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ISSN 1982-3541

Campinas-SP
2009, Vol. XI, nº 2, 189-208

Correspondência verbal: uma revisão da


literatura

Verbal correspondence: an overview

Amanda Muglia Wechsler 1


Vera Lúcia Raposo do Amaral2
Pontifícia Universidade Católica de Campinas

Resumo
Correspondência verbal pode ser definida como a relação entre o comportamento verbal e o não-
verbal de um indivíduo. As pesquisas em correspondência verbal têm se utilizado de treinos de
correspondência, uma técnica para estabelecer, manter, diminuir ou extinguir comportamentos
não-verbais através do controle do comportamento verbal, em três fases: linha de base,
reforçamento da verbalização e reforçamento da correspondência entre o comportamento verbal e
o não-verbal. Esses treinos usam-se de três sequências diferentes: dizer-fazer, fazer-dizer e dizer-
fazer-dizer. Este artigo faz uma revisão das pesquisas na área de correspondência verbal nestas três
diferentes seqüências. Ressalta, ainda, estudos atuais, que se preocuparam em descrever o
fenômeno da correspondência e, portanto, não utilizaram metodologia experimental e, por
consequência, não realizaram treino de correspondência e sim observaram a emergência da
correspondência verbal natural.
Palavras-chave: Correspondência verbal, Comportamento verbal, revisão, Correspondência
dizer-fazer/fazer-dizer/dizer-fazer-dizer, Interação entre comportamento verbal e não verbal.

Abstract

Verbal correspondence can be defined as the relationship between an individual’s verbal and non-
verbal behavior. Research into verbal correspondence has used correspondence training, a technique
that establishes keeps, diminishes or extinguishes non-verbal behaviors through the control of
verbal behavior, in three phases: baseline, reinforcement of verbal behavior and reinforcement of
the correspondence between verbal and non-verbal behaviors. These training sessions use three
different sequences: say-do, do-say and say-do-say. This article reviews the research in the area of
verbal correspondence in these three different sequences. Current studies are highlighted that are
concerned with describing the phenomenon of correspondence and which, therefore, did not use

1 Mestre em Psicologia como Ciência e Profissão pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas, SP, Brasil.
2 Pontifícia Universidade Católica de Campinas, Psicologia como Ciência e Profissão. Campinas, SP, Brasil. Doutora em Psicologia pela
Universidade de São Paulo.

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experimental methodology and, consequently, did not perform correspondence training, but rather
observed the emergence of natural verbal correspondence.
Keywords: Verbal correspondence, Verbal behavior; review, Correspondence say-do/do-say/say-
do-say, Interaction between verbal and non verbal behavior.

Correspondência verbal é comportamentos futuros de correspon-


comumente definida na literatura como a dência do falante (Lloyd, 2002).
relação entre o comportamento verbal e o A comunidade verbal mantém a
não-verbal de um indivíduo (Matthews, correspondência entre o comportamento
Shimoff & Catania, 1987; Paniagua & verbal e os eventos ambientais porque
Baer, 1982), entendendo-se como somente quando o comportamento do
comportamento verbal um operante com falante for consistente é que ele fornece
uma característica singular: a mediação estímulos discriminativos para gerar um
realizada por outra pessoa, assim como comportamento no ouvinte. Ao longo da
afirma Skinner (1957/ 1978). vida do indivíduo, a comunidade testa
intermitentemente a fidedignidade de
Para De Rose (1999) e Sadi (2002),
um relato sobre um evento. O que
a correspondência verbal seria um
chamamos de “verdade” depende de
exemplo de controle de estímulos, em que
como a comunidade verbal mantém as
um estímulo discriminativo controlaria
correspondências entre o
um tato verbal.
comportamento verbal e o ambiente
Os ditados populares “faça o que (Catania, 1998/ 1999).
eu digo, não faça o que eu faço” e “falar é
Na medida em que a comunidade
fácil, fazer é que é o difícil!” indicam um
verbal estabelece contingências para tais
senso comum de uma baixa correlação
correspondências, podemos modificar o
entre o que uma pessoa diz e o que ela
comportamento modelando o que si diz
realmente faz.
acerca de si mesmo. Assim, se forem
Assim, a correspondência pode ser reforçados tanto o dizer quanto a
considerada uma fenômeno social, já que correspondência entre dizer e fazer, o
a mentira ou a falsa promessa fazer poderá ocorrer e o próprio
geralmente são aversivas para o ouvinte e comportamento verbal de cada um pode
a conseqüenciação do ouvinte irá afetar tornar-se eficaz como um estímulo

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instrucional (Catania, 1998/ 1999). Além relação entre uma resposta verbal e uma
disso, se o indivíduo for ensinado a resposta não-verbal (Lloyd, 2002). Esses
relacionar eventos externos verbais e treinos geralmente envolvem três fases: a
não-verbais, poderá também aprender a linha de base, o reforçamento de
relatar com fidedignidade seus estados verbalizações e o reforçamento da
internos (Paniagua, 1989). relação entre comportamento não-verbal
e verbal (reforçamento da corres-
As pesquisas sobre correspon-
pondência). Na linha de base, registram-
dência verbal são relativamente recentes,
se as freqüências do comportamento-
por volta da década de 70. Nesta década,
alvo não verbal (que geralmente se torna
houve grande número de pesquisas, mas
alvo após observar-se sua baixa
depois este número decaiu significativa-
freqüência na linha de base) como, às
mente na década de 90 e, desde então, as
vezes, podem medir também as
pesquisas sobre este tema são escassas
freqüências de comportamentos verbais
(Lloyd, 2002). De Rose (1994) destaca a
sobre o passado (relatos) ou sobre o
importância das pesquisas em
futuro (“promessas”). Na fase de
correspondência verbal, pois compreen-
reforçamento da verbalização, também
dendo-se as variáveis que afetam a
chamada de reforçamento do conteúdo, o
precisão do controle discriminativo
reforço é liberado contingentemente a
pode-se ter um maior rigor na aferição
relatos verbais que tenham em seu
da objetividade do relato verbal. Aqui,
conteúdo o comportamento-alvo não
faremos uma breve revisão sobre as
verbal, independente se o compor-
pesquisas nesta área.
tamento-alvo não verbal ocorreu ou não.

As pesquisas em correspondência Já na fase de correspondência, o

utilizam-se de treino de correspon- reforçamento é contingente à emissão da

dências, ou seja, uma técnica para correspondência entre o comportamento

estabelecer, manter, diminuir ou verbal e o não-verbal (Lloyd, 2002;

extinguir comportamentos não-verbais Paniagua, 1990).

através do controle do comportamento Deste modo, a correspondência


verbal (Karlan & Rusch, 1982). Os pode ser entre dizer e fazer, entre fazer e
treinos de correspondência investigam a dizer e entre dizer, fazer e dizer. No
relação do controle dos estímulos treino dizer-fazer, o reforço é liberado
antecedentes sobre a resposta verbal quando a pessoa verbaliza sobre o
(Sadi, 2002), ou seja, eles visam alterar a comportamento não-verbal futuro e

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depois o emite. No treino fazer-dizer, a a correspondência negativa, quando o


pessoa emite um comportamento não- indivíduo diz que não fará (ou
verbal, depois fala sobre ele e aí o reforço não fez) algo e não o faz (ou não o
é liberado (Beckert, 2005). Já no treino fez). Já a não-correspondência é
dizer-fazer-dizer, a pessoa promete, faz, definida pela existência de somente um
relata e só aí o reforço é liberado. dos comportamentos, seja o verbal ou o
não-verbal: ou seja, a pessoa diz e não faz
Outros procedimentos também
ou faz e não diz (Karlan & Rusch, 1982).
foram utilizados por estudos na área de
O treino de correspondência tem a
correspondência, como: reforçamento
vantagem de aumentar e manter o
iniciado pelo dizer, reforçamento da
comportamento-alvo não verbal sem a
correspondência dizer-fazer com custo
necessidade de contínuo monitoramento
de resposta na ausência de corres-
e reforçamento, como ocorre com outros
pondência, reforçamento imediato de
procedimentos comportamentais. Ele
comportamentos intermediários, refor-
permite modificar inúmeros comporta-
çamento iniciado por comportamentos
mentos sem uma ajuda direta, sem
intermediários, reforçamento da corres-
necessidade de supervisão, senão através
pondência dizer-fazer-dizer, reforça-
do próprio repertório instrucional do
mento do “dizer não-vocal”, reforça-
indivíduo. Desta forma, o treino de
mento de verbalização em forma
correspondência pode ser considerado
negativa, procedimentos baseados no
como um procedimento de promoção de
princípio de Premack e uso de pool de
auto-manejo, auto-controle, indepen-
contingências (reforço, punição,
dência e aderência. Além disso, outras
extinção) nas classes de correspondência
vantagens do treino de correspondência
(Herruzo & Luciano, 1994). Porém, nesta
é que ele é uma intervenção naturalística,
revisão, iremos nos concentrar somente
eficiente e fácil de aplicar (Herruzo &
nas sequências dizer-fazer, fazer-dizer e
Luciano, 1994; Hopman & Glynn, 1989;
dizer-fazer-dizer, que são os mais
Karlan & Rusch, 1982; Williams &
utilizados na literatura.
Stokes, 1982).
Os estudos na área de correspon-
dência verbal ainda diferenciam dois Pesquisas que se utilizaram da
tipos de correspondência: correspon- seqüência dizer-fazer

dência positiva, quando o indivíduo diz A primeira pesquisa sobre


que vai fazer (ou fez) algo e faz (ou fez) e correspondência foi realizada por Risley

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e Hart (1968), que teve como objetivo a quatro anos) consegue planejar. Outra
modificação do comportamento não- conclusão importante foi a de que as
verbal, modificando-se apenas o próprias verbalizações das crianças
comportamento verbal. Participaram do podem ter adquirido propriedades de
estudo 12 crianças com idades entre estímulo discriminativo, como se seus
quatro e cinco anos. O delineamento próprios relatos servissem como
utilizado foi: linha de base, reforçamento instruções para si mesmas.
da verbalização e reforçamento da
Resultados semelhantes foram
correspondência. Os resultados indica-
encontrados em pesquisa referida por
ram que somente o reforçamento da
Catania (1998/ 1999) Sherman (1964) e
verbalização não foi suficiente para
Ballard e Taylor (1981), que constataram
promover mudanças no comportamento
o controle do comportamento verbal
não-verbal, apesar de ter aumentado
sobre o não-verbal.
significativamente o comportamento
verbal. Quando houve reforçamento da Tracey, Briddell e Wilson (1974)
correspondência, o comportamento-alvo acharam resultados diferentes daqueles
não verbal passou a ocorrer com maior encontrados por Risley e Hart (1968). Os
frequência. Depois de retirada a fase de resultados mostraram que somente o
reforçamento da correspondência, reforçamento da verbalização aumentou
somente o reforçamento do compor- o comportamento não-verbal e que este
tamento verbal foi suficiente para que a diminuiu após a retirada do reforço,
correspondência acontecesse. demonstrando que o reforçamento do
comportamento verbal foi importante
Assim, os autores comprovaram para a emissão do comportamento não-
que o comportamento verbal pode verbal e que não houve necessidade de
controlar o não-verbal e que a reforçamento da correspondência em si
correspondência se generalizou, para que a mesma ocorresse. Os autores
fenômeno denominado por alguns explicaram esse resultado em função da
autores como “regulação verbal do população ser adulta (ou seja, já há um
comportamento” (Herruzo & Luciano, grau de correspondência instalado) e
1994). O comportamento não-verbal também pode ter havido uma pressão do
ocorria apenas 24 horas após a emissão grupo dos participantes na promoção de
do comportamento verbal, o que indica correspondência, já que as sessões eram
que este tipo de população (crianças de grupais.

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Em relação ao estudo citado pois se o que dizemos é modelado, então


acima, Israel e Brown (1977) procuraram fazemos o que dizemos, mas se nos
testar se só a fase de reforçamento verbal disserem o que temos que dizer, nosso
seria suficiente para que a correspon- fazer não será necessariamente
dência se instalasse ou não. Participaram correspondente ao que dizemos. Deste
do estudo 16 crianças de quatro anos, modo, segundo o autor, é mais fácil
dispostas em dois grupos. O grupo I teve mudar o comportamento humano
linha de base, reforçamento da modelando o que alguém diz do que
verbalização, treino de correspondência e modelando aquilo que esse alguém faz, já
fase verbal final (igual à fase de que o comportamento não-verbal é
reforçamento da verbalização, mas com frequentemente governado verbalmente,
outro brinquedo-alvo); o grupo II teve mas o comportamento verbal é
todas as fases iguais às do grupo I, exceto geralmente modelado por contingências.
a de reforçamento da verbalização
Experimentos realizados por
anterior ao treino de correspondência.
Gonzalez e Coria-Sabini (1981) e Stokes,
Os resultados demonstraram que Cameron, Dorsey e Fleming (2004)
o reforçamento da verbalização não concluíram que o treino de correspon-
aumentou a correspondência entre o dência é importante para se atingir o
dizer e o fazer, o que foi alcançado comportamento-alvo não verbal, pois
durante o treino de correspondência. quando se compara o grupo experi-
Contudo, não houve diferenças entre os mental, no qual os participantes eram
grupos na fase verbal final, ou seja, a fase treinados a dizer o que iriam fazer antes
de reforçamento de verbalização não foi de realizar uma tarefa-problema, com o
necessária para se atingir a correspon- grupo controle, o primeiro apresentou
dência. Sendo assim, a fase de desempenho significativa-mente melhor
reforçamento da verbalização não seria do que o segundo, no qual não houve o
uma pré-condição necessária para o treino.
treino de correspondência, apesar dos
autores recomendarem-na para que o A generalização e a manutenção
procedimento seja mais uniforme. do comportamento de correspondência
também foram objeto de estudo de várias
Para Catania (1998/1999), a pesquisas, sendo a generalização enten-
modelagem do comportamento verbal dida como o controle do dizer sobre
pode ser mais eficaz do que a instrução, comportamentos não-verbais que não

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foram treinados e a manutenção definida não foi constatada manutenção do


como a apresentação de correspondência comportamento de correspondência
mesmo na ausência de reforçadores adquirido no treino, com este inclusive
contingentes a tal correspondência diminuindo de freqüência no estudo de
(Beckert, 2005; Paniagua, 1989). Merret e Merret (1997) na fase de
folllow-up.
Experimentos como o de Brodsky
Deacon e Kornarsky (1987)
(1967), Luciano, Herruzo e Barnes-
alertaram para o fato de que é preciso
Holmes (2001), Paniagua e Black (1990),
determinar se a correspondência surge
mediram a generalização do treino de
porque as verbalizações regulam o
correspondência para o ambiente natural
comportamento encoberto e levam a
de seus participantes. Nos dois últimos
uma mudança de comportamento
experimentos, os participantes conse-
generalizada ou se a correspondência
guiram generalizar a correspondência do
simplesmente reflete uma contingência
contexto treinado para um novo
de reforçamento simples que requer
contexto. Já no experimento de Brodsky
mecanismos adicionais para promover
(1967), houve generalização somente
generalização. Assim, eles realizaram
quando se reforçava somente o
uma pesquisa para comparar os
comportamento não-verbal. Quando o
resultados de um grupo somente
reforçamento era direcionado somente
submetido a uma contingência de
ao comportamento verbal, houve
reforçamento e outro com o treino de
aumento do comportamento verbal mas
correspondência. Os resultados
não do não-verbal, ou seja, não houve
demonstraram que os dois grupos
generalização. Este estudo sugere, então,
obtiveram taxas do comportamento-alvo
que o comportamento não-verbal pode
não verbal semelhantes na fase de
controlar o verbal, ao contrário do que
tratamento e mantiveram estas taxas no
outros autores afirmaram.
follow-up, reforçando a hipótese de que
Quanto à manutenção do o treino de correspondência pode
comportamento de correspondência, simplesmente refletir o reforçamento do
Williams e Stokes (1982), Merret e comportamento-alvo não verbal. Parece,
Merret (1997) e Hopman e Glynn (1989), então, que o treino de correspondência
buscaram medi-la. No último não necessariamente estabelece uma
experimento citado, houve manutenção regulação verbal. Os autores sugeriram
da correspondência. Já nos dois outros, que o treino de correspondência seja

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visto como um comportamento dizer-fazer-dizer parece ser uma função


governado por regras e não como uma de generalização de estímulos. Já a
auto-regulação verbal, pois este treino manutenção do dizer é possível com o
parece induzir ao desenvolvimento de reforçamento da verbalização, a
uma regra e reforça o seguimento dela. eliminação de ajudas, o reforçamento
atrasado do dizer, o esvanecimento do
Diversos outros estudos testaram
reforçamento, a aplicação intermitente
a generalização de diferentes maneiras:
do treino de correspondência ou de
com outros alvos, com o reforçamento
contingências indiscrimináveis e naturais
somente do dizer após o treino de
(Beckert, 2005; Herruzo & Luciano,
correspondência, com reforçamento
1994; Karlan & Rusch, 1982; Luciano e
intermitente da correspondência, com o
cols., 2001; Paniagua, 1989). Ainda
reforçamento atrasado do dizer
assim, Luciano e cols. (2001) afirmam
acompanhando o treino de
que as variáveis que controlam a
correspondência, com o uso de
ocorrência ou não de generalização ainda
conseqüências positivas ou negativas
não são claras e que mais pesquisas são
para a correspondência ou não-
necessárias.
correspondência ou o uso de uma
Paniagua, Stella, Holt, Baer e Etzel
combinação dessas contingências (Lloyd,
(1983) propuseram uma nova seqüência,
2002). Porém, pode-se dizer, a partir da
complementar à seqüência dizer-fazer: a
maioria dos estudos citados acima, que
seqüência dizer-comportamentos
outras contingências parecem existir e
intermediários-reforço-fazer. Ou seja, a
que ainda não foram identificadas pelos
seqüência se propõe a reforçar os
pesquisadores envolvidas no processo de
comportamentos intermediários que
generalização.
levam à correspondência e não a
A generalização do dizer depende correspondência em si, como os outros
de elementos comuns entre os estudos dizer-fazer vinham fazendo. Isto
ambientes, da presença ou não de porque o que o participante faz depois de
experimentador e/ou ajudas (prompts), uma promessa não é o simples
da transferência do controle verbal para cumprimento dessa promessa, mas sim
estímulos ambientais naturais, da uma cadeia de respostas. O experimento
inclusão da fase de reforçamento da envolveu dez crianças com idades entre
verbalização ou da formação de auto- três e cinco anos. Os resultados
regras. A generalização da seqüência encontrados neste experimento

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demonstraram que o reforçamento da ajudar a criança no processo da


verbalização aumentou pouco o verbalização adquirir função de controle
engajamento dos participantes nas antecedente.
atividades propostas. Já quando o Parece, então, de modo geral, que
reforçamento foi contingente aos a fase de reforçamento de verbalização
comportamentos intermediários, a não- não é efetiva para produzir
participação caiu a zero. Deste modo, os correspondência e não fortalece o
autores provaram que pode haver um comportamento não-verbal (Karlan &
maior controle do dizer sobre o fazer Rusch, 1982; Karoly & Dirks, 1977; Israel
quando se reforça comportamentos & Brown, 1977; Israel & O’Leary citado
intermediários. por Rogers-Warren & Baer, 1976;
Osnes, Guevremont e Stokes Paniagua, 1989; Risley & Hart, 1968;
(1987) decidiram investigar treinos de Williams & Stokes, 1982). Porém,
correspondência com conseqüências pesquisa realizada por Beckert (2000)
positivas e com conseqüências negativas indica o contrário: o comportamento-
numa seqüência dizer-fazer. Os autores alvo não verbal aumentou após a fase de
aplicaram direto o treino após a linha de reforçamento da verbalização. As
base, sem fase de reforçamento de justificativas para este resultado
conteúdo. A participante ganharia apresentadas pelo autor são as seguintes:
reforço se apresentasse correspondência. o uso de apenas duas alternativas, a
Caso não apresentasse, ficaria sentada história de reforçamento social de
em uma cadeira, ao lado da área de correspondência e a ausência de
brincar, por três minutos. Os resultados intervalo temporal entre dizer e fazer.
demonstraram que a apresentação de Para Herruzo e Luciano (1994), os
conseqüências negativas foi mais eficaz participantes que tiveram modificação no
para o estabelecimento de comportamento não-verbal somente com
correspondência para todos os o reforçamento do comportamento
comportamentos-alvo. Os autores verbal já tinham em seu repertório
sugerem que esta forma de prévio uma história de correspondência
consequenciação pode ter funcionado ou de seguimento de regras. Portanto,
melhor devido à sua semelhança com destaca-se a necessidade de avaliar se os
contingências naturais providenciadas indivíduos já possuem repertório de
pelos pais e que a combinação de correspondência antes de iniciar o treino
conseqüências positivas e negativas pode e, por isto, estudos descritivos são

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importantes, apesar de terem sido pouco bem acima dos níveis do comportamento
utilizados nas pesquisas em de elogiar, isto porque já havia no
correspondência verbal. repertório dos participantes o
comportamento de compartilhar, ao
contrário do comportamento de elogiar
Pesquisas que se utilizaram da
seqüência fazer-dizer que, apesar de obter altas taxas, era
mecânico e artificial.
A pesquisa de Rogers-Warren e
Baer (1976) foi a primeira a utilizar o No experimento II, os resultados
treino de correspondência com a indicaram que tanto o elogiar quanto o
seqüência fazer-dizer, além de ter sido compartilhar aumentaram, sem haver a
pioneira em utilizar como necessidade da fase de reforçamento da
comportamentos-alvo comportamentos verbalização. Este resultado assemelha-
clínicos relevantes, ampliando, assim, as se ao da pesquisa de Israel e Brown
possibilidades de aplicação do treino de (1977), relatada anteriormente. Na linha
correspondência. Os autores presumiam de base final, os comportamentos de
que a seqüência fazer-dizer seria mais compartilhar generalizaram-se mas não
facilmente generalizada, já que o período os de elogiar, isto porque ambos
de tempo entre as duas respostas é maior obtiveram consequenciações diferentes.
do que na seqüência dizer-fazer. O
Desta pesquisa, pode-se destacar
experimento envolveu 32 crianças, de
que os participantes mais jovens tiveram
três a cinco anos, com dois
que ter mais treino para adquirir os
comportamentos-alvo: compartilhar e
comportamentos-alvo do que os mais
elogiar em três experimentos distintos.
velhos e que os participantes que
adquiriram a correspondência mais
Nos experimentos I e III,
rapidamente eram as crianças que
constatou-se que o reforçamento da
possuíam mais habilidades sociais. O
verbalização somente aumentou
comportamento de elogiar não se
moderadamente os relatos e os
generalizou em todos os experimentos
comportamentos não-verbais, enquanto
talvez porque o tempo de linha de base
que na fase de reforçamento da
final era muito curto (cinco minutos) e
correspondência, obteve-se altas taxas
não daria para medir tal generalização.
em relatos e comportamentos não-
verbais. O comportamento de dividir Para Herruzo e Luciano (1994), o
aumentou rapidamente e se manteve fato da seqüência fazer-dizer ser mais

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eficaz com indivíduos mais velhos do que conteúdo para a seqüência fazer-dizer, o
com mais jovens se deve ao fato de que que corrobora os achados de Risley e
crianças mais jovens ainda não Hart (1968). Porém, quando houve a
conseguem discriminar o que fizeram e, introdução da seqüência dizer-fazer, a
se conseguem descrever o que fizeram, correspondência aumentou ligeiramente
essa descrição não atua como controle no treino de correspondência, se
para que ela emita comportamentos no comparada com a fase de reforçamento
contexto do fazer. Assim, crianças mais de conteúdo, além de ter um aumento
velhas já possuem um repertório verbal gradual, ao contrário da seqüência fazer-
discriminativo entre o dizer e o fazer. Já dizer, que teve um rápido aumento da
Paniagua e colaboradores (1983) correspondência. Desta forma, o autor
afirmaram que a seqüência dizer-fazer é concluiu que o reforçamento de uma
mais eficaz do que a seqüência fazer- seqüência fazer-dizer é suficiente para
dizer porque na primeira a ordem do produzir correspondência e que não há
reforçamento reforça o fazer e já na generalização de uma seqüência para
segunda reforça-se o dizer (relatar). outra.

Outra pesquisa com a seqüência Comparando-se a seqüência dizer-


fazer-dizer foi a de Paniagua (1985), que fazer com a fazer-dizer, há a pesquisa
constatou altas taxas dos comporta- realizada por Karoly e Dirks (1977), que
mentos-alvo após o treino e estas taxas se utilizou de dois grupos com o objetivo
foram mantidas após a retirada do de instalar auto-controle em crianças. A
treino. conclusão foi que o grupo dizer-fazer
obteve maior freqüência de corres-
Israel (1973) propôs um
pondência e dos comportamentos-alvo,
experimento para avaliar os resultados
apesar de ambos os grupos terem se
obtidos por Risley e Hart (1968),
engajado nos comportamentos de auto-
comparando o efeito do aprendizado de
controle.
uma seqüência fazer-dizer sobre uma
seqüência dizer-fazer, utilizando como Finalmente, parece que,
participantes seis crianças de pré-escola. contrariando, Rogers-Warren e Baer
A correspondência foi maior durante a (1976), a seqüência fazer-dizer não é a
fase de reforçamento de correspondência mais apropriada para produzir corres-
do que na fase de reforçamento de pondência, como os autores afirmavam.

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Pesquisas que se utilizaram da pesquisas que se utilizem desta


seqüência dizer-fazer-dizer seqüência para que se tenha um maior

Keogh, Burgio, Whitman e entendimento sobre o tema.

Johnson (1983) utilizaram-se da


seqüência dizer-fazer-dizer e encontra-
Novas formas de se pensar em
ram os seguintes resultados: na fase de correspondência...
correspondência, a correspondência dos
A pesquisa de Ribeiro (1989) foi
comportamentos-alvo variou entre 70% a
considerada um “divisor de águas” nas
100%. Na fase de generalização, a
pesquisas sobre correspondência, pois
correspondência variou entre 45% a
todos os estudos anteriores supunham
90%. A generalização, porém, do
que os participantes não apresentavam
comportamento-alvo para outros
um repertório preciso de auto-relato
contextos, não ocorreu. A partir deste
anterior ao treino de correspondência, o
experimento, pode-se verificar então que
que podia não ser verdadeiro. A baixa
a seqüência dizer-fazer-dizer é eficaz
ocorrência de correspondência na linha
para produzir comportamentos de
de base da maioria dos estudos
correspondência.
anteriores parecia ser mais um problema
Beckert (2000), Guimarães
de definição do que seria considerado
(2002) e Pérez (2000) compararam as
correspondência, pois para eles esta seria
cadeias dizer-fazer, fazer-dizer e dizer-
a ocorrência de um comportamento-alvo
fazer-dizer em experimentos distintos.
e seu relato (a chamada
As três pesquisas concluíram que a
“correspondência positiva” para Israel,
seqüência dizer-fazer foi mais efetiva na
1978).
manutenção do comportamento-alvo do
Ribeiro (1989), além de acessar os
que as demais quando retornou à linha
relatos das crianças sem estipular
de base, apesar dos outros grupos com
comportamento-alvo, ampliou o conceito
outras seqüências terem adquirido o
de correspondência para os relatos de
comportamento-alvo durante a fase de
não brincar correspondentes com o
treino.
comportamento de não brincar (a
Pode-se ver, então, que as “correspondência negativa”, segundo
pesquisas com a seqüência dizer-fazer- Israel, 1978), numa seqüência fazer-
dizer são relativamente novas e escassas. dizer. O delineamento, com oito crianças,
Por isso, faz-se necessário mais foi: linha de base, avaliação do repertório

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de nomear (mostrava-se à criança figuras ainda a uma auto-regra diante da


dos brinquedos para verificar se ela era observação do comportamento de outros.
capaz de relacionar as figuras com os Desta forma, Ribeiro (1989)
brinquedos), reforçamento individual demonstrou que só o reforçamento da
para o relato de brincar, reforçamento verbalização não era suficiente para
em grupo para o relato de brincar, produzir correspondência e que essa
reforçamento em grupo para a fase, inclusive, diminuía as corres-
correspondência e linha de base final. pondências que já existiam na linha de
Deve-se destacar que essa avaliação do base, principalmente na situação grupal.
repertório de nomear já havia sido Aos estudos que confirmaram que a fase
utilizada em outros estudos, como por de verbalização era responsável, sozinha,
exemplo, no experimento de Brodsky pela correspondência (como Tracey e
(1967) e Keogh e colaboradores (1983), cols., 1974), Ribeiro (1989) discutiu que
porém sem a crítica feita por Ribeiro estes estudos não mediam a
(1989). correspondência na linha de base e, por
Na linha de base inicial do estudo isso, os resultados podem ter sido
de Ribeiro (1989), obteve-se 99% de enviesados.
correspondência, ou seja, as crianças já Sadi (2002), Pergher (2002) e
possuíam em seu repertório o Baer e Detrich (1990) apresentaram
comportamento de auto-relatar, sendo delineamentos semelhantes ao da
36% relatos de brincar e 63% relatos de pesquisa de Ribeiro (1989) e encon-
não brincar. Na fase de reforçamento da traram resultados similares, ou seja, as
verbalização, algumas crianças mantive- crianças apresentaram altas taxas de
ram a correspondência mesmo sem correspondência na linha de base.
receber o reforço, o que demonstra que a
correspondência no relato pode ser um Estudos descritivos, como os
reforço natural. Já na situação grupal, realizados por Guimarães (2002), Ricci e
houve maior número de crianças que Pereira (2006), Dihle, Bjolseth e Helseth
fizeram relatos que não correspondiam (2006) e Hughes, Oliveto e Terry (1996)
com o seu comportamento não-verbal, buscaram medir a correspondência na
sugerindo uma mudança no controle de linha de base, sem treino. Somente a
variáveis do comportamento de relatar pesquisa de Guimarães (2002) concluiu
das crianças devido à situação grupal ou que os participantes já apresentavam
a regras que outras crianças deram ou correspondência na linha de base; os

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Correspondência verbal: uma revisão da literatura

demais estudos constataram a falta de Deacon e Kornarsky (1987) e


correspondência verbal quando não há Lloyd (2002) fizeram um alerta quanto
treino. às pesquisas de correspondência: elas
não demonstram a relação funcional
Neste sentido, parece que as
entre as duas variáveis, apenas
pesquisas em correspondência estão
demonstram que há alta probabilidade
atualmente se voltando para a verificação
de fazer algo se é dito algo, mas não
da emergência da correspondência
demonstram o contrário, isto é, se há
“natural” (isto é, sem treino).
baixas probabilidades de se fazer alguma
A aquisição da correspondência
coisa se essa alguma coisa não for dita.
pode ser facilitada por algumas variáveis:
Ou seja, dizer e fazer podem ocorrer
quando comportamentos intermediários
juntos, isto, é, podem estar
são reforçados, quando há feedback do
correlacionados mas serem
experimentador, o intervalo de tempo
funcionalmente independentes.
entre o dizer e o fazer, os vieses e as
Wilson e colaboradores (citado
preferências individuais, a indicação de
por Lloyd, 2002) tentaram provar a
conseqüências, a compreensão do sujeito
funcionalidade dos elementos das
sobre o critério de reforçamento, o
cadeias, testando a linha de base da
conteúdo das descrições e a história de
mesma forma que Ribeiro (1989). Eles
aquisição de desempenho efetivo
estudaram as cadeias dizer-fazer e fazer-
(Beckert, 2005; Pérez, 2000).
dizer. Participaram da pesquisa quatro
Herruzo e Luciano (1994) adolescentes com diagnóstico de retardo
avaliaram, ainda, possíveis variáveis que mental moderado. Na linha de base, o
interfiram no desenvolvimento da nível de correspondência foi de 83%,
correspondência como: repertórios semelhante aos resultados de Ribeiro
iniciais antes do treino, variabilidades (1989) e Sadi (2002). O delineamento
individuais dos participantes, contextos incluiu: dizer, fazer, dizer e reforço. Os
da aplicação dos procedimentos, resultados indicaram um acréscimo de
repertórios individuais de seguimento de 26% para 88% de correspondência de
regras, forma de manipulação das relatos considerando-se a linha de base e
contingências pelo experimentador, os resultados pós- treino de
número de ensaios durante o treino, correspondência. A não-correspondência
operações estabelecedoras e variáveis caiu de 74% para 12%. A correspondência
específicas dos procedimentos. de “promessas” subiu de 20% para 75%

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após o treino para relato. Assim, os variáveis de controle. Já a cadeia dizer-


autores deram evidências de baixas fazer relaciona-se à aquisição de
probabilidades de fazer “X” seguindo não autocontrole, já que à medida que o
dizer “X” ou seguindo dizer “Y”. cliente diz o que vai fazer, estabelece
contingências que tornarão o fazer mais
Pode-se observar que na pesquisa
provável de acontecer, ou seja, o cliente
de Ribeiro (1989), os participantes
“autogerencia” as contingências que
tinham de três a cinco anos e mostraram
mantêm o seu comportamento (Beckert,
altos níveis de correspondência na linha
2005).
de base. Na de Wilson e colaboradores
(citado por Lloyd, 2002), os
As relações de correspondência
participantes eram adolescentes e
também podem ser analisadas sob a
obtiveram índices menores de
forma de mandos e tatos. Na
correspondência, já na de Eagly e
correspondência dizer-fazer, por
Chaiken (citado por Lloyd, 2002) com
exemplo, o dizer poderia estar sob
adultos normais, os índices de
controle de reforçamento negativo,
correspondência foram baixos. Isto
caracterizando um mando (dizendo o que
sugere que a correspondência pode estar
o experimentador quer ouvir, foge-se de
negativamente correlacionada com a
uma situação aversiva) e o fazer poderia
idade, mas são necessários estudos que
estar sob controle de reforçamento
se utilizem de coortes para comparar as
positivo, onde é necessária a
idades com a correspondência “natural”,
correspondência entre dizer e fazer para
isto é, sem treino (Lloyd, 2002).
que haja liberação do reforço (Baer &
O treino de correspondência é Detrich, 1990; Beckert, 2005; Ribeiro,
importante para a aquisição de dois 1989).
repertórios fundamentais no processo
psicoterapêutico: o autoconhecimento e A correspondência também pode
o autocontrole; se o cliente conseguir ser analisada como uma cadeia de
descrever o que faz ou o que fez estará comportamentos que pode ser reforçada
apresentando autoconhecimento. Sendo em qualquer ponto, como um exemplo de
assim, a cadeia fazer-dizer seria um comportamento governado por regras,
treino de autotato, servindo para o principalmente aquiescência (Beckert,
estabelecimento de verbalizações mais 2005) ou como um caso de dominância
fidedignas sobre o comportamento e suas funcional (Pérez, 2000).

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Correspondência verbal: uma revisão da literatura

Para Beckert (2005), a avaliação experimentador punir o dizer, somente


empírica do controle discriminativo de remover o reforço que se seguiria à
um comportamento verbal sobre outro correspondência, já que a punição do
não-verbal e vice-versa encontra comportamento verbal seria atrasada.
limitações metodológicas, porque o fazer Além disso, as pesquisas reforçam o dizer
pode estar sob controle de verbalizações com reforço social e o fazer é reforçado
encobertas ou porque os procedimentos pelo próprio fazer, isto é, o reforço é
incluem muitas variáveis de controle, natural. Mas, se, na maioria das vezes,
como a utilização de prompts e são os experimentadores que escolhem o
feedbacks pelo experimentador, ou do comportamento-alvo, como dizer que
reforço contingente à correspondência, esse comportamento é reforçador para os
ou ainda da interação entre duas ou mais participantes? Então, se dizer e fazer são
dessas variáveis. Além disso, a definição mantidos por reforçadores diferentes,
de correspondência varia entre os talvez, então, sugere o autor, deveria-se
estudos: alguns consideram pesquisar a correspondência dizer-dizer
correspondência somente dizer e fazer e fazer-fazer.
(correspondência positiva) e outros Deste modo, Lloyd (2002) e
consideram correspondência também o Karlan e Rusch (1982) apontam direções
não dizer e não fazer - correspondência para futuras pesquisas, tais como:
negativa (Rogers-Warren & Baer, 1976). demonstrar o critério funcional que
defina correspondência ou a sua
Israel (1978) ainda aponta a falha
generalização, identificar critérios para
de alguns estudos basearem-se em
determinar quando o dizer é ou não
porcentagens, pois estas são enganosas
funcional para o fazer, examinar a
porque, por exemplo, se três crianças
possibilidade de que a correspondência
falaram e não fizeram e três crianças não
possa ser controlada por diferentes
falaram e fizeram, os resultados indicam
contingências em condições
que 50% falaram e 50% fizeram, ou seja,
experimentais diferentes, desenvolver
metade das crianças apresentou
correspondência verbal generalizada,
correspondência quando, na verdade,
analisar as condições em que os
nenhuma delas apresentou.
participantes atingem a correspondência
Lloyd (2002) aponta, ainda, e obter medidas de correspondência de
outras falhas metodológicas: se a pessoa linha de base desde a linha de base até o
não faz o que prometeu, não há como o fim do estudo.

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Concluindo, a pesquisa sobre precisam ser investigadas. Esforços nesta


correspondência verbal teve grande direção seriam muito benéficos com
impulso na década de 80, observando-se importantes implicações para a análise do
desinteresse dos pesquisadores pelo tema comportamento nas áreas da saúde,
a partir da década de 90. Entretanto, educação e psicoterapia.
muitas questões a respeito do tema ainda

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Recebido em: 03/10/2007


Aceito para publicação em: 06/08/2009

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