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CONTENÇÃO DE ANIMAIS SILVESTRES

Introdução

Os preceitos e procedimentos básicos da clínica são universais (semiologia,


propedêutica, terapêutica), e são comuns a animais selvagens e domésticos.
Entretanto, o acesso aos animais silvestres, na maioria das vezes, é muito mais
limitado se comparado com os domésticos. O conhecimento das técnicas de contenção
física e química é portanto de grande importância para o Médico Veterinário de animais
silvestres. Um sólido conceito de stress e o entendimento de sua fisiologia e patologia,
são indispensáveis para a utilização das técnicas de contenção.

STRESS OU ESTRESSE
Todo o ser vivo relaciona-se com o meio ambiente em que vive e luta
permanentemente contra forças potencialmente fatais. A relação do ser vivo com o
meio é mediada por receptores (estruturas ou órgãos dos sentidos ou sensitivos). Toda
alteração ambiental é portanto um estímulo e atua sobre um organismo através de
seus receptores. Os receptores estimulados encaminham mensagens que
desencadeiam reações. Todas as respostas ou reações são primariamente orientadas
para enfrentar a alteração ambiental, superá-la e retornar o ser vivo ao equilíbrio
orgânico (homeostase).
Organismos primitivos podem reagir ao calor, ao frio, à dissecação, à umidade
ou à falta de nutrientes entre outros estímulos. Os seres mais complexos
desenvolveram sistemas de informação sobre as mais diversas variações ambientais
que estimulam receptores e desencadeiam reações promovendo a adaptação orgânica
às novas condições.

Conceitos:

STRESS ou ESTRESSE é o conjunto de reações de um organismo frente a


agressões de ordem física, psíquica, infecciosa e outras capazes de perturbar a
homeostase. O stress é um fenômeno adaptativo, uma resposta cumulativa
resultante da interação do animal com o ambiente, mediado por receptores.
Por princípio, todo o estímulo recebido por um ser vivo (através dos seus
receptores) é um agente estressante.

Define-se homeostase como a normalidade orgânica, ou seja o estado de


equilíbrio fisiológico. Denomina-se adaptação fisiológica à capacidade que um
organismo tem de atingir a homeostase através de processos fisiológicos coordenados.
Define-se exaustão como a falência destes processos e a incapacidade de atingir a
homeostase.

Os agentes estressantes podem ser classificados em somáticos, psicológicos,


comportamentais ou diversos. O animal é estimulado por esses agentes ambientais
através de receptores. O sistema nervoso analisa e processa os impulsos vindos dos
receptores e envia mensagens aos órgãos efetores, produzindo reações específicas
ou inespecíficas.

Agentes somáticos podem ser sons, imagens, odores, toques, mudanças de


posição, calor, frio, pressão atmosférica, estiramento anormal de músculos ou tendões
e também o efeito de drogas e agentes químicos.
Agentes psicológicos exercem um importante papel na adaptação das espécies
selvagens ao cativeiro e aos métodos usados na contenção. Um animal apreensivo
pode ser considerado sob o efeito de um agente estressante suave, mas que se
intensificado pode evoluir para a ansiedade, o medo ou, na sua f orma mais severa, o
terror e a fúria. Outro importante agente psicológico estressante é a frustração. Quando
em ambiente natural e frente a uma situação estranha, o animal foge ou luta. A
frustração é determinada pela impossibilidade ou impedim ento do exercício destes
comportamentos.

Intimamente ligado aos agentes psicológicos impostos pelo cativeiro estão os


agentes estressantes comportamentais: São: a vizinhança não familiar, a
superpopulação, as disputas territoriais e/ou hierárquicas, as alterações dos ritmos
biológicos ou circadianos, a falta de contato social (ou ao contrário, a falta de
privacidade), a falta de alimentos habituais à espécie ou cuja necessidade foi induzida
pelo homem “imprinted”.

Os agentes diversos incluem má nutrição, toxinas, parasitoses, agentes


infecciosos, queimaduras, cirurgias, imobilizações físicas ou químicas e confinamento.
Quando estes fatores atuam durante um longo período podem contribuir para a fase de
exaustão na síndrome geral de adaptação.
O stress ou seja, a resposta orgânica, decorrente da estimulação de receptores pode
seguir as seguintes

V I AS D E R E AÇ ÃO :

● Via Motora Voluntária – (neuromuscular) Reação imediata. Trata-se de resposta


característica da espécie, são as chamadas defesas: morder, escoicear, unhar,
bicar, vocalizar…

● Via Sistema Nervoso Simpático – (endócrina: medular da adrenal) - Reação de


alarme. Trata-se de preparação para a fuga ou luta. A liberação de catecolaminas,
como a adrenalina e a noradrenalina, induz a uma série de alterações fisiológicas
como: vasodilatação na musculatura esquelética e cardíaca, vasoconstrição na pele
e nos intestinos, hipertensão arterial, hiperglicemia, broncodilatação, aumento da
taxa metabólica, midríase, piloereção e fasciculação muscular.

● Via Hipotálamo - Adenohipófise – (endócrina: cortical da adrenal) - Reação


crônica. Hiperfunção adrenocortical (cortisol). Efeitos somáticos: fraqueza muscular,
tremores, alopecia simétrica bilateral, aumento do volume abdominal, perda de peso,
aumento da susceptibilidade a inf ecções, queda de resposta imunitária (falha
vacinal), hipertensão arterial, má cicatrização, neutrofilia e redução da atividade de
linfócitos e eosinófilos. Efeitos psicológicos/comportamentais: tendência anti-social,
aumento da agressividade, anorexia/bulimia, adipsia/polidipsia, hipo/hiper
sexualidade.

CONTENÇÃO E ÓBITO POR STRESS

A contenção é possivelmente o momento de maior stress na vida de um animal


silvestre e pode levar o organismo a reações potencialmente fatais. O óbito decorrente
da contenção, pode ser superagudo (durante a realização da contenção), agudo ou
mediato (até 60 minutos após a contenção) e tardio (horas a dias após a contenção).
SUPERAGUDO
Fibrilação
ventricular
Bradicardia
colinérgica
Anóxia
Hipoglicemia
Trauma

AGUDO
Insuficiência
Adrenal
Timpanismo
Acidose
Hipo/hipertermia
Hipocalcemia
Fratura cervical
TARDIO
Miopatia de captura
Pneumonia
“aspirativa”
Choque

ACIDOSE

A excessivo esforço muscular decorrente da resistência aos procedimentos de


contenção leva a um grande consumo de glicose e produção de ácido lático. A acidose
determina polipnéia, confusão mental, tremores, convulsão, coma e morte. O
tratamento indicado é a manutenção das vias aéreas livres de obstruções (hiper-
ventilação compensatória), respiração assistida e aplicação endovenosa de
bicarbonato de sódio (4 a 6 mEq/kg).

FIBRILAÇÃO VENTRICULAR
A causa primária é a liberação de catecolaminas (adrenalina e noradrenalina)
durante a reação de alarme levando a taquicardia que somada a acidose e hipóxia
resulta em fibrilação. O animal debate-se e agoniza o que pode ser confundido com
resistência à contenção. A fibrilação impossibilita o bombeamento sanguíneo
determinando insuficiência circulatória, a inconsciência e morte.

BRADICARDIA COLINÉRGICA (SÍNCOPE FATAL OU BRADICARDIA VAGAL)


Os centros hipotalâmicos quando estimulados desencadeiam reações
principalmente do sistema nervoso simpático e, em menor grau, do sistema nervoso
parassimpático. Desta forma resulta uma reação adrenérgica, a típica reação de
alarme, com taquicardia e hipertensão arterial. Porém, se durante a contenção, houver
excessiva pressão sobre os globos oculares, os seios carotídeos (região cervical) ou o
abdômen ocorrerá estimulação hipotalâmica tão intensa que prevalecerá o “domínio”
do sistema nervoso parassimpático. Desta forma, a ação colinérgica supera a
adrenérgica, observa-se redução do pulso e da f reqüência cardíaca, queda da pressão
arterial, perda da consciência e óbito devido ao choque hipovolêmico. Como protocolo
preventivo, indica-se a aplicação de sulfato de atropina (0,05 mg/Kg) que age
bloqueando o impulso colinérgico (vagal). A ação do cloridrato de atropina é
parassimpaticolítica ou simpaticomimética.

MIOPATIA DE CAPTURA
Também conhecida como miopatia por stress ou esforço, é uma doença
muscular degenerativa de prognóstico extremamente reservado. Pode apresentar-se
sob a forma aguda (1 a 12 horas), subaguda (7 a 14 dias) ou crônica (semanas). É
observada principalmente nos bovídeos (antílopes, bisões), cervídeos (cervos e
veados) e eqüídeos (zebra, cavalo, asno e anta). A anóxia localizada, devido à
contratura de massas musculares é o fator determinante. A patogenia da miopatia de
captura envolve a alteração do pH, hipóxia e morte de fibras musculares com liberação
de potássio, mioglobina (necrose tubular aguda devido à toxicidade) e lactato. Os sinais
clínicos incluem dificuldade na marcha, rigidez e dor à palpação dos membros
(especialmente nas porções mais altas da região pélvica), paresia e decúbito.
Observam-se ainda dispnéia e taquicardia. As principais alterações laboratoriais são
acidose, elevação da creatinina fosfoquinase e de desidrogenase láctica, sendo menos
freqüente a hiperpotassemia.

PRINCÍPIOS DE CONTENÇÃO (MANEJO) DE ANIMAIS SILVESTRES


A primeira dificuldade com que se depara um profissional de zoológico é o
acesso ao animal. É a grande limitação identificada quando traçamos um paralelo entre
o manejo de animais domésticos e o de silvestres. As práticas de contenção, ao longo
dos tempos, levaram à domesticação diversos animais silvestres. É fácil justificar e
todos concordam que há necessidade de se conter animais domésticos para os mais
diversos fins (transporte, medicação, cirurgia. etc.) porém quando animais silvestres
são mantidos em cativeiro estas mesmas necessidades são também observadas.
Ao longo da história da ocupação humana, os ecossistemas tem sido
modificados para garantir o máximo de produção a partir de poucas espécies animais
ou vegetais, ou seja, ecossistemas em estágios imaturos, forçosamente instáveis e
mantidos unicamente pela constante interferência humana. A redução da primitividade
e da diversidade comprometem especialmente as espécies naturalmente vulneráveis
(endêmicas, raras, especialistas, variedades regionais ou subespécies e aquelas
associadas a ambientes extensos e primitivos). Na medida em que áreas naturais
primitivas residuais configuram-se como ilhas ou bolsões, circundados pela alteração
antrópica, o manejo ambiental surge como a ciência que procura adaptar as
características das interações dos hábitats, das populações animais e do homem, com
finalidades específicas. A fauna silvestre nestes ambientes restritos passa a comportar-
se de forma semelhante à de animais em cativeiro, carecendo portanto de manejo. No
manejo de animais silvestres, o conceito de contenção é utilizado com uma variada
gama de intensidades, pode significar desde confinamento até a total imobilização
através de recursos químicos ou mecânicos. O manejo compreende na acepção mais
restrita do conceito, a contenção animal.

CONTENÇÃO (“First you need to catch your tiger”)

Conforme recomenda o Prof. Fowler: devemos refletir antes de praticar uma contenção
e algumas questões básicas devem ser respondidas:

● Por quê – qual a justificativa ou o motivo para o animal ser contido ?


● Quando – em que horário (estação) será mais conveniente praticar a contenção?
● Como – que procedimento (técnica) apresenta o melhor custo benefício ?
● Quem – qual pessoa está mais qualificada/habilidata para praticar a contenção,
no menor tempo e com o menor stress ?
● Onde – qual o melhor local para o procedimento de contenção planejado ?

Quanto à técnica quatro questões devem ser respondidas para a seleção do


procedimento de contenção:

● É segura para o operador ?


● É segura para o animal ?
● Será possível realizar o procedimento planejado utilizando o método de
● contenção escolhido ?

Após a contenção será possível o acompanhamento até a recuperação plena ?


Inúmeros equipamentos ou recursos podem ser empregados na contenção, seja ela
química ou física. A diversidade dos animais silvestres em função do grupo ao qual
pertençam (mamíferos, aves, répteis, peixes ou anfíbios – dentre os mais
freqüentemente mantidos em cativeiro) ou quanto ao porte e grau de periculosidade
determina uma grande variedade de métodos e técnicas.
A correta e adequada contenção de um animal silvestre depende de vários fatores
tais como o conhecimento do seu comportamento e hábitos, o seu grau de
vulnerabilidade ao estresse, a capacidade de previsão das suas reações, o pleno
domínio do uso das técnicas e equipamentos a serem empregados e um planejamento
criterioso de todo o procedimento.
Inicialmente devem ser identificadas as chamadas “defesas” dos animais, para
reduzirem-se os riscos. Por exemplo, aves de rapina defendem-se e oferecem mais
perigo com as garras, felinos primariamente com os membros anteriores
secundariamente com a boca, os canídeos defendem-se com mordidas, as emas e, as
avestruzes podem causar graves acidentes com seus fortes chutes armados pelas
unhas que se assemelham a cascos, os primates cebidae mordem e tendo
oportunidade puxam as mãos do operador com qualquer um dos seus quatro membros
e também com a cauda. Os cervídeos, especialmente durante a época reprodutiva
podem atacar com chifradas, animais sociais podem defender elementos do grupo (um
macaco-prego que grite ao ser contido promove o ataque de outros indivíduos do
grupo). Aves do grupo dos tinamídeos (macucos, codornas e perdizes) quando
submetidas à contenção podem morrer por estresse em poucos minutos além de
perderem penas com muita facilidade.

CONTENÇÃO MECÂNICA
Diversos equipamentos são utilizados na contenção, desde redes, puçás,
ganchos, laços, cordas, peias, cambões, caixas e jaulas de pressão (com parede móvel
para apertar o animal contra uma lateral de tela), tubos plásticos (aves, répteis e alguns
mamíferos como os ouriços), tubos transparentes para répteis, luvas de couro, vendas,
sacos de pano, escudos, eletrochoque, extintor de incêndio, abre bocas, fitas adesivas
e muitos outros em conformidade com o animal e o objetivo da contenção.

CONTENÇÃO QUÍMICA
Para a contenção química, diferentes drogas e equipamentos de aplicação são
utilizados, porém, alguns quesitos são especialmente importantes para animais
silvestres. Uma boa droga deve permitir o uso intramuscular, deve ter uma grande
margem de segurança (DL 50), deve ter o menor período de indução e apresentar um
pequeno volume. Isto para permitir o uso de métodos de aplicação à distância (dardos),
através de rifles, pistolas (polvora ou ar comprimido) e zarabatanas, quando o peso real
do paciente é desconhecido.

Armas de arremesso de dardos:


Atualmente existem diversos equipamentos disponíveis no mercado, com grande
precisão e eficiência. Todos têm no entanto uma grande desvantagem, são importados
e o processo de importação é difícil e custoso. Além da arma, os acessórios como
dardos, agulhas, tufos, borrachas e especialmente as diferentes espoletas (de
arremesso do dardo e de impulsão do êmbolo) são também importadas e necessitam
de constante reposição.
As armas permitem tiros a longa distância (mais de 100 m) e volumes
relativamente grandes de drogas a serem aplicadas (cerca de 20 ml). O operador do
equipamento deve ser um atirador experimentado. Para diferentes distâncias são
utilizados diferentes espoletas de arremesso dos dardos e para diferentes tamanhos de
dardos são utilizados diferentes espoletas de impulsão do êmbolo. O erro na utilização
das espoletas pode promover acidentes graves e até fatais. Outro inconveniente é o de
fazerem muito barulho.

Zarabatana
De confecção artesanal, as zarabatanas e os dardos (feitos a partir de seringas
descartáveis), são práticas, baratas e de fácil reposição. O impacto do dardo da
zarabatana sobre o animal é sensivelmente menor que o promovido pelo dardo da
espingarda e os riscos de acidentes são reduzidos. O tiro da zarabatana é silencioso.
Suas grandes limitações são o volume disponível do dardo (cerca de 5 ml) e a distância
de alcance (cerca de 15 metros no máximo). O operador deve ser experiente e manter-
se continuamente em treinamento pois as variáveis de tiro são diversas (diferentes
pesos dos dardos em conformidade com o volume da droga, interferência dos ventos,
tamanho do animal-alvo, distâncias).

SÍNDROME DA MIOPATIA DE CAPTURA

Introdução

Também conhecida como miopatia do stress ou do esforço, é uma doença


muscular degenerativa de prognóstico extremamente reservado, associada ao stress
de captura, contenção física e/ou química e transporte de animais selvagens. Além dos
herbívoros silvestres, a miopatia de captura já foi descrita em diversas espécies de
mamíferos e aves, incluindo primatas, pinípedes, marsupiais, bovinos, eqüinos,
canídeos, ovinos e flamingos. Pode apresentar-se em forma aguda (1 a 12 horas),
subaguda (7 a 14 dias) e crônica (semanas).

O termo stress é descrito como: a reação adaptativa de um animal


desencadeada por um estímulo interno (fisiológico ou psicogênico) ou ambiental que
altera o estado de homeostasia.

O stress pode ser classificado em três subtipos:

● Eustress - estímulo benéfico para o animal


● Stress neutro - envolve respostas que não afetam o bem estar, conforto ou
reprodução
● Distress - prejudica, causa respostas que interferem no bem estar e/ou na
reprodução
O distress prolongado pode causar diferentes graus de perturbações,
consideram-se como fatores predisponentes o medo, a ansiedade, a hipertermia, o
esforço muscular intenso e a tensão muscular constante (reação de alarme
prolongada), manipulações repetidas e transporte prolongado. A anóxia localizada,
devido à contratura de determinadas massas musculares em posições anormais, pela
manutenção de animais em redes ou jaulas de contenção, é também é fator
determinante da ocorrência dessa enfermidade.

Sinais característicos:

Acidose grave
Choque e óbito
Necrose de músculos esqueléticos
Necrose cardíaca (devido à acidose)

A patogenia da miopatia de captura envolve duas teorias inter relacionados: a


alteração do pH e a hipóxia tecidual; levando fibras musculares à morte e liberando
potássio, mioglobina e lactato, substâncias que desempenham importante papel na
gênese da enfermidade. O potássio age na musculatura cardíaca produzindo fibrilação,
e a hiperpotassemia explicaria a morte por insuficiência cardíaca. A
hiperglobulinemia, devido à extrema toxicidade da mioglobina, leva a necrose tubular
aguda que por sua vez induz a insuficiência renal aguda. A acidose devida a altos
níveis de lactato reduz o pH ocasionando choque e falência geral.
As principais alterações laboratoriais são acidose, elevação da creatinina
fosfoquinase e de desidrogenase láctica, sendo menos freqüente a hiperpotassemia.

Sinais clínicos:

Insuficiência cardíaca e morte


Enrijecimento do dorso, ancas e membros posteriores.
Paresia paralisia ataxia prostração
Trauma de membros
Dispnéia e taquicardia
Mioglobinúria

Os sinais clínicos normalmente observados incluem dificuldade na manutenção


da estação (postura em pé), rigidez e dor à palpação dos membros (especialmente nas
porções mais altas da região pélvica), paresia e evolução para paralisia, prostração e
decúbito. Observam-se ainda dispnéia e taquicardia.

O prognóstico da Miopatia de Captura tende a ser desfavorável, de maneira que


o veterinário deve atuar com presteza na sua prevenção, tendo em mente que tal
enfermidade pode ocorrer com freqüência após procedimentos de contenção. Para
tanto se deve minimizar o concurso de diversos f atores etiológicos, trabalhando de
forma a evitar o stress, habituando o animal ao seu ambiente de cativeiro. A instituição
de jejum previamente aos procedimentos de contenção permite a obtenção de menores
taxas de glicogênio na musculatura, o que atua de maneira protetora contra a
excessiva liberação de lactato no músculo. Na medida do possível devemos evitar
trabalhar com indivíduos predispostos em ambientes ou recintos muito quentes, bem
como evitar o uso de drogas que causam hipertermia como o cloridrato de xilazina. É
muito importante o controle da temperatura retal e o resfriamento do paciente com
banhos frios em caso de hipertermia.
Alguns cuidados que devem ser tomados:

● Quando do planejamento de uma captura/imobilização, constitua uma equipe


composta por um grupo reduzido de pessoas bem treinadas e entrosadas. Evite
ruído e movimentos bruscos.
● Evite procedimentos de captura/imobilização durante os períodos mais quentes
e úmidos do ano e/ou dia. Caso isso não seja possível, mantenha a cabeça, as
patas e as orelhas do animal constantemente úmidas e providencie para que
uma vez capturado, o animal seja prontamente transportado para um lugar
arejado e sombreado.
● Durante a contenção monitore continuamente a temperatura corpórea do animal
e tenha equipe e equipamentos necessários para o pronto tratamento da
hipertermia.
● Escolha o método de captura, dando preferência a contenção em cambiamentos
em vez das técnicas que requeiram perseguição. Caso esta seja necessária,
limite-a ao menor tempo possível.
● Se a captura do animal limita-se a translocação, providencie para que o meio de
transporte tenha as condições necessárias, principalmente no que se refere à
ventilação e espaço. Logo após a captura a maioria dos animais está
desidratada, por isso um suprimento farto de água fresca deve ser fornecido.
● Uma vez liberado no recinto, alguns cuidados especiais devem ser tomados.
Certifique-se que o animal não seja fustigado por animais residentes e evite
nova contenção nos próximos 14 dias.

O tratamento de processos agudos deve incluir a oxigenação adequada do paciente e


a administração, por via intravenosa, de Bicarbonato de sódio, em doses de 4 a 6
mEq/Kg (1g de bicarbonato = 12 mEq; 500ml de solução a 6% contém 30g de
bicarbonato; na solução de bicarbonato a 8,4% 1ml = 1 mEq).
A miopatia de captura pode ser classificada em subtipos:

1. Síndrome do choque de captura


2. Síndrome da ataxia mioglobinúrica
3. Síndrome da ruptura muscular
4. Síndrome da morte súbita

1. Síndrome do choque de captura


Pode ser observada em animais capturados recentemente ou pode ocorrer
durante a contenção. A morte advém de 1 a 6 horas após a captura. Os sinais clínicos
incluem: depressão, taquicardia, hipertermia, hipotensão (pulso filif orme) e m orte. Na
necropsia observam-se congestão e edema dos pulmões e severa congestão do
intestino delgado e do fígado.

2. Síndrome da ataxia mioglobinúrica


É mais freqüente, pode ocorrer horas ou dias após a captura. Os sinais clínicos
incluem: ataxia, torcicolo e mioglobinúria podendo ser severa ou mediana. Os casos
medianos podem sobreviver. Na necropsia são observadas lesões renais e da
musculatura esquelética. Bexiga urinária vazia ou com pequena quantidade de urina
escura. Músculos lombares e cervicais e flexores e extensores dos membros com
áreas multifocais pálidas, moles, linhas claras. As lesões são bilaterais mas não
simétricas, são tênues em animais que sobrevivem 1 a 2 dias e pronunciadas em
animais com lesões mais antigas.
3. Síndrome da ruptura muscular
Após a captura aparentam estar normais apresentando sintomas após 1 a 2
dias. Os sinais geralmente são uma marcada linha nos quartos posteriores e hiper
flexão dos cascos. Ocorre geralmente a ruptura uni ou bilateral do músculo
gastrocnêmio. Podem sobreviver diversas semanas mas a maioria morre. Na
necropsia observam-se extensos hematomas subcutâneos, e multifocais lesões pálidas
e moles em porções dos membros, diafragma, músculos lombares e cervicais

4. Síndrome da morte súbita


Geralmente ocorre em animais que foram submetidos à captura nas últimas 24
horas. Estes animais parecem normais enquanto não são perturbados. Se perturbados,
contidos ou repentinamente estressados eles tentam correr, escapar, porém param
abruptamente e permanecem em postura ou deitam quietos alguns momentos, os
olhos ficam dilatados e morrem após alguns minutos. Esta forma é rara. Morrem com
fibrilação ventricular e na necropsia não são observadas lesões características

CONCLUSÃO
A miopatia de captura é uma síndrome para a qual mesmo a mais agressiva
terapêutica costuma ser infrutífera. A compreensão apenas parcial da sua fisiopatologia
aponta para a necessidade de estudos detalhados desse processo. Com as
informações disponíveis até o momento, fica claro que o melhor tratamento é o
profilático. A escolha certa dos métodos de captura, contenção e transporte, associada
ao manejo executado por uma equipe treinada e entrosada pode reduzir
significativamente a incidência da miopatia.

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