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Após 2000 anos desde que Jesus esteve entre

nós, estamos nós com a Bíblia, composta por 39


livros no Velho Testamento e 27 no Novo Testa-
mento; como esta Bíblia chegou à nós?

Se hoje você acha complicado compreender a


Bíblia, verá que fica ainda mais complicado en-
tender as idas e vindas na formação dela. Foi
uma verdadeira confusão!

Inúmeros arranjos, discussões ainda maiores;


livros incluídos e outros excluídos e incluídos
novamente depois. Alguns livros jamais foram
unanimidade.

Havia aqueles que concordavam com uma certa


quantidade de livros e aqueles que já aceitavam
outra.

Discussões diversas no decorrer dos séculos, até


que chegamos aqui.

A Verdade Oculta na Formação da Bíblia. Esse é


o nosso tema hoje.
A questão básica é:
O que a Bíblia de fato significa?

Nós temos essa hiper-simplificação, de ter a Bí-


blia nas mãos, e olhar de forma reverente e qua-
se adorativa para a Escritura e a sensação que dá
é que a maioria das pessoas pensa na Bíblia como
uma espécie de arca da aliança remanescente.

A arca foi levada, desapareceu, mas nós temos a


Bíblia, Deus nos deu a Bíblia, aonde temos tudo: o
Maná, a vara de Arão, as Tábuas da Lei e também
uma fotografia de Jesus.

Fechamos a Bíblia… e eis o nosso talismã!

E é impressionante o que podemos identificar


como sentimento das pessoas em relação ao li-
vro, a maioria absoluta realmente crê que a Bí-
blia já chegou pronta.

Elas não tem a menor idéia de como estamos


diante de um caleidoscópio de muitas confu-
sões, durante muitos anos; e isso não começou
com a formação do Novo Testamento, por exem-
plo, a formação do que se chamou de Escritura
Sagrada dos judeus; é algo de uma confusão ex-
traordinária.

As pessoas ficam pensando que aquilo caiu do


céu.

Primeiro os cinco livros do pentateuco, Moisés,


e que depois Deus foi dando aquilo em ordem
e revelação em sequência, tudo organizado por
Deus, e que quando nós chegamos ao período do
Novo Testamento o mesmo processo aconteceu.

E não tinha conclusão mais óbvia nem mais tran-


quila do que fechar o livro com o fim do mundo,
com o Apocalipse.

Agora… a questão é que nunca foi assim!

Os judeus tiveram dezenas de cânones sagrados.

Às vezes os livros de Esdras e Neemias entravam,


às vezes saíam.

Às vezes os textos como o do livro Ester estava


dentro, às vezes não estava dentro.
O Eclesiastes esteve fora algumas vezes do câ-
non sagrado.

Uma quantidade enorme de salmos também


não foram incluídos.

E quando você olha para o tempo em que a reli-


gião diz que tudo isso foi montado e construído
em um período de 1500 anos, dá a impressão de
que organizadamente de tempo em tempo vinha
alguma coisa, mas não foi assim.

Na realidade, do ponto de vista arqueológico, os


textos do pentateuco, é muito provável que eles
tenham sido escritos por alguns escribas, bem
depois de Moisés.

Você encontra argilas, tabletes com mandamen-


tos do Velho Testamento, diversos, mas, a escri-
ta na sequência que nós a temos, ela começa a
acontecer muito posteriormente a Moisés.

A presença do que nós chamamos de Escritura


era uma coisa rara no Velho Testamento, a pon-
to de o livro se perder no templo.
Por anos e anos o livro estava perdido no templo,
esquecido, ninguém sabia onde estava, nenhu-
ma importância era atribuída a ele, foi preciso
que fosse achado e lido, e o Rei concluísse que
tinha importância extraordinária, que não podia
ser esquecida, e que eles precisavam obedecer.

Mas, não era algo como nós imaginamos que


fosse.

Que onde você passasse havia textos da Escritu-


ra sendo lido e uma unanimidade total sobre o
Velho Testamento.

Ao contrário, Israel estava dividido, havia aque-


les que cultuavam realmente, e que diziam que
só o texto escrito em língua hebraica era palavra
de Deus, e havia outros que eram da escola da
septuaginta.

Ou seja, quando setenta anciãos dos judeus re-


solveram traduzir o Velho Testamento para o
grego, de maneira a criar acesso popular à Es-
critura do Velho Testamento, aí a septuaginta
ganhou um espaço de popularização enorme;
chamou-se “septuaginta” porque foi feita e tra-
duzida por setenta pessoas.

Fora a isso, o livro de cantares de Salomão já en-


trou, já saiu, já se brigou dizendo que ele não de-
veria fazer parte jamais, já se o interpretou mui-
to mal.

Há por exemplo, ocasiões em que todos os profe-


tas menores já foram retirados do cânon do Ve-
lho Testamento; durante um período, somente
os chamados profetas maiores foram deixados.

Você tem portanto alterações enormes.

O cânon atual do Velho Testamento hebraico,


do livro dos judeus, muita gente atribui a pre-
valência dele, do jeito que ele acabou ficando, à
uma escolha dos rachimoneus, que a maioria
não sabe nem quem são - é um pessoal de estir-
pe acadêmico-sacerdotal importantíssimo na
história de Israel que viveu antes de Jesus - mas,
mesmo nos dias de Jesus, não era questão fecha-
da que a Escritura judaica fosse exatamente essa
que você tem no Velho Testamento aqui na sua
mão; havia dúvidas, havia escolas rabínicas que
criam também nos textos paralelos, nos textos
pseudo-hepígrafes, nos textos deutero-canôni-
cos; muitos rabinos respeitados, muitas histó-
rias desses outros livros você ouve o eco delas
inclusive no Novo Testamento, nos evangelhos e
nas cartas de Paulo.

Eventualmente, esse texto não incluído na Escri-


tura sagrada dos Judeus, foi produzido naquele
período pós exílico porque esse exílio na Pérsia
mudou completamente a cabeça religiosa e es-
piritual dos judeus.

Foi provavelmente na Pérsia durante aquele pe-


ríodo onde não só nasceu a sinagoga que era um
lugar onde a tradição moral era repetida e o en-
sino considerado pelos rabinos importante, era
falado, a maioria das vezes oralmente repetido,
foi alí que eles desenvolveram uma consciência.

Toda a angeologia do Novo Testamento está pro-


fundamente baseada no conceito sobre anjos,
no livro de Enoque.

E o conceito de céu e de paraíso do terceiro céu,


vem do livro de Enoque, que Paulo cita em I Co-
ríntios 12.
A história em I Coríntios 11 das mulheres de Co-
rinto colocarem véu na cabeça em autoridade,
demonstrarem espiritualmente que estavam
sob os cuidados de um homem para diferencia-
rem-se das prostitutas que desciam Corinto sem
véu na cara, se oferecendo aos homens, e Paulo
disse: “É bom que botem autoridade sobre a ca-
beça”, por causa dos anjos, é uma evocação de
Gênesis 6, dos anjos e as filhas dos homens; está
em I Coríntios 11, de modo que, nesse período in-
tertestamental entre Malaquias e o que a gente
chama de início do período do Novo Testamento
com Jesus, teve uma produção extraordinária de
textos muito respeitados pelos rabinos, mencio-
nados por Jesus não literalmente, mas o espírito
deles mencionado por Jesus, como é o caso de
cada criança ter o seu recíproco nos céus, algu-
mas coisas dessa natureza que Jesus menciona
que são ecos muito nítidos, muito claros do livro
de Enoque, sem falar do: “Hoje mesmo estarás
comigo no paraíso”, era um conceito do livro de
Enoque.

Então, a formação do cânon sagrado do Velho


Testamento sofreu todos esses repuxos para lá
e para cá; nunca houve uma unanimidade abso-
luta durante muito tempo e até os dias de hoje.

Não são todas as escolas que lêem o que a gente


chama de Velho Testamento e diz: “É, cada livro
desses tinha que estar aqui.”

Tem alguma escolas rabínicas em Israel que


acrescenta outros livros que aqui não estão, que
são livros considerados apócrifos por nós, e que
para algumas dessas escolas são os melhores
livros - apócrifo significa “oculto” - são aquelas
escolas de natureza cabalística que acham que a
revelação de Deus acontece no oculto, no escon-
dido, no apócrifo.

Para eles, há uma quantidade enorme de outras


coisas que não constam no que você chama de
Velho Testamento; tem salmos a mais, tem sal-
mos a menos, tem alterações variadas e diver-
sas; isso no Velho Testamento.

Imagine agora, se no Velho Testamento, com a


ideia de tábuas da lei, de Escritura Sagrada, do
não uso do nome de Deus, da não nomeação,
do cuidado de copistas e de escribas para guar-
darem o sentido de todas as coisas, você ainda
encontra toda essa dificuldade interpretativa e
de não concordância no que é inspirado, do que
deve constar e do que não deve constar, imagine
no Novo Testamento onde essa nunca foi a ênfa-
se de Jesus?

Não tem um apóstolo copista!

Andando, registra!

A única vez que você vê uma fala de Jesus incidir


sobre a ideia do registro escrito, é especialmen-
te no evangelho de Marcos, quando a mulher
vem na noite e derrama o bálsamo precioso so-
bre Jesus e Judas se insurge dizendo: “Para quê
se desperdiça toda essa preciosidade que podia
ser vendida e o dinheiro dado aos pobres?” e
Jesus responde: “Não a molesteis. Em verdade
eu vos digo, que aonde quer que este evangelho
seja pregado em toda parte do mundo, o que ela
fez será contado para a memória dela.”

É interessante que Jesus, em uma época que o


registro era tudo, era cultuado, a ponto de que
Jesus diz em João, falando com os escribas e os
fariseus: “Examinais as Escrituras porque jul-
gais ter nelas a vida eterna”. Era uma tentativa
de debulhar para ir ao mistério filológico da re-
velação divina.

Examinais as Escrituras julgando com isso obter


ou conhecer, adquirir a vida eterna, e Jesus diz:
“São elas mesmas que dão testemunho de mim.”

Ele não diz que elas são a palavra de Deus, ele


diz que há um testemunho de Deus viajando por
toda a Escritura dos judeus, se eles quisessem
ver eles veriam, e o testemunho era acerca dele
que era a Palavra.

Agora, veja, “examinais”, ele está falando com


aqueles que escreviam tudo, mas quando se tra-
ta do evangelho, no caso da mulher que fez aque-
le desperdício de bálsamo sobre Ele, com a obs-
tinação e reclamação de Judas, ele diz: “Aonde
quer que este evangelho seja contado”.

A primeira ênfase dele não foi nem “escrita”


nem “lida”,mas onde quer que seja “contado”.
O Evangelho que Jesus estava entregando
era uma narrativa para continuar a ser uma
narrativa para sempre, com a grande força
de que eles tinham que internalizar aquela
palavra e onde quer que chegassem a nar-
rassem.

E ele inclui naquele caso, que é o único caso em


que ele diz, não pode faltar em nenhum evan-
gelho e nenhum anúncio “aonde quer que este
Evangelho do reino for contado, for narrado, for
pregado, isto que ela fez vai ser anunciado”; mas
vejam como a ênfase não era no escriba que es-
creve, é no ser que guarda no coração e na me-
mória, que internaliza; ele é radical na ideia que
naquele dia os mesmos mandamentos não esta-
rão escritos em tábuas, não estarão escritos em
livros, estarão escritos nos corações, que era o
que Deus tinha dito a Jeremias e tinha repetido
a Ezequiel, e Jesus repete a mesma tradição, aon-
de for contado aonde for pregado, aonde for nar-
rado, porque vai estar inscrito no coração e será
proclamado.

Fora a isso você não encontra nenhuma afirma-


ção de Jesus acerca disso, exceto João, falando
por ele mesmo, quando ele diz porque ele escre-
veu o que a gente chama de evangelho de João,
que de fato é uma grande mensagem, uma men-
sagem premiada por sete grandes milagres e
cada um desses milagres se transforma em um
aplicativo da mensagem de Jesus.

O milagre de transformar água em vinho com a


talhas religiosas do templo e logo depois ele ex-
pulsa vendilhões do templo, é uma metáfora ex-
traordinária de como ele tinha vindo trazer não
a religião das liturgias mortas, mas das alegrias,
do transformar água em vinho nas talhas de pe-
dra.

E você vem com o capítulo 3, do Nicodemos,


como se nasce de novo, e toda a conversa dele
para ilustrar aquele pensamento até o capítulo
4 quando acontece o episódio da água, da sede,
da samaritana, e a conversa é sobre o significado
existencial do evangelho, da água da vida.

O capítulo 5 com o paralítico de Betesda; ele


cura o homem e toda conversa que decorre dalí
tem haver com aquilo que aquela cura tinha ilus-
trado sobre obediência, sobre levantar e andar,
sobre não pecar contra a consciência adquirida
para que não aconteça coisa pior.

Depois vem a multiplicação de pães e de peixes,


e a metáfora ilustra o “eu sou o pão da vida”, que
é o que Ele fala a respeito disso recorrentemen-
te.

No capítulo 7 de João tem a festa dos taberná-


culos e o sacerdote jogando água no cântaro de
ouro da esquina do altar e Jesus cita Ezequiel e
levanta na esquina do altar e diz, como diz a Es-
critura: “Quem tem sede vem a mim e beba”, en-
tão prega Ezequiel, fazendo aplicativo acerca do
evangelho e do Espírito Santo que receberiam
aqueles que nele cressem.

No capítulo 8, a prostituta adúltera que será


apedrejada dá todo o ensejo para a conversa so-
bre a piedade mentirosa transformada em ódio
homicida.

No capítulo 9, o cego de nascença, se transfor-


ma na luz do mundo e a história inteira tem ha-
ver com luz e saber e discernir.
O capítulo 10, do bom pastor, todo o aplicativo é
a respeito dessa consequência de quem é o pas-
tor, quem é o enganador, quem é o lobo, o que
pode acontecer se você não tiver discernimento.

Como no capítulo 11, a ressurreição de Lázaro,


“eu sou a ressurreição e a vida” e o que dai vem,
tudo está ligado com o que o poder da ressurrei-
ção provoca para a vida e na intenção de não se
deixar vivo quem consegue ressuscitar mortos.

Capítulo 12, o que pode acontecer com aquele


que foi filho do milagre, como Lázaro, e todos
agora querem matá-lo.
No capitulo 13, ele lavando os pés aos seus discí-
pulos, e ele diz: “compreendeis o que eu vos fiz?”

Capítulo 14 em diante tudo tem haver com o “eu


vou partir.”

Capítulo 15, “ Vocês só vão sobreviver vincula-


dos a mim”.

Capítulo 16, “Não se sintam órfãos, eu vou en-


viar o Espírito Santo.”
Capítulo 17, “ eu intercederei por vocês para que
vocês sejam um, para que vocês aprendam que o
único testemunho de poder da história humana
é que vocês tenham amor uns pelos outros”.

Capítulo 18, narrativas finais, o aprisionamento,


a tortura e a morte, e então a ressurreição dos
mortos.

Então, o Evangelho de João é uma grande men-


sagem, sem nenhuma preocupação narrativa do
ponto de vista da cronologia de Jesus, mas ele
mesmo conclui dizendo: “Estas foram algumas
coisas que Jesus fez, que eu transcrevi com um
objetivo de lhes passar uma mensagem, para
que saibais que Jesus é o Cristo, o filho de Deus,
e para que crendo, tenhais vida em seu nome.”

No entanto, se tudo que Jesus fez e ensinou fosse


escrito em livros, para João era uma missão im-
possível; ser o historiador de Jesus, se tudo que
Jesus ensinou fosse transcrito, nem no mundo
inteiro caberiam os livros, pois teria que se es-
crever sobre a vida dos milhões de seres huma-
nos que ele afetou.
Então Jesus sobe aos céus e depois o pentecos-
tes aconteceu, e os discípulos deveriam sair para
pregar o evangelho mas não fazem isso, e co-
meça a narrativa do Atos dos Apóstolos, escrito
por Lucas, companheiro de Paulo, que entra em
Atos 16, dirigindo-se de Trôade indo para Bitínia,
mas o Espírito não permitiu então mudaram o
trajeto, e Lucas diz pela primeira vez: “Então nós
partimos”, usando o plural pela primeira vez na
narrativa de Atos.

Daí em diante Lucas vira testemunha ocular, e


posteriormente escreve seu evangelho.

Paulo, a primeira coisa que escreve é a primei-


ra carta aos Tessalonicenses, que foi um dos pri-
meiros grupos que ele visitou e para o qual pre-
gou, e querendo fortalecê-los na fé, ele mandou
uma carta em um período em que todo cristão
cria que Jesus ia voltar em sua geração, por isso
a primeira epístola de Paulo é tão cheia dessa
expectativa, da volta de Jesus para aqueles dias e
para aquela hora, pois todos viviam com essa ex-
pectativa intensa de que Jesus voltaria nos seus
dias.
Mas Jerusalém foi destruída, o povo foi disperso,
o templo foi demolido, os apóstolos morreram,
e bateu uma depressividade extraordinária na
igreja, uma sensação de derrota absoluta, e Flá-
vio Josefus - um grande historiador da história
humana - decidiu contar toda a história dos he-
breus escrevendo-a em Grego para acesso em
um ambiente Greco-Romano; e ele é responsa-
bilizado por ter sido um dos maiores introduto-
res do nome de um certo Cresto, que na trans-
literação foi errado, de um certo Cristo, que ele
diz que viveu entre nós e narra, em um parágra-
fo curto, sobre esse certo Cresto e seus discípu-
los e a certeza que eles tinham de que Ele havia
ressuscitado dentre os mortos e que essa fé não
parava de crescer.

E então, no século II, o último texto a ser incor-


porado, o livro do Apocalipse, e ainda assim não
foi incorporado de cara, ao que os cristãos que
vieram depois dos primeiros apóstolos consi-
deravam texto inspirado, ouve muito disputa do
primeiro século, porque havia muita filosofia
gnóstica, batalhando contra o texto que alguns
já tinham produzido, a saber, Cartas de Paulo, o
evangelho de Marcos,Mateus,Lucas,João,e Apocalipse.
Mas havia a primeira epístola universal de João,
a segunda e a terceira, e o bilhete de Paulo a Fi-
lemon; tudo isso, a maioria queria deixar de fora.

A terceira epístola de João ninguém compreen-


dia porque estava alí.

E estava por uma circunstância, porque as pes-


soas precisavam que houvesse uma bronca sa-
grada, como João o faz, dizendo daquele indiví-
duo que estava no meio deles, criando divisão,
então foi usado para que em toda divisão aquilo
fosse aplicado, mas era uma circunstância ecle-
siológica mais do que uma revelação divina.

Por isso havia grupos que diziam que não deve-


ria estar ali.

Ou a segunda epístola de João, que muitos acha-


vam que poderia ficar de fora.

A primeira epístola não, pois convergia para um


fato de que Deus era amor, verdade, justiça e luz,
e um sermão para os gnósticos, especialmente
porque havia duas grandes versões gnósticas e
uma delas não queria que a luz fosse equivalente
à justiça, verdade e pureza; queria que a luz fosse
apenas um conhecimento desvinculado da prá-
tica da verdade e da justiça no mundo presente.

Então, para combater os gnósticos João era ma-


ravilhoso.

Houve dúvidas e dúvidas em alguns grupos so-


bre se deixavam a carta aos Romanos, aos Gála-
tas porque espantava aos judeus; eram aqueles
Cristãos que queriam fazer média com o judaís-
mo e achavam que Gálatas não devia constar em
um corpo de Escritura cristão.

A epístola aos Hebreus foi questionada porque


desconstruía o templo e o sacerdócio, tornavam
poeira, e havia grupos cristãos judaizantes que
achavam que aquilo não devia ser jamais uma
Escritura cristã, porque ela desconstruía total-
mente o judaísmo.

Assim como por exemplo, durante a reforma


protestante Lutero queria deixar Tiago do lado
de fora porque não compreendia bem; também
o Apocalipse, assim também havia aqueles que
no primeiro século não entendiam o que Paulo
dizia aos Romanos, não entendiam a ponto de
Pedro ter que dizer depois em suas cartas que
havia certas coisas que Paulo escrevia que eram
difíceis de entender, as quais, os instáveis e cor-
rompidos de mente deturpam para própria per-
dição deles.
Escrevendo aos Romanos Paulo usa um argu-
mento retórico, ele coloca negações na boca do
inimigo fabricado para ele responder de modo
retórico os argumentos que vinham dali, de que
Paulo era um concessivo.

E assim por diante, uma quantidade enorme.


Você conseguiria conceber discussão a respeito
da eliminação desses textos?

Estavam sendo discutidos pelos pais da igreja,


homens santos, da patrística, gente cultuada e
reverenciada na história da igreja.

Alguns dos chamados grandes heréges da his-


tória da igreja foram os primeiros a propor um
cânon do Novo Testamento uniforme, tão uni-
forme quanto esse que está aí de 27 livros.

Nomes como Marcião, que é completamente in-


tolerado pela igreja, e foi o que disse: “Esses es-
tão de bom tamanho, os 4 evangelhos”.

Outro foi Orígenes, abominado, mas chegou com


os 27 que estão aí hoje; chegou à conclusão de
que eles faziam sentido, de que deveriam estar.

Mas, boa parte do que está nessa Bíblia veio do


édito de Constantino.

E alguém diz: “deve ter sido Deus que trouxe do


céu”.

Não, foi Constantino que mandou e ele pagou


caro para chegarem a uma conclusão, onde o
que prevaleceu foram os escribas de preferên-
cia hebraica do texto do Velho Testamento e os
que eram de preferência do texto de natureza
grega do Novo Testamento, com a composição
de Marcião.

O que vem daí para frente, como por exemplo


Papa Clemente, mostra como a Escritura não
tinha valor algum, ele se dedicava mais às deu-
tero-escrituras, as coisas que iam sendo produ-
zidas, muitas vezes produzidas pelo pensamento
doutrinário da igreja do que pela Escritura. Ele
sabia algumas citações de Jesus e algumas de
Paulo, achava Paulo importante, que deveria fi-
car na Escritura por causa da importância dele,
de Jesus ele sabia citar algumas verdades, mas
não tinha muito conhecimento de muitas ou-
tras coisas.

Isso é uma ilustração dos tempos e das épocas.

Por isso quando você chega em um cara com o


volume e a densidade de compreensão de pen-
samento teológico e filosófico como Agostinho,
parece que você encontra com um sol no meio
daquela estupidez teológica e de conhecimento
bíblico de todos os lados.

Tomás de Aquino nadou de braçada no meio da-


quele idade das trevas da loucura total.

Mas antes, era apenas confusão; e o significado e


a interpretação de Jesus tinha que caber em uma
espécie de conciliação a partir da mediação e da
metodologia hermenêutica de Aristóteles, que a
igreja acabou adotando.
O Velho e o Novo Testamento tinham que ser ob-
jeto de uma conciliação, de uma harmonização,
não importasse qual fosse a ginástica para se
chegar lá. Foi por isso que antes disso, surgiram
aquelas correntes como a que Orígenes repre-
sentava que dizia que havia uma discrepância
irreconciliável entre o Deus do Velho e do Novo
Testamento, e ainda mais, que Jesus tinha sido
enviado para acabar com o Deus do Velho Tes-
tamento porque ele não era Deus, e foi por causa
disso entre outras coisas que ele vira herege.

O que eu quero é mostrar que o que você tem


como óbvio, não é tão óbvio assim, não veio pron-
to de lugar nenhum, e nem hoje essa Bíblia é a
mesma para todos os cristãos.

Os cristãos da igreja russa, tem textos e subtra-


em textos do que eles chamam Bíblia.

A mesma coisa para os grupos cópticos no Egito,


tem coisas que subtraem e coisas que acrescen-
tam.

Em várias outras ocasiões na história humana,


a composição do que você chama Bíblia variou,
com presenças, ausências, acréscimos e retira-
das, de modo que o que você, na sua santa re-
verência, chama de Bíblia Sagrada, e está certo,
porque sagrado é aquilo que o homem crê e se-
para do uso comum, mas essa Bíblia Sagrada se
transformou, na visão poética e imaginária dos
cristãos, em uma coisa que veio voando e caiu na
terra, e nós pensamos que foi assim, como uma
mágica.

Mas não, foram inúmeras disputas.

Alguns dos livros entraram em preferência e


outros em censura, por causa de que filosofia
grega estava mais presente subjacentemente na
comunidade e como, na maioria das vezes, era o
gnosticismo de mistério ou gnosticismo de as-
cetismo, ou gnosticismo dualista, que diz que o
que se faz no corpo não tem consequência sobre
a pureza do espírito, então dependendo do gnos-
ticismo prevalente, algumas cartas de Paulo fo-
ram suspensas por um tempo daquela comuni-
dade, assim como por exemplo a carta de Paulo
aos Laodissenses mencionada na carta aos Co-
lossenses, ela foi recriada um século depois, uma
pseudo epígrafe em nome de Paulo, bastante fle-
xível ao pensamento gnóstico, diferente da carta
aos colossenses e da carta que Paulo enviou aos
Laodissenses.

A mesma coisa você pode dizer dos cristãos ju-


daizantes que queriam agradar os judeus; de-
pendendo da conjuntura, queriam manter certo
tipo de informação; como também houve aque-
les que quiseram incluir textos do segundo sé-
culo e início do terceiro século, que tinham sido
produzidos por seitas cristãs gnósticas no Egito;
ou na Àsia menor.

Era interesse, não inspiração divina.

Eu acho interessante que os dois grandes here-


ges da história da igreja, foram os que trouxeram
a maior contribuição para a formação do cânon
sagrado do Novo Testamento, que é o que nós te-
mos.

Marcião e Orígenes, os dois grandes hereges


que não se pode nem mencionar.

Para mim, que sou homem do século 21, não sin-


to falta de nada; eu agradeço o fato de ter tido
essa coletânia que é fruto de todas as confusões
que vocês possam imaginar.

Mas conhecendo todos os livros que ficaram


de fora, de um lado e do outro e tendo estes que
estão aqui, de um lado e do outro, se você per-
guntar: “tem livro que se for tirado fará uma fal-
ta brutal?”; eventualmente eu te digo que não,
com toda a sinceridade, ninguém vai morrer por
não ler Ester.

Ou por exemplo, a epístola de Judas, é uma cópia


da segunda epístola de Pedro, e é uma resenha
do livro de Enoque, é uma sinopse do livro de
Enoque.

Claro que por mim, nada sai.

Não está dito em segunda Pedro que o Arcanjo


Miguel quando contendia com Satanás a respei-
to do corpor de Moisés, não ousou proferir con-
tra Satanás juízo infamatório, antes disse: “O Se-
nhor te repreenda, Satanás”, a mesma fórmula
que você encontra em Zacarias?

Mas ninguém ia morrer por não saber disso,


nada disso salva a gente, nada disso perde a gente.
Perguntando ao meu Pai o que ele guardaria da
Bíblia se não pudesse ficar com ela, se tivesse
que jogá-la fora, ele me respondeu: “Acho que,
para mim, bastava o “porque Deus amou o mun-
do de tal maneira, que deu seu Filho unigênito
para que todo aquele que nele crê não pereça,
mas tenha a vida eterna”, o resto é texto.

O que nós temos aqui na Bíblia é a melhor ver-


são do testemunho que indica a soberania de
Deus na história, trazendo e manifestando seu
Filho ao mundo, com todas as suas informações
importantes e essenciais a serem aplicadas no
todo da existência.

Link do artigo na wikipedia sobre o Cânon do


Novo Testamento:
https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Desenvolvi-
mento_do_c%C3%A2none_do_Novo_Testamen-
to

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