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Christine Feehan

Cárpatos 24

Lycan Sombrio

Tatijana é uma Caçadora de Dragão que passou séculos encerrada no gelo com sua
irmã, presa no limbo entre a vida e morte, nunca falando com uma alma diferente daquele que
a atormentava. Agora, ela foi liberta de sua prisão congelada por uma descendente
desconhecida. Acordada em forma humana, Tatijana anseia explorar o mundo moderno no
qual agora vive — um mundo com mais mistérios do que está preparada.
Fenris Dalka retornou às Montanhas Cárpatos depois de uma longa ausência para
estar com seu irmão. Ele está marcado por séculos de batalhas e vitórias duramente ganhas.
Mas a real razão para o seu retorno ao lar poderia resultar mortal se descoberto pelo homem
— ou mulher errada. Em sua chegada, ele é atraído por uma estranha bonita e enigmática que
carrega o odor de terra fresca, de floresta, da própria noite.
Com o tempo Tatijana e Fenris descobrirão tudo o que os une — seus segredos e
passados, seus predadores, e o rubor quente da paixão que desperta suas almas. No entanto,
com a mesma certeza, seduzidos pela escuridão de uma noite de lua cheia, eles também
descobrirão todo o mal antigo que existe para destruí-los.

Capítulo 1

Névoa flutuava por entre as árvores. A lua, não muito cheia, tinha um halo amarelo, sem
graça e ainda gritante. Ao redor da lua um anel vermelho exalava um brilho sinistro. Um
momento perigoso este ciclo da lua, especialmente quando a névoa vinha densa e pesada,
cobrindo meio metro de chão ou subindo, enrolando dentro e fora das árvores como se estivesse
viva. O som abafado pela neblina entorpecia os sentidos, dando vantagens para as figuras
sombrias sobre as presas incautas.
Tatijana dos Caçadores de Dragões acordou debaixo da terra com camadas de terra
curativa, escura e rica em torno dela. Nutrientes vitais, ricos em minerais ao redor de seu corpo.
Ela estava deitada por muito tempo, em pânico, ao ouvir seu próprio coração batendo, sentindo-
se muito leve, muito presa, muito exposta. E quente. Tão quente. Acima dela, sentiu os
guardiões. Olhando por ela, eles falavam, e provavelmente era verdade, mas esteve presa por
tanto tempo – ela nasceu em cativeiro – e não confiava em ninguém que não fosse sua irmã
Branislava. Bronnie dormia pacificamente, muito próxima à ela, seu único conforto.
Seu coração bateu mais alto, até que parecia um trovão em seus ouvidos. Ela não
poderia permanecer presa sob a terra. Ela tinha que sair para encontrar a liberdade. Para se
sentir livre. O que foi isso? Ela não sabia nada do mundo. Viveu toda sua vida no subsolo, nas
profundezas das cavernas de gelo, nunca viu ou falou com qualquer outra pessoa além daqueles
que as torturaram e tentaram aterrorizá-las. Não conheceu outra vida, mas isso havia mudado
— não tinha?
Tinham trocado Bronnie de uma prisão de gelo assustadora para uma gaiola de seda?
Se era assim, os guardas cometeram um enorme erro ao colocá-las no chão para se recuperar.
Ela mal sabia o que era estar em sua forma real. Passou séculos na forma de dragão, e dragões
podiam mover-se por meio da terra com bastante facilidade.
— Bronnie. — Sussurrou na mente de sua irmã. — Eu sei que você precisa dormir. Vou
continuar a explorar o nosso mundo novo e voltar de madrugada com novas informações.
Branislava agitou-se em sua mente como se pudesse protestar a cada vez que Tatijana
dizia que estava indo.
— Preciso fazer isso.
— Eu irei com você. — Bronnie respondeu com a voz distante, mesmo estando na mente
de Tatijana.
Tatijana sabia que Branislava iria obrigar a si mesma a despertar, embora não estivesse
realmente curada por dentro, onde tanto precisava. Elas faziam tudo juntas — durante a pior
parte estiveram juntas. Elas nunca se separaram realmente, mesmo quando envoltas em gelo,
quando só podiam olhar uma para a outra. Ainda tinham a comunicação telepática.
— Não desta vez, Bronnie, preciso fazer isso sozinha. — Ela sussurrou as palavras como
fazia nas ocasiões em que despertou para explorar o seu novo mundo. Sempre garantiu a
Bronnie que seria cuidadosa.
Ninguém jamais as aprisionaria novamente. A cada elevação fazia esse simples voto.
Estava ficando mais forte a cada noite que passava. Poder atravessou seu corpo e, com isso a
confiança. Estava decidida que ficaria por conta própria e não ficaria subjugada a ninguém.
Tatijana não sabia como dizer à sua irmã que não queria viver sob as regras de outro.
Elas eram Cárpatos. Caçadoras de Dragão. Isso significava algo para o Príncipe dos Cárpatos e
para todos os outros. Os homens fariam fila na esperança de reivindicar Bronnie ou ela. Não
poderia viver sob o domínio de outro. Simplesmente não podia. Não queria ninguém dizendo-
lhe o que fazer nunca mais, mesmo que fosse para seu próprio bem. Ela se levantaria quando
quisesse e exploraria seu novo mundo em seus próprios termos.
Tatijana decidiu que encontraria seu próprio caminho, aprenderia seu próprio caminho,
cometeria seus próprios erros. Bronnie sempre foi a voz da razão. Ela protegia Tatijana de sua
natureza impulsiva, mas não mais. Apesar do muito que amava Branislava, isso era algo
necessário para Tatijana.
Ela enviou à sua irmã amor e carinho com a promessa que voltaria de madrugada. A
metamorfose para se transformar no dragão azul foi fácil — esteve nesta forma durante séculos
e sentia-se mais familiar nesta estrutura e forma do que em seu próprio corpo.
Escavou mais fundo, indo para a terra, em vez de subir, onde seus guardiões iriam vê-la.
Já tinha cavado um túnel e moveu-se rapidamente através do solo embalado. Tinha escolhido
sair a vários quilômetros de distância de seu lugar de descanso, a fim de garantir a segurança de
Branislava e ter certeza de que os guardiões não teriam nenhuma ideia que havia se levantado
muito cedo. O dragão azul atravessou o túnel como uma toupeira, cavando, quando necessário,
toda a sujeira que desmoronara enquanto se apressava constantemente em direção à sua meta.
Tatijana surgiu na floresta profunda. Era muito cuidadosa e verificou a terra sobre ela
antes do dragão azul enfiar a cabeça em forma de cunha na entrada escondida. Apareceu no
meio de uma névoa cinza e espessa. Árvores pareciam como espantalhos disformes gigantes
com os braços estendidos, balançando um pouco, apenas o suficiente para dar-lhes a aparência
de monstros.
Tatijana havia conhecido verdadeiros monstros, e uma densa floresta de árvores veladas
em cinza não iriam alarmá-la nem um pouco. Liberdade era incrível. Seus olhos estavam
terrivelmente sensíveis, mas fora isso, o mundo se sentia como se fosse dela e com o nevoeiro
que cobria o chão, os olhos nem sequer queimavam.
Ela trocou à sua forma física, vestindo roupas modernas, calça de algodão macio que
permitia-lhe liberdade de movimentos. Escolheu uma blusa que viu em uma mulher na aldeia
algumas noites atrás. Seguiu a mulher, estudando seu estilo de roupa para que pudesse
reproduzi-lo à vontade. Tudo parecia estranho para ela, mas isso fazia parte da emoção da
descoberta. Queria aprender fazendo, não apenas puxando informações da mente de outra
pessoa.
Ela percorreu seu caminho através da floresta, apreciando a forma como o nevoeiro
envolvia suas pernas e faziam-na sentir como se estivesse andando através das nuvens.
Lembrou-se no último momento em adicionar sapatos, algo que ainda era muito desconfortável
para ela. Sentia os sapatos pesados e muito estranhos em seu corpo.
O vento soprava por entre as árvores, levantando as folhas que giravam em torno de
troncos e névoa. A névoa começou a levantar-se do chão enquanto caminhava em direção à
única luz que podia ver na extremidade da floresta. Música saía do prédio cantando para ela,
acenando, mas desta vez sabia que não estava indo apenas para ouvir aquelas belas notas.
Normalmente escolhia um local diferente a cada noite para recolher mais informações e
compartilhar com sua irmã.
Este lugar a chamava a cada elevação. O sentimento era tão forte que era quase uma
compulsão. Resistiu por alguns dias, mas não podia deter-se por mais uma noite. Aproximou-se
da construção. As janelas iluminadas com o mesmo brilho amarelo, dois olhos olhando para ela
através da névoa espessa. Um arrepio percorreu sua espinha, mas continuou andando em
direção a ela.
A Taverna Javali localizava-se à beira da floresta, cercada em três lados por árvores
espessas com abundância de cobertura para quem precisasse se esconder rapidamente.
Fornecendo abrigo e amparo, bem como saídas fáceis se a lei se aventurasse por perto. Os
frequentadores encontravam conforto pelo fogo, comida quente e abundância de bebida. A
multidão era grosseira, não havia lugar para os tímidos, e até mesmo a lei geralmente evitava o
lugar. Ninguém fazia perguntas e todo o cuidado de não perceber nada oficialmente.
Fenris Dalka ia à taverna quase todas as noites, então por que se sentia um tolo sentado
no bar, lentamente cuidando de uma cerveja, fingindo beber como sempre fazia? Deixou
escapar o fôlego e manteve seu olhar à frente, usando o espelho para manter um olho na porta.
Do seu ponto de vista, podia ver cada canto da taverna, bem como a porta. Ele tinha como alvo
o lugar perfeito para sentar-se por algum tempo e se alguém entrasse, de onde estava sentado,
ficava com os olhos em cima deles. Até que se levantou e deixou o lugar vago.
Fen sabia que ele a estava intimidando e usou a aparência perigosa a seu favor. Ele era
alto o suficiente, mas eram os ombros largos e peito grande, os braços robustos e a sombra da
barba por fazer, os frios olhos azuis penetrantes que usava para olhar através de alguém em sua
alma, que costumava intimidar as pessoas. Raramente falava e preferia que fosse assim. Os
frequentadores o conheciam e sabiam deixá-lo sozinho.
A música tocada ao fundo e risos ressoavam ocasionalmente, mas a maior parte os
clientes falavam em sussurros. Apenas o barman falou com Fen quando entrou. Alguns dos
frequentadores levantavam uma mão ou acenavam com a cabeça, mas a maioria evitava seus
olhos. Ele parecia quase tão perigoso quanto era. Um homem sem amigos. Confiava apenas em
seu irmão, sempre, caça ou caçador. Era ainda mais impiedoso e brutal do que os sussurros
diziam.
Seu cabelo era longo, muito grosso e distintamente prateado com fios pretos caindo
pelas costas em ondas. Na maioria das vezes, ele os prendia na nuca com uma tira de couro para
mantê-lo afastado dos olhos. Tinha as mãos grandes e os dedos com cicatrizes. Havia cicatrizes
em seu rosto, uma no alto perto do olho e outra que ia do olho até o meio do rosto. Havia muito
mais cicatrizes em seu corpo. Séculos se defendendo, cada batalha e cada vitória estavam
estampadas em seus ossos.
Conversas sussurradas eram fáceis o suficiente para ouvir com sua audição aguçada, o
que permitia que recolhesse uma quantidade enorme de informações. Mas hoje era diferente.
Não estava aqui por informações, foi compelido por algo completamente diferente desta vez.
Desconfortável, brincava com sua caneca de cerveja, movendo os dedos sobre o punho,
segurando com a mão e forçando-se a soltá-la antes que quebrasse o vidro. Não era um homem
para fazer de outro modo. Não confiava em qualquer coisa que não conseguisse entender — e
ele não entendia a necessidade urgente que o impelia a voltar noite após noite, esperando.
Esta era uma taverna para os transgressores. Para reuniões clandestinas. Ele e seu irmão
descobriram a taverna quando chegou pela primeira vez nas montanhas dos Cárpatos. Fora
necessário encontrar um local seguro e fora do caminho, onde pudessem passar o tempo e falar
sem serem vistos por qualquer pessoa que pudesse saber sobre eles. Queria ter certeza absoluta
de que seu irmão mais novo estava a salvo. Ninguém podia saber que eram irmãos. Ninguém
jamais poderia associar os dois ou ele estaria colocando a vida de seu irmão na linha — algo que
não estava disposto a fazer. Tantos anos se passaram para que todos o esquecessem — ou
pensassem que estava morto —, e para a proteção de seu irmão, a mentira teria que
permanecer.
Conhecia todos os rostos na taberna. A maioria ia ali ainda mais do que ele. O mais novo
patrono era o mais suspeito. Chegou à área apenas algumas semanas antes. Parecia um caçador
corpulento — um lenhador –, mas ainda se vestia mais refinado. Ele não era alguém para
subestimar. Qualquer um podia ver pela forma como se movia que seria bom de luta. Ele
definitivamente estava armado. Atendia pelo nome de Zev e claramente era novo na área. Não
tinha divulgado o seu negócio, mas Fen apostaria seu último dólar que ele estava caçando
alguém. Não se parecia que fosse da lei, mas definitivamente estava perseguindo alguém. Fen
esperava que não fosse ele, mas se fosse, aproveitaria todas as oportunidades para estudar Zev,
a forma como se movia, que mão ele preferia, onde carregava as armas.
Zev usava o cabelo mais longo que o habitual, assim como Fen. Seu cabelo era de um
castanho profundo e muito grosso, muito parecido com um pelo abundante. Seus olhos eram
cinzentos e atentos, sempre em movimento, sempre inquieto, enquanto seu corpo mantinha o
movimento. Fen achou significativo que ninguém no bar o tivesse desafiado.
O vento aumentou correndo por entre as árvores, caprichoso e divertido, levando galhos
contra os lados da taverna, raspando e rangendo, uma proclamação de perigo se pudesse ler as
informações que o vento fornecia. Fen soltou a respiração e olhou através da janela para a
floresta escura.
A névoa serpenteava por entre as árvores, estendendo-se como dedos gananciosos,
enrolando dentro e fora das árvores, fechando a floresta em um espesso véu cinza. Ele precisava
ir — agora — tinha apenas cinco dias antes da lua cheia — o que dava-lhe dois dias para
encontrar um lugar seguro para enfrentar a ameaça. Os três dias antes da lua cheia, a lua cheia
e os três dias depois eram os mais perigosos para ele. No entanto, não se mexeu do banquinho
do bar, nem mesmo quando a autopreservação gritou para ele. Cada fio de cabelo em seu corpo
se levantou, tanto no alarme que se estendeu como na antena para captar o menor dos
detalhes.
Sentia o suor frio percorrer seu copo, seu olhar atraído para o espelho mais uma vez.
Não tinha toda a gama do espectro de cores, mas o redutor de luz, quanto mais tons de cinza
pudesse ver. Não poderia dizer a diferença entre o amarelo, verde ou laranja, tudo parecia o
mesmo para ele — uma cor insípida amarelada. Via vermelho, marrom-acinzentado ou preto,
mas podia detectar azul. O que faltava em suas habilidades de distinguir cores, mais do que
compensava com sua aguda audição, olfato e visão de longo alcance.
Seu perfume chegou até ele quando ela abriu a porta. A mulher. Essa mulher. Ela era a
isca para pegá-lo? Se assim fosse, estava perdido. Aquele cheiro dela — terra fresca, floresta,
mel silvestre, de escuros lugares secretos e a própria noite, chamou-o como nenhum perfume
caro jamais poderia. Ela tinha ido e vindo para a taberna na última semana. Três visitas, e ainda
assim já estava sob seu feitiço.
Ela capturou-o sem esforço, sem fazer nada, só caminhando através da porta. Ele nunca
viu uma mulher tão bonita ou atraente. Ela literalmente parou toda a conversa no momento em
que entrou, mas não parecia notar. E esse era o problema. Era muito jovem e ingênua, muito
inocente para vir desacompanhada a um lugar como este.
Ele ouviu os sussurros de alguns dos homens e sabia que ela não estaria segura. As duas
garçonetes olharam para ela, conscientes do momento em que ela chegou, elas não tinham mais
a atenção dos homens. Mais uma vez, a mulher parecia completamente inconsciente.
Caminhava com confiança, mas parecia não prestar atenção aos predadores em torno dela — e
eles eram predadores. A única razão pela qual não foi atacada até agora, foi porque ele deixou
bem claro que ela estava sob sua proteção. Quando um dos homens começou a fazer sua jogada
em cima dela, Fen se levantou. Isso foi tudo. Ele apenas se levantou.
O homem retrocedeu imediatamente e ninguém se atreveu a fazer outro movimento,
mas era apenas uma questão de tempo. Pelo que ouviu, os três conspiradores planejavam segui-
la quando ela saísse da taberna e Fen não estaria por perto para protegê-la. Bem, isso era
injusto. Dois conspiradores e um amigo tentando falar prevenindo-os. Poderia ter-lhes dito para
não apostar no plano e que ouvir seu amigo era a melhor ideia, mas não se incomodou. Revirou
os ombros lentamente, abriu e fechou os punhos, esticando os dedos e olhando para as mãos
que poderiam ser armas mortais. Precisava de exercício.
Ele a olhou no espelho. Ele a viu tentar uma bebida a cada vez que veio, depois que
obviamente viu alguém beber, e a cada vez ela fazia uma cara horrível e cuspia a bebida de volta
no copo, balançava a cabeça e afastava-se do bar para a pequena área onde podia dançar. Mais
uma vez, parecia completamente alheia àqueles ao seu redor, perdendo-se na música. Fen
estava certo de que ela veio à taberna só porque amava a música.
Ela jamais falou, nem mesmo com o bartender, e Fen se perguntou se ela não podia
falar. Sua pele era branca como porcelana, como se nunca tivesse visto o sol. Seu cabelo era
lindo, caindo muito além de sua cintura, grande o suficiente para que ela provavelmente
sentasse em cima dele, como se nunca o tivesse cortado em sua vida. Usava-o em uma trança
que era tão grossa como seu pulso. Caíam como seda em uma cor que não conseguia definir,
mas quando a luz refletia apenas para a direita, a cor parecia mudar, embora pudesse ser o jeito
que ele via as cores.
Seus olhos se encontraram com os dele. Ele não conseguia parar de olhar para eles
enquanto ela dançava, de repente ela abriu os olhos, os seus encontrando os dele no espelho.
Seu coração quase parou e depois recomeçou a bater. As mulheres não tinham esse tipo de
efeito sobre ele. Sua boca não ficava seca. Sua mandíbula não doía e seus caninos não cresciam
afiados. Ele sempre esteve — sempre — no controle. Ouviu um trovão rugindo em seus ouvidos
e respirou fundo, chamando séculos de disciplina.
Emoções entorpeceram e desapareceram ao mesmo tempo. O pouco que sentia, sentia
diferente, não desta forma. Às vezes esquecia de como era estar em sua forma atual. No
entanto, agora, olhando em seus olhos, descobriu que não conseguia desviar o olhar. Ela o
hipnotizou. Cativou. Ele não confiava nela. Não confiava em sua reação estranha, muito estranha
para ela.
Uma rajada de vento atingiu a taberna com força, derrubando a chaminé e enviando
faíscas que subiam na lareira. Uma grade de ferro caiu e rolou pela abertura, chegando a um fim
abrupto, mais chamas saltaram e dançaram enquanto rachaduras dentro do lugar brilhavam
intensamente. Fen balançou a cabeça em direção à janela. A névoa espessa girando para fora
da floresta, fios de cinza envolvendo-se em torno da taverna, abrangendo todo o edifício em
uma teia de aranha gigante de névoa brilhante.
A mulher parou de dançar, chamando a atenção para si. Olhou fixamente para o fogo,
como se cada pedaço estivesse hipnotizado por ela, como ele estava com ela. Aproximou-se e
viu-se carrancudo, olhando-a de perto no espelho. Seus olhos refletiam as chamas dançantes,
quase como se as lentes tivessem multifaces, que lembravam o corte de um diamante. Ela
chegou mais perto, muito perto. A lareira estava aberta. Montanhas de cinzas brilhavam,
chamas saltaram avidamente. Fen escorregou do banquinho do bar.
Lentamente estendeu a mão na direção da chama. Desse modo levaria a palma da mão
direto para o centro do fogo. Moveu-se usando sua velocidade sobrenatural, chegando por trás
dela, chegando a atingi-la e pegou seu pulso, puxando a mão para longe das chamas antes que
pudessem fazer bolhas em sua pele macia.
Por um momento, ela endureceu como se pudesse lutar com ele. Ele sentiu um
empurrão, o mais leve dos toques na sua mente, o que o chocou. Quem era ela? O que era ela?
Ele se esforçou em segurar suas barreiras e manteve seu toque suave, tomando cuidado para
não transmitir uma ameaça de qualquer tipo. Ela relaxou e ele inalou o cheiro dela com a cabeça
perto do ombro, de modo que a grossa trança de cabelo sedoso roçou em sua pele e seu
perfume feminino o envolveu. Ele puxou-a profundamente em seus pulmões. Ela cheirava a
pecado. Como sexo. Como o paraíso e tudo o que ele não poderia — jamais — ter.
— É quente. O fogo vai queimar você. — ele disse em voz baixa, certificando-se que
ninguém mais na taberna ouviria.
Era inteligente, ele podia ver isso, mas algo tinha acontecido com ela e claramente havia
coisas que ela nunca tinha experimentado e não tinha conhecimento. Amnésia? Trauma? Não
havia outra explicação. Todo mundo sabia sobre o fogo e sua falta de conhecimento apenas a
deixava mais vulnerável.
Virou a cabeça lentamente para olhá-lo por cima do ombro, franzindo a testa
ligeiramente, uma expressão perplexa no rosto. Tão perto, ela parecia etérea, misteriosa, sua
pele suave como a seda, palpável. Nunca esteve tão atraído por outro ser em sua vida.
— Sua pele vai queimar. — explicou pacientemente. — Seria extremamente doloroso
para você.
Ela continuava olhando para ele, confusa. Tentou repetir o aviso em vários idiomas. Ela
apenas olhou para ele e foram atraindo mais atenção. Toda vez que ela se movia tinha os olhos
de todos na taverna, e ele não queria que ninguém pensasse que era uma presa fácil por sua
falta de conhecimento da necessidade mais básica tal como incêndio. No final, não havia mais
nada a fazer. Ele apertou-lhe o braço para baixo ao seu lado, deu a volta nela e estendeu a mão
com a palma para baixo, para as chamas.
Observou com os olhos arregalados como sua pele empolava, e o cheiro de carne
queimada subiu. Ela pegou seu braço e puxou a mão da lareira.
— Você entendeu? — Ele perguntou, mostrando-lhe o dano.
Ela virou a mão, a palma da mão cobrindo a queimadura suavemente, mas ele ainda
pode sentir a energia vibrando através de sua pele. Frescor calmante deslizou sobre as bolhas.
Ela levou a palma da mão em direção à sua boca. Ele prendeu a respiração, o ar preso nos
pulmões. Não conseguia se mover ou mesmo falar quando ela inclinou a cabeça em direção à
palma da mão. Sua língua tocou as bolhas levemente, mal tocando, um deslizar lento que
realmente fez sua mão tremer e seus joelhos um pouco fracos. Pior ainda, seu corpo reagiu com
uma onda quente de sangue, correndo de maneira perversa.
Ela soltou sua mão lentamente, quase com relutância. Ele levantou a mão para
inspecionar, ainda sentindo a frieza calmante como se tivesse espalhado um gel curativo sobre
a pele empolada. As bolhas haviam desaparecido. Sua palma já não estava queimada, nem
mesmo estava vermelha.
Fen prendeu a respiração bruscamente. Ele sabia o que ela era. Nenhuma outra espécie
poderia curar apenas com a saliva com tanta facilidade. Ela tinha que ser Cárpato – uma raça de
seres que chamava as montanhas dos Cárpatos de seu lar. Poucos sabiam de sua existência. Ele
franziu a testa, tentando envolver o cérebro em torno da ideia. Na verdade, não fazia sentido.
Duvidava que uma mulher Cárpato tivesse chegado a um botequim sozinha, especialmente um
lugar difícil como o Javali. Ela não só teria conhecimento do fogo, mas seria bem-educada em
todas as coisas. Ninguém vivia entre os Cárpatos sem adquirir uma grande quantidade de
conhecimento ao longo do caminho. O que tinha acontecido com ela? E por que estava sem
escolta?
Ele sentiu o peso de um olhar e levantou os olhos para encontrar o olhar de Zev. Ele
estava olhando para a mulher. Instintivamente Fen mudou seu corpo ligeiramente, bloqueando
a visão de Zev dela. Seu olhar saltou para o rosto, e em seguida ela espiou ao redor de seu corpo
largo até olhar para Zev e depois olhou de volta para ele.
— Você não está segura aqui. — Fen disse, relutante em admitir. — Esta multidão é
difícil.
Ela sorriu para ele. Sorriu. Seu coração mudou. Seu estômago se apertou e o sangue
subiu quente em suas veias. Seus dentes eram muito brancos, lábios cheios, vermelhos e parecia
uma fantasia. Ele respirou fundo sabendo que era um erro, mas puxando-a em seus pulmões de
qualquer maneira. Respirou profundamente e segurou, girando ao redor, torcendo suas
entranhas até que soube que poderia — e iria — encontrá-la novamente.
Inclinou o queixo para que ela olhasse para sua boca.
Zev em particular, é perigoso. Mexeu os lábios, em vez de pronunciar o som, temendo
que Zev tivesse a mesma audição extraordinária que ele. Os outros também, mas não como ele.
Você entendeu?
Tatijana assentiu. Claro que entendia, embora estivesse mais preocupada com o efeito
de seu toque do que a advertência que ele deu. Ela estava definitivamente atraída por este
homem — Fen era seu nome. Ele parecia humano quando ela empurrou sua mente levemente
— como todos os outros na taberna — e ainda assim Fen a intrigava. Ele havia se movido com
uma velocidade estonteante. Velocidade sobrenatural. Como poderia ser humano e ainda
mover-se com a velocidade de um dos Cárpatos? Mas não sentiu nenhuma energia que o
precedesse e que ela deveria ter sentido.
Era muito mais musculoso do que a maioria dos homens Cárpatos, mas tinha a mesma
altura. Seus olhos eram diferentes, e passou uma enorme quantidade de tempo estudando-os
secretamente quando ele sentou-se no bar, cuidando de sua bebida. Ele não estava realmente
bebendo, mas ao longo do tempo, o líquido desapareceu. Ela não tinha descoberto ainda como
estava realizando essa façanha particular, mas sabia que queria aprender.
Por que ele tinha escolhido Zev em particular como perigoso? Sentia-o como qualquer
outro ser humano na taberna. Por que Zev? Ela era adepta de ler lábios. Tinha aprendido há
muito tempo quando ainda era criança, rodeada de gelo, vendo a crueldade de seu pai enquanto
ele sacrificava animais e seres humanos igualmente. Ninguém estava a salvo. Magos, Cárpatos,
Jaguar, Lycan — nenhuma espécie foi deixada ilesa. Mesmo os mortos não estavam a salvo de
Xavier.
Ela articulou a pergunta de Fen, certificando-se que nenhum som escapasse
acidentalmente, apenas no caso dele ser um Cárpato. Estava tão inexplicavelmente atraída por
Fen, ele era definitivamente um ponto de interrogação em sua mente e não estava querendo se
arriscar. Não estava pronta para qualquer macho reclamá-la. Precisava de um tempo sozinha e
sabia tudo sobre companheiras e como um homem poderia reger sua vida, mesmo sem o seu
consentimento. Isso não podia acontecer — e não para ela. Agora não. Ela estava, na verdade,
pela primeira vez em sua existência, desfrutando de sua vida. O caminho da descoberta era
emocionante. Sentia-se tão viva e não queria que nada e nem ninguém tirasse isso dela.
Na verdade, não estava completamente certa de que pudesse ter um relacionamento
com alguém — pelo menos um saudável. Isso exigiria confiança, e ela simplesmente não tinha
isso. Confiava apenas em Branislava, sua única aliada. Estavam juntas há muito tempo, era difícil
pensar em estar longe, mas Tatijana sabia que precisava desse tempo sozinha
desesperadamente. Como é que descobriria quem eles eram e o que eles gostavam se nunca
tivesse tempo para descobrir?
— Eu sei. — Fen murmurou de volta. Ele estendeu a mão e colocou uma mecha de
cabelo atrás da orelha.
Sua respiração ficou presa na garganta. Seu toque fez algo estranho para todo seu corpo
e foi alarmante. Ela deu um passo atrás, incapaz de afastar o olhar do dele.
O som de um lobo uivando lá fora à distância fez os dois ao mesmo tempo virarem a
cabeça em direção à janela. Com o canto do olho viu que Zev também virou na direção do som,
e Fen definitivamente percebeu seu movimento também. Ela não podia supor que alguém
falasse que o som não era arrepiante.
Isso não era lobo uivando para a lua, era o som de um chamado para a caça. Pelo menos
três outros responderam ainda mais distantes, mas não soava como a matilha de lobos local.
Pareciam agressivos e ansiosos, como se já tivessem a presa à vista. Mais do que isso — para os
ouvidos — a chamada soou um pouco distante, como se os lobos estivessem fora.
Seu olhar saltou para o rosto de Fen. Ele estava muito quieto. Completamente imóvel.
Sua expressão não mudou em nada, mas sentiu a diferença nele. Parecia relaxado, mas sentiu-
o tenso e pronto.
— Eu tenho que ir. — ela murmurou para ele e retrocedeu outro passo.
Sua atenção voltou imediatamente para ela. Ele franziu a testa e olhou pra fora da janela
novamente.
— Eu vou levá-la. — Disse isso em voz alta neste momento.
Cabeças se viraram na taberna em direção a eles. Dois dos homens fizeram uma careta
observando-os, os que tinham sussurrado juntos que iriam segui-la. Claramente seu amigo não
os convencera, embora ele ainda parecesse estar discutindo.
Tatijana esperava que acontecesse mais cedo ou mais tarde, mas tudo o que tinha a
fazer era dissolver-se em névoa e ir embora. Os homens nunca saberiam o que tinha acontecido
com ela. Tinha toda a confiança de que não importava o que, ela estaria segura.
Tatijana sabia que Fen havia anunciado sua intenção de caminhar com ela porque estava
tentando garantir que estivesse a salvo dos homens na taberna — e talvez do que quer que fosse
fora dela também. Sua primeira inclinação, autopreservação, exigia que recusasse sua oferta.
Mas não havia essa compulsão empurrando nela, querendo apenas estar em sua companhia,
sem motivo aparente.
Teve uma chance e analisou em sua mente uma segunda vez. Ele parecia um simples
humano. Talvez fosse a contradição intrigante que ele representava ou talvez a maneira como
atraiu-a como um ímã, mas deu um leve aceno de cabeça para que ele soubesse que andaria
atrás dele. De qualquer maneira sabia que poderia protegê-lo se houvesse problemas.
Zev se afastou do bar, abotoou o casaco e saiu sem ao menos olhar seu caminho. Como
se a palavra de Fen fosse um sinal, os três homens amontoados, sussurrando suas conspirações,
levantaram-se e puxaram seus casacos e chapéus para saírem da taverna também. Um dos
homens olhou um pouco nervoso para Fen enquanto os outros dois riam para Tatijana.
Seu coração se afundou. Claramente estava colocando Fen em perigo ao concordar em
andar com ele. Abriu a boca para dizer que iria sozinha, mas ele pegou a mão dela e puxou-a
para a porta. No momento em que o calor de sua mão se fechou em torno dela, seu coração
mudou e um milhão de asas de borboletas bateram em seu estômago. Suas mãos eram muito
maiores que as dela e engoliu completamente sua mão muito menor, fazendo-a sentir-se
feminina e muito mulher — um novo conceito para ela.
Não queria que essa sensação incrível acabasse. De qualquer forma, estava certa de que
poderia proteger Fen sem que ele soubesse o que ela era. Se necessário, removeria todas as
memórias ruins. Também precisava se alimentar. Não foi tão difícil se convencer de que tinha
muito boas razões para permitir Fen acompanhá-la através da floresta.
— Onde está seu casaco? — Perguntou Fen.
Casaco. Todo mundo estava usando um casaco. Cárpatos regulavam suas temperaturas.
Ela não sentia calor ou frio, e foi por isso que não sentiu as chamas, mas havia saído de seu
caminho para se encaixar com os seres humanos. Essa era uma das maiores regras que regiam
a sociedade. Ninguém poderia saber de sua existência. Antes que ela e Bronnie fossem
colocadas na terra para se curarem, este princípio foi incutido dentro dela. Tinha esquecido um
casaco.
Ela olhou para os ganchos irregulares na porta onde muitos dos clientes penduravam os
casacos e chapéus. Ao mesmo tempo um casaco longo e com capuz apareceu lá. Ela deu uma
olhada rápida no espelho, grata porque ninguém pareceu notar. Indicou o casaco com um
pequeno empurrão de seu queixo. Se Fen estava assustado não deu nenhuma indicação.
Simplesmente tirou o casaco comprido da gancho e ergueu em direção a ela.
Ela hesitou, como se não tivesse certeza do que deveria fazer. Fen se aproximou e
passou o braço em uma das mangas, envolvendo o casaco ao seu redor. Ele esperou
pacientemente até que ela colocou seu outro braço. Ele girou e abotoou o casaco para ela. O
tempo todo, enquanto ele encaixava cada botão em sua casa, ela prendeu a respiração e olhou
para o rosto dele.
Ele era bonito. Com cicatrizes, rude, totalmente masculino, mas bonito mesmo assim.
Ela memorizou a sua estrutura óssea, o formato do nariz, o corte de sua boca e sua forte
mandíbula. Queria se lembrar dele por toda sua vida — para lembrar deste momento. Ela
poderia não ter um momento ou sensação como essa novamente e isto era algo que precisava
saborear.
Fen ficou em torno dela e abriu a porta. Uma rajada de ar frio entrou. Ela ergueu o
queixo, inalando a noite, permitindo que o vento trouxesse informações. Fen respirou fundo e
saiu um pouco à sua frente, mantendo a posse de sua mão. Seu corpo parcialmente protegendo-
a do frio enquanto dava uma olhada cuidadosa ao redor.
Névoa cinzenta agitando e girando, bloqueando a visão da taberna da floresta subiam
pelas árvores assustadoramente. E o pior de tudo, ainda obscuras e um pouco disformes, os
topos parecendo como se flutuassem sem troncos acima deles.
— Qual o caminho? — perguntou Fen.
Tatijana indicou à esquerda, para a floresta. Os lobos pareciam tranquilos e esperava
que eles ainda estivessem bem longe. Fen puxou um pouco sua mão para trazê-la perto dele e
eles partiram. Ela sentia o cheiro de Zev, um forte e antigo cheiro de floresta que se agarrou a
Fen também. Ela gostava muito dele. O cheiro era tudo sobre liberdade, algo que ela queria mais
do que qualquer coisa.
A noite exalava uma fragrância sedutora — a meia-noite de um azul escuro, fria, com
estrelas no céu e uma lua cheia também. Esse aroma indescritível conjurou tudo o que tinha
chegado a amar no curto espaço de tempo em que foi libertada de sua prisão. Mais ainda, queria
ficar perto de Fen e apenas tê-lo em seus pulmões, para levá-lo profundamente para que nunca
mais o esquecesse.
— Diga-me seu nome. Eu sou Fen. Fenris Dalka. — Ele não diminuiu o passo, caminhando
com confiança absoluta na floresta. Parecia um homem sem muito medo.
Ela olhou para ele. Estudou-o cuidadosamente, mais uma varredura apenas para ter
certeza de que estava segura. Ela abriu a boca para dizer, mas simplesmente não conseguiu.
Algo a deteve. Havia uma forte compulsão para estar com ele. Talvez fosse tudo novo para ela,
essa atração entre um homem e uma mulher, mas nunca aconteceu antes. Ela não esteve nem
um pouco atraída por qualquer pessoa na taberna, nem mesmo uma única faísca. Balançou a
cabeça e sorriu para ele.
Ele deu um sorriso para ela.
— Você sabe que o mistério é muito intrigante em uma mulher, certo? Vou ficar mais
apaixonado do que nunca. Sou capaz de ler lábios. — acrescentou.
Queria que ele soubesse o nome dela. Ela declamou 'Tatijana', exagerando cada sílaba,
então seria mais fácil para ele. Ele conseguiu na primeira tentativa.
— Tatijana é um nome bonito. Você mora perto?
Ela deu de ombros, feliz por apenas estar andando com ele. Seu corpo exalava um calor
inesperado e ela permitiu a si mesma sentir. Precisava sentir cada momento com ele. Sabia que
devia puxar a mão da dele. Não o conhecia. Não conhecia a etiqueta apropriada entre um
homem e uma mulher, mas apenas por este momento, pela primeira vez em sua vida, sentia-se
normal. Real. Ela não era Cárpato. Não era Caçadora de Dragão. Não era filha de um mago. Era
uma mulher que apreciava a companhia de um homem.
— Morei aqui há muito tempo. — Fen revelou. — Só voltei para uma curta visita e devo
partir novamente. — Olhou em volta para a névoa crescente nas formas escuras das árvores. —
Tinha esquecido como é bonito.
Tatijana concordou com ele em silêncio. Queria dançar lá nas profundezas da floresta
só porque estava muito feliz. Apenas algo tão simples como caminhar na floresta à noite
inundava-a de alegria e Fen foi um bônus adicional. Assentiu com a cabeça, sentindo-se um
pouco tola por não estar falando em voz alta, mas talvez ele pensasse que não podia. Ela nem
sequer se importou se isso significava que teria pena dela, embora quando examinou seus
pensamentos não encontrou piedade. Viu atração.
— Você viveu aqui por muito tempo? — ele perguntou.
Ela olhou para seu rosto. Não estava olhando para ela, apesar de seu tom de voz fazer
com que sentisse como se fosse a pessoa mais importante do mundo, e ele queria uma resposta.
Seu olhar era inquieto, movendo-se constantemente desde os galhos das árvores até descer
pelo chão, sua visão tentando furar o pesado véu de névoa.
E se ela tivesse perdido alguma coisa? Algum aviso? Deu um olhar cuidadoso ao redor,
enviando seus sentidos, varrendo com cuidado para tentar detectar uma ameaça. Um pouco à
frente e um pouco à esquerda, escondidos entre as árvores, estavam os três homens que
deixaram o bar depois de Zev. Ela suspirou. Claro. Sabia que viriam fazer sua tentativa com ela.
Permitiu-se ser arrastada para um mundo mágico que não tinha ameaças nele. Tudo e todos
que poderiam ameaçá-la pareciam triviais em comparação a Xavier.
Ela tocou o braço de Fen.
— Eu tenho que ir. — ela murmurou. — Pode voltar agora.
Ela não iria envolvê-lo. Não estava certa de que era humano, mas se fosse, três contra
um, mesmo parecendo grande e letal, não era justo. Ela podia dissolver-se em névoa e eles
nunca a encontrariam, mas Fen devia ser protegido, mesmo que fosse de sua própria bravura.
Fen parou abruptamente.
— Você sabe que eles estão lá, não é?
Tatijana concordou com relutância. Estava revelando-se, mas não mais que ele. Os três
homens estavam a certa distância, impossível ver com a névoa pesada e a cobertura das árvores
densas e arbustos.
— Vou cuidar deles. Você vai sair daqui.
Ela balançou a cabeça. Tinha medo de que ele seria um macho protetor. Enviou-lhe um
pequeno "empurrão" para sair. Ele fez uma careta para ela, balançando a cabeça. Tatijana sabia
que havia cometido um erro terrível. Fen era muito mais do que parecia e o empurrão que ela
havia tentado dera demasiada informação sobre ela.
O que ele era? Mago? Achava que não. Ela foi mantida prisioneira durante séculos pelo
mago mais poderoso que o mundo já conheceu e Fen não era de nenhuma forma semelhante
fisicamente, nem seu cérebro parecia dessa forma. Jaguar? Também não. Isso deixava Cárpato
ou Lycan. Se ele fosse Cárpato, teria reconhecido pelo seu campo de energia. Lycans eram as
únicas espécies que não produziam esse campo de energia legível para os outros.
Ela deu uma chance.
— Sou bem capaz de me defender. Você precisa partir. Esses homens estão atrás de
mim, não de você.
Capítulo 2

Fen ficou muito quieto enquanto a terra embaixo dos seus pés parecia tremer e as
árvores ao redor deles balançavam. Sabia tudo, mas esqueceu que nasceu Cárpato. Vivera tanto
tempo como uma abominação — o mais caçado da espécie Lycan — considerado pior do que
qualquer maldita matilha de lobo que devia ser caçada e destruída. Sua natureza não podia ser
tolerada no mundo Lycan.
Ele era tanto Cárpato quanto Lycan, e a combinação fazia dele um pária. Vivia sob uma
sentença de morte por séculos. Não havia dúvida em ter uma companheira, sem chance para
ele. Tinha desistido há muito tempo do conto de fadas. Seus pulmões ardiam e percebeu que
estava prendendo a respiração. Ela estava olhando para ele com seus incríveis olhos verdes. A
cor mudou, passando de profundo esmeralda para um azul esverdeado multifacetado
fascinante.
Ela sabia. As indicações para os dois esteve lá o tempo todo, mas ignorou,
descaracterizando-as ou simplesmente não acreditou nelas. Em algum nível prático estava
esperando por este momento toda sua vida. Ela existia. Sua companheira. A única mulher que
ocuparia a outra metade de sua alma. Era a luz de sua escuridão. Ela trouxe de volta a cor e
emoções reais.
Tudo atingiu-o de uma vez, tudo. Sentimentos. Cores vivas. Seu cabelo era vermelho
dourado, ainda mudava nas sombras para tons mais profundos ou faixas de cor que se
misturavam. Por um momento, apenas deixou que as emoções caíssem sobre ele. Queria ir onde
o amor estaria com essa mulher, esse incrível milagre em pé na frente dele, olhando-o com olhos
arregalados e chocados.
Havia medo nos olhos dela e se ela soubesse da missa metade, fugiria correndo. Fen
segurou o lado de seu rosto suavemente, esfregando a ponta do polegar sobre a pele macia
acetinada. Seu coração bateu descompassado e trovões rugiram em seus ouvidos.
— Minha senhora. — disse ele em voz baixa. Pesarosamente. — Eu daria qualquer coisa
para você se vincular a mim, mas sua proteção deve vir em primeiro lugar. Você não pode estar
em qualquer lugar perto de mim. Estou sob uma sentença de morte e ninguém me dará abrigo,
e quem me ajudar vai ser morto por minha causa. Se encontrá-la e souberem quem você é, não
vai ter chance. Vão matá-la também.
Tatijana piscou para Fen. Sua declaração era a última coisa que esperava. Preparou-se
para a reivindicação, as palavras que sabia que vinculariam suas almas para sempre. Não haveria
vida sem ele e nem a preciosa liberdade — o que ela queria acima de tudo.
— Por que alguém iria querer matá-lo? — Ela parecia um pouco acusadora, um pouco
ofendida. Olhou para os três homens ocultos nas árvores à distância. Estavam esperando para
emboscar o casal e não rastejar através dos arbustos — pelo menos não até que tivessem muito
mais coragem. — O que você fez?
Um leve sorriso apareceu em seu rosto diante da pequena acusação em sua voz.
— Não finja que você queria que eu a reclamasse. Fez tudo que podia para evitar que
eu soubesse que é minha companheira. Não acho que ultraje feminino é a resposta adequada.
Você devia estar pulando de alegria.
— Bem, não estou. Pulando de alegria, quero dizer, por você ser meu companheiro. Não
posso ter um companheiro no momento. Tenho problemas.
Seu sorriso se transformou em um sorriso que aqueceu os olhos e que o fazia ainda
mais atraente. Seus olhos eram surpreendentes. Na taberna eram de um azul gelado, como o
gelo nas cavernas que foi sua casa por tanto tempo. Era atraída por seus olhos. Agora estavam
de um azul ainda mais profundo, mais rico, como as safiras brilhantes que viu na provisão de
gemas e artefatos que Xavier usava para sua magia. Não sentia minimamente que era culpa dela
que estava agindo como uma tola, não quando ele tinha aqueles olhos azuis.
Ela levantou a mão.
— Mas, aqui está a coisa, Fen. Não vou deixar meu companheiro ou qualquer um dos
Cárpatos em apuros. Então por que você está sob uma ameaça de morte e de quem?
Ele balançou a cabeça.
— Mulher, você sabe como complicar as coisas, não é?
Ela gostou da ideia do que fazia. Gostou da ideia de complicar sua vida. Nunca teve essa
experiência antes e descobriu que estava muito orgulhosa de suas habilidades.
Seu sorriso se alargou e percebeu que não teve o cuidado de proteger sua mente dele.
Ele estava lá antes que ela percebesse, despejando calor dentro dela, enchendo cada lugar
deserto estéril fundindo-se com sua mente, unindo-os. Ela captou vislumbres de suas memórias,
mas os achou estranhos, não dos Cárpatos.
— Você gosta de brincar comigo. — acusou, mas o riso em sua voz e o calor de seus
olhos incrivelmente azuis desmentia qualquer raiva.
Ela nunca "mexeu" com ninguém antes. Demorou um pouco para traduzir o jargão
moderno em sua mente, mas sim, gostou bastante de "brincar" com ele. Ele estava oferecendo
várias experiências novas e emocionantes.
— Gosto, sim. — O sorriso desapareceu de seu rosto. — Esses três homens esperando
para saltar em cima de mim realmente não representam uma ameaça para qualquer um de nós,
mas você é muito sério sobre esta ameaça de morte. É Zev quem está te caçando? Foi por isso
que disse que ele era tão perigoso?
Ele suspirou e colocou a mão no peito.
— Realmente vai insistir em uma explicação, não é? Se alguém descobrir que sabe, virão
atrás de você.
Ela ergueu o queixo.
— Não tenho medo, Fen. Enfrentei monstros que você não pode imaginar... — Ela
estudou seus traços rudes, as linhas em seu rosto. — Talvez possa. Mas o ponto é, não vou fugir
de problemas. Não vou me esconder. Apenas me diga o porquê.
— Séculos atrás, eu estava caçando um vampiro particularmente selvagem. Nunca me
deparei antes com um tão poderoso e brutal. Ele estava destruindo vilas inteiras, matando todos
eles, e por algum motivo não conseguia senti-lo nem um pouco, nem sua energia ou qualquer
um dos meios usuais de encontrar um vampiro. Às vezes, ao se caçar vampiros, é o que está
ausente o que os entregam, ainda assim, sempre estive um passo atrás. Poderia segui-lo por seu
rastro de destruição, mas não conseguia chegar à frente dele.
Fen virou a cabeça para os três homens que esperavam. Tatijana imediatamente
percebeu que estavam ouvindo-os o tempo todo. Caçadores Cárpatos tinham enormes
habilidades, conscientes de seu entorno em todos os momentos, mesmo quando pareciam
totalmente focados em uma coisa — uma pessoa.
Ela estava um pouco desapontada por não ter mantido toda a sua atenção quando ele
tinha mantido a dela.
— Sério. Esses homens estão me irritando agora. — Ela marchou em direção a eles,
esquecendo que Fen estava na outra extremidade do caminho. Deu três passos e parou
abruptamente. Virou-se, franzindo o cenho para ele.
— O que você está fazendo?
— Quero saber o que você está pensando. — ele respondeu com uma sobrancelha
levantada.
Ela virou para enfrentar a ameaça.
— Estou muito desgostosa com vocês três. — ela gritou. — Se estão pensando em pular
em cima de nós, façam já. Estou tentando ter uma conversa importante e Fen está aqui tendo
dificuldade de se concentrar. Assim, ou juntam coragem e saiam para clareira onde nós dois
vamos aniquilar vocês ou fujam para casa.
Fen soltou uma gargalhada. O tom rico e rouco foi tão inesperado, tão masculino, que o
som parecia reverberar pelo seu corpo, enviando pequenas ondas de choque chiando através
de seu sangue.
— Não estou tendo dificuldade de me concentrar. — disse ele, sua voz descendo um
tom. — Estou concentrado em cada palavra sua.
Ela deu uma fungada nada delicada.
— Você deveria estar se explicando. Quando um companheiro se recusa a reivindicar
sua mulher, deve haver uma explicação razoável.
— Você não tem nenhum desejo de me reivindicar. — ele apontou.
— Esse é o ponto.
Fen encontrou-se sorrindo. Os três homens que esperavam nos arbustos estavam
discutindo o que fazer agora que o elemento surpresa foi afastado. Um deles continuou a tentar
persuadir os outros dois que estavam bêbados que entrariam em apuros. Que eles não poderiam
ser feridos por uma mulher.
Fen não se importava de uma forma ou de outra se eles atacassem, mas estava
realmente fascinado pela mulher que quase bateu o pé para ele. Como regra geral, as mulheres
Cárpatos eram altas com cabelo escuro. Tatijana estava do lado diminutivo, com o cabelo em
constante mudança de luz e seus incríveis olhos esmeralda.
As cores vivas, depois de séculos sem nenhuma cor e então desiguais tonalidades de
marrom, eram quase ofuscantes. A alegria do sentimento o encheu, assim como a intensidade
das emoções quase o dominou.
— Quero a explicação e acho que, como sua companheira, mereço ouvir. — Ela parecia
tão arrogante e majestosa, se essa combinação fosse possível.
— E não importa o que, você não vai fazer o que é prático e me deixar, não é? — Ele
perguntou.
Ela o pegou. O mistério e intriga em torno dela atraíam quase tanto quanto o chamado
de sua alma para ele. A atração entre eles era muito forte, e não estava certo se no fim teria
forças para abandoná-la.
— Claro que não. Você acha que sou covarde? — Ela sacudiu a cabeça como um potro
rebelde, indicando os três homens agora discutindo em voz baixa que achavam não poder serem
ouvidos. — Como eles? Eu sou Cárpato. Posso não ter experiência prática em uma luta, mas
certamente tenho conhecimento de todo o tipo de inimigos e a melhor forma de derrotá-los.
Nunca fujo à luta, nem vou aceitar outra ordem.
Ela era... magnífica. A lua estava mais obscurecida pelo véu de névoa, mas sua longa
trança parecia soltar faíscas.
— Como conseguiu seu conhecimento? — perguntou Fen.
Ela deu de ombros.
— Talvez saiba o nome do meu pai. Ele era o mago mais poderoso já conhecido, Xavier.
Ele era um falso amigo dos Cárpatos, enganou-os durante anos fazendo-os pensar que a aliança
entre o mago e os Cárpatos era forte. Queria a imortalidade e os Cárpatos não deram-lhe o seu
segredo. Ele matou o companheiro da minha mãe e manteve-a prisioneira, como só o mais
poderoso mago podia. Ele a forçou a ter seus filhos, trigêmeos, duas meninas e um menino.
Minha irmã Branislava, meu irmão Soren e eu. Ele precisava de nós pelo nosso sangue.
Fen ficou chocado e sabia que mostrou em seu rosto.
— Estudei com este homem séculos atrás. Nós todos fizemos. Ninguém sabia de sua
traição?
Ela balançou a cabeça.
— Eu e minha irmã fomos mantidas desde o nascimento em seu covil nas profundezas
do gelo, onde se alimentava de nossas veias, mantendo-nos fracas. Nossa mãe teria nos
transformado completamente quando percebeu o que Xavier pretendia fazer, na esperança de
que encontraria uma maneira de escapar. Ele matou-a no momento em que sentimos que
poderíamos fornecer o sangue que ele tanto desejava.
Passaram-se séculos desde que Fen partiu das montanhas dos Cárpatos e seu irmão não
teve tempo de dar-lhe muitas novidades. Saber que um mago tão formidável quanto Xavier os
tinha traído e cometeu atos abomináveis contra uma mulher Cárpato e seus próprios filhos,
gelava-o até os ossos. Ele viu mentiras na forma de vampiros, mas alguém que seu povo
considerou como um amigo e aliado... A traição de Xavier parecia muito pior. Todos tinham
confiado nele.
— Por quanto tempo esteve mantida em cativeiro?
Pela primeira vez, ele viu sua hesitação. Sua mão tremia quando estendeu a mão para
empurrar para trás mechas de cabelo. Fen cobriu a mão dela com a sua.
— Minha vida inteira. Séculos. Nós nunca deixamos as cavernas de gelo até cerca de
dois anos atrás. Estivemos curando na terra. — Tatijana admitiu.
— E o príncipe permite que saia sem escolta? Desprotegida para seus caçadores? — Ele
não se preocupou em esconder a aspereza — ou o desgosto em sua voz.
Tatijana rapidamente balançou a cabeça.
— Ele não tem ideia que acordei. Nenhum deles sabe. Meus guardiões acreditam que
estou segura embaixo da terra. Eu precisava sentir a liberdade. — Seu olhar encontrou o dele.
— Eu precisava disso.
Ele entendeu o que ela estava tentando transmitir. Não tinha escapado por despeito ou
porque levianamente queria despistar seus guardiões, realmente precisava para se sentir em
liberdade... e ele entendeu isso. De certa forma, Cárpatos caçadores perdiam sua liberdade
quando perdiam toda a emoção e cor. Eles tinham um propósito depois disso — encontrar sua
companheira. Se não conseguissem fazê-lo, com o passar dos anos corriam o risco de se tornar
nosferatu — os mortos-vivos. A única coisa que restava para os caçadores era caçar e destruir o
vampiro e procurar sua companheira.
— Contei a você sobre mim. — disse ela. — Agora é a sua vez.
— Acho que estamos prestes a ter companhia. Dois dos três. O terceiro optou por
abandonar seus amigos embriagados quando não conseguiu convencê-los de sua idiotice... e
devo dizer, ele definitivamente tentou. — queria rir com a expressão em seu rosto. Ela parecia
absolutamente condoída... e adorável. Nunca pensou em usar essa palavra, mas agora ele sabia
o que significava.
— Você tem que estar brincando comigo. — Ela jogou as mãos para o ar e virou-se para
enfrentar os dois homens rastejando para fora dos arbustos. — Eles são realmente estúpidos?
O que há de errado com eles?
— É chamado de álcool. Você o cospe quando tenta tomá-lo, mas muitos humanos
gostam e são muito afetados por ele. Quanto mais bebem, menos inibidos ficam e tomam
decisões realmente estúpidas às vezes.
— Eles nem sequer tem coordenação motora. — ressaltou. — Um mal consegue ficar de
pé. Será que realmente acham que teriam uma chance contra você? Eu posso vê-los cometendo
o erro a respeito de uma mulher, mas eles devem ter visto você na taberna.
— O álcool prejudica a capacidade de pensar com clareza. — Fen virou-se para os dois
homens vindo em sua direção, mudando de posição para colocar seu corpo um pouco na frente
dela.
Tatijana apertou os lábios, uma grave advertência. Fen pegou o olhar em seu rosto com
o canto do olho. De repente, ela parecia ao mesmo tempo irritada e determinada. Sentiu a
explosão de energia, e em seguida ela se movimentou com indefinida velocidade.
Você deve parecer humana! ele avisou rapidamente, movendo-se com ela quando
empurrou o aviso em sua mente.
No último momento, ela emergiu da névoa como humana, saltando através do ar para
conseguir um chute perfeito, o pé batendo com violência no ventre do homem, duplicando a
força para que ele se dobrasse ao meio. Ele balançou e lentamente afundou no chão, piscando
para Tatijana.
Fen assobiou quando o segundo homem cambaleou até parar e ficou balançando,
olhando para o seu companheiro com olhos embaçados.
— Legal. — Fen comentou. — Estou impressionado. — Estendeu a mão para Tatijana.
— Vão embora para casa, rapazes. A floresta pode se tornar perigosa muito rapidamente
durante a noite.
Tatijana pegou sua mão e foi com ele para as profundezas da floresta. Ele tomou o
caminho estreito que levava de volta para a aldeia. Ela não mostraria a ele seu lugar de descanso,
mas seria muito mais seguro na aldeia do que na floresta. Seu último vislumbre dos dois
atacantes era de um tentando ajudar o outro no chão.
A névoa os envolveu mais uma vez. Tatijana pigarreou.
— Você disse que estava perseguindo um vampiro particularmente violento. Por favor,
continue. Eu realmente gostaria de ouvir.
Fen olhou para o topo da sua cabeça. Ela não chegava até seu ombro, mas já era uma
força a ser contada. Não colocara qualquer compulsão em sua voz, mas não podia resistir a ela.
Não tinha nenhuma experiência com companheiras, então não tinha ideia se o feitiço que lançou
foi um que qualquer mulher poderia facilmente colocar em seu companheiro Cárpato.
— O vampiro era denominado Vitrona e não conseguia chegar à frente dele, não
importava o que eu fizesse. Nunca o senti. Nenhuma vez. Só podia seguir na esteira de sua
destruição total. Aldeias inteiras, tantas pessoas e principalmente Lycans. Ele estava acabando
com eles. Mais de uma vez voltou atrás e me pegou de surpresa, algo que sempre foi impossível.
Eu caçava vampiros há longos séculos e mesmo naquela época não era nenhum novato.
— Vi vampiros e a crueldade que exibem. — Tatijana admitiu. — Xavier tinha aliança
com um.
Fen balançou a cabeça.
— Séculos atrás, os vampiros não faziam alianças. Eles evoluíram em mais de uma
ameaça, mas este, Vitrona, matava não só por violência, mas por prazer. Parece que não era
apenas vampiro, mas Lycan... bem... não Lycan... lobisomem também.
Ela engasgou, uma mão indo para sua garganta.
— Lycans podem andar na luz do sol. Podem passar despercebidos pelos Cárpatos e
Magos. Lycans eram uma das espécies que Xavier teve dificuldade em conseguir porque era
muito difícil localizá-los.
— Os Lycans mantiveram suas próprias aldeias naquela época, mas a política mudou
quando Vitrona rasgou suas fileiras, matando todo mundo, homem, mulher e criança. Ninguém
pode impedi-lo. — Fen abaixou a cabeça, as lembranças de encontrar tantas famílias
brutalmente assassinadas caíram sobre ele. — Nem mesmo eu. — Por um momento, a dor o
sufocou... tristeza que não fora capaz de sentir até sua companheira trazer emoções intensas de
volta para ele.
Os dedos de Tatijana apertaram ao redor dos dele.
— Eu não achei, quando te pedi para falar sobre isso, que você teria que reviver este
momento com emoção. Por favor, me perdoe. Não tem que continuar.
Fen estava um pouco chocado com a forma como a conexão psíquica entre eles ficava
mais forte a cada momento que passava em sua companhia. Ele tocou sua mente, roçando
levemente, e descobriu que ela estava angustiada com o pensamento de que tinha causado o
desconforto. Ninguém nunca foi perturbado em seu nome que ele conseguisse se lembrar.
Levou a mão ao peito, apertando a mão sobre seu coração quando continuou a caminhar
com ela em direção à aldeia — e à segurança. O véu de névoa cobria a floresta agora, tornando
quase impossível ver as árvores, até que estavam bem em cima delas, mas podia senti-las
através dos pelos em seu corpo e com a energia que irradiava das plantas vivas.
Ele a guiou infalivelmente ao longo do caminho, cortando através do interior e pegando
o ritmo. Seu sistema de alerta estava começando a desprender pequenas ondulações.
— Você me deu um presente além da medida, minha senhora. Caminhar com você é tão
pacífico quanto emocionante. Só por ter seu interesse no meu passado já é um milagre que eu
não esperava.
Ela deu-lhe um olhar por baixo dos cílios longos, um breve vislumbre de seus olhos
verdes surpreendentes.
— Tenho interesse em seu futuro também, Fen. Pelo que aprendi sobre companheiras,
um não fica bem sem o outro por muito tempo.
— Então vou continuar com a minha história. Segui Vitrona durante um ano muito longo,
e durante esse tempo eu me tornei ciente de um outro caçador rastreando-o — um Lycan. Ele
era um caçador de elite, aquele que persegue e mata lobisomens renegados, os que matam
humanos e sua própria espécie, assim como nós destruímos o vampiro que ataca humanos. As
habilidades do Lycan eram formidáveis. Encontrei-me tendo um grande respeito por ele. Ele se
aproximou de mim em duas ocasiões e, no entanto, também perdeu Vitrona.
— Que coisa horrível para ambos. — disse Tatijana. — O que era tão diferente no
vampiro?
— Quando se persegue os mortos-vivos, há certos sinais para procurar, mas esse
vampiro era quase impossível encontrar por qualquer dos meios usuais. Não havia marcas de
queimaduras em sua morte, a menos que deliberadamente a deixasse. Não havia espaços em
branco, indicando que estava se escondendo. O Lycan, seu nome era Vakasin, eventualmente o
caçava apenas pelo cheiro. Nós unimos forças, sabendo que dobrariam as chances de executar
o monstro. Muitas vezes nos engajamos no campo de batalha, e nós dois carregamos terríveis
feridas quase mortais. — Fen hesitou, sem saber como dizer a ela o resto... temendo sua reação.
Tatijana parou de andar e virou para ficar diretamente na frente dele, bloqueando seu
caminho, forçando-o a parar.
— Eu contei a você sobre Xavier. Ele era o criminoso mais odiado que os Cárpatos
tinham. As mulheres perderam seus bebês e, eventualmente, não podiam ter filhos. O alto mago
que cometeu tal traição contra o povo dos Cárpatos era meu próprio pai. Acho que o seu segredo
não pode ser tão ruim. O que aconteceu? Você precisa me contar.
A única pessoa que Fen confiou o suficiente para contar seu segredo foi seu irmão. Ele
tinha acabado de conhecer Tatijana, mas ela era sua companheira e não se podia mentir para
sua companheira. Podia entrar e sair de sua mente à vontade, assim como ele poderia na dela,
tornando-se impossível esconder qualquer coisa.
Achou estranho que já estivesse tão confortável, como se estivessem juntos por um
longo tempo, mas a mística em torno dela era tão forte como sempre, atraindo-o com um puxão
magnético tão forte quanto sua óbvia ligação.
— Muitas vezes precisava de sangue e não havia mais ninguém para fornecê-lo, além de
Vakasin. Às vezes, fornecia sangue para ele quando nossa busca nos levava a lugares onde não
havia sustento para qualquer um de nós ou nossas feridas eram muitas, e tínhamos que esperar
cicatrizar. Em uma batalha nós nos ferimos fatalmente e tivemos que ter grandes quantidades
de sangue para sobreviver.
Tatijana continuou a olhar para ele com os olhos arregalados. Sem pestanejar.
Mantendo-o cativo para que não conseguisse desviar o olhar dela, embora suas palavras
pudessem virá-la contra ele.
— Vakasin e eu, ambos nos tornamos uma abominação... o que os Lycans se referem
como Sange rau, que é, literalmente, sangue ruim, uma mistura de sangue. Nós nos tornamos
como Vitrona. Ambos, Lycan e Cárpato. Não tínhamos ideia de como isso aconteceu,
provavelmente, ao longo do tempo, nosso sangue se mesclou, ainda não misturado, mudando-
nos, mas não realmente nos mudando. — Ele confessou seu pecado rapidamente, com pressa
de acabar.
Ela não mudou de expressão ou afastou-se dele. Apenas o olhou como se esperasse
mais. Ele pigarreou.
— Talvez não entenda o que eu disse. Não sou Cárpato e não sou Lycan. Sou as duas
coisas. Um marginal que não pode ser tolerado por qualquer espécie. Os Lycans têm esquadrões
de elite que caçam e matam alguém como eu à primeira vista.
Tatijana franziu a testa.
— Por que seria? Lara é companheira de Nicolas, e seu irmão Manolito é companheiro
de MaryAnn. Manolito e MaryAnn são como são, e ninguém está caçando-os.
Fen balançou a cabeça.
— Isso não pode ser.
— Ouvi Nicolas contando ao príncipe que MaryAnn era Lycan e eles eram como você
descreve. Ninguém parecia chateado com isso.
— Ninguém pode saber. Eles não podem. Este conhecimento comum não foi feito ou o
meu irmão teria me contado. Eles estão em terrível perigo. Se os Lycans ouvirem isso, vão enviar
seus caçadores. Eles caçam em bandos, e uma vez definidos em uma trilha, não param até que
matam seus alvos.
Tatijana prendeu a respiração.
— Se os Lycans matarem ou tentarem matar MaryAnn e Manolito, seus irmãos
começariam uma guerra. Pelo que entendi, os irmãos De La Cruz tomam as dores um do outro.
Lara e Nicolas nos deram um pouco de informação quando vinham nos dar sangue enquanto
estávamos curando na terra.
— É importante, Tatijana. Você tem que avisá-los. Uma vez que a sentença de morte é
proferida pelo conselho, os caçadores de elite vão passar séculos, se necessário, para encontrar
e destruí-los. Há apenas dois de nós. Vakasin foi morto por sua própria espécie depois que me
ajudou a livrar o mundo de Vitrona. Foram selvagens com ele quando não fizera nada de errado.
Ele tentou dizer-lhes que Vitrona tinha virado vampiro, que não continuou o que poderia ser,
mas não quiseram ouvir.
— Vakasin poderia virar vampiro? — perguntou Tatijana. — Era disso que estavam com
medo, não é?
Fen balançou a cabeça lentamente com um pequeno suspiro.
— Ele não teve tempo para descobrir. Como os Cárpatos, Lycans vivem vidas longas. Não
sei quais seriam as consequências de um cruzamento Lycan-Cárpato. Obviamente, poderia me
transformar sem a minha companheira, mas ficar em forma Lycan ajudou ao longo dos longos
anos vazios. — Ele hesitou. — Os dons ficaram mais fortes ao longo do tempo, transformando,
e como isso se tornando mais poderoso, o auxílio desaparece e a chamada para a escuridão
cresce.
Ele balançou a cabeça, a tristeza quase esmagadora. Tinha respeitado Vakasin como
caçador e como homem, mas até o momento não tinha percebido que sentiu afeição por ele.
Camaradagem. O vínculo entre dois homens que compartilharam batalhas e vigiaram as costas
um do outro. Fora incapaz de sentir essas coisas até Tatijana. Emoções, ele descobriu, eram
tanto uma bênção quanto uma maldição.
— Do ponto de vista Lycan, posso ver por que eles condenariam um ser tão poderoso.
Levou anos para trazer Vitrona à justiça. Durante os longos séculos, ele quase sozinho destruiu
o mundo Lycan. Matou bando após bando de formas brutais e cruéis.
— Ele era vampiro. — ressaltou. — É insensato pensar que todos os cruzamentos Lycan-
Cárpato faria a mesma coisa, mais do que seria insensato pensar que cada mago é ruim porque
Xavier era.
— Certamente deve haver alguma suspeita quando um Cárpato encontra um mago. —
Fen respondeu. — Você sabe que não seria. Os Lycans eram totalmente integrados no mundo
humano. Empregam-se na área da lei e mantêm pequenos bandos dentro das cidades, todos
com empregos humanos. São governados por seu próprio governo sombrio e aqueles que
governam utilizam recursos humanos. Quase todos os caçadores de elite são considerados
especialistas em vida selvagem ou peritos, e viajam o mundo caçando secretamente lobisomens
renegados.
— Quantos são como você?
Fen hesitou. Não sabia exatamente qual seria essa resposta e temia a verdade.
— Até onde sei com certeza, só eu, e agora Manolito De La Cruz e sua companheira. —
Tinha uma pequena suspeita de que seu irmão já poderia ter cruzado seu mundo também, mas
não sabia ao certo.
— Tão poucos. — Tatijana ponderou. — Isso não representa um problema. Se houvesse
mais, talvez os Lycans pensassem duas vezes antes de decidirem tentar matar todos vocês, mas
com apenas três, poderiam atacar e ninguém saberia.
— Você é parente dessa Lara?
Tatijana assentiu.
— Ela é a filha do filho do meu irmão, Razvan. Meu irmão Soren foi morto por Xavier, e
Xavier manteve Razvan e Lara prisioneiros também.
— Volte para a família De La Cruz através de Lara e diga para ter muito cuidado e não
deixar que ninguém saiba do cruzamento das espécies.
— Acha que o deixaria enfrentar isso sozinho? — perguntou Tatijana. — Que tipo de
companheira eu seria se o abandonasse?
Ele sentiu um impulso inesperado de rir.
— O tipo de companheira que não quer ser reclamada.
— Isso foi antes de eu saber que estava em apuros. — Ela jogou a longa trança por cima
do ombro com os olhos brilhando como esmeraldas. — Eu sou Dragão. Não vamos fugir.
— Estou começando a entender como isso é verdade. — admitiu Fen. — Ainda assim,
os Lycans já existem há séculos, adaptando e evoluindo a cada nova geração e estão bem
integrados na sociedade humana. Eles usam seus homólogos humanos para ajudá-los nas
investigações e rastrear aqueles que consideram criminosos.
— Como você.
— Vakasin não disse a seus assassinos sobre mim e não descobriram minha identidade.
Encontrei caçadores de elite rastreando um bando de renegados, deparei-me com eles quando
estava caçando o bando renegado também, mas eles não têm conhecimento da minha
identidade. Talvez Zev desconfie de quem sou, mas não sabe. Existe apenas uma pequena janela
de oportunidade que os caçadores me encontrem. Podem me identificar apenas uma semana
de cada mês. É apenas durante o ciclo de uma semana de lua cheia quando minha energia parece
diferente e os Lycans sabem imediatamente o que sou.
Tatijana franziu a testa, as sobrancelhas delicadas arqueando juntas.
— Por que você está aqui? Nas montanhas dos Cárpatos? Não voltou para informar o
príncipe de sua dualidade. E não voltou para jurar fidelidade a ele. É um caçador. Vai caçar o
vampiro. Caçadores antigos não mudam seus caminhos.
Fen suspirou. Tatijana parecia uma flor frágil, mas tinha uma coluna de aço e era muito
inteligente. Podia não saber sobre o fogo, mas não tinha perdido o tempo durante seu secular
encarceramento. Tinha estudado cada uma das vítimas de seu pai com cuidado. Aprendeu a ler
e recorrer sobre suas habilidades e experiências. Ela olhava para os caçadores e aqueles que
souberam lutar a fim de promover suas chances de escapar. Ele quase podia sentir seu cérebro
juntando as peças de um quebra-cabeça com velocidade relâmpago.
— Você suspeita que há um outro... o que vocês chamam de Sange rau. — disse ela,
astutamente. — Você o seguiu até aqui, não é? Fazendo assim, coloca-se diretamente no
caminho daquele caçador, aquele da taberna que você disse ser perigoso.
Ele pegou sua mão e virou as costas para a aldeia. Tinham que sair do bosque — pelo
menos ela tinha que fazer. O cobertor de névoa começou a se agitar e se perturbar — vórtices
girando em alta velocidade dentro do forte nevoeiro. Segurou-se ainda por um momento
ouvindo, todos os seus sentidos atentos aos tópicos de informação girando na névoa.
— É uma suspeita, nada mais. Mas sim, suspeito que Zev está aqui caçando o mesmo
bando de renegados que eu estava rastreando quando me deparei com um padrão estranho,
mas familiar. Acredito que Zev é Lycan e muito letal... especialmente para alguém como eu.
— Esta semana do mês não seria durante a lua cheia não é? — Ela perguntou.
Ele encontrou-se sorrindo, apesar da gravidade da situação. Sua companheira tinha uma
pequena ferroada em seu tom de voz. Tinha um pouco de atitude. Acenou com a cabeça.
— Pois sim, minha senhora, seria.
Ela balançou a cabeça.
— Se o seu lobo mau está vindo, realmente acha que é uma boa ideia estar andando
pela floresta comigo?
Fez Fen rir. Seu casaco era vermelho e tinha um capuz de lã.
— Onde ouviu a história de Chapeuzinho Vermelho?
— Nós tínhamos materiais de leitura. Scrolls. Skins. Finos pergaminhos. E livros. No
início, pensou que me tornaria como ele, subordinada só a ele. Não percebeu que nossa mãe
também nos deixou um legado, antes que a assassinasse. Ele tinha certeza de que éramos
completamente Cárpato, mas ela escondeu dele o que tinha feito. Tínhamos a capacidade de
nos comunicarmos telepaticamente e tirar memórias das vítimas de Xavier. Quando ele
percebeu que não íamos ajudá-lo em seus esforços para acabar com a espécie dos Cárpatos,
manteve-nos drenadas e fracas, assim não tínhamos chance de escapar.
— Ele cometeu um erro educando-as.
— Sim, ele fez, e aprendemos muito mais do que ele percebeu. Suas magias, a
capacidade de enfrentá-las, mudanças, os pontos fortes e fracos de cada uma das espécies.
Adquirimos um vasto conhecimento e esperamos o momento em que seríamos fortes o
suficiente para atacá-lo... ou nos defender. No final, fomos capazes de conseguir libertar a filha
de Razvan. Lara era tão jovem e tinha a esperança de ir com ela para protegê-la, mas Xavier
costumava usar Razvan para apunhalar Bronnie e eu não podia deixá-la ali, embora me pedisse
para ir sem ela. Ficamos presas por muitos anos novamente até Lara voltar para nós.
O vento mudou de novo, mandando a névoa girar em torno deles. Ambos pararam
abruptamente e olharam um para o outro.
Sangue, Fen identificou. Humano. Morte. O bando de renegados está lá na floresta. Está
logo à frente, mas temo que esteja morto. Ele usou a comunicação telepática e no momento em
que estava em sua mente, sentiu-se inundado com calor... completo. Todos esses lugares vazios
foram preenchidos com ela. A terrível escuridão recuou e luz se derramou.
Ele é o terceiro homem da taberna, aquele que foi embora quando os chamei. Ela era
inteligente o suficiente para seguir seu exemplo. Havia tristeza em sua voz, culpa mesmo. Este
é o homem que tentou conversar colocando juízo em seus amigos.
O bando cheirava como lobos, animais, rasgando suas presas para se divertir e não
comer, e em seguida, correndo em seu caminho para causar mais violência só porque podia.
Lobos de verdade seriam culpados e caçadores humanos destruiriam cada bando inocente
porque os lobisomens renegados tinham alegria em matar.
Ele apertou sua mão com força. Você não é responsável por isso.
E o levei para fora da clareira e ele deixou a segurança dos outros.
O estômago de Fen se retorceu. Suba para o céu. Saia daqui. Preciso voltar e encontrar
os outros dois. O bando vai farejá-los e matá-los apenas por diversão.
Vou com você.
A resolução em sua voz o fez girar-se ao invés de tentar dissuadi-la. Podia sentir a
absoluta determinação em sua mente. Talvez, se não estivesse se aquecendo em sua
companhia, desfrutando de tudo sobre ela, teria sido muito mais firme.
— Não — estava seguro —, isso não te faria nenhum bem.
Eles começaram a correr, usando uma velocidade indistinta para refazer seu caminho
de volta para os dois homens bêbados. Levou apenas alguns minutos. Os dois estavam sentados
ao lado de uma árvore e passavam um frasco entre si, às vezes explodindo em uma canção.
Tatijana instintivamente se separou de seu lado, movendo-se para a esquerda e
permitindo que abordasse os dois homens sozinhos. Fen foi grato a ela. Já sabia que o bando
estava caçando. Os renegados ouviram e sentiram o cheiro dos homens. Sabiam que os dois
estavam prejudicados fisicamente, tendo bebido a quantidade de álcool que tinham consumido
seriam presas fáceis. Tatijana e ele poderiam subir para o céu, se necessário, mas os dois homens
eram extremamente vulneráveis.
Ele mudou sua aparência, misturando-se com a névoa até que estava diretamente na
frente deles, enviando um redemoinho de névoa na frente para que pudesse emergir
naturalmente do nevoeiro. Ambos olharam para ele.
— Fen, o que você está fazendo tão tarde? Quer um gole? — Um estendeu o frasco.
— Você é Enre. — Fen cumprimentou. — Mora longe? — Ele projetou sua voz
diretamente para os dois homens, embora realmente não houvesse esperança de que o bando
não saberia que Tatijana estava na floresta. Sabia que desde o momento que o líder do bando
de lobisomens deu seu grito de caça e os outros responderam, que o bando de renegados estava
por perto e caçando. Eles sentiriam o cheiro humano.
— Gellert aqui também. — disse o outro bêbado, abrindo os olhos e retirando o frasco
da mão de Enre. — O que você está fazendo aqui?
— Vamos levar os dois para casa. — incentivou Fen. — Está muito frio para ficar fora a
noite toda. Suas famílias se preocupam.
— Minha mulher me expulsou. — Gellert disse, suas palavras arrastadas. — Ela disse
que bebo demais. — Ele estava indignado. — Não bebo muito. Ela me acusou de dormir com a
garçonete, Faye.
— Você dormiu com Faye. — disse Enre.
Gellert tomou um longo gole da garrafa.
— Não havia nada de dormir. — disse ele com malícia.
— Ele vai ficar comigo. — Enre admitiu. — Não tenho família.
Não parecia tão bêbado quanto antes. Ele lutou para ficar de pé e estendeu a mão para
Gellert. Este gemeu e deixou tanto Fen quanto Enre ajudá-lo.
— Você não deveria ter deixado seu amigo falar em atacar a senhora. — Fen disse a
Enre.
Enre deu de ombros.
— Foi tudo apenas conversa. Não a teria atacado. Eu teria acabado por dar uma boa
pancada na cabeça dele e arrastá-lo para casa se tivesse realmente ido até o fim.
— A ruiva me quer. — Gellert arrastou. — Ela volta, noite após noite, e dança para mim.
— A ruiva é a minha mulher. — disse Fen. — Não é uma boa ideia dizer esse tipo de
coisa na minha frente.
Gellert olhou para ele com olhos vermelhos e lacrimejantes. Arrotou alto, o cheiro
flutuando em direção a Fen como uma nuvem verde.
— Desculpe, homem. Não sabia. Vamos, Enre, vamos pra casa.
Um som quebrou a noite. Assustador. Perto. Muito perto. O uivo do lobisomem à caça.
Enre, o mais sóbrio dos dois, estremeceu e olhou em volta cautelosamente. Essa alegre nota
assustadora flutuava no vento, cheia e encorpada, diferente daquela de um lobo normal, muito
mais enervante.
— Temos que ir agora. — Fen disse, agarrando Gellert de um lado enquanto Enre
tomava o outro braço. — Tatijana, deixe-nos agora, enquanto pode. Defender-se contra um
bando, mesmo para alguém como você, não é fácil.
Ela ergueu o queixo, mas seus olhos olhando para a noite. Como Fen, seus sentidos se
estenderam muito além da área imediata, em um esforço para localizar os indivíduos do bando
— algo que ele sabia que seria impossível.
— Não vou deixar você nessa luta sozinho. Eles não vão ser de ajuda alguma. — indicou
os dois homens com um empurrão de seu queixo, ainda não olhando para eles.
— Algum de vocês tem uma arma? — Fen sussurrou. Olhou para Tatijana. Eles não
tornariam a sair de lá sem lutar. Dependendo do tamanho do bando, poderiam estar em apuros.
Acima deles, uma grande coruja pousou nos galhos da árvore vizinha. Dobrou suas asas
por um momento, examinando o pequeno grupo abaixo dela. Uma explosão de névoa subiu ao
redor da árvore e fora dela, e um homem surgiu. Caminhou em direção a Fen, alto, seus ombros
largos e seus olhos tão penetrantes, inteligentes e de um azul gelado como os de Fen. Cabelos
negros como a meia-noite corriam pelas costas, e movia-se com um passo fluído suave.
Fen adiantou-se e apertou os antebraços na centenária saudação dos guerreiros.
— Kolaszarwa-arvoval — pode morrer com honra. — o guerreiro alto cumprimentou.
— Não gostaria de perder essa batalha com você, ekäm — meu irmão.
— Kolaszarwa-arvoval — pode morrer com honra, Dimitri, ekäm — meu irmão. — disse
Fen. — Você é muito bem-vindo a esta batalha.
Capítulo 3

— Nós lutaremos juntos então. — Fen concordou. Estendeu a mão para Tatijana. — Esta
é minha companheira, que permanece não reclamada e bastante feliz com relação a isto.
Tatijana, meu irmão, Dimitri.
Dimitri parecia frio como gelo, varrendo-a de cima a baixo.
— Você é Caçadora de Dragão.
Tatijana respondeu assentindo que era verdade. Fen escondeu seu sorriso, apesar da
gravidade da situação. Ela parecia uma princesa da realeza.
— Você já lutou com um Lycan? — Ele perguntou a Tatijana, já certo da resposta. Ela
contou-lhe o suficiente de sua história para saber que não tinha nenhuma experiência prática.
Tatijana fez uma careta para ele.
— Claro que não. Estive trancada no gelo minha vida inteira, mas posso ajudar. Apenas
me diga o que fazer.
— Eles mascaram energia facilmente. Você não sentirá o ataque até estar sobre você.
Movem-se tão rápidos quanto os Cárpatos, e não podem ser mortos sem uma estaca de prata
especial ou bala de prata. As cabeças são removidas e os corpos queimados.
Tatijana assentiu solenemente, levando-o a sério.
— Dimitri, lembre-se dos nossos jogos de guerra. Lute como se estivesse lutando com o
Sange rau.
— Isso fica difícil sem estacas de prata especiais. — Dimitri apontou um pouco
sarcástico.
— Sempre levo algumas armas. — Fen admitiu. — É preciso quando renegados estão
nas redondezas. — Ele enfiou a mão nos bolsos de sua jaqueta e retirou várias estacas pequenas.
Elas eram feitas de pura prata em forma de chifre de unicórnio, uma espiral brilhante que valia
uma fortuna.
— Como você os mata? — Tatijana perguntou.
— Você deve atravessar o coração com a prata. — ele a advertiu. — Infelizmente, eles
vão estar perto o suficiente para mordê-la e rasgarem pedaços de carne, indo em direção as
artérias. Tentarão extirpá-la com suas garras. Mais uma vez, eles são rápidos.
— Sobrevoei a floresta e contei treze. Pode haver mais, eles são difíceis de localizar. —
Dimitri disse. — Nós não podemos abandonar os humanos, mas podemos levá-los voando daqui.
— Renegados Lycans matarão todos com quem toparem. Eles são piores que vampiros
porque caçam em bandos. — Fen disse. — Tatijana, talvez deva levar os dois humanos para fora
daqui.
— Não abandonarei você. Posso lutar melhor do que pensa. Alguns lobisomens foram
levados para as cavernas de gelo. Aprendi seus pontos fortes e debilidades, e examinei a mente
deles também. Com o que me disse, sei que posso fazer isto.
— Eles estão perto. — Fen disse.
— Como pode saber? — Dimitri virou-se em um círculo. — Não posso senti-los.
— Posso sentir o cheiro deles. Ponha Enre e Gellert nas árvores e lance uma proteção
ao redor deles. — Fen instruiu.
Zev, da taverna, saiu da névoa como um feixe de luz. Ele parecia bem e confiante, seu
casaco longo aberto, os cabelos amarrados na nuca, assim como Dimitri e Fen usavam os deles.
Seus olhos cinza brilhavam voláteis, puro aço. Ele procurou ao redor do pequeno círculo de
lutadores.
— Você não pode ficar aqui.
— Não existe nenhuma passagem segura. — Fen disse. — Os Cárpatos lutarão com os
Lycans para levar este bando de renegados para a justiça. — Ele moveu a cabeça em direção a
seu irmão. — Este é Dimitri e esta é Tatijana.
— Zev. — o recém-chegado se identificou. — Este bando é problema meu. Mandei
buscar os caçadores, mas eles ainda estão a um dia de distância.
Dimitri acenou com a mão em direção aos dois bêbados, assumindo o comando da
mente deles, girando os dedos para envolvê-los na segurança de um escudo, antes de firmá-los
nos galhos mais altos das árvores.
Zev estudou o rosto de Fen.
— Dimitri e Tatijana são Cárpatos, mas você é Lycan. — Era uma declaração, o tom
estritamente neutro.
Não existia nenhuma sugestão de desconfiança na voz de Zev, mas Fen sabia que Zev de
repente estava muito desconfiado dele. Por que um Lycan seria amigo de dois Cárpatos? Não
havia maneira de não notar a semelhança entre Dimitri e Fen. Zev era um investigador de elite,
o que significava que foi de uma elite de caça a bandos, que procurava renegados por conta
própria para o governo sombrio por trás dos Lycans. Ele parecia mais do que confiante.
— Você tem alguma ideia do tamanho do bando? — Fen perguntou.
Zev assentiu.
— É grande. O maior que já encontrei casualmente. Venho acompanhando-os por
meses.
— Dimitri contou treze, e isso foi com apenas uma única passada.
— Está mais para cinquenta a setenta. Identifiquei muitas pistas individuais e não estou
certo se estes são todos. Eles tendem a se dividir, cada unidade caçando separadamente e então
se juntam novamente.
— É por isso que são capazes de fazer tanto dano. — Fen disse.
Zev atirou-lhe um olhar rápido.
— Você os têm rastreado?
Fen assentiu. Ele não estava disposto a admitir que achava que Zev estava errado, ou
pelo menos, parcialmente errado. Estava bastante certo que o bando de renegados matava
frequentemente, mas um vampiro qualquer os rastreou, destruindo muito mais brutalmente do
que o bando fez ou viajou com eles como um lobisomem. O vampiro era inteligente. Ele cobriu
bem seus rastros, certificando-se que o bando levasse a culpa por seu serviço. Claro, isso era
conjectura, Fen não tinha nenhuma prova real.
— Eu encontrei a matança deles casualmente algumas semanas atrás e os rastreei. —
Fen admitiu. Dimitri, eles estão chegando até você de sua esquerda. Três deles. Tatijana, vá para
a névoa ou para o céu. Têm dois dirigindo-se para você. Eles vão atacá-la por lados opostos e
são incrivelmente rápidos.
Névoa rodopiou, uma névoa cinza espessa. O vento soprou pelas árvores e os renegados
estavam sobre eles, grandes lobos corriam em direção a eles em suas patas traseiras, cada salto
cruzando nove metros ou mais, com uma velocidade desfocada. Os lobos vieram em círculos de
todas as direções, um silencioso ataque estranho, ficando ainda pior pelos ardentes olhos
vermelhos brilhando através da névoa.
Três lobos saltaram em Dimitri antes que ele pudesse se mover ou dissolver, todos os
três afundando seus dentes profundamente, rasgando os músculos completamente até o osso.
Garras cavando na barriga dele, tentando abri-lo.
Garras escavaram Tatijana do ombro até o quadril, mesmo quando ela tentou
transformar-se em névoa. Eles pegaram-na muito mais rápido do que jamais concebeu ser
possível. Fen passou correndo por aqueles vindos até ele de todas as direções, sua velocidade e
impulso permitindo-lhe atropelar o bloqueio diretamente de seu caminho para Tatijana.
Quando passou pelo lobisomem, cravou a estaca de prata profundamente na parede de seu
peito. O som do coração do renegado foi seu farol. O lobisomem caiu e ele continuou atacando,
passando os outros três que tentavam aproximar-se dele.
Ele alcançou Tatijana, puxando um lobisomem de cima dela, girando em torno dele e
cravando a estaca em seu coração com tanta força que quase atravessou o homem com a adaga
de prata. Tatijana esmurrou forte o segundo lobo na garganta quando ele dirigia os dentes
salivando para seu rosto. Ela usou a enorme força de caçador dos Cárpatos, fazendo o
lobisomem cambalear. Quando ele tropeçou para trás, ela dissolveu-se em névoa e tentou
elevar-se para o céu.
Gotas de sangue misturando-se com a névoa levou outro diretamente até ela. Ele lançou
as garras compridas e enganchou no tornozelo dissolvendo dela, puxando-a para o chão. Fen
pegou o movimento pelo canto dos olhos quando dois outros tentavam enfrentá-lo. Ele sentiu
a queimação de dentes explodindo abaixo, a pressão da mordida, um enorme rasgo em sua
panturrilha e na coxa. Ele desvencilhou-se de ambos os lobos, batendo a cabeça deles juntas
com uma força tremenda, precisando apenas de alguns segundos para chegar à Tatijana.
Com o canto dos olhos pode ver Zev na forma de um Lycan enorme, metade homem,
metade lobo, girando no meio de vários lobisomens, seu corpo rasgado e sangrando, mas ele
movia-se com graça e precisão, desviando-se rapidamente dos ataques, atacando um dos
lobisomens para mergulhar uma estaca de prata em seu coração, e girando para longe
novamente.
Fen pegou o lobisomem que tinha as garras no tornozelo de Tatijana, estalando seu
pescoço e colocando Tatijana de volta em pé com um movimento suave.
Vá, ele silvou. Eleve-se para o ar.
Um lobisomem caiu sobre as costas de Fen, afundando os dentes em sua nuca. Tatijana
colocou-se em uma explosão de velocidade, arremessando-se para o céu, mudando enquanto o
fazia, tomando a forma de um dragão azul. Fen mudando na forma de um Lycan, usando a força
e a massa muscular para livrar-se do lobisomem que rasgava seu corpo.
A segunda onda do bando atacou. Fen rodopiou em direção à nova ameaça, viu que
estavam engolfando Dimitri e Zev, que estavam de costas. Ele moveu-se rapidamente, usando a
dupla velocidade do sangue Cárpato/Lycan que fluía em suas veias. Mergulhou a ponta prateada
profundamente no coração de um lobisomem e apressou-se assim que um enorme lobisomem
saiu do nevoeiro.
Imediatamente, Fen soube. Este não era nenhum lobisomem comum. Este era o
vampiro mascarando sua presença no meio de um bando de renegados, não, não apenas um
vampiro, este era muito mais.
— Zev. Dimitri. — ele gritou a advertência. — Atrás de vocês. Sange rau.
Ele já estava saltando sobre os lobisomens, tentando chegar a seu irmão antes que o
recém-chegado o fizesse. Sua explosão de velocidade o pôs diretamente no caminho do
vampiro. Olhos vermelhos brilhavam, fixos nele. O lobo/vampiro o atacou. Eles chocaram-se
com uma força terrível, chacoalhando o chão ao redor deles. O choque foi tão forte que Fen
sentiu seus ossos sacudindo. Sentiu como se tivesse se chocado de frente com um trem de carga,
mas se ele se sentia daquele modo, reconheceu que o adversário também. Esmurrou na parede
do peito a última estaca de prata em seu punho, dirigindo-a para o coração. Matar um Sange
rau era muito mais difícil que matar um Lycan ou um vampiro. Ele tinha muita experiência sobre
o que não funcionava.
Ao redor dele a batalha era travada, Zev e Dimitri rechaçando os lobisomens, enquanto
sobre eles, o dragão vinha para baixo expirando fogo nos lobos que ela conseguia sem prejudicar
Fen, Dimitri ou Zev.
— Eu vejo você. — o Sange rau silvou, sua voz baixa. — Eu o conheço.
Fen o conhecia também. Ele esteve em um bando por alguns meses, um século atrás, e
este Lycan tinha sido o alfa do bando. Seu nome era Bardolf e era particularmente ruim,
governando seu bando com mão de ferro. Ele desapareceu em uma caçada, e quando o
localizaram, houve uma batalha sangrenta entre ele e o que Fen estava certo serem mortos-
vivos. Ele não foi encontrado em lugar nenhum, nem existiam corpos. Agora Fen sabia o que
aconteceu. O Lycan tinha rasgado o vampiro, engoliu seu sangue e consumiu o suficiente para
se transformar.
— Eu vejo você também. — Fen disse, desviando-se do lobo/vampiro atingindo o braço
dele, quase conseguindo bater seu punho com força no tórax de Bardolf.
Ele não tinha mais estacas de prata. Para matar Bardolf precisaria da ponta de prata,
assim como remover o coração do peito e destruí-lo com fogo. Poucos sabiam como matar
alguém como Bardolf, mas Fen teve bastante experiência em tentativas e erros, quando rastreou
o Sange rau séculos antes. Sabia que destruir o monstro seria muito difícil.
Mergulhou seu punho profundamente, contorcendo o corpo para evitar que o focinho
cheio de dentes atravessasse sua garganta. Os dentes roçaram-no, rasgando sua carne. Sentiu
uma explosão de dor um momento antes de bloqueá-la, seu punho movendo bem fundo no
peito do morto-vivo, os dedos buscando o coração murcho. Ele não podia matar a besta, mas
podia retardá-lo, dando tempo para Tatijana destruir vários do bando de renegados pelo céu.
Bardolf torceu seu corpo para trás, afastando-se de Fen com tanta força que Fen foi
lançado para trás também, seu punho arrancado do peito do vampiro. Bardolf, em vez de
prosseguir com sua vantagem enquanto Fen cambaleava tentando recuperar seu equilíbrio
saltou para o ar, até o pequeno dragão habilmente empunhando a chama.
— Fen! — Zev gritou. — Pegue.
Dimitri e Zev tomaram o ímpeto do ataque na próxima onda de lobisomens, enquanto
Bardolf claramente dirigia seus renegados em direção a Fen. Os dois caçadores, Cárpato e Lycan,
saltaram apressados entre Fen e o ataque que se aproximava.
Fen estava com a mão no ar, quase antes dele se virar. Uma espada de prata espiralando
em sua direção. Fen pegou a reluzente alça e saltou no ar, como faria um Lycan, quase em um
movimento único, fatiando completamente o corpo de Bardolf, exatamente quando o morto-
vivo lobisomem agarrava o rabo eriçado do dragão. O grito de Bardolf agitou as árvores abaixo
dele, a nota dissonante agredindo todos os ouvidos.
Os lobisomens instalaram uma cacofonia terrível de uivos. A vegetação estremecendo.
Folhas secas e galhos de árvores deslocando-se para longe do corpo do Sange rau quando ele
caiu como uma pedra em dois pedaços no chão, com um baque feio. Ácido caía como chuva,
queimando tudo em seu caminho.
Fen correu em direção à cabeça e o peito. Um grande lobisomem o interceptou. Fen
balançou a espada enquanto outro lobisomem saltava em suas costas. A espada fatiando por
nervos e ossos, cortando um braço. O odor de sangue e carne queimada deixaram os lobisomens
quase loucos, de forma que renovaram seus ataques em um frenesi enlouquecido, correndo em
direção a Dimitri e Zev, e arrastando-os para o chão.
Tatijana! Circule de volta.
Fen não teve escolha, a não ser ir ajudar seu irmão. Ele virou-se para longe do corpo
decepado do morto-vivo, saltando sobre um lobisomem caído e aterrissando no meio do bando
frenético. Levantou um grande lobisomem que rasgava a barriga de Dimitri com seus dentes e
garras até suas entranhas com triunfo. Fen estalou o pescoço do lobisomem e o lançou sobre
outro, então ambos colidiram, um em cima do outro. Ele avançou para mais alguns lobisomens
parecendo uma parede, tentando chegar até seu irmão e Zev.
Tatijana estourou acima, fogo chovendo abaixo, um longa extensão de chamas
enegrecendo aquelas peles, chamuscando e então espiralando em cinzas. Os lobisomens
gritaram em pânico e dor. Fen aproveitou para atacar pelo céu, rompendo pela massa de lobos
para levar Dimitri para cima e para longe da turba frenética. Sangue espirrando por cima e ao
longo dos lobos se debatendo.
Dimitri cambaleou para atrás, a dor gravada em seu rosto. Ele endireitou-se e a dor foi
eliminada de sua expressão. Erguendo a mão para a espada de prata. Fen lançou-a para ele e
voltou para Zev.
Fen deu um rápido olhar em direção às duas metades de corpo de Bardolf. As mãos e
pernas já estavam juntando os pedaços, cavando a terra para alcançar cada metade.
Tatijana, incendeie o Sange rau cortado pela metade. Queime aquela carcaça antes que
seja tarde demais.
Exatamente enquanto ele dizia isto a ela, as duas metades cortadas fundiram-se e
imediatamente desapareceu na névoa. Amaldiçoando em sua língua nativa, Fen estalou outro
pescoço. Dimitri avançou para a escória dos lobisomens, uma mão segurando sua barriga, a
outra cortando pelos corpos com a espada de prata.
Uma chamada afiada do céu fez os lobisomens retrocederem, lutando para passar por
Dimitri enquanto Fen rechaçava alguns deles, tentando acabar com Zev. O bando entrou na
névoa quase que imediatamente e em silêncio. Apenas aqueles cravados com as estacas de
prata estavam caídos no chão.
Dimitri dobrado ao meio caiu de joelhos e afundou na terra, a uma distância de Fen. Fen
pegou a espada de prata e cortou a cabeça dos lobisomens, antes de voltar-se para seu irmão.
Zev se sentou, o sangue escorrendo de seu rosto e peito em fluxos constantes. Fen
voltou para a forma completamente humana, enquanto se curvava sobre Dimitri. Seu irmão
estava em péssimo estado. Ele levou o ímpeto do ataque, o bando saiu da floresta diretamente
sobre Fen. Fen passou pelo Sange rau, enquanto Dimitri e Zev atraíram os outros para dar a Fen
a chance de destruir a última ameaça.
Tatijana. Veja Zev. Dimitri está quase morrendo.
Ele salvaria seu irmão primeiro, não importando o quão valoroso o Lycan fosse. Ele falou
com Dimitri sobre seu medo de que existisse um predador tão poderoso aproximando-se de sua
terra natal, e foi Dimitri quem pagou o preço por acreditar na suspeita de seu irmão, apesar da
falta de provas.
Tatijana podia ter habilidades de cura, mas ele não podia arriscar. Melhor que ela
praticasse no Lycan do que em Dimitri.
Aguente-se, ekäm — meu irmão, Fen sussurrou telepaticamente. Ele tinha que manter
o vínculo com Dimitri a toda hora, de forma que a luz da vida não deixasse seu corpo. Tatijana,
preciso de você agora. Proteja-nos da visão de Zev. Ele não pode ver o que faço.
Tanto sangue foi perdido. Demais. Ele sentiu a presença dela quase imediatamente.
Tatijana. Seu próprio milagre particular. Ela roçou a mão pelos ombros dele enquanto movia-se
em direção a Zev.
A névoa permanecerá entre você e o Lycan.
Obrigado, minha senhora.
Fen não hesitou, apenas mergulhou suas mãos na abertura irregular da barriga de
Dimitri, procurando a principal fonte do sangue bombeando do corpo de seu irmão.
Não estarei ciente do meu entorno. Você será nossa única proteção, ele advertiu
Tatijana.
Eu cuido de suas costas.
Acreditando nela, não esperou pela resposta. Não tinha tempo. Tinha que confiar que
ela estaria alerta para o retorno do bando. Duvidava que os renegados voltassem, seu alfa estava
cuidando de suas próprias feridas e precisava curar-se antes de poder matar novamente, mas
era sempre possível.
Verteu seu corpo rapidamente, tornando-se luz curativa, espírito puro afundando em
seu irmão. Estou com você. Minha alma chama pela sua, sussurrou.
Viajou pelo corpo de Dimitri para a massa de destruição em sua barriga. Os lobisomens
arranharam e morderam, rasgando grandes pedaços de seu corpo. A primeira coisa que tinha
que fazer era consertar o dano das artérias e veias e deter o fluxo de sangue. Parecia que a
barriga inteira de Dimitri estava cheia de sangue e nada mais.
Ot ekäm ainajanak Hany, jama — o corpo de meu irmão é um amontoado de terra,
próximo da morte.
Fazia muito tempo desde que usou o grande canto curativo, mas isto não era um
ferimento pequeno. Se fosse ter sucesso precisaria de tempo, paciência e sangue. Sangue
poderoso.
Aquela luz em Dimitri estava muito fraca, movendo abaixo pela árvore da vida, longe de
Fen. Fen redobrou seus esforços. O tempo estava se esgotando rapidamente. Ele achou os
lugares onde os dentes morderam através das linhas da vida no corpo de Dimitri — tantos
lugares —, o dano muito pior do que tinha visto em séculos. Dimitri tinha se dado demais para
dar-lhe tempo para proteger Tatijana do Sange rau.
Ele resistiu ao desejo de se apressar, levando o tempo que precisava para reparar cada
dano, artéria rompida e órgãos importantes com grande cuidado. Enquanto executava a tarefa,
continuava a cantar suavemente em sua mente.
— Nós do clã do meu irmão o cercamos com cuidado e compaixão. Nossas energias
curativas, palavras antigas de magia e ervas de cura, abençoam o corpo do meu irmão,
mantendo-o vivo.
Quando se certificou de que fez reparos suficientes e que o corpo de Dimitri manteria o
sangue, rasgou seu próprio pulso com os dentes e pressionou o ferimento na boca de Dimitri.
Este não fez qualquer tentativa de tomá-lo, inclusive quando Fen gotejou sangue em sua boca.
Muitas vezes, um guerreiro tão gravemente ferido que viveu longos séculos mantendo a
escuridão à distância preferia escapar, mas Dimitri tinha alguém para viver. Ele disse a Fen que
sua companheira era muito jovem para reivindicar e sobreviveu à uma infância horrenda. Fen
não teve nenhum escrúpulo de usar as informações que Dimitri confiou a ele.
Beba por sua vida e a vida da menina da qual você me contou. A jovem Skyler que sofreu
tanto e merece a felicidade. Não deixe esta felicidade terminar aqui, meu irmão.
A luz retrocedeu tanto que Fen temeu que fosse tarde demais. Você é forte, meu irmão.
Pense apenas em sua não reclamada companheira. Ela viverá dias tristes e solitários sem você.
Volte.
A fraca luz parou. Hesitou. Ficou quieta. Ele sentiu o movimento mínimo em seu pulso e
imediatamente ajudou seu irmão a engolir o líquido da vida. Mesmo enquanto Dimitri tomava
seu sangue, Fen sabia que não seria suficiente. Ele estava fraco pela perda de sangue. Curar-se
precisava de uma enorme energia. Teria que se alimentar depressa e voltar a chamar a luz da
vida de seu irmão de volta. Deu a Dimitri tanto sangue quanto ousou antes de retornar ao seu
próprio corpo.
O ato de estar em dois lugares ao mesmo tempo, alimentando seu irmão e curando-o,
ajudando-o a enviar sangue pelo corpo dele, cobrou seu preço. Normalmente, com um
ferimento tão grave, existiam muitos Cárpatos que participavam do ritual de cura. Fen tinha que
permanecer um Lycan aos olhos de Zev. Não tinha controle sobre a mente dele. Tatijana podia
protegê-los usando a névoa, mas o tempo todo Zev precisava acreditar que Fen era um Lycan,
não uma mistura de lobo e Cárpato.
Ele levantou-se depressa, cambaleando, recuperado o equilíbrio e depois certificando-
se de que a névoa permanecia espessa o suficiente para esconder suas ações, elevou-se para as
árvores, onde os dois humanos bêbados estavam rodeados pela proteção que Tatijana forneceu-
lhes. Antes de usá-los para repor o sangue que deu a seu irmão, tirou tanto quanto possível o
álcool do sistema deles por seus poros. Como regra, os Cárpatos raramente tocavam sangue
contaminado, mas esta era uma emergência e tomaria qualquer coisa que pudesse conseguir.
Ele tomou até mais do que precisava, sabendo que Dimitri precisaria de muito mais.
Tatijana, quanto tempo antes de você poder me ajudar?
Coloquei-o em um sono de cura com a permissão dele, mas não permanecerá assim por
muito tempo.
Mande um raio e queime os corpos. Certifique-se de acabar até com o último pedaço de
pele e cabelo. Não remova as pontas de prata do coração deles, caso contrário eles podem se
regenerar. Deixe o fogo queimar tudo e recuperaremos as estacas depois. Uma vez que isto
esteja feito, venha me ajudar. Preciso encontrar meu irmão no outro mundo e guiá-lo de volta.
Ele está preso entre dois lugares.
Ele pegou o suspiro chocado de Tatijana. Ambos sabiam que era difícil trazer alguém de
volta quando estavam muito perto da morte. A única coisa que impedia Dimitri era saber que
sua não reclamada companheira sofreria sem ele.
Fen voltou apressadamente para seu irmão e ajoelhou-se, desta vez misturando sua
saliva com a terra, rica com sangue de Lycan, e embalando-a nas piores feridas de Dimitri. Ele
respirou fundo e mais uma vez deixou seu corpo para trás, tornando-se luz pura.
Ele entoou o grande canto de cura de seu povo, de séculos atrás. Falando em sua língua
nativa, usando o seu mais carismático comando com a voz persuasiva.
— A alma de meu irmão é apenas metade. Sua outra metade vagueia no mundo inferior.
Minha grande ação é esta: viajo para encontrar a outra metade de meu irmão.
Tatijana sentou-se ao lado dele.
— Nós dançamos. Nós entoamos. — Ela puxou as palavras da canção mística de sua
mente. — Sonhamos em êxtase.
— Chamando meu pássaro espírito, abro a porta para o outro mundo. — Fen continuou.
Ele sentiu o frio daquele outro lugar. Esteve lá mais de uma vez depois de uma batalha,
mas Dimitri viajou mais distante do que já esteve naquele lugar.
— Monto meu pássaro espírito e começaremos a nos mover. Estamos a caminho. — Ele
adequou a ação às palavras. Estava afundando naquela longa árvore, dentro do escuro e do frio
para achar Dimitri e trazê-lo de volta inteiro. — Seguindo o tronco da Grande Árvore, nós caímos
no mundo inferior.
Sua própria respiração parecia congelar.
— Está muito, muito frio. — Pior do que frio. Nunca foi tão longe no outro mundo antes.
Podia ouvir os gemidos na escuridão. Os dentes rangendo. Continuou indiferente ao que poderia
estar perseguindo-o em um lugar onde não deveria estar.
Estava conectado com Dimitri. Eram irmãos e suas mentes estavam sintonizadas uma
com a outra.
— Meu irmão e eu estamos ligados na mente, coração e alma. A alma de meu irmão me
chama. Ouço e sigo sua direção.
Ao aproximar-se daquela luz fraca que sabia ser de Dimitri, outra se aproximou também.
Algo sombrio e terrível. Algo familiar. Algo que também chamava baixinho, docemente por
Dimitri.
— Encontrei o demônio que está devorando a alma de meu irmão.
Fen conhecia esta voz tão doce que enganava muito bem. Reconheceria-a em qualquer
lugar. Fen era mais velho, Dimitri mais jovem, mas no meio houve Demyan, e quase desde o
início Demyan se iludiu se esquivando de seu dever. Ele foi um homem de pouca honra, e não
era nenhuma surpresa para Fen quando no início ele tinha escolhido o caminho dos mortos-
vivos. Ainda assim, era difícil descobrir que seu próprio irmão escolheu desistir de sua alma e se
tornou um morto-vivo.
Depois disto, Fen verificava Dimitri frequentemente. Durante longos séculos soube que
seu irmão mais novo era uma força a ser reconhecida, e que ele nunca se desviou de seu dever,
não importando quão difícil fosse. Foi para Dimitri que ele se voltou quando percebeu que era
tanto Lycan quanto Cárpato, e foi Dimitri quem forneceu um santuário para onde pudesse ir
quando precisava de descanso e cura. Fen foi a razão de Dimitri escolher a fraternidade com os
lobos na natureza, criando um santuário para eles.
Demyan chamava pela alma cansada de Dimitri, prometendo-lhe descanso. Paz.
Nenhuma dor. Demyan estava tão focado em enlaçar a luz de Dimitri que não viu Fen
aproximando-se dele pela escuridão. Nunca suspeitaria que Fen viajaria para tão longe atrás de
seu irmão.
Raiva varreu Fen, agitando-o. E pensar que Demyan esperou todo esse tempo
rastejando na escuridão, ainda recusando-se a aceitar suas responsabilidades, esperando um de
seus irmãos morrer. Fen irritou-se mais do que jamais imaginou ser possível. Dimitri lutou com
honra durante muito tempo no mundo, e agora quando estava mais vulnerável, a luz nele
lentamente desvanecendo, seu próprio irmão planejava roubar-lhe aquela honra.
Furioso, Fen golpeou para fora da escuridão, exatamente quando Demyan agarrava
Dimitri para a luz cintilante. Dimitri deve ter sentido o perigo mesmo tão próximo da morte. A
luz espiritual estremeceu a centímetros dos gananciosos dedos estendidos de Demyan. Fen
agarrou seu desonrado irmão e o puxou para trás. Demyan parecia insubstancial, mas ainda
clamou um longo gemido de terror quando se virou e viu seu irmão mais velho Fen, pronto para
a batalha.
NenämCóro; o kuly torodak. — Com raiva, eu luto contra o demônio.
Ele sussurrou as palavras na mente de Dimitri. Dentro da mente de Demyan. Ele falou o
grande canto curativo na língua dos antigos.
O kuly pél engem. — Ele está com medo de mim.
Ele olhou fixamente nos olhos de Demyan. Você deveria me temer. Como ousa pensar
em roubar a alma de nosso irmão?
Tatijana, evoque o raio, dê-me isto. Fen sussurrou em sua mente. Ele sentiu a reação
imediata dela, a quente energia crepitando por ela.
Olhando fixamente nos olhos de Demyan, ele repetiu a próxima linha do canto de cura.
Lejkkadak o Kanka salamaval. — Eu ataco sua garganta com um relâmpago.
Demyan tentou correr mas era muito tarde — o raio seguiu Fen pela árvore da vida e
atingiu Demyan com precisão. Por um momento o mundo inferior iluminou e Fen pode ver os
outros seres obscuros. Olhos vermelhos cheios de ganância observando através da noite,
quando almas puras de luz passavam além do alcance deles. Eles esperavam, assim como
Demyan fazia, por um que reconhecesse a voz deles, e ainda não foram para o reino seguinte,
uma morte tão próxima, mas ainda não estavam mortos.
As criaturas foram atraídas — para bem perto — não pela minguada luz de Dimitri, já
que não poderiam chamá-lo, mas puxados pelo odor do sangue de Fen. Ele tinha feridas abertas
que ainda não tinha cuidado. Qual a gravidade dos ferimentos ele não sabia, nem se importava
naquele momento.
O raio lançado chiou pela escuridão e Demyan recuou, assim como as outras criaturas
famintas, cegas pela chocante espada branca de pura energia elétrica cortando pela absoluta
escuridão.
Fen pegou a forma fina como papel de Demyan em suas mãos poderosas. Com a força
dos Lycan e Cárpatos, Fen segurou seu desonrado irmão, cara a cara, olhando dentro de seus
olhos.
— Quebrarei seu corpo com minhas próprias mãos.
Demyan balançou a cabeça, sabendo o que viria a seguir no canto curativo, mas nenhum
som escapou. Não existia nenhuma clemência. Fen não tinha nenhuma por ele.
— Ele inclinou-se e se desfez. — Quando Fen entoou as palavras, torceu a figura de papel
em duas, rasgando-o em fragmentos e deixando os pedaços caírem. — Ele se foi. — Sussurrou
as palavras na escuridão, enquanto Demyan gritava e lamentava, tentando recuperar os pedaços
e recuando para longe, antes que as criaturas pairando por perto se voltassem para ele com
toda sua fome voraz.
Fen voltou-se para a luz minguante de Dimitri. A força vital estava quase no fim.
— Eu salvo a alma de meu irmão. — ele disse, continuando o canto de cura.
Ao aproximar-se da luz vital de seu irmão, cercando-o com sua própria muito mais
brilhante, uma luz mais forte, ele ouviu uma voz feminina suave, não a de Tatijana, sussurrando
para Dimitri.
Não me deixe. Fique. Fique comigo. Sei que está cansado. Sei que você está sofrendo. Sei
que estou pedindo muito, mas não vá sem mim. Dimitri. Meu amor. Meu tudo. Fique.
O apelo suave era tão íntimo que Fen se sentiu culpado por ouvi-lo. Skyler. A jovem
companheira de Dimitri lutando por ele através do continente. O quão forte ela era para que
pudesse alcançá-lo tão longe? Poucos Cárpatos podiam chegar a tal distância. Um humano. Uma
criança pelos termos da sociedade dos Cárpatos. No entanto, ela lutava por seu companheiro
tão valentemente quanto qualquer Cárpato totalmente adulto faria.
A luz ficou um pouco mais forte, como se para ela Dimitri fizesse um esforço valoroso.
Skyler deve ter sentido a presença de Fen. Ele a sentiu ficar quieta de repente,
estudando-o. Avaliando-o. Ela não parecia uma criança para ele, parecia como uma mulher. Uma
guerreira. Uma se preparando para batalhar se fosse necessário. Ela claramente o pesava,
amigo? Inimigo? Na realidade sentiu-a pronta para a batalha, e sua força era enorme e
inesperada.
Vou levá-lo de volta deste lugar escuro. Sou Fenris Dalka, irmão mais velho de Dimitri.
Não o deixarei neste lugar de escuridão. Lutarei muito e duramente por ele. Ele não morrerá esta
noite.
Ela ficou muda por um momento, não avaliando suas palavras, mas sentindo-o. Ela
realmente era forte. Gostou dela. Era uma companheira perfeita para um guerreiro que
sobreviveu por séculos, caçando o morto-vivo e mantendo a escuridão à distância.
Obrigado, Skyler disse simplesmente.
Ele sentiu o movimento dela pela mente de Dimitri, roçando contra aquela luz
enfraquecida, afagando com carícias, dando-lhe forças. Ela desvaneceu, a distância muito longe
para manter-se por muito tempo.
— Eu ergo a alma de meu irmão do buraco pela minha mão. — sussurrou, segurando a
vida de Dimitri perto dele. — Eu o ergo sobre meu pássaro espiritual. Seguindo a Grande Árvore,
nós retornamos à terra da viva.
Fen voltou para seu próprio corpo, balançando com cansaço. Ele olhou ao redor. O
tempo passou e não percebeu. Ele estremeceu. O gelo daquele lugar, até para um Cárpato,
entrou em seus ossos e permaneceu. Tatijana segurava a névoa. Ele podia ouvir Zev gritando
com ela. Sua voz soando mais forte.
— Dê-me mais um minuto. Estamos tentando salvar Dimitri. — Tatijana disse. — Os
renegados não retornaram. Estou ajudando Fen a fechar as feridas.
Ela esperou que Fen virasse a cabeça e olhasse para ela. Imediatamente ajoelhou-se ao
lado dele e pôs as mãos em seu ombro, debruçando-se mais perto para expor-lhe a bela linha
de sua garganta. O coração dele se apertou. Até mesmo ali, sob tais circunstâncias terríveis,
Tatijana estava tranquila, pensando adiante e provendo-lhe.
Fen não hesitou. Aconchegou-a perto, acariciou-a com a língua, uma vez que aquela
pulsação chamava tão fortemente por ele, e então afundou seus dentes profundamente e
bebeu. Consumiu energia preciosa em sua luta para salvar Dimitri e trazê-lo de volta da beira da
morte. Precisava dar mais sangue a Dimitri e continuar a curar os ferimentos dele antes de
colocá-lo na terra acolhedora.
Tatijana embalava sua cabeça à medida que ele bebia. Acariciando seus cabelos. Os
dedos acariciando suas têmporas. Ela parecia o paraíso. Como um milagre. Ele nunca considerou
o sabor antes. Ela permaneceu em sua língua e encheu cada veia rapidamente. Ele a sentiu
espalhando-se por seu corpo e reivindicando cada parte dele. Órgãos, ossos, tecidos. Tudo nele.
A força explodiu por ele pelo fluxo do sangue dos antigos Cárpatos. Ela era de uma forte
linhagem e deu livremente de si mesma. Ele foi cuidadoso fechando o pequeno ferimento em
sua garganta, curando-o de forma que os olhos afiados de Zev não descobrissem seu segredo.
— Você já tem muitos ferimentos, Fen. — ela disse, ajoelhando ao lado de Dimitri.
Fechou os olhos e pôs as mãos sobre as pequenas lacerações enquanto Fen se concentrava uma
vez mais na barriga aberta de seu irmão.
— Assim como você, minha senhora. — Fen disse, olhando-a com olhos penetrantes.
— Curei a maior parte deles enquanto estava no ar. — ela disse. — Não se preocupe
comigo. Mantenha Dimitri vivo.
Fen se debruçou em Dimitri, uma mão pairando sobre os cortes abertos enquanto
alimentava seu irmão com mais sangue de seu outro pulso. Beba livremente, meu irmão. E então
poderá descansar.
Calor explodiu das mãos de Tatijana. Ela espalhou-o sobre o corpo de Dimitri, enquanto
Fen concentrava a luz curativa sobre sua barriga. Quando Dimitri tomou sangue suficiente dele,
satisfazendo Fen, este levou um tempo embalando cada ferimento separadamente do corpo de
seu irmão com terra manchada de sangue de Lycan e sua própria saliva.
Mantenha Zev ocupado enquanto acho um lugar de descanso para meu irmão. Instruiu
Tatijana e ergueu o corpo de Dimitri nos braços.
Tatijana assentiu. Parecia um pouco cansada e muito pálida. Ela não tinha se alimentado
e ainda assim lutou uma batalha. Estava ferida também e trabalhou para salvar Zev.
Eu retornarei rapidamente para vê-la, minha senhora. Perdoe-me por não colocá-la em
primeiro lugar.
Eu teria gostado menos de você se tivesse feito isto, respondeu. Ela falou em voz alta.
— Zev, estarei logo aí. Sinto muito que isto tenha levado tanto tempo.
A névoa rodopiou densamente ao redor deles. Ele sentiu a mão feminina de Tatijana
dentro do renovado véu da névoa.
Fen levou-se para o ar. Fazia muito tempo desde que usou suas habilidades de Cárpato.
Ficando na forma de Lycan, pensando como um Lycan, vivendo como um tinha lhe permitido
manter a escuridão sempre presente à distância. Agora precisava de suas habilidades de
Cárpato. Procurou por um lugar seguro para descanso onde seu irmão pudesse permanecer.
Retornaria e lhe daria sangue quando precisasse, mas não podia ser um lugar onde outro
pudesse descansar. Nenhuma caverna.
Ele achou um campo rico em vida e soube que o solo era extraordinário. Um cachorro
latiu próximo à pequena casa dilapidada e silenciou-o automaticamente. Fen abriu a terra para
seu irmão. Ele foi fundo, tecendo salvaguarda após salvaguarda. Dimitri estaria vulnerável se
qualquer inimigo o achasse. Ele flutuou para baixo com seu irmão nos braços, colocando-o
cuidadosamente na terra rica. Quase ao mesmo tempo, sentiu a presença dela novamente,
aquela jovem alma antiga que era a companheira de Dimitri. Esperou enquanto ela se movia
pela mente de Dimitri, assegurando-se de que ele ainda estava vivo, embora ainda tão perto da
morte.
Ele não morrerá, ela declarou. Não é, Dimitri?
Quando Dimitri agitou-se como se pudesse responder, ela pintou pinceladas, pequenas
carícias sobre as rachaduras e fissuras onde a escuridão se infiltrava em sua mente. Fique quieto.
Virei até você em breve, quando estiver curado e forte novamente. No momento, descanse. Fique
com meu amor e embrulhe-se nele enquanto dorme, assim como fiz com você por tantas noites
preocupantes.
Existia uma honestidade tão simplista em sua voz. Uma objetividade. E amor. Ele ouviu
isto. Ela sentia uma profunda emoção por seu irmão. A conexão entre Dimitri e Skyler era forte.
Eles já estavam entrelaçados, embora tão distantes.
Mãe Terra, eu clamo por você. A voz de Skyler mais uma vez deslizou por sua mente,
através da conexão dela com Dimitri. Este é Dimitri, meu companheiro. A outra metade de minha
alma. Como um favor para sua filha, mantenha-o em seus braços. Cure-o de todos os ferimentos.
Ele é um grande guerreiro e serviu bem ao seu povo. Proteja-o de todos os males, enquanto o
mantém por perto. Peço-lhe isto humildemente.
Fen sentiu verdadeiramente o pequeno deslocamento de terra ao redor deles. O solo
mais fértil elevando-se por baixo dele, formando uma cama para Dimitri deitar-se. Durma bem,
meu irmão. Agradeço por sua ajuda esta noite. Sem sua intervenção, eu poderia não ter chegado
a Bardolf a tempo de salvar Tatijana.
Ele esperou até a terra estar preenchida e o campo voltar exatamente como esteve
antes de retornar ao campo de batalha na floresta.

Capítulo 4

— Grande batalha. — Zev saudou quando Fen saiu da névoa que se diluía em sua
direção. Zev estava meio sentado, meio deitado no chão, suas costas contra uma árvore.
— Você parece um pouco mais desgastado. — Fen disse.
Zev estava coberto de ferimentos de dentes que o rasgaram e garras que o deixaram
aberto. Obviamente estava com dor, mas estoico sobre isto.
— Você deveria se olhar no espelho. — Zev sugeriu mostrando seus dentes brancos.
Pela maneira como não se mexia, Fen percebeu que Zev estava mal. Assim como Dimitri,
ele tomou o ímpeto daquele último ataque a fim de dar tempo a Fen de salvar Tatijana do Sange
rau.
— Honestamente, prefiro não fazer isso. Tatijana lidou com as carcaças. Eu ainda tenho
que levar aqueles dois pra casa. — Fen acenou com a cabeça em direção a Enre e Gellert, ainda
protegidos na árvore. — Tenho que admitir, estou cansado. — Ele se sentou, suas pernas
parecendo borracha. Deu muito sangue a Dimitri e não tinha cuidado de seus ferimentos.
— Você sabia que ele estava aqui, não é? A abominação? Você o rastreou até aqui.
Fen deu de ombros. Ele não se importava de Bardolf ser chamado de abominação. O
morto-vivo escolheu desistir de sua alma, mas sabia que Zev pensaria que Fen era Sange rau —
sangue ruim também, se o Lycan soubesse a verdade sobre a mistura de sangue dele. Fen
respeitava Zev, então isso seria um pouco desconcertante.
— Eu suspeitei. Topei com o bando de renegados e pensei que seria melhor tentar
controlar o dano, abater um por um se possível. Entretanto, vi a destruição, e até para um bando
de renegados parecia muito brutal.
— Eu não sabia. — Zev admitiu. Ele soou aborrecido consigo mesmo. — Deveria ter
suspeitado. Você o chamou pelo nome.
— Meu bando foi destruído pelo Sange rau anos atrás e fui para um bando vizinho. —
Fen explicou. — Bardolf era o alfa. Ele era... brutal com os membros mais jovens. Passei um
tempo difícil com ele e percebi que não poderia mais ficar.
Zev pareceu um pouco divertido.
— Posso imaginar. Você é puro alfa. Qualquer um pensaria que você tinha seu próprio
bando. — Havia um misto de especulação em sua voz, assim como riso.
— Alguns meses depois que meu bando foi destruído, o bando de Bardolf foi atacado
pelo mesmo Sange rau que matou a maior parte do meu. O demônio causou estragos, matando
todos em seu caminho. Ele almejava as mulheres e crianças primeiro, e então começou a matar
os homens. A companheira de Bardolf e seus filhos foram mortos no primeiro ataque. Bardolf
ficou um pouco louco e saiu para caçar sozinho, enquanto nós estávamos queimando os mortos.
Ninguém notou a princípio que ele tinha desaparecido. Nós o seguimos até uma profunda
caverna nas montanhas.
Fen recostou a cabeça contra o tronco de árvore e fechou os olhos quando Tatijana
ajoelhou-se ao lado dele. Em vez dela cheirar a batalha com sangue e morte, cheirava a floresta,
chuva fresca e mel silvestre, aquele cheiro indescritível que o atraía. Ela passou as mãos em seu
rosto. Imediatamente uma calma reconfortante apoderou-se dele. Ele olhou para o rosto dela,
tão bonito, sua pele sem defeitos, seus longos cílios emplumados. Ela sorriu-lhe, iluminando
seus reluzentes olhos esmeraldas.
— Você precisa se curar, Fen. — Ela disse suavemente.
— Assim como você, minha senhora. — ele respondeu, seus dedos encontrando o
ferimento em seu ombro.
O vento rasgou por entre as árvores, enviando uma chuva de folhas e rodopiando uma
névoa passando entre Zev e Fen, escondendo o brilho do calor e a boca de Fen movendo-se
sobre a ferida com a saliva curativa.
— Não é nada. — Tatijana disse em voz alta para distrair Zev. — Deixe-me ver seus
ferimentos. Eles estão muito piores. Terei que ir para a terra logo, e qualquer dano curará
rapidamente.
Fen não podia ficar mais orgulhoso dela. Ela nunca perdia uma deixa. No que dizia
respeito à Zev, Fen era Lycan. Tatijana tinha percorrido um longo caminho para manter seu
segredo a salvo. Ela se inclinou sobre seus ferimentos, seu corpo parcialmente escondendo suas
ações de Zev, mas Fen não estava muito preocupado. Cárpatos eram conhecidos por suas
habilidades curativas.
A língua dela acariciou suas feridas. Seu corpo enrijeceu, reagindo inesperadamente.
Seus olhos se fecharam e ela parecia incrivelmente sensual, tanto que tirava-lhe o fôlego. Ele
nunca pensou em termos de sensualidade, isso era uma experiência nova e estava um pouco
chocado com o quão intensa era sua reação por ela.
Para mim também.
A voz dela era suave, roçando as paredes de sua mente quase com a mesma
sensualidade que sua língua. Ela não tentou esconder sua admiração ou sua necessidade por
ele.
— Você disse que rastreou Bardolf em uma caverna nas montanhas. — Zev solicitou.
Fen não se conteve. Ele tocou o rosto de Tatijana com dedos gentis. Ela sorriu, mas não
parou seu trabalho. Pegou a terra entre eles, onde Zev não tinha chance de ver o que estava
fazendo, e misturou-a com saliva para pressionar nas piores marcas de mordidas e lacerações.
— O que restou do bando dele foi comigo procurá-lo — para ajudá-lo. Não havia muitos
de nós, e levávamos os feridos juntos, por isso não podíamos ir tão rápido quanto gostaríamos.
Não ousamos deixá-los sozinhos, não com o Sange rau por perto, e nós não queríamos que
Bardolf tivesse chance de encontrá-lo e enfrentá-lo sozinho. Eu não podia deixá-los e ir em
frente. Sabia que nenhum deles tinha habilidade para lidar com um monstro como o que
estaríamos confrontando. Isso deu a Bardolf uma boa vantagem sobre nós.
Fen estava cansado. Muito mais exausto do que esteve por um longo tempo. Lutar no
outro mundo sem seu corpo e usando apenas a mente e o espírito, drenou-o. Tatijana pareceu
perceber, suas mãos movendo-se sobre ele com firmeza, assumindo parte do fardo. Zev trocou
de posição e gemeu suavemente. Ocorreu a Fen que Tatijana tinha realizado os mesmos rituais
curativos no Lycan.
Não os mesmos, ela negou. Sua respiração era morna contra sua pele, quando se
ajoelhou e afastou o cabelo do rosto dele para achar um arranhão de garra particularmente
desagradável.
Seu corpo apertou inesperadamente. Não, não foi igual, minha senhora, ele concordou,
enchendo a mente dela com seu calor. Era a única coisa que podia dar-lhe sem trair quem ele
era.
Ele olhou para Zev antes que pudesse conter-se, com medo de pôr Tatijana em mais
perigo. Estava cansado e poderiam facilmente cometer um engano.
Os olhos de Zev estavam fechados. Linhas marcavam seu rosto. Ele parecia tão exausto
quanto Fen se sentia.
Fen riu suavemente.
— Estamos em grande forma, Zev. Não estou procurando por outra dança com este
grupo, pelo menos não hoje à noite. Além de levar nossos dois amigos bêbados para casa em
segurança, há um corpo na floresta morto pelos renegados. Tatijana e eu o encontramos no
nosso caminho para a aldeia. Foi isso que nos trouxe correndo de volta.
Zev agitou-se como se quisesse erguer-se. Tatijana virou-se e levantou a mão para detê-
lo. Ele gemeu e abaixou-se.
— Não sei como é o ritmo de cura dos Lycans. — Tatijana disse. — Mas isto não é tão
rápido. Se você não quiser que os ferimentos abram novamente, dê a si mesmo alguns minutos.
Levarei você de volta para a pousada assim que puder descansar. Deixe-me cuidar de Fen
primeiro. Mas não ouse se mover.
Zev riu.
— Todos os Cárpatos são tão mandões quanto você?
Tatijana deu uma pequena fungada, seus olhos brilhando com diversão.
— Apenas as mulheres. Nós temos que ser. Nossos homens são difíceis, sabe? Não
temos escolha. — Ela virou seus olhos esmeralda para Fen. O riso fazendo as facetas verdes
resplandecerem. Ela parecia mais bonita que nunca.
— Se seus homens não as tratam direito, eles não têm cérebros em suas cabeças. — Zev
disse. — Você é uma mulher bonita, Tatijana, e um inferno sobre rodas em uma briga. Você nem
vacilou.
Fen ficou inquieto. Olhou de Tatijana para Zev. O homem claramente não estava
paquerando, estava declarando um fato. Tudo nele decidido, enquanto dois segundos antes
estava enrolado e preparado.
Tatijana o cutucou.
— Preste atenção, garoto lobo.
Zev riu silenciosamente.
— Esta foi boa. Você luta como a elite.
Era uma questão de sondagem, emitida em um tom casual.
Fen forçou um sorriso, mostrando fortes dentes brancos. Viveu como um Lycan tanto
tempo que isto era uma segunda natureza para ele agora. Não cometeria um engano, não a
menos que Tatijana estivesse em perigo. Pensava como um Lycan. Zev era esperto, inteligente
e feroz, um lutador muito habilidoso. Ele entrou no meio deles e disse para partirem, e se
tivessem, teria lutado com o bando de renegados inteiro sozinho.
— Tenho estado por aí e sem um bando, tendo a caçar mais do que a maioria. — Fen
admitiu cuidadosamente. — Uma vez que suspeitei que Bardolf estava correndo com o bando
de renegados, gastei a maior parte de meu tempo seguindo-os, tentando pegá-los um de cada
vez. — Ele atirou um sorriso para Zev. — Eles se viraram para mim algumas vezes e coloquei
meu traseiro para correr.
Zev o estudou com olhos muito velhos — muito astutos.
— Duvido disto. Mas já teve sua cota nas batalhas. Você é tão habilidoso quanto eu,
talvez mais, e isto já diz muito.
Ele não tinha se escondido tanto de Zev quanto queria. Zev era da elite, e eles eram
poucos. Nasceram muito mais rápidos, muito mais fortes e muito mais inteligentes do que o
resto dos Lycans. Eles se regeneravam em um ritmo muito mais rápido. Quando um bando
descobria uma criança com tais atributos, ele ou ela era enviado para uma escola especial para
ser educado.
— Você não deveria ser muito mais velho quando seu bando foi destruído. — Zev
arriscou.
Tatijana sentou-se nos calcanhares.
— Aí estão vocês, cavalheiros. Ambos devem viver, embora da próxima vez, sugiro que
se movam apenas um pouco mais rápido. Se não notaram, tenho muito poucas mordidas. — Ela
deu um sorriso insolente para ambos.
Você as curou, minha senhora, e isto não é justo, ele brincou com ela em particular.
Os Lycans olharam de para um para o outro, e então ambos riram. A tensão entre eles
parecia ter evaporado com a observação de Tatijana.
— Termine de me contar sobre Bardolf e a caverna. — Zev solicitou novamente. — Se
realmente pensa que é o alfa daquele bando, preciso saber tudo sobre ele.
— Nós achamos uma quantia volumosa de sangue. Marcas de queimaduras. Um sinal
de uma terrível batalha. Nenhum corpo, mas sabíamos que Bardolf tinha encontrado o Sange
rau. Todos nós acreditamos que Bardolf tivesse sido morto por ele, mas não havia nenhum
corpo.
Houve um pequeno silêncio. Zev balançou a cabeça.
— Os outros acreditaram que Bardolf tinha morrido naquele dia. Você sabia que ele
ainda estava vivo. — Ele fez disto uma declaração.
— Bardolf morreu naquele dia, se parece estar intacto ou não. Ele emaranhou-se com o
Sange rau, e de alguma maneira acabou parecendo com o que lutou. Não tinha certeza, mas
quanto mais estudava o campo de batalha, mais isto parecia errado para mim. Encenado. As
marcas de queimadura, as plantas murchas, sangue em todos os lugares, mas nenhum corpo.
Algo não estava certo.
Lentamente, Fen podia sentir sua força retornando. O sangue poderoso de Tatijana e a
magia curativa já estavam fazendo milagre, e em breve seu sangue Lycan contribuiria para
ajudar a curar muito mais rápido.
— Onde você está hospedado, Zev? — Tatijana perguntou. — Posso levá-lo até lá. Já
montou em um dragão?
— Não posso dizer que tenha. — Zev admitiu. — Estive ao redor de alguns Cárpatos
durante longos anos, mas apenas para caçar com eles, e nenhuma vez nenhum deles foi cortês
o suficiente para me oferecer uma carona para casa. — Ele deu um sorriso cansado. — Claro
que não eram tão bonitos quanto você é, e teria me oposto se eles insinuassem que eu não
poderia chegar em casa sozinho.
— Claro que você pode. — Tatijana disse. — Mas não vou recusar uma escolta.
Você é incrível, Fen disse. Zev é muito orgulhoso.
Ele está muito machucado. Até com seu sangue e o meu, levará vários dias para curar-
se.
Um alarme soou.
Ele está ciente que você deu-lhe sangue?
Séculos atrás, os Lycans não sabiam o que causou a combinação de Lycan/Cárpato. Ou
no que dizia respeito a esse assunto, Lycan/Vampiro. Claramente os Lycans não distinguiam
entre ambos. Eles viam a ambos como uma poderosa ameaça. Mas alguns cruzamentos foram
feitos, dos quais o conselho dos Lycans ainda não tinha certeza, mas devem ter adivinhado. Eles
tinham acesso a laboratórios, e estudaram e pesquisaram. O mais provável é que suspeitaram
de uma mistura de sangue neste século.
Fui cuidadosa, Tatijana o acalmou. Descanse até que eu retorne. E fique alerta. Não vá
dormir em serviço.
Fen encontrou-se rindo. Ela era uma mulher esperta. Explicou-lhe o perigo que ele
corria, e ela poderia dizer-lhe exatamente onde Zev ficava. Ela tomou sangue de Zev, assim como
também lhe deu. Podia monitorá-lo mesmo a distância.
— Como vocês conseguem lidar com a prata? — Tatijana perguntou curiosamente. —
Não os machucaria da mesma forma como faz com os renegados?
— Nós estamos acostumados a usar luvas. — Zev respondeu. — Ou cobrimos nossas
mãos e braços com selante. Mas isso desgasta rapidamente. Prefiro luvas, e claramente Fen
também. — Ele acenou em direção às mãos protegidas de Fen.
Fen tinha vivido tanto tempo como um Lycan que era sua segunda natureza usar luvas,
e estava agradecido de estar fazendo isto no momento em que foram ameaçados pelo bando
de renegados.
— Você está forte o suficiente para esperar sozinho? — Tatijana perguntou a Zev.
Fen estremeceu. Isso machucaria o ego de Zev. Um caçador do bando de renegados?
Um guerreiro habilidoso? Sendo questionado por uma mulher se poderia esperar sozinho? Ele
quase gemeu alto. Não ousou olhar no rosto de Zev.
— Acho que posso aguentar. E você, Fen? Estará seguro aqui até que ela retorne para
você?
Fen olhou ao redor para o campo de batalha. Havia várias estacas de prata caídas no
chão, nas cinzas das carcaças queimadas. Ele tinha energia suficiente para atraí-las até ele depois
que eles partissem. Ergueu uma sobrancelha.
— Você pode me deixar aquela espada de prata. Eu a quero.
— Eu a fiz. — Zev disse. — Ela é muito útil em situações difíceis.
— Quais as outras armas que você tem? — Fen perguntou curioso.
Zev caçava com um bando de elite. Ele foi escolhido acima de todos os outros caçadores
em seu bando de elite para ser um explorador. Seguiu em frente, investigando rumores e
peneirando por evidência, antes de chamar seu bando para limpar. Vigiar o colocava em perigo
ininterrupto. O bando de renegados poderia ser apenas uns três, como também trinta. O fato
dele ainda estar vivo era um testemunho de suas habilidades.
— Eu terei que te mostrar. Você considerou ser treinado? — Zev perguntou.
Fen deu de ombros.
— Honestamente não. Desde que meu bando foi destruído — e isso foi há muito tempo
— que estive sozinho. Sou um pensador independente. Seguir um alfa seria difícil. — Isto era
verdade. Isto, e o bando poderia dilacerá-lo na primeira lua cheia.
— Eu daria boas-vindas a você em meu bando a qualquer momento. — Zev disse. — Os
bandos de elite são diferentes. Cada membro é um pensador independente, eles têm que ser.
Nosso alfa é mais conselheiro que um líder dentro do bando, embora geralmente o batedor
tenha muita influência. Imagino que seria mais adequado para a vida de um batedor. — Ele
sorriu ironicamente de repente, o cansaço e a dor gravados em seu rosto desaparecendo por
um momento. — E pense sobre todos os brinquedos legais que você teria.
— Estaria muito interessado em ver aqueles brinquedos. — Fen admitiu. Estava apenas
com uma pequena inveja. Aquela espada veio a calhar. Ele precisava de tempo para estudá-la,
compreender a melhor forma de forjar uma para si mesmo. A prata era natural — da terra — o
que significava que poderia facilmente produzir uma, como fez com as estacas de prata, mas
não se fazia uma boa arma a partir do ar, sem ter conhecimento de como era feito. Ele realmente
desejava aquela espada extraordinária.
— Venha ao meu quarto na pousada.
— Você sabe que está nas profundezas do lar dos Cárpatos. — Fen assinalou. — Todos
naquela aldeia são amigos do príncipe. Ele está por perto e seus caçadores já estão
provavelmente cientes de você. Estarão observando de perto. E não há nenhum modo de que
possa manter um bando de renegados por baixo dos panos aqui.
Zev assentiu.
— Eles não podem descobrir o que sou, embora possam suspeitar. Eles são muito
astutos.
— Olá. Vocês esqueceram que estou aqui? — Tatijana exigiu. — Claro que o príncipe
saberá que você está aqui. Tenho toda a intenção de delatá-los imediatamente. Não vemos com
bons olhos os bandos de renegados e vampiros matando pessoas, humano, Lycan ou Cárpato.
Você achou que eu seria uma boa menina e apenas esqueceria de reportar isto?
— Podíamos apenas esperar. — Fen disse bem-humorado.
— Você lutou muito bem. — Zev adicionou. — Por um minuto, esqueci que você era
Cárpato e acreditei que fosse Lycan.
— Ha, ha, ha, Zev. — Tatijana fungou. — Como se um Lycan pudesse lutar como um
Cárpato. Quem salvou sua bunda hoje? Fui eu.
— Não a provoque, Zev. — Fen disse com um pequeno gemido. — Ela é audaciosa
suficiente sem fazê-la pensar que tem que defender a espécie Cárpato inteira.
Zev deu um sorriso maroto.
— Leve-me para minha primeira carona em um dragão. — ele disse para Tatijana. —
Deixarei que lide com os cadáveres e os Cárpatos esta noite, Fen. Venha me ver e mostrarei
aquelas armas. Poderia até ter uma ou duas extras. — O sorriso enfraqueceu, ele ergueu a
cabeça e cheirou a floresta.
Fen fez o mesmo. O odor de sangue, morte e carne queimada permeava por toda a área.
O odor dos renegados na batalha ainda estava presente, e se estivessem rastejando por perto
novamente, eles se certificariam de que seus odores permanecessem escondidos. Zev estava
preocupado em deixá-lo sozinho.
— Quanto tempo Bardolf levará para regenerar? — Zev perguntou. — Nunca lutei
realmente com um Sange rau. Nunca topei com um antes. — Ele admitiu.
— Mais tempo do que ele gostaria. — Tempo suficiente para Fen planejar procurar por
sua toca. Mas faria isto sozinho. Nem Tatijana, nem Zev precisavam saber daquelas informações.
Homem lobo tolo. Pensa em me proteger daquela coisinha de vampiro, quem quer que
ele seja. Eu aprendo rápido. Não vou deixá-lo lutar esta batalha sozinho.
Existia um suave afeto sensual aumentando em sua voz, o suficiente para que a nota
baixa transformasse o coração dele em mingau. Ele deveria ser o grande guerreiro perverso, e
ela parecia reduzi-lo a derreter como uma gosma com apenas algumas palavras. Isso não
pressagiava nada de bom para o futuro dele.
Tatijana lançou a cabeça para trás e riu alto.
— Você dois são impagáveis. Coletarei as estacas de prata e as darei para Fen. Você quer
emprestar-lhe sua espada de prata também enquanto ele espera sozinho como um cordeiro de
sacrifício na floresta os lobos retornarem?
Esta era boa. De jeito nenhum Zev iria querer desfazer-se de sua espada, mas ela tornou
quase impossível que fizesse qualquer outra coisa. Se ele insistisse em levá-la com ele enquanto
um homem ferido ficaria esperando sozinho e vulnerável, pareceria muito mesquinho.
Zev sacudiu a cabeça.
— Quero isto de volta, Fen. — Ele estendeu a espada para Tatijana.
— Cuidarei disto. — Fen prometeu. — Você disse que seu bando estaria aqui para ajudar
em vinte e quatro horas.
Tatijana é quem devolveria a espada. Fen tinha apenas mais um dia antes que entrasse
no momento de grande perigo. Zev reconheceria seu sangue misturado. Na lua cheia, todo Lycan
das redondezas sentiria sua presença e tentaria matá-lo. Uma vez que o bando de caçadores de
elite de Zev chegasse, Fen estaria realmente em dificuldades. Eles poriam o bando de renegados
em banho-maria e fariam dele sua missão prioritária.
— Espanta-me que a prata seja forte o suficiente para cortar através dos ossos.
O sorriso de Zev era distintamente feroz. Claramente ele tinha alguns segredos no que
se referia às suas armas. Fen precisava daqueles segredos. Olhou para Tatijana. Ela assentiu com
a cabeça.
— Vamos Zev, antes que fique muito tarde. Diferente de você, tenho que estar ciente
do tempo. — Tatijana lembrou suavemente. — Vou me transforma e você terá que subir em
minha asa para chegar até minhas costas. — Ela olhou ao redor. — Precisarei de um pouco de
espaço.
Ela não esperou. Tatijana rapidamente mudou para a forma de um dragão azul e então
envolveu a mente e o corpo completamente de imediato, e Fen percebeu que ela ficava muito
mais confortável naquela forma do que na sua.
Pelos padrões dos dragões, ela poderia ser considerada pequena, mas lá na floresta e
tão perto deles, parecia enorme — e bonita. Sua escamas eram de um azul iridescente, brilhando
na névoa das cercanias. Espinhos corriam ao longo do cume de suas costas até abaixo de seu
longo rabo, terminando em uma lança parecendo letal. Seus olhos eram grandes e verde
esmeralda, lapidados como diamantes cintilantes.
— Magnífica. — Zev disse. — Tatijana, isto é incrível. — Ele olhou para Fen. — Você viu
como ela foi rápida? Pensei que um dragão levaria alguns minutos. — Ele tentou se levantar,
segurando-se no tronco da árvore como suporte.
Fen podia ver a extensão dos machucados de Zev. Ele estava gravemente ferido em
dezenas de lugares. Pedaços profundos de carne foram arrancados dele. Seu rosto estava
marcado com dor. Gotas de suor pontilhavam sua fronte. Ele não fez nenhum som, estoico como
sempre, mas sua pele parecia um pouco cinza.
— Aguente. — Fen ordenou, usando sua voz mais convincente. Baixa. Aveludada. Uma
sorrateira compulsão que deslizava do alfa, se a voz mais imponente não funcionasse. Ele
ergueu-se, bloqueando a onda de dor enquanto se levantava.
Seu respeito por Zev crescia a cada minuto que passava em sua companhia. Ele
encontrou muitos Lycans durões, bons homens que sabiam como lutar em uma batalha, mas
claramente Zev estava acima do resto. Lycans não podiam cortar a dor do modo como Cárpatos
podiam. Suportavam isto e lutavam. Os realmente grandes como Zev ficavam na batalha até os
outros morrerem.
Fen cruzou a distância entre eles, uma mão deslizando sobre o corpo do dragão em uma
longa carícia.
— Você é um homem de sorte, Zev. — Ele observou.
— Um privilégio. — Zev concordou. — Nunca achei que conseguiria estar perto de um.
Eles estão muito longe deste mundo agora.
Ele não protestou quando Fen deslizou um braço ao redor dele para ajudá-lo. Isso disse
a Fen mais do que qualquer coisa que Zev estava muito ferido. Tatijana estendeu sua asa em
direção a Zev. Fen ajudou-o a levantar-se para chegar até a asa.
Ele não pode subir em sua asa, Fen disse usando seu vínculo telepático. Ele estava
começando a se preocupar sobre as condições de Zev. O quão ruim ele estava?
Esteve tão preocupado com os ferimentos horríveis de Dimitri que não considerou que
Zev suportou o ímpeto do ataque junto com Dimitri. Ele sabia, mas Tatijana realmente não disse
o quão ruim as lesões de Zev estavam. Ela estava preocupada em proteger o segredo de Fen,
como também para apressar-se para verificar os ferimentos deles.
Ele não estava com o intestino pendurado como Dimitri, Tatijana disse. Mas está muito
ruim. Um homem menor estaria inconsciente neste momento.
Se eu usar minhas habilidades Cárpato para erguê-lo até suas costas, ele saberá
imediatamente que sou mais do que um Lycan.
Tatijana fez um pequeno som em sua mente, um muito feminino ‘aham’ de
aborrecimento. Tudo que você tinha que fazer era perguntar.
Ele encontrou-se sorrindo. Talvez tentasse incomodá-la um pouco de propósito. Gostava
de seu temperamento um pouco explosivo. Podia sentir cada vez que aquele temperamento
chamejava, explodindo através de sua mente como estrelas atravessando o céu em uma noite
quente de verão, aquecendo-o. Encontrava conforto em suas reações explosivas, pequenas
como eram, mas ainda diretamente nele. Engolfando-o. Circundando-o. Afundando em seus
ossos. Seu sangue. Ela era sua.
Bem que você queria.
Ela deu uma fungadinha delicada, mas havia afeto crescendo no seu tom provocante.
Ele se sentiu cercado pelo calor dela. Ela parecia derramar-se em sua mente, fogo líquido,
enchendo todos os lugares vazios e escuros de luz e riso, e sua sensualidade natural incrível.
Por que seu dragão é azul quando você queima tão quente?
Você nunca viu uma chama azul? Tatijana perguntou. Quando era uma menininha, eu
via as chamas azuis dançando nas cavernas secretas de Xavier. Nunca pude tocar ou senti-las
porque estavam sempre longe e eu estava frequentemente envolta em gelo, mas elas pareciam
tão bonitas.
Este foi o motivo dela ter ficado tão intrigada com as chamas mais cedo na taverna.
O dragão azul olhou para Zev com olhos preocupados. Ela projetou sua voz pela grande
besta.
— Se você me permite, Zev, posso flutuá-lo até minhas costas. Será mais fácil para nós
dois.
— Obrigado, claro que não me importo se for mais fácil para você. Estará me fazendo
um favor enorme. — Ele olhou acima daquela longa asa. A subida seria bastante difícil com seus
ferimentos.
Ele está fraco pela perda de sangue. Dei-lhe sangue, mas tive o cuidado para que não
fosse muito para que ele não desconfiasse. Ele esteve consciente e inconsciente por alguns
minutos, até que eu consegui dar-lhe sangue o suficiente.
Eu poderia beijá-la por tornar isto mais fácil para o orgulho dele, Fen disse.
Existem razões muito melhores para me beijar, Fenris Dalka. Talvez possa considerar
uma ou duas em minha ausência.
Tatijana flutuou Zev até suas costas e esperou até que ele estivesse confortavelmente
acomodado.
E homem lobo...
Sua voz ficou sombria. Sensual. O dragão azul virou aquela cabeça em forma de cunha,
abaixando seu pescoço até que seus olhos esmeraldas multifacetados estivessem no mesmo
nível que os dele. A respiração dele ficou presa em seus pulmões. Seu coração tropeçou. Todos
os músculos de seu corpo tencionaram.
Você ainda não viu o quão quente posso queimar.
Fen quase engasgou. Ele observou o dragão manobrar seu longo corpo pelas árvores até
a névoa tragá-los. Ele oscilou, uma mão sobre a árvore como apoio apenas por um momento
até o mundo parar de girar. Ele manteve a dor à distância, apesar disso também custar força,
incerto ou não se Tatijana tocaria sua mente.
Ele ainda tinha o corpo para cuidar e precisava achar um corpo quente para fornecer
sangue suficiente para sustentá-lo e curá-lo. Ele forneceria alimento para Dimitri. Deixaria seu
irmão um tempo mais longo curando-se devido à extensão de seus danos.
Fen sempre esteve como um Lycan, pensando e agindo como um, o que o ajudava a
manter a escuridão à distância até este último século, ou então quando seu sangue misturado
começou a adicionar o impulso da escuridão. Agora precisava voltar a ser Cárpato, pelo menos
até que esta noite terminasse. Estava indo à caça, ferido ou não. Isso era o que caçadores
Cárpatos faziam.
Elevou-se para o ar, um longo rastro de névoa riscando através do mais denso nevoeiro.
O que você pensa que está fazendo? A voz de Tatijana era enganosamente aprazível.
Ele não estava acreditando nisto. Minha senhora, tenho deveres a cumprir esta noite.
Como você também. Certifique-se de que seu príncipe esteja ciente do que está acontecendo em
sua terra.
A diversão de Tatijana explodiu por ele como fogos de artifício cintilantes. Nosso
príncipe, Fenris. Você pode mudar seu nome para qualquer coisa que quiser, seu sangue pode
ser diferente, mas você nasceu Cárpato e sempre será Cárpato. Pode ter deixado sua pátria
quando outro príncipe era regente, mas retorno, e deve lealdade a Mikhail, da mesma maneira
que todos nós fazemos.
Ela tinha razão. Esteve sozinho por tanto tempo que esqueceu que existia uma
sociedade inteira tentando se reconstruir. Há muito tempo tinha se resignado a estar
completamente sozinho. Nem sequer ouvira falar de Mikhail ou seu segundo em comando,
Gregori, até Dimitri tê-lo preenchido com notícias dos últimos séculos lá nas Montanhas dos
Cárpatos.
Assim é, minha senhora.
Espere por mim. Estarei aí em mais alguns minutos.
Ela estava obstinada — e preocupada com ele. Apesar disso aquecer seu coração e fazê-
lo parecer vivo e alegre, também era uma combinação muito ruim.
Tatijana, o que eu faço é perigoso. Não posso fazer isto e me preocupar se você for ferida.
Novamente ela o surpreendeu. Não existia mais a mulher petulante, chateada com ele
por colocá-la de lado quando o ajudou na batalha, e ainda estava ajudando-o. Ela passou uma
leve carícia por sua mente.
Você não conhece sua companheira. Eu absorvo o conhecimento de todos quando entro
em contato com eles. Inimigo e amigo. É um hábito que adquiri em minha infância quando não
tinha nenhuma outra vida do que a de uma intelectual.
Estou caçando renegados e o Sange rau esta noite. Bardolf não espera por isto e estará
fraco tentando curar-se.
E é por isso que sua companheira será um recurso para você nesta caçada, ela respondeu
complacentemente. Sou uma Caçadora de Dragão. Nenhum vampiro pode se esconder de mim,
que essencialmente é isso o que ele é. Ele pode afundar no lobo e eu ainda saberei que está lá.
Cometi um erro hoje à noite. Senti a presença dele e mergulhei para protegê-lo. Eu o teria
incendiado, mas você estava muito perto. Você era o alvo dele, Fen.
Ele tinha ouvido através de longos séculos que os Caçadores de Dragão podiam
desmascarar vampiros quando outros não podiam. Eram a única linhagem na história do povo
Cárpato que nunca teve um único membro da família de volta. Tatijana era Caçadora de Dragão.
Mais ainda, foi aperfeiçoada no fogo do inferno, mais precisamente no gelo glacial da magia. Ele
não podia desconsiderar o que ela disse.
Fen topou com rastros da destruição do bando de renegados e começou a suspeitar que
um monstro, a combinação de lobo e vampiro, viajava com eles ou pelo menos próximo a eles,
mas não teve certeza até que Bardolf veio matá-lo. Se Tatijana disse que soube imediatamente
que Bardolf era um vampiro e não lobisomem, ele acreditava nela. Era difícil dizer uma mentira
ao seu companheiro quando frequentemente compartilhavam a mesma mente.
A risada dela era suave e aquecida. Então agora está achando que eu apenas vim a
calhar nesta caça de vocês afinal, não é?
A dificuldade que ele viu nisto seria deixá-la ir. Ela já estava profundamente enraizada
em sua mente. Ele esteve muito só por tanto tempo em um mundo de sombras de violência e
escuridão, e em apenas uma noite na sua companhia ela trouxe riso, emoção e companheirismo
para sua vida. Ele nem ao menos percebeu que perdeu tais coisas. Mal conseguia lembrar-se de
tê-las. Estava sob uma sentença de morte e era apenas questão de tempo — neste século ou no
próximo — mas aconteceria. Seria caçado e morto.
Ele não podia dar a Tatijana a coisa mais básica entre companheiros — o sangue da vida.
Seu sangue não era mais Cárpato puro. Ele nunca teria dado a Dimitri seu sangue se existisse
uma alternativa, e em todo caso, Dimitri e ele compartilharam tanto sangue ao longo dos séculos
que seu irmão já estava a meio caminho de se tornar uma mistura de sangue.
Esta escolha não é sua, Fen. Tatijana lembrou. Não sou uma criança como a jovem
companheira de Dimitri é. Tenho vários séculos e ninguém tomará minhas decisões por mim
novamente. Se minha escolha é você, então compartilharei todas as coisas que uma
companheira faz, inclusive trocar sangue. Sou uma mulher. Uma guerreira com meus próprios
direitos. Sou um recurso para você na caça e me recuso a ser relegada ao papel de uma criança
da qual você toma decisões por mim.
Não havia nenhum desafio, apenas inflexibilidade. Tatijana não era uma mulher para ser
forçada e ele descobriu que a admirava ainda mais por isto. Ela era uma parceira adequada para
ele, o que tornava tudo isto mais difícil de protegê-la da vida dele — e dela mesma.
Ela deu um deselegante bufo de puro desdém. Se eu escolher ser reivindicada por você,
então compartilharei seu sangue de olhos abertos. Isto não é apenas sua decisão, Fen. É uma
decisão mútua. Meu companheiro é meu companheiro, não meu guardião.
Novamente existia verdade no que ela dizia. Ele era tanto Cárpato quanto Lycan. Se ele
a reivindicasse e compartilhasse sua vida com ela, não poderia existir nenhuma meia medida.
Eu entendo, Tatijana, ele respondeu. O que mais poderia dizer quando ela tinha um ponto que
ele não podia refutar?
Ela era seu milagre e queria envolvê-la em uma rede de proteção, e sempre certificar-se
de que estaria protegida.
Considerou que posso pensar que você é um milagre? Que quero me certificar de que
está seguro a todo instante? Por que devia ser apenas prerrogativa sua?
Abaixo dele estava o corpo do homem que foi morto pelos lobisomens renegados. Seu
corpo estava rasgado de forma quase irreconhecível. Se fosse encontrado em seu estado atual,
todos os verdadeiros lobos na redondeza estariam ameaçados. Haveria um clamor por justiça,
e caçadores estariam infestando a floresta e a montanha para eliminar os bandos perigosos.
Enquanto isso, os lobisomens renegados partiriam para novos territórios ou começariam a
matar os aldeãos.
Eles não sabem que estão em território Cárpato, não é?
Duvido disso. Nem mesmo Bardolf sabia. Se foi ele quem instigou o bando nesta direção,
certamente não sabe. Ele é Lycan, não Cárpato, e não tem nenhum conhecimento desta cultura
ou do fato de que o príncipe está residindo aqui.
Fen saltou no chão da floresta. O corpo estava exatamente onde ele e Tatijana tinham
tropeçado nele mais cedo, mas algo chamou sua atenção. Ele cautelosamente circulou.
Precisava conservar sua força se eventualmente conseguisse rastrear Bardolf em sua toca. Até
em sua condição presente o vampiro seria letal. Depois de encontrar Fen, reconhecendo o que
ele era, Bardolf partiria assim que pudesse. Agora seria o momento ideal para destruí-lo.
O que é isto?
Aquele tom de preocupação na voz dela aqueceu-o, mostrando-lhe mais do que nunca
que não estava mais sozinho. Ela pode não querer ser reivindicada, mas era dele.
Concentre-se no que está fazendo ou vai conseguir ser morto, homem lobo. Nós nunca
descobriremos sobre este negócio de companheiros se continuar tentando bancar o herói.
Tentando? Ele deu-lhe um sorriso másculo. Os galhos acima de sua cabeça balançaram
em conjunto com o vento. Não havia vento. O ar estava calmo, mas aqueles estalos persistiam
— uma batida consistente, fixa, muito rítmica. Eu fui o herói hoje à noite, minha senhora. Você
claramente não estava prestando atenção, o que torna necessário que eu repita isso. Ele deixou
de ouvir o estalar dos galhos.
Entendo. Você acha necessário fazer isso para me impressionar. Ela escutou o ritmo. Este
som é um com que Xavier costumava iludir suas vítimas. É hipnótico em um nível sutil. Quem
está usando isto já foi treinado pelos magos. Não é natural.
O que está acontecendo aqui? Um bando de renegados entrou no território dos Cárpatos
com Bardolf, uma combinação de lobo/vampiro. E agora outro inimigo? Isto não faz nenhum
sentido.
Talvez faça, Fen, Tatijana meditou. A companheira do príncipe, Raven, teve um filho. Sua
filha, Savannah, teve gêmeas. Ela é companheira do segundo em comando do príncipe. Estas
crianças crescerão com grande poder. Seria tão improvável pensar que estes inimigos do povo
Cárpato foram atraídos para cá?
Fen circulou o corpo destroçado. Os lobisomens quase partiram o homem ao meio em
seu ataque inicial. O bando de renegados apreciava torturar e matar suas vítimas, e
frequentemente alimentavam-se delas, inclusive enquanto suas vítimas ainda estavam vivas. Os
caçadores de elite, assim como muitos dos caçadores Cárpatos, não tinha nenhuma escolha a
não ser destruí-los. Este corpo foi deixado como isca. Não era uma tática incomum. Humanos
como regra, procuravam por seus entes queridos desaparecidos.
Fen fez questão de não olhar acima dele para o estalar dos galhos. Um ataque poderia
vir de qualquer direção. Seria possível que Bardolf tivesse vampiros inferiores sob seu controle?
Isso se tornava cada vez mais uma coisa popular que os mestres vampiros faziam. Eles pegavam
os vampiros recém-transformados e os usavam como peões, às vezes construindo um exército
formidável.
Não vi nenhuma evidência de vampiros concentrados aqui, Fen disse para Tatijana, mas
diga ao príncipe que esta noite pode haver problemas.
Tatijana suspirou. Se eu disser ao príncipe o que está acontecendo, em vez de esperar
que eles descubram, saberão que tenho saído sozinha. Existia remorso em sua voz. A batida está
aumentando. Você terá que ser cuidadoso, Fen, e bloqueie o som. Com as mudanças do ritmo, a
hipnose afeta se apossando realmente.
Não sinto isso tudo. Ele era mais do que Cárpato e mais do que Lycan. As coisas que
funcionavam contra outras espécies não funcionavam nele — era por isto que os Lycans baniram
sua espécie.
Por favor, seja cuidadoso. Não fique todo convencido. Estou a caminho.
Ele leu a ansiedade crescendo na voz dela. Ela tinha mais experiência com armadilhas
de magos do que ele e estava claramente preocupada.

Capítulo 5

Tatijana se aproximou da casa construída cautelosamente na encosta da montanha. Ela


estava sob vigilância. Podia sentir os olhos sobre ela, e quando esquadrinhou, permitindo que
seus sentidos aflorassem, soube que não estava sozinha do lado de fora da casa do príncipe.
Não tinha ideia do protocolo e como se aproximar dele, ou mesmo se estava acessível. Ela o
conheceu brevemente, mas tanto ela quanto Branislava estavam tão fracas e feridas que mal
sabiam o que estava acontecendo com elas.
Ela parou a algumas centenas de metros antes de alcançar a grande varanda. Tinha
bastante espaço para se defender se fosse necessário. Estendendo os braços longe de seu corpo
para mostrar que vinha em paz, esperou enquanto o segundo no comando e protetor de Mikhail
Dubrinsky a examinava.
— Tatijana do clã dos Caçadores de Dragões. — Gregori Daratrazanoff andou a passos
largos para fora aparecendo do nada. Ele parecia impressionante com seus ombros largos e
reluzentes olhos prateados. — A que devemos esta honra? Não tínhamos ideia de que você viria.
Não existia nenhuma censura em seu tom, mas percebeu que não estava contente que
ela estivesse desacompanhada. Ele era um grande partidário de suas mulheres sendo protegidas
a todo momento. Ela tinha recolhido muito sobre ele antes de ter ido pra terra para se curar.
Ele era um excelente homem para proteger o príncipe, mas não era seu guardião.
— Eu me deparei com algo que penso ser importante que saiba, isto se já não está
sabendo. Realmente esperava vê-lo em lugar de perturbar o príncipe, então estou grata que
esteja por perto. Existe um bando de lobisomens renegados caçando nesta área e eles
respondem a um alfa de nome Bardolf. Ele é uma mistura de lobo e sangue de vampiro, e muito
difícil de matar. Lycans se referem a tal mistura como Sange rau.
— Sangue ruim. — Gregori traduziu.
Tatijana movimentou a cabeça. Ela estava ciente do tempo passando. Fen estava
sozinho e ferido. Não gostava de deixá-lo por tanto tempo.
— Não apenas seu coração tem que ser removido de seu corpo, mas uma estaca de
prata deve ser inserida completamente no coração, e então ambos, o corpo e o coração,
queimados. Ele pode regenerar-se muito depressa. É possível, mas não sei se está viajando com
vampiros inferiores, além do bando de renegados.
Ela virou-se pra ir embora, entretanto voltou-se.
— Um caçador de elite Lycan de nome Zev está hospedado na pousada. Ele lutou com
eles esta noite e está muito ferido. Fiz o melhor que pude pelos ferimentos dele. Fui forçada a
dar-lhe sangue, embora não permiti que ele percebesse. MaryAnn e Manolito De La Cruz podem
estar em perigo.
Ela hesitou. Não tinha nenhuma ideia do que o Cárpato pensava sobre misturar sangue
de Lycan com o dos Cárpatos. Pelo que sabia deles podiam considerar isto como tabu, assim
como os Lycans. Foi informada disso por Lara, sua sobrinha, durante uma das vezes que Lara
deu-lhe sangue enquanto ainda estava se curando, mas isso não significava que era de
conhecimento comum que MaryAnn e Manolito eram tanto Lycan quanto Cárpato.
— Por que eles estariam em perigo? — Gregori solicitou.
Ela deu de ombros.
— Sei apenas que estão. Confio que você os advertirá. — Tatijana virou-se e começou a
ir embora prendendo o fôlego com medo de que ele a parasse. Ela quase se chocou com ele,
tentando ouvi-lo por trás dela. Teve que parar abruptamente, quase saltando no peito dele. Ele
se moveu incrivelmente rápido — e silenciosamente — bloqueou seu caminho.
— Onde conseguiu estas informações? — Sua voz permanecia agradável, interessada
até, mas podia dizer que estava acostumado a intimidar aqueles a quem questionava e dos quais
esperava uma resposta. Aqueles inteligentes olhos penetrantes moviam-se sobre ela,
demorando-se nas manchas de sangue que se esqueceu de limpar quando estava tão ocupada
tentando curar Zev e Fen.
— Cruzei casualmente com o bando. Eles mataram um homem que esteve bebendo
mais cedo em uma taverna que visitei. Encontramos seu corpo na floresta quando eu estava
retornando.
Ele não tirou os olhos do rosto dela.
— Como você pode ver, nós exaltamos a segurança em torno do príncipe, mas foi mais
porque tive um pressentimento, e pelo fato de que o filho de Raven e Mikhail sobreviveu a seus
primeiros dois anos, do que qualquer conhecimento real de uma ameaça para o príncipe e sua
família. Lycans são extremamente difíceis de sentir.
— Estes não são Lycans. — Tatijana reiterou. — São considerados um bando de
renegados e os caçadores de elite dos Lycans foram chamados para exterminá-los. Seria um
grave erro confundir os dois.
A sobrancelha dele ergueu-se rapidamente.
— Suponho que seria. Quem é “nós”? Quem estava com você quando encontrou
casualmente este cadáver?
— Isto não é relevante. — Como estava incerta de como os Cárpatos reagiriam ao
sangue misturado entre Lycans e Cárpatos, tinha que proteger Fen a todo custo. Ela não queria
fazer de Gregori um inimigo, mas Fen era seu companheiro. — Eu disse o que sei porque senti
que como protetor do príncipe devia estar ciente do bando de lobisomens renegados. Fico ainda
muito desconfortável na presença de outros. Preciso ir.
Isto era verdade. Ela temia que ele tentasse detê-la e sabia que lutaria. A síndrome da
luta ou fuga estava enraizada nela. Não podia ser mantida prisioneira novamente. Suas decisões,
certas ou erradas, tinham que ser suas. Gregori, com seu conjunto impressionante de ombros,
expressão implacável e reluzentes olhos prateados, estava de pé em seu caminho e não
mostrava nenhuma indicação de que se moveria.
— Você é uma mulher Cárpato, Tatijana. — A voz de Gregori tornou-se gentil. — Por
que acha que eu a prejudicaria de alguma forma? Jurei protegê-la. Não há necessidade de me
temer.
— Eu temo a mim mesma e minhas reações com as situações. — Ela respondeu
honestamente. — Devo sentir-me livre. Não quero, nem posso, ter guardiões que observem a
todos os meus movimentos. Sinto muito se pareço ser difícil, mas tenho que estar no controle
de minha própria vida.
— Mas você chocou-se com um bando de renegados. — Ele indicou suas lacerações. —
Você esteve em uma batalha e poderia ter sido morta. Nossas mulheres são estimadas. Nós as
protegemos com amor e respeito. Junto com nossas crianças, elas são nosso maior tesouro.
Podia ouvir a sinceridade na voz dele. Ela deu um passo atrás e tentou aquietar seu
batimento cardíaco selvagem. Talvez ele não estivesse ameaçando-a. Ela trouxe notícias
perturbadoras e esteve em uma batalha. Não estava acostumada a ninguém, exceto com os
cuidados de Branislava sobre seu bem-estar.
— Eu vago sozinha a fim de aprender as coisas que preciso, e às vezes tropeço com
coisas que não deveria. Serei mais cuidadosa. — Ela tentou aplacá-lo, ao menos um pouco.
— Tatijana, realmente pensa que eu deveria deixá-la ir sangrando de uma batalha, sem
escoltá-la de volta até seu lugar de descanso e cura corretamente?
— É minha escolha. Meu desejo. Você tem a liberdade de seguir seu próprio caminho.
Por que eu não devo?
Uma urgência estranha estava começando a tomar posse dela. Fen estava sozinho e
ferido. Não apenas o bando de renegados estava atrás dele, como também o lobo/vampiro
chamado de Sange rau juntou-se à caça. Ela estava demorando demais.
Gregori inclinou a cabeça. Ela não gostou do modo como os olhos dele não deixavam
seu rosto. Ele enxergava demais.
— Você tem razão. Mas é um de nossos maiores tesouros, Tatijana. Eu seria negligente
se não a ajudasse. Permita-me curá-la.
De modo algum ela poderia deixá-lo tocá-la. Ele era muito poderoso. Poderia ser capaz
de entrar na mente dela e descobrir sobre Fen. Não esperou que ele fizesse qualquer movimento
e foi se precipitando. Ela era Caçadora de Dragão. Conhecia todos os feitiços que os magos
jamais conceberiam. Dissolveu-se e trilhou em direção às nuvens, deliberadamente deixando
para trás um rastro quase translúcido de vapor. No momento em que deixou aquele caminho
falso, solicitou aos elementos para ajudá-la.
Aquele lânguido fluxo, apenas lá, afastando a trajetória dela da casa do príncipe, subindo
a montanha para dentro da floresta profunda. Ela intensificou, não deixando nenhum rastro,
nem mesmo a menor molécula que permitisse a um caçador como Gregori persegui-la. Por um
momento considerou pedir a ajuda dele, por via das dúvidas, mas não sabendo como os
Cárpatos viam o sangue misturado, ela não iria arriscar Fen ainda mais.
Podia ter acabado de sair das cavernas de gelo, mas ao longo dos séculos, mais de um
caçador Cárpato foi tomado por Xavier e torturado antes de ser morto. Os machos Cárpatos,
sobretudo, achavam angustiante ver as fêmeas gêmeas envoltas em sua prisão de gelo. Os
caçadores tinham de boa vontade compartilhado suas experiências e conhecimentos com
ambas as mulheres, na esperança de que eventualmente elas pudessem usar as informações
para escapar.
Não deixou nenhum rastro dela mesma para trás. Nenhum odor. Nada que Gregori
pudesse localizar. Mas sabia que ele não deixaria o príncipe por muito tempo, não com as
notícias que ela havia trazido. Lycans eram esquivos. Eles podiam estar ao seu lado e você nunca
saberia. O pensamento de um bando de renegados tão perto do príncipe e seu filho tinha que
ser desconcertante.
Tatijana entrou em direção oposta à de seu falso rastro, entrando profundamente na
floresta, serpenteando por entre as árvores, ficando abaixo perto do chão, assim poderia ver
qualquer evidência da passagem do bando de renegados. Os lobos eram muito bons em
moverem-se por uma área e deixar poucos sinais reveladores, mas duas vezes viu gotas de
sangue e grama retorcida. O bando tinha passado apressadamente, afastando-se de onde a
batalha tinha acontecido.
Ainda assim, algo parecia fora do lugar para ela. Parecia mais uma nota discordante, algo
não mencionado, invisível, que abalava seus nervos e soava sinos de advertência.
Fen? Você está seguro? Estou muito perto de você, mas algo está errado.
Tatijana, este lugar não é para você. Deixe-me saltar nesta armadilha antes de juntar-se
a mim. Se eu entrar em dificuldade, você estará por perto para me ajudar.
Se ela estivesse em qualquer forma com dentes, teria trincado-os de pura frustração.
Não conhecia muito sobre machos, e até menos ainda sobre companheiros, mas por que ele
pensava que se preocuparia menos com ele do que fazia com ela? A atração entre eles era muito
forte, e quanto mais tempo passava na mente dele, mais vinha a conhecer sua honra e
integridade. Descobriu que era impossível deixá-lo para lutar a batalha sozinho.
Ela ficou quieta, não querendo distraí-lo quando se moveu pelas árvores com muito mais
cuidado. Fen curvou-se sobre o cadáver removendo a evidência do ataque do bando de lobos.
Seria importante para aqueles moradores pensarem que ele tinha morrido acidentalmente e
que nenhuma vida selvagem foi responsável. Ele parecia estar completamente absorvido em
seu trabalho.
O estalar dos galhos era constante, o som trabalhando sua passagem através de todas
as criaturas vivas por quilômetros. Ela se preparou quando ouviu isto. Não estava em uma forma
física, mas ainda assim, o ritmo pilhava seus nervos, ameaçando consumi-la. Achava difícil
pensar direito. Sua mente parecia confusa e pesada. Ela viu o truque funcionar em incontáveis
vítimas na caverna de horrores de Xavier.
Alcançou a mente de Fen, apavorada por ele. A mente dele estava tranquila. Claro. Ele
estava muito ciente de seu entorno e todos os menores detalhes. Os efeitos hipnóticos não
trabalhavam no padrão do cérebro dele. Existia algo sobre a mistura de Cárpato e Lycan que
repelia as notas, afastando-as.
Fique na minha mente, Fen advertiu suavemente, roçando contra o cérebro dela com
um toque gentil. Você estará segura comigo.
Xavier deformou espécies de propósito, mas os resultados sempre foram grotescos e
assustadores — seres que comiam carne humana ou eram violentos bonecos irracionais. Ele
nunca considerou o que aconteceria com o cruzamento de Lycan com Cárpato.
Ela se permitiu afundar na mente de Fen, surpresa de que ele tenha convidado-a tão
profundamente para suas memórias. Ainda estava se protegendo, segurando a maior parte de
seu passado longe dele, mas estava completamente aberto para ela, sem esconder nada. Sentiu-
se aquecida e protegida, não como pensou que se sentiria — claustrofóbica — até mesmo uma
prisioneira.
Ela ouviu o sussurro suave de uma passada porque ele ouviu isto. A audição dele era
muito mais aguda do tinha percebido. Um murmúrio suave acompanhava o estalido dos galhos.
Seu coração saltou e começou a bater descontroladamente.
Isto é um feitiço de posse. Se ele completar, você não poderá se mover. Ele controlará
todos os seus movimentos.
O feitiço está ligado ao ritmo, minha senhora, Fen lembrou suavemente. Não sinto
quaisquer efeitos. Quero ver quem ou o que está dirigindo estes ataques.
Este é um mago. Reconheço o trabalho de um dos protegidos favoritos de Xavier. Ele era
muito mais jovem que Xavier, mas um verdadeiro psicopata. Xavier estava muito orgulhoso dele
e sua natureza sádica. Seu nome é Drummel. Ele é mau e muito, muito perigoso.
Você pode conter seus feitiços sem se revelar?
Tatijana respirou fundo, permitindo a Fen envolvê-la em sua confiança. Sua
tranquilidade era espantosa para ela. Ele tinha que ter nervos de aço. Não se voltou para
enfrentar a ameaça ou indicar de alguma forma que sabia que estava sendo perseguido. Suas
mãos eram tão gentis e reverentes sobre o cadáver, como sempre. Sem tremor. Nada dando a
entender que estava bem ciente do perigo vindo por trás dele.
O cântico aumentava mais rítmico do que nunca, combinando a batida crescente dos
galhos juntos. Um passo. Dois. Um sussurro leve, e em seguida apenas o som das notas
hipnóticas. Tatijana tentou cobrir suas orelhas e envolver-se mais profundamente na segurança
da mente de Fen.
Fen explodiu em ação, girando ao redor ainda abaixado e atacando, usando sua forma
Lycan imensamente forte, metade homem, metade lobo. Jogou Drummel de costas e estava
sobre ele em um momento. Tatijana nunca teria acreditado que alguém pudesse se mover tão
rápido quanto Fen fez. Ele atingiu tão duro que tirou o fôlego de Drummel, deixando-o ofegando
por ar.
Fen enrolou a mão ao redor da garganta de seu atacante cortando o fornecimento de
ar. Com os pulmões já queimando, os olhos de Drummel arregalaram descontrolados. Ele recuou
os lábios em um grunhido ofegante. Seus dentes pontudos estavam manchados de marrom.
Fen o chacoalhou, nunca diminuindo seu aperto.
— Eu vejo você, Bardolf. — Ele silvou. — Você sabia que sua possessão não tinha
nenhuma chance de me capturar com seu feitiço de posse. Por que sacrificar um peão de valor?
Ele está sombreado. Como Bardolf sabe como dividir-se e implantar uma sombra em
outro? Tatijana perguntou. Muito poucos magos podem fazer isto. É extremamente difícil e
muito assustador. As sombras são letais, Fen, e podem entrar em qualquer um perto delas. Seja
cuidadoso.
Fen não precisava ser informado que Drummel estava sombreado. Ele podia ver Bardolf
devolvendo seu olhar pelos olhos do corpo do homem que ele controlava. Ele achou um modo
de possuir um mago tão qualificado e tão poderoso quanto Drummel. O que isso dizia sobre
Bardolf?
A boca de Drummel se moveu várias vezes, seus lábios lutando para formar palavras.
— Pegarei meu bando e partirei, Fenris Dalka.
Existia poder em falar o nome de outro. Todo instinto de Fen imediatamente o pôs em
guarda. Ele estendeu seus sentidos, esquadrinhando a área ao redor dele. Era quase impossível
descobrir Lycans quando eles queriam permanecer escondidos. Lobisomens tinham dificuldade,
pois não podiam conter sua energia e sua ânsia de matar, mas eram peritos em esconder-se de
caçadores medíocres.
Esteja em alerta, Tatijana. Tem mais acontecendo aqui do que aparenta.
— Por que está me dizendo isto, Bardolf? Por que não apenas pega seu bando e vai? —
Fen exigiu.
— Quero sua palavra de que não nos caçará. — Baba e saliva escorria em longas
sequências da boca de Drummel para seu queixo.
Isso não fazia nenhum sentido. Fen era um caçador. Um Cárpato. Bardolf reconhecia
que ele era tanto Lycan quanto Cárpato, o que significava que sabia que Fen era Cárpato
primeiro, um antigo caçador de vampiro. Era seu dever, um assunto de honra caçar um morto-
vivo. Bardolf era definitivamente um morto-vivo. Ele poderia ser uma mistura de lobisomem,
mas era um vampiro e tinha que ser destruído.
— É meu dever para com meu povo trazer a justiça para aqueles que desistiram de suas
almas, para a descarga de adrenalina que conseguem com a matança. — O aperto de Fen na
garganta de Drummel era inexorável. Ele não permitiria que a sombra de Bardolf escapasse e
tentasse deslizar para dentro dele. — Acho que você já sabe disso.
Observarei a sombra. Se ela tentar entrar em você posso repeli-la, Tatijana assegurou.
Não passei séculos na toca de Xavier sem conhecer todos os feitiços que ele já fez. Bardolf teve
que aprender de Drummel. Sim, ele era muito bom, mas sou melhor.
Não existia vanglória em seu tom. Tatijana tinha medo do que estava acontecendo. Ela
sabia o quão perigoso o mago era e duplamente agora, com a sombra de Bardolf nele. Tinha
confiança em si mesma, mas não queria que Fen ficasse confiante demais.
Não se preocupe, minha senhora, ele assegurou. O que ele está me dizendo é puro
desperdício. Ele sabe que eu os caçarei. Estou bem ciente que esta é uma tática de adiamento.
Ele inalou, usando os sentidos intensificados de Lycan, a audição aguçada e o olfato, mas
não tirou os olhos de Drummel.
— Ofereço um acordo.
— Justiça não faz acordos, Bardolf. Sou aquele designado a levar justiça até você.
Drummel cuspiu e rosnou, os olhos vermelhos revirando loucamente com ódio e malícia
antes que Bardolf fizesse um esforço tremendo para se recuperar. Isto apenas colocou Fen ainda
mais no limite. Vampiros não eram conhecidos por seu controle. Por que Bardolf faria tal
esforço?
Fen, estou dizendo, se Bardolf foi Lycan antes dele se tornar vampiro, possivelmente não
pode colocar uma sombra dele mesmo dentro de um mago da importância de Drummel. Um
Cárpato antigo poderia saber. Até um vampiro poderia ter encontrado casualmente um mago
disposto a negociar sua alma para a imortalidade, mas como um Lycan saberia sobre tais coisas?
Tatijana perguntou.
Se Tatijana estivesse certa, e ela era a filha do mais poderoso mago da história, então
Bardolf não poderia ter colocado sua sombra em Drummel. Fen não esperou para descobrir o
que Bardolf tinha a dizer a seguir. Loucos não eram nem um pouco racionais e ele não viu
nenhuma razão para esperar pelo ataque que sabia estava por vir a qualquer momento. Ele
atingiu duro e rápido, quebrando o pescoço de Drummel.
Pelos olhos arregalados do mago, Bardolf olhava fixamente em choque e horror. O corpo
apossado convulsionou. O suor venenoso estourou de seus poros por suas pálpebras e boca.
Esteja atento. Recue, Tatijana advertiu. Ela se retirou de seu refúgio, trilhando para o
campo de batalha para ajudá-lo. A lasca de Bardolf buscará outro anfitrião.
Fen deu meia volta, mais preocupado sobre o que ele não podia ver ou ouvir do que
com aquele pequeno pedaço de Bardolf. Mantenha-o longe de mim, ele comandou seguro dela
agora, sabendo que guardaria suas costas. E fique escondida. Não se revele, não importa o que
aconteça, ele adicionou advertindo-a. Eles não estavam sozinhos e sabia disso.
O cadáver estremeceu. Tossiu. Fen não deu-lhe um olhar. Este era o território de
Tatijana e já podia ouvi-la murmurando um feitiço antigo, dirigido a lasca da sombra, tão
pequena, mas mortal. O seu era encontrar a ameaça invisível. Ele afastou-se do cadáver onde a
sombra de Bardolf buscava um novo anfitrião.
No chão, pequenos insetos avançavam sobre a vegetação apodrecida e Fen saltou no ar,
exatamente quando as criaturas na forma de metade homem metade lobo, despejavam-se pra
fora das árvores em todas as direções. Diretamente abaixo de onde ele estava de pé o chão
explodiu em um jato escuro de solo contaminado, borrifando alto, e com isto outra grande figura
entrou repentinamente no ar atrás de Fen com seus longos braços de lobo estendidos, garras
pingando com reluzente veneno.
Fen inverteu a direção, arremessando-se para o recém-chegado com assombrosa
velocidade, lançando-se nele com tal força que ambos caíram para trás em direção ao chão. Em
seu punho, ele tinha uma estaca de prata. Esta era aquela que o vampiro/lobo Bardolf foi
entrelaçado e supostamente morto. Bardolf trocou a vida por servidão para com um mestre
assassino.
Fen mergulhou a estaca de prata através da parede do peito, profundamente no coração
do vampiro. Ele mal o reconheceu, um macho Cárpato apenas alguns anos mais jovem que ele,
um com o qual brincou quando menino. Seus pais o chamaram de Abel. Ele fora um menino com
uma personalidade iluminada. Sempre sorridente. Fen nunca teria pensado que Abel escolheria
se tornar um vampiro. Ele realmente sentiu uma pontada angustiante quando dirigiu aquela
estaca de prata no peito dele e torceu a espiral mais profundo.
Sangue preto despejou sobre seu punho, pulso e braço, queimando como ácido até o
osso. Os olhos de Abel arregalaram, mas não se afastou como esperado. Não era apenas um
vampiro, também era um lobisomem. O longo focinho arremessou-se para Fen, os dentes
afiados como navalhas afundando em seu pescoço e ombro, fatiando até o osso quando Abel
arrancou pedaços de carne longe. Sangue escorria pelo corpo de Fen e o vampiro lambia o
deleite antigo, engolindo o que conseguia tanto quanto possível.
Fen o empurrou para longe quando ambos bateram no chão duro. O cheiro de seu rico
sangue Cárpato instalou uma histeria frenética em massa. Os lobisomens uivaram e correram
para ele. Fen dissolveu-se enquanto todos eles saltavam sobre ele. Assim que trilhou para longe
com um braço emergindo, o punho segurando uma estaca de prata, mergulhou-a no coração do
lobisomem mais próximo. Moveu-se rapidamente para sair daquele esmagamento de
lobisomens, um rastro de sangue vermelho-rubi entregando seu caminho.
Ele empurrou a dor para outra dimensão, enquanto furiosamente trabalhava para deter
o fluxo de sangue. Tatijana estava imediatamente ao lado dele, uma mera imagem translúcida.
Suas mãos se tornaram carne e moveram sobre suas lacerações abertas. O som suave de seu
canto curativo encheu sua mente. Por um momento o frio gélido de suas lesões queimaram
aquecidas. Ela parou o sangue cauterizando a área.
Você não pode ficar aqui. É muito perigoso. Se ele localizá-la, vai segui-la a fim de chegar
até mim.
Posso dispersar os lobisomens e caçá-los do céu.
Não havia tempo para discutir com ela. Observe as manobras e fique no alto. Lycans
podem saltar distâncias enormes.
Os galhos das árvores agitaram. Os troncos dividindo-se com um estrondo terrível,
anunciando um grande perigo. Tatijana trilhou para o céu transformando-se em seu dragão azul,
respondendo ao eco da explosão com seu rugido desafiante.
Abel seguiu o rastro de sangue vermelho e estava sobre Fen tão logo Tatijana elevou-se
para o ar. O morto-vivo saltou atrás dela, mas Fen bloqueou o caminho dele com seu corpo, de
forma que o vampiro bateu nele e os dois caíram de pé no meio do bando de lobisomens.
— Pegue-o, meus lobos famintos. — Abel comandou, sua voz cheia de compulsão. —
Não o deixe fugir. Ele é meu presente para vocês com seu sangue quente, rico e fresco correndo
em suas veias.
Uivando, os lobos cercaram Fen. Ele moveu-se em um círculo, mantendo seu olhar sobre
o Sange rau, mas seus sentidos aguardando o ataque dos lobisomens. Os estrondosos grunhidos
ficaram mais altos, indicando que o bando estava trabalhando um modo de atacar. Abel sorriu
tolamente, seus dentes pretos serrilhados ficaram presos no fundo de suas retrocedidas
gengivas quando puxou a estaca de prata de seu coração e lançou-a para o chão aos pés de Fen.
— Vim juntar-me à esta festa. — Uma voz anunciou.
Um caçador Cárpato andava apressadamente para fora das árvores pelo meio dos
frenéticos lobisomens, afastando-os de Fen. Os olhos prateados chicoteando enquanto ele
movia-se rapidamente pelas fileiras, quebrando pescoços e costas, e então lançando os corpos
de lado.
Sinto muito. Este é Gregori Daratrazanoff, segundo do príncipe e principal protetor do
povo Cárpato. Ele deve ter me seguido até aqui. Não posso incinerar os lobisomens do céu sem
queimar Gregori vivo.
Apesar da rapidez de Gregori, os lobisomens eram ainda mais, buscando sangue novo,
quente e vivo. Cercaram-no, vários deles para pegá-lo até que estava enterrado debaixo de
corpos frenéticos.
Amaldiçoando baixinho, Fen não teve nenhuma escolha a não ser compartilhar seu
conhecimento de tudo sobre os renegados e a combinação vampiro/lobo com o caçador pelo
vínculo telepático habitual dos Cárpatos. Ele sabia que estava pondo a si mesmo em risco — o
Cárpato poderia recolher uma quantidade tremenda de informações sobre ele também em
segundos. Usava o atalho habitual muito raramente, não tinha certeza de que havia transmitido
a velocidade e força dos renegado, ou o poder imenso do Sange rau. Quando passou as
informações Fen saltou no combate, arremessando corpos de cima do guardião do príncipe.
Enquanto Gregori lutava para ficar de pé, Abel atingia forte e rápido correndo para Fen,
atingindo-o por trás e derrubando-o. Fen chamou seu sangue Lycan, retorcendo-se em meio ao
ar enquanto caía, deslocando com a velocidade de um raio de modo que as garras Lycan
agarraram o pescoço de Abel e puxou-o pra baixo com ele. Suas garras cavaram no fundo do
pescoço do vampiro, ancorando-se, seu próprio focinho crescendo para acomodar a expansão
dos dentes.
Eles rolaram no chão, Fen levando-os para longe da massa de lobisomens se
contorcendo, seus dentes rasgando a garganta de Abel.
Gregori, saia daí! Ele advertiu enquanto rasgava o Sange rau com a forte mordida Lycan.
Sangue preto despejou em cima dele, seu focinho e seu pescoço e peito abaixo, queimando
como ácido. O odor de carne queimada penetrou no ar.
Abel gritou com horror e medo enquanto Fen implacavelmente o segurava, indiferente
de que o morto-vivo rasgava sua carne e seu peito para chegar até seu coração. Ele tinha que
resistir até que o morto-vivo ficasse tão apavorado que chamasse por seu bando. Era o único
modo de salvar Gregori do bando maligno, voraz.
Fen dirigiu um punho para o fundo do peito de Abel, as garras procurando pelo coração
murcho e enegrecido, mesmo enquanto ele continuava a arrancar pedaços de carne apodrecida
do vampiro/lobo.
— Matem este aqui. Deixem o outro. Todos vocês, matem este aqui. — Abel gritou.
Sua voz era estridente e feria os ouvidos sensíveis dos lobisomens. Eles estabeleceram
um estrondo terrível, uivando e gritando, enquanto relutantemente obedeciam ao seu líder.
Pelo canto dos olhos, Fen podia ver Gregori no chão, ainda rechaçando particularmente um
grande lobisomem que não queria desistir do sangue rico dos Cárpatos.
Sobre ele o dragão azul subiu rapidamente pelo céu, circulando sobre as copas para de
repente cair com um fluxo constante de fogo que engolfou vários dos lobisomens. Ela tomou
muito cuidado para ficar longe de Gregori. O grande lobisomem arrancando e rasgando-o saltou
sem aviso, sem sequer virar a cabeça, as garras pegando o flanco da barriga do dragão azul onde
se pendurou com suas longas unhas curvas.
O dragão azul retaliou com uma ondulação de seu longo rabo eriçado. Varreu por baixo
dela acertando o lobisomem com um bofetão tremendo, as pontas cravando profundamente,
mesmo enquanto suas grandes asas levavam-na com dificuldade, erguendo-a acima das copas.
A força do golpe arrancou as garras do renegado. Por um momento ele balançou
desesperadamente, agarrando na barriga dela para segurar-se melhor. A cauda estapeou-a uma
segunda vez, e com um grito afiado ele caiu de volta no chão.
Sangue gotejava continuamente do dragão ferido, mas ela mergulhou atrás do
lobisomem quando ele precipitou-se em direção ao chão, endireitando-se de modo a pousar
melhor sobre seus pés. O lobisomem olhou para cima assim que a cabeça em forma de cunha
arremessou na direção dele, jorrando fogo enquanto ela alardeava sua dor e raiva. As chamas
engolfaram o lobo à medida que ele caía por terra, aterrissando duro. Ele saltou de pé, as pernas
claramente quebradas, mas ainda assim correu gritando pelo restante do bando, abanando o
fogo conforme as chamas vermelho alaranjadas rugiam e se tornavam mais fortes.
No momento que o lobisomem saltou arranhando o dragão azul, Gregori cambaleou,
sangrando em dezenas de lugares. Ele empurrou a mão em direção ao resto do bando de
renegados, fixando uma barreira entre Fen e os lobisomens, impedindo-os de atacar o caçador
enquanto ele lutava contra o poderoso cruzamento de vampiro/lobo. Alguns dos renegados
voltaram em direção a Gregori, enquanto outros raspavam o escudo em um esforço de ir ajudar
seu mestre.
O cadáver do humano bêbedo estremeceu e moveu-se, avançando pelo chão em
direção a Gregori, o pedaço obscuro de Bardolf trabalhando para encontrar um anfitrião vivo
para ajudar seu mestre.
Atrás de você! Tatijana advertiu.
O dragão azul circulou de volta, grandes gotas de sangue caindo do céu quando ela se
inclinou e mergulhou. Gregori virou-se, vendo a abominação de carne morta cavando as unhas
na terra para puxar o corpo na direção dele.
Eu o queimarei, mas você tem que sair daí, Tatijana advertiu.
Gregori fez um esforço valoroso para sair da linha de fogo, tropeçando em direção ao
bando tentando derrubar a barreira entre eles e Fen. Fen e o Sange rau avançaram pelo chão
tremendo, não soltando seu domínio de um sobre o outro. Quando Tatijana fez sua abordagem,
o solo tremeu e balançou, jogando Gregori no chão.
A terra estremeceu, chacoalhou e então embaixo da superfície os lados ondularam para
cima. Grandes fendas apareceram. As árvores dividindo-se ao meio.
De sua posição vantajosa do céu, Tatijana podia ver a enorme rachadura ziguezaguear,
um grande abismo abrindo e subindo em direção a Fen e ao vampiro/lobo enquanto a batalha
feroz deles continuava.
Fen! Tatijana gritou seu nome em sua mente, meio advertindo, meio soluçando.
Ela incendiou o cadáver que estremecia e se arrastava em direção a Gregori e continuou
a mergulhar diretamente para baixo. Dobrando suas asas e caindo como uma pedra,
arremessou-se em direção àquela larga rachadura, justamente quando aquilo engolfava Fen e o
Sange rau. Gregori saltou atrás deles assim que o lobisomem atravessou a proteção para chegar
ao seu mestre. Eles caíram na fenda estreita na pressa de chegar ao líder dos renegados.
Fen saltou pela fenda, os ombros raspando em ambos os lados das paredes de terra,
raízes e rochas. Pendurou-se severamente sobre Abel, as garras cavando mais fundo no peito,
determinado a chegar ao coração enquanto rasgava pedaços do pescoço e da garganta do
vampiro que não podia dissolver-se em vapor enquanto suas garras impediam o outro de
afastar-se.
Tatijana amaldiçoou passando por Gregori, as asas ainda dobradas apertadas contra seu
corpo enquanto mergulhava atrás de Fen. Quando abordou os dois combatentes, ela estirou o
pescoço o máximo que podia, sua cabeça gigante em forma de cunha empurrando-se contra a
lateral da cabeça de Abel. Soltou uma rajada de fogo, tomando muito cuidado enquanto eles
caíam, certificando-se de concentrar o exalar de chamas apenas sobre o crânio do vampiro.
Fen não podia deixar de admirar-se da habilidade dela. Ela ainda estava mergulhando,
movendo-se rapidamente e ele sentiu a onda de calor, mas nem um toque da chama o tocou.
Abel gritou um som horrível. O cheiro era pior. A terra começou a fechar abaixo deles com
gemidos e rangidos sinistros. O próprio planeta parecia estremecer.
Deixe-o ir, Tatijana ordenou. Agora, você tem que deixá-lo ir ou todos nós seremos
mortos. Todos nós.
Ele estava muito perto. Seus dedos estavam ao redor daquele coração murcho sem
conseguir arrancá-lo. Abel é muito poderoso para sair vivo. Tenho apenas que conseguir um
aperto melhor...
Tatijana usou sua cabeça triangular para soltar o vampiro/lobo das mãos de Fen. Abel
saltou para longe, o vento abanando as chamas engolfando totalmente a cabeça dele. Tatijana
usou seu longo pescoço enrolando-o ao redor de Fen pegando-o antes que ele pudesse cair. Ele
pegou nas escamas e se alavancou até que pudesse deslizar sobre as costas dela. Suas asas
freando a queda deles.
Fen olhou até ver Gregori caindo rapidamente, seu corpo ensanguentado, devastado e
dilacerado. Ele estendeu a mão. Gregori!
Sua mão pegou o pulso de Gregori, os dedos deste enrolando firmemente ao redor dos
dele. Fen o arrastou sobre as costas do dragão. Ele ouviu Gregori grunhir de dor, mas o caçador
o agarrou firme enquanto o dragão azul fazia um grande esforço para superar o fechamento da
terra. Suas asas raspando nas paredes, rasgando pedaços de sua pele. Ela gritou, mas continuou
a subida.
Cada lobisomem pelo qual ela passava, a maioria agarrados às paredes de terra da fenda
profunda, tentando arranhar e agarrá-la, direcionando os dentes para ela em uma tentativa
desesperada de impedir seu progresso ou pegar uma carona. Eles estavam todos tentando subir
rapidamente pelas paredes de terra antes que a fenda fechasse completamente. Abaixo deles,
ambos os lados do abismo aceleraram a velocidade conforme iam se lançando apertados.
Tatijana entrou repentinamente no ar acima do buraco aberto no chão e quase tombou
do céu. Ela aterrissou desajeitadamente, seus lados levantando assim que os dois lados da fenda
juntaram-se sacudindo com um terrível rangido. O dragão azul cambaleou para frente em um
esforço de manter seus passageiros seguros, deixando para trás uma trilha espessa de sangue.
Ela estremeceu, tropeçou e afundou, a cabeça em forma de cunha batendo forte e lavrando a
terra, enquanto seu corpo continuava a seguir pra frente.
Tatijana! O grito da mulher encheu a mente de Fen usando o caminho de sua
companheira com ele. Rasgado. Assustado. Chocado. Ela está morta? Estou indo até ela.
Soube imediatamente que a voz era de Branislava, a irmã de Tatijana. Não venha. Posso
curá-la e protegê-la. Gregori está aqui também, mas não vocês duas. Confie em mim para fazer
isto.
Fen saltou das costas do dragão aterrissando em seus pés, a longa distância sacudindo-
o com força. Olhou para baixo por seu corpo e ficou chocado em ver o sangue e pedaços de
carne abertos onde Abel o arranhou, mordeu e rasgou.
Branislava estava em sua mente em um momento despejando tantas informações sobre
ele quanto possível, antes que ela abruptamente aquiescesse. Se deixar qualquer coisa
acontecer a ela, irei caçá-lo por todos os seus dias até que eu o destrua.
Eu aceito isto.
Interrompeu a conexão entre eles quando se apressou ao redor do corpo do dragão até
a cabeça e pegou-a em seus braços, trazendo-a pra que os olhos enormes se fixassem nos dele.
— Transforme-se, Tatijana. Mude agora mesmo. Se jamais me obedecer novamente
nesta vida, fará isto desta vez. Transforme-se para mim agora. — Despejou tudo o que era
naquele comando. Seu medo por ela. Sua raiva por ter permitido que se machucasse. Seu amor
crescente. Seu respeito. Sua necessidade de que ela ficasse viva e com ele.
Gregori saltou das costas dela aterrissando fortemente, mal conseguindo ficar de pé. Ele
cambaleou em torno do grande corpo do dragão até a cabeça também.
Os grandes olhos do dragão piscaram e então se fecharam, mas Fen sentiu o tremor do
corpo dela com o esforço de obedecer. Ele deslizou em sua mente. A consciência estava
desvanecendo rapidamente. Fique comigo, sívamet — meu amor. Entregue-se para mim. Eu a
manterei segura.
Houve um momento de incerteza, como se ela não pudesse confiar nele o suficiente
para se colocar tão completamente em suas mãos. Esperou que ela se conectasse com sua
mente, embora não houvesse tempo e seu coração batesse tão forte em seu peito que soava
como um trovão para ele. Ela capitulou e de repente sentiu-a se deixar levar, entregando sua
essência de espírito aos cuidados dele.
Imediatamente o grande dragão azul desapareceu e o corpo de Tatijana estava em seus
braços. Ele não esperou. Rasgou seu pulso e apertou-o na boca dela. Afundou no chão,
segurando-a junto a ele. Gregori ficou de joelhos ao lado deles. Imediatamente abandonou o
corpo ferido e se tornou pura luz. Entrou no corpo de Tatijana e começou a trabalhar com afinco
para conter o fluxo de sangue. Ele não parou, nem mesmo quando mais dois caçadores
mergulharam do céu para ajudá-los.
Jacques Dubrinsky, irmão do príncipe, e Falcon Amiras, um caçador antigo, olhando em
volta do campo de batalha. Alguns lobisomens estavam começando a se mexer. Alguns corpos
já estavam regenerando.
— Diga-nos o que fazer para matá-los. — Jacques disse. — Nada como chegar atrasado
para a festa.
— Estacas de prata. Crave-as completamente nos corações deles e então removem a
cabeça do renegados. Queimem os corpos com as estacas neles. — Fen disse.
Estava cansado. Exausto. Manteve seu foco em Tatijana, segurando-a apertado
enquanto alimentava sua vida, dando-lhe sangue. Estava grato a Gregori, tão dilacerado, mas
abnegadamente curando Tatijana, pondo-a antes de seus próprios ferimentos.
Falcon aproximou-se para permanecer ao lado de Fen.
— Você e Gregori precisam de um pouco de cura também. — ele assinalou, oferecendo
seu próprio pulso. — Eu ofereço livremente. — Ele adicionou na tradição do povo Cárpato.
Fen hesitou. Fazia muito tempo desde que confiou em alguém, exceto Dimitri.
— Você precisa disso. — Falcon disse a ele. — Por ela. Lembra-se de mim? Você era
alguns anos mais velho. Você ajudou a aprimorar minhas habilidades de luta.
Fen inclinou a cabeça. Teve que mover Tatijana em seus braços, escorando-a contra seu
peito, enquanto continuava a dar-lhe o máximo de sangue que podia. Era um processo lento, já
que basicamente tinha que engolir por ela. Ele inclinou a cabeça para o pulso que Falcon
oferecia. O sangue antigo acertou-o rapidamente com força, apesar de seus ferimentos
horrendos.
Ele podia sentir a diferença em Tatijana, o modo como Gregori meticulosamente
consertava o dano feito na barriga dela e nos flancos. Seus braços estavam rasgados com marcas
de mordida e múltiplas lacerações. O corpo de Gregori estava dilacerado e rasgado também,
mas ele não se apressou, assegurando que não sentia nada.
No momento em que voltava para seu próprio corpo, balançando com cansaço, Jacques
estava lá, um braço chegando em torno do curandeiro e o outro oferecendo-lhe sangue.
— Esta parece com uma droga de uma batalha. — Ele disse. — Em todos estes anos,
nunca me deparei com um bando de renegados.
Fen educadamente fechou os pequenos ferimentos no pulso de Falcon.
— Este é um bando grande. Dois vampiros/lobos chamados de Sange rau pelos Lycans
que lutam com eles.
Todos os três Cárpatos trocaram longos olhares e então viraram toda sua atenção para
Fen. Ele mudou Tatijana em seus braços.
— Os vampiros são cruzamentos, tanto de Lycan como vampiro. Conheci Bardolf, um
alfa Lycan. Isso foi há muitos anos. Um cruzamento de vampiro atacou destruindo
completamente bandos inteiros e juntei-me para caçá-lo. Evidências apontaram como se
Bardolf o tivesse matado. Ao invés disso, eles devem ter juntado forças. Localizei-os aqui.
— Quem está guardando o príncipe com vocês dois aqui? — Gregori exigiu de Falcon e
Jacques. — Ele os mandou atrás de mim, não é?
Fen escondeu um sorriso com a enorme frustração na voz de Gregori.
— Pelo menos ele mesmo não veio desta vez. — Jacques assinalou. — É a primeira vez
para ele. Deve ser o filho quem o suavizou. — Sorriu para Gregori. — Você está um pouco pior
para o gasto. Não posso deixá-lo ir para casa deste jeito. Savannah arrancaria minha cabeça.
Vejamos se posso curá-lo enquanto Falcon trabalha em... — Deliberadamente ele esperou.
— Fen. Fenris Dalka. — Fen declarou. Ele alfinetou Falcon com um olhar de aço. — É
imperativo que eu permaneça Lycan para os outros desta área. Os caçadores de elite estão a
caminho. Um homem de nome Zev está ficando na pousada. Ele é o explorador enviado à frente
dos caçadores. Para fazer isto, ele tem que ser da elite da elite. Acredite em mim, eu o vi em
ação e ele é muito melhor do que posso descrever. Eles estão caçando seus próprios assassinos,
da mesma maneira que caçamos os nossos.
— Por que você quer que eles pensem que é Lycan em vez de Cárpato? — Gregori
perguntou. Ele ignorou o fato de que Jacques não esperou conseguir sua permissão para curar
seus ferimentos.
Fen deu de ombros.
— Lycans não toleram uma mistura entre Lycan e Cárpato. Eles acreditam que uma vez
que se transformam em vampiro, ficam extremamente destrutivos e muito difíceis de matar.
Não tenho nenhuma ideia do que os Cárpatos pensam sobre o assunto.
Gregori franziu o cenho para ele.
— Realmente nunca vi ou ouvi falar de um cruzamento Lycan/Cárpato até MaryAnn e
Manolito De La Cruz nos enviarem notícias de que ela era Lycan e seu sangue misturou-se ao
invés de assumir o comando de um sobre o outro. Existe alguma razão para que devamos ter
um problema com um cruzamento Lycan/Cárpato? Sempre fomos amigos dos Lycan e vice-
versa. Cárpatos e vampiros não são os mesmos, eles sabem disso.
— Mestres vampiros são extraordinariamente difíceis de matar. — Fen disse. O fluxo de
sangue de Falcon e a cura dos Cárpatos já estava dando-lhe mais força, mas estava totalmente
exausto. Precisava ir pra terra. E precisava levar Tatijana. — Um cruzamento de vampiro/lobo é
cem vezes mais difícil. A destruição e os danos, a selvageria de suas matanças também é cem
vezes pior. Eles são raros de se encontrar, então poucos caçadores sabem como matá-los.
— Mas você sabe. — Gregori declarou.
Fen suspirou.
— Saber não é sempre suficiente, como você bem sabe, caçador.
— Gregori. — Jacques suavemente interrompeu. — Todo vocês precisam ir pra terra.
Talvez fosse melhor esta discussão acontecer na casa do meu irmão mais tarde.
Gregori acenou com a cabeça.
— Perdoe-me, Fenris, você precisa levar Tatijana, que claramente é sua companheira e
ir para a terra.
— Eu agradeço por vir em nossa ajuda. Não sabia sobre Abel até o momento em que o
rastreei até aqui. E apenas suspeitei do envolvimento de Bardolf com o bando de renegados
quando cruzei seu caminho e comecei a acompanhá-los. Além disso... — ele franziu o cenho —
... o bando é muito maior do que pensamos anteriormente.
Gregori levantou-se devagar, seu corpo ainda relutante em funcionar corretamente
depois da selvageria terrível do ataque do bando de renegados.
— Por favor, venha para a casa de Mikhail na sua próxima elevação para dar-nos mais
informações. Ficaremos agradecidos.
Fen suspirou. Por dever, se ele encontrasse o príncipe, devia jurar fidelidade, mas tinha
que pensar como um Lycan. Ser um Lycan. E o ciclo da lua cheia estava começando. Se cruzasse
o caminho de Zev ou seus caçadores de elite, eles o matariam e fariam perguntas depois. A vida
tinha ficado muito mais complicada.
Os Cárpatos ficaram mudos esperando sua decisão. No fim, ele simplesmente assentiu
e elevou-se para o ar com Tatijana em seus braços. Certificou-se de que ninguém estava
seguindo-o antes de circular ao redor do lugar onde deixou seu irmão. Abriu a terra sobre Dimitri
— melhor para guardá-lo — e estabeleceu-se com Tatijana. Acima dele a terra despejou,
cobrindo a ambos. As folhas e os escombros rodopiando acima do lugar de descanso deles e
caindo suavemente, cobrindo naturalmente a área como se nunca tivesse sido perturbada.
Capítulo 6

Fen foi o primeiro dos três a despertar levantando-se debaixo da terra, ainda dolorido,
sentindo-se contundido e espancado, mas deixou Tatijana e Dimitri para encontrar sustento
para eles. Tranquilizava Branislava a cada elevação, de que Tatijana estava curando-se bem e
iria até ela assim que estivesse devidamente curada.
Estava bem consciente em sua terceira noite de que estava, agora, no momento mais
perigoso, onde qualquer Lycan saberia imediatamente que ele não era totalmente um deles.
Teve o cuidado de esconder-se. Como regra, durante todo este tempo ficou no chão, evitando
qualquer possível confronto, mas não podia se dar a esse luxo por mais tempo — e sabia que o
time de elite teria se juntado a Zev a esta altura.
Estava um pouco surpreso, embora tivesse se passado séculos para ele, as Montanhas
Cárpatos ainda pareciam como o lar para ele. Viajou pelo mundo ao invés de permanecer em
um só lugar, então nunca encontrou verdadeiramente outro ambiente para chamar de lar. A
terra era extraordinária, e tinha esquecido de como aquele rico barro mineral poderia ser.
Entretanto...
Estava preocupado com Dimitri. A barriga dele não estava curando como tinha
esperado. Escondeu-se na névoa, movendo-se pela floresta até que se encontrou
acidentalmente nos arredores, onde uma pequena fazenda estava esculpida no pântano. A
fazenda estava voltada para uma área pantanosa, mas estava limpa e arrumada. As pilhas de
feno estavam amontoadas no campo mais afastado da água. Os cavalos balançaram a cabeça
nervosamente e pisotearam com os cascos à medida que ele passava, o cheiro do Lycan
assustando-os.
O fazendeiro saiu de sua casa olhando de relance em direção ao curral onde os cavalos
começaram a pinotear e galopar ao redor, como se isso fosse salvá-los de um bando de lobos.
O homem desapareceu para dentro de sua casa e reapareceu com uma espingarda, examinando
em direção aos cavalos nervosos. Fen ficou na névoa enquanto circulava pelo campo, rodando
em torno dos palheiros assim que eles apareceram como torres desencarnadas de dentro das
nuvens.
O fazendeiro saiu da varanda e novamente procurou cautelosamente. Os cavalos
alardeavam sua angústia repetidas vezes. Fen moveu-se mais lentamente, permitindo que o
vento o levasse para cima do curral. Não havia modo dos cavalos sentirem seu odor em tal
forma. Havia algo mais ali espreitando os animais — ou o fazendeiro. Não havia nenhum bando
de lobo aproximando-se dos cavalos ou ele os teria visto.
Fen manteve seu olhar no fazendeiro, mesmo enquanto se movia cautelosamente no
meio da névoa densa, rastejando ao redor dele. Algo se movia ao longo do chão. Algo escuro,
distorcido e feio. A coisa rastejou para fora do pântano e arrastou-se ao longo do campo,
primeiro em direção aos cavalos, então quando sentiu o cheiro do fazendeiro, virando em
direção a ele.
Fen viu a criatura asquerosa amontoada ao lado de uma pedra, posicionada
apropriadamente para o ataque quando o fazendeiro se aproximasse. Apressadamente, Fen
transformou-se, andando a passos largos para fora da névoa diretamente em direção ao dono
da fazenda.
— Cuidado, homem, volte. — Ele chamou, forçando compulsão em seu tom.
Surpreso, o fazendeiro fez como Fen comandou. A criatura retorcida atingiu-o, as presas
enganchando na bota dele. Meneando e rosnando, silvando sua impaciência. Aquela pequena
parte de uma sombra, uma parte de Bardolf, ainda estava sem um hospedeiro que pudesse
influenciar para fazer o mal. Os animais podiam sustentar a vida dela, mas certamente não
poderiam ser usados para o propósito que Bardolf pretendia.
— O que é isto? — O homem perguntou, sacudindo sua bota e tentando bater no animal
com a espingarda.
— Uma criatura mortal. — Fen respondeu honestamente. — Um vampiro possuído. —
Ele sabia que a maioria das pessoas que viviam em torno da aldeia eram supersticiosas e —
acreditavam em vampiros — principalmente porque encontravam com eles, embora o resto do
mundo risse deles. Sabiam que o mal existia e faziam o melhor que podiam para se protegerem
contra isto. O fazendeiro fez o sinal da cruz e lançou sua espingarda para baixo na criatura
ziguezagueando.
Fen chutou-a para longe do fazendeiro, sacando uma faca de prata e mergulhando-a na
criatura horrível, um cruzamento entre uma enguia e uma serpente. A criatura gritou e se
contorceu, sangue preto despejando dela. Com isto apareceu a sombra fugaz, uma parte de
Bardolf. A lasca saltando em direção ao fazendeiro, determinada a viver para caminhar de volta
para seu mestre.
Fen retirou a faca da criatura retorcida e lançou-a. A lâmina fatiando completamente
pela sombra, alfinetando-a no chão. Um grande olho formou-se no meio, olhando fixamente
para eles com ódio e malícia — uma combinação de Bardolf e Abel. O olho era do mal, vertical
em lugar de horizontal. A faca de prata penetrou exatamente no meio do olho. O sangue preto
estourando em torno da pupila e gotejando no chão, formando um charco escuro.
O olho guinchou o tom, subindo para um grito horrendo enquanto ziguezagueava e
lutava para soltar-se. Fen puxou o fazendeiro para trás dele protetoramente enquanto os dois
vampiros lutavam com força concentrada para livrar-se da sombra. O olho convulsionou e uma
nuvem de fumaça negra estourou da pupila, a luz começou a enfraquecer lentamente quando a
sombra perdeu a vida. Com um último desvanecimento choroso, a sombra ficou mole e
completamente escura.
O fazendeiro andou ao redor de Fen e cuspiu diretamente no meio do charco de sangue
preto, antes de virar e enfrentar o caçador. Ele curvou-se desajeitadamente.
— Obrigado. Você me salvou. Nunca tive a honra de encontrar um de nossos guardiões.
— Ele sorriu com seus olhos brilhando. — Nós ouvimos os rumores de que vocês existiam, mas
poderíamos existir sem nunca saber se eram verdadeiros ou não.
— Para sua própria segurança. — Fen assinalou. — Fique para trás. Tenho que incinerar
isto depressa. Você não iria querer que o sangue do vampiro infectasse qualquer lugar próximo
de seus campos.
Fen esperou até que o fazendeiro se movesse para uma distância segura e olhou
fixamente para o céu, atraindo nuvens escuras. O trovão soou ameaçadoramente. Raios
bifurcando, chiando, espalhando, quase ofuscando-os com o clarão brilhante de luz. Sentiu o
chão carregando, a energia atravessando seu corpo. Ele estendeu o braço em direção ao sangue
preto, para a criatura horrorosa e o olho malévolo. Raios saltaram da terra até o céu e de volta
novamente. O fedor quase sufocou a ambos. Tentáculos negros de fumaça subiram e dissiparam
no ar, deixando um aroma limpo e fresco. A criatura, o olho e o charco de sangue foram
incinerados como se nunca tivessem existido.
Fen virou-se em direção ao fazendeiro atordoado. O homem parado lá com sua boca
ligeiramente aberta, curvando-se em um meio sorriso, claramente chocado e aterrorizado. Ele
deu um sorriso rápido para Fen.
— Sei que terei que ir para meu túmulo com este segredo na lembrança, mas agradeço
pela experiência.
Bardolf e Abel viram o fazendeiro. Eles poderiam muito bem decidir atacar e matá-lo
apenas para voltar para Fen. No mínimo, enviariam membros do bando para matar seu gado,
como também sua família. Geralmente havia poucos remanescentes humanos com o
conhecimento do povo Cárpato, até mesmo nas Montanhas dos Cárpatos.
— Estes vampiros são extremamente perigosos. Eles correm com um bando de
lobisomens renegados que controlam. Você e sua família serão alvos. Existe uma possibilidade
de levar sua família em segurança e talvez um vizinho que cuidasse do seu gado?
O fazendeiro pareceu assustado, mas acenou com a cabeça.
— Posso enviar minha esposa e as crianças para a mãe dela, mas terei que cuidar da
fazenda eu mesmo. Se perder meu gado ou partir, nós perderemos tudo. — Ele abrangeu com
os braços. — Isto é tudo que temos. Um homem cuida de sua família.
Fen suspirou. Ele podia ver o ponto do fazendeiro, mas não estaria cuidando de sua
família se fossem todos mortos.
— Mande-os embora esta noite. Embale tudo e diga-lhes para não retornarem até que
você mande buscá-los. Perdoe-me, mas como forma de protegê-lo tanto quanto possível, terei
que tomar seu sangue e dar-lhe uma quantia muito pequena do meu. Você poderá me alcançar
em uma emergência. Ainda que eu esteja muito longe, posso enviar ajuda pra você. A escolha é
sua.
Se o fazendeiro se recusasse, Fen teria que permitir que ficasse por conta própria. Não
teria nenhuma escolha a não ser remover sua memória da visita de Fen, o que o deixaria dez
vezes mais vulnerável.
O fazendeiro curvou-se formalmente uma segunda vez, desta vez com uma reverência
mais profunda.
— Seria uma honra. — Ele pausou. — Dói?
Fen balançou a cabeça.
— Você não sentirá nada.
O fazendeiro se aproximou com a espingarda nas mãos, expondo sua garganta. Fen
suavemente removeu a espingarda apenas por precaução. Deslizou na mente do homem. Costin
Eliade cresceu em uma fazenda, como seu pai antes dele. Era um bom homem, trabalhava duro,
era dedicado à esposa e sua família. Estava assustado, mas escondia bem, determinado a fazer
o que fosse preciso para proteger sua família e a fazenda.
Fen foi cuidadoso e respeitoso na tomada do sangue do fazendeiro. Ele tomou o
suficiente para alimentar-se e então acalmou a ansiedade do homem, afastando-o de estar
ciente quando Fen deu-lhe uma quantia pequena de seu próprio sangue. Todas as vezes que
alcançasse Costin, saberia onde o fazendeiro estava, o que estava pensando ou fazendo. Saberia
o momento em que existisse traição — ou dificuldade. Ele pôs uma barreira forte em sua mente,
uma advertência de que se tentasse dar informações sobre o incidente para alguém — inclusive
para sua esposa — estaria por conta própria.
As intenções de Costin eram admiráveis e ele parecia um homem muito honrado. Fen
não encontrou nenhum indício de duplicidade em sua mente. Ele queria manter os Cárpatos em
segredo. Fen certificou-se que não existisse nenhuma evidência no homem ou em suas roupas
de que tinha tomado sangue antes de afastar-se, embora mantivesse uma mão no fazendeiro
para firmá-lo. Talvez tivesse tomado um pouco mais de sangue do que o necessário, porque
tinha a Tatijana e Dimitri para fornecer.
— Tire sua família daqui hoje à noite. Enviarei ajuda para vigiar sua fazenda, tanto de
dia quanto de noite, até que localizemos e destruamos o bando de renegados e os vampiros. No
momento em que a ação for feita, eu o informarei. — Fen assegurou ao fazendeiro.
Um vento vindo do norte soprou nele uma névoa espessa. Gregori andou a passos largos
para fora da névoa densa, seus ombros largos, seus olhos prateados chamejando. Seu olhar
afiado foi do fazendeiro até o chão enegrecido e então de volta para Fen. Ele levantou uma
sobrancelha.
Fen conseguiu deter seu sorriso antes que emergisse. Claro que Gregori suspeitaria dele.
Ele era um estranho, e com ele vieram dois Sange rau e um lobisomem renegado. Gregori não
queria aqueles inimigos em lugar algum próximo do príncipe. Não importava o quão severos
eram seus ferimentos, ele não confiaria a segurança do seu príncipe para qualquer outro.
Claramente Gregori já estava esquadrinhando a mente do fazendeiro. Ele encontrou os
dados que precisava, e como Fen, destruiu a parte do mal que Bardolf e Abel costumavam usar
para obter informações. Era muito mais fácil e muito mais educado puxar as informações da
mente do fazendeiro. Ele não interrogaria ou exigiria de Fen, por isto quebrou uma regra muito
forte, deixando as memórias do povo Cárpato em Costin Eliade.
Estendeu a mão para o fazendeiro.
— Sou Gregori. Entendo que possa precisar de um pouco de ajuda para proteger sua
fazenda.
Costin assentiu.
— Sim, muita. Eles enviaram um possuído e ele o matou. — Ele gesticulou em direção a
Fen.
— Você precisará de proteção durante o dia também. — Fen disse. — Os bandos de
renegados podem sair ao sol. Eles normalmente chegam até você ao entardecer ou amanhecer,
mas neste caso, o alfa os enviará durante a parte do dia em que nosso povo são incapazes de
protegê-lo.
— Nós temos algumas pessoas que podem ajudá-lo. — Gregori assegurou.
Eles não podem em nenhuma circunstância ficar aqui se o Sange rau aparecer. A
combinação de vampiro e lobo é poderosa além da crença, e a matança deles é extremamente
perversa. Fen enviou as informações pelo caminho mental comum dos Cárpatos.
Gregori não olhou para ele ou mostrou que estavam se comunicando. Estou certo de
que você levantou-se para nos dar as informações que precisamos para destruir estes vampiros
de sangue misturado.
— Serei muito grato para qualquer um que você possa enviar. — Costin admitiu.
— De noite você será protegido por dois de nós, mas seu perigo real está durante o dia.
— Fen disse. — Se precisar me alcance. Use sua mente, ainda que tenha que usar seu medo. Eu
o ouvirei.
Gregori voltou-se, chicoteando com seu olhar prateado sobre Fen. Você pode andar na
luz solar? Não havia como negar o limite de alarme na voz dele. Ele não tentou disfarçar
exatamente.
Fen apenas inclinou a cabeça. Se necessário, embora não seja fácil. Não daria mais
nenhuma informação até Gregori compartilhar mais dados com ele. Ele virou-se para partir.
— Você retornará comigo? — Gregori perguntou em voz alta.
Fen apenas sacudiu a cabeça.
— Preciso atender meu irmão. Ele não está reagindo tão bem quanto eu gostaria. Na
primeira batalha, ele e Zev rechaçaram os renegados a fim de permitir que eu chegasse ao Sange
rau. Sua barriga foi rasgada, seus ferimentos são graves.
Imediatamente sentiu a simpatia de Gregori quando o Cárpato entrou em compasso
com ele.
— Você tem necessidade de um curandeiro?
— Não sei ainda. Permita-me examiná-lo. Se precisar de sua ajuda, chamarei. — Fen
estava relutante em revelar o lugar onde Dimitri e Tatijana estavam descansando para alguém.
Gregori assentiu.
— Direi a Mikhail para esperar por você, a menos que, é claro, você peça minha ajuda.
Fen estudou o rosto de Gregori. Ele estava pálido, com profundas linhas cauterizadas.
Ele não estava completamente curado da batalha, ainda assim ele mesmo veio assegurar-se de
que o príncipe estava seguro. O respeito de Fen por ele subiu mais outro grau.
— Obrigado. Se Dimitri requerer suas habilidades, eu o chamarei. Virei falar com o
príncipe assim que puder.
Se precisasse de Gregori para ajudá-lo na cura de seu irmão, Fen moveria Dimitri apenas
como uma medida de precaução. Gregori descobriria que o sangue de Dimitri era diferente.
Como não poderia, se entrasse no corpo dele para curá-lo? Dimitri estava muito vulnerável, e
com os caçadores de elite aproximando-se ou já estando lá, tanto Fen quanto Dimitri já estavam
em grande risco. Fen preferiu não arriscar com a vida de seu irmão.
Como se lendo a mente dele, Gregori tocou seu braço para atrasá-lo.
— Existem seis estranhos na aldeia. Todos se encontraram com o homem que você
chama de Zev. Todos estão ficando na pousada. Eles parecem... durões.
Fen assentiu.
— É melhor deixá-los em paz. Não posso estar em lugar algum perto deles pelas
próximas elevações.
Gregori franziu a testa.
— Isto tem a ver com seu sangue Cárpato misturado com seu sangue Lycan? — Ele mais
fez uma pergunta do que uma declaração.
Fen deu de ombros.
— Quando você chegou primeiramente na batalha estava certo de que eu era um
Cárpato?
— Não. — Gregori admitiu.
Fen sabia que esta era a mais provável razão de Gregori permanecer desconfiado dele.
— Isto é o mesmo para com os Lycans. Até a semana da lua cheia eles não podem me
detectar, mas durante esta fase saberão exatamente o que sou. Chamam um cruzamento de
vampiro/lobo de Sange rau e não distinguem entre aquele monstro e eu.
— Os estranhos que vieram para nossa aldeia?
— Eles são a elite dos Lycans. Seus melhores caçadores com velocidade e dons
superiores. Zev é o verdadeiro alfa deles. Eles têm um líder, mas todos respondem a ele. São
chamados para caçar e destruir os bandos de renegados, exatamente como nós enviamos
nossos caçadores para matar os vampiros. Zev está ciente de que existe um Sange rau
comandando o bando. Ele ainda não sabe sobre o segundo.
— Eles precisarão de informações para caçá-los com sucesso. — Gregori assinalou.
Fen assentiu.
— Não posso entregar isto para eles, pelo menos não por algumas elevações. Você terá
que achar outro modo. — Ele virou o rosto em direção à floresta. Seu desconforto aumentando.
— Preciso chegar até meu irmão.
Gregori afastou-se e ergueu a mão para ele.
— Farei com que este fazendeiro tenha sua família em segurança.
— Obrigado. — Fen inclinou a cabeça e então saltou para o céu. Ele transformou-se em
pleno ar, as penas de uma coruja brotando, as garras e o bico curvo. Circulou a fazenda e a área
periférica apenas para confirmar que mais nenhuma ameaça estava por perto antes de fazer seu
caminho voando de volta para a floresta.
Novamente foi muito cuidadoso, certificando-se de que ninguém o seguiu antes de
descer, transformando-se novamente quando abriu a terra embaixo dele. Tatijana estava
deitada no solo rico, seu rosto pálido, a pele quase translúcida. Ela parecia com uma princesa de
gelo, indescritível e bela. Seu cabelo era muito longo e cheio, ainda trançado naquela massa
infinita fluindo em uma trança complicada. As tiras tecidas em seu cabelo prendendo o longo
comprimento adicionavam um toque dramático.
Tomou-a nos braços inspecionando seu corpo cuidadosamente para assegurar-se de
que os ferimentos estavam curando corretamente. O dragão manteve os danos mais graves em
sua barriga, da mesma maneira que Dimitri. O dragão tinha, na maior parte, protegido Tatijana.
Dimitri não teve seu corpo envolto dentro da pele e escamas do dragão. Os lobisomens sabiam
rasgar os mais suaves ventres e fizeram seu dano, mas ela ficaria bem.
Fen a despertou com uma única palavra, pressionando a boca dela em seu peito. Ela
gemeu suavemente, seus cílios tremulando antes que acordasse completamente, e ele
encontrou-se olhando em seus multifacetados olhos esmeraldas. Ele sorriu para ela.
— Aí está você. Estava começando a pensar que iria dormir por sua vida inteira.
Ela sorriu de volta para ele, relaxando em seus braços.
— Sem chance. — A bochecha esfregou no peito dele, enviando pequenos dardos de
fogo percorrendo sua corrente sanguínea.
Seu corpo inteiro reagiu com aquele pequeno movimento. Quando ele empurrou para
trás um cacho de cabelo do rosto dela, pensou que era como um milagre sentir emoções tão
profundas. A experiência era inesperada, nova e emocionante. Tudo sobre ela era emocionante.
— Além de ser corajosa e uma guerreira, você é uma mulher verdadeiramente linda,
Tatijana Caçadora de Dragão. — Ele sussurrou. — Sou honrado por ser seu companheiro,
reivindicado ou não.
— Devo dizer senhor, que estou começando a sentir a mesma coisa, o que é um pouco
surpreendente para mim. — Ela admitiu.
A honestidade em sua voz e aquele tom sensual baixo, adicionou uma onda quente em
seu sangue, correndo pelo charco abaixo e molhado. Ele saboreou sua habilidade de sentir uma
nova inundação extremamente emocionante de sentimentos, tanto físico quanto emocional.
Soube imediatamente que as duas coisas estavam amarradas inexoravelmente. Mesmo o
sangue de Lycan misturado com seu sangue de Cárpato não amorteceu seu caminho para achar
a outra metade de sua alma. Nenhuma outra mulher iria. Nunca sentiu um desejo tão urgente.
Aprendeu sobre sexo, quem não aprenderia depois de tantos séculos, mas nunca entendeu a
pressa. A alegria. A fome urgente.
Passou a mão sobre os cabelos dela.
— Beba de mim, minha senhora. Preciso de você com força total neste despertar. Dimitri
está mal e temo que precise de nós dois, se tivermos alguma chance de salvá-lo.
Olhou nos olhos dele — dentro de sua mente. Ele não escondeu nada dela. Ela estendeu
a mão para alisar a linha de preocupação em sua sobrancelha.
— Você não pediu ao curandeiro para ajudá-lo.
— Sou um curador tão qualificado quanto Gregori. Dimitri está além de nossas
habilidades. Eu sei disso. Ele persiste, mas ainda desliza um centímetro de cada vez em direção
ao outro lado. Gregori está severamente ferido e ainda levantou-se para fazer seu trabalho
guardando o príncipe. Seu trabalho é muito mais importante para arriscar sua vida
desnecessariamente. Suas habilidades — e as minhas — não salvarão Dimitri. Ele precisa que a
Mãe Terra intervenha a favor dele.
Ele será salvo se possível.
Tatijana sussurrou as palavras em sua mente quando seus dentes afundaram
profundamente no peito dele. A enxurrada de necessidade foi tão forte, a ânsia por ela quase
fora de controle. Ele fechou os olhos e inspirou quando seu rico sangue encheu as veias dela, e
correu através de seu corpo e por todos os órgãos feridos, ajudando a acelerar o processo de
cura.
Ele alimentou centenas de Cárpatos feridos em batalha. Deu seu sangue para um amigo
Lycan confiável que lutou com ele repetidas vezes para derrotar um inimigo comum. Tomou
sangue de homens, mulheres e sua própria espécie, tanto Lycan como Cárpato. Nunca houve
um componente sexual até agora. Ele inspirou e expirou, escutando a forte batida do coração
dentro de seu peito. Ouviu o rugido de um trovão em suas orelhas. Sentiu seu pau crescer,
prolongar e endurecer como nunca antes em desesperada urgência.
Estava vivo pela primeira vez em sua vida, pelo que podia se lembrar. Completamente
vivo. As palavras de reivindicação impressas nele muito tempo antes de seu nascimento,
martelando sua mente. Ele ouvia aquelas palavras de ritual de vinculação, aquele canto fatídico
que poderia ligá-los para sempre, mas recusou-se a falar para ela. Nunca tomaria tal decisão por
ela, não até que soubesse com certeza que não estaria em risco se ela se tornasse o que ele era.
Mesmo esta pequena troca era um pouco assustadora para ele. Não havia nenhum
conhecimento do quanto o sangue que tomou antes tornasse-a o como ele era.
Com uma última sensual pincelada de sua língua, Tatijana abriu os olhos novamente e
sorriu para ele.
— Seria uma honra tornar-me como você é. Pare de se preocupar tanto. — Sua
expressão mudou, ficando solene quando ela se sentou. — Vamos salvar seu irmão. Nunca vou
querer perder minha irmã.
— E ela não quer te perder. Quando terminarmos aqui, você deve ir até ela e tranquilizá-
la de que ainda vive. — Fen não pôde conter-se. — Vou beijá-la novamente. Se precisar de uma
razão desta vez, não soará razoável, mas não posso conter-me.
— Bem, então, certamente você deve.
Ele fechou a distância entre suas bocas, meio levantando-a em seus braços e curvando
sua cabeça para a dela. Os lábios dela estavam mornos e suaves. Ele acariciou sua língua através
daquela pequena junção e ela abriu a boca em um convite. Seu coração quase explodiu no peito
quando afundou nela. Ele despejou-se dentro dela como ouro líquido.
Sua boca era como mel quente. Deslumbrantes diamantes. Um céu cheio de safira
brilhantes e apenas puro paraíso. Não fazia sentido algum — ele não era um homem poético —
mas o mundo ao seu redor explodiu em uma incrível variedade das mais belas cavernas naturais
que ele já tinha visto, com suas paredes cravejadas de joias que reluziam por trás de seus olhos.
Como ela podia fazer isto? Parecia tão simples. Tudo o que teve que fazer foi abrir a boca e
deixá-lo beijá-la.
Ele levantou a cabeça relutantemente, sacudindo-a um pouco confuso. Se os olhos dela
deixavam passar alguma coisa, estava sentindo o mesmo. Ele não compartilhou a mente com
ela porque já estava tão faminto, as palavras rituais martelando nele, que temeu que não
pudesse parar — e seu dever era com seu irmão. Beijar uma vez já estava perfeitamente bem,
mas precisava de longas e intermináveis noites com Tatijana, para fazer-lhe justiça.
A mão dela segurou a dele quando se sentou.
— Nós podemos salvá-lo, Fen. Juntos.
Ele assentiu e flutuaram para cima de onde estavam descansando, e mais uma vez
abriram a terra para revelar Dimitri. Ele estava deitado tão quieto como se estivesse morto. Sua
pele estava quase puramente branca. Ele parecia muito longe do mundo deles. Fen sentiu seu
coração afundar, entendendo pela primeira vez em sua vida que adiou o inevitável.
— Ele tem uma companheira, Fen. — Tatijana lembrou. — Há sempre uma esperança.
O que não pode ser feito por si só, muitas vezes pode ser feito por uma companheira, não
importa o quão extraordinário pareça.
— Ou milagroso? — Ele mal podia articular as palavras, um nó na sua garganta
ameaçando sufocá-lo.
— Especialmente milagroso. Encontrar uma companheira não é simplesmente um
verdadeiro milagre? — Tatijana sorriu para ele. — Pelo menos é como Lara explicou para mim,
e ela sabe. É filha do meu sobrinho e é muito sábia. Chame a companheira dele.
— Ela é jovem. De longe. Outro país, parece. Uma grande distância.
— Ainda assim veio quando precisou. Consiga entrada para sua mente e siga o caminho
de volta para a dela. Ela responderá sua convocação. Tem que ser forte se pôde superar a
distância de que você fala. — Tatijana ajoelhou-se ao lado do corpo de Dimitri e esperou.
Fen lentamente caiu de joelhos do outro lado. Colocando ambas as mãos em seus
quadris, agarrando a forte conexão telepática que tinha com Dimitri desde que ele nasceu.
Guerreiro. Meu irmão e amigo, segure-se firme em mim. Por seu povo e acima de tudo,
por sua amada companheira. Ele falou formalmente, usando sua língua antiga, contando com o
passado dos Cárpatos, como também memórias presentes tão cuidadosamente impressas
neles. Ele tinha um nó na garganta, algo duro ameaçando sufocá-lo.
Sentiu uma pequena chama e aproveitou, deslizando na mente de Dimitri. Encontrou
escuridão e frio, como se luz depois de luz tivesse lentamente enfraquecido, deixando apenas
sombras da memória, mas isso era o suficiente para se trabalhar. Encontrou rapidamente o que
mais precisava. Ela era a mais brilhante e desvanecente das luzes. Um farol de luz estelar que
ainda estava pulsando, embora muito mais escura do que Fen esperava, mas mais brilhante do
que acreditava ser possível. Ele seguiu o caminho por um tempo infinito, um cometa estreito
iluminando a escuridão enquanto se arqueou através do espaço frio. A distância era muito mais
longa do que ele já viajou telepaticamente.
Ela é uma Caçadora de Dragão. Tatijana suspirou as palavras na mente dele, uma
propulsão morna de ar e paz no terrível e atordoante frio. Esta criança. Esta humana, ela é filha
de Razvan, ainda assim é humana e tão poderosa? Estou admirada com ela.
Ele sentiu a surpresa ofegante de Tatijana e deu as boas-vindas ao impulso adicional de
força em sua mente quando cruzou aquele espaço em sua jornada. Ele encontrou-a quase
abruptamente, num momento naquela caverna arqueada de frio, e no próximo em uma mente
morna, mágica.
Pequena. Companheira de Dimitri. Necessito urgente de você. Fen fez o seu melhor para
derramar-se lentamente na mente da companheira de seu irmão, com medo de assustá-la. Era
sempre desconfortável saber que outro tinha acesso a todos os seus pensamentos, palavras e
ações — a menos que aquele homem ou mulher fosse sua outra metade.
Ela o surpreendeu. Não, mais do que uma mera surpresa. Chocou-o. Até mesmo
humilhou-o. Não houve nenhuma hesitação. Diga-me.
Ele está escapando de nós e não posso salvá-lo sozinho. Sei que a jornada é longa, mas
você deve me ajudar para que eu o mantenha neste mundo.
O sussurro de Tatijana em sua mente era suave. Admirado. Ela é... surpreendente. Forte.
A atitude de Tatijana foi totalmente de respeito absoluto. Ela ouviu, talvez até mesmo
sentiu mais do que o aço na mulher/criança da qual ele sabia — ela compartilhava da mesma
linhagem.
Posso seguir meu próprio caminho. Poupe sua força para curá-lo.
Ela fez disto um comando, cada parte tão confiante quanto Tatijana. E ela tinha apenas
dezenove anos — e além disso era uma humana. Fen estava pasmo mais uma vez.
Preciso vê-lo através de seus olhos.
Pelo menos isto foi um apelo em vez de um comando. Ela até mesmo entendia o
conceito de possuir o corpo de alguém o suficiente para compartilhar a visão, a audição e outros
sentidos. Aquele dom também, raramente era usado. Uma pessoa tinha que ter confiança e fé
completa para permitir que outro possuísse seu corpo físico.
Tenho muito que aprender sobre você, irmãzinha, Fen disse, permitindo que o temor
dele mostrasse como se abriu completamente para ela. Você mostra uma habilidade notável e
treinamento para uma mulher tão jovem.
Ele pegou vislumbres de sua família nas memórias dela. Existia um estranho rapaz com
selvagens cabelos pretos e pontas espetadas azuis por toda sua cabeça, e então ela
abruptamente retirou-se da mente dele, e sentiu-a se conectar a Dimitri. Através de Fen,
Tatijana também estava conectada. Ambos ouviram o sussurro dela de alarme.
Amado. Meu coração. Sei que está cansado. Perdoe-me. Não posso deixá-lo ir. Não existe
nenhum outro para mim. Você pode fazer isto — por mim. Por nós. Lute por nós, amado.
Fen olhou para Tatijana. Skyler realmente não via os ferimentos horrorosos de Dimitri,
e ainda assim, estava completamente ciente do que eles enfrentavam. Ele ouviu o amor cru. Os
mais suaves e íntimos sussurros que apenas os verdadeiros companheiros podiam estabelecer
entre si. Ele temia que uma vez que ela visse os ferimentos, a visão assustadora abalasse sua
confiança.
Ainda assim, Dimitri respondeu mais àquela suave pequena confissão e ao fluxo de puro
amor lavando por sua mente, a qualquer outra coisa que Fen tentou até agora. Fen sentiu uma
pequena parte daquela fria escuridão retroceder.
Por favor.
Desta vez ela encontrou o caminho em sua mente sem qualquer ajuda. Skyler derramou-
se na mente dele e quase imediatamente encontrou sua conexão com Tatijana — e ficou bem
ciente de que ela estava lá também.
Eu a saúdo como irmã de sangue, entretanto sou mais do que sua tia, Tatijana se
identificou. Sou companheira de Fen.
Ainda não reivindicada, como eu, Skyler disse. Obrigada por sua ajuda.
Ele sentiu Tatijana estremecer um pouco por Skyler encontrá-la não reivindicada quando
seu companheiro estava bem ali, ainda que não houvesse nenhuma acusação na voz de Skyler.
De fato, sentiu que isto a ajudou a identificar-se com Tatijana e deixou-a mais confortável.
Uma inundação de tranquilidade tomou conta dele. Ele olhou para Tatijana ajoelhada à
sua frente lá na terra, suas mãos já se movendo nos ferimentos horrendos de Dimitri. Ele colocou
as mãos lá também quando ela deu-lhe um pequeno sorriso reconfortante.
Olhe para seus ferimentos.
Lentamente, e relutantemente, permitiu que Skyler visse — através de seus olhos. Ele
focou sua visão completamente na extensão dos ferimentos de Dimitri. Ela imediatamente
entendeu. A dor estava muito além do que qualquer corpo físico podia tolerar, humano, Lycan
ou Cárpato. Agora não havia como negar com o que ela estava lidando.
Skyler não mostrou nenhuma hesitação. Estou na biblioteca da universidade, onde estou
estudando. Preciso que meu amigo venha até mim. Quando nós acabarmos aqui não poderei
manter meu próprio corpo. Dê-me apenas um segundo para contatar Josef. Tive a sorte dele ter
vindo me visitar hoje à noite. Eu nem sabia que estava na cidade.
Houve uma pausa momentânea. Ele virá para mim imediatamente.
Ela juntou-se, estreitando-se com Tatijana e Fen. Ele a sentiu respirar fundo.
Nós clamamos ao poder da Terra — ela que nos criou a todos.
Tatijana e Fen responderam. Fen apenas porque conhecia as palavras através de sua
companheira. Ouça nosso chamado, Mãe.
Nós vos imploramos pela visão clara, a habilidade de sermos vistos, o que busca por não
ser visto.
Guie-nos, Mãe, pegue nossas mãos, faça-as suas próprias.
Use-as como suas ferramentas para remendar aquele que foi quebrado e rasgado.
Guie-nos, Mãe. Forneça descanso e cura para uma alma torturada.
A voz de Skyler estava quase rachada, mas ela respirou fundo e continuou. Abrace-o
como a si mesma, Mãe. Cure-o de todos os danos. Guie-o, Mãe.
A voz dela oscilou e Fen ouviu suas lágrimas pela primeira vez. Ele sentiu o terrível
sofrimento dela crescendo, mesmo enquanto ela desesperadamente tentava se segurar. Ele não
podia imaginá-la na biblioteca da universidade, ainda mais sozinha. Ela tinha que estar cercada
por alunos humanos estudando. Não podia retratar a emoção ou sua força esvaindo-se para
ninguém. A distância era quase incompreensível, e ela ainda persistia.
Nós três, seus filhos e filhas, invocamos o poder superior. Use-nos como seu recipiente.
Veja através de nossos olhos.
Examine nossas almas. Use-nos como sua ferramenta. Proteja-o, grandeza. Tome-o
completamente aos seus cuidados. Nutra-o como faria com seu filho, com este grande dom que
nós humildemente imploramos por seu serviço. Ele a servirá como nós fazemos, e levantaremos
uma vez mais para lutar. Guie-nos com seu conhecimento.
Ao redor dele, a terra começou a mover-se por vontade própria. Então o rico barro
pareceu como se fosse da cor do ébano, Fen podia ver os minerais que reluziam por toda parte,
como pedras preciosas. Antes de poder identificar quaisquer das propriedades, a terra elevou-
se para cobrir Dimitri, derramando-se nele.
As mãos de Fen moveram-se por contra própria. Ele quase saltou de sua pele. Nada o
possuía. Ele conhecia a possessão. Skyler não assumiu o comando de seus corpos, mas o próprio
barro empurrava suas mãos e dedos nas direções necessárias.
A terra começou a se agitar e minúsculos brotos romperam a superfície. Fascinado,
tentou descobrir se era Skyler quem alimentava este solo revolto com toda a energia dele e de
Tatijana, assim como também o que ela podia fornecer de tão grande distância. Ele não podia
distrair qualquer uma das duas mulheres fazendo perguntas, assim deixou o poder e a força de
seu corpo fluir para seu irmão e focou-se completamente na arte da cura.
Os minúsculos brotos vieram de todas as direções e moveram-se para seu irmão, como
se escavando nos ferimentos escancarados — artérias — percebeu que fornecia algum tipo de
nutrição muito necessária. Mais terra derramou sobre e ao redor do corpo de seu irmão.
Dê-lhe sangue. Um de cada vez. O máximo que possam dispor, Skyler os direcionou.
Certamente ela já deveria ter entrado em colapso há muito tempo, mas a voz se
mantinha estável e o fluxo morno de energia nunca cessava naquela corrente contínua. O
movimento do pulso de Tatijana em direção à boca de Dimitri chamou sua atenção.
Amado. Tome este presente oferecido tão generosamente e livremente de minha irmã
de sangue. É sangue forte, de linhagem antiga de Caçadores de Dragão. Ouça-me, Dimitri. Faça
isto por mim.
Fen não ficou muito surpreso de que Dimitri não conseguisse mover a boca contra o
pulso de Tatijana. Ele ajudou seu irmão a tomar o sustento da vida. Ao redor deles a terra
continuava a mover e se agitar. Os brotos e veias retorcendo pelo corpo de Dimitri, agarrando
os nutrientes tão velhos, antigos e puros da linhagem de Tatijana, e empurrando-os pelos órgãos
sem resposta de seu irmão.
Fen contava os minutos lentamente, temeroso de que em seu esforço para salvar
Dimitri, Skyler pudesse esquecer que estavam vulneráveis lá na floresta e não podiam ser
drenados ao ponto de ficarem fracos. Ele não deveria estar. Para uma criança humana, ela
certamente entendia as necessidades, modos e perigos da vida dos Cárpatos.
Já chega, amado. Descanse antes que tome de seu irmão. Permita à nossa Mãe Terra
guiá-lo. Não a tema. Ela está concedendo-lhe um tremendo favor, e aceitou a ambos, você e seu
irmão como seus filhos. Apenas durma e deixe-a reparar seu corpo.
Novamente, aquele tom suave era tão íntimo que Fen quase sentiu como se estivesse
deslizando em um encontro particular entre Dimitri e sua surpreendente companheira. Ela deu-
se tão livremente, e então ele pode sentir sua energia começando a minguar. Ela foi além dos
seus limites. Deve ter ficado com medo de que não completasse esta cura a tempo antes de
ceder, mas se ela se sentia daquele modo, não se traiu.
Tatijana fechou a ferida em seu pulso com um único golpe de sua língua. Ela olhou para
Fen, seus olhos encontrando os dele. A respiração dele ficou presa na garganta. Os olhos dela
quase ardiam, mudando de cor até que estavam em uma profunda sombra esverdeada,
parecendo o frescor da floresta soprando sobre ele.
Agora depende de seu irmão, Dimitri. Ele é forte. Antigo. Como você, ele é um bom
homem e sobreviveu muito tempo contra chances quase impossíveis sem sua companheira. Ele
é paciente e bondoso, e mantém uma grande estima por você. Tome o que é livremente e tão
generosamente oferecido.
Fen regozijou-se neste momento, Dimitri virou a cabeça em sua direção. Por um
momento, aqueles dois longos e enegrecidos cílios crescendo da pele totalmente branca de
Dimitri finalmente abriram. Ele o viu lá, presente, o espírito dele de volta em seu próprio corpo.
Os cílios fecharam-se quando Fen pressionou seu pulso na boca do seu irmão. Novamente teve
que ajudar Dimitri a tomar sangue, mas pelo menos sabia que Dimitri estava vivo e lutando.
Fen começou a ouvir um som muito parecido com um estrondo cavernoso de um
tambor abaixo deles, ao redor deles, cercando-o. Reconheceu o ritmo como uma batida
cardíaca. Cada simples batida vibrando pelo corpo de Dimitri, em todos os seus órgãos, nervos
e ossos. Como todos os quatro estavam conectados, cada um deles sentiu aquela pulsação forte.
Cada batida parecia enviar a dor que corria pelo corpo dele, mas Dimitri não lutou.
A Mãe Terra aceitou você, amado, como seu filho. Você é agora uma parte dela. Você
está ouvindo a batida do coração dela por seu corpo, tomando-o como dela, único de toda a
natureza. Nós estamos unidos agora, nós quatro.
Com cada grama de energia que possuía, Dimitri estendeu a mão em direção à sua
companheira. Os dois espíritos roçaram um no outro, e a luz de Dimitri espalhou-se e ficou mais
brilhante.
Já chega, eu acho, amado. Não posso ficar. Seja forte por mim. A voz de Skyler já estava
desvanecendo, sua força drenando rapidamente.
Dimitri se mexeu, os cílios mais uma vez se erguendo, quase em pânico quando não a
viu. Fen fechou o ferimento em seu pulso e observou o calor momentâneo nos olhos de seu
irmão enfraquecer quando percebeu que Skyler estava presente apenas em espírito.
Descanse, amado. Devo ir. Josef está comigo. Ele me manterá segura. Viva, Dimitri. Fique
vivo. Apenas viva para mim.
Naquele momento a terra parou de agitar, Skyler abruptamente se foi. Ela deu tudo o
que tinha e deveria ter desmaiado na biblioteca tão longe deles. Fen podia apenas esperar que
seu amigo Josef soubesse o que estava fazendo.
— Durma, meu irmão. — Ele sussurrou para Dimitri e passou a mão na testa de seu
irmão. Existia amor cru no gesto e estava agradecido de que apenas sua companheira
testemunhasse sua vulnerabilidade.
— Nós fizemos o que podíamos aqui, minha senhora. — Ele ofereceu a mão para ela. —
Devemos proteger o lugar de descanso dele, nos revitalizarmos, tranquilizar sua irmã e então,
suponho, devemos ir ver o príncipe.

Capítulo 7

A casa de Mikhail Dubrinsky era tão bem feita e as proteções tão fortes, que até mesmo
com olhos Cárpatos, Fen achou difícil enxergá-la a princípio. Nas profundezas da floresta, bem
elevada em direção às falésias, a casa era tanto montanha quanto floresta. O ar tremeluzia em
torno da casa, um véu não tão facilmente perfurado. Abruptamente aquele véu se afastou e
Gregori andou a passos largos em direção a eles.
Os dedos de Tatijana roçaram os seus e ele pegou sua mão sem baixar o olhar para ela.
Jacques Dubrinsky saltou dos galhos mais altos das árvores e pousou com facilidade de pé. À sua
esquerda, Falcon Amiras fez o mesmo, essencialmente criando um funil — uma rampa cortês —
mas tudo a mesma coisa.
— Seja bem-vindo, Fenris Dalka. — Gregori disse formalmente. Seus olhos prateados
estreitaram-se sobre ambos, levando muito mais tempo do que qualquer um teria desejado. —
Você veio muito mais tarde do que o esperado, mas vejo por que. Dimitri?
— Ele está vivo. — disse Fen.
Ele não conhecia estas pessoas. Nunca jurou lealdade para este príncipe, nem iria até
que conhecesse o coração e a alma de Mikhail Dubrinsky. Certamente não confiaria a vida de
seu irmão a nenhum deles sem saber a verdade.
— Quantas armas carrega com você?
— Suficiente para derrubar um bando de renegados. — Fen respondeu vagamente, seus
olhos firmes em Gregori. Não se afastou em nenhum momento. Se necessário, Tatijana poderia
afastar os dois homens flanqueando-os, mas ele teria que derrotar o segundo em comando do
príncipe se isto fosse uma armadilha.
— Isto não é realmente uma resposta. — Gregori assinalou ligeiramente, uma leve
vantagem rastejando em todo aquele charme.
— Na verdade, eu não sei. Quando uma matilha de elite está caçando na área durante
uma lua cheia, estou sempre completamente armado, senão estou debaixo da terra. — Fen
acompanhou sua resposta com um dar de ombros casual. Se eles quisessem que ele falasse com
o príncipe, seria nas suas condições. Estava exausto, ainda não totalmente curado e estava
arriscando sua vida só em ir ali. Se quisessem que partisse, estaria mais do que feliz em ajudar.
A risada suave de Tatijana deslizou em sua mente. Acho que o homem lobo tem um chip
no seu ombro. Vou ter que lembrar que quando você está cansado é um pouco mal humorado.
Eles me convidaram. Mas seu mau humor foi se esvaindo com a brincadeira dela. Era
impossível manter o mau temperamento de Lycan perto dela, ainda que quisesse. Enviou a ela
um pequeno vislumbre de um sorriso e quando os olhos dela encontraram os seus, seu coração
reagiu com um forte estrondo. Entende o que quero dizer, mulher?
Ela pareceu convencida. E satisfeita. Seus olhos adquiriram uma faísca. Eu sei.
Gregori abriu caminho para a grande varanda circundante, embaixo de um telhado
mantido por fortes colunas de pedra. No momento em que colocou o pé no requintado piso de
madeira, a porta pesada abriu e Mikhail encheu aquela entrada.
Não havia dúvida que era o príncipe dos Cárpatos. Seu poder era cru, mas controlado. A
energia queimava através dele, mal contida. Fen muitas vezes encontrou seu príncipe, e ele
nunca teve aquele poder cru tão forte nele. Mikhail parecia magnífico com seus ombros largos
e retos, físico alto e olhos que seguravam o peso do mundo neles. Ele viu batalhas em muitas
ocasiões. Viu o declínio de seu povo e os fez dar a volta por cima para crescer de novo.
— Fenris Dalka. — Gregori se adiantou. — E sua companheira, Tatijana Caçadora de
Dragão.
O olhar do príncipe moveu-se para Tatijana. Pela primeira vez, Fen sentiu-a tremer. Era
leve, mas estava lá. Estava só um pouco nervosa por enfrentar seu príncipe depois que voltou
sozinha. Talvez se sentindo até um pouco culpada por ter tentado escapar dos cuidados de
Gregori.
— Estou vendo. Vocês dois são bem-vindos. Por favor, entrem por vontade própria. —
Ele andou de volta para permitir a ambos que tomassem a decisão de entrar em sua casa.
A casa estava tranquila de maneira suspeita. Foi permitida sua entrada, mas a
companheira de Mikhail, Raven, e seu filho, estavam visivelmente em algum lugar seguro. Não
culpava o príncipe ou Gregori. Ele não esperava nada menos deles. Ele era, afinal,
completamente desconhecido para eles e estava trazendo uma batalha bem na porta deles.
— Obrigado. — Ele deu um passo cruzando o limite e soube imediatamente que a casa
em si estava amarrada de algum modo pelo príncipe e seus poderes. Com uma mão varreu
Tatijana para trás dele, sua mão ficando ali para adverti-la enquanto ele avançava.
Sentiu o peso da pedra e da madeira. As paredes inspiravam e expiravam. As cortinas
tremulavam, atraindo seu olho. Elas se contorceram. Ele sentiu a urgência de abrir seus braços
e girar em um círculo lento, permitindo que a casa visse onde suas armas estavam escondidas.
Segurou firme contra aquele lento empurrão contínuo e permaneceu com os pés ligeiramente
separados, com os ombros retos e braços soltos dos lados.
A risada do Gregori foi suave.
— Eu disse a você que ele era totalmente guerreiro. Ele não é um homem com quem
gostaria de me enredar.
Mas ele iria, apesar de tudo que estava dizendo tão suavemente. Gregori estava rindo.
Parecendo confortável. Atraindo Fen, fazendo-o se sentir confortável. Fen encontrou alguns
como ele. Não havia nada de divertido em um homem como Gregori Daratrazanoff. Ele já teria
ido pela matança cem vezes em sua mente, planejando cada movimento na sua cabeça até que
seria suave, rápido e mortal, caso Fen provasse ser traiçoeiro. Seus planos B tinham planos B.
Ele era perigoso e qualquer um que não podia ver era um imbecil. Fen não contava a si mesmo
entre os imbecis.
Fen não fez nenhuma tentativa de se aproximar do príncipe ou qualquer outra coisa na
casa. O jogo de altas apostas tinha começado. O movimento era deles. O príncipe esperou
cortesmente por Tatijana na porta de entrada. Ela permaneceu imóvel, esperando pelo sinal do
Fen. Se fosse uma armadilha, ela poderia ajudá-lo melhor do lado de fora.
O tempo pareceu ter parado. Em algum lugar uma coruja piou. Um lobo chamou. Uma
brisa leve se moveu através da floresta, enviando folhas trêmulas.
Mikhail suspirou. Estendendo sua mão para Tatijana, fez uma pequena reverência do
velho mundo, junto com um sorriso encantador.
— Venha, minha querida. Parece ter alguma coisa grande acontecendo e eu gostaria
muito de sua ajuda para neutralizar esta situação.
Tatijana manteve o olhar em Mikhail, mas mexeu na mente de Fen. Sim? Não? A decisão
é sua. Ele mal inclinou sua cabeça. Ela tomou a mão de Mikhail, sorriu para ele e deu um passo
no limiar da casa. Não houve nenhuma reação da casa e Mikhail levou-a para um círculo de
cadeiras confortáveis e galantemente acomodou-a.
— Obrigado, Tatijana. — Ele fez um gesto com a mão em direção à cadeira ao lado de
Tatijana em um convite para Fen.
A localização da cadeira era a menos vulnerável da sala, posicionada para a melhor
defesa, projetada sem dúvida para fazer Fen se sentir ainda mais confortável com eles, mas
passou-se um longo tempo desde que esteve em uma reunião numa sala fechada com quatro
paredes. No entanto, ele costumava se reunir com muitos possíveis inimigos — mas desta vez
tinha uma mulher para proteger.
Preocupe-se em proteger a si mesmo. Posso cuidar de mim, Tatijana assegurou.
Ela tinha aquele pequeno tom travesso que ele se encontrou escutando. Estou me
tornando bastante parcial com você, minha senhora.
Eu sei. Metido.
Ele quis rir, mas manteve sua expressão de pedra.
— Como posso ser útil a você? — Ele perguntou ao príncipe.
Mikhail afundou na cadeira oposta à dele. Jacques e Falcon tomaram seus assentos, mas
Gregori ficou de pé, e de seu ângulo ele tinha uma visão privilegiada de quase todas as janelas
da casa. A casa lembrava um ninho de águia, empoleirado no alto, onde a intempérie poderia
protegê-lo, mas eles podiam ver qualquer coisa — ou alguém — vindo.
A casa era aconchegante e parecia amigável, mas Fen sabia que era projetada para um
único propósito — proteger aqueles que residiam nela. Havia um leve aroma que não podia
identificar, uma mistura de algo que confundia seus sentidos Lycan. Ele não conseguia sentir o
verdadeiro cheiro de Mikhail, uma forma interessante de proteção. Ele teria dificuldade para
distinguir o príncipe dos outros e rastreá-lo.
— Esta é a primeira vez na minha vida que os Lycans entraram abertamente em nosso
território. — Mikhail se sentou e dobrou cuidadosamente as mãos. — Você passou muito tempo
longe do nosso povo. Enquanto esteve afastado, nossas mulheres diminuíram até que não havia
mais esperança de companheiras para nossos machos. As poucas mulheres que possuímos não
podiam engravidar, ou, por um golpe de sorte se conseguissem, não podiam alimentar a criança.
Perdemos quase todos os bebês naquele primeiro ano crucial.
Fen franziu o cenho. Dimitri tinha compartilhado que as fileiras dos Cárpatos caíram bem
abaixo dos números seguros. O medo da extinção estava sempre presente, mas ele não
descreveu o problema. Muito provavelmente, Dimitri temia que se contasse a ele que encontrar
uma companheira era quase impossível, Fen desistiria e escolheria encontrar o amanhecer.
Mikhail continuou na mesma voz baixa e quase musical, uma arma muito poderosa que
ele deveria escolher usar como tal.
— Nós descobrimos com o passar do tempo e com muito derramamento de sangue,
sofrimento e lágrimas, que Xavier, nosso maior mago, esteve trabalhando secretamente e ao
longo de séculos para provocar nossa queda. Ele chegou ao ponto de introduzir micróbios em
nossa terra para contaminá-la e matar nossas mulheres e crianças antes deles nascerem. Cada
vez que achávamos uma ameaça e destruíamos, outra surgia.
— Eu não tinha ideia que isto estava acontecendo. — Fen admitiu. — Fui embora destas
terras há séculos. Meu único contato tem sido meu irmão, e apenas quando eu buscava um
porto seguro nos refúgios que ele criou para meus irmãos lobo quando precisei descansar.
Mikhail inclinou a cabeça.
— Os ferimentos do seu irmão estão curando?
Fen não pôde evitar olhar de relance para Tatijana. Buscando seu conforto? Ele não
sabia a resposta para aquela pergunta — só que tê-la junto dele tornava mais fácil suportar a
ideia da dor e sofrimento do Dimitri.
— Nós temos esperança. — Não existia mais nada a dizer.
Subitamente Mikhail se debruçou em direção a Fen, seus olhos escuros penetrando
profundamente.
— Nós tivemos um período de relativa paz depois que os irmãos de La Cruz e Dominic
derrotaram os vampiros na América do Sul. Os vampiros dispersaram com poucos líderes para
comandá-los. Tenho certeza que se erguerão novamente ou talvez estejam esperando para ver
se nossos filhos sobreviveram além de seu primeiro ano.
O silêncio encheu a sala e com ele veio a tensão, esticando nervos apertados. Fen podia
sentir cada sentido Lycan seu ativando. Seus músculos doíam. Sua mandíbula. Sentiu-se
ameaçado de algum modo primordial, mas não tinha certeza do que eles esperavam dele.
— Eu não entendo. — Fez a declaração sem um pingo de medo, mas estava começando
a desejar que Tatijana tivesse permanecido do lado de fora das quatro paredes, onde ele sabia
que ela tinha uma chance de estar a salvo. Eles não estavam seguros trancados em um espaço
relativamente pequeno com quatro predadores letais.
— Meu filho agora tem dois anos de idade. E o filho do meu irmão Jacques está
crescendo e prosperando com três anos. Os gêmeos de Gregori sobreviveram àqueles primeiros
anos críticos. O irmão do Gregori, Darius, tem gêmeos, um menino e uma menina, ambos
saudáveis e passaram a marca de dois anos. Estou certo que você deve ter crescido com Gabriel
e Lucian, dois dos outros irmãos de Gregori. Gabriel tem uma filhinha e ela também é saudável.
— Essa é a primeira vez em séculos que tal coisa aconteceu. — Gregori acrescentou.
Mikhail fez um gesto em direção a Falcon.
— Você se encontrou quando criança com Falcon. Sua companheira, Sara, anunciou que
mais uma vez está grávida, e a gravidez parece ser saudável. Existem outras e talvez algumas
ainda não conhecidas. O ponto é que em mais de quinhentos anos nós nunca estivemos tão
bem. — Seus olhos se tornaram de aço, as pupilas dilatadas e escuras como breu. — E agora,
neste momento quando tudo está começando a clarear, os Lycans apareceram no meu quintal.
Eu gostaria que você me dissesse o que isso significa.
Fen podia ver a seta condenatória. Como não poderia? Os Cárpatos finalmente
começando a se recuperar e de repente são invadidos por uma espécie tão esquiva que sua
existência quase foi esquecida. Foi apenas coincidência que um bando de renegados tenha
corrido para cá? Liderados por Bardolf, Fen poderia ter acreditado que a escolha tinha sido ao
acaso. Mas Abel, não Bardolf, realmente liderava o bando.
— Fen? — Mikhail perguntou.
— Honestamente, não tenho uma resposta para você. Deparei-me com lobisomens
cometendo assassinato e sabia que descobri um bando de renegados. Um único caçador não
poderia dar conta de um pequeno bando sozinho, e muito menos um bando grande. E este é
um bando muito grande. Eu os segui e comecei a abatê-los um de cada vez. É perigoso e
demorado, mas acredite em mim, é o único modo se você quiser sobreviver.
Fen suspirou, sacudindo a cabeça lentamente.
— Viajei deste modo só para estar perto do meu irmão mais uma vez. Eu me senti
atraído para cá. Ao fazer isso, eu me deparei com as matanças. — Ele olhou para Tatijana. —
Resisti por mais de dezoito meses. Descobri que eu tinha que vir, embora sentisse que era
perigoso fazer isso.
— Você pensou que nós não te daríamos as boas-vindas? Gregori me contou que seu
sangue é misturado. Achou que isso importaria para nós de algum modo? — Mikhail inquiriu,
seu tom de voz enganosamente suave.
Fen estendeu suas mãos na frente dele com os dedos arreganhados.
— Pessoas como eu são chamadas de Sange Rau, literalmente sangue ruim no mundo
Lycan. Somos odiados e caçados no momento que sabem que nós existimos. — Ele deu de
ombros. — Eu poderia viver com isso dos Lycans. Entendo o raciocínio deles. Os únicos mestiços
que eles conheceram foram os vampiros/Lycan. Para eles, é isso que sou se eu for descoberto.
A ideia de meu próprio povo condenando o que eu me tornei não desce muito bem.
Gregori girou a cabeça, aqueles olhos claros prateados sobre Fen em um estudo
cuidadoso.
— Você não é tão facilmente morto, até mesmo por um de nós.
Fen deu a ele um leve aceno de cabeça em resposta ao elogio. Gregori apenas declarou
a verdade, não estava lá para bajular Fen. Claramente Gregori fizera uma apresentação da
presença do Jacques e Falcon porque sabia que seria necessário mais de um caçador para tentar
matá-lo. E então de que lado Tatijana ficaria? Ela jurou lealdade ao príncipe, e nenhum Caçadora
da Dragões jamais quebraria sua palavra depois de dá-la.
Ele deu uma outra olhada lenta pela sala. Havia outros. Tinha que ter mais do que
somente estes três guerreiros protegendo o príncipe. Ele permitiu que a casa confundisse seus
sentidos enquanto eles o distraíam com conversa. Estava mais do que feliz em estar em sua terra
natal, cercado por sua própria gente, que ele mesmo deixou de acreditar. Isso também tinha
baixado sua guarda um pouco. E tinha Tatijana...
Ele suspirou.
— Você pode dizer ao inseto nas vigas para descer. O rato naquele buraco minúsculo ali
— ele indicou à sua esquerda — e o nó bem atrás de mim está escondendo um algum tipo de
besouro. Se existem outros, eles certamente são peritos em se esconder, mas permanecer no
corpo de algo tão pequeno por tanto tempo, faz com que os lutadores se tornem lentos.
O inseto voando nas vigas respondeu primeiro, tremeluzindo na forma de um macho
alto de ombros largos com olhos estranhos, quase azuis esverdeados. Seu cabelo era muito
longo, quase na cintura, volumoso e amarrado com uma longa tira de couro trançada até
prender as pontas, a maneira típica de amarrar o cabelo para a batalha. Fen o reconheceu
imediatamente, e para sua surpresa, o alívio se espalhou por ele. Mataias foi seu amigo de
infância.
Fen tinha conhecido Falcon, mas cresceu perto de Mataias e seus irmãos. Eles corriam
juntos soltos nas montanhas, aprendendo habilidades de batalha e mudar de forma correndo.
Eles foram como família, e perdeu contato com eles. Ele ficou de pé e cruzou os antebraços com
Mataias no tradicional cumprimento de boas-vindas entre dois guerreiros.
— Arwa-arvo olen isäntä, ekäm. — que a honra esteja com você, meu irmão. — Fen
cumprimentou.
O aperto de resposta de Mataias era forte.
— Arwa-arvo pile sívadet. — que a honra ilumine seu coração.
— É bom ver você. — Fen disse, querendo dizer exatamente isto. Ele sentiu como se
tivesse voltado para casa vendo Mataias, sabendo que ele não sucumbiu à escuridão sempre
presente.
O fato que Mataias estivesse ali significava que os outros dois guardando o príncipe
tinham que ser seus irmãos. Os irmãos nunca estavam longe um do outro. Vindos de uma longa
linhagem de respeitados guerreiros, eles viajaram juntos para ver um ao outro nos momentos
mais sombrios. Eram caçadores letais, tranquilos, experientes, e coordenavam seus ataques com
perícia, bem parecido com as matilhas de Lycans. Um vampiro-mestre tinha matado seus pais
quando sua mãe estava grávida e eles caçaram o vampiro através de dois continentes com um
propósito desumano, implacável, sem parar, até que o encontraram e destruíram.
— Lojos e Tomas também podem se mostrar. — Fen acrescentou.
— Você sentiu o cheiro deles? — Gregori perguntou.
Fen levantou o olhar para ele. Claramente esteve testando alguma coisa nova. Ele
sacudiu a cabeça.
— Não, nem mesmo com meu sentido Lycan aumentado.
Gregori assentiu.
— Bom. Temos dois pesquisadores brilhantes que trabalham para nós, e este era um
produto que pensei que seria bom usar se os Lycans estiverem invadindo.
Fen balançou a cabeça.
— Eles não são assim. Nunca foram assim. Eles permanecem no fundo, trabalhando em
silêncio para manter suas matilhas o mais forte possível, mas estão muito bem integrados na
sociedade humana. Não posso vê-los tomando uma decisão inesperada de repente de entrar
em guerra com os Cárpatos.
O ratinho começou a cresceu e continuou crescendo rápido, até que outro macho
Cárpato, parecendo um clone do primeiro, avançou para saudar Fen com a saudação tradicional
com o antebraço. Seus olhos azuis esverdeados eram tão brilhantes quanto os do seu irmão.
Seu cabelo era idêntico, bem como o tipo físico, mas Lojos tinha uma rede de cicatrizes correndo
do seu ombro esquerdo e braço até sua mão. Era muito incomum para qualquer Cárpato ter
cicatriz. Os ferimentos tinham que ser quase fatais, com muito sofrimento.
— Bom encontrá-lo, irmão. — disse Fen querendo realmente dizer isso. — Veri olen
piros, ekäm. — Literalmente a saudação traduzida é que o sangue esteja vermelho, meu irmão,
mas figurativamente, queria dizer “encontre sua companheira”.
Eles permaneceram olho no olho, olhando fixamente um para o passado do outro. Fen
sabia o que era lutar contra a escuridão, estar só no meio dos outros — até aqueles que você
podia apenas agarrar à memória de amar.
— Essa é sua companheira? Uma Caçadora da Dragão? — Lojos balançou a cabeça. —
Você é um homem muito sortudo, Fen. Este caçador Lycan que você chama de Zev, aquele ferido
gravemente com sua barriga rasgada de fora a fora. Eu o observei, e ele está se curando em um
ritmo notável pela extensão de seus ferimentos.
Fen sabia que todos eles estavam escutando cada detalhe.
— Lycans regeneram muito depressa, uma das razões para saber como matá-los
corretamente quando você for enfrentá-los. Eles não são fáceis. Zev é um lutador de elite, um
dos melhores que eu já vi. Ele estava disposto a encarar o bando de renegados sozinho a fim de
permitir que eu tirasse Tatijana do caminho do perigo.
Os homens olharam um ao outro, secretamente divertidos que um Lycan pensasse em
proteger um Cárpato, especialmente uma que era Caçadora de Dragão.
— Obviamente ele não sabia o que ou quem ela era. — disse Fen.
— Você admira este homem. — Gregori fez disso uma declaração.
— Sim, muito. Você não chega à sua posição sem ver centenas, senão milhares de
batalhas com matilhas. No momento que ele e Dimitri perceberam que liderando os renegados
tinha um Sange rau, eles retardaram o bando, a fim de me permitir a oportunidade de destruir
o demônio. Zev não hesitou em colocar a si mesmo em uma situação muito perigosa. Ele sabia
que podia morrer, mas não desistiu.
O besouro pequeno encaixado confortavelmente no nó caiu no chão e foi aumentando
com uma velocidade alarmante na forma dos dois primeiros irmãos. Quando ele apertou os
antebraços de Fen na saudação de guerreiro, Fen pôde ver as cicatrizes em forma de gotículas
do lado direito do seu rosto, quase como lágrimas, até seu maxilar. As mesmas cicatrizes
estranhas corriam subindo até sua têmpora e desapareciam na linha do seu cabelo.
— Bur tule ekämet kuntamak — bom te encontrar, irmão-kin1. — o terceiro irmão
saudou Fen. — Que bom que você achou sua companheira. Pensei em você muitas vezes
durante os últimos séculos, e tinha esperança de nunca encontrá-lo na batalha.
— Eu senti o mesmo, Tomas. — Fen admitiu honestamente. — Tantos de nós fomos
perdidos para a escuridão.
Ele deu outro olhar cuidadoso ao redor. O príncipe tinha estes três guerreiros
experientes, Gregori, Falcon e Jacques, protegendo-o contra uma combinação desconhecida de
Lycan com Cárpato. Na sua casa. Entre quatro paredes. Gregori tinha uma vaga ideia do que ele
poderia fazer. Havia um outro em algum lugar. Alguém extraordinário, seu ás na manga. Havia
um outro de sua infância. Um pouco mais velho, apenas uma década ou mais, o que não era
nada na contagem de anos dos Cárpatos. Ele sempre foi um pouco estranho, mas uma vasta
fonte de conhecimento. Andre. Alguns o chamavam O fantasma. Ele passou por um muitas
vezes, exterminava quaisquer vampiros em uma área e nunca mais era visto ou ouvido. Mas ele
deixou sua marca, e Fen tentou manter o olho nele. Tinha ouvido falar que ele muitas vezes
estava próximo ao trio, unindo-se a fim de manter a escuridão à distância.
Os Cárpatos se prepararam para uma guerra. Passaram os últimos dois anos de trégua
preparando-se para qualquer coisa que pudesse ameaçá-los como espécie. Ele estava apenas
vendo a ponta do iceberg.
— Fen. — A voz fria do Mikhail trouxe-o de volta aos negócios. — O povo Cárpato sabe
a diferença entre um Cárpato e um vampiro. Você não é nenhuma ameaça para nós. De fato,
sua velocidade e habilidades adicionais como um Lycan só servem para ajudar nossa causa.
Fen franziu a testa e afundou na cadeira confortável.
— O medo dos Lycans da combinação de sangue é tão profundo que eles iriam para a
guerra se achassem que vocês estão ajudando e abrigando um de nós. Minha presença aqui
coloca todos vocês em perigo.

1
O termo kin significa parente de sangue ou por afinidade.
Ele deixou a bomba cair calmamente, sabendo que não precisava embelezar. A dura
verdade era suficiente. Mikhail Dubrinsky não era nenhum tolo. Ele compreenderia
imediatamente a enormidade do que Fen estava dizendo. Ouviria o toque de verdade e saberia
que Fen trouxe um problema de uma magnitude alarmante para ele.
— Entendo. — disse Mikhail, batucando com os dedos. — Precisaremos saber tudo que
você sabe sobre os Lycans. Tudo. Os mínimos detalhes.
— Existem muito poucos como eu. — Fen advertiu. Ele certamente não queria ser a
causa de uma guerra. — Os Lycans são essencialmente boas pessoas. — ele acrescentou. — Eu
gosto deles e os respeito. Como lutadores, muito poucos podem superá-los. Como regra, eles
não procuram por poder ou glória. Vivem suas vidas dentro de suas pequenas matilhas, felizes
com suas famílias.
— Eu estou certo que eles são boas pessoas. — Mikhail concordou. — No entanto,
vieram para minhas terras sem entrar em contato comigo, uma falta de cortesia, o que acho
estranho. Um bando de renegados com duas destas criaturas que você se refere como Sange
rau também vieram quando simplesmente não aconteceu antes. Nós temos várias crianças que
sobreviveram ao seu segundo ano. É coincidência? Não sou tão tolo a ponto de acreditar nisso.
Não posso me dar ao luxo de ser tão tolo.
Fen tinha suas próprias dúvidas que a sincronia era coincidência.
— Qual a sua experiência em ser um Lycan? O que sabe sobre eles? — Mikhail
perguntou.
— Posso te dizer que quanto mais velho fica o lobo, melhor se torna a integração entre
lobo e homem. No princípio o lobo é separado — um guardião, por assim dizer, protegendo o
corpo do anfitrião assim que a outra metade sente sua presença. O lobo traz consigo a história
e fatos que conheceu ao longo de sua vida e de seus antepassados. Ele passa essas informações
para a metade homem, e se move para proteger esse homem quando necessário.
— À medida que fica mais velho é mais confortável para os dois, lobo e homem, tornar-
se uma entidade? — Mikhail reiterou para ter certeza que eles todos entenderam.
Fen assentiu.
— Sim, é o mais próximo de uma explicação possível. Todos os sentidos, até mesmo
quando na forma de homem, são realçados por causa disso. Um jovem lobo muitas vezes não
pode controlar a transformação — geralmente antes da lua cheia. Ele é desastrado e o bando o
observa bem de perto para se certificar de que ele ou ela não entrem em apuros. É uma fase
estranha.
— Um de nossos machos tem uma companheira que era Lycan, mas não sabia disso. —
disse Falcon. — Como isto é possível?
— Às vezes membros deixam a matilha, apaixonando-se por um estranho. Seus filhos
podem levar o gene Lycan, mas na maioria das vezes não desenvolvem. As fêmeas, em
particular, nem sempre sabem porque seu lobo não avança imediatamente. — Fen deu de
ombros novamente. — Eu não fiquei com bandos por longos períodos de tempo. Era muito
perigoso para mim. Eles não conseguiam detectar a diferença na maior parte do tempo, mas
durante a semana da lua cheia, qualquer um deles poderia descobrir. Passava as luas cheias no
chão o mais frequentemente possível. Durante o último século viajei para longe dos bandos.
— Quando eles começam o treinamento? — Gregori perguntou.
— Em um bando, todas as crianças são treinadas quase desde o momento em que
podem falar. A educação é muito importante, assuntos internacionais, política, cultura e
funcionamento de todos os países. Também são ensinadas técnicas de luta, e é claro, rastrear e
mudar de forma. Eles são rápidos. Muito rápidos. E também é ensinado a eles estratégia de
batalha, treinando com todos os tipos de armas.
— Assim como fazemos com nossos jovens. — disse Jacques.
Fen acenou com a cabeça.
— Eles trabalham no mundo humano. Arrumam empregos e atualmente servem nas
forças armadas de qualquer país onde estejam. Porém, sempre respondem ao seu líder da
matilha, e o líder da matilha responde ao conselho.
Mikhail levantou e andou de um lado para o outro sem parar, cruzando a sala. A lareira
de pedra era enorme e atraía os olhos. Fen ainda estava procurando pelo esconderijo do último
guerreiro do lugar. O fantasma. Estava lá em algum lugar na sala. A casa era interessante à
medida em que, não importa quantos homens altos e de ombros largos estivessem nas janelas
e perto suficiente para proteger seu príncipe, a sala parecia espaçosa e aberta. Às vezes, quase
parecia como se pedra e madeira estivessem vivas e respirando, e observando todos eles.
Estudou Mikhail de esguelha. O homem se movia com graça fluída e controle absoluto.
Poder irradiava dele. Era definitivamente um homem para liderar e ele levava seus deveres
muito à sério. Como Gregori. Fen manteve o olho no segundo em comando do Mikhail o tempo
todo.
— Você não jurou fidelidade ao nosso príncipe. — disse Gregori de maneira calma.
Fen sentiu a familiar prontidão do Lycan se enrodilhar, mas aparentemente permaneceu
impassível.
— Nem vai. — Mikhail disse naquele mesmo tom baixo. — Você perguntou por que ele
não mandou buscar o maior curador que os Cárpatos têm para o seu irmão? Ele ama Dimitri, e
lutou duro para salvar sua vida. Você estava perto, mesmo assim ele não mandou buscar você,
Gregori. O que isso te diz?
Os olhos prateados de Gregori se estreitaram em Fen.
— Eu não sei essa resposta, Mikhail.
— Realmente? — Uma sobrancelha aristocrática subiu. — Ele diz a si mesmo que está
protegendo seu irmão, mais ainda, que está me protegendo. Ele acredita que nenhum outro vai
me proteger como você. Está igualmente preocupado que nós não temos um, mas dois destes
Sange rau de repente perto de mim e de nossas crianças. Ele não quis que você deixasse o meu
lado. Esta não é a verdade, Fenris Dalka?
Não se podia mentir muito bem para o príncipe, mas com certeza não quis admitir que
estava protegendo o homem. Ele não disse nada.
— Isso não explica por que ele não vai jurar lealdade a você. — Gregori assinalou.
— Não explica? — Mikhail girou os frios olhos escuros para Fen. — Ele acredita que se
jurar sua lealdade a mim, que se os Lycans insistirem em destruir todos como ele, vai me colocar
em uma posição de ter que entrar em guerra com eles.
Fen sentiu o toque da mão de Tatijana descer por sua mandíbula em uma pequena
carícia. Não olhou em sua direção, sabendo que ela não se moveu. Ela via demais dentro dele e
isso era ruim o suficiente. Podia compartilhar seus pensamentos mais íntimos com sua
companheira, mas... teria preferido que Mikhail não soubesse nada sobre o modo como ele
pensava. Isso só o fez acreditar que Mikhail Dubrinsky era um líder digno. Podia examinar os
olhos de um homem e conheceria sua verdade.
Você só está envergonhado porque ele reconhece que você não é bem o lobo mau que
apresenta para o mundo.
O sussurro íntimo da Tatijana em sua mente fez seu coração se torcer. Ela acrescentou
tanto a ele, mesmo sem saber. Depois de séculos estando completamente sozinho,
continuamente mantendo o sussurro da tentação à distância, mantendo as sombras para trás,
ter sua luz derramando em seu coração e alma era nada menos que um milagre. Em sua hora
mais sombria, sua luz sempre estaria lá para ele.
— Fen, você não é o único Cárpato que é de sangue misturado agora. — Mikhail lembrou
com a mesma voz baixa e irresistível. — Eu nunca desistiria de uma única pessoa do meu povo
para fazer um tratado com qualquer outra espécie. É evidente que teremos que enfrentar o
conselho e fazermos com que entendam a diferença entre uma mistura de Cárpato/Lycan e de
vampiro/lobo. Eles são pessoas inteligentes e uma vez que for esclarecido, eles entenderão.
— Você está olhando para séculos de preconceito, Mikhail. — disse Fen. — Eu os vi
condenarem um grande homem, um caçador de elite, um que passou anos lutando e sofrendo
para destruir o Sange rau caçando seus bandos. Eles o condenaram a uma morte lenta e
torturante que eles chamam de Moarta de argint.
— Morte por prata. — Gregori traduziu.
Fen acenou com a cabeça.
— É a forma mais dolorosa que um Lycan possivelmente possa morrer. Leva dias. Eles
colocam ganchos de prata pelo corpo e os penduram verticalmente. Cada movimento que a
vítima faz tentando escapar da dor da prata só encaixa os ganchos mais profundamente. A prata
se espalha pelo corpo, queimando tudo que toca até que finalmente o coração seja trespassado.
Estou tentando pintar um quadro para você, mas é um modo feio e brutal de partir. Vakasin
desistiu de sua vida para proteger sua matilha, mas quando eles perceberam que ele era um
Sange rau, sua própria matilha se voltou contra ele. Eles o mataram sabendo que ele lutou com
o Sange rau muitas vezes por eles.
Tristeza o inundou — tristeza que nunca foi capaz de sentir de verdade pelo homem que
foi seu amigo e companheiro por um século inteiro enquanto eles lutaram com o inimigo mais
difícil com que já se depararam. Vakasin fora um bom homem. Um dos melhores caçadores que
Fen já conheceu. Ele achara chocante e inacreditável que sua própria matilha pudesse se virar
contra o caçador de elite, e condená-lo à morte Lycan mais torturante e brutal imaginável,
quando eles sabiam que ele era um bom homem.
Fen acenou em direção à Tatijana.
— Ela salvou Zev algumas noites atrás e extraiu informações sobre armas e como fazê-
las corretamente. Eu sugeriria armar cada guerreiro e, se possível, até as mulheres, só por
segurança. Uma vez que você sabe como matar os renegados, não se iluda pensando que está
seguro. Eles caçam em bandos. Este bando de renegados é o maior que já encontrei casualmente
em todos os meus séculos de caça. Não importa a quantidade das estacas de prata que você
pensa que cada pessoa possa carregar, dobre o número.
Ele estava desconfortável dentro das quatro paredes e ficando ainda mais a cada
momento. Curar e sair de seu corpo tinha seu preço. E, aparentemente, emoções também.
— O lobo que você vê não é aquele que vai colocá-los em perigo. Eles têm uma
mentalidade de bando e têm caçado suas vidas inteiras em bando. Eles vão para sua barriga,
rasgam e derramam suas entranhas pra fora só para incapacitá-lo. Não importa o quão alto você
pensa que eles podem saltar, dobre isto e saiba que provavelmente é ainda mais alto. Você
nunca está seguro só porque o leva para o ar.
— Eu posso ver por que os Lycans se preocupariam a respeito de uma mistura de sangue
entre as duas espécies se você ganhar os benefícios de qualquer de uma dessas espécies. — A
voz do Gregori era pensativa. — É isso o que acontece, não é? É por isso que a mistura
vampiro/lobo é tão mortal.
Agora finalmente alguém entendeu. Olhou para cima lentamente até que os estranhos
olhos prateados do Gregori encontraram os seus. Eles olharam fixamente um para o outro em
completo entendimento. Fen não tinha reivindicado sua companheira. Ainda estava sob ameaça
e estaria quando vinculasse Tatijana a ele com as palavras rituais impressas em seu cérebro
Cárpato muito antes de sua mãe dar à luz a ele. Mesmo assim, se estivesse sendo honesto
consigo mesmo, ele não sabia se seria seguro.
— Você precisa reivindicar sua companheira. — Gregori aconselhou. — Seria muito
melhor para todo mundo.
Tatijana se contorceu. Ela não se moveu, mas Fen sentiu sua reação pela reprimenda do
curador.
Ninguém pode nos dizer quando é a hora certa para nós, minha senhora, ele assegurou.
Nós saberemos. Não estou em perigo de me transformar. Agora que tenho você perto, sua
própria luz mantém a escuridão à distância. Não deixe-o fazer você se sentir mal. Não quero que
venha para mim até que esteja pronta. Em todo caso, fui eu quem disse que não reivindicaria
você. Se existe culpa, é minha.
Tatijana virou a cabeça e olhou para ele, seus grandes olhos esmeralda reluzindo com
muitas facetas. Ela podia roubar seu fôlego muito facilmente. Um olhar. Um toque. Seus lábios
se separaram ligeiramente, chamando sua atenção. Tudo nele se acalmou. Ela era incrível. Um
milagre. Sentada apenas a meros centímetros dele, o aroma dela o rodeava e seu calor enchia
cada espaço frio em sua mente.
Ele sorriu para ela. Não exteriormente, claro, seu sorriso era muito mais íntimo, tocando
sua mente para reassegurá-la que ela era a pessoa mais importante em seu mundo e ele não
queria que ninguém a deixasse desconfortável.
— Não estou em perigo de me transformar, Gregori, se é isso que você está insinuando.
— ele disse, perfeitamente calmo. — Estarei caçando ambos, Abel e Bardolf, assim que eu voltar
a me levantar. Eles deveriam ter movido o bando rápido, mas não fizeram. Enquanto Tatijana
estava checando sua irmã, eu peguei a trilha deles. A maior parte do bando foi para o Sul. Eles
atingiram uma fazenda justamente do outro lado da cordilheira, perto do desfiladeiro. Ninguém
estava em casa, mas os animais foram abatidos.
— E o fazendeiro que você ajudou mais cedo? — Mikhail perguntou.
— Ele será atacado. — Fen suspirou e resistiu enfiando suas mãos pelo cabelo. Temia
que o fazendeiro fosse assassinado. Ele tomou medidas para tentar protegê-lo, mas se Bardolf
ou Abel acompanhassem o bando, o fazendeiro não teria a menor chance. — Ele é um bom
homem.
— Foi o que Gregori me disse. Talvez, se soubermos que o bando atacará esta fazenda
em particular, deveríamos achar um modo de usar isso a nosso favor. — Mikhail ponderou.
— Ou melhor ainda, permita que os caçadores de elite de quem Fen falou consigam
estas informações. Nós podemos observá-los em ação e ajudar a preparar nossos próprios
guerreiros. — Falcon ofereceu. — Apesar de que eu nunca poderia me sentar quando existe
trabalho a ser feito.
— É necessário para mim evitar a matilha do Zev mais alguns dias. Ele estará procurando
por mim logo. — disse Fen.
Mikhail assentiu.
— Ele fez investigações na pousada. Seu bando parece ter seis pessoas. Cinco homens e
uma mulher. É comum uma mulher ser um caçador?
— Qualquer criança, macho ou fêmea, que se mostra promissora na matilha como sendo
acima da média em inteligência e mais rápida em reflexos, é enviada para uma escola especial
assim que a matilha considere que eles tenham idade suficiente para ir. É uma grande honra
para uma matilha terem caçadores de elite emergindo de suas fileiras. — disse Fen. Ele olhou
em volta da sala. — Não subestimem a caçadora. Ela não estaria viajando com eles se não fosse
tão capaz de lutar quanto os homens. Cada um frequentemente tem que assumir vários
renegados de um bando sozinho.
— Algum deles tem experiência em matar um Sange rau? — Lojos perguntou.
— Duvido. Topei com o primeiro vários séculos atrás e em seguida quando o bando do
Bardolf foi dizimado por Abel. Até agora, nunca ouvi falar ou me deparei com qualquer outro.
— Zev reconheceu que o vampiro era de sangue misturado? — Gregori perguntou.
Tatijana assentiu.
— Imediatamente. Ele e Dimitri sabiam, pelo menos acho que sim. Fen gritou Sange rau,
mas eles já estavam se sacrificando para dar a Fen uma chance de matá-los. Claro que na hora
não percebemos que havia dois deles trabalhando juntos.
— Eu os pressinto. — disse Fen. — Você saberá imediatamente também. Eu não posso
descrever, mas do mesmo modo que você sabe que um vampiro é sujo, reconhecerá que o
Sange rau é mais. Eles têm a capacidade de se esconderem. Os vampiros deixam uma trilha
distinta na maior parte do tempo. As próprias plantas e árvores se encolhem para se afastar
deles. Eles deixam pontos brancos em seus rastros quando tentam se esconder, mas o Sange
rau não. Eles também não emitem energia antes de atacar, mas se você se deparar com um, vai
saber. — ele reiterou.
— E ainda assim você pode localizá-los e sabe que eles estão presentes antes de
atacarem. — disse Gregori.
— Eu também sou considerado Sange rau. Sou de sangue misturado.

Capítulo 8
Fen estava muito feliz em cair fora das quatro paredes da casa viva e palpitante. Ele não
chegou a avistar Andre, o fantasma entre os guerreiros Cárpatos, mas estava convencido que
sabia que seu velho amigo estava lá. Ele inalou o ar da noite. Tatijana e ele tiveram que retornar
rapidamente ao seu lugar de descanso, mas antes de retornar ele precisava respirar ar fresco
mais uma vez.
Tatijana deslizou sua mão na dele enquanto se viravam para subir uma trilha e escalar
ainda mais alto nas montanhas.
— Eu acho que fui tão bem quanto se podia esperar.
— Entre nós dois, você com as informações sobre armas e eu com o que sei sobre Lycans
e renegados, acho que demos a eles o suficiente para se protegerem. — disse Fen. Já nas árvores
circundantes cortando-os de toda civilização, fazendo-o sentir como se fossem apenas os dois
sozinhos na noite.
— Você estava muito desconfortável. — ela observou.
— Passou muito tempo desde que estive dentro de uma casa por qualquer período de
tempo. — ele admitiu. — Senti que quanto mais tempo estivesse na companhia do príncipe,
mais em perigo eu o expunha. Mesmo com seus caçadores reunidos em torno dele, e eles são
uns dos melhores, jamais experimentaram este tipo de ameaça. Posso dizer-lhes o que é o Sange
rau, mas até que realmente testemunhem um em ação, nunca entenderão realmente.
A sobrancelha de Tatijana disparou pra cima.
— Você então acredita que a ameaça é para o príncipe, não para as crianças?
— Claro. Você não acha? — Fen escolheu uma rota que os levaria ainda mais pra cima
da montanha. Mais do que qualquer coisa, precisava estar com Tatijana e simplesmente
saborear cada momento sozinho com ela que pudesse ter.
O céu da noite reluzia com as estrelas, embora nuvens mais escuras flutuassem
preguiçosamente, ocasionalmente bloqueando os diamantes cintilando lá em cima.
— Se eles matarem Mikhail, o pequeno príncipe aos dois anos é jovem demais. Sua filha
poderia ser capaz de tomar seu lugar, mas se não for, não existe nenhum substituto para o
poder. Se você desejar acabar com os Cárpatos, o melhor modo de fazer isso seria matar o
príncipe agora enquanto seu herdeiro é jovem e vulnerável.
— Seu irmão? Jacques?
Fen deu de ombros. Ele entrelaçou os dedos mais confortavelmente com os dela e
trouxe sua mão até seu coração conforme caminhavam. Sua mão parecia pequena na dele e fez
com que se sentisse ainda mais protetor sobre ela.
— Talvez. Nem todos aqueles em uma linhagem tornam-se bons líderes. Sei pouco sobre
seu irmão, mas Jacques é tão protetor com seu irmão quanto Gregori é, e isso me diz que
Jacques não acredita que ele possa conduzir nosso povo.
— Ou não quer. — Tatijana acrescentou pensativamente.
Ele baixou o olhar de relance para ela, pasmo que uma mulher tão bonita pudesse ser
sua. Ela se movia com graça fluída, em completo silêncio. Ela se ajustava em seu corpo tão
perfeitamente. Estava ciente de tudo nela. Seus seios se moviam debaixo de sua camisa, uma
delicada tentação que ele nunca notou em outra mulher. Seus quadris requebravam
suavemente e as estrelas pareciam ter se instalado em seus olhos. O vento brincava com seus
longos cabelos, tentando soltá-lo do laço grosso com que ela prendeu a massa sedosa.
Seu coração parecia mais leve do que jamais esteve. Podia ouvir o sangue correndo nas
veias. Seus dentes estavam afiados, e a necessidade de provar sua mulher era quase
avassaladora. Com a fome subiu a luxúria, afiada e terrível, ainda que temperada com um amor
tão intenso por ela, que sabia que estava segura. Apenas caminhando com ela lá em cima nas
montanhas, longe de todos, sentia como se fossem os únicos no mundo. A beleza da noite e
seus arredores pareciam ter sido criados só para eles.
Seguiram um caminho sinuoso de cervos que subia através de árvores espessas. Tantas
variedades de árvores, galhos se estendendo para cima para a escuridão do céu azul da meia-
noite. A floresta era mais densa aqui. Lá no alto, a linha de árvores se tornava mais desordenada
conforme a montanha se projetava em direção ao céu. Névoa rolava em torno do cume da
cordilheira, fechando-a quase permanentemente do mundo abaixo. O véu branco parecia muito
com uma formação de nuvens, como se a montanha simplesmente desaparecesse nos céus.
Ele inalou o cheiro de mato, flores e árvores. A vegetação compondo o chão da floresta
tinha seu próprio cheiro característico. A vida selvagem era abundante. Isto era o lar para ele,
tanto Lycan quanto Cárpato, no entanto, era o aroma da mulher que caminhava com ele que o
fazia se sentir mais em casa. Ela penetrou em seu coração, encheu sua mente com seu brilho e
achou um modo de fazê-lo esquecer cada coisa ruim que ele já tinha feito ou visto.
O mundo ao redor adquiriu sua beleza. Cores profundas e vívidas que não via há tanto
tempo ou lembrava de serem tão vibrantes. As folhas farfalhando nas árvores assumiam matizes
profundos de verde floresta até um tom particularmente belo de prata. Tiras de água
borbulhavam sobre caminhos sinuosos de pedra, flâmulas de diamantes brilhantes cortando seu
caminho ladeira abaixo para alimentar os grandes pântanos.
Estava contente só de andar com ela. Seu corpo podia exigir mais, e o macho Cárpato
nele estava tão focado em vinculá-la a ele que o chocava, mas nada disso importava. Não
quando ela o acompanhava e escutava a riqueza de informações que o vento fornecia
exatamente como ele. Pela primeira vez em sua vida, sentiu que pertencia a algum lugar.
Descobriu a habilidade de querê-la, aquela exigência constante percorrendo sua corrente
sanguínea, o rugido em seus ouvidos e tambor batendo em sua pulsação só contribuiu para a
serenidade do momento. Sentir necessidade física e fome por ela já era um milagre.
Tatijana olhou para Fen. O luar derramava em cima dele, iluminando cada característica
áspera, as linhas gravadas profundamente, seus olhos incomuns e maxilar forte. Ele parecia mais
Lycan do que Cárpato com a lua puxando seu lado selvagem. Achou-o irresistível com sua
mistura de elegante e charmoso Cárpato com velhos costumes e o lobo muito mais rude, feroz
e perigoso espreitando logo abaixo da superfície.
Ele parecia o derradeiro predador. Não havia como esconder o sangue de lobo, não sob
a lua. Ela sabia que se podia ver isto, então outros lobos podiam. Ainda assim, a selvageria nele
o fazia ainda mais atraente para ela. Sabia que machos Cárpatos eram dominantes e suas
contrapartes na sociedade Lycan tinham que ser também, ainda que seu domínio fosse
suavizado com restrição. Fen sabia do que ela precisava — liberdade.
Ele a aceitava do jeito que ela era. Não tentou moldá-la em algo diferente. Ela descobriu
que queria sua companhia e seu senso de humor. Ele não se revelou a mais ninguém e isso fez
com que ela se sentisse especial. Ele claramente a protegeria com sua vida e fez com que se
sentisse preciosa, até mesmo valorizada. Estava na maneira que ele olhava para ela. No toque
de sua mão, no tom de sua voz, e ali, nos pensamentos que ele não podia esconder dela.
Ela tinha sido incansável desde que acordou de sua longa hibernação de cura,
procurando por algo, mas não sabia o que. Pensou que era informação, mas isso não foi tão
mundano. Soube quase desde a primeira vez que entrou na taverna à beira da floresta. Ela tinha
sido atraída de volta repetidas vezes embora tentasse lutar com a compulsão. Soube que era
Fen. Não podia parar de pensar nele. Não conseguia parar de dançar para ele tentando chamar
sua atenção. Evitou perguntar a si mesma por que, mas lá no fundo sabia que ele era seu
companheiro.
Ela não o queria, temendo seu domínio, mas algo mudou dentro dela. Seja qual for a
parede que ela tenha construído, veio abaixo quando o assistiu lutar por seu irmão, por ela e
por Zev. Colocou a si mesmo em perigo sabendo as consequências, mas foi inflexível. Nem uma
vez a repreendeu, e parecia apreciar suas opiniões e habilidades.
Ele a fascinava. Tudo nele a fascinava. Via-se deslizando cada vez mais em sua mente.
Ele nunca se fechou para ela, não importava quais memórias examinasse. Ela sabia que suas
novas emoções encontradas podiam ser intensamente dolorosas quando ele recordou a morte
de seus amigos. Sua natureza Cárpato não emotiva o protegeu até certo ponto, agora estava
totalmente aberto a todos os sentimentos, uma inundação deles, tudo ao mesmo tempo.
Fen não se encolheu de suas memórias. Encarou-as de frente. Ele processou o
sofrimento e seguiu em frente. Ele a segurou firme em sua mente, e isso a fez sentir como se
ele precisasse realmente dela. Embora não pedisse nada dela. Nem uma única coisa. Ela podia
sentir a necessidade e a fome batendo nele, mas nunca tentou fazê-la se sentir culpada. Na
verdade, ele apoiou completamente sua decisão. O problema era... não estava mais totalmente
certa sobre sua decisão. Mudou de ideia. Ele era seu companheiro e parecia haver pouca razão
para evitar sua reivindicação. Ela o seguiria não importa o que acontecesse, reivindicada ou não.
Sabia que seu compromisso por ele já estava ali.
O perfume das flores bateu em Fenris quando se aproximaram de um grande campo
aberto. Ele apertou seus dedos ao redor dos de Tatijana. Ela parecia pequena para ele, até
mesmo frágil, ainda que soubesse que um núcleo de aço percorria sua dama. Gostava do jeito
como caminhavam juntos. Ela se ajustava perfeitamente a ele, não só sua altura, mas sua mente,
o modo como parecia se derramar em cada lugar escuro, eliminando as lutas, a caça e a
destruição de seus amigos de infância. Ela parecia ser capaz de fazer pontes nas rachaduras em
sua alma das muitas matanças.
Os olhos do Fen se arregalaram.
— Flor estrela da noite. Você sabia que elas estavam aqui? Não vejo há séculos. Pelo
que sei, elas não crescem em nenhum outro lugar.
A flor era grande, em forma de estrela, mas as pétalas e textura eram mais parecidas
com um lírio. Os filamentos do interior eram listrados e o ovário era vermelho rubi. O estigma
era definitivamente uma réplica perfeita do órgão masculino, grande e ereto. A flor era
incrivelmente bonita e o odor parecia estourar sobre ambos.
Tatijana enrubesceu.
— A flor da fertilidade. Pelo que entendi é a flor que foi trazida da América do Sul por
Gary Jansen, um pesquisador humano. Ele e Gregori são amigos muito próximos. Ele fez tanto
por nossa gente, e acredita-se que esta flor tenha sido parte de uma daquelas cerimônias
necessárias para ajudar na produção dos filhos. Gary pesquisou muito, descobriu referências a
esta flor várias vezes e começou a procurar por ela. Foi ele quem achou uma referência a ela em
uma área vulcânica na América do Sul.
Lara deu a ambas, Tatijana e Branislava, o máximo de informação que pôde sobre o que
estava acontecendo no mundo Cárpato a cada subida que ela vinha para doar sangue antes de
retornar à América do Sul com seu companheiro. Sara assumiu até que ficou grávida, e então
era Falcon quem lhes dava sangue e fragmentos de conhecimento.
— O ritual é lindo. — disse Fen.
Tatijana deslizou entre duas fileiras da flor branca leitosa.
— O cheiro é inebriante.
— É para ser. — disse Fen. — Cada ritual entre companheiros só os deixa mais próximos.
— Eu quero tentar, Fen. — disse Tatijana. Ela fez disso uma declaração casual, mas não
existia nada casual na sua solicitação. Ela queria celebrar a cerimônia da fertilidade com ele.
Nunca tinha pensado em trazer uma criança ao mundo, não depois de sua infância horrível, mas
o pensamento de um menino com a natureza e o caráter do Fen fez com que ansiasse por coisas
que ela não tinha. Podia sentir seu corpo reagindo ao aroma estimulante.
— Cheira como você. — ela acrescentou.
Ele ficou muito quieto como se seu corpo pudesse quebrar se ele se movesse.
— Cada flor carrega o aroma de seu companheiro, realçando a dependência de seu
gosto e cheiro. — Ele parecia como se fosse feito de pedra. — Isto pode ser muito perigoso,
Tatijana.
A voz de Fen abaixou. Rouca. Aveludada. Ah, sim, a fragrância subindo do campo de
flores afetava-o tanto quanto fazia com ela. Ele realmente parecia tenso.
— Nós somos companheiros, Fen. — ela lembrou, colocando uma mão no seu tórax.
Deu um passo mais perto dele para que seu odor o envolvesse junto com as flores. Ela estava
descaradamente seduzindo-o e percebeu que ela o queria com cada fôlego em seu corpo.
— Você insiste em pensar que sou forte, Tatijana. Quando se trata de você, não é assim.
— Ele balançou a cabeça, mas não se afastou dela. Ela podia sentir os batimentos do coração
dele e ouvir o sangue correndo por suas veias. Seu corpo o traía, duro como uma pedra, sua pele
quente com necessidade. Até seus dentes afiaram.
— O que eu faço? — Tatijana perguntou com um sorrisinho satisfeito. Este homem era
seu homem. Dela. Seus olhos se encontraram, um pouco tímidos. Um pouco tentadores.
Completamente sensual.
Fen sabia que não havia modo de resistir a ela. Na verdade, não queria. Se existia uma
mulher feita para lençóis de seda e longas noites, estava certo que era Tatijana.
Ele selecionou uma flor, pegou-a e colocou-a entre suas mãos, erguendo-a até sua boca,
seu olhar mantendo o dela cativo.
— Prove.
Tatijana, com o olhar preso ao seu, lentamente tomou a flor sensual e passou a língua
ao longo da cabeça bulbosa em uma carícia. Imediatamente sua boca encheu d’água com o
gosto viciante de especiarias e floresta. Selvagem. Quase feroz. Um gosto como nada que ela
jamais experimentou. Fen. Fenris Dalka, seu companheiro. Era sexo e pecado, e a tentação final,
tudo em um.
Ela não conseguia parar de lamber ao longo do estigma, determinada a conseguir cada
gota. Claramente o gosto tornara-se o de seu companheiro. Ela manteve seus olhos nos de Fen,
a fome por ele crescendo a cada instante que passava. A cerimônia da fertilidade não seria
suficiente para ela. Fenris Dalka iria reivindicá-la esta noite.
Ela não podia dizer honestamente quando mudou de ideia. Talvez fosse pelo seu
cuidado com o irmão. Ela sabia que não era apenas atração entre companheiros; gostava dele,
inclusive apreciava sua companhia, preferia isso do que estar sozinha. Tudo nele a atraía,
quando pensava que ele seria a última coisa ela queria.
Até as suaves pétalas aveludadas pareciam segurar seu cheiro. Não havia nenhum modo
de controlar seu desejo, nem pelo seu gosto e nem por ele. A fome crescia com cada gota que
ela consumia. Quanto mais puxava aquele néctar picante em sua boca, mais ansiava por Fen.
Quando conseguiu extrair cada gota, ela lambeu seus lábios.
— Agora o que? — Sua respiração veio em suspiros necessitados e irregulares. Ela sabia
que ele podia sentir o cheiro de sua chamada de sereia. Seu coração encontrou o ritmo do dele
e pulsou na hora tão forte, num ritmo constante. Profundamente em suas veias, uma pulsação
distinta começou, uma batida retumbante de necessidade e fome que só ele podia saciar.
Inclusive quando ela fez a pergunta, instintivamente abarcou suas mãos em torno da
flor e ofereceu a ele. Mal podia respirar, observando a forma como ele tomou a flor dela como
se fosse a coisa mais sagrada do mundo. Seu gemido suave enviou um calafrio sua espinha
abaixo, e bem lá no fundo ela sentiu seu corpo ficar quente e necessitado.
Com os olhos ainda mantendo-a cativa, Fen abaixou a cabeça para as pétalas
perfumadas, aninhando-as com seu queixo forte antes de mergulhar mais abaixo, sua língua
acariciando sensualmente ao longo dos ovários e filamentos.
Ela não conseguia desviar o olhar dele. Era a coisa mais quente, mais sensual que já
experimentou. Seus seios realmente doíam e podia sentir o líquido de boas-vindas se reunindo
na junção de suas pernas. Naquele momento, vendo-o devorar o néctar, seus olhos queimando
em cima e dentro dela, percebeu que não havia como voltar atrás disso, nem se ela quisesse.
Fenris era seu companheiro. Pura e simplesmente. Queria que ele completasse a
cerimônia de vinculação. Sentia que seu coração já era dele. Evidentemente seu corpo queria o
dele. Podia sentir o gosto dele na sua boca, mas precisava de suas almas unidas no modo do seu
povo.
Ela tinha a intenção de provar algo a si mesma e talvez para todo mundo também.
Queria liberdade acima de tudo. Mas liberdade era escolha. Fenris Dalka, cercado como era pelo
perigo, era sua escolha. Ela não podia nem sequer dizer com certeza se era a atração de
companheiros. Ela gostava dele. Respeitava. Ele não perdeu tempo discutindo coisas inúteis.
Estava na sua mente e sabia que ele respeitava seu vasto conhecimento quando se tratava de
todas as espécies e suas habilidades de luta. Ele não a relegou a um canto seguro em algum
lugar, embora sua proteção e segurança estava no lugar mais alto em sua mente. Ele a fazia se
sentir bonita e especial, como se fosse a única mulher no mundo. Ele a escutava. Gostava de
ouvi-la falar. Tinha senso de humor. E agora, neste momento, era o homem mais sexy para ela.
Ele não teve pressa com a flor, seu olhar ficando mais quente e selvagem enquanto
saboreava cada gota de néctar.
— Eu amo seu gosto. — ele murmurou.
O corpo dela inteiro pareceu apertar em antecipação.
— Estou começando a pensar que talvez não seja tão ruim ter você me reivindicando.
— Tatijana aventurou. — Estou me acostumando com a ideia.
Seu olhar ficou mais quente. Mais intenso. Ele abaixou a flor, seus olhos se movendo
sobre ela de uma maneira lenta e possessiva que deixou sua boca seca.
— Não me tente, Tatijana. Agora não. Acho que não tenho a força para resistir e nós
dois sabemos que não é o momento certo.
— Acho que é exatamente o momento certo. Há mais para esta cerimônia, e quero que
seja feita direito. Nós nos vincularmos é lógico. Este parece o momento perfeito para mim.
A respiração do Fen se precipitou, o que foi um acréscimo à sua felicidade — e sua
certeza que estava certa. Ele tentou não ser afetado pelo ritual da fertilidade ou por sua estreita
proximidade, mas estava. Estava tão faminto por ela quanto estava por ele.
Os olhos de Fen a devoravam inclusive quando tentava argumentar com ela.
— Estive mostrando restrição porque não serei capaz de resistir a compartilhar sangue
contigo. Com o tempo, você acabará como eu — Sange rau — e até sabermos o que virá do
acordo entre Lycans e Cárpatos, misturar nosso sangue pode ser perigoso para você.
Ela deu um passo mais perto dele, a um mero fôlego de distância, uma mão indo para
seu tórax. Ela podia sentir seu coração firme como uma pedra debaixo de sua palma. Sua pele
era quente embaixo da fina camisa que ele vestia.
— Eu sou sua companheira, reivindicada ou não, Fenris Dalka. O que acontece com você,
acontecerá comigo.
— Não é bem assim, minha senhora. — ele negou. — Se eu morrer, reivindicado ou não,
você pode escolher por viver sua vida. Não seria fácil, mas seria mais fácil se não fosse
reivindicada.
— Eu o seguiria como a maior parte das companheiras faria, Fen. Não adianta fingir que
nossas vidas não são tecidas juntas. Estou dentro da sua mente tão profundamente quanto você
está na minha. Minha irmã, Branislava, sempre foi meu mundo, ainda assim eu o seguirei onde
quer que você vá. Nós somos companheiros. Nosso sangue vai se misturar e eu me tornarei
como você. Não importa o que você escolher, eu te seguirei. Prefiro ser uma companheira
reivindicada, mas se você insistir que eu te siga na próxima vida não reivindicada, que assim seja.
Ele trocou de posição na sola dos pés, um movimento leve, tanto fluído quanto gracioso,
que fez seu coração correr novamente. Seu olhar manteve-a cativa.
— Tatijana, é importante para mim que você me queira pelo que sou, não porque
Gregori ou qualquer outra pessoa tentou te envergonhar por não ser reclamada. Eu preciso de
você com cada fôlego que eu respiro. Meu corpo tem fome do seu. Quanto mais compartilho
com você, mais perto eu me sinto, mas não deixarei nenhum Cárpato nos dizer o que temos que
fazer. Esta é a nossa vida, e quero que a gente faça as coisas do nosso jeito, no nosso ritmo. Você
tem reservas. Sinto-as na sua mente, e até que estejam resolvidas me sinto forte suficiente para
protegê-la inclusive de mim mesmo, então teremos que ser cuidadosos.
Tatijana colocou ambas as mãos de cada lado da cabeça dele para emoldurar aquele
rosto amado. Amava-o ainda mais por querer um tempo para ela ter certeza. Ele não a apressou.
Nunca fez isso.
— Eu sou sua companheira. Eu o vincularia a mim se tivesse o poder, não porque Gregori
ou qualquer outro decrete isto, mas porque conheço você agora. Minha vida está a salvo com a
sua. Não espere que eu mude ou seja qualquer outra além de Tatijana. Eu quero isso por mim
mesma.
Debaixo de sua mão o coração dele parecia estourar. Alegria invadiu seu olhar faminto.
Seus olhos foram do azul glacial a cobalto quente.
— Você tem certeza, minha senhora? Uma vez feito, não pode ser desfeito.
— Aqui, neste campo de flores, agora, antes do sol nascer e termos que ir pro chão.
Vincule nossas almas, Fen. — Tatijana não se sentiu nem um pouco tímida. Sabia o que ela
queria, e disse a ele com coragem certas condições. — A lua está cheia e nunca mais teremos
um momento como este. Sei que você não está a salvo em cima do solo durante uma lua cheia,
mas esta noite é nossa. Acho que isso é pra ser, não é? Nós temos esta única chance, Fen. Vamos
pegá-la juntos e não olhar para trás.
Fen estudou o rosto dela, amando-a ainda mais pela sua declaração. Seus olhos
esmeralda não desviaram nem uma vez de seu olhar. Ele deslizou dentro de sua mente e
encontrou uma resolução implacável. Ela tinha toda a intenção de se tornar Sange rau, assim
como ele. Não existia medo de um futuro com ele, só satisfação agora que tinha se decidido. Se
recusasse, ele a magoaria pra nada.
E como poderia recusá-la? Não quando cada célula em seu corpo a exigia. Não quando
sua alma clamava por ela. As palavras rituais martelaram por suas veias com a força de uma
britadeira.
Fen assumiu o controle imediatamente, guardando a flor cuidadosamente para mais
tarde, querendo completar o ritual da fertilidade, mas a necessidade e fome surgindo tão
ardentemente por seu corpo tinha que ser aliviada primeiro. Ele varreu a mão ao longo das filas
de flores erguendo suas faces para o céu da noite. As pétalas suaves aveludadas choveram do
céu como as fileiras separadas para permitir uma cama macia perfumada. O odor era uma
mistura deles dois, arrojado e inebriante.
Ele curvou sua cabeça para ela, envolvendo seus braços em torno dela e puxando-a para
o calor de seu corpo. Ela se ajustou perfeitamente, seus seios apertados contra seu tórax e o V
entre as pernas dela montando sua coxa quando a beijou, despejando a intensidade da fome
dele no refúgio de sua boca.
Quem sabia que beijos podiam ser tão arrebatadores? Tão inebriantes? Ela o varreu para
um paraíso onde não existia nenhum modo de obter o bastante. Não nesta vida e certamente
não na próxima. Ele desejava aquela boca macia e quente, cheia do cru mel selvagem, lavanda
e trevo misturados. Ele a beijou repetidas vezes, puxando-a mais perto até que seu corpo estava
impresso no dele. Ainda assim, não era suficiente.
Ele arrancou suas roupas enquanto ela removia as suas do modo Cárpato, com apenas
um pensamento. Ambos precisavam estar pele com pele. Sentia como se ele não pudesse chegar
perto suficiente dela. Em sua mente, em seu corpo — queria embrulhar seu coração ao redor
dela.
Eles flutuaram até a cama de pétalas aveludadas, a fragrância afundando em seus
pulmões, para que o sangue aquecesse e a tensão aumentasse. Necessidade vivia e respirava
entre eles. Fen podia sentir o sangue pulsando em suas veias, sussurrando a princípio, então
martelando mais alto, exigindo que ele reivindicasse o que era seu. Sua alma se estendeu para
a dela.
Ele a deitou na cama de branco de forma que seu cabelo derramou ao redor do seu
rosto, a trança grossa caindo sobre as pétalas. Ele amava seu cabelo, essa cor sempre em
mutação; vívida, brilhante e tão grossa quanto seu braço. Antes que pudesse se impedir, ele
soltou o cordão que o prendia, sacudindo o comprimento exuberante através das pétalas
aveludadas, e enterrou seu rosto na cachoeira de seda.
O toque sensual do cabelo contra sua pele só aumentou a fome crescente. A voz dela
em sua mente sussurrou para ele, enchendo sua mente com ela. Parecia melado quente
despejando em cada fresta sombria e fissura, reparando danos, tapando as lacunas, até que
toda escuridão se foi e só havia sua senhora com sua pele macia e boca pecaminosa.
Ele beijou-a mais e mais enquanto o chão parecia mudar e tremer, e milhares de estrelas
reluzindo acima deles como cometas listrando lá no alto em uma rara exibição. Sua pulsação
trovejava em seus ouvidos, e suas veias martelavam. Podia sentir seus dentes afiando, faminto
pelo gosto dela.
Sua boca era deliciosa. Quente. Aveludada. O rugido em seus ouvidos aumentou
conforme o vento dançava suavemente sobre seus corpos. As brasas queimando tão quente na
boca do seu estômago virou um rugido deflagrado, espalhando rapidamente como um incêndio
fora de controle.
Fen ergueu a cabeça, apertando sua testa na dela, olhando fixamente naqueles bonitos
olhos multifacetados.
— Te avio päläfertiilam. — ele sussurrou. No momento em que proferiu as palavras,
soube que tinha esperado sua vida inteira para dizê-las. Nada em sua vida pareceu tão certo.
Ele a beijou novamente, precisando saborear aquele exclusivo gosto picante e mel que
apenas Tatijana tinha. Ela era fresca por fora como a água, azul e verde e suave ao toque, e ainda
assim uma riqueza de fontes quentes lá no fundo. Ela se moveu contra ele, seu corpo derretendo
embaixo do dele, seus braços deslizando pelas costas dela até a cintura fina, as mãos dela
contornando seus quadris, puxando ainda mais perto. Ela virou a cabeça e lambeu a pulsação
batendo em seu pescoço.
— Você é meu companheiro. — ela murmurou contra aquele batimento rítmico
martelando, traduzindo o idioma antigo.
Ele cutucou seus joelhos para separá-los com uma coxa, acomodando seus quadris na
junção apertada de suas coxas. Sua ereção pesada pressionada na entrada quente, banhada em
sua escorregadia boa-vinda. Ele quis demorar, mas seu corpo queimava de dentro pra fora, seu
sangue Cárpato/Lycan exigia sua companheira. Seus dentes arranhando sedutoramente de um
lado a outro acima de sua pulsação quase o enlouqueceu.
— Éntölam kuulua, avio päläfertiilam. — As palavras saíram em seu idioma antigo, todo
macho Cárpato, reivindicando sua companheira. — Ted kuuluak, kacad, kojed.
— Você pertence a mim. — ela reiterou, mostrando a ele que entendeu cada palavra
que ele articulou vinculando suas almas com linhas inquebráveis.
— Élidamet andam.
— Ofereço a minha vida de volta a você. — ela sussurrou, esfregando o nariz em seu
pescoço.
Chamas lamberam sua pele. Ele estava muito ciente dos dentes dela muito perto de suas
veias. Seu sangue chamava por ela. Sua companheira. Sua senhora. A única.
— Uskolfertiilamet andam. Sívamet andam.
Tatijana ergueu a cabeça para olhar diretamente dentro de seus olhos.
— Eu dou a você minha lealdade. — ela respondeu de volta. — Eu dou a você meu
coração. — O anel da verdade estava em sua voz.
Ele nunca conheceu ternura, nem gentileza, mas estava lá dentro dele — para ela. Ela
estava virando-o do avesso com sua generosidade e aceitação de quem ele era. Ele matou
centenas, talvez muito mais do que queria se lembrar, e cada morte o trouxe mais perto daquela
escuridão que pairava. Na verdade, esteve perto mais vezes do que se importaria em admitir, e
ela viu aqueles momentos terríveis quando somente o pensamento de seu irmão manteve sua
honra intacta.
— Sielamet andam.
— Eu aceito sua alma, Fenris — Tatijana sussurrou na sua garganta —, e dou a você a
minha para nos tornar completos.
— Ainamet andam.
No instante que as palavras romperam de algum lugar bem no fundo dele, Tatijana fez
suas próprias demandas. Ela começou um lento assalto, movendo seus quadris sedutoramente.
— Eu dou a você meu corpo. — ela sussurrou de volta. — Quero você dentro de mim,
Fen. Quero seu sangue nas minhas veias, e seu coração entrelaçado com o meu. Quero nossas
almas vinculadas, mas acima de tudo, neste exato minuto, quero você e eu dividindo a mesma
pele.
Mesmo que ele quisesse, não teria força para negar aquele apelo ofegante e rasgado.
Ele entrou lentamente em sua bainha quente e escaldante — tão apertada que ela roubou seu
fôlego e razão. A pele dela fresca estava em tal contraste com seu calor, e mesmo assim, lá no
fundo, aqueles músculos aveludados aquecidos estavam queimando, rodeando-o e apertando,
lentamente se submetendo à sua invasão. A sensação era tão primorosa que ele mal pôde deixar
escapar entredentes as próximas palavras do ritual.
— Sívamet kuuluak kaik että a ted. — Ele tomou seu corpo se segurando o tempo todo.
Ele podia senti-la ao seu redor, apertando e ordenhando seu pau, seus músculos
abrasando e apertando, estrangulando-o com prazer. Ele sentiu sua barreira, fina, quase
insubstancial. Seus dedos apertaram ao redor dos dedos dela.
Respire. Respire por mim. Ele só queria prazer para ela, nem mesmo uma pequena pitada
de dor. Seguiu em frente, fazendo-a sua, enterrando seu corpo profundamente dentro dela. Ele
engoliu seu ofego e ficou quieto, permitindo que o corpo dela se ajustasse à invasão do seu.
Para ele, ela era um refúgio de prazer.
O coração dela encontrou o ritmo do dele. Seus quadris se moveram, um pequeno sinal
dizendo que ela queria, que precisava ainda mais. Só então ele começou a se mover, um lento
empurrão para o véu de sua entrada, e então enterrou-se em um longo e igualmente lento
assalto de ambos.
Tatijana gemeu suavemente, seus quadris subindo para encontrá-lo, persuadindo-o a se
mover mais rápido. Ele manteve o ritmo lento e lânguido, saboreando cada momento de estar
dentro dela.
— Ainaak olenszal sívambin. — Sua vida seria valorizada por ele o tempo todo. Ele quis
dizer essas palavras. Ela era seu milagre e sempre seria.
Ele foi o mais longe que pôde nela, aquela envoltura perfeitamente apertada criando tal
fricção enquanto seus músculos agarravam e se arrastavam ao longo do seu eixo, estava
tornando cada vez mais difícil se concentrar. As mãos dela acariciavam seu cabelo, suas costas.
Unhas se cravaram nele, pequenos pontinhos de dor aguda que somente contribuíram na
construção do prazer, sempre crescendo. Seus gemidos ofegantes e pequenas súplicas suaves
pareciam música como nenhuma outra que jamais tivesse ouvido.
— Te élidet ainaak pide minan. Sua vida será colocada acima da minha por todos os
tempos. — Fen disse suavemente. Como poderia não ser verdade? Ela era tudo para ele, com
seu corpo meigo e coração generoso. Mais ainda, ela era uma guerreira em todos os sentidos
da palavra, destemida e disposta a entrar em uma vida, tanto Lycan quanto Cárpato,
conhecendo perfeitamente o perigo em que eles sempre estariam.
Como se estivesse lendo sua mente — e ela provavelmente estava — seus dentes
afundaram profundamente. Seu corpo inteiro estremeceu de prazer erótico. Através de sua
conexão telepática com ela, sentiu um calor escaldante queimar viajando por artérias e veias e
se espalhando para todos os órgãos. Seu sangue se fundiu com o dela — o mais básico e sagrado
de todos os rituais entre companheiros. Seu corpo reagiu com uma punhalada dura para frente.
— Te avio päläfertiilam. Você é minha companheira. — Ele esteve tão certo que seria
melhor proteger sua senhora de se tornar Sange rau, que nunca considerou o vínculo real entre
companheiros. Não podia imaginar continuar sem ela. Por que seu vínculo devia ser menos para
ela?
Chamas se moveram através dele, por cima dele. Podia jurar que o prado inteiro estava
pegando fogo, mas a pele de Tatijana ainda permanecia fria ao toque. Aquela sensação de fogo
e gelo foi somada ao calor abrasador embainhando sua pesada ereção. O ar da noite brincava
sobre seu corpo e lá em cima a lua banhava-os eles com feixes de luz. Ele não podia ter pedido
um momento mais perfeito.
Ainaak sívamet jutta oleny. O sussurro encheu sua mente, moveu-se para a dela.
— Você está destinada a mim por toda a eternidade.
Eles estiveram ligados muito antes dele invocar as palavras rituais impressas nele antes
de seu nascimento. Ela realçou tudo em sua vida, fez cada momento muito mais rico e vibrante.
Mais ainda, havia o consolo de seu doce corpo, um refúgio quando o mundo ao redor dele não
fazia sentido.
Tatijana usou a língua para selar as pequenas incisões em seu pescoço e lentamente
abriu os olhos. Seu coração saltou e estremeceu no seu peito. Aqueles olhos multifacetados
ardiam por ele, brilhantes esmeraldas, vidrados de desejo. Ela nunca esteve mais bonita.
— Ainaak terád vigyázak. Você estará sempre aos meus cuidados.
Com a cerimônia de vinculação completada, Fen podia se concentrar em cada nuance,
cada ponto de prazer no corpo de Tatijana. Queria que esta noite fosse gravada na mente dela
para sempre, assim como estaria na sua. Ele não se apressou, segurando seus quadris rígidos,
de forma que ela fosse incapaz de se mover quando ele arremeteu pra dentro e pra fora de seu
corpo, embainhando-se repetidas vezes em seu canal apertado. Nada poderia ter sido mais
gostoso.
Seus gemidinhos frenéticos e súplicas aumentaram a tensão crescente, a forma como
ambos os corpos seguiam em direção ao auge. E mesmo assim, manteve o ritmo lento,
afogando-os em um turbilhão de êxtase.
Tatijana sentia como se estivesse queimando de dentro pra fora. Estava cercada por
calor e fogo. A pele dele — tão quente ao toque. Seu corpo — tão firme como um carvalho novo.
Suas mãos — fortes onde agarrou seus quadris e imobilizou-a de forma eficaz. Seus quadris não
deixaram o ritmo; ondas longas, lentas e atormentadoras que só pareciam inflamá-la mais.
Ela queria mais. Precisava de mais. Estava desesperada por mais. Ouviu a si mesma
gemendo. Implorando. Não conseguia parar de se contorcer embaixo dele. Tentando erguer
seus quadris para encontrar os dele. Nada disso ajudou. Ele não parou. Não acelerou. Não
diminuiu a velocidade. Seu mundo inteiro parecia estar centrado na união de seus corpos. Cada
terminação nervosa estava inflamada, a tensão ficando cada vez mais alta até que pensou que
poderia enlouquecer.
Ela se tornou ciente dos dentes dele, um pontinho sutil naquele ritmo vagaroso que
estava deixando-a tão louca, beliscões minúsculos ao longo da curva do seu seio. A cada
punhalada lenta, os dentes dele rasparam por cima de sua pulsação frenética e seu corpo reagiu,
apertando forte ao redor dele, segurando-o como se sua vida dependesse disso, fornecendo
uma inundação fresca de líquido exultante. Cada arranhão de seus dentes levava o pouco fôlego
que tinha, de modo que seus gemidos ofegantes se tornaram gritos.
Ele estava deixando-a lentamente louca de necessidade. Não podia dizer o que era pior,
a espera que ele a levasse por cima da borda ou a antecipação de sua mordida. Estava bem ali,
tão perto, mas não podia cair. Ele a estendia em uma grade de puro prazer, crescendo, sempre
crescendo, até que o medo da intensidade matá-la deslizou por sua espinha. Seus dentes
raspando, os pequenos beliscões enquanto ele trabalhava seu caminho dos seios até seu
pescoço limitava sua capacidade de respirar corretamente. Seu corpo inteiro parecia estremecer
e se contorcer em antecipação.
Fen, não posso respirar. Eu não sobreviverei.
Então nós dois morreremos aqui, bem assim.
Ela se ouviu dar um grito estrangulado quando os dentes dele se afundaram
profundamente, diretamente em cima do pulso acelerado, o calor escaldante entre as pernas
correspondendo ao do pescoço. A dor deu lugar imediatamente ao prazer. Ela se remexeu
debaixo dele, arqueou as costas e esfregou os seios no peito dele. Ela não podia ficar quieta,
movendo-se continuamente, incapaz de liberar as chamas, o calor escaldante e a tensão
enrolando-se ainda mais.
Ela podia sentir o prazer dele, o prazer estonteante que era puro sentimento quando
ele tomou a própria essência dela. Ele estava em todos os lugares, profundamente em seu corpo,
dentro da sua mente e seu sangue fluindo dentro dele. Era demais e mesmo assim não era
suficiente. Seu prazer só aumentava o dela. Ele a tomou cada vez mais até que ela estava quase
se debatendo debaixo dele. Suplicando.
Ele ergueu a cabeça e olhou para ela, aqueles olhos queimando acima e através dela.
Marcando-a. Marcando-a indelevelmente. Como se ele já não estivesse estampado dentro dela
em seus próprios ossos. Ele abaixou a cabeça para seguir o fio vermelho rubi descendo do
pescoço para seu seio esquerdo com a língua e então fechou as incisões.
Seu coração martelou ainda mais em antecipação. Os olhos dele queimavam com tanta
intensidade, tal fome e amor por ela que não podia acreditar em que tivesse tanta sorte. Seu
passado, todos os anos em cativeiro, todas as coisas horrendas que viu, desapareceram quando
ela examinou seus olhos. Os dedos dele agarraram com força seus quadris. Ela teve tempo
apenas para uma respiração e então ele empurrou nela duro, e seu mundo subiu em chamas
gloriosas.
O corpo dele se moveu duro, rápido e fundo, várias e várias vezes, e as chamas a fizeram
sentir como a fênix, queimando de forma limpa e pura para que seu passado e as memórias de
seu pai e suas experiências maliciosas, as cicatrizes que pensou que nunca desapareceriam
foram reduzidas a uma cinza fina e ela se refez — renasceu. Mais forte. Melhor.
Ele arrastou suas pernas acima de seus ombros, investindo dentro dela repetidamente,
tão fundo que as punhaladas duras a encheram e estiraram a cada investida. Seu rosto em cima
dela, aquele rosto bonito, estava esculpido com tal sensualidade que se viu olhando fixamente,
amando, chocada com a intensidade da emoção quando seu corpo estava inflamado e se
contorcendo com tal necessidade.
Era o momento mais bonito de sua vida. A união completa. Seu amor por ela. Seu
conhecimento que ela o amava tanto quanto a amava. Que ela poderia eliminar seu passado tão
eficazmente quanto ele eliminou o dela. E isso... este arrebatamento. Este lugar louco que
somente Fen podia levá-la estava além de qualquer coisa que ela jamais conheceu ou concebeu.
O prazer era quase demais, a tensão construindo tão rápido e duro que não conseguia
recuperar o fôlego. Ele não parou e desta vez não diminuiu a velocidade, seu corpo se movendo
dentro do dela com um propósito, mais fundo e mais duro como se ele fosse viver lá para
sempre. As chamas subiram, ela podia sentir seu calor a engolindo, queimando de dentro pra
fora. Ouviu seus próprios apelos, ela chamando seu nome, os dedos cravados em seus braços
buscando uma âncora quando sentiu como se não pudesse sobreviver à beleza e prazer
absoluto.
Sua respiração vinha em ofegos irregulares, seus olhos vidrados para cima, mas ainda
assim ele continuou em um ritmo furioso, a fricção crescendo e crescendo, até que sentiu o
primeiro tremor explosivo. Uma série de ondas se seguiu, tão fortes que as sensações sacudiram
seu corpo inteiro, correndo dos seios para as coxas, o epicentro em seu próprio núcleo, de forma
que sua vagina apertou o eixo pesado do Fen, levando-o com ela em um passeio selvagem e
erótico que ela jamais esqueceria. Um que ela precisaria repetir muitas vezes, e ainda assim
duvidava se seria saciada.
Eles deitaram juntos sob a lua, ofegantes, agarrando-se um no outro, saboreando cada
tremor secundário. Ela não tinha nenhuma ideia de quanto tempo se passou. Estava contente
em se deitar em seus braços com seu ouvido pressionado em cima do seu coração, mais feliz do
que já esteve em sua vida.
Fen se mexeu primeiro, beijando-a várias vezes, e em seguida sussurrou em seu ouvido.
— Temos que terminar o ritual.
Ele se ajoelhou fazendo um V entre suas pernas para encaixá-la. Indicou para ela se
ajoelhar também, colocando-a de costas para ele. Tatijana fez o que ele pediu, ajoelhando na
cama suave de pétalas brancas perfumadas. Seu corpo estava corado e dolorido,
completamente vivo e vibrante.
— Sente-se nos calcanhares e abra suas coxas. — ele sussurrou.
Tatijana se sentiu enrubescer por toda parte. Ela tinha acabado de fazer amor com seu
companheiro, mas isto era muito sexy, mesmo depois que ele a possuiu tão completamente.
Ajoelhou diante dele, abrindo suas coxas para o ar da noite. Imediatamente seu corpo reagiu
com mais calor líquido. Sentiu-o escorrendo por suas coxas e parecia mais sensual que nunca.
Seus braços a rodearam, as palmas segurando o peso de seus seios, seus dedos e
polegar rolando e esfregando seus mamilos. Ela ofegou quando suas terminações nervosas
enlouqueceram, enviando choques de eletricidade diretamente ao seu canal. Um tremor
profundo desencadeou outra forte onda.
Ele a persuadiu a inclinar para trás para que sua cabeça recostasse no seu ombro e seus
seios se projetassem ainda mais em suas mãos. Uma mão deixou seu seio e fez seu caminho
lentamente abaixo pelas costelas até sua barriga. Ele pressionou os dedos nos músculos dela
que estremeciam.
— Você é tão bonita, Tatijana — ele sussurrou —, tão sensível ao meu toque.
Seu toque inflamou-a. Não podia imaginar ser mais sensível. Queria suas mãos nela
sempre. Ele estava na sua mente e sabia exatamente como cada toque e puxão em seus mamilos
enviava mais calor percorrendo suas veias. Ela estava muito ciente de seus dedos deslizando
mais abaixo, traçando o dragão acima do seu ovário com a ponta do dedo reverente antes de
continuar a jornada ainda mais abaixo.
Ela fechou os olhos ofegando, arqueando as costas quando seus dedos penetraram
fundo. Seus músculos apertaram ao redor dele e novamente deliciosos fortes tremores a
sacudiram.
— Tied vagyok. — Ele sussurrou as palavras encostado ao seu pescoço, seus dentes
raspando acima de sua pulsação. — Eu sou seu.
Ela amava que ele era dela. Nunca poderia ser outro. Nenhum outro homem estaria à
altura dele. Ele relutantemente puxou seus dedos de seu corpo e cuidadosamente tomou a flor
que reservou anteriormente, e colocou-a apertada na junção de sua perna de forma que as
pétalas suaves provocaram seu corpo ultrassensível. Ela sabia que seu corpo estava lamentando
e a flor coletava cada gota.
— Sívamet andam. — Suas mãos estavam nos seios dela novamente. — Eu lhe dou meu
coração, Tatijana.
Ele tinha ela toda, coração, alma, mente e corpo. Ela sentiu quase como se estivesse
derretendo com calor. Queria tudo dele mais uma vez. Qualquer que seja a cerimônia com a flor
que ele estava completando, era potente. Conforme inclinava a cabeça contra o ombro dele,
seu cabelo cobriu a ambos, uma longa cascata sedosa que se sentia sensual contra seus corpos.
Sua pele era fresca contra o calor dele, só adicionando combustível para o fogo da necessidade.
— Te avio päläfertiilam. — você é minha companheira.
O modo como ele disse as palavras em seu próprio idioma, um idioma tão antigo e há
muito tempo desaparecido do mundo, menos para poucos, somaram mística e beleza ao ritual.
— Agora coloque a flor, como um símbolo de fertilidade ideal para mim e me diga as
palavras. Estamos vinculados e pedindo — suplicando — à Mãe Natureza para nos abençoar
com nossos próprios filhos durante nosso tempo neste mundo ou no próximo.
Suas mãos tremiam quando cuidadosamente levantou a flor e virou de frente para ele.
Ajoelhado como ele estava, seu corpo duro como pedra, seu rosto esculpido tão masculino, ele
era bonito para ela. O luar derramava sobre ele, fazendo mechas em seu cabelo com a luz
dançante. Umedecendo os lábios repentinamente secos com a ponta da língua, ela colocou sua
flor estrela da noite diretamente debaixo de sua ereção muito pesada. Suas mãos roçaram seu
saco, os dedos demorando um pouco demais em seu membro grosso, enquanto as costas de
suas mãos deslizavam subindo na parte interna de suas coxas.
— Tied vagyok. — Ela colocou as palmas nas coxas nuas dele e olhou dentro de seus
olhos. — Eu sou sua. Sívamet andam. Dou-lhe meu coração. — Ela queria dizer cada palavra.
Não podia imaginar nada mais certo do que dar seu coração para ele guardar. — Te avio
päläfertiilam. Você é meu companheiro.

Capítulo 9

Os primeiros raios de luz do amanhecer derramaram-se sobre o enorme prado,


tornando os campos de feno pequenas colinas douradas. O vento tocava os feixes ainda no chão,
balançando-os gentilmente, como uma onda rolando suavemente. O ar estava encrespado e
frio, mas o céu claro.
Costin Eliade bocejava enquanto saía para a varanda para olhar sua fazenda. A satisfação
aparecia em cada linha de seu corpo. A fazenda estava em sua família há duas gerações, e seu
pai, assim como seu avô, fez o melhor que pôde para melhorar as condições. Ele foi o primeiro
a buscar uma educação superior e pôr os procedimentos que aprendeu em prática. O primeiro
a trazer gado para a fazenda e vender sua carne bovina com sucesso para o exterior.
Agricultura era um trabalho duro, mas ele era um homem que tinha grande orgulho em
fazer isso por sua família. Seus animais sempre tiveram o melhor dos cuidados. Seus campos
eram plantados revezando colheitas, e seu sistema de irrigação era atual e servia-o muito bem.
Também estava orgulhoso da casa. Muitos fazendeiros tinham grande cuidado com a terra e o
gado, mas abandonavam suas moradias. Sua esposa não tinha nenhuma reclamação do seu
banheiro e água encanada durante o ano todo. Ele imediatamente fazia os consertos de
qualquer coisa que ela apontasse.
Na sua área, tornou-se o primeiro a introduzir gado e obter um grande contrato. Seu
gado compunha a maior parte de sua renda e elevou-os a uma vida decente. Perder os novilhos
seria devastador, não só para sua família, mas para várias outras famílias que se associaram a
ele também. Seus cães guardavam o gado, três deles, e eram ferozmente protetores.
Costin agarrou a bengala que ficava na varanda justamente atrás da coluna. Ela se
encaixava perfeitamente na palma da sua mão, gasta pelo uso. O chão era desigual e sendo o
único provedor de sua família, não se arriscaria a acidentes. Um tornozelo torcido podia
significar que ninguém alimentaria o gado.
Duas cabritas baliram para ele e uma correu atrás da outra ao redor do pátio. Uma saltou
em cima de um pedregulho e ergueu o nariz para o ar. A outra correu em direção à maior das
duas cabras, de cabeça pra baixo em uma tentativa de se enfiar no pedregulho. A cabra
ligeiramente maior evitou de forma que a menor foi forçada a saltar alegremente. A cabra
menor enviou aos seus irmãos um olhar risonho e então abaixou sua boca para lanchar na grama
logo à esquerda do curral. Ocasionalmente ambas olhavam em direção aos cavalos, e em
seguida de volta para o campo.
Ao longe, a vários metros de distância, a maior parte do gado ainda estava na grama
almofadada, sonolento e não muito pronto para encarar o dia. Alguns pássaros circulavam lá em
cima no céu, um voo preguiçoso de manhã bem cedo antes de se estabelecer no campo para
pegar quaisquer minhocas que não se escondessem debaixo da terra.
Costin respirou fundo o ar do amanhecer. Esta era a hora que ele mais gostava.
Justamente entre a noite e o dia. Tudo era tão pacífico. Havia tanta beleza cercando sua fazenda,
e ele era um homem que na maior parte do tempo estava extremamente ocupado para notar
tais coisas, mas não no amanhecer. O amanhecer era seu momento para relaxar e apreciar o
que tinha.
Ele observava enquanto o vento de maneira divertida arrastava a grama no campo,
criando o efeito de uma ondulação e formando pequenos tornados de sujeira brincalhona no ar.
O campo rolou suavemente, a menor das elevações, como se muito abaixo, o chão se
deslocasse. A terra ergueu ligeiramente quase no meio do campo, não mais do que uns
centímetros. Ele não teria notado senão fosse pelos cavalos.
Deixou seu melhor cavalo no curral, perto do pequeno abrigo coberto que construiu três
invernos atrás. Tinha seis cavalos, mas dois eram mais velhos e usava-os principalmente para
puxar a carroça quando ia até a aldeia fazer compras. Um vizinho levou-os para ele, só no caso
de sua fazenda cair sob ataque.
As galinhas começaram a se inquietar. Os cavalos pisotearam nervosamente,
pressentindo algo que ele não sentia. Saiu da varanda e caminhou alguns passos para longe da
casa, seus olhos no campo. Lá estava novamente. Um movimento sutil embaixo da terra,
ganhando velocidade e correndo diretamente para o curral.
Os cavalos lançaram as cabeças para trás, os olhos rolando nas órbitas nervosamente.
Seus cavalos não eram do tipo nervoso, mas estavam olhando para aquela estranha elevação na
terra vindo diretamente para eles. Uma galinha voou para o chão, comendo preguiçosamente.
Ela inclinou a cabeça para um lado e então bateu asas, ganhando alguns metros no ar. A
mudança foi tão rápida que era quase impossível ver, embora a pequena galinha se tornasse um
dragão azul de tamanho normal, batendo nas profundezas da terra, escavando rápido.
Tatijana irrompeu do chão furiosa, agarrando um lobisomem na sua boca de dragão. Ela
o sacudiu com força e deixou-o cair aos pés do fazendeiro. Fen mudou da forma do fazendeiro
de volta para a sua, puxando a espada de prata da bengala e cortando completamente o pescoço
do lobisomem, dividindo a cabeça. Ele atravessou o coração com uma estaca de prata.
Quando Fen revelou que Costin era meramente uma ilusão e o guerreiro estava
esperando por eles, os lobisomens verteram na fazenda de cada cobertura concebível.
Claramente eles rodearam a fazenda e agora se aproximavam rápido. Vieram de cima do telhado
da casa e do celeiro, convergindo nos animais, determinados a abater tudo.
Dois correram para a casa para saltar em Fen enquanto ele se endireitava, os lobos
arranhando, mordendo e rasgando sua carne. Estendeu uma das mãos para trás e pegou um
lobo pelo pescoço, empurrando-o para baixo e para fora, lançando-o em direção à varanda onde
uma rede de prata invisível estava pendurava entre as colunas. O lobo bateu na rede e gritou,
pendurado lá nos finos fios de prata.
O segundo lobo levantou seu focinho e afundou os dentes no flanco de Fen, rasgando e
mordendo em um esforço para incapacitá-lo. Fen rosnou cortando a dor, apunhalando-o com
uma estaca de prata, dirigindo-a profundamente no olho do renegado. O lobisomem uivou e
cravou suas garras mais fundo. Fen estava mais preocupado com os que ele não via. Girou em
círculo, usando a espada para cortar uma grande área ao seu redor, rechaçando a segunda onda
saltando em cima dele do abrigo dos cavalos.
Lobos se arremessaram para o curral com velocidade surpreendente, determinados a
estripar os cavalos. Um lobo se lançou para cima do cavalo mais próximo, afundando os dentes
no pescoço, rasgando grandes pedaços de carne enquanto um segundo rasgava a barriga. Eles
trabalhavam com velocidade ofuscante, quase rápido demais para compreender.
Os cavalos mudaram de forma, revelando os guerreiros Cárpatos Tomas, Lojos e
Mataias. Os três irmãos voltaram imediatamente para trás, com espada em uma mão e estaca
de prata na outra. Eles travaram guerras juntos e se moviam em completa sincronização. Os
lobisomens uivaram de raiva, circulando, fingindo ataques para manter a atenção centrada neles
enquanto os outros três saltaram em cima do próprio curral.
Os três renegados gritaram quando a cerca soltou faíscas de prata acompanhadas do
cheiro de pele e carne queimadas. Tomas acenou com a cabeça.
— A eletricidade é uma invenção maravilhosa.
— Vamos lá, bola de pelos. — Lojos adicionou, acenando com a mão da espada para o
lobisomem mais próximo.
— É hora de um pouco de justiça. — Mataias acrescentou.
Os renegados restantes se apressaram, usando a velocidade para desfocar, deslizando
por baixo das lâminas para se lançarem sobre os três irmãos, rasgando seus braços com garras
afiadas como navalhas para tentar desalojar as armas.
Gregori voltou para sua própria forma, saindo da forma do quarto cavalo. Partiu para o
ataque, tentando derrubar o lobisomem rasgando-o com mandíbulas e dentes poderosos. O
segundo lobo, enfiando as garras em sua barriga, cravou rápido e mais profundamente,
tentando eviscerar o Cárpato.
— Essas bolas de pelos são rápidas. — Lojos cuspiu no chão quando se livrou de um
renegado que estava nele. Estava sangrando em meia dúzia de lugares inclusive quando se
aproximou para cortar a cabeça do lobisomem. Mal tinha começado sua desaceleração quando
seu braço foi arrancado para trás.
Mataias tentou escapulir pela linha de lobisomens para ajudar Gregori, mas um deu um
jeito de saltar em cima de Tomas e cair sobre sua cabeça, as mãos fortes tentando quebrar o
pescoço dele.
O bode no pedregulho lançou-se no ar, rasgando seus próprios chifres à medida que
mudava de forma, dirigindo os pés primeiro no lobo nas costas de Gregori, derrubando-o para
trás e longe das costas do guerreiro Cárpato. Os chifres do bode se transformaram em uma
espada de prata comprida e estaca quando Jacques tomou sua verdadeira forma. Ele fatiou o
pescoço do lobisomem completamente antes do corpo sequer atingir o chão. Aterrissando em
seus pés, ele montou à cavalo no torso, atravessando o coração profundamente com uma estaca
de prata com sua força enorme.
O lobisomem que rasgava a barriga de Gregori deu meia volta e pegou a cabeça de
Jacques com garras poderosas, sua boca escancarada fechando no ombro do Cárpato. Ele rasgou
fora um grande pedaço e foi para a garganta e uma morte rápida.
O outro bode mudou de forma no meio de um salto aterrissando atrás de Jacques e o
lobo renegado. Falcon bateu com a estaca de prata direto nas costas do lobisomem
atravessando seu coração. O lobo caiu com força, levando Jacques para o chão com ele.
Falcon se abaixou e levantou Jacques com um puxão.
— Não é seguro aí embaixo, irmão. Estes garotos vieram atrás de briga.
— Sanguinários, não é? — Jacques reconheceu com um sorrisinho. Enxugou o sangue
do rosto. O lobo o mordeu várias vezes em alguns minutos, rasgando grandes pedaços de carne.
Gregori deu outro salto curto para trás de Jacques.
— Fen não estava brincando quando disse que eles são do tipo que você não vê.
À medida que dez dos lobisomens correram para os cavalos, uma boa dúzia foi para o
gado de verdade. O gado deitado na grama não se moveu. Um levantou a cabeça, mas
simplesmente pareceu entediado enquanto os grandes lobos caíram em cima deles. Os
renegados mais rápidos abateram o boi preguiçoso rápido, saliva gotejando de suas mandíbulas
escancaradas. Ainda assim o gado não se moveu, mesmo quando o lobo caiu sobre as costas do
boi e abaixaram as poderosas mandíbulas para dar uma mordida no pescoço do plácido animal.
Os outros lobos seguiram, saltando sobre o gado sonolento, afundando garras e dentes
nos pobres animais. Dentes se fecharam com força nas pedras. O campo inteiro estava cheio de
pedregulhos, o gado mera ilusão. Os três cães pastores mudaram para suas formas naturais —
a de três caçadores Cárpatos.
Nicolae Von Shrieder, um renomado caçador de vampiros, esgrimia sua espada de prata,
a lâmina faiscando escarlate enquanto removia a cabeça do renegado mais próximo. Inclusive
enquanto fazia isso, antes de poder mergulhar sua estaca no tórax da criatura ainda arranhando,
dois saltaram em suas costas e agarraram suas pernas, levando-o para o chão. Eram tão rápidos
esses lobisomens, saltando mais alto e movendo-se sem nenhum aviso, ainda mais rápidos que
os vampiros que caçou por séculos.
Traian Trigovise atingiu o chão correndo enquanto mudava de forma. O lobisomem que
vinha para ele era enorme, parecia ser todo músculos, dentes e garras e rápido como um raio.
Ele mergulhou com suas garras atingindo o lobo, deslizando pelo chão, enganchando o braço ao
redor dos joelhos do lobo para derrubá-lo. Ele bateu a estaca de prata no coração antes que o
renegado pudesse se recuperar. Mais dois estavam em cima dele antes de poder se levantar.
Ele tentou se dissolver, mas as garras cravadas em sua carne impediram a fuga.
O terceiro cão pastor mudou de forma rápido. O Cárpato conhecido simplesmente como
Andre era tão evasivo quanto uma lenda podia ser, movendo-se rápido, só uma sombra
cruzando o ar e literalmente rasgando o lobo das costas de Traian. Ele nem mesmo diminuiu a
velocidade, movendo-se continuamente, sua espada reluzindo à luz do início do amanhecer,
causando estragos no número de lobisomens atacando.
O modo como Andre manejava a espada era soberbo. Ele lutou nos últimos séculos e
sentia a espada como em casa na sua mão. Parecia fluir, seus pés suaves e seguros. A lâmina
cintilava vermelho vivo, sangue gotejando no chão e espalhando pelo ar enquanto calmamente
cortava os lobos furiosos.
Traian e Nicolae seguiam em sua esteira, golpeando estacas de prata em corações
conforme Andre derrubava os renegados. Os três acabaram rapidamente com os lobisomens
que tentaram atacar o gado. Costin Eliade e seu gado estavam seguros em uma fazenda vizinha,
deixando os Cárpatos construir sua armadilha para os renegados.
Levou alguns instantes para perceber que destruíram com sucesso os doze lobisomens
dispostos a matar o gado. Tanto Traian quanto Nicolae ficaram surpresos com as dilacerações e
pedaços de carne que faltavam de seus corpos. Sangue escorria pelo tórax, pescoço e costas.
Nicolae tinha marcas de cortes atravessando sua barriga. Andre tinha marcas de mordidas em
suas pernas, mas fora isso, permanecia incólume.
Traian sorriu para Nicolae.
— O que aprendemos com isso?
— Que Andre precisa dar a nós dois lições de espada. — Nicolae reconheceu. — Tivemos
que fazer todo o trabalho duro e olhar por nós. Da próxima vez, quero ser aquele dançando com
a espada enquanto vocês dois fazem a limpeza.
Parem de se parabenizar e cheguem aqui. Podíamos precisar de um pouco de ajuda.
Gregori usou a comunicação telepática comum dos Cárpatos, sua voz gotejando sarcasmo.
Traian, destemido, deu outro rápido sorriso faiscante e piscou para Nicolae.
— Nós também aprendemos que lobisomens caem em ilusão e nos demos bem aqui.
Nicolae, Andre e Traian moveram-se depressa para o outro lado do campo para ir em
auxílio do outro Cárpato justamente quando uma segunda onda de lobisomens saltou de cima
dos telhados sobre os guerreiros lutando com os renegados.
Eu não gosto disso, Fen disse desconfortavelmente para Tatijana. Entre no ar e veja se
pode encontrar quem está coordenando o ataque. Eles têm que ter um líder orientando-os. Isto
está muito organizado.
Ele abriu caminho até Gregori. Lidou com bandos de renegados ao longo dos séculos e
nenhum era deste tamanho. Nunca viu um único bando deste tamanho.
Quantos mortos? Ele perguntou a Andre.
Doze. A resposta do Andre foi curta e entrecortada. Topei com pequenos bandos de
renegados, mas nenhum deste tamanho e tão bem organizado.
O simples fato que Andre não acrescentou nada mais à sua declaração alarmou Fenris.
Andre transmitia tensão em sua sentença concisa. Como Fen, percebeu que algo
definitivamente não estava certo com este ataque. Estava muito bem orquestrado,
especialmente aquela segunda onda de lobisomens enviados para se juntar aos seus irmãos.
Tatijana imediatamente começou a correr e saltou no ar. Quando fez isso, um
lobisomem se lançou do telhado do abrigo de cavalos e arrancou-a do céu. Seu corpo caiu em
direção ao chão, o renegado pegando-a ao redor de suas costelas com os dentes. Fen saltou ao
encontro dele, dirigindo sua espada de prata no ventre do lobisomem. Quando o renegado abriu
sua boca com um ofego, Fen puxou Tatijana para ele com um arranco, subindo para evitar bater
no chão. O lobisomem bateu duro, rolou e levantou-se uivando, segurando a barriga rasgada
com uma das mãos enquanto seus olhos vermelhos acompanhavam Fen e Tatijana.
Gotas de sangue brilhantes caíram no chão, quase em cima do lobo. Tatijana apertou as
mãos sobre as marcas de mordida. Podia sentir a raiva de Fen aumentando pelo fato dela ter
sido mordida. Ele estava ansiosamente tentando examiná-la quando foi transportado pelo ar.
Estou bem, Fen, ela assegurou. Eles são tão rápidos e saltam tão alto que é difícil julgar
uma distância segura deles.
Posso sentir sua dor. Não me fale mentira, Tatijana, preciso saber como você está.
Dói pra caramba, mas nada está quebrado. Pensei por um momento que ele quebraria
minhas costelas como se fossem galhos, mas você foi para ele muito rápido.
Eu sou Sange rau. Mais rápido que eles. Sua voz era sombria.
Até mesmo enquanto ele respondia dizendo-lhe a estrita verdade, ela sentiu o calor da
energia curativa deslizando nos ferimentos em sua costela. Houve alívio imediato. Obrigada.
Sempre.
Os Cárpatos estavam vendo pela primeira vez o dano que um bando de renegados podia
causar neles. Quando percebessem o quanto seria difícil destruir o Sange rau, poderiam mudar
de ideia a respeito de permitir que tal mistura de sangue vivesse. Era equivalente a ter uma arma
nuclear apontada à sua cabeça.
Fen inverteu sua direção e desta vez apontou para o chão, movendo-se como uma bala
diretamente em direção ao lobisomem que ele derrubou do céu. O lobo saltou para encontrá-
lo. No último instante, Fen empurrou Tatijana de volta para o céu, dando-lhe oportunidade de
mudar para o seu dragão enquanto ele encontrava o lobo de frente. Estava se movendo muito
rápido, uma mera risca no céu, quando atingiu o renegado ele quase atravessou o corpo. Seu
punho disparou através da parede torácica, a estaca de prata que segurava bateu atravessando
o coração de forma que o lobo estava morto antes de ambos atingirem o chão.
Você joga duro.
Gregori tinha observado o encontro apesar de lutar com a última onda de atacantes.
Sua voz era pensativa. Cautelosa.
Agora eles estão começando a entender, Fen disse a Tatijana. Ele estará mais
preocupado que eu mantenha distância do seu príncipe.
Tatijana suspirou. Nosso príncipe. Não finja que não o protegeria com sua vida. Estou
dentro de seu coração e alma, lembra, homem lobo? Estou vendo o que você está fazendo. Você
quer que Gregori e os outros percebam o que eles estão enfrentando. Meras palavras não são
suficientes. Eles têm que ver por si mesmos.
Nenhum caçador Cárpato nunca será capaz de derrotar o Sange rau sozinho, Fen disse
a ela. Só se um milagre acontecesse. A combinação das habilidades de Lycan e Cárpatos é letal.
Os Lycans sabem disso porque viram milhares dos seu tipo mortos, quase eliminando sua espécie,
por apenas um ou dois destes monstros. Os Cárpatos não os enfrentaram e sua arrogância vai
fazer com que todos sejam mortos — e possivelmente seu príncipe, se não processarem as
informações rápido. Até agora, eles nunca enfrentaram um inimigo como o Sange rau.
Gregori, guardião principal do príncipe, seria o primeiro a compreender a enormidade
do que estavam enfrentando. Seus instintos naturais já o fizeram suspeitar e ser cauteloso com
Fen. Fen não o culpava mais do que podia culpar Zev, que era o Gregori dos Lycans. Ele era
diretamente responsável pelo bem-estar do conselho e era seu dever manter seu povo a salvo
dos Lycans não importa em que parte do mundo eles morassem.
Rude é a única maneira com os lobisomens. Você nunca pode subestimá-los, Fen
respondeu a Gregori.
Este bando está bem organizado. Muito bem organizado.
Pois é, mas o mestre não está aqui. Eu saberia. O Sange rau deixou esta batalha para
aqueles que comanda. Fen sabia que Gregori captaria a preocupação em sua voz.
A luta próximo aos currais foi feroz. Gregori foi ferido, e mesmo assim não exibiu
nenhuma emoção quando respondeu. Ele poderia ter estado em um piquenique no parque em
vez de lutar por sua vida. Você acreditava que este mestre estaria perto.
Eu esperava. Fen pensou que Abel poderia sacrificar Bardolf a fim de enfraquecer os
lutadores Cárpatos. Seria uma boa estratégia, especialmente pela provisão infinita de renegados
que ele adquiriu pelo caminho para fazer seu lance. Preciso achar aquele que é o ouvido do seu
mestre. Existe um modo que talvez eu possa conseguir informações sobre Abel ou Bardolf, talvez
ambos. Pelo menos descobrir o que estão fazendo. É arriscado, mas se eu conseguir o que
precisamos, vale a pena.
Ele sentiu a rejeição instantânea de Gregori à ideia. Tatijana fez eco com sua angústia.
O quanto é arriscado? Nós precisaremos de você para continuar a educar nossos
lutadores... obviamente.
De onde Fen estava, obteve vislumbres ocasionais de Gregori. Os lobisomens
definitivamente o alvejaram para exterminar. A visão do Fen estreitou enquanto observou por
um momento o modo como os lobos rodearam Gregori. O guardião do príncipe mostrou-se a
eles. Esteve envolvido na luta anteriormente, mas por que tais sacrifícios? Os corpos dos
lobisomens estavam cortados e jogados ao redor do guardião do príncipe, e ainda assim vinham
atrás dele.
O medo persistente em Fen começou a florescer em urgência. Tinha alguma outra coisa
acontecendo aqui, e ele estava perdendo.
Acho que vale a pena o risco. Preciso saber que você e os outros podem acabar com isto.
Nós temos tudo sob controle, Gregori assegurou, mesmo enquanto combatia mais dois
lobos dirigindo-se diretamente à sua garganta e ventre. Ele sabia com o que lutavam agora,
eviscerando sua presa e rasgando grandes pedaços de carne para enfraquecer suas vítimas pela
perda de sangue.
Zev e seus caçadores chegarão rapidamente, Fen aconselhou. É importante que todos
os caçadores Cárpatos saibam a diferença entre Lycan e lobisomem.
Gregori mergulhou fazendo um renegado saltar, de forma que a criatura voou por cima
de sua cabeça e direto para a lâmina brilhante de Andre. Todos nós sabemos exatamente como
os Lycans se parecem. Temos seu cheiro também. Cada um de nós visitou a pousada onde
estavam hospedados. Não haverá nenhum engano, ele disse com certeza.
A elite pode sentir minha presença, mas não podem me identificar. Duvido que sejam
sensíveis em meio a sangue e morte, mas Zev é mais do que elite, ele é o seu melhor. É possível.
Fen já havia localizado seu ponto de entrada. Precisava usar o solo para que seja quem for que
estivesse se dirigindo a batalha de sua zona de segurança não o veria chegando.
Gregori grunhiu de dor, rapidamente cortando quando uma grande besta caiu sobre ele,
levando-o ao chão. No momento em que caiu um frenesi foi desencadeado entre os renegados.
Eles se atiraram sobre ele, empilhando-se, apesar dos outros Cárpatos correndo para ajudar
Gregori. Os caçadores Cárpatos perceberam que Gregori era o alvo principal e redobraram seus
esforços para abrir caminho até ele. Foi Jacques quem cortou a cabeça do lobo rasgando a carne
de suas costas e Nicolae quem atravessou o que estava escavando embaixo dele para rasgar sua
barriga.
No momento que Fen viu os outros indo em auxílio a Gregori, ele deu meia volta e
indicou o chão no meio do campo onde os lobisomens tentaram pegar a fazenda de surpresa.
Preciso de um túnel para seguir de volta até a fonte original sem que ele perceba. Vou
lançar uma ilusão enquanto você escava depressa para mim.
Tatijana esperou até que Fen enviou imagens dela e seu companheiro correndo para
ajudar Gregori, entrando no intenso combate próximo aos currais. No momento que a ilusão
estava forte e intata, ela mudou de forma para seu dragão, confiando que Fen a impedisse de
ser vista. O dragão da Tatijana seguiu a trilha abaixo do solo, escavando rapidamente através da
terra, deixando para trás um túnel de bom tamanho para Fen seguir.
Fen deixou os guerreiros Cárpatos. Ele tinha um propósito — rastrear o ataque de volta
até sua fonte. Tinha que achar o capitão dirigindo a batalha, e isso significava confiar que os
guerreiros Cárpatos derrotariam os lobisomens na fazenda.
Tatijana prestou grande atenção aos detalhes e armas que os Cárpatos fizeram, eram
verdadeiramente excepcionais. Os Cárpatos compartilharam a informação que deu a eles sobre
os ataques dos lobos renegados em bandos e eles estavam preparados para a luta. Eles atraíram
a matilha para fazenda do Costin Eliade e coordenaram a defesa. Fizeram tudo que podiam fazer
para dizimar o bando e dar a Fen a chance de encontrar o covil de pelo menos um dos Sange
rau.
Ele sabia, sem dúvida, que com dois Sange rau tão perto do príncipe, era só questão de
tempo antes do desastre atingir. Fen mergulhou no túnel oco que o dragão da Tatijana escavou
e movendo-se com sua velocidade Cárpato/Lycan começou a corrida para desentocar o
esconderijo do capitão do bando.
Tatijana, nada disso soma. O Sange rau devia ter levado seu bando para longe do
território Cárpato imediatamente ao perceber o quanto eles estavam perto.
Ela era rápida em captar, seguindo sua linha de pensamento. Você acredita que eles
tem uma agenda.
Absolutamente. Passei por isto mais de um milhão de vezes. Existem apenas três razões
que posso pensar que poderiam mantê-los aqui. A melhor seria se ou Abel ou Bardolf ou ambos
estivessem muito feridos e não pudessem partir. Mas isso não explicaria sacrificar uma boa parte
de seu bando.
O dragão escavou de volta para a superfície uma vez que atingiu o início do pântano.
Então algo muito mais sinistro.
A busca por uma companheira nem sempre termina quando um Cárpato se torna
vampiro. Já vi casos onde eles acreditam que uma mulher, de alguma forma, restauraria sua
alma e ainda assim eles podiam manter suas formas. Abel pode ter retornado com essa ideia em
mente.
Tatijana já o conhecia muito bem. Mas...
Isso pode ser um assunto secundário, mas o mais provável é que Mikhail é o alvo
pretendido. Você viu os lobos indo para Gregori? O príncipe e um Daratrazanoff têm um vínculo
especial que cria um poder incontrolável. Gregori foi especificamente visto como alvo.
Não importa a razão, o Sange rau tinha que ser liquidado. Nenhum deles podia se
permitir passar mais tempo antes de desentocar os mestres e destruí-los.
Você vai pegá-los, Tatijana disse com firmeza, toda confiança em sua voz.
Fen desejou ter aquela mesma confiança. A preocupação persistente cresceu para um
alarme completamente desenvolvido. Tinha que achar o capitão dirigindo o ataque do bando
dos lobisomens na fazenda.
O túnel abaixo do chão terminava abruptamente no pântano. Juncos sufocavam a água.
Águas aquáticas mergulhavam as cabeças abaixo da superfície e subiam para bater as asas
pacificamente, como se nenhuma abominação passasse perto deles. Não havia nenhuma
vegetação murcha denunciadora para marcar o caminho de um vampiro, mas não esperava
nenhuma. Sabia desde o princípio que nem Abel nem Bardolf estariam perto.
Esse incômodo alarme crescente soou para ele. Estendeu-se para o guardião do
príncipe.
Gregori, preciso saber onde o príncipe está.
Teve a impressão imediata da batalha feroz. Os caçadores Cárpatos, apesar dos tantos
que lá estavam e com as armadilhas preparadas para o bando de renegados, não achou tão fácil
destruir um bando feroz e bem treinado na ofensiva.
Ele está seguro.
A voz foi cortada. Gregori não revelaria a localização do príncipe para ninguém. Fen
podia dizer por aquele tom implacável. Gregori estava gravemente ferido. Precisaria de
cuidados, sangue e terra para curá-lo. Se o bando não podia matar Gregori, isto não seria a
próxima melhor coisa? Ferindo-o de tal maneira ele não teria nenhuma escolha senão ir para o
chão? O alarme, em vez de acalmá-lo com a garantia do Gregori, soou ainda mais alto.
As crianças? Ele persistiu.
Estão seguras. Gregori foi mais conciso que nunca.
Fen amaldiçoou em sua língua nativa. Tatijana, com a força principal de guerreiros
Cárpatos concentrados aqui na fazenda, o príncipe e todas as crianças importantes foram
deixados com pouca proteção.
Gregori nunca os deixaria sem proteções, Tatijana disse. Ele é exagerado quando se trata
da proteção do príncipe. Nem sequer escuta Mikhail às vezes. Nunca deixaria o príncipe
desprotegido com um bando de renegados próximo. E não descarte as mulheres. Seu Sange rau
e os Lycans poderiam, mas muitas delas são boas lutadoras.
Fen não respondeu. Não diria a ela que não achou as informações tranquilizadoras.
Emergiu a campo aberto, embora tivesse o cuidado de mascarar sua presença. Estava de pé na
extremidade do pântano, dando um olhar cuidadoso ao redor, buscando o melhor ponto de
vista acima deles, onde o capitão dirigindo a batalha poderia ver a fazenda inteira.
Tatijana mudou para sua forma humana e deslizou embaixo do seu ombro,
permanecendo perto de modo que seu cheiro o envolvia. Sempre o surpreendia que o enorme
dragão azul pudesse ser sua companheira, esta mulher com sua figura bem torneada em forma
humana.
— Pode encontrar a localização do príncipe?
Ela balançou a cabeça.
— Ninguém, nem mesmo uma Caçadora de Dragão pode entrar na mente de Gregori.
— Então teremos que fazer isso da maneira difícil.
O modo que ele disse alertou Tatijana imediatamente.
— O que você está planejando?
Ele suspirou. Ela não gostaria disso. Ele não gostava, mas sentiu que não havia nenhuma
outra escolha.
— O bando foi enviado, mas nenhum dos dois principais líderes veio aqui com eles, nem
mesmo para garantir que as ordens fossem executadas eficazmente. Isso me diz que Bardolf e
Abel tem planos muito além da destruição da fazenda de Costin Eliade. E precisamos saber agora
qual é.
Tatijana inclinou sua cabeça para olhar pra ele. Ela já estava na sua mente, mas não
entendeu o que ele pretendia fazer.
— Não gosto para onde isso está indo. — admitiu, olhando-o diretamente no olho.
Ele passou o braço em volta dela. Também não gostava para onde isso estava indo.
— Acho que Abel ou Bardolf planejam atingir o príncipe enquanto a matilha distrai os
Cárpatos e Lycans atacando a fazenda.
Houve um pequeno silêncio enquanto ela revirava a ideia na sua cabeça.
— Isso significaria que eles saberiam sobre a armadilha na fazenda e deliberadamente
sacrificaram parte de seu bando como distração.
— Ou não sabiam que era uma armadilha, mas os enviaram para que devastassem a
fazenda sem importar o que, acreditando que os guerreiros viriam defendê-la. Certamente os
caçadores de elite Lycan virão. — disse Fen, mas não acreditava que era o caso.
Abel foi Cárpato. Sabia como os Cárpatos pensavam e como eles lutavam com os
vampiros e outros inimigos. Abel também conhecia os Lycans, ou pelo menos os renegados.
Sempre foi conhecido pela sua inteligência. Ele orquestrou o ataque. Fen apostaria tudo que
tinha nisso.
Do outro lado do pântano, um pedregulho se projetava da montanha. Tinha certeza que
encontraria o lobo encarregado de executar o ataque na fazenda. Ele indicou o lugar para
Tatijana.
— É ali onde vamos encontrá-lo. Vou precisar que fique perto de mim, mas fora de sua
visão o tempo todo, mesmo quando você pensar que ele está morto.
Tatijana franziu o cenho para ele, colocando uma mão em advertência no seu braço.
— Vai me dizer o que você vai fazer?
— Deve haver algo mais em jogo aqui depois que uma matilha de renegados invadiu
uma fazenda em retaliação pela minha interferência. Bardolf poderia cometer o erro de
subestimar os Cárpatos, ele era Lycan antes de se tornar vampiro, mas Abel não era só Cárpato,
mas um bem sucedido e valorizado caçador de vampiro. Ele saberia no que estava se metendo
vindo aqui.
— Isso significaria que ele está deliberadamente sacrificando o bando de renegados. —
Ela balançou a cabeça. — Não faz sentido, Fen. Acho que você está errado.
Seu tom de voz disse a ele que ela não estava certa da verdade do que estava dizendo
em voz alta. Queria que ele estivesse errado, mas nada disso fazia sentido para ela. Também
estava muito ciente que ele evitou sua pergunta anterior.
— Nós não sabemos o quanto este bando é grande. Acho que estamos lidando com um
bando enorme, e se for assim, ele tem peões de sobra. Enviou vinte e cinco ou trinta para a
fazenda, imaginando que poderia perder mais da metade. O que os outros estão fazendo? Onde
ele os enviou? Estes lobos eram um sacrifício para um fim maior. Não existe nenhuma outra
explicação.
— Você tem que me dizer o que vai fazer. — Pela primeira vez, o medo penetrou na voz
da Tatijana. Ela apertou os dedos ao redor do seu braço. — Fen, não jogue sua vida fora.
— Gregori não vai revelar onde o príncipe está para qualquer outra pessoa, certamente
não para mim, e não tenho tempo para tentar convencê-lo. Ele ainda não entende a diferença
entre um vampiro e um Sange rau. A combinação de sangue misturado adiciona astúcia e
inteligência como também habilidades físicas.
Agora ela estava realmente alarmada. Seus olhos verdes ficaram multifacetados,
brilhando com cor. Ele não tinha palavras para tranquilizá-la. Ao invés disso, curvou-se e roçou
um beijo no canto de sua boca.
— Bardolf acredita que está em completa parceria com Abel, mas não existe tal coisa
entre vampiros, e finalmente, Abel e Bardolf são ambos vampiros. Abel sacrificará Bardolf em
um piscar de olhos.
— Você está me contando estas coisas no caso de não sobreviver. Eu sou sua
companheira, Fen. Meu destino está amarrado ao seu. Vou segui-lo onde quer que você vá.
Ele sacudiu a cabeça.
— O príncipe não deve morrer. Acima de tudo, Tatijana, cada Cárpato deve colocar a
vida de Mikhail Dubrinsky em primeiro lugar. Nossa espécie não sobreviverá à morte dele. Não
neste momento. Se algo acontecer comigo, você deve convencer Gregori que é Mikhail que eles
tentarão matar. Todo o resto que estão fazendo é secundário, não importa o que pareça.
Ela balançou a cabeça, mas podia sentir que estava admitindo que ele estava certo.
— Vi sinais desde o início que Abel é o mestre Sange rau claramente orquestrando todos
os detalhes dos ataques. A lasca de sombra do Bardolf está em risco, não do Abel. Apesar de
não haver risco para Abel, era ele quem estava usando a existência familiar de Bardolf.
Deu outro beijo no topo da cabeça de Tatijana e em seguida deu uma olhada para o sol.
Mal estava aparecendo.
— Talvez você possa nos dar uma cobertura de nuvens. Traga-a lentamente, faça isto
naturalmente. — ele sugeriu.
Tatijana engoliu em seco fortemente, mas acenou com a cabeça.
— Sem problema.
— Abel é a chave aqui. Preciso lembrar de tudo que puder a respeito dele. Seus amigos
e aliados. Acho que ele foi um primo do príncipe em primeiro ou segundo grau. — Fen refletiu
em voz alta. — Abel sempre pareceu um tipo decente. Fiquei surpreso por ele ter se
transformado.
— O que você vai fazer? — Ela exigiu.
Desta vez não havia como se negar. Em todo caso, ela tinha que saber, porque no final,
era sua única chance de ter sucesso.
— Existe uma razão por que separamos a cabeça dos ombros, Tatijana. — ele disse. —
A estaca de prata atravessando o coração leva tempo para o corpo do lobisomem reconhecer e
o cérebro continua a funcionar. Esse cérebro contém todas as informações que o lobo adquiriu
ao longo de sua vida e, às vezes, em outras também. Também contém o ódio e a sede de sangue
que o lobisomem sente em uma quantidade letal e concentrada. Suficiente para matar qualquer
que o tenha prejudicado e se atrever a tentar adquirir seu conhecimento.
— Você está louco? Não. Absolutamente não. Nós nem sequer sabemos com certeza se
Mikhail está em perigo.
— Sabemos que há dois Sange rau perto e todo mundo, humanos, Lycans e Cárpatos
estão igualmente em perigo. Isto tem que ser feito.
Ela ouviu a absoluta implacável determinação em sua voz e respirou fundo.
— Tudo bem então. Diga-me o que fazer.
— Essa é a minha dama. Eu posso fazer isto, Tatijana, porque tenho você. — Ele olhou
para o céu. A cobertura de nuvens que ela prometeu se movia lentamente, empurrada por um
vento suave. Ela tinha habilidade, seu toque leve. Duvidava se até mesmo um Lycan de elite teria
detectado se as nuvens não eram naturais. Ele tinha sorte por tê-la e guardaria esta memória
como um tesouro de sua coluna reta, ombros mais retos ainda e olhos claros.
— Tatijana, você não pode se mostrar por palavras ou ações. Nenhuma emoção. Você
será tentada novamente a entrar, mas não pode. Se fizer, tudo estará perdido. Mas — ele tomou
suas duas mãos —, você é uma Caçadora de Dragão e não há nada maior ou com mais honra.
No momento quando eu te chamar, venha pra mim e me puxe de volta. Entendeu?
Ela virou-se para encará-lo completamente, pegando seus antebraços como um
guerreiro faria. Seus olhos verdes olhavam fixamente diretamente nos seus.
— Não vou perder você, companheiro. Eu irei até você.
Ele acreditou nela.
Capítulo 10

Fen aprendeu em uma idade muito tenra a maneira exata de como as lutas começavam
e terminavam. A batalha na fazenda podia ser feroz, mas não duraria muito. Ele não tinha muito
tempo para descobrir a informação que precisava. Voou até o céu, lançando-se pelo ar, usando
a sua velocidade Sange rau, deixando Tatijana para trás. Não podia arriscar a hipótese de que o
capitão de Abel a visse e reconhecesse, não com o que Fen planejava fazer.
O patife andava pela extremidade do rochedo, o olhar atento à cena abaixo dele. Ele
não estava feliz com as perdas entre os membros do seu bando. Diferente do vampiro, o
lobisomem ainda possuía um vínculo emotivo com relação ao seu bando. Infelizmente, a sede
de sangue superava qualquer comportamento civilizado aprendido no decorrer de centenas de
anos.
Fen o reconheceu. Ele foi um membro jovem do bando de Bardolf. Era inteligente
mesmo quando era apenas um filhote. O filhote era chamado de Marrock. Fen podia muito bem
crer que ele era um grande estrategista quando a questão eram batalhas.
Bloqueou todas as coisas boas que sabia a respeito do lobisomem. Marrock muito
tempo atrás sucumbiu à necessidade por sangue fresco, acreditando que era superior a todas
as outras espécies e que seus desejos vinham em primeiro lugar. Em resumo, ele era o vampiro
dos Lycan — um assassino.
Fen saiu das nuvens com uma velocidade assombrosa e estava em cima de Marrock
quase antes que o lobisomem soubesse que estava sob ataque. O corpo reconheceu antes do
cérebro. Os olhos se estreitaram e ficaram vermelho-sangue. O focinho começou a se formar,
os dentes explodindo na boca em uma tentativa desesperada de autopreservação. Fen cravou a
estaca de prata diretamente no coração, derrubando o lobisomem ao chão, observando o ódio
e a necessidade de vingança concentrados naqueles olhos raivosos e vermelhos.
Fen agora sentia arrependimento, graças à sua companheira de vida, e mais uma vez
teve que reconhecer que fazer justiça com assassinos era bem mais fácil sem emoções. Ele
sacudiu a cabeça, colocando toda a emoção de lado para que pudesse terminar o trabalho. Não
podia hesitar, nem sentir medo. Tinha que estar totalmente concentrado na tarefa à mão. No
controle. Ele era Sangue rau, tanto Cárpato quanto Lycan, e havia pouca coisa nesse mundo
mais forte do que ele — ou do que sua vontade.
Projetou a mente na mente do lobo moribundo. Ódio. Fúria. Sede de sangue. Por um
momento aquelas coisas ameaçaram consumi-lo como consumiam a mente de Marrock. Todo
o seu mundo ficou vermelho, a intensidade das amargas emoções se derramando em sua mente,
infectando-o, como se o lobo tivesse uma doença que passava de um cérebro a outro.
Sentimentos de superioridade surgiram. Ele era mais inteligente. Podia pensar mais rápido que
os outros, avaliar as situações e descobrir antes dos outros o que estes iriam fazer. Fisicamente
era mais rápido, mais forte, seu corpo rejuvenescia mais depressa.
Fen se conteve e exalou o pior das emoções intensas, sabendo que Marrock tentava
prendê-lo em uma armadilha. O perigo de ser infectado com a sede de sangue era o pior e ele o
pressionava com mais insistência do que qualquer outra coisa. Ele sentia um desejo ardente de
sangue. Estava viciado nele. Por que não poderia ter o direito de tomar o que era destinado a
tomar? Ele nasceu para ser um predador. Não havia como domar o que nem ele era.
Essa parte era verdade. Cada Cárpato macho que conhecia era um predador. Cada
Lycan. E ele era uma combinação de ambos. O impulso já estava nele. Por que deveria fingir ser
outra pessoa? Podia ter o que queria ou precisava, e ninguém seria capaz de impedi-lo. Todos
os líderes deles se tornaram vítimas, com medo do que foram, até mesmo envergonhados.
Os sussurros começaram, outra voz prometendo riquezas, prometendo que viveriam do
jeito que nasceram para viver. Ele poderia ter tudo que quisesse, dinheiro, poder, mulheres e
sangue, a quantidade que desejasse de sangue rico e fresco.
Fen se ligou às memórias na mente de Marrock, golpeando-o com ferocidade e rapidez,
arrombando a porta para que aquela leva de lembranças o assaltasse de uma vez. A iniciação de
Marrock no bando dos renegados. Aquele primeiro gostinho de uma matança, tão inesquecível
e que nunca se repetiria, não importava quantas vezes alguém matasse nem como fizesse. A
ascensão de Marrock a capitão.
Fen abafou o medo crescente quando viu a enormidade do bando. Não pôde saber dos
números exatos porque eles agora estavam divididos em grupos menores, mas todos
respondiam a Bardolf e a Abel. Poucos tinham realmente conhecido os dois, mas todos juraram
ser leais a ambos.
Ele teve que passar pelas lembranças mais antigas que Marrock ofereceu-lhe como
forma de parede para esconder a informação que Fen procurava. Marrock rosnou e lutou,
tentando prendê-lo em uma confusão de memórias, empurrando a necessidade por sangue
fresco e cheio de adrenalina nele, partilhando o gosto de sangue quente, tudo para manter Fen
longe de suas memórias mais recentes.
Fen pressionou mais, usando mais força com o cuidado de não passar batido, mas
passando por aquelas lembranças que não o ajudariam. Marrock ainda tinha opções que
poderiam lhe fazer mal. Ele não queria acionar nenhuma delas até que tivesse toda a informação
que precisava.
Fen encontrou as ordens mais recentes de Bardolf. Marrock devia manter os Cárpatos
ocupados, matar o máximo possível deles e infligir o máximo de lesões nos mesmos para forçá-
los a terem que se enterrar para que se curassem. Um segundo grupo se encontraria com os
humanos que ajudavam a proteger as crianças, mataria a todos e pegaria qualquer mulher
Cárpato que auxiliasse na proteção as crianças. As duas forças atacariam simultaneamente,
mantendo todos ocupados, permitindo que Abel e Bardolf invadissem e assassinassem o
príncipe.
No momento em que teve acesso à lembrança, sabia que só teria segundos antes que
Marrock tentasse alertar Bardolf e Abel, bem como enterrar Fen em um lodaçal de emoções
venenosas para impedir que conseguisse sair. Vermelho e preto se derramaram em sua mente
no momento em que fez contato.
— Companheira. — Uma palavra. Tudo. O milagre.
Ela apareceu instantaneamente, sua senhora dragão, e sabia exatamente o que fazer
sem que precisasse dizer. Ela entrou em sua mente, afastando tudo do caminho, e quando o
desligou de Marrock, golpeou com a espada de prata, removendo a cabeça, tornando impossível
para o lobo alertar o Sangue rau.
Fen se demorou puxando-a para os braços e abraçando-a com força por um minuto,
respirando sua doçura e firmeza depois da sede de sangue e do caos dentro da mente
envenenada de Marrock. Ela era um sopro de ar fresco.
— Você é uma excelente parceira, minha senhora.
Ela sorriu para ele, esfregando as mãos em suas costas.
— É bom saber que você tem tanta fé em mim. Foi horrível. Nunca mais faça isso.
— Você tem que ir até o vilarejo, Tatijana, para alertar os outros na fazenda de que estão
sendo detidos de propósito. Eu vou tentar impedir o Sangue rau. Sou o único que tem chance.
Ela sacudiu a cabeça.
— Não os dois. Não sozinho, Fen.
— Vá, Tatijana. — ele disse com gentileza. — Rápido. Os renegados dizimam vilarejos
inteiros.
Fen deu um beijo rápido no canto de sua boca e saiu voando, voltando-se na direção da
casa de Mikhail. Já esteve naquela casa antes e sabia que ela foi projetada para proteger o
príncipe. Tinha que haver ainda mais, um sistema de proteção completo que Gregori tinha
confiança de que impediria qualquer ataque ao príncipe — mas eles acreditavam que o ataque
viria de um vampiro — talvez até de um vampiro máster. Eles não projetaram o sistema de
defesa para lidar com os Sangue rau.
Tatijana respirou fundo e saiu do alto penhasco, correndo em direção ao vilarejo. Ela
não queria imaginar o que os lobisomens fariam aos humanos que mal acordavam no conforto
de suas casas.
Gregori, Mikhail corre perigo. Fen foi tentar impedir que os Sange rau cheguem até ele.
Mas há dois deles.
Houve um curto silêncio. Dor explodiu no crânio dela — dor de Gregori — rapidamente
cortada. Fen não tem com o que se preocupar. Mikhail está completamente protegido. Havia
absoluta confiança na voz de Gregori.
O guardião de Mikhail checaria de qualquer forma, sem importar o quanto soasse
arrogante e confiante. Tatijana sabia que Gregori lutaria para chegar até Mikhail com o último
fôlego que entrasse em seu corpo.
Os Sange rau ordenaram que outro grupo de renegados atacasse o vilarejo, visando
especificamente mulheres e crianças da nossa espécie.
Novamente houve um curto silêncio, mas desta vez Gregori evitou que a dor dos seus
terríveis ferimentos a tocasse. Eu me perguntei por que os Lycans não tinham aparecido. Eles
devem estar defendendo o vilarejo.
Claro. Ela esteve na mente de Zev. Ele era tão homem quanto Gregori. Sua confiança.
Suas habilidades. Sua determinação absoluta em defender os demais. Ele definitivamente se
lançaria em uma batalha sem hesitar e protegeria tanto humanos quanto Cárpatos.
Quando ela se aproximou dos arredores do vilarejo, sentiu o distúrbio quase que
imediatamente. O cheiro de sangue era esmagador. Ela mudou para sua forma de dragão,
voando numa altura que acreditava que evitaria que qualquer renegado a alcançasse de um
salto ao circular a cena da batalha.
Ela avistou Zev no meio do que parecia ser vinte lobisomens. Ele girava, sua espada de
prata vermelho-sangue, seu cabelo comprido voando enquanto abria caminho até uma única
moradia que parecia cercada. Seu casaco comprido flutuava quando ele girava, a espada jamais
parando, as botas dispostas perfeitamente e com uma fluidez total, como se ele estivesse
dançando, não em meio a um perigo mortal. Ele parecia fluir, confiança em cada linha de seu
corpo. Parecia quase belo ali nos primeiros raios da manhã. Se não fosse pelo sangue jorrando
pelo ar, ela teria achado que assistia a uma apresentação de balé.
Na esquina dos fundos da casa, quatro outros lutavam com espadas e estacas, enquanto
outro se encontrava no telhado. Era uma mulher, e estava em tão boa forma quanto seus
colegas homens. Um sexto Lycan estava mais no canto do pátio, dois renegados o rasgando.
Duas mulheres Cárpatos lutavam para chegar até ele.
Use as estacas de prata, Tatijana aconselhou a mulher de cabelo cheio e escuro que
esbofeteou o lobisomem no rosto, tirando-o de cima dela e arremessando-o para longe. Tatijana
ficou impressionada com a mulher. Claramente Cárpato, ela estava acostumada a lutar com
vampiros, isso se mostrava em cada linha de seu corpo. Mulheres raramente lutavam com os
mortos-vivos, mas não aquela em específico. Tatijana sentiu imediatamente vontade de
conhecê-la.
As nuvens acima tinham ficado negras, formando raios diretamente em cima da casa.
Destiny Von Shrieder olhou para cima para garantir que o dragão azul estivesse fora de perigo.
Caçadora de Dragão, estou prestes a descer o raio.
Tatijana circulou para trás, dando à mulher de cabelo escuro bastante espaço. Do seu
ponto de vantagem ela pôde ver a luta feroz na frente da casa onde Zev lutava sozinho. De
dentro da casa saíram dois homens. Ela reconheceu os dois. Gary Jansen e Jubal Sanders
correram sem hesitar até a massa de lobisomens que atacavam Zev. Gary atirava com um arco
com flechas de prata de forma bastante apurada, disparando rapidamente enquanto Jubal usava
uma arma estranha que ela nunca viu antes.
Os dois humanos eram rápidos e confiantes, e obviamente já lutaram antes. Os
lobisomens os superavam em número e eram extremamente rápidos, desviando da espada que
Zev empunhava e usando a própria casa como trampolim para saltar em suas costas em um
esforço de derrubá-los. Zev parecia dirigir os dois homens e os seus esforços, mas o movimento
constante deles impedia que ela os ajudasse. Ela não poderia incendiar os lobisomens sem ferir
também os protetores.
Os renegados eram extremamente agressivos. Um acendeu uma tocha e atirou-a na
casa. Zev o matou, mas dois lobos esperando a hora certa saltaram do teto e aterrissaram bem
nos ombros dele, o peso combinado de ambos derrubando-o no chão. Imediatamente os
renegados cercaram o Lycan, determinados a matá-lo rapidamente.
Gary atingiu um dos lobos na cabeça com uma flecha de prata e depois esmagou outro
com o arco para tirá-lo do caminho enquanto corria até Zev.
— Vá, vá, continue. — gritou Jubal. — Eu dou cobertura.
Os lobos saltaram em Zev, rasgando-o, arrancando grandes pedaços de carne com os
dentes. Um renegado bem agressivo agiu para matar, indo até a garganta de Zev enquanto os
outros pareciam determinados a comê-lo vivo. Zev lutou, usando estacas de prata e uma faca
pequena, mas os renegados o prenderam rapidamente com a quantidade de peso.
Um lobo conseguiu rasgar o braço de Gary enquanto ele passava, deixando para trás
quatro marcas longas e cheias de sangue. Gary não vacilou nem diminuiu a velocidade. Ele
correu até a linha dupla de lobisomens determinado a chegar até Zev antes que os renegados o
matassem. O lobo conseguiu segurá-lo outra vez, fazendo com que girasse. Gary cravou uma
flecha profundamente na coxa do lobo e se libertou, pulando o corpo de mais um e acelerando
mais.
Ele passou pelo duplo círculo de renegados que cercavam o caçador de elite e agora
estavam entre ele e a casa.
Jubal gritava com a arma presa ao punho, uma ferramenta estranha que girava e era
bem afiada. As pontas de cada uma das quatro lâminas devem ter sido embebidas em prata
porque quando as laminas giratórias atingiam um lobo cortando seu braço, as veias do seu corpo
pareciam ficar rígidas e mudarem de cor em sua pele.
Gary disparou mais duas flechas, derrubando dois lobos em um frenesi de violência em
cima de Zev.
— Consegue se levantar? — ele gritou.
Zev enfiou uma estaca de prata na perna do lobo que o prendia enquanto um segundo
rasgava sua barriga, determinado a abri-lo e arrancar suas vísceras. Zev se jogou para longe do
lobo, ao invés de cobrir a barriga, sacrificando o próprio corpo dando ao renegado tempo para
abri-lo, mas dando a si mesmo espaço suficiente para movimentar a espada, cortando a cabeça
do lobo.
Sangue jorrou da barriga de Zev e os lobos atrás deles pareceram enlouquecer no
momento que sentiram a fraqueza do caçador de elite. O lobo sem cabeça caiu em cima de Zev
em uma tentativa deliberada de prendê-lo ao chão, bem como de proteger o próprio coração
de ser perfurado.
Gary puxou o corpo de cima de Zev, segurando um tecido em cima da profunda
laceração na barriga de Zev. Claramente, dessa vez os Cárpatos estavam mais preparados para
lutar com a maneira como os lobos lutavam. Ele seguiu o corpo do lobo decapitado ao chão,
estacando uma flecha no coração, usando pura força alimentada pela adrenalina.
No momento em que ele se curvou para enfiar mais a flecha, um renegado atingiu as
costas de Gary, levando-o para longe de Zev e para mais perto do pátio frontal. O círculo de
lobos uivou a aprovação dos seus componentes e correram até os dois homens que os
separavam da casa. Agora que os três estavam separados seria mais fácil abatê-los.
Zev se levantou cambaleando, encontrou a espada ainda na mão e já estava se
movimentando, fluindo pelo pátio na direção de Gary enquanto Jubal lutava com sua estranha
arma, como também com um facão de prata.
Tatijana viu Gary cair sob o peso de vários lobos e desceu rápido, o dragão cortando o
caindo do céu, seu toque delicado apesar de seu tamanho e velocidade. Ela soprou uma torrente
de chamas nas costas dos lobisomens quando estes se abaixaram, rasgando, mordendo e
cortando o corpo de Gary. Zev praguejou — ela o ouviu acima dos uivos, rosnados e gritos dos
renegados queimados — enquanto ele lutava para chegar até Gary.
Os renegados cujas costas foram queimadas por Tatijana saltaram para longe do homem
caído, olhando para o céu, mais furiosos do que feridos. Ela tentou subir rápido, sabendo dos
saltos gigantes dos quais eram capazes. Um pulou do chão até a cerca e estava quase nela.
Pelo canto do olho, Tatijana viu a mulher de cabelo escuro correr com pernadas longas
e confiantes pelo telhado e saltar para interceptar o lobo no ar. Ela segurava uma faca em uma
mão e uma estaca de prata na outra. O lobisomem e a mulher se chocaram com força, o impulso
ajudando a enterrar a estaca profundamente no coração do lobo. Ele uivou caindo, tentando
alcançá-la, e a mulher simplesmente se dissolveu em pleno ar.
Quem é você? Tatijana perguntou enquanto seu dragão subia até as nuvens. E obrigada,
um deles já abriu a minha barriga. Não é muito legal. Meu nome é Tatijana.
Claro. Claramente ela já ouviu falar de Tatijana e de Branislava. Meu nome é Destiny,
companheira de Nicolae Von Shrieder.
Tatijana conheceu Vikirnoff Von Shrieder e sua companheira, Natalya. Natalya era
parente de Tatijana — era irmã de Razvan e também Caçadora de Dragão. Ela supôs que
Vikirnoff e Nicolae eram irmãos. Onde um estava, o outro não estava muito atrás. Ela ficou grata
de ver uma mulher como Destiny se unir de forma tão agressiva à batalha. Tatijana não era uma
mulher de cruzar os braços e deixar que os outros lutassem se fosse necessário. Ela não sabia
muito sobre a política do povo Cárpato, mas foi impossível nos últimos dois anos quando os
outros trouxeram sangue à Branislava e a ela para que não ficasse familiarizada com um pouco
dela.
Pode ver como Gary está? Do seu ponto de vantagem, o dragão de Tatijana
normalmente conseguia enxergar melhor do que qualquer humano ou Cárpato, mas havia
tantos lobos lutando em volta dele que ela não conseguia olhá-lo direito.
Estou tentando chegar nele agora, Destiny confirmou. Essas coisas são rápidas. Se os
Lycans não tivessem se juntado à luta, teríamos problemas seríssimos. Só temos alguns homens
aqui para ajudar na defesa das crianças. Eles nos atacaram há alguns minutos, mas as baixas
foram altas. Se não fosse pelos Lycans, especialmente aquele que chamam de Zev, teríamos mais
perdas.
Eles atacaram a fazenda ao mesmo tempo e visaram Gregori, Tatijana a informou.
Seu dragão fez outro círculo alto acima da zona de combate. A luta era furiosa na frente,
com somente Destiny, Zev, Gary e Jubal tentando combater o número de lobos. Nos fundos,
havia seis Lycans guerreando com uma força maior de renegados.
O filho de Mikhail está na casa? As filhas de Gregori? Tatijana estava preocupada que o
grande número de renegados conseguisse penetrar a pequena defesa que tinham.
Não. Os filhos de Sara. Sara está acamada e Gabrielle está com ela. Gabrielle e Shea
estão na casa dispostas como última linha de defesa das crianças.
Vikirnoff e Natalya? Eles tinham que estar em algum lugar próximo e ainda assim não
estavam no meio do combate. Tatijana não conseguia imaginar nenhum deles assistindo uma
batalha sem participar dela.
Destiny desviou de uma das feras, passou por outra e chegou até Gary. Ela enfiou uma
estaca de prata nas costas do lobo que rasgava as vísceras de Gary. Abaixando-se, ela colocou
um braço em volta das costas dele. Ele estava acabado, a barriga aberta e pedaços enormes de
carne removidos de seu peito. Assim que os lobos derrubavam uma vítima, eles a rasgavam em
pedaços. Gary fez um esforço para se levantar, mas teve que apertar as mãos na barriga aberta,
e perdeu tanto sangue de um modo tão rápido que estava fraco. O sangue fazia com que ele
deslizasse e tentar levantá-lo era impossível. O pano colocado sobre a abertura nem chegava a
cobrir o dano.
— Vamos. — chiou Destiny. — Não estamos seguros aqui.
Eles estavam sendo cercados por lobos rosnando. Ela sangrava em dúzias de lugares.
Zev estava quase tão mal quanto Gary, e Jubal não conseguia passar pela parede de lobisomens
para chegar até eles.
— Vá embora daqui. — pediu Gary. — Você pode conseguir sem mim.
— Isso não é uma opção. — Destiny olhou para o céu. Tatijana, queime esses bastardos.
Já me cansei deles. Ela elevou a voz. — Jubal, Zev, protejam-se agora!
Com isso, confiando completamente em Tatijana para fazer o que pedia, ela colocou
Gary de volta no chão. Antes que pudesse cobri-lo, ele a cobriu, as mãos em cima de sua cabeça,
o corpo no dela, prendendo-a ao chão.
— Você é louca, sabia disso? — ele sussurrou no ouvido dela, riso em sua voz apesar da
dor que devia estar sentindo.
Sem hesitar, tanto Jubal quanto Zev caíram no chão. Jubal, ainda próximo à varanda,
conseguiu rolar parcialmente para debaixo dela. Zev caiu aonde estava confiando que vários
lobos o seguiriam, o que eles fizeram, cobrindo seu corpo de maneira efetiva.
O mundo a volta deles explodiu em chamas quando o dragão saiu das nuvens com o
pescoço estendido, a asas criando uma tempestade de vento para ajudar a espalhar as chamas
incandescentes quando elas explodiram em uma corrente estável da garganta aberta do dragão
no chão logo abaixo. Renegados, metade lobo, metade humana, encontraram-se com os pelos
e a pele pegando fogo e caíram rolando, desesperados na tentativa de apagá-lo.
A temperatura no pátio da frente foi de fria e revigorante a um calor abrasador. O rugido
das chamas trovejou nos ouvidos. O vento soprou a ponto de fervura quando as grandes asas
sopraram aquelas chamas para que elas fossem de um renegado a outro. Ela pairou por mais
um ou dois minutos depois que parou de cuspir fogo, suas asas enormes agindo como foles e
então com um alto som, ela mais uma vez ganhou altitude.
— Agora, agora. — chiou Destiny. — Essa é a nossa chance.
Zev pulou de pé e começou a cravar as estacas de prata em seus devidos lugares, sem
se importar com as chamas, sem se importar com qualquer ferimento que pudesse causar a si
mesmo. Jubal saiu debaixo da varanda da entrada e seguiu seu exemplo, cravando o máximo
possível deles.
— Use a espada. — gritou Zev, jogando sua arma para Jubal. — Qualquer um que estiver
com a estaca, corte a cabeça.
Jubal pegou a espada facilmente com uma mão e decapitou a cabeça de um renegado
que corria até ele e que havia saído relativamente ileso.
Gary fez um enorme esforço e saiu de cima de Destiny rolando para o lado, colocando-
se de joelhos, com cuidado de manter as mãos na barriga dilacerada. Os renegados eram
adeptos ao método de luta que escolhiam — incapacitar seu oponente eviscerando-o. Só
demorou alguns segundos. Gary salvou Zev, mas não escapou do bando nem da sede incansável
e implacável que possuía de sangue e de morte.
Destiny não achava que algum deles fosse escapar. Todo Cárpato e Lycan ostentava
ferimentos bem feios. Mais uma vez ela passou o braço em volta de Gary. Ele fez um esforço
corajoso e lutou para se pôr de pé, ficando completamente pálido, sangue negro se derramando
de suas entranhas. Ela conhecia esses sinais e eles não eram bons. Gary obviamente também os
conhecia, mas não disse nada, respirando fundo para tentar atravessar o pátio em chamas, de
volta a casa.
Gregori. Estamos precisando muito, Destiny chamou o curandeiro deles pelo caminho
telepático que tinham em comum. Gary não viverá mais uma hora se não conseguir chegar até
nós. Mais ninguém tem a habilidade para salvá-lo, nem mesmo Shea. Ela não disse que duvidava
até que Gregori conseguisse salvá-lo, mas o pensamento estava em sua mente e ele saberia.
Zev se movia com uma velocidade surpreendente, tão eficiente e hábil ao matar os
renegados, Tatijana lá de cima não podia evitar observá-lo. Ele fluía pelo pátio, abrindo caminho
até Destiny e Gary, ao mesmo tempo em que abatia numerosos lobos. Os lobos que rolavam
para apagar as chamas agora corriam do perigo que vinha de Zev e Jubal. Jubal não esperava
pelas estacas — ele decepava os corpos e depois cravava as estacas neles ao andar.
O dragão de Tatijana direcionou a leva para o pátio da frente. Ela fez um círculo atrás
para olhar mais uma vez a luta furiosa que ocorria nos fundos. Os ferimentos eram severos. O
maior grupo de lobos tinha atacado pelos fundos, provavelmente porque havia mais cobertura,
árvores, arbustos e até uma cerca que os lobos poderiam usar como trampolim.
Zev, Gary e Jubal tinham acabado com o bando inteiro da frente, enquanto a maioria
dos caçadores de elite Lycan defendia os fundos. Destiny claramente flutuava entre eles,
emprestando suas habilidades para cada lado, dependendo de qual precisava mais delas.
Tatijana estudou a cena abaixo, tentando descobrir como poderia auxiliar os Lycans. A
mulher Cárpato era pequena, mas era uma usina de força, misturando-se com os lobos, sangue
manchando seu corpo. Um pouco do sangue pertencia ao inimigo, mas claramente foi mordida
várias vezes e aquelas garras abriram cortes bem grandes.
Tatijana não conseguia se comunicar com os Lycans, mas podia fazê-lo com a Cárpato.
Aquela era Joie Trigovise, companheira de Traian e irmã de Jubal. Inúmeras vezes foi Joie quem
deu sangue, tanto para Tatijana quanto para Branislava, enquanto elas curavam seus corpos e
mentes no rico solo das Montanhas dos Cárpatos.
Joie tinha um manto de um cabelo lustroso e castanho escuro. Suas feições eram
incrivelmente belas, mesmo assim, às vezes, ela se misturava tanto aos seus arredores que,
como agora, era difícil ficar de olho nela.
Se houver uma forma de abrigar todos os Lycans, posso queimar os lobisomens, ofereceu
Tatijana. Isso definitivamente controlaria o ataque na parte da frente.
Joie não respondeu de imediato. Rolou pra baixo de um lobo, golpeando a parte de trás
do seu joelho enquanto ganhava a varanda dos fundos, onde parecia que seis ou sete lobos
tentavam arrancar a porta.
Tatijana ouviu gritos de criança, um som agudo e apavorado e depois outra mais nova
começar a chorar. A inclinação do telhado da varanda de trás impedia que visse exatamente o
que acontecia ou o quanto os lobos estavam pertos de invadir a casa, mas os gritos das crianças
fizeram seu coração martelar e fez com que entrasse em ação.
A mulher Lycan saltou na balaustrada de madeira da casa.
— Ali. — Ela indicou o canto da varanda onde mais três dos renegados corriam para
ganhar acesso.
O nome dela é Daciana. Ela é uma ótima guerreira, Joie informou Tatijana quando ela
angulou a sua abordagem para interceptar os três lobos que esperavam invadir a casa com os
outros membros do seu bando.
Eles já entraram na casa? Se tivessem entrado, era hora de abandonar sua forma de
dragão e entrar no campo de batalha com Joie, Daciana e os outros Lycans. Não poderia permitir
que o bando de lobisomens invadisse a casa e pegasse as crianças.
Tatijana sabia que Shea, a companheira de Jacque, estava lá dentro. Ela era uma médica,
uma curandeira, não uma guerreira, mas defenderia as crianças. A irmã de Joie, Gabrielle,
também estava na casa. Ela era uma pesquisadora, não alguém que participava de batalhas, mas
lutaria ferozmente para proteger as crianças. Sara tinha que estar lá dentro, a companheira de
Falcon. Eles adotaram aquelas crianças e Sara estava grávida. Ela abortou em sua primeira
gravidez e estava de cama para repousar devido a essa nova, mas sem dúvida lutaria com as
outras, apesar de tudo.
Fique no céu, disse Joie, claramente lendo as suas preocupações.
— Daciana, temos um dragão do nosso lado. Se pudermos levar esses lobos de volta a
um espaço aberto e abrigar nossa gente, Tatijana os queimará.
Daciana olhou para cima na direção do dragão que voava em círculos acima deles.
Quando fez isso, um dos lobisomens saltou da balaustrada da varanda para o teto e se lançou
para o céu na direção da barriga exposta do dragão.
Nem pense nisso. Tatijana chiou as palavras em sua mente.
Ela já teve a barriga dilacerada uma vez e não estava prestes a tê-la de novo. Quando o
lobo subiu e suas garras se expandiram, ela virou o pescoço para o lado, usando sua cabeça em
formato de cunha como um taco para afastá-lo de si. Ele foi arremessado para a copa das árvores
a vários metros da casa. Caiu com força, rosnando com ódio e agarrando os galhos para evitar
cair mais.
Ele gritou ameaças para ela, sacudiu o punho e começou a descer rápido quando ela
desceu em cima dele. Tatijana sabia que era arriscado de sua parte, mas mesmo dentro do seu
corpo de dragão, sentiu a onda de adrenalina. O gritinho de uma criança, o som de choro,
atingiram-na de uma forma que nem o sangue nem o ferimento tinham feito.
O lobisomem mudou de direção com uma velocidade surpreendente. Ela nem o via, só
o balançar furioso dos galhos conforme ele subia apressadamente a árvore até a copa e se atirou
nela pela segunda vez. Suas garras se cravaram na barriga macia do dragão na mesma hora em
que Zev apareceu em cima do telhado. Tatijana conseguia ver o Lycan se movendo como se não
tivesse centenas de cortes profundos, como se a sua barriga não estivesse aberta. Ele fluía pelo
telhado inclinado, os olhos quase brilhando, a cor cinza metálica tão intensa que seus olhos
poderiam se passar duas pedras preciosas.
Ele jamais tirou os olhos do renegado que a atacava, jamais olhou para baixo para ter
certeza de que seu pé pisava realmente em partes firmes do telhado. Seus olhos estavam
penetrantes, pungentes, totalmente intimidadores e não piscavam, fixos em sua presa. Ele
arremessou a estaca de prata. Ela girou pela luz do amanhecer, brilhando, em espiral,
arremessando-se na direção de seu alvo.
Zev continuou a correr pelo telhado mesmo depois que atirou a estaca, descendo do
outro lado e depois pulando para o quintal. Ele pousou agachado bem no meio de um
formigueiro de lobisomens com a espada na mão, já extraindo outra estaca do cinto.
A estaca girou pelo ar de maneira reta e precisa, cravando-se profundamente no peito
do renegado que rasgava a barriga macia do dragão, atingindo o coração. O lobo ficou rígido,
caindo como uma pedra do céu. Gotas de sangue o seguiram de onde ele causou os ferimentos.
Zev lutou para atravessar a parede de lobos e chegar aos dois caçadores que lutavam
com as costas coladas, cercados pelas criaturas. Os dois estavam cortados, mordidos e feridos,
mas nenhum vacilava nem por um instante. Zev se juntou a eles.
— Tentem caminhar de volta pra casa. — Daciana gritou para eles.
Daciana e Joie cortaram entre os lobos e a porta dos fundos, cada uma vindo de um lado
diferente, apresentando uma frente única e uma barreira na entrada da casa. Destiny saiu pela
porta dos fundos para se unir a elas. Estava toda coberta de sangue.
Joie franziu o cenho.
— Você está bem?
— A maior parte desse sangue é de Gary. Ele está bem mal. Eu chamei Gregori, mas
duvido que ele chegue a tempo. — A voz de Destiny era amarga. — Shea está fazendo o que
pode.
O lobo diretamente à frente dela saltou, batendo em uma janela, quebrando o vidro. O
choro de uma criança veio de algum lugar lá dentro. Daciana saltou atrás do renegado caindo
de costas, levando-o ao chão. Ele era forte, colocando-se de pé rapidamente com as mãos e as
pernas, tentando tirá-la de cima de si.
— Para a casa. — Zev comandou os seus caçadores.
— Lykaon caiu. — gritou Daciana. — Canto norte.
Zev e os dois outros caçadores começaram a lutar agressivamente na direção do
companheiro falecido. Os dois outros Lycans também se dirigiram até o canto. Lykaon estava no
chão, mais morto que vivo.
Tatijana podia ver o sangue jorrando no ar e três lobos rasgando o corpo. Frustrada, ela
voltou a fazer círculos. Se os Lycans conseguissem chegar até a varanda, ela sabia que
conseguiria cuspir fogo suficiente que tiraria da luta os lobos restantes. Como eles lutavam com
tanta vontade, o bando acabou mantendo os caçadores afastados do companheiro morto.
Tatijana não conseguiu aguentar. Ela não ficaria ali, segura no céu, olhando enquanto
um dos guerreiros Lycan estava sendo dilacerado ou comido vivo bem debaixo do seu nariz. Ela
baixou voo rápido, juntando as asas próximas ao corpo para aumentar a velocidade na direção
do pátio. Havia árvores por perto e foi forçada a se transformar em pequenas moléculas e descer
até o Lycan abatido.
Ela se transformou novamente pouco antes de aterrissar, seu dragão soprando uma leva
de chamas vermelho alaranjadas para tirar os lobos quando pairou acima de Lykaon. Os lobos
que o dilaceravam pegaram fogo. O cheiro de carne e pelo queimado encheu o ar.
Tatijana estava extremamente vulnerável no chão. No momento em que os lobos saíram
de cima do corpo, ela recolheu o guerreiro com as garras frontais e decolou pelo ar com ele.
Uma dúzia de renegados saltaram nela. A maior parte atingiu as escamas e caiu, mas um se
atirou em suas costas e enfiou os dentes em seu pescoço — ou tentou — as escamas e espinhos
impediram que fizesse algum mal.
Ela teve que se esforçar muito para subir com o Lycan machucado em suas garras e o
lobo em suas costas. Dois mais tentaram agarrar sua calda, mas ela a sacudiu com força e eles
caíram. Outra vez, foi Zev que veio em seu auxílio. Ele atirou uma faca, e do mesmo modo que
a estaca, o arremesso foi feito com uma precisão mortal. O lobo grunhiu e caiu, fazendo com
que a subida ficasse mais fácil. Ela circulou, observando suas chances enquanto os Lycans
lutavam para chegar até a varanda.
Com tantos defensores, os poucos lobisomens que tinham tentado ganhar entrada na
casa abandonaram os pequenos confins do pátio. Tatijana encaixou Lykaon próximo ao corpo e
mais uma vez desceu, espalhando uma corrente de fogo pelo bando, ateando fogo à maioria.
Bem como no pátio frontal, os lobos queimando recuaram, rolando no chão para tentar apagar
as chamas enquanto os caçadores reapareciam e davam o melhor que possuíam para destruir o
maior número possível.
Tatijana aterrissou no pátio da frente, grata que Daciana e Destiny tivessem corrido para
recolher o Lycan abatido. Ela estava fraca, exausta e ferida. No momento em que se
transformou, seus joelhos quase cederam.
Destiny olhou para ela por cima do ombro enquanto ela e Daciana dividiam o peso de
Lykaon, carregando-o até a casa.
— Você está bem? Consegue andar?
Tatijana assentiu. Os lobisomens estavam fugindo, mas não estavam seguros. Quase
todos os defensores tinha se ferido, a maioria seriamente. Ela sabia que muitos membros do
bando de renegados esperariam para matar o máximo que conseguissem. Forçou suas pernas
estremecidas a funcionarem e chegou à varanda na mesma hora em que Gregori e Jacques
apareceram, assustando-a. Jacques estendeu imediatamente o braço para ajudá-la.
Os dois homens pareciam ter estado em uma zona de guerra. Estavam cobertos de
ferimentos e sangue, especialmente Gregori. Ela não entendia como ele ainda conseguia ficar
de pé. Tinha que estar sentindo muitas dores, mas só havia determinação em sua expressão.
Gregori abriu a porta da casa.
— Onde ele está?
Os feridos estavam deitados ou sentados, esperando pela atenção de Shea. Joie, Destiny
e Daciana começaram a ajudá-la a cuidar deles. Ela levantou os olhos no momento em que
entraram. Jacques ajudou Tatijana a se sentar em uma cadeira e foi imediatamente para perto
de sua companheira.
— Tudo bem? — perguntou Zev.
Tatijana assentiu.
— Perdi um pouco de sangue. Não estou nem de perto como o resto de vocês.
— Acabaram com a gente. — disse Zev com um suspiro. — O bando é enorme. Enorme
demais. Não faz sentido. — Ele olhou em volta da sala. — Onde está Fen?
Tatijana exalou lentamente.
— Eles nos atacaram em três locais diferentes. A princípio achamos que era só na
fazenda, mas depois quando descobrimos que o bando foi dividido em três, dividimos nossas
forças. Fen tem experiência lutando contra eles, então foi para o terceiro local.
Zev assentiu.
— Faz sentido. — Ele olhou em volta para os feridos. — E Gary? Ele salvou minha vida e
quero agradecê-lo.
Houve um silêncio curto e significativo. Shea olhou para Gregori e sacudiu a cabeça.
— Eu fiz o que podia. Ele está aguentando só para ver você.
Gregori entrou no quarto que Shea indicou. O ambiente cheirava a morte e a sangue.
Gabrielle, a irmã de Joie, estava sentada ao lado de Gary, segurando sua mão. Havia lágrimas
em seu rosto. Gary estava cinza, dor marcando cada linha de seu rosto.
Seus olhos encontraram os de Gregori.
— Você está horrível. — saudou Gregori.
Gary tentou um sorriso que não apareceu direito.
— Você também. — Até a voz não era mais a sua, mas só um fio.
Gregori ficou de pé ao lado de Gary, seus olhos prateados quase líquidos.
— Você aceitou nosso estilo de vida, meu irmão. Você é jaguar, o que significa que pode
se tornar um de nós.
Gary sacudiu a cabeça.
Gabrielle ofegou.
— Eu não entendo. Por que está hesitando? Gregori pode salvá-lo assim.
Gregori gentilmente retirou-a do lado do homem moribundo. Ele colocou a mão na de
Gary com muita delicadeza.
— Ele sabe que a perspectiva humana se perderá assim que se tornar Cárpato e até o
momento, essa perspectiva nos serviu muito bem. — Ele se ajoelhou ao lado de Gary,
aproximando-se mais. — Eu farei o que puder e te darei meu sangue, mas saiba disso, você é
meu irmão de sangue. Eu não perco meus irmãos de sangue facilmente. Se eu ver que isso não
vai funcionar, protestando ou não, vou convertê-lo. Entendeu?
Gary conseguiu assentir. Ele fechou os olhos e perdeu a consciência. Gregori afundou
no chão ao seu lado e rapidamente projetou o corpo para começar o trabalho de cura do homem
que foi mais um irmão para ele do que seus próprios irmãos biológicos.
Capítulo 11

Do seu ponto de vantagem acima da casa de Dubrinsky, Fen estudou cada detalhe com
cuidado. Havia uma sensação na montanha que o deixava desconfortável, mas ele não conseguia
dizer se era realmente alguma defesa, uma salvaguarda ou se os Sange rau já estavam à sua
frente. Ele permitiu que seus sentidos ampliassem, alcançando além dos limites que ele sempre
impôs a si mesmo.
Ser um Sange rau podia ser perigoso, cada vez mais ao se usar os seus incríveis dons.
Arrogância e superioridade eram traços traiçoeiros, pérfidos, que ameaçam cada fibra moral das
crenças de uma pessoa. Sem Tatijana para ajudá-lo a se manter firme, Fen sabia que as coisas
que tinha feito e que ainda faria naquele dia eram inerentemente arriscadas.
Cárpatos nasciam da terra. A maior parte dos seus meios de proteção eram tecidos de
coisas naturais e reforçados com feitiços dos magos quando as duas espécies se aproximaram.
Sempre havia rastros psíquicos. Ninguém podia se mexer ou respirar sem expelir alguma
energia, e Cárpatos eram muito bons em senti-la ou vê-la.
Lycans também nasciam da terra. As duas espécies resumiam as duas extremidades do
espectro. Eram predadoras, rápidas e ferozes. Apreciavam a batalha e as duas tinham desejo de
sangue. Por outro lado, eram leais e dedicadas aos seus companheiros e filhos. As duas espécies
colocavam a honra e a integridade em um degrau alto na sua lista de atributos. Elas estavam
dispostas a se sacrificar pelo melhor de suas espécies.
Ambas abraçavam a noite. Ambas liam o vento. E ambas eram dotadas de tremendos
poderes. Sempre houve um equilíbrio. Por mais dons que as duas espécies possuíssem, ambas
tinham fraquezas. Os Sange rau não possuíam tal equilíbrio e isso podia ser algo muito ruim.
Fen continuou a vasculhar a montanha atrás da casa de Dubrinsky, bem como a floresta
que e a clareira que a cercava. Ele se demorou, paciente como sempre. Muitas vezes na batalha,
o primeiro a se mover era o primeiro a morrer. Ele não enfrentava ninguém mais ninguém
menos do que dois Sange rau. Geralmente eram as pequenas coisas que davam a vantagem a
alguém. Sabia por experiência que a natureza falava com ele se simplesmente escutasse.
Sua conexão com a Mãe Natureza estava mais forte do que nunca e cada pequena
mudança do vento trazia a informação que ele podia não ter coletado. Pequenas nuances, mas
agora todas elas contavam tremendas histórias. Havia ondas correndo pelo chão na direção da
casa de Mikhail Dubrinsky. Ele podia vê-las como se fossem ondas correndo e fluindo no mar.
Em volta da casa propriamente dita, acima e abaixo das paredes de pedra e até mais
além da montanha onde a estrutura foi construída, milhares de símbolos e desenhos choviam
em espirais sem fim. Parecia-se com um código de computador, movendo-se e mudando
rapidamente. Seria impossível para um vampiro ou um Cárpato, até mesmo um Lycan, ler tais
símbolos tão rápido. Mas ele não era nenhuma dessas coisas, nem o inimigo que estava caçando.
Os Sange rau conseguiam processar aquilo bem rápido.
Espalhado pelo solo nos arredores da casa, em todas as direções, avistou distúrbios na
terra. Não tinha certeza se os via porque tinha o sangue misturado e sentidos mais aguçados,
ou se sua conexão com a Mãe Natureza fornecia aquela informação. De qualquer modo, as
armadilhas lhe eram reveladas e ele tinha que acreditar que também seriam reveladas aos seus
inimigos.
Outra pequena alteração no vento trouxe um cheiro que reconheceu imediatamente.
Dimitri. Está louco? Não pode vir aqui. Devia estar na terra, curando-se.
Irmãos mais novos eram o próprio diabo. Dimitri sempre fez o que queria, mesmo
quando criança. Ele era teimoso e decidia fazer as coisas. Não era como se já tivesse discutido.
Ele era quieto com respeito à sua teimosia. Ele simplesmente fazia o que achava que era o certo.
Achou mesmo que eu deixaria que você viesse aqui sozinho para enfrentar aquelas
máquinas de matar? Dimitri perguntou, ficando na ofensiva, o que era outro traço que se
lembrava de quando seu irmão era criança.
Dimitri se materializou do céu bem ao lado dele. Parecia pálido, quase translúcido, mas
tão durão e implacável como sempre. Quando Dimitri se decidia a fazer algo, era preciso um
milagre para fazê-lo mudar de ideia.
— Você nunca teve juízo mesmo. — Fen respondeu, mas secretamente estava orgulhoso
de Dimitri. Seu irmão era o tipo de guerreiro que encontraria uma maneira, não importava o
quanto estivesse ferido, de ir em seu auxílio, especialmente quando a luta parecia perdida. —
Sabe que teremos sorte se sairmos dessa vivos.
— Quando é que foi diferente? — Dimitri perguntou.
— Eles estão atrás do príncipe. — Fen destacou. — Esse lugar é uma armadilha mortal
para vampiros, mas não vai deter nenhum dos Sange rau. Se eu posso ver as armadilhas e os
mecanismos de segurança, eles também serão capazes de ver.
Dimitri estudou o chão abaixo.
— Por que? Também consegue ver as armadilhas?
— Não exatamente. Eu sei que existe algo no lugar. E sinto que a montanha está
estranha. Diferente. Parece que está viva, respirando sua vigilância em mim.
Fen pressionou os olhos com os dedos.
— Eu não confiei em mais ninguém para curá-lo apropriadamente. Devia ter permitido
que Tatijana desse o seu sangue. O meu é… contaminado. No decorrer dos séculos, partilhamos
sangue por tantas vezes...
— Seu sangue está ótimo. — disse Dimitri. Ele encolheu os ombros largos. — Eu sempre
soube que acabaria como você. Lycan e Cárpato.
— Os Lycans o condenarão à morte. Você sabe que tenho que me enterrar a
cada lua cheia para evitar ser detectado. E quanto à sua companheira? — Fen se virou para olhar
o irmão nos olhos. — Aquela mulher é a vidente mais poderosa que já encontrei. Ela atravessou
um continente inteiro para te curar. Não conheço muitos anciões poderosos que sejam capazes
de fazer isso.
Dimitri sorriu pela primeira vez.
— Ela é incrível.
— Mesmo assim você ainda não a reivindicou.
— O pai dela quer que eu espere até que ela tenha ao menos vinte e cinco.
Fen levantou uma sobrancelha e então se voltou para estudar a fortaleza Dubrinsky
atrás de sinais de que Abel e Bardolf já tinham se esquivado dos meios de proteção. Não
conseguia imaginar seu irmão vivendo seguindo as regras de outra pessoa.
— E você obedece isso?
— Skyler e eu temos um acordo. Quando estiver pronta, ela me dirá. Se não estiver com
vinte e cinco anos, bem, espero que o pai e o tio dela me deixem viver. — Só havia um leve traço
de humor na voz de Dimitri. — Ela foi adotada por Francesca e Gabriel Daratrazanoff.
Fen se virou para olhar chocado para o irmão.
— As lendas? Tipo Gabriel e Lucian Daratrazanoff? Eles estão vivos? E Gabriel é o pai
dela?
— Esse mesmo.
— Há alguma chance de que ele não goste muito dela? — perguntou Fen.
— Ele a adora.
— Claro que adora. — Apesar da situação perigosa em que estavam, Fen se viu sorrindo.
— Não devia se preocupar com essa lutinha que estamos prestes a ter por aqui, porque o papai
da sua mulher vai arrancar os seus membros um de cada vez.
— Não fique tão alegre. — Dimitri o empurrou. — Você é meu irmão. Devia ficar do meu
lado.
— Talvez sua única chance seja se tornar um Sange rau por completo. — Fen disse, meio
que falando sério. Ele indicou o lado leste da montanha que ficava atrás da casa com a cabeça.
— Vê aquilo? Uma sombra atravessando as fendas. Ele está se movendo bem rápido também,
mas permanecendo nas fendas e nas rachaduras. Aquele é Bardolf. Então, onde está Abel?
— Tem alguém acabando de sair da floresta. Parece que Gregori está aqui para defender
Mikhail. — Anunciou Dimitri. — Ali, ele parou e está olhando em volta. O homem sempre foi
cuidadoso no que diz respeito à proteção de Mikhail. Não estou surpreso que esteja aqui.
Fen não respondeu. Ele voltou a atenção para Gregori e para o campo minado em frente
a ele. Gregori era uma aquisição notável na guerra de qualquer um. Alto, com ombros largos e
um peito maciçamente musculoso, com seu cabelo preto comprido preso e seus estranhos olhos
prateados, ele parecia uma figura assustadora com suas roupas imaculadas e ar confiante.
Onde estava Abel? O Sange rau permitiria que o guardião de Mikhail saísse ileso?
Mikhail e Gregori tinham um laço poderoso. Juntos eles podiam destruir quase qualquer inimigo,
mesmo um de sangue misto se tivessem tempo para iniciar a soberania completa que exerciam
juntos. Abel saberia disso e moveria céus e terra para impedir Gregori.
Gregori caminhou em direção à casa. Só que não foi uma caminhada, ele flutuou,
evitando as armadilhas no chão. Ele desviou para longe da estrutura e avançou na direção da
montanha onde os fundos da casa foram construídos. Tinha que ser ali que Mikhail estava. Uma
montanha podia fornecer todos os tipos de segurança e de formas de fuga. Gregori foi direto
até a entrada e começou a desatar o complicado número de proteções para que pudesse entrar.
Fen se viu franzindo o cenho quando voltou o olhar para a figura sombreada de Bardolf
a algumas centenas de metros acima de Gregori. Ele devia ter saltado no guardião, mas ao invés
disso, ainda estava tentando fazer o caminho pelas fendas enquanto descia.
Tem algo errado, Dimitri, ele sussurrou na mente do irmão.
Alarme trovejava em seu sangue. Ele podia ouvi-lo soando em seus ouvidos. A batida do
seu coração aumentou ainda mais. Ele sabia que tinha alguma coisa errada.
Além da sombra que você já avistou, tudo está como devia. Havia uma pergunta no tom
de Dimitri. Se Fen dissesse algo, acreditaria nele, ele simplesmente não conseguia enxergar
nada.
É Gregori.
Dimitri estreitou os olhos e os focou no Cárpato. Ele me parece bem.
Exatamente. Ele não devia estar assim. Ele foi atacado na fazenda. Cruelmente.
Totalmente visado pelo bando. Ele foi todo rasgado. Ninguém, nem mesmo Gregori poderia se
recuperar tão rápido assim.
Então para quem estou olhando?
Ele tem que ser Abel. Fen apertou os braços do irmão com força. Bardolf é rápido. Você
não será capaz de matá-lo, mas faça o pior que puder o mais rápido que conseguir. Use tudo que
tem em seu arsenal e fique longe dele. Ele não é só um vampiro, mas também um lobisomem.
Fique vivo, irmão.
Dimitri agarrou Fen. Espero vê-lo inteiro quando isso estiver terminado.
Fen não podia se permitir pensar no seu irmão e no quanto ele se feriu. Dimitri era um
homem crescido, um guerreiro ancião que esteve em incontáveis batalhas. Ele era corajoso e
definitivamente habilidoso. Fen passou cada pedacinho de conhecimento que tinha sobre os
Sange rau ao seu irmão na esperança de ajudá-lo se alguma vez tivesse que enfrentar um. Dimitri
já tinha os sentidos aguçados, provando que Fen havia lhe dado uma boa dose do seu sangue
miscigenado. Agora estava nas mãos do destino.
Como praticamos. Exatamente como praticamos. Você sabe como fazer isso.
Dimitri assentiu. Como praticamos.
Fen tinha que confiar que havia preparado seu irmão para aquele dia. Ele saiu do
penhasco e se transformou, seu sangue Cárpato/Lycan mascarando toda a energia quando se
atirou ao céu para cair bem atrás de Abel exatamente quando as proteções desarmaram. Abel
entrou de maneira cautelosa na entrada da montanha. Ao fazê-lo, um Cárpato desceu pelo túnel
largo que guiava às entranhas da montanha para saudar o guardião do príncipe.
— Gregori, achava que estivesse na casa curando Gary. Esperávamos que ficasse com
ele.
Gregori não respondeu, mas continuou andando rapidamente na direção do Cárpato.
Fen o golpeou com força, a estaca de prata firme no punho, nas costas de Abel,
procurando o coração. O Cárpato correu pelo corredor para ajudar Gregori.
Abel, usando a enorme velocidade e força dos Sange rau, saltou, desalojando o punho
de Fen. Ele se virou e atacou, abandonando a fachada de Gregori, batendo o punho de maneira
agressiva no peito de Fen. Ao fazê-lo, seu focinho cresceu e ele cravou os dentes no ombro de
Fen, a pressão da mordida extrema, atravessando o músculo e chegando aos ossos.
Vikirnoff Von Shrieder se chocava com poucas coisas, mas o monstro que atacava não
era um vampiro comum. Ele passou pelas proteções complicadas como se elas nem estivessem
presentes. Ele se parecia e tinha o mesmo cheiro de Gregori. Cárpatos tinham um faro aguçado
e conseguiam distinguir pessoas apenas pelo cheiro do sangue, e Vikirnoff teria jurado que
falava com Gregori.
Ele nunca viu nada se mover tão rápido quanto os dois homens lutando no corredor.
Parecia estar assistindo uma cena de luta acelerada pela televisão. Mãos e pés mudavam de
posição, os dois oponentes batiam nas paredes de pedra e no teto alto sem que nenhum cedesse
nem o mínimo. Ele não poderia ajudar. Não havia como atirar uma arma, eles se moviam rápido
demais.
Mikhail, está vendo isso? Vikirnoff nunca teve medo de uma luta, nem mesmo ao
enfrentar um vampiro máster. Ele sempre achou que era páreo para o seu oponente. Era um
lutador habilidoso e lutou por séculos, mas nunca na vida viu oponentes como aqueles.
Acredito que esteja vendo os verdadeiros Sange rau dos quais Fen nos falou. Mikhail
estudou os dois combatentes. Ele tinha razão em dizer que nunca enfrentamos um inimigo como
esse. A voz de Mikhail tinha pouca inflexão. Ele apenas declarava uma verdade.
Vikirnoff pegou o arco e uma flecha prateada. Todos estavam armados contra um
ataque do bando de renegados. Ele duvidava que pudesse atirar a flecha onde ela pudesse servir
de algo, mas caso o monstro passasse por Fen, estava determinado a ficar entre ele e o príncipe.
Mikhail, ele tinha uma imagem perfeita de Gregori de todos os modos. Ele tinha até o
cheiro do sangue de Gregori. E passou pelas proteções como se elas nem existissem.
Claramente as nossas proteções são para vampiros e não para este novo inimigo. Outra
vez, o tom do príncipe era direto. Ele tinha que saber que os Sange rau vieram atrás dele, mas
parecia mais interessado em estudar o modo como a criatura lutava. Eles são quase rápidos
demais para se conseguir acompanhar.
Natalya. Vikirnoff contatou sua companheira. Ela estava no corredor mais além, mais
perto do príncipe, esperando só em caso algo passasse pelo seu companheiro e colocasse o
príncipe em risco. Não tente lutar com essa criatura se ela passar por mim.
Se ele passar por você isso quer dizer que não está mais nesse mundo, ela respondeu. Eu
terminarei meu dever e defenderei o meu príncipe, assim me juntarei a você o mais rápido
possível.
Nenhum de vocês vai sacrificar suas vidas inutilmente, decretou Mikhail. Se ele passar
por Fen, afastem-se e vamos ver se alguma proteção que temos funciona contra ele. O sol está
subindo no céu. Certamente até os Sange rau se afetam como nós. Afinal, ele é um vampiro,
raciocinou Mikhail.
A luta entre Abel e Fen aumentou. Nenhum dos dois parecia estar em vantagem e ambos
ostentavam ferimentos terríveis, mas isso não os desacelerava. Lutas piores acabavam em
questão de minutos, mas os dois pareciam providos da energia física necessária para
continuarem a luta indefinidamente.
— Junte-se a mim, Fenris Dalka. Pode ver que somos uma raça superior. Podemos
comandar os lobos, bem como o povo Cárpato. Os humanos serão nosso rebanho. Você morrerá
aqui defendendo uma espécie que deveria estar extinta. — Abel propôs quando eles se
separaram.
O sangue fluía livremente dos dois. Abel passou a mão no peito e lambeu os dedos,
sorrindo ao fazê-lo.
— Tentar adiar as coisas não é uma boa ideia, Abel. Se está esperando que Bardolf se
junte a você, esperará um bom tempo. — disse Fen.
O sorriso deixou o rosto de Abel. Seus olhos ficaram inteiramente negros. Fen não
esperou pelo ataque, mas se jogou rápido, indo baixo, derrubando o Sange rau. Ele cravou-lhe
forte com a estaca de prata, errando o coração, mas abrindo outro buraco no peito de Abel.
Sangue se derramou, com sorte enfraquecendo-o mais.
Abel rolou, as pernas se prendendo em volta de Fen quando ele se ergueu e o esmagou
no chão duro, tentando tirar o ar dos seus pulmões. Quando ele forçou Fen no chão, a pedra
dura debaixo deles criou estacas afiadas. Fen grunhiu ao aterrissar de costas, as estacas
entrando fundo. Tão rápido assim, as estacas se dissolveram, embora o dano tenha sido causado
às costas de Fen. Ele girou, golpeando o punho nas costelas de Abel. O som de osso quebrando
foi audível.
Quando Fen voltou a se levantar, Vikirnoff pôde ver o sangue saindo de furos profundos
em suas costas. Assim que teve certeza de que ele perderia tanto sangue que o cruzamento de
vampiro/lobo ganharia vantagem apesar das costelas quebradas, os ferimentos nas costas de
Fen pareceram se fechar e o sangue parou de fluir.
Abel e Fen se chocaram novamente, desta vez Fen girando Abel para esmagá-lo de
frente na lateral do túnel. As paredes do túnel formaram cristais grossos, milhares aparecendo
na rocha. A montanha estremeceu. A força que Fen usou para atirar Abel na parede foi tão
enorme que os cristais se quebraram em milhares de pedaços afiados.
Abel se jogou para trás, batendo a cabeça na testa de Fen. Fen recuou cambaleando,
dando a Abel espaço para se virar. Seu rosto era uma máscara de ódio e sangue. Fen parecia
tranquilo e confiante, sem expressão, nem de raiva nem de dor. Os dois se moviam com uma
velocidade de tirar o fôlego, Fen disparando vários socos rápidos no rosto de Abel, enfiando
mais os cristais em sua carne a ponto de forjar em Abel uma máscara de pedras preciosas
ensanguentadas.
Os dois combatentes se moviam tão rápido que Vikirnoff se achou de pé a alguns metros
de distância, arco na mão e boca aberta. Eles não só formavam um borrão, mas também
mudavam a paisagem ao seu redor em armas tão rapidamente que ele mal conseguia ver. Tão
rápido quanto um criava uma arma, o outro a neutralizava.
Virknoff, afaste-se. Você e Natalya unam-se a mim.
Vikirnoff hesitou. Ele tinha um propósito naquele momento — proteger o príncipe.
Tinha sido designado para aquela posição pelo guardião primário do príncipe…
Agora. Vocês podem me servir melhor se estiverem posicionados depois das proteções.
Havia uma ordem em sua forma pura no tom de Mikhail. Vikirnoff abandonou a sua
posição e fez o seu caminho às pressas pelo corredor até o príncipe. Natalya se juntou a ele. Os
dois ainda conseguiam ver a luta furiosa que ocorria.
Mikhail derrubou a última e mais complicada de suas proteções para permitir que
Natalya e Vikirnoff passassem. Ele imediatamente as reergueu, o tempo inteiro observando a
batalha feroz dos dois Sange rau.
— Fen está recuando lentamente o seu oponente. Devagar — Mikhail assinalou —, mas
ele claramente está tentando tirá-lo debaixo da montanha. Também há uma perturbação lá fora.
Consigo sentir uma segunda luta acontecendo.
— O homem lutando com Fen é Abel, um ancião. Creio que ele tem ligação com a nossa
família de algum modo. — disse Vikirnoff. — Demorei alguns momentos para reconhecê-lo.
A montanha estremeceu novamente quando Fen e Abel se chocaram contra o teto.
Estacas enormes de um prata derretido brotaram das paredes, queimando o corpo de Abel por
todo lugar. Abel gritou de dor. Fen pulou nele instantaneamente, cravando uma das estacas
profundamente em seu peito usando o punho. Ele agarrou os ombros de Abel e o tirou do
corredor, de volta até a luz da manhã.
— Posso entender porque os Lycans proibiram a mistura de sangue entre eles e os
Cárpatos. — Mikhail pensou em voz alta. — Parece não haver meios de contê-los. Abel não
diminuiu o ritmo, nem mesmo quando foi perfurado por estacas de prata.
— Sinto que devíamos ajudar Fen. — disse Vikirnoff. — Mas não sei ao certo como
podemos fazer isso.
Pela primeira vez soube o que Mikhail, como príncipe do povo deles, devia sentir quando
não podia participar de uma luta. Cárpatos eram guerreiros. Não estava em sua natureza ficarem
sentados olhando enquanto outros lutavam, especialmente se essa pessoa fosse um dos seus.
Ele nunca considerou como Mikhail realmente se sentia quando era relegado a ficar de lado,
sempre tendo o seu povo disposto entre ele e o perigo.
Vikirnoff sabia que ele era a última proteção do príncipe, mas ainda assim, tudo em seu
corpo, mente e até na alma precisava estar lá fora ajudando Fen. Sentia-se covarde, agachado
atrás de uma proteção enquanto outro caçador estava lá fora sozinho enfrentando uma
máquina de matar.
— Você só atrapalharia. — assinalou Mikhail, lendo a sua mente. — Ele não pode cuidar
de você e lutar com esse monstro. Além do mais, parece que Fen também é uma máquina de
matar.
Vikirnoff assentiu. Natalya foi para o seu lado, para perto, sem tocá-lo, mas oferecendo
conforto, completamente ciente de sua frustração. Ele agradecia a ela. Não podia evitar se sentir
melhor quando ela estava por perto.
— Ainda assim, deve haver algo que possamos fazer para ajudá-lo.
— Ele precisará de sangue. — indicou Mikhail. — Os remendos que aplica quando Abel
o rasga parecem ser temporários.
— Gregori precisa ver isso.
— Ele está ocupado no momento tentando garantir que não venhamos a perder Gary,
mas vou passar a ele tudo sobre que observamos sobre os Sange rau.
Fen tinha ciência do desconforto dos seus amigos Cárpatos, mas estava agradecido por
terem usado o bom senso para não se juntarem à batalha. Não poderia cuidar deles nem
antecipar os movimentos de Abel e reagir ao mesmo tempo. Parte dele já estava engajada na
batalha que acontecia do lado de fora.
Lá em cima, os claros raios matinais tinham sumido, substituídos por uma feroz
tempestade. Nuvens negras se amontoavam e se agitavam no céu, um caldeirão gigante de uma
natureza em ebulição. Raios brancos enfeitavam as extremidades das nuvens, brilhando e
formando faíscas, garfos enormes enchendo as nuvens escuras de veias. Poucos eram melhores
que Dimitri em criar uma tempestade gigantesca.
Um chicote de raio atingiu o lado da montanha, caindo bem em uma fenda estreita.
Centelhas subiram e Bardolf gritou. Ele saltou no ar, furioso que Dimitri o tivesse atingido
novamente com o chicote de raio. Uma vez já era bem ruim, mas o caçador Cárpato estava
jogando um jogo de atacar e fugir. Dimitri havia planejado a raiva. Fen o aconselhou que Bardolf
não possuía o mesmo controle de Abel.
Posso ver por que serve a um senhor, provocou Dimitri.
Ele se transformou em forma de um pequeno falcão, passando pelos galhos da copa alta
da floresta, garantindo que ficasse perto da beira do prado, na certeza de que ordenaram que
Bardolf ficasse perto do túnel para evitar que qualquer Cárpato interferisse.
Eu não sirvo a ninguém. Bardolf explodiu pelo céu atrás do pequeno falcão. Ele escolheu
a forma de uma águia enorme, garras tão grandes quanto as de um urso. Ele era rápido, muito
rápido e o alcançou relativamente depressa.
Dimitri e Fen jogaram inúmeros jogos de guerra nos últimos séculos, e Dimitri usou as
mesmas táticas que tiveram sucesso com o seu irmão. Ele aumentou o tamanho dos galhos, e
desta vez transformou as folhas em espinhos. O falcão menor era capaz de desviar pela densa
folhagem, mas a águia maior bateu nos galhos, os espinhos atingindo as asas e o corpo do
pássaro.
Um pouco lento para um Sange rau você, não? Provocou Dimitri.
Vampiros e lobisomens definitivamente possuíam egos bem grandes. Irritar Bardolf era
uma boa tática, pois se ele ficasse fulo da vida, poderia cometer erros. Dimitri foi treinado
durante séculos na luta contra os Sange rau. As sessões práticas com Fen podem ter sido jogos,
mas ele aprendeu o que funcionava e o que não funcionava. Ele não era rápido, mas seus truques
só funcionariam uma vez, o suficiente para ferir seu oponente, e com sorte deixá-lo mais lento.
O grito de Bardolf ecoou pelas árvores quando o corpo da águia caiu, sangrando em
vários locais. Penas flutuavam até o chão, mas Bardolf se recuperou no meio do caminho,
transformando-se em uma coruja menor e indo mais uma vez na direção de Dimitri.
Dimitri esperou até que estivesse perto e o atingiu com uma corrente descendente de
ar repentina, mandando a coruja em direção ao chão. Bardolf caiu rápido. Ao atingir a terra, o
solo se elevou para encontrá-lo. A queda foi forte.
Dimitri riu deliberadamente, cutucando-o outra vez. Achei que você fosse um alfa, um
líder do bando. Não voa muito bem, voa?
Bardolf gritou, um som feroz que fez as árvores estremecerem. Ele se atirou novamente,
desta vez atingindo Dimitri diretamente, transformando-se ao fazê-lo, chocando-se com o
Cárpato antes que Dimitri pudesse se mover, garras rasgando fundo seu peito e barriga.
Dimitri saiu debaixo dele no momento em que Bardolf recuou para deferir um novo
ataque. Bardolf tentou agarrá-lo, mas suas mãos pegaram o ar. Dimitri não podia permitir que
o Sange rau o capturasse de fato. A ideia era atacar e correr, não ser pego. Ele foi um pouco
lento e pagou o preço por isso. Bardolf foi tão rápido que cortou o corpo de Dimitri em dúzias
de lugares antes que ele pudesse se transformar.
Ele se tornou pequenas moléculas, e ao invés de fazer o que Bardolf antecipou que faria,
pegou-se às roupas do Sange rau, permitindo que o lobo/vampiro o levasse em direção à
tempestade onde esperava que ele estivesse. Bardolf farejou, seu aguçado olfato dizendo que
Dimitri estava por perto, mas não conseguia encontrá-lo nas nuvens tortuosas.
Dimitri praticou o movimento com o irmão centenas de vezes, mas não estava ferido
nessas ocasiões. Sangue não pingava de seu corpo para que a sua posição fosse revelada. Ele
não tinha muito tempo para controlar o sangue e para conseguir se soltar de Bardolf. À sua
frente, ele teceu quatro feixes diferentes e os soltou na tempestade, forçando o lobo/vampiro
a escolher qual deles seria Dimitri.
Bardolf mordeu a isca, hesitando por um momento, usando a sua visão elevada para
tentar escolher o elemento que ele acreditava ser o seu oponente Cárpato. Ele decidiu e voou
até o feixe que ia na direção da abertura da montanha. Dimitri o abandonou, movendo-se até
uma nuvem escura e em expansão, recuperando o fôlego e preparando o que faria em seguida.
O Sange rau mudou de direção de repente como se tivesse sido convocado. O pulso de
Dimitri acelerou. Fen? Tudo ok? Bardolf está indo na sua direção e bem rápido.
Pode detê-lo? Atrasá-lo?
Seu irmão tinha o mesmo tom de sempre. Direto. Mas Dimitri tocou sua mente por um
momento. Havia dor. Exaustão. Perda de sangue. Sem problema. Vou agir agora.
Dimitri estudou a trajetória do lobo/vampiro que se lançava de maneira descuidada na
direção do seu mestre. Eu sua pressa de obedecer, Bardolf esqueceu o jogo de gato e rato que
estavam jogando, dispensando Dimitri como uma coisa sem importância. Afinal, Dimitri não
tinha realmente lutado com ele.
Dimitri usou a tempestade que criou. Superaquecer um bolsão de ar era bem fácil.
Colocá-lo exatamente no local em que Bardolf escolheria voar era a parte mais difícil, mas
Dimitri passou vidas correndo com os lobos. Os verdadeiros. Ele passou tempo com o seu irmão,
que se tornou um Lycan.
Bardolf pensava primeiro como lobo. Ele se sentia confortável assim. Era familiarizado
com essa condição e parecia hesitar antes de usar os dons que o seu sangue de vampiro tinha
lhe concedido. Dimitri também pensava como um lobo. Ele havia vivido com eles durante
séculos e estudado o seu comportamento. Bardolf se sentia confortável em um bando. Ele lutava
em bando. Lutar sozinho era algo completamente desconhecido para ele.
Seu mestre só perpetuou aquela fraqueza com o intuito de evitar que o lobo quisesse
usurpar sua liderança. Bardolf iria direto ao seu alfa, tomando a primeira linha de voo para
obedecê-lo. Dimitri escolheu um ponto bem à frente do lobo/vampiro e criou o calor abrasador.
Bardolf passou pela pequena seção e gritou quando o calor escaldante queimou sua pele.
Bardolf recuou, desesperado para se afastar do calor que o queimava. Dimitri saiu em
explosão do céu atrás dele, mirando-o. A força do choque dos dois numa velocidade daquelas
ajudou a enfiar a estaca profundamente nas costas de Bardolf. Dimitri soube imediatamente
que não atingiu o coração. Alguma coisa deve ter alertado o Sange rau porque no último
momento ele se virou de leve, o suficiente para alterar a mira de Dimitri.
Bardolf se virou, as garras rasgando o rosto de Dimitri, empurrando-o a ponto de fazê-
lo tropeçar. Antes que ele pudesse se transformar, Bardolf estava em cima dele, rasgando sua
barriga, tirando a estaca de prata do corpo e segurando-a na palma da mão, mudando-a de
direção e cravando-a com força em Dimitri.
Dimitri se contorceu com força, tentando apresentar o menor alvo possível. A estaca
entrou alto em seu ombro. A força do golpe de estaca de Bardolf fez com que ela atravessasse
e deixasse um buraco largo pelo caminho. Bardolf imediatamente perseguiu o Cárpato ferido,
aproveitando sua vantagem. Dimitri suspeitou o tempo todo que estava perto de se tornar um
Sange rau, e a terrível e incansável queimação da prata confirmou isso.
Dê o fora daqui! Fen gritou com urgência, vendo seu irmão cair do céu, um jato de
sangue cercando-o e o Sange rau descendo atrás dele.
Fen havia atirado Abel do túnel e na campina onde ele sabia que as armadilhas que
Gregori preparou para um vampiro estavam à espera. Ele contava com o sol, mas a tempestade
acima impedia que os raios danosos alcançassem Abel. Ele tinha uma escolha — aproveitar sua
vantagem — ou ajudar seu irmão. Ele estava protegendo o príncipe e essa teria que ser sua
prioridade…
Ele esmagou o rosto de Abel com os pés, enfiando ainda mais os cristais na pele. Abel
caiu para trás em uma fina rede de prata. Fen se lançou ao céu, interceptando Bardolf antes que
o Sange rau pudesse chegar ao seu irmão.
Fen era mais rápido e muito mais habilidoso. Ele era Sange rau há séculos, muito antes
de Bardolf, e já era um caçador Cárpato ancião. O lobo não se sentia confortável no céu no meio
de uma tempestade violenta, mas Fen se sentia em casa. E estava protegendo o seu irmão. Mais
ainda, sentia-se agressivo com relação a Bardolf, até mesmo furioso por ele ter ousado tentar
matar Dimitri. Essa emoção nunca se apresentou a ele em uma batalha.
Ele atacou Bardolf com força, esmagando-o com a pressão do ar juntamente com a força
física. Bardolf atingiu o chão e rolou, tentando se colocar de pé quando Fen aterrissou em cima
dele.
Dimitri, saia daqui agora. Precisa de sangue rápido. Seu tom não permitia discussões.
De qualquer modo, Dimitri tinha uma companheira. Ele não jogaria a sua vida fora e também
estava ferido demais para ser de ajuda.
Fen enfiou uma estaca no corpo de Bardolf quando caiu em cima dele de pernas abertas,
prendendo-o ao chão. Mesmo assim, a imensa força do corpo de Bardolf tanto lobo quanto
vampiro se revelou, permitindo que ele mais uma vez evitasse a estaca no coração. Ele sangrava
em vários lugares, mas ainda conseguiu se evadir da estaca mortal de prata.
Ele se transformou voltando ao seu lobo, rasgando o corpo de Fen e mordendo sua coxa
com força, quase chegando ao osso, recusando-se a soltar, puxando os músculos e tendões,
determinado a chegar à artéria. Praguejando, Fen não teve escolha a não ser soltá-lo. Bardolf
imediatamente se transformou novamente, arremessando-se no ar com a velocidade de um
cometa para longe do campo de batalha, com autopreservação vindo em primeiro lugar em sua
mente. Ele abandonou seu mestre, fugindo para salvar a própria vida, deixando para trás uma
trilha de sangue no céu.
Fen tinha que escolher segui-lo ou voltar e impedir Abel. Todas as células do seu corpo
queriam seguir Bardolf por ousar encostar uma mão em seu irmão, mas honra e dever exigiam
que ele protegesse o príncipe. Com outro rosnado e palavrão, voltou ao túnel. Ele pôde ver o
sangue que Dimitri deixou ao passar. Ele poderia obter o sangue de Vikirnoff ou de Mikhail e
ainda ajudar a defender o príncipe. Aquele era o seu irmão. Sempre escolhendo o caminho certo
apesar do perigo para si mesmo.
Dimitri parou ao passar por Abel. Se estivesse se sentindo cem por cento teria tentado
lutar mais com o Sange rau, mas ele perdeu muito sangue e a rede de prata claramente não
seguraria Abel por muito tempo. Fen teria que se livrar dele logo. O melhor que Dimitri podia
fazer para ajudar seu irmão era extinguir a tempestade para que o sol pudesse passar e ajudar
a guardar o príncipe.
Ele mandou o recado de que chegaria logo e que precisaria de sangue. Não queria ser
pego pelas armadilhas dispostas para vampiros ao correr pelo túnel dos fundos da caverna.
Mikhail baixou as proteções e imediatamente ofereceu o pulso. Dimitri não hesitou. O sangue
de Mikhail era poderoso e ajudaria em sua cura.
Tanto Vikirnoff quanto Natalya começaram a cuidar dos seus ferimentos, tentando parar
a vazão do precioso sangue. Ele não havia percebido a quantidade de lacerações profundas que
Bardolf conseguiu infligir no breve encontro que tiveram.
— Você é meio louco. — Vikirnoff disse. — Sabe disso, não sabe?
— Ele está vindo. — anunciou Mikhail.
Dimitri quase parou de beber o sangue, mas Mikhail indicou que continuasse.
— Precisamos de você o mais forte possível.
Dimitri educadamente sorveu um pouco mais de sangue e então fechou o ferimento no
pulso do príncipe. Ele observou Abel se aproximar. O vampiro parecia péssimo. Cristais
ensanguentados cobriam sua face, criando uma máscara grotesca. Seus olhos pareciam negros,
cercados por um vermelho fogo e não branco. Estava coberto de sangue. As veias saltavam de
modo impressionante na pele exposta. O padrão da rede, por mais fina que fosse, deixou marcas
em sua pele deixando-a cheia de cruzes.
Ele caminhou para o lençol de resina que o impedia de alcançar o príncipe e esmagou o
punho na placa. A montanha tremeu. Terra e rocha caíram do teto. Mikhail nem ao menos
piscou. Ele ficou ereto, os olhos escuros encarando os de Abel. Parecia completamente
confiante.
Vikirnoff e Natalya chegaram perto da resina fóssil, tão carentes de expressão quanto o
príncipe. Nenhum dos dois estremeceu quando Abel começou o complicado processo de
desarmar as proteções. Ele o fez com uma velocidade impressionante, provando que podia
enxergar o código. Pouco trabalhou nas complicadas proteções que teriam impedido até um
vampiro mestre. Em seguida, começou a raspar sistematicamente o grosso lençol de resina. A
resina se prendia às suas garras e focinho quando ele se inclinou para ajudar com os dentes.
Ainda assim, conseguiu um bom progresso.
Dimitri viu seu irmão se materializar bem atrás de Abel, socando mais uma vez nas costas
do Sange rau. Claramente, Abel esteve tão focado em raspar a resina que não detectou a
aproximação de Fen. Sua boca se arreganhou em um grito silencioso, sangue escorrendo dela.
Ele se transformou imediatamente, seu corpo estremecendo e contorcendo ao fazê-lo, tentando
desalojar a estaca.
Fen voou atrás dele quando Abel abandonou o túnel e emergiu no sol da manhã. Seus
gritos agudos ressoaram pela caverna, derrubando mais cristais, terra e pedras. Os entulhos
caíram em Fen, esmagando-o no chão do túnel. Várias pedras enormes caíram ao redor do seu
corpo. Ele ficou preso só por um momento, antes de dissolver as pedras e ir atrás de Abel. O
cheiro de carne queimada era inconfundível. Abel ultrapassou os seus limites saindo lá fora, no
sol.
Ele foi embora, Fen, disse Mikhail. Você precisa de sangue e cuidados. Dimitri precisa da
terra.
Os dois ainda estão vivos. Fen ficou profundamente decepcionado por não ter matado
ao menos um deles.
Aprendemos mais do que poderíamos ter esperado. Você e Dimitri enfrentaram os dois
e ainda estão vivos. Eles não são invencíveis. Volte e deixe que cuidemos dos seus ferimentos. O
sol está nascendo e logo precisaremos nos enterrar.
Fen suspirou. Ele podia sentir a fraqueza e exaustão de Dimitri. A companheira de
Dimitri, Skyler, ficaria bem brava com ele muito em breve se não cuidasse melhor de seu irmão.
Mikhail tinha razão, os dois precisavam ir pra terra e permitir que a Mãe Natureza os curasse.
Ele tomaria agradecidamente o sangue do Cárpato ancião para ajudar a curar seus ferimentos.
E tinha a intenção de dar mais do seu sangue mestiço à Dimitri. O Lycan o curaria em uma
velocidade muito maior.
Ele franziu o cenho olhando para o céu por alguns segundos e depois voltou para se
juntar aos outros.

Capítulo 12

A caverna dos guerreiros era o lugar mais sagrado que o povo Cárpato tinha. Fen tinha
vindo aqui apenas algumas vezes em sua mocidade, e o poder das cavernas podia ser sentido
profundamente, mais ainda agora. Caminhou com Dimitri de um lado e Tatijana do outro por
uma série de pequenas cavernas, cada vez descendo mais fundo na terra. O tempo todo eles
moviam-se para os túneis mais abaixo, naquele grande labirinto de cavernas e câmaras ele
sentia a majestade absoluta do lugar.
Poucos podiam aguentar o calor nas cavernas mais abaixo. Cárpatos podiam controlar a
temperatura do corpo, assim eles eram imunes ao calor abrasador, mas poucas outras espécies
encontravam seus caminhos para o ambiente. A caverna pelo qual eles seguiam tinham fluxos
cristalinos pendurados dos tetos altos. Em cima as formações pareciam como grandes lustres,
alguns com longas franjas brancas como obras-primas da natureza.
Fen não esteve em muitas catedrais, mas em suas viagens viu algumas, e a série de
câmaras subterrâneas pelo qual se movia, intacta, intocada, a arte natural da própria natureza,
parecia igual a muitos ou mais lugares de adoração.
Grandes colunas esculpidas e bonitas, estalactites e estalagmites, agrupavam-se em
vários tons coloridos formando uma selva, enquanto eles se aprofundavam.
Tatijana tropeçou algumas vezes na superfície irregular, ocupada em olhar com
admiração ao redor.
— Eu vivi em cavernas de gelo e nunca pensei que alguma coisa pudesse ser mais bonita,
mas isto é incrível. — Ela sussurrou.
Fen achou isto interessante quando falado, todos eles, até mesmo os guerreiros durante
uma reunião, tendiam a abaixar as vozes por respeito à natureza primitiva.
— Conforme formos mais abaixo, é ainda mais bonito. — Ele confidenciou.
Eles caminharam para outra longa câmara, de quase cento e vinte longos metros e com
a largura quase preenchida com mais colunas drapejadas, com várias cores e piscinas rasas
brilhantes que refletiam de volta os surpreendentes fluxos cristalinos e as esculturas os
cercavam.
Fen reconheceu que parte da mística da caverna dos guerreiros era esta longa
caminhada para obter a entrada. Quanto mais profundo na terra se ia, mais eles sentiam-se em
casa. Eles eram criaturas da noite. Lugares como este labirinto volumoso de cavernas, parecia
parte deles.
Eles viajaram mais abaixo dentro do calor. A princípio, Tatijana se esqueceu de regular
sua respiração e temperatura do corpo, estava tão ocupada olhando fixamente com admiração
nas cortinas e tapeçarias, todas as diferentes cores, algumas translúcidas e algumas escuras com
impurezas construídas de calcita. Franjas longas davam a ilusão de mantos cuidadosamente
tecidos enquanto outras esculturas pareciam ser capas ou cachecóis. Em cima e soltando
próxima à parede como grandes cobertas, estavam longas e largas esculturas de pedra de tirar
o fôlego, que fluíam de forma que a câmara inteira parecia com um teatro com cortinas
espessas, intrincadas.
— Como você pôde não vir aqui todos os dias, apenas para olhar para isto? — Tatijana
perguntou. — Minha forma é um dragão azul, então preciso de águas mais frias, mas Branislava
estaria totalmente encantada com isto. Não que eu não esteja. É tão bonito, mas tenho que
continuar lembrando de manter minha temperatura regulada.
Fen trouxe suas mãos unidas até seu rosto, e esfregou as mãos dela na sua mandíbula.
— Sua pele é sempre tão fresca sívamet. Não importa o quão quente fique nestas
cavernas, sua temperatura permanece bastante fresca. Acho isto... — Ele esperou até que os
olhos dela encontrassem os seus. Sensual.
Tatijana riu suavemente.
— Você é um paquerador, homem lobo.
Dimitri gemeu.
— Já chega disto. Minha mulher está muito longe para que eu ouça este tipo de conversa
de você dois.
Aquilo distraiu Tatijana imediatamente.
— Ela é tão poderosa! Não pude acreditar em sua força. Nunca experimentei realmente
aquele tipo de poder curativo à distância de qualquer outra pessoa. E ela é tão jovem. Uma
criança realmente.
— Em anos Cárpatos, uma criança, sim. — Dimitri disse. — Em termos de anos humanos
e pelo que passou, ela está anos à frente.
— Seja qual for o caso, ela é incrível. Mal posso esperar para conhecê-la. — Tatijana
estreitou os olhos. — O que significa que você não pode chegar perto do Sange rau novamente,
de jeito nenhum. Isto levou a todos nós para curá-lo da primeira vez, junto com a Mãe Terra.
Fen quase drenou todas as gotas de sangue do corpo dele substituindo o seu. E agora, o mesmo
neste momento. Três dias no chão e mais sangue...
— Ei, todos levamos alguns dias para nos curarmos. — Dimitri protestou.
Tatijana deu-lhe um sorriso faiscante.
— Talvez alguns de nós curemos mais rápido do que outros.
— Talvez você pense que está a salvo, irmã de sangue, porque meu irmão fodão está
cuidando de você, mas ele não é tão durão.
Ela riu suavemente.
— Você é tão louco quanto seu irmão, não é?
Dimitri e Fen trocaram um longo olhar satisfeito.
Eles estavam chegando ao fim do longo teatro. As tapeçarias tornaram-se apenas mais
complexas e translúcidas. Os sorrisos no rosto deles enfraqueceram, deixando-os todos sóbrios.
Houve uma mudança na sensação das cavernas. Onde antes se sentiam como em uma série de
catedrais inspiradoras, a atmosfera os cercando quando se aproximavam mais do lugar sagrado
— a caverna dos guerreiros, tornou-se muito mais densa.
Eles adentraram a passagem desgastada com séculos de idade, esculpida pelos seus
antepassados, para a pedra lisa onde os pés tinham trilhado ao longo de tanto tempo. Não havia
dúvida de que era um pouco como voltar no tempo. As estalagmites e estalactites estavam em
todos os lugares, pendurando do teto e brotando para cima do chão. A circunferência das bases
era enorme, e havia muitas de vários tamanhos e cores. Cada uma foi esculpida e pareciam
rostos de cima abaixo na pedra, como se fosse um totem esculpido a mão, em lugar de
confeccionado pela natureza propriamente dita.
Tatijana parou dentro da câmara e olhou desconfiada ao redor. O silêncio opressivo era
muito diferente das outras cavernas. Nem mesmo os três charcos de água a fizeram sentir-se
melhor. Um era cristalino, forrado com pedras e parecia fundo e frio, quase um gelo azulado. O
segundo charco emitia uma nuvem de vapor e estava ligeiramente tingido de vermelho
alaranjado. O terceiro borbulhava com lama.
— As estalagmites e estalactites costumavam sussurrar quando entrávamos. — Fen
disse. — Nossos antepassados nos saudavam. Pergunto-me quando isso parou.
— Eles sussurraram na última vez em que estive aqui. — Dimitri disse.
No momento em que Fen entrou na câmara teve a sensação de ser pesado, julgado, não
pelos poucos vivos que estavam reunidos, mas pelos mortos, cujos espíritos se reuniram em
todas as reuniões. A presença de seus ancestrais, guerreiros idos há muito tempo do mundo,
era pesada lá naquela câmara. O fato de que eles não os saudaram parecia de mau agouro.
Tatijana apertou os dedos ao redor dos de Fen.
— Não gosto de sentir isto. — Ela sussurrou. — Eles sabem o que você é, e alguns deles
parecem antagônicos. Nós devíamos nos certificar de termos um plano de fuga.
Fen olhou para ela. Havia genuína preocupação em sua voz. Ele estava um pouco
preocupado sobre o resultado desta reunião, mas estava certo de que não tinha passado isto
para sua companheira.
Ela pegou um ponto, Fen. O ar é pesado aqui. Dimitri disse a ele. Com julgamento.
Fen não podia dizer que os dois não tinham um ponto, mas não queria que Tatijana se
preocupasse. Estava agradecido por Dimitri usar seu caminho telepático privado.
— Eles conseguiram seus traseiros chutados regiamente. — Fen disse. — Estão
acostumados a estarem no topo da cadeia alimentar. Não estão muito felizes por descobrirem
que têm um inimigo lá fora que é apenas um pouco mais rápido que eles.
— Você quer dizer, superior a eles quando se trata de combate. — Tatijana corrigiu. —
Você é um daqueles Sange raus que pode chutar o rabo deles. Acha que todos eles não estão
cientes disto? Eles se ressentem, Fen. Os egos podem ficar fora de controle.
Fen balançou a cabeça.
— Isto é onde penso que a concepção errada entra, minha senhora. O Sange rau não é
necessariamente tão hábil em batalha como a maior parte destes caçadores. Eles são mais
rápidos, mas isso não necessariamente significa que, com um pouco de treinamento, um
caçador qualificado não possa vencê-los.
Ele tentou evitar o olhar expressivo de Dimitri e focar apenas em Tatijana.
Ela parou de se mover puxando-o pela mão, até que parou diretamente na frente dela.
— Você quer dizer como Dimitri. — Ela indicou seu irmão. — Você ensinou Dimitri como
vencê-los.
Dimitri riu silenciosamente em sua mente. Você tem uma companheira inteligente, Fen.
Ela é rápida em compreender.
Eu sei disto.
Ele abaixou a cabeça, evitando os olhos da Tatijana.
— Eu o ensinei como caçar e me derrotar. Por via das dúvidas.
Os dedos de Tatijana apertaram os dele.
— Este é o meu ponto. Você sempre agiu com honra. Sinto como se estivesse sendo
acusado de algo.
Fen esteve ao redor da sociedade Lycan por séculos e cresceu acostumado a visualizar-
se como um estranho que teve que se esconder do que e quem ele era. Era um estilo de vida, e
no fim escolheu permanecer como Lycan. Ele achou amável que Tatijana tenha se tornado tão
protetora dele.
Eu concordo com ela, Fen. Talvez isto não seja uma boa ideia. Dimitri aconselhou.
Fen olhou para seu irmão então. Dimitri era um antigo, um caçador qualificado de
vampiros, mas passou séculos dando a seu irmão um refúgio quando as características do Sange
rau se tornaram particularmente difíceis de superar. Ele sabia, mais do que qualquer outro, que
tornar-se o que Fen era, era altamente perigoso. Pior, o sangue de Dimitri já estava mudando.
Ambos sabiam disto. O conselho dos Cárpatos poderia ficar ciente disto também.
Dimitri não reivindicou sua companheira, e podia muito bem estar em perigo dobrado.
Fen manteve seus dedos firmemente enroscados com os de Tatijana. Esperava que a câmara
estivesse preenchida com um bom número de machos Cárpatos, mas havia apenas Mikhail e
seu irmão Jacques, Vikirnoff e sua companheira, Natalya, e claro, Gregori.
Ele sentiu Tatijana hesitar. Ela ergueu a mão como se fosse tentar arrumar os cabelos.
Todos os olhos estavam sobre eles. Ele pegou suavemente o pulso dela.
Você não tem nada para provar para estas pessoas. Você parece linda. Você é minha
companheira e nós escolhemos viver nossas vidas do nosso modo. Se eles não gostarem, isto não
será diferente do que conhecemos nossa vida inteira.
Era verdade. A vida de Tatijana não tinha sido uma de aceitação. Seu pai a manteve
prisioneira, nem mesmo permitindo-lhe estar em sua forma natural, pela maior parte de seus
anos. Aqueles capturados e torturados por Xavier nem sempre entenderam que ela era uma
prisioneira da mesma maneira que eles. Ela passou vidas fora do padrão.
Fen passou séculos separado de sua espécie. Se os Lycans soubessem o que ele era,
teriam-no matado imediatamente, sem perguntas. Estava acostumado a ser um pária, e na
verdade, isto já não o incomodava mais. Ele não queria que Tatijana se sentisse menos do que
que ela era — um lindo milagre.
Mikhail avançou para saudá-los. Ele andou para perto de Fen, quase de igual para igual,
um movimento deliberado que o colocou em uma posição vulnerável. Gregori que caminhava
com ele não vacilou, mas seus olhos prateados pareciam aço. Mikhail agarrou os antebraços de
Fen apertando, na saudação tradicional de respeito de um guerreiro para outro.
Fen agarrou os braços do príncipe firmemente, surpreso com a força bruta que sentiu
surgindo por baixo da superfície. Era impossível estar muito perto do homem e não sentir o
poder que emanava dele, tão grande que não havia maneira de contê-lo.
— Obrigado por vir, Fenris Dalka. — Mikhail disse. — Que seu coração permaneça forte,
caçador. — Adicionou no idioma dos antigos, uma saudação mais tradicional dos Cárpatos.
Virou-se para Dimitri e repetiu a formal boas-vindas. Ele pegou as mãos de Tatijana nas suas. —
Obrigado pela ajuda que deu a nossos guerreiros, Tatijana. Você definitivamente virou a maré
da batalha a nosso favor.
Ele deu um passo para trás e caminhou para longe deles, sua energia rapidamente
fluindo, em lugar de estar nervoso. Quando ele se voltou, seus olhos escuros pareciam olhar
diretamente para Fen.
— Você realmente nos trouxe um problema interessante.
Fen olhou ao redor da grande câmara.
— Você não convocou um conselho de guerreiros como eu esperava.
Mikhail assentiu.
— Pensei muito sobre isto. Os únicos entre nós que realmente testemunharam a briga
entre você e o que chama de Sange rau, estão aqui nesta câmara. Pensei que era importante
conhecer mais sobre com o que nós realmente estamos lidando. Existem muitas perguntas que
me vêm à mente.
— Posso perguntar por que estamos tendo esta conversa aqui neste lugar sagrado, em
vez da conveniência de uma casa? — Tatijana perguntou.
Gregori voltou seu olhar penetrante para ela.
O queixo de Tatijana subiu, recusando-se a ser intimidada. Fen deveria ter lhe dito que
seu sangue de Caçadora de Dragão não parecia permitir-lhe ser intimidada por ninguém, nem
mesmo seu próprio companheiro.
Fen podia ter dito a ela por que Mikhail Dubrinsky não era nenhum tolo. Ele pensou
longamente sobre o problema do Sange rau. Testemunhou de perto do que um sangue
misturado era capaz. Neste momento, ele examinaria cuidadosamente todos os prós e contras,
da mesma maneira que o conselho Lycan tinha, há tantos séculos antes. Nada realmente mudou
ao longo dos séculos. As soluções eram tão ruins quanto o problema propriamente dito e Mikhail
sem dúvidas tinha chegado àquela conclusão, da mesma maneira que Fen tinha.
— Ela fez uma pergunta justa, Gregori. — Mikhail disse em seu tom aprazível. — A
verdade, Tatijana, é que estou incomodado com as habilidades do Sange rau. Eles apresentam
uma ameaça real não só para nossa espécie, mas para os Lycans e humanos também. Uma
maneira de colocar isto é que eles têm uma arma nuclear e nós não.
— É isso o que Fen disse. — Tatijana reconheceu.
— A solução imediata parece óbvia. — Mikhail disse. — E certamente foi proposto que
muitos de nossos mais qualificados caçadores se tornassem Sange rau, a fim de destruir melhor
aqueles que tenham se tornado vampiros.
Fen tentou não reagir. Podia sentir não apenas o olhar do príncipe e dos outros, mas
também o peso dos guerreiros mortos há muito tempo. Tudo nele rebelou-se contra a ideia do
que príncipe estava sugerindo. Ele sabia desde o princípio que isto seria uma das propostas. Se
todo guerreiro saísse e se tornasse Sange rau, suas habilidades como lutadores deveriam dar-
lhes uma vantagem, quando lutassem com aqueles que se transformaram em vampiro — mas
não funcionava bem assim.
— Alguém não se torna Sange rau em um passo. O lobo vem para protegê-lo. Você não
é os dois juntos, e leva algum tempo antes de se fundir com seu lobo. Estava vivendo como um
Lycan há algum tempo, e penso que pode ter acontecido mais rápido do que normal, mas isto
levou tempo. Durante esse tempo você perderá muito mais guerreiros para o outro lado. Eles
escolherão ser vampiro muito mais rápido com seu sangue misturado.
Fen agitou sua cabeça, perturbado que ele pudesse soar como se não quisesse que
ninguém mais fosse como ele. Isto era uma linha fina em que caminhava, fornecer o que ele
sentia eram informações pertinentes, e não soar arrogante.
Mikhail pareceu reconhecer sua relutância.
— Não tem que esconder o que você sente de nós. — O príncipe disse. — Trouxemos
você até aqui para nos ajudar a encontrar uma solução viável para este problema — e isto é um
problema. Um complexo, quanto mais analiso. Examinei isto de todos os ângulos e algo me
ocorreu. Existe grande poder em minha família, mas ele vem com um preço terrível. Penso ter
que haver um equilíbrio, e com os dons dados a nós, existe sempre um preço a pagar, então tive
que perguntar a mim mesmo, qual é o preço de ser um Sange rau? Apenas você pode responder
a esta pergunta para nós, Fen.
Fen sentiu os guerreiros antigos esperando por sua resposta. O ar ficou mais pesado
quando o silêncio desceu na câmara. Algumas das grandes colunas vibraram com cores mais
escuras rodopiando pelas pedras, dando a ilusão de que a própria câmara estava viva.
Ele suspirou. Veio aqui sabendo que Mikhail seria inteligente o suficiente para fazer as
perguntas certas. Ele via isto nele. Todos eles tinham que saber a verdade — especialmente
Tatijana e Dimitri.
— O preço é extremamente alto, Mikhail. — Fen respondeu honestamente. —
Especialmente para um guerreiro sem uma companheira, mas até mesmo para aqueles de nós
que tem uma companheira, não estão necessariamente tão seguros quanto nossas contrapartes
Cárpatos. A princípio sim, o lobo ajuda. Você pode ver como um lobo, as cores são enfadonhas,
mas melhores que nada. Mas com o passar do tempo, a força da escuridão cresce até que fica à
espreita como um monstro acima de você, e continuamente sussurrando.
Ele não olhou para sua companheira ou seu irmão. Olhou ao redor da grande câmara
para as colunas vibrando — para os antigos irmãos que viveram suas vidas honradamente —
não importando a dificuldade.
— Penso que todo Cárpato que vive muito tempo e enfrenta o vampiro com sucesso,
chega a um lugar onde acredita em si mesmo. Ele tem que ter confiança absoluta nele mesmo.
A confiança pode levar à arrogância. Os machos Cárpatos perdem a emoção, e em alguns
aspectos, é uma bênção e uma maldição. Sentir, quando você destruir velhos amigos e
familiares, ano após ano vivendo na escuridão, é um verdadeiro inferno. Ser Sange rau é lutar
contra os sentimentos de arrogância e superioridade a cada elevação, mesmo com ou sem uma
companheira. Eu acredito que se você se entregar a estes sentimentos, mesmo com uma
companheira, pode se tornar vampiro/lobo. Obviamente não testei esta teoria.
Mais uma vez, houve silêncio. Podia sentir o horror de Tatijana crescendo. Você entende
agora minha relutância em vinculá-la a mim. Havia vergonha em saber que ele não tinha
divulgado o pior de seus medos a ela antes de reivindicá-la como dele.
Novamente, Tatijana o surpreendeu. Um suave riso melódico encheu a mente dele. Não
sinto horror em sua admissão, meu amor, apenas em sua convicção de que jamais irá sucumbir
aos impulsos mais sombrios de nossa espécie.
Nós não sabemos disso. Não há modo de dizer o que eu faria em um momento de
loucura. Você viu minha mente quando lutei com o lobisomem para obter informações dele, e
mais uma vez quando eu estava lutando com Abel e Bardolf. Acreditei-me superior até a eles.
Fen fez a confissão com relutância.
Homem lobo tolo.
Ele ficou agitado pelo amor na voz dela. Ela podia deixá-lo de joelhos com muita
facilidade.
Nós passamos a maior parte de nosso tempo lutando ou na terra curativa desde que
você me reivindicou. Como possivelmente pode saber como ter uma companheira afetará seus
sentimentos de superioridade? Posso assegurar-lhe, meu amor, que mulheres Caçadoras de
Dragão são superiores e, portanto, você não terá pernas para me sustentar.
Seu tom brincalhão o acalmou como nada mais poderia. E ela tinha razão.
Claro que tenho razão. Você sabia que era perigoso acessar as memórias do lobisomem
renegado, mas fez isto de qualquer maneira. Claro que houve repercussões. Você esperava por
isto. E cada guerreiro enfrentando um vampiro deve acreditar que pode derrotá-lo. Reconhecer
que você é mais esperto, mais rápido e mais qualificado que um vampiro, é a única coisa
inteligente a se fazer. Você fez o que todo caçador Cárpato faria. Está tão preocupado com isto,
que não está se lembrando de como é ser um caçador.
Fen não considerou isto, mas ela estava certa. Todo macho Cárpato que caçava vampiro
fazia isto acreditando que podia destruir o morto-vivo. Ele estendeu a mão para ela, dizendo-
lhe sem palavras que a amava.
Mikhail franziu o cenho enquanto andava de um lado para o outro com energia inquieta
pelas grandes colunas de seus ancestrais, enquanto pensava sobre o que Fen tinha dito.
Ninguém o interrompeu. Fen estava agradecido por Mikhail ser o tipo de homem que
simplesmente não reagia a informações. Ele digeria isto cuidadosamente, examinando todos os
ângulos antes de tomar decisões.
— Outra preocupação que tenho é a evolução. — Mikhail disse, voltando a ficar na
frente dele. — Nossa espécie está próxima da extinção. Isto pode ser uma espécie mais
evoluída? A combinação de nosso sangue com o dos Lycans?
Tudo em Fen rebelou-se contra a ideia de que sua espécie estivesse condenada e outra
levantaria em seu lugar — e certamente não o Sange rau.
— Depois há a questão das crianças. Pela primeira vez em muito tempo, tivemos várias
crianças que sobreviveram a seu primeiro ano. — Mikhail continuou. — Não temos nenhuma
ideia se o Sange rau pode ter filhos. Manolito e MaryAnn são o único casal que conhecemos, e
MaryAnn não ficou grávida. Claro que não significa nada, mas pode ser preocupante. O que esta
mudança no sangue faria com uma criança? Vamos correr riscos quando somente agora estamos
reconstruindo nossa população?
Fen não tinha considerado aquele ponto em particular. Ele olhou para seu irmão. Dimitri
não era completamente Sange rau, mas estava a meio caminho. Ele tinha condenado Dimitri e
sua companheira a uma vida sem filhos, porque séculos atrás não soube o que causou a mistura
de sangue e eles compartilharam sangue no campo de batalha? Quando ele mesmo curou seu
irmão, deu a Dimitri seu próprio sangue. Fen sabia que o sangue ajudaria Dimitri a curar-se mais
rápido se eles pudessem mantê-lo vivo, e fez aquela escolha por Dimitri.
Prefiro muito mais viver e saber que Skyler viverá também, ainda que nós não possamos
ter filhos. Ela merece uma vida de felicidade, e pretendo fazer a vida dela tão maravilhosa quanto
possível. Então obrigado por salvar nossas vidas.
Fen se sentiu humilde diante da revelação inflexível do seu irmão, principalmente
porque ele e Dimitri estiveram dentro e fora da mente um do outro por séculos, e ele podia
sentir a honestidade na declaração de Dimitri.
— Ao longo dos séculos — Fen disse —, tenho vivido dentro e fora com Lycans. Durante
este tempo, topei com apenas dois outros Sange rau. O primeiro cacei com Vakasin e o segundo
foi Abel. Eu, claro, não sabia disto no momento. Abel transformou Bardolf por alguma razão.
Mas eu nunca encontrei um casal, não em qualquer país que viajei. Ao mesmo tempo especulava
que talvez uma mulher não pudesse ter sangue misturado. Tatijana me contou sobre Manolito
De La Cruz e sua companheira. Estava preocupado que eles não soubessem do perigo que estava
vindo dos Lycans.
— Então, para seu conhecimento, no mundo inteiro, apenas você, MaryAnn e Manolito
são Sange rau que não sucumbiram à escuridão. Bardolf e Abel são os únicos que você tem
conhecimento de estarem vivos. — Mikhail reiterou.
Fen acenou com a cabeça.
— Isso não significa claro, que não existam outros. No mundo inteiro, não posso
imaginar que não existam outros.
— Lycans evitam Cárpatos por séculos. — Mikhail assinalou.
— Seu conselho desencorajou a interação entre as duas espécies, provavelmente por
esta razão. Nunca houve qualquer hostilidade que eu tenha ouvido. — Fen respondeu.
— Isso explicaria os poucos números. — Gregori disse. — MaryAnn já era Lycan. Nós
sabemos o que acontece quando uma mulher Cárpato se transforma?
Tatijana deu de ombros.
— Eu o informarei quando acontecer. É escolha minha ser o que ele é. Duvido que o
sangue Lycan possa dominar um Caçador de Dragão a ponto de eu estar em algum perigo.
— Esperamos que não. — Gregori disse, sua voz seca. — Se algo acontecer com você,
que garantia teríamos de que Fen iria segui-la?
Dimitri franziu o cenho para ele.
— Não há nenhuma garantia para qualquer um de nós. Incluindo você, Gregori, se algo
acontecer com Savannah. Todos os machos Cárpatos estão em risco sem uma companheira.
— É verdade, mas nós não somos Sange rau. Nossos caçadores nos acharão e destruirão
antes que possamos causar danos demais em outra espécie ao nosso redor. Pode imaginar um
exército de Sange rau? Seu irmão nos disse que apenas um único dizimou fileiras de Lycans.
Somos poucos. Eles podem nos eliminar completamente muito rápido. — Gregori disse.
— Existe verdade no que ele diz. — Fen concordou. Você não precisa me defender,
Dimitri, embora eu aprecie muito isto. Sabia quando vim até Mikhail a enormidade do problema
que estava trazendo para ele. Os Sange rau são tanto um perigo para Cárpatos, como são para
os Lycans e humanos. Não temos quaisquer respostas para as perguntas que ele está levantando.
Tive séculos para considerar estes problemas e ainda não cheguei a conclusões.
Nós não somos Lycan, Dimitri silvou em sua mente. Recuso-me a acreditar que Mikhail
vá relegar o Sange rau sem discriminação, e condenar você e qualquer outro que se torne tal
mistura, à morte.
Fen viveu com os Lycans um longo tempo. Você acredita que nós estejamos mais
civilizados então? Ele não podia negar a nota de diversão em sua voz. Os Lycans estão bem
enraizados em toda a alta sociedade, em cargos públicos em quase todo o país. Eles serviram o
exército e a maioria era altamente educado. Enquanto os Cárpatos retiraram-se do mundo dos
humanos em grande parte dos tempos e se tornam guardiães silenciosos, os Lycans fizeram
exatamente o oposto — abraçaram este mundo e protegeram os humanos de maneira
agressiva.
Dimitri, o bando de renegados não é indicativo de Lycans. Eles reverteram para o animal,
da mesma maneira que os vampiros abraçaram o lado mais sombrio dos Cárpatos. Zev e os
caçadores de elite representam os Lycans bem melhor. Não se engane pensando que somos
superiores a eles.
— Eu não acredito que tenhamos que nos preocupar sobre Fen se transformar em
vampiro. — Mikhail declarou em sua habitual voz calma e reconfortante. — Precisamos tomar
uma decisão sobre o que vamos fazer. Claramente precisamos nos encontrar com o conselho
dos Lycans. Discutimos isto extensivamente por vários anos. Precisamos deles como aliados, não
inimigos. Esta é nossa melhor oportunidade de convidá-los para uma reunião e chegar a algum
tipo de condições.
— Zev é o melhor homem para isto. — Fen aconselhou. — O batedor de elite enviado
à frente do bando é normalmente o mais inteligente, e o melhor homem deles. Ele se reportará
diretamente ao conselho e eles o escutarão. Sua palavra tem grande peso.
Mikhail inclinou a cabeça.
— Ele estava ferido gravemente e perdeu uma boa quantidade de sangue. Para
assegurar-se de que ele vivesse, Jacques deu-lhe sangue.
Fen fechou os olhos, sentindo-se de repente cansado. Tatijana deu sangue a Zev
também. Em suas viagens e muitas batalhas, Zev recebeu sangue de algum outro Cárpato? Era
possível — e perigoso. Fen sabia que não importava quão honradamente Zev serviu seu povo,
se ele se tornar um Sange rau, eles se virariam contra ele e o condenariam à morte sem pensar
duas vezes.
— Não tenho ideia de quanto sangue tem que ser compartilhado antes da mistura
converter-se em outra coisa. — Fen admitiu. — Quando Vakasin e eu lutamos com o Sange rau,
nós tivemos incontáveis ferimentos e perdemos sangue frequentemente. Não sei com que
frequência demos sangue um ao outro antes que eu começasse a sentir o lobo dentro de mim,
mas senti isto bem antes dele sentir as características dos Cárpatos, ou talvez ele simplesmente
não reconheceu que estava diferente.
— Você tem medo de que Zev possa estar em apuros. — Mikhail supôs.
Fen assentiu.
— Ele é um bom homem. Sua habilidade na luta é insuperável pela maioria dos
caçadores. Ele me lembra Vakasin. Odiaria vê-lo morto por seu próprio povo, depois do serviço
que prestou a eles.
— Isso torna tudo mais importante para conversar com o conselho dele. — Mikhail disse.
— Se entenderem a diferença entre um vampiro e um Cárpato, nós podemos convencê-los a
olharem para o Sange rau com outra luz. Podemos distinguir os dois, oferecendo nosso próprio
nome para um cruzamento de Cárpato/Lycan.
Fen suspirou.
— Espero que tenha sucesso, mas posso dizer que os Lycans lutarão com você sobre o
assunto do Sange rau. Não só eles têm razões legítimas para temer a mistura de sangue de
Cárpato com Lycan, como também estará lutando contra preconceitos de muitos séculos.
Existem fanáticos que pertencem a uma sociedade secreta, que não é muito secreta, e eles
dedicam suas vidas a esmiuçar o Sange rau e destruí-los. Eles extraem todos os desajustados
existentes e fazem lavagem cerebral neles. O Sange rau dá a eles um objetivo para seu ódio
fanático. Claro que eles nunca encontraram um realmente, mas todos os pecados lhes são
atribuídos.
— Certamente cabeças mais frias prevalecem no conselho. — Mikhail disse.
Fen encolheu os ombros.
— Eu espero que sim, mas vi alguns destes fanáticos. Eles se tornaram uma religião e
pregam para os bandos, e são muito persuasivos. Você deve lembrar-se que isto vem
acontecendo por séculos, então o preconceito está bem estabelecido. — Ele tentou achar outro
meio de explicar isto. — Esta convicção no Sange rau está bem no coração de suas tradições. Ele
representa todo o mal. Ele é o demônio deles, o epítome de todas as coisas pecaminosas.
— Como uma religião. — Gregori disse.
Mikhail atirou-lhe um olhar. Gregori não acreditava em nenhuma religião, enquanto
Mikhail era um devoto ardoroso.
— Uma que é muito sagrada para eles, e se não uma crença espiritual real, certamente
que isto está bem entrelaçado no tecido da existência deles. — Fen disse.
Mikhail soltou a respiração.
— Certo, então. É bom saber com o que estamos lidando. Ainda que eu acredite que nós
tenhamos que tentar. Entretanto, como podemos combatê-los? Como Dimitri combateu tal
criatura, enquanto nossos guerreiros foram tão feridos?
— Os Lycans e os lobisomens são lutadores de bando. Cárpatos estão acostumados a
combater os monstros sozinhos.
— Ultimamente vampiros têm se unido. — Gregori disse. — Os vampiros, tão
antinaturais quanto isto soe, realmente juntaram-se em um exército para nos atacar. Com um
pouco de prática de luta, eles atingiram o complexo de De La Cruz na América do Sul.
— Isso deve ter sido como agitar um ninho de vespas. De todos os caçadores no mundo,
penso que preferiria que qualquer outro viesse atrás de mim. — Fen disse.
— Era pessoal. — Dimitri explicou. — Os irmãos Malinov decidiram que governariam
todos os Cárpatos, e os irmãos de La Cruz recusaram-se a se juntar a eles.
— Você pode ver por que queremos os Lycans como aliados. — Mikhail disse. — Existem
muito poucos de nós para uma guerra completa com qualquer inimigo.
— Se seus guerreiros abraçarem o Sange rau e deliberadamente buscarem se tornarem
um, os Lycans irão atacá-los. — Fen disse. — A guerra seria infinita e ninguém venceria no final,
a não ser os vampiros. Você tem que entrar em uma reunião sabendo que o preconceito está
enraizado neles e será difícil de mudar.
Mikhail assentiu.
— Acredito que precisamos ter nosso próprio nome para estes Cárpatos e Lycans que
ainda não viraram vampiro com sangue misturado, algo que indique que são muito diferentes
dos demônios que os Lycans acreditam que sejam. Isso deve se tornar parte de nosso
vocabulário, antes mesmo que eu encontre com Zev. Isto significa que devíamos apresentar isto
imediatamente.
— Você realmente pensa que mudando o nome, vai mudar a mente deles? — Vikirnoff
perguntou. Foi a primeira vez que falou e Fen podia dizer por seu tom que ele não gostava nem
um pouco da situação. Se a situação não fosse tão sombria teria sorrido. Mikhail Dubrinsky
compreendia completamente o problema. Ele não jogaria as mãos para o ar e iria embora,
realmente tentaria resolver. Mais que ninguém lá, diferente de Fen, Mikhail era quem sabia o
que estava enfrentando.
Muitos de seus guerreiros Cárpatos estariam tentados a se tornar Sange rau, apenas
para se tornarem lutadores melhores. Eles ignorariam os potenciais problemas e não
reconheceriam que MaryAnn e Manolito, Fen e Tatijana, assim como também Dimitri, se
tornariam experimentos. Eles seriam vigiados de perto, tanto pelos Lycans como pelos Cárpatos,
se Mikhail fosse bem sucedido em convencer o conselho Lycan que havia uma diferença. Se não,
e aí?
Será que os Lycans estariam dispostos a ir à guerra para forçar os Cárpatos a lidar com
aqueles que eram Sange rau? Tristemente, Fen considerava isto uma grande possibilidade.
Ainda que Mikhail convencesse o conselho, isso não significava que todos os bandos
concordariam, não sobre algo que estava tão arraigado neles. Se o conselho concordasse, a
decisão deles poderia muito bem causar uma divisão entre os bandos.
— Precisamos de muito mais informações, antes de permitirmos que qualquer um de
nosso povo, voluntariamente escolha este caminho. — Mikhail disse. — Estou contando com
vocês três para nos fornecerem estas informações.
Fen assentiu.
— Não tenho nenhuma escolha, a não ser seguir o bando de renegados, se eles se
moverem. Tenho que caçar Abel e Bardolf.
— Depois de ver o retorno de Abel a sua pátria, acredito que tenha um propósito em
mente, e ele não irá a qualquer lugar por um bom tempo. — Mikhail disse. — Ele retornou a fim
de me matar. Enquanto isso, nossos caçadores precisam saber como lutar com Abel e Bardolf.
Você obviamente treinou Dimitri, que já sabia sobre isto há algum tempo.
Existia uma pequena sugestão de reprimenda na voz de Mikhail.
Dimitri deu de ombros, sem arrependimento.
— Os renegados nunca chegaram próximos a nossa pátria. Escolhi criar os santuários
para nossos irmãos lobos, sabendo que Fen precisava de um lugar para descansar e curar-se às
vezes. Isto me deu a chance de estar com ele. O que ele foi durante estes séculos não teve
nenhum impacto em nosso povo.
Gregori remexeu-se, seus olhos prateados golpeando Dimitri, mas Mikhail levantou a
mão para evitar que Gregori falasse.
— Nunca houve uma questão de lealdade de Dimitri com nosso povo. — Mikhail disse.
— Até que este bando de renegados chegasse à nossa pátria, os Lycans nos evitaram.
— É verdade. — Gregori admitiu. — Mas se nós soubéssemos de um inimigo tão
potencial, poderíamos estar melhores preparados. Como isto está, muitos de nossos caçadores
ficaram gravemente feridos.
— Eles lutaram com o bando, não com o Sange rau. — Dimitri assinalou.
Por que está engajado nesta discussão com ele? Fen perguntou. Você sabe que ele está
certo. Nós dois deveríamos ter trazido este inimigo à luz muito antes disto. Você estava me
protegendo, Dimitri, nós dois sabemos disso.
Dimitri olhou feio. Isto era diferente dele fazer exceções para alguém apontar a verdade.
Era trabalho de Gregori, acima de tudo, proteger seu príncipe. Por que ele parecia fazer desta
inquietante agitação, quase um ressentimento feroz?
Seu lobo está subindo para protegê-lo, Fen explicou. Você pode senti-lo? Está em um
lugar onde nossos antepassados podem nos julgar. Ele sente isto e está persuadindo-o a sair.
Mikhail acenou com a mão e centenas de velas ao longo das paredes ganharam vida.
Imediatamente as colunas e cristais gigantes irradiaram em cores suaves. Bem no centro da sala
estava um círculo de colunas de cristal. Elas eram as menores na câmara, a do meio chegando
ao ombro de Mikhail. Era vermelho sangue, formada de ricos minerais e cristais. A ponta era
como uma navalha afiada.
Mikhail falou em seu idioma antigo, as palavras rituais chamando seus ancestrais de
longo tempo.
— O sangue de nossos pais — o sangue de nossos irmãos — buscam a sabedoria de
vocês, sua experiência e seu conselho. Juntem-se com seus irmãos guerreiros e dê-nos sua
orientação pelo vínculo de sangue. Nós comprometemos com nosso povo nossa lealdade
inabalável, solucionar em face da adversidade, compaixão por aqueles em necessidade, força e
resistência pelos séculos e acima de tudo, viveremos com honra. Nosso sangue nos vincula.
Mikhail levou a palma de sua mão sobre a ponta da coluna, de modo a perfurar sua
carne, e gotas de sangue cobriram o topo da coluna.
— Nosso sangue se mistura e clama por vocês. Ouçam nossa convocação e se juntem a
nós agora.
Capítulo 13

O sangue de Mikhail se misturou com os dos guerreiros mortos há tempos. Ao mesmo


tempo os cristais ficaram iluminados, expulsando cores, esmeralda profunda e um rico rubi
vermelho, rodopiando e reunindo-se ao longo da sala e acima das paredes. A exibição era como
uma aurora boreal, muitas cores dançando pela câmara.
As cores rodavam machucando os olhos de Fen. Ele estava acostumado a cinza e branco,
e às vezes a cores mais insípidas que o lobo podia distinguir, até Tatijana devolver-lhe a
capacidade de ver tais coisas, mas não estava acostumado a isto ainda. Ainda assim, a exibição
era extraordinariamente bonita. Sua língua nativa era reconfortante para ele, e fazia com que
se sentisse uma parte de seu povo, depois de tantos séculos estando sozinho.
Fen olhou para seu irmão. Dimitri era alto, com ombros largos e um rosto que podia ter
sido gravado em pedra. Era bonito, mas indiferente, um homem à parte. Tinha uma
companheira que não podia reivindicar. Ela restabeleceu as emoções e as cores para o mundo
dele, mas isso tornou a caça ao vampiro ainda mais difícil. Agora ele tinha que enfrentar um lobo
que rondava dentro dele, batalhando pela supremacia. Fen esperou que a câmara sagrada
aliviasse o seu sofrimento apenas um pouco.
As colunas zumbiam, cada uma com uma nota diferente, um perfeito tom para que os
totens com rostos, parecessem estar musicalmente cantando. As cores que rodavam acima
deles deram vida aos rostos e expressões. Fen foi cuidadoso ao não jurar lealdade ao príncipe.
Era importante certificar-se de que não poria Mikhail na posição de ter que guerrear para
defendê-lo. Mas... havia MaryAnn e Manolito. Ele conhecia Zacarias De La Cruz. Zacarias era
caçador puro. Ele era Cárpato puro. No topo da cadeia alimentar. Selvagem. Indomado. Uma
coisa real. Ninguém tocaria em sua família sem uma vingança rápida e brutal. Ele seria
implacável e não pararia nunca até que aniquilasse qualquer um ou qualquer grupo que
almejasse sua família.
Fen sabia que Zacarias encontrou sua companheira, mas apostaria sua vida que o
primogênito dos De La Cruz não tinha mudado muito. Fen era um caçador. Ele não conhecia
nenhum outro estilo de vida. Zacarias era o mesmo. Isso significava que Mikhail teria que
proteger o casal de Lycans.
Se Tatijana estivesse para se tornar como ele, e eventualmente ela iria, queria que o
povo Cárpato a protegesse. O mesmo com seu irmão. Dimitri estava bem a caminho de tornar-
se Sange rau. Eles deram um ao outro sangue no passado, ao longo dos últimos séculos quando
caçaram juntos, e agora Dimitri estava sentindo os efeitos de seu lobo.
Séculos atrás, seu sangue foi adicionado à coluna de guerreiros quando jurou lealdade
a um príncipe morto há muito tempo. Adicionar seu sangue novamente, permitiria aos
guerreiros que ponderassem sobre as decisões que Mikhail estaria tomando. Eles saberiam o
que era pensar e sentir como um Sange rau. Ele não tinha vergonha do que era. Viveu tão
honradamente quanto podia. Empenhou-se contra os inimigos dos Lycan, humanos e Cárpatos,
cada vez que topava com um.
— Você não tem que jurar lealdade. — Mikhail disse. — Mas se você ainda estiver
hesitante porque teme forçar uma guerra entre Lycans e Cárpatos, posso assegurar-lhe que
nunca concordarei em caçar indiscriminadamente aqueles Lycans chamados de Sange rau.
Qualquer Cárpato que tiver este dom extraordinário e difícil, será chamado de Hän ku pesäk
kaikak, ou Paznicii de toate, que se traduz em outro idioma como Guardiães de todos, e não
desistirei de nenhum deles.
A voz de Mikhail era convincente. Hipnotizante até. Ele podia persuadir a maioria das
pessoas a fazer qualquer coisa que quisesse com sua voz, ainda assim foi cuidadoso em manter
seu tom neutro.
Hän ku pesäk kaikak, Guardião de todos. Mikhail Dubrinsky o via daquele modo ou não
teria dado tal nome sobre o que ele era. Fen não podia acreditar que diferença uma coisa tão
pequena significava. Ele foi o odiado Sange rau, e então com apenas uma pequena declaração,
o príncipe o elevou a Guardião de todos.
Mikhail deu a ele e a outros como ele, um propósito e posição.
Ele definitivamente nasceu para liderar, Tatijana sussurrou em sua mente. Apenas
mudando o nome muda o sentido de quem e o que você é.
Posso ver por que você deu-lhe sua lealdade.
Não faça isto por mim.
Eu não faria. Isto tem que ser uma escolha pessoal e escolho ser parte de seu mundo.
Fen não hesitou mais. Foram muitos séculos sendo um homem sem uma pátria. Seu
povo era os Cárpatos, não importando o que seu sangue tenha se tornado. Ele amava os Lycans
e os respeitava, mas seu coração estava aqui, com seu povo. Queria ser parte da comunidade
dos Cárpatos novamente. Queria assegurar que Tatijana fosse sempre aceita.
Olhou para seu irmão. Dimitri era um guerreiro respeitado entre o povo Cárpato e
mantido em grande estima. Seja o que estivesse mudando dentro de Dimitri, seja o que fosse
que o lobo trouxesse, beneficiaria o povo Cárpato, não tiraria deles; Fen estava certo disto.
Fen se aproximou do cristal vermelho sangue, abaixando sua mão lentamente. Antes
que alcançasse aquela ponta afiada, sentiu o poder que emanava da grande coluna cristalina.
Sabia que era um risco calculado. Se seus ancestrais o rejeitassem, Mikhail e certamente Gregori
poderiam rejeitá-lo também, mas era um risco que sentiu que tinha que assumir.
Ele permitiu que o totem de minerais perfurasse sua carne e tirasse seu sangue. No
mesmo instante, seu sangue misturou-se com o sangue daqueles que tinham morrido. Sua alma
esticou-se e clamou pelos guerreiros que foram antes dele. Ele os sentiu, tantos, a presença
deles forte, tocando-o, enchendo-o, fazendo-o sentir-se parte de uma comunidade que datava
de tempos antigos. A inundação de camaradagem, de pertencer e de aceitação era esmagadora.
Todas as células de seu corpo responderam. Tornou-se ciente de tudo, dos mínimos
detalhes. Ouviu o gotejar constante da água, tamborilando como uma pulsação nas profundezas
da câmara, de modo que seu próprio batimento cardíaco pegou aquele ritmo coletivo. O fluxo
e refluxo de sangue em suas veias, nas veias daqueles em torno dele, combinava com o fluxo
interminável de sangue antigo dentro do cristal. Bem abaixo do chão da câmara, centenas de
metros abaixo da floresta de colunas gigantes, ele sentiu o charco de magma alimentando o
calor ao longo do labirinto, de vários níveis de cavernas.
Ele ouviu sussurros, palavras antigas faladas no idioma dos Cárpatos, guerreiros o
saudando. Bur tule ekämet kuntamak. Ele podia ouvir velhos amigos, chamando-o — irmãos de
sangue dando boas-vindas.
Ele sussurrou de volta em sua mente, alcançando-os...
Sem aviso, toda a atmosfera da câmara ficou sombria e triste. O zumbido baixo na
câmara assumiu uma melodia completamente diferente — um canto de morte — o
inconfundível canto fúnebre dos antigos. Era uma melodia reservada para um guerreiro caído,
mantido em altíssimo respeito, um homem lendário.
Fen encontrou-se prendendo a respiração. Os guerreiros antigos estavam prestando-lhe
homenagem — o tributo mais alto que um guerreiro caído poderia receber — mas ele não estava
morto. A coluna passou de vermelho escuro até um mais escuro púrpura sombrio, uma cor de
sofrimento por um camarada caído. O chamejar das chamas sobre as velas diminuíram,
lançando mais sombras na sala, somando-se ao sentimento de tristeza.
Era a última reação que Fen esperava — ter seus ancestrais lamentando e prestando-
lhe tributo como se ele tivesse morrido em batalha. Ele manteve suas feições absolutamente
inexpressivas, mas Tatijana fundiu sua mente com a dele e em um momento seu coração ficou
pesado, ela chegou mais perto e circulou seus braços ao redor dele, deitando sua cabeça contra
suas costas para confortá-lo.
No momento em que ela apertou-se nele, seus braços o cercando, o triste zumbido
parou abruptamente, confuso. Houve um silêncio surpreso como se os ancestrais não
soubessem o que pensar. A coluna cristalina começou a pulsar com um profundo vermelho rico,
até púrpura escuro. As vozes sussurraram saudações e encorajamento.
Fen pôs ambas as mãos sobre Tatijana, apertando as mãos na cintura dela. Ele não
estava certo do que pensar. Em um momento os guerreiros antigos estavam lamentado, como
se ele tivesse morrido em uma grande batalha, e no próximo estavam clamando por ele em
camaradagem novamente. Isto era muito confuso.
É o seu sangue de Caçadora de Dragão que eles sentem, ele disse a sua companheira.
Ele se misturou com o seu. Eles devem ter sentido isto antes que eu chegasse perto deles,
Tatijana disse com um pequeno fungar de desdém.
Eles chamam por você, irmã de sangue. Fen ainda não estava certo de como reagir. Ele
disse simplesmente a verdade. Ela é Tatijana — guardiã do meu coração e alma — hän ku vigyáz
sívamet és sielamet.
Murmúrios de aprovação zumbiram pela câmara. Isto não era como se eles estivessem
rejeitando Fen, de fato exatamente o oposto. Os antigos guerreiros o abraçaram, mas pensaram
que ele tinha desaparecido do mundo até Tatijana tê-lo cercado consigo mesma.
A exibição de luzes emitidas pelas estalactites acima da cabeça deles mudou de cor,
lançando lavanda e rosa pálido com rajadas de suaves verde e azul. Todas as cores, Fen estava
certo, representando sua mulher Caçadora de Dragão. As estalagmites, grandes colunas
esculpidas com rostos e olhos os rodeando, voltaram à vida novamente, olhando abertamente
para Fen e Tatijana.
Por que eles estão tão surpresos? Nós somos companheiros. Eles não podem ver?
Os olhos de Fen encontraram os de Mikhail. O que isso tudo quer dizer? Apenas o
príncipe poderia ser capaz de decifrar o significado do luto e depois da mudança.
— Você pode me dizer por que eles pensaram que eu morri? — Fen perguntou não
completamente certo se queria saber.
Não importa o que eles pensam, Tatijana insistiu, circulando ao redor para ficar
protetora na frente dele, colocando-se entre Fen e a pequena coluna usada para comunicação
com os antigos mortos há muito tempo.
Importa, minha senhora, Fen disse suavemente. Nós temos que saber as consequências
do nos tornamos Sange rau, antes de qualquer outro Cárpato decidir com a noção equivocada,
de que ele ajudaria a salvar sua espécie da extinção ou apenas dos piores dos monstros que nós
enfrentamos, tornando-se uma mistura de sangue.
Não Sange rau. Você é Hän ku pesäk kaikak, Guardião de todos, Tatijana contestou com
firmeza.
O coração de Fen deu uma cambalhota estranha, lenta. Até seu estômago sentiu aquele
peculiar tamborilar no feroz traço protetor dela. Tenho sorte com minha companheira. Ele tinha
certeza de cada palavra. Ela mudou a vida dele e sempre estaria no centro disto. Ela o fez parecer
vivo e deu-lhe seu primeiro gosto de alegria e verdadeiro riso.
— Os antigos o saúdam calorosamente porque reconheceram seu coração e alma de
Cárpato, Fen. — Mikhail disse. — Alguns deles conhecem você e celebraram que manteve sua
honra ao longo de uma jornada tão longa e difícil.
Fen assentiu. Ele sentiu as boas-vindas a ele, e a camaradagem o fez se sentir como se
fosse parte de um círculo muito maior. Depois de ter estado sozinho por tantos séculos, Fen se
sentiu conectado a seus ancestrais. Teria dado qualquer coisa para se sentir daquele modo antes
dele ter encontrado e reivindicado Tatijana. Precisava desta conexão, mas assim que ela se
despejou em sua mente com tanta graça fluída e leveza, achou que realmente não precisava
mais. Ela deu-lhe paz.
Veio até aqui com a ideia de que precisava e queria aceitação, não apenas para ele, mas
para seu irmão e qualquer outro que compartilhasse o mesmo sangue misturado, e agora que
estava na caverna sagrada dos guerreiros, sentia-se reconfortado pelos rituais tradicionais, mas
era Tatijana que o fazia se sentir completo, não o círculo de guerreiros propriamente dito.
— O que aconteceu? Por que eles pensam que morri? — Ele perguntou com curiosidade.
— Quando seu sangue tocou a pedra sagrada pela primeira vez, eles sentiram o que
esperavam sentir. Eu os despertei com a evocação. Mas quando processaram isto, quando seu
sangue tocou o sangue deles, perceberam que eram muito diferentes de você, como um
Cárpato, não estava mais lá. Eles julgaram seu coração e alma, e reconheceram que você é
honrado e que lutou por muito tempo e duramente por nosso povo, então o premiaram com a
honra mais alta dos guerreiros quando lamentaram sua morte.
— Eles acreditaram que ele estava morto porque seu sangue é diferente? — Dimitri
perguntou, querendo esclarecimentos. — Ou o denominaram morto para o povo Cárpato?
— Eles acreditaram que ele estava morto. — Mikhail explicou. — Você não podia sentir
a genuína tristeza deles? Seu sangue, Fen, deve estar completamente diferente neste momento,
daquele de um Cárpato.
— No entanto, posso dar sangue para qualquer um exatamente com um Cárpato pode.
— Fen disse.
— Você disse que a transformação acontece em fases. Provavelmente se tivesse vindo
aqui nos estágios iniciais, haveria semelhança suficiente com o sangue Cárpato, que poucos
notariam a diferença. — Mikhail disse.
— Entretanto eles sentiram Tatijana. Seu sangue de Caçadora de Dragão é poderoso.
— Sim, é. E porque você são companheiros, esta tensão deve estar em você também.
Mas senti algo diferente, algo igualmente poderoso. Não seu Lycan — sua presença era
formidável — mas algo muito sutil e igualmente dominante.
Mikhail olhou de Fen para Dimitri, e então de volta para Fen, a especulação em seus
olhos.
— Tatijana é Caçadora de Dragão, uma de nossas linhagens mais poderosas. Ela tem
uma conexão forte com a Mãe Terra, mas isto ainda parece diferente, como se não fosse a
conexão dela, mas a sua.
— Tatijana tem uma conexão muito forte com Mãe Terra. — Fen admitiu.
Mikhail sacudiu a cabeça, seus olhos penetrantes e inteligentes se voltando para Dimitri.
— Hã. Entendo agora. A jovem Skyler. Nós subestimamos aquela garota. Ela ajudou a
curá-lo. Como isto é possível de tal distância? Ela não está em Londres?
— Acredito que esteja. — Tatijana respondeu por ambos os homens.
— E ainda assim você a conheceu e pôde falar com ela, onde ela está. — Mikhail disse.
— Como é que uma jovem, uma criança realmente, uma humana além de tudo, pôde cruzar
mais de dois mil quilômetros e se estender para curar alguém à beira da morte?
Tatijana deu de ombros.
— Deve ter algo a ver com ela ser parte da linhagem de Caçadora de Dragão. Você disse
que é uma linhagem poderosa.
— Você já foi capaz de fazer tal coisa? — Mikhail perguntou.
Tatijana hesitou. Ela sacudiu a cabeça.
— Não. Bronnie e eu tentamos alcançar nossa sobrinha quando ela escapou das
cavernas de gelo, mas a distância era muito grande.
Mikhail levantou uma sobrancelha para Gregori.
Gregori sacudiu a cabeça.
— Nunca cobri esta distância. Cheguei perto, mas duvido que pudesse mantê-la tempo
suficiente para curar alguém.
Dimitri permaneceu mudo. Sua expressão não se alterou. Fen tocou em sua mente. Seu
irmão estava loucamente apaixonado por Skyler, mas não a reivindicou, respeitando sua decisão
de esperar até que se sentisse pronta. Ele não desistiria dela, nem mesmo para o príncipe e suas
averiguações na caverna sagrada.
Dimitri esteve por conta própria por séculos. Podia ser o irmão mais novo de Fen, mas
caçou o vampiro sozinho por séculos. Era respeitado e tido em alguns círculos como lenda. Sua
relação com Skyler era particular. Ele raramente falava dela. Fen conseguiu mais informações
sobre ela de seu breve encontro de cura juntos, do que em todos os anos em que Dimitri deu-
lhe abrigo para descansar e curar-se.
Mikhail parecia estar mais divertido do que chateado que nenhum deles tivesse chegado
próximo da jovem companheira não reivindicada de Dimitri. Ele simplesmente acenou com a
cabeça.
— Estou certo de que aquela jovem de alguma forma conseguiu selar, tanto Fen como
Dimitri com a Mãe Terra, um privilégio para dizer o mínimo.
— Os antigos aceitaram Fenris como ele é? — Dimitri cortou para o cerne da questão.
Pela primeira vez Mikhail hesitou. Ele soltou um suspiro suave.
— Não posso dar-lhe a resposta exata que está procurando ou que eu esteja
procurando, Dimitri. Os antigos reconhecem Fen como um grande guerreiro que viveu com
honra, mas seu sangue não é mais o sangue de um Cárpato.
Dimitri não vacilou, mas Fen chegou perto dele e sentiu o golpe interno como um soco
no estômago. Mikhail levantou questões que ambos os homens precisavam pensar. Tatijana já
estava atada a Fen e aceitaria o destino deles juntos, como sua companheira. Era diferente com
Skyler. Ela era jovem, uma humana, além disso. Dimitri tinha o direito de condená-la a uma vida
tão desconhecida, cercada por inimigos em cada porta?
— Quanto tempo leva antes de um caçador ter a velocidade que você tem? — Gregori
perguntou.
Fen balançou a cabeça.
— Levei quase um ano para começar a fundir-me com meu lobo. Penso que conseguiria
uma resposta melhor de Manolito De La Cruz. Você disse que ele foi recentemente alterado.
Tem que lembrar que quando isto aconteceu comigo, nós nem sequer percebemos que a causa
era o sangue. Fui mordido várias vezes em batalhas por bandos de renegados, e o Sange rau que
estávamos perseguindo. Naqueles dias, ninguém conhecia sobre genética. Lembro-me do lobo
e, então, gradualmente fundir-me com isto.
Fen encolheu os ombros.
— Ao longo dos anos, quando Dimitri às vezes juntava-se comigo nas batalhas, demos
sangue um ao outro, quando um de nós foi ferido como os Cárpatos fazem. Novamente, isto
nunca levantou uma simples bandeira vermelha.
Vikirnoff, que permaneceu calado ao longo do ritual dos antigos, avançou oferecendo
uma saudação.
— Dei-lhe sangue depois de sua batalha com Abel e mesmo depois do que vi, não pensei
nada disto. Dar sangue é parte do cotidiano de nossas vidas. Ninguém teria considerado não
salvar um companheiro Cárpato.
— Ou Lycan. — Fen concordou.
— Os Lycans afastaram-se de nós porque não entenderam como o processo de se tornar
um Sange rau funciona em todos esses séculos atrás. — Mikhail arriscou. — Se isto começou há
séculos, então o que você diz sobre o preconceito arraigado deve ser exatamente a verdade.
Fen assentiu.
— Cada novo conselho renovou seu decreto para evitar os Cárpatos quando possível.
Para lutar ao lado deles quando precisassem, e não deveria haver nenhuma hostilidade contra
eles.
— Por que você escolheu viver como um Lycan e ficar junto ao bando deles, em vez de
voltar para casa? — Vikirnoff perguntou.
— A princípio eu queria tantas informações quanto possível. — Fen disse. — Então
percebi que quando permitia ao Lycan ser mais dominante, não era tão difícil de lutar com a
tentação da escuridão me engolindo.
Gregori enviou-lhe um olhar com seus cortantes olhos prateados.
— Você disse que era muito mais difícil de resistir ao chamado do vampiro.
— Muito mais tarde. — Fen disse. — Não a princípio. No começo o lobo me protegia
primeiramente da tentação, e mais tarde, enquanto vivi nos bandos como um Lycan, percebi
que a escuridão não era tão opressiva. Ao longo dos séculos realmente me ajudou à medida que
eu caçava. Eu era muito... ativo como um caçador.
Dimitri movimentou a cabeça.
— Ele era extremamente eficiente caçando renegados. Quando estava gravemente
ferido ou durante a lua cheia, permanecia no chão, e em algum desses tempos, guardei seu lugar
de descansando até que estivesse em forma novamente.
— Por que é que você pode ser detectado durante a lua cheia e não em qualquer outro
momento? — Mikhail curiosamente perguntou. — Deve haver algo aí que nós possamos usar
contra o Sange rau.
— É tudo sobre energia com os Lycans. Quando um bando caça, eles não terão muito
sucesso se a presa souber que estão vindo até eles, então evoluíram para mascarar sua energia.
— Fen explicou. — Infelizmente, durante o ciclo da semana da lua cheia, é impossível. A atração
é muito forte para os Lycans. Sou Lycan suficiente para que o efeito seja o mesmo em mim.
Minha energia parece diferente para os Lycans, e se eu estiver nas proximidades, eles sabem
imediatamente o que sou.
— É por isso que você queria que Tatijana advertisse MaryAnn e Manolito. — Gregori
disse. — Você sabia que eles não sabem sobre nada disso, e se topassem com Lycans durante
uma lua cheia, seriam imediatamente direcionados para a morte.
— Eu tenho evoluído como o Sange rau...
— O Hän ku pesäk kaikak. — Tatijana e Mikhail corrigiram simultaneamente. — O
Guardião de todos. — Eles olharam de para um o outro e sorriram.
— Eu evoluí como o Hän ku pesäk kaikak, o Guardião de todos. — Fen corrigiu. — Ao
longo dos séculos. Um guerreiro que escolhe se tornar um Guardião pensando que poderá lutar
com o Sange rau existente, é absurdo. Leva séculos para aumentar a velocidade e entender os
dons. Sem mencionar que se não tiverem uma companheira, o perigo para sua alma aumenta
com o passar dos anos.
Mikhail assentiu.
— Penso que tenho informações suficientes para chegar a algumas decisões que guiarão
nosso povo, assim como ajudar a persuadir o conselho dos Lycan, a concordar em parar a caça
àqueles que são Hän ku pesäk kaikak — Guardiões de todos, em lugar do Sange rau. Uma vez
que eu determine nosso curso de ação, convocarei uma reunião aqui, nas câmaras sagradas com
tantos de nossos guerreiros quanto possível, para que saibam o que nós estamos enfrentando.
Gregori assentiu, mas não parecia feliz com isto.
— O recado será enviado para MaryAnn e Manolito. Uma vez que eu entre em contato
com Zev, pedirei uma reunião com o conselho dos Lycan, se eles concordarem, chamarei nossos
guerreiros para estarem aqui para esta cúpula. — Mikhail deu um leve arquear, um gesto de
respeito em direção a Fen. — Obrigado por ter vindo hoje e ter me permitido a oportunidade
de aprender.
— Minha companheira, Tatijana, jurou lealdade ao príncipe dela. Meu irmão, Dimitri,
também. — disse Fen. — Embora meu sangue não seja mais Cárpato, meu coração e minha alma
são. Juraria lealdade ao meu príncipe, se ele escolhesse me aceitar como eu sou.
— Você é e sempre será Cárpato primeiro. — Mikhail disse. — Estarei honrado em tê-lo
entre meus guerreiros.
O zumbir nos cristais começou novamente, aumentando de volume, cada um
sintonizando uma nota perfeita. Cores rodopiavam, os matizes mais profundos de vermelho
escuro e púrpura, como se os ancestrais ainda estivessem um pouco confusos sobre o que Fenris
realmente era, mas estavam de acordo com sua decisão de jurar lealdade ao príncipe;
finalmente reconheceram que ele serviu ao povo deles com honra por séculos.
Fen abriu a veia em seu pulso e ofereceu para Mikhail.
— Eu ofereço minha vida pelo nosso povo. Prometo minha lealdade a eles por nosso
laço de sangue.
Mikhail, Gregori acautelou.
Ele é um de nós.
Seu sangue não é. Eu tomarei seu sangue.
Os olhos de Mikhail escureceram ainda mais e Gregori recuou relutantemente.
Mikhail tomou o pulso oferecido, aceitando o laço de sangue com Fen. Ele fechou o
ferimento cuidadosamente e deu a Fen um leve arquear.
— Como receptáculo de nosso povo, eu aceito seu sacrifício.
Você pode ser o homem mais teimoso na vida, Gregori silvou. Há momentos em que
gostaria de trancá-lo em um calabouço e jogar a chave fora.
O riso de Mikhail foi suave na mente de Gregori. Minha filha não ficará muito feliz que
seu marido tenha tais pensamentos.
Você não pode jogar a carta de Savannah sempre que quiser. Sério Mikhail, sou
responsável por sua segurança, e você se recusa a me escutar.
Mikhail suspirou. Eu escuto. Sempre levo o que você diz sob cuidadosa consideração
antes de tomar minhas decisões, Gregori. Não tento tornar seu trabalho mais difícil, mas ainda
tenho que seguir meus instintos. Fenris Dalka será um recurso enorme para nosso povo. Sei que
ele tem um lugar em nosso futuro. Os ancestrais sabem disto também.
Fen enrolou seu braço ao redor de Tatijana. Ele sabia que ninguém mais realmente
notou o movimento instintivo de Gregori para impedir Mikhail de tomar seu sangue. Não podia
culpar Gregori. Quanto mais ele ficava ao redor de Mikhail, mais respeito tinha pelo homem. O
destino de uma espécie inteira descansava nos ombros de Mikhail. Ele era ponderado,
inteligente e dono de si mesmo — para um guarda-costas como Gregori, o pior pesadelo.
Fen estava absolutamente certo de que houve uma troca entre os dois homens, embora
nem Dimitri, nem Tatijana pareceram notar. Sua sensibilidade estava extremamente exaltada, e
sentiu uma pequena corrente de energia indo de um lado para outro entre os dois homens. Ele
não deveria ter sentido nada. Estavam acostumados a comunicar-se telepaticamente e tinham
séculos de experiência. A comunicação psíquica era fácil para eles.
Fen soltou a respiração lentamente, não querendo alertar ou alarmar Gregori. Eles
estavam nas profundezas da Terra, na mais sagrada das cavernas, cercados pelos espíritos de
seus ancestrais e todos os guerreiros que protegiam Mikhail, e ele estava ciente de uma
conversa telepática entre o príncipe e seu homem de confiança. Isso não era bom. Se ele tivesse
adivinhado, isso seria uma coisa, mas Fen sabia, e isso significava que ainda estava evoluindo.
Teria que dizer a Gregori ou ao príncipe em algum momento, mas não aqui, não onde não
poderia proteger Dimitri e Tatijana o suficiente, e os ancestrais poderiam de repente retirar a
aceitação deles.
O que está errado? Tatijana perguntou. Ela roçou uma carícia em sua mente.
Imediatamente sentiu a paz insinuando-se nele. Ele não podia mudar o que era e ela o
aceitou, com problemas e tudo. Tenho você, minha senhora, não pode haver nada de errado.
Ela riu suavemente em sua mente, enchendo-o com aquela emoção estranha, que agora
achava ser alegria. Eu já disse nesta elevação que sou loucamente apaixonado por você, e que
claramente é a mulher mais bonita do mundo? Porque se não disse, é muita omissão de minha
parte.
Você deixou isto bem claro quando estávamos nos alimentando esta noite. Lembra?
Você me pegou e fizemos amor. No caso de já ter se esquecido disso, embrulhei minhas pernas
ao redor de sua cintura e enganchei meus tornozelos, assim eu não cairia e abaixei-me
diretamente sobre você. Gostoso e lentamente. Isto está voltando pra você? A voz dela ardia
tão sensual como sempre.
Não havia como esquecer qualquer momento do amor feito com ela. Ele preferia ter
aquela experiência tão frequentemente quanto possível. Seria impossível esquecer, minha
senhora. Está queimado em minha alma.
Vikirnoff acenou com a mão na frente do rosto de Fen.
— Você ainda está conosco? Mikhail tomou um pouco de sangue e você está
empalidecendo.
— Ele não parece pálido para mim. — Dimitri disse com voz arrastada. — Ele parece um
pouco quente demais.
Fen enviou a seu irmão um olhar feroz, mas Dimitri não pareceu nada intimidado.
— Realmente gostaria de voltar à maneira de como combater o Sange rau. Deve haver
um modo. Dimitri conseguiu com sucesso lutar com aquele que você chama de Bardolf. —
Vikirnoff assinalou. — Ele é Cárpato. Ele foi capaz de fazer isto porque teve um pouco de seu
sangue misturado ou porque usou algum tipo de estratégia especial? — Curiosidade e uma
pitada de ansiedade afiavam seu tom.
— Eu temia me transformar, da mesma maneira que a maioria dos caçadores de
Cárpatos antigos fazem. — Fen disse. — Então praticamos com jogos de guerra todo o tempo
que nos encontrávamos. Dimitri encontrou coisas que funcionavam, como também coisas que
não funcionavam.
— Bata e corra é sempre a melhor abordagem. — Dimitri disse. — Tem alguns truques
que inventei, mas eles podem ser usados apenas uma vez, no máximo duas, e apenas se eu
alterá-los. O Sange rau aprende e adapta-se muito depressa, então o nome do jogo é sempre
mudar as coisas.
— Felizmente — Fen continuou — um vampiro é um vampiro. O mesmo acontece com
um lobisomem renegado. Eles nem sempre têm a paciência que deveriam. O Sange rau
definitivamente leva mais tempo com raiva, mas realmente tem o ego mais inflado do que o
vampiro, então você pode irritá-los o suficiente para que cometam erros.
— É definitivamente melhor para os caçadores segui-los em bando. — Dimitri adicionou.
— Um único caçador não tem quase nenhuma chance como um grupo teria.
— Mas lutar ao estilo de bando demanda habilidade. Bardolf conhecerá todos os
movimentos do bando, enquanto Abel nem tanto. — Fen continuou. — A única coisa que tem
que saber sobre cada Sange rau é, de onde eles vieram e o que eram antes de misturar o sangue.
Bardolf fica confortável como lobo, e quando pressionado, volta para o que conhece melhor. O
mesmo vale para Abel. Claramente nesta relação, Abel é o mestre e adquiriu mais habilidades,
porque é Sange rau há muito mais tempo.
— Nós precisaremos de um curso intensivo de como lutar contra estes garotos maus. —
Vikirnoff declarou. — Os dois estão dispostos a ficar por aqui e nos ajudar?
— Isso seria uma ideia. — Dimitri disse. — Isto e conceber uma estratégia para destruir
tanto Bardolf como Abel. Se eles moverem o bando, teremos que localizá-los.
— Não ignore o bando. Nós não temos números exatos e muitos foram mortos durante
as duas batalhas. Mas mesmo que tenhamos matado trinta ou quarenta deles, se o bando for
de cem fortes, como tenho receio que sejam, eles ainda têm um grande exército que podem
lançar sobre você. — Fen disse. — Eles virão sobre você durante o dia, porque Abel sabe que é
quando podem fazer o maior estrago.
— Outra boa razão para os dois ficarem e nos ajudar. — Gregori disse.
— Eles lutam como um exército bem sincronizado. Atingem rápido, fazem tanto dano
quanto possível e matam tantos quanto podem antes de desaparecerem. Quase sempre vão no
estômago, rasgando seu adversário quase pela metade. — Fen disse a eles.
— Tenho as cicatrizes para provar isto. — Dimitri disse com um pequeno
autodepreciativo encolher de ombros.
Gregori sorriu para ele.
— Você não está sozinho. Penso que metade dos nossos homens tiveram seus
estômagos rasgados, incluindo eu. Definitivamente nos fizeram parecer como amadores.
— Sabia melhor do ninguém que não deveria deixá-los aproximarem-se. — Dimitri
admitiu.
— Bandos são lutadores perigosos e muito qualificados. — Fen disse.
— Pense sobre o bando de lobos nas florestas. — Dimitri adicionou. — Os Lycans são
mais uma ameaça do que até um bando de animal quando chegarem até você, porque seus
melhores estrategistas lideram a caça.
— Mas os Lycans não caçam humanos ou Cárpatos. — Mikhail disse rapidamente. —
Quando fala sobre um bando caçando, você está falando realmente sobre o bando de
lobisomens renegados.
— É verdade. — Fen concordou. — Mas eles começaram como Lycans. A maior parte
do tempo os indivíduos dentro de um bando saem para se tornarem renegados. Os renegados
formam seus próprios bandos.
Natalya, a companheira de Vikirnoff franziu o cenho. Ela era sobrinha de Tatijana, filha
de seu irmão morto, Soren, mas suas características de Caçadora de Dragão estavam lá,
incluindo os olhos alterados e a cor dos cabelos. Chegando a conhecer Tatijana como ele tinha,
Fen não ficou surpreso por ver que Natalya lutava ao lado de seu companheiro ou entrava na
caverna dos guerreiros com confiança absoluta.
— O que é isto? — Fen perguntou.
— Os caçadores de elite como Zev. Todos estão falando sobre ele e quão qualificado ele
é.
— Eu o vi em ação. — Gregori disse. — Cada pedaço dele é tão bom quanto o nosso
melhor.
— Então, pelo que ouvi — Natalya disse —, eles nunca vão ser renegados?
— É possível. — Fen disse. — Mas nunca vi acontecer. Nossos melhores caçadores
eventualmente sucumbem à escuridão e se tornam vampiros. Nossas espécies não são tão
diferentes. Ambos nascemos predadores e temos que submergir esta parte de nossa natureza a
fim de manter nossa honra.
— Você é parte Lycan. — Natalya persistiu. — Tem que lutar com a inclinação para
permitir que o seu lado animal assuma?
Ela sabe fazer as perguntas certas. Pode imaginar Zev sendo um Sange rau? Existia
orgulho na voz de Tatijana.
Nunca teve a oportunidade de conhecer sua sobrinha enquanto ela crescia. De certa
forma, Fen sabia que estava agradecida por isto. Ela suportou observar seu pai torturar seu
próprio neto e usá-lo em experiências horríveis.
Tatijana estava firmemente fundida com ele, como esteve desde o momento em que
entraram na caverna. Estava muito determinada a protegê-lo do menor insulto, mas isto a
deixou aberta para que Fen lesse seus pensamentos. Ela queria uma relação com Natalya.
Natalya ajudou a salvar suas tias, mas tanto Tatijana como Branislava estavam tão frágeis que
foram postas na terra quase que imediatamente. Ela não teve tempo para chegar a conhecer
seus parentes.
Ela certamente faz as perguntas certas. Fen concordou. Ela é definitivamente uma
Caçadora de Dragão.
— Por outro lado, meu amigo, Vakasin, tornou-se Sange rau enquanto estávamos
caçando. — Fen pausou, sacudiu a cabeça e corrigiu-se. — Não Sange rau, ele é um Guardião de
todos.
Mais uma vez Tatijana o encheu com... ela. Puro amor. Proximidade. No momento em
que sentiu a tristeza por seu companheiro perdido, ela estava lá, compartilhando a emoção com
ele, confortando-o. Era como um milagre.
A cada elevação espero dar-lhe felicidade. Não sabia mais como colocar em palavras
seus sentimentos por ela. Ele podia apenas esperar que ela sentisse aquela emoção esmagadora
que tinha por ela, todo o tempo em que se fundiu com ele.
Homem lobo, não fique muito romântico comigo com seu irmão nos fitando como ele
está.
Você começou isto, ele provocou, mas ela tinha razão. Dimitri estava afiado e estava
observando-os com um lânguido sorriso conhecedor.
— Nós temos que ser muito mais criativos e nos preparar para ataques durante o dia.
— Mikhail disse. Ele esteve muito quieto pela maior parte da discussão sobre a luta com os
bandos. — Os filhos adotivos de Sara e Falcon são humanos e devem ser protegidos. Nós temos
apenas Jubal e Gary para ajudar a combater os bandos se eles vierem enquanto estivermos mais
vulneráveis, e Gary não está em posição de nos ajudar por algum tempo.
— Zev e seu bando os defenderão enquanto os renegados estiverem nas redondezas.
— Fen disse. — Eles juraram caçar os renegados e levá-los à justiça.
— Será que não estarão mais interessados em caçar ativamente o lobisomem, do que
protegerem nossas crianças? — Gregori perguntou.
Mikhail deu de ombros.
— Nós protegeremos nossas próprias crianças, com ou sem eles. Tenho muito que
considerar antes de chamarmos um conselho cheio de guerreiros. Quero me encontrar com Zev
assim que possível, conhecer seu bando e conseguir que levem um convite para o conselho deles
para se encontrarem conosco. Assim que tivermos uma resposta, se for positiva, chamarei os
outros.
Mikhail voltou-se para o espesso cristal vermelho sangue ainda pulsando com luz.
— Agradeço aos meus ancestrais pela generosidade de vocês em fazer a jornada para
estar conosco e ajudar a nos guiar por estes tempos difíceis. Fiquem bem e vão com honra.
As colunas gigantes cantarolaram por um momento, as cores mudando através do
estranho efeito da aurora boreal, brilhando e lentamente desvanecendo.
Fen ouviu o gotejar da água e a lama quente borbulhando, e a respiração de seus
companheiros. Mais podia sentir o pulso e o batimento cardíaco da própria montanha. Abaixo
deles sentiu a força dos charcos de magma. Havia um ritmo aqui que sentia em suas próprias
veias. Havia algo na caverna sagrada que simplesmente deixava seus sentidos mais aguçados,
exaltando-os ainda mais. Ele ainda estava ainda evoluindo como considerou antes?
Ou sua conexão com a Mãe Terra concedeu-lhe ainda mais dons.
Por que ele pensou que Tatijana não pegaria aqueles pensamentos alarmantes? Ele
pegou a mão dela, puxando-a para seu peito acima de seu coração. Sua explicação foi entregue
em seu tom casual, de fato.
— Minha companheira, Raven, adoraria encontrá-lo, Fen. Depois das batalhas,
formalidades e rituais solenes, seria bom para todos apenas relaxar. Ela achou que seria
agradável reunir a todos para uma celebração de sorte. — Mikhail disse. — Percebo que está
provavelmente exausto, mas ela raramente pede qualquer coisa, então...
— Uma celebração soa adorável. — Tatijana disse imediatamente.
Seus dedos apertaram ao redor dos de Fen. Ele podia sentir sua ansiedade.
Uma celebração. Uma festa. Posso visitar Natalya e conhecê-la. Bronnie poderia até
elevar-se para isto. Ela não é tão extrovertida quanto eu. Ela é uma guerreira melhor, mas é
tímida perto de tantas pessoas. Temo que ela nunca saia da terra. Tatijana sorriu para ele. Não
seria ótimo se houvesse música? Dança? Eu amo dançar.
— Será seguro para todos com dois Sange rau tão perto? E um bando de renegados? —
Natalya perguntou.
— Duvido que até mesmo Abel seja louco o suficiente para atacar os Cárpatos quando
todos estiverem presentes. — Mikhail disse. — Mas certamente manteremos nossa celebração
em um lugar seguro, bem defensável e tendo salvaguardas.
Natalya e Tatijana sorriram um para a outra. Acima da cabeça delas, Vikirnoff e Fen
enviaram um ao outro um rápido sorriso.
— Está resolvido então. — Mikhail disse. — Na próxima elevação, teremos um pouco de
diversão.

Capítulo 14

A chuva caiu durante o dia, mas essa queda constante apenas refrescou o ar da noite,
de forma que as cores pareciam vívidas e limpas. As folhas das árvores brilhavam enquanto Fen
e Tatijana caminhavam juntos pela floresta em direção à caverna onde a celebração seria
realizada. Fen se encontrou olhando ao redor meio que maravilhado, como se tudo fosse novo
e ele nunca tivesse visto antes.
Caminhar de mãos dadas com Tatijana sempre o fazia se sentir incrível, alguém — um
homem de família. Ela o conhecia como nenhuma outra pessoa, mas para ele, sabia que ela seria
um mistério que levaria séculos para tentar resolver. Como pode uma mulher acabar com
séculos de solidão absoluta? Como pode levar embora todas as mortes, os amigos que teve que
matar?
Caminhou com ela lentamente, saboreando cada passo. O musgo crescia em uma cor
forte verde amarelada e ondas de calcário subiam pelos troncos das árvores e por cima das
pedras. Ele se admirou que podia distinguir a diferença entre as cores. O céu estava tão claro
que parecia azul da meia-noite, as estrelas dispersas em uma coleção maravilhosa de milhares
de pedras preciosas cintilantes. Quando passaram por ramalhetes de flores espalhados e os pés
de Tatijana cobertos com sandálias rodearam as bordas das camas, as flores noturnas
desdobraram suas pétalas em tributo a ela.
— Você é mágica, minha senhora. — ele disse. — Absolutamente mágica.
Tatijana se moveu mais perto dele, encaixando-se embaixo do seu ombro.
— Não há nada mágico em mim, homem lobo, mas estou contente que você ache que
exista.
Ele levou os dedos dela ao calor de sua boca. Ela parecia especialmente bonita usando
um vestido longo e esvoaçante para dançar, por via das dúvidas, disse a ele rindo. Ela
definitivamente estaria dançando hoje à noite mesmo que ele tivesse que providenciar a música.
— Sinto muito que você não conseguiu convencer sua irmã a vir conosco. — disse Fen.
Ela tentou muito conversar com Branislava para subir só por algumas horas, mas sem sucesso.
Tatijana aceitou a decisão de sua irmã, mas ficou desapontada. Sentia falta dela. Podia sentir
aquela dor dela aumentando.
— Ela sairá em seu próprio tempo. É muito mais feroz do que eu de uma série de
maneiras, e ainda assim sempre teve dificuldade de falar com outras pessoas. Xavier, nosso pai,
realmente trabalhou em nos manter com medo e sob seu controle. Ele tinha um monte de
truques psicológicos. Bronnie sempre tentou me proteger e conseguiu o pior de tudo.
— Ela estava genuinamente feliz por você encontrar seu companheiro. Pude sentir isto.
— disse Fen.
— Está. Ela é assim. Pode ser que venha hoje à noite. Não disse exatamente não. Bronnie
faz as coisas do seu jeito. Quer ver Natalya e Razvan, que é meu sobrinho, irmão da Natalya. Eu
disse a Bronnie que não acho que Razvan esteja por perto, mas só chegar a conhecer Natalya é
um presente inestimável.
Eles diminuíram os passos quando se aproximaram da extremidade da floresta, bem na
base da montanha, prolongando seu tempo sozinhos juntos.
— Dei a ela o máximo de informações sobre os bandos de renegados, os caçadores de
elite, as preocupações de Mikhail e tudo o mais que consegui pensar quando ela perguntou. —
disse Fen. — Ela estava inflexível que eu lhe desse meu sangue.
— Esperava que ela insistisse. — Tatijana disse. — Ela é protetora comigo. Tudo que
tivemos durante séculos foi uma à outra. — Deu-lhe um meio sorriso nervoso. — Você
realmente acha que pareço bem?
Ela vestiu-se cuidadosamente e mudou de ideia duas vezes antes de escolher o vestido
longo. Fez uma longa trança em seu cabelo espesso e então prendeu-o em cima em um coque
complicado. Desmanchou e agora estava uma parte pra cima e uma parte pra baixo em um
coque, mas com tranças.
— Você parece tão bonita que me deixou sem fôlego. — ele disse sinceramente. — Não
precisa ficar nervosa hoje à noite, Tatijana. Ninguém será páreo pra você.
Ficou surpreso com sua vulnerabilidade. Realmente nunca mostrou esse lado dela antes.
Lutou contra um bando de renegados com ele, levantou-se para Gregori e entrou na caverna
sagrada de guerreiros completamente preparada para uma batalha em seu nome. Inclusive
parecera segura de si mesma na taberna, dançando e ignorando o público rude. Agora, indo
para uma celebração com seus companheiros Cárpatos estava ansiosa.
Deslizou o braço ao redor dela, detendo-a, inclinando seu queixo para cima para que
pudesse olhar dentro de seus brilhantes olhos em constante mudança.
— Eu te amo muito, sívamet. Nunca iria querer outra mulher...
— Claro que não, porque sou sua companheira.
Ele balançou a cabeça.
— Mulher tola. Eu me apaixonei por você muito antes de reivindicá-la. É impossível não
amá-la quando estou na sua mente e vejo sua bondade e compaixão. Quando vejo quem você
realmente é em sua essência. Estou mais do que honrado por ser minha companheira, mas meu
amor por você consome tudo. Meu coração e alma, minha mente e corpo, tudo pertence a você.
Ele deslizou a palma ao redor do pescoço dela, seu polegar fazendo com que sua cabeça
inclinasse para ele. Seus olhos tão surpreendentes verdes, pareciam poços profundos de
esmeralda.
— Eu sei que soa tolo dizer em voz alta, Tatijana, mas você me deixa sem fôlego.
Seus lábios se curvaram em um sorriso, linda além de sua imaginação mais selvagem.
Seu lábio inferior era perfeito, convidativo, uma tentação que ele não podia ignorar. Curvou sua
cabeça para a dela, roçando leves beijinhos por cima de seu queixo e até o canto da sua boca
irresistível. Ele provocou seu lábio inferior, atraindo-o para sua boca, saboreando a doçura antes
de estabelecer a boca sobre a dela.
Foi gentil, até mesmo terno, algo que não sabia que podia ser. Quando a beijou, o
mundo parecia que tinha parado. O tempo simplesmente parou. Ela se tornou todo seu mundo.
A textura de sua pele, a sensação fresca dela contra o calor da sua. Seu cabelo sedoso caindo ao
redor do rosto e roçando o seu. Sua mão parecia tão grande emoldurando seu rosto quando ele
aprofundou o beijo, acariciando seu pescoço com a ponta dos dedos.
Ele se viu perdido em seu gosto. Na paixão crescente entre eles. O amor estava em seu
beijo. Como podia não estar quando ela era realmente tudo? Ele a beijou novamente, relutante
em parar.
— Eu podia beijar você para sempre. — ele admitiu.
Tatijana estendeu-se com seus braços esguios e puxou sua cabeça para a dela, beijando-
o mais uma vez.
— Eu adoro te beijar. Beijar para sempre parece uma boa ideia.
— Mas... — Ele ouviu o riso em sua voz.
— Perderemos a festa e quero dançar. Eu queria muito mesmo dançar.
— Mais do que beijar? — Fen levantou a sobrancelha e pareceu o mais severo possível,
desafiando-a a escolher a resposta errada.
— Estava esperando por ambos. — Tatijana admitiu. — Sou muito boa em multitarefas.
— Muito diplomática. Você também pensa por si. Vou ter que trabalhar para me manter
na sua frente. — Ele tomou sua mão. — Vamos lá. Não vamos perder a festa.
— Dimitri vai vir hoje à noite? — Tatijana perguntou enquanto caminhava com ele.
Fen soltou um suspiro.
— Dimitri não reivindicou sua companheira e ele está muito perto do limite. Sabíamos
há algum tempo que nossas trocas de sangue nos últimos séculos das batalhas que
compartilhamos com os vampiros começaram a mudá-lo. A mudança pode aliviar o terrível
pedágio dos séculos de escuridão e a constante tentação sussurrada, mas Dimitri tem emoções
e cores restabelecidas.
— Mas saber que tem uma companheira não ajuda? E ele tem suas emoções e cores de
volta.
— Você pode pensar que sim — disse Fen —, mas isso pode levar um macho Cárpato à
loucura. Os séculos se fecham sobre você, todas aquelas mortes, toda aquela escuridão e sem
nenhuma luz para guiar seu caminho. Já tem algum tempo agora que Dimitri recebeu a infusão
do meu sangue também, mas não suficiente para mudá-lo — só o suficiente para somar à luta
que ele já tinha.
Ela franziu a testa.
— Não estou entendendo.
— Não acho que algum de nós entenda, Tatijana, está impresso em nosso DNA. Nossos
homens são levados a encontrar e vincular nossas companheiras a nós. É primitivo. O impulso é
muito forte e não gostamos de outros homens ao redor de nossa mulher, especialmente se ela
não for reclamada. A sociedade moderna e o fato que muitas de nossas companheiras são de
outras espécies contribuíram ao perigo de esperar.
Ela suspirou.
— Antes de me tornar sua companheira, eu só tinha Bronnie para me preocupar. Agora
tenho parentes também.
Ele riu.
— Eu nunca pensei nisso desse jeito. — Ele gesticulou em direção à caverna. — Acho
que você tem muito mais parentes do que eu.
Ela começou a rir também.
— Uh-oh. Parentes. Provavelmente tenho muito mais do que qualquer um de nós
sabemos. Podemos ter que fugir de tudo isso.
Ele se debruçou para beijá-la novamente só porque ela parecia tão radiante lá no meio
da noite. Sua pele parecia impecável, sua boca generosa, sedutora, oh, tão atraente que não
podia resistir a ela.
— Acho que beijar você durante a dança é uma ideia muito boa, minha senhora. — ele
murmurou quando ergueu a cabeça. — Tem certeza que não quer ter uma dança privada aqui
mesmo?
Tatijana riu.
— Estamos apenas há alguns metros da entrada. Estou certa que eventualmente alguém
virá.
— Estaremos fazendo um favor a eles, educando-os corretamente nas formas do amor.
— Fen persistiu com outro beijo roubado.
— Você vai dançar comigo de maneira apropriada. — ela disse.
Ele riu e pegou sua mão, subindo direto ao lado do penhasco da montanha. A entrada
da caverna era estreita, uma mera fenda entre duas pedras salientes. Cárpatos não tinham
nenhum problema em deslizar até o corredor mais largo levando à câmara bem iluminada onde
a reunião estava sendo realizada. Tochas foram acesas no alto ao longo do teto da catedral,
lançando luzes brilhantes dançando em torno da câmara enorme. Vapor subia de uma piscina
aquecida em um canto do aposento onde a água vertia de uma série de rachaduras na parede
acima dela.
O som de crianças rindo atraiu Fen. Ele não esteve perto de uma criança Cárpato há
séculos. Seu coração fez uma cambalhota curiosa no momento em que entrou no aposento e
viu duas meninas gêmeas idênticas brincando com um menininho próximo a um teatro em
miniatura dentro de um brinquedo aramado de subir para crianças. Outro menininho com uma
profusão de cachos castanhos correu para os outros três com um balde na mão. Filhotes de lobo
seguiam as quatro crianças onde quer que fossem.
Várias crianças mais velhas estavam agrupadas em torno de uma fogueira, seus olhos
brilhantes enquanto um macho adulto contava uma história para eles. O menino que parecia
ser o mais velho envolveu o braço ao redor da garotinha mais nova quando ela ofegou e recuou
para o que quer que o contador de histórias disse. A visão trouxe de volta lembranças de sua
juventude, quando Cárpatos se reuniam e histórias eram uma grande parte do entretenimento
da noite.
Ele não percebeu então quanta história foi passada para ele. Foi só bem mais tarde
quando precisou de informações a respeito de como lutar com vampiros ou subitamente
lembrava-se como um ancestral tinha voado entre duas rochas perto que percebeu que as
histórias foram um modo de ensiná-lo. Claramente aquela tradição ainda estava em voga.
Tatijana enfiou a mão na dobra do seu braço, seu corpo deslizando mais perto do dele
como se precisasse de proteção, trazendo sua atenção de volta para ela. A maior parte dos
adultos no aposento viraram para olhar para eles à medida que entravam. A atmosfera era
acolhedora e festiva. Aquilo também pareceu familiar a ele, a memória desvanecida de repente
saltando à superfície. Cárpatos tomavam muitas oportunidades para se reunirem para uma
noite de diversão.
— Estou muito feliz que você veio. — Mikhail saudou-os. Ele tinha o braço ao redor de
uma mulher baixinha com nuvens de cabelos e olhos escuros incomuns, quase violeta. — Esta é
Raven, minha companheira. Meu filho Alexandru está ali. — Ele gesticulou em direção ao
playground. — Raven, você se lembra da Tatijana, é claro, e este é Fenris Dalka, irmão mais velho
de Dimitri.
— Tatijana. — Raven exclamou, estendendo ambas as mãos. Ela também usava um
vestido longo que rodopiava ao redor de sua figura curvilínea. — Você está adorável esta noite.
— Ela está esperando dançar. — disse Fen.
— Eu também. — Raven admitiu.
— Obrigada, Raven. — Tatijana respondeu. — Estou tão contente por você ter pensado
nisso. Adoro a ideia da comunidade inteira se reunir para uma festa.
— Pensei que todos nós poderíamos nos divertir um pouco depois... — Ela foi parando
de falar e olhou para Mikhail.
Ele deu de ombros.
— Você pode dizer, tivemos nossos traseiros chutados.
— Você esteve dizendo isso várias vezes para Gregori. — Raven brincou. — Ele adora
provocar nosso genro.
— É bom para ele. — Mikhail não soava arrependido.
Raven apenas riu, sua mão deslizando pelo braço do Mikhail até seu pulso em um gesto
íntimo. Ela virou-se para Fen.
— Eu queria agradecer por seguir o bando de renegados. Nós estaríamos muito pior se
não fosse por você.
— Estou contente por ter cruzado com eles. — Fen disse honestamente. Ele olhou para
Tatijana. — Eu poderia ter deixado de encontrar minha companheira.
Raven riu.
— Sinceramente, acho que se for para acontecer, acontece. A sorte ou o destino deve
nos colocar no caminho certo. Quando vim pra cá todos aqueles anos atrás sozinha, só para
escapar, nunca sonhei que encontraria um homem como Mikhail. Ele era muito intimidante para
uma mulher que não sabia nada sobre Cárpatos.
Tatijana juntou-se à sua risada.
— Ele ainda pode ser intimidante quando quer.
— Não tanto para mim. — Raven disse. — Venha conhecer nossa filha, Savannah. Ela é
a companheira de Gregori. Nossas duas netas adoráveis estão bem ali, e definitivamente têm
seu pai embrulhado ao redor dos dedinhos minúsculos delas.
O amor e afeto por sua família era óbvio em sua expressão, seu tom de voz e a ternura
nos olhos quando olhava para eles. Fen virou para ver Gregori pegar no colo uma garotinha
justamente quando ela deu um salto ousado do alto do escorrego.
— Isä. — Pai. — Ela fez uma careta para ele, ainda que de alguma maneira conseguiu
fazer beicinho ao mesmo tempo. — Eu podia ter feito isto.
— Anya. — Gregori usou seu tom de voz mais severo. — Eu disse a você que parasse de
tentar saltar do escorrego até a casinha.
Fen apertou os lábios para não rir. O escorrego não tinha mais do que meio metro de
altura do chão e o telhado da casinha não era muito mais alto. A pequena Anya não parecia nem
um pouco intimidada por seu pai, nem mesmo quando ele estava segurando-a elevada do chão,
seus olhos prateados encarando diretamente os dela. O cabelo escuro e encaracolado
envolviam sua cabeça como um halo, emoldurando seu rostinho de duende. Seus olhos, tão
claros quanto os do pai, ficaram tempestuosos. Ela ergueu o queixo desafiadoramente.
— Não sou um bebê como Sandu. Eu posso fazer isto.
Mikhail abaixou sua voz.
— As meninas chamam Alexandru de Sandu. — Ele disse alto o suficiente para que
Gregori pudesse ouvir e saber que estavam assistindo. A diversão era o ponto alto no tom do
príncipe. — As gêmeas são apenas umas semanas mais velhas do que ele, mas gostam de pensar
que estão anos à frente. Ele é maior do que as duas.
— Isä. — disse a segunda garotinha. — Se não podemos saltar, podemos flutuar? Você
sabe que somos realmente boas em flutuar.
Gregori deu uma olhada por cima do ombro para Mikhail, voltou para sua filha e
suspirou. Ele estendeu a mão para baixo e pegou-a no colo.
— Anastashia, pensei que já tivéssemos conversado sobre isso. Você precisa da
supervisão de um adulto quando estiver tentando coisas, até flutuar. É perigoso.
— Como eles já podem conversar? — Tatijana perguntou. — Isto não é avançado até
mesmo para nossas crianças?
— Eles nasceram muito talentosos. — Raven admitiu. — Eles falam Cárpato antigo como
também vários outros idiomas. Bem... devo esclarecer. Eles entendem a língua e sabem muitas
palavras e usam frases. Até onde podem ir em uma idade tão jovem, estão nos dando cabelos
brancos.
Mikhail arrastou a mão pelo cabelo de Raven.
— Não vejo nenhum grisalho.
Ela riu suavemente.
— Sorte minha que sou Cárpato e não ficamos grisalhos, embora com essas duas
garotinhas eu poderia ter de qualquer maneira. — Ela apontou para as gêmeas. — Elas nasceram
cedo e ficaram em incubadoras separadas. Quase sem vida, elas flutuaram uma até a outra,
determinadas a ficar juntas. No fim, não existia nada que pudéssemos fazer, então deixamos
que ficassem juntas. Gregori está com as mãos cheias desde então.
— Essa Anya, é um pouco audaciosa. — disse Tatijana.
Fen podia dizer que ela se orgulhava da garotinha. Imaginou que Tatijana teria sido
como Anya, querendo tentar tudo.
Raven acenou com a cabeça.
— Se ela fosse um menino, Gregori não teria qualquer problema em permitir que ela
tentasse saltar do escorrego até o telhado da casinha, mas ele tem esta coisa com as suas
meninas.
— Como isto funciona para ele? — Mikhail perguntou, enfiando o nariz no topo da
cabeça de Raven.
— Você não vai achar tão engraçado quando nosso filho começar a te desafiar fazendo
coisas perigosas. — Raven assinalou, mas riu suavemente enquanto dizia isto e esfregou a
cabeça no seu peito afetuosamente. — A pequena senhorita Anya é extremamente aventureira.
Acho que ela tentaria mudar de forma se alguém lhe desse meia oportunidade.
— Ela provavelmente já fez. — Mikhail assinalou.
— Morda sua língua. — Raven disse.
Fen se encontrou rindo genuinamente da situação do Gregori. Ele era alto, de ombros
largos e muito respeitado no mundo Cárpato. Quando falava todos escutavam. Ao lado de
Mikhail, a palavra do Gregori era lei, mesmo assim suas meninas gêmeas, apenas duas,
desafiavam-no. Com elas, ele era paciente e gentil, embora firme, não que isso parecia fazer
algum bem à pequena Anya. Ela era obviamente aventureira.
— Elas não são lindas? — Tatijana perguntou.
— Porém terríveis. — disse Fen. — Se tivermos filhos, sívamet, vamos tentar meninos.
Se as meninas acabarem sendo como você, eu definitivamente terei um ataque cardíaco antes
delas crescerem.
Tatijana riu, virando para Raven.
— Homens. Eles são uns bebês quando se trata de crianças. Como é o seu Alexandru?
Você deu um bom nome a ele. Significa defensor de toda a humanidade, não é?
Raven assentiu.
— É muito para um garotinho estar à altura.
Fen estava curioso a respeito do filho do príncipe também. Seu olhar ia continuamente
para os quatro pequeninos, as gêmeas do Gregori e Savannah que estavam distribuindo beijos
por toda parte do rosto do seu pai, o menino de cabelos encaracolados um pouco mais velho, e
o menininho com grandes olhos da cor dos de sua mãe e o cabelo preto como a meia-noite
exatamente como seu pai. Fen notou que apesar de ambas as meninas estarem nos braços do
Gregori, as gêmeas vigiavam o filho do príncipe, como fazia o menino de cabelos encaracolados.
— As gêmeas estão muito interessadas em Alexandru. — ele observou em voz alta.
Raven acenou com a cabeça.
— Eles já estabeleceram um vínculo. Gregori está um pouco preocupado com isso. Não
é um vínculo normal de criança, mas o vínculo Daratrazanoff/Dubrinsky. Até onde sabemos,
nenhuma mulher jamais foi o segundo em comando para o príncipe. Anastashia já mostrou
sinais muito cedo de ser uma curandeira natural como Gregori. Se alguém se machucar com
uma pancada ela corre pra cima e cuida disso. Até as crianças mais velhas vão para ela. Anya é
exatamente como Gregori. Ela é como ele até em seu feroz protecionismo de Alexandru.
Anastashia realmente é igualmente protetora, mas de um modo muito mais suave.
— Alexandru já é pensativo, como Mikhail. Parece pensar nos problemas antes de fazer
um movimento. — Raven disse. — Ele é sério na maior parte do tempo.
— E quem é o menininho que se parece tanto com ele? — Fen perguntou.
— É o filho de Jacques e Shea, Stefan. Ele é somente nove meses mais velho, mas
definitivamente pensa que tem que tomar conta dos outros. Ele é um pouco brincalhão, embora
leve a sério seu trabalho de proteger as gêmeas e Alexandru. — disse Mikhail. — Ele é como
Jacques quando era jovem. Suspeito que estará fazendo brincadeiras com todos nós daqui a uns
anos. Ninguém estará seguro.
Raven riu.
— Ele definitivamente contará com a ajuda das gêmeas e elas ficarão felizes em ajudar.
Uma pequena e curvilínea mulher que se parecia muito com Raven aproximou-se deles.
Mikhail estendeu sua mão para ela e puxou-a para seu lado.
— Esta é minha filha, Savannah. Não sei se você teve a oportunidade de encontrar
Tatijana ainda, mas ela é Caçadora de Dragão, tia do Razvan e da Natalya.
— É uma honra finalmente conhecer você. — Savannah disse imediatamente, apertando
a mão estendida de Tatijana. — Gregori e meu pai tem você em alta conta.
— Ela salvou vários de nossos guerreiros se estavam feridos com gravidade com seu
pensamento rápido. — disse Mikhail.
— Acho que todo mundo estava ajudando. — Tatijana disse.
— E este é Fenris Dalka, irmão mais velho de Dimitri. — Mikhail continuou com as
apresentações. — Sem dúvida Gregori falou dele também. — Seu tom tornou-se divertido.
Fen não conseguiu evitar rir.
— Sem dúvida.
Savannah juntou-se ao riso de Fen.
— Realmente ele falou de você detalhadamente — ela admitiu —, mas falou bem. Meu
pai contou de novo a batalha inteira, pois ele e Gregori estavam muito impressionados com suas
habilidades. Estou tão contente que você está aqui. Os filhos de Sara e Falcon — ela indicou o
pequeno grupo de crianças mais velhas reunidas para escutar o contador de histórias — são
todos humanos com habilidades psíquicas. Eles estavam vivendo em esgotos quando Sara os
encontrou. Eles já tinham se juntado e formado uma família, trabalhando juntos pela
sobrevivência antes de encontrá-los e trazê-los até aqui.
— Quem cuida deles durante o dia? — Fen perguntou. — Como algo assim funciona?
— Gabriel e Francesca também adotaram uma criança humana. — Mikhail assinalou. —
A jovem Skyler e eles se deram bastante bem.
— Aidan e Alexandria estão criando o irmão mais novo da Alexandria, Josh. — Savannah
acrescentou.
— Colby e Rafael De La Cruz têm Paul e Ginny. — disse Raven. — Pode ser feito com
uma pequena ajuda e sendo criativo a respeito das horas que você passa com eles. Sara e Falcon
levantam o mais cedo possível e as crianças dormem e começam seu dia mais tarde, assim
podem ficar acordados até mais tarde.
— Quem toma conta deles? — Fen persistiu. Mais de uma vez cruzou com uma criança
que gostaria de ter ajudado, mas era necessário ir para a terra descansar. Quem asseguraria sua
proteção quando ele estivesse submerso na terra como morto?
Tatijana tocou sua mente com carinho. Você é tão bondoso, Fen. Poucos homens pensam
em tomar conta de uma criança quando vivem um estilo de vida como a sua.
Infelizmente, vampiros, matilhas de renegados e Sange rau deixam atrás vários órfãos.
Ele abaixou o olhar para ela. Se não pudermos ter nossos próprios filhos, você consideraria uma
família como a da Sara?
Mesmo se pudermos ter filhos biológicos, eu adoraria incorporar outras crianças que
precisam de nós em nossa família, ela assegurou.
Ainda que sejam humanos ou Lycans?
Eu esperaria que eles fossem humanos ou Lycans, já que Cárpatos tem tão poucas
crianças.
A voz da Tatijana era tão amorosa que precisou de disciplina para não se inclinar e beijá-
la. Ao invés disso, roçou um beijo na sua boca em sua mente.
— Sara e Falcon têm algumas pessoas que os ajudam durante o dia quando eles não
podem estar lá. Tem Maria, que é sua babá em tempo integral. Slavica e sua filha ajudam
também. Slavica e seu marido, Mirko, possuem uma pousada local e normalmente ela está
muito ocupada, mas quando há necessidade, ela vem. Se houver problemas durante as tardes,
nós temos Jubal e Gary, e o marido da Slavica cuida deles. — Savannah explicou.
— O menino mais velho, Travis, tem onze agora. Ele é o mais velho dos sete. — Mikhail
disse. — Ele é a sombra do Falcon e já está aprendendo a lutar. Falcon e os outros adultos
trabalham com todas as crianças. Eles têm que conhecer nossos inimigos, assim como todos nós
fomos ensinados. Travis toma conta dos outros. A menininha que ele está abraçando é Emma.
Ela é a mais nova.
Fen podia ver que o menino era mais velho além de sua idade. Mesmo enquanto parecia
estar assistindo cada detalhe da história, ele estava olhando seus irmãos. Quando dois dos
meninos começaram a esmurrar um ao outro e em seguida bater em uma das meninas, ele
alfinetou-os com um olhar muito adulto e ambos pararam suas travessuras imediatamente. Um
sussurrou um pedido de desculpas para a menina sentada ao lado dele.
Ele indicou apontando com o queixo.
— Ele definitivamente tem a atenção deles.
— Aqueles são Peter e Lucas. Ambos tem dez e alguma coisa. Jase, o menino mais novo,
está sentado muito perto dele e continua se aproximando. — Raven disse a eles com uma
risadinha.
Conforme a história progredia, Fen podia ver o menino menorzinho com um tufo de
cabelos loiros cada vez mais perto de Travis.
— Chrissy é aquela que Lucas esbarrou e Blythe está sentada ao lado dela. Elas são
totalmente humanas, mas os talentos psíquicos que possuem são extraordinários.
— Onde Sara os encontrou? — Tatijana perguntou.
— Ela leu um artigo em uma revista sobre crianças vivendo nos esgotos porque não
tinham nenhum outro lugar para ir. Essas crianças são todas descartáveis. Tinham que procurar
por comida. Tinham crianças muito mais velhas que também viviam em unidades familiares ou
gangues, como quer que você prefira chamá-los, e roubavam este grupo frequentemente. Era
Travis quem os protegia e roubava a maior parte da comida para eles. — Savannah explicou. —
Eles são extremamente leais a ele.
— Travis ainda é um pouco tímido perto de mim. — Mikhail admitiu. — Uns anos atrás,
ele foi usado por um vampiro para nos espionar.
— Pior — disse Raven —, ele foi possuído. O vampiro o usou para tentar matar Mikhail.
Ele se culpou quando não havia nada que pudesse ter feito.
— É por isso que ele trabalha tanto para aprender tudo que pode sobre os vampiros e
como lutar com eles. — Mikhail continuou. — É difícil convencê-lo que não foi culpa dele.
— Que triste. — Tatijana disse. — Ele é apenas um menino. Não devia ter que lutar com
monstros na sua idade.
— Infelizmente — Mikhail disse —, nenhum de nós tem escolha. Este é nosso mundo.
Não seria nada bom para Travis e o resto das crianças serem mantidos no escuro sobre a
existência dos vampiros. Eles estão sob ataque cada vez que atacamos. Quando forem mais
velhos, daremos a eles a opção de se converterem, mas no momento é melhor treiná-los em
como lutar.
— Eu concordo — Tatijana admitiu —, mas ainda é triste.
Savannah sorriu para ela.
— Não fique triste. Aquelas crianças estão felizes e são muito amadas. Nós os ajudamos
a criá-los em uma comunidade e eles sabem que podem vir a qualquer um de nós se estiverem
em apuros ou chateados com qualquer coisa.
— Eles são lindos. — disse Tatijana. — Como vai a gravidez da Sara desta vez?
— Até agora, ela está se aguentando. Estamos esperando que chegue até o final da
gravidez, embora Gregori diga que é duvidoso. Aliás, ele diz que o bebê é forte e tem uma boa
chance de sobreviver. Ela está tendo a qualquer momento. — Raven acrescentou.
— As crianças estão animadas com o bebê? — Fen perguntou.
Mikhail assentiu.
— Somos uma sociedade que acredita em cada criança nascida é um presente e eles
acreditam nisso também. Até agora Jase não mostrou nenhuma ansiedade, apenas entusiasmo.
Fen notou como todos os Cárpatos, tanto homens quanto mulheres, paravam no círculo
onde a história estava sendo contada, deixando cair uma mão no ombro de uma criança ou
carinhosamente bagunçar seu cabelo. Os gestos trouxeram de volta memórias há muito
esquecidas de sua própria infância e os círculos de fogo com os anciões contando as histórias, e
os guerreiros e companheiras assegurando às crianças por aqueles gestos silenciosos que eles
estavam seguros e cercados por aqueles que os amavam.
O tempo pode ter seguido adiante. Séculos se passaram e tremendos avanços foram
feitos em tecnologia. Enormes mudanças aconteceram no mundo. Ainda assim, achava
reconfortante que seu povo mantivesse certas coisas perto de seus corações. A decoração ao
redor deles pode ter mudado, mas o amor por seus filhos permanecia.
Raven e Mikhail foram chamados por outro casal e Savannah se apressou rindo para ir
em socorro ao seu companheiro como os gêmeos, o filho e sobrinho do príncipe tentaram
derrubá-lo para que pudessem usá-lo para escalar.
— Tatijana. — Natalya correu até eles. — Desculpe-me por estar tão atrasada. Nós
estávamos tentando localizar Razvan e Ivory. Eu sei que eles querem te ver. — Ela olhou ao redor
mostrando decepção por um momento em seus olhos. — Branislava não veio com você?
— Ela pode vir um pouco mais tarde. — Tatijana disse. — Eu adoraria ver seu irmão e
sua companheira. — ela adicionou tirando a atenção de sua irmã. — Senti falta de Razvan e tem
tanta coisa que temos que falar.
Natalya deu olhada ao redor na multidão rindo e conversando. Muitas conversas
estavam ocorrendo em pequenos grupos.
— Você se incomodaria se eu te fizesse algumas perguntas sobre Xavier e Razvan?
Significaria muito para mim.
Fen agarrou a mão da Tatijana, sentindo o súbito desconforto em sua mente.
Exteriormente ela parecia perfeitamente serena. Até seu sorriso era acolhedor e gracioso.
— O que você gostaria de saber?
Natalya apertou seus lábios firmemente.
— Razvan e eu éramos muito próximos. Ele não queria que Xavier soubesse que eu era
capaz de fazer feitiços, então tomou meu lugar e me salvou. Você sabia disso?
Tatijana assentiu.
— Sim. Foi escolha dele, Natalya. Ele descobriu cedo o quanto Xavier era mal, e mais do
que qualquer outra coisa, queria você segura.
Natalya sacudiu a cabeça com os olhos baixos.
— Nós passamos muito do nosso tempo na mente um do outro. Eu o conhecia. Sabia
como ele pensava e mesmo assim... — Ela diminuiu.
Vikirnoff, que esteve conversando com seu irmão Nicolae, virou-se abruptamente, e no
mesmo instante estava ao seu lado como se sentindo sua angústia. Passou o braço ao redor da
sua cintura e puxou-a de volta ao abrigo de seu corpo.
— O que foi? — Tatijana perguntou gentilmente. — Sou sua irmã de sangue. Não há
nada que você possa me dizer que me faria te amar menos.
— Você estava ciente que foi Xavier quem possuiu o corpo do Razvan contra sua vontade
e forçou-o a fazer aquelas coisas terríveis ou acha que foi meu irmão quem fez? — Natalya
respirou fundo. — Quero dizer, foram crimes hediondos. Todas aquelas mulheres que deram à
luz a crianças que Xavier só queria usar pelo seu sangue. E se não estivessem à altura de seus
padrões ele os jogava fora. Como a pobre pequena Skyler sendo vendida para aquele homem
terrível que ela pensou que era seu pai.
— Nós estávamos lá nas cavernas e observamos em primeira mão Razvan tomando
sangue de sua própria filha, e é claro, ele apunhalou Bronnie para que ela não pudesse escapar
da caverna de gelo. Mas sabíamos que era Xavier usando sua neta como fantoche em sua busca
incessante por imortalidade e poder.
— Não acreditei nas coisas que ouvi sobre ele ou até mesmo vi com meus próprios olhos
por tanto tempo, mas no fim, parei de acreditar nele. — disse Natalya com tristeza nos olhos.
— Quando ele mais precisou de mim, eu não estava lá.
— Natalya. — Tatijana tomou suas duas mãos. — Você deve saber que Razvan nunca
manteria tal coisa contra você. Ele te ama muito. Como não amaria? O pensamento de que você
estava livre e feliz em algum lugar no mundo o fez continuar todos aqueles anos. Falamos disso
muitas vezes no início, quando ele não estava tão desgastado. Antes de Xavier assassinar a
pequena maga, mãe da Lara, na frente dele e deixar Razvan acorrentado lá com seu corpo.
Depois disso, Razvan raramente se comunicava conosco.
— Xavier era tão horroroso, tão mau. — Natalya disse estremecendo um pouco. — Eu
me incomodo ao pensar que ele é realmente meu avô.
Tatijana tocou a mente de Fen, quase como se precisasse se reassegurar. Esses
pequenos momentos quando sua mulher guerreira era vulnerável puxava as cordas do seu
coração.
— Xavier é meu pai. — Tatijana disse. — Ele tentou destruir uma espécie inteira. Criou
filhos usando seu próprio filho, só pelo seu sangue. Torturou e matou bem mais de mil pessoas
de várias espécies, inclusive minha mãe e irmão, para suas experiências. A lista de seus crimes
abomináveis poderia continuar por horas, mas me recuso a sentir vergonha ou culpa pelas coisas
terríveis que ele fez. Fui torturada e encarcerada por ele justamente como suas outras vítimas.
Bronnie, Razvan e eu sobrevivemos contando um com o outro e através de Razvan, com você,
Natalya. De certa forma, você salvou a todos nós. É isso que você precisa sempre manter em seu
coração.
Fen estava mais orgulhoso dela naquele momento do que quando ela lutou com o bando
de renegados tão destemidamente. No momento que se estendeu para ele telepaticamente, ele
fundiu sua mente com a dela e sentiu sua resposta ao nome do Xavier. Só seu nome. Ela bateu
a porta sobre as memórias brotando, mas seu nome a fez se sentir doente.
Tatijana?
Fundido tão profundamente com ela, Fen ouviu a voz de Branislava quando se estendeu
para sua irmã. Claramente a angústia da Tatijana, e aquele vislumbre de uma infância terrível e
os anos seguintes foram suficientes para alarmar Branislava.
Você precisa de mim?
Imediatamente Tatijana acalmou sua irmã. Não. Não. Sinto muito se perturbei você. Eu
estava falando dos tempos difíceis com Natalya. Mas aqui está divertido e é bom ver as crianças.
O príncipe tem um filho, Gregori tem gêmeas e Jacques tem um lindo garotinho também. Sara e
Falcon têm sete filhos incríveis. O mundo parece um lugar diferente com crianças, Bronnie.
Ele não conseguiu eliminar nosso povo, não é, Tatijana?
Não, minha irmã, não conseguiu. Todas aquelas vezes que você lutou para retardar suas
experiências, todas as vezes que as arruinou e ele teve que começar tudo de novo, foi para o
bem. Você arriscou sua vida e no final valeu a pena.
Existia orgulho na voz de Tatijana, e Fen captou vislumbres do seu passado, vinhetas de
memórias onde ela estava deitada, com o coração batendo rápido e o punho enfiado na boca
para se impedir de fazer qualquer barulho enquanto sua irmã rastejava até o laboratório do
Xavier e sabotava seu trabalho mais recente. Tatijana ficava apavorada que Xavier pudesse
matar Branislava ou decretar um de seus terríveis castigos.
Ela é incrível, sussurrou para Tatijana. Sua coragem é aterrorizante.
Tatijana sorriu para ele. Ela sempre foi a corajosa. Desafiava Xavier a cada passo e
quando ele me ameaçava, sempre ficava entre nós. Eu sempre fui um pouco mais tímida quando
era jovem. Aprendi a tomar uma posição e lutar pelas coisas que são importantes com ela.
— Muito obrigada, Tatijana, por dizer todas essas coisas para mim. — disse Natalya. —
Não consigo me perdoar por ter perdido a fé no meu irmão.
— Você sabe que fui eu quem te convenceu que Razvan era mau. — Vikirnoff disse. —
Você nunca teria pensado isso, nem por um instante.
— Você estava apenas me protegendo. — Natalya disse. — Você não o conhecia. Como
podia pensar qualquer outra coisa? Mas sou sua irmã, e ele se sacrificou tanto por mim. Por
todos nós.
Tatijana balançou a cabeça.
— O futuro está diante de nós. Temos um ao outro agora. Razvan escapou e encontrou
sua companheira. Ele parece feliz para mim sempre que o toco, mesmo de longe. Estou muito
feliz com meu companheiro como você está com o seu, Natalya. Razvan é incapaz de guardar
rancor. Viu e passou por tanta coisa que quase nada poderia chocá-lo ou feri-lo. Ele quer que
você seja feliz, Natalya. Pense nisso assim. Se acha que deve alguma coisa a ele, então seja feliz.
Isto é tudo que sempre importou para ele.
— Acho que é uma excelente ideia. — disse Fen. Tomou o braço de Tatijana e puxou-a
um pouco longe dos outros, em direção ao centro da caverna, bem no meio da multidão. — E
agora se você não se importar, tenho algo importante a dizer para minha companheira.

Capítulo 15

Havia algo malicioso na maneira como Fen puxou Tatijana para o centro da multidão
que a advertiu que ele estava tramando algo. Tinha riso e qualquer outra coisa na expressão
dele, algo que derreteu totalmente seu coração. Quando Fen olhava para ela assim — tão
brincalhão e despreocupado, Tatijana ficava perdida. Como podia não ficar? As linhas no seu
rosto suavizavam. Havia divertimento em seus olhos quando olhou para ela. Havia paz em seu
coração. E amor na sua mente.
Ele tinha visto tantas coisas horríveis ao longo dos séculos. Lutou batalhas infinitas que
resultaram em ferimentos mortais. Foi ela quem trouxe luz, esperança e paz para ele. Trouxe
riso e alegria. Companheirismo e o mais importante, o sentimento de pertencer. Não podia
evitar se apaixonar ainda mais quando ele ficava olhando pra ela assim.
Quando chegaram no meio do aposento, ele se afastou um passo dela e fez-lhe uma
reverência muito elegante do velho mundo.
Ele parecia um perfeito cavalheiro e ela não pôde evitar soltar uma pequena mesura de
volta para ele. Seu sorriso disse a ela que foi a coisa certa a fazer. A caverna ficou em silêncio.
Até as crianças. De algum lugar atrás dela, a música começou a tocar.

Você pegou um cheiro de floresta por um estranho acaso do destino,


E me achou — apesar de não ter procurado romance.

Ele cantou as palavras para ela, sua voz chocando-a com sua afinação perfeita e um tom
rouco sexy que enviou um arrepio na sua espinha. Ele estendeu sua mão para ela, continuando
a canção.

Ainda assim eu canto; Senhora, posso ter esta dança?

Tatijana sentiu as lágrimas queimando atrás de seus olhos. A música ficou mais alta,
tomando uma batida rítmica. Ela não sabia de onde vinha, e não podia afastar o olhar de Fen
para ver quem ele tinha convocado para ajudá-lo a tornar esta noite especial para ela. Colocou
sua mão na dele. Ele tomou-a suavemente e puxou-a. Estava realmente tremendo quando pôs
a outra mão no ombro dele.
A música tomou conta da caverna quando ele começou a se mover com graça fluída até
que ela sentiu como se estivesse flutuando. Sua boca se moveu contra a orelha dela.
— Isto é só pra você, minha senhora. — ele sussurrou. — Eu escrevi pra você.
Ele começou a cantar novamente enquanto se moviam em perfeita sincronia, seus
corpos perto enquanto seu coração achava e seguia o ritmo do dele.

Eu vaguei nos séculos solitário na escuridão,


Este lobo Fenris quase faminto pela luz.
Então você pareceu — uma súbita centelha brilhante,
Meu milagre que baniu minha noite.

Tatijana deitou a cabeça no peito dele e fechou os olhos, saboreando a sensação de


flutuar e o modo que seu corpo se sentia tão quente e duro contra o dela enquanto se moviam
juntos. Seus braços eram fortes, mantendo-a segura em um mundo onde sabia que muitas vezes
a loucura e monstros espreitavam.

Você também conheceu a solidão enquanto estava presa no gelo.


Libertada, jurou que não seria vinculada novamente.
Então nunca sentiria meus braços te prendendo!
E nem entraria voluntariamente no meu covil!

Acima de suas cabeças, estrelas giravam em torno do teto alto da caverna e as tochas
esmaeceram, dando a ilusão que estavam dançando debaixo do próprio céu. Tatijana se
aconchegou a ele. A noite parecia mágica, um maravilhoso momento surreal enquanto ficavam
à deriva juntos, seus corpos próximos à medida que ela sentia o amor por ele subindo,
inundando-a.

Seus olhos... eles mudam de cor como seu cabelo.


Cintilam como esmeraldas,
Fascinam com luz.
Você dança como se tivesse asas no ar.
É uma combinação de nossos maiores guerreiros na luta.

Tatijana sabia que as palavras de sua canção para ela eram sinceras. Como não saberia?
Estava em sua mente, sentindo o que ele estava sentindo. Ele não fez nenhuma tentativa de
esconder seu amor, respeito e admiração dela — ou de qualquer outra pessoa. Sentia-se bonita,
amada e como se fosse a única mulher no mundo.
Meu dragão flamejante, você deixa meu coração incandescente!
Acima de tudo, estas palavras antigas são verdadeiras...
Minha Tatijana, estas palavras são verdadeiras:
Você é minha companheira.
Eu pertenço a você.

Fen realmente escreveu a música para ela. Cantou para ela na frente de seu povo e seu
príncipe, indiferente a quem ouvia enquanto abria seu coração para ela. Não conhecia um
homem, um guerreiro independente feroz, que pudesse se tornar tão vulnerável diante dos
outros do modo que ele fez. Não parecia se importar que todos pudessem ver o quanto ela
realmente significava para ele. Sua voz, quando ele cantou a letra, soava com honestidade crua.
Suas emoções estavam totalmente expostas para todos os presentes verem.
A música começou a diminuir e ela ergueu a cabeça, lágrimas nos olhos enquanto olhava
para ele. Tinha se apaixonado tão profundamente por ele, e no entanto não sabia quando suas
emoções ficaram tão intensas. Percebeu de esguelha que outros casais estavam dançando
também. Nem sequer sabia que estavam lá, esteve tão completamente envolvida em sua dança
mágica com Fen.
Para fazer sua dança acontecer, Fen não só escreveu uma canção para ela e cantou
publicamente, como contou com a ajuda dos outros cárpatos para a música e o show de estrelas
no teto.
— Obrigada. — ela sussurrou quase timidamente, deslizando os braços ao redor do seu
pescoço e inclinando-se no abrigo de seu corpo. — Não sei o que pensar a seu respeito às vezes,
Fen. Este foi um presente tão bonito e surpreendente que sempre o guardarei na memória como
um tesouro.
— Eu queria que soubesse como me sinto a seu respeito, Tatijana. Você precisa saber o
quanto realmente é extraordinária. Você adora dançar e pensei que esta seria uma boa maneira
para que soubesse o quanto significa para mim.
— Isto foi perfeito, Fen. Simplesmente perfeito. Nunca me esquecerei disso.
Fen roçou sua boca suavemente na dela. Ela estava mais radiante que nunca. Para ele
isso era suficiente. Queria dar a ela algo especial. Derramou seu coração e alma em sua música
para ela. Ele não tinha nenhuma ideia do que o futuro traria para eles. Sua vida era de batalhas
e sigilo. Cada momento que podia, ele queria dar riso e alegria à ela.
— Fen. — Gregori surgiu atrás deles. — Obrigado por isto. Já tem algum tempo que
Savannah queria dançar. Não tivemos muitas comemorações e isto foi divertido pra ela.
— Ela já está indo embora? — Tatijana perguntou, dando meia volta para ver Savannah
segurando Anya nos braços. Destiny segurava Anastashia. Nenhuma das garotinhas parecia feliz.
— Nós convidamos Zev e os outros para se juntarem a nós — Gregori explicou —, mas
achamos melhor as crianças irem para casa. Está tarde para eles estarem fora.
Fen sabia que Gregori estava protegendo as crianças, usando o pretexto de estar tarde.
Ainda era bastante cedo para os Cárpatos. Todas as crianças tinham que estar acostumadas a
ficar acordadas durante a noite, até mesmo as crianças humanas de Sara e Falcon. Não existia
nenhum perigo da parte de Zev e seu bando. Ao contrário, todos estariam muito mais seguros
com eles por perto. Ainda assim, não podia culpar Gregori. Existiam somente um punhado de
crianças Cárpatos. Se estivesse no lugar do Gregori, responsável por sua segurança, ele teria
disfarçado e as afastado dos estranhos também.
— Estou muito feliz por que tive a chance de vê-las. — Tatijana disse. — Elas nos trazem
esperança.
Fen deslizou o braço ao redor da sua cintura enquanto acenaram adeus para as crianças.
Vários dos machos sem companheiras as escoltaram conforme partiam. Gregori passou a
trabalhar mudando a entrada da caverna para que os Lycans pudessem deslizar facilmente para
dentro, e mesmo assim nunca mais encontrar a entrada quando fosse mudada de volta para a
formação natural.
— As crianças tem bastante proteção. — Fen constatou. Não estava tranquilo com o
bando de renegados tão perto e dois Sange rau na vizinhança. Certamente agora, depois de
todas as discussões e vítimas que a matilha infligiu aos Cárpatos, Mikhail e Gregori estavam
levando a ameaça muito a sério.
Gregori assentiu.
— Nós contamos com a ajuda de nossos ancestrais também. Esta noite nenhum mal virá
para estas crianças.
Fen franziu o cenho. A temperatura no labirinto de cavernas sagradas era
demais para uma criança humana.
— E os filhos de Falcon?
Gregori sorriu de repente e isso transformou seu rosto completamente. Ele pareceu
mais jovem e mais relaxado.
— Vou te dar um conselho, Fen. Com seu coração mole, é melhor nunca ter filhas.
Fen fez uma careta para ele.
— Eu não tenho coração mole.
— Você seria um bobalhão.
Mikhail surgiu silenciosamente atrás dele.
— Ele diz esse tipo de coisa para todos nós para fazer com que ele pareça melhor. Todo
mundo sabe que suas gêmeas mandam nele. — Seu riso era muito genuíno. Ele cutucou Gregori.
— Pobre homem. Derrubado por bebês.
Gregori deu a Mikhail sua mais profunda e ameaçadora cara feia.
— Sou muito firme com aquelas meninas. Elas sabem que é melhor não mexer comigo.
Fen não pôde evitar participar da gargalhada do Mikhail. Claramente Gregori não se
importava se era firme com suas filhas ou não, elas eram tudo para ele.
— Gregori até disse às minhas adoráveis netas para chamá-lo de Isäntä de puro
desespero. — Mikhail continuou a dar a Gregori um momento difícil.
— Mestre da casa. — Fen traduziu. — E elas fizeram?
— Poderia ter funcionado — disse Gregori — se Savannah não tivesse rido
histericamente cada vez que elas me chamavam de mestre.
O riso de Tatijana se juntou ao dos homens.
— Eu sinto muito, Gregori. Que golpe. Suas meninas são adoráveis, e francamente, eu
provavelmente daria a elas qualquer coisa que quisessem e Fen seria ainda pior. Não negue isto,
Fen, você iria.
Fen teve que admitir ela estava certa.
— Suas filhas são simplesmente muito bonitas, Gregori, com suas atitudes audaciosas e
suas raias aventureiras. Eu estaria perdido.
Gregori sorriu e deu de ombros como se finalmente tivesse desistido.
— Sua mãe não sabe disso, mas Anya já tentou mudar de forma. Peguei ela fazendo dois
atrás. Custou cem anos da minha vida. Proibi-la não vai funcionar. E o que ela faz, Anastashia
faz. Vou ter que começar a trabalhar com elas. Prometi a Anya que eu iria, mas só se ela
prometesse não tentar sozinha.
— Savannah vai matar você. — Mikhail fez disso uma declaração.
— Eu sei. Ainda não descobri como contar a ela. Não há como parar Anya. — Gregori
disse, correndo uma mão por seu cabelo no primeiro sinal de agitação que Fen tinha visto ele
fazer.
— Ela é uma miniatura sua. — Mikhail assinalou. — Você era assim mesmo quando era
menino.
— Não posso acreditar que comecei tão cedo. Ela tem apenas dois anos. — Gregori
disse.
— Eu era seu amigo, seu maníaco. — Mikhail disse a ele. — Entramos em tantas
dificuldades juntos, e você era sempre o instigador. Inclusive aos dois anos.
— Não acredite nele. — disse Gregori. — Ele nunca seguiu ninguém em sua vida.
Especialmente quando qualquer conselho dado era para seu próprio bem.
O afeto profundo e a amizade fácil que Gregori e Mikhail tinham um pelo outro era
muito claro. Fen acreditou em Gregori. Mikhail definitivamente nasceu para liderar. Ele ouvia
aqueles ao redor dele, mas no fim, tomava suas próprias decisões. Ele provavelmente foi assim
desde o nascimento, e seu filho provavelmente era exatamente como ele. A pequena Anya teria
tanta dificuldade tentando proteger o jovem Alexandru como seu pai teve com Mikhail.
— As crianças estão escondidas para a noite. — Jacques anunciou. — Shea está vindo se
juntar a nós por pouco tempo. — Sua voz se acendeu quando ele pronunciou o nome da sua
companheira. — Temos que conseguir comida direito. Fen, isto é seu departamento. Você sabe
mais sobre os Lycans do que alguns de nós.
— Você vai servir comida? — A comida certamente não era o forte dos Cárpatos.
— Queremos que se sintam em casa conosco o máximo possível. — Mikhail disse. —
Quanto mais nos verem como eles são, maior a chance de termos seu conselho vindo aqui para
uma reunião de cúpula. Também quero começar o sutil processo de mudar sua visão de um
Guardião versus Sange rau.
Fen acenou com a cabeça. Podia ver como o plano do Mikhail era bom. Os caçadores de
elite, especialmente Zev, eram o ouvido do conselho. Se pudessem ser convencidos, seriam
defensores de uma aliança com os Cárpatos.
— Eu lidarei com a comida. — ele concordou. — Todo mundo aqui tem que me ver como
um Lycan. É assim como Zev me conhece. Se ele suspeitar de qualquer coisa diferente, haverá
problemas. — Ele calçou luvas finas, quase invisíveis.
Mikhail levantou sua sobrancelha.
Fen deu de ombros.
— Nenhum Lycan vai a lugar nenhum sem suas luvas ou sua prata. As armas do Zev são
incríveis, mas a maioria só tem estacas. A prata não pode tocar sua pele, portanto eles têm que
se proteger. Estarão calçando luvas ou as terão com eles, e definitivamente notarão se eu não
fizer.
— Não pensei sobre esse aspecto do que eles fazem. — Gregori disse. — Durante uma
batalha intensa eles ocasionalmente tem que tocá-la.
— Queimaduras de prata são como nada que você já sentiu. — disse Fen. — Cada elite
tem cicatrizes disso, mas é um dos riscos de lutar com o bando de renegados. Eles aceitam isto
como cada caçador Cárpato aceita que será despedaçado lutando com o não-morto.
— Eu desejo as armas de Zev. — Jacques admitiu com um sorriso. — Legal pra caramba.
Mikhail gemeu.
— Meu irmão se tornou muito moderno com sua linguagem.
— Eu sempre fui muito moderno. — disse Jacques. — Você é um dinossauro, mas
estamos trabalhando em arrastar você para este século.
— Vá checar novamente a entrada com Gregori para que tudo esteja pronto para os
Lycans entrarem. — Mikhail ordenou. — E quando sua companheira chegar, mande-a para mim.
Vou contar a ela suas histórias de quando era menino.
— Grande ameaça. — Jacques deu de ombros para seu irmão. — Você já fez isto. —
Rindo, ele seguiu Gregori em direção à entrada principal da caverna.
A grande caverna assumiu completamente outra aparência. Todos os brinquedos das
crianças se foram. As estrelas foram deixadas no lugar como se sua celebração fosse ao ar livre,
mas as tochas foram mudadas para uma iluminação suave. Em um lado, Fen instalou mesas com
comida e bebida. As mesas e cadeiras estavam espalhadas em torno da área. Música suave
tocava e alguns dos casais dançavam debaixo das estrelas espalhadas.
A câmara tomou a atmosfera de um salão de baile de tempos atrás, elegante e
acolhedor. Destiny e seu companheiro, Nicolae, retornaram de escoltar as crianças e ele a girou
em torno da pista de dança. Destiny riu como uma criança, claramente apreciando o simples
prazer. Vikirnoff e Natalya dançavam ao lado deles, rindo e tentando superar o outro com passos
de dança complicados.
Olhando ao redor do aposento, Fen percebeu que a maior parte dos caçadores solteiros
não estavam presentes, pelo menos não abertamente. Ele se permitiu usar seus sentidos de
Guardião para esquadrinhar a câmara. Claro. Ele devia saber como Gregori pensava agora.
Mikhail e Raven estavam presentes e convidaram estranhos em seu meio. Apesar de todos os
caçadores Cárpatos presentes, Gregori teria um ás ou dois na manga — neste caso, quatro deles.
Tomas, Lojos, Mataias e Andre estavam escondidos em algum lugar na câmara. Cada um
guardando uma posição chave. Conhecia a todos bem, eram anciões e predadores perigosos. As
elites tinham habilidades incríveis, mas Gregori sabia como eles lutavam agora. Ele aprendeu
muito rápido e não seria pego de surpresa novamente. Estava preparado para qualquer ato de
deslealdade.
Zev entrou pela porta primeiro, o que afinal não surpreendeu Fen. Zev era tão parecido
com Gregori que podiam ter sido irmãos. Nenhum dos dois provavelmente admitiria isto, mas
pensavam da mesma fora.
Mikhail imediatamente cruzou a câmara para cumprimentá-lo, Gregori e Jacques um a
cada lado dele. Fen moveu-se com a mesma rapidez para se juntar à festa de saudação. Como
um Lycan, seria esperado. Zev era do mais alto nível, acima de qualquer matilha e nunca seria
ignorado por qualquer Lycan, uma vez que se revelou como um explorador de elite.
Mikhail apertou a mão de Zev. Por respeito, Zev removeu suas luvas, algo que Fen sabia
que elites raramente faziam. Alguns dormiam com elas nas mãos, especialmente durante uma
caça. Uma matilha de renegados podia atacar a qualquer momento.
— Obrigado por terem vindo. — Mikhail saudou. — Mais uma vez, obrigado por vir em
nossa ajuda quando a matilha de renegados atacou. Nós teríamos sofrido muito mais danos e
talvez até perdas.
Zev deu a ele um sorriso fácil. Fen notou que o sorriso não alcançou seus olhos. Zev tinha
os olhos de um homem que viveu muito tempo e viu muitas coisas extremamente horrorosas.
— Obrigado por nos convidar. Minha matilha precisava de uma pausa. Eles estiveram
viajando e lutando com renegados por semanas. Nós sabíamos que algo grande estava
acontecendo, mas não tínhamos nenhuma ideia que a trilha nos traria até aqui.
Ele virou enquanto os outros entravam.
— Esta é Daciana.
Mikhail curvou-se acima de sua mão.
— Bem-vinda e obrigado. Destiny nos contou que você foi fundamental na proteção de
nossas crianças. Não há palavras para dizer o quanto estamos agradecidos.
Daciana sorriu para ele.
— É o que nós fazemos. E Destiny certamente teve sua parte justa na luta.
— Espero que você se divirta. — Mikhail acrescentou.
Zev continuou com as apresentações de sua matilha.
— Estes quatro são Convel, Gunnolf, Makoce e Arnou.
O quatro Lycans foram extremamente educados conforme Mikhail os cumprimentava,
mas se mantiveram tensos como se não tivessem certeza de onde estavam se metendo.
O último caçador de elite mancava um pouco enquanto vinha para ser apresentado. Zev
tocou em seu ombro brevemente.
— Este é Lykaon.
Lykaon fez uma breve reverência ao príncipe, mas olhou para Gregori.
— Eu não teria sobrevivido sem sua ajuda ou da Shea. Agradeço.
— Era o mínimo que eu podia fazer depois do que você fez por nós. — Gregori disse.
Mikhail agradeceu educadamente a cada um dos caçadores Lycan por sua ajuda.
Vikirnoff e Natalya junto com Destiny e Nicolae vieram imediatamente. Destiny tinha lutado com
os Lycans e ela apresentou seu companheiro, seu irmão e Natalya enquanto levava os outros
membros do bando para as mesas de comida e bebida.
Fen soube imediatamente que Mikhail tinha planejado aquele movimento. A matilha
respeitava as habilidades de Destiny e se relacionariam com ela e sua família. Com o canto do
olho podia ver outros casais cárpatos vindo e se apresentando para os membros da matilha e
envolvendo-os na conversa.
Mikhail inclinou sua cabeça em direção a Fen.
— Acredito que vocês dois se conhecem.
— Certamente lutamos algumas batalhas juntos. — disse Zev, estendendo sua mão para
Fen.
Fen estava contente por ter pensado em colocar suas luvas. Zev o aceitava como Lycan,
mas achava seu relacionamento com os Cárpatos suspeito.
— Vejo que você veio preparado. — Zev reconheceu.
— Sempre. Com dois Sange rau na área correndo com uma matilha tão grande, imagino
que ninguém está seguro. — Fen disse, abrindo o assunto imediatamente.
— Eu concordo. — disse Zev. — Não faz sentido ficarem aqui quando sabem que os
caçadores chegaram e existem tantos Cárpatos lutando com eles.
Mikhail escolheu ir um pouco em direção a um canto onde eles cinco podiam conversar
em particular. Tatijana discretamente saiu para conversar com os membros da matilha e a
família de Natalya. Zev foi com eles para uma pequena alcova onde havia cadeiras confortáveis.
Assim que Mikhail se sentou, todos eles se sentaram, inclusive Gregori, embora Fen notasse que
o modo como ele posicionou sua cadeira, podia chegar na frente de Mikhail imediatamente.
Fen não disse a ele que não era necessário. Ninguém ali era mais rápido que ele, e
defenderia Mikhail, mas apostava que Zev era tão rápido quanto Gregori.
— Um dos Sange rau é Bardolf, que foi um Lycan que pensei que estava morto há muito
tempo. — Fen explicou. — O outro foi um Cárpato chamado Abel, um antigo caçador que virou
vampiro alguns séculos atrás.
— Nós acreditamos que eles construíram uma grande matilha com a intenção de
sacrificá-los a fim de distrair os caçadores enquanto um dos líderes vem para assassinar Mikhail.
— disse Gregori.
Zev franziu o cenho, fazendo uma torre juntando os dedos das mãos.
— Eles são inteligentes o suficiente para apresentar tal plano, mas o que ganhariam?
— Se eu estiver morto, isso poderia muito bem acabar com nossa espécie. — Mikhail
admitiu. — Meu filho é muito jovem para assumir e estivemos em crise durante séculos, mal
nos mantendo como espécie.
Zev assentiu.
— O Sange rau dizimou nossas fileiras séculos atrás. Tivemos que nos reestruturar
completamente para crescer e ainda somos frágeis.
— Acho que está na hora de nossas duas espécies se tornarem aliados próximos. Seja
qual for o problema que aconteceu entre nós, certamente não existe mais. — disse Mikhail,
debruçando-se adiante. — Podíamos aprender muito uns com os outros, e acredito que
podemos nos ajudar mutuamente.
— O problema é o que acontece quando, se por um acaso, o sangue entre sua espécie
e a minha se mistura. O Sange rau é o que acontece. — Zev assinalou.
— Não exatamente. — Mikhail contestou, seu tom efetivamente também levando uma
sugestão de surpresa como se esperasse que Zev já soubesse. — Um Cárpato acasalado não
pode se tornar Sange rau. Só um Cárpato que escolhe desistir de sua alma pode. O Sange rau é
um vampiro, não um Cárpato. Se um Cárpato se tornar de sangue misturado, ele seria Hän ku
pesäk kaikak ou Paznicii de toate — Guardião de todos. Não é a mesma coisa. Eles são aqueles
capazes de enfrentar o Sange rau na batalha.
Zev balançou a cabeça.
— Nunca topei com tal lutador, embora, pra ser honesto, o Sange rau é tão raro que
poucos caçadores já se depararam com um até com a longevidade de nossas vidas. Se o que
acredita é verdade e você é o alvo destes dois, então talvez exista mais disso do que nós
sabemos. Qual seria o benefício deles destruírem uma espécie inteira?
— Essa é a questão, não é? — Mikhail disse. — Estive dando voltas nesse assunto cada
vez mais e me ocorreu que existe outro mestre em algum lugar, um que nós não descobrimos.
Um com uma agenda que pode ser a morte de nossas duas espécies.
Zev era um homem inteligente e viu o raciocínio.
— Posso levar a palavra para o conselho e perguntar se estão dispostos a encontrar com
você.
— Se eles concordarem, chamarei meus guerreiros para sua proteção também. —
Mikhail disse. — Espero que você possa ficar por perto para nos ajudar a garantir a segurança
deles.
Zev assentiu.
— Primeiro temos que destruir esse bando. Nós os abatemos, mas eu gostaria de
realmente ter uma ideia de seus números. Eles dividiram o bando em unidades pequenas para
ajudar a se esconder de nós.
— Nós podemos ajudar com isto. — Mikhail disse. — Podemos usar o céu para ver seus
números.
— Isso seria extremamente útil. — disse Zev. — Esta é uma grande área com tantos
lugares para se esconder, e vocês a conhecem e nós não. Se eles não estiverem cientes que você
os viu e que temos sua localização, podemos destruí-los.
— Eu não acho — Fen contribuiu — que mesmo que nós destruirmos seu bando enorme,
que Bardolf e Abel partirão sem outra tentativa em Mikhail. Eles o querem morto.
— Então temos que chegar com um plano de batalha. — disse Gregori ao mesmo tempo
que Zev.
Os dois homens olharam um para o outro, cada com um sorriso sinistro.
— Não quero tomar mais do seu tempo hoje à noite. — Mikhail disse. — Gostaria que
você se divertisse e conhecesse alguns do meu povo. Podemos planejar nossa batalha na
próxima vez que levantarmos. — Ele se pôs de pé e mais uma vez apertou a mão do Zev.
— Vou falar com o conselho. — Zev prometeu. Ele olhou ao redor do aposento para sua
matilha espalhada. Eles definitivamente estavam se divertindo, conversando animadamente
com os Cárpatos ao redor deles, tornando-os o centro da atenção, escutando cada história deles.
— Obrigado por isso, Mikhail, meu bando precisava de um pouco de ociosidade.
Mikhail fez uma pequena reverência do velho mundo dobrando-se na cintura e se
afastou com Jacques e Gregori, deixando Fen e Zev sozinhos.
— Ele é frio debaixo de fogo. — Zev disse. — Tenho que dar o braço a torcer. Com dois
Sange rau atrás dele, ele está em perigo mortal e sabe disso.
— Nós conseguimos lutar com um, mas o outro conseguiu passar pelas salvaguardas e
foi direto para ele. Ele não moveu um músculo, não vacilou. Ele apenas assistiu para ver o quanto
eles eram rápidos e como eram bons em desvendar as salvaguardas estabelecidas no lugar. —
disse Fen. — Tivemos sorte, mas da próxima vez temos que estar melhor preparados.
— Você acha que há outro mentor... — Zev se interrompeu no meio da frase, olhando
por cima do ombro do Fen.
Por um momento Zev pareceu como se fosse golpeado na cabeça com um taco. Aqueles
olhos, tão vazios e frios antes, acenderam como se com uma chama. A luz transformou o rosto
inteiro do caçador. Suas feições duras e irritadas suavizaram um pouco, deixando-o mais jovem
e mais acessível.
— Ela é deslumbrante. Quem é?
Fen girou a cabeça enquanto o silêncio caía no lugar. Branislava estava de pé na entrada.
Seu espesso cabelo vermelho fogo caía até a cintura em ondas suaves emoldurando seu rosto.
Sua pele era pálida, mas parecia brilhar como se uma fornalha queimasse em seu interior e não
conseguisse conter o calor abrasador. Seus olhos — olhos de Caçadora de Dragão —
deslumbrantes. Suas pestanas eram longas e cheias, protegendo seus olhos esmeralda. Parecia
como se duas pedras preciosas tivessem sido pressionadas no seu rosto e um fogo foi aceso
atrás delas para que o brilho iluminasse o tempo todo.
Ela usava um vestido vintage remanescente de épocas passadas. O estilo combinava
com ela. As mangas eram longas e o corpete grudava nos seios cheios e no tórax estreito, caindo
até sua cintura fina e então drapejando acima de seus quadris de forma que a saia cheia caía no
chão.
Fen respirou fundo e olhou para Tatijana. A alegria em seu rosto e no seu coração o
inundaram, de forma que por um momento experimentou a emoção esmagadora com ela.
Tatijana correu para sua irmã e se abraçaram com força.
— Esta é Branislava, irmã da Tatijana. Ela esteve... se recuperando. Não a esperávamos
esta noite, embora tivéssemos esperança que ela pudesse vir.
— Ela é realmente bonita. — Zev reiterou.
— Não deixe sua aparência enganá-lo. — Fen advertiu. — Ela é Cárpato de uma linhagem
muito poderosa, e é nascida e criada uma guerreira.
Zev acenou com a cabeça.
— Ela se move como a água fluindo sobre a pedra, tão fluída e graciosa. — ele disse. —
Eu tenho que conhecê-la, Fen. — Olhou por cima do ombro para sua matilha. Uns estavam
comendo. Um par dos caçadores estavam bebendo e Daciana dançava com um macho Cárpato.
— Agora, Fen. — ele adicionou urgentemente. — Quero conhecê-la agora.
Zev deseja conhecer Bronnie, Tatijana. Eu sei que ela veio até aqui por sua causa, para
se certificar que estava tudo bem, e ela é terrivelmente tímida perto de tantas pessoas, mas
estaria tudo bem se eu o levasse?
Estamos tentando dar uma boa impressão nos Lycans, Tatijana disse, então acho que
dificilmente podemos recusar. Avisarei a Bronnie que você está trazendo-o.
Eu ouvi, Branislava disse. Não sou tão frágil. De verdade. Ela girou a cabeça e examinou-
os.
— Claro. — Fen disse. — Vamos antes que todo mundo caia em cima dela. Ela será
rodeada daqui a um minuto.
Zev soltou a respiração.
— Não sou exatamente suave com as damas.
— Está tudo bem. Olhe ao redor. Cada um desses homens estará defendendo-a se
pensarem que você é um jogador. Este é um grupo muito unido.
— Vou arriscar. — Zev disse, mais uma vez tirando as luvas e colocando-as dentro do
bolso do seu casaco. — Esta é uma mulher pelo qual vale a pena morrer.
Fen sabia que tanto Branislava quanto Tatijana ouviram a observação sussurrada. Sua
audição era extremamente apurada, mesmo com a riqueza das conversas e música ao redor
deles. Tatijana deu um súbito sorriso enquanto elas trocavam um rápido olhar.
— Bronnie. — Fen saudou.
Ela girou completamente para encará-lo. Fen a tomou nos braços, agradecido que ela
veio por Tatijana. Abraçou-a com força.
— É tão maravilhoso ver você deste jeito. Você tornou a noite de Tatijana completa. Ela
realmente queria você ao seu lado.
— Estou feliz por vir. — Branislava disse. — Eu podia sentir sua felicidade, Fen.
Tenha cuidado, Bronnie. Zev é Lycan e deve acreditar que Fen também é, Tatijana
advertiu.
Posso ter estado me recuperando embaixo da terra, irmã, mas posso te assegurar que
tenho um bom entendimento do que estas pessoas fariam com meu irmão de sangue se
descobrissem o que ele é.
Fen quis sorrir ante a ferocidade no tom da Branislava. Estava pronta para combate se
qualquer um atacasse o companheiro de sua irmã. Ainda assim se virou para Zev com um sorriso
que podia derreter geleiras inteiras.
— Branislava, este é meu amigo, Zev. — Fen apresentou-os. — Ele é um caçador de elite
para os Lycans.
— É um prazer conhece-lo. — disse Bronnie estendendo a mão. — Qualquer amigo de
Fen certamente é bem-vindo aqui.
Zev tomou os dedos dela em sua mão e corajosamente ergueu-os para o calor de sua
boca. O olfato do Lycan era muito apurado, e o aroma sedutor de Branislava era tão atraente
que ele se encontrou encantado por ela. Quase hipnotizado. Chocou-o que ele pudesse ser tão
completamente hipnotizado quando foi formado e treinado desde que era uma criança para ser
um assassino.
Ele foi ensinado que uma mulher podia ser um corpo quente ou um conforto, mas era
de pouco uso no seu papel como um caçador. Todo seu foco estava em caçar e destruir as
ameaças para os Lycans.
— Estou honrado em conhecê-la. — ele disse olhando dentro dos seus olhos.
Olhando fixamente naqueles poços profundos verde esmeralda, ele se sentiu caindo.
Um homem podia se perder ali. Ele não cairia nessa de passar mais tempo em sua companhia,
mas não podia resistir àquele fascínio sensual. A sensação de sua pele nua, mesmo que só com
os dedos, fazia seu coração acelerar. Sua pele era suave como cetim, mas tão quente no frescor
da noite que o chocou. Parecia queimar de dentro pra fora, o que só o fazia se perguntar o
quanto queimaria por um homem que ela amava.
— Eu não sou o mais elegante dos dançarinos, mas adoraria dançar com você. — ele
disse.
As palavras saíram por vontade própria. Francamente, estava chocado com o convite.
Certamente não chegou até ela com a ideia de pedi-la pra dançar. Ele se colocaria em ridículo
no momento em que desse um passo na pista de dança, mas só de pensar em segurá-la em seus
braços, o corpo dela perto do seu, era mais do que podia resistir.
— Eu adoraria. — ela respondeu com um elegante movimento de sua cabeça. — Mas
devo te advertir, senhor, eu não sei dançar também. Nunca dancei.
Você não tem que fazer isto, Fen disse. Você é uma grande embaixadora para os
Cárpatos, mas não tem que dançar com ele.
Acho que vou gostar disso. Branislava admitiu, surpresa.
Ela realmente quer fazer isto, Fen, Tatijana adicionou. Ela parecia tão surpresa quanto
sua irmã.
— Nunca? — A sobrancelha do Zev disparou pra cima.
Que diabo havia de errado com os machos Cárpatos? Ele não podia imaginar por que
esta mulher estava sem parceiro. Ele não podia soltar sua mão. Com medo que ela pudesse
mudar de ideia, levou-a até a pista de dança. No momento que passou o braço ao redor de sua
cintura e trouxe-a para perto dele, soube que estava perdido.
Ela se encaixava nele perfeitamente, fundindo-se ao seu corpo de forma que quando se
moveram pareciam ser um corpo, não dois. Ela combinava seus passos intuitivamente, como se
sempre tivessem dançado juntos. O cabelo dela era seda contra seu rosto, mechas agarrando
na sombra escura junto à sua mandíbula, enredando-os juntos, e ele se encontrou querendo
que eles ficassem assim. Ele praguejou, até os batimentos do seu coração combinavam com o
dela.
Ele sabia que não devia segurá-la tão perto ou tão possessivamente, mas sentia-se
possessivo com ela. Não queria que a música terminasse nunca. Sua vida era de batalhas, de
matança, noites frias ao ar livre, ferimentos horrendos, sangue e morte. Não estava segurando
uma mulher bonita nos braços, vagando em torno da pista de dança em uma mistura de desejo
e prazer.
— Pensei que você não soubesse como dançar. — ele murmurou na sua orelha. Até a
concha de sua pequena orelha era bonita. Isso era ruim, o que quer que “isso” fosse. Queria
varrer o cabelo fora do seu pescoço e pressionar beijos leves como uma pluma por toda parte
de sua pele macia.
— Você aparentemente é um líder muito bom. — ela sussurrou. — Você é tão fácil de
seguir.
Sua voz envolveu-o em intimidade, fazendo-o esquecer por um momento que não
estavam sozinhos, e outros casais — inclusive Tatijana e Fen — dançavam na mesma pequena
pista de dança. Branislava era letal e não tinha defesa contra ela. Se fosse possível para um Lycan
se apaixonar por um Cárpato, ele estava a caminho e era proibido, especialmente para um
caçador de elite.
Puxou-a mais perto até que seu corpo estava agarrado ao dele. Quente. Tão quente. Ela
queimava através de suas roupas — sua pele — cada músculo em seu corpo até que ela estava
marcada a ferro em seus ossos. Não, mais profundo ainda. Como lava derretida, ela fluía através
de seus poros, até que sua marca encontrou seu coração, em seguida sua alma. Até que
pertencia a ela. Corpo. Coração. Mente. E sua alma perdida.
A música terminou e seu coração quase parou. Ela sorriu e ele não teve escolha, senão
envolver seu braço ao redor da sua cintura e escoltá-la da pista de dança de volta para o canto
onde encontrou-a conversando com sua irmã. O canto mais distante. Mais distante de onde os
Lycans continuavam sua conversa casual com os Cárpatos.
— Obrigado, Branislava. — ele disse. — Você certamente pode lançar um feitiço.
Ela piscou várias vezes e ele se perguntou se disse algo errado.
Ele não sabe sobre nossa base na magia, Bronnie, Tatijana explicou apressadamente. Ele
está dizendo que acha você muito atraente.
Estranhamente, eu o acho muito atraente.
— Gostei muito de dançar com você. — Branislava admitiu. — Tatijana me disse que era
como flutuar. Eu podia ouvir a música diretamente através do meu corpo.
E seu coração igualando o ritmo com o meu, Tatijana, ela acrescentou maravilhada.
Branislava pesquisou seu rosto. Era um rosto forte. Linhas gravadas profundamente,
dizendo-lhe que ele tinha visto a guerra. Seus olhos a fascinavam. Eram olhos de lobo, pura e
simplesmente. Mostravam sua inteligência penetrante. Não havia como disfarçar o predador
nele. Quando se prendiam em sua presa, ele seria implacável e firme. Agora mesmo, no
aposento com os caçadores Cárpatos apenas uns metros de distância, aqueles olhos estavam
completamente focados nela.
Ela deveria estar assustada, mas estava mais intrigada. Podia ser tímida perto das
pessoas — nunca esteve perto delas antes — mas defenderia a si mesma e à sua família com
tudo que tinha, cada arma em seu arsenal.
— Você é uma bela dançarina. — Zev disse. — Espero ter a chance de fazer isto de novo
em breve.
— Eu também. — disse Branislava, falando sério.
Ela deslizou para longe dele, de volta para sua irmã. Imediatamente os Cárpatos
pareceram fechar fileiras ao redor dela. Zev a observou por alguns minutos, todos muito cientes
que Fen estava observando-o.
— Entendo agora por que você escolheu se tornar amigo destas pessoas. — disse Zev
com um suspiro. — Tatijana e sua irmã são mulheres bonitas.
— Sim, elas são. — Fen concordou.
— Você sabe que é proibido. Temos que evitar os Cárpatos só por essa razão. Não
podemos correr o risco de nos apaixonarmos por um.
Fen não só ouviu a relutância na voz do Zev, mas sentiu também.
— Os homens e mulheres Cárpatos não têm o luxo de se apaixonar até que encontram
seu companheiro. — ele explicou. — Um Lycan pode se apaixonar por um Cárpato, mas ele ou
ela pode ou não retribuir. Existe apenas um.
— Eu ainda não entendo.
— Aprendi que eles são literalmente duas metades do mesmo todo. A alma do macho
contém a escuridão necessária, e a alma da fêmea a luz. As palavras do ritual de vinculação são
impressas no macho antes do nascimento. Quando encontrar a mulher com a outra metade de
sua alma, ele a reconhece, diz as palavras e estão vinculados. Não há outros. Se um morre, o
outro segue.
— Então mesmo se não for proibido, você está dizendo que ela está fora de alcance. —
Zev disse com tristeza de verdade. — Ela está definitivamente fora do meu alcance. — Ele temia
que levasse seu coração e alma longe com ela, entretanto não se precisava dessas coisas para
matar.
— Vamos pegar alguma coisa pra beber. Você está aqui para se divertir. — Fen deu uma
palmadinha no seu ombro e levou-o de volta para o resto da matilha e os Cárpatos lá.
Capítulo 16

— Cada um de nós tem que manter um Cárpato próximo a toda hora para que as
mulheres possam se comunicar pelo ar, um ou todos vocês têm que ser valentes o suficiente
para permitir a eles trocar sangue com você. — Fen explicou pela terceira vez.
Uma coisa era alimentar e outra ficar próximo de um Cárpato, mas uma troca de sangue
era repugnante para todo Lycan. Eles deram um ao outro sangue na batalha, mas entre eles,
isso era completamente diferente do que Fen estava propondo a eles.
— Ótimo. — ele disse com um pequeno suspiro. — Terei que ser aquele que faz toda a
comunicação com nosso esquadrão no ar. Eu pedirei a Tatijana para trocar sangue comigo. —
Eles fizeram um pouco disso quando ele fez amor apaixonado com ela, mas não se importaria
em ter pressa para fazer de novo antes de partirem para tentar abater um pequeno bando, uma
unidade de cada vez.
— A mulher tomará seu sangue? — Zev perguntou, seu olhar indo à deriva para onde
Branislava e sua irmã estavam rindo juntas embaixo da copa de árvores da floresta.
— Seu nome é Tatijana. — Fen disse, começando a se sentir aborrecido que tivesse que
continuar mentindo a respeito de ser completamente Lycan. Eles estavam desperdiçando tempo
enquanto o bando podia estar se movendo e ficando em posição para atacar.
As mulheres estavam subindo no ar porque sua produção de energia era muito menor
que dos homens em qualquer forma que escolhessem. Tatijana, Branislava, Destiny e Natalya
estavam indo cada uma em uma direção diferente. Podia ser perigoso se o Sange rau as
descobrisse e escolhesse defender seu bando. Fen seria descoberto por algum deles, ainda que
tivesse que continuar aparecendo. Estava frustrando-o saber que Tatijana poderia encontrar
dificuldade.
— Branislava seria a única que tomaria meu sangue? — Zev perguntou.
Silêncio atacou a matilha. Seus companheiros de bando olharam para ele como se
tivesse enlouquecido. Convel sacudiu a cabeça, sua expressão severa.
— Você não pode, Zev. Nós não sabemos o que pode acontecer.
— O que acontecerá — Fen disse, friccionando seus dentes —, é que nós poderemos
começar a trabalhar. Temos quatro cavaleiros e quatro grupos de caçadores. Eu sou voluntário,
mas por via das dúvidas temos outro bando descoberto, precisamos de outra pessoa capaz de
ouvir. Destiny e Natalya estão se comunicando com os caçadores Cárpatos.
Zev não continuou a discutir. Cruzou o caminho entre Branislava e ele, esperando que
ela não pulasse como se estivesse hipnotizada como fez na noite anterior. Ele podia sentir o
olhar aborrecido de seus companheiros de matilha em suas costas. O peso da desaprovação era
pesado no ar. Ainda assim, seu caminhar continuou, andando a passos largos agora, cobrindo o
chão mais rápido.
Ela girou e assistiu sua abordagem, seus olhos esmeralda com o verde mais brilhante
que ele já viu quase ardendo. E então ela sorriu e o ar deixou seus pulmões rapidamente. Ele
não podia decidir se era seu cabelo, toda aquela cor vermelha contida agora em uma trança
adornada tão grossa quanto seu braço, ou olhos surpreendentes que às vezes, como agora,
pareciam ser multifacetados, ou sua boca com lábios cheios e convidativos, isso atraía seu olhar
ainda mais.
Ela deixou-o percorrer a distância toda até ela. Estava ciente de que Fen o seguia e
Tatijana estava indo ao seu encontro. Eles andavam nas sombras e eram protegidos da visão por
uma grande árvore. Branislava simplesmente ficou imóvel, esperando por ele.
— Minha dançarina. — disse, desejando ter o mínimo de elegância. — Fui informado de
que era possível me comunicar telepaticamente com você se tomasse meu sangue e eu desse a
você o meu. Estaria disposta a trocar sangue comigo?
— Sim, claro. — Branislava disse. — A telepatia é a forma mais fácil de comunicação.
Você pode ter certeza que eu nunca me intrometeria em sua mente. Vou simplesmente
retransmitir as informações.
— Você pode fazer isto? Ver coisas na minha mente?
— Talvez. — ela respondeu. — Mas não há necessidade para tal coisa, e você é um Lycan.
Lycans tem padrões cerebrais diferentes e a maior parte de nós não pode ler seus pensamentos
facilmente. Acredito que você tem uma proteção bastante boa.
Ele não queria pensar demais sobre as consequências.
— Vamos fazer isto então. Me diga o que fazer.
Ela tomou sua mão e o levou mais profundamente dentro das árvores, onde as sombras
os manteriam protegidos de olhos espreitadores.
— Você preferiria não sentir nada? Ou não saborear nada?
— Já saboreei sangue. Sou um Lycan. Quero saber o que estou fazendo a toda hora. —
Zev disse firmemente. Ele não se importaria de saborear seu sangue. Tudo nela o intrigava.
Ela andou até perto dele. Tão perto. Não existia mais que uma escassa polegada entre
eles. Seu cheiro o envolveu em veludo e deixou-o balbuciando exatamente como esteve na noite
anterior. Ela colocou o braço ao redor de seu pescoço e puxou sua cabeça até ela. Sua boca se
moveu acima de sua pele, leve como uma pluma, mas oh, tão sensual. Seu corpo inteiro reagiu,
ficando duro com necessidade urgente, sangue ardentemente surgiu, cada nervo em seu corpo
se tornou vivo e ciente dela.
— Você sentirá a mordida. Uma picada de dor, mas irá embora depressa. — ela
sussurrou em sua orelha. — Confie em mim, eu nunca faria nada para prejudicá-lo.
Ele não se importava. Toda sua atenção estava fixa em sua boca e no modo como se
movia acima de sua pulsação batendo de forma tão sedutora. Os lábios tocaram em seu pescoço
e suas entranhas se enrolaram em laços de antecipação. Seu pau empurrou forte, duro e alerta.
Seus dentes afundaram profundamente e a dor adicionou intensidade a seu desejo, e então a
dor aliviou, retirando-se para prazer puro. O modo como ela tomou seu sangue era a coisa mais
erótica que já tinha experimentado.
Embrulhou seus braços ao redor dela, segurando-a contra ele, sentindo seu sangue
batendo ardentemente em suas veias. A pulsação trovejava em seus ouvidos. Não queria que
ela parasse. Queria mais, bem mais. Suas mãos se moveram para baixo da camisa para achar a
pele nua acetinada. Deslizou suas palmas em cima das costelas emoldurando o peso de seus
seios, seus dedos polegares buscando os mamilos tensos sob sua camisa. Ele estava tão excitado
que a teria tomado ali mesmo, nas sombras profundas das árvores, mas ela ergueu a cabeça,
selando as incisões com a língua.
Seus olhos se encontraram. As esmeraldas verdes surpreendentes apertaram em seu
rosto parecendo vítreos, como se ela fosse feita apenas para o amor. Ela também parecia um
pouco confusa.
— Senhor, acredito que você esteja transgredindo em áreas que nunca discutimos em
nossas negociações.
Chocado, Zev retirou as mãos debaixo de sua camisa. Sua pele era tão quente ao toque
que realmente sentiu o frio da noite diante de seus dedos.
— Eu sinto muito. Não sei o que aconteceu. Toda vez você toma o sangue de alguém faz
com que eles se sintam como estou me sentindo? — Nesse caso, estava só um pouco ciumento,
embora não estivesse familiarizado com aquela emoção em particular, e estava imaginando que
fosse isso.
Ela sacudiu sua cabeça.
— Não. Nunca foi assim antes.
— Bom. — Ele queria ser seu primeiro. Talvez ela se lembrasse do mesmo modo que ele
sabia que sempre se lembraria. — Eu mordo seu pescoço?
Ela riu, quebrando a tensão leve entre eles.
— Penso que seria mais seguro se nós só usássemos meu pulso.
— Mais seguro, mas não tão divertido. — Zev assinalou.
Ela mordeu seu pulso e ofereceu a ele. Gotas brilhantes de sangue saíram pela
laceração. Ele tomou o pulso oferecido e o levou à sua boca. Até seu pulso emitia aquele odor
de mel selvagem e cítrico que ele veio a identificar como Branislava. Lambeu as gotas cor de
rubi. Ela tinha um gosto tão bom quanto parecia — até melhor. Poderia ser viciante, e isso era
perigoso para sua espécie. Sangue quente e fresco assim era uma tentação que nenhum deles
ousava ter.
Lycans sempre tinham que ser cautelosos ingerindo sangue. Eles eram predadores.
Feras. A civilização veio para eles, mas no fundo de seus corações, eles sempre seriam selvagens.
O sangue cantava para eles. Chamando-os. Sussurrando e bajulando. Seu sangue era
excepcional — de gosto primoroso.
Branislava colocou a outra mão em seu ombro, os olhos encontrando o seu. O
sentimento era quase tão erótico quanto antes quando ela tomou seu sangue. Ele se deixou cair
em seus olhos incomuns, permitindo-se sentir aquele momento completamente. Nunca mais
teria uma chance de ser tão íntimo dela — e isso era íntimo.
Fen disse que ela não podia se apaixonar por qualquer outro além de seu companheiro,
mas ela sentiu aquela mesma energia magnética puxar em direção a ele como sentia por ela.
Via isto em seus olhos e sentia isto em sua mente. Seu sangue era rico e quente. Tão quente.
Tão bom. Ele o energizava.
— Chega. — Branislava o avisou. — Não posso estar fraca quando estiver no ar. — Ela
puxou o pulso.
Zev a deixou ir imediatamente. Ele era rude e grosseiro comparado a ela, mas ainda
assim, ela não desviou seu olhar do dele e fechou o ferimento em seu pulso com a língua.
— Está feito então? — Ele perguntou. — Você pode falar comigo telepaticamente?
Sim.
Sua voz suave sussurrou muito intimamente em sua mente, deixando-o chocado. Talvez
essa não tenha sido uma ideia tão boa, permitir que ela tomasse seu sangue. Ele podia apenas
respirar e mal podia caminhar.
Tente você. Converse comigo.
Não existe muito o que possa dizer sem me fazer parecer bobo. Minha atração por você
foi inesperada.
— Você está bem, Zev? — Convel chamou, raiva afiando sua voz.
Devia saber que seu bando estaria preocupado. No momento que Branislava o levou
para o isolamento das árvores, seus companheiros de bando devem ter ficado ansiosos que a
Cárpato pudesse estar emboscando-o de algum modo.
— Estou bem. Nós estávamos só nos certificando que isto tinha funcionado. — Zev
respondeu. Ele sorriu para Branislava. — Obrigado, Senhorita Branislava, acho que poderemos
caçar juntos.
— Eu também acredito que iremos. — ela disse. — Meus amigos e minha família me
chamam de Bronnie.
Ele deu a ela um pequeno aceno e andou a passos largos para fora das árvores para
encontrar seus caçadores de elite da mesma categoria.
Tatijana e Fen juntaram-se a Branislava no momento em que ele partiu.
Fen tomou suas mãos.
— Você tem certeza está bem para isso, Bronnie? Tatijana e eu demos a você todas as
lembranças que podíamos do Sange rau e como eles lutam, o quão rápido eles são. Qualquer
lobisomem irá para sua barriga toda vez, e não menospreze o quão alto eles podem saltar.
— Acho que hibernei muito tempo e preciso cair direto na briga. Agora mesmo, posso
ser útil e eu preciso disto, Fen, vai ajudar a me empurrar para começar a viver. Ser uma
prisioneira por tanto tempo e estar presa no gelo pode fazer se ansiar com o que está
familiarizado, e certamente isto não é a melhor coisa para mim.
— Só me prometa que você será cuidadosa. — Fen disse. — Nada pode acontecer para
qualquer uma de vocês. Eu posso estar no ar em segundos e eu viajo rápido. Só me peça.
— Não ouse se entregar para os Lycans. — Tatijana disse. — Estou falando sério, Fen.
Eles destruirão você muito rápido. Mikhail deu a Zev algo para pensar, mas não aos outros. E
você não pode contar com ele para proteção. Nós estaremos bem. Nós sabemos o que fazer.
— Está tudo certo? — Zev perguntou, surgindo atrás deles. — Estamos todos prontos.
— Estou só me certificando que elas saibam como os bandos de renegados trabalham.
— Fen disse. — Não quero que elas permitam quaisquer chances deles com suas vidas.
— Vocês vão nos dar apenas informações. — Zev avisou às mulheres, adicionando as
advertências de Fen. — Isto é tudo, apenas encontre-os e nos diga. Os Cárpatos nos
transportarão se for uma distância grande.
— Nós precisamos do campo. — Tatijana disse. — Mova seu bando por entre as árvores.
Zev assentiu, olhou para Branislava, sacudiu a cabeça e foi embora. Fen embrulhou sua
palma em torno da nuca de Tatijana e a puxou perto dele.
— Ele poderia olhar de volta, homem lobo. — ela silvou, mas não se afastou.
— Não estou nem aí. — ele disse e a beijou. — Não ouse se ferir. Nem um único fio de
cabelo. Está me entendendo?
— Entendi. — ela disse e devolveu o beijo. — Adoro quando você fica todo lobo comigo.
Branislava desatou a rir.
— Vamos, Tatijana, vamos mostrar a eles o que as Caçadoras de Dragões podem fazer.
As duas mulheres saíram das árvores para o campo aberto. Ambas parecendo elegantes
apesar de sua calça jeans, camisas e botas. Elas saíram dando as mãos, mas no meio do campo
se abraçaram e cada uma virou e caminhou para o centro de seu quadrante.
— O que elas estão fazendo? — Zev perguntou.
Fen disse inseguro.
— Elas precisam de espaço.
As duas mudaram quase simultaneamente, suas pequenas figuras curvilíneas
vislumbradas num momento e se transformando em algo completamente diferente. Fen estava
acostumado ao dragão azul de Tatijana. Ela era bonita para ele, com sua cabeça e rabo longo,
eriçado e em forma de cunha. Ela podia mergulhar na água e nadar embaixo da superfície por
longos períodos de tempo. Em sua forma humana, depois de séculos em forma de dragão, sua
pele era sempre fresca.
Branislava era simplesmente o oposto. Ela era um dragão de fogo, suas escamas
carmesim quase ardendo. Parecia que seu dragão tinha nascido de um vulcão em erupção, uma
parte da explosão ígnea, toda vermelho e laranja. Quando expandiu suas asas, Fen ouviu vários
membros da matilha surpresos.
Ela deu impulso com suas pernas e abriu as asas, criando um vendaval. Tatijana a seguiu.
Fen olhou em volta. Existia choque e temor nos rostos dos membros da matilha quando os dois
dragões se levantaram para o céu.
— Vocês a viram em batalha. — Fen lembrou a eles.
— Ela estava principalmente no céu. — Arnou se defendeu. — Eu estava tomando
cuidado com minha pele, matando o máximo de lobisomens possível. Acho que não pensei
nisso, mas vendo-as lá em cima assim, depois de vê-las como realmente são... é simplesmente...
— sua voz foi sumindo. — Não tenho palavras.
— Impressionante. — Daciana completou. — Eu não me importaria de poder trocar de
forma.
A matilha desatou a rir.
— Você pode, Daciana. — Zev a lembrou. — Você é uma Lycan. Você se sente sendo
uma loba, e é só mudar.
Ela deu de ombros.
— Não é o mesmo. Eu sempre fui uma loba.
— Tatijana e Branislava nasceram na linhagem de Caçadora da Dragão, uma linhagem
muito antiga e honrada. Elas ficaram na forma de dragões por vários séculos e é muito mais
familiar para elas que seu lado humano.
Ele alcançou Tatijana.
Como está indo aí em cima?
Faz dois minutos, Fen. Eu não poderia estar em apuros tão rápido. Seu riso correu por
seu corpo, suave e íntimo. A noite está bastante clara e isso ajuda. Porém, estamos voando alto,
usando as nuvens existentes para mascarar o que somos. Lá de baixo, nós parecemos apenas
com nuvens de formas estranhas.
Boa ideia, minha senhora.
Eu as tenho ocasionalmente, mas não posso levar crédito por essa. Bronnie pensou.
É seu primeiro voo em um longo tempo, Tatijana. Você está certa que ela está forte o
suficiente para isso?
Branislava era sua família agora. Eles estavam vinculados através de Tatijana. Mais do
que isto, gostava e respeitava-a. Ele viu os vislumbres de sua coragem quando Tatijana
inadvertidamente abriu a porta em seu passado e ele não podia fazer nada além de admirá-la.
Está animada. Ela realmente precisa disso. Quando você nunca esteve ao ar livre antes,
perto dos outros, é fácil se distanciar e se segurar, não se movendo por medo de cair, por assim
dizer.
Tatijana criou um pequeno distanciamento entre seus corpos. A encosta da montanha
estava repleta de pedras pontiagudas, mas havia entre elas uma abertura, um vão na terra com
no máximo dois metros. Se existia uma caverna ali, seria um esconderijo perfeito para os lobos.
Os lobisomens poderiam ser atraídos para tal lugar.
Ela enviou a imagem para Fen. Existe uma caverna aqui? Que outros sinais eu devo
procurar?
Existe definitivamente uma caverna ali, Fen disse. Eu marquei-a mais cedo como
suspeita, mas quando verifiquei, não existia ninguém lá. Isso não significa que o bando não tenha
desejado o local como possível esconderijo se precisassem dele por alguns dias. Se estiverem ali,
até um pequeno número deles, procure na encosta circundante, eles terão pelo menos dois vigias
lá fora. Estarão escondidos também. Pense como os lobos. Os lobisomens pensam como suas
contrapartes animais para proteger seu bando.
Tatijana não quis ir mais pra baixo, especialmente para o caso do bando de renegados
ter vigias que pudessem localizá-las. Ela se moveu de nuvem para nuvem, fazendo parecer estar
se movendo com um vento leve. A visão do seu dragão era muito aguçada. Ela podia ver a milhas
de distância se escolhesse usar a visão superior.
De repente a visão de tudo mudou ao seu redor. Ficou um pouco desorientada tentando
se concentrar na sua visão privilegiada, mas seu dragão era rápido para se colocar em
movimento. Abaixo delas e em direção ao Sul, ela via as folhas de um arbusto que estava contra
o vento. Uma vez que seu dragão achou um alvo potencial, ela ficou alto no ar, movendo seu
dragão só ocasionalmente, quando teve que circular de volta.
No terceiro círculo confirmou que havia uma criatura, metade lobo, metade homem que
espreitava pelos arbustos. Eu vejo um dos vigias. Ele está na forma de metade homem e metade
lobo.
É isso que nós estamos procurando, Fen disse. Mande as coordenadas e só os vigie até
que cheguemos. Se qualquer um deles sair de seus esconderijos, conte-nos, assim conseguimos
ter uma ideia do que fazer. Mas não faça, de forma alguma, contato com eles.
— Nós temos uma das unidades. — Fen disse. — Vamos.
Oito machos Cárpatos concordaram em transportar os caçadores de elite para diminuir
não só o tempo como também a chance do Sange rau localizá-los.
Tomaram a forma de pássaros gigantes e, embora os caçadores olhassem de um ao
outro como se pudessem recusar, no momento que Fen e Zev avançaram e subiram sobre as
costas do seu pássaro, os outros os seguiram. Eles eram caçadores e existia um bando de
renegados para destruir. Aquele trabalho vinha antes de qualquer outra coisa, até mesmo o
medo do desconhecido.
Os Cárpatos os levaram em silêncio, descendo do céu a uma curta distância da caverna
para permitir aos caçadores de elite que conseguissem colocar seus pés no chão novamente.
Jacques, Vikirnoff e Nicolae foram com Lykaon, Arnou e Fen, caminhando separadamente para
a esquerda. Falcon, Dimitri e Tomas foram com Zev, Daciana, Convel e Gunnolf para a direita,
novamente se estendendo de forma que fizessem menos barulho possível enquanto
caminhavam em direção aos renegados.
Dimitri, o vigia naquele lado está a pouco mais de nove metros de você à sua esquerda.
Ele não te viu ainda, Tatijana o advertiu.
Tome cuidado para que não faça nada para avisar a Zev que você é qualquer coisa exceto
um Cárpato, Fen o advertiu apressadamente, amaldiçoando-se por não colocar Dimitri em seu
grupo.
Dimitri não respondeu. Ao invés disso, levantou um punho fechado. Imediatamente
todos os membros de seu grupo de caça se abaixaram e ficaram completamente mudos. Dimitri
se curvou sobre a barriga e mudou de forma para um esquilo pequeno, cobrindo vários metros
antes de determinar que poderia emitir energia demais ao lobisomem.
Deteve-se, avaliando a situação. Queria uma morte silenciosa com o vigia, assim não
poderia alertar o outro vigia ou aqueles dentro da caverna.
Você não emite mais energia, Fen lembrou a ele. Você não tem emitido faz muito tempo.
Depois destes últimos dois ferimentos quase mortais e todo o sangue dado a você, é mais do que
Cárpato. Ele não te sentirá vindo.
Dimitri aceitou a palavra do seu irmão. O pequeno esquilo fez facilmente sua passagem
no arbusto até que quase se chocou com o pé do lobisomem. No mesmo instante que o lobo
olhou para baixo com olhos cobiçosos, Dimitri mudou, dirigindo a estaca de prata direto ao
coração do renegado. Simultaneamente, ele silenciou qualquer gemido que o homem pudesse
dar, simplesmente cortando sua traqueia. Ele colocou o corpo no chão.
Está feito. Você pode chegar no outro, Fen?
Eu o vejo. Estou seguindo ele agora.
Acima de suas cabeças, Tatijana ficou nas nuvens. Ela assistiu Fen rastejar adiante,
colocando seu corpo no arbusto. Sabia que não existiria um sussurro de movimento e ele sabia
exatamente o que estava fazendo em silêncio, ela quis mergulhar abaixo e eliminar a ameaça
para seu companheiro. Seu laço com Fen parecia crescer a cada hora. Não pensou que podia
ficar mais forte, mas seu amor por ele se aprofundava ainda mais.
Fen segurou a estaca de prata. Os insetos cantavam ao redor dele, imperturbados por
sua presença. Tomou uma respiração e deixou sair quando chegou mais perto. Ele cheirou o
ranço fétido do lobisomem. Os renegados não se banhavam, e carne e sangue velhos e decaídos
agarravam em sua pele.
Não se mova. Não se mova. A advertência de Tatijana o congelou. Dimitri, outro está
vindo em sua direção também. Acho que os vigias estão sendo mudados.
Fen permitiu seu olhar ver o bando se estender atrás dele. O punho de Lykaon estava
fechado, um sinal para todos congelarem. Aparentemente isso foi designado para ele também.
Ele preferia o modo Cárpato de comunicação entre os caçadores. A telepatia fazia as coisas mais
simples.
Fen, ele vai caminhar diretamente para você. Quer minha ajuda?
Deixe comigo, sívamet. Não se preocupe. Só fique perto. Dimitri? Pode cuidar do segundo
vigia?
Sim. Eles virão olhar quando os primeiros dois não voltarem, Dimitri assinalou.
Essa será nossa vantagem. Fen olhou ao redor para ver se qualquer membro da matilha
poderia vê-lo. Ele teria que usar a velocidade do Hän ku pesäk kaikak — Guardiães de tudo —
se fosse matar ambos os guardas e mantê-los silenciosos à medida que morressem.
Zev era o único dentro de seu campo de visão que poderia ver sua velocidade. Tatijana,
faça Bronnie distrair Zev só por um momento. Preciso de tempo suficiente para pegar ambos os
guardas simultaneamente. Seria melhor ela ser rápida. Estou ficando sem tempo.
Podia ouvir o outro lobisomem respirando rápido em sua rota. Foi ferido recentemente
e não se curou completamente. Fen podia cheirar o ferimento. Ele manteve seu olho em Zev
enquanto planejava ir.
Ele podia alcançar e atacar o primeiro guarda. O segundo estava dois passos mais longe,
e amaldiçoou quando este ficou sobre arbustos espinhosos. No momento que Zev se distraiu,
Fen saiu rápido, deslizando a estaca de prata pelo coração do lobisomem com sua mão direita,
silenciando-o quando ele fez isso. Girou, usando sua mão esquerda levando o segundo vigia. O
renegado nunca o viu, estava muito ocupado tentando retirar as amoreiras pretas fora de sua
pele quando a estaca entrou em seu coração.
Sentiu o alívio de Tatijana. Ela despejou em sua mente apenas por um momento,
deixando-o sentir o amor dela antes de voltar depressa para seu trabalho. Fen atravessou a
distância entre eles até que estava ao lado de Zev.
— Os outros terão que usar suas espadas para cortar suas cabeças. Não vou cortar com
minha faca.
Zev sorriu para ele.
— Que covarde. Todo esse tempo pensei que você fosse tão durão que precisava só de
seus dentes para cortar fora suas cabeças. — Ele sinalizou para a matilha ir adiante novamente.
— Eu confio que você tem um plano para entrar naquela caverna. — Fen disse.
— Não exatamente. Pensei que pudéssemos deixá-los virem até nós.
Fen levantou a sobrancelha.
— Aquele dragão azul lá em cima apresentou uma ideia e enviou para mim por
Branislava. Ela pensou que poderia ser divertido encher a caverna com insetos. Do tipo que pica.
Se você colocasse seu olho nela, Fen, você poderia reconsiderar. Ela é inteligente e tem asas.
Você é velho o suficiente para saber se ausentar daquele tipo de mulher.
— Não é um plano ruim. — Fen concordou. Sua senhora tinha asas. Você podia ter
compartilhado seu plano comigo.
Eu tive que dar a Bronnie algo real para distrai-lo. Ele é muito esperto para qualquer
outra coisa. Em todo caso, não quero você indo até lá. Você e Dimitri parecem entrar em apuros
toda vez que eu me viro. Estou em sua mente, homem lobo. Você contou com levar a carga, não
é?
Ele compartilhou sua diversão com ela. Eu sou mais rápido.
Você tem lutado batalhas de outras pessoas por muito tempo, Fen, e não consegue
parar. Usa seu corpo como proteção para os outros, e Dimitri é como você.
Tudo isso era verdade. Dimitri era mais parecido com ele do que queria admitir. Dimitri
era destemido em uma briga. Fen preferia ter a ele que qualquer outra pessoa em suas costas.
Zev sinalizou à sua matilha para se mover adiante. Ele movimentou a cabeça para Fen.
Nós estamos prontos, venha para baixo. Quer fazer as honras, minha senhora? Ou eu
devo? Provocou, já sabendo a resposta.
Vivi em uma caverna minha vida inteira, homem lobo. Conheço todos os insetos. E os
que não conheço, posso imaginar. Tatijana adicionou com uma pequena risada.
O vento se moveu acima deles com suaves e gentis toques que enviaram uma ondulação
ao redor deles. Acima deles, as nuvens mudaram de forma quando elas flutuaram suavemente
através do céu escuro. Um tapa de repente soou rompendo o silêncio da noite. Dentro da
caverna, um grito amortizado depressa silenciado foi ouvido.
De repente pela entrada, homens em várias fases de mutação começaram a sair da
caverna, quase esbarrando um no outro, batendo em suas roupas e pele. Dois tropeçaram e
caíram, criando caos para aqueles ainda do lado de dentro. Os dois lobisomens caídos eram
pisoteados enquanto aqueles do lado de dentro, desesperados para sair, simplesmente os
atropelaram. Enxames de formigas vermelhas cobriam seus corpos de forma que parecia como
se suas roupas e pele estivessem vivas e se movendo.
Aquela mulher é um terror, Zev observou, sem ser capaz de conter o riso. Nós podemos
ir para casa e deixá-la lidar com isto.
Fen não podia fazer nada além de achar a situação divertida. Sua senhora tinha uma
imaginação assustadora, enviando formigas de fogo que fervilhavam pra cima dos lobisomens.
Certifique-se que nenhum de nós seja atacado, ele a advertiu.
Não seja um bebê. Ela deu um pequeno bufo de desdém, mas ele sentiu seu riso. Ela
tinha um sórdido e pequeno senso de humor.
Acredito em vingança, ele a advertiu, embora sua ameaça fosse vazia e eles dois sabiam
disso.
Tatijana riu suavemente e ele sentiu seus dedos acariciando o lado de seu rosto.
Eu os trouxe da caverna, agora é sua vez. E cheque seu irmão depois. Algo não está certo.
O que isso quer dizer?
Se eu soubesse não teria dito para verificá-lo. Novamente aquele riso suave.
Fen balançou a cabeça, mas localizou seu irmão. Dimitri parecia estar como o resto
deles, esperando pelo sinal de Zev para se mover para os lobisomens. Ele tocou na mente de
Dimitri, só para se assegurar. Dimitri bloqueou seu toque, isso o chocou, mas girou a cabeça em
direção a Fen e fez um gesto com os polegares para cima.
Fen suspirou. Não podia se preocupar com Dimitri no meio de uma batalha com
renegados. Fen contou quatorze lobisomens saindo da caverna. Se o Sange rau fosse quebrar o
bando maior em unidades pequenas, seus números estavam definitivamente diminuindo. As
unidades antes eram muito maiores, vinte e cinco ou trinta.
Zev sinalizou os caçadores adiante. Eles formaram um semicírculo em torno da entrada
e foram para os lobisomens, pulando fora dos arbustos para atacar. Fen se moveu rápido,
usando as estacas de prata tão depressa quanto possível, querendo acabar o quanto antes com
isso. Parecia um massacre, com gritos, sangue e o cheiro da morte.
Ele teve vários anos de caça destruindo aqueles vivendo de outros. Soube que era a
única coisa que podiam fazer, mas às vezes ainda era difícil. Os renegados foram pegos de
surpresa e só um punhado conseguiu lutar de volta. Os caçadores de elite usavam espadas de
prata para remover as cabeças antes dos corpos serem juntados e queimados. O odor de pele e
carne em chamas fizeram com que ele tivesse náuseas.
Tatijana, achou algum rastro de Abel ou Bardolf? Perguntou para se distrair.
Bem... Ela hesitou, claramente insegura. Quando estava voando em torno da montanha
de névoa, senti um súbito calafrio, uma consciência de perigo. Estava lá só por um momento,
mas pareceu para mim que um deles, ou ambos, podiam estar lá em cima. A montanha está
acima de onde o príncipe reside e é possível alguém poder espiar lá de cima. Mas, Fen,
honestamente eu não sei, foi só um sentimento misterioso, assustador.
— Zev, Tatijana vai aterrissar e me levar. Ela pode ter achado a toca do Sange rau.
Gostaria de levar Dimitri e verificar isto. — Fen disse.
Zev olhou para o céu. Ele podia ver o dragão azul circulando acima deles.
— Nunca me acostumarei com essa visão. É incrível. Dragões. — Por um momento ele
procurou no céu, e Fen estava bastante certo que procurava pelo dragão vermelho. Zev
suspirou. — Eu não posso te impedir, Fen, mas você e eu, ambos sabemos, que mesmo dois de
vocês tem uma chance muito pequena de matar um deles. Se eles estiverem juntos...
— Duvido que estejam juntos. Vampiros não confiam um no outro tanto assim. Só não
me parece que eles compartilhariam seus locais de descanso.
— Você tem os melhores instintos que já vi para caçá-los. — Zev disse. — E certamente
sabe mais que do que eu sobre lutar com um. Claramente tem mais experiência, só tente não
ser morto.
Fen movimentou a cabeça.
— Boa sorte caçando os outros bandos. Eu me juntarei a você se nada resultar disso.
Dimitri, vamos à caça. Já tive o suficiente destes renegados e seus mestres invadindo
nosso lar.
Estava só esperando por você.
Transforme-se em um dragão e subirei com você. Assim que estivermos longe de vista,
posso parar esta encenação. Nós temos que achá-los, Dimitri. Tenho uma sensação de urgência
crescente em mim. Posso sentir uma batalha se aproximando.
Dimitri fez seu caminho e brevemente se transformou sem dificuldade, mudando para
a forma de dragão, educadamente estendendo sua asa para seu irmão. Fen subiu até as costas
do dragão, segurando-se mesmo antes de começarem a voar. Dimitri nunca era vistoso. Seu
dragão era marrom, mas as escamas eram navalhas afiadas. Ao lado dos dragões vermelho e
azul, ele parecia pardo e pôde ser facilmente omitido.
Fen soube que era o modo de Dimitri. Estava quase sempre quieto, raramente expondo
sua opinião, mas era letal e seu dragão seria também.
Diga o que está incomodando você, Dimitri.
O dragão de Dimitri ficou perto de Tatijana quando cruzaram o céu noturno. Fen, o lobo
está presente. Ele é forte. Muito forte. Ele tem estado comigo muito tempo agora. Ele
abruptamente falou sem qualquer advertência, soltando a granada explosiva na mente de Fen.
Fen soltou sua respiração um pouco depressa. Sabia desde o princípio que seu irmão
estava a caminho de se tornar o que ele era. A presença do lobo era inegável.
Ele te protegerá. Quanto mais trabalhar com ele, mais rápido você se fundirá, Dimitri.
Logo antes de virmos para cá, eu já o senti subindo. Entretanto, agora está diferente,
como se estivéssemos nos tornando um. Todos aqueles anos nós caçamos juntos. Você me dando
seu sangue. Dando sangue Lycan como fonte de alimento quando estávamos caçando com uma
matilha. Nunca me importei. Eu não tinha medo dos Lycans me caçando. Achei que podia lidar
da mesma maneira que você faz.
Mas agora percebe não poderia ser uma coisa tão boa. Fen percebeu a mesma coisa um
tempo atrás, mas suspeitou que era muito tarde para seu irmão. Um macho que passa sua vida
matando e vivendo na escuridão era extremamente suscetível a se tornar um Sange rau, mas
ainda, ele pensava que o Cárpato se tornaria vampiro.
Existe a Skyler.
Aí estava. Fen relutava por que sabia que seria um problema. Será que tinha o direito
de expor sua companheira para tal coisa quando não existia nenhum dado sobre o
relacionamento entre um Cárpato/Lycan? Quanto mais perguntas fazia, menos respostas tinha.
Ele foi egoísta cedendo às exigências de Tatijana. Ele quis ser persuadido, e deixou-a seduzi-lo.
Por outro lado, Dimitri não sobreviveria sem Skyler. Agora, mais do que nunca, ele
precisava dela.
Sinto muito que tenha colocado você nisso, Dimitri. Séculos atrás, ele não tinha uma pista
do que causou a mudança, embora até então ele suspeitasse. Nunca devia ter envolvido Dimitri,
mas a luta para ser honrado se tornou quase impossível.
Entrei nisso com meus olhos abertos. Você explicou sobre o perigo em trocar sangue.
Tenho que conversar com Skyler a respeito disso, mas antes de fazer, tenho que pensar em
algumas coisas.
Não tome uma decisão por ela. Tatijana era inflexível sobre ter o direito de fazer sua
própria escolha, e tenho que acreditar que isto é verdade.
Skyler é jovem.
Mas é poderosa. E inteligente. Seu instinto é protegê-la, mas não a desmereça por causa
de sua idade humana. Ela ainda não é Cárpato... Fen cessou bruscamente.
Existia o dilema. Fen não considerou o problema realmente até agora. Skyler não era
Cárpato. Ela era humana. Não foi convertida. Se Dimitri a convertesse com seu sangue
misturado, o que aconteceria? Ele poderia convertê-la? Funcionaria? Não tinham uma resposta
para aquela pergunta. Até onde sabiam, não funcionaria.
Agora você entende.
Ainda existem outras maneiras de se fazer isto. Gabriel ou Francesca? Fen sugeriu seus
pais. Ele sabia mesmo quando fez a sugestão, que não funcionaria. Se Gabriel continuasse
insistindo para que Dimitri não reivindicasse Skyler até que fosse mais velha, ele nunca ajudaria
Dimitri a trazer sua filha para o desconhecido mundo incerto. Certo, nenhum deles, mas alguém
irá nos ajudar. Talvez Bronnie. Ela é Caçadora de Dragão e sei que Skyler tem sangue de Caçadora
de Dragão nela. Razvan não é seu pai biológico?
Isso seria uma possibilidade. Existia um pingo de esperança na voz de Dimitri.
Existe sempre uma solução, Dimitri. Quando você está muito perto do problema e
envolve alguém que você se importa...
Ama, Dimitri o corrigiu. Eu a amo com tudo em mim. Prefiro encontrar o amanhecer ao
invés de deixá-la exposta a algum perigo.
Odeio ser quem diz isso a você, mas ela está exposta ao perigo muito antes de você saber
que ela era sua companheira. No momento que Gabriel e Francesca a adotaram, eles a
trouxeram para o nosso mundo. Fen parou. Como conseguiu segurar prata com o lobo já em
você?
Queimei minha palma na primeira vez que tentei usar, por isso cobri minhas mãos. Desse
modo Zev e os outros não suspeitariam de nada.
Esse era Dimitri. Esperto. Sem exagero.
Nós estamos fazendo a abordagem, Tatijana advertiu. Vocês querem mudar suas formas
por via das dúvidas? Nós estamos muito perto de onde senti a advertência.

Capítulo 17

Fen tocou a mente de Tatijana. Ela não soube. Não percebeu. O dragão voou alto pelas
nuvens nebulosas que cercavam a parte superior da montanha. O pavor estava presente, um
sentimento de repulsa, a necessidade de partir. Tatijana passou a vida inteira debaixo daquela
mesma montanha, nas cavernas de gelo de seu pai, Xavier, o mais alto mago. Ela nunca viu o
exterior da montanha, apenas o interior. Os feitiços do mago ainda estavam intactos e
funcionando para manter qualquer um que fosse da espécie longe dos seus laboratórios.
Ele indicou que ela pousasse com o seu dragão, Dimitri, você sabe que lugar é esse,
certo? As cavernas de gelo onde ela foi mantida.
Eu sabia, mas como você sabia?
Antigamente, Xavier era considerado um amigo do povo Cárpato. Todos nós
estudávamos com ele. Foi assim que começamos a tecer as proteções. Estudei com ele por anos.
Ninguém tinha a menor ideia de que tramava contra nós. Explicou Fen.
Tenho apenas um século a menos que você. Também estudei com ele. Disse Dimitri. Foi
pouco tempo depois dele sequestrar Rhiannon dos Caçadores de Dragões e matar seu
companheiro. Claro que não sabíamos que Xavier cometeu uma traição dessas por algum tempo.
Dimitri pousou seu dragão ao lado de Tatijana e Fen saiu de suas costas, caindo
agachado.
Não consigo imaginar Abel escolhendo montar um refúgio nas cavernas de Xavier.
E quanto a Bardolf? Embora… acha que Bardolf seria afetado pelo alerta que emana da
névoa? Ele não teria ideia do quanto aquele labirinto inteiro de cavernas realmente é perigoso.
Dimitri se transformou em sua forma humana bem como Tatijana. Fen foi
imediatamente até ela e colocou o braço ao seu redor. Se abaixou para depositar um beijo no
topo de sua cabeça.
— Você sentiu? — ela perguntou.
— Tatijana, existe toda a possibilidade de que Bardolf possa ter escolhido essas cavernas
como abrigo. Olhe para a montanha. Olhe realmente. Essas cavernas foram a sua prisão por
séculos. — Ele a abraçou enquanto dava a punhalada, a mente firme na dela.
Por um momento ela rejeitou a ideia, sua mente tentando protegê-la das lembranças
de tortura e morte de tantos que foi forçada a presenciar.
— Respire, sívamet. — ele encorajou. — Estamos aqui com você. Xavier se foi há muito
tempo deste mundo e não pode machucá-la. Você não precisa entrar conosco para verificar.
Pode nos monitorar daqui mesmo.
Tatijana ouviu os gritos dos que morriam, sentiu o peso dos mortos — tantos; Xavier
nunca fez distinção entre as espécies. A única coisa que importava-lhe era imortalidade e poder.
Ele se achava acima de todos e queria reinar. Queria para si os dons que cada um possuía e não
pararia por nada até conseguir.
Ela foi forçada a alimentá-lo com seu sangue por séculos. Quando ela e Branislava
ficaram muito fortes, e quando até mesmo manter ambas anêmicas não era de grande ajuda,
Xavier tentou prendê-las no gelo na forma de dragões. Elas eram as decorações das paredes do
seu laboratório, forçando-as a assistir toda espécie de crime bárbaro que ele cometia contra a
humanidade, Cárpatos e várias outras espécies. Elas não podiam fazer nada para impedi-lo.
Ele possuiu o corpo do seu neto e violou mulheres, engravidando-as para que assim
encontrasse novas fontes de sangue Cárpato. Se a criança fosse considerada inepta, como no
caso de Skyler, ele a vendia para uma vida de miséria ou simplesmente a abandonava. Também
mantinha o neto prisioneiro, torturando-o com as coisas terríveis que fazia usando o seu corpo.
Tatijana podia ouvir o seu próprio grito silencioso e parou abruptamente, sabendo que
sua aflição atrairia Branislava até ela. Precisava ter controle. Fen estava certo. Ela estava a salvo
— mas ele e Dimitri não estariam se entrassem naquelas cavernas. Xavier pode ter morrido, mas
suas armadilhas e feitiços malignos permaneciam. Ela sabia de cada feitiço já concebido por ele,
bem como Branislava, assim como a maioria das armadilhas que ficavam em áreas visíveis do
local em que foi mantida prisioneira, mas Fen e Dimitri não tinham esse conhecimento.
Ela levantou o queixo.
— Irei com vocês.
Fen passou a mão debaixo do braço até seus dedos tocarem os dela.
— Talvez possa voar com o seu dragão para nós e ficar de guarda, só enquanto
exploramos as cavernas externas atrás de sinais de Bardolf. Se ele não estiver por lá, não há
necessidade para qualquer um de nós entrar no que foi domínio de Xavier.
Ela não sabia se estava sendo covarde, mas, aliviada, aceitou aquela escapatória.
— Faz sentido. Mas se achar que ele pode ter entrado, prometa que irá me chamar
imediatamente. Não pode haver meias verdades entre companheiros. Preciso enfrentar isso
com você se Bardolf tiver entrado. Com você e Dimitri. Sei que posso. Se me deixar para trás e
algo acontecer a qualquer um de vocês, eu me sentirei responsável para todo o sempre, como
se tivesse causado isso devido à minha covardia.
— Você tem minha palavra, minha senhora. No momento em que suspeitar, você
saberá.
Ela colocou os braços em volta do pescoço dele e se inclinou no seu enlace, precisando
sentir o quanto ele era forte e sólido.
— Sei que vocês dois estão preocupados sobre o que a mudança em seus sangues fará
com uma mulher e com os nossos futuros filhos, mas neste momento, estou grata por ambos
terem sangue mestiço. E Dimitri — ela se virou nos braços de Fen para olhar diretamente nos
olhos de Dimitri —, eu te garanto que Skyler se sentiria exatamente do mesmo jeito.
Dimitri assentiu.
— Tenho certeza disso. Vamos, Fen.
Sua forma cintilou e ele voou para o céu, atravessando a névoa que velava o topo da
montanha.
Fen suspirou.
— Tenha cuidado, Tatijana. Não pense que porque está em forma de dragão está a salvo
dele. Se Bardolf estiver aqui e perceber que você está rondando a área procurando sua pista,
ele pode atacá-la.
— Faça o seu trabalho que farei o meu. Acredite em mim, mesmo a parte externa da
montanha de Xavier tem suas armadilhas. — ela alertou. — Tente não ativar nenhuma delas.
Ele se abaixou e beijou os lábios dela, transformando-se quando recuou.
Ele seguiu o seu irmão pela montanha inclinada e coberta de neve até o véu de névoa.
As montanhas pareciam tranquilas, adornadas de neve quando atravessaram a névoa agitada e
densa, mas os picos mais elevados eram inóspitos. Pouquíssima flora conseguia crescer no meio
das rochas e pedras, só algumas flores desordenadas e grama. Acima das rochas gigantes havia
a geleira.
Os locais sabiam que deviam evitar os picos, e os poucos viajantes que ignoravam os
avisos das montanhas geralmente eram vítimas de pedras e avalanches. A montanha estremecia
e rugia continuamente quando alguém colocava os pés naqueles picos mais elevados, ocultos
pelo véu de névoa branco.
Fen sentiu a energia escondida dentro do próprio banco de névoa. Nenhum vento a
perturbava ou soprava. O véu que se movia em redemoinhos agia como uma espécie de força
que deixava qualquer um que se aproximasse dos picos desconfortável. Coisas se moviam
sutilmente na densa neblina. Figuras. Nada substancial, mas Fen conseguiu avistar várias
ameaças. Vozes ecoavam essas ameaças, alertando todos para que ficassem longe.
Fen já viu coisas assim várias vezes em suas viagens. Xavier foi o pai de todas as
proteções e essa era clássica. Era destinada a qualquer espécie que explorasse a montanha. A
primeira camada simplesmente faria com que qualquer um que se aproximasse se sentisse
desconfortável. A maioria ia embora logo. Se ela não tivesse sucesso e o explorador continuasse
andando, realmente andando por perto das entradas do labirinto de cavernas, vozes
começavam a ser ouvidas, avisos, e se isso falhasse, armadilhas agiriam.
— Alguma coisa? — Perguntou a Dimitri.
Nenhum dos dois colocou o pé na montanha, ao invés disso flutuaram pela lateral para
estudar o chão atrás de pegadas, de qualquer coisa que pudesse lhes dizer que Bardolf tinha
passado por ali.
— Talvez. É pequeno, mas ele era Lycan. Ele tem habilidades. Dê uma olhada ali. —
Dimitri indicou uma pedra que estava esmagada com outras em uma pilha. — Essa entrada foi
fechada pelo nosso povo há pouco tempo atrás, mas ao fechá-la, a área ao lado se elevou. Veja
bem ali onde brotaram aquelas pequenas flores.
Dimitri se aproximou, quase se agachando ao espiar o chão. Fen se moveu para o seu
lado para ver as flores que lutavam para crescer entre as fendas das pedras espalhadas por todo
o solo. Ele avistou um pequeno sinal que indicava o distúrbio do qual Dimitri falava. Uma flor
minúscula e uma folha foram esmagadas por algo pesado que passou.
— Bem minúsculo. — disse Fen.
— Bastante. — concordou Dimitri.
Os dois olharam para as rochas amontoadas, que poderiam ter sido usadas para formar
uma caverna.
— Ele está ali. — disse Fen.
— Tenho certeza disso. — concordou Dimitri. — Vamos pegá-lo.
Tatijana, achamos que ele construiu uma caverna aqui, ao lado da entrada da caverna
de Xavier. Nós vamos checar.
Irei com vocês.
Ela não hesitou. Claramente tinha decidido que enfrentaria sua prisão.
— Ela é uma mulher forte. — disse Dimitri.
— Ela é Caçadora de Dragão. Não espero menos dela. — admitiu Fen.
Ele foi na frente, evitando tocar a montanha com os pés, com cuidado de não roçar
alguma pedra. Quando chegaram na entrada da recém-construída caverna, ele se transformou
em neblina. Naquela forma podia se mover pelo ar sem medo de ativar qualquer armadilha.
A entrada foi artificialmente alargada, mas não muito. Bardolf podia se transformar da
mesma forma que qualquer Cárpato, mas claramente preferia sua forma de lobo à humana.
Encontrou uma toca e cobriu a entrada só o suficiente para que se alguém passasse pelo véu de
névoa, seu refúgio pudesse passar despercebido.
Fen entrou na caverna. Estava escuro e muito mais frio do que qualquer lobo apreciaria.
Ele sabia no momento em que entrou que Bardolf passou por ali. Seu cheiro estava em todo
lugar. O pequeno espaço fedia a ele.
Fen foi até os fundos da caverna — e era pequena. Parecia não ter saída. Isso não lhe
pareceu certo. Nenhum Lycan de respeito se deixaria ser pego em um lugar sem saída.
Ele está aqui em algum lugar. Sei que está. Fen o sentia. Como se estivessem ligados.
Talvez pelo sangue ou pelas batalhas, mas ele o sentia — e Bardolf estava por perto.
Ele tem que ter uma rota de fuga, disse Dimitri. Nós vamos encontrá-la.
Os três inspecionaram cada centímetro das paredes e teto da caverna. Foi Fen quem
achou aquela rachadura pequena e incompatível que corria do chão até a metade, na altura do
joelho. Ele voltou duas vezes para examiná-la, atraído não pela rachadura em si, mas pela
sensação que ela transmitia.
É aqui. Mas essa parede é a parede externa da caverna de Xavier, ele avisou.
Se ele encontrou as cavernas de Xavier, disse Dimitri, não será capaz de resistir à vontade
de explorá-las. Ele é um lobo, e se vir alguma arma, definitivamente vai tentar descobrir como
usá-las.
Fen não teve escolha a não ser se transformar o suficiente para permitir que sua mão
passasse pela rachadura. Seus sentidos aguçados disseram a ele que havia uma forma de ativar
a abertura, mas como? Moveu a palma lentamente de cima abaixo. Teria que ser rápido,
nenhuma proteção para manter alguém ali do lado de fora. Bardolf desejaria entrar e sair sem
maiores problemas.
Tatijana se inclinou sobre ele e estudou a entrada. Isso abre com o tom de voz dele. Pode
recriar o som? Vocês dois o ouviram. Apenas diga, “abra”, mas só se conseguir o tom exato.
Você é bom com entonações, Fen, encorajou Dimitri. E o conhecia antes que ele se
transformasse em lobo/vampiro.
Fen puxou a memória da voz de Bardolf, ouvindo com atenção e depois tentando.
— Abra.
A rachadura obedeceu, separando-se sem ruído. Claro que Bardolf precisaria que sua
escapatória fosse completamente silenciosa. Um ar gélido soprou na caverna, varrendo-os com
um frio extremo. Fen passou primeiro. Eles não precisavam de luz já que todos eram capazes de
enxergar no escuro, mas Bardolf usou tochas para iluminar o caminho.
Havia uma passagem ao invés de uma câmara. Era estreita e curvada, e levava a uma
única direção quando a entrada foi fechada. Fen se moveu rapidamente, descendo o corredor,
seguindo como uma corrente de vapor. Bardolf havia iniciado sua exploração da caverna de
Xavier. Quaisquer armadilhas que aguardassem e pudessem pegá-lo também o faria com os
caçadores.
O chão na verdade estava quebrado em vários lugares, tornando impossível que
qualquer um que não pudesse navegar como eles prosseguisse. O túnel estreito deu lugar a uma
câmara onde originalmente houve um enorme buraco onde se podia descer até a cidade lá
embaixo. As câmaras e cavernas se espalhavam por milhas, e Xavier dominou todo o covil
subterrâneo. Um enorme pedaço de gelo tapava o buraco, tornando a descida impossível.
Bardolf foi por aqui, disse Fen seguindo o cheiro do lobo.
Não havia traços reais; Bardolf estava, como eles, viajando como vapor, mas não
conseguia ocultar o seu fedor depois de tantos choques que tiveram. Fen guiou os outros até
uma parede mais distante onde um grande tubo de lava vinha de baixo.
Ele desceu por aqui.
Há guardiões. Criaturas odiosas. Alertou Tatijana. Ele fez mutações de vampiros
morcegos. São maiores e caçam cervos e outras vítimas. Ele os alimentava com humanos e até
com magos que o desagradavam. Vivem nas paredes dos tubos de lava e qualquer coisa que os
perturbe é atacada imediatamente. Quando descerem, pularão em vocês e os comerão vivos.
Ótimo. Fen olhou pelo tubo. Estava totalmente escuro e ele não conseguia ver nada,
nem realmente queria ver. Como Bardolf desceu ileso?
Talvez estejam todos mortos, sugeriu Dimitri. Ouvi falar que quando abandonaram essas
cavernas eles tentaram queimá-los, não foi Tatijana?
Não há como um único casal não ter sobrevivido aquele holocausto. Eles procriariam
novamente. Sinto a presença deles. Quando você vive muito perto desse tipo de perigo,
reconhece a sensação e o seu corpo reage. O meu, no momento, está tremendo de medo.
Fen imediatamente derramou força e carinho em sua mente. Ele não ousava voltar à
sua forma para abraçá-la, mas colocou os braços em volta dela de maneira telepática e deixou
que se apoiasse nele por um momento de apoio. Quando pôde sentir que ela já havia se
reequilibrado, ele se voltou para o tubo de lava.
Iluminar o tubo para ver o que enfrentavam poderia enfraquecer as criaturas, ele
decidiu. Acho que Bardolf simplesmente desceu sem saber que estavam ali. Ele não atiçou a sede
de sangue delas, senão sentiríamos cheiro de sangue.
Ele deu outra fungada cautelosa, só por garantia. Tatijana tinha razão. Sentiu o cheiro
de carne em decomposição. Algo foi dilacerado e devorado naquele buraco. Ainda assim, Bardolf
desceu.
Irei na frente. Se eu descer em segurança, Tatijana, você é a próxima. Posso protegê-la
de baixo e Dimitri pode protegê-la de cima. Não toque nas paredes, nem mesmo com uma única
molécula. Nós não conhecemos essas criaturas nem o perigo que representam para nós.
Ele enviou outra onda de confiança a Tatijana. Adentrar mais naquele labirinto de
cavernas de gelo tinha que ser o pior pesadelo dela. Unido quanto estava a ela, ele sentia a
determinação absoluta que sobrepujou o medo que beirava o terror.
Se for possível estar ainda mais apaixonado por você, minha senhora, eu estou.
Ele não esperou uma resposta, mas se virou e desceu pelo tubo de lava, movendo-se
com a lentidão necessária para não perturbar o ar. Era horrível dentro do tubo. Usou a sua visão
de sangue mestiço para tentar ver o que havia dentro. Havia colmeias nas paredes, buracos
redondos que estavam manchados com sangue, pelos e algumas penas. Tinha certeza que as
criaturas morcegos-mutantes viviam naqueles buracos.
Acho que já passei da metade. Tatijana, comece a descer, mas não cometa o erro de
descer rápido. Vai querer evitar perturbar o ar para que qualquer coisa que viva nessas paredes
continue onde está. Dimitri estará bem atrás de você.
Eles não tinham corpos para que as criaturas atacassem, mas ele não se arriscaria, não
com a sua companheira e irmão. Continuou a descer, lutando com a necessidade de aumentar
a velocidade. Era necessário evitar que o seu olfato fosse tão apurado. Quanto mais descia, pior
era o cheiro. Não ficou muito feliz com o aspecto do lugar até agora, não avistou nenhuma
abertura no tubo que desse em algum nível da caverna. Se o fundo fosse fechado e as criaturas
comessem as suas presas no fundo o tubo, aonde as deixavam? Ele deveria ter descido primeiro
e depois ter chamado os outros.
Sua visão superior foi o que os salvou. O buraco na lateral onde o tubo havia rachado
tinha que ser a entrada da caverna. O atravessou e imediatamente os sons de gelo quebrando
podiam ser ouvidos. De vez em quando havia um enorme rugido quando um bloco de gelo
estalava, caindo da parede de gelo devido à tremenda pressão. O bloco batia na parede oposta
e caía no chão.
À distância, do lado oposto da câmara, próxima a uma porta, uma tocha foi acesa e uma
luz fraca se derramava sobre a caverna, transformando o gelo em um azul escuro. Era belo. Ele
esqueceu que a escola de Xavier também foi um lugar de beleza com esculturas de gelo, fontes
e formações intrigantes.
Vai chegar à entrada agora, Tatijana, ele disse, guiando-a.
Ele esperou até que seu irmão seguisse e então se pôs atrás de Bardolf. Moveu-se muito
mais rápido agora que havia câmaras largas o bastante para que não tivessem que se preocupar
em tocar acidentalmente as paredes ou o chão. Ele seguiu a trilha de tochas que Bardolf tão
convenientemente deixou acesas…
Convenientemente acesas, repetiu Fen para os outros. Ele sabe que estamos seguindo-
o.
Como? Perguntou Tatijana. Nós não cometemos erro algum.
Não, isso era verdade, mas eles estavam lidando com um Sange rau. Bardolf não
conseguia sentir a energia fluir de Dimitri nem de Fen, mas podia sentir a de um Cárpato. Tão
sensível quanto alguém de sangue mestiço era, Bardollf sentiu a energia de Tatijana, talvez até
mesmo quando tinham retornado e ela ainda estava em sua forma de dragão.
Coloquei vocês dois em perigo.
É isso que ele acha, concordou Fen, mas você é a nossa carta na manga. Você pode
desprezar o fato de ter passado séculos aqui, mas é isso que vai salvar a todos nós, Tatijana. Ele
não conhece os feitiços e perigos daqui como você. Nós também não conhecemos. Ele virá até
nós, mas é você quem vai acabar com ele.
Fen pôde sentir ela repensando o que ele disse várias vezes na sua cabeça. Se ela
quisesse voltar, ele teria Dimitri…
Não. De jeito nenhum vou abandoná-los aqui. A voz dela ficou forte. Você tem razão. Eu
realmente conheço essas cavernas. Conheço os feitiços. Bardolf era Lycan e nunca frequentou a
escola de Xavier. Posso prendê-lo e até ativar alguma das antigas armadilhas deixadas por
Xavier.
Vamos fazer isso, então, disse Dimitri na mente dos dois.
Esse era o mantra de Dimitri — concluir a tarefa não importando o quanto fosse
repulsiva. Fen procedeu, permitindo que seus sentidos se ampliassem para explorar cada
aspecto da câmara enquanto eles se moviam por ela na direção da tocha. Dimitri, ele sabia, fazia
o mesmo. Tatijana procurava por qualquer armadilha escondida que o alto-mago pudesse ter
deixado para trás.
Eles passaram pela câmara e chegaram à entrada propriamente dita. Fen a estudou
cuidadosamente antes de passar por ela. Ele quase bateu em teias de aranhas-de-fogo. Os fios
finos brilhavam com as chamas. Elas foram tecidas bem unidas, camada após camada, para que
ele mesmo em sua forma atual, caso tocasse um filamento, não conseguisse se desprender.
Ele está usando aranhas-de-fogo.
Fen sentiu a rejeição imediata de Tatijana à sua declaração. Aranhas-de-fogo jamais se
deixariam ser usadas por Bardolf contra uma Caçadora de Dragão.
Como elas podem saber quem está seguindo-o? Perguntou Dimitri com um pouco de
riso na voz.
Os insetos nessa caverna sabem de tudo. Eles não são meros insetos. Cada espécie foi
modificada até certo ponto. As aranhas-de-fogo, na realidade a maioria das espécies de aranhas,
eram nossas aliadas.
Fen tinha que acreditar nela. Como Bardolf conseguiu passar? Ele estudou a teia
brilhante. Bardolf os deixou para as aranhas-de-fogo na esperança de que fossem pegos em suas
armadilhas.
Não poderia ter passado, respondeu Tatijana. Ele não poderia passar por essa teia. É
muito grande e grossa. As aranhas ficaram anos aqui tecendo essa teia. Não há rasgos e não
poderiam consertar um rasgo assim tão rápido. Ele não passou por essa entrada.
Sinto o cheiro dele.
Então ele veio até aqui, parou e retornou. Teve algum tempo para explorar esta caverna.
Não pode ser a primeira vez em que esteve aqui. Provavelmente encontrou esse esconderijo na
primeira noite que chegou, ela insistiu. Tenho certeza disso, Fen. De verdade. Se há uma coisa
que conheço são as aranhas-de-fogo.
Eu acredito em você. Precisamos descobrir para onde ele foi.
Havia duas outras maneiras de sair da caverna, cada uma dava em outra caverna ainda
maior. Um caminho descia, levando a outro andar. O chão da outra entrada parecia plano com
o solo da câmara em que atualmente estavam. Fen não estava muito ávido para explorar o
labirinto de cavernas abaixo deles. Quanto mais descessem, era mais fácil que se deparassem
com algumas das proteções de Xavier.
No momento que ele se aproximou da entrada da câmara seguinte, alertas o assaltaram,
ainda assim não pôde ver nenhuma ameaça óbvia — simplesmente sentia algo ruim. Aproximou-
se com cautela.
Recebi múltiplos sinais de aviso vindos de todas as direções, Fen, disse Dimitri.
Eu também, acrescentou Tatijana. Talvez devêssemos tentar a porta número três ao
invés dessa.
Fen esperou um momento, analisando. Bardolf não teve muito tempo para preparar um
ataque. Ele deve ter notado o dragão de Tatijana e saiu de sua caverna para as cavernas de gelo
atrás de proteção. A alternativa teria lhe dado ainda menos tempo para se preparar — se ele
sentiu a energia quando ela se reuniu aos outros dois caçadores na entrada de sua caverna.
Esperem um minuto. Ele foi por aqui. Está tentando nos levar por ali. Ele não teve tempo
suficiente para montar nenhuma armadilha. Está usando o que sabe que já existe por aqui.
Fen não esperou que os outros concordassem; ele sabia que Bardolf estava próximo.
Apontar uma direção errada era um jeito fácil de escapar caso o Sange rau conseguisse passar
despercebido. Bardolf não queria lutar com eles. Só lutaria se fosse encurralado, mas se pudesse
escapar, essa seria a sua primeira escolha. Ele estava fugindo.
Ele passou pela abertura em forma de arco que dava na câmara de teto abobadado em
estilo catedral seguinte. As paredes estavam cobertas com bolotas de gelo, pedaços enormes
colados aos lençóis de gelo, dando a aparência de terem jogado milhos de pipoca gigantes nelas,
no intuito de decorá-las. No teto havia enormes estacas de gelo pendente.
Santo Deus, Fen, chiou Dimitri. Isso aqui é um massacre só esperando para acontecer.
Tatijana, não entre nesta câmara ainda, avisou Fen. Se ele estiver usando a sua energia
para nos rastrear, não quero que saiba que escolhemos este caminho. Deixe-me ver o que
consigo encontrar antes que você entre.
Mas, irmãzinha de sangue, avisou Dimitri, não saia explorando por aí. Fique bem na
entrada onde podemos vê-la.
Agora vocês dois estão preocupados comigo. Estou perfeitamente bem aqui. Realmente
não sou tão frágil assim.
Ela parecia frágil para Fen, mas não era estúpido e não disse isso a ela. Queria tirá-la dali
e simplesmente abraçá-la, mas não havia como voltar agora. Ficou próximo às paredes do
ambiente, movendo-se lentamente para evitar perturbar o ar. Igualou a temperatura de suas
moléculas às da câmara para que nem isso pudesse denunciar a sua presença.
Ele está aqui, alertou Dimitri. Nesta câmara. Escondido. Tatijana, afaste-se um pouco
mais da entrada. Se ele a sentir, vai pensar que está se dirigindo para a outra câmara.
Ele tem muitas armas por aqui, lembrou Dimitri, mas nós também.
Tatijana se afastou da porta e eles a perderam de vista. Os dois ficaram imóveis,
esperando. Paciência era necessária na caçada. Nenhum se moveu. O tempo passou. Água
pingava e o contínuo rachar do gelo se tornou uma estranha música. Mais gotas escorreram pela
parede do lado oeste. Pequenas. Como pequenas gotas de suor. Quase impossíveis de serem
notadas. Os dois caçadores notaram.
As gotas rolavam até a metade do lençol de gelo antes de se congelarem ali. Ainda assim,
os caçadores não morderam a isca. Eles esperaram em uma imobilidade absoluta. Novamente
mais tempo passou. O rachar do gelo deu lugar a um rugido tenebroso vindo de uma câmara
bem perto quando a pressão derrubou um pedaço gigante de gelo de uma parede e o
arremessou com força no chão do lugar. O bloco de gelo atingiu o chão com um estrondo que
ecoou, sacudindo várias cavernas adjacentes.
Com a força das vibrações, algumas bolas pregadas à parede próxima a Fen quebraram
e caíram no chão, desfazendo-se em fragmentos semelhantes ao vidro. Uma risada suave se
somou à música do gelo.
Ele acha que caímos na armadilha dele e fomos para a câmara vizinha, disse Fen. Ele vai
ser rápido, Dimitri, está lutando pela própria vida e um lobo encurralado é um lobo muito
perigoso.
Seu irmão conhecia lobos tão bem quanto ele, mas mesmo assim se preocupava. Não
estava prestes a ver Dimitri ser morto, e seu irmão mais novo sempre recebeu os conselhos de
Fen com paciência. Ficava calado, várias vezes fazia que não com a cabeça, mas nunca pareceu
se ofender.
Os dois caçadores se concentraram no canto, lá em cima, próximo ao teto de onde as
gotas tinham se originado.
Não se revele para ele, mesmo que pareça que eu o tenha acertado com a estaca. Ele
não saberá que você está por perto e teremos uma nova chance de atacá-lo assim, instruiu Fen.
Tatijana, se ele passar por nós, esconda-se, não tente enfrentá-lo sozinha.
Eu jamais consideraria enfrentá-lo sozinha.
Ela falou com aquela voz brusca que dizia que ela devia estar tramando alguma coisa,
mas tinha que confiar em sua palavra de que colocaria sua segurança em primeiro lugar.
O gelo no canto da parede começou a ondular como se ganhasse vida. Mais água se
derramou e então choveu pela parede em uma pequena corrente. Bardolf nem se importou em
manter a temperatura do seu corpo igual à da câmara. Preferia o próprio conforto, e cavernas
de gelo não eram para lobos.
Fen nunca tentou matar um Sange rau fora do próprio corpo. Sequer sabia se isso era
possível. Na melhor das hipóteses, podia ser capaz de forçar Bardolf a assumir outra forma,
dando a Dimitri a chance de matá-lo. Mesmo assim, planejava tentar. Começou a subir na
direção do canto do teto, mantendo os movimentos lentos, para que não houvesse chance de
perturbação do ar.
Bardolf estava satisfeito consigo mesmo. Continuava a rir alto enquanto lentamente
removia o seu abrigo. Cercou-se de um grosso lençol de gelo, atando-o discretamente à parede,
para que fosse impossível de se detectar. Ele simplesmente não foi capaz de se forçar a ficar tão
frio quanto precisava ficar para impedir que o gelo derretesse.
Fen lembrou de quando cruzou pela primeira vez com o bando de Bardolf há tanto
tempo, quando o Lycan era o alfa. Mesmo naquela época ele apreciava os seus confortos. A sua
companheira o servia primeiro e massageava seus pés e costas, não importava o quanto
estivesse cansada nem o que fez durante o dia. Ele gostava de uma lareira quente esperando
por ele em casa, e se ela não estivesse acesa, haveria duras consequências.
O gelo no canto tremulou. Lentamente, Bardolf emergiu. Escolheu atravessar a caverna
de gelo também em forma de ar, mas por precisar de calor, vapor o rodeava, dando a Fen um
alvo no qual se focar. Quando Bardolf se adiantou, Fen o atacou, transformando-se no último
segundo possível, uma estaca de prata no punho. Ele a enfiou no centro da névoa, esperando
atingir o coração, mas sabendo que isso seria quase impossível. Quando cravou a estaca de prata
no vapor, ele a derreteu quase toda, com exceção da ponta, para que a prata se espalhasse
rápido, cobrindo cada molécula.
Bardolf gritou de agonia quando a prata invadiu o seu corpo, espalhando-se por ele.
Transformou-se imediatamente, as mãos agarrando a estaca derretida, tentando tirá-la de seu
corpo, ao mesmo tempo em que ordenava para que as estacas de gelo às suas cabeças caíssem
em Fen.
Várias delas caíram, mísseis afiados procurando alvos, centenas delas, de modo que a
câmara se encheu com os sons de gelo se quebrando quando elas se destacaram do teto para
caírem a toda velocidade na direção de Fen. Ele lançou um escudo em volta do corpo, mas
aquela fração de segundo necessária permitiu que Bardolf escapasse dele, correndo pelo
ambiente até a entrada arqueada pela qual passou mais cedo.
Dimitri esperou totalmente imóvel, posicionando-se diretamente em frente àquela
passagem, a única forma que Bardolf tinha de escapar. O Sange rau se encontrou diretamente
com outra estaca de prata, empalando-se nela. Bardolf vinha tão rápido e com a enorme força
de Dimitri, a estaca entrou bem fundo, perfurando o coração, mas sem atravessá-lo.
Bardolf recuou no último momento, o suficiente para evitar que a estaca de prata
atravessasse seu coração. Praguejando, o sangue escorrendo pelo seu ferimento para pingar no
chão de gelo, usou as duas mãos para arrancar a estaca do corpo e enfiá-la com força no ombro
de Dimitri, para tirá-lo do caminho.
Fen voou pelo lugar enquanto a saudação de estacas de gelo o seguia, zangões à procura
do se calor corporal específico. Bardolf já estava fugindo, correndo pela porta próxima à câmara.
Ele deu um grito de alarme, mas depois colidiu com um bloco de gelo na entrada, prendendo
Fen e Dimitri do outro lado.
Tatijana, saia daí. Não se revele para ele.
Tatijana observou Bardolf sair em disparada pela porta. Ela não estava sozinha.
Branislava havia sentido a sua aflição crescente ao entrar nas cavernas e veio, como sempre
fazia.
Aranhas, aranhas de fogo gélido, ouçam o meu chamado, teçam juntas. Criem uma teia
dos melhores fios para proteger as suas irmãs do mal e do pavor.
Milhares de aranhas minúsculas desceram pela parede, saindo de fendas e buracos,
saindo do chão e do teto, tecendo belas teias de chamas sedosas e vermelho alaranjadas.
Haviam tantas delas, vindo de todas as direções, que a densidade e o tamanho da teia que
formavam eram assustadores.
Nem Tatijana nem Branislava se moviam, permanecendo bem atrás da proteção feroz,
encarando o Sange rau ferido sem hesitar.
Sangue derramava do peito dele e rugiu com fúria, o som ecoando pela câmara de gelo.
Fendas enormes apareceram nas paredes, grunhindo e quebrando. Bardolf se transformou, o
focinho alongando, criando espaço para os seus dentes. Seus olhos ficaram vermelhos e os pelos
se espalharam pelo corpo e braços. Garras enormes e afiadas explodiram dos dedos. Ficou em
pé fitando as duas mulheres com ódio e malevolência.
— Tirem esta teia do caminho e pouparei suas vidas. — ele negociou, a voz quase que
puramente formada por rosnados. Saliva caía do focinho em longos fiapos.
Tatijana sorriu com serenidade.
— Nós somos Caçadoras de Dragões e já enfrentamos um monstro bem pior que você.
Daqui não passará.
As duas mulheres levantaram as mãos e começaram a tecer símbolos no ar.
Ar, Terra, Fogo e Água, ouçam o meu chamado. Atenda suas filhas…
A força dos elementos se unindo, rodopiando em um entremeado firme de poder, fez
com que a energia estalasse pelo ambiente. O próprio ar ficou mais pesado com a intensidade
da combinação.
Ar que não se vê, procure por aquilo que está fechado. Terra que se mantém aberta,
feche-se. Fogo que queima, devore aquele que faz mal, água que corre, exploda esta porta.
O ar soprou enquanto corria em volta do bloco de gelo que impedia que Fen e Dimitri
seguissem Bardolf na câmara. A montanha fez ruído, sacudindo o bloco, afrouxando as
extremidades enquanto o vento continuamente golpeava o selo. Aranhas corriam para tecer
seus fios em volta do bloco de gelo inteiro para que a água corresse em cascata para desbloquear
a passagem.
Bardolf se enfureceu mais com elas. O seu sangue, maculado com o sangue ácido de
vampiro, caía em generosa quantidade no chão, fazendo com que as duas se olhassem com
certo desconforto. A caverna era domínio de Xavier e o sangue também invocaria o mal.
Bardolf bateu as garras e pedaços de gelo caíram na teia grossa de fogo. Ao invés de
destruir a teia das aranhas, os pedaços derreteram ao caírem nela, os fios sedosos brilhando e
ardendo com fortes chamas.
Atrás dele, Bardolf pôde ver a porta se derretendo. Ele escolheu o fogo ao invés de
enfrentar os dois caçadores. Usando a velocidade, correu até a teia esperando atravessá-la. A
teia o envolveu, prendendo-o enquanto milhares de aranhas-de-fogo saltavam em seu corpo,
mordendo e fazendo um banquete de sua carne. Chamas correram pelo seu pelo, engolindo-o
enquanto lutava para se libertar da densa teia.
Atrás dele, a porta caiu com a combinação dos elementos e dos dois homens que
lutavam para ajudá-la a ceder. Fen e Dimitri correram tão rápido que quase se chocaram com a
teia. Ambos pararam de maneira abrupta, chocados com a visão das duas mulheres juntas, lado
a lado, enquanto o Sange rau lutava envolvido pela teia de fogo. Aquilo não o mataria, mas
certamente o atrasaria.
O chão ondulou, o gelo se elevando em certos lugares como se a caverna tivesse ficado
instável.
— Rápido, Fen. — disse Tatijana. — Não podemos ficar aqui. O mal está vindo atrás de
nós.
Ela levantou as mãos no ar, aproximando-se da teia. Aranhas, aranhas, amigas nossas,
garantam que as chamas não causem mal ao meu companheiro nem ao meu irmão de sangue.
— Fen, agora. — Desespero guarnecia a sua voz.
Sons abafados vinham de debaixo deles, um estrondo, como uma batida de coração,
metendo medo em todos eles.
Vendo Bardolf coberto por milhares de aranhas, sendo comido vivo e queimado ao
mesmo tempo, fez com que ele hesitasse, mas confiava em Tatijana e se forçou a atravessar a
teia de fogo. Segurou Bardolf, preso ao fogo, esperando que as chamas o queimassem, mas
quando tocou a teia, só sentiu uma seda pegajosa contra a pele.
Girando Bardolf para encará-lo, enfiou a estaca de prata em seu punho bem no coração.
Levantando a mão, pegou a espada que Dimitri jogou pra ele com um só movimento, golpeando
na altura do pescoço, para que a cabeça do Sange rau rolasse no chão que se movia.
De uma só vez as aranhas também saltaram em cima daquela parte do corpo, cobrindo
a cabeça até que só havia um mar de aranhas em movimento e de chamas ardentes, Bardolf
embaixo, sendo engolido por elas.
— Temos que ir rápido. — disse Tatijana.
Ela enfiou o braço na teia, bem como Branislava. Uma abertura estreita apareceu. Os
dois homens se transformaram e passaram por ela. As mulheres também se transformaram e
todos os quatro percorreram as câmaras o mais rápido que podiam, até chegarem ao tubo de
lava, a única saída que tinham.
Qualquer que fosse o mal que tivesse despertado debaixo deles havia atiçado as
criaturas dentro do tubo. Eles podiam ouvir os morcegos chiando em alarme.
Não temos escolha, disse Fen.
Tatijana e Branislava olharam uma para a outra. As suas mãos subiram
simultaneamente. Aranhas, aranhas de gélido cristal, teçam a sua teia de maior luz. Teçam e
dancem, cerquem e deem forma, impeçam que essas criaturas nos façam mal.
Aranhas brancas e minúsculas inundaram o tubo, tecendo uma seda cristalina, subindo
até o fim do cilindro em uma teia contínua de luz. O interior do tubo começou a brilhar conforme
as aranhas dançavam e teciam, cada vez mais delas saindo fendas para se juntarem em uma
gloriosa exibição de luz surpreendente. As criaturas não suportavam a luz e gemeram, voltando
às pressas para suas tocas.
Rápido, os efeitos não duram muito, mas Bronnie diz que elas não conseguem enxergar
quando a luz está muito forte. Temos que correr, aconselhou Tatijana.
Fen foi primeiro. Ao subir, pôde ver dentro dos buracos mais escuros onde as criaturas
residiam. Pedaços de ossos e pelos, bem como sangue escuro manchavam as entradas e paredes
dentro das moradas em estilo de colmeia. Passou em velocidade, sabendo que a rapidez dessa
vez era importante, não havia tempo para finesse.
Tatijana seguiu de perto e Branislava estava logo atrás dela. Dimitri vinha por último. No
momento em que todos saíram, Fen e o seu irmão se voltaram para espiar pelo tubo. A luz já
diminuía e os morcegos começavam a voar pelo tubo atrás de suas presas.
Fen e Dimitri juntos deram as mãos e murmuraram uma firme ordem.
— Vão, corram. No momento em que saírem, façam com que o ar também saia rápido
daqui. — disparou Fen.
As mulheres não discutiram; ambas passaram pelo túnel estreito de volta à caverna de
Bardolf e depois saíram ao ar livre. Elas saíram voando, transformando-se ao fazê-lo, os dois
dragões se afastando em um voo inclinado e batendo as asas com força, dispersando a neblina.
Fen e Dimitri as seguiram, praticamente encostados a elas. Atrás deles, o mundo
explodiu. O tubo de lava detonou uma explosão terrível que abalou a montanha inteira. As ondas
de choque da explosão os seguiram na saída das cavernas, provocando um buraco bem ao lado
do refúgio escolhido por Bardolf.
Fen e Dimitri se lançaram aos céus, ambos se transformando em meio ao movimento.
O abalo os atirou ao ar e além da neblina como se a montanha os tivesse expulsado. Tatijana
voltou correndo, seu dragão afundando abaixo de Fen, enquanto Branislava conseguia
interceptar Dimitri com as costas de seu dragão de fogo.
Estou pronta para um longo sono debaixo da terra novamente, disse Branislava. Suas
aventuras são muito emocionantes, mas várias delas ao mesmo tempo é bem exaustivo.
Fen tinha que concordar com ela.

Capítulo 18

Fen enrolou seu braço ao redor de Tatijana. Branislava estava segura debaixo da terra,
bem alimentada e pronta para dormir. O ferimento de Dimitri foi bem cuidado. Foi dado sangue
a ele, e também estava no chão rejuvenescendo. Tatijana e Fen caminhavam pela floresta —
seu lugar favorito — e apenas respirando o ar fresco. Ele sabia que ela estava traumatizada por
entrar de novo nas cavernas de gelo, e não queria que fosse para o solo até que conversassem
sobre isto.
Ele a levou em direção a um lugar onde se desenvolviam uma série de charcos naturais.
O som da água era tranquilizador e sabia que o céu noturno ajudaria com que ela se sentisse
menos claustrofóbica. Indo para um lugar de tal beleza natural com cachoeiras e charcos, e
completamente diferente de como foi sua prisão, esperava aliviar a tensão dela. Sabia que
estava atraída pelo som e a sensação da água. Queria tornar o resto da noite algo bonito para
apagar o que tinha vindo antes.
— Você foi incrível. — Ele disse, tendo certeza disto. — Sei que estava assustada.
— Todos teriam medo sabendo das armadilhas e das criaturas horrorosas trancadas
naquela montanha. — Tatijana disse. — Mas eu estava enojada. Não pude acreditar como fiquei
enjoada. Meu estômago estava dando nós e algumas vezes o cheiro realmente me fez vomitar.
Tranquei a maioria destas memórias, assim pude sobreviver.
— Sinto muito que a nossa luta com Bardolf tenha nos levado às cavernas de gelo. —
Ele disse tão suavemente quanto pode. Apertando os braços ao redor dos ombros dela. — Sei
que tenho muitas arestas ásperas, Tatijana. Você merece um homem que seja gentil e sempre
atencioso, mas saiba que eu a amo acima de tudo, e farei qualquer coisa para fazê-la feliz.
Lamento que não tenha descoberto uma maneira de mantê-la fora do labirinto do mal de Xavier.
— Ele trouxe todas essas memórias terríveis desabando sobre ela. Assim como Branislava foi ao
solo para permitir a terra curativa manter o trauma à distância, Tatijana abraçou a noite,
necessitando da liberdade do ar livre.
Tatijana franziu a testa para ele, erguendo a mão para traçar as linhas do rosto dele.
— Por que acha que iria querer outro? Suas palavras são doces o suficiente quando
preciso ouvi-las. Sinto-me cercada pelo seu amor, envolta nele e não preciso de mais ninguém.
Escolhi voltar para aquela caverna com você. Era minha escolha e aprecio que tenha entendido
que tinha que ser minha escolha. Mais do que qualquer coisa Fen, apaixonei-me por esta
característica sua. Você me permite ser eu mesma.
Levou-a mais para as profundezas da floresta, ouvindo cada som. Ele os queria a salvo,
e após a caça ao lobisomem, estava certo de que estariam. Branislava encontrou outra unidade
de dezesseis, e Zev e os outros os eliminaram. Abel estava lentamente perdendo seu exército.
Ele seria muito mais cauteloso ao sacrificar seus peões, até que tivesse um plano concreto para
executar sua missão.
Cada vez mais, Fen temia que Abel estivesse trabalhando com outra pessoa — alguém
de longe. Era raro um vampiro mestre receber ordens de outro, ainda mais sendo Sange rau
como Abel era.
— Para onde estamos indo? — Tatijana perguntou quando ele a ergueu por cima de um
tronco de uma árvore caída, coberta de musgos. — Nunca estive neste caminho.
— Estou contente. Queria surpreendê-la.
O som das quedas já estava começando a ser ouvido. Ela virou a cabeça em direção a
isto.
— Uma cachoeira? Não tinha ideia.
Ele sentiu a leveza no coração dela erguendo-se, afastando algumas das sombras
pressionando sobre ela.
— Uma série de cachoeiras. Elas caem em charcos naturais. Dois dos charcos são
alimentados por fontes subterrâneas aquecidas. Os outros são muito frios.
— A temperatura pouco importa para um Cárpato. — Ela disse.
Ele deu-lhe um sorrisinho.
— A menos que seu companheiro possa surpreendê-la e lançá-la em um charco frio
antes que possa se regular.
— Você não ousaria. — Ela disse, seus olhos esmeraldas começando a brilhar.
— Provavelmente não. — Ele acalmou-a. — Mas nunca se sabe. Sou um homem lobo,
afinal, e eles gostam de brincadeiras.
O som das quedas ficou mais alto, a água cascateava montanha abaixo, e saltava a vários
metros nos charcos formados pelas rochas abaixo. Com o passar do tempo, a água batendo
alisou as pedras e o fundo dos charcos, até que ficaram polidos e uniformes.
— Estranho como não notei este traço piadista nos Lycans. — Tatijana disse. — Eles
pareceram com um bando sóbrio para mim. — Ela mandou-lhe uma advertência por baixo dos
cílios, mas seus olhos não podiam conter sua diversão.
Ele afastou as folhagens de uma samambaia tão alta quanto ele, assim ela poderia obter
seu primeiro vislumbre da cachoeira e dos charcos. Estavam escondidas da vista por um bosque
de árvores antigas, cujos troncos eram tão largos e espessos quanto um carro pequeno.
Observou o rosto dela enquanto segurava as folhas entrelaçadas para trás. Todo o rosto dela
iluminou. Seus cabelos raiaram com tons mais escuros de vermelho. Os olhos esmeralda
aprofundaram, até que ficaram quase iguais aos do charco mais fundo.
Tatijana deu um pequeno suspiro à medida que avançava.
— É tão bonito, Fen. Verdadeiramente lindo. Você não podia ter achado um lugar que
eu gostasse mais.
Ela virou-se dentro do corpo dele, circulando seu pescoço com os braços esbeltos, e
trazendo a cabeça dele para a dela, debruçando-se nele até que estivesse apertada.
— Amo você, Fenris Dalka. Tudo sobre você, mas especialmente como sempre parece
perceber exatamente o que preciso. Isto é perfeito.
Fen emoldurou o rosto dela com suas grandes mãos. Ela olhou para ele com seus olhos
incríveis e deslumbrantes, e ele deixou-se cair nas profundezas. Ele queria viver lá dentro dela,
com ela, ser um com ela.
Os dedos dela roçaram a boca dele, e então, leve como uma pluma, traçou seus lábios.
Ele sentiu a sacudida do choque percorrendo seu corpo diretamente para sua virilha. Tão gentis
quanto os dedos em seu rosto, o raio lançado através de seu corpo era exatamente o oposto,
um soco duro e cruel.
A intensidade de seu amor por ela era aterrorizante. Maravilhoso. Um milagre. Ele nunca
imaginou que essas emoções pudessem percorrer tão fundo. O amor e a luxúria eram uma
combinação potente, exaltando todas as sensações, e incendiando cada terminação nervosa.
Ele estava ciente de cada respiração que ela puxava. A subida e a queda sutil dos seios
por baixo de sua roupa. Inalou sua fragrância selvagem como a floresta e de chuva fresca. A mão
dele agarrou a seda espessa de seus cabelos.
Fen apertou a boca perto da orelha dela.
— Não quero uma única peça de roupa entre sua pele e a minha.
Os longos cílios dela abaixaram ocultando sua expressão, mas seus lábios se curvaram e
as roupas desapareceram, deixando-a completamente nua na frente dele. Ele respirou fundo. O
corpo dela era bonito. Cheio de curvas, cavado na cintura, os quadris deslumbrantes e o
pequeno dragão abaixo e à esquerda de sua cintura, apenas levemente visível. Ela tinha pernas
torneadas e pequenos pés descalços. Seus cabelos, normalmente mantidos em uma trança,
caíam passando de sua cintura, como uma desordem de pura seda.
Removeu suas próprias roupas, de repente achando o material muito apertado para
conter seu corpo duro. Inclinou a cabeça até a dela e tomou posse daquela “ah muito
incrivelmente boca generosa.” Suave. Fria contra o fogo dele. Tudo o que possivelmente poderia
querer estava ali mesmo em seus braços.
Sua boca moveu-se sob a dele, dando-lhe tudo o que ele pediu a ela. Seus dedos
apertados nos cabelo dela, enterrado profundamente para ancorá-la nele, mantendo-a parada.
Apesar do sangue correndo ardentemente em suas veias, e seu pau duro e grosso fazendo suas
próprias exigências, ele foi paciente, saboreando cada momento do tempo com ela.
Sentiu os lábios dela tremerem quando aprofundou o beijo, explorando toda aquela
doçura fresca que era apenas dele. Sua pele parecia ardente, a dela fria e suave. Um açoite de
raio explodiu e bateu por sua corrente sanguínea, enviando chamas que lamberam sua virilha.
As arremetidas era abrangentes.
Ela deu-se a ele tão generosamente como sempre, despejando-se em sua mente e
coração, a boca dando-lhe tudo o que desejava. Ele saboreou a paixão. Amor. Um mundo que
não conhecia abriu-se no momento em que a encontrou, e isto, sua boca, seu beijo, era seu
passaporte para lá. O estômago dele apertou, cada músculo endurecendo, mas queria ir
lentamente e gentil. Queria saborear cada momento, imprimir a sensação e o gosto dela dentro
dele para sempre.
Ergueu a cabeça, apertando sua testa na dela. Seus pulmões queimavam, fosse por ar
ou apenas pelo milagre de encontrá-la depois de séculos de solidão — depois de acreditar que
seu mundo seria sempre de escuridão, morte e luta contínua.
— Você me salvou. Você fez isso, Tatijana. Não importa o que pense, salvou minha alma.
Ainda não posso acreditar no milagre perfeito que você é ou o que fiz para merecê-la.
Ela correu ambas as mãos acima da barriga plana dele até seu peito, sua boca seguindo,
beijando cada músculo definido até que estava brincando com seus mamilos planos com a
língua.
— Talvez, homem lobo, você tenha me salvado. — Ela murmurou, lambendo sua
pulsação martelando.
Antes que pudesse responder, os dentes dela afundaram profundamente. Ele jogou a
cabeça para trás e rosnou em êxtase. As mãos dela alisando seus ombros, traçando suas costelas
e caindo mais abaixo, para encontrar a circunferência de seu pau expandindo. Ela dançou os
dedos sobre a pele sensível, então envolveu seu punho com firmeza e deslizou pelo
comprimento da base à cabeça, com aquele aperto firme. Sua outra mão caiu um pouco mais
abaixo para encontrar o saco pesado. Ela enrolou e acariciou, apertando suavemente.
As sensações que criou, entre as mãos e a boca, transformaram seu cérebro em puro
mingau. O trovão rugindo em seus ouvidos. O sangue martelando através de seu corpo. Ele tinha
a intenção de dar-lhe uma noite de prazer, apenas para tê-la virando a mesa. Ela lambeu o
pequeno ferimento em seu peito que os dentes dela causaram, os olhos quase ardendo quando
ergueu seus cílios.
— Preciso muito de você, companheiro. — disse suavemente.
Como se fosse possível, seu pau endureceu ainda mais.
Ela arrastou-se suavemente, não abandonando seu domínio sobre ele.
— Penso que seria melhor você vir comigo.
Ele fez. Como não poderia? Ela foi até o primeiro charco, onde as pedras eram lisas ao
redor dele, e andou para dentro. A água chegando até sua cintura.
— Sente-se bem aqui. — Ela bateu levemente na extremidade onde a pedra era mais
lisa.
Ele cumpriu seu comando, sentando-se na borda. Seu pau estava uma rocha pura contra
seu estômago, mas seu saco pendurava-se em direção à água fumegante. De pé, muito mais
baixa do que ele, a cabeça dela estava perfeitamente alinhada com sua virilha.
— Esta noite era designada a você. — Ele disse, sua voz rouca e crua.
Tatijana deu-lhe um sorriso de sereia, um que o fez ficar mais quente do que nunca.
— Exatamente. Quero mais de você, e é hora de conseguir o que quero. Desde nossa
noite no campo, saboreando-o sobre aquela flor, tenho desejado exatamente aquele gosto.
Poderia ficar viciada.
Sua boca deslizou acima da dele como uma luva sedosa. Seu corpo inteiro estremeceu
com prazer. Ele estava quente, sua pele, seu sangue, seu desejo. Sua boca era seda pura,
embrulhada firmemente ao redor dele, atraindo-o mais fundo dentro dela, com cada
movimento que fazia. Ela não tirou os olhos dos dele, de forma que ele podia ver o prazer dela.
Fen segurou os seios dela, os dedos encontrando seus mamilos. Rolou e puxou, vendo
o brilho chegar às profundezas de seus olhos. As mãos dela se moveram sobre sua virilha, mãos
suaves, mas seu toque o deixou selvagem.
Tatijana ficou com seu estômago revirado. Ela nunca ficou nervosa, mas neste
momento, queria dar a Fen tanto prazer quanto ele sempre lhe deu. Mais. Queria isto para si
mesma. Queria fazer suas próprias exigências dele, e saber que ele achou tudo tão prazeroso
quanto ela.
Olhou para as características ásperas de Fen. Ele era um homem que viu mais na vida
do que jamais deveria ter visto. Havia um selo de confiança, de domínio, um alfa que assumia o
controle quando necessário. Era bonito, completamente másculo, seu rosto sensual. Amava
seus olhos. Aqueles surpreendentes olhos azuis gélidos. Quando ele focava-se nela, não havia
mais ninguém no mundo, e ela sabia disto. Ele a fazia parecer viva, vibrante e bonita.
Ela amou o controle que tinha, deixando-o selvagem, e sabia que ele estava quase louco
de prazer. Sua boca e língua brincavam, torturavam e prendiam ao redor dele mais apertado,
persuadindo-o mais fundo, as mãos dele em seus seios deixando-a da mesma maneira selvagem
que ele. Não sabia que era tão sensível lá, mas cada puxão em seus mamilos, enviava um frescor
acolhedor ao líquido entre suas pernas.
Fen agarrou os cabelos de Tatijana em sua mão, gemendo, seu corpo inchando ainda
mais. Ele tentou manter seus quadris parados, dando controle a ela, mas sua língua brincava
com seu ponto mais sensível, debaixo da cabeça de seu pau, e então de repente lambia de um
lado para outro. Fogo chiava por suas veias, fixando-se em sua virilha, rugindo crescendo fora
de controle. Ela usou a ponta de seus dentes, rapando suavemente, e então sua língua dançando
novamente. Deslizou seu lábios de cima para baixo em seu eixo, acima de seu saco apertado e
na base de seu pau, e depois rodava a língua em torno da cabeça.
Ela sorvia as gotas peroladas que vazavam quase continuamente, mantendo-o tão fora
de equilíbrio que sabia que estava perdido. Ela o tomou mais fundo, sua boca contraindo ao
redor dele, e ele assumiu o comando, empurrando-se dentro dela, dando-lhe o que ela mais
queria. Ambas as mãos agarradas nos cabelos dela, mantendo-a parada, puxando-a para ele
enquanto empurrava para cima. Ela se se segurou com uma mão em sua coxa, enquanto com a
outra segurava o saco, seu domínio íntimo.
Seu corpo se apertou, o fogo rugindo. Ele podia sentir as chamas desde seus pés até o
topo da cabeça. O sangue martelando por ele. A pulsação trovejava em seus ouvidos. Ela
aplainou a língua, mantendo a boca apertada enquanto ele empurrava mais fundo repetidas
vezes. Sentiu a explosão chegando e não havia nenhuma maneira de parar, não quando ela se
sentia como no céu.
Nada o preparou para o modo como ela o sugou, a constrição e a sensação de sua boca
sedosa apertada ao redor dele. Ele lançou a cabeça para trás e uivou como um lobo, quando se
derramou na garganta dela. Suas mãos agarravam seus cabelos com força, mas ela não se soltou,
apenas lambia suavemente seu eixo e a cabeça extremamente sensível, até que se sentiu
completamente amado.
— Sim. Isto é definitivamente o gosto que me lembro. — Tatijana disse. —
Definitivamente viciante.
Ele não podia respirar. Não estava certo de que pudesse respirar novamente. Ela sorriu
seu sorriso de sereia e nadou para longe dele, sua bunda branca brilhando nua. Ela virou-se e
flutuou vagarosamente, seus seios projetando-se em direção ao céu. A névoa entrou tão suave
e leve que era quase imperceptível, ou ele estava preocupado e não tinha observado-a.
Agora ela estava se tornando mais espessa, mais densa, caindo ligeiramente no charco
fumegante. Ele a observou por alguns minutos, claramente apreciando a sensação da água
contra sua pele. Até no calor do charco, Fen sabia que sua pele pareceria fresca e convidativa
contra a dele. Ele se inclinou para trás e deixou a névoa descer por seu rosto, observando as
minúsculas gotas caírem como reluzentes diamantes do céu.
Ele sempre associaria Tatijana com a chuva fresca, com a sensação da água fresca contra
a pele quente. Havia uma sensação sensual que não podia negar, com a névoa caindo
suavemente sobre ele. Nunca conectou a chuva ou a névoa com a sensualidade, mas iria de
agora em diante.
Tatijana enviou uma parede de água disparando contra ele. Ele desviou-se usando a
velocidade de seu sangue misturado, e fez um mergulho raso na água. O calor depois da chuva
fria foi chocante. Ele começou a perseguição, pegando-a apenas perto do lado oposto, mais
próximo à montanha onde as gotas gélidas da cachoeira espirravam por cima deles, chiando no
calor do charco.
Ficando de pé, puxou-a para ele, pegando suas pernas para enrolá-las ao redor de seu
corpo. O V entre as pernas dela aconchegado sobre o seu já duro pau. A pele dela estava fria,
do jeito que suspeitava, mas aquele doce convite estava mais quente do que nunca. Ela
entrelaçou os dedos atrás do pescoço dele e inclinou-se para beijá-lo.
— Obrigado. Eu amo este lugar, Fen. Meu lindo homem lobo. Primeiro você escreve para
mim uma canção, e então me dá esta noite maravilhosa. — Ela jogou a cabeça para trás,
permitindo que a névoa caísse em seu rosto. — Acho que vai chover. Isso não seria adorável?
Ele riu, apreciando o quão feliz ela estava.
— Só você diria isto, minha dama. A maioria das mulheres preferiria estar em lugar
fechado quando chovesse.
— Elas não sabem o quão bom é sentir isto em sua pele. — Se debruçou até lamber as
gotas do pescoço dele. — Ou como o gosto da chuva é bom em sua pele.
— Incline-se para trás. Eu a segurarei. — Ele prometeu. — Apenas o suficiente para que
eu possa ter um gostinho de você.
Quando ela concordou, esticando seus braços para cima, o movimento empurrou o
corpo dela para o dele. Ela se moveu em um círculo sutil, se roçando contra ele, de forma que
seu pau sacudiu exigente. Os seios balançando convidativamente e a seda de seu cabelo caindo
em ondas como uma capa brilhante. Atrás dela, a cachoeira derramava-se continuamente pela
encosta da montanha abaixo, longas faixas de cristal corriam da água em direção aos charcos
abaixo. O vento movia-se pelas árvores, de forma que os topos balançavam como se fosse
música. O vapor subia ao redor deles, criando ainda mais intimidade.
— Existe música na chuva. — Tatijana confidenciou. — Você nunca ouviu isto?
— Não. — admitiu, acariciando o seio dela. — Quando chover, eu escutarei. —
Prometeu.
A tentação do mamilo tenso era demais para ele. Ela era ruiva e seus mamilos eram mais
rosa do que escuro — e muito sensíveis. Cada vez que acariciava com a língua sobre e ao redor
do seio dela, ele sentia a reação de seu corpo. Ele usou os dentes, dando pequenas mordidas,
antes de tomar o mamilo no calor de sua boca e chupar com força.
A névoa virou uma chuva leve, a sensação das gotas frescas contra o calor de seu corpo.
Fresca, como Tatijana. Sua boca estava queimando. A pele dele. Seu pau. Seu sangue, surgindo,
correndo, incendiando no meio de tanta tentação. Ele não podia deixar seu outro seio
abandonado, e levou um tempo homenageando a carne suave, até que ela estava clamando seu
nome, embalando a cabeça dele e arqueando-se contra ele.
O corpo dela se contorcia contra o seu, cada movimento delicioso deslizando sobre seu
eixo, roçando e provocando, inflamando-o mais. Ele ainda tinha dificuldade de acreditar que
uma mulher tão bonita o escolheu, e todas as vezes que lhe estendia a mão, ela dava-se de novo
tão generosamente. Ele tocava a mente dela frequentemente, e ela sempre estava ávida para
explorar o corpo dele, como ele estava para explorar o dela.
Ele beijou o caminho até seu seio, ao longo da inclinação cremosa, seus dentes
beliscando ao longo do caminho, apenas para sentir a quente resposta líquida do corpo dela
contra seu eixo. Usando a língua, ele aliviou cada mordidinha e então encontrou seu pulso
acelerado. O ritmo frenético acenava e chamava sedutoramente por ele. Sentiu a atração do
sangue dela tão profundamente quanto sentia a necessidade de seu corpo. O sabor da explosão
dela em sua boca antes mesmo dele realmente afundar os dentes profundamente.
Tatijana gritou doce, música para seus ouvidos quando bebeu dela, tomando a essência
dela em seu próprio corpo. A chuva caiu sobre os dois — pequenas, gentis gotas esfriando o
calor de sua pele, fazendo seu âmago ficar mais quente que nunca. Ela embalou a cabeça dele
para ela, segurando-o perto, seu corpo se contorcendo contra o dele. Duas vezes ela ergueu os
quadris, tentando se empalar nele, mas ele a segurou firme no lugar, prolongando a
necessidade, elevando isto dentro dela.
— Fen. O que está fazendo?
Ela ofegou seu nome. Gritando de novo e de novo. Somando-se a música. Ele estava
começando a ouvir a canção da chuva batendo em seu próprio sangue. Pequenas gotas que se
estatelavam na água. O assobio fortuito das gotas na cachoeira acompanhando a queda mais
firme da chuva. A respiração dela estava irregular. Sua pulsação trovejando nos ouvidos dele
parecendo como um tambor.
Ele levou um tempo saboreando o gosto dela e a resposta de seu corpo, antes de
finalmente fechar o ferimento sobre o seio dela.
Sua respiração tornou-se parte da sinfonia. As gotas batendo nas folhas produziam um
som diferente de quando eles caíram no chão. Ele ouvia isto agora, a música que a chuva fazia,
aquela mesma música que ela ouviu e se tornou parte da noite deles, parte deles. Suas mãos
deslizaram pelo corpo dela para agarrar sua bunda, erguendo-a de forma que a cabeça de seu
pau se hospedasse dentro dela.
Músculos tensos fecharam ao redor dele, prendendo e apertando, tentando arrastá-lo
para dentro dela, desesperados para que ele se movesse com força e profundamente. Os
suspiros ofegantes e apelos desesperados dela, adicionaram-se à melodia da chuva, e aquela
canção perfeita. Sempre adoraria seus suaves gritinhos, o modo como dizia seu nome repetidas
vezes.
Muito lentamente abaixou o corpo dela sobre o dele, enterrando seu pau em sua
escaldante junção feminina, o quente contrastando com o frio do exterior da pele dela. Seu
corpo estava apertado, relutantemente cedendo lugar à sua invasão. A respiração dela silvou
contra seu pescoço, um suspiro longo de puro êxtase.
— Finalmente. — Ela sussurrou seus dedos fechando na nuca dele. — Sinto que esperei
a vida inteira por este momento.
— Evidentemente tenho sido negligente no atendimento de suas necessidades. — Ele
disse, erguendo os quadris dela para que seu corpo montasse o dele.
Ela moveu-se em um pequeno intrincado círculo, quando montou seu pau, seus
músculos tensos fechando sobre ele, de modo que a fricção enviava raias de fogo correndo de
seu âmago para a cabeça e até os dedões dos pés.
Tatijana suavemente riu, jogando a cabeça para trás para que a chuva fina pudesse tocar
em seu rosto. O cabelo caía em ondas longas e os seios projetavam-se para cima, balançando
tentadoramente. Ela parecia tão bonita, selvagem, e obviamente feliz. Ele adorava isto nela,
aquela inibição, mostrando-lhe como ela se sentia sobre ele a cada momento.
— Você ouve a música agora, Fen? — Ela perguntou, seus quadris movendo-se em um
ritmo mais rápido.
Os pingos de chuva pareciam como pequenas línguas contra a pele dele. A concentração
em seu rosto adicionado à sua beleza enquanto ela o cavalgava, seus músculos um ardente
punho aveludado enrolado firmemente ao redor dele. Sim, ele ouvia isto. O pingar das gotas na
água. A batida selvagem do coração deles em sincronia completa. O ranger das árvores e os
pequenos sons que ela fazia quando o levava completamente e totalmente a loucura com o
amor por ela.
Ele apertou as mãos em seus quadris e assumiu o comando, erguendo-a, pegando o
ritmo de forma que comandou duro e fundo, enquanto a mantinha parada. Empurrou mais e
mais, criando dentro dela um pistão fora de controle, ouvindo sua respiração ofegante, seus
pequenos gritos, assistindo o brilho entrar em seus olhos e o rubor chegar a seu corpo. A batida
da água apenas adicionando ao colidir crescentemente, quando ele levou a ambos direto ao
limite, oscilando, e então ambos caíram juntos em uma longa queda livre erótica.
Tatijana desmoronou em cima dele, a cabeça no ombro lutando para respirar,
pressionando beijinhos ao longo de sua clavícula e pescoço.
Fen a levou para a borda do charco antes de afundar em seu calor, mantendo-a em seu
colo à medida que se sentava, esticando suas pernas, as pedras atrás dele e de sua mulher, um
pacote macio em seus braços. A chuva fina caía sobre ambos e Tatijana virou seu rosto de lado,
assim ela poderia senti-la.
— Esta foi uma noite tão bonita, Fen. Um presente. Obrigado. Amo o modo como você
me ama. Eu estava... — Ela interrompeu-se, procurando a maneira certa de dizer-lhe. — Eu
estava tendo dificuldades para fechar a porta do meu passado. Aceitei o que aconteceu comigo.
Uma pessoa tem que aprender a aceitar uma situação como a nossa, mas isto se torna um estilo
de vida. O terror de estar do lado de fora daquela caverna foi quase tão ruim quanto estar dentro
dela.
Ele trouxe a mão dela até sua boca, beijando suas juntas e mordiscando seus dedos.
— Ainda assim você foi muito bem, Tatijana. Você determinou-se a explorar por conta
própria, aprendendo as coisas que queria aprender.
Ela assentiu.
— Mas evitei as pessoas. Eu as observava, mas ainda assim não queria fazer parte de
qualquer outra coisa. Não estou explicando isto muito bem. Mas quero ser uma parte de nós.
Você e eu. Mais do que você e eu. Nós temos uma família. Branislava, Dimitri. Razvan e Natalya.
Seus companheiros. A jovem Skyler. Minha sobrinha Lara que liderou o nosso resgate. Você fez
isto por mim. Deu-me a habilidade de ir além de apenas Bronnie e eu.
Ele acariciou o topo da cabeça dela com seu queixo.
— Você amava a todos antes que eu chegasse.
— À distância. Eu não queria qualquer interação com eles. Evitei-os, da mesma maneira
que Bronnie está fazendo agora. Nós duas recuamos para o solo onde estávamos seguras. Onde
não tínhamos que compreender as regras do novo mundo que vivíamos. Onde ninguém poderia
chegar até nós novamente. Não tínhamos nenhuma medida de confiança. Como nós
poderíamos? Era nosso próprio pai que nos torturava e nos mantinha prisioneiras. Você me fez
perceber o quão honrado um homem pode ser.
— Estou contente que ele seja eu Tatijana. Para mim, você é um milagre completo.
— É isto aí. Você acha que sou um milagre, Fen, mas realmente é você. — Ela pegou o
rosto dele entre as mãos e o beijou com força. — Amo você com todo meu coração. Você, Fen.
Você é meu companheiro e isso significa tudo, quer dizer que nós estamos unidos. Um. Mas
quero que saiba, que o amo, meu homem lobo. Eu lhe seguiria há qualquer lugar.
Ela o seguiu — para dentro do labirinto do mal em que seu pai a manteve cativa. Apoiou
todas as suas decisões, seguindo-o para o perigo e lutando ao lado dele.
Ele a beijou novamente, saboreando o gosto dela, uma parte dele perguntando-se como
conseguiu ser tão sortudo. Seu mundo mudou quase todo durante a noite.
— Eu a amo mais do que a própria vida, Tatijana. — Ele murmurou. — Palavras
inadequadas, mas sinceras.
Tatijana deitou a cabeça no ombro dele novamente, fechando os olhos, seu corpo
relaxando contra o dele. Às vezes, como agora para Fen, isto parecia como se ela simplesmente
se derretesse nele. Suave. Fresca. Sua dama.
— Fen. — Tatijana ergueu a cabeça do peito dele para examinar seus olhos.
Ele sentiu o familiar aperto em seu âmago, a estranha cambalhota lenta de seu coração,
no momento em que seus olhos se encontraram.
— O que vem a seguir? O que está planejando fazer?
— Preciso deter Abel. Ele está atrás de Mikhail. Planeja eliminar toda a espécie. Estamos
todos conectados com o príncipe. Não sei o que Abel tem a ganhar matando Mikhail, mas está
determinado a isto.
— Talvez tenha partido. — disse esperançosamente. — Perdeu a maior parte de seu
bando e agora Bardolf. Faria sentido que ele fugisse.
Fen suspirou, seus dedos na nuca dela massageando suavemente. A tensão rastejando
para trás, quando ficou flácida e relaxada como momentos antes.
— Não acho que ele vá a qualquer lugar. Penso que sua missão era matar Mikhail, e
infelizmente para ele, cruzei casualmente com seu caminho, assim como Zev. Ele não esperava
nenhum de nós.
— Você realmente pensa que pode matar Abel? Quanto tempo ele tem sido um Sange
rau? Não é verdade que as habilidades dele aumentaram com o tempo?
Ele sentiu a ansiedade na mente dela, ouviu a nota de preocupação que ela tentava
ocultar de sua voz.
— Eu o vi em ação e penso que estamos razoavelmente equilibrados. Então, sim,
acredito que posso matá-lo. Posso precisar de um pouco de sorte, e sei que provavelmente
precisarei de tempo para me recuperar depois, mas conseguirei fazer o serviço.
Ele não precisava fingir confiança para ela, e em todo caso duvidava que pudesse
enganá-la. Ele estava confiante. Roçou outro beijo no topo da cabeça dela para tranquilizá-la.
— Não importa se Abel partiu ou não, terei que caçá-lo. É o que faço. É quem sou. Não
posso deixá-lo matar quem ele quiser. Ele vive para isto agora. O ataque. O sangue. Ninguém
está seguro, nenhuma espécie. Ele tem que ser destruído.
— Eu sei. Mas Zev não deveria caçar os renegados?
Ele não pôde evitar sorrir.
— Abel não é nenhum renegado. Ele é muito mais que isso, e você sabe disto. A chave
para matar Abel é lembrar-se do que ele é, eu acho. Cresci com ele. Eu o conheci como uma
criança. As memórias são vagas, mas estou devagar as trazendo de volta. Ele era um bom
homem. Honrado. Não tinha as falhas de caráter de quem se associa com aqueles que escolhem
perder suas almas. Não tenho ideia do que o fez escolher tornar-se a mesma coisa que caçou
com tanto sucesso por séculos. Encontrei-o casualmente algumas raras vezes. Ele era inabalável,
até mesmo inexorável em executar seus deveres.
— O que normalmente indica que alguém está no limite? — Tatijana perguntou,
curiosidade em sua mente. — Todos vocês começam com honra.
— Eu acho que tem a ver com caráter. Encontrei Cárpatos que ansiavam por poder. Que
apreciavam matar. Lembre-se, nós somos predadores. Nascemos para caçar. A escuridão está
em todos nós, mas assim como qualquer um, temos força de caráter e debilidades. Existem
alguns cujo caminho cruzei, que estavam certos que virariam se não achassem sua companheira
bem depressa. Abel não era um deles.
— Será que ele se transformou, porque achou sua companheira e ela foi morta de
alguma maneira?
Isso lhe deu uma pausa. Havia sempre aquele perigo. No meio do pesar, da tristeza
intensa, quando a outra metade de sua alma é arrancada, a loucura pode acontecer. Tatijana
poderia ter tocado em algo, embora ele não gostasse da ideia. Se Abel se tornou vampiro por
perder sua companheira, e isto fosse conhecido, isso tornaria muito mais difícil para Mikhail
convencer o conselho dos Lycans que qualquer Guardião que tenha uma companheira estaria
protegido de se tornar o Sange rau.
— É possível. Isto é definitivamente um dos momentos mais temidos para qualquer
Cárpato. Os machos se referem a este momento como escravo da loucura. Você segura luz em
você, Tatijana, mas somos todos escuridão, até que vocês nos provenham com esta luz. Você
deu-me vida. — Ele tentou explicar. Ela seria capaz de entender, porque deve ter se sentido sem
esperança naqueles longos anos estéreis presa nas cavernas de gelo.
— Os séculos continuam eternamente. Não existe nada além de matar. Depois de um
tempo um caçador começa a esperar ansiosamente a morte, porque não existe nada mais para
ele. Não existe nenhuma beleza no mundo. — Ele olhou ao seu redor. — Olhe para isto. As
quedas, os charcos e a floresta. As cores, tão vibrantes. Sem você, eu não poderia ver nada disso.
Não iria nem perceber isto. Você me deu condições para isto. Não tinha nenhuma habilidade de
ter sentimentos pelos outros. Eu cacei. Matei. Alimentei-me. Esta era minha vida. Esta é a vida
de um macho Cárpato. Tive mais sorte do que a maioria porque encontrei os Lycans. Por um
longo tempo pude ver como um lobo vê, mas quando minhas habilidades como um... Guardião
cresceram, a escuridão em mim também cresceu.
Tatijana pressionou-se mais do que seria possível, segurando-o firmemente nos braços
dela.
— Você pode imaginar o que isto significaria para mim, tendo recebido estas incríveis
dádivas, este milagre de ter uma companheira que me permite ver tal beleza no mundo, sentir
tão intensamente, tanta emoção e então ter isto arrancado? Uma loucura familiar, assumindo.
A maioria consegue passar por isto, mas não todos.
— É realmente uma escolha então, se tornar vampiro? — Tatijana perguntou.
— Nunca estive nesta situação, mas visto que a decisão tem que ser tomada, desistir de
sua alma ou seguir sua companheira, está decretado que isto é uma escolha. Acredito, que em
um momento de loucura, alguém pode tomar uma decisão ruim.
— Que triste. Que trágico.
— São ambos. — Ele concordou. — Mas uma vez que ele se tornou um vampiro, então
não existe nenhuma escolha para o caçador. Ele deve destruir o morto-vivo, mesmo que seja
um pai, irmão ou o melhor amigo. Os vampiros são completamente maus. Acredite-me Tatijana,
ao longo dos séculos, tentei alcançar um ou dois e puxá-los de volta.
Ela acariciou sua garganta.
— Claro que você fez. Você tinha pouca ou nenhuma emoção, mas ainda tinha isto em
você para tentar.
— Nós temos memórias. Isto é uma coisa que não perdemos. Este é a única dádiva que
nos resta. Nossas memórias são vívidas e muito vivas. Elas enfraquecem como o passar dos
séculos, mas as mantemos perto de nós. Dimitri e eu ajudamos um ao outro, mantendo estas
importantes memórias vivas dentro um do outro. Se não fosse por ele, eu teria encontrado o
amanhecer um século atrás. A atração do mal é muito forte em um sangue misturado. Acho que
o predador é forte em ambas as espécies, e quando eles se reúnem, fica muito pior com o passar
dos tempos e os dons se desenvolvem.
— Lamento por Abel se ele perdeu uma companheira. Não posso imaginar perdê-lo.
Mas Fen, se algo acontecer comigo, siga-me. Não quero imaginá-lo perdido sem mim, e eu não
conseguir alcançá-lo para salvá-lo.
Ela franziu o cenho para ele, e ele tentou não derreter. Parecia uma coisa ridícula para
um caçador Cárpato fazer, e pior para um Guardião. Não se deve achar a carranca de sua
companheira adorável.
— Farei o meu melhor para sempre ser honrado, minha dama. — Ele assegurou-lhe.
— Você está preocupado com Dimitri, não é?
— Não me preocupo que ele irá se transformar. — Ele disse lentamente. — A ligação
entre Skyler e Dimitri é muito forte. Intensa. Nunca vi qualquer coisa como isto, mas tendo dito
isto, ele se coloca em perigo mais do que eu gostaria.
Ela riu suavemente.
— Em outras palavras, ele é igual a você. Você se joga na frente das pessoas quando há
perigo. É isto que você quer dizer?
Ele arrastou uma mecha do cabelo dela.
— Ele me aceitou, mesmo quando expliquei os perigos do que eu era para ele. Entrou
na batalha comigo repetidas vezes, e quando demos sangue um ao outro para sobreviver, ele
sabia dos riscos e ainda fez isto de qualquer maneira. — Segurou o queixo dela e o ergueu,
forçando-a a olhar para ele. — Como você está fazendo agora.
— E sempre, meu Guardião, você tem que saber que é minha escolha. Assim como isto
foi escolha de Dimitri. Nenhum de nós tem controle sobre o que o outro faz, podemos apenas
controlar a nós mesmos. Dimitri é um homem forte. Ele é um dos melhores em qualquer batalha.
É sabe há algum tempo está se tornando igual a você...
— No entanto, ele não me contou até esta noite.
— Ele é um homem que cuida de sua própria vida, da mesma maneira que você faz. —
Tatijana disse. — Ele pode ser seu irmão mais novo, mas o alcançou há muitos séculos atrás. Ele
tem uma necessidade de protegê-lo, assim como você o protege. Skyler devolveu-lhe suas
emoções, e ele sente profundamente. Não pode culpá-lo por ser um homem.
Ela falava a verdade e Fen sabia isto. Dimitri sempre seria dono de si mesmo. Tomaria
suas próprias decisões. O destino deu a Dimitri habilidades de um caçador, e ele superou-se
neste serviço.
— Adoro que vocês dois sejam tão próximos. Não sei o que faria sem Bronnie.
Definitivamente contamos uma com a outra todos estes séculos. É bom saber que você entende
este vinculo inquebrável que temos.
Fen suspirou. O céu estava ficando mais claro, apesar das nuvens de chuva flutuando.
— Temos que ir para o solo, minha dama.
— Eu sei. — Ela beijou a garganta dele novamente. — Queria que esta noite nunca
acabasse. Sei que você vai caçar Abel na próxima elevação. — Ela pausou olhando para ele. —
Não é?
— Tem que ser feito. Não posso correr o risco de esperar. Ele tem um plano para matar
Mikhail, e acredita que pode fazê-lo. Isso significa que o plano já está em andamento. Não posso
esperar para que o coloque em movimento, e se safe disto. Se eu forçá-lo, caçando-o
ativamente, e ele souber que estou chegando perto dele, isso poderia tirá-lo de seu jogo.
Fen levantou-se, trazendo-a com ele, embalando-a em seus braços, perto de seu peito.
Não se incomodou com as roupas, parecia não haver necessidade. Ambos podiam regular a
temperatura de seus corpos, e ela amava sentir a chuva em sua pele. Ele estava começando a
amar isto também.
— Quando isto acabar, ficaremos aqui? Faremos nossa casa próxima a dos outros?
Ela estava perguntando se eles permaneceriam perto de sua irmã. Novamente ela
tentou esconder aquela pequena nota de ansiedade dele, mas sentiu que seria impossível para
ele não reconhecer quando sua dama estava chateada.
Ele inclinou a cabeça para baixo e firmou sua boca na dela. Ela tinha gosto de chuva.
Como mel selvagem. Como Tatijana. Ela sempre o deixaria com fome de mais.
— Nunca a levaria para longe de sua irmã, sívamet. — Ele assegurou enquanto a beijava
profundamente. — Nunca faria nada que a tornasse infeliz.
Os olhos de Tatijana procuraram os dele. Ela assentiu com a cabeça e abraçou seu
pescoço. — Vamos voltar para nosso lugarzinho na floresta. Quero estar perto de você por um
tempo antes de irmos dormir. Preciso de você para me sustentar.
— Sempre. — Ele disse, e se elevou para o ar.
Capítulo 19

Tatijana despertou antes de Fen. Ela estava deitada enrolada em seus braços, a cabeça
no ombro dele, era como ficava quando eles finalmente fechavam a terra em cima deles.
Fizeram amor mais duas vezes, e ela sabia que parte daquela terrível fome nela era puro medo.
O Sange rau a apavorava. Não haveria como parar Fen ou Dimitri no que dizia respeito a esse
assunto. Ambos juraram lealdade ao príncipe e aos Cárpatos. Eles defenderiam Mikhail
Dubrinsky com suas vidas.
Ela acenou com a mão para abrir a terra. Estava escuro na floresta, embora ainda
estivesse bem no início da noite. Galhos de árvore balançavam e dançavam ao vento. A chuva
parou, mas nuvens cinzas giravam no céu. Uma tempestade estava vindo. Uma grande. Ela
apertou uma das mãos sobre seu coração que estava batendo selvagemente. Não perderia seu
companheiro para este monstro. Estranhamente, na noite passada, quando pensou que era
possível que Abel tivesse se transformado porque perdeu sua companheira, ela sentiu
compaixão por ele. Que se foi nesta elevação. Ela só se importava que Fen voltasse para casa à
salvo para ela.
Respirou fundo o ar fresco. A chuva sempre deixava para trás um cheiro fresco e limpo.
Agora estava misturado com o aroma calmante da floresta — árvores e terra rica. Ela preparou
uma surpresa para ele, as velas dispostas em um círculo protetor ao redor de cobertores macios
bem debaixo da copa das árvores, assim podiam olhar pra cima e ver a noite chegar através da
beleza das árvores. Fen não tinha visto muita beleza nesses últimos séculos e estava
determinada a recuperar o tempo perdido. Acordou cedo só por esse propósito.
Quando estava pronta, Tatijana flutuou pra fora do seu aposento de dormir e por cima
do cobertor, assegurando que seu corpo estivesse limpo e livre de todo o solo rejuvenescedor.
Sabia que ele estava ciente, mas não a impediu ou tentou assumir. Isso fez com que o amasse
ainda mais. Fen sempre providenciava o que ela mais precisava. Agora mesmo, precisava sentir
sua força e saber que ambos estavam vivos e bem.
Ela rastejou por cima dele, descendo beijando por sua coxa, virilha, a ereção já estava
ficando pesada e grossa, sua barriga e tórax com todos aqueles belos músculos definidos. Traçou
os músculos com a língua, explorando-o, imprimindo-o em seus ossos, em sua mente, assim não
haveria uma única polegada de seu corpo que não conhecesse.
As mãos dele enredaram em seu cabelo quando ela levou seu tempo com sua
exploração. Virou-se de bruços e deixou-a fazer o mesmo nas suas costas e então de cada lado.
Ele não disse uma palavra, mas sentiu-se completamente rodeada por seu amor. Ela nunca se
sentiu tão próxima de alguém em sua vida. Sabia que ele estava dizendo silenciosamente que
pertencia a ela. Qualquer coisa que ela precisasse, tudo que ansiasse, ele forneceria.
Quando ela se virou em cima dele e tomou seu rosto entre as mãos, seu corpo estendido
sobre o dele de forma que cada centímetro dela estava pressionada nele, deu-lhe um beijo longo
e forte. Não teve pressa. Dizendo-lhe que o amava com sua boca, com suas mãos.
Quando ergueu a cabeça, Fen sorriu para ela. Ele riscou sua boca com a ponta dos dedos.
— Minha vez. — disse abruptamente e pegando-a nos braços, rolou-a embaixo dele.
Ela não podia evitar a excitação que atravessou-a. Ele era tão forte, seu corpo em forma
e rígido, ainda assim nunca a machucou. Fen repetiu as ações dela, explorando cada centímetro
seu, mas estava certa que ele foi muito mais meticuloso que ela, fez com que se contorcesse e
choramingasse como uma gatinha, seus quadris se remexendo às vezes quando ele usava a
língua e os dentes em suas terminações nervosas mais sensíveis. Ele não prestou atenção, mas
não teve pressa, certificando-se que não deixou escapar um único lugar.
Puxou-a colocando-a de quatro, abraçando-a pela cintura e empurrando seu corpo de
costas para ele enquanto se ajoelhava atrás dela. Suas mãos massagearam suas nádegas, seu
dedo deslizando nela para se certificar que estava pronta para ele.
A posição permitia que ele fosse muito mais fundo, tomasse mais duro e mais rápido.
Começou lento e suave, dando a seu corpo tempo para se acostumar à invasão como fazia quase
sempre. Sua envoltura sempre parecia relutante a princípio, tão apertada que estrangulava seu
pau, mas logo a seguir se abria para ele como uma flor sensível para permitir sua penetração
mais profunda.
Ele parecia saber sem palavras o que ela precisava e golpeava dentro dela, não
mostrando nenhuma clemência, tomando-a mais rápido e duro, e então parando justo antes
dela gozar. A cada vez mais ele construía a tensão, estendendo ambos em uma batida tortuosa
de prazer até que ela estava quase soluçando. Ainda assim ele foi implacável. Impiedoso.
Fen esperou por seus apelos. O cantar do seu nome. A música que sempre acompanhava
o modo deles fazerem amor. Não parou até que ouviu, dando impulsos profundos, o pau
inchando gloriosamente, enquanto a vagina o agarrava e ordenhava. Ele ouviu seu próprio grito
rouco misturado com o dela enquanto um jato após o outro de sua semente quente a enchia.
As ondulações foram de seu âmago até seus seios e suas coxas abaixo, os tremores após quase
tão fortes quanto o orgasmo propriamente dito e ele sentiu todos eles, fundido profundamente
enquanto estava em sua mente.
Fen se debruçou acima dela, embrulhando os braços ao redor de sua cintura e se
aconchegando nas suas costas.
— Não há melhor maneira de acordar, minha senhora, do que com você desse jeito.
Tatijana não disse nada, mas ele sentiu sua tristeza pesada pressionando-o.
Muito suavemente, relutante, ele se retirou, puxando-a de volta ao seu colo. Ela não
olhou para ele, e teve que agarrar seu queixo e virar seu rosto para ele. Havia lágrimas em seu
rosto.
— Eu não vou morrer. Sei que está com medo, mas não vou morrer.
— Estou com um pressentimento terrível. — Ela passou seu dedo acima da imagem
tênue do dragão acima do seu ovário. — Às vezes, eu sei que algo ruim vai acontecer antes que
aconteça. Eu não sei o que, mas quando acordei, mal podia respirar.
— Não vou morrer. — ele reiterou. — Tenho lutado com vampiros por séculos e
aguentei muitos ferimentos fatais. Isso pode muito bem acontecer novamente nesta luta com
Abel, mas sobrevivi sem minha companheira. O quanto será mais fácil para mim desta vez? Você
é Caçadora de Dragão. A mãe Terra me aceitou como seu filho. Nós temos Gregori perto, um
grande curador, e a jovem Skyler, que nós dois sabemos é excepcional. Não estou com medo e
não quero que você tenha também.
Fen enxugou as lágrimas do seu rosto, e então e inclinou para pegar uma em sua boca,
saboreando seu medo.
Tatijana ajoelhou-se diante dele, tomando seu rosto entre as mãos.
— Você é tudo pra mim, e sabe disso, homem lobo. Se entrar na próxima vida, eu o
seguirei. Procure por mim só uns minutos antes. Não desistirei de você.
— Não haverá necessidade. A menos que veja meu corpo e saiba que estou morto, nem
sequer considere tal coisa. — advertiu. — Voltei de ferimentos piores que do Dimitri. O lobo em
mim é forte e regenera rápido.
Tatijana sentou-se nos calcanhares.
— Como o Sange rau. Abel pode regenerar muito rápido, não pode? Como tudo mais,
isso acelera com o tempo que você teve o sangue misturado.
Fen não se surpreendeu que ela estava ciente que Abel daria muito mais trabalho que
Bardolf.
— Verdade. Mas a prata ainda vai matá-lo. Só tenho que descobrir onde ele instalou sua
toca.
— Eu te acordei cedo para que tivesse tempo de se preparar. — Tatijana admitiu. — E
se alimentar de um Cárpato antigo, um de linhagem pura. Darei a você meu sangue, mas procure
Jacques Dubrinsky. Você precisa estar o mais forte possível.
Ela se levantou, vestindo-se enquanto fazia isso, mas deixou as velas acesas.
— Isto é um círculo de proteção. Tive cuidado de instalá-lo e enquanto estiver nele,
nenhum mal pode vir até você. Mais ainda, se você e Dimitri usarem este círculo para descobrir
o que Abel pode fazer e onde pode estar, nenhuma outra pessoa pode ouvir por acaso palavras,
pensamentos ou telepatia.
Apesar do quanto estava assustada por ele, ainda perdeu tempo para lhe dar tal
presente. Ele se levantou também, vestindo-se, seu cabelo amarrado pra trás com uma tira, suas
botas e casaco longos prontos pra guerra. Chamou suas armas para ele, uma multidão de estacas
prateadas deslizando nos bolsos feitos para elas, bem como uma espada comprida. Não se deu
ao trabalho de calçar luvas já que não tinha intenção nenhuma de se deparar com qualquer
membro da matilha. Ao invés disso, cobriu suas mãos e braços com selante como Dimitri fez.
Meu irmão-de-sangue. Vamos nos reunir com um plano de batalha. Fen não perdeu
tempo em despertar seu irmão.
Tatijana deu um passo mais perto dele e ofereceu seu pescoço, varrendo para trás o
longo comprimento do cabelo. Seus braços foram ao redor da cabeça dele, trazendo-o para o
calor do seu pescoço e garganta onde ele se aninhou.
— Tome o que precisa, Fenris Dalka, e volte para casa para sua companheira.
— Tomarei isso como uma ordem, minha senhora. — ele disse.
Ela cheirava tão bem. Tinha acabado de possuí-la, mas aquele aroma amadeirado, mel
fresco e chuva o deixaram excitado de novo. Dobrou-a em seus braços e tomou o que ela
oferecia sem hesitação. Já estava viciado em seu gosto, e o sangue de Caçadora de Dragão seria
inestimável em sua perseguição ao inimigo. Por um momento, se perdeu no ato sensual e íntimo
de tomar sangue de sua companheira, mas mesmo assim, estava ciente do momento em que
Dimitri se aproximou.
Fechou o pequeno ferimento em seu pescoço e segurou-a por mais um momento.
Tatijana sorriu para ele, acenou para Dimitri e mudou de forma, usando um lobo pequeno para
se mover pela floresta até o limite da aldeia onde encontraria comida.
Fen envolveu-a em calor, derramando seu amor na mente dela por um momento, antes
de ter que voltar sua atenção aos negócios.
— Ela fez um círculo de proteção para nós. — Dimitri disse enquanto deu um passo para
dentro. Estava vestido bem parecido com Fen, suas armas escondidas, mas de fácil acesso.
— Ela está preocupada e quis que estivéssemos o mais seguro possível. Vamos ter que
lembrar de todas as vezes que tivemos mais de um inimigo. Caso a matilha torne-se ciente do
que somos, vão vir pra cima da gente. — Fen advertiu.
Dimitri assentiu.
— Espero evitá-los.
— Sabemos que Mikhail é o alvo. Tenho quase certeza que Abel veio até aqui com a
missão de assassinar o príncipe. Não pode ser pessoal, Mikhail é extremamente jovem e duvido
que Abel já cruzou com ele. Ele não ganharia nada em destruir uma espécie inteira.
— Mas você acredita que alguém mais tem algo a ganhar? — Dimitri perguntou. — Você
mencionou isto antes, mas quem?
— Eu não tenho essa resposta, e neste momento, nós temos que lidar com uma coisa
de cada vez. Tente se lembrar de Abel quando era jovem. Ele estava mais próximo da minha
idade do que da sua, mas ficava por perto. Qualquer coisa pode ajudar.
Dimitri franziu o cenho, tentando chamar memórias antigas e desgastadas. Deu de
ombros.
— A única coisa que me lembro dele, exceto que era um homem bom que respondia às
perguntas quando eu fazia a ele sobre várias armas, teve uma vez que me levou para o lago para
me mostrar como lutar na água.
Fen se virou olhando ao redor.
— O lago. Ele era obcecado com aquele lago. Quando alguém precisava dele naquela
época, eles o achavam lá. É onde está, Dimitri. Encontrou uma toca em algum lugar próximo ao
lago.
— Há uma ilhazinha no lago; é realmente perto da orla e ele seria capaz de usá-la. —
Dimitri sugeriu. — Seria incomum para um vampiro fazer algo assim. Ele não teria que ter um
recuo, uma saída? Não existe muito nessa minúscula ilha, algumas árvores e pedras.
— Acho que devemos checá-la. — disse Fen. — Ele teria salvaguardas. Nenhum Cárpato
vai pra terra sem salvaguardas e ele foi um Cárpato por séculos. Vai recorrer ao que conhece
melhor.
— Vamos nessa. — Dimitri disse.
No momento que ambos saíram do círculo, este desapareceu como se nunca tivesse
existido. Antes de qualquer um poder se mover, uma coruja pousou na árvore acima deles. Se
espalharam, movendo-se rapidamente de forma que a coruja ficasse no meio. Jacques
Dubrinsky mudou de forma, saltando para o chão para aterrissar mais perto de Fen.
— Tatijana me enviou para você. Ela disse que você caçaria o Sange rau e que precisaria
de sangue. Ela enviou sua mensagem, que o príncipe precisava ser vigiado e que temos que
protegê-lo. Você enviou um recado aos Lycans? — Enquanto falava, usou os dentes em seu
próprio pulso e estendeu seu braço em direção a Fen. — Eu ofereço livremente. — ele adicionou,
usando o ritual entre companheiros de batalha.
Fen tomou o pulso oferecido, ingerindo uma quantidade pequena, certificando-se que
haveria suficiente para sustentar seu irmão e não tomando tanto de Jacques para que este
ficasse fraco.
Enquanto Dimitri se alimentava, Fen respondeu.
— Não. Os Lycans nos atrapalhariam neste momento. É melhor eles guardarem o
príncipe com você. Se Abel conseguir passar pela gente, duvido que vai parar de tentar ir atrás
de Mikhail. Melhor ter vocês todos lá. Vamos ter que lutar como Guardiães, não como Lycans
ou Cárpatos, e não podemos nos preocupar se somos ou não observados.
Jacques assentiu.
— Isso faz sentido.
Dimitri educadamente fechou a laceração no pulso do Jacques.
— Boa sorte hoje.
— Boa caça. — Jacques respondeu. Agarrou os antebraços de Dimitri com força e fez o
mesmo com Fen antes de se transformar e levantar voo.
Esperaram até que Jacques estivesse longe de vista e então os dois irmãos trocaram de
forma para corujas e foram para o céu na direção oposta, rumo ao lago. A floresta era densa, a
copa das árvores escondia o chão abaixo, mas duas vezes Fen sentiu lobos abaixo dele. Não
animais, mas grupos pequenos de lobisomens indo em direção à casa de Mikhail.
Nós podemos estar errados, Dimitri aventurou. Ele pode estar fazendo um verdadeiro
assalto na casa do príncipe.
Ele tem que acreditar que o príncipe nunca seria deixado em sua casa. Já descobrimos
que as salvaguardas não se sustentariam contra Abel, Fen disse com confiança. Ele sabe que o
príncipe não está lá. Quer que todo mundo pense que é isso que ele está fazendo.
Espero que você esteja certo, disse Dimitri. Estou com um pressentimento...
Uma pessoa com pressentimento era ruim, mas duas era muito pior. Fen acreditava em
instintos. Lá dentro algo lhe disse que Abel fez sua toca em algum lugar próximo ao lago. Estaria
enviando o que restava de seu exército como distração, mas em suma, teria outro plano.
Tatijana teve um pressentimento também. Teremos que ser duplamente cuidadosos.
Abel sabe que realisticamente, nós somos os únicos que estão entre ele e Mikhail, Fen disse. Seus
planos nos incluem. Vai querer nos eliminar primeiro.
Ele joga xadrez ou pelo menos estudou isto. Tome a Rainha do Rei, sua melhor defesa.
Neste caso, nós somos suas Rainhas, Dimitri especulou. Ele saiu com Bispos, Torres e Cavalos.
Fen, no corpo da enorme coruja, voou pra fora da floresta para o céu aberto, voando
sobre os campos e fazendas. Viu o pântano abaixo e ao longe, a montanha na geleira onde
Bardolf estabeleceu um covil. Dimitri, da posição do Bardolf, podia ver tanto a casa de Mikhail
quanto o lago.
Você tem que estar certo. Bardolf era seu vigia. Ele usou-o para obter informações.
Bardolf teria contado a ele se alguém estivesse espreitando perto do lago, Dimitri concordou.
Os juncos se chocavam nas margens do lago no lado oeste. A ilha parecia deserta e tinha
pouco a oferecer em termos de abrigo, mas Fen sabia que era melhor não arriscar. Havia um
banco de lama à esquerda dos juncos com uma suspeita, aparência deslizante, como se um
corpo pesado tivesse sido arrastado do mato alto crescendo na margem, descido o declive e
empurrado no lago.
O lago parecia plácido o suficiente, exceto as poucas ondulações que o vento causava.
A água era turva, mas azul. Era alimentado pela geleira e muito frio, se Fen se lembrava bem.
A ilha primeiro? Fen sugeriu. Vigie minhas costas. Vamos ver o que ele tem.
A coruja circulou a ilha e então desceu rápido com as garras estendidas no modo de
caça, como se tivesse avistado um rato e estivesse indo matá-lo. Há vários metros da pedra
maior, o pássaro bateu em um campo de força invisível e saltou para trás. Grasnando e com
penas voando em direção ao chão, bateu suas asas com força para voar novamente.
Está bem lá embaixo, disse Fen. E isso dói. Usou prata contra nós. Se arrumou para fazer
isto tão fino que é impossível ver.
Nós fizemos isso na fazenda e novamente na casa de Mikhail, Dimitri lembrou. Ele
roubou nossa ideia. Então, onde ele está nessa ilha minúscula? Onde sua toca pode estar?
Fen estudou a ilha de todos os ângulos. Isso pode ser parte de sua rota de fuga de alguma
maneira, embora eu não possa compreender como.
Ou é simplesmente uma armadilha ou distração, Dimitri sugeriu.
Dimitri, e se ele estiver na água? Debaixo da água. Isto é possível? Ele estava tão
obcecado com o lago e em saber lutar debaixo d’água. A maior parte dos outros o ignoravam,
pensando que era um pouco estranho. Afinal, que vampiro escolheria a água como campo de
batalha? Fen perguntou, enquanto olhava para o grande alojamento de castor construído perto
dos juncos.
Dimitri estudou o lago. Uma bela armadilha. Isso atrairia um vampiro. Ele poderia matar
qualquer um que estivesse pescando ou trazendo seus animais perto, teria uma riqueza de
vítimas para escolher. Eles simplesmente desapareceriam debaixo d’água e ninguém jamais os
encontraria.
Fen indicou o deslizamento. Um corpo pode ter sido arrastado por lá, mas por que? Ele
não precisaria fazer isto.
A menos que estivessem vivos e ele quisesse a descarga de adrenalina quando os matou.
Ele poderia deliberadamente torturar suas vítimas só por diversão, Dimitri adicionou.
Certamente este é o passatempo favorito dos vampiros.
Certo, teremos que verificar, disse Fen. No instante que atingi aquela prata, se ele estava
por perto provavelmente sabia que não era uma coruja. Ele é esperto. Esqueça o disfarce. Vamos
diretamente pra caçada.
Os irmãos despencaram pelo ar rápido, mudando de forma um pouco antes de tocaram
a margem coberta de grama. No momento que suas botas pisaram em uma moita, ambos
sentiram o deslocamento de terra embaixo deles. Suas botas afundaram só uma polegada, mas
foi o suficiente para dar às sanguessugas mutantes que espreitavam a chance que precisavam
para enxamear suas botas subindo para suas pernas, e chupando em um frenesi alimentar.
Dimitri praguejou baixinho em Cárpato antigo.
— Eu realmente detesto estas coisas. Ele tinha que colocar dentes gigantes neles?
Ambos saltaram para trás longe da margem do lago e das sanguessugas fervilhando do
topo dos buracos lamacentos que suas botas fizeram na grama. Começaram a arrancar as
criaturas deles, matando-as e lançando seus corpos no enxame.
— Eu não me preocuparia muito com os dentes gigantes — disse Fen —, mas mais com
o que estão injetando em nossos corpos. — Ele sentiu a diferença em sua corrente sanguínea
quase com a primeira mordida. — Você pode localizar o vírus? O veneno? Já está em sua
corrente sanguínea. Não pode chegar ao seu coração. — Ele já estava circulando com energia
branca os elementos estranhos que podia sentir para impedi-los de assumir o comando de suas
células.
Dimitri acenou com a cabeça.
— Eu não teria se você não tivesse captado. É sutil. Já os contive. Tentou se espalhar
muito rápido.
— Eles estavam depositando em nós, não captando. — disse Fen. — Pode sentir esse
minúsculo vestígio de prata dentro do fio? Ele enviou uma agulha de prata para perfurar o
coração. Por falar em ser sutil.
— Será que funcionaria? — Dimitri perguntou.
Fen deu de ombros.
— Eu não sei, mas estaríamos em agonia e provavelmente desejaríamos estar mortos.
— Sabíamos que ele teria armadilhas.
Desta vez, quando se aproximaram da beirada da água, o fizeram sem realmente
permitir que seus pés tocassem em qualquer parte da margem. Fen deu um pequeno suspiro.
— Tenho uma ideia que pode dar certo. Deixe-me tentar.
Tatijana, preciso de ajuda.
Estou aqui.
Visualize seu dragão para mim. Deve ser exato.
Ela não questionou, mas imediatamente fez como ele pediu. Fen enviou-lhe uma
saudação telepática e virou para seu irmão.
— Não existe nada mais que isto, Dimitri, me dê cobertura.
Ele não hesitou, ao invés disso simplesmente flutuou sobre a água a uma distância da
margem, virou de cabeça pra baixo e abaixou sua cabeça e ombros embaixo da superfície da
água, mudando de forma enquanto fazia isso. Usou a cabeça de dragão da água da Tatijana.
Teria uma visão melhor de baixo d’água.
Levou um momento para ajustar e então virou sua cabeça, girando ao redor de forma
que pudesse ver o máximo possível. Próxima à ilha, perto de onde os juncos eram mais espessos,
tinha um estranho alojamento subaquático construído de galhos de árvore derrubadas — uma
toca de castor — ainda que duvidasse que existissem castores no lago. Eles foram reintroduzidos
em algumas partes da Romênia, mas este não era uma delas. A estrutura era enorme, e parte
dela estava acima da água, escondida pelos juncos. Se fosse construído como toca de castor,
teria múltiplas entradas e saídas.
Fen, saia daí agora! Dimitri advertiu.
Fen voltou diretamente para fora da água, atirando-se para o ar, usando sua velocidade
de sangue misturado. As mandíbulas dirigindo-se para ele perderam-no por uma mera polegada.
Sentiu o hálito quente em seu rosto e cheirava a carne podre, em decomposição. O crocodilo
monstruoso caiu silenciosamente dentro do lago, mas não antes de Fen ver aqueles olhos
rodeados de vermelho, mas com sólidas pupilas negras encarando-o malevolamente.
Acho que é seguro dizer que nunca existiu crocodilos neste lago, Fen disse.
Ele definitivamente queria você para o jantar.
Como o avistou? Eu estava olhando debaixo da água e não o vi, Fen perguntou.
Ele estava simplesmente debaixo da superfície, nadando em direção à ilha. Eu podia ver
as ondulações na água e em seguida, vi seus olhos.
Fen retornou à costa, evitando se aproximar da margem.
— Isso foi um ataque repentino. Definitivamente, era Abel. Simplesmente tomou a
forma de um crocodilo. Pegou algum tipo de toca embaixo da água e ela está amarrada àquela
ilha. Também está parcialmente nos juncos.
— Ele vai ter vantagem na água, Fen. Mostrou-se deliberadamente para atrai-lo.
Fen suspirou.
— Eu percebi, mas tem que ser feito.
Dimitri deu de ombros.
— Então vamos fazer.
Os dois homens mais uma vez foram para o ar, o único lugar seguro que foi deixado para
eles. Fen olhou para baixo na massa de troncos, lama e caniços debaixo dele, estudando a
estrutura de todos os ângulos. Definitivamente existia uma ligação para a ilha, mas ainda não
conseguia entender como Abel podia usar a ilha como fuga. Uma boa parte da estrutura fora
construída nos juncos, de modo que as hastes verdes gigantes escondessem uma porção da
toca.
Fen levantou o olhar para as nuvens acima. A maioria se tornou de cinza a negra. Elas
giravam e agitavam enquanto uma tempestade se aproximava, o vento dirigindo-as pra cima de
suas cabeças. Ele ergueu uma mão, dirigindo a energia para reunir em uma grande bola de fogo.
O relâmpago cortou as nuvens. Trovão retumbou. A bola de fogo riscou até quebrar no meio da
toca, explodindo-a ao meio. Troncos explodiram pra fora, galhos e lama se espalharam através
do lago, nos juncos e até bordeando a ilha.
Abaixo da linha da água um quarto foi exposto. Dois corpos flutuaram para a superfície,
boiando como resultado da explosão. Abel fez matanças e ancorou suas vítimas em seu
alojamento para impedir sua toca de ser exposta. Nenhum caçador se moveu, ambos
inspecionando o dano abaixo, procurando por sinais de Abel.
Um movimento próximo à borda dos juncos fez Fen mergulhar fundo, movendo-se como
um foguete através da água em direção àquele flash revelador. Indo direto em direção a ele,
fora dos juncos, arremessou-se um peixe-tigre Golias, um dos peixes de água doce mais temidos
encontrado no mundo — mas não em um lago na Romênia. Com trinta e dois dentes tão longos
quanto os de um grande tubarão branco, o monstro abriu as mandíbulas largas e veio com toda
força através da água diretamente para Fen.
Um raio muito rápido riscou em direção a Fen, a cor azeitonada em suas costas mal
visível. Tudo que Fen podia ver eram os dentes afiados como uma adaga vindo para ele. O
agressivo e poderoso peixe Golias era conhecido por atacar e matar crocodilos. Quase sem lábios
e dentes saltados na mandíbula, o peixe era mais mortal que a menor piranha, e uma vez que
seus dentes se fechavam em sua presa, o corte era tão preciso que era quase cirúrgico.
Fen, usando sua velocidade de Guardião, deu um jeito de simplesmente deslizar de lado
pra fora do seu caminho. O corpo enorme se deslocou passando por ele alguns passos antes do
peixe enorme poder se deter. Fen mergulhou por baixo dele, atingindo a parte mais suave
debaixo de sua barriga prateada, estendendo-se ao redor dele para segurar bem.
A parte superior de seu braço e ombro, tórax e costelas, cada parte de seu corpo
entrando em contato com o peixe imediatamente queimou como fogo, a dor excruciante. Ele
tentou se afastar, mas aquele lado inferior suave já não era a própria barriga do peixe-tigre, mas
uma sólida folha fina de prata. O metal já queimava sua pele, de forma que estava preso e
incapaz de se libertar.
O peixe tentou virar sua cabeça para dar uma dentada nele com seus dentes afiados
como um punhal, mas Fen ficou bem debaixo do seu corpo, lutando com a dor. Ele tentou
empurrar a dor de lado como os Cárpatos faziam quando se feriam severamente, mas a prata
parecia estar derretendo, encontrando seus poros e trabalhando seu caminho pra dentro do seu
corpo. Quanto mais lutava, pior a dor e mais profunda a prata ficava. Abel apresentou outra
forma de Moarta de argint — literalmente — morte por prata.
Fen se obrigou a permanecer absolutamente imóvel, enquanto o peixe-tigre girava em
círculos abocanhando-o. De repente ele disparou diretamente para a água como se estivesse
ansioso para desalojar Fen e cair fora.
Dimitri viu o peixe indo como um foguete para o fundo do lago com seu irmão agarrado
de alguma forma embaixo da sua barriga. O peixe Golias nadou diretamente em direção aos
juncos e a toca que estava parcialmente desmantelada. Ele viu um único lampejo de movimento
e imediatamente mergulhou fundo, interceptando o segundo peixe-tigre de frente, seu corpo
entre seu irmão e a nova ameaça. Ele dirigiu sua espada de prata através da mandíbula volumosa
e aberta.
Dimitri, a parte de baixo de sua barriga é pura prata, não toque nisso, Fen advertiu. Corte
sua cabeça, mas mantenha distância.
Os lobisomens estão atacando, Tatijana relatou. Estão vindo para nós em grande
número, talvez uns quarenta. Três caçadores e Zev descobriram Abel. Ele mesmo está
comandando-os.
Fen removeu a espada com sua mão livre. Se fosse possível debaixo d’água enquanto
estava sendo levado como um foguete até o outro lado do lago, sentiu como se estivesse
suando. Entre a dor que parecia piorar a cada segundo que passava e o pensamento do que
estava por vir, teve que continuar com um escudo para impedir que Tatijana soubesse o quanto
estava realmente mal. Ela viria para ele não importa o perigo.
Abel enviou um clone. Gregori saberá o que fazer.
Você tem certeza? Ele parece bem real.
Fen fez tudo que podia fazer para não brigar com ela. Estalou seus dentes juntos em vez
disso e forçou-se a se acalmar.
Abel está aqui. Cortou o contato abruptamente. Não podia estar em dois lugares ao
mesmo tempo, não quando Abel estava fazendo o melhor que podia para matar as duas maiores
ameaças a ele.
Sem esperar ele tomou a espada e cortou para cima em um único movimento,
removendo sua própria pele do cotovelo até o ombro que havia aderido ao peixe-tigre. Ele se
forçou a não sentir dor, mas se arrumou para fazer um segundo movimento cortante,
arrancando a pele de sua cintura, em cima de sua costela até pouco abaixo do seu braço. Sangue
verteu na água. O peixe-tigre enlouqueceu e começou a dar dentadas em si mesmo, os dentes
perdendo-o por poucos centímetros. Levou cada pingo de disciplina que possuía para fazer o
último corte para se libertar do monstro antes de cortar a cabeça do Golias.
Algo está acontecendo acima da gente, Dimitri disse quando retirou a espada da boca
do peixe-tigre, girando para o lado do peixe grande e descendo a lâmina para cortar a cabeça.
Próximo à margem, há uma perturbação.
Vá. Está sob controle.
Fen deteve o fluxo de sangue e mergulhou mais fundo, ignorando os pedacinhos de
prata ainda queimando seu corpo. Descobriu uma entrada para os quartos submersos na toca
de Abel. Entrar no covil de um vampiro era uma coisa extremamente arriscada. Havia água no
primeiro quarto. Parte da parede foi levada pelo vento. O Sange rau tinha estocado sua comida
lá e os corpos subiram para a superfície.
Fen nadou por ele para a entrada do segundo quarto. Imediatamente sentiu a
resistência bloqueando-o. Ele acenou com sua mão e ao mesmo tempo os símbolos e códigos
das salvaguardas fluíram diante de sua vista, um pouco embaçado e às vezes muito rápido.
Desvendou-os muito rápido, mas foi muito mais cuidadoso ao entrar na segunda câmara.
Abel dormia aqui. Era escuro, úmido e confortável, até mesmo aquecido, todas as
comodidades de uma caverna. Fen olhou ao redor cuidadosamente. Não havia ninguém ali, mas
não esperava que Abel tornasse as coisas fáceis para ele. Isto era um jogo de gato e rato. Ele era
o rato, a isca para atrair Abel pra fora. Caminhou lentamente até o outro lado do quarto. Não
tinha dado mais de três passos quando seu radar de advertência soltou um grito agudo para ele.
Gritava. Piscava. Ele não estava sozinho nos confins apertados daquele quarto.
Abel caiu por cima dele, levando-o para o chão da toca. As garras curvas cravaram fundo,
rasgando-o. No momento que seu corpo atingiu o chão, as paredes do quarto ganharam vida,
morcegos claramente carnívoros abandonaram seu lugar de descanso para juntar-se ao seu
mestre.
Banquete. Banquete, meus irmãos, Abel comandou.
Os morcegos foram para o chão, vindo de todas as direções, saltando sobre Fen e
mordendo profundamente.

***

Dimitri surgiu direto da água para ver dois dos caçadores de elite, Convel e Gunnolf,
enroscados nos juncos. Claramente Zev os enviou para reconhecimento da área e os cadáveres
no lago os atraíram para a margem. Eles dois caíram em uma das armadilhas de Abel.
Trepadeiras grossas irromperam dos juncos, enrolando os dois Lycans firmemente no
estrangulamento de uma jiboia.
Xingando baixinho, Dimitri disparou pelo céu, deixando-se cair atrás do primeiro Lycan,
certificando-se de não tocar nenhum dos juncos.
— Parem de lutar. Só estão piorando as coisas. — ele aconselhou.
Ambos os Lycans caçadores de elite pararam de se mover imediatamente, embora fosse
difícil obedecer quando as trepadeiras continuavam a embrulhá-los com mais força,
espremendo até que seus ossos estavam a ponto de quebrar.
Dimitri tentou sua espada, mas no momento que tocou as trepadeiras, outras surgiram
ao redor dele para tentar engaiolá-lo. Podia ouvir um zumbido silencioso, o mais fraco dos sons,
e soube que os juncos e trepadeiras se comunicavam um com o outro.
Embora não se mexesse, Gunnolf começou a fazer um som de angústia. Dimitri estava
ficando sem tempo. Usando a força e velocidade do Guardião, pegou nas trepadeiras com suas
mãos nuas e arrancou-as para longe do caçador, esmagando a madeira em suas mãos nuas. As
trepadeiras desintegraram em serragem da pura força que ele usou. Puxou o caçador
libertando-o e levou para um lugar mais seguro longe dos juncos antes de voltar para Convel.
Os juncos ganharam vida, balançando e se alongando, tentando achar um alvo. Mais
uma vez, ele desceu rapidamente de cima, chegando por trás de Convel, pegando as trepadeiras
grossas, esmagando-as em suas mãos e arrebatando sua presa deles, subindo com a mesma
rapidez para o ar. Foi sua velocidade que salvou a ambos. As trepadeiras dispararam de todas
as direções, mas ele tinha Convel à salvo e longe. Colocou-se ao lado de Gunnolf.
— Obrigado. — Gunnolf disse, estendo a mão. — Você salvou nossas vidas.
Dimitri estava impaciente para voltar para Fen, mas agarrou a mão estendida do
Gunnolf. Gunnolf bateu com laços de prata ao redor do seu pulso, amarrado com uma longa
corrente como uma coleira. Por trás dele, laços de corrente de prata foram jogados por cima da
sua cabeça para cair em torno do seu corpo. A corrente estava bem apertada e um flash de
agonia atravessou-o. Antes de poder gritar por Fen, algo duro atingiu sua cabeça e tudo ficou
preto.

***

— Vamos ver o que tem por dentro de um caçador, meus bichinhos de estimação. —
disse Abel. Sorrindo, expondo seus dentes manchados de marrom, estendeu sua mão pra baixo
em câmara lenta e deliberadamente rasgou a barriga do Fen. O vampiro/lobo fez devagar,
querendo que Fen sentisse a dor enquanto ele o eviscerava. Os morcegos descobriram carne
crua onde sua pele devia estar faltando e precipitaram-se para ele.
— Comer pessoas vivas é o que eles fazem melhor e aprecio muito assistir. — Abel
provocou. — Você não é tão bom quanto pensava, é?
Fen sentiu uma explosão de dor que não era sua. Aquela agonia estimulou-o a entrar
em ação como nada mais poderia. Antes de tudo ele era Cárpato e podia cortar a dor de
ferimentos de batalha. Fez isso por séculos. A prata era diferente, mas podia suportar até que
algo pudesse ser feito.
— O que aconteceu com ela, Abel? — Fen perguntou, forçando-se a ficar calmamente
sob o ataque ao seu corpo. Ficou absolutamente relaxado para que Abel involuntariamente
relaxasse também. — Sua companheira? O que aconteceu com ela?
Abel foi quieto. Por um momento as linhas malévolas desapareceram do seu rosto e ele
pareceu com o caçador que Fen conheceu muito tempo atrás. A mudança no Sange rau era
passageira, mas deu a Fen o segundo que precisava.
Ele golpeou seu punho vazio na parede do tórax do Abel com a incrível força de um
Guardião. Conduziu direto com velocidade surpreendente, seu punho envolvendo em torno do
coração e extraindo-o antes que Abel sequer percebesse que Fen o atacou. Quando extraiu o
coração, Fen rolou direto sobre alguns morcegos, sem se importar que eles ainda estavam
mordendo sua carne. Tudo que importava era destruir Abel.
Um rugido trovejou pelo covil, sacudindo a estrutura que foi deixada acima deles de
forma que troncos e escombros rolaram para dentro do lago. Buracos surgiram nas paredes. Fen
apalpou uma estaca de prata com uma mão, o coração na outra. Abel enlouqueceu, debatendo-
se e gritando, suas terríveis garras atingindo a barriga de Fen, puxando e rasgando tudo que
podia pegar. Seu rosto se contorceu ao mesmo tempo e ele mordeu o ombro e pescoço de Fen,
arrancando pedaços de carne e como um lobo, devorando-os inteiros.
— Peguem, tomem isto dele, meus bichinhos. — Abel gritou. — Meu coração!
Fen não se atreveu a deixar o coração cair no chão. Os morcegos de Abel já tinham
começado a morder seu punho fechado para tentar recuperar o que o Sange rau perdeu. Ele
apalpou uma estaca de prata com a outra mão, abriu seu punho e golpeou o punhal em cheio,
atravessando o coração, sua própria mão e o chão.
O lamento do Abel subiu para um guincho. Ele bateu ambas as mãos no buraco em seu
tórax, choque e horror em seu rosto.
— Vá para ela, Abel. Busque seu perdão. — disse Fen. Com sua outra mão usou um
movimento descendente, cortando o pescoço de Abel com a faca de prata que carregava. Ele
foi forçado a usar a força do Guardião para remover a cabeça.
Havia tanto sangue. Seu. De Abel. Ele estava cansado. Muito cansado mesmo. Esperou
que os morcegos saltassem sobre ele e o rasgassem em pedaços, mas quando Abel tombou no
chão, mais água se derramou no covil, mais rápido agora, subindo rapidamente e os morcegos
recuaram. Com seu último esforço, olhou para o céu através dos buracos no telhado.
Relâmpagos continuavam nas bordas das nuvens. Ele os chamou para baixo, dirigindo-os sobre
o corpo e a cabeça de Abel, assistindo-os queimar apesar da água que subia. Pareceu levar muito
tempo e uma quantidade tremenda de esforço para terminar de queimar o corpo, mas
finalmente, até que não restou nada além cinzas.
Fen olhou ao redor, um pouco surpreso que tudo estava acabado. A água estava mais
vermelha que marrom. Ele fechou seus olhos. Tatijana, minha senhora. Não vou ser capaz de
manter minha promessa a você, mas saiba que eu te amo com todo meu coração.
Capítulo 20

Fen, você tem que abrir os olhos. Desperte para mim. Tatijana chamava seu companheiro
pela sétima ascensão consecutiva.
Com toda honestidade, ele dormia como um morto, e seus ferimentos foram tão
horríveis que se Gregori não o tivesse encontrado, Fen teria morrido dentro de mais alguns
minutos. Precisou de todos para salvá-lo, todos os Cárpatos participando do canto curador. As
pessoas vieram juntas proporcionando resistência e sangue muito necessários, enquanto
Gregori, Tatijana, Branislava e a Mãe Terra lutavam por sua vida.
— Eu não entendo por que ele não acorda. — Tatijana olhou para Gregori com os olhos
cheios de lágrimas.
Gregori estendeu a mão e cobriu a dela suavemente em um raro gesto de compaixão.
— Ele está vivo. Está rejuvenescendo muito mais rápido do que eu esperava. Vou te
dizer agora, Tatijana, não esperava que ele sobrevivesse. Deve ter paciência. Seu espírito parece
estar longe, mas paira sobre ele.
— Eu posso tocá-lo algumas vezes, mas ele foge novamente. — disse ela. — Só preciso
que ele me deixar entrar, apenas por um momento, e então sentir que posso respirar.
— Isso é simplesmente uma reação de companheiros. — ele aconselhou o assunto com
naturalidade. — Quando se está separado por muito tempo, os efeitos podem ser prejudiciais.
Você sabe que ele vive. Sabe que vai voltar para você.
Ela sabia que ele estava dando-lhe um aviso. Era difícil manter a mente firme e focada
quando temia que Fen já tinha escorregado pra muito longe dela. Fizera uma promessa a ele,
porém, e ficaria com ele. Não importa quanta tristeza pesasse sobre ela, encontraria uma
maneira de prendê-lo enquanto estava fazendo.
A caverna de cura era um lugar pacífico. O solo era escuro e rico em minerais. Fen foi
trazido diretamente para lá por Gregori, e os Cárpatos se reuniram às pressas para tentar salvá-
lo. Tatijana ficou horrorizada quando o viu. Sua pele foi descascada de seu corpo em vários
lugares e tinha pedaços de carne faltando ao longo ferimentos extensos. Grandes pedaços de
carne estavam faltando em seu ombro e perto do seu pescoço. O pior era sua barriga. Gregori
teve que evitar que suas entranhas saíssem quando o transportou de volta para a caverna.
— Tatijana. — Gregori disse bruscamente, e em seguida, suavizou sua voz. — Ele fica
mais forte a cada passagem em ascensão.
— Então por que não posso tocar em seu espírito?
— Eu não sei. Talvez esteja viajando por conta própria, enquanto ele cura. Olhe para
seu corpo. Rejuvenesceu muito mais rápido do que eu esperava.
Ela assentiu com a cabeça.
— Você está certo. Eu sei que está certo. — Era exatamente por isso que queria segurar
Fen nos braços perto de seu corpo, sentir seu coração batendo no mesmo ritmo que o dela.
Apenas por um momento e então saberia que podia respirar mais fácil. Agora, sentia como se
não pudesse respirar por completo.
— O que vai dizer a ele sobre Dimitri? — perguntou Gregori, claramente para distraí-la.
Tatijana forçou-se a responder. Distração era exatamente o que precisava. Ainda assim,
colocou a mão sobre o peito de Fen, diretamente sobre o coração.
— Mesmo a jovem Skyler foi incapaz de chegar a Dimitri e sua conexão é incrivelmente
forte. Não sei como dizer que Dimitri foi tomado pelos Lycans, e ninguém, nem eu, nem sua
companheira ou qualquer um de vocês pode alcançá-lo.
Ela passou o cabelo para trás, embora realmente não houvesse necessidade. Nenhuma
mecha escapou, mas sentia-se trêmula e com necessidade de cobri-la.
— Eu me sinto como se tivesse falhado com ele. No momento em que soube que Dimitri
estava desaparecido... que Vikirnoff encontrou provas de que foi levado pelos Lycans, tanto
Bronnie quanto eu subimos para o céu, mas mesmo com a visão do dragão não pude encontrá-
lo. Estava tão preocupada com Fen, senti-me tão desesperada para salvá-lo, que simplesmente
não assumi meu dragão rápido o suficiente.
— Nossos melhores e mais rápidos caçadores correram atrás deles. — Gregori
destacou. — Nada jamais escapou a tantos caçadores, e mesmo assim vieram sem nada,
Tatijana. O desaparecimento de Dimitri não é culpa sua.
— Zev disse a Mikhail que dois de seus caçadores de elite o levaram. — Tatijana disse,
balançando a cabeça. — Será que querem começar uma guerra? Será que não percebem que
Fen nunca vai parar até que receba Dimitri de volta? Nunca, Gregori, ele vai ser implacável em
sua perseguição.
Gregori assentiu.
— Estou bem ciente disso, assim como o príncipe. Zev garantiu a Mikhail que Dimitri
estará seguro no momento. O conselho Lycan mandou dizer que vão vir para uma reunião com
Mikhail. Os Lycans não querem uma guerra com a gente. Nenhuma das espécies vai ganhar.
Todos nós sabemos disso. Não vão machucar Dimitri enquanto esta cúpula ocorre.
— Por que não podemos alcançá-lo? Por que Skyler não pode? — Com a mão ainda
sobre o peito de Fen, por um momento pensou que sentiu seu coração palpitar, e seu coração
pulou de alegria, mas quando olhou para ele, não se moveu.
— Ela é pouco mais que uma criança. — disse Gregori com desdém. — Você diz que
eles têm uma ligação muito forte, mas olhe para você e Fen. Ele está bem aqui, perto de você e
ainda assim não desperta a seu pedido. Às vezes, o espírito viaja por conta própria, enquanto o
corpo sara.
— Está dizendo que suspeita que Dimitri está tão ferido que não pode responder? —
perguntou Tatijana. — Porque, se esse for o caso, o tempo é essencial e precisamos ir atrás
deles. Zev deve saber onde os Lycans o levaram.
— Estou certo de que sabe. Dimitri provavelmente está a caminho de seu conselho. Ele
é Hän ku pesäk kaikak — Guardião de todos nós, mas Sange rau para eles, e temem o Sange rau
mais do que qualquer outra coisa. — respondeu Gregori.
— Será que eles temem o Sange rau mais do que temem a guerra com a gente? —
Perguntou Tatijana.
Gregori suspirou.
— Gostaria de saber a resposta para isso, mas Mikhail chamou todos os Cárpatos para
esta cúpula. Nós deixamos bem claro para os Lycans que a cúpula não acontece se eles matarem
Dimitri. Ainda estão chegando, o que seria loucura fazer se ele não estivesse vivo.
— Ele está vivo. — disse Tatijana. Estava cansada de explicar tanto para Mikhail quanto
para Gregori que sabia que ele estava vivo porque Skyler sabia. Insistiam em ver a companheira
de Dimitri como uma criança e realmente não davam crédito às suas habilidades.
— Mikhail discretamente começou a reunir alguns dos nossos melhores caçadores.
Uma vez que você acordá-lo e percebermos que está forte o suficiente, os caçadores que tentam
rastrear Dimitri vão escapar com Fen, levando-os. Sabemos que alguns dos caçadores Lycan
estão por perto, observando para ver que não lançaremos um ataque contra o seu povo ou
tentarmos retaliar, por isso temos que fazer isso debaixo de seus narizes, sem sermos pegos.
Tatijana não podia imaginar Fen cuidando de uma forma ou de outra que os Lycans
soubessem que estava indo pelo seu irmão, Dimitri. Provavelmente iria querer que soubesse.
Ele seria absolutamente impiedoso, implacável e, talvez os Lycans precisassem ver isso.
Gregori deve ter pego seus pensamentos. Ele se inclinou para frente e sacudiu a cabeça.
— Você não pode deixá-lo ir atrás de seu irmão sem pensar nas consequências. Se
sabem que estamos indo por ele, poderiam muito bem matar Dimitri. Nós não sabemos onde
ele está. Encontrariam uma maneira de silenciá-lo.
— Isso é mais assustador do que qualquer outra coisa. — Tatijana admitiu.
Novamente, houve aquela estranha vibração sob sua mão. Ela se inclinou sobre Fen e
deu um beijo na boca dele. Volte para mim, meu amor. Preciso saber que você está vivo.
— Acreditei em Zev quando disse que não teve parte na tomada de Dimitri, mas o mais
importante, Mikhail acreditou nele. Sabe quando as pessoas falam a verdade. Zev não deu a
ordem para levar Dimitri prisioneiro, nem sabia que ele era de sangue misturado. — disse
Gregori. — Eu suspeito que os dois Lycans observaram Dimitri na batalha e ele se entregou sem
necessidade.
— Será que ele sabe que Fen tem sangue misturado? — Tatijana esforçou-se para
manter a voz firme, mas pensou que tremeu um pouco.
Felizmente, Gregori fingiu não notar.
— Ele não sabe que Fen e Dimitri são irmãos. Não, acho que ele acredita que Fen fica
perto porque está apaixonado por você. Ele falou com Mikhail e disse que tal jogo seria proibido
pelos Lycans. É óbvio que ele tanto admira quanto respeita Fen e quer que se junte ao seu bando
como um caçador de elite.
Tatijana franziu a testa.
— É proibido a Fen se apaixonar por mim só porque sou Cárpato? Isso não é um pouco
arcaico?
— Eles sabem que os Cárpatos trocam sangue.
— Ficaram felizes o suficiente em ter nosso sangue quando foram feridos. — Tatijana
sibilou. Mais uma vez o coração de Fen vibrou. Ela apertou sua mão com força sobre o peito,
quase chorando. Isso tinha que ser um batimento. Não estava enganada. Sentiu lágrimas
ardendo nos olhos e aglomerando em sua garganta. Ele estava vivo. Estava chegando mais perto
da superfície.
Ao lado deles Fen se agitou, seu corpo ainda coberto com o solo rico de cura da Mãe
Terra. Tatijana soltou um grito de alegria. Seus cílios tremularam e ele olhou para ela. Seu rosto
estava muito pálido e havia linhas que não estavam lá antes, mas simplesmente sorriu para ela.
— Você tem uma bela visão para acordar, minha senhora.
— Acho que você é muito bonito mesmo. — Ela não ia chorar. Manteve a palma da
mão apertada sobre seu peito, necessitando da garantia de seu batimento cardíaco estável. Era
música para ela.
— Você está de volta para nós. — observou Gregori, seus olhos prateados não
perdendo nada. Fen estava respirando de maneira um pouco superficial e ainda estava com um
pouco de dor, mas muito consciente de tudo à sua volta. — Que parte da nossa conversa você
pegou?
— O suficiente para saber que... — Fen teve que elevar a voz — Precisamos descobrir
por que os dois Lycans estavam no lago, em primeiro lugar. Como sabiam onde esperávamos
que o covil do último Sange rau pudesse estar? Dimitri e eu achamos porque sabíamos de Abel
quando éramos jovens.
— Uma pergunta muito boa. — Gregori concordou.
— Se Zev não sabia onde estávamos e não enviou os caçadores para nos ajudar, porque
não eles foram com o seu bando para lutar contra os bandidos? — perguntou Fen. — Zev é
dominante sobre o bando alfa, ele é o chefão. Nenhum alfa que se preze jamais permitiria que
seu bando abandonasse a luta e saísse sem uma palavra.
— Zev saiu com pressa. Eu me pergunto se estava se fazendo as mesmas perguntas. —
Gregori ponderou. — Ele não estava feliz.
— Tenho certeza que não estava. Se os membros do seu bando levaram alguém preso
e nem sequer o informaram... isso é um motim no bando. Isso é um desafio de liderança. Aqueles
dois teriam que lutar com Zev pelo cargo de líder. — explicou Fen. — O melhor caçador é sempre
o batedor e, portanto, o alfa dominante.
— Você nos ouviu? — Tatijana exclamou, ainda presa de volta ao ponto original. —
Você ouviu a nossa conversa?
— Você me chamou e parecia angustiada. — disse Fen. — Eu vim, é claro.
— Fen, eu te chamei para mim nas últimas sete ascensões.
Ele franziu a testa.
— Sério? Sinto muito, Tatijana. Não tinha ideia da passagem do tempo. Quando seu
espírito vagueia não há nenhum conceito de tempo. Fui procurar meu irmão.
— Você sabia que Dimitri estava desaparecido? — perguntou Tatijana, os olhos
arregalados e um pouco acusadores. Ela não pôde deixar de chover beijos no rosto dele. — Você
me matou de medo.
— Sinto muito. Eu não poderia estar em dois lugares ao mesmo tempo, estava muito
fraco. Meu corpo precisava curar. Pensei que eu tinha ido embora um curto período de tempo
apenas. — Ele cobriu a mão dela com a sua. — Nunca iria querer te causar angústia.
Ele tentou sentar-se e Gregori colocou a mão em seu peito.
— Ainda não. Gostaria de ter certeza de que tudo está curando corretamente.
Fen olhou em volta.
— Você me trouxe para a caverna de cura. Devo ter sido muito rasgado dessa vez.
— Você esteve fora por sete ascensões. — Tatijana reiterou.
— Eu estava procurando por Dimitri. — Fen explicou novamente com a voz cada vez
mais forte. — Quando eu estava lá na cabana com Abel senti a dor de Dimitri apenas por um
momento, e sabia que era a sua dor. Senti a queimadura agonizante da prata muitas vezes e
esta foi abrangente. Soube imediatamente que o envolvia, o que só poderia significar uma
coisa... eles o levaram prisioneiro.
— Poderia ter me avisado. — disse Tatijana. — Sou sua companheira, Fen.
— Não foi fácil para ela. — Gregori acrescentou. — Seu espírito estava muito longe e
às vezes aparecia e desaparecia completamente.
— Eu sinto muito. — Ignorando o aviso de Gregori, Fen ergueu-se cautelosamente para
uma posição sentada. Sua barriga protestou, mas ele conseguiu. Pegou a mão de Tatijana e
trouxe-a até a boca para beijar seus dedos. — Não quis dizer para você se preocupar. Pensei que
uma vez que meu corpo tinha curado, meu espírito o encontraria e poderíamos ir buscá-lo.
Tatijana conseguiu esboçar um sorriso. Agora que ele estava vivo e falando com ela,
todas as noites tensas e tristeza que pesavam sobre ela aliviaram.
— Você está vivo, Fen. Isso é tudo o que realmente importa para mim. Isso e trazer
Dimitri de volta.
— Tenho que ir atrás dele, Tatijana. — disse Fen.
— Como vai segui-lo se não conseguiu encontrar seu espírito? — perguntou Gregori.
— Enviamos Tomas, Andre, Mataias e Lojos atrás deles. Não conseguimos encontrar um traço
deles. Tem alguma ideia para onde eles o levariam?
Fen suspirou e balançou a cabeça.
— Não, e o conselho é muito secreto. Se estão levando-o perante o conselho, encontrá-
los seria extremamente difícil.
— O conselho está vindo aqui. — garantiu Gregori. — Nós não pensamos que
permitiriam que alguma coisa aconteça com Dimitri antes ou durante a cúpula, por isso temos
tempo. Zev vai levar a mensagem a eles. E uma muito severa. Mikhail não coibiu qualquer
propósito.
O curador levantou-se e se espreguiçou. Foi uma das poucas vezes que Tatijana o viu
parecer cansado.
— Vou deixar vocês dois sozinhos, mas Tatijana, não deixe-o ficar muito tempo. Dei-lhe
sangue, mas ele precisa deixar seu corpo fazer seu trabalho. Você curou notavelmente rápido.
— acrescentou.
— Obrigada. — disse Tatijana em pé também, dando a Gregori um abraço, mesmo que
seu corpo parecesse como se ela estivesse abraçando um carvalho. — Você o salvou.
— Foi um esforço em grupo. — Gregori disse. — Mas provavelmente foi uma das
batalhas mais difíceis que já lutei.
Ele deu-lhe um tapinha desajeitado no ombro. Claramente estava acostumado a estar
perto de sua companheira e filhas, mas pouco com outras mulheres. Ainda assim, estava
agradecida. Ele veio para a caverna de cura todos os dias e se sentou com ela à espera. Bronnie
passou um tempo com ela também, e quando não estava fisicamente presente, acalmava e
consolava Tatijana telepaticamente.
Quando ficaram sozinhos, Tatijana colocou a mão no ombro de Fen, instigando-o a
deitar. Assim que estava confortável ela deslizou ao lado dele, tomando cuidado para não
colocar pressão sobre qualquer um dos lugares onde ele fora tão terrivelmente ferido. Ela
colocou a mão sobre seu coração, precisando sentir aquela batida constante.
— Da próxima vez, se houver uma, embora não vou deixar você fora da minha vista por
algum tempo, prometa-me, antes de ir vagando no escuro, que vai me deixar saber que vai
voltar para mim. — Tatijana disse, fechando os olhos.
Ela queria saborear a sensação dele ao seu lado, vivo e desperto. Sentia-o sólido com
ela. Permitiu que seu coração encontrasse o ritmo dele e seguir esse ritmo constante, apenas
para tranquilizar-se.
— Eu realmente sinto muito, sívamet. — reiterou sinceramente. Virou a cabeça para
olhar em seus olhos. — Nunca intencionalmente te causaria qualquer dor. Não havia nenhum
sentido de tempo para mim. Eu poderia ter ido meses ou poucos minutos. Vim quando a ouvi
me chamar.
Ela sentiu o choque daqueles olhos azuis da cor do gelo, o seu amor intenso, real, tão
cru, ali para ela ver. Ele nunca tentou esconder suas emoções dela. Seu amor era algo que tinha
crescido para contar, mesmo sem perceber.
— Eu não sabia que me sentiria assim, Fen. — ela admitiu. — Quando o vi pela primeira
vez e senti o impulso em direção a você, não queria correr nenhum risco. Quando nos
encontramos e eu disse que não queria ser reclamada, nunca em um milhão de anos, nunca me
ocorreu que me sentiria desta maneira com você.
Ele se inclinou para roçar um beijo na sua têmpora.
— Os homens lobo podem ser muito persuasivos.
— Nós vamos trazer Dimitri de volta, você sabe. — Ela fez uma declaração.
Ele acenou com a cabeça.
— Eu sei que vamos. Você é Caçadora de Dragão. Eu sou um Guardião. Vamos encontrá-
lo juntos.
Ela entrelaçou seus dedos com os dele e segurou com firmeza. Acreditou nele.
Acreditava nele. Dimitri seria encontrado porque Fen nunca desistiria, e não importa onde a
caça levasse, pretendia estar bem ao seu lado.
— Volte a dormir, Fen. — disse ela com a voz suave amorosa por ele. — Quanto mais
rápido você curar, mais rápido poderemos começar. Estarei aqui cuidando de você.
Fen deu um leve sorriso, mas não protestou. Ela observou seus cílios descerem e dentro
de instantes seu coração parecia ter parado de bater e sua respiração já não subia e descia de
seus pulmões.
Tatijana se contentou em simplesmente deitar ao lado dele. Sabia que estava vivo e isso
era tudo que importava. Fenris Dalka. Seu companheiro.

Continue lendo um trecho do próximo romance excitante dos Cárpatos, de


Christine Feehan.
Dark Wolf
Disponível em Janeiro 2014!

Skyler Daratrazanoff puxou o longo mantô preto para mais perto, certificando-
se de que seu cabelo estava coberto e houvesse pouco para ver de seu rosto. Seu
coração batia tão forte que tinha medo que alguém próximo ouvisse. Tudo dependia de
fazer o funcionário acreditar nela. Josef forjou os documentos, e ele era o melhor. Ele
podia hackear qualquer computador, fornecer informações ou obtê-las. Ela não duvidou
nem por um minuto que os documentos que ele criou estariam fora de ordem, e
passariam pelo exame minucioso, mas ainda tinha que fazer o funcionário acreditar
nela.
O edifício de estanho era enferrujado e parecia como se fosse quebrar a qualquer
momento. Um homem avançou para encontrá-la, olhando solene para o caixão que ela
empurrava à sua frente para a sombra do edifício. Felizmente o sol se pondo e as
sombras caindo ao redor dela, ajudavam a tornar mais difícil de vê-la claramente.
— Seus documentos? — Ele disse. Sua voz era amável. O nome em seu crachá
identificava-o como Erno Varga.
Ela olhou para trás em direção ao aeroporto para o pequeno avião pelo qual
tinha voado e então deu seus documentos para o funcionário, certificando-se de que
seus olhos se mostrassem abatidos e parecesse chorosa. Ela teve o cuidado de usar
colírio para deixar seus olhos vermelhos e lacrimejantes, apenas no caso de não poder
agir por conta própria.
Varga olhou seus documentos e depois para ela várias vezes com incrédulos
olhos afiados.
— Você é jovem para estar levando para casa o corpo de seu irmão sozinha.
Ninguém mais está viajando com você?
Ela balançou a cabeça, tentando parecer mais trágica do que nunca.
— Meu pai está morto e agora meu irmão. — Ela sufocou um soluço digno,
estava certa de um desempenho merecedor de um Oscar. — Não há mais ninguém para
levá-lo para casa, para nossa mãe.
O funcionário olhou para ela novamente e estudou seus documentos mais de
perto.
— Ele morreu de um coração partido? — Havia ceticismo em sua voz.
Skyler quase sufocou. Quando conseguir por minhas mãos em você Josef, vai
morrer de mais do que um coração partido. Ela usou sua conexão telepática com Josef
para deixá-lo saber que estava em grandes dificuldades.
Uma tragédia terrível. Josef não estava arrependido, como sempre. Havia
diversão em seu tom. Não importa o quão sério a situação, ele não dava a mínima sendo
malicioso.
Ela conseguiu manter o rosto sério e deu a Varga um aceno solene com a cabeça.
— Ele simplesmente enfraqueceu quando sua namorada o deixou. Recusou-se a
comer. — Não tinha nenhuma escolha, a não ser continuar com isto, ainda que
significasse retorcer seus dedos com força, a fim de evitar que o oficial visse que estava
tremendo. — Foi uma tragédia terrível. Nada pôde salvá-lo.
Ok, até mesmo para meus ouvidos isto soa totalmente falho. Mas um coração
partido? Apenas Josef apresentaria algo tão dramático e incrível. De que outra forma
ela poderia explicar que ele morreu de um coração partido? Definitivamente haveria
outra causa de morte depois que abrissem o caixão.
Ela podia sentir o riso de Josef. Claro que você está rindo. Você está seguro no
caixão, o irmão tragicamente morto, enquanto eu estou com meu rabo parado aqui com
este homem que pode me jogar na prisão pelo resto da minha vida.
Ela sabia que Josef nunca deixaria que isto acontecesse. Se necessário daria ao
funcionário um “empurrão” para que acreditasse nela. Neste momento, Josef estava se
divertindo muito ouvindo-a se contorcer — e supôs que merecia isto. Estava fazendo
com que ele fizesse algo altamente perigoso, e a culpa seria dele muito mais do que dela
se qualquer coisa desse errado. Seu pai provavelmente o mataria assim que o visse.
Ele vai, Josef disse. Ele me rasgará membro por membro.
Você deveria estar preocupado comigo rasgando-o membro por membro, ela
ameaçou.
— Quanto anos você tem? — O funcionário olhou para seu passaporte e
documentos, e então de volta para seu rosto. — Você pilotou aquele avião?
Ela ergueu o queixo, tentando parecer mais velha e muito mais severa. Sabia que
parecia jovem, mas não seus olhos. Se ele olhasse diretamente em seus olhos,
acreditaria no que aqueles documentos falsos diziam. E eles eram boas falsificações.
Josef tinha muitos talentos, embora inventar histórias claramente não fosse um deles.
— Sou muito mais velha do que pareço. — Skyler respondeu. Era parcialmente
verdade. Ela se sentia mais velha, e isso deveria contar para alguma coisa. Passou por
mais do que a maioria das mulheres — OK, adolescentes.
— Vinte e cinco? — Ele disse ceticamente.
Josef insistiu que ela tivesse vinte e cinco se iria pilotar o avião. Pilotar aviões era
fácil para ela e algo que particularmente amava, então seu pai adotivo, Gabriel, permitiu
que aprendesse.
— Tenho que abrir o caixão. — Ele disse, observando-a de perto.
Skyler deu um pequeno soluço e cobriu a boca, movimentando a cabeça
ligeiramente.
— Sinto muito. Sim, claro. Eles disseram que você iria. Estava esperando que
fizesse. — Ela endireitou seus ombros e a coluna valentemente.
Ele olhou para ela muito mais amável.
— Você não precisa assistir. Fique ali. — Ele movimentou a cabeça para um canto
do edifício, apenas a alguns metros de distância.
Ela sentiu um pouco de pena dele. Se conhecesse um pouco Josef, sabia que ele
faria algum tipo de show.
Não se atreva a explodir isto para assustá-lo, ela advertiu. Falo sério, Josef.
Você não é nem um pouco divertida. Sempre posso remover as memórias dele.
Não seria tão delicioso fazer uma aparição de Conde Drácula? Assisti ao filme um milhão
de vezes. Tenho o olhar e o sotaque perfeito.
Ele soou extremamente ávido. Levou muita disciplina afastar a diversão de sua
mente onde ele poderia lê-la. Ela não duvidava nem por um momento que Josef pudesse
fazer uma aparição de Drácula perfeito.
Resista à tentação. Não estamos fora de perigo e não podemos nos dar ao luxo
de arriscar. Estamos em território dos Cárpatos. Ou pelo menos perto o suficiente, para
que alguém possa estar próximo para sentir o uso de energia. Contenha-se, Josef.
Ele deu um suspiro. Não importa qual o resultado, seu pai vai me matar, uma
morte lenta e dolorosa também. Eu devia poder ter um pouco de diversão.
Isso estava chegando muito perto da verdade. Gabriel iria matar todos eles, mas
se seu plano funcionasse isto valeria à pena.
Ela deu um pequeno sorriso de agradecimento à Varga e afastou-se do caixão.
De pé diante da porta aberta, os braços em volta de sua cintura para confortar-se, olhou
fixamente para o lado de fora na escuridão que caía, mantendo se muito quieta. Seu
plano tinha que funcionar.
Comporte-se, Josef, ou então. Gabriel está em Londres e eu estou aqui. Ela nunca
tinha estado no lado receptor da ira de Gabriel, mas ele e seu tio Lucian eram
legendários caçadores de vampiros. O povo Cárpato, o mais extremamente poderoso,
sussurrava o nome dele em reverência.
Você tem razão. O riso borbulhava na voz de Josef. Que desperdício de um bom
caixão. Agora havia desgosto em seu tom.
Skyler não podia dizer se ele se comportaria ou não. Era impossível com Josef.
Ele seguia suas próprias regras. Enviou uma oração silenciosa, esperando pelo melhor.
Neste momento, Francesca e Gabriel estavam provavelmente acordados e logo
estariam se preparando para voar para as Montanhas dos Cárpatos. Eles pensavam que
ela estava em um continente distante, segura com Maria, sua amiga humana da
faculdade, usando suas férias para ajudar a construir casas, e construindo irrigadores
para fazendeiros na América do Sul. Nunca mentiu para eles antes. Nenhuma vez. E
machucava-a fazer isto agora, mas não havia outro jeito.
Ela sabia que seus pais foram chamados para uma grande reunião entre Lycans
e Cárpatos, para discutir uma aliança entre as duas espécies. A maior parte dos Cárpatos
foi chamada para casa. Gabriel e Francesca ficaram mais do que felizes por receber um
telefonema dela da escola, pedindo para ir com Maria. Não a queriam em lugar algum
próximo às Montanhas dos Cárpatos.
Ela nunca pensou em como reembolsar a generosidade extraordinária deles, o
amor que lhe deram, desde o momento em que foi levada para a casa deles com
mentiras e traição — nem para nada ou ninguém aceitar Dimitri. Dimitri Tirunul era seu
milagre inesperado. Um homem além de qualquer coisa que já sonhara. Ela era humana.
Ele era Cárpato — quase imortal. Ela tinha dezenove anos. Ele era um antigo, séculos
mais velho. Mantinha a outra metade da alma dele, a luz para sua escuridão. Sem ela,
ele não sobreviveria. Era sua companheira — sua salvadora. No entanto, sabia
exatamente que o oposto era verdade: Dimitri foi quem a salvou.
Ele soube que ela era sua companheira quando ainda era uma criança, e deu-lhe
tempo. Espaço. Amor incondicional. Nunca exigiu qualquer coisa dela. Nunca lhe disse
o quão difícil era para ele — que ela era sua salvação, apenas fora do alcance. Ele sempre
esteve lá para ela, no meio da noite, quando seu violento passado estava muito perto e
não conseguia dormir, quando pesadelos a assombravam a ponto de não poder respirar.
Ele estava lá, em sua mente, segurando todas aquelas apavorantes memórias à
distância. Dimitri. Seu Dimitri.
Dimitri estava preso no meio entre as duas espécies. Os Lycans o levaram e
planejavam matá-lo. Ninguém foi atrás dele para salvá-lo. Ele passou séculos caçando o
morto-vivo para manter seu povo seguro, como também os humanos. Sobreviveu
honradamente quando outros escolheram desistir de suas almas. No entanto, não
houve nenhum grupo de resgate. Nenhum caçador estava correndo para salvá-lo. Ele
estava gravemente ferido. Ela sentiu isto antes dele desligar-se dela para protegê-la da
dor dele — ou de sua morte.
Dimitri era estoico sobre vida ou morte. Ele era um caçador Cárpato e esteve ao
redor por séculos, protegendo inocentes de vampiros. A linhagem dela era complicada,
mas para todos os efeitos e propósitos, ela era humana. Os Lycans nunca esperariam
que uma adolescente, uma garota humana fosse montar uma operação de resgate de
um Cárpato. Ela tinha o elemento surpresa ao seu lado. Isto, como também bons amigos
de confiança e suas habilidades poderosas, mas ainda não testadas.
Skyler tinha fé em si mesma. Conhecia cada força e cada fraqueza sua. Como
Josef, ela era extremamente inteligente e a maior parte do tempo subestimada.
Acreditava que os Lycans iriam subestimá-la — estava contando com isto.
Ninguém começaria uma guerra por um caçador Cárpato, ao que parecia, mas
ela sabia que seu pai viria atrás dela, e se alguém machucasse um fio de cabelo de sua
cabeça, o mundo dos Lycan viraria um pesadelo que não se poderia conceber. Não
apenas Gabriel viria atrás dela, como também seu tio Lucian. Estava bastante certa de
que seu pai biológico, Razvan e sua companheira Ivory, se juntariam à caça por ela. Eles
eram extremamente letais também. Havia satisfação em saber daquilo, se fosse ferida
ou morta, que seria vingada. Ninguém, nem mesmo Mikhail Dubrinsky, o príncipe do
povo Cárpato, seria capaz de parar uma guerra se os Lycans a ferissem.
Ela ergueu o queixo. Dimitri nunca a deixaria em perigo. Ele correria para salvá-
la no momento em que soubesse que estava com problemas; ele veio — mais de uma
vez apenas para acalmar seus sonhos ruins, e teve uma fila imensa. Ela não poderia fazer
menos por ele.
Prendendo a respiração, ela voltou-se para observar o funcionário abrir
cuidadosamente o caixão. Ele rangeu sinistramente. Medonho. Exatamente como no
cinema. O som enviou um frio por sua coluna. A tampa levantou devagar e, o maldito
Josef afinal, parecia como se fosse erguer-se. Varga recuou, uma mão levantando
defensivamente.
Houve um silêncio quando a tampa abriu. Nada se movia. Ela podia ouvir o som
de um relógio tiquetaqueando alto. Varga tossiu nervosamente. Ele olhou para ela.
Skyler colocou a mão sobre a boca e abaixou seus olhos.
Josef! Comporte-se. Skyler estava em algum lugar entre rir e chorar com a tensão
nervosa.
Varga voltou-se para o caixão e perscrutou dentro, gotas de suor visíveis em sua
testa. Ele limpou a garganta.
— Ele parece estar muito robusto para um homem que morreu de fome.
O mínimo que você poderia ter feito era parecer mais magro se queria que ele
acreditasse em sua história absurda, ela repreendeu.
Skyler apertou um lenço na boca.
— Eles fizeram um trabalho tão bom na casa funerária. Eu particularmente pedi
a eles para certificarem-se de que parecesse bem para nossa mãe.
Varga apertou os lábios e estudou o corpo. Ele estava suspeitando, mas ela não
estava certa do que. Claramente existia um cadáver no caixão. Ele suspeitava que
estivesse escondendo drogas? Armas? Se assim fosse, isso não era um bom sinal para o
que planejava. Precisava parecer com uma ingênua jovem adolescente, que poderia
estar ligeiramente tonta.
Ela prendeu a respiração quando ele agarrou a porta do caixão e lentamente
fechou-a.
— Alguém está vindo buscá-la? — Varga perguntou enquanto trancava a tampa
do caixão e olhava para o relógio. — Não posso ficar. Você era o último avião entrando.
— Um amigo de meu irmão arranjou uma caminhonete para nos levar. Ele estará
aqui a qualquer minuto. — Skyler assegurou-lhe solenemente. — Obrigado por toda sua
ajuda.
— Você pode esperar aqui. — Varga disse em uma voz gentil. — Voltarei em
algumas horas e fecharei. — Ele olhou ao redor do edifício em ruínas. Não eram nada
além de quatro paredes de metal, a maioria enferrujada, algumas tão ruins que tinham
buracos. — Não que haja muito para fechar. — Ele olhou novamente para o relógio. —
Esperaria com você, mas tenho outro trabalho para ir.
Ela mandou-lhe um sorriso pálido.
— Está tudo bem. Realmente. Ele estará aqui a qualquer minuto.
Varga deu-lhe um último olhar e saiu do frágil edifício, deixando-a lá apenas com
o caixão fechado. Skyler esperou até que viu o carro dele ir embora, e as luzes
desaparecem completamente estrada abaixo. Deu um olhar cuidadoso ao redor. Ela
parecia estar sozinha.
— Josef, você pode parar de fingir-se de morto. — Skyler disse, sua voz cheia de
sarcasmo. Ela bateu na tampa do caixão com o punho. — Morto por um coração
partido? Sério? Você não podia pensar sobre outra coisa, qualquer coisa, digamos mais
realista?
A tampa do caixão abriu com a mesma série de rangidos sinistros de filmes de
terror que ele usou, quando Varga abriu a tampa. Houve um silêncio. O coração de
Skyler disparou. Ela se debruçou sobre o caixão e olhou para o rapaz deitado como se
estivesse morto, seus braços cruzados acima do peito, os olhos fechados. Sua pele
estava pálida como porcelana e seus cabelos pretos espetados, com as pontas tingidas
de azuis, se destacando nitidamente contra o fundo branco.
— Você parece incrivelmente robusto para um homem que morreu de fome. —
Ela disse sarcasticamente, imitando o funcionário. — Podia ter estragado tudo com sua
história absurda.
Os olhos de Josef se abriram dramaticamente de repente. Ele forjou um sotaque
enquanto se sentava lentamente.
— Eu podia usar uma gota de sangue ou duas, minha querida.
Ela bateu-lhe na cabeça com seus documentos.
— O oficial da alfândega não acreditou que eu tinha vinte e cinco anos.
Josef deu-lhe um sorriso convencido.
— Você não tem. Você tem apenas dezenove, e quando Gabriel e Lucian
descobrirem o que nós fizemos, estaremos ambos em sérios problemas, do qual
nenhum de nós jamais conhecemos. — Ele fez uma pausa, o sorriso desaparecendo de
sua boca. — E estive em um monte de problemas.
— Nós não tínhamos escolha. — Skyler disse.
— Não se iluda, Sky, há sempre uma escolha. E não é você que eles irão matar.
Vou ser o alvo principal deles. Quando Gabriel e Lucian vierem procurar por você — e
eles virão. — Josef disse. — A encontraram. Eles não têm uma reputação à toa. Se
realmente fizermos isto, todos os caçadores Cárpatos estarão procurando.
Seu pai, Gabriel era extremamente poderoso, um caçador Cárpato lendário. Seu
tio Lucian, gêmeo de Gabriel, ajudou a criar aquela lenda entre o povo Cárpato, e
quando eles descobrissem que se ela foi, claro que viriam atrás dela.
— Este não é o ponto? — Skyler respondeu com um pequeno encolher de
ombros. — No momento que despertarem e perceberem que nós fomos embora,
teremos uma boa vantagem. Deveremos ser capazes de achar Dimitri.
— Você não percebe. — Josef disse, flutuando para fora do caixão. — Isto pode
muito bem causar um incidente internacional. Ou pior, a guerra. Uma guerra.
— Você concordou em me ajudar. — Skyler disse. — Você mudou de ideia?
— Não. Você é minha melhor amiga, Sky. Dimitri provavelmente me despreza e
deseja que eu morresse, mas ele é seu companheiro e foi literalmente lançado aos
lobos. — Josef mandou-lhe um pequeno sorriso, contente com seu trocadilho. — Claro
que vou ajudá-la. Eu lhe ajudei a bolar este plano, não é? E ele vai funcionar.
— Dimitri não o despreza, de fato está contente que seja meu amigo. Nós
conversamos sobre isto. Ele não é assim. — Skyler fez uma careta para ele. — Você sabe
muito bem que ele sabe que gosto de você como um irmão. Ele o defenderia com sua
vida.
Josef deu um sorrisinho para ela.
— Perdoe-me por menosprezá-lo apenas um pouco. Ele é bonito, inteligente, um
caçador antigo e seu companheiro. Destruiu todos os meus sonhos e fantasias sobre
você. Não me atrevo nem mesmo a imaginar por este caminho ou ele saberia.
Skyler revirou os olhos.
— Até parece. Até eu sei que você não pensa em mim deste modo, Josef. Você
pode esconder muitas coisas, mas não isto. Não há nenhuma fantasia e não destruí seus
sonhos. Sua companheira ou ainda não nasceu ou... — Ela sorriu maliciosamente para
ele. — Ela é provavelmente uma das filhas de Gregori.
Ele gemeu e golpeou sua testa com a palma da mão.
— Uma maldição você sempre proferir estas palavras, para colocar este
pensamento para o universo. Nem mesmo pense nisto, quanto mais dizer isto em voz
alta. Pode imaginar Gregori Daratrazanoff como sogro? Psiu, Skyler, você me quer
realmente morto.
Ela riu.
— Iria lhe cair bem, Josef. Especialmente depois de colocar que morreu de um
coração partido naqueles documentos!
— Poderia acontecer. Sou um romântico, sabe. Dimitri acha que sou uma criança,
assim como todos fazem, o que provavelmente seja bom, porque caso contrário ele me
veria como um rival.
— Você faz grandes esforços para manter a todos achando que é uma criança.
— Skyler apontou com um sorrisinho. — Você gosta que o subestimem. Você é um
gênio, Josef, e não deixa que qualquer um deles vejam-no verdadeiramente.
Deliberadamente os provoca.
O sorriso dele alargou até que parecesse positivamente malicioso. Ele soprou as
pontas dos dedos. — Isto é bem verdade. Não nego. — Seu sorriso enfraqueceu. — Mas
isso é muito diferente daquelas brincadeiras que faço com eles. Isto é grande, Skyler.
Quero apenas que entenda o que está em jogo.
— Claro que sei o que está em jogo.
— Sua família é uma das mais poderosas e lendárias famílias de nosso povo. —
Ele franziu a testa. — O que me lembra, por que você nunca se refere a Gregori como
seu tio? Ele é irmão de Lucian e Gabriel, então tecnicamente, ele é seu tio.
— Acho que nunca pensei sobre isto. Não o conheço. Nós moramos em Londres
e ele está aqui nas Montanhas dos Cárpatos, e nunca mostrou algum tipo de interesse
por mim.
— Ele é um Daratrazanoff — acredite em mim, Sky, ele está interessado em você.
Se você desaparecer, sua família virá procurar e estarão em pé de guerra. Toda a sua
família, especialmente Gabriel.
— Você tem medo de meu pai? — Skyler perguntou.
— Tenho notícias para você, Sky — todo mundo tem medo de seu pai, e se não
tiverem deveriam ter, especialmente quando se trata de você. Não notou o quão
protetor ele é com você? Seu tio Lucian é tão ruim senão pior, e se alguém mexer com
um daqueles homens ou alguém que amam, vão responder aos dois.
Skyler mordeu o lábio.
— Sinto muito, Josef, por colocá-lo nesta posição. Não posso voltar atrás. Tenho
que achar Dimitri. Sei que posso fazer isto. Este plano é perfeito. E nós dois sabemos —
e contamos que Gabriel e Lucian venham atrás de mim. Posso sair daqui sozinha,
realmente posso.
Josef desatou a rir.
— Agora realmente você perdeu a cabeça. Se deixar que faça isto sozinha, eles
realmente me matarão. Não, estamos aqui e temos que continuar. Acho que você é a
única que pode resolver isto. Mas Skyler, se entrar em dificuldade, realmente começará
uma guerra. Lucian e Gabriel não vão recuar se alguém machucá-la ou se for capturada.
Eles não se importarão com o que o príncipe disser. Seguirão você e ninguém ficará no
caminho deles. É melhor você entrar sabendo disto. Tem que saber das consequências
e se está disposta a enfrentá-las.
Skyler apertou os lábios. Pensou nas coisas um pouco mais, desde que ela e Josef
começaram com o plano.
— Dimitri é um bom homem. Ele poderia ter me reivindicado, me levado para
longe da minha casa e da única estabilidade que já conheci. Não poderia resistir a ele, a
atração dos companheiros é muito forte. Mas não o fez Josef, não importa o custo
terrível para ele. Não insistiu em me reivindicar ou nos atar. Ele não tem medo de
Gabriel. Nunca teve.
Josef acenou com a mão para o caixão e a tampa rangeu fechando.
— Eu sei. — admitiu suavemente.
— Ele sabia que eu não estava pronta, que precisava de um tempo para me
encontrar e superar... tudo em meu passado. — Skyler abaixou a cabeça, de forma que
seu rico cabelo sedoso cobriu sua expressão.
— Não Sky. — Josef disse. — Somos melhores amigos. O que aconteceu com
você não foi culpa sua, e nunca deve se sentir envergonhada.
— Não tenho vergonha — bem, não como você pensa. Acredito que Dimitri é um
grande homem e merece uma companheira que possa igualar-se a ele em tudo. Não sou
esta mulher ainda. Quero estar com ele; sinto esta necessidade quase tão forte quanto
ele, crescendo em mim a cada dia.
— Você acha que ele sustentaria seu passado contra você? — Josef perguntou.
Skyler sacudiu a cabeça.
— Não, ele muitas vezes está perto o suficiente para conversar comigo à noite,
quando não posso dormir. Conversamos muito de noite. Eu amo a voz dele. Ele é muito
gentil, nunca exigente. Sei que é difícil para ele. Posso sentir sua luta, embora
escondesse isto de mim a princípio. Você não pode entrar na cabeça de outra pessoa
sem eventualmente ver tudo. A escuridão ameaça tragá-lo o tempo todo, ainda que
nunca tenha me dito nada, nunca tentou me apressar. Certamente não me condenou
porque sou muito jovem — e com medo. Dimitri não me julga.
— Ninguém a julga, querida. — Josef apontou. — Você é muito dura consigo
mesma. Eu especialmente amei a fase quando tingia seu cabelo constantemente.
Demorou um pouco para que se encontrasse e se sentisse confortável com quem
realmente é.
A sobrancelha de Skyler ergueu rapidamente. Ela olhou sugestivamente para o
cabelo preto espetado de Josef, com as pontas azuis.
O sorriso dele era contagioso, revelando duas covinhas próximas a sua boca.
— Isto é quem eu sou. Descobri isto há muito tempo atrás. Gosto do meu cabelo
com as pontas azuis.
— Porque ninguém nunca vai adivinhar o quão inteligente você é. Eles ficam
muito ocupados olhando para seus cabelos, e os piercings que ocasionalmente coloca
apenas para enganar a todos. — Ela acusou, rindo suavemente. — Amo você, Josef, você
sabe disto, não é?
— Sei. É por isso que estou aqui, Sky. Não tenho muitas destas pessoas
importando-se comigo. Se você disser que precisa de mim, eu virei. — Ele afastou o
olhar dela.
Skyler pôs a mão no braço dele.
— Existem muitas pessoas que se importam com você Josef, você apenas não os
deixa aproximarem-se. Se desse a Dimitri uma chance, ele seria um bom amigo para
você. Sei que seria. Conversei com ele muitas vezes sobre você.
— Pensei que não o visse desde que esteve nas Montanhas dos Cárpatos.
— Ele achou que seria melhor se nos afastássemos um do outro. Sabia que seria
muito difícil para ele se eu ficasse fisicamente perto dele, mas vinha para Londres de
tempos em tempos quando precisava ouvir minha voz.
— Gabriel sabia? — Josef perguntou.
— Provavelmente. Ele nunca me perguntou, mas notei que quando Dimitri
estava próximo, Gabriel ficava mais perto. E quando Gabriel não estava comigo,
Francesca ficava por perto. Havia tempos que Tio Lucian e Tia Jaxon ficavam ao redor.
Eles ficavam agitados, assim eu sabia que era porque tinham medo que Dimitri fosse me
reivindicar.
— Mas ele não fez.
— Claro que não. Ele é um homem de honra. Não sou velha o suficiente para a
cultura dos Cárpatos, o que é engraçado porque na cultura humana eu poderia casar
facilmente. Ninguém pensaria duas vezes sobre isto.
— Você queria que ele a reivindicasse? — Josef perguntou curiosamente.
Skyler deu de ombros.
— Às vezes, sonho com ele. Nunca penso sobre outros homens ou até mesmo
olho para eles. É sempre Dimitri. Ele chama por mim e nem sequer está ciente disto.
Quando estamos conversando, mente com mente, vejo coisas. Como ele é solitário. O
quão escuro é seu mundo. Como é difícil para ele lutar contra a força constante da
escuridão. Ele suporta tanto por mim. Tanto por todos nós. Quando caça, isto se torna
mais difícil para ele. Toda vez que tem que matar. Vejo tudo isto e os sacrifícios terríveis
que faz por mim.
— Ele não iria querer que você visse estas coisas, Sky. — Josef disse gentilmente.
— Você sabe disto, não é? Machos Cárpatos, especialmente os caçadores, são como
rocha, totalmente guerreiros. E se ele achasse que não estava lhe protegendo desta
rastejante sombra, ficaria muito chateado.
Skyler sorriu para Josef.
— Não posso evitar o que vejo, Josef. Não sou exatamente como todas as outras
pessoas. Que tipo de mistura eu sou? Psíquica. Maga. Parte Cárpato. Filha da Terra.
Caçadora de Dragão. Vejo coisas que não estou destinada a ver. Sinto coisas que não
deveria. Sei que ele quase foi tirado de mim. Eu o senti. Chamei por ele. Cantei os cantos
curativos que ouvi Francesca cantar. Acendi velas e chorei por dias quando ele estava
tão longe que não conseguia alcançá-lo.
Ela olhou dentro dos olhos dele, deixando-o ver seu pesar. Josef era
definitivamente subestimado pela maioria das pessoas, mas ela via sua genialidade, e
valorizava a amizade íntima deles. Podia conversar com ele, contar-lhe qualquer coisa,
e ele nunca trairia sua confiança.
— Necessito dele. — Ela admitiu simplesmente. — E tenho que encontrá-lo.
Josef colocou o braço ao redor dos ombros dela.
— Bem, irmãzinha, isto é exatamente o que nós vamos fazer. Paul deve estar
aqui a qualquer minuto. Mandou-me uma mensagem dizendo que tinha tudo pronto.
— Ele cobriu seus rastros? Ele não lhe disse que uma vez Nicolas tomou o sangue
dele? Se ele o fez, pode localizar Paul.
— Baby, qualquer um deles pode nos localizar, e virão fervendo em nosso rastro
no momento em que percebem que você desapareceu.
— Eu sei disto. Estou apenas dizendo que não pode acontecer até que estejamos
prontos. — Skyler olhou novamente para seu relógio. — Ele está atrasado.
— Seu disfarce é perfeito. — Josef assegurou. — Ele sobrevoou com a família De
La Cruz, e disse-lhe que estávamos indo explorar as montanhas do lado da Ucrânia.
Iríamos acampar por algumas semanas. Claro que eles ficaram felizes de livrarem-se de
nós e ninguém questionou que gostaríamos de fazer algo juntos. Conversamos sobre
isso sem parar pelos últimos dois anos. Esta seria a oportunidade perfeita para nos
reunirmos, então eles compraram nossa história facilmente.
Skyler deu uma pequena fungada.
— Claro que não se importam se vocês saírem para acampar no meio do mato
juntos. Lembra quando eu quis ir a uma de suas viagens de acampamento? O mundo
quase acabou.
Josef riu e preguiçosamente encostou o quadril contra o caixão.
— Gabriel se transformou no grande lobo mau, e quase comeu Paul e eu no
jantar, apenas com a sugestão. Eu fiquei surpreso que ele tenha permitido que você
fosse para a faculdade. Você estava tão à frente de sua faixa etária na escola.
Skyler deu de ombros.
— Fui para casa à noite no primeiro ano. Eu precisei. Isso não teve nada a ver
com Gabriel e Francesca. Não sei o que teria feito sem eles. Precisei muito deles nos
primeiros dias. E eles realmente vieram quando precisei. — Lágrimas brilharam em seus
olhos. — Odeio pagar o amor e a generosidade deles com mentiras, mas não me
deixaram nenhuma escolha.
— Você tentou conversar com eles sobre Dimitri? — Josef perguntou.
Skyler assentiu.
— Sabia que algo estava errado, que Dimitri estava com problemas na última vez
que conversamos. Ele deixou abruptamente as Montanhas dos Cárpatos há algumas
semanas e então entrou em uma batalha terrível. Eu o senti escapando de mim. Estava
tão longe e quase não consegui alcançá-lo. Quando fiz, estava perto de partir. Podia
sentir o desvanecimento de sua força vital. — Ela olhou para ele. — Você se lembra
daquela noite? Eu o chamei para vir e me ajudar.
— Você estava na biblioteca da faculdade e felizmente estava vindo visitá-la,
então não estava muito longe. — Josef disse. — Mas não me disse o que aconteceu.
Apenas que Dimitri precisava de você. Você ficou acabada.
A memória daquela noite a agitou. Dimitri foi gravemente ferido. Mortalmente
ferido. Ela estava longe dele, estudando na biblioteca da faculdade — tão mundano —
a distância escurecendo sua conexão. Ela lhe estendeu a mão, sabendo que ele estava
em perigo e foi o irmão dele que encontrou. Quando tocou em Dimitri, ele estava tão
frio, gélido. Ela estremeceu, a frieza ainda em seus ossos. Às vezes achava que nunca se
livraria disto.
— Seu irmão estava lá, lutando por ele, seguindo atrás de sua luz desvanecendo
e tentando trazê-lo de volta. Chamei por Dimitri e implorei-lhe para não me deixar. Fiz
o meu melhor, mesmo através de uma distância tão grande, ajudei seu irmão a trazê-lo
de volta à terra dos vivos. Simplesmente não podia deixá-lo ir.
Ela pegou o lábio inferior entre os dentes, mordendo com força. Até agora seu
coração doía. Apertou a mão firmemente sobre a dor.
— Não posso perdê-lo, Josef. Ele sempre esteve lá para mim, desde que precisei,
de qualquer maneira que precisasse dele. É minha vez agora. Não o desapontarei. Vou
encontrá-lo e o ajudarei a escapar.
— Antes, quando ele estava morrendo, você podia alcançá-lo. — Josef aventurou
cuidadosamente, sabendo muito bem que estava caminhando por um campo minado.
— Por que você acha que não pode agora?
— Sei aonde você quer chegar, Josef. — Ela retrucou. — E isto não é verdade.
Dimitri está vivo. Sei que está vivo.
Josef assentiu.
— Eu entendo, Sky, mas isso não responde a minha pergunta. Talvez fosse
melhor descobrirmos por que você não pode alcançá-lo, quando sempre puderam
comunicar-se telepaticamente. Você é extraordinariamente poderosa. Muito mais que
alguns Cárpatos. Muitos de nós não podemos cobrir a distância que foi capaz. Então o
que está diferente agora?
Ela franziu a testa para ele. Josef era incrivelmente brilhante, e ainda que não
quisesse ouvir isto, precisava escutá-lo. Ele tinha razão. Ela podia cruzar grandes
distâncias para conectar-se com Dimitri — e ele com ela. Sentiu quando ele estava com
problemas, quando lutou em uma batalha com um bando de renegados, e tomou o
impacto do ataque a fim de dar a seu irmão a oportunidade de destruir um cruzamento
de vampiro/lobo muito perigoso.
Ela sentiu a dor de Dimitri, tão terrível que mal podia respirar. Bem ali, na
biblioteca de faculdade, quase caiu no chão, com aquele lampejo de dor que não era
sua. Seguiu aquela trilha de volta até ele, infalivelmente, apesar de sua luz
desvanecendo. Ao longo dos anos de conversas telepáticas, a conexão entre eles ficou
mais forte e, ela o encontrou até mesmo quando sua força vital estava desaparecendo,
viajando para outro reino. Se ela pôde fazer isto, Josef estava certo, por que não podia
encontrá-lo agora? Não fazia sentido — e deveria ter percebido isto por conta própria.
— Você está muito perto do problema. — Josef disse, provando que estava tão
sintonizado com ela, que praticamente podia ler seus pensamentos.
— Não gosto disto, quando não consigo pensar direito. — Skyler disse. — Ele
precisa que eu esteja cem por cento nisto.
— Acho que isto se chama amor, Sky, por mais que eu não queira admitir que
possa amar alguém além de mim. — Josef piscou para ela.
— Algo está realmente errado, Josef. Sei que está. Como posso encontrá-lo
quando ele já está tecnicamente morto, mas não posso fazê-lo agora?
— Talvez ele esteja inconsciente. — Ele aventurou.
Ela balançou a cabeça.
— Pensei sobre isto. Ainda assim eu poderia encontrá-lo. Sei que poderia. Há
algo sobre nossa conexão. É tão forte, que posso segui-lo em qualquer lugar. Posso tocá-
lo quando ele está no solo, rejuvenescendo na terra.
Os olhos de Josef arregalaram.
— De jeito nenhum, Sky. Ninguém pode fazer isto. Nós paramos nossos corações
e pulmões e não podemos nos mover. Este é nosso momento mais vulnerável. Como ele
poderia estar consciente?
— Não sei, mas sempre que eu o alcanço, dia ou noite, ele sempre esteve lá para
mim. Sempre. Não me lembro de uma única vez que não pudesse encontrá-lo. A Mãe
Terra sempre cantou para mim, uma vibração que posso sentir, e sabia onde ele estava.
— Você disse a Gabriel e Francesca que pode fazer isto? Você pode fazer isto
com eles? Comigo?
Skyler compassou através do solo, parecendo um pouco mais impaciente.
— Nunca pensei em contar a alguém, nem mesmo a Dimitri, o porquê disto. Mas
não, nunca tentei despertar mais alguém. Francesca e Gabriel ficam muito pouco tempo
sozinhos estes dias, então nunca considerei despertá-los. Pareceu natural voltar-me
para Dimitri. Sabia que ele precisava de mim tanto quanto eu precisava dele.
— Todo este tempo pensei que você tinha medo de uma relação com ele. —
Josef disse.
O sorriso de Skyler mantinha um pequeno humor.
— Nunca tive medo de uma relação com ele. Como podia? Nós temos uma
relação maravilhosa. Ele me trata como se eu fosse a melhor, a mulher mais desejável
do mundo. Ele é inteligente, podemos conversar sobre qualquer coisa por horas. Ele é
amável e gentil. É tudo o que uma mulher poderia querer em um companheiro.
— Estou ouvindo um “mas” aí.
— Não estou certa de que posso ser a companheira que ele verdadeiramente
merece. Sou boa no relacionamento sentimental e no relacionamento intelectual, mas
não tenho ideia se posso ser o que ele precisa fisicamente. Isto é um assunto
completamente diferente.
Josef balançou a cabeça.
— Skyler, não fique todo psicótica sobre isto. Acontecerá quando for o momento.
Dimitri nunca irá querer outra mulher. Nunca. Ele lhe dará todo o tempo que precisar.
— Eu sei. Eu entendo. Dimitri nunca me forçaria e nunca fez. Não é ele que está
me preocupando. Apenas fico ansiosa pensando sobre isto. Quero ser a melhor
companheira possível para ele, e minha mente apenas não aceita uma relação física
ainda.
Ela olhou novamente para seu relógio.
— É melhor Paul chegar aqui logo. Está certo de que ele escapou sem ninguém
suspeitar?
— Sim, ele está a caminho. Apenas alguns minutos mais. Você disse que Dimitri
está vivo. Se estiver, nós o encontraremos.
Skyler deixou escapar o fôlego lentamente.
— Não gosto nada disto. Detesto o fato de que o príncipe, juntamente com todos
os outros, o abandonaram.
Josef colocou o braço ao redor dela, e a abraçou apertado. O sorriso
enfraquecendo.
— Nós o encontraremos. Nós iremos.
Skyler agarrou-se a ele por um momento, e então acenou com a cabeça
endireitando seus ombros, e afastando-se dele.
— Não tem uma única explicação que posso encontrar sobre não ser capaz de
conectar-me com ele.
— O que quer dizer isto? — Josef perguntou.
— Ele está me bloqueando. — Havia dor na voz dela. — Ele tem que estar. Não
existe nenhuma outra explicação que faça sentido.

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