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PERIGOSAS NACIONAIS

PERIGOSAS ACHERON
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Sumário
Sinopse
Prólogo
Um
Dois
Três
Quatro
Cinco
Seis
Sete
Oito
Nove
Dez
Onze
Doze
Treze
Catorze
Quinze
Dezesseis
Dezessete
Dezoito
Dezenove
Vinte

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Vinte e um
Epílogo
Sobre a autora
Agradecimentos
Outras obras da autora
Créditos

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Sinopse

Desde que o viu, quando ainda tinha dez


anos, seus olhos perseguiram seus sonhos.
Após o fim do seu último relacionamento,
Maria Luísa resolveu fazer algumas mudanças em
sua vida.
Sendo ela um imã para desastres, isso
obviamente não seria tão fácil. Tudo estava indo
relativamente bem até ela notar em seu novo chefe,
o par de olhos que invadia os seus sonhos desde a
infância.
Assim como Malu, Carlos Eduardo sempre quis
saber quem era a menina de olhos doces com quem
havia cruzado olhares e trocado poucas palavras na

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praia. Ao conhecer sua nova funcionária, algo lhe


parece familiar. Mesmo não se lembrando de onde
a conhece, é surreal o modo como eles se sentem
atraídos um com o outro.
Em meio às descobertas, ciúmes e muitos
desastres, eles se entregam ao sentimento que
existe entre eles e juntos descobrem aquilo que
tanto buscavam desde que se viram pela primeira
vez.

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Prólogo

Era verão e estávamos visitando a minha tia


que morava no litoral. Mamãe e papai conversavam
com ela, enquanto eu corria até a água. Tinha dez
anos e estava achando o máximo estar em uma
praia praticamente deserta.
O mar estava tão azul, como eu nunca tinha
visto igual. O vento bagunçava meus cabelos e
mesmo com a maria chiquinha, eles não ficavam
arrumados.
Comecei a correr atrás dos siris que
andavam pela areia de maneira engraçada, tive a
sensação de estar sendo observada, então olhei ao

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redor e o vi.
Um menino mais alto que eu me observava
por de trás de uma cerca. Seus olhos azuis eram
hipnotizantes, um tom muito parecido com o do
mar que eu admirava. Encarei-o por um tempo, até
escutar meus pais me chamarem.
— Vamos, Maria! Depois voltamos à praia,
tem outros lugares para vermos.
Corri até eles e ao olhar para trás, não vi
mais o garoto de olhos azuis.
Fomos até a pracinha da cidade e meus pais
me compraram sorvete. Fiquei brincando de
bicicleta com a minha prima Sofia. Eu e ela
tínhamos quase a mesma idade, mas ela era mais
velha por alguns meses. Eu gostava de passar as
minhas férias de verão lá por causa dela, já que em
São Paulo meus pais não deixavam que eu
brincasse com os vizinhos ou saísse muito.
Um dia antes de irmos embora, meus pais
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me levaram para aquela mesma praia, dessa vez


além da Sofia, o José também estava com a gente.
Fiquei brincando de futebol com eles até que
percebi que mais uma vez ele me olhava, dessa vez,
do lado de fora da cerca.
Chutei a bola para José e comecei a
caminhar em sua direção. Eu sabia que não podia
me aproximar de estranhos, mas eu queria tanto
falar com ele. Quando eu estava perto o suficiente,
a ponto de tocá-lo, chamaram seu nome.
— Carlos! Mamãe está te chamando, venha
logo! — ele olhou para quem o chamava, mas não
foi, ficou ali me olhando.
— Eu já vou, Natália. – ele gritou e disse
para mim — Oi, eu sou o Carlos Eduardo e você é?
— Maria Luísa, você mora aqui é? — me
apresentei e preguntei curiosa, olhando para além
dele, consegui ver algo que parecia uma trilha.
— Moro sim e você? Nunca te vi aqui na
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praia. – ele disse me olhando e eu senti minhas


bochechas ficarem quentes, eu estava com
vergonha dele me olhando assim de perto.
— Não, eu moro longe, vim visitar a minha
tia e os meus primos. – falei e ele sorriu. — Porque
fica me olhando tanto?
— Porque acho você bonita. – ele
simplesmente disse e eu achei graça.
— Que bobeira! Também acho você bonito,
principalmente seus olhos, são iguaizinhos ao mar.
– falei e ele pareceu gostar do que eu disse. —
Você quer brincar com a gente? Estamos jogando
futebol.
— Adoraria, mas não posso. Minha irmã me
chamou e se eu não for, meus pais irão reclamar.
— Ah que pena, seria divertido.
— É, seria... Tchau, Maria. — Ele disse
entrando no portão da cerca, me deixando com os

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pés plantados na areia.


— Tchau, Carlos Eduardo. – falei acenando
e voltando para perto dos meus primos.
Enquanto brincava com eles, olhava o
tempo todo para o lugar onde Carlos estava, mas
ele não voltou a aparecer e eu nunca mais o vi.

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Um

Aquela foi a última vez que vi ou falei com


o Carlos Eduardo, algo que eu ainda não entendia
deve ter acontecido, porque os olhos azuis dele
atormentaram meus sonhos desde aquele dia.
Lembro-me de achar tê-lo visto outra
vez, quando voltei lá, aos dezesseis anos e
enquanto minha mãe fazia compras nas lojinhas
locais. Eu a esperava do lado de fora, distraída
como sempre, com meus fones no ouvido, e tive a
impressão de ter visto os mesmos olhos azuis que
me observavam quando tinha dez anos.
Mas tudo não passou de uma impressão

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e eu preferi nunca mais voltar para lá. Já bastavam


as lembranças que rondavam minha cabeça.
Anos se passaram e eu não havia o
esquecido. De vez em quando, ele aparecia nos
meus sonhos e eu tinha uns flashbacks daquele dia.
Era surreal como eu podia me lembrar mesmo
depois de tanto tempo.
Caramba!
Será que era por isso que meus
relacionamentos não davam certo? Eu me
perguntava o tempo todo.
Aos vinte e quatro anos eu finalmente
estava morando sozinha. Foi difícil desgarrar dos
meus pais, ainda mais sendo eles extremamente
cuidadosos e protetores.
Meu apartamento era pequeno e eu
gostava, afinal, não era uma pessoa muito grande.
Ele era perto da casa dos meus pais e de vez em
quando eles metiam o bedelho na minha vida. Era
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complicado fazê-los entender que eu já era adulta.


Caminhei até o meu cantinho favorito
da minha casa: Meu escritório e biblioteca. Tinha
uma estante enorme e repleta de livros, mas ainda
não tinha lido a maioria deles, pois além de ser uma
leitora compulsiva, eu era uma compradora
compulsiva. E trabalhar em uma livraria não
ajudava em nada meus impulsos.
Sempre fui apaixonada por livros e
adoraria ser escritora, mas Deus não me deu
inspiração ou criatividade para isso. Eu era um
completo desastre em qualquer coisa que tentava
fazer.
Larguei os livros e lembrei o real
motivo de estar no escritório. Peguei o porta-
retratos com uma foto minha e do Bruno no dia que
ele me pediu em casamento: Foi no pergolado do
Parque da Água Branca, fazia um dia lindo e ele foi
tão romântico ao fazer o pedido que eu não pude
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dizer não, mesmo não estando muito segura sobre


isso. Era o natural a se fazer, já que estávamos
juntos a três anos.
Joguei o porta-retratos no lixo. Eu
achava que nesse momento, estaria cuidando dos
detalhes do casamento e planejando minha Lua de
Mel, mas isso não aconteceria, já que uns meses
atrás eu havia descoberto que o Bruno achava que
era perfeitamente normal transar com umas e outras
enquanto namorávamos.
Terminei tudo com ele e desde então,
estava determinada a mudar algumas coisas em
mim. Estava tentando ser mais positiva e paciente.
Ainda não estava dando muito certo, mas o
importante era tentar.
Tinha deixado meus cabelos crescer,
algo que eu não fazia desde a adolescência. Pintei
eles também, tirei um pouco do castanho e agora
ele tinha umas mexas loiras. Comecei a frequentar
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uma academia que tinha a algumas quadras do meu


apartamento. Lá era bem animado e eu não gostava
muito disso. Costumava ir bem cedo todas as
manhãs antes do trabalho, não tinha quase ninguém
lá e eu conseguia malhar em paz com a minha
música.
Cheguei do trabalho exausta. O dia
havia sido bem cansativo e peguei o metrô lotado,
estava muito cansada. Controlei a vontade de me
jogar no sofá e fui direto para o banho, vesti o meu
pijama da mulher maravilha e esquentei a lasanha
que minha mãe tinha deixado para o almoço. Jantei
assistindo Loucas para casar, adorava esse filme.
Em algum momento devo ter caído no
sono, pois tive o mesmo sonho que me atormentava
todas as noites desde que o tinha conhecido. Fazia
tempos que eu não sonhava com o Carlos Eduardo.
Tanto tempo, que nem lembrava mais do seu rosto.
Tudo o que me vinha à cabeça, eram seus olhos
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azuis como o mar.


Na manhã seguinte acordei assustada
com o som do despertador, tateei ao lado e caí de
cara no chão.
Droga! Dormi no sofá! De novo!
Levantei do chão massageando meu
nariz e logo constatei que não era meu despertador
e sim meu celular.
Atendi a ligação, limpando meus olhos e
caminhando até o banheiro.
— Alô – falei em meio a um bocejo.
— Malu, você está atrasada, corre que o
chefe vai nos apresentar ao novo dono.
— Droga! — Não podia nem pensar em
faltar hoje. — Já estou a caminho, Gabe. — falei,
desligando.

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Dois

Apressei meus passos até o banheiro e me


arrumei às pressas, estava até com dor nas costas
por ter dormido no sofá.
Maldita hora que não instalei a
televisão no quarto!
Me olhei no espelho, não ia ter como me
arrumar melhor para conhecer o novo chefe. Estava
vestindo uma calça jeans – relativamente nova – e
uma blusa regata, passei bastante maquiagem para
disfarçar minhas olheiras. Deixei o cabelo solto, ele
estava em um bom dia, ao contrário da dona.
Peguei minha bolsa e segui até o metrô. A estação

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não ficava longe do meu apê.


Dei sorte de conseguir um lugar e fui
lendo por todo o caminho. Estava completamente
apaixonada por Ambrose e Fern. Beleza Perdida
com certeza entraria para a seleta lista de livros
favoritos.
Cheguei à livraria, coloquei meu avental
e caminhei até o balcão. De longe pude ver Gabe e
os outros funcionários.
Ao lado do Seu Manuel, o gerente da
livraria, estava um cara que, apesar de nunca ter
visto antes, parecia familiar, deveria ser o novo
dono. O observei de longe mesmo. Era estranho
porque sentia que o conhecia. O Seu Manuel olhou
para trás e me chamou, assim que me viu.
— Malu, venha cá conhecer o Senhor
Ferraz, novo dono da livraria. – ele disse, e eu me
aproximei mais.
— Não precisa tanta formalidade, pode
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me chamar de Carlos, ou Eduardo. Pode ser até


Cadu, que não tem nenhum problema. — Ele disse
e novamente, tive a sensação de conhece-lo, agora
por já ter escutado aquela voz.
Quando ele virou em minha direção, vi
aqueles olhos, iguais aos do garoto dos meus
sonhos, azuis como o mar. Ele era
maravilhosamente lindo, merecia o selo de “Homão
da porra”. Alto, musculoso, seus cabelos eram
lisos e curtos. Ele tinha um olhar que parecia ver
além de mim, era como se visse a minha alma. Um
arrepio percorreu meu corpo e eu finalmente tomei
coragem para caminhar até ele para cumprimentá-
lo, não estava prestando muita atenção ao redor,
quando dei de encontro a uma pilha de livros e
todos eles caíram no chão.
“Poxa, tinha que ser desastrada logo
agora?”
Eu me abaixei e comecei a pegar livro
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por livro, até que o dono daquele misterioso par de


olhos se agachou também e começou a me ajudar.
Já estava morrendo de vergonha, ao terminarmos
de organizar a bagunça, quando ele disse:
— Ainda não me disse seu nome.
— Maria Luísa, mas pode me chamar de
Malu. — Respondi, sentindo meu rosto corar.
— Sabe, Malu, o seu rosto me é
familiar, já nos vimos em algum lugar?
— Estranho, mas tenho a mesma
sensação. Acreditaria se eu dissesse que já te vi nos
meus sonhos?
— Isso foi algum tipo de cantada? —
Perguntou em tom de brincadeira.
— Quem dera fosse, não sei fazer essas
coisas. — Respondi envergonhada.
— Bem, o Manuel disse que você me
seria de grande ajuda aqui na loja.

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— E-eu? — Gaguejei.
— Claro, Maria Luísa, você é a nossa
vendedora mais antiga, sabe onde fica tudo. Uma
funcionária de ouro, Sr. Ferraz. — Seu Manuel
disse a ele, olhando para mim.
— Imagina, Seu Manuel, só faço meu
trabalho da melhor maneira possível. Eu amo esse
lugar. — Respondi, sorrindo para o meu chefe,
tentando não olhar para o Cadu, que não parava de
me encarar.
— Bem, não sei se o Manuel lhe falou,
mas ele terá que se ausentar por um tempo, por isso
me disse que você seria a melhor pessoa para me
ajudar aqui.
— Hum, claro que eu posso ajudá-lo,
Sr. Ferraz, no que precisar.
— Como disse antes, pode me chamar
de Cadu. — Pediu de maneira sedutora, enquanto
Seu Manoel se afastava para poder passar outras
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instruções aos demais funcionários, nos deixando


sozinhos. — Tem certeza que já não nos
conhecemos? — Insistiu em perguntar.
— Creio que não. Dificilmente
esqueceria um rosto como o seu. — Sorri
encabulada, já estava nervosa com toda a atenção
que recebia dele.
Gabriela surgiu ao meu lado, quase me
derrubando. Ela era assim, não perdia uma
oportunidade de aparecer. O tipo de mulher bem
decidida, loira, alta, corpão, que sabia o que queria
e quando queria, e pelo olhar dela, percebi que
queria o Cadu.
Aaah, mas eu não deixaria isso
acontecer, ele não amiga, ele não!
— Você deve ser o nosso novo chefe.
Prazer, sou Gabriela, uma das vendedoras da
livraria. — Disse, de maneira provocante.
— Muito prazer, Gabriele. — Retribui,
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apertando rapidamente a mão dela.


— É Gabriela. – ela o corrigiu.
Mas ele não deu muita importância,
continuava a me encarar e disse:
— Então, Malu, pode me mostrar a
minha sala? — Perguntou, olhando diretamente em
meus olhos.
— Claro, Carlos. Vamos? — Caminhei
com ele até a sua sala, que ficava na parte de cima
da loja.
Ao subir as escadas, tropecei no degrau
e quase cai por cima do Cadu. Foi por pouco!
Estabanada como sou, graças a Deus, dessa vez não
quebrei nada. Deixei-o em sua sala e quando já ia
saindo, ele disse:
— Será que podemos conversar?
— Sim, claro. — Respondi, sentando na
cadeira a sua frente.

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— Como você será a nova gerente da


Livraria Andrade, gostaria que me mantivesse a par
de tudo. Não é porque sou o novo dono que serei
tirano, impondo inúmeras regras novas, longe
disso, quero conhecer a maneira como vocês
trabalham e impor melhorias aos poucos. Mas para
isso, preciso da sua ajuda. Você conhece a loja e os
funcionários, creio que sua ajuda será de grande
valia para mim, até que eu esteja devidamente
adaptado.
— Pode deixar, senhor. Qualquer
dúvida é só me chamar.
— Maravilha, esse celular é seu, para
uso da livraria, claro. – ele disse, me entregando
um aparelho – Vamos nos comunicar por ele. Vai
ser mais prático e acessível trocarmos mensagens
ou ligarmos um para o outro.
— Certo. — Falei mecanicamente, sem
pensar muito no que estava fazendo e aceitei o
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celular.
Quando meus dedos tocaram os dele,
pude sentir algo diferente. Toquei até nele
novamente para não achar que eu havia imaginado
tais sensações e saí da sala.
Desci as escadas me sentindo em um
desses clichês românticos, em que a vida do casal
muda de uma hora para outra quando eles se tocam.
Nunca acreditei nisso, nem um pouquinho. Até
hoje.
Resolvi tirar meu chefe gato da cabeça e
me foquei no trabalho.

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Três

Fui receber alguns livros que tinham


chegado e separarei as seções que o Alex, a Ju, a
Gabe e o Paulo iriam ficar. Dois no balcão e dois
para atender as pessoas. Como tratava-se de uma
livraria relativamente pequena, não tínhamos
problemas em dividir as tarefas.
Eu sempre adorei esse lugar. Lembro-
me de vir aqui, quando ainda era apenas uma
leitora, e parecia que eu estava no paraíso, me
sentia completa aqui.
Quando comecei a trabalhar nesse lugar,
foi quase como um sonho realizado, eu amava o

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que fazia. Adorava ajudar as pessoas que ainda


estavam indecisas com qual livro comprar ou
conversar com aqueles fanáticos por alguma série
ou autor.
Apesar do e-commerce dificultar e
diminuir as nossas vendas diárias, eu investia
bastante no marketing da livraria. Trazia
promoções, autores novos, eventos... Divulgava
muito nas redes sociais, e normalmente fazia tudo
pelo meu próprio celular. Mas com esse novo
aparelho que o Carlos Eduardo me deu para uso da
livraria, resolvi começar a fazer as coisas por ele
agora.
Estava trocando mensagens com uns
autores que fariam o lançamento na livraria em
breve, quando ele passou por mim, sorriu e seguiu
seu rumo.
Apenas esse sorriso me deixou de
pernas bambas. Eu odiava as sensações que ele
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provocava em mim. Desde aquele dia em que nos


tocamos, as coisas não pararam, só ficavam mais
fortes e intensas.
Sua voz mesmo, me levava para fora de
órbita. Ele tinha uma voz extremamente forte e
sensual. E quando falava comigo, me fazia ter
inúmeras fantasias com ela.
Mas no decorrer dos dias, o Carlos
Eduardo não trocou muitas palavras comigo e
confesso que fiquei esperando ansiosamente ele me
mandar alguma mensagem, mas nada.
Para que raios ele havia me dado
aquele celular?
Já havia passado mais de uma semana e
nada! Era hora do almoço e eu estava na lanchonete
mais próxima do trabalho com o Paulo. Além da
Gabe, eu gostava muito de conversar com ele.
Estava mordendo meu suculento
hambúrguer, repleto de ketchup e mostarda, quando
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meu celular vibrou na mesa. Tentei pegar o celular


e comer ao mesmo tempo.
Isso foi um erro!
O ketchup pingou na minha blusa
branca, manchando-a.
Droga!
Coloquei-o sobre o prato, ouvindo a
risada do Paulo quando fui ao banheiro. Tentei me
limpar, mas havia manchado, justo no lugar onde
meu avental não cobria.
É, parece que o meu azar tinha voltado!
Voltei à mesa escutando as
provocações.
— Malu, está pra nascer pessoa mais
desastrada que você! – Paulo disse, entre risos.
— Não tenho culpa de ser assim. Para
de zombar de mim e vamos comer logo para
descansarmos um pouco antes de voltarmos ao

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trabalho. – avisei, voltando a comer.


Paulo e eu ficamos um tempo apenas
sentados, bebericando os refrigerantes, assistindo o
filme que passava na televisão, esperando o tempo
passar. Lembrei do celular da livraria, e fui logo
desbloqueando para ver quem tinha mandado
mensagem.
Assim que a tela abriu, vi o nome dele:
Carlos Eduardo.
Porque o nome dele tinha que ser justo
esse? Porque ele tinha que ter esses olhos!
Eu evitava chama-lo de Carlos Eduardo,
preferia chamar de Senhor Ferraz mesmo. Mais
profissional e evitava que minha mente nem um
pouco criativa, criasse ilusões.
<< Maria, onde consigo a nossa lista de
eventos para esse mês?
>> Eu deixei anotado na minha

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agenda... Ainda não tive tempo de fazer uma


planilha. Você consegue esperar eu voltar? Precisa
com urgência?
<< Não, só quero ter uma noção, caso
alguém venha agendar algo. Você pode me mostrar
quando chegar, sem problema algum.
>> Ótimo, te vejo daqui a pouco.
Guardei o celular na bolsa e me
organizei para voltar para loja.
Assim que entrei, o Alex falou:
— Malu, o chefe tá te procurando.
— Vou lá no escritório dele. – respondi,
caminhando até lá.
Bati na porta e ele me mandou entrar.
— Oi, senhor Ferraz. Trouxe a agenda
para te passar os eventos desse mês. – falei e ele me
olhou.
Seu olhar me estremecia. Sempre ficava

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arrepiada ou abalada com ele.


Não sei se por ser os fatídicos olhos
azuis que tanto procurei a vida toda.
Não era o meu menino dos olhos azuis.
Eu tinha que ficar repetindo isso a todo
momento para não fazer nenhuma besteira.

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Quatro

— Que bom que veio. A Gabriele tentou


me explicar algumas coisas, mas não entendi nada.
– ele disse, me apontando a cadeira.
Me sentei revirando os olhos, pelo fato
da Gabe já ter vindo se jogar em cima dele mais
uma vez.
— Algum problema? – ele perguntou,
me avaliando.
— Não, nada. A Gabriela é assim
mesmo, mas quem toma conta dessas coisas sou eu,
por isso ela te confundiu mais que ajudou. – falei,
abrindo a agenda e começando a falar os

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compromissos.
Ele não anotava nada, apenas me olhava
atentamente.
— Acidente de percurso? – ele
perguntou e eu parei de falar sem entender do que
ele estava falando. – Sua camisa está manchada.
— Ah, sim acidente de percurso. Eu
sempre trago uma blusa extra porque sou muito
desastrada. – falei e ele riu.
Adorei sua risada, assim como amava
seu sorriso.
— Às vezes acontece. Você pode me
mandar tudo isso por e-mail? Fica mais fácil para
eu deixar salvo aqui.
— Posso sim, te mando ainda hoje. –
disse, me despedindo e saindo da sala.
Assim que cheguei nos balcões da
livraria, a Gabe olhou para mim e ficou me

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encarando.
— Algum problema, Gabe? —
perguntei encarando-a também.
— Não, nada, Malu. — Ela disse saindo
de perto de mim.
Achei aquela atitude um pouco estranha,
mas resolvi não dar muita importância.
No decorrer dos dias, Cadu e eu
trocamos diversas mensagens. No começo
falávamos o tempo todo de trabalho, mas depois,
conversávamos sobre tudo. Como estávamos, o que
gostávamos de fazer, passatempos, sonhos, desejos.
Tudo.
Eu observava cada traço do seu rosto
sempre que íamos almoçar juntos. Adorava
conhecê-lo mais e mais. Ele me contava cada
história da sua família, ele tinha uma irmã mais
velha e uma sobrinha encantadora, eu era filha
única e só via meus primos nas férias, então, me
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divertia muito com as coisas que já havia


acontecido entre ele e a irmã.
Às vezes eu tinha certeza que meu santo
tinha batido de cara com o dele, porque estava para
nascer pessoas com mais afinidade em tão pouco
tempo.
No trabalho, mantínhamos uma relação
de chefe e empregada, mas fora de lá, éramos
amigos e eu sentia que podia confiar nele.
Eu já não ligava tanto ele ao menino que
eu havia conhecido tanto tempo atrás. Minhas
lembranças estavam sumindo e minha mente estava
criando novas coisas para lembrar.
Entrei em casa, exausta. Ultimamente eu
só estava chegando assim em casa. Joguei minhas
chaves em cima da bancada, seguindo para o
banheiro. Tomei um banho longo e relaxante, vesti
um dos meus pijamas e voltei para sala. Estava
pensando em algum delivery quando escutei um
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barulho na minha cozinha.


Levantei-me assustada, pegando a
primeira coisa na minha frente: Um vaso de flores
bem feio que uma amiga da minha mãe tinha me
dado.
Comecei a caminhar até a cozinha,
morrendo de medo. Será que era um rato?! Se fosse
um eu não dormiria em casa hoje.
Chegando lá, observei cautelosamente o
chão e não notei nenhum bicho.
Ótimo, sem ratos!
Coloquei o vaso na bancada da cozinha
e notei que tinha deixado uma fresta da janela meio
aberta. Ao me aproximar, notei um gatinho
alaranjado no espacinho minúsculo que tinha entre
os meus vasos de suculentas e cactos.
Peguei ele bem devagar para não
assustá-lo. Era pequenininho e parecia estar com

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medo.
Levantei-o e notei que era fêmea.
— Você é uma menininha sem lar. Que
tal ficar comigo, abóbora! Você tem carinha de
abóbora. – falei para a gatinha, acariciando seus
pelos.
Como ela parecia ser um neném ainda,
coloquei um pouco de leite em uma vasilha e ela
bebeu, avidamente. Deixei-a na sala e peguei uma
caixa de sapato, coloquei uma das minhas
almofadas e ficou uma caminha bem fofinha.
Precisava leva-la num veterinário e
comprar as coisas que ela precisava, mas não
conseguiria fazer isso amanhã, por causa do evento.
Será que Abóbora ficaria bem sozinha?
Ela teria que acostumar. Eu ficava fora
o dia todo! Que tipo de mãe eu era?
Me deitei no sofá e observei ela andar

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pelo apartamento cautelosamente, cheirando tudo.

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Cinco

Amanhã teríamos uma sessão de


autógrafos com uma autora muito chata e
excêntrica. Eu já estava de cabelo em pé, estressada
como nunca fiquei por causa de qualquer evento. A
mulher não tinha carisma nenhum e se achava a
última bolacha do pacote recheado. Tenho pena das
suas leitoras, porque além de malvestida, ela era
antipática.
Peguei meu celular e tinha mais uma
mensagem do Cadu. Hoje trocamos mensagens
quase o dia todo, na maioria delas eu só reclamei.
Eu me sentei no sofá pedindo o

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Yakisoba pelo aplicativo, e abri a mensagem do


Carlos Eduardo.
>> Depois desse evento, acho que
preciso te levar para jantar, para compensar tanto
estresse e reclamação.
<< Precisa mesmo viu, chefinho. Quem
mandou você agendar com essa autora?
>> Não sabia que ela era desse jeito
quando topei esse acordo com a editora.
<< Sei que não sabia. Foi cansativo,
mas deixamos tudo organizado. Amanhã será um
dia cheio. Acho que vou dormir, mas não quero
deixar a Abóbora sozinha e o David Mason precisa
da minha ajuda para capturar o Raul Menendez.
>> Uol, tenho três perguntas: Você joga
Call off Duty? Está em qual nível? E quem é
Abóbora?
<< Te surpreendi, chefinho?! Sim, claro

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que eu jogo! Me divido entre livros e jogos e


trabalho no tempo livre. Kkk... Você também joga?
Eu já sou Casca-grossa e você? Abóbora é o nome
da minha gata.
>> Me surpreendeu sim, eu não tinha
essa imagem de ti. Pra mim você jogava The Sims,
haha. Eu jogo quando me sobra tempo, ainda sou
regular, mas em breve te alcanço. Não sabia que
tinha gata.
<< Podíamos jogar juntos, qualquer dia
desses. E eu não tinha uma gata até pouco tempo
atrás.
>> Como assim? Onde você arrumou
uma gata, Malu?
<< Ela apareceu aqui na minha janela, é
uma bebezinha. Talvez eu me atrase amanhã, quero
leva-la ao veterinário.
>> Beleza, só não se atrasa muito. Sabe
que ainda fico perdido sem você.
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<< Vou tentar. Desisti do jogo, estou


quase dormindo no sofá e isso não é bom para as
minhas costas.
>> Realmente não é, digo por
experiência própria. Bons sonhos, vou dormir
também.
<< Até amanhã, que a sorte esteja
conosco. :p
>> Ela está. Kk... Amanhã será um
sucesso e no sábado sairemos para comemorar.
<< Está certo, chefinho. Tchau!
Fui dormir, sonhando novamente com
ele. Dessa vez apenas seus olhos me buscavam na
praia. Esses sonhos estavam indo e vindo
novamente. Cada vez mais me perguntava se toda
essa química que eu tinha com o Cadu, não era
porque seus olhos se pareciam tanto com os dos
meus sonhos.

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Acordei com o som do despertador. Me


levantei, tomei banho e me arrumei. Peguei uma
blusa preta estampada, vesti minha calça jeans e
coloquei uma sapatilha azul. Peguei Abóbora, que
tinha miado bastante durante a noite e a levei
comigo até a casa dos meus pais. Precisava tomar
café com eles pelo menos uma vez na semana, ou
eles surtavam.
Andei até lá e toquei a campainha. Não
demorou muito para que mamãe viesse atender à
porta. Ela beijou a minha testa, me dando sua
benção e seguiu para cozinha.
Acho que não tinha percebido o gato em
minhas mãos, pois quando entrei na cozinha ela
perguntou:
— Onde arrumou esse gato, Maria
Luísa?
— Ela apareceu na minha casa ontem.
Vou leva-a no veterinário e depois vou trabalhar.
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— Você mal para em casa e ainda acha


que vai ter tempo para cuidar de um gato?
— Eu vou ter, mãe! Fica tranquila. –
respondi, me sentando à mesa.
Papai tirou o jornal do rosto e eu beijei
suas bochechas gordinhas e ele sorriu.
Minha mãe tirou do forno um bolo de
milho cremoso. E eu dei um sorriso igual ao gato
da Alice.
Que delicia! Vim no momento certo!
Eu simplesmente adorava esse bolo,
minha mãe tinha aprendido a essa receita com uma
amiga do Nordeste e ficava uma delícia.
Ela colocou uma fatia de bolo no meu
prato e no de papai, e se sentou conosco a mesa,
perguntando:
— Porque demorou tanto tempo para
aparecer essa semana? Não te vejo há dias.

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— Estou ocupada, mãe. Sou a nova


gerente da livraria, esqueceu? Tenho muitas
responsabilidades agora. — Justifiquei,
mordiscando o bolo.
— Não esqueci, você me ligou para
contar, mas sinto falta de te ter em casa, Malu. —
ela confessou. — Mas mudando de assunto, sabe
quem está voltando para São Paulo?
— Não. Quem? — Respondi com a
boca cheia.
— Isso é falta de educação, Malu. —
Ralhou minha mãe. — Bem, a Stella me ligou para
contar que o Bruno está voltando de viagem.
Gelei ao escutar aquele nome.
— E por que isso me interessaria? E
não, não estou sendo grossa, estou esclarecendo um
fato. Bruno é meu ex-noivo. Ele me traiu. A vida
dele não me interessa, mãe.

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— E isso é modo de falar comigo, Maria


Luísa? Só estou lhe contando, porque independente
do que aconteceu, Bruno e você ficaram juntos por
muito tempo.
— Mãe, o Bruno me traiu
descaradamente. Fiz papel de trouxa durante todo o
nosso namoro, e a senhora quer que eu fique feliz
por ele estar voltando? Pelo amor de Deus. Vou
levar a Abóbora ao veterinário que ganho mais. —
Disse me levantando, dando um basta na conversa.
— Tchau, pai. — Dei a ele um costumeiro abraço e
os deixei sozinhos, para seguir para a livraria.
Papai já estava acostumado com as
nossas discussões momentâneas, provavelmente ela
ligaria mais tarde para se desculpar.
Segui para o veterinário e logo fui
atendida. Enquanto eles examinavam a Abóbora,
comprei coleira, ração e vasilhas para ela. Peguei
também shampoo e perfume para seus pelinhos e
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claro, uma escova para penteá-los. Encontrei alguns


brinquedos e fui até o caixa. Depois que paguei, ele
me entregou a Abóbora, minha gatinha estava de
banho tomado e tinha recebido as vacinas também.
Levei-a correndo para minha casa,
arrumando suas coisas em seu cantinho e me
despedi.
Segui o caminho para o trabalho
escutando música e dissipando a discussão com
minha mãe que havia voltado a rondar meus
pensamentos.
Bruno não merecia que eu perdesse um
terço do meu tempo pensando nele.

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Seis

Assim que cheguei na livraria, fui logo


para onde seria a sessão de autógrafos. Estava
organizando, a mesa e o lugar onde seria formado a
fila. Olhei ao redor e não encontrei o Cadu, talvez
ele não tivesse chegado.
O blog que iria mediar o bate-papo e a
sessão de autógrafos, havia ligado dizendo que
chegariam algumas horas antes do evento.
Estava saindo do estoque quando o
Cadu chegou. Ele estava de bom humor, via pelo
enorme sorriso em seu rosto.
Ele caminhou em minha direção, me

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entregando um copo do Starbucks.


— Bom dia, Malu! Parece que não foi
só você que atrasou hoje.
— Bom dia, folgado! Você tinha que
chegar cedo e dar exemplo para a gente! – falei e
ele revirou os olhos — Posso saber a causa do seu
bom humor? Para eu ficar feliz também! Já que não
sei se algum de nós continuará assim, quando a
autora chegar.
— A fila do Starbucks estava grande,
mas o motivo do meu bom humor é por causa do
nosso jantar amanhã. — Respondeu olhando nos
meus olhos.
— Hum, e já sabe onde vai me levar? –
perguntei encarando-o.
— Ainda estou pensando, mas temos
boas opções.
— Ótimo, agora deixa eu trabalhar.

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— Como quiser, madame. – ele falou,


fazendo uma reverência exagerada, me fazendo rir.
Tentei abstrair aquele momento que
havia me deixado um pouco sem jeito e foquei no
resto da manhã, que foi tranquila. Tivemos algumas
vendas, renovei o estoque de marcadores do balcão
e fui almoçar com o Paulo, em um restaurante do
outro lado da rua.
Quando voltamos, Cadu estava na frente
da livraria, nos olhando com uma cara não muito
boa. Será que tinha acontecido alguma coisa? Gabe
estava ao seu lado, falando algo para ele e
instantaneamente fiquei com raiva.
“Droga, isso era ciúmes?”
Entramos e o Paulo foi para o balcão, eu
fui em direção ao Cadu.
— A Margareth Manning já chegou? —
Perguntei curiosa olhando para os lados.

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— Ainda não. O voo atrasou, mas ela


disse que deve chegar no horário. — Disse isso
tudo, sem nem olhar para mim.
— Aconteceu alguma coisa? —
Perguntei, sem entender sua atitude.
— Nada. Vamos trabalhar. — Ele
respondeu indo em direção ao seu escritório.
“Qual o problema desse homem!?”
Fui arrumar o lugar onde seria a sessão
de autógrafos e a Mariana, que era blogueira e
mediadora do evento, chegou e me ajudou com a
tarefa da organização. Uns minutos antes do
horário marcado, a escritora ainda não tinha
chegado. Achava isso um desrespeito, várias
leitoras já tinham chegado e estavam aguardando.
Subi até o escritório e fui falar com o Carlos
Eduardo, que estava assinando e lendo alguns
papéis que estavam em sua mesa.
— Carlos Eduardo, a autora ainda não
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chegou, mas suas leitoras já estão aí, fazendo fila


na frente da livraria, nunca vi tantas adolescentes
juntas.
— Sou Carlos Eduardo, agora? —
Perguntou com ironia. — Segundo sua agente, ela
já está a caminho, espero que seja verdade dessa
vez. — Retrucou curto e grosso.
“Mais uma vez me pergunto, qual o
problema desse homem? Essas oscilações de
humor... Não tenho paciência nenhuma para elas.

— Também espero, vou descer e tentar
manter tudo organizado até que ela resolva
aparecer.
Desci e com a ajuda do Alex e do Paulo,
organizamos a fila, até que, com vinte minutos de
atraso a “Diva” chegou, andando calmamente como
se fôssemos obrigados a esperar por ela. O Cadu
desceu para recepcioná-la e ela não parou de flertar
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com ele, descaradamente. Tipo, ela nem disfarçava!


Tudo bem que o Cadu era um homão da porra, mas
as outras mulheres poderiam ser imunes ao fato
dele ser tão lindo. Fiz o possível para ignorar
aquela cena diante de meus olhos. Com sua pose de
Diva, não falou com nenhum dos funcionários, nem
fez bate-papo, disse tanto para o Cadu, quanto para
a mediadora, que ela não poderia ficar por muito
tempo e como a fila estava grande, ela só daria os
autógrafos.
“Que mulherzinha insuportável.”
Fiquei ao lado da Mariana, organizando
a fila e dando marcadores a todas as garotas que
aguardavam pelo autógrafo. Foi triste ver que nos
últimos da fila ela mal falava com o leitor.
“Tenho pena de quem é fã dessa
mulher, ela poderia escrever muitíssimo bem, mas
pela pessoa que é, jamais seria sua leitora.”
Quando terminamos, Cadu voltou para
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cumprimenta-la e para agradecer algumas pessoas


da editora que estavam acompanhando o evento.
Ainda era cedo, então trabalhamos até dar o horário
de fechar a livraria.
Quando eu já estava indo embora,
mandei uma mensagem para o Cadu.
<< Ainda vamos jantar hoje?
Aguardei pela resposta e nada. Estava
esperando os outros funcionários deixarem a
livraria para poder ir, quando olhei o celular mais
uma vez, e ainda nada.
— Seu namorado não vai achar ruim
você ir jantar comigo? — Cadu apareceu na minha
frente, questionando.
Encarei ele confusa e respondi:
— Namorado? Eu não tenho nenhum
namorado. De onde você tirou isso?
Consegui ver o alívio em seu rosto

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antes de ele responder:


— Não sei, eu pensei... — ele pareceu
formular melhor a resposta e disse — pensei que
você e o Paulo estivessem namorando.
Gargalhei.
— O Paulo tem uma noiva, somos
amigos! De onde você tirou isso? — Voltei a rir
ainda mais.
— Estou me sentindo bem idiota agora.
— Ele balançou a cabeça, envergonhado. — Ainda
vai querer sair comigo depois dessa?
— Claro que eu quero! Vamos sair
amanhã, é minha folga. O que acha?
— Perfeito. Passo para te pegar às oito,
está certo? Aí vamos jantar e depois podemos
visitar uma casa noturna, que é de um amigo meu.
— Ok. Até amanhã, chefinho.
Voltei para casa, encontrando a

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Abóbora deitada em cima da minha estante de


livros.
— Abóbora! Você não pode fazer isso,
aí não é lugar para dormir! Você tem a sua
caminha! — reclamei com ela que ronronou no
meu colo. Depois do jantar fui dormir e sonhei
novamente com aquele par de olhos azuis.

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Sete

Acordei tarde no sábado, claro, estava de


folga! Queria que eu acordasse cedo? Pelo amor!
Nada disso.
Ainda estava fazendo frio, por isso
fiquei mais um tempo na cama, atualizando as
redes sociais e buscando novos autores. Adorava
ficar por dentro das obras não tão famosas,
encontrar os tesouros ainda não descobertos pelas
pequenas editoras.
Levantei-me para tomar um banho
quente e aproveitei para lavar meus cabelos.
Quando estava me arrumando para ir ao mercado,

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recebi uma mensagem.


>> Bom dia! Tudo certo para hoje,
Malu?
Sorri e respondi:
<< Tudo certo, mal posso esperar. Mas
para onde vamos mesmo?
Estava me vestindo, quando ele
respondeu:
>> Pensei em irmos a uma churrascaria
primeiro, pois pelo que você me falou, vi que é fã
de um bom churrasco e depois do jantar vamos até
o Aquário, uma casa noturna que inaugurou na
semana passada, um amigo meu é dono.
— Adoro churrasco. Te vejo à noite.
Depois da troca de mensagens, me
arrumei, sorrindo feito boba, vestindo um short
jeans e uma blusa de manga repleta de frases das
minhas séries favoritas, calcei uma rasteirinha,

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caminhei até o supermercado que ficava a algumas


quadras da minha casa. Comprei tudo o que
precisava e ao voltar para casa me bati com quem
eu não esperava encontrar tão cedo.
O Bruno.
— Malu, que bom te encontrar, falei até
com tua mãe que estava voltando, já que não
consegui falar contigo. Mudou de número? —
Perguntou já me abraçando na maior intimidade.
— Primeiro, para você é Maria Luísa,
não Malu. Não temos intimidades. E do que me
importa você ter voltado, Bruno? Nem amigos
somos mais, sua vida não me interessa! Quantas
vezes preciso repetir isso para você entender? —
Respondi irritada com tamanho cinismo.
— Para quê toda essa agressividade,
Maluzita? Você era bem mais calminha quando
namorávamos. — Ele disse tocando meu rosto.
— Não encosta em mim! — Bati em sua
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mão. — Mas como é cínico, Bruno! Eu não faço


mais papel de trouxa, não! Então não faz o louco e
me deixa em paz. — falei começando a andar
novamente.
— Não vai embora assim tão rápido, eu
voltei para conversarmos e nós vamos conversar!
— ele disse apertando meu braço.
— Se você não me soltar agora eu vou
gritar, Bruno! — falei e ele me soltou. Andei o
mais rápido possível, totalmente surpresa com
aquela atitude dele. Apesar de ser um canalha, o
Bruno nunca tinha sido agressivo. Mas parece que
algumas coisas tinham mudado, não é mesmo!?
Decidi que seria ainda mais cuidadosa caso o
reencontrasse novamente.
Voltei para casa, ligando o som bem
alto para dispersar os pensamentos que ainda
rondavam minha mente. Não queria pensar no
Bruno de maneira alguma. Coloquei uma roupa
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mais levinha e comecei a arrumar a casa - que


estava uma bagunça- dançando e cantando como se
não houvesse amanhã.
Coloquei até a Abóbora para dançar, mas
ela não gostou muito. Pedi uma salada de frango
por delivery e devorei assim que ela chegou.
Depois de ver que a sala, a cozinha e o banheiro
estavam limpos, fui para o meu quarto e depois de
arruma-lo tinha uma pilha de roupas para doar e
uma pilha de coisas para jogar fora.
Caminhei até o meu escritório/biblioteca
com a Abóbora na minha cola. Ela tinha aprendido
que não podia dormir sob os livros e agora se
deitava em minha cadeira, enchendo-a de pelos.
Que gata sem vergonha!
Comecei a tirar os livros da estante para
limpá-los, ainda estava no meio da tarde e essa
prometia ser uma tarefa demorada, já que além de
limpar eu foleava os livros lembrando de quando eu
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havia lido ele.


Quando terminei, vi que já eram quase
oito horas, fui tomar banho, arrumei meus cabelos,
vesti um vestido longo e completamente florido,
coloquei um salto alto preto e pus alguns
acessórios, fiz a maquiagem e estava pronta.
Olhei-me no espelho, me sentindo alta e
linda. Raramente eu usava saltos, mas via que eles
faziam um bem danado para minha autoestima.
Sentei na sala e fiquei aguardando Cadu
chegar, já que ele tinha insistido em vir me buscar,
mas deu oito e quinze e nada, já estava ficando
preocupada, até receber uma mensagem dele.
<< Malu, meu carro quebrou quando
estava indo para sua casa. Estou esperando o
guincho, pode ir de táxi ao restaurante, para não
perdermos as reservas?
>> Que chato. Posso ir sim, te aguardo
lá.
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Pedi um táxi para ir à churrascaria, que


ficava não mais do que quinze minutos da minha
casa. Chegando lá, desci do táxi e caminhei até a
entrada do restaurante.
Enquanto andava, percebi diversos
olhares sobre mim. Vários homens e até algumas
mulheres me encaravam. Parei para olhar para
baixo, pensando estar suja ou algo assim, mas o que
tinha acontecido era muito pior, não sei como, mas
todos os botões da parte de cima do meu vestido
tinham aberto, meu sutiã estava exposto para quem
quisesse ver.
“Por que essas coisas só acontecem
comigo? ”
Pensei olhando para o céu, mais uma
vez questionando o motivo pelo qual o universo
fazia essas coisas comigo. Que vergonha!
Rapidamente abotoei o vestido e
continuei andando até o restaurante. Disse o nome
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do Carlos Eduardo à recepcionista e me sentei à


mesa que ele havia reservado.
Pedi uma cerveja e uns petiscos e fui
comendo, não demorou muito para ele chegar e nós
fomos montar nossos pratos.
Enquanto comíamos, começamos a falar
sobre a vida um do outro.
— Quer dizer então que você nem
sempre morou aqui em São Paulo?
— Me mudei para cá tem alguns anos,
vivi boa parte da minha vida no litoral.
— Ah, que legal! Eu tinha uns tios que
moravam por lá. Meus pais me levavam no verão,
era bem divertido.
— Eu imagino. Éramos sempre eu e a
minha irmã, mas as vezes eu fazia amizade com
alguns viajantes.
— Como foi crescer perto do mar? Eu

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sempre quis morar perto da praia, invejava tanto a


minha prima, Sofia.
— Era muito bom. Aprendi a nadar
cedo, porque meus pais temiam que a gente se
afogasse.
— Eu quase me afoguei por duas vezes
— falei rindo — não foi algo muito divertido para
os meus pais, mas eu achei o máximo ser carregada
pelos salva-vidas.
— Só você para rir de uma coisa
dessas, Malu. – ele disse e rimos juntos.
Estava bebendo minha cerveja, quando
de repente vi Bruno entrando na churrascaria,
caminhando diretamente até mim e Cadu.
“Ah, não! O que aquele cretino queria?
Acabar com meu encontro? ”
Coloquei o copo na mesa e quando
Bruno se colocou entre mim e Cadu, ele disse

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sorrindo:
— Ora, ora, o que temos aqui?
Antes que eu pudesse falar alguma
coisa, Cadu respondeu:
— Primo Bruno, como está? E a tia
Stella? — Cadu estendeu a mão para cumprimentá-
lo.
“Primo? O Cadu é primo do Bruno?! ”
— Estou bem, e a minha mãe também.
— Cumprimentou o Cadu e virou-se para mim —
Como vai Malu, já está mais calma? — Perguntou
sorrindo para mim.
— É Maria Luísa para você, Bruno. —
Respondi revirando os olhos. — Está me
perseguindo agora? Pois não acho que isso aqui
seja uma coincidência.
— Vocês se conhecem? — Cadu
perguntou confuso.

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— Malu foi minha noiva, primo!


Lembra que mostrei fotos dela a você quando fui te
visitar na cidade.
Ele voltou a me encarar, ignorando
totalmente o Bruno.
— Por isso tive a impressão que já te
conhecia, mas você estava com cabelo maior.
Talvez esse tenha sido o motivo de eu não tê-la
reconhecido de imediato. Apesar que, ainda acho
que te conheço além daquelas fotos...
— Talvez vocês já tenham se visto em
Paraty. Malu ia muito lá quando criança. Seus pais
não tinham um sitio lá? — Bruno questionou
olhando para nós dois.
Encarei Cadu sentindo a felicidade
tomar conta de mim, eu não acredito que estive
com o garoto dos olhos azuis esse tempo todo!
— Por isso seus olhos sempre foram
tão marcantes para mim, apesar de ter visto fotos
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suas espalhadas pela casa da Dona Stella uma vez,


eu sentia que já te conhecia.
Ele sorriu para mim, como se estivesse
se sentindo da mesma maneira, até que o Bruno
estragou tudo, como ele sempre fazia.
— Cuidado Cara, que essa daí é
temperamental e muito certinha. — Debochou
apontando para mim.
Revirei os olhos e virei minha cerveja
em sua cabeça, deixando-o todo molhado.
— Acho que a temperamental aqui, já
está de saco cheio. Vamos, Cadu?
Rindo, ele concordou, pagando a conta.
— Você mereceu, quem mandou
provoca-la! – ele disse ao Bruno antes de sairmos,
olhei para trás e vi ira em seus olhos, mas não me
importei, não podia deixar o Bruno achar que ainda
tinha algum poder na minha vida e nas minhas

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decisões.
— Quer mesmo ir ao Aquário? —
Perguntei sorrindo para ele quando já estávamos na
rua.
— Quero ir para onde você quiser. —
Respondeu ao entrelaçar nossos dedos.
— Então eu sei exatamente para onde
devemos ir. — Arrastei-o pelo calçadão ainda
rindo.
Parei um táxi e fomos o caminho todo
de mãos dadas, com uma sensação de felicidade tão
grande entre nós que ríamos à toa.
Por sorte, não demorou muito para
chegarmos até o lugar onde eu queria levá-lo.
Corremos até a beira da água e ele me
segurou pela cintura, me mantendo em sua frente.
— Diz que não sou só eu que estou
sentindo isso? — Ele perguntou olhando nos meus

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olhos.
Seus olhos eram tão lindos, mesmo com
a pouca claridade do poste da rua e da lua eu
conseguia vê-los perfeitamente.
— Não é só você, eu também estou!
Mas isso é loucura, certo? Como é possível estar
sentindo isso tudo em tão pouco tempo? —
Perguntei colocando as mãos em seu pescoço. —
Apesar de que, no fundo, sempre procurei seus
olhos em todos os lugares que eu estive.
— Sempre que ia para Paraty com meus
pais, eu ia à praia e procurava a menina de maria
chiquinha mais linda que eu já tinha visto na vida.
— Sempre odiei quando mamãe fazia
aquele penteado. — Ri ao confessar aquilo.
— Você ficava linda com elas, acredita
que fiquei esperando você aparecer de novo?
— Acredito, porque eu esperei te ver

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quando voltei lá uns anos depois, mas como não te


encontrei tive que viver com a sua lembrança.
— E eu tive que conviver com a sua...
— E o que faremos agora? — Tomei
coragem para perguntar ao aproximar-me ainda
mais dele.
Ele colocou meu cabelo atrás da minha
orelha e as mãos em meu cabelo.
— Tudo o que eu sei, minha linda, é que
irei expressar tudo aquilo que estou sentindo. Ainda
não acredito que é você depois de tanto tempo! —
Ele disse e depois me beijou.
Um beijo intenso. Desejávamos tanto
um ao outro, que um beijo só não foi o suficiente.
Nos abraçamos e ele ficou distribuindo
beijos em meu pescoço, me deixando toda
arrepiada.
Não me cabia em mim de tanta

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felicidade. Eu ainda não sabia bem o que sentia


pelo Cadu, mas era completamente diferente de
tudo o que eu já senti por outro cara. Nem com o
cretino do Bruno ou com meus outros
namoradinhos tinha sido assim.
Eu estava experimentando uma
sensação única. E isso era incrível, estar com ele
era maravilhoso. Simplesmente porque não foi algo
que aconteceu de repente. Fui me apaixonando por
ele gradativamente. E mesmo que ele não fosse o
menino dos meus sonhos, ficaria com ele do
mesmo jeito, porque o pouco que eu conhecia do
Cadu, já tinha me deixado apaixonada.
Ficamos por um tempo namorando na
praia e um pouco antes da meia noite ele me deixou
em casa, me dando um beijão daqueles de tirar o
fôlego ao se despedir.
Vendo-o ir embora, impulsivamente eu
gritei:
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— Cadu? — Gritei por ele, segurando


seu braço e ele parou para me observar, curioso. —
Não gostaria de ficar? Está muito tarde para ir
embora.
Ele consentiu e caminhamos juntos de
volta para o meu apartamento. Entre beijos e
caricias, nos entregamos a uma intensa noite de
muito amor.

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Oito

Nos dias seguintes Cadu e eu vivíamos


procurando um jeito de namorar no trabalho, seja
em seu escritório ou dentro do estoque de livros,
até mesmo um selinho roubado, quando achávamos
que ninguém estava olhando.
Eu não queria que o pessoal do trabalho
soubesse, não enquanto não estivéssemos
namorando sério. Eu não previa o futuro, e com a
minha sorte, a chance de eu fazer uma besteira e o
Cadu terminar comigo era grande.
Tinha saído do trabalho um pouco mais
cedo para ir ao médico, consulta de rotina. E

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aproveitei para passar no mercado, hoje eu e o


Cadu iríamos maratonar umas das nossas séries
favoritas: Stranger Things, e eu estava louca para
assistir a segunda temporada, mas meio que
tínhamos feito um trato que assistiríamos juntos e
eu precisava cumprir. Uma tarefa bem difícil, devo
confessar.
Cheguei em casa determinada a fazer
um jantar bem gostoso para nós dois. Hoje ele tinha
uma reunião no outro lado da cidade e
provavelmente demoraria um pouco para chegar.
Passei por diversos sites de receitas, até
escolher um nhoque de batata para fazer.
A receita parecia tão simples, achei que
ia tirar de letra, mas falhei terrivelmente.
Simplesmente porque não conseguia chegar no
ponto da massa. Tentei inúmeras vezes, mas nada
fazia a minha massa ficar gostosa. Já estava na
décima quarta tentativa quando desisti.
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O Carlos Eduardo ainda não tinha


chegado, por isso resolvi pedir um Yakisoba por
delivery. Enquanto minha comida não chegava,
coloquei Abóbora no meu colo e comecei a
procurar algo para assistir na Netflix.
Foi uma tarefa difícil, ainda mais para
uma pessoa indecisa como eu. Sei que em algum
momento eu acabei clicando em Stranger Things e
quando vi, já estava assistindo um episódio.
Depois de começar eu não consegui
mais parar, já estava no segundo episódio quando
escutei o som da porta abrindo.
Não tive tempo nem de tirar da série
para ele não descobrir.
— Amor... — ele disse, mas parou ao
me encarar e depois encarou a televisão. Quando
ele se deu conta do que eu estava assistindo, ele
completou. — Eu não acredito que você está
assistindo sem mim.
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— Desculpa, foi meio que sem querer,


não tive a intenção... Quando vi já estava
assistindo... Me perdoa? – perguntei me
aproximando dele, acariciando sua barba já grande.
— Vou pensar no seu caso, estou muito
cansado agora para pensar em uma punição por
você ter descumprido nosso trato.
— Haha punição!? Tenho que rir disso,
não é?! Você não consegue nem brigar com a
Abóbora, Cadu! – falei rindo.
— Pois me aguarde, Maria Luísa, sei
bem onde te atingir. – ele disse me beijando.
Retribuí o beijo de maneira saudosa,
adorava estar em seus braços e ter sua boca colada
a minha.
— O que tem para o jantar? – ele
perguntou caminhando até a cozinha enquanto eu
voltava para o meu lugarzinho no sofá.

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— Pedi Yakisoba no chinês aqui perto,


já deve estar chegando. Pedi faz uns minutinhos. –
avisei, dando play no episódio.
Cadu foi até o quarto e um tempo depois
voltou mais limpinho e largado. Foi direto para a
cozinha. Eu estava recebendo o pedido quando
escutei ele falar.
— Amor, que bagunça é essa aqui na
pia!? O que você estava tentando fazer?
Dei um sorriso amarelo ao entregador,
peguei o Yakisoba e fui até a cozinha.
Ele me encarou esperando respostas e
eu disse:
— Estava tentando fazer um jantarzinho
romântico para nós dois, mas não deu muito certo.
— Isso me parece óbvio, mas você só
pede Yakisoba de último caso?
— O Yakisoba do chinês é maravilhoso.

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Pedi para não ficarmos sem comer nada, não tenho


culpa se a maldita massa do nhoque não deu certo.
— Você tentou fazer nhoque, Maria
Luísa?
— Tentei, mas não ficou bom, só fiz
desperdiçar material e tempo. – falei ele me
abraçou.
— Na próxima deixa que eu faço
alguma coisa, você sabe que me saio melhor na
cozinha que você.
— É verdade. Só quis fazer um agrado,
mas vamos comer agora. – lhe dei um beijo e nos
sentamos à mesa de jantar que tinha na cozinha.
Dificilmente jantávamos ali, mas como
tínhamos passado o dia longe um do outro,
conversamos um pouco sobre como foi o nosso dia.
Cadu tinha ido procurar um espaço maior para a
livraria, já que o prédio que estávamos era alugado
e o gasto com o aluguel estava começando a
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atrapalhar as finanças. Então ele tinha conversado


com os outros acionistas e agora estávamos em
busca de um novo local.

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Nove

— E ai, gostou do espaço lá em Santos?


– perguntei colocando mais molho no Yakisoba.
— É um bom espaço, mas muito
escondido. Não curti isso e os outros associados
também não... Vamos continuar procurando. — ele
respondeu.
— Espero que ache outro lugar logo
então.
— Também espero. O Bruno ficou de
me mostrar alguns lugares, acho que vai me ligar
amanhã. — ele disse e eu torci o nariz ao escutar o
nome do Bruno. — Não faz essa carinha, sabe que

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ele tem muitos contatos aqui em São Paulo.


— Eu sei, não ligo que você encontre
com ele, mas não o quero perto de mim. Bruno é
uma pessoa detestável.
— Fica tranquila que ele não vai falar
com você, acho que ele não quer acabar todo
molhado de novo.
— Aquilo foi pouco por tudo que ele me
fez, mas não vamos falar dele. Meu dia hoje foi
extremamente chato, sem você por lá.
— Imagino. Você reclama, mas adora
entrar na minha sala com suas desculpinhas para
me beijar.
— Reclamo nada e você bem que adora.
— Gosto mesmo, não nego. – ele disse,
me dando um selinho no exato momento em que
meu celular tocou.
Peguei e ao olhar o visor, vi o nome da

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Sofia, minha prima lá de Paraty.


— Oi, Sofia! — falei sorrindo.
— Oi, Malu! Que saudade de você!
— Eu que o diga, nunca mais apareceu
por aqui!
— Falta de tempo, Malu! A pousada
toma todo o meu tempo, não consigo tirar férias
para ir aí matar a saudade.
— E eu não consigo ir aí para te ver.
Que saudade dos meus tios! Como eles estão?
— Todos bem, graças a Deus! Liguei
para te contar uma novidade.
— Ai meu Deus! Me conta! — falei
ansiosa.
— Vou me casar! — ela disse e eu
gritei. Cadu me olhou como se eu fosse louca e saiu
da mesa para cuidar dos pratos na pia.
— Mulher! Que novidade maravilhosa!

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Me diz que tu vai casar com o José! É com ele, né?


Aquele banana tomou coragem?
— Tomou sim e eu nem acreditei.
Demorou tanto que eu já estava achando que eu
mesma deveria providenciar esse pedido.
— Fica calma, que demorou, mas
chegou! Estou tão feliz por você e por ele também,
quase quatro anos de namoro e ele só tomou
providências agora.
— Ele disse que estava com medo de eu
não aceitar, porque ainda não temos uma casa e um
monte de outras coisas.
— Oh! Ele a essa altura do campeonato,
já deveria saber que você não pensa como seus
pais.
— Ele sabe, mas talvez achasse que
meu pai não aprovaria esse casamento.
— É verdade. Vindo do tio, eu bem

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espero uma atitude dessas. Como eles reagiram?


— Meu pai aprovou e isso vindo dele,
já é muito bom! E minha mãe enlouqueceu, já está
planejando todo o casamento.
— Eu imagino. A tia sempre sonhou
com isso, queria ver a carinha dela agora.
— Ela também quer muito te ver e foi
por isso que te liguei. O meu noivado não será
longo, eu e o José vamos nos casar daqui a duas
semanas e eu queria a minha madrinha aqui
comigo.
— Meu jesus amado! Eu vou ser
madrinha?! – gritei me levantando para dar uns
pulinhos. – Nem acredito que você lembrou. —
falei, indo para a cozinha.
— Como eu iria me esquecer? Juramos
de dedinho.
— Sim, juramos! Estou tão feliz!

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— Eu também! Quando você acha que


consegue vim para cá?
— Bem, vou conversar com meu chefe.
Ele é um homem muito chato, mas vou tentar
convencê-lo. – falei, abraçando as costas do Cadu.
— Tudo bem, espero que consiga.
Qualquer coisa me liga ou manda uma mensagem.
— Pode deixar! Até breve, Sô! – disse
desligando. – Minha prima vai casar. – falei
beijando suas costas.
— Eu já sei, foi impossível não prestar
atenção nos seus gritos.
— Engraçadinho. Mas já que escutou
tudo, já sabe que terei que passar uns dias longe.

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Dez

— Tudo bem, vai para Paraty?


— Isso, irei ajudar Sofia com os
preparativos.
— Certo, está liberada das obrigações
de funcionária. Agora as obrigações de namorada
como ficam?
— Elas terão que ficar suspensas por um
tempo, pouquíssimo tempo, eu juro. Prometo
compensar quando nos vermos.
— Tudo bem, você pretende ir que dia?
— Provavelmente no meio da semana,
vou ajudar minha prima e minha tia com os

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preparativos. Sonhamos com isso desde sempre, a


Sofia e eu sempre fomos muito próximas.
— Eu sei. Acho que consigo ir para lá
uns dias antes do casamento para curtirmos um
pouco e assim você também pode conhecer meus
pais, eles ainda moram lá.
— Uau! Eu vou conhecer seus pais.... —
falei com uma falsa animação, já meio nervosa.
— Sim, já falei de você para eles.
Minha sobrinha te achou linda. – ele disse, beijando
minha testa.
— Então... nunca me dei muito bem
com sogros... eles normalmente não gostam de mim
ou eu faço algo desastroso.
— Fica tranquila, eles já gostam de
você, Malu.
— Eu espero que sim! Você cuida da
Abóbora por esses dias?

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— Cuido sim, depois posso deixa-la


com sua mãe.
— Ótimo, acho que vou no açaí aqui
perto, quer ir comigo?
— Malu, você acabou de comer
Yakisoba!
— Sim e já estou com fome, você vai
querer também?
— Não, Malu. Corre lá, compra seu
açaí, vou assistir o primeiro episódio da série e
quando você voltar, assistimos juntos. — ele disse,
me dando um beijo e indo para sala.
Fui até a moça que vendia açaí. Lá
estava um pouco cheio, fiquei batendo papo com
uma vizinha na fila. Quando cheguei em casa Cadu
estava dormindo com Abóbora deitada em sua
barriga.
O chamei para irmos para cama e ele

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deitou em minhas pernas enquanto eu fazia cafuné


em seus cabelos e comia meu açaí. Estava passando
Alice no País das Maravilhas e depois de assistir
um dos meus filmes favoritos da vida novamente,
eu adormeci.
Durante esses dias, eu e o Cadu
procuramos estar perto um do outro o tempo todo.
A gente não enjoava, nem caía na rotina, revezando
entre o apartamento dele e o meu. Eu estava
apaixonada. Cadu me encantava de um jeito que
nem eu conseguia explicar. A Abóbora também o
amava, adorava ficar ronronando nos pés dele em
busca de algum petisco.
Tinha encontrado nele o meu porto
seguro. Alguém que podia confiar, que estaria
sempre comigo e ele se sentia do mesmo jeito,
completo.
Éramos como duas peças que finalmente
tinham se encaixado.
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Onze

Era quarta-feira e estávamos deitados no


sofá do meu apartamento com Abóbora entre nós
dois, assistindo algum filme de ação que o Cadu
havia insistido muito para que a gente assistisse.
Eu nem estava prestando atenção.
Estava selecionando alguns livros no kindle quando
meu celular começou a tocar.
Era a Sofia.
— Oi Sofi! Tudo certo para amanhã,
estou ansiosa!
— Oi Malu! Ah, que maravilha! Já
deixei tudo organizado também. Se prepara que

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amanhã vamos andar muito.


— Minha Virgem Maria, andar muito
não. Minhas pernas são curtas e eu me canso muito.
– falei e ela deu risada.
— Só você para falar uma coisa dessas,
sua maluquinha.
— Você me ama que eu sei! Cadê a tia?
Já fez seu vestido?
— Ainda não, está analisando o modelo
que eu pedi e começou a tirar as minhas medidas.
— Ela vai arrasar, como sempre! Estava
dando uma olhada no Pinterest, achei cada
decoração maravilhosa.
— Ah que maravilha! Eu tô meio
perdida ainda, confesso. Tá demorando para cair a
ficha que vou realmente casar!
— Eu imagino! Mas vai ser lindo!
— Vai ser sim! Uma cerimônia

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pequena, na praia. Estou tão ansiosa.


— Eu estou ficando ansiosa também! Já
convidei meu namorado para ir também, ele vai uns
dias antes do casamento.
— Namorado? Vai ser ótimo! Minha
mãe vai adorar conhecê-lo.
— Pode deixar, já confirmei tudo com
ele. E o José? Tá animado?
— Sim, muito! Ele já está terminando as
reformas na casa onde vamos morar. Acho que
acabei não te contando, os pais dele cederam um
terreno para a gente. Lá já tinha uma casa, mas ela
está precisando de uns reparos, então o José está
correndo contra o tempo esses dias, mas está
ficando tudo tão perfeito, Malu!
— Ah que lindo! Fico tão feliz por
você! Quando chegar aí quero ver tudo! Me diz
uma coisa quem vai fazer o seu vestido e o das
madrinhas, vai ser a minha tia?
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— Sim, mesmo eu avisando que seria


muito trabalho, minha mãe não abriu mão. Insistiu
muito e eu cedi como sempre.
— Imagino, tia Nora sabe ser persistente
quando quer. Vou mandar minhas medidas por
mensagem, estou ansiosa, Sofi!
— Eu estou assim desde o pedido!
Obrigada por aceitar participar desse momento.
— Obrigada você, por me convidar! Te
vejo amanhã, beijos!
Nos despedimos e eu desliguei.
— A Sofia está numa animação,
fazendo mil planos! Estou tão feliz por ela.
— Eu percebi, falei com meus pais que
vou para Paraty para um casamento e eles me
disseram que também irão, eles conhecem a família
do noivo.
— Ah que legal! O José tem uma

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família bem grande por lá mesmo.


— E eles são bem amigos dos meus
pais, acho que você vai acabar conhecendo eles
antes do que imagina.
Dei uma risadinha falsa e disse:
— Eu espero que não, quero te ter como
meu escudo.
Ele me puxou para seu colo, me
enchendo de beijos e se entregando totalmente a
mim e esquecendo completamente o filme.

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Doze

Na manhã seguinte, me despedi,


saudosa, do Cadu e da Abóbora e parti de carro
para Paraty. Um dos meus primos, o Thiago tinha
vindo me buscar. Ele morava em Campinas e
também iria mais cedo para ajudar nos preparativos
do casamento, já que a mãe da Sofia era madrinha
dele.
Passei um pouco mais de quatro horas
dentro daquele carro, e eu já não aguentava mais.
Tive que pedir para ele fazer umas paradas ao
longo do caminho. Eu estava super enjoada com o
movimento do carro e minha bunda doía de tanto

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permanecer sentada.
Assim que chegamos lá, fomos
diretamente para casa da minha tia.
Assim que desci, apreciei a beleza
daquela cidade e corri para abraçar minha tia,
enchendo-a de beijos.
— Como você está linda! Ainda parece
aquela menininha que corria tudo com a Sofia. –
ela disse, me abraçando.
— A senhora continua exatamente do
mesmo jeito que eu me lembrava... Que poção da
juventude a senhora está tomando? Me conte esse
segredo! – falei brincando e ela sorriu.
— Ainda continua a mesma maluquinha
de sempre! Cadê o namorado? Ele não veio?
— Não, vem depois. Não conseguiu
fugir do trabalho.
— Ah, entendo! Mas fico tão feliz que

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você esteja aqui.


— Eu também fico, tia. Que saudade eu
estava desse lugar. – falei e logo depois entramos
na casa dela com ela me mostrando tudo. Eu
dividiria o quarto com a Sofia por uns dias, já que
ela tinha praticamente exigido isso da mãe.
Quando passamos pela cozinha, a mesa
estava repleta de bolos, salgados e doces.
Meu estômago que ainda estava um
pouco enjoado, despertou na hora.
Comecei a comer e a Sofia chegou com
o José.
Foi uma sessão de abraços, beijos e
pulinhos de felicidade.
Ela me arrastou para o quarto dela e eu
nem tive tempo de me despedir do José.
— Menina, porque você não me contou?
Minha mãe me falou e eu disse a ela que você não

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esconderia isso de mim! Mas vendo essa sua


carinha, eu vejo que ela estava falando a verdade.
— Do que você está falando sua louca?
Não fiz plástica nenhuma... não preciso disso ainda,
não escondi nada de você!
— Não estou falando de plásticas, estou
falando dessa sua carinha de grávida.
— Carinha de grávida!? Você
enlouqueceu, só pode né!? Você e minha tia! Eu
não estou grávida, Sofia.
— Tem certeza? Porque eu estou e
minha mãe nunca se engana com essas coisas. – ela
disse e eu a encarei.
— Ai meu Deus!!! Você vai ter um
bebê! – gritei abraçando-a.
— Não grita!! Mas sim, vou ter um
bebê. São poucas as pessoas que sabem, mas estou
tão feliz, Malu. Tenho um grãozinho aqui dentro.

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— Estou tão feliz por você! Esse é o


melhor momento da sua vida! Você sonhou com
isso a vida inteira.
— É sim, e eu nem consigo acreditar
que isso é real.
— Pois acredite! Em alguns dias você
será a noiva mais linda dessa cidade. – falei e nós
nos deitamos na cama dela, conversando sobre o
casamento, ela me mostrou tudo o que já estava
parcialmente pronto ou escolhido.

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Treze

À noite, fomos caminhar pela cidade e


eu finalmente peguei o meu celular para ligar para
o Cadu.
— Oi, amor. – falei quando ele atendeu.
— Oi, vida! Finalmente lembrou que
tem um namorado!?
— Desculpa, a viagem foi cansativa e
elas me queriam só para elas depois que cheguei.
Consegui me libertar agora, estou na praça rodeada
de crianças.
— Parece divertido.
— É, só parece mesmo. Muito barulho!

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Deixa eu te contar, Sofia está grávida.


— Ah, que legal! Parabéns para ela! É
algo que ela queria?
— Sim, muito! Por isso fiquei tão feliz
quando ela me contou. Como foi no trabalho?
— Tudo tranquilo, o Bruno apareceu por
lá hoje, para me mostrar os imóveis.
— Hum, e ele te mostrou algo que
prestasse?
— Gostei só de um. Vou amanhã com
ele lá para ver se o lugar se encaixa no perfil que
queremos.
— Okay, já estou sentindo saudades de
você.
— Eu também e a Abóbora está te
procurando pela casa... Acho que não sou só eu que
sinto saudades.
— Ah, minha filhinha! Já conversei com

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minha mãe para tomar conta dela.


— Certo, será que meu encontro com
ela vai ser mais amistoso dessa vez?
— Provavelmente sim, naquele dia ela
estava em péssimo humor e você ainda teve a
audácia de abrir a porta de toalha.
— Eu achei que fosse você na porta,
Malu. Você me disse que já estava chegando.
Nunca senti tanta vergonha como naquele dia.
— É, não foi um jeito legal de conhecer
a sogra, mas supere isso. Provavelmente farei algo
ainda mais desastroso na casa dos seus pais e você
terá que me amar mesmo assim.
— Com certeza, não tem para onde
correr, é a sua vez de passar vergonha.
— Não fala isso, Cadu! Diz que eu vou
conseguir passar a noite sem dar vexame.
— Eu espero que sim, mas é você,

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Malu. Um desastre ambulante.


— Palhaço! Vou me sair super bem e
você vai ver!
— Está bem. Tem meu voto de
confiança, espero que os vasos da minha mãe
fiquem ilesos.
— Para de me amedrontar, Cadu! Eu
vou te encher de beliscões, deixa só você chegar. –
falei. vendo a Sofia acenar para mim, já íamos
embora.
— Essas ameaças serão esquecidas
quando eu te cobrir de beijos.
— Fique se iludindo! Vou ter que
desligar. Fica bem! Te amo e até breve! – falei e
meu coração ficou apertado de repente. Uma
sensação ruim apertou meu peito.
— Vou me cuidar sim, você também!
Te amo! Amanhã te ligo. – ele disse desligando.

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A sensação ruim que embrulhava o meu


estômago tardou a passar. Eu e a Sofia ficamos até
tarde vendo algumas fotos para colocar no painel
que ficaria atrás do bolo de casamento.
Já era madrugada quando adormeci,
fiquei olhando minhas fotos com o Cadu até pegar
profundamente no sono.

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Catorze

Acordei tarde no dia seguinte, e mal


despertei, já corri apressadamente colocando tudo
para fora. Não restou absolutamente nada. Eu
nunca tinha tido uma crise de vômito tão forte, mas
culpava o meu nervosismo de ontem à noite.
Graças a Deus, nem minha tia ou a Sofia
estavam em casa, ou surtariam dizendo que eu
estava mesmo grávida.
Coisa que eu não estava.
Não havia a menor possibilidade.
Eu era bem neurótica em relação isso.
Apesar de amar o Cadu, eu me sentia

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totalmente despreparada para ter um filho.


Evitava pegar até mesmo os recém-
nascidos, morria de medo de derrubar ou qualquer
coisa do tipo.
Passei direto pela cozinha, depois de
tomar um banho e fui atrás de uma água de coco.
Bebi minha água olhando o mar, e senti minhas
energias renovarem.
Seria maravilhoso curtir esse lugar com
o Carlos, como quando nos vimos pela primeira
vez.
Depois de um bom tempo voltei para
casa, encontrei a Sofia nervosa com meu celular na
mão.
Ao me ver, ela pareceu ainda mais
aflita.
— Estava te procurando! Onde se meteu
maluquinha? – perguntou como se fosse minha

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mãe.
— Fui na praia, tomar uma água de
coco. Aconteceu alguma coisa? – perguntei
pegando meu celular notando várias ligações e
mensagens do Carlos, Paulo e até da Gabriela.
Ela pareceu pensar no que me
responderia e disse:
— Liga para o Carlos que ele te explica,
só tenta manter a calma. – ela disse e eu assenti,
com minha mente frenética criando inúmeras
teorias.
Disquei o número do Cadu e ele não
demorou a atender.
— Oi, amor.
— Oi, vida! – ele disse e ao longe eu
conseguia ouvir um barulho incomum de muita
agitação.
— Carlos o que aconteceu? Está tudo

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bem?
— Agora está, sofri um acidente de
moto.
— O quê!? Moto? Como você sofreu
esse acidente, Cadu?
— Fui com o Bruno de moto para o
possível espaço para a livraria. O Bruno começou a
discutir com um cara que dirigia, ele fechou a gente
e a moto derrapou na pista. Tive algumas
escoriações, mas estou bem. – ele disse, tentando
me tranquilizar, mas eu estava irritadíssima.
— Eu não acredito que aquele filho da
puta colocou sua vida em risco! É um irresponsável
mesmo! Porque você não foi de metrô, Carlos?
— Ele chegou aqui de moto, disse que
seria mais rápido. Já tinha andado algumas vezes
com ele e nunca tivemos problema.
— Ah, sabe Carlos, às vezes eu acho que

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o Bruno que eu conheço, não é o mesmo que você


conhece. Ele finge um personagem tão bem para
todos ao redor que me assusta.
— Não exagera, Malu. Foi um caso
isolado e eu estou bem. Preciso desligar, pois vou
ser atendido. Amanhã a gente se vê. Te amo. – ele
disse, desligando sem dar tempo de eu me despedi.
Comecei a chorar e a Sofia veio me
abraçar. Era ridículo eu estar chorando por aquilo,
mas minhas emoções estavam um caos.
O Bruno era uma das pessoas mais
falsas e dissimuladas que já tive a infelicidade de
conhecer. Ele fazia o papel de príncipe perfeito até
você conhecer o outro lado.
Nunca disse a ninguém o quanto passei
a sentir medo até do toque dele, depois de descobrir
que ele estava me traindo.
A maneira como ele falou comigo que
eu deveria aceitar tudo, apertando meu braço tão
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forte que chegou a me machucar, era o que eu


precisava para terminar tudo. Ele aceitou até que
bem demais o término. Foi para outro estado e
ficou lá por um tempo, mas parece que agora
voltou determinado a me atingir novamente.

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Quinze

Quando fechei os olhos, tentei não pensar


nele e foquei no Cadu. Acabei adormecendo e
acordei no entardecer morrendo de fome.
Fui direto para a cozinha e parece que
minha tia tinha adivinhado, pois eu estava
morrendo de desejo de comer lasanha de frango.
Me empanturrei até não caber mais nada
no estômago e fiquei receosa de passar mal de
novo.
Então me deitei na rede e fiquei apenas
apreciando a vista maravilhosa do quintal.
Já era noite quando a Sofia chegou, eu e

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ela vestimos os vestidos e minha tia começou a


ajustá-los.
O vestido de noiva da Sofia era lindo
demais. O decote era justo, mas o resto era bem
solto. Acho que por causa da barriga que em breve
começaria a aparecer.
Fui vestir o meu e quase sufoquei. Meu
vestido estava muito apertado na parte da barriga.
— Tia, você tem certeza que fez nas
medidas que te mandei? Porque isso aqui está
apertado demais!
— Fiz sim, exatamente nas medidas que
você me mandou semanas atrás.
— Ai, meu pai! Acho que engordei
então. Tem como ajustar?
— Claro que tem, mas eu sugiro
trocarmos o modelo do seu vestido.
— Trocar? Porquê?

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— Porque assim não corremos o risco


de ficar apertado de novo no dia do casamento.
— Tia, eu não pretendo engordar mais,
vou até tentar fazer uma dieta.
— Nada de dietas, Maria Luiza. Você
vai aceitar minha sugestão de outro modelo e
pronto. – ela disse de modo que não dava nem pra
contestar, ou eu levaria uns tapas.
— Tá certo, tia. – falei enquanto ela
começava a ajustar.
Mais tarde naquela noite, Cadu me
mandou uma foto dele com a Abóbora, me
mostrando que estava bem e acalmando um pouco
mais meu coração.
Estava ansiosa para vê-lo. Só tinham se
passado poucos dias, mas ele tinha me acostumado
muito mal com a sua presença e as suas constantes
demonstrações de carinho.

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Acordei novamente muito enjoada, corri


para o banheiro e liguei o chuveiro para abafar o
som do vômito.
Tomei um banho, lavei meus cabelos e ao
me olhar no espelho, assustei-me ao perceber o
quanto eu estava pálida. Me recusava a acreditar no
que minha tia falou.
— Eu não estou grávida. – disse a mim
mesma no espelho.
Me arrumei e no café da manhã preferi
ficar só no suco e na bolacha de água e sal. Ela
acalmou um pouco mais meu estômago.
Fui com a Sofia onde seria a festa de
casamento e quando estávamos voltando, avistei o
Cadu caminhando em nossa direção.
Corri até seus braços e o beijei,
apaixonadamente.
— Meu Deus! Como você pode ter

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ficado mais bonito em poucos dias!? Vou ter que te


vestir com uma burca. – falei bagunçando seus
cabelos, naturalmente bagunçados e alisei sua
barba.
— São seus olhos, você que está ainda
mais linda. Só estou te achando um pouco pálida.
Está tudo bem? – ele perguntou alisando meus
cabelos.
— Estou bem sim, acho que tomei
muito sol. – respondi me agarrando a ele
novamente.
— Ah, vamos para o hotel então, quero
aproveitar as horas que tenho com você antes de te
levar até a casa dos meus pais. – ele disse, me
beijando de novo.
— Nem me lembra disso, meu estômago
embrulha só de pensar. – falei e ele riu.
Apresentei ele à minha prima, depois
fomos até um hotel. Cadu me ergueu em seus
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braços e me mostrou muitas, e muitas vezes o


porquê eu era completamente apaixonada por ele.

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Dezesseis

Apesar de estarmos namorando há meses,


eu nunca tinha conhecido os pais do Cadu, nem por
telefone ou por vídeo chamada. Essa seria a
primeira vez que eu veria os meus sogros.
Nem preciso dizer que estava me
tremendo de medo, não é? Nunca me dei bem com
eventos familiares, sempre acontecia algo
vergonhoso: Ou eu quebrava alguma relíquia da
família ou derrubava comida em alguém. Esperava
que isso não acontecesse hoje. Tudo precisaria sair
perfeito essa noite, pois eu queria causar uma boa
impressão.

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Cadu percebeu meu nervosismo e tirou


a mão do volante para apertar minha coxa, de modo
carinhoso, tentando me tranquilizar. Estávamos a
caminho da casa dos pais dele, que ficava numa
área um pouco mais afastada e que por estar de
noite, não dava para irmos andando.
— Relaxa amor, meus pais vão te
adorar.
— Espero que sim, eu realmente espero
que sim. Mas infelizmente, a sorte nunca está do
meu lado. — Disse lhe dando um selinho e ele riu.
Chegamos à casa e eu fui logo descendo
do carro, meu estômago estava revolto de tamanho
nervosismo e ansiedade que estava sentindo. Rezei
para não vomitar.
Tocamos a campainha e uma senhora
simpática veio abrir a porta. Ela era baixinha, tinha
mais ou menos minha altura, cabelos pretos e olhos
azuis, iguais aos do meu namorado. Ela o abraçou e
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logo depois me deu um abraço apertado.


— Que bom finalmente te conhecer,
querida. Carlos Eduardo estava te escondendo da
gente?
— Não, imagina, Dona Lívia.
Acabamos não tendo muitas oportunidades de vir
para cá e quando vocês foram para São Paulo, a
gente tinha viajado naquele fim de semana.
— Sem o “dona”, por favor. Pode me
chamar de Lívia, querida. É realmente uma pena,
mas fico feliz que vocês estejam aqui pelo
casamento do José com a Sofia, ela é uma moça tão
doce. – ela disse e eu lhe dei o meu melhor sorriso,
concordando.
Caminhamos até a sala e lá
encontrarmos o pai do Cadu, que era quase uma
cópia dele, só que mais velho e com olhos verdes.
Sua irmã mais nova, Elizabeth, tinha os cabelos
coloridos e muitas tatuagens. Ela era mais alta que
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eu e tinha uma filha, a pequena Aurora, de três


anos, com cabelos loirinhos, olhos azuis e dava um
sorriso sapeca sempre que me via, ela estava
correndo pela sala com inúmeros brinquedos ao seu
redor.
Ao sentarmos para jantar, Lívia
anunciou que tinha feito um nhoque e ao notar
como ele estava perfeito, não pude deixar de
lembrar do meu desastre recentemente na cozinha.
Enquanto comia calmamente, me
policiando para não derrubar nada da mesa, Lívia
me fez engasgar quando perguntou:
— Malu, querida, o Carlos Eduardo,
odeia quando eu faço essa pergunta, mas vocês já
pensam em ter filhos ou é muito cedo para eu
perguntar isso?
Comecei a tossir e de repente me veio
uma forte ânsia de vômito, não conseguiria segurar,
então saí correndo da mesa, para o banheiro mais
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próximo. Cadu veio atrás de mim, para me dar


apoio moral, eu acho. Quando terminei de pôr tudo
para fora, pude escutar a Elisabeth falar:
— Acho que daqui a nove meses, mãe!
Limpei minha boca, respirei fundo e
encarei o Cadu, que me olhava com uma cara bem
engraçada.
— Grávida, Malu?
— Claro que não, Carlos Eduardo!
Acho que comi demais, ou a comida da tua mãe
que não fez bem, sei lá. Não venho me sentindo
bem nos últimos dias.
— Talvez devêssemos ir ao médico. —
ele me aconselhou, levemente preocupado.
— Não precisa, já estou me sentindo
melhor. — Respondi respirando fundo e voltamos
para a sala.
No corredor tinha inúmeros quadros de

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família e eu achei aquilo uma graça, tinha imagens


do Cadu bebê em todas suas fases até estar adulto.
Parei para admirar todas elas e ele me abraçou,
apoiando seu queixo em meu ombro.
Eu sabia que aquilo não devia estar
sendo nada confortável para ele – devido a sua
altura – mas não iria reclamar, eu amava esse
carinho dele.
— Você foi um bebê muito fofo e um
menino lindo! Nessa foto aqui você está do jeito
que eu me lembrei por anos.
— Eu também guardei aquela
menininha de maria chiquinha na memória. Você
sempre foi linda, meu amor. – ele disse, me
puxando para um beijo, mas eu virei muito rápido e
quase derrubei um dos vasos que estavam em uma
prateleira.
Para minha sorte, Cadu foi rápido o
suficiente para segurá-lo.
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Voltamos para mesa de jantar e assim


que me sentei, Elizabeth perguntou:
— Será que finalmente terei um
sobrinho, Cadu?
— Não. Malu só não se sentiu bem,
talvez tenha sido o excesso de queijo. — ele
respondeu.
— Ah, que pena! Achei que teria mais
netinhos. — Minha sogra disse, meio murcha.
Lhe dei um sorriso fraco e beberiquei
meu suco de laranja. Aurora veio ao meu colo e eu
acariciei seus cabelos. A menina estava quase
dormindo em meus braços com seu rostinho
angelical.
Mais tarde naquela noite, após nos
despedirmos de seus pais, eu e o Cadu voltamos
para o hotel. No dia seguinte iriamos visitar alguns
lugares turísticos e logo depois eu precisaria ir para
casa da minha tia ajudar ela e a Sofia com os
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preparativos, afinal o casamento estava cada vez


mais próximo, apesar de que tudo o que eu mais
queria era ficar em uma cama enrolada no Carlos
Eduardo.
Adorava sentir o meu cheiro misturado
com o dele todas as manhãs.
No decorrer dos dias me dividi entre
organizar as coisas do casamento, esconder meus
enjoos constantes e namorar muito o Cadu. A gente
aproveitava qualquer tempinho que eu tivesse livre
para turistar. Conheci lugares maravilhosos e me
apaixonei novamente por lugares já conhecidos,
mas definitivamente, a melhor parte de todos esses
dias foi curtir o pôr do sol agarradinha a ele no
lugar que nos conhecemos.

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Dezessete

Na manhã do dia do casamento, acordei


cedo e pela primeira vez em dias, sem vomitar.
Comecei a comer meu companheiro diário de todas
as manhãs, o biscoito de água com sal, que
amenizava e muito o rebuliço em meu estômago.
Tinha deixado um potinho ao lado da cama.
Me levantei, já que a Sofia não estava
no quarto. Andei até a sala e a encontrei na
companhia de todas as madrinhas e de sua mãe.
— Até que enfim você acordou, Malu! –
ela disse vindo me abraçar.
— Desculpem, o cansaço me pegou em

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cheio. Nós já vamos para o salão? – perguntei,


cheia de expectativa.
— Já sim, só estávamos te esperando. –
respondeu e eu fui tomar banho e trocar de roupa
para irmos.
Passamos praticamente o dia inteiro
nesse salão, sendo mimadas. No meio da tarde, a
Sofia foi até um espaço reservado para arrumarem
ela já com o vestido de noiva.
Nós, as madrinhas, também vestimos
nossos vestidos. Adorei a troca de modelo que titia
havia feito, ele estava muito mais fluido agora.
Tiramos inúmeras fotos lá mesmo no
salão e depois tiramos mais algumas quando
chegamos na praia onde seria a cerimônia.
O dia estava lindo e um pôr do sol
maravilhoso começava a se formar.
Posamos mais algumas vezes e logo

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depois fomos para um lugar mais reservado. Então,


quando chegou o momento, de braços dados com
um dos melhores amigos do José, entrei ao som da
marcha nupcial pelo caminho de pétalas.
Avistei o Cadu ao lado dos seus pais e
ele sorriu para mim. Foi completamente inevitável
não sorrir de volta.
No decorrer da cerimônia, me
emocionei por diversas vezes. Era impossível me
controlar, meus olhos pareciam duas torneirinhas
abertas.
Depois da cerimônia, fomos para festa.
Cadu me abraçou, me acalentando e tentando
entender o meu choro. Depois que consegui me
acalmar, pedi para uma das meninas retocarem a
maquiagem e fomos para o restaurante onde seria a
festa.
A decoração tinha ficado maravilhosa,
bem romântica como a Sofia queria. O painel de
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fotos atrás do bolo tinha ficado perfeito. Muitas


mesas e cadeiras, um espaço para dançar e um
palco, onde um cantor cantava suas músicas apenas
com um violão. Tinha uma cabine de fotos, um bar
com algumas bebidas e um pouco mais afastado,
tinha uma cortina em led com muitos corações.
Aquela era a minha parte favorita de todo o lugar.
Eu e o Cadu passamos um bom tempo
falando com conhecidos, eu apresentando ele a
algumas pessoas e ele fazendo o mesmo, quem já
conhecia a nós dois ficou muito feliz com o nosso
namoro.
Eu comi bastante e evitei as bebidas
alcoólicas, com esses meus enjoos crescentes, eu
não queria dar motivo para vomitar ainda mais.
Em um determinado momento da festa,
Carlos Eduardo me puxou para onde estava a
cortina de led e os corações.
Ele beijou minha mão, meu rosto, minha
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boca e se ajoelhou. Meu coração batia acelerado no


meu peito, simplesmente porque eu não acreditava
no que meus olhos viam.
Ele ia mesmo fazer o que eu estava
pensando!?
— Não posso dizer que é muito cedo
para fazer esse pedido, afinal a gente se conhece há
tanto tempo e as nossas almas se reencontraram
agora. A minha vida ganhou mais cor, mais alegria
com você. Não saberia e nem poderia viver longe.
Não mais. Por isso hoje, no lugar onde nos
conhecemos, onde trocamos o primeiro olhar. Eu te
peço para ficar comigo pelo resto da minha vida.
Maria Luisa, aceita se casar comigo? — ele propôs
e com as pernas bambas, eu me agarrei a ele,
derrubando-o.
Lhe dei um beijo apaixonado e disse:
— Claro que eu aceito! Meu jesus
amado! Não acredito que você fez isso!
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— Pois acredite. Me controlei tanto para


não fazer o pedido quando comprei o anel.
— Você escondeu muito bem, eu nem
imaginava! Agora te deixei todo sujo. — falei
tentando limpa-lo.
— Não tem problema. Ainda bem que
você aceitou, estava suando frio já. – ele disse, me
beijando mais uma vez.
— Eu não sou nem louca de negar um
pedido desses! Acho melhor a gente voltar para o
hotel... – falei a ele.
— Por quê?
— Porque não vou conseguir tirar esse
sorriso do meu rosto e hoje o dia é da Sofia, não
quero tirar o momento dela.
— Beleza, eu entendo. Vamos nos
despedir deles e ir embora.
Andamos até os pais dele, nos

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despedimos com muitos beijos, abraços e


promessas de voltarmos logo, já que no dia
seguinte partiríamos de volta para São Paulo.
Me despedi da Sofia, desejando a ela e
ao José toda felicidade do mundo e prometendo
voltar logo para acompanhar um pouco dessa
gravidez. Por fim, fui dar um abraço na minha tia,
que me apertou muito em seus braços.
— Se cuida, viu, Maluquinha! Vê se não
apronta nada, cuida da tua saúde. – ela disse
beijando minha testa.
Voltamos para o hotel e nos amamos
mais uma vez, com mais intensidade, com mais
paixão.
Na manhã seguinte, voltamos para São
Paulo. Assim que cheguei lá fui rapidamente buscar
a Abóbora e fui dormir. Estava com muito sono, o
Cadu me deu apenas um selinho e foi trabalhar.
Nos dias seguintes, continuei enjoada e
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vomitando, principalmente pela manhã. Cheiros


fortes me faziam colocar tudo para fora, já
começava a pensar se a minha tia e a Sofia não
tinham razão. Cadu passou a encher meu saco em
relação a isso, chegou a dizer que ia me levar a
força para o hospital, mas eu não dava o braço a
torcer.
Se ele era insistente, eu era teimosa. O
tópico gravidez estava no topo da lista de assuntos
durante as nossas discussões. Na livraria ele me
mostrava ou colocava em meu caminho, livros
sobre gestações ou bebês. Segundo ele, eu estava
ignorando o óbvio.
Mas eu provaria que ele estava errado.
Ou eu não me chamo Maria Luísa de Souza
Pereira.

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Dezoito

Contamos aos meus pais durante um jantar


sobre o nosso noivado. Meu pai parabenizou a
gente, cheio de emoção e minha mãe se mostrou
feliz. Ela nunca foi muito boa em demostrar como
realmente se sentia, mas o sorriso dela me deixou
satisfeita.
No dia seguinte, marquei uma consulta
com a minha ginecologista. Para que Cadu não
fosse comigo, marquei justamente no horário em
que ele teria uma reunião com o Bruno. O Cadu
estava cada vez mais próximo dele ultimamente e
isso me irritava ao extremo. Eu evitava ao máximo

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estar nos mesmos lugares que ele, mesmo que isso


fosse inevitável, já que o Cadu sempre me levava
para ver como estava ficando o novo espaço e o
Bruno estava lá, já que era arquiteto e disse ao
Cadu que ficaria feliz em ajudar o primo. Eu não
acreditava nem um pouco nisso.
Acordei e o Cadu já tinha saído, graças
a Deus não tive nenhum enjoo, era a primeira vez
em semanas. Tomei um banho bem demorado,
lavando meus cabelos e hidratando todo o meu
corpo. Vestindo um roupão e fui preparar meu café
da manhã. Estava com muita vontade de comer um
misto quente com um suco de maracujá. Ele
ajudaria a acalmar meus nervos e o meu estômago
que já protestava.
Caminhei até a geladeira, retirei de lá a
garrafa de água, queijo, presunto, dois maracujás e
açúcar. Ao me virar, levei um baita de um susto e
tudo o que estava na minha mão, foi para o chão!
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“Poxa! Lá se vai o meu café da manhã!



— Ah, merda! Porra, Cadu, quer me
matar de susto? — Respirei fundo para me acalmar,
pois, estava tremendo um pouco.
Em seguida atravessei a bagunça no
chão e comecei a socar seu peito.
— Você fica tão fofa bravinha. — ele
disse segurando meus pulsos e roubando-me um
beijo.
— Me larga, seu chato! O que você está
fazendo aqui? Se veio para me matar, quase
conseguiu! — Indaguei sentando no sofá, ainda
emburrada.
Ele sentou-se ao meu lado e me colocou
em seu colo.
— Vim porque uma tal de Kátia ligou
para o meu celular para falar que sua consulta com

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a doutora Raquel foi antecipada em meia hora. —


Encarei-o ao mesmo tempo em que começou a
acariciar meu rosto. — Quando ia me contar que
minhas suspeitas são verdadeiras?
— Não ia te contar porque suas
suspeitas não são verdadeiras, eu não estou grávida,
Cadu. Põe isso na sua cabeça. Vou à médica para
trocar a minha pílula e te provar que isso é só a sua
obsessão por bebês. — Respondi, tentando
continuar séria.
— Então eu tenho obsessão por bebês?
— Perguntou e eu confirmei com a cabeça. —
Porque se eu me lembro bem, foi você que ficou de
um lado para o outro na livraria com o bebê da
moça que você estava atendendo.
— Eu sei que fiz isso, mas só porque ele
era a coisa mais fofa do universo. — Tentei me
justificar.
— Ele era uma fofura, mas acho que a
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mãe dele ficou com medo de você sequestrar a


criança — Rimos juntos. — A coitada entrou em
pânico quando você foi ao estoque com o bebê. —
Rimos mais uma vez — Agora vai se arrumar, que
precisamos tirar essa dúvida. Ou melhor,
precisamos fazer você ver a verdade, meu amor. —
Ele me deu um selinho e fui me arrumar.
Quando chegamos lá, depois de passarmos
em uma padaria e ele comprar um mistão com suco
para mim, que devorei em segundos, já que estava
faminta, preenchi uma ficha e fiquei aguardando o
atendimento.
Estava até bem tranquila, porque tinha
certeza que não era nada. Mas Cadu estava
impaciente, era engraçado ver a calma em pessoa,
nervosa.
Fui chamada. Entramos no consultório,
sentamos e começamos a conversar com a doutora,
ia falar sobre a pílula, mas Carlos me interrompeu,
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falando dos meus enjoos, da minha sonolência e


das repentinas tonturas que eu tinha no trabalho.
— Bem, podemos confirmar ou
descartar essa possibilidade através do exame que
pode ser feito agora mesmo. O Beta-hCG através
da urina ou do sangue. Ou se preferir, podemos
fazer um ultrassom. — Ela respondeu com calma.
— Eu gostaria de fazer os dois, o exame
de sangue e a ultrassom. Fiz um teste de gravidez
há umas semanas atrás, logo que comecei a sentir
os sintomas e ele deu negativo. — Revelei e o Cadu
ficou surpreso.
— Quando iria me contar sobre esse
teste? — Ele questionou, irritado.
— Ele deu negativo, não vi motivos
para te contar. — Respondi e logo fomos
interrompidos pela doutora, que me encaminhou
para uma sala onde coletariam meu sangue.
Após a coleta, fomos encaminhados
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para a sala de espera para aguardarmos pela ultra.


Cadu ainda estava chateado comigo por não ter
contado sobre o teste. Então ficamos em silêncio
durante todo aquele tempo.
Quando fui chamada, fomos levados para
uma salinha onde o exame seria feito. Deitei-me na
maca e uns minutos depois do início do exame,
uma imagem surgiu na tela à minha frente, não
conseguia definir bem o que era. Então ela
perguntou:
— Estão animados para ter um bebê?
— Sim, muito. — Cadu respondeu,
dissipando qualquer briga entre nós dois e
apertando minha mão. Eu estava muito nervosa,
apesar dos sintomas, não acreditava na minha
gravidez, ainda não.
— Não, porque não tem bebê. Meu
namorado tem uma pequena obsessão por bebês e
os vê em todo lugar, até no meu útero. — Respondi
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e a enfermeira riu.
— Bem, devo dizer que não estou vendo
um bebê aqui. — Ela começou a falar, mas eu a
interrompi.
— Está vendo, Carlos Eduardo! Não
tem bebê, eu não estou grávida! — Disse ao
encará-lo.
— Na verdade, Senhorita Maria Luísa,
eu não estou vendo um bebê, mas sim dois. Vocês
serão pais de gêmeos!
— Caramba! Acho que vou chorar de
alegria. — Cadu disse apertando a minha mão
ainda mais forte e praticamente pulando na maca
em que eu estava. Ele realmente não estava
conseguindo conter as emoções. Eu, por outro lado,
também não era nada contida.
— Meu Deus do céu! Você não tinha
que colocar um bebê aqui, mas sim, dois? Como
vamos cuidar de dois bebês, Carlos Eduardo?
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— A gente consegue, claro que a gente


consegue, Malu. Nessa vida tudo se dá um jeito,
meu amor. — Ele disse beijando minha testa.
— Vamos escutar os coraçõezinhos? —
A médica apertou um botão e de repente a sala se
encheu com um som maravilhoso, dois corações
batiam ritmados, pareciam estar competindo para
ver quem batia mais rápido.
E então caiu a ficha. Eu estava grávida,
teria dois bebês. Imediatamente comecei a chorar.
Cadu alisou meus cabelos, beijando meu rosto e
dizendo que sabia exatamente como eu estava me
sentindo.

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Dezenove

No decorrer dos meses, minha barriga só


aumentava. Estava com quatro meses quando
fizemos um jantar na casa dele para anunciar a
minha gravidez. Minha barriga já estava se
mostrando e a família do Carlos recebeu a notícia
com muita alegria, a minha nem tanto. Quer dizer,
o papai ficou feliz por ter netinhos, mas minha mãe
só soube me criticar por engravidar antes do
casamento. Tentei ignorar as coisas que ela me
disse, porque isso não me faria bem, e me
concentrei apenas nos meus filhos.
Quando estava com seis meses, nós

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ainda não tínhamos descoberto o sexo. Toda vez


que íamos à obstetra, eles estavam de pernas
fechadas. E isso era bem frustrante, ainda mais para
mim, que sou muito ansiosa. Queria arrumar o
quarto deles, comprar roupas, mas eles não
colaboravam! Então a maioria das coisas que
tinham era em cor neutra.
Cadu conversava com eles todos os dias
antes de dormimos e lhes contava histórias. No
trabalho, meu namorado fazia questão de me
manter sentada na maior parte do tempo, para que
meus pés não ficassem iguais a duas bolas de tão
inchados.
Uma noite antes de uma consulta, estava
deitada na cama comendo biscoito com Nutella
esperando o Cadu chegar, ele tinha saído para uma
despedida de solteiro de um dos seus amigos e me
prometeu que não voltaria tarde, mas parece que
seus amigos tinham o convencido do contrário.
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Estava passando A proposta na televisão


e eu resolvi assistir com Abóbora deitada sobre a
minha barriga, meus bebês mexiam e a Abóbora
ronronava para eles.
Estava olhando algumas decorações
para o quarto do bebê, quando recebi uma
mensagem do Bruno. Eu não tinha mais o contato
dele salvo, mas conhecia o número dele.
Na mensagem, havia apenas uma foto.
Pensei se deveria realmente abrir, já que não queria
nada que viesse dele, mas minha curiosidade foi
maior.
Quando a imagem abriu, eu desejei ter
ignorado aquilo.
Na foto estava o Cadu abraçado com
uma mulher que eu reconhecia claramente como
sendo uma ex namorada dele. Eles conversavam
muito próximos um do outro. Depois chegaram
mais duas fotos, eles abraçados e uma outra que
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pareciam estar até se beijando.


Comecei a chorar, me sentindo ridícula
por estar passando por isso mais uma vez. Nunca
imaginei que o Cadu faria a mesma coisa que o
Bruno fez e isso partia o meu coração em milhões
de pedaços.
Liguei para o Cadu, na esperança de
conseguir falar com ele e dar a ele a oportunidade
de se explicar, mas ele não atendeu.
Tentei mais duas vezes e nada.
Abalada com tudo isso, peguei algumas
coisas e a Abóbora e fui para casa dos meus pais.
Meu pai atendeu a porta e me abraçou,
preocupado, começou a perguntar se tinha
acontecido alguma coisa com os bebês.
— Não pai, não foi nada com os bebês,
eles estão bem, sou eu quem preciso ficar aqui, por
favor. – implorei, ainda em prantos.

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— Tudo bem, filha. Você pode ficar,


mas tenta se acalmar, tudo bem? – ele falou e eu
assenti tentando controlar minha respiração.
Minha mãe me deu um copo de água e
se sentou ao meu lado acariciando a minha barriga.
Era a primeira vez que ela fazia isso, eu me
encostei em seu ombro e ela me abraçou com a
outra mão.
— Tenta se acalmar. Tudo o que você
sente, eles sentem também. Não sei o que o Carlos
Eduardo fez, mas você pode ficar aqui o tempo que
for. – ela disse e eu consegui finalmente me
acalmar, eu precisava ficar bem, ou ao menos tentar
por eles.
Receber todo o apoio da minha mãe e
não ouvir críticas foi essencial para mim naquele
momento. Eles me levaram até o meu antigo quarto
e depois de um bom tempo, eu adormeci.
Acordei meio desorientada no dia
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seguinte, escutei vozes alteradas vindas de fora do


quarto e reconheci a do Carlos Eduardo entre as do
meu pai e da minha mãe.
Aguardei por um tempo, esperando que
eles se acalmassem, mas isso não aconteceu. Por
isso tomei coragem e saí do quarto.
— Pode deixar, pai. Eu quero falar com
ele. – disse ao meu pai e o Carlos Eduardo me
encarou, ele estava com uma cara péssima.
— Não quero que você se estresse ou
fique nervosa, filha. Você já chegou bem abalada
ontem. – ele, disse acariciando minha barriga.
— Não vou me estressar pai, fique
tranquilo. Eu só preciso resolver isso logo. – falei e
meus pais nos deixaram a sós.
— Posso saber o que diabos está
acontecendo, Maria Luísa? Tem noção do quão
desesperado eu fiquei quando cheguei em casa e
não te encontrei? – ele perguntou irritado.
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— Oh, ontem você ainda conseguiu


lembrar que tinha casa? Achei que nem apareceria
por lá.
— Nós moramos juntos, você é minha
noiva, claro que eu voltaria para casa.
— É, pelo visto você apronta na rua e
depois faz o desentendido.
— Sair com os meus amigos é
aprontar? Só porque você não pode ir para baladas
noturnas eu não posso ir?
— Não é disso que eu estou falando!
Você sabe muito bem o que você fez!
— Não, eu realmente não sei.
— Cadu, eu não sou idiota! Eu vi!
Ninguém me contou! Você aproveitou uma saída
com seus amigos para me trair! – gritei, já nervosa
com o cinismo dele.
— Você só pode estar enlouquecendo.

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A gravidez te deixa paranoica também? Eu te amo,


Maria Luisa! Não te trai com ninguém, eu e os
caras fomos para uma balada.
— E lá aproveitou para ficar com a sua
ex!
— Não aconteceu nada entre mim e a
Lorena. Ela até estava lá, nos falamos rapidamente.
— Não tenta me enganar. Eu vi!
Ninguém me falou e sinceramente, eu não esperava
isso de você. Estou com nojo de olhar para sua
cara.
— Você está se precipitando, Maria
Luisa. Vamos sentar e conversar.
— Eu não quero conversar agora, não
quero me chatear ainda mais, por favor vai embora.
– falei respirando fundo para me acalmar, eu não
podia ficar nervosa.
— Tudo bem, eu vou. Mas eu volto.

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Não sei por que você acha que eu te traí, mas posso
garantir que nunca fiz isso. Eu amo você e amo
nossos filhos. – ele disse, saindo da casa dos meus
pais e eu desabei sendo amparada por eles.

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Vinte

No decorrer dos dias, Cadu tentava falar


comigo, mas eu não conseguia tirar da cabeça as
fotos. Elas rondavam a minha memória, me
entristeciam e aguçavam minha insegurança.
Nem quando eu soube de tudo o que o
Bruno aprontava eu tinha ficado tão mal, acho que
porque eu nunca amei realmente o Bruno. E eu
amava o Carlos Eduardo. Amava tanto que não
conseguia entender por que ele tinha feito aquilo.
Um dia antes da consulta, mandei uma
mensagem para avisá-lo do horário. Apesar de tudo
o que estava acontecendo, eu não podia deixa-lo de

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fora da vida dos nossos filhos.


>> Amanhã tenho consulta ás 16 hrs, quer ir
comigo?
<< Sim, será que a gente pode conversar
depois da consulta?
>> Podemos sim, naquele café que tem ali
perto?
<< Isso, está tudo bem com os bebês?
>> Sim, tudo. Eles estão mexendo bastante.
<< Isso é bom. Sinto sua falta.
Me controlei para não responder que
também sentia falta dele. Precisávamos conversar
antes e depois de tanto tempo, eu me sentia
preparada para conversar com ele. Adormeci
ansiando pelo dia seguinte, quem sabe
conseguíramos ver o sexo dos bebês.
Acordei cedo no outro dia, os bebês
estavam mexendo muito, fui para a varanda da casa

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dos meus pais e fique me balançando na cadeira de


balanço. Meu pai beijou minha testa e me ofereceu
um copo de suco, aceitei e ficamos apenas
apreciando o amanhecer.
Depois fui para o meu quarto e fiquei
comprando algumas coisas para os bebês na
internet, uns itens fofos de decoração.
Quando terminei, fui ler um romance de
uma autora que estaria lá na livraria na semana
seguinte. Apesar de não estar indo para livraria, eu
estava ficando a par de tudo pelo Paulo. Essa, ao
contrário da outra, parecia ser muito humilde e
educada, além de ter uma escrita maravilhosa.
Estava me divertindo horrores com o livro.
Quando vi que já estava perto do
horário, aproveitei para tomar um banho e me
arrumar para a consulta. Como minha barriga já
estava bem grande, optei por um vestido longo e
estampado, calcei uma sandália e fui comer alguma
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coisa antes de ir.


Entrei no consultório, preenchi uma
ficha e aguardei ser chamada. O Cadu chegou e se
sentou ao meu lado.
Ele sorriu para mim e eu retribui. Ele
colocou a mão na minha barriga acariciando e
pareceu querer falar alguma coisa, mas no exato
momento eu fui chamada e ele desistiu, me
acompanhando.
Entramos na sala e a doutora Raquel me
fez as perguntas e os exames de rotina. Quando
chegamos no ultrassom, ela espalhou o gel pela
minha barriga e o Cadu segurou minha mão.
— Vamos ver se eles colaboram hoje?
— Espero que sim, doutora. – ele disse,
enquanto ela media os bebês, depois de ver se
estava tudo bem com eles, ela passou a máquina
novamente por alguns lugares na minha barriga e
disse: — Parabéns! Vocês serão pais de um casal!
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Olha aqui, desse lado temos uma menina e do outro


um menino. Estão no tamanho certinho e muito
saudáveis.
— Estou tão feliz! Muito obrigada, meu
amor. — Cadu disse sorrindo para mim, enquanto
eu também sorria para ele.
Saímos de lá extasiados, e caminhamos
para o café que ficava no outro lado da rua.
Nos sentamos e fizemos os nossos
pedidos, quando ele ia começar a falar, vi o Bruno
se aproximando da gente.
— O que esse cretino está fazendo aqui?
– perguntei olhando diretamente para o Bruno e
quando Cadu o viu, virou para mim dizendo:
— Eu o convidei.
— Você deve está de brincadeira! Te
dou a oportunidade de esclarecer tudo e você
chama esse infeliz para atrapalhar.

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— Ele não vai atrapalhar, vai esclarecer


tudo. – ele disse e o Bruno sentou ao nosso lado, de
óculos escuros.
— Oi, Maluzita! Esse barrigão te deixou
ainda mais bonita. – ele tentou flertar, mas eu era
completamente imune.
— Bruno, eu não estou para
brincadeiras. Fale logo o que realmente aconteceu
naquela noite. – eu disse sem rodeios, porque não
estava com paciência para enrolação.
— O Cadu não fez nada naquela noite,
eu só tirei aquelas fotos no ângulo certo. – ele disse
e eu encarei o Cadu depois olhei de novo para o
Bruno. Eu sabia que era verdade, o cretino era bem
capaz de fazer algo como aquilo.
— Porque você fez isso, Bruno? –
questionei.
— Porque eu podia, estava afim de
fazer. Queria ver o quão forte era esse
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relacionamento que vocês pintavam.


— Você é patético. – disse me
levantando, Cadu me acompanhou e saímos do café
juntos.
Ficamos de frente um para o outro e eu
o abracei e ele me beijou dissipando qualquer
dúvida ou desentendimento entre nós dois.
Fomos para casa, e lá começamos a
planejar o quarto dos nossos bebês, eles estavam
com saudades do papai, já que se mexeram muito
quando o Cadu falou com eles.
À noite, estávamos abraçadinhos na
cama, quando eu disse:
— Ainda não acredito que o Bruno me
enganou daquele jeito.
— Ele é um idiota que não aguenta ver a
felicidade alheia. Brigamos feio quando eu soube
que ele havia mandado aquelas fotos para você.

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— Ele sempre foi um cretino, mas


nunca pensei que pudesse ser tão baixo. Senti tanto
a sua falta, bonitão.
— Eu também, vida. Morri de saudades
de você e dos bebês. – ele disse beijando minha
testa e me abraçando ainda mais.

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Vinte e um

No dia seguinte, fomos direto para algumas


lojas. Colocamos as ideias em prática e começamos
a montar o quarto do meu príncipe e da minha
princesa. Compramos dois berços de mogno que
ficariam nas extremidades do quarto, o guarda-
roupas, a cômoda, o trocador, vários quadros de
bichinhos e princesas. Queria pintar o quarto deles
de branco e o teto de azul, com nuvens.
Precisava organizar isso tudo logo,
porque sabia que mais para frente, minha barriga só
estaria mais pesada e me impediria de fazer
algumas coisas.

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Estava há duas semanas de ter os meus


filhos, levou um tempo, mas finalmente Cadu e eu
tínhamos entrado em consenso, em relação aos
nomes. Meu menino se chamaria Rodrigo e o
Carlos tinha escolhido o nome da nossa princesa,
que seria Charlotte.
Estava deitada no sofá e eles estavam
mais uma vez disputando o melhor lugar no meu
útero.
“Sei que deve estar apertado, mas vocês
sairão em breve, meus amores. ”
Acariciei minha barriga enquanto Cadu
fazia massagem nos meus pés. Na televisão passava
o jornal local, que nenhum de nós estava prestando
atenção.
— Não quero que entre na sala de parto
comigo. — Digo séria.
— E por que não, Malu? Achei que ia
me querer lá para te dar apoio na chegada dos
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nossos filhos. — Respondeu confuso.


— É, eu queria, mas estava assistindo
uns vídeos e eu posso fazer minhas necessidades na
mesa. Eu morreria se isso acontecesse e você
estivesse lá, então você vai ver os bebês nascerem
do vidro. — Expliquei séria e ele deu risada.
— Deixa de ser dramática, meu amor. E
daí se isso acontecer, não vai ser de propósito.
— Eu sei que não, mas não quero. Vou
morrer de vergonha!
— Vai ter vários outros médicos lá,
Malu. E você não quer que eu veja? — Ele
perguntou.
— Isso, não quero, eu não convivo com
outros médicos, convivo com você. E estou falando
sério.
— Deixa de besteira, minha vida. —
Beijou minha barriga. — E para de ver esses

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vídeos, você vai ficar paranoica.


No dia que eu trouxe meus filhos ao
mundo, jurei a mim mesma que não faria mais isso.
Sério!
Cadu estava lá comigo e eu precisava
fazê-lo sofrer também, já que não fiz os filhos
sozinha. Acho que quase quebrei os dedos da mão
dele. Confesso que fiquei esperando o momento
mágico que minha sogra tinha descrito para mim,
mas ele não aconteceu. Não esperem algo mágico,
esperem muita dor!
Meus dois filhos nasceram grandes e
saudáveis, Rodrigo tinha os cabelos castanhos bem
claros e os olhos castanhos mel, ele tinha traços
parecidos com os meus. Já a Charlotte, tinha os
cabelos pretos, os olhos azuis, era quase uma
miniatura do Cadu. Nem preciso dizer que ele ficou
todo babão.
Quando estava descansando no meu
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quarto, depois de receber a visita dos nossos


parentes mais próximos, minha mãe e a mãe do
Cadu ficaram para me ajudar. Me encheram de
recomendações e dicas, mas eu sabia que algumas
coisas eu aprenderia com o tempo.
À noite, estava amamentando o meu
Rodrigo, enquanto o Carlos caminhava pelo quarto
com a nossa pequena Charlotte. Eu estava tão
cansada, mas era um cansaço bom. Coloquei
Rodrigo para arrotar, quando escutei a conversa do
Cadu com a Charlotte.
— Você é tão linda, minha menina.
Papai vai te proteger de todos os monstros, os
meninos se incluem nessa categoria também. Mas
não se preocupe, papai vai afastá-los de você,
minha princesa.
Revirei os olhos e disse:
— Cadu, ela só tem algumas horas, você
não acha que está muito cedo para isso, não?
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— Nunca é muito cedo para proteger


minha princesinha, meu amor. — Ele veio até mim
e me deu um selinho. — Ainda bem que tenho o
campeão aí, para me ajudar. — Fez carinho no
rosto do Rodrigo.
Sorri para ele e me senti abençoada por
ter tanto amor a minha volta. Finalmente algo havia
dado certo e não tinha acabado em desastre. Quem
diria que, com apenas um olhar, minha vida
mudaria totalmente?

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Epílogo
Alguns anos depois...

De volta a Paraty, lugar em que trocamos os


nossos primeiros olhares sem nem nos
conhecermos direito, Cadu estava ao meu lado e
caminhávamos juntos, de mãos dadas, à beira mar.
Rodrigo e Charlotte corriam em nossa
frente, fugindo das ondas e brincando entre si.
Nossos filhos estavam enormes, com certeza não
tinham puxado a minha altura. Não podíamos estar
mais orgulhosos.
— Mãe, então foi aqui que você e o
papai se conheceram? — Minha filha me perguntou

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ao se sentar em meu lado. Tínhamos parado de


caminhar e agora esperávamos Cadu e Rodrigo
voltarem com as águas de coco.
— Bem, pode se dizer que sim. A
primeira vez que o vi foi bem aqui nessa praia. —
Respondi, prendendo seus longos cabelos.
— E a senhora gostou dele? — Ela
questionou curiosa.
— Sim, muito. Mesmo sem nunca ter
trocado mais de duas palavras com ele, sonhei com
seu pai por muito tempo. — Revelei e ela
aconchegou-se em meu colo.
— Acho isso tão fofo, mãe. Parece até
história de livro. — Disse sorrindo, quando beijei
seus cabelos. Mesmo sendo quase uma mocinha,
minha Maria ainda era um doce de menina.
Observávamos o pôr do sol, quando eles
se sentaram ao nosso lado.

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— Aqui. — Cadu nos entregou os


cocos. — A fila estava um pouco grande. —
Justificou a demora.
Nos abraçamos e ficamos ali, juntinhos
até o sol se despedir. Ao irmos embora, olhei para
trás, lembrando mais uma vez do dia em que
encarei os olhos do menino que se tornaria o amor
da minha vida.

FIM

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Sobre a autora

Mila Maia é baiana, Pedagoga e uma leitora


voraz que resolveu se arriscar no mundo da escrita.
É viciada em romances, gênero em que se
encontrou como escritora. Autora da Trilogia
Chances, ela possui outras obras na Amazon e no

Wattpad.

Facebook:
www.facebook.com.br/autoramilamaia

Instagram: @autoramilamaia

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Email: autoramilamaia@gmail.com

Wattpad: @autoramilamaia

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Agradecimentos

Agradeço primeiramente a Deus, por ter


estado comigo em cada momento, transformar esse
conto em livro foi uma experiência maravilhosa, eu
adorei e me diverti muito no decorrer da escrita.
À minha família, por todo o apoio, carinho
e incentivo durante toda essa jornada. Vocês são
maravilhosos e eu sou muito grata por tê-los ao
meu lado.
Ao meu grupo “Leitores da Mila”, obrigada
por todo carinho e apoio que vocês me dão
diariamente, vocês me impulsionaram a continuar;
e aos meus Igs e Blogs parceiros, obrigada por

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estarem sempre ao meu lado.


À Lara Ferrari, Débora Albuquerque e
Stephanie de Almeida, minhas leitoras betas a
ajuda de vocês foi muito importante e significou
muito para mim, muito obrigada.
A todos aqueles que conheci através dos
meus livros, não posso citar todos, pois com certeza
acabaria esquecendo de alguém, mas saibam que
lembro de cada um. Muito obrigada por
acreditarem em mim.

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Outras obras da autora

Livros:
Mais uma chance para o amor – Trilogia
chances – I
Uma nova chance ao amor – Trilogia Chances
– II
Outra chance ao amor – Trilogia Chances - III
Apenas fique
Box Trilogia Chances
Na ponta dos sonhos
Contos:
Amores Natalinos – Antologia de contos
NEROS
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Cartas para mamãe


Um doce reencontro
Uma chance para recomeçar – Um conto da
Trilogia Chances
O natal da família Sullivan – Um conto de natal
da Trilogia Chances

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Créditos
Copyright 2018 © Mila Maia

Capa e diagramação: Mila Maia

Revisão: Elaine C.

Está é uma obra fictícia. Nomes, personagens,


lugares e acontecimentos são produtos da
imaginação da autora. Qualquer semelhança com
pessoas vivas ou mortas é mera coincidência.
Nenhuma parte deste livro pode ser utilizado em
quaisquer meios existentes sem a autorização por
escrito da autora.

OBRIGADO PELA LEITURA! SE POSSÍVEL,


DEIXE SUA AVALIAÇÃO! VOCÊ FARÁ
UMA AUTORA MUITO FELIZ!

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