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Tecnologia em Processos Gerenciais

Gestão Ambiental

MEIO TERRESTRE
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Gestão Ambiental
MEIO TERRESTRE

Objetivos da Unidade de aprendizagem


Discutir as principais questões relacionadas ao meio
terrestre e sua influência na gestão ambiental das
empresas, incluindo questões legais e econômicas,
aspectos e impactos ambientais.

Competências
Capacidade de identificar e compreender as consequ-
ências da poluição e degradação do solo na gestão de
uma empresa e os impactos das atividades produtivas
na qualidade desse recurso.

Habilidades
Verificar as exigências legais relacionadas ao uso e
ocupação do solo. Identificar os aspectos e impactos
ambientais envolvidos no setor produtivo e relaciona-
dos à poluição do solo.
APRESENTAÇÃO
Na Unidade de Aprendizagem relacionada ao meio ter-
restre são apresentados conceitos sobre o solo como
meio de suporte a vida, os impactos gerados pelo seu
uso e ocupação, destacando-se a agricultura, mineração
e disposição de resíduos. Os aspectos legais envolvidos
nessas atividades e de particular interesse aos profis-
sionais de processos gerenciais são abordados no final
dessa unidade.

PaRA COMEÇAR
O solo é um importante recurso natural e imprescin-
dível para a vida do homem, pois abriga espécies de
plantas, insetos e micro-organismos, que exercem um
importante papel na produção de alimentos e suporte
para a vida; além de ser um reservatório de água sub-
terrânea. Infelizmente, a história contada nos outros
capítulos se repete aqui, o padrão de consumo e de
desenvolvimento da sociedade contemporânea tam-
bém tem sido o principal responsável pela poluição e
degradação desse importante recurso natural. Mais
uma vez, o uso e a ocupação do solo trazem uma série
de consequências que necessitarão de um enfrenta-
mento pelas instâncias governamentais e pelo setor
produtivo, e terão de ser considerados pelos proces-
sos gerenciais aplicados em nosso país.
Figura 1.  Homem
do campo
cultivando a terra.

Nessa unidade, aprenderemos sobre os impactos da sociedade,


incluindo as cidades, a indústria e o agronegócio, sobre a poluição e
degradação do meio terrestre, além dos aspectos legais relacionados
aos impactos do uso e ocupação do solo.
Embarque nessa viagem!

Fundamentos
1. Solo
O solo tem origem, basicamente, na rocha que, por ação de processos
físicos, químicos e biológicos de desintegração, decomposição e recom-
binação, se transformou, no decorrer das eras geológicas (REICHADT,
TIM, 2004). Os fatores de formação do solo podem ser agrupados em
cinco: o clima, a topografia, os seres vivos, o material de origem (rocha)
e o tempo (OLIVEIRA et al., 1992). Por esse motivo encontramos uma
grande diversidade de solos na natureza, como a areia das praias, os
solos vermelhos do interior do estado de São Paulo, os solos cinzentos
das várzeas entre outros. Pela sua importância para a vida humana o
solo é objeto de estudo de diversos campos do conhecimento, como as
ciências agrárias, geológicas, ambientais, construção civil, saneamento,
ecologia etc. (ESPÍNDOLA, 2008).

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A relação do solo com a vida do homem envolve esse recurso natural
com vários tipos de empreendimentos na sociedade contemporânea,
pois é suporte para a produção agrícola, florestas de espécies nativas e
silvicultura; fonte de matérias-primas minerais para a indústria e cons-
trução civil; reservatório de água subterrânea; depósito de resíduos
sólidos de origem urbana, industrial e agrícola entre outros. Portanto
o solo está intimamente ligado aos processos gerenciais.

2. Impactos ambientais do uso do solo

2.1. Uso agrícola do solo


O agronegócio brasileiro desempenha um importante papel na eco-
nomia brasileira. Segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento (MAPA, 2009) o agronegócio brasileiro foi responsá-
vel, em 2004, por 33% do Produto Interno Bruto (PIB), 42% do volume
das exportações totais e 37% dos empregos brasileiros. Além disso,
estima-se que o PIB do setor, naquele ano, alcançou por volta de US$
180,2 bilhões, ante os US$ 165,5 bilhões alcançados em 2003. Entre 1998
e 2003, a taxa de crescimento do PIB agropecuário foi de 4,67% ao
ano. Já no ano de 2006, as exportações atingiram a marca de US$ 49,4
bilhões e geraram um superávit comercial de US$ 42,7 bilhões (BAR-
ROS; SILVA, 2008). Nesse contexto se insere o solo, pela sua importân-
cia como meio de suporte ao estabelecimento e fonte de nutrientes
para as culturas agrícolas e pastagens.
O maior impacto do uso e manejo inadequado do solo é a erosão
agrícola. Segundo dados obtidos pela antiga Seção de Conservação do
Solo do Instituto Agronômico de Campinas, atualmente Centro de Solos
e Recursos Ambientais, o Estado de São Paulo perde, anualmente, por
efeito da erosão, cerca de 200 milhões de toneladas de terra, o que
representa cerca de 20% da perda sofrida pelo Brasil (BERTONI, LOM-
BARDI NETO, 2005).
O solo carreado com a enxurrada leva os nutrientes das plantas e
degrada a terra, provocando a poluição de rios, lagos e reservatórios;
além da queda na produtividade das áreas agrícolas e prejuízos eco-
nômicos. Para ter uma ideia do impacto econômico da perda do solo,
vamos mostrar um exemplo baseado na abordagem de cálculo dis-
cutida e apresentada por Marques, Pazzianotto (2004). O método se
baseia na estimativa da perda de nutrientes do solo e no cálculo do
custo dos adubos químicos comerciais (sulfato de amônio, superfos-
fato, cloreto de potássio e calcário dolomítico) empregados para a sua
reposição. Vamos resolver o seguinte exercício:

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Calcular o custo econômico da erosão do solo agrícola de uma propriedade
de 200 ha (hectares) produtora de feijão. Considere que a perda anual de solo
associada ao feijão, no estado de São Paulo, é de 38 toneladas por hectare
(Marques, Pazzianotto, 2004). O teor médio de nutrientes no solo do estado
de São Paulo e os coeficientes técnicos de conversão de nutrientes em ferti-
lizantes seguem o recomendado por Marques, Pazzianotto (2004) e apresen-
Tabela 1.  Teores tados nas Tabela 1 e 2.
médios de nutrientes
dos solos do Estado
nutriente teor (%)
de São Paulo.
Nitrogênio (N) 0,096750
Fonte:  Bellinazzi
Fósforo (P) 0,002641
Jr. et.al.,1981,
Potássio (K) 0,010058
apud Marques,
Cálcio e Magnésio (Ca+Mg) 0,094872
Pazzianotto, 2004.

relação kg
Tabela 2.  Coeficientes teor médio de de fertilizante/kg de
técnicos de conversão elemento fertilizante nutriente (%) nutrientes

de nutrientes em N Sulfato de Amônio 20% 5,00


fertilizantes. P Superfosfato simples 18% 5,56
Fonte:  Bellinazzi K Cloreto de Potássio 58% 1,72
Jr. et.al.,1981, Ca+Mg Calcário Dolomítico 38% 2,63
apud Marques,
Pazzianotto, 2004.

Solução:

passo 1. Cálculo da perda de solos da área produtora (S) em tone-


ladas (t):

S = 8 × 200  t  × h = 7600 t


h

passo 2. Cálculo da quantidade de nutrientes perdida (utilize os


dados da Tabela 1):

a. Perda de nitrogênio (PN) em toneladas (t):

Pn = 7600 ×  0,09675  = 7,3 t


100

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b. Perda de fósforo (PP) em toneladas (t):

Pp = 7600 ×  0,002641  = 0,20 t


100

c. Perda de potássio (PK) em toneladas (t):

Pk = 7600 ×  0,010058  = 0,76 t


100

d. Perda de cálcio e magnésio (PCa+Mg) em toneladas (t):

PCa+Mg = 7600 ×  0,094872  = 7,21 t


100

passo 3. Cálculo da quantidade de adubo químico industrializado


necessário para repor as perdas anuais de nutrientes (utilize os dados
da Tabela 2):

a. Quantidade anual necessária de Sulfato de Amônio (Q1) em tone-


ladas (t):

Q1 = 7,35 × 5 = 36,8 t

b. Quantidade anual necessária de Superfosfato Simples (Q2) em


toneladas (t):

Q2 = 0,20 × 5,56 = 1,12 t

c. Quantidade anual necessária de Cloreto de Potássio (Q3) em tone-


ladas (t):

Q3 = 0,76 × 1,72 = 1,31 t

d. Quantidade anual necessária de Calcário Dolomítico (Q4) em


toneladas (t):

Q4 = 7,21 × 2,63 = 19,0 t

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passo 4. Cálculo do custo da erosão (CR):

Para resolver essa etapa do exercício apresentamos o preço de alguns


adubos químicos industrializados, levantados em maio de 2010:
Preço do Sulfato de Amônio (P1): R$ 360,00 a tonelada;
Preço do Superfosfato simples (P2): R$ 300,00 a tonelada;
Preço do Cloreto de Potássio (P3): R$ 900,00 a tonelada;
Preço do Calcário Dolomítico (P4): R$ 24,50 a tonelada.
4
CR =  ∑ Qn × Pn 
n=1  

 Q1 × P1 + Q2 × P2 + Q3 × P3 + Q4 × P4 


=

 36,8 × 360 + 1,12 × 300 + 1,31 × 900 + 19 × 24,50


=

CR = R$ 15,208,00

Esse é o valor que o empresário rural terá de investir para repor os


nutrientes perdidos somente pela erosão, o que aumentará o seu
custo final de produção, além da degradação ambiental, por meio da
poluição dos recursos hídricos.
Os governos estaduais e federal incentivam a criação de programas
para a conservação e o uso do solo, como forma de reduzir os impac-
tos ambientais da agricultura. Na instância federal tem-se o Programa
Nacional de Microbacias Hidrográficas e Conservação de Solos na Agri-
cultura (PNMH).
O PNMH visa o desenvolvimento rural de forma integrada e susten-
tável, tendo a microbacia hidrográfica como unidade de planejamento e
a organização dos produtores como estratégia para promover a melho-
ria da produtividade agrícola. Além do uso de tecnologias adequadas
sob o ponto de vista ambiental, econômico e social. (MAA, 2007).

conceito
“As microbacias são unidades geográficas naturais onde os fato-
res ambientais, econômicos e sociais encontram-se em condições
homogêneas e por isso, mais apropriadas para o estabelecimento

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de planos de uso e manejo, monitoramento e avaliação das inter-
ferências humanas no meio ambiente.” (MAA, 2007)

Quem quiser saber mais sobre erosão e seus impactos do uso do


solo recomendamos a leitura de Medeiros et al. (2003), Medeiros et al.
(2009a) e Daniel (1990).

2.2. Mineração
O setor de mineração e transformação mineral (metalurgia e não metá-
licos) brasileiro, apresentou um faturamento total de US$ 108 bilhões,
em 2009, segundo dados preliminares divulgados pelo Ministério de
Minas e Energia – MME (MME, 2010). As exportações da produção mine-
ral, nesse mesmo ano, atingiram US$ 15,1 bilhões, o que representa
9,9% das exportações brasileiras (MME, 2010). Portanto esse é um setor
estratégico para a economia brasileira.
Nesse contexto, mais uma vez, se insere o solo, pela sua importân-
cia como reserva de minérios. Para se ter uma ideia da importância da
produção de minérios, a produção de areia e brita, utilizadas no setor
de construção civil, atingiram 279 e 217 milhões de toneladas respecti-
vamente, em 2007 (LA SERNA, REZENDE, 2009).
Almeida (2008) aponta como principais impactos do setor de mine-
ração a céu aberto e subterrâneo os danos à vegetação, ao ar, às águas
superficiais e subterrâneas, à fauna, solo e às populações. Segundo
esse mesmo autor, a norma que rege o setor mineral é o Código de
Mineração, instituído pelo Decreto-Lei 227, de 1967. Em 1989 foi ins-
tituída, por meio do Decreto 97,632, a exigência do Plano de Recu-
peração de Áreas Degradadas (PRAD) para os empreendimentos de
extração mineral já implantados e aqueles em fase de licenciamento
ambiental. No ano de 1990 foram lançadas as Resoluções Conama 9
e 10 específicas para o setor, as quais regulamentam a necessidade
de apresentação de documentação para o licenciamento da atividade,
como o Estudo de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto de Meio
Ambiente (EIA-RIMA).

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Figura 2.  Vista aérea
de área de mineração
a céu aberto em
Carajás, Pará.

2.3. Atividades de usos e ocupação do


solo, potencialmente poluentes
Desde a década de 1970, a contaminação do solo tem despertado
grande preocupação nos países industrializados da Europa e América
do Norte. No Brasil esse problema ambiental tem-se tornado mais evi-
dente e de proporções maiores nas regiões metropolitanas das gran-
des cidades, como São Paulo.
No estado de São Paulo a Cetesb é a responsável pelas ações de
controle ambiental, a qual desenvolve projeto específico dentro do
tema Áreas Contaminadas com apoio da Deutsche Gesellschaft für
Technische Zusammenarbeit (GTZ) da Alemanha.
A contaminação do solo se dá pela disposição de materiais poluen-
tes ou contaminantes, de origem física, química ou biológica. Esses
poluentes podem concentrar-se no solo, nos sedimentos, nas rochas,
nos materiais utilizados para aterrar os terrenos, nas águas subterrâ-
neas, além de paredes, nos pisos e nas estruturas de construções.
Uma das atividades potencialmente poluentes do solo refere-se à
sua utilização para a disposição de resíduos sólidos e efluentes líqui-
dos gerados pelos segmentos urbanos, industrial e rural da sociedade.
Essa prática, se realizada sem os cuidados necessários, pode vir a pro-
vocar a contaminação do solo e da água.
O Brasil gera diariamente aproximadamente 228.413 toneladas
de lixo, os quais são dispostos, principalmente, em áreas de lixões,
como o de Vargem Grande do Sul, seguido dos aterros controlados

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e dos aterros sanitários (IBGE, 2002). Tal prática leva a uma série de
impactos ambientais, como a poluição do solo, das águas superficiais
e subterrâneas, do solo e do ar, conforme verificado por diversos auto-
res (MEDEIROS et al., 2008a; MEDEIROS et al. 2008b; MEDEIROS et al.,
2009b; MEDEIROS et al., 2009c, Beli et al., 2005).
No estado de São Paulo, a disposição inadequada do lixo é um dos
principais problemas ambientais contemporâneos. Nesse estado, a
Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental do Estado de
São Paulo (Cetesb) avalia as áreas de disposição de lixo baseada no
índice de qualidade de resíduos (IQR), o qual leva em conta critérios
relacionados às características do local, à infraestrutura implantada e
às condições operacionais do aterro.
Baseado nesses aspectos, o inventário estadual de resíduos sólidos
domiciliares, apontou cerca de 78 municípios do estado de São Paulo
com valores de IQR inferiores a 6, no ano de 2007, caracterizando-os
como aterros não controlados ou lixões (Cetesb, 2008). Devido a atua-
ção da Cetesb, o relatório de 2009 revelou uma melhora significativa nas
condições da disposição do lixo no estado de São Paulo, pois revelou
uma redução no número de lixões para um total de seis (Cetesb, 2010).

Figura 3.  Exemplo


de aterro sanitário.

Aterros industriais clandestinos são uma prática nefasta ao meio


ambiente e coibida em todo o Brasil. Um exemplo trágico desse tipo
de prática é o Aterro Mantovani, no município de Santo Antonio da
Posse – SP, considerado pela Defensoria da Água como o pior caso de

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contaminação ambiental do país. Essa degradação ambiental envolveu
cerca de 60 empresas, que depositaram 326 mil toneladas de resíduos
tóxicos, como borras oleosas, de forma inadequada, contaminando o
solo e a água subterrânea (COSTA, 2008). Entre os contaminantes cons-
tatados pela Cetesb, num dos poços de água subterrânea, tem-se a
presença de 1,2 dicloroetano, substância organoclorada que pode cau-
sar câncer. Cerca de 48 das 60 empresas assinaram, em 2008, um novo
aditamento ao Termo de Compromisso (TC) com o Ministério Público
Estadual (MP) se comprometendo a adotar uma série de medidas de
curto prazo para conter o eventual avanço da contaminação e que cus-
tará R$ 2,65 milhões (COSTA, 2008).
As áreas contaminadas no estado de São Paulo apresentam uma
cronologia que demonstra a importância do papel fiscalizador de
órgãos como a Cetesb. Em maio de 2002 a Cetesb divulgou a existência
de 255 áreas contaminadas no estado de São Paulo. Pouco mais de um
ano depois, em outubro de 2003, esse número quase triplicou, alcan-
çando 727 áreas. Em novembro de 2004, já se contabilizavam 1.336
áreas contaminadas e, no último relatório divulgado, em novembro de
2009, o total de ocorrências de sítios contaminados alcançou 2.904. Tal
crescimento deve-se à ação rotineira de fiscalização e licenciamento
dos postos de combustíveis, das fontes industriais, comerciais, de tra-
tamento e disposição de resíduos.
As Unidades de Gerenciamento de Recursos Hídricos (lembram-se
da UA 03?) com maior número de ocorrências de contaminação do
solo correspondem ao Alto Tietê e Piracicaba-Capivari e Jundiaí, com
1.335 e 435 áreas contaminadas respectivamente.
Os postos de combustíveis destacam-se na lista divulgada pela
Cetesb, em novembro de 2009, com 2.279 registros (79% do total),
seguidos das atividades industriais com 382 (13%), das atividades
comerciais com 123 (4%), das instalações para destinação de resíduos
com 96 (3%) e dos casos de acidentes e fonte de contaminação de
origem desconhecida com 24 (1%), conforme pode ser visualizado na
figura a seguir:
A contribuição de 79% do número total de áreas registradas atri-
buída aos postos de combustíveis é resultado do desenvolvimento do
programa de licenciamento que se iniciou em 2001, com a publicação
da Resolução Conama 273, de 2000. Os principais grupos de poluen-
tes encontrados nas áreas contaminadas foram: solventes aromáticos,
combustíveis líquidos, hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (PAHs),
metais e solventes halogenados.

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Figura 4.  Registros acidente / fonte desconhecida
resíduo
de contaminação
3% 1%
de solos por fonte
comercial
poluidora no estado
4%
de São Paulo, em
indústria
novembro de 2009
13%
Fonte:  adaptado
posto de combustível
de Cetesb, 2010.
79%

A fonte mais frequente de contaminação do solo corresponde aos pos-


tos de combustíveis com 79% das ocorrências, em segundo lugar, a
indústria com 13%, em terceiro o comércio com 4%, em quarto resíduo
com 3% e por último acidentes com 1%.

3. LEGISLAÇÃO, PROGRAMAS, PLANOS, POLÍTICAS E CONVENÇÕES


RELACIONADAS AO USO E OCUPAÇÃO DO SOLO

3.1. Lei 4.771, de 15/8/ 1965, conhecida como Código Florestal


A Lei 4.771/65 estabelece normas que garantem a preservação das flo-
restas, porém com efeitos positivos para a biodiversidade, recursos
hídricos e solo. Essa lei estabelece a conceituação de área de preser-
vação permanente que corresponde a uma fração de terra protegida,
coberta ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de
preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica,
a biodiversidade, o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e
assegurar o bem-estar das populações humanas. Consideram-se de
preservação permanente as florestas e demais formas de vegetação
natural situadas:

→→ Ao longo dos rios ou de qualquer curso d’água desde o seu nível


mais alto;
→→ Em faixa marginal cuja largura mínima será estabelecida em função
da largura do curso d’água;
→→ Ao redor das lagoas, lagos ou reservatórios d’água naturais ou
artificiais;
→→ Nas nascentes, ainda que intermitentes e nos chamados olhos
d’água, qualquer que seja a sua situação topográfica, num raio mínimo
de 50 (cinquenta) metros de largura;

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→→ No topo de morros, montes, montanhas e serras;
→→ Nas encostas ou partes destas, com declividade superior a 45°;
→→ Nas restingas, como fixadoras de dunas ou estabilizadoras de
mangues;
→→ Nas bordas dos tabuleiros ou chapadas, a partir da linha de ruptura
do relevo, em faixa nunca inferior a 100 metros em projeções horizontais;
e em altitude superior a 1.800 metros, qualquer que seja a vegetação.

3.2. Decreto-Lei 227, de 28/2/ 1967, conhecido


como Código de Mineração
Esse decreto-lei estabelece que compete à União administrar os
recursos minerais, a indústria de produção mineral e a distribuição, o
comércio e o consumo de produtos minerais. Estabelece os regimes de
aproveitamento das substâncias minerais, classifica as jazidas minerais
e as minas.

3.3. Decreto Federal 94.076, de 5/3/ 1987


O Decreto 94.076/87 institui o Programa Nacional de Microbacias Hidro-
gráficas (PNMH), sob a supervisão do Ministério da Agricultura. O refe-
rido decreto visa promover um adequado aproveitamento agropecuário
dessas unidades ecológicas, mediante a adoção de práticas de utiliza-
ção racional dos recursos naturais renováveis. São objetivos do PNMH:

→→ Executar ações voltadas para a prática de manejo e conservação


dos recursos naturais renováveis, evitando sua degradação e objeti-
vando um aumento sustentado da produção e produtividade agrope-
cuárias, bem como da renda dos produtores rurais;
→→ Estimular a participação dos produtores rurais e suas organizações
nessas ações e promover a fixação das populações no meio rural, redu-
zindo os fluxos migratórios do campo para cidade.

3.4. Resoluções do Conselho Nacional


do Meio Ambiente – Conama

Resolução Conama 273 de 29/11/2000


Essa resolução dispõe sobre a obrigatoriedade de prévio licenciamento
do órgão ambiental referente à localização, construção, instalação,
modificação, ampliação e operação de postos revendedores, postos de
abastecimento, instalações de sistemas retalhistas e postos flutuantes
de combustíveis. Estabelece a obrigatoriedade da avaliação de conformi-
dade, no âmbito do Sistema Brasileiro de Certificação, dos equipamentos

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e sistemas destinados ao armazenamento e a distribuição de combustí-
veis automotivos, assim como sua montagem e instalação.

Resolução Conama 420, de 28/12/2009


Essa resolução dispõe sobre critérios e valores orientadores de quali-
dade do solo quanto à presença de substâncias químicas e estabelece
diretrizes para o gerenciamento ambiental de áreas contaminadas por
essas substâncias em decorrência de atividades antrópicas. Portanto,
fica estabelecido, por essa resolução, o gerenciamento do solo para
uso e remediação de áreas degradadas, para todo o território nacional.

Gestão Ambiental  /  UA 05  Meio Terrestre 15


antena
parabólica
Os problemas vistos para o solo nesse capítulo são
o reflexo de um padrão de desenvolvimento que se
baseia na apropriação dos recursos naturais, sem a
preocupação com as consequências ou os impactos
gerados. Deslizamentos de terra em áreas de encosta
ocupada por residências; bairros construídos sobre
áreas de lixão; contaminação do solo e água subter-
rânea com resíduos industriais e lixo urbano; degra-
dação da terra pela erosão agrícola e atividades de
mineração são algumas dessas consequências e
impactos do uso e ocupação do solo. Aos poucos esse
quadro vai mudando, graças a uma mobilização cada
vez maior da sociedade, por meio da elaboração de
uma legislação ambiental, da mudança de hábitos de
consumo, de um desenvolvimento tecnológico que
melhore a eficiência do uso dos recursos naturais, de
um crescimento e aparelhamento dos órgãos de con-
trole, do zoneamento territorial etc. Nesse contexto,
mais uma vez, a sociedade necessitará de gestores
comprometidos com o desenvolvimento, conscientes
dos impactos da tecnologia sobre a economia, socie-
dade e meio ambiente. Contamos com vocês para
esse desafio.

E agora, José?
Você lembra das Unidades de Aprendizagem 03 e 04,
quando tratamos dos problemas da água e da atmos-
fera? Lembra-se das relações que estabelecemos
entre os problemas dos recursos hídricos e atmosfé-
ricos com a gestão empresarial? Tudo se relacionava
ao padrão de consumo e desenvolvimento adotados
pela sociedade contemporânea. Será que podemos
incluir os problemas do solo e estabelecer a mesma
relação causa e efeito? Pelo que falamos até aqui fica
claro que sim. Será que paramos por aqui? Acesse a
próxima aula na qual abordaremos sobre um outro
problema gerado pelos hábitos de consumo do
homem moderno vida do homem, o lixo. Você já viu
quanto lixo gerou hoje?
Espero por você na próxima Unidade!

Atividades
As atividades dessa unidade preveem o desenvolvi-
mento da capacidade de identificar e compreender as
consequências da poluição e degradação do solo na
gestão de uma empresa e os impactos das atividades
produtivas na qualidade desse recurso. Bom trabalho!
Glossário
Avaliação de risco: processo pelo qual são iden- Investigação detalhada: etapa do processo
tificados, avaliados e quantificados os riscos de gerenciamento de áreas contaminadas,
à saúde humana ou a bem de relevante inte- que consiste na aquisição e interpretação
resse ambiental a ser protegido; (Resolução de dados em área contaminada sob inves-
Conama 420/09). tigação, a fim de entender a dinâmica da
Avaliação preliminar: avaliação inicial, rea- contaminação nos meios físicos afetados e a
lizada com base nas informações históri- identificação dos cenários específicos de uso
cas disponíveis e inspeção do local, com o e ocupação do solo, dos receptores de risco
objetivo principal de encontrar evidências, existentes, dos caminhos de exposição e das
indícios ou fatos que permitam suspeitar da vias de ingresso.
existência de contaminação na área; (Reso- Monitoramento: medição ou verificação, que
lução Conama 420/09). pode ser contínua ou periódica, para acom-
Bens a proteger: a saúde e o bem-estar da popu- panhamento da condição de qualidade de um
lação; a fauna e a flora; a qualidade do solo, meio ou das suas características.
das águas e do ar; os interesses de proteção à Nível Tolerável de Risco à Saúde Humana,
natureza/paisagem; a infraestrutura da orde- para Substâncias Carcinogênicas: proba-
nação territorial e planejamento regional e bilidade de ocorrência de um caso adicional
urbano; a segurança e ordem pública. de câncer em uma população exposta de
Contaminação: presença de substância(s) 100.000 indivíduos;
química(s) no ar, água ou solo, decorrentes Nível Tolerável de Risco à Saúde Humana,
de atividades antrópicas, em concentrações para Substâncias Não Carcinogênicas:
tais que restrinjam a utilização desse recurso aquele associado ao ingresso diário de con-
ambiental para os usos atual ou pretendido, taminantes que seja igual ou inferior ao
definidas com base em avaliação de risco à ingresso diário tolerável a que uma pessoa
saúde humana, assim como aos bens a pro- possa estar exposta por toda a sua vida
teger, em cenário de exposição padronizado Remediação: uma das ações de intervenção
ou específico. para reabilitação de área contaminada, que
VI - Fase livre: ocorrência de substância ou pro- consiste em aplicação de técnicas, visando a
duto imiscível, em fase separada da água. remoção, contenção ou redução das concen-
Investigação confirmatória: etapa do processo trações de contaminantes
de identificação de áreas contaminadas que Reabilitação: ações de intervenção realizadas
tem como objetivo principal confirmar ou não em uma área contaminada visando atingir
a existência de substâncias de origem antró- um risco tolerável, para o uso declarado ou
pica nas áreas suspeitas, no solo ou nas águas futuro da área.
subterrâneas, em concentrações acima dos Risco: é a probabilidade de ocorrência de
valores de investigação. efeito(s) adverso(s) em receptores expostos a
contaminantes.

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