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No ensaio Five Milestones of Empiricism , publicado no livro Theories and Things ( Harvard
University Press, 1981), páginas 67 a 72, Quine apresenta cinco pontos do empirismo,
assimilados a partir da segunda metade do século XVIII, que, segundo ele, constituem
progressos para essa doutrina. Vejamos.
Observação: por fundamentos da matemática, não queremos dizer, aqui, as partes, digamos,
mais fáceis da matemática, isto é, aquelas partes pelas quais começa nossa educação
matemática, mas sim os alicerces sobre os quais o conhecimento matemático pode ser
edificado com a perspectiva de torná-lo tão imune quanto possível à dúvida racional (supondo
que existam tais alicerces).
Observação: tanto empiristas quanto racionalistas usaram a definição contextual; no caso dos
empiristas, um problema no estudo dos fundamentos da ciência (fundamentos da ciência em
sentido análogo ao de fundamentos da matemática que mencionamos acima) era o de explicar
a noção de corpo em termos de impressões sensoriais; tratando desse problema, Hume
identificou os corpos com as impressões sensoriais. Nessa perspectiva, por exemplo, a mesa
que tenho, agora, diante de mim é identificada com certas impressões visuais e táteis. É claro
que isso está em total desacordo com o senso comum. Esse desacordo, contudo, não
perturbou Hume. Quine, no ensaio Epistemologia Naturalizada (vejam a referência da coleção
Os Pensadores na bibliografia), primeiro qualifica essa posição de Hume como corajosa e
simples e depois como procedimento desesperado. Pois bem, usando a definição contextual
podemos, em princípio, traduzir sentenças sobre corpos em sentenças sobre impressões
sensoriais sem que seja necessário identificar os corpos mencionados nessas sentenças com o
que quer que seja. Fazemos, em princípio, traduções de sentenças inteiras do discurso sobre
corpos, e não das palavras que mencionam corpos e aparecem nessas sentenças. A abordagem
de Hume, em completo desacordo com o senso comum e considerada por Quine, ao fim, como
desesperada, não será mais, em princípio, necessária, isto é, não será necessária se pudermos,
de fato, traduzir sentenças inteiras sobre corpos em sentenças inteiras sobre impressões
sensoriais. Uma tal tradução foi arduamente buscada por Russell (1872 – 1970) no livro Nosso
Conhecimento do Mundo Exterior, de 1914, e especialmente por Carnap (1891 – 1970) no livro
A Construção Lógica do Mundo, de 1928, mas não foi obtida. A razão desse insucesso, segundo
Quine, está associada a um tópico que abordaremos adiante, o holismo. Antes porém,
examinaremos mais um exemplo de definição contextual. Esse exemplo, devido a Frege, é
muito importante em filosofia da matemática e requer a apresentação de considerações
preliminares. Trataremos dele no próximo texto.