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Para quem os sinos tocam?

As folhas me lembram que o inverno está próximo. Faz mais de 14 horas que estamos na
estrada, eu particularmente adoro o outono, é minha estação favorita porque é nessa época
que eu tenho férias.
Conheci meu namorado, Nick, na faculdade, ele me encantou muito, eu nunca pensei que
fosse me apaixonar daquele jeito, pois sempre tive um padrão bem alto… Porém ele é
perfeito, é extremamente carinhoso e atencioso, tudo o que uma garota poderia imaginar.
Inicialmente, eu queria passar meu recesso com minha família em Londres, mas o Nick
queria muito que eu visitasse a cidade natal dele, e para ser sincera eu quero passar todos
os momentos possíveis com ele, então decidi adiar minha viagem.

— Nick, já estamos perto?

— Estamos quase chegando, meu amor.

Ouvir essas palavras dele me reconforta, já não estava aguentando mais ficar naquele
carro, quanto antes chegássemos melhor ficaria. Depois de um tempo percebi que
estávamos chegando perto de locais habitados, isso me alegrou muito, mas quando fomos
adentrar mais naquela cidadezinha percebi que tinha algo errado.
Senti o tempo esfriar e o vento ficar mais forte, podia ser o local, mas eu sentia que o
arrepio na minha nuca significava mais do que a falta de um casaco. E isso ficou mais claro
após reparar numa cena que parecia começar a se tornar comum.

— As árvores daqui tem uma beleza diferenciada, quase todas tem cartazes de pessoas
desaparecidas.

— Oh, me desculpe, Vivi, não contei mas Churchill é a cidade com mais casos de ataques
de urso no Canadá, por isso tantos folhetos — Ele riu baixo e depois respirou fundo — Pra
falar a verdade, não mencionei esse fato por medo de você desistir de vir.

— Eu dificilmente viria para um lugar assim nas férias. - Dei um beijo nele. - Mas você teve
uma boa intenção.

— Você vai gostar, Vivi, eu prometo.

Ele tinha um brilho de divertimento nos olhos, eu realmente não me sentia à vontade em
uma cidade com tantos desaparecimentos, mas ele estava tão feliz, tão empolgado, que
resolvi dar uma chance àquele lugar.
Depois de um tempo, chegamos na cabana, ela era pequena e toda de madeira, parecia
aquelas típicas dos filmes. Eu achei ela um pouco distante da cidade, uma boa escolha para
quem quer um local reservado.

— Vai ser inesquecível, eu prometo. - Falou com um ar travesso nos olhos.

Entramos na cabana. Por dentro, tudo era aconchegante, carpete vermelho no chão,
lareira e televisão na sala, móveis de madeira escura, que davam uma certa combinação
com o carpete. Tudo foi incrivelmente planejado para criar o ambiente mais confortável o
possível. Depois de ter visto este lugar, fico imaginando como Nick tinha coragem de deixá-
lo.

— E aí, o que achou?

— Eu adorei! A viagem foi longa, a gente podia pedir comida, estou com muita fome.

— Eu tenho o número de um restaurante aqui em algum lugar, a gente pode pedir cornish
pasty.

Eu concordei, não tem como você passar muito tempo sem comer um cornish pasty. A
entrega foi rápida, Nick ainda pediu vinho para acompanhar. Ouso dizer que é uma das
melhores férias que eu já tive. Passamos o resto do dia assistindo um filme, mas logo o
cansaço nos abateu e tivemos que ir dormir.

•••

Acordei meia-noite com um barulho. Inicialmente era só um barulho estranho, mas


quando comecei a prestar atenção, era o barulho de um sino semelhante aos de igreja. Eu
logo me levantei, mas o Nick continuou dormindo (ele dorme como uma pedra). Me levantei
e fui até a porta para ver de onde vinha esse barulho. Abri a porta e olhei ao redor e não vi
nada, nem mesmo uma construção. “De onde vem esse barulho?” pensei.
O fato é que passei o resto da noite sem dormir. Nick acordou assim que amanheceu.

— Amor, você levantou cedo… - Ele parou assim que viu minha cara. - O que aconteceu?

— Nick, ouvi um barulho de sino que não parava, nem consegui dormir direito.

— Que horas foi isso?

— Meia-noite! Quem diabos toca um sino meia-noite?!

— Não faço ideia, não há nada aqui perto, deve ter sido algum trote, algumas crianças
costumavam vir aqui pregar peças.

— Hum, não sei, isso é muito estranho.

O desconforto na minha voz era muito evidente. Ele se aproximou de mim e me abraçou.

— Vou procurar saber o que aconteceu, eu prometo. Mas tente relaxar, dormir um pouco,
a viagem de ontem foi cansativa. Mais tarde eu levo seu café da manhã.

— Não sei o que seria da minha vida sem você.

— Nem eu da minha… Mas agora durma, Vivi, você precisa descansar.


Consegui descansar um pouco após as palavras do meu namorado me acalmarem, mas,
ainda sim, muitos pensamentos desconfiados continuavam aparecendo na minha mente.
Após comer me senti mais animada, não mais com tanto medo que havia sentido antes.
Depois de um tempo, Nick me convidou para dar um passeio, ele contou que era para
tentar me distrair, fiquei empolgada porque queria sair. Quando coloquei os pés do lado de
fora, senti aquele frio estranho novamente. Meu namorado me disse que estávamos indo
para um lugar lindo, uma cachoeira que ficava aos arredores da cabana.
Nós fizemos uma caminhada um pouco longa para chegar até lá, fiquei meio assustada
com os barulhos da floresta, mas a beleza e o canto dos pássaros deixaram a trilha bem
mais agradável. Quando cheguei, toda minha atenção ficou voltada para a beleza
paradisíaca na minha frente: Uma cachoeira de águas cristalinas. Ao redor havia uma bela
grama, verde repleta de arbustos com rosas vermelhas, todas as flores davam um cheiro
agridoce no ar.

— E aí, gostou?

— É simplesmente perfeito! Eu estou apaixonada!

— Gostaria de algo mais provocante e inesquecível?

— O que?

— Você vai ver, vai adorar!

— Não! Não! Isso não! — Ele me pegou nos braços e me jogou na água — Nicholas!

Ele riu e tirou a camisa. Parecia aquelas estátuas gregas antigas: lindo e perfeito. Ele
pulou na água e foi na minha direção, sorrindo. Eu esperei ele se aproximar e joguei água
nele, surpreendendo-o. Em seguida, ele revidou, Em seguida, ele revidou,e assim
brincamos por um bom tempo.
Logo o clima foi ficando mais quente quando começamos a nos aproximar, ele envolveu
suas mãos na minha cintura, e me puxou. Nossos corpos estavam colados, respirações
ofegantes. Olhávamos olho a olho com um brilho de divertimento nos olhos. Ele pegou o
meu queixo, se aproximou e me beijou. Foi maravilhoso! Meu cérebro derreteu e todo o
meu corpo formigou. Parecíamos uma só pessoa, sincronia perfeita, pensamentos juntos e
pura química.
Foi um beijo demorado, quando nos demos conta, pingos de chuva caiam em nossos
rostos. Pelo aspecto das nuvens, ia vir uma chuva muito forte. Então resolvemos ir logo
para a cabana. Ao chegar na cabana, Nick disse que tinha uma surpresa para mim. Eu
fiquei bastante curiosa, mas logo ele mostrou o que era: uma torta de maçã! (a minha
favorita). Ele me explicou que conhecia um cara que vendia tortas na cidade e pediu para
ele trazer enquanto a gente ia passear.

— Nick, você é o namorado que qualquer garota desejaria ter! Foram os melhores dias da
minha vida!

— Você sabe que, por você, eu faria de tudo. - Ele se aproximou e tocou no meu rosto. -
Eu te amo Vivian.
— Eu também te amo, Nick. Boa noite.

E nos beijamos novamente! Achei que iria derreter! Eu realmente tenho muita sorte de
ter um namorado perfeito como ele.
O tempo passou e ficamos com sono. Eu estava apreensiva, tinha medo daqueles
barulhos de sino tocar hoje de novo. Mas Nick me garantiu que se isso acontecesse, eu
poderia acordá-lo que ele veria o que era. Isso me deixou um pouco mais calma, no
entanto, o sono começou a me dominar e meus olhos ficaram cada vez mais pesados, em
pouco tempo adormeci.
Novamente, como eu temia, quando deu 00:00 novamente começou o barulho do sino.
Eu acordei muito irritada, sinceramente, essas crianças estavam indo longe demais. Olhei
para o meu lado e Nick continuava dormindo pesadamente, pensei em acordá-lo, mas seria
rude da minha parte tirar seu sono por causa de uma simples paranóia minha. Decidi
acabar com a graça dessas crianças sozinha!
Abri a porta e não havia nada, chamei por alguém e não obtive resposta. Havia uma
forte tempestade lá fora então voltei para a cabana atrás da minha capa de chuva e de uma
lanterna. Por sorte, havia uma no quarto, verifiquei se tinha bateria e continuei minha
pequena aventura. Com a lanterna em mãos, segui na direção de onde vinha o barulho do
sino, que parecia ficar cada vez mais alto.
Eu estava assustada, não via nenhuma criança, estava extremamente escuro e minha
cabeça brincava comigo fazendo com que eu pensasse que o barulho dos meus passos
eram os de outra pessoa. Continuei andando um pouco mais até ver uma luz alaranjada
que parecia vir de uma fogueira; ainda estava consideravelmente perto da cabana, então
resolvi matar a curiosidade e segui o caminho até a chama. Ao chegar mais perto percebi
sombras próximas à luz, olhei direito e eram pessoas vestidas com roupas de capuzes que
pareciam ter vindo da época medieval. Eram eles que tocavam o sino que tanto me
atormentava.
Isso tudo já era estranho demais, porém, havia algo que parecia ser o mais bizarro de
toda a situação; um saco preto. Eu tinha certeza que aquele saco não era de um tamanho
normal e isso se provou verdade quando eles o abriram e alí se mostrou o corpo de um
jovem. Era tão nojento, não parecia estar há tanto tempo morto, mas já estava começando
a se decompor. Ele estava completamente nu e parecia ter queimaduras em algumas partes
da barriga e do rosto.
Paralisei, não conseguia mexer os meus membros do meu corpo depois de avistar
aquela cena. "O que diabos, era aquilo?" pensei. Seja o que fosse, eu precisava sair dali de
fininho, pegar o meu namorado e sair desse lugar horrível. E então ligar para a polícia
imediatamente!
Comecei a me mover devagar, já que ninguém havia me percebido ainda. Aos poucos fui
me afastando, e quando estava longe o bastante, comecei a correr para encontrar o Nick.
Medo, era a palavra que resumia o que eu estava sentindo, cada vez mais meus
pensamentos estavam perdidos, só queria chegar o mais rápido possível na cabana, a
tempestade estava cada vez mais forte, mas eu tinha apenas um objetivo, ficar perto do
Nicholas.
Os sons dos trovões e os relâmpagos me faziam ficar ainda mais apavorada, porém, já
conseguia ver a cabana ao longe. Quando adentrei a cabana, uma falsa sensação de alívio
percorreu meu corpo, precisava falar com o Nick imediatamente. Entrei no quarto iluminado
pelos relâmpagos, cheguei perto da cama, mas Nick não estava lá. Tentei manter a calma e
pensei que ele poderia ter saído para me procurar já que saí sem avisá-lo. Precisava
encontrá-lo logo, e se ele encontrasse aquela gente estranha? Então, deixei o medo de lado
e entrei na floresta novamente para o procurar.
O nervosismo dominava o meu corpo, e se Nick estivesse em perigo? Resolvi
momentaneamente não pensar no pior, mas era inevitável numa situação como essa.
Continuei caminhando, até que senti alguém puxar meu braço. Por impulso, soquei o que
havia me puxado. Mas quando me virei, para minha surpresa era o Nick.

— Ai! Sou eu, amor.

— Seu maluco! Você me assustou!

— Fiquei preocupado com você porque acordei e não te vi.

— Eu ouvi aquele barulho de sino e fui investigar e encontrei um grupo estranho com um
cadáver!

— Calma Vivian, explique essa história direito.

Nesse momento a tempestade chegou ao seu ápice, os raios aumentaram e os trovões


estavam mais altos do que nunca.

— Eu caminhei… e vi pessoas com um corpo em volta… de… uma fogueira… e eles


estavam usando um capuz preto.

— Que assustador, melhor a gente voltar pra cabana e arrumar nossas coisas para ir para
casa.

— Tudo bem… mas eu ainda estou sentindo um mau pressentimento.

Caminhamos rapidamente para a cabana. Chegamos! Eu estava abrindo a porta quando,


de repente, ouvi um barulho e tudo ficou escuro, a última coisa que vi foi meu corpo
sangrando e Nick por cima de mim…sorrindo.

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