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CAPITULO VI

Maré das mágoas (antes de ser a cidade do demonio)


Era noite fria e Samantha estava no ponto mais alto da cidade em um Salgueiro bem mais
antigo que o próprio Vilarejo em que ela habitava, muitas pessoas acendiam velas no pé da
árvore como forma de agradecimento pela colheita, acreditando que ali era um antigo deus
que no fim dos seus dias de glória se transformou em planta para continuar a semear a
vida, mas para essa jovem os deuses não existiam e se existissem a muito haviam esquecido
aquele lugar.

Esse foi o ano da desolação para todos que habitavam a região nordeste, foi o ano em que o
deus da morte despejou toda a mágoa que sentia do povo de Angra. A miséria entrou em
todas as casinhas de taipa, se infiltrou pelos buracos do barro, adentrou pelas brechas da
porta de madeira da frente como um hóspede que fora bem-vindo, arrastou para seus
braços quem avistasse. O frio fora de epoca varreu grande parte da vida que ainda restava
das brenhas da pacata cidadela.

A menina estava muito longe de casa e sentia-se tão perdida como quando acordava no
escuro depois de um pesadelo. Estava com muita fome, sua ultima refeição havia sido um
naco de pão preto e bolorento na noite anterior e desde aquela manhã, quando saíra de
casa fugindo da morte, a única coisa que tinha no estômago era a sobra do papado amargo
que havia encontrado sobre o fogão onde os úlmos pedaços de lenha terminavam de
queimar.

Enquanto engolia a bebida morna percebeu que, apesar de não ter sido alimentado, o bebê
havia parado de chorar, e aquilo a fez entender que, se connuasse ali, o silêncio a alcançaria
também. Faminta, saiu à procura de algo capaz e aplacar a dor da fome. Sabia que não
encontraria nada no que restara da vila onde vivia com a mãe e o bebê. Não havia mais
ninguém depois que os poucos que não morreram de fome decidiram partir,deixando para
trás aquele lugar amaldiçoado.

Mesmo quando os úlmos moradores se foram, já há vários dias, a mãe se negou a deixar o
povoado enquanto o marido não voltasse. A menina não acreditava naquela ilusão, estava
certa de que o pai não voltaria para buscá-las, então, naquela manhã, enquanto a mãe
estava prostrada sobre o bebê silencioso, embrenhou-se na floresta com a esperança de
encontrar um coelho gordo que a mãe transformaria num guisado espesso e cheiroso e
aquele pensamento fez sua boca salivar e o estomago doer com mais força.

Caminhou por muito tempo sem encontrar coelhos ou qualquer outra coisa que pudesse
lhe servir de alimento. A cada passo, sena-se mais fraca e, naquele canto do mundo onde
nenhum raio de sol conseguia atravessar a copa das árvores, seu corpo frágil tremia
impulsionado pelo frio e pelo medo. A garotinha lembrara das tardes ensolaradas nas quais
corria para dentre as arvores com outros piralhos do povoado, quando à agua e a comida
não eram escassa, as pessoas apesar do pouco que tinham eram felizes, e havia sempre
cantoria dos passaros pousados nos galhos do grande Salgueiro. Conhecia cada centrimetro
daquele lugar, desde a entrada que não passara de dois grandes pilares, um de cada lado até
a gruta de aguas cristalinas que se encontrava a alguns passos dali. Mas de repente, a
floresta lhe pareceu um lugar assustador, cheio de sons estranhos e totalmente
desconhecido - uivos chorosos, bater de asas, pios e o farfalhar do vento – que a
perturbavam. Começou a adivinhar em cada canto olhos que a vigiavam, imaginando seres
que se escondiam na escuridão em nome dos deuses que ela tanto negava e que
despertariam a qualquer momento para atacá-la. Apavorada, decidiu voltar para casa, lá ao
menos estaria segura e poderia se aquecer ao lado do fogo.

Não percebeu que seu raciocínio começava a se turvar e, enquanto caminhava a esmo, teve
certeza de que a floresta a envolvia num abraço indesejado com seus galhos longos e
espinhos que perfuravam sua pele. Dominada pelo cansaço, sentou-se na relva senndo que
árvores ao seu redor arranhavam, feriam e violavam seu corpo.

Quis cair aos prantos, mas se houvera algo na qual puxara de teu pai fora o orgulho, preferiu
se encolher e abraçar as pernas e esperar.

Foi despertada pelo crocitar de um pássaro grande e negro que a observava com seus
minúsculos olhos escuros de uma maneira tão hipnozante que, quando ele voou se
afastando dali, ela levantou-se e o seguiu.

O pássaro movia-se com rapidez enquanto guiava a menina que corria com facilidade por
uma longa trilha aberta na mata. Não sabia para onde estava indo, mas contiava a seguir
aquela ave de penas negras e olhos lúcidos, adentrando cada vez mais na floresta, até que
chegou a uma clareira iluminada pelo que restava da luz do sol que já se punha. Logo a sua
frente os olhos da menina a maravilhou-se ao encontrar o pomar de macieiras carregadas e,
sem se preocupar com coisa alguma, correu em direção às frutas vermelhas. Em poucos
minutos devorou algumas maçãs mas somente depois, pudera perceber que o passaro em
um galho escuro e turvo a encarava nitidamente. Os olhos da garota de alguma forma se
mantia fixos na ave negra.

O passaro levantou voou, e se emergiu na densa floresta, a garota embora quisera ficar ali e
se deliciar naquelas enormes e suculentas maças, sentiu-se tão vibrada naquelas orbitas,
que se levantou e adentrou a mata. Por alguns minutos ela conseguira avistar perfeitamente
o passaro, mas em uma pequena fraçao de segundos o passaro negro cruzou com a
umbrosa sombra de uma enorme arvore, uma cortina de vento penetrou, correndo dentre
as arvores chicoteando violentamente. A menina tão definhada, sentira quase que os pés
saindo do chão. Ela fora arrastada para um lado tão sombrio da floresta, que pudera
acreditar que ali seria o fim da vida.

Assustada em meio à escuridão absoluta sentindo uma forte dor de cabeça quase que
interminavel, gritava ferozmente enquanto com suas mãos frageis tentavam segurar-se a
algum tronco de arvore. Mas a frente com todo confundo enxergara osfuscamente uma luz.
Com muita teimosia Samantha lutou contra os ventos e forçou as pernas a irem na outra
direção.

Enquanto a garota corria em direçaõ a luminescencia, se afundava em seus pensamentos,


lembrara da sua mãe, do bebe, de algums poucos aldeões que ainda morava no pequeno
povoado de Angra.

-*-

Angra dos Goblins agora se tornara uma cidade abandonada e esquecida pelo tempo, uma
densa névoa cobre suas avenidas e pátios, escondendo mistérios perturbadores. Criaturas
demoníacas e o próprio inferno residem nesta cidade, fazendo com que qualquer um que
adentre em seus limites sintam na pele o terror.

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