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Notung

Notung- Tiefling- Idade atual vinte anos

O som do vento que uivava, a sensação de amargor na boca ferida e as


pernas tremendo a cada passo. Notung movia-se pela prancha com as
pernas trêmulas, a sua calda sibilante no ar frio da noite enquanto o
oceano urrava parecendo instigar o pior naqueles homens atrás dela que
apontavam suas espadas contra a jovem Tiefling. Ela sentiu-se tão
assustada, pois recordava vagamente de como ali chegara, a fome foi sua
guia, vagava de cidade em cidade, escondia-se, esgueirava-se, temendo
sempre um algoz, então um rapaz muito gentil ofereceu-lhe pão, vinho e
um sorriso amistoso. Em sua situação um gesto como esses era uma
benção dos céus, nunca fizera nada de ruim, mas sua aparência causava
confusão e aquele jovem rapaz ajudar de maneira tão bondosa aquecera
seu coração, porém ele era apenas um aliciador, para que aqueles homens
a capturam-se sem grandes problemas e assim poderiam ter um bom
lucro com sua venda. Mas, aqueles homens viram que ao trazer Notung a
bordo sua sorte se fora rapidamente e tudo deu errado, homens
morreram, uma tempestade incansável os perseguia e estavam perdidos em meio aqueles estrondos no céu que
fariam até um defunto desejar morrer novamente. Então decidiram jogar aquela criatura bela e ao mesmo tempo
demoníaca no mar. Notung era realmente exótica, seus chifres aparentes eram uma adereço delicado a pele pálida,
olhos dourados que pareciam mudar de cor, cabelos prateados, era bem alta, de boa constituição, as orelhas
pontiagudas e a cauda que parecia ter seu próprio humor criavam um quadro instigante para quem olha-se a cena de
fora. Ela ali parada na prancha, as pernas tremendo, a vontade de viver não vacilava em seu coração, ao mesmo
tempo em que estava assustada também se sentia furiosa, não era uma fera ou uma besta demoníaca, nem se
recordava de seu passado porque pagar pelos pecados que nem lembrava ter cometido?

Quando um novo trovão rasgou o céu, ela olhou envolta procurando alguém que a ajuda-se, mas os humanos eram
assim, todos eles sempre agiam assim e que não tinha para onde ir estava ali diante do salto para a boca furiosa do
oceano no mar da estrela. Então um raio atingiu, a prancha de madeira que se partiu com ela a mente de Notung
fragmentou-se cada vez mais, perdida em um tempo ancestral, sua mente a levou a ver um céu tempestuoso, seu
coração comprimiu-se, ao seu redor um redemoinho caótico surgia, tragando o navio e seus tripulantes sem poupar
nenhum daqueles homens. Ela foi forçada a entrar ali, embriagada, alimentaram-na dizendo que a ajudariam, mas na
verdade fora vendida a aquela tripulação para ser entregue a um mercador em Lua Prateada, Notung não se
recordava de nada, apenas perambulava, sem destino, o corpo em frangalhos, acometidas por pesadelos e sonhos
onde via guerras antigas, raças em uma eterna disputa e algumas vezes alguém a chamava em meio ao caos. Quando
Notung despertou estava dentro de uma cela, havia outras pessoas lá, uma tigela com um mingau aguado, alguns
ratos passando e os olhares curiosos sobre ela passeando pela cela onde estava.

Por alguns dias ficou ali, obrigou-se a comer até que aquele homem corpulento entregou uma bolsa com várias
moedas tilintando ao guarda, que prontamente abriu a cela, mas mantendo-a em correntes entregou ao homem que
nada disse além de arrastar Notung dali, uma carruagem a esperava do lado de fora e a porta abriu-se e uma mulher
trajando negro com grandes olhos verdes brilhantes abriu um sorriso convidativo para Notung. Ela inicialmente
recusou-se a entrar, mas sentiu uma lamina gélida em seu pescoço, indicando que não tinha escolha, assim sendo ali
entrou para ver que a outra a sua frente tinha algo de familiar, mas não sabia o que era e quando esta por sua vez
ofereceu-lhe um pedaço de bolo de frutas não resistiu a isso. O sabor agradável lhe inundou a mente, fazendo-a
adormecer lentamente e podia sentir o cheiro do oceano invadindo suas narinas, estava perto do mar, o mesmo mar
que a lançou no caos de um estranho redemoinho que povoava agora seus últimos instantes de lucidez. O que se
sucedeu é que Notung foi levada a um grande castelo fortificado, nele a mulher apresentou-se como Diana Lanthur,
era uma espécie de gerente no lugar, que servia como um ambiente para jogos de azar, para negociatas politicas, para
entrega de tesouros e artefatos sediando ali em seus porões uma estranha sociedade secreta que cultuava seres como
Notung. Diana era como ela, mas era praticante do ocultismo, sabendo assim camuflar-se da maneira devida através
das artes ocultas, mas havia outras como Notung, não tão jovens quanto ela, mas carregavam nos olhos uma
obscuridade que a assustava, divertiam-se com os homens que ali chegavam, pareciam ter a habilidade de sugar sua
essência mortal, mas ao mesmo tempo pareciam nutrir grande simpatia pela tal sociedade formada em sua maioria
por nobres, clérigos, magos, mercadores importantes e mais tarde descobriu que se chamavam “Sociedade da Névoa”
com objetivos de reascender velhos credos, de obter desejos egoístas, abrir portais entre mundos caídos e assim saciar
seu desejo por criar uma única ordem na qual eles fossem avatares de seus senhores do submundo sob a face de Toril.

Assim acreditavam que a espécie de Notung conseguia canalizar mais facilmente as energias caóticas de outros
planos, com o tempo notou que clérigos de Bane eram associados ativos e que a própria Diana tinha mandando para
eles algumas outras de sua espécie para se tornaram aquilo que eles chamavam de “As filhas da Tríade da escuridão”,
Diana tinha inicialmente pensando nisso para Notung, pois pagara por ela um bom preço, dias antes da chegada dela
ali sonhara com uma jovem em meio a uma grande tempestade vermelha e sentia que Notung poderia agregar
muitíssimo ali. Porém Notung queria partir do lugar, pois desde que chegou ali era assediada pelos clérigos, sentiam-
se pressionada a agir de maneira que não concordava, devia ser gentil com os nobres que patrocinavam muitas coisas
ali ou era obrigada a ler antigos livros sob o olhar atento de Diana.

Notung sabia que estava perto do mar, mas a construção parecia esconder-se do mundo além de suas grandes
muralhas, quando tinha chance de estar sozinha percorria os locais que tinha livre acesso, havia uma torre e dela era
possível ver que a construção era cercada pelo oceano na mare alta, mas na baixa uma ponte surgia permitindo que
esta se se liga a uma estrada de pedra que se perdia em uma floresta escura. Quando deu por si, oito meses se
passaram, aprendera o idioma humano com maior segurança, arriscava-se no élfico com certa graciosidade e
iniciava-se na língua proibida que sempre lhe causasse desconforto. Diana prepara Notung para algo que aconteceria
quando as três estrelas da tríade se alinham-se. Notung não cedia aos desejos dos nobres, não cedia aos clérigos,
então teria de servir a um proposito mais sórdido, Diana demorou muito para ter todas as peças na mesa de seu jogo,
estava perto de quebrar um grande selo e quem sabe Notung serviria ao seu intento cruel. Quanto mais se
aproximava o dia do alinhamento mais Notung sentia inconscientemente o desejo de fugir dali, nada de bom havia
de ter naquele lugar de mentiras, politicagens e amantes do oculto esse pensamento contrariava sua origem ancestral,
talvez estivesse nesse mundo para sanar algo. Embora não tivesse lembranças de sua infância, de onde nascerá
sempre soube em seu coração que mesmo sentindo-se fragmentada não sentia o desejo pelo obscuro, apenas buscava
encontrar o caminho para desvendar a si mesma. Em uma corrida contra o tempo ela planejou fugir quando a mare
baixa-se e isso seria na mesma época que Diana planejava o ritual para quebrar um selo antigo. Notung tentou fugir,
disfarçou-se, conseguiu atravessar a ponte, mas ao chegar à floresta foi pega pelos empregados do lugar, arrastada
para o porão do lugar que era composto por três pilares, um grande altar, acima dele três chamas bruxuleantes
suspensas no ar e no chão símbolos antigos que ela parecia saber de onde eram isso causou temor em sua face e por
fim adormeceu. Quando ela acordou ao seu redor pessoas trajando negro, recitavam em coro palavras proibidas,
incenso de mirra, mesclava-se ao cheiro de enxofre e Diana estava ali, mostrando sua real aparência, a pele vermelha,
olhos negros como a noite, os longos cabelos cobriam-lhe o belo corpo como um véu, usava no pescoço um
medalhão e um vestido vermelho acentuava sua presença ali, uma aura amarela a cercava, era um demônio em toda
sua queda e seus lábios pronunciaram palavras que Notung apenas entendeu um trecho “Meus senhores abissais,
senhores da escuridão, permitam que esta leal serva invoque seu poder, para que o selo se quebre, para que a nona
trombeta ressoe sob esta terra impura e para que essa oferenda seja receptáculo de meus desejos, que ela carregue a
marca...” Antes que Diana termina-se de recitar suas palavras um forte estrondo ocorreu, um grupo adentrou ali,
uma grande guerreira coberta por uma impetuosa armadura bradou” Em nome de Tyr que o mal pereça!”,
acompanhada por um elfo que recitava palavras ligas as artes antigas, um guerreiro que mais parecia uma montanha
empunhando um machado de dupla face, acompanhando por clérigo e outro guerreiro. Eles lutaram ali,
transbordavam força, coragem e nobreza. ““ O guerreiro mais jovem aproximou-se, usava duas espadas longas tinha
uma cicatriz na face, olhos confiantes e sussurrou” Não tenha medo, somos os bonzinhos...” piscando para Notung
enquanto a tirava do altar, aquilo era algo inimaginável, ela já tinha lido livros onde havia heroísmo, onde o bem
vencia e agora vislumbrava isso pessoalmente. O combate feroz fez muitas baixas do lado de Diana, mas a grande
guerreira entre eles invocou o poder da fé fazendo tudo ali desmoronar, enquanto o elfo recitava um antigo encanto o
levando dali para a floresta, onde podiam ver o castelo inteiro submergir estrondosamente. “Os olhos de Notung
observaram tudo em silencio, a guerreira retirou seu elmo, no peito o símbolo de Tyr brilhava, ela olhou Notung e
disse:” O meu senhor tem plano para você, podes aceitar ou seguir sem destino Notung!”

A mulher sabia o nome dela, inebriada pela sensação de gratidão, ela abriu um vasto sorriso, saindo dali com seus
salvadores, sendo levada para Lua Prateada, descobriu mais tarde que eles eram um grupo de aventureiros unidos por
um único proposito combater as ramificações do mal por várias terras e que aquela guerreira era uma paladina de
Tyr que recebeu uma visão que os fez chegar até aquele lugar para salvar Notung. A paladina era filha de uma casa
nobre, mas desde jovem o chamado de Tyr a fez seguir como sua mais leal serva, chamava-se Laurie Imethir, desde
nova entrara para o templo e aos vinte tornou-se paladina, o destino a uniu aquele grupo e agora Notung sentia-se
compelida a ser como Laurie. O alto clérigo de Tyr já sabia da chegada de Notung antes mesmo que ela fosse levada a
uma pequena sala no templo, os olhos da jovem pareciam perdidos, mas Tyr a levou ali através daquele grupo, o seu
Deus jamais erra e se aquela alma perdida chegou ali, que fosse acolhida para servir aos desígnios de seu Deus. O alto
clérigo era um homem sábio, justo, de coração nobre, abençoado com as visões que previam o futuro, talvez Notung
tivesse um grande papel a desenvolver e assim encontrar seu destino.

Ela foi aceita com certa hesitação, fazia todo tipo de trabalho, limpando, na cozinha, na vasta biblioteca, aos poucos
demonstrava afinidade com lança e escudo. Dimitri era um paladino de Tyr antigo ali, observou a jovem de pele
avermelhada, ela não tinha os chifres típicos de sua espécie se os tinha estavam escondidos, para Notung essa mesma
característica lhe causou estranhamento enquanto esteve ao lado de Diana, pois as outras ali tinham pequenos chifres
ou grandes exibiam-nos com orgulho tremendo, ela era diferente nesse ponto, a sua pele era, mas rósea que
vermelha, tinha olhos dourados brilhantes, era alta medindo seus 1,78, uma boa constituição, tanto que gostava de
manusear a lança, pois sentia como se fosse uma extensão de si mesma e o escudo era como se fosse um melhor
amigo, seus longos cabelos eram prata pura ondulando no ar quando fazia os movimentos que eram ensinados, tanto
por Dimitri como pelas raras vezes que Laurie aparecia ali para inspirar-lhe, finalmente Notung sentia-se parte de
algo, mesmo que alguns ali a olhassem com desconfiança, todos os dias elas esforçava-se para provar que era muito
melhor do que eles pensavam e faria seu melhor para servir a Tyr. Por fim após três anos ali ela tornou-se uma
paladina, muitos ali intimamente contorciam diante da presença de Notung, mas para o alto clérigo Tyr era o senhor
que tudo sabia e se permitiu que ela chega-se até ali o destino dela estava além da tênue visão dos homens que se
guiam pelas aparências.

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