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Crime, gênero e colonialidade: a
Total: 254 254 0 0 guerra entre...
13 de novembro de 2020
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17/11/2020 Psicopolítica: a estratégia bolsonarista em tempos de corona – Justificando
Um discurso proferido em um ambiente físico deve ir ao encontro da plateia, ele tem por Entre “paraísos scais” e
“justiça scal”: ...
objetivo angariar o apoio de seus ouvintes, do contrário corre-se o risco de não conseguir 12 de novembro de 2020
proferir o discurso, pois o público irá reagir com vaias ou até mesmo com tomates e ovos
lançados contra quem profere um discurso ruim. No ambiente físico a reação do público é À mercê da força bruta:
regresso à barbárie?
imediata, o que limita o conteúdo e a forma do discurso, pois há uma interlocução imediata a 12 de novembro de 2020
exigir daquele que fala um cuidado com as palavras, devendo ser respeitoso para com todos e
principalmente coerente. A arte da boa política é justamente a de uma convivência harmoniosa Quando a justiça discrimina
11 de novembro de 2020
entre os indivíduos, o conflito de ideias deve se dar em um ambiente de respeito. Não é à toa que
exige-se de todo o congressista o cumprimento da regra do decoro parlamentar.
De modo diverso, o discurso proferido em ambiente digital não precisa ir ao encontro da plateia,
a interlocução é mediata e a reprovação não tem o efeito de impedir a continuidade do discurso
e, com isso, o indivíduo é livre para dizer o que bem entende. Sem estar sujeito às vaias, aos
tomates e aos ovos, aquele que profere um discurso virtual está protegido por um invólucro e
consegue se comunicar sem precisar agradar, podendo ser desrespeitoso e, com isso, acaba
falando de modo irresponsável.
Leia também:
Uma das principais estratégias de Bolsonaro para empreender a sua política irracional é por
meio da encolerização dos setores progressistas da sociedade. A irracionalidade da política
bolsonarista se dá em dois planos, primeiro por meio de discursos que apelam à emoção e
segundo no plano da total incoerência.
Para demonstrar a irracionalidade e como ela se manifesta em cada um dos planos, chamo a
atenção para dois fatos: o fatídico pronunciamento oficial proferido pelo presidente em cadeia
nacional na terça-feira, 24 de março de 2020, e as falas para justificar o passeio que deu em
Brasília, no domingo, 29 de março de 2020, a despeito do isolamento social defendido pelo
Ministério da Saúde.
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Ambas são situações em que se pode dizer que Bolsonaro agiu com o intuito de produzir
“conteúdo” para a sua plateia digital que é formada tanto pelos que aprovam quanto pelos que
reprovam o discurso, pois o intuito é deixar a plateia em polvorosa.
Dominando a técnica para lidar com a aceleração da comunicação digital na seara política, o
bolsonarismo aproveita-se da pressão desta aceleração para impor uma verdadeira ditadura da
emoção, seguindo a máxima falem bem ou falem mal, mas falem de mim, Bolsonaro consegue
permanecer na boca do povo, tanto que em plena crise do coronavírus ele consegue se destacar
tanto quanto a própria pandemia.
Enquanto ele profere discursos contrários ao isolamento social, que é recomendado pela
Organização Mundial da Saúde (OMS) e que tem sido adotado em diversos países, as medidas
implementadas pelo Ministério da Saúde vão no mesmo sentido da recomendação da OMS.
Ficou muito claro que o ministro da saúde, Luiz Henrique Mandetta, em sua fala em entrevista
coletiva na qual teve que comentar o pronunciamento oficial do presidente estava a pisar em
ovos, em uma tentativa de contornar o incontornável.
No caso de uma outra entrevista coletiva, dada na segunda-feira, 30 de março de 2020, um dia
após o presidente ter feito um passeio pelo comércio de Brasília no meio ao surto do
coronavírus, Mandetta recomendou que as pessoas mantenham as recomendações de isolamento
social de seus estados, defendendo o máximo grau de isolamento. Por outro lado, para justificar
o seu passeio, Bolsonaro reitera, sem apresentar qualquer base técnica e/ou científica, ser
contrário ao isolamento e se utiliza de frases de efeito como “todos nós iremos morrer um dia” e
“vamos ter que enfrentar como homem, porra. Não como um moleque”². Ao invés de emitir
falas condizentes com um chefe de estado, Bolsonaro opta por falas comuns, como se estivesse
em uma discussão em uma mesa de bar.
Essas duas situações acima narradas revelam a total incoerência entre as medidas efetivamente
adotadas pelo governo e o discurso do presidente.
Leia também:
De Gripezinha à Histeria
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Por meio desta incoerência Bolsonaro mantem a constância de sua popularidade virtual que é
seu principal ativo político. Com isso, ele atende aos anseios daqueles que estão preocupados
com questões financeiras e que passam a acreditar em seu discurso que objetiva minimizar a
gravidade da pandemia, ao mesmo tempo em que é o assunto mais comentado por aqueles que
estão mais preocupados com a questão de evitar a propagação do vírus.
Por meio das falas e atitudes aqui destacadas, verifica-se que Bolsonaro mais uma vez lançou
sobre os progressistas uma névoa de emocionalidade, deixando-os em um estado de
perplexidade no qual são incapazes de fazer o adequado uso da razão para empreender a devida
fiscalização das medidas políticas que estão sendo tomadas neste momento de crise.
Se antes da eleição Bolsonaro não demonstrava qualquer preocupação em esclarecer o que era
“tudo isso que tá aí” que precisava ser mudado, após eleito sua preocupação é ainda menor.
Sem qualificação para o exercício do cargo, porém, extremamente hábil a produzir “conteúdo”
ele governa sem governar, ocupa o maior cargo na hierarquia do Estado brasileiro mantendo o
seu posto por meio da produção massiva de polêmicas, sendo sustentado no cargo por conta da
plateia. Nós brasileiros estamos brincando com fogo, continuamos batendo palma para maluco
dançar ostentando a faixa presidencial no peito.
A mudança dessa situação depende de uma readequação dos nossos hábitos diários, pois exige
uma nova forma de se relacionar com a tecnologia. É preciso urgentemente esvaziar a plateia e
para isso é necessário começarmos a ter responsabilidade com o nosso próprio discurso virtual e
isso na era da informação depende de uma coisa importante: a consciência de que a liberdade de
expressão foi duramente defendida e, por isso, o seu exercício exige responsabilidade.
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Por isso, em tempo de coronavírus é preciso agir de modo diferente, ao invés de dar ibope ao
Bolsonaro, é preciso aproveitar o isolamento para refletir, aproveitar os momentos de
recolhimento para desenvolver a racionalidade e a solidariedade. É preciso ocupar-se consigo
mesmo para isso, algumas sugestões são a leitura de livros, especialmente aqueles que lhe
chamem a reflexão, aprofundar os estudos, fazer exercícios, meditar e/ou fazer orações. Também
é necessário ocupar-se com aqueles que estão a sua volta, que vivem na mesma cidade que você,
se puder veja quais as organizações que estão recolhendo alimentos e outros itens essenciais
para auxiliar os que precisam. Duas últimas sugestões: se for necessário, para se desligar
completamente, coloque o celular em modo avião. Não deixe também de ouvir Caetano, afinal,
alguma coisa está fora da ordem, fora da nova ordem mundial.
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Notas:
[1] HAN, Byung-Chul. Psicopolítica: o neoliberalismo e as novas técnicas de poder. Belo Horizonte: Editora Âyiné,
2018, p. 65.
[2] https://g1.globo.com/politica/noticia/2020/03/29/apos-provocar-aglomeracao-durante-passeio-em-brasilia-bolsonaro-
volta-a-se-posicionar-contra-o-isolamento-social.ghtml
[3] DELEUZE, Gilles. Mediators in Negotiations. Nova York, 1995, pp. 121-134 apud HAN, Byung-Chul.
Psicopolítica: o neoliberalismo e as novas técnicas de poder. Belo Horizonte: Editora Âyiné, 2018, p. 113.
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