?
“Ele está curioso referente a você, alguém que transmite a
duvida, mesmo quando interagindo.”
— Sabe que nunca falamos de anjos pai.
“Os Orixás são superiores aos anjos, mas teria de morrer para
entender filho.”
— Em que ponto os Anjos entram pai?
“São Egungun filho”
— Não divinizados?
“Sim, eu sou um Egun agora filho, eles são o caminho que não
nos narravam, os Egungun, mas eles em nada se aparentam com
aquela visão que nos passam.”
— Eles se apresentam como pai, já que se apresenta a mim
como se apresentava ao terreiro.
“Estou no caminho do divino, mas cães furiosos, são almas
sem paz, apegadas a carne, mas elas não tem como se manifestar se
não através de um símbolo de Liberdade”
— Uma Oliveira?
Douglas olha a imagem do pai olhar ao lado, ele não via o que
ali estava, e vê seu pai perguntar.
“De quem ele fala filho, uma protegida dos Egungun?”
— Micaela pai, ela absorve ou algo assim, as experiências que
ela teve parte na morte, pelo que entendi.
Douglas olha aquele ser de luz surgir ao lado de seu pai, um
humanoide canis com chifres e uma luz as costas que poderia ser
confundido com asas, que olha para Douglas e fala.
“Conhece a menina, ela não me ouve, é arriscado ela dispor
de tantas experiências.”
Douglas cobriu os ouvidos ouvindo aquilo e baixando a
cabeça, os vidros estouraram e fala.
— Não é atoa que ela não lhe ouve.
Douglas ouve seu pai falar.
“Ele tem receio das consequências!”
— Ainda é uma criança pai, sabe disto.
“Mais arriscado ainda filho.”
Douglas olha para a rua ao fundo, os rapazes do trafico
começam a se afastar, olha para a rua e olha para o pai e fala.
205
— Tem coisa que assumimos no susto.
Douglas pega duas armas e coloca as costas, sobre na laje e
coloca três metralhadoras, olha a região, quase manha, coloca os
controles de destrava, e desce a escada, sentiu aquela paz, olha
para o ser e fala.
— Ela acaba de chegar na região!
O ser olha para fora e os tanques de guerra a frente,
acordavam a região.
Douglas sai a porta e Bico com cara de sono olha para a
entrada e fala.
— De novo?
— Acho que não entendo destes.
— Se você que faz parte disto não entende, imagina nós.
Bico recuou, olhando Douglas vestido de Pai de Santo, ele
olha os rapazes pararem mais a frente e começarem a entrar na
viela, armados, a rua ao fundo, o delegado Martinho, uma leva de
Blindados que pararam ao fundo, e Douglas para a frente estreita
daquele caminho.
Douglas sente a paz e fala olhando o militar lhe apontar a
arma.
— Mãos a vista rapaz.
— Se vão me entregar a morte, para que por a mão a vista.
— Agora.
O sorriso de Douglas foi cortado pela imagem de sua mãe a
frente de um policial.
— Esqueci que vocês não tem mãe.
— Acha que pode fazer justiça com as mãos? – O delegado ao
fundo.
Douglas sorri e fala alto.
— Bico, os que saírem a direita você cuida, a menina já
fechou a rua, e os rapazes do exercito, Marquinhos já tem na mira
pelas metralhadoras, posso morrer, mas derruba todos.
O militar a frente achou que era brincadeira, mas viu a luz
forte vir sobre eles vindo da baia.
Os tiros na entrada davam sinal de uma entrada.
— Se não parar agora matamos sua mãe. – O delegado.

206
— Se a pegaram em casa, sei que se morrer ela morre, algo
que possa fazer covarde.
Micaela sobe sobre um carro ao fundo e olha para Douglas,
uns 300 metros, os policiais olham aquela menina brilhar sobre um
carro.
Bico olha para a menina, para a baia com as lanchas, e sorri.
— Cerca pelo norte Carlinhos.- Bico falando alto, para os
rapazes saberem que estavam cercados.
Douglas olha o policial a frente e fala.
— Quem largar a arma não morre hoje.
O delegado olhava assustado e segurava Mari com força.
O soldado apontava a arma para ele que estava a uns 30
metros do rapaz ainda.
— Não sedemos a criminosos.
— Sou policial federal, o que fez a parte dura em Belford
Roxo, quem acha que está prendendo militar?
— Um assassino que matou um delegado.
Douglas olha os seres translúcidos surgirem a rua e olha para
a menina ao longe.
— Se puderem poupar alguns, seria aceitável.
O militar estava de pé uma hora, no segundo seguinte, ao
chão desacordado, o delegado o mesmo, as pessoas caem a rua e
Douglas anda até sua mãe, ela olha ele e sorri, estava vestido como
um pai de santo, ela abraça o filho e fala baixo.
— Vou ter de lavar esta roupa.
Douglas sorriu, os tanques foram colocados na viela ao fundo,
na entrada de mar, os abandonando para dentro da baia, as armas
descarregadas, as viaturas na avenida em fogo.
— Volta para o apartamento mãe.
Olha ela pegar uma viatura na entrada, ligar e sair no sentido
do centro da cidade.
Douglas olha a menina lhe encarar e fala.
— Obrigado.
— Pelo jeito não tem medo de morrer mesmo.
— Cuida com este anjo com cara de cão, é um Egungun
apenas, ainda é um ser não divino, ele precisa crescer e aprender

207
para evoluir, mas cuidado, eles tendem a nos colocar em caminhos
contrários.
Micaela olha Douglas e sorri, ele via o ser estranho, isto era
algo que os aproximava.
— Mas não entenda errado as coisas.
— Nada muda ainda, ainda é uma criança, o que mudou?
— Muita coisa.
Douglas a olha aos olhos e fala.
— Verdade, antes não absorvia vivencias.
Micaela sai e Gabriel pergunta.
— De onde conheço este rapaz?
— O filho do Dalton, o que iria seguir as pegadas do pai, até a
morte do pai, ele parece que por anos fugiu disto.
— E aquele sorriso, o pai lhe mata.
— Ouviu ele, ele me chamou de criança.
Douglas olha para Bico e fala.
— Desarma, mas desta vez, põem todos naquele buraco do
Rick.
— Não os vai poupar?
— Eles nos matam, mas falta uma hora para amanhecer de
verdade, pegamos os veículos do exercito, as armas e guardamos,
eles que consigam sair por si do buraco.
— Não está falando em os matar?
— Ainda não sei, métodos do Alemão, enterra com a cabeça
de fora, mas consegue um ônibus e vamos levar eles enquanto
estão totalmente inertes.
— Como a menina faz isto, sabe que muitos querem o apoio
dela.
— Ela usa de forças que não saberia descrever enquanto
pode.
Eles conduziram as pessoas até Belford Roxo, colocaram eles
de pé num buraco, todos de pé, Douglas estava saindo do local
quando Bico pergunta.
— Onde guardou o armamento?
— Ainda pensando, estamos assumindo este ponto, não dá
para deixar vazio, eu não entendo nada disto para falar a verdade.
— E vai sair da policia mesmo?
208
— Ainda consigo defender minha volta, mas deixa apenas a
cabeça de fora dos rapazes, enche os buracos de terra, amordaça e
faz um piso de madeira sobre as cabeças, e a noite falamos sobre o
que faremos.
— Vão vir matando.
— Verdade, tira o pessoal de lá e traz para cá.
Bico dá as coordenadas e olha Douglas sair dali, com um dos
carros da policia.
Douglas olha o telefone e atende.
— Fala Paulinho?
— O delegado Russo está indo para sua casa no Galeão.
— Já chego lá, tem de cuidar das costas daquela criança
Paulinho, ela ainda lhe mete em encrenca.
Paulino sorriu e olha os rapazes ao fundo.
— Deixa eles entrarem e fecha a entrada até Douglas chegar.
— O que está acontecendo Paulinho?
— Não sei ainda.
Paulinho passa uma mensagem para a menina que confirma
estar chegando em casa, Paulinho pensa na encrenca que seria
estar acordado o dia inteiro na segurança, estava amanhecendo e
não pregara o olho, se via o cansaço dos demais, dispensa alguns e
olha a caminhonete do delegado entrando, a marca dos tanques
ainda estava as ruas de terra, o caminhão de outro dia agora na
lateral de entrada, os rapazes de Bico olhando desconfiados ao
fundo.
Delegado Russo olha para a casa e olha em volta, parecia algo
errado.
O delegado chega a porta de Douglas e bate palmas, ele sabia
que estava cercado, os rapazes tensos.
Os rapazes de Bico olham a caminhonete de Douglas
chegando e abrem caminho, Paulinho apenas fecha as entradas, os
trabalhadores já saiam para o trabalho.
— O que quer delegado? – Douglas as costas, alguns
apontaram as armas para ele, e o delegado olha descrente.
— Preciso de um investigador competente, parece que não
morre tão fácil.

209
— Para que precisa de um Investigador, se os demais não
querem que investigue Delegado.
— Sabe o que aconteceu aqui?
— Não, fui barrado na saída de Mesquita, quando saia do
Terreiro da dona Duca, estranho chegar aqui e vocês que estavam lá
já estarem em minha casa.
— Quem o deteve?
— Alemão me barrou, disse que precisava falar, mas o que faz
aqui delegado, com todos estes rapazes?
— Viemos verificar, mas saiba que ainda o considero da
instituição.
— Então melhor sair antes dos rapazes ao fundo acordarem o
traficante da região, eles acordam muito mau humorados.
O delegado olha em volta e pergunta.
— Não veio antes mesmo?
— O que quer perguntar delegado! – Douglas.
— Achou um álibi?
— Pareço que estava ali senhor? – Douglas apontando as
mãos para ele mesmo, o senhor mede Douglas, vestes de pai de
santo, cabelos raspados, alguns ao fundo nem reconheceram o
investigador naquela aparência.
— Precisamos conversar.
— Apareço daqui a pouco na delegacia, e conversamos.
— Não foge mesmo.
— Estava com a cabeça quente senhor, disparo no peito, de
arma de alto calibre, mesmo que os dois coletes tenham seguro,
ainda dói, tem de ver que estava precisando acalmar a alma.
O senhor faz sinal para os rapazes começarem a sair, Douglas
olha para Paulinho ao fundo que desobstrui a entrada, o senhor viu
para onde eles foram, os dois lados estavam procurando o rapaz.
Douglas nem olha para a laje da casa, as armas ainda
posicionadas para tiro, ele entra pela viela ao lado e quando o
delegado passa por ela, não via mais Douglas.
Douglas entra em casa, tira as vestes, vai a uma ducha, aquele
cheiro de mofo estava lhe perturbando o nariz e lhe tirando a
calma.

210
Micaela estava ao quarto, não conseguiria dormir, estava a
olhar as imagens de Douglas quando sua mãe entra no quarto.
— Quem é este velho?
— Alguém que a mais de 10 anos me chama de criança, mas
ele não parece ter envelhecido quase nada.
— 10 anos?
— O filho da Mãe Mari de Xangô.
Fabiola chega perto e pergunta vendo o uniforme da foto.
— Policia Federal?
— Se não for expulso, sim.
— Anda aprontando, não dormiu pelo jeito, espero que não
tenha feito besteira filha.
— Nem cheguei perto do que pensou mãe, mas realmente
deveria ter dormido mais.
— Tem de cuidar para não se apaixonar filha, ele é velho para
você.
Micaela olha a mãe, sorri, não estava pensando em algo serio,
mas as frases do rapaz referente ao ser fazia ela pesquisar sobre o
assunto na internet, no seu computador pessoal estava a frase na
tela de fundo.
“crê-se na sobrevivência da alma após a morte física, os
EGUNS, e na existência de espíritos ancestrais que, caso divinizados
os ORIXÁS, cultuados coletivamente, não materializam; caso não
sejam divinizados os EGUNGUN, materializam em vestes próprias
para estarem em contato com os seus descendentes vivos,
cantando, falando, dando conselhos e auxiliando espiritualmente a
sua comunidade.”
Micaela desce tomar um banho e seu pai a olha.
211
— Paulinho não conseguiu me dizer onde esteve a noite.
— Favela do Galeão.
— Fazendo o que filha, não gosto da minha princesa
arriscando-se assim.
Micaela serve um café forte e olha para o pai.
— Tentando ser eu pai, as vezes esqueço que no fundo, o
caminho cruza passado e futuro, e que devemos estar atentos para
não deixar o passado nos afetar, para não nos segurar no passado.
— Está falando de quem?
— Douglas Camargo.
— Não entendi?
— A policia federal local pediu a morte dele, apenas fui lá
tentar ajudar alguém a mais, que não deveria virar policial, voltar ao
caminho, mas tenho de separar passado de futuro, isto que estou
falando.
— Passado, você não o conheceu no passado.
— Pai, eu e a mãe íamos ao terreiro da mãe dele, as vezes a
mãe ainda vai, mas como ele sempre lembra, ainda sou uma criança
aos olhos dele.
A cara de desgosto do pai foi cortada por uma pergunta.
— Que cara é essa pai?
— Não a quero com um rapaz muito mais velho que você por
ai.
— Pai, eu não estou por ai com ele, mas ele foi a única pessoa
que definiu o que é o ser que vejo, então ele sabe a encrenca que
estou, e ontem depois de anos, vi ele com as vestes do Dalton,
como um pai de Egun, as vezes tentar entender nos aproxima gente
que está a muito longe pai.
— Não a quero perto dele filha, ele está jurado de morte.
— Sei, todos novamente vão olhar para o lado enquanto
tentam matar os Camargo de novo, espero pai, que um dia, todos
não façam isto com os David.
Roberto olha a filha, era uma acusação pesada, mas ele sabia
que não faria nada, e não sabia se poderia fazer, o comando
mandou não intervir, então ele não iria contra o comando
novamente.

212
Micaela toma o café, vendo que seu pai se calou, sinal que
realmente ele viraria as costas para o rapaz, sorriu e olhou para
Paulinho a entrada.
— Tem de dormir Paulinho. – A menina tirando sarro.
Ela pega a mochila e vai ao elevador.
Paulinho a deixa ao colégio e descansa o corpo ao carro,
tentando não se distrair, mas estava pregado.

213
Douglas para o carro ao estacionamento do apartamento,
entra vendo a porta arrombada, saca a arma, entra cuidando dos
cantos, olha para a cozinha e sente o cheiro de café, olha a mãe a
cozinha.
— Tudo bem mãe?
— Sim, tem de consertar a porta.
— Vou apenas pegar um uniforme e vou a guerra mãe.
Ela levanta e o abraça.
— Tem de se cuidar filho.
— Sei disto.
Douglas se veste, a diferença estava na cabeça totalmente
raspada, o que dava um rosto maior ao rapaz, ele para na delegacia
da Gamboa, entra, bate o ponto, olha a secretaria do delegado
Martinho e pergunta.
— Ele já acalmou e vai falar comigo?
A delegacia com um terço do pessoal, sem policiais, sem
investigadores, apenas secretários e pessoal da limpeza, fizeram a
moça primeiro procurar Douglas no rapaz, depois olhar em volta e
pegar o telefone.
— Juiz Plinio, o rapaz está a minha frente pedindo para falar
com o delegado Martinho.
O juiz já falara absurdos, ele sai pela porta ao fundo, olha
para Douglas, ele tinha a certeza da morte do rapaz até aquele
momento, algo estava errado.
— Ainda vivo?
— Cadê todo mundo, mandou para que operação suicida
desta vez Juiz?
— Acha que alguém ainda vai lhe ouvir?
214
— Não, hoje ou volta a ser um Juiz de Leis Plinio, ou termina o
dia ou aposentado ou preso, tem de ver o que prefere.
— Não tem provas?
— Não, eu não tenho.
O juiz olha a delegacia vazia e pergunta.
— Eles devem chegar em breve.
— Sim, a conta da porta lá de casa também vai chegar a sua
mesa, vou medir o pé na porta e ver quem dos que estava aqui que
a chutou.
—Acha que alguém acredita.
Douglas olha a secretaria e fala.
— Quando o comando da Policia Federal chegar, melhor
tratar melhor que a mim.
O juiz olha para Douglas.
— Mas não falaram nada que vinham para cá.
— Eles não avisam quem vão prender senhor.
A secretaria olha assustada vendo carros da policia entrar no
estacionamento ao fundo com as sirenes ligadas.
Os rapazes foram entrando e como o único ali era o Juiz o
Delegado Geral de Policia Federal, chega a Plinio e fala.
— Está detido para esclarecimento senhor Plinio.
— Não tem provas contra mim.
— Mortos em um apartamento, após sequestrarem um
senhor, tentando arrombar o cofre do apartamento, sua assinatura,
resolvemos o grampear após, e temos todas as suas ligações para
Brasília, para Porto Alegre, até para o Uruguai.
O juiz viu que era serio e viu o senhor olhar o investigador e
falar.
— Não saia da cidade, está sobre investigação, mas não
temos provas concretas para sua prisão.
— A disposição senhor.
Douglas senta-se a sua mesa, e olha em volta, muitos amigos
foram lá lhe matar, isto que estava o tirando a vontade de ficar.
Olha a entrada e vê o Delegado Russo entrar e olhar para ele,
o mesmo caminha e senta-se a sua frente.
— Temos de conversar investigador.
— Tentando não pular fora Delegado, tentando.
215
— São raros que tem o dom de reconstituição que você tem
Douglas, sei que posso ter feito vistas grossas, mas quer o que,
todos mortos por você?
— Não lhe culpei, eu sabia que teria atirador lá antes mesmo
de levar o tiro, e fui do mesmo jeito.
— Não teme morrer mesmo.
— A pergunta, de que adianta ficar, olha em volta, todos que
eu respeitava, provavelmente vão tentar me matar de novo.
— Eles são corporativistas, sabe disto.
— Desculpa, usar viseiras e seguir as cegas o que um
delegado fala, não é ser corporativista, pois eles podem ser o
próximo alvo.
— Não entendi todo o problema com o delegado Plinio.
— Eu estava numa investigação seria quando ele soltou que o
sequestro da menina era, pois tinham de pressionar o pai, e não se
preocupava com a morte da menina, acho que não precisava ter
falado que não compactuava com aquilo, mas ele não gostou.
— E porque se irritou?
— Conheço a menina desde os 6 anos, uma criança, que ia no
terreiro do pai a 10 anos.
— Levou para o pessoal?
— Senhor, o juiz preso hoje, ganha com todos os adendos
judiciais, vantagens, em quase três anos o que a menina de 14 anos
ganha legalmente, mas o que me irritou é por acreditar na lei
senhor, sempre digo que se é para me posicionar, eu me posiciono
primeiro pela sobrevivência, se puder ser dentro da lei, melhor, mas
acredito na lei.
— E vai sair?
— Não sei, olha em volta, onde foram todos?
— Oficialmente atrás de você ontem a noite a uma operação
em Belford Roxo.
— Então somente eu não dormi depois?
— Uma das possibilidades.
— Porque me quer ainda dentro da policia Delegado, sendo
sincero?
— Me alertaram que você fora, é um novo Pedro do Tabajara
surgindo, não sei se você é tanto, mas aqui você é bem útil.
216
— Não sou tanto assim Delegado.
— Alguns acham que você é mais, lembro do Pedro, ele tinha
a mesma calma que você, todos forçaram, ele perde a filha, e tudo
desanda na vida dele, hoje muitos o respeitam, mas precisaram ver
ele do outro lado para o respeitar.
Isto não motivava Douglas, ele não ficaria ali apenas para não
estar do outro lado.
Douglas sorriu, tinha uma possibilidade que ele não pensara,
o delegado olha para ele e pergunta.
— Pensou em algo?
— Besteira.
— Vai ficar?
— Acho que sim, duas semanas e saberei.
— Duas semanas?
Douglas sabia que o sumiço de delegados, fazia a direção ter
de considerar os nomes do ultimo concurso para Delegado, no qual
sabia estar bem posicionado, mas ainda não falaria nada.
— Não entendi a pergunta de Paulinho ontem a noite
Delegado, ele me perguntou quem havia assumido todos os pontos?
– Douglas invertendo a conversa.
— Também não sei.
— Acha que vão mandar quem para cá?
— Roseli. – Delegado Russo.
Douglas olha para fora e fala baixo.
— Devo ter atirado pedra na cruz.
O delegado sorri.

217
Pedro do Tabajara senta-se num bar da região, e olha aquele
senhor calvo sentar-se.
— Perdido Alemão?
— Tentando entender a bagunça.
Pedro olha em volta e fala.
— O que aconteceu? – Pedro estranhando o senhor ali.
— Me ligaram perguntando porque estava protegendo o filho
do Dalton, e não gosto de ser posto em algo sem saber porque
estão me colocando nisto.
— Sabia que aconteceria, qual a novidade Alemão?
— Eu precisava sair, mas não queria uma guerra pelos pontos,
acha mesmo que o Fernandinho tentou me trair?
— Acho, quer dizer, tenho certeza que você sabe mais o que
aconteceu que qualquer outro Alemão. – Pedro encara o senhor e
olha o proprietário do bar e pede uma cerveja.
O senhor a frente de Pedro olha serio e fala.
— Não entendi o que liga a filha do Roberto com o filho do
Dalton, os dois estão agitando toda a estrutura, e não gosto de
agito.
Pedro serve seu copo com calma, toma um gole e fala.
— Conta outro Moreira, você saiu de 500 pontos do dia para
a noite, você queria confusão, está irritado com o que exatamente?
Poucos dos contraventores de morro, de ponto, ligavam a
figura de um empresário paranaense, Joaquim Moreira, a Alemão,
mas Pedro como alguém que tinha negócios com Junior, um filho de
criação de Moreira a sua frente, sabia muito mais que os demais,
talvez por isto o senhor procurando informação, viesse a ele direto.
— Pensei que o comando tocaria tranquilo, não entendi.
218
— Eles se matam, a muito, era para ser uma passagem de
pontos tranquila, mas alguém queria meter os bicheiros nisto, e fez
pressão para o sequestro e tirada dos David os pontos em Nilópolis,
a historia ia como qualquer historia, todos davam como morto
Roberto, não entendi o que eles queriam no apartamento, mas
alguns acreditavam que lá tinha mais de 100 milhões de dólares, em
dinheiro.
— Trocado para os David.
— Para mim 100 milhões de dólares não é trocado, imagino
para aquele Juiz Plinio, que deve dinheiro a Fernandinho, o motivo.
Moreira pede um copo, serve e olha em volta.
— Mas porque Fernandinho caiu, isso vai dar problema.
— Pensando na péssima hora que resolveu sair?
— Eles não pagando pelos pontos, acham que não existiu
custo e não o fazem lucrativos.
— Eles não o querem lucrativos, eles querem a confusão, mas
ainda não sei o que faz aqui. – Pedro.
— Entender, pois não entendi como duas peças, desconectas,
param Fernandinho, avançam em sentidos desconectos, e juntam
força para enfrentar.
— Viu a menina atirando? – Pedro.
— Vi, a muito não vejo alguém jovem com aquele nível de
acerto.
— Ela entrou nisto, quando tentaram calar a família, mas
quando tentaram pegar a menina, ela acabou achando o pai,
sequestrada sai sozinha do cativeiro, e sim Moreira, ela é humana,
ela só tem 14 anos.
Alemão (Moreira) toma um gole e fala.
— E onde entra o filho do David.
— A imagem dela atirando, ele e o auxiliar em campana que
tiraram.
— Certo, mas então não estão em um caminho único?
— Acho, que cada um seque seu caminho, esta menina, é o
exemplo que muitos querem seguir, inteligente, independente,
autossuficiente aos 14 anos.
— Mas porque dizem que eu protegi o rapaz?

219
—Porque ninguém sabe quem o protegeu, e o único que
disse ao caixão de Dalton que os protegeria, foi Alemão, você!
— Pensei que ninguém lembrava disto.
— As crianças cresceram, mas eles não esquecem fácil.
Moreira olha desconfiado.
— Mas quem dá proteção as costas do Menino.
— Terei de olhar mais atento, eu estava na propaganda de
que você o estava protegendo.
Alemão acerta a cerveja e sai pela porta do boteco, Pedro
olha para o senhor chegar a rua e um carro parar ao lado, ele entra
e some no sentido da Beira Mar (Avenida Atlântica).
Pedro pega o celular e liga para Paulino.
— Problemas Pedro? – Paulinho chegando em casa.
— Uma duvida, quem está dando proteção ao seu afilhado?
— Porque da duvida?
— Alemão acaba de me perguntar isto.
Paulinho olha em volta e pergunta.
— Não é armação dele?
— Olha atento Paulinho, algo está acontecendo, lembra do
Delegado ontem, o que ele queria saber?
— Quem retomou os pontos.
— Ontem achei que era Alemão.
— Verifico, mas quem tem estrutura para algo grande assim?
— Não sei.
Paulinho chega em casa, estava precisando dormir um pouco,
mas agora não conseguiria mais, pega o telefone e liga para Rodrigo
em Nilópolis.
— Pode falar Rodrigo?
— Fala Paulinho.
— Me verifica quem assumiu os pontos que foram
detonados, e me passa.
— Problemas?
— Tentando entender.
Rodrigo olha em volta, olha que havia gente de Paulinho
olhando para ele, sobre duas quadras a pé, olha para a quadra em
uma esquina e olha para Niquinho no ponto, mas reparou que
Paulinho poderia ter perguntado aos rapazes dele.
220
Ele sorri e liga para dois primos e pergunta o que Paulinho
perguntou, olha para os rapazes sempre o observando, retorna a
Paulino e informa a situação.
Paulinho estava cansado, ele desconfiara do grupo do
Rodrigo, mas Rodrigo passa a mensagem para ele, e as fotos de
todos os pontos e lá estava bem visível em todas as entradas.

Paulinho olha para aquilo e pensa, talvez estivesse cansado


para ligar as coisas, e liga para Pedro.
— Descobriu algo Paulinho?
— Quem é este Comando Azul Pedro?
Pedro havia visto o CA, mas não tinha ligado ao começo de
tudo, a morte do Serginho, e fala.
— Acha que é isto?
— Não sei, Niquinho, Manco, Domingues, Silvinha,
Porquinho, Silva, olhando pensamos em gente ligada aos David, mas
se pensar, eram a estrutura de Serginho.
— Vou verificar por aqui, seria uma mudança grande.
— Estranho a paz Pedro, Alemão esta agitado porque ele
tinha acertado com o Comando Vermelho, acho que ele está
querendo saber de quem vai cobrar.
— Eles não pegaram o que ele tocava.
— Sei disto, mas sabe o problema se ele voltar para cobrar.
— Sei, vou verificar! - Ficar de fora da confusão não era a
parte que Pedro sabia fazer.
Enquanto Pedro pega o carro e dirige para o centro, no
sentido da Gamboa, Rodrigo olha em volta e passa uma mensagem
para uma lista de nomes.
Paulinho estava cansado quando recebe o recado da Menina,
que ela precisava de segurança para ir a Gamboa.
221
Paulinho toma um café forte, aciona os que dispensara na
noite anterior, pega o veiculo, passa um recado para Roberto que
olha a filha.
— O que minha filha está pensando que pode fazer, estão
todos tensos por não saber quem está nos pontos filha.
— Posso lhe passar 500 nomes, garanto que o senhor deve
conhecer se não todos, quase todos, mas apenas preciso verificar
uma coisa pai, apenas isto.
— Não gosto disto.
— Pai, como o senhor fala, não esquece que tudo nesta sala é
grampeado, eles tem de saber que não é o senhor que está por trás
disto, não quero receber uma bala que não é para mim.
— E quem está por trás disto?
— Os Azuis pai, os Azuis.
— Mas quem são eles?
— Isto com calma descobrimos, mas eles tem de saber, que
nosso azul, é escola, o deles, sangue.
— Se cuida filha.
— Sei que estou abusando pai, mas já voltamos ao normal, ao
eterno marasmo.
Roberto se levanta e fala.
— Vai com calma, Paulinho não dormiu a noite.
Micaela olha o pai e fala.
— Vou tentar lembrar disto.
Paulinho estava chegando ao prédio e a menina já saia a
portaria.
Micaela fala serio e fala.
— Vamos a delegacia da Federal na Gamboa.
— O que faremos lá.
— Apenas uma coisa Paulinho, sei que está cansado, então se
algo anormal acontecer, não puxa a arma, apenas tenta se manter
calmo.
— Eu sou a segurança.
— Uma dica. – A menina sorri, ele olha o sorriso pelo espelho
dela colocando o cinto no banco de trás.
Paulino olha para Micaela pegar o celular e discar para
Rodrigo.
222
— Rodrigo, teria como falar com você na Cidade do Samba.
— Problemas?
— Estou indo a cede de Gamboa da Federal, na saída vou
para a Cidade do Samba, se puder estar lá, preciso conversar com
alguém que não pense como eu.
— Vou, se cuida.
Micaela sorri, Paulino olha o sorriso e pergunta.
— O que aconteceu?
— Rodrigo acha que o grampearam.
— Ele falou isto?
— Não, ele mandou eu me cuidar.
Paulinho não entendeu, e atende o celular.
— Vai levar uma multa assim Paulinho.
Micaela estava provocando, mas os rapazes confirmam que
Rodrigo não falou com ninguém, que Pedro estava chegando a
delegacia para falar com Douglas.

223
Douglas estava sentado quando viu o rapaz da Delegacia
Central chegar e olhar para ele, depois para a delegada Roseli, ela
olha o senhor e fala.
— Mas não seria minha vaga esta promoção?
— Vais a cede da região Sul, temos dois delegados que se não
tivessem sumido, teríamos processos, mas eles puxaram o primeiro
nome da lista dos concursados, e lhe indicaram para a calma, e ele
para os portos.
O senhor chega a Douglas e fala.
— Investigador Douglas Camargo se não me engano?
— Sim.
— Estamos o convocando para assumir o posto que
concorreu a dois meses, para Delegado Federal, da sede de
Gamboa, não sei se teria algo contra esta indicação?
— Nada, mas não é precipitado, os delegados tendem a voltar
senhor.
— Vamos o colocar como Delegado Substituto, e enviar Roseli
para a sede Copacabana, ambos estão em cargos superiores aos
atuais, e se em dois meses não tivermos o retorno, assumem como
integrais, apenas não podemos ter postos desprovidos.
— E todo pessoal senhor?
— Estamos analisando os dados, não sabemos ainda em que
missão sem autorização eles se envolveram, pois em Belford Roxo,
temos a confirmação da morte de Ramalho, ataque cardíaco, todos
falando que você atirou nele, e o senhor entra no IML sem um único
tiro e ataque cardíaco.
— Mas ele era de Copacabana, e Martinho? – Roseli.

224
— Este que não temos muitos dados, pois ele foi visto em um
confronto com o traficante de uma favela da Ilha do Governador,
não sabemos ainda, mas o comando do exercito, disse que ele pediu
auxílio para uma operação, eles estão tentando achar os rapazes do
exercito também, mas o comando Leste não autorizou a operação,
não sabemos ainda quem eles queriam surpreender, mas – o senhor
olha para Douglas – tem de entender que se as investigações
apontarem para você, é apenas o primeiro da lista.
— O que fiz senhor, quem sou eu, para ter estrutura de
enfrenar o que falou, um contingente da federal e um do exercito,
tô me achando senhor! – Douglas fez para provocar, Roseli sempre
o chamou de muito mole para aquele cargo de investigador,
imagina para Delegado.
— Pela primeira vez terei de concordar com o Camargo
senhor, ele é mole para investigador, sei que eu não o colocaria
neste posto, mas seleção leva algumas coisas que não são valentia
em conta, mas isto ai enfrentar policiais e exercito, não é exagero, é
impossibilidade.
O senhor também se deixava levar pelo visual do rapaz e fala.
— Deixar claro que este cabeço raspado é melhor que aquele
cabelo jogado que usava, mais apropriado a um delegado rapaz.
Douglas sorriu, ele olha a secretaria que era de Martinho e
fala.
— Agora teremos de acertar as diferenças.
A moça entendeu que bem quem tratara mal era quem
assumira aquela delegacia.
Ele olha o senhor e pergunta.
— Quantos afastados estão em condição de desvio das leis e
devolvermos aos cargos senhor.
O senhor da central da Policia olha para ele e pergunta.
— Acha que temos urgência?
— Sim, fiscalização diária, aos portos e cais, não é coisa que
se para senhor.
— Vou passar a urgência e melhor se inteirar do problema.
O senhor olha Roseli e fala.
— Se apresenta amanha em Copacabana.
O senhor sai e Roseli olha Douglas.
225
— Vou ficar de olho, não sei que manobra fez para pular de
investigador a Delegado, mas muita coincidência.
— Está reclamando, devolve o cargo Roseli.
— Acha que vou dever algo a você, não entende de nada.
— Sei que não entende, mas vamos entrar e conversamos.
A senhora olha a secretaria e fala.
— Não quer ela ouvindo?
— Ela é a secretaria, não a investigadora, mas teremos
problemas de falta de gente capaz de investigação e vamos precisar
treinar gente rápido.
— Quantos acha que sumiram nesta dita ação sua?
— Da sua delegacia, delegado, 3 atiradores, dois
investigadores, e segura os que não morreram delegada, não quero
uma guerra entre duas delegacias.
— Eles vão jogar acusações sobre você, é o que quer dizer?
— Sim, é o que estou falando, vou tentar entender o
problema, daqui a pouco, mas a pergunta Delegada, está a mando
de quem do trafico?
— Eu n...
— Não acredito que subiu se ninguém lhe indicou.
— Os ligados a mim, estão todos perdidos, tinha gente ligada
a Fernandinho a e Alemão, mas vai jogar limpo?
— Delegada, o que vamos determinar hoje daqui a pouco, é
quem vai me dar apoio aqui, se quer apoio lá, fica por ai e apenas
deixa a conversa rolar.
— Quem vai vir ai?
— Tabajara, Paulinho, uma carta nova, não entendi ainda esta
menina dos David, mas vem o herdeiro do Serginho.
— Não entendi.
— Quem pretende por seu nome como substituto de
Serginho, uma morte imbecil na ação contra os David.
— Mas não entendi.
— Isto que quero saber, porque da calma nos 500 pontos,
500 pontos mudaram de mão, e me explique à calma.
A delegada olha seria pela primeira vez.
— Não entendi, você realmente está aqui depois de mortes?

226
— Roseli, se Martinho estivesse aqui, eu estaria morto, é só
olhar a porta de casa, arrobada ontem a noite.
A secretaria entra pela porta e fala.
— Pedro do Tabajara quer lhe falar.
— Manda entrar. – Douglas.
Pedro entra e olha Douglas.
— Pelo jeito as coisas mudaram de mão realmente.
Douglas olha a porta e ouve a secretaria.
— Estamos cercados.
— Calma, apenas gente querendo ter certeza de que é seguro
chegar. – Douglas.
Pedro olha Douglas e pergunta.
— Vamos continuar tendo paz no cais?
— Não vejo motivos para tirar a paz dos cais.
— Bom saber, quem deve aparecer?
— Não sei ainda, mas como falava com a Delegada Regina,
não precisamos ter problemas Pedro.
Moreira entra pela porta, a cara de susto da secretaria.
Ele entra, dois seguranças na entrada e chega a sala, a forma
que Douglas olhou para ele não foi de medo.
— O sumido. – Douglas.
— Me desafiando menino?
— Não, meu pai deve estar se revirando no tumulo, de que
adianta falar algo Moreira, se esquece das promessas.
— Você já cresceu.
— O que quer aqui então?
— Saber quem vai me pagar para manter a paz.
— Bom saber que o trocado tá fazendo falta. - Douglas.
A delegada Regina olhava assustada, vendo que Douglas não
baixou a cabeça.
— Vim saber quem que está agitando a cidade.
— Gamboa está calma, área da ADA.
— Tem de entender menino, ninguém queria você vivo,
porque me meteria.
— Todos que tentaram estão sumidos Moreira, eles não
entenderam que alguém me usou como vitrine, vocês olharam para

227
mim, se estou assumindo a Delegacia da Gamboa, é porque vocês
me colocaram aqui.
— Não tive haver com sua indicação, deixar claro.
Douglas sorri, ele não falara neste sentido, ele não olha para
fora, estava olhando para Moreira (Alemão), sente aquela paz,
todos olham a segurança de Paulinho abrir caminho, e Micaela
entrar na peça, ela entra e logo atrás entra, Ninquinho entra com
dois rapazes, talvez na confusão de duas seguranças, os dois lados
pensaram ser parte do outro.
Douglas que olhava para Moreira pergunta direto.
— A única pergunta que eles não sabem a resposta Moreira,
por quanto Fernandinho se propôs a pagar os pontos?
Moreira olha novamente para Douglas.
— E quem vai tratar isto? – Moreira olhando a menina, uma
criança em meio aos demais – ela é uma criança.
Douglas viu a cara de revoltada dela, não estava ali para
negociar ou discutir, e apenas fala.
— Ninguém vai tratar disto Moreira, eles querem saber o
preço, se puderem pagar, pagam, ou acha mesmo que alguém que
desviou você, eu, os David, os delegados e Fernandinho com todo o
Comando Vermelho, tem medo que briga?
— Meio milhão por ponto? – Moreira.
Douglas olha incrédulo, trocado para alguns, olhou a menina
que fala.
— Queria guerra, porque Moreira? – Micaela olhando o
senhor.
— Seu pai atrapalha em muito.
Micaela olha descrente, aquele senhor frequentava sua casa,
seu pai sempre o tratou com respeito, e o mesmo estava abrindo
caminho para marginais, entendeu, os 200 milhões no cofre,
compraria quase todos os pontos que o senhor estava vendendo.
— A minha duvida senhor Moreira, JJ, ou Alemão, nunca
entendi isto, mas o abrir as portas para o sequestro de meu pai e
arrombar de seu cofre, foi para que, garantir o recebimento do
trocado, pois ouvi muitas vezes você falar para meu pai que menos
de 2 bilhões, não girava a roda diária de seus investimentos, então

228
não me parece ser pelo valor, a segunda opção, não nos queria
comprando os pontos?
Micaela encara o senhor, Douglas soube de onde veio o
problema, precisavam de dinheiro vivo, e achavam saber onde
tinha.
— As vezes alguns caem menina.
— As vezes um velho, com filhas novas, deveria respeitar os
demais senhor, pois é a vida delas que está pondo em risco, e se
não vê isto, está mais para o que lhe chamam ao sul, Louco.
Moreira viu que a menina não poupou as palavras e fala.
— Não toca nela que lhe mato.
— Esqueceu, já me jogou num buraco para morte, para mim
meu pai pode até vir a conversar com o senhor, mas em minha casa,
não entra mais, e saiba, é atirando em sua fama, que você cai
Moreira.
Douglas viu que estava tenso e olha para Moreira e para
Paulinho e olha Niquinho.
— Vou deixar claro uma coisa, Joaquim, Paulo, Nicolas, Pedro,
se eu souber de policial morto, vou apurar e jogar as provas, se não
querem alguém em algum ponto, está atrapalhando, conversem,
pois vamos manter os sistemas, mas mortes inúteis que geram
guerra, é inadmissível. – Douglas olha para Moreira e fala – e me
deve a vida de Serginho, pode falar o que quiser, mas sei que você é
o responsável por ele morrer, e se alguém perguntar, quem é o
responsável pelo erguer do Comando Azul, apenas vou dizer que foi
o virar das costas do Comando Vermelho, do ADA e os seu a quem
lhes considerava família, sei hoje que o que falou ao tumulo de meu
pai, foi demagogia, então se perguntar por ai quem me cobre as
costas, que ouça, não sei, pois a você não confio mais nada Moreira.
— Acha que pode me ameaçar?
— Pode ser bom em tiro Moreira, mas está ficando velho, e
se não entendeu o que Micaela falou, sobre seus filhos, ela não
disse vou os matar, mas ela pode deixar palavras ao ar, e os Dragões
Apareceriam na surdina, e sabe, eles matam crianças como as suas
como se fosse desinfecção.
Moreira olha para Micaela, duas vertentes que vieram da
linhagem Judaica, ele entendeu, e fala.
229
— E quem vai pagar pelos pontos? – Moreira.
— Quem os tomou, pode ser que se você mostrar força,
topem pagar um terço disto que falou. – Micaela olhando serio
Moreira.
— Mas os pontos valem mais.
— Então cobre de quem comprou, não pagou, e já perdeu o
ponto, e veja quanto eles vão lhe pagar.
Micaela não tinha dado espaço para Niquinho falar, pois sabia
que aquele preço ele teria como pagar, mas não queria eles
pendurados nos juros dos Bicheiros e sua índole agiota.
— Se topar isto, quem pagaria? – Moreira estava cedendo
rápido, e Paulinho estava cansado e tentando entender tudo,
parecia firme, mas estava tentando ficar firme.
O olhar para Paulinho de Micaela, fez Rodney ao fundo o
levar para fora e Ninquinho olha a segurança mudar, e Pedro olhar a
menina.
— O que pretende menina.
— Pedro, separar 84 milhões de dólares, não é tão rápido
como parece falando assim.
Moreira olha para a menina e fala.
— E quem vai pagar?
— Comando Azul, quem mais?
— E quem vai tocar este comando? – Moreira.
— O neto do Serginho, quem mais.
Moreira parece procurar na memoria e não acha um neto e
fala desconfiado.
— Mas ele não tem Neto.
— Pode ter certeza, ele tem netos, ou acha senhor Moreira,
que sou Oliveira de que origem?
Pedro sorriu, isto abria um leque imenso de gente.
— Vai tocar?
— Não, um primo o vai, alguém que atira melhor que eu.
Moreira olha para fora, a menina foi a única que não se
assustou com uma leva de tiros, vindos de fora.
Douglas olha para Moreira e fala.
— Está preso Moreira se alguém morrer lá fora, não sai.

230
Ele puxa a arma, tendendo a apontar para Douglas que bate
na arma lateralmente, empurra ele para trás, vendo a arma voar.
— Não vou ficar detido por um pirralho de bosta. – Moreira.
— Vai ficar para averiguação sim, e avisa os seus que quem
não baixar a arma, morre. – Douglas olhando a menina, que toca o
peito e fala baixo.
— Apenas atordoa.
Moreira não entendeu, mas viu um pequeno brilho sair da
menina, como se a aura dela ficasse visível a todos, ela viu os seres
saírem e indo a entrada, ela sai atrás, chega a entrada e olha para
Rodney segurando alguém, ela chega a ele e olha o tiro no ombro
de Paulinho e toca ele, sente a energia e Rodney olha a bala saindo,
Paulinho sente a dor, mas isto o fez acordar, adrenalina na veia.
Paulinho encosta a parede sentindo a pele puxar e cicatrizar e
ouve Micaela falar para Rodney.
— Desarma os caídos, vou verificar os feridos.
Poucos feridos e sai pela porta da delegacia, tinham
implodido o elevado para as obras da Olimpíada do ano seguinte,
então estava um imenso canteiro de obras a frente.
Micaela olha para Junior do outro da rua e fala baixo, mas o
rapaz ouviu.
— Temos de conversar Junior, ou quer guerra de verdade as
ruas, seu pai adotivo tá querendo por fogo nos morros e baixadas.
Junior do outro lado da rua, olha a menina, estava muito
longe para ter ouvido claramente, entende que algo estava
acontecendo, ele faz sinal para os demais abaixarem as armas e
para a frente da menina.
— Não quero meu pai preso.
— Então segurasse ele, eu não quero morrer para ele não dar
um passo atrás, ou traz ele a lucides, ou vai o ver preso, e se um
policial estiver ferido, vai responder por isto Junior, os outros tem
direito a vida, não só vocês.
Junior olha os rapazes inconscientes a entrada e fala.
— E quem os treina, para imobilizarem sem os matar?
— Não me quer ver atirando Junior.

231
Junior lembra das imagens de Alemão o mostrou e pensa no
que estava acontecendo, ele entra ao lado da menina e olha para
Alemão.
— O que está acontecendo pai?
— Eles querem me prender.
— Ouvi negociar pai, o que pretende, não disse que iria sair?
— Não quero os David nisto.
— Eles não estão nisto, sabe disto. – Micaela.
— Mas você está.
— Não entendeu nada senhor, de que adianta controlar as
câmeras, as conversas e não entender o que está acontecendo,
Douglas tem razão, deve a cidade Serginho, e não vou entrar em
guerra com o Junior, Pedro, Sena, Negão, para você se negar a
recuar Joaquim.
Micaela tinha aquele jeito serio de encarar, firme, todos
viram que ela estava querendo parar as mortes, mas ele queria
saber quem estava no comando.
— Mas e meu dinheiro?
— Acha mesmo que vamos trazer a uma delegacia da Federal
dinheiro de contravenção senhor? – A menina.
Moreira olha pela porta para fora e olha para Junior.
— Como os desarmaram?
— Não entendi pai, mas é hora de aprender a recuar.
— Não gosto deste acordo.
Moreira segura Micaela com a direita e saca a outra pistola,
os demais olham assustados, a menina sorri e toca no senhor, ele
cai aturdido enquanto ela olha para Junior.
— Tira ele daqui, antes que perca a paciência.
— O que fez?
— Ele vai acordar aturdido apenas.
A delegada olha para a menina e a mesma olha para Douglas
e fala.
— Melhor deixar eles irem, não quer promotoria no seu
primeiro dia, ou quer?
Douglas entendeu, o poder politico do senhor a frente era
maior que muita coisa, ele olha o senhor grogue sem entender e
fala.
232
— Considere um sinal de paz, mas se quiser guerra, pode ter
certeza, sou um Camargo, não fujo.
— Ele vai demorar uma meia hora para saber o que esta
acontecendo, não perde tempo. – Micaela olha a senhora Roseli –
Depois passa ao mensageiro os valores e propostas e vamos
acalmar as coisas.
Junior olha os rapazes ajudarem a levar Joaquim (Alemão)
para fora, e ouve.
— Mando o pagamento para seu escritório, depois repassa
para o teimoso.
— Vai pagar pelos pontos?
— Não, eu não tenho este dinheiro ainda Junior.
O rapaz saiu e Douglas a ouve.
— Se cuida!
A menina sai e a delegada olha em volta, Pedro sai, Paulinho
e Niquinho não estavam mais ali.
Ela senta-se e pergunta.
— Vai ser sempre assim?
— Não, aqui vamos ter coisas com Pedro do Tabajara, você
vai a parte mais calma.
— E quem é este Douglas que vi hoje, que põem Pedro,
Niquinho, e Moreira a parede.
Douglas não responde, olha a secretaria olhar de fora e falar.
— Tem repórteres chegando.
— Marca no auditório, se querem informação que a tenham.
A delegada olha para ele e pergunta.
— O que vai falar.
— Que estamos em conjunto em ação nos morros, pois um
marginal, resolveu sair e isto gerou uma leva de guerras, que
perdemos gente nesta guerra, que aceitamos ajuda por denuncia de
quem tiver qualquer informação a mais, que 300 pontos estão
desmobilizados.
A delegada olha para o rapaz e pergunta.
— E quem vai assumir esta confusão?
— Ainda não sei o apelido que o rapaz vai assumir, mas
desconfio quem seja, mas com um nome normal, difícil de achar ele

233
em meio a mais de 200 pessoas somente no estado com o mesmo
nome.
— E conhece a menina dos David de onde?
— Esta tenho de manter longe.
— Não entendi aquele brilho.
— Nem eu, mas tem coisa que não preciso entender, pois a
lei não caberia naquilo.
A senhora viu o rapaz fazer um texto e ir ao auditório.

234
Micaela chega a cidade do Samba e viu os rapazes
posicionados, algumas agremiações concorrentes ao longe estavam
tensas.
Ela olha para Paulinho ao carro com o braço enfaixado e
pergunta.
— Está bem?
— Sim, não entendi nada.
— As vezes tem de dizer não Paulinho, já falava Antônio
Cicero, “pensar é dizer não!”.
— Conheço? – Paulinho.
Micaela ri e sai do carro, olha a entrada do barracão da escola
na Cidade do Samba, estavam na fase de desmanche e separação do
que dava para reutilizar em outros anos.
Ela entra e olha os rapazes ao fundo e os olhos de Mari e
Rodrigo veem a ela.
— Você, sabia que tinha de ter mulher envolvida. – Mari.
Micaela sorri e olha para Rodrigo.
— Um dia tem de explicar para sua namorada que além de
não lhe olhar, que somos primos Rodrigo.
— Ela sabe disto.
— E podemos conversar? – Micaela.
— Onde?
Subiram para o quarto andar, era a área de costuras, mas
nessa época do ano, antes do enredo do ano seguinte acertado, não
tem como costurar nada.
Rodney chega a porta e pergunta.
— Acha seguro?

235
— Leva ele ao hospital, eles vão ver se ele está bem, mas
acho que é cansaço, aqui acho que não tem mais risco.
A segurança da menina sai e Rodrigo pergunta.
— Temos paz?
— Vamos pagar um terço do valor, entregue na Marítima,
direto para o Junior.
— Um terço de quanto? – Rodrigo.
— Vamos pagar 84, eles pediram 250, vamos os acalmar com
84.
— Sabe que não tenho para isto. – Rodrigo.
— Estou lhe passando 100, vou cobrar 12 por 10 anos, mais a
inflação, acredito que a margem é bem maior que isso, mas sei que
sem os 16 a mais, talvez não tenha para comprar e manter o
pessoal.
— Seu pai sabe disto?
— Ainda não, Paulinho e Rodney não sabem, então é entre eu
e você Rodrigo.
— Vai nos dar proteção?
— Tenho de acertar isto ainda, mas como estão os pontos
primo?
— Estranhando a calma.
— Eles não sabem em quem bater para ter acordo, então
meu pai não está no acordo, você disse que aguentava, não sei se
tem espirito para isto.
— Dizem que minha calma os enerva.
— Tem de praticar tiro primo.
— As imagens que vi de uma tal David por ai, põem pessoas
como Alemão tremendo.
— Ele deve estar recobrando a consciência neste momento,
ainda não temos paz, mas se é para perder 84 e não termos paz,
que sobre o resto para a guerra.
— Como vou pagar os 250? – Rodrigo se tocando que 84 era
parte.
— Não vai.
— Mas Alemão vai cair matando.
— Rodrigo, olha em volta, o que está errado?
— Ninguém atacando.
236
— Ninguém sabe quem é este Rô, que alguns falam, e não
precisam saber, Moreira tende a acalmar, se não, ele não precisa
saber que menti hoje.
— Está arriscando.
— Sim, Paulinho levou um tiro, esta coisa de ação de noite e
dar proteção a tarde, tenho de evitar, ele estava cansado, teria de o
ter deixado de fora, mas ele não pergunta, ele vai.
Rodrigo olha para Mari e fala.
— Sei que não entendeu, mas nada foi como pensamos, e
não é hora de recuar.
— Você quer 250 emprestado, eu consigo. – Mari.
Rodrigo gargalhou e falou.
— Se precisar lhe peço.
Micaela sorri e os rapazes olham ela entrar em uma
caminhonete a entrada e sair dirigindo, algo totalmente ilegal num
pais que precisa ter 18 anos para dirigir um carro, pior, você corre
mais risco de ser preso, pois tem muito mais fiscal de transito do
que policia a rua.

237
Quando Paulinho chega a segurança depois do hospital na
casa do senhor Roberto, o mesmo olha para ele e fala.
— Algo para sua defesa, colocou minha filha em perigo hoje
Paulinho.
Paulinho nem estava bem para se defender, sonolento,
quando o senhor olha para Rodney e fala.
—Põem ele para fora, deixa claro, Paulinho deixa de ser da
segurança.
Rodney não gostou daquilo, mas tinha consideração ao
senhor Roberto.
Ele olha Paulinho levantar e falar.
— Se assim que ouve as pessoas, da próxima vez não o
tiramos do cativeiro senhor e me desculpo com seu pai. – Paulinho.
Paulinho estava saindo e viu a menina entrar.
— E você vai para o quarto, Paulinho não faz parte mais da
sua segurança, e você está de castigo. – Roberto.
Paulinho olha a menina que fala.
— Calma, descansa, ele está de cabeça cheia e nem sabe da
historia metade.
— E que metade ele não sabe?
— Que eu peguei um dinheiro emprestado sem permissão, e
investi em 500 pontos de droga na cidade. – Fala Micaela
calmamente – Mas dorme, como disse, tem de aprender a dizer não
Paulinho.
Roberto ouve aquilo e grita.
— Você o que?
— Lhe roubei, mandei matar Fernandinho, desacordei
Moreira que incentivou a invasão aqui para roubarem o dinheiro do
238
cofre, e com este roubo, estou pagando para Junior da Marítima, os
pontos que Fernandinho não tinha como pagar, e resolveu usar da
PF para lhe roubar.
— Não pode fazer isso filha, não sabe o risco disto?
— Pai, eu sei que não posso, é ilegal, mas se pode afastar
quem me apoiou sem perguntar por que, e lhe tiramos do cativeiro,
posso não lhe ouvir.
Roberto chega perto e olha a menina brilhar e pergunta.
— Vai se defender de mim.
— Espero não ser preciso – Ela olha para Paulinho e fala –
Amanha começamos a montar nosso grupo de segurança, se ele não
sabe o valor de alguém como você Paulinho, eu sei.
Micaela sobe, Paulinho desce, ele sai sorrindo, a menina que
tinha assumido os pontos, ele pensando em uma coisa, e foi outra,
ele pega um taxi e vai para casa, cama finalmente.

239
Fabiola bate a porta do quarto da filha, ela abre, as costas
estava seu pai que pergunta.
— Vou ter de contar o dinheiro, pois ele ainda está lá, não
entendi o que fez. – Roberto.
— Investi no meu futuro, Moreira nos quer mortos, ainda não
sei se ele mudou de ideia, mas enquanto ele estiver do lado de lá
pai, temos os políticos, o exercito, parte do trafico do outro lado,
acha pouco para ficar quieta esperando outro sequestro?
Fabiola olha a filha e pergunta.
— O que fez, minha irmã falou que Rodrigo saiu de casa, não
quero se envolvendo com um primo.
— Ele tem namorada, por sinal uma mulata linda mãe.
— Mas...
— Mãe, ele resolveu começar a vida dele, não tenho haver
com isto.
— E aquele policial? – Fabiola.
— Ainda não sei, ele não me olha.
— E alguém não lhe olha?
— Alguns, mas deve entender mãe, que os que não me olham
como carne, que me chamam mais atenção.
— Não quero se envolvendo com ele.
— Se é um incentivo mãe, pois ser contra sei que é incentivo,
acho que ele não me olha.
— Do que as duas estão falando?
— Pai, a delegacia da Gamboa da Federal, trocou de Delegado
hoje, vai estar em todas as TVs hoje a noite, as guerras que ninguém
viu, mas o filho do Dalton, assumiu lá como Delegado.
Roberto olha para a filha e fala.
240
— Não entendi.
— Moreira, você, o Comando, fizeram vistas grossas, ele
sobreviveu, e como se diz, a historia é contada pelo vencedor.
— Mas...
— Ele era o primeiro da lista da seleção feita a 3 meses, Roseli
que era a quarta, já estava na assistência de Ramalho, mas com o
sumiço de 3 delegados, em uma guerra que ninguém narrou, eles
tiveram de chamar ele.
O senhor olha a filha e pergunta.
— Mas me roubou quanto?
— Lhe pago em 10 anos.
— Não vai falar?
— Se não sabia quanto tinha lá não vou mesmo.
O senhor estava descontente.
— E vai contratar o Paulinho?
— Sim, vou sim, preciso de alguém que eu confie, não que o
senhor confie, ele me cobriu as costas, mas a culpa foi minha, não
deveria me meter em encrenca 3 dias seguidos, ele não é mais tão
novo para ficar uma noite sem dormir e ser eficiente no segundo.
— Ele era mais eficiente antes. – Fabiola.
— Tem de considerar que dar segurança dentro de uma
delegacia da Federal, não é igual a um local onde se conhece, ainda
mais com toda aquela reforma a frente.
Roberto viu que a menina estava com a tela a frente aberta e
pergunta.
— Não tinha dinheiro suficiente para comprar o que falou.
— Estou pagando por consideração, pois desculpa, que
porcaria de estrutura eles tinham.
— E não vai recuar.
— Pai, eu não comprei um ponto de drogas para tocar, eu
usei o dinheiro e emprestei para alguém comprar, este alguém, vai
me pagar só um pouco mais do que emprestei, apenas a inflação,
não é para sair por ai dizendo, tenho pontos de droga, pois não o
tenho.
—Não entendi.
— Sei disto, sei disto! – Sorri a menina.

241
Moreira acorda assustado no edifício da Marítima e olha para
Junior a frente.
— Temos de falar pai.
— Como vim parar aqui.
— O trouxemos.
— Mas... – Moreira olha em volta se localizando não entendia
o que havia acontecido.
— O que queria com aquilo?
— Sair sem deixar a estrutura ao CV, mas a ideia de um
deputado referente aos David me agradou.
— Eles perceberam, uma coisa é apoiar o senhor contra
traficantes pai, mas a favor de sequestro de crianças, não consigo.
— Arrogante aquela menina.
— Ela tem algo nela que não entendo, mas o que ela falou é
serio pai, eles não precisam fazer, eles dão o sinal para os malucos e
até minhas filhas viram alvo.
— Esqueço que tem gente que sabe se posicionar, mas como
cai?
— Ela apenas lhe tocou o ombro, o senhor desacordou, como
se perdesse todas as forças, ela sabia que aconteceria.
Moreira lembra e pergunta.
— Como?
— O senhor está como todos os seguranças, recobrando as
forças, mas se ouve a gravação feita por seu ponto de escuta, a
menina falando “Apenas atordoa”.
Moreira lembra e fala.
— Mas como posso dizer que sai e não recebi nada.
— Acabam de entregar 84 milhões de dólares.
242
Moreira queria saber quem pagou, mas não entendeu.
— Quem pagou?
— O dinheiro está com papeis de separação com um carimbo
do CA.
— Quem seria este comando?
— Só tem gente conhecida, mas ninguém especial, eles estão
tocando, não são os donos dos pontos, mas isto quer dizer que
alguém montou uma estrutura para isto.
— A menina?
— Não sei, estava me informando, todas as obras de ensino,
estrutura e cultura dos últimos 4 anos, atribuídos a mãe dela, foram
executados pela menina, então ela tem estrutura, ela sabe lidar
com dinheiro, em sistemas crus, sem grandes investimentos.
Moreira tenta se levantar e volta a sentar, ainda estava tonto.
— Que toque do cão é este?
Junior sorriu, os rapazes trouxeram as sacolas para a sala, e
Moreira viu que era dinheiro em espécie, em dólares, não era pouca
coisa ter a frente em dinheiro 84 milhões de dólares.
O senhor sabia que não era qualquer um que tinha isto em
dinheiro, pior, dinheiro limpo, não aqueles de ponto todos sujos e
parecendo ter passado por todo tipo de transação.

243
O prefeito Eduardo olha a TV, olha aquele rapaz na
reportagem falando que houve confrontos em alguns pontos da
cidade, que alguns policiais estavam sumidos, se alguém soubesse
de algo, falassem, que estavam agora com os pontos mais calmos,
mas a informação de que 3 delegados, dois juízes, 120 cadetes do
exercito, 75 policiais federais, poderiam estar entre as perdas
referente a uma investida do Comando Vermelho sobre pontos de
trafico e queima de arquivo, fez a atenção do prefeito se ampliar.
O prefeito liga para o secretario de segurança.
— Me disse que era uma guerrinha por pontos, mais de 200
mortes é bem mais do que guerra de pontos.
— Estou me inteirando prefeito.
— O que sabe até agora?
— Surgimento de um novo comando, o Azul, em homenagem
a Serginho Oliveira, morto na operação dos David, lembra dela?
— Os David estão crescendo?
— Inertes, estou verificando senhor.
— Me verifica e relata, pois é mudança total de estrutura.
— Vou verificar.
O secretario sai dali, liga para o Delegado ainda recebendo
pessoas afastadas e com processos e quando o Secretário chega a
porta, já sem a secretaria ouve Douglas falando para o Investigador
Chaves.
— Tem de entender Chaves, eu não vou perguntar o antes,
mas a partir de agora, vai relatar a mim, se relatou e é merda,
mesmo sendo merda, terá a minha defesa, se for merda e não tiver
relatado, não terei como ajudar.
— Mas não posso me incriminar num relatório.
244
— Chaves, eu não falei coloca no papel, fecha o nó e pula, eu
disse, fala, não quero gente que não faça parte disto, posso até
pedir para você procurar algum outro lugar se for além do limite
que aceito, mas não quero segredos, outra coisa, vamos fazer um
relatório paralelo, onde você vai narrar o que não entendeu.
— Porque disto?
— Técnica de investigação, as vezes você não narra algo, pois
não entendeu, dois ou três pessoas vendo a mesma coisa, sem
entender por óticas diferentes nos revelam a verdade quando ela
passa para o papel.
— Não entendi.
— Sei disso, mas estamos de acordo com o combinado?
— Sim, acha que o ministério publico vai dar espaço?
— Eu vou pegar pesado com eles, todas as vezes que eles
pegarem pesado com a agente Chaves, acho cômico aquele Carlos
Paolo, toda noite compra drogas para uso na Maré, e pega pesado
por erros nossos lá.
O investigador sorriu e saiu e Douglas olha para o Secretario e
fala.
— Entra Secretário.
— O que está acontecendo rapaz?
— Temos 135 policiais em casa afastados pelo ministério
publico, ou eu os uso, ou espero de 6 a 12 meses para um concurso
publico, mais 6 meses de treino.
— Entendi, mas não me explicaram como você veio parar
aqui?
— Se me explicar porque a segunda da lista ainda está em
casa e a delegada Roseli está empossada, explico senhor.
— Competência para o que precisamos.
— Certo, não pretendo ser útil a cama de nenhum de vocês.
O secretario olha com raiva.
— O que aconteceu?
— Alguém de sobrenome Oliveira, resolve ligar para os
amigos, e o que deveria ser uma guerra de 5 meses, foi reduzida a
dois dias, ele toma os pontos, que Fernandinho não havia pago para
Alemão, para ter paz com Alemão o paga, e no meio disto, temos
mais de 250 mortos entre policia civil, federal e exercito, do outro
245
lado, ninguém fala das mortes, mas levantamos dados, mais de mil
pessoas deixaram esta existência, não vou os documentar senhor.
—Por quê?
— Não quero viúvas tendo problemas de receber seus
recursos, pois um falso moralista do ministério publico resolveu se
posicionar e pedir a exoneração de um morto em serviço.
— Acha que foi tão violento?
— Morreu mais gente que isto senhor, mas como eu posso
chegar aos repórteres e falar, temos indícios de mil mortos entre os
traficantes e outros 4 mil desaparecidos, eles nos lincham
publicamente.
— Verdade, e mudam para cima da gente, mas porque tantas
mortes?
— Pensa num dado, Alemão quis sair dos morros, mas ele
parecia querer confusão, ele anuncia que está saindo e passando
cada ponto por 500 mil dólares, pontos que vendem mais que isto
em droga por mês, obvio que ele queria confusão.
— Então o preço foi o que provocou a guerra?
— Sim, e a invasão ao Prédio de Roberto David foi planejado
aqui dentro senhor, não estava no grupo, mas alguém passou ao
antigo delegado Plinio, que David tinha 200 milhões de dólares
naquele cofre que explodiu, estavam pensando em algo como
assumir todos os pontos de Alemão.
— Saberia porque o Empresário Joaquim Moreira pediu seu
afastamento?
Douglas olha para fora, aparência de calma, e fala.
— Sabe segurar a língua Secretario, pode custar sua vida esta
informação?
— Algo que custa a vida, como assim?
— Sabe quem é Alemão, este é o segredo que teria de revelar
para explicar porque o empresário pediu meu afastamento.
O senhor olha em volta e fala.
— Certo, ele quer saber quem lhe defende as costas, ouvi
dele esta pergunta, uma informação que pode realmente custar
minha vida, mas porque então está falando o que falou?
— Pois um prédio quase perdeu um andar porque o
empresário achava que existia dinheiro lá, não sei o que ele queria
246
com isto, pois esta delegacia perdeu bons homens naquela
operação senhor.
O senhor anota os dados, confirma alguns e sai da delegacia
olhando em volta, aquela obra estava atrapalhando bastante a
região.
O secretario passa as informações para o prefeito e volta para
casa como se tivesse feito grande coisa.

247
Roberto estava a sala quando Rodney fala que um grupo os
imobilizou e estava subindo, Comando Vermelho.
O senhor aperta o alarme e as paredes para a parte interna e
dos funcionários começa a piscar, os mesmos começam a trancar as
portas e acessos enquanto Micaela olha as câmeras da recepção
serem desligadas.
Ela estava a conversar com Regina que fala.
“Porque não para nunca, parece não entender o quanto nos
irrita você ativa”
“Vocês não tem opção Regina, não entendi isso ainda, mas
melhor se posicionarem”
Micaela sente aquelas almas saírem e olharem para ela com
aquelas caras bravas, caninas com os dentes ameaçadores, a
menina sorri e sai do quarto olhando em volta, Roberto olha a sala
apagar e olha para uma luz a parte alta e olha a filha.
— Calma pai.
Micaela entra na parte interna e desce a escada, a energia do
apartamento foi voltando e os rapazes chegam a sala, Roberto olha
para os rapazes olhando a escuridão e o senhor a frente.
— Se escondendo Roberto? – Camargo.
— O que quer Camargo, sabe que vocês me atacaram, não o
contrario.
— Dizem que você tem dinheiro para que sumamos.
— Medo de quem?
— Entendemos que não compreende o trafico, mas quando
alguém entra, se instala e demoramos um dia para perceber que
tudo caiu, pois ninguém nem se deu conta antes de tentarmos nos
posicionar que já éramos minoria.
248
— Camargo querendo fugir? – Micaela que surge ao fundo.
Camargo olha assustado, até achar a menina e fala.
— Me assustou menina.
— Qual o problema do ponto Camargo?
— O comando nos virou as costas, e não temos como tomar.
Roberto olha a filha e pergunta.
— Não entendo disto Camargo.
— Temos de ter algo que eles aceitem de troca e o Alemão
falou que sua filha é uma moeda de troca.
— O verdadeiro rato, ele vende os pontos e ainda quer
avançar na politica. – Micaela.
— Ele o que?
— Vendeu os pontos para este tal Comando Azul, que tem o
neto de Serginho na direção dele.
Roberto olha a filha se perguntando quem.
— Não vamos cair neste papo menina.
— Paciência.
Roberto olha os seres surgirem em toda sala escura e
atravessarem os rapazes que caem mortos, os espíritos ficando de
pé, ela puxa a mão para ela e os mesmos confusos veem suas
existências entrarem na menina.
— Limpa a área Rodney. – Micaela indo no sentido do
elevador, ela sai a frente e os rapazes em seus carros a frente são
atravessados pelos seres agora invisíveis aos olhos, ela entra
novamente e sobe ao quarto.
Rodney olha Roberto como se perguntando o que foi feito,
Roberto não sabia, sobe ao quarto da filha e para a porta e fala.
— O que fez filha.
— Não vou ser sequestrada por qualquer um pai.
O senhor não sabia o que falar, mas viu a filha sair pela porta
de descer, ela parecia querer andar um pouco.

249
Douglas cansado chega em casa, era perto da meia noite,
entra sem olhar quase nada, estava cansado, quando olha a mesa
posta, olha em volta e olha aquela menina em uma camisola que
dava para ver mais do que o normal.
Ele foi ao quarto e se vestiu, pega uma camisa a mão e volta a
sala e olha para a menina.
— O que faz aqui Micaela?
— Vai fugir ainda?
— Sabe que ainda é uma criança.
— Já cresci.
— Veste algo e vamos conversar menina. – Douglas atirando
a camisa para ela.
Ela cheira a camisa dele e olha desconfiada.
— Não vim conversar.
— Então a porta esta disponível Micaela.
— Vai me dizer não?
— Sim.
— Mas os meninos sempre dizem sim.
— Os meninos e os orangotangos, sempre dizem sim, os
homo sapiens, fazem por ciência, não por ação hormonal.
Ela fez uma cara de revoltada, olha a camisa e coloca ela e
fala sentando a mesa.
— Vai recusar o jantar que fiz para você?
— Sabe cozinhar? – Douglas tirando sarro.
— Não teve graça.
Douglas sentou-se e ela sentou ao lado. Ele a olha e fala.
— Não me entende menina, todos que atraio, fogem pela
manha, ou amanhecem mortos um dia, e você é uma criança ainda.
250
— Não sou criança.
— 14 anos, se quer entrar pela porta, eu espero 4 anos.
— Vai me fazer esperar 4 anos?
— Disse que quiser tentar algo, terá de esperar.
Micaela joga os cabelos de um lado para outro e fala.
— Não se tenta em provar?
— Menina, uma coisa é fazer estando pronta para o fazer,
para escolher, você ainda é uma criança crescendo, não acredito
que aos 18 olhe para mim, e não sou de me entregar apenas por
sexo, isto é fácil.
— E não vai provar? – Falando da comida.
— Não.
— O que sabe?
— Que algo me diz para não o fazer, talvez não saiba, mas é o
tipo de armação que normalmente caio, mas com maiores de 18!
Ela se levanta irritada e vai ao quarto, se veste e sai, Douglas
sorri da cara de revoltada da menina saindo.
Ele olha para o espirito do pai ao lado e o mesmo sorri.
Douglas joga a comida fora, trava a porta e vai dormir, os dias
seguintes seriam agitados, mas ele sabia que no futuro, ainda
cruzaria com aquela menina.

Fim.

251
252

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