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MÓDULO COMPLEMENTAR
APONTAMENTOS SOBRE
O NOVO CÓDIGO CIVIL
Lei n. 10.406/02
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DIREITO CIVIL
Apontamentos sobre o novo Código Civil
Lei n. 10.406/02
1. ESCLARECIMENTOS PRELIMINARES
O novo Código Civil, após longos anos de trâmite pelas casas do Congresso
Nacional, vem suprir antigas exigências de reformulação de nossa legislação civil, há
muito dissonante, inclusive das regras constitucionais a respeito das relações de cunho
privado, e apresenta não só mudanças de fundo em relação aos temas que dispõe, mas
também mudanças tópicas na disposição dos assuntos de sua competência, em seu texto
tratados.
Promove a unificação parcial do Direito Privado, uma vez que agrega a seu texto
todas as disposições acerca da constituição e extinção de sociedades, no capítulo
denominado “Direito Empresarial”, trazendo ao sistema jurídico pátrio a positivação da
teoria da empresa, e de todos os seus consectários, todavia, auxiliado pela Lei n. 6.404/76 e
suas recentes alterações, que trata das Sociedades por Ações, e permanece válida. Ressalta-
se que a unificação não se deu de modo total, pois a matéria Comércio Marítimo, tratada
em livro específico do Código Comercial, permanece vigente.
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• O novo Código Civil não contém mais disposição preliminar, por não
considerar mais importante a divisão do direito em Direito Público e Direito
Privado.
• A expressão “todo homem” do atual artigo 2.º é substituída pela expressão “toda
pessoa”, que é mais abrangente e mais próxima da nomenclatura utilizada pela
lei.
• Nota-se no novo diploma civil, nos artigos 3.º e 4.º, o tratamento dos incapazes
de forma evolutiva, partindo da incapacidade absoluta, que passa a ter somente
três classes, à incapacidade relativa. Segundo o artigo 2.º do novo código, o
nascituro permanece titular de direitos eventuais, subordinados à condição
suspensiva traduzida no seu “nascimento com vida”, determinada no artigo
como o momento de início da personalidade. Os representantes continuam
capacitados a tomar as medidas necessárias à proteção dos direitos eventuais do
nascituro (artigo 130). Registra-se que, em relação às emendas à nova parte
geral, em trâmite no Congresso, de autoria da doutrinadora Maria Helena Diniz,
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• A maioridade se inicia aos 18 anos (artigo 5.º, “caput”). Desta feita, os pais só
responderão pelos atos ilícitos dos filhos menores; por sua vez, as vítimas
poderão acionar somente os autores do ilícito quando estes forem maiores de 18
anos.
• Antes, quando o agente de um ilícito tinha até 21 anos, a vítima poderia acioná-
lo, bem como aos seus pais. Era melhor para a vítima (artigo156 do Código
Civil).
• Com o novo Código Civil, só os pais podem ser acionados quando menores de
18 anos cometerem atos ilícitos, mas se os responsáveis não têm bens, ou não
têm a obrigação de fazê-lo, pode-se voltar contra o incapaz (artigo 928). Assim,
a responsabilidade dos menores do novo Código Civil é subsidiária e mitigada.
• A emancipação pode ocorrer a partir dos 16 anos e não mais a partir dos 18
anos, porém, só pode ocorrer por escritura pública, diferente do sistema
anterior.
• O novo Código Civil não contempla mais, de forma expressa, o dispositivo que
vedava a “restitutio in integrum”, que é previsto pelo artigo 8.º do atual Código
Civil. O texto do Código Civil de 1916 não confere proteção integral ao
incapaz, impossibilitando o desfazimento de qualquer negócio jurídico válido e
regular que o envolva, simplesmente pelo fato de envolvê-lo. O novo sistema
presume a impossibilidade de proteção integral, todavia não traz a vedação
expressa em seu texto.
3.1.3. Personalidade
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• A nova lei, em seu artigo 16, contempla o direito a todo ser humano de ter nome
e sobrenome, consagrando assim a expressão coloquial “sobrenome”, e
preterindo, por conseqüência, a expressão técnica “patronímico”, ou apelido de
família, há muito utilizada pela legislação civil, notadamente na Lei de
Registros Públicos.
• A vida privada das pessoas alcança proteção judicial preventiva e repressiva, não
só com o direito a reparação, mas também com direito a medidas judiciais que
venham a tolher lesões iminentes, conforme reza o artigo 21 do novo Código
Civil.
• Ponto polêmico é a restrição imposta pelo texto do artigo 62, parágrafo único, do
novo código, às finalidades para as quais as fundações podem ser criadas
(assistenciais, culturais, morais e religiosas somente). Ficará a cargo da doutrina
a interpretação deste dispositivo, em razão de suas amplas possibilidades de
entendimento.
• A nova lei, apesar de não reproduzir em seu texto a regra que dispõe ter a pessoa
jurídica personalidade distinta dos seus membros, adota tal princípio de forma
integral, notadamente em razão da instituição da “desconsideração da
personalidade jurídica” (artigo 50, interpretado a contrariu sensu), adotando,
inclusive, critério subjetivista em relação aos atos que possibilitam sua
aplicação, conforme o texto do dispositivo, atribuído ao jurista Fábio Konder
Compartatto.
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• Em relação aos atos jurídicos lícitos, que não sejam negócios jurídicos, dispõe o
artigo 185 do novo diploma que aplicar-se-ão, no que couberem, as disposições
referentes aos negócios jurídicos, por haver necessidade de respeito à natureza
jurídica daqueles.
• Em relação aos defeitos dos negócios jurídicos, eles passam de cinco para seis
vícios, pois houve a exclusão da simulação das causas de anulabilidade (elevada
à causa de nulidade), e a previsão dos defeitos denominados “lesão” e “estado
de perigo”.
a) A simulação
b) A lesão
c) O estado de perigo
Quanto à sua validade, três teorias se opõem: uma delas exige a efetividade do
negócio, em razão do brocardo “pacta sunt servanda”; outra, pugna pela
anulabilidade do negócio, se requerida; terceira e intermediária, oriunda da
doutrina italiana, prevê a anulação somente se a obrigação for excessivamente
onerosa, pois, se não houver excesso patente, o negócio se cumpre, e a decisão
sobre ser excessiva ou não a obrigação é do juiz, notadamente quando a
solicitação for realizada com o fim de salvar terceiro que não da família do
contratante (parece ser a teoria adotada pelo texto legal).
• O novo código amplia o instituto do erro (artigo 139, inciso III) ao permitir
expressamente que também o erro de direito leve à anulação de determinado
negócio jurídico, desde que, com a anulação, não haja a intenção de descumprir
a lei, uma vez que, com esse fim, a lei não pode ser afastada (ignorantia legis
neminem escusat).
3.5. Prescrição
• Atendendo ao consagrado entendimento doutrinário, o novo diploma, no artigo
189, determina que prescrição não é a perda do direito de ação, mas a perda da
pretensão atribuída ao autor de direito violado, de vê-lo reparado ou protegido.
• O artigo 206, § 3.o, inciso V, do novo Código Civil dispõe que prescreve em 3
anos a pretensão da reparação civil de danos, sejam eles materiais e/ou morais.
• O artigo 200 do novo Código Civil traz o que a jurisprudência já entendia acerca
da não-incidência da prescrição, relativa a ato originado em processo penal, até
o trânsito em julgado da respectiva sentença.
• Não esquecer de observar o artigo 2.028 do novo Código Civil que, ao tratar das
disposições finais transitórias, determina a utilização dos prazos do Código
Civil de 1916 aos atos praticados sob sua égide, quando o novo diploma traz
prazo reduzido, ou já correu mais da metade do prazo previsto na lei revogada.
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• O Livro I, das obrigações, teve seu texto elaborado pelo eminente jurista
Agostinho de Arruda Alvim, que integrou a comissão revisora e elaboradora do
projeto de 1972.
• A estrutura básica do livro das obrigações foi mantida, de forma que não trouxe
o novo Código Civil modificações profundas a ponto de assustar o exegeta do
direito; sendo assim, vejamos: nenhuma alteração trouxe o Código Civil com
relação às obrigações de dar. Quer nas coisas certas, quer nas incertas.
• No Título II, que trata da transmissão das obrigações, o novo sistema apresentou
um único efeito, estabelecendo que o cessionário pode exercer os atos próprios
de conservação do direito cedido, independentemente do conhecimento da
cessão do devedor (artigo 293).
• O novo Código Civil, ao tratar dos juros legais, deixou de falar em 6 % ao ano
(artigo 1.062) passando a falar nos juros fixados por lei, ou fixados segundo a
taxa que estiver em vigor para mora do pagamento de impostos devidos à
Fazenda Nacional (artigo 406).
• No que diz respeito às arras, apresentou a redação do artigo 419 uma novidade
quando determinou que a parte inocente pode pedir indenização suplementar, se
provar maior prejuízo, valendo as arras como taxa mínima. A parte inocente
pode exigir, ainda, a execução do contrato com as perdas e danos, valendo as
arras como o mínimo da indenização.
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5.1. Contratos
• A teoria geral dos contratos passa a ser disciplinada de outra forma pelo novo
Código Civil, estando os princípios, antes apenas implícitos, agora explícitos no
novo diploma.
• O instituto da promessa de fato de terceiro, que só era tratado pelo artigo 929 do
Código Civil, determinando apenas a responsabilidade do promitente quando o
terceiro não executa o prometido, tem agora sua disposição modernizada pelos
artigos 439, parágrafo único, e 440, ao determinar que o promitente não tem
responsabilidade se o terceiro for o cônjuge, que não anuiu no ato cujos efeitos
venham a recair sobre os bens do casal em razão do regime adotado. Também
não há obrigação para aquele que se compromete por outrem, se o
comprometido, depois de dar sua palavra, faltar à prestação. É o caso da pessoa
se responsabilizar pela prestação de serviço de um determinado cantor,
afiançando que este comparecerá no ato. Caso o próprio cantor expressamente
se comprometa, libera o promitente e se responsabiliza pessoalmente pela
obrigação.
• No que diz respeito aos vícios redibitórios, o novo Código Civil apenas
modernizou o instituto no que diz respeito aos prazos. O antigo prazo de 15
dias, contados da tradição, para bens móveis, passou agora para 30 dias, e já não
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• A resolução por onerosidade excessiva, que até então só era prevista no Código
de Defesa do Consumidor, vem expressamente tratada no artigo 478 do novo
Código Civil, retroagindo os efeitos até a data da citação.
• Estabelece o novo Código Civil, nos artigos 521 a 528, a venda com reserva de
domínio já nos moldes do sistema atual.
• O novo Código Civil cria a figura do contrato estimatório. Nessa relação jurídica
o consignatário recebe do consignante bens móveis, ficando autorizado a vendê-
los, obrigando-se a pagar um preço estimado previamente se não restituir as
coisas consignadas dentro do prazo ajustado. É modalidade de contrato real,
pois só se ultima com a entrega da coisa ao consignatário, conservando, o
consignante, a propriedade, até que seja vendida a terceiro pelo consignatário. A
diferença do contrato consignatório para a compra e venda está no fato de que a
tradição do bem móvel consignado não transfere a propriedade.
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• Sobre o mandato judicial, estabelece o novo Código Civil que o mesmo fica
subordinado às normas processuais, e só supletivamente ao Código Civil (artigo
692).
• A partir do capítulo IX, o novo Código Civil passa a incorporar alguns contratos
mercantis. O primeiro contrato incorporado é o contrato de comissão, previsto
pelo Código Comercial, nos artigos 165 a 190. O contrato é tratado,
basicamente, como na legislação mercantil. Os artigos 710 a 721 tratam do
contrato de agência e distribuição, em que uma das partes assume a obrigação,
sem caráter eventual e empregatício, por conta da outra parte, e mediante
remuneração, da realização de certos negócios, tratando-se expressamente de
distribuição quando a parte tiver à sua disposição a coisa a ser negociada.
• De acordo com o artigo 888, caso o título de crédito não contenha algum dos
requisitos mínimos necessários, exigidos pelo artigo 889 do Código Civil, que
poderiam torná-lo nulo, de forma alguma ataca esta nulidade o negócio
ensejador do título.
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• O artigo 897 trata do instituto do aval, que é garantia cambiária que visa
assegurar pagamento de letra de câmbio ou nota promissória. Uma declaração
cambial escrita na própria cártula, assumindo o subscritor uma obrigação
solidária, garante o pagamento de uma dívida pecuniária. Por óbvio, o aval só
pode se referir ao valor total do débito consignado. O aval deve ser dado de
maneira expressa no verso ou anverso do título. O avalista se equipara ao
emitente ou devedor final.
• Conforme o artigo 902, o credor não tem obrigação de receber pagamento antes
do vencimento do título de crédito. Apenas quando o título vence é que o credor
não pode se recusar a receber, sob pena de incidir em mora. Caso o título sofra
pagamento parcial, muito embora o devedor não tenha direito à entrega da
cambial, terá direito a uma quitação separada e a uma outra firmada no próprio
título, consignando o quantum pago.
• No que se refere ao dano moral, o artigo 186 do novo Código Civil o menciona,
agora expressamente, tornando-se condizente com as disposições
constitucionais; todavia, tal previsão ainda é insuficiente, ficando a cargo da
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• A obrigação de indenizar por ato ilícito vem prevista no artigo 927 do novo
Código Civil.
• O artigo 188, inciso II, do novo Código Civil, acrescenta como hipótese de
exclusão de responsabilidade, em razão de configurar estado de necessidade, a
“lesão a pessoa”. De acordo com o sistema anterior, a previsão legal era restrita
a lesões a coisas, devendo a lesão às pessoas ser acolhida em razão de decisões
jurisprudenciais.
• O pai não tem ação regressiva contra o filho se este for absoluta ou
relativamente incapaz (artigo 934). Se o filho for capaz, poderá o ascendente
mover a referida ação fundada no direito de regresso.
6. DO DIREITO DE EMPRESA
De acordo com a doutrina, ainda incipiente, em que pese haver grande parcela de
juristas pugnando pela não-entrada em vigor do novo Código Civil, que unifica os sistemas
Civil e Comercial, mesmo com a patente diversidade de objetivos (apoiando-se na
confissão de Vivante, a respeito do erro por ele cometido na Itália, ao unificar os sistemas
Civil e Comercial, trinta anos depois da unificação), outra parte admite a sua futura
vigência, deixando claro que há necessidade de correções. Nesse passo, nota-se a
existência de coerência entre alguns princípios de nosso desenvolvimento econômico e os
princípios adotados pela comissão do Dr. Miguel Reale, quando da redação do projeto do
novo código, em sua parte comercial, a saber:
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• A maior alteração trazida pelo novo Código Civil foi a introdução da teoria da
empresa. O Código Comercial, nesta parte derrogado pela nova lei, adota a
teoria dos atos do comércio, ou seja, o comerciante é identificado de acordo
com o ato que pratica; dessa forma, o prestador de serviços não é considerado
comerciante.
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• O Decreto n. 3.708/19 será revogado pelo novo código que,por meio dos artigos
1.052 a 1.087, passa a regular este tipo societário.
• São fontes de normas da sociedade por quotas o novo Código Civil e o contrato
social. É permitido ao contrato social indicar uma terceira forma normativa
subsidiária, a saber, as regras que regem as sociedades simples. Atualmente, o
artigo 18 do Decreto n. 3.708/19 diz que a Lei das Sociedades por Ações é
aplicada subsidiariamente; sendo revogado, haverá aplicação subsidiária da Lei
das Sociedades Anônimas somente por expressa disposição das partes no
contrato social.
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Perfil Objetivo
- Perfil Subjetivo
- Perfil Corporativo
- Perfil Funcional
Os direitos inerentes aos sócios das limitadas ficam regulados no texto do novo
código da seguinte forma:
• A convocação deve ser realizada por meio de anúncio a ser publicado no Diário
Oficial do Estado e jornal de grande circulação por no mínimo 3 vezes. Entre a
data do 1º anúncio e a da realização da assembléia, em 1ª convocação, devem
decorrer no mínimo 8 dias. Caso não haja quórum (de ¾) para instalação, a
segunda convocação deve ter 5 dias de antecedência, senão, tudo o que se
deliberar será nulo de pleno direito (qualquer que seja a sociedade, não é
possível a convocação de segunda assembléia para o mesmo dia). Salienta-se
que esta formalidade pode não valer para a reunião de sócios; serão aplicadas
caso o contrato social seja omisso a respeito.
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• Pelo Decreto n. 3.708/19, o gerente presta contas quando deixa o cargo, salvo se
o contrato social estipular periodicidade; fora desse período, as contas somente
podem ser prestadas judicialmente; o novo Código Civil altera tais disposições,
trazendo a periodicidade.
nesse prazo (60 dias), o capital social poderá ser subscrito por terceiros, se o
contrato permitir ou os sócios remanescentes autorizarem, caso contrário não se
aumenta o capital social.
• Outra inovação do Código Civil é a adoção da teoria ultra vires: uma sociedade
não se responsabiliza pelos atos praticados pelo administrador, em nome da
empresa, em desacordo com seu objeto social. Até então não era aplicada; o
terceiro prejudicado deveria requerer perdas e danos perante a sociedade e esta
se ressarcia em regresso do sócio.
• Dispõe o artigo 1.015 do novo Código Civil que, se a sociedade limitada estiver
sujeita ao regime suplementar aplicável às sociedades simples, ela não
responderá pelos atos praticados em seu nome e que forem evidentemente
estranhos ao seu objeto social (definição legal da teoria acima referida).
• Por outro lado, caso seja aplicável em caráter suplementar a Lei n. 6.404/76, a
sociedade sempre responderá perante terceiros, com possibilidade de
ressarcimento. Em síntese: há a opção de adotar as regras subsidiárias da Lei
das Sociedades Anônimas, afastando a aplicação desta teoria. Desta feita,
confrontam-se dois princípios, a saber, o da adstrição ao objeto social, e a
teoria “ultra vires”. No Brasil, há clara aceitação da adstrição ao objeto inicial
que, por conseguinte, deve ser determinado. Todavia, com a adoção da teoria
“ultra vires”, o objeto tem sido ampliado, nos países que a adotam, uma vez que
o mercado faz exigências de garantia àqueles que contratam com as empresas
para que não haja, nem mesmo hipoteticamente, a preterição do terceiro de boa-
fé, o que acaba por desnaturar o instituto.
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7.1.1. Usucapião
• O novo Código Civil traz a figura da Usucapião e a figura da “desapropriação
privada”. O novo Código Civil fala em ‘a’ usucapião, como palavra feminina,
devendo esta ser a acepção utilizada.
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Com a entrada em vigor do novo Código Civil, prevista para o dia 11.01.2003,
surgem dúvidas sobre qual lei deve ser aplicada, para que se estabeleça o prazo da
prescrição aquisitiva (usucapião). Para a dúvida, aponta-se a seguinte solução: se na data
da entrada em vigor da nova lei já correu mais da metade do prazo, aplica-se a lei velha. Se
tiver corrido menos da metade do prazo, aplica-se a lei nova.
• Assim, quem estiver há 9 anos na posse , vai faltar-lhe-ão 6 anos para usucapir
(para completar 15 anos, de acordo com a lei nova), e a pessoa que estiver há 11
anos na posse levará 9 anos para usucapir (para completar 20 anos, de acordo
com o código antigo). A doutrina considera, com razão, uma verdadeira
injustiça tal previsão, e neste ponto critica o novo Código Civil (artigo 2.028).
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• Uma grande diferença com a enfiteuse é que no direito de superfície não poderá
ser estipulado pelo concedente, a nenhum título, qualquer pagamento pela
transferência deste a terceiros, a exemplo do laudêmio exigível na enfiteuse.
7.3.1. Características
• É um direito real: deve haver registro no Cartório de Registro de Imóveis (artigo
1.369). Mais uma vez, o novo Código Civil prestigia a escritura pública, como
forma de prestigiar a publicidade dos direitos reais e torná-lo oponível erga
omnes.
• Perempção: direito de preferência (artigo 1.373). Caso haja venda sem a devida
preferência, caberá ação anulatória, no prazo de 6 meses a partir do registro da
transferência. O direito de preferência é conferido tanto ao proprietário como ao
superficiário.
Mesmo que o contrato não possua a previsão de indenização, esta deve ocorrer em
rescisões antes do prazo, porque não pode haver enriquecimento ilícito, sem causa, de
acordo com a principiologia do sistema civil (artigo 1.375).
8. DIREITO DE FAMÍLIA
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Antes, esse ramo era tratado no Livro I da Parte Especial. No novo Código Civil será
disciplinado no Livro IV da nova parte especial.
• Artigo 1.517 – Por meio das disposições deste artigo, iguala-se a idade núbil,
que agora é de 16 anos, tanto para mulher quanto para o homem. Assim, tal
dispositivo tem o fim de proteger a maturidade sexual dos nubentes. Entre 16 e
18 anos, é necessário autorização para o casamento, a ser fornecida pelos pais,
ou mesmo pelos guardiões dos menores, e em caso de recusa injustificada,
pode-se pedir ao juiz que supra a autorização. Entende-se tal autorização como
revogável até a celebração do casamento. Por fim, observa-se que a autorização
para o casamento é diversa da autorização para a celebração do pacto
antenupcial, prevista no artigo 1.654 do novo diploma.
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• Não existe mais a hipótese do artigo 183, inciso VII, que previa a
impossibilidade de casamento entre o cônjuge adúltero com o seu co-réu, por tal
condenado; assim, as sanções decorrentes do instituto do adultério, na seara
civil, restringem-se a efeitos internos, ocorrentes na separação.
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• Nos termos do artigo 1.539, nos casamentos realizados com a presença do oficial
em casos de urgência, em razão de moléstia grave de um dos nubentes, o
número de testemunhas necessário é de 2 pessoas, que saibam ler e escrever
(antes era 4).
I – Quando não possuem os nubentes a idade núbil (16 para homem e mulher). O
Código prevê o prazo de 180 dias para anular o ato. Contados para o menor, a partir dos
16 anos e para o representante, a partir da celebração.
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* Houve pelo novo texto legal a previsão de outro erro essencial à pessoa do outro
cônjuge, no artigo 1557, inciso IV, qual seja, a ignorância pelo outro cônjuge, de doença
mental grave que torne insuportável a vida em comum, assim entendida como psicopatia,
depressão, neurose, psicose maníaco-depressiva, todavia, fora da questão volitiva, do
discernimento, uma vez que esta é denominada enfermidade mental, e é causa de nulidade
do ato, nos termos do artigo 1.548, inciso I.
• O artigo 1.565, § 1.º, determina que qualquer dos nubentes pode acrescer ao seu,
o sobrenome do outro. Assim, a regra tradicional de a mulher acrescer somente
os apelidos de família do marido resta revogada, em razão da modificação dos
costumes.
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• O § 2.º do artigo acima descrito, por sua vez, determina, em consonância com as
disposições do artigo 227, § 7.º, da Constituição, ser o planejamento familiar
uma livre decisão do casal, todavia, deve a doutrina e o aplicador da lei orientar
que se atenda, sempre que possível, aos princípios do texto constitucional a
respeito da família e da criança.
• O artigo 1.566 trata dos deveres recíprocos a serem observados pelos cônjuges.
Além da manutenção dos deveres já existentes no texto legal de 1916, exige,
agora de modo expresso no inciso V, o respeito e consideração mútuos.
• O casamento putativo, tratado no artigo 1.561, tem por base o princípio da boa-
fé. Assim, o casamento nulo ou anulável produz efeitos relativos ao cônjuge que
o contraiu de boa-fé, e mesmo que ambos estivessem de má-fé, no caso de
haver filhos desse casamento, em relação a estes, surte todos os seus efeitos.
Ressalte-se que o cônjuge de má-fé não herda dos descendentes e não adquire
pátrio poder, que no novo código é denominado poder familiar, conforme
oportunamente se verá.
• De acordo com o texto do artigo 1.572, não existe mais a expressão “conduta
desonrosa” como causa de anulação de casamento. Todavia, esta permanece no
texto do artigo 1.573 como fato gerador da impossibilidade da vida em comum.
• O artigo 1.574 reduz o prazo de casamento exigido para que seja possível a
separação consensual: agora se exige apenas um ano de casados (antes eram 2
anos).
• O artigo 1.581 determina que o divórcio pode ser concedido sem que haja
partilha dos bens, trazendo para o texto legal o entendimento que já havia sido
sumulado pelo Superior Tribunal de Justiça, no enunciado de número 197.
• Em relação à proteção aos filhos, determinada nos artigos 1.583 a 1.590, a nova
regra geral confere amplo poder de decisão ao juiz, para que possa determinar a
melhor medida a bem dos filhos (artigo1.586). Afasta-se, como regra, o critério
materno para conferir guarda de crianças, bem como ficam afastadas, a priori,
as regras sobre culpa, preexistência de guarda de fato, entre outras. Não
podendo o menor ficar com os pais, o juiz deve se utilizar dos critérios do
parentesco, da afinidade e da afetividade, para determinar a quem será conferida
a guarda do menor, conforme determina o parágrafo único do artigo 1.584.
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• Determina o artigo 1.595 que a união estável gera vínculo de parentesco por
afinidade. Apesar de tal inovação, tal previsão, apesar de não ser inócua, possui
efeitos diminutos, uma vez que o parentesco por afinidade continua a não gerar
a obrigação alimentar.
8.9. Filiação
As principais modificações se deram com o fito de adaptar o novo código às regras
anteriormente previstas na Constituição Federal e no Estatuto da Criança e do Adolescente.
Fica em destaque a não-distinção entre filhos.
• A presunção pater is est quem nuptian demonstrant, relativa aos filhos nascidos
na constância do casamento, resta reforçada no texto do novo diploma (artigo
1.597), de acordo com os critérios de coabitação, tempo de nascimento e
possibilidades técnicas.
• A partir da vigência do novo texto, o pátrio poder passa a ser designado “poder
familiar”. O conteúdo do poder familiar, bem como seus deveres, em regra são
os mesmos que já vinham sendo observados. Notam-se modificações em sede
da data na qual estará extinto o poder familiar pela maioridade (18 anos), em
relação às regras relativas ao prazo de suspensão do poder familiar, que poderá
durar indefinidamente, à possibilidade de levantamento da perda do poder
familiar a bem do menor, e à falta de técnica que permanece na redação do
artigo 1.637, parágrafo único, que não especifica as hipóteses de prisão em que
tal poder pode ser suspenso, o juiz competente para a aplicação, a natureza de
tal efeito, se civil ou secundário da sentença penal, etc.
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• Com o fito de preservar a harmonia do lar conjugal, prevê o artigo 1.611 que o
filho havido fora do casamento e reconhecido por um dos cônjuges só poderá
morar na mesma residência do casal com autorização do outro.
• O texto do artigo 1.641 traz a regra da separação legal obrigatória para todos os
cônjuges que tenham 60 anos ou mais, independentemente do sexo, como forma
de garantir o princípio da isonomia.
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• O artigo 1.647 trata dos atos que, para validade, exigem a anuência do outro
cônjuge. Esses atos de disposição patrimonial passam a ter sua prática permitida
sem a anuência do outro cônjuge quando entre eles vigorar o regime da
separação absoluta dos bens. Esta é a novidade (o artigo 235 do Código Civil de
1916 exige a anuência, qualquer que seja o regime de bens). Em relação ao aval,
resta prejudicada a discussão a respeito da exclusão ou não da meação do
cônjuge que não o prestou, em caso de execução, uma vez que, mesmo sendo
instituto do direito cambiário, regido pelo princípio da autonomia, para prestar
aval agora é necessária a anuência do outro cônjuge.
• A anulação dos atos praticados sem a anuência do outro cônjuge, quando esta for
devida, tem prazo de 2 anos, conforme determina o artigo 1.649. Antes, o prazo
era de 4 anos (artigo 178, § 9.º, do Código Civil de 1916)
• O juiz pode determinar, de acordo com o § 3.º, que somente um dos cônjuges
permaneça na administração dos bens.
8.11. Alimentos
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• Em relação aos alimentos devidos aos filhos havidos fora do casamento, a lei
confere a possibilidade de o filho, já na ação de investigação de paternidade,
requerer alimentos provisionais. Na verdade, estes alimentos possuem
verdadeiro caráter provisório, e são denominados provisionais simplesmente
para que o juiz possa concedê-los de forma mais ampla, inclusive para o custeio
do trâmite da ação de investigação em que são solicitados o reconhecimento da
paternidade e os referidos alimentos. Com efeito, o juiz, mesmo de ofício, pode
conceder os alimentos provisórios na sentença.
• Ao cônjuge culpado pela separação e sem aptidão para o trabalho, se não tiver
parentes, é possível a concessão, pelo juiz, de alimentos naturais, que deverão
ser pagos pelo ex-cônjuge não culpado, nos termos do artigo 1.704, parágrafo
único. Há na doutrina, com acerto, quem vislumbre flagrante injustiça nesta
previsão.
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8.12.1. Introdução
O bem de família passa a ser tratado no direito de família, Livro IV, artigo 1.711 do
novo Código Civil. Antes era tratado no artigo 70 do Código Civil de 1916, constante,
portanto, da parte geral.
O bem de família é o bem imóvel objeto de resguardo para que sirva de moradia à
família, portanto, não responde em face de dívidas existentes, mesmo em caso de
insolvência.
8.12.2. Requisitos
São requisitos para a instituição do bem de família:
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O artigo 1.712 do novo Código Civil fala em pertença. Denomina-se pertença uma
espécie de bem móvel inexistente no regime do Código de 1916. São bens que, não
constituindo partes integrantes de imóveis, se destinam, de modo duradouro, ao uso, ao
serviço ou ao aformoseamento de outro. É prevista em substituição aos extintos bens
imóveis por acessão intelectual (artigo 93 do novo Código Civil).
Os valores dos bens móveis não poderão exceder o valor do prédio instituído como
bem de família, conforme dispõe o artigo 1.713 do novo diploma.
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8.12.3. Efeitos
• Determina o artigo 1.715 que o bem de família é isento de execução por dívidas
posteriores à sua instituição, salvo as que provierem de tributos relativos ao
prédio ou de despesas de condomínio, o que já era admitido como exceção pelo
Superior Tribunal de Justiça e, em relação ao bem de família compulsório, pela
Lei n. 8.009/90. Portanto, o primeiro efeito é a impenhorabilidade. O artigo fala
em tributo, e a referida expressão deve ser interpretada restritivamente. Assim,
se a pretensa penhora for proveniente da inadimplência relativa a taxas de
limpeza de logradouros, por exemplo, não será admitida, em razão de ser, de
acordo com a maioria doutrinária, verdadeira tarifa, preço público.
• O imóvel sob o qual se institui o bem de família não poderá ter destinação
diversa de moradia,como por exemplo, não poderá ser locado (artigo 1.717).
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• Aos companheiros, diferente do que ocorre com as leis que regulam o instituto
da união estável, não é concedida a qualidade de herdeiro, mas somente lhes são
concedidos benefícios sucessórios. Assim, tem-se verdadeiro fomento ao
instituto do casamento, uma vez que tais disposições têm o fim primordial de
estimular a conversão das uniões estáveis em matrimônio. Em síntese: os
companheiros passam a ter a natureza jurídica de beneficiários da herança.
• nesta participação, receberá quota equivalente a que for atribuída a aos seus
filhos, se concorrer com filhos comuns (inciso I).;
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• O artigo 1.797 determina que não há mais prazo para o término do inventário.
Com efeito, a regra do Código Civil de 1.916, que previa o prazo de 3 meses
para o término do inventário, era há muito desrespeitada, sendo considerada
inócua.
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• Em relação à prole eventual, o artigo 1.800, § 4.º, determina prazo para que seja
concebido o herdeiro eventual do testador, prazo este de 2 anos. Não concebido
neste prazo, os bens reservados à prole eventual passam aos herdeiros legítimos.
• Com efeito, o artigo 1.800 também determina que deverá ser dado curador à
prole eventual, assim como se dá curador ao nascituro.
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A ação de petição de herança vem prevista nos artigos 1.824 a 1.828, tem natureza
de verdadeira ação real, de cunho petitório, e em seu pólo passivo figuram os herdeiros
aparentes. Herdeiros aparentes, aqui, podem ser os herdeiros reais, legítimos, pois, apesar
de possuírem direito à herança do de cujus, em relação à parte do requerente não possuíam
direitos, razão pela qual devem restituir o que indevidamente receberam, ainda que se trate
apenas de parcela da herança. O prazo prescricional da petição de herança é de 10 anos,
nos termos da nova lei.
• Observa-se que o artigo 1.832 determina a quota mínima de 25% (vinte e cinco
por cento) ao cônjuge herdeiro que concorrer com descendentes do de cujus,
caso este cônjuge seja ascendente daqueles com que concorrer.
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• Determina o novo texto legal que o prazo para a impugnação dos testamentos é
de cinco anos, contados da data do efetivo registro do testamento, de acordo
com o artigo 1.859.
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