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2023
DEVORADA POR ELE
Quando de repente, como se Deus tivesse ouvido suas súplicas para que ela
encontrasse logo a caverna, a garota se deparou com aquela enorme cavidade
subterrânea. A entrada escura, ao mesmo tempo que parecia lhe convidar para
dentro, parecia lhe alertar para se afastar enquanto fosse possível. Safira
analisou a situação, nunca havia explorado aquela caverna antes, e foi ali, bem
ali, que seu pai entrou e nunca mais foi visto. Um sentimento de insegurança
tomava conta dela, enquanto cada vez mais ela tentava enxergar com nitidez o
que havia dentro da caverna, mais se sentia tentada à entrar. Sem mais
delongas, a garota adentrou a caverna.
Era espaçosa no começo, porém quanto mais ela adentrava, mais estreita ia
ficando, a lanterna vibrava em suas mãos, trêmulas pelo nervosismo e
ansiedade. Sentia as gotas caindo do teto da caverna, o que acreditava ser
provavelmente causa das diversas infiltrações devido à chuva. Safira se
aventurava cada vez mais, tentando explorar cada mínimo detalhe da caverna.
O espaço ficava escasso à cada passo dado por ela, até chegar à um momento
onde Safira foi obrigada a abandonar sua mochila no meio do caminho, já que
com ela, a garota não conseguiria se esgueirar naquele pequeno espaço. Mas
antes ela agarrou alguns poucos suprimentos, como uma corda que amarrou ao
seu corpo. Ela rastejava tentando se locomover pela caverna. O espaço era
minúsculo, qualquer claustrofóbico desmaiaria ali, e Safira sabia que só estava
conseguindo se mover por ser uma garota deveras esbelta e flexível, então se
perguntou como seu pai teria passado por ali, um homem alto e com um porte
físico consideravelmente grande. Ela pensou o quanto o homem era ardiloso.
Ela adentrou mais e mais àquela cavidade, mais espaçosa que o ambiente que
se encontrava anteriormente, acima do buraco. Safira mergulhava naquele
lugar e algo a dizia que não havia mais saída, como uma voz sussurrando ao seu
ouvido, uma voz angustiada, desesperada, que suplicava para que ela tentasse
subir de volta e saísse imediatamente dali. Era como se houvesse alguém ali
com ela, bem ao seu encalço, tentando alertá-la. Safira foi tomada por um
sentimento lúgubre, de agonia e apreensão, ela não queria voltar, mas agora se
sentia atormentada ali dentro.
De repente, ouviu-se um barulho, uma espécie de ruído, um soar rouco vindo de
cima, no teto da cavidade. Safira não conseguiu identificar o que era, estava sem
sua lanterna e tudo se encontrava completamente escuro. Ela tentou se mover,
mas a mão esquerda, apoiada à parede ao seu lado, parecia ter sido engolida
pela gosma. Safira se desesperou, tentando livrar o braço daquela repulsa
asquerosa. Ela fez tanta força que conseguiu livrar seu braço, mas indo de
encontro ao chão, onde topou com algo familiar; sua lanterna. Safira tentou
alcançar o objeto, apenas para perceber que agora seu corpo inteiro ao chão era
tomado pela gosma, e o ruído que havia ouvido antes, tornou-se mais alto,
ensurdecedor, era como um grito de desespero, e a gosma continuava engolindo
seu corpo. Safira conseguiu alcançar sua lanterna, e quando a acendeu, foi
tomada pelo tormento, pois a cena que viu foi aterrorizante.