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PORTUGUÊS 8º ANO

LEITURA

Lê o texto. Se necessário, consulta as notas de vocabulário.

Vida de marinheiro Aspetos do dia a dia


O navio é, por muito tempo, a casa do marinheiro, o seu abrigo e o meio através do qual ele
chega aos lugares mais distantes. Mas é má casa, pior albergaria1 e péssimo viajante para quem
a ele não está acostumado. Quem nele tem necessidade de viajar, seja para fazer comércio,
para ir à guerra ou para emigrar, sofre desconfortos e provações a que nem sempre resiste.
5 A já de si dura vida a bordo complicava-se nas viagens oceânicas, vulgares a partir do século
XVI, onde se passavam largas jornadas no mar sem sequer vislumbrar2 terra. A alimentação era
má e insuficente, as roupas estavam permanentemente húmidas, as doenças e as maleitas 3
eram vulgares e perigosas. A relativa fragilidade das embarcações tornava-as extremamente
vulneráveis perante a fúria dos elementos. Era vital o bom funcionamento dos mecanismos de
10 solidariedade profissional4. Todos tinham tarefas bem definidas a cumprir. Mestres, pilotos

servem à proa) deveriam funcionar e


infiltrada, fazer a limpeza da nave, cuidar de cordas e velas e manobrar o navio contavam-se
entre as suas obrigações.
15 Já se disse que a comida era má. Equipagem 5 e passageiros, estes à sua custa, alimentavam-
-se sobretudo de biscoitos, carne e peixe salgados, vinho e água. Algumas conservas,
marmelada e compotas melhoravam significativamente a dieta, mas eram muito raras. O calor,
a humidade, o imperfeito acondicionamento e a demora da jornada provocavam a deterioração
dos géneros tantas vezes devorados e contaminados pelos ratos e bicharada. As condições de
20 higiene eram precárias; as roupas, de fraca qualidade, húmidas e quase nunca despidas,
proporcionavam o campo ideal para o desenvolvimento de parasitas, de infeções e de doenças
tantas vezes fatais. O estado sanitário dos tripulantes podia agravar-se com as escalas em zonas
tropicais, com a ingestão de águas estagnadas e a picada de inúmeros insetos.
O alojamento era deficiente. E não era só o desconforto que preocupava; muitas vezes esse
25 espaço era partilhado com gente de quem se podia desconfiar, gente a contas com a lei, a
caminho do degredo. Apenas o mestre ou o capitão e alguns passageiros especiais possuíam
cabines individuais, as câmaras, à popa6.
Nestes termos, era difícil manter o moral e a disciplina. O descontentamento e a
desobediência agravavam-se principlamente nas alturas em que os elementos7 ameaçavam o
30 navio. Eram momentos de grande incerteza e ocasiões para pôr à prova o ânimo dos
embarcados. Nessas alturas, mais do que nunca, o mareante recorria à fé e à oração.
heiro. Aspetos do quotidiano das g
in Estudos em Homenagem a Luís António Oliveira Ramos. FLUP, 2004, pp. 249-263 (com supressões).

VOCABULÁRIO:
1
hospedaria: casa onde alguém se hospeda.
2
vislumbrar: ver de forma imperfeita.
3
maleita: mal-estar ou doença sem gravidade.
4
solidariedade profissional: refere-se às obrigações e deveres que os marinheiros deveriam cumprir de forma
solidária e equilibrada.
5
equipagem: tripulação do navio.
6
popa: parte traseira de um navio.
7
elementos: neste contexto refere-se a todas as forças da natureza que podiam ameaçar a embarcação: ventos,

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1. Para cada item, escolhe a opção que completa corretamente as afirmações que se seguem,
de acordo com o texto.

1.1. No primeiro parágrafo, afirma-se que as dificuldades associadas a uma viagem


marítima passam
(A) pela ameaça das situações aflitivas ao conforto da tripulação.
(B) pela ausência de comodidades e pelas situações difíceis vividas.
(C) pelas situações causadoras de sofrimento e pelos perigos de guerra.
(D) pela inexistência de locais de comércio e pela falta de conforto.

1.2. A alimentação dos marinheiros e passageiros era composta sobretudo por


(A) peixe que era pescado, carnes salgadas, água e vinho.
(B) vinho e água, biscoitos, carne e peixe salgados.
(C) marmelada, vinho e água, carne e peixe salgados.
(D) peixe, compotas, carne, vinho e água.

1.3. A partir da descrição feita, podemos afirmar que, em geral, as condições de higiene
dos navios eram
(A) insatisfatórias e perigosas.
(B) reduzidas e desmedidas.
(C) diversificadas mas fatais.
(D) insuficientes mas inofensivas.

2. Completa a tabela com os aspetos analisados no texto para descrever as condições de vida
a bordo de um navio.

Condições de vida a bordo de um navio


(a) (b) (c)
Qualidade da
Alimentação _______________ _____________ ______________
embarcação

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PORTUGUÊS 8º ANO
EDUCAÇÃO LITERÁRIA

Lê o excerto de A Saga, de Sophia de Mello Breyner e consulta as notas de vocabulário.

A Saga
O mar do Norte, verde e cinzento, rodeava Vig, a ilha, e as espumas varriam os rochedos
escuros. Havia nesse começo de tarde um vaivém incessante 1 de aves marítimas, as águas
engrossavam devagar, as nuvens empurradas pelo vento sul acorriam e Hans viu que se estava
formando a tempestade. Mas ele não temia a tempestade e, com os fatos inchados de vento,
5 caminhou até ao extremo do promontório2.
O voo das gaivotas era cada vez mais inquieto e apertado, o ímpeto3 e o tumulto cada vez
mais violentos e os longínquos espaços escureciam. A tempestade, como uma boa orquestra,
afinava os seus instrumentos.
Hans concentrava o seu espírito para a exaltação4 crescente do grande cântico marítimo.
10 Tudo nele estava atento como quando escutava o cântico do órgão da igreja luterana5, na
igreja austera6, solene, apaixonada e fria.
Para resistir ao vento, estendeu-se ao comprido no extremo do promontório. Dali via de
frente o inchar da ondulação cada vez mais densa como se as águas se fossem tornando mais
pesadas.
15 Agora as gaivotas recolhiam a terra. Só a procelária7 abria rente à vaga o voo duro.
À direita, as longas ervas transparentes, dobradas pelo vento, estendiam no chão o caule fino.
Nuvens sombrias enrolavam os anéis enormes e, sob uma estranha luz, simultaneamente
sombria e cintilante, os espaços se transfiguravam. De repente, começou a chover.
A família de Hans morava no interior da ilha. Ali, o rumor marítimo só em dias de temporal,
20 através da floresta longínqua, se ouvia.
Mas ele vinha muitas vezes até à pequena vila costeira e, esgueirando-se pelas ruelas,
caminhava ao longo do cais, ao lado de botes e veleiros, atravessava a praia e subia ao
extremo do promontório. Ali, no respirar da vaga, ouvia o respirar indecifrado da sua própria
paixão.
25 Nesse dia, quando ao cair da noite entrou em casa, Hans curvou a cabeça. Pois aos catorze
anos já tinha quase a altura de um homem e, em Vig, as portas de entrada são baixas.
Assim é desde o tempo antigo das guerras quando os invasores que ocupavam a ilha
penetravam nas casas de cabeça erguida mas exigiam que a gente da ilha se curvasse para os
saudar. Então, os homens de Vig baixaram o lintel8 das suas portas para obrigarem o vencedor
30 a baixar a cabeça.
Sophia de Mello Breyner Andersen, Histórias da Terra e do Mar, Lisboa, Texto Editora, 1990, pp. 75-77.

VOCABULÁRIO:
1
incessante: contínuo.
2
promontório: cabo formado por uma elevada montanha.
3
ímpeto: violento.
4
exaltação: louvor, entusiasmo.
5
luterana: relativa ao luteranismo, religião protestante.
6
austera: séria, rígida.
7
procelária: género de aves palmípedes que anunciam a tempestade.
8
lintel: peça, geralmente de madeira ou de pedra, que se coloca horizontalmente sobre as ombreiras de portas ou
janelas.

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1. Descreve o espaço físico onde Hans se encontra no início do texto, com base nas
informações do primeiro parágrafo.
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2. Refere uma atitude de Hans que comprove que ele não temia a tempestade que se
aproximava.
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3. Assinala com X a opção que completa as afirmações.


3.1. Nas linhas 7 e 8, como uma boa orquestra, afinava os seus instrumentos.
significa que
(A) a tempestade ia tocar muitos instrumentos.
(B) a tempestade se preparava para começar.
(C) os sons que a tempestade produzia eram afinados.
(D) o mar estava tranquilo para receber a tempestade.

3.2. Nas linhas 9 a 11, a atitude de Hans revela


(A) indiferença para com a tempestade.
(B) alegria por estar naquele lugar.
(C) respeito pelo que observa.
(D) tristeza pela violência da tempestade.

4. Explicita, com base no texto, a paixão de Hans.


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5. No fim do excerto conta-se uma breve história. O que revela ela sobre a personalidade dos
habitantes de Vig?
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